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1 ALMANAQUE DO AGRONEGÓCIO GAÚCHO COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E COOPERATIVISMO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL 2004 almanaque.indd 1 10/13/04 5:39:24 PM

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ALMANAQUE DO AGRONEGÓCIO GAÚCHO

COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E COOPERATIVISMO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL

2004

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expediente

ALMANAQUE DO AGRONEGÓCIO GAÚCHO

Coordenação Técnica: Fernando Henrique SchwankeRevisão de textos: Romar Rudolfo Beling

Diagramação: Sandro CeroniImpressão: Corag

Mesa Diretora 2004

Deputado Vieira da Cunha (PDT) - Presidente Deputado João Fischer (PP) - 1º vice-presidente

Deputado Manoel Maria (PTB) - 2º vice-presidente Deputado Luis Fernando Schmidt (PT) - 1º secretário

Deputado Márcio Biolchi (PMDB) - 2º secretário Deputado Sanchotene Felice (PSDB) - 3º secretário

Deputado Cézar Busatto (PPS) - 4º secretário

Redação: Praça Marechal Deodoro, 101 CEP 90010-900 – Porto Alegre/RS

Fones: (51) 3210.2000 / 3210.2011 – Fax: (51) 3210.2798

Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do SulComissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo

PresidenteDeputado Jerônimo GoergenVice-PresidenteDeputado Marco Peixoto

Deputados Titulares: Fone FaxJerônimo Goergen (PP) 3210-1140 3210-1680Marco Peixoto (PP) 3210-2490 3210-2412Dionilso Marcon (PT) 3210-2450 3210-1800Elvino Bohn Gass (PT) 3210-2470 3210-2470Frei Sérgio (PT) 3210-1350 3210-2385Heitor Schuch (PSB) 3210-1940 3210-2474Edemar Vargas (PTB) 3210-2230 3210-2198Janir Branco (PMDB) 3210-1577 3210-1780Márcio Biolchi (PMDB) 3210-1588 3210-1630Berfran Rosado (PPS) 3210-2140 3210-1560Giovani Cherini (PDT) 3210-2280 3210-2246Paulo Azeredo (PDT) 3210-2550 3210-2456 Deputados Suplentes Adolfo Brito (PP) 3210-2110 3210-2101Pedro Westphalen (PP) 3210-1160 3210-1730Ivar Pavan (PT) 3210-2260 3210-2225Luis Fernando Schmidt (PT) 3210-2180 32102163-Jair Foscarini (PMDB) 3210-2130 3210-2118Elmar Schneider (PMDB) 3210-2620 3210-1580Manoel Maria (PTB) 3210-2480 3210-2408César Busatto (PPS) 3210-2320 3210-2269Gerson Burmann (PDT) 3210-1260 3210-2262Adroaldo Loureiro (PDT) 3210-2150 3210-1460

Assessoria:Antonia De Souza – SecretáriaPedro Alberto Duran Paiani – Assessor AdministrativoMaria Da Graça Santos Camargo – Assessora AdministrativaAndré Milano Do Canto – EstagiárioGabriel Peres Feijó - Estagiário

Praça Marechal Deodoro, 101 – 4º Andar – Sala 407Cep: 90010-300 - Porto Alegre - RSFone: (0xx51) 3210.2602 e 3210.2603 - Fax: (0xx51) 3210.2601E-mail: [email protected]

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sumárioPREFÁCIO

ESPECIAL

AGRICULTURA FAMILIAR

COOPERATIVISMO

DÍVIDA AGRÍCOLA

FLORESTAL

FRUTICULTURA

FUMICULTURA

GRÃOS

Soja

Arroz

Milho

Trigo

Transgênicos

INSUMOS

LOGÍSTICA

MERCADO

PECUÁRIA

Pecuária de corte

Pecuária leiteira

Avicultura

Suinocultura

Ovinocultura

Eqüinocultura

Sanidade Animal

PESQUISA

POLÍTICAS DE CLASSE

PROFISSIONALIZAÇÃO

REFORMA AGRÁRIA

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PREFÁCIO

Em minhas andanças por nosso querido Rio Grande, tenho tido a oportunidade de, com meus próprios olhos, admirar a pujança de nosso agronegócio. Em inúmeras reuniões, em contatos e palestras, tenho ouvido atentamente a opinião de centenas de lideranças dos setores que

fazem o progresso deste setor, que responde pela grande parte da riqueza gerada por este Estado e por este País.

Desta forma, surgiu a idéia do Almanaque do Agronegócio Gaúcho. Diferentemente de outras publicações, onde um autor é o escritor e faz a obra acontecer, esta tem o grande objetivo de ser escrita por dezenas de autores, cada um conhecedor de sua área. Através da visão destas lideranças, damos aos leitores uma perspectiva do agronegócio gaúcho sob o olhar de quem vive o dia-a-dia em seu segmento específico.

É uma viagem ao âmago dos setores, ao núcleo de cada segmento, fazendo uma análise estra-tégica de cada um deles, onde foram levantados os pontos fortes e os pontos fracos, as ameaças e as oportunidades, seguindo as premissas do planejamento estratégico. Com esta visão, cremos, pode-se planejar o futuro.

As panorâmicas aqui contidas, muito mais que simples visões atuais de cada setor, são insumos fundamentais para a busca de resoluções dos gargalos, de forma técnica, política ou estrutural. O Almanaque do Agronegócio Gaúcho, nesta primeira edição, ouviu mais de 50 lideranças, e espera a cada ano renovar estas informações.

O agronegócio gaúcho vem ano após ano experimentando uma mudança. Mudança (todos

sabem) é movimento, e movimento ocorre sempre de um lugar para outro. É preciso entender o contexto atual do agronegócio (de algum lugar) e do salto de competitividade que necessita ser dado (para outro algum lugar), o que, afinal, é a essência da mudança. Muitas das informações dos movimentos que necessitam ser dados (resolução dos pontos fracos e necessidade de evitar-se as ameaças) estão contidas neste material. É preciso dominar e conhecer o processo de difusão e de contágio dessa visão profunda do agronegócio, os passos e os cuidados para sua efetiva implemen-tação e para seus impactos.

É um material rico, gerado pela riqueza de seus autores e por seus conhecimentos. Rara é a oportunidade que se tem de, em um mesmo material, reunir tantas competentes lideranças, que dirigem entidades sindicais, centros de pesquisa, federações e outras entidades, e que vivem a cada dia intensamente seus setores. Podem, desta forma, dar depoimentos sobre a real atualidade de cada um deles e, juntos, sobre o agronegócio gaúcho.

Contribuem, assim, com este projeto da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, de oferecer à sociedade gaúcha informações acer-ca do agronegócio, demonstrando sua importância na geração de trabalho e de renda, na arrecada-ção de impostos, na riqueza para nosso Estado e, por conseqüência, para seus cidadãos. Portanto, esta é uma publicação singular, muito completa e com informações detalhadas sobre cada setor do agronegócio, que servirão para o enfrentamento das mudanças que ainda precisam ocorrer.

Tenham todos uma boa leitura.

JERÔNIMO GOERGENDEPUTADO ESTADUAL, PRESIDENTE DA COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA E

COOPERATIVISMO DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL

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Nosso País é a última fronteira agrícola e tem o maior potencial produtivo do mundo. Colhe-mos neste ano uma safra agrícola próximo de 120 milhões de toneladas de grãos, que só não foi maior em razão da seca e da ferrugem asiática da soja. De 1990 a 2003, a produção de

carne bovina aumentou 85,2%, passando de 4,1 milhões para 7,6 milhões de toneladas. Nesse período, a suinocultura cresceu 173,3%. A produção de carne suína saltou de 1 milhão para 2,87 milhões de toneladas. Nenhum País do mundo teve desempenho igual nesse setor.

Moderno, eficiente e competitivo, o agronegócio brasileiro é uma atividade próspera, segura e ren-tável. Com clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante e quase 13% de toda a água doce disponível no planeta, o Brasil tem 388 milhões de hectares de terras agricultáveis férteis e de alta produtividade, dos quais 90 milhões ainda não foram explorados. Esses fatores fazem do País um lugar de vocação natural para os negócios da cadeia produtiva agropecuária.

O agronegócio é hoje a principal locomotiva da economia brasileira. Responde por 34% das riquezas geradas no País, 42% das exportações totais e 37% dos empregos brasileiros. Entre 1998 e 2003, a taxa de crescimento do PIB agropecuário chegou a 4,67% ao ano. No ano passado, as vendas externas do setor renderam ao Brasil US$ 36 bilhões, com superávit de US$ 25,8 bilhões.

O Brasil é um dos líderes mundiais na produção e na exportação de vários produtos agropecuários. Somos o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, álcool e sucos de frutas. Lideramos o ranking das vendas externas de soja, carne bovina, carne de frango, tabaco, couro e calçados de couro. Em pouco tempo, seremos o principal pólo mundial de produção de algodão e de biocombustíveis, feitos a partir de cana-de-açúcar e de óleos vegetais. Milho, arroz, frutas frescas, cacau, castanhas, nozes, além de suínos e pescados, são destaques no agronegócio brasileiro, que emprega atualmente 17,7 milhões de traba-lhadores, somente no campo.

A Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad) prevê que o País

será o maior produtor mundial de alimentos na próxima década. Com população de aproximadamente 180 milhões de pessoas, temos um dos maiores mercados consumidores do mundo. Hoje, cerca de 80% da produção brasileira de alimentos é consumida internamente e apenas 20% são embarcados para mais de 209 países. Em 2003, vendemos mais de 1.800 diferentes produtos para mercados estrangeiros.

O Brasil pode aumentar em, no mínimo, três vezes sua atual produção de grãos, saltando para 367,2 milhões de toneladas. Esse volume poderá ser ainda maior, considerando-se que 30% dos 220 milhões de hectares hoje ocupados por pastagens devem ser incorporados à produção agrícola, em função do expressivo aumento da produtividade na pecuária. O País tem condições de chegar facilmente a uma área plantada de 140 milhões de hectares, com a expansão da fronteira agrícola no Centro-Oeste e no Nordeste. Tudo sem causar impacto à Amazônia e com respeito à legislação ambiental.

Nosso agronegócio exibe, portanto, músculos tonificados pelo alto nível de tecnificação dos produ-tores rurais brasileiros, esses heróis anônimos que têm investido pesado em seus negócios para ajudar o Brasil.

E o Rio Grande do Sul, que contribui muito para esse cenário, é o retrato desse imenso avanço do nosso agronegócio. O Estado é o segundo maior produtor de grãos do País, com uma safra que supera em condições climáticas normais a 22 milhões de toneladas, com colheitas expressivas de arroz, soja, milho e trigo. Destacam-se também as atividades pecuárias e avícolas.

A edição deste Anuário do Agronegócio Gaúcho ajuda a difundir as informações sobre o setor. Aqui, estão reunidas informações para refletir sobre os temas e para encontrar soluções. É uma importante contribuição da Comissão de Agricultura, Pecuária e Cooperativismo da Assembléia Legislativa, presidi-da pelo combativo Deputado Jerônimo Goergen, para melhorar a organização privada do setor rural e para encontrar os caminhos da sustentabilidade do nosso agronegócio.

Boa leitura.

ESPECIAL

Planejamento para o futuroROBERTO RODRIGUES

MINISTRO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO DO BRASIL

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AGRICULTURA FAMILIAR

As propriedades inseridas na agricultura familiar respondem por parcela significativa da produção agrícola no Rio Grande do Sul. A colonização por imigrantes europeus, ao longo do século XIX,

permitiu ao Estado testemunhar uma mudança decisiva em seu perfil fundi-ário. Às estâncias e às fazendas vieram juntar-se as pequenas propriedades conduzidas por famílias de alemães e italianos, em maioria, mas também por várias outras etnias. À entrada do século XXI, o Rio Grande do Sul ostenta pujança econômica e social invejável também graças a esses im-portantes empreendimentos. O depoimento a seguir traz uma análise do papel cumprido pela agricultura familiar gaúcha e as perspectivas para a sua maior inserção no agronegócio nacional.

ELVINO BOHN GASSDEPUTADO ESTADUAL

Eficiência, competitividade, trabalho e renda

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É cada vez mais freqüente nos meios de comunicação a caracterização do chamado “agronegócio” como uma atividade moderna, eficiente, competitiva, próspera, segura e rentável no Brasil. Esta avaliação está fortemente associada ao recente crescimento da

produção agropecuária e da participação deste segmento na economia do País. Calcula-se que ele seja responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB), 42% das exportações totais e 37% dos empregos brasileiros.

A abordagem que vincula o agronegócio aos empregadores rurais e às empresas agroindustriais homogeneiza indevidamente os diversos agentes que atuam no meio rural. Por esta razão, pode ensejar interpretações equivocadas quanto à inserção de cada um deles no desenvolvimento nacional.

São raras as ocasiões em que se procura identificar a participação da agricultura familiar no PIB, nas exportações e nos empregos brasileiros. Na Região Sul, essa participação é especialmente evidente nos alimentos consumidos no País e nos produtos exportados. Para citar apenas uma das fontes disponíveis, o Censo Agropecuário 1995/96 revela que os agricultores familiares desse território são responsáveis por 98% do valor bruto da produção de fumo, 92% do valor da cebola, 81% da uva, 80% da pecuária de leite e do feijão, 69% dos suínos, 61% das aves e dos ovos, 65% do milho e 51% da soja.

Mais do que indicadores que atestam um vigor econômico da agricultura familiar, baseado na eficiência e na competitividade, é possível comprovar seu elevado potencial para gerar postos de trabalho e para distribuir renda, dois dos principais desafios da nossa sociedade.

As interpretações que ignoram ou menosprezam a importância econômica e social da agricultura familiar estão geralmente associadas a visões que rechaçam ou minimizam o papel da Reforma Agrária e das políticas públicas associadas a ela como instrumentos de fortalecimento da agricultura familiar e de promoção da inclusão social. Esta compreensão está expressa em atitudes de grupos minoritários e sobretudo na ausência de políticas públicas adequadas, durante

um longo período. Trata-se de um enfoque a ser superado entre aqueles que desejam um verdadeiro

desenvolvimento alternativo, assentado na redução das desigualdades sociais e econômicas entre os brasileiros.

O Governo Lula está comprometido com a implementação de transformações que consolidem este novo modelo. Formulou e está realizando o II Plano Nacional de Reforma Agrária, com o objetivo de garantir a mais de um milhão de famílias o acesso à terra, à saúde, à educação, à energia, à habitação e ao saneamento, e também de promover a geração de renda. Lançou de forma pioneira o Plano Safra da Agricultura Familiar, cujas medidas resultaram no aumento significativo de recursos e de beneficiários do crédito rural, especialmente no âmbito do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Mais recentemente, criou o Seguro da Agricultura Familiar, que oferece cobertura integral dos valores financiados através do Pronaf, mais uma parcela significativa da receita líquida esperada.

As atuais políticas federais para estímulo à produção agropecuária e agroindustrial não se restringem, evidentemente, aos agricultores familiares. Os recentes resultados positivos na produção e na obtenção de superávits comerciais decorrem em larga medida das políticas macroeconômicas e de crédito colocadas em prática no último período.

As perspectivas para os agricultores familiares do Rio Grande do Sul serão tão positivas quanto forem benéficas as medidas de apoio a serem adotadas pelo Governo do Estado, em consonância e em complementariedade com as políticas federais. Serão tanto melhores quanto maior for a compreensão dos diversos segmentos da sociedade a respeito da sua importância para a construção de uma nação moderna, democrática, economicamente próspera e socialmente justa. Neste caso, o que se espera dos agricultores não-familiares e dos empresários vinculados ao campo é a sua contribuição para que se possa agregar ao chamado “agronegócio” outros adjetivos além dos relacionados à competitividade e à rentabilidade.

AGRICULTURA FAMILIAR

Eficiência, competitividade, trabalho e renda

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COOPERATIVISMO

Berço do cooperativismo e terreno fértil para outras modalidades do asso-ciativismo, o Rio Grande do Sul tem defendido o fortalecimento através da união nas diversas cadeias produtivas do agronegócio. Entre as vantagens

decorrentes da aproximação dos produtores apontam-se não apenas o poder de barganha na compra de insumos ou a possibilidade da venda conjunta da produção, mas também a oportunidade do intercâmbio, motivando a troca de experiências e o aprendizado comum. Nos depoimentos a seguir, lideranças de instituições cooperativas analisam a importância do associativismo para o desenvolvimento do meio rural gaúcho, a situação atual desses sistemas e as perspectivas que eles oferecem em relação ao futuro.

NEI CÉSAR MÂNICADIRETOR-PRESIDENTE DA COOPERATIVA TRITÍCOLA MISTA ALTO JACUÍ LTDA. (COTRIJAL)

Agricultura brasileira: riscos e perspectivas

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O agronegócio brasileiro, durante a década de 90, perdeu em torno de 38% de sua renta-bilidade – o que foi demonstrado através de trabalhos realizados pela Fundação Getú-lio Vargas (FGV). Isso é fruto do câmbio valorizado e dos juros altos, penalizando toda

a estrutura produtiva e fazendo com que os agricultores se debatessem em dívidas, aumentadas pelos planos econômicos. Outros agentes da cadeia produtiva, como indústrias de insumos, de máquinas e de processamento, mudavam de mãos, neste mesmo período.

A transformação dessa situação caótica deve-se principalmente à capacidade empreendedora dos agricultores, ao uso de tecnologia e a políticas públicas adequadas, como renegociação das dívidas, programas de investimentos e de desvalorização cambial, colocando definitivamente o agronegócio como o maior negócio deste País.

Hoje, o agronegócio brasileiro corresponde a 34% do PIB e gera 37% dos empregos da nossa economia. É a maior fonte de dívisas do País, respondendo por 42% das nossas exportações. Tivemos em 2002 o maior saldo comercial agrícola do mundo.

O agronegócio brasileiro é muito competitivo e tem grandes oportunidades de crescimento, alicerçadas nos seus principais pontos fortes:

* Clima favorável;* Disponibilidade de terras (uma das últimas grandes fronteiras agrícolas do mundo);* Recursos humanos preparados;* Capacidade de gestão (administração de recursos, assistência técnica, intensidade do uso

da terra)

* Desenvolvimento tecnológico (incorporação de tecnologia, aumentando a competitividade e reduzindo o custo).

A capacidade de expansão da agricultura brasileira corre sérios riscos de fracasso diante da nossa fragilidade de infra-estrutura, alicerçados nos seus principais pontos fracos:

* Logística (transporte, armazenagem e portos) – enfrentamos pesada competição interna-cional, demandando custos competitivos e logística eficiente;

* Desenvolvimento da biotecnologia – infelizmente o pseudo-debate sobre a liberação ou não de organismos geneticamente modificados parece mais uma disputa religiosa e/ou ideológica do que uma discussão objetiva e racional embasada em fatos e evidências;

* Ações pouco agressivas nas negociações internacionais; apesar dos avanços recentes nesta área, precisamos, cada vez mais, somar esforços e recursos, entre governo e iniciativa privada;

* Políticas públicas – regulamentações, fiscalizações, barreiras fitossanitárias.A cultura da soja, nossa atividade de maior expressão econômica na região, caminha rapi-

damente para dar ao Brasil o título de maior produtor mundial. A única restrição ao desen-volvimento da cultura é a infra-estrutura logística, que ameaça a expansão de toda agricultura brasileira.

É muito importante presenciar o agronegócio brasileiro, bater recordes de produtividade, sal-dos positivos na balança comercial, reduzir o desemprego, gerar crescimento e desenvolvimento para o País. É motivo de muito orgulho saber que a grande família Cotrijal contribui com a sua parcela neste que é o maior negócio do Brasil e nossa grande vocação.

COOPERATIVISMO

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Visão atual:O cooperativismo gaúcho completou um século de existência em 2002. Desenvolveu-se

e contribuiu decisivamente na transferência de tecnologias de produção, na montagem da infra-estrutura de armazenagem e de transportes e no processo de agroindustrialização da produção primária no Estado.

Embora a agricultura brasileira – e, em especial, a gaúcha – tenha passado por extremas dificuldades nas décadas de 1980 e 1990, na atualidade vive um bom momento.

Vários fatores contribuíram para a retomada da vitalidade e da importância das cooperati-vas rurais. De um lado, as soluções referentes ao endividamento agrícola (securitização, Pesa, Recoop); de outro, a adoção de medidas para melhoria da gestão do negócio cooperativo. Também contribuíram a estabilização econômica, a liberalização do câmbio e a evolução dos preços no mercado internacional.

Nos últimos cinco anos, as cooperativas agropecuárias gaúchas aumentaram seu faturamen-to anual em 7,8% (em média). O ano forte foi 2003, em que a conjugação de safra e de preços assegurou aumento no faturamento bruto na ordem de 29,7%.

Estes dados revelam o papel do cooperativismo na retomada do crescimento da economia nacional, notadamente na formação do equilíbrio da balança comercial do País, tendo em vista sua participação na exportação de commodities agrícolas.

As cooperativas agropecuárias do Rio Grande do Sul, em 2002/03, movimentaram 72% do trigo, 51% do leite, 21% do arroz, 14% do feijão, 19% do milho e 45% da soja.

As 197 cooperativas agropecuárias gaúchas reúnem 251 mil produtores rurais e geram mais de 7 bilhões de reais por ano de faturamento bruto. E o conjunto das cooperativas é responsável por 8,6% do PIB do Estado.

Diante dos novos investimentos das cooperativas e da ampliação de suas atividades, estima-se que seja mantida a média de crescimento anual dos últimos cinco anos para os próximos tempos. Isto será possível com uma estratégia em andamento de profissionalização da gestão, de formação de parcerias e de investimentos em tecnologia.

Pontos fortes: O principal ponto forte das cooperativas é seu capital social. Ele é entendido aqui como

a soma do potencial produtivo dos seus associados e do grupo familiar. Isto permite que as

Cooperação X competiçãoO posicionamento do cooperativismo gaúcho

COOPERATIVISMO

VICENTE BOGOPRESIDENTE DA ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO RIO GRANDE DO SUL (OCERGS)

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COOPERATIVISMO

cooperativas obtenham maior escala negocial e promovam valor agregado ao produto com melhores resultados.

As cooperativas, pela sua recuperação econômico-financeira alcançada nos últimos quatro anos, estão se voltando mais a investimentos tecnológicos, a novas estratégias de comerciali-zação, a logística e a parcerias.

Pontos fracos: Entre as limitações maiores, podemos citar a limitada profissionalização e o limitado pla-

nejamento da atividade por parte dos produtores. Ainda, o elevado grau de dependência em relação a modelos e à tecnologia convencionais, notadamente de insumos.

Também, há uma frágil solidariedade estratégica dos produtores e das cooperativas para o enfrentamento da concorrência e de interesses externos.

Outra questão preocupante é a migração dos jovens do campo, restando uma mão-de-obra de idade mais avançada. Estima-se que a idade média dos associados rurais das cooperativas aproxima-se dos 48 anos.

A situação agrava-se pelo fato de que a renda agrícola, principalmente na “agricultura fami-liar”, é insuficiente para promover a capitalização dos produtores.

O limitado crédito é outra carência para o setor.Oportunidades:

As melhores oportunidades podem ser associadas aos novos mercados consumidores de nossos produtos. As negociações de acordos comerciais multilaterais podem influir muito na perspectiva do setor rural.

De outra parte, há um grande potencial de agregamento de valor ao produto agrícola, atra-vés do qual é possível aumentar a renda do produtor.

Também é possível avançar em estratégias de logística, em parcerias e em tecnologia. No caso das cooperativas, existe a possibilidade de parcerias com entidades co-irmãs de outras regiões.

Enfim, o aumento do consumo mundial de alimentos abre uma grande janela para o agro-negócio.

Ameaças: O passado alerta para a instabilidade das políticas públicas, com as mudanças de governo. Continuam as ameaças (intranqüilidade) decorrentes dos movimentos sociais no campo.As questões fitossanitárias e as barreiras comerciais constituem-se numa das mais sérias

ameaças ao produtor nacional. Agregue-se a isto a incerteza relativa à autorização para a intro-dução da biotecnologia no campo e à demora na definição sobre a lei da biossegurança.

Há ausência de uma política de garantia mínima ao produtor, que, ao invés de se preocupar em produzir, tem que se habilitar a especular.

Cooperação X competiçãoO posicionamento do cooperativismo gaúcho

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COOPERATIVISMO

Conjuntura atual da CotrigoGUIDO COMIN

DIRETOR-SECRETÁRIO DA COOPERATIVA TRITÍCOLA DE GETÚLIO VARGAS LTDA. (COTRIGO)

O setor agropecuário tem suas raízes históricas fundamentadas no pioneirismo, na força e na vontade de vencer do homem do campo gaúcho, que tem enfrentado adversidades múltiplas, inclusive as variações climáticas, com os riscos, sem nenhuma proteção de parte dos organis-

mos governamentais. Por outro lado, o grande suporte referencial dos produtores, principalmente dos pequenos, são as organizações cooperativas estruturadas com agroindústrias. Estas surgiram há mais de 50 anos e sobrevivem pela teimosia herdada dos desbravadores, que, desafiando os próprios limites, as criaram.

A Cooperativa, com suas atividades diversificadas, além de promover o desenvolvimento econômico – cujo grau de importância nos últimos cinco anos tem contribuído no valor adicionado, nos municípios de área de ação, com percentual significativo superior a 50% da economia gerada – tem importância social fundamentada e interligada com os produtores, em sua maioria mini e pequenos. Estes vivem do ganho na diversificação e seriam expulsos de suas atividades se dependessem exclusivamente da exploração de grãos, pela deficiência de área e pelo relevo das terras exploradas. Portanto, apenas a manutenção destes no campo vale todo o esforço.

Todavia, o desafio e a importância tornam-se maiores quando a Cooperativa, para garantir o segmento de produção, assume a parceria verticalizada, arcando com encargos e insumos, buscando no desespero e

com muito esforço a manutenção e a continuidade do complexo COTRIGO X PRODUTOR, embora a custos altíssimos e insuportáveis, na economia de mercado. Por este motivo, é forçada a buscar recursos junto às instituições financeiras, que, em última análise, cobrem a falta da presença dos entes oficiais para suportar o equilíbrio econômico e social na área de ação.

A área de atuação são os municípios de: Estação, Erebango, Floriano Peixoto, Getúlio Vargas, Ipi-ranga do Sul, Jacutinga e Sertão, com postos de vendas em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belém do Pará. A população dos municípios da área de ação é de 4l.892; desta população, dependem da Cotrigo 2l.492 pessoas (ou seja, 5l,30%). Portanto, se a coragem, o espírito empreendedor e soli-dário e a persistência não estivessem presentes no planejamento e nas ações do dia-a-dia, certamente o desestímulo e as dificuldades teriam sufocado todas as iniciativas da economia familiar.

E, sem dúvida, o fantasma da morte do ideal teria dizimado l.l00 empregos diretos e l60 indiretos, mais 250 transportadores, além dos 5.373 associados e familiares, cujas atividades são diretamente vinculadas à Organização e dependem dela. Sem esta, com certeza seria provocada uma das maiores crises na economia, na micro-região, no campo social, no processo migratório, na desestruturação familiar, na degradação da segurança, fortalecendo o crime, o assalto e o incremento dos diversos movimentos dos sem..

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COOPERATIVISMO

Conjuntura atual da CotrigoCADEIA PRODUTIVA:

GRÃOS: Oportunidades:- Atividade que deu origem à Cotrigo, representa no complexo 55% do faturamento e aproximadamen-

te 80% da relação entre associado e Organização.- Responde na produção de farinhas de trigo e de milho, nas rações para complementação da indústria

frigorífica de suínos, e articula a comercialização de insumos e de sementes para atender o quadro social. Dificuldades:- Os pontos fracos (gargalos) são as dificuldades de armazenagem, com déficit superior a 50% das

necessidades do recebimento, provocando custos adicionais com aluguéis e transferências de produtos de uma unidade para outra;

- Remessas para depósitos junto a terceiros para faturamento futuro, mas com deságio. - O sistema de armazenagem, por ser antigo, torna-se obsoleto, dificultando a operacionalidade e agre-

gando altos custos de manutenção, além de deficitário. - A Organização não dispõe de recursos para construção de novas unidades e a própria recuperação

é obtida com recursos de instituições financeiras, com altas taxas, inviabilizando o próprio ganho na co-mercialização.

FRIGORÍFICOCONJUNTURA ATUAL:* FOMENTO SUINOCULTURA:A suinocultura gaúcha e brasileira enfrentou nos últimos três anos uma grave crise, após ter se pre-

parado com instalações e matéria-prima para exportação, esforço esse inviabilizado pelos focos da febre aftosa e do Mal de Augeski, causando redução em nível nacional do plantel na ordem de 7%. Durante esse período, toda a produção voltou-se para o mercado interno, fazendo com que desabassem os preços do

suíno e dos produtos, em nível de mercado. Praticamente toda a produção independente em nossa área de ação foi desativada, o que foi motivado também pelos excelentes resultados na agricultura.

Restam em nossa área de ação as unidades de produção de leitões (UPL’s), dois condomínios rurais e alguns abnegados criadores de ciclo completo, totalizando, pelos levantamentos, quantidade aproximada a 4.500 matrizes, das quais 3.800 são das UPL’s da Cotrigo. Este plantel garante fornecimento mensal de 7.500 cabeças, ou aproximadamente 350 animais/dia.

Com relação às UPL’s, no período da crise não efetuamos a reposição das avos, na granja núcleo, cuja necessidade é de 300, e apenas estamos com 30; o restante foi suprido com matrizes selecionadas na própria granja, com queda considerável na qualidade genética, elevando a conversão alimentar de 2,8 para 3,2 por animal terminado.NECESSIDADE DE REPOSIÇÃO DE AVOS-COMODATO– 300 Avos em 5 meses – 60 por/mês;230 kg cada no recebimento = 13.800 kg – custo, hoje, de R$ 32.400,00 Desembolso em 6 vezes – Total: R$ 194.580,00Após 11 meses do primeiro recebimento, pagamento de roialty, à razão de 52,5 kg porca/ano.– 30 machos para central inseminação: (COMPRA)Monta natural – macho 412 – 30 X R$ 2.300,00 – TOTAL: R$ 69.000,00, em 4 pagamentos.

– Custo-benefício:Ter como meta baixar a conversão (quilos) de 3.2 para 2.8 – ou 400 gramas – em economia por

quilo agregado de suíno terminado. Nas parcerias, se tomarmos por base uma média de 6 mil suínos mês, ocorrerá uma economia de ração na ordem de 192.000 kg, a 0,49 ao kg = R$ 94.080,00/mês, sem contar a menor incidência de doenças, com considerável redução nos gastos com medicamen-tos.

Outro fator importante é retomar os níveis genéticos que estamos paulatinamente perdendo, com animais a custo maior na terminação e rendimento declinante na relação carne gordura.

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COOPERATIVISMO

– A falta desses investimentos não traz resultado algum; pelo contrário, a aparente economia, que não existe, nos força a percorrer caminho contrário ao correto, sem que haja resultado positivo.

No momento, dado o alto valor necessário para ampliar o sistema integrado, tanto com alojamen-to de matrizes quanto com a alimentação necessária, o suprimento ocorre com a compra de animais de criadores independentes, fora da nossa área de ação, e de outros estados (SC), bem como com a aquisição de carcaças.

Nosso investimento direto se dá em 300 suínos/dia, onde bancamos todo o ciclo. Somos da opi-nião de que não é o momento de ampliar, mas sim, após apresentação de estudo mais apurado, de investirmos em melhoramento daquilo que temos.

Não temos tido problemas por hora quanto ao abastecimento da matéria-prima restante. A Co-trigo goza de excelente reputação junto a cooperativas e a outros fornecedores.

INDÚSTRIA– Entraves:a) Sistema de energia elétrica: Será solucionado com a colocação de novo transformador, passando

dos atuais 1.000 kw instalados para 1.500 kw. Os recursos serão obtidos através de incentivo da RGE, com redução na alíquota de energia. Todo o investimento necessário terá retorno e o pagamento do mesmo será vinculado à redução obtida.

b) Sistema de refrigeração: Existe a necessidade de colocar-se em funcionamento duas unidades de compressores - sistema parafuso, com capacidade para 450.000 kcal/h, de modo a suprir uma defasagem já exis-tente de 900.000 kcal/h. O investimento total aproximado é de R$ 700.000,00, pelo Finame, em cinco anos.

c) Resolvidos os problemas de energia e de refrigeração, estamos lentamente adequando alguns fluxos inter-nos, já com a promessa do Ministério da Agricultura de nos incluir na lista geral de exportação, abrindo Mercosul, Hong Kong, África do Sul e Cuba, entre outros.

– Oportunidades:a) Desossamos uma média de 750 suínos/dia para mantermos o equilíbrio entre receitas e despesas, com

colocação tranqüila em nível de mercado. Temos mercado garantido para até 1.000 suínos/dia; não podemos, no entanto, operar em tais níveis por problemas de capital de giro e estruturais, já apontados acima.

b) Com a exportação que estamos efetuando, conseguimos um resultado de 10% líquido nas operações já realizadas. Além de termos uma válvula opcional para, juntos com as demais indústrias do País, aliviarmos os entraves internos, evitando baixas nos produtos finais, também com as exportações abre-se leque importante para obtenção de capital de giro.

Por último, resumimos com a afirmação de que a suinocultura, principalmente com as exportações, apre-senta-se com fortes indicativos de boa rentabilidade para os produtores, bem como para as indústrias, com horizonte positivo para, no mínimo, os próximos dois anos.

Internamente, no entanto, nosso grande entrave continuará sendo a falta de capital de giro e os juros elevados a que somos obrigados a nos sujeitar, bem como a solução dos problemas de refrigeração.

INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS:Oportunidades:- Agrega valor à matéria-prima dos produtores familiares;- Dentro do sistema de produção, é mais um elemento de renda mensal, distribuída ao longo do ano;- Os recursos obtidos com a produção de leite movimentam o comércio local dos pequenos municí-

pios;- A produção leiteira gera trabalho e renda e, conseqüentemente, melhorias na qualidade de vida, prin-

cipalmente do pequeno produtor.Dificuldades: - Inexistência de uma política de preço mínimo para o leite;- Oscilação de preços na safra e na entresafra;- Padrões de qualidade: O produto rejeitado por uma indústria é aceito por outra e colocado no

mercado.- Guerra fiscal entre os estados;- Faltam recursos financeiros, a juros compatíveis, para capital de giro e para investimentos; - Na cadeia produtiva, produtor e indústria trabalham com o mínimo de ganho, enquanto o mercado

varejista fica com uma elevada margem de resultado, desequilibrando o setor de produção; - É preciso integrar o setor agroindustrial com a finalidade de melhorar o sistema produtivo.

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COOPERATIVISMO

BACIA LEITEIRA DA COTRIGOPontos positivos:* Atividade de subsistência em 35% das propriedades de abrangência da Cotrigo;* Crescimento anual de ± 12 % ao ano;* Melhoria do potencial genético do rebanho leiteiro através da inseminação artificial:- 1994 - 1.158 I.A- 2003 - 4.858 I.A;* Melhoria da média de produção do rebanho (litros/vaca/dia):- 1994 - 5,4 litros/vaca/dia- 2003 - 12,3 litros/vaca/dia;* Melhoria das instalações e dos equipamentos utilizados na produção leiteira, bem como na profissio-

nalização do produtor de leite em algumas propriedades (± 30 %);* A Cotrigo mantém o sistema de fomento de forma gratuita a todos os produtores;* A Cotrigo possui uma das mais modernas indústrias de laticínios; torna-se, assim, balizadora de pre-

ços praticados na região do Alto Uruguai, pois não repassa a matéria-prima e industrializa, repassando o resultado ao produtor.

Pontos negativos:* Falta de profissionalização de muitos produtores de leite – ou, mesmo, o desinteresse em melhorar

o processo produtivo; * Desenvolvimento e assistência técnica ao produtor rural sem a posterior fidelidade deste para com

a empresa mantenedora;* Falta de política governamental para estimular o produtor no desenvolvimento da atividade. Ex.:

Recursos para investimentos, padronização de qualidade de matéria-prima, injeção de capital de giro para pequenos laticínios;

* Conscientização do pequeno produtor rural de que a atividade leite possui maior retorno econômico por hectare trabalhado, se comparada com a produção de grãos;

* Falta de política de desenvolvimento mais clara (metas e objetivos desejados), para que o produtor atual sinta-se atraído a melhorar a sua produção e seja parceiro da indústria, alavancando o crescimento geral da bacia leiteira, não somente da Cotrigo mas de todas as empresas que atuam na região do Alto Uruguai.

INDÚSTRIA DE BALAS, DOCES E CONSERVAS:Oportunidades: A Cooperativa desenvolve um projeto de fruticultura (pêssego e figo) e de legumes (pepino e tomate)

com a finalidade de aproveitar pequenas áreas disponíveis e a qualificação profissional, visando a melhoria da qualidade de vida e uma rentabilidade maior na economia familiar. A indústria absorve a matéria-prima na sua própria área de ação, pelo constante crescimento da atividade. A localização, mais o acompanha-mento técnico, tem proporcionado sucessivo crescimento na produtividade e na qualidade do produto. A indústria mantém boa rede de distribuição.

Dificuldades:- Falta de capital de giro para manter os estoques, tendo em vista que a industrialização acontece num

período de 90 dias/ano e a comercialização durante todo o exercício.- Os equipamentos industriais são antigos, em sua maioria obsoletos, elevando sensivelmente os custos

industriais e criando dificuldades para competir no mercado.

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COOPERATIVISMO

Relativamente novo, o movimento cooperativista agropecuário gaúcho e brasileiro não pode ser medido pelo seu tempo de vida, mas pela efetividade de sua ação. Surgiu na década de 1950, determinado a resolver problemas conjunturais, como recebimento,

armazenagem e comercialização das safras agrícolas. As cooperativas tritícolas logo ampliaram seu campo de ação, em razão da mecanização da lavoura e da introdução da soja. Campo fértil para o associativismo, em decorrência da forte influência européia, nosso Estado viu multiplicar-se rapidamente o número de instituições, que ocuparam a função até então de responsabilidade pública.

Neste quase meio século, o movimento cooperativista espalhou-se e, por conta e risco pró-prios, ergueu estruturas invejáveis de uma logística até então inexistente. Propunha armazena-gem estrategicamente distribuída, quadro associativo coeso em torno dos ideais de Rochdale (livre adesão, cada pessoa um voto etc.), arrecadação de tributos, geração de empregos e assis-

tência técnica voltada à demandas dirigidas. Se economicamente essa contribuição é gigantesca, socialmente ainda é impossível mensurar seu tamanho.

Hoje, o cooperativismo agropecuário é responsável por um faturamento estimado em R$ 35 bilhões no Brasil. Dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostram que, em 2003, o cooperativismo agropecuário respondeu por 29,4% da produção de soja do País e por 62% da produção de trigo, entre outras commodities. Só nesse ramo cooperativo gravitam 6 mi-lhões de pessoas. O setor empregou 105 mil colaboradores, em ordem direta, no ano passado.

Sem qualquer subsídio – pelo contrário, tendo de arcar com todo o peso tributário que incide sobre a produção –, o cooperativismo agropecuário enfrenta dificuldades. Ora é a insuficiência de recursos a custos compatíveis para financiar a produção; ora é a ação oficial que se apóia no setor como âncora de sustentação para conter a inflação e/ou equilibrar a balança de pagamen-tos. O cooperativismo agropecuário não reclama o tratamento moroso e até indiferente das po-

Cooperativismo agropecuário antes e depois da porteira

CARLOS POLETOPRESIDENTE DA COOPERATIVA REGIONAL TRITÍCOLA SERRANA LTDA (COTRIJUÍ)

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COOPERATIVISMO

líticas próprias, pois elas coexistem com outros setores da economia. Mas reivindica tratamento diferenciado para a “indústria sem chaminé”, que enfrenta safra a safra, ano a ano, os riscos das intempéries e a concorrência desleal dos produtos subsidiados que, importados de outros paí-ses, concorrem com a nossa oferta de alimentos e de matérias-primas.

A vulnerabilidade do sistema não pode ser creditada tão somente a causas externas como as que apontamos. Os individualismos, os interesses localizados têm impedido que, por fusões ou incorporações, o sistema seja mais coeso. Está na hora de provar que a união faz a força, dimi-nuindo estruturas meramente organizacionais, centrando o foco numa ação que agregue forças e repasse benefícios.

Dezoito anos são passados desde que a Assembléia Nacional Constituinte formatou a nova Constituição Brasileira. O segmento cooperativo, no entanto, é ainda regido pela Lei 5.762, de 1972. De quem é a culpa, a falta de interesse por não se ter ainda aprovado a nova lei?

A história do agronegócio gaúcho e brasileiro só pode e deve ser escrita se nela constar o depoimento do cooperativismo agropecuário. Muito mais pelo que ele ainda vai significar no contexto socioeconômico de nosso País. Os percentuais de crescimento das exportações de commodities, a abertura franca de mercados novos, como Rússia e China, dão bem a direção

das oportunidades e dos desafios que enfrentamos. Se houver crédito e confiança no movi-mento cooperativista e forem facilitadas e ajustadas as condições para produzir bem e com-petitivamente, a contribuição do sistema tende a crescer. Do contrário, a persistir a política de poucos recursos oficiais, com custos incompatíveis, e a abertura de nossas fronteiras para a entrada de produtos que, na origem, recebem subsídios (trigo, leite etc.), a situação tende a se agravar.

É de nossa competência e responsabilidade fazer o dever de casa: fortalecer os laços de cooperação que já nos unem, valorizar as ações de quem produz alimentos, gerando riqueza e empregos, mas também cobrar soluções definitivas de quem de direito. Não é só o clima que, com freqüência, abate o ânimo e descapitaliza os milhões de agropecuaristas brasileiros. É tam-bém o clima da tensão e da desconfiança que paira sobre os empresários rurais, que acumulam patrimônio pela eficiência de seu trabalho; ou o clima do descaso de certos setores a quem compete decidir. Só para citar um exemplo, a do esvaziamento da Câmara Alta do Congresso Nacional no dia da votação da Lei de Biossegurança. Esse tempo nunca mais será recuperado. O atraso já está consolidado. Essas são as ameaças que rondam a produção primária em nosso Rio Grande e no Brasil.

Cooperativismo agropecuário antes e depois da porteira

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DÍVIDA AGRÍCOLA

O endividamento durante muitos anos significou um dos maiores – se não o maior – entraves para o desenvolvimento da agricultura bra-sileira. Iniciar o plantio era sempre um martírio, diante das dificulda-

des na obtenção de crédito para custeio. Motivo: restava uma enorme conta a pagar, engordada por correções praticamente impossíveis de serem alcança-das. Os ajustes realizados nos últimos anos permitiram que o setor produtivo finalmente respirasse aliviado. A conseqüência natural são as recentes super-safras, com recordes de colheita que impulsionam a balança comercial brasi-leira. Confira no artigo a seguir uma análise da conjuntura do endividamento rural brasileiro nas últimas décadas, com um alerta para que situações dessa natureza não se repitam.

Cuidado com elaRICARDO BARBOSA ALFONSIN

PRESIDENTE DO INSTITUTO DE ESTUDOS JURÍDICOS DA ATIVIDADE RURAL (IEJUR)

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A agricultura brasileira viveu 15 anos de retração graças a um endividamento produzido por uma série de fatores, quase todos externos. Disso resultou a estagnação da pro-dução de grãos, que se manteve congelada em cerca de 80 milhões de toneladas por

mais de uma década. Os instrumentos de crédito praticamente deixaram de existir, o seguro perdeu a nature-

za, a política de garantia de preços mínimos foi abandonada e o financiamento, tanto para o custeio como para investimentos, tornou-se absolutamente seletivo e insignificante, servindo os parcos recursos existentes unicamente para liquidar as onerosas dívidas do passado, nas chamadas operações mata-mata.

Os agricultores, no desespero, passaram a buscar fontes inadequadas de recursos, com custos incompatíveis à atividade, elevando o nível de endividamento a patamares insuportáveis. Com isto, as lavouras eram plantadas sem a observância das técnicas recomendáveis, resultan-do em baixa produtividade e em esgotamento do solo. Aqueles que não estavam endividados terminavam também prejudicados no processo, pois os preços eram aviltados pelo excesso de oferta de produto na safra, diante da necessidade de recursos dos endividados.

Esta situação levou a um estado de beligerância entre agricultores, governo e bancos. Juros praticados no setor alcançaram a até 4% ao mês, mais correção monetária, que corria pelos

40% ao mês. Qualquer desequilíbrio entre preços e custo financeiro era uma tragédia, cujo fim ia sendo protelado em sucessivas renegociações de dívidas, sempre mais onerosas, partindo de saldos já inatingíveis, agregando mais e mais garantias.

Cada plano econômico aplicava mais um golpe no setor, sendo o mais famoso e mais da-noso o Plano Collor, que em um dia acrescentou 84,32% nas contas gráficas, enquanto os preços subiram 41,28% no período. A descapitalização trazia várias conseqüências, entre elas a falta de renovação do maquinário e até mesmo de sua manutenção, o que ajudava a agravar a baixa produtividade. E o sistema de armazenagem ficou defasado e não foi ampliado, ficando o produtor a mercê da indústria.

A falta do crédito levou ao descrédito. A agricultura foi parar na Justiça e os produtores passaram a ser taxados de caloteiros até pelo Presidente da República. A sociedade não en-tendia a situação, a mídia repudiava o setor e o Judiciário estava surpreso com o sistemático ingresso de demandas entre os bancos e os produtores. A dívida em 1996 já alcançava, em alguns casos, duas safras.

Foram 10 anos de luta, tranca-estradas, fecha-agência-de-banco, tranca-ponte, pára-trem, queima-produto. A classe política parecia alheia aos fatos. Misturar-se com aquela horda de baderneiros devedores não rendia votos. A própria classe rejeitava-se entre si, havendo alguns

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que se achavam imunes àquele processo. Mas, aos poucos, a quase totalidade foi tragada pela inviabilidade.

Aí começou um movimento através das entidades de classe. Aqui no Rio Grande, recém surgia a FEDERARROZ, talvez por ser a lavoura de arroz a primeira a sentir com mais profun-didade a crise, por se tratar de uma atividade altamente tecnificada, irrigada e cujo produto depende do mercado interno, sendo um dos principais componentes da cesta básica; sofria, face a isto, a maior influência, em seus preços, das políticas econômicas que tentavam frear os insuportáveis índices de inflação.

Como os outros produtos também terminaram por ser atingidos, as demais entidades aderiram ao movimento, passando a FARSUL a ter um papel fundamental e, depois, a OCER-GS. O sistema cooperativo foi dizimado, terminando o movimento por atingir nível nacional, recebendo então o respaldo da CNA e da OCB. As lideranças políticas passaram a perceber a gravidade da situação e aos poucos foram aderindo ao movimento, tendo assim papel deci-sivo no convencimento do Eexecutivo quanto à necessidade de ser encontrada uma solução adequada.

Muitas foram as batalhas. Tivemos duas marchas nacionais, chamadas “caminhonaço”, que invadiram a Esplanada dos Ministérios em Brasília. Foram momentos emocionantes, de coroa-mento da organização da classe em busca de seus objetivos, que eram legítimos e patrióticos. As divergências foram deixadas de lado em busca da causa maior. Da parte jurídica, tivemos

uma grande batalha. Foram muitos os colegas que encamparam a luta e, depois, reuniram-se em torno do IEJUR como forma de levar ao mundo jurídico a compreensão do que estava acontecendo, levar ao Judiciário o entendimento de que aqueles contratos não podiam ser cumpridos da forma abusiva com que tinham sido preenchidos.

As partes não tinham livre manifestação de vontade ao firmarem os pactos. O crédito rural passou então a ser entendido dentro de seus objetivos de interesse nacional. As vitórias dos agricultores foram sucedendo-se, chegando ao ponto de conseguir-se no Superior Tribunal de Justiça a limitação dos juros em 12% a.a., no País que os pratica de forma mais elevada no mundo, através da aplicação da legislação protetiva da atividade produtiva. Esta demonstração das ilegalidades cometidas pelo sistema financeiro contra a agricultura nacional e o volume que alcançou a dívida – chegando a mais de 50% de inadimplência no Banco do Brasil, levando o Banco a sérias dificuldades – motivou a instauração de uma CPMI no Congresso Nacional, que teve a iniciativa do então deputado federal Victor Faccioni, espetacular homem público.

A comissão parlamentar foi presidida pelo senador Jonas Pinheiro, do Mato Grosso, e teve como relator o batalhador deputado catarinense Valdir Colatto. A CPMI teve seu relatório aprovado por unanimidade, respaldada pelas decisões judiciais e pelo depoimento das mais altas autoridades, tendo como frase-símbolo a proferida pelo então presidente do Banco do Brasil, Alcir Calliari, que declarou: “Com os juros praticados pelos bancos, nem plantando ma-conha irrigada seria possível pagar as contas”. Esse documento passou a ser uma bíblia.

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Mesmo assim, foi muito difícil mudar a cabeça dos burocratas. A resistência era quase in-transponível; creio que só a necessidade de solução aos problemas que o Banco do Brasil e que alguns bancos estatais passaram a enfrentar é que resultou na abertura a uma solução. Vieram os alongamentos de dívidas, sendo os primeiros absolutamente inviáveis. Depois, ti-vemos a securitização para dívidas de até R$ 200 mil, e posteriormente o PESA, para valores superiores a este. As contas nos dois programas foram negociadas em valores muito altos, consagrando muitas das ilegalidades constatadas no Judiciário e na CPMI.

Não houve os expurgos, os custos iniciais dos programas de alongamento eram muito altos e muitos que renegociaram não puderam pagar. Além disso, boa parte dos que fizeram um es-forço enorme para renegociar continuaram alijados do crédito. As dificuldades foram muitas, pois, ao longo destes anos, a soja – que agora foi negociada a US$ 20, chegou a ser vendida a US$ 6; o arroz, que este ano valeu até R$ 40,00, chegou a valer R$ 6,00; e o milho, hoje a R$ 20,00, valeu R$ 4,00. Isto já no Plano Real.

A descapitalização foi grande. Embora as soluções para a dívida não tenham resolvido o problema, houve um fôlego, e a partir daí as coisas mudaram. Não foi apenas este fator, mas certamente este foi decisivo. Sem a dívida ou sem a transferência do dinheiro aos bancos, o Brasil passou de 80 milhões de toneladas para 120 milhões, e fala-se em 140 milhões para a próxima safra, sem comentar as 380 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Que atividade fantástica que consegue fazer uma reconversão desta natureza! O Brasil tinha um déficit na ba-

lança comercial de U$ 6 bilhões em 1997 e este ano deve alcançar superávit de R$ 30 bilhões, graças ao agronegócio. Como foi barata esta solução e quantos frutos rendeu.

Antes, falar sobre agricultura era sinal de atraso; hoje, todos se dizem orgulhosos enten-didos do assunto. Mas... cuidado com ela! Os preços estão baixando, os custos de produção aumentaram em desacordo com a inflação, os financiamentos estão mais caros... A dívida do passado está viva e acumulada, e houve uma euforia na compra de máquinas que aumentou este comprometimento. É importante um grande alerta das entidades de classe para que não revivamos o mesmo triste passado recente, que não está sepultado. A atividade continua sendo de alto risco, e que Deus nos livre de mais um ano de clima ruim, que se some a maus preços e altos custos. Não é mau agouro, mas um alerta de quem viu tanta gente sofrer e morrer nesta triste estrada percorrida nas últimas décadas.

É a estes heróis que tombaram com a própria vida – e foram muitos! – a quem rendo a minha homenagem, esperando que seu sacrifício sirva de exemplo para que os fatos não se repitam.

Quanto à dívida, repito: cuidado com ela! Matar o monstro é possível, mas remover seus escombros não é tarefa fácil.

Finalmente, gostaria de render minha homenagem a alguns parlamentares, além dos citados, que já não estão no Congresso, mas que foram desassombrados e decisivos no desafogo da dívida. Entre eles: Aldo Pinto, Carlos Azambuja e Hugo Biehl.

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A cadeia produtiva de base florestal constitui uma das principais alternativas econômicas para o produtor rural em inúmeras regiões. No Rio Grande do Sul, o segmento oferece excelentes perspectivas de expansão para a

Metade Sul do Estado, diante das condições locais propícias à exploração das flores-tas, mas também se ajusta ao modelo de produção de outras áreas. Nos próximos anos, os gaúchos poderão aproveitar as oportunidades que se oferecem para o Brasil como um todo no cenário internacional, no fornecimento de madeiras, de matérias-primas diversas e de produtos acabados. Os dois artigos a seguir analisam o momento atual do setor e apontam rumos nesse caminho para tornar o Rio Grande do Sul referência no agronegócio florestal brasileiro e mundial.

FLORESTAL

Cadeia produtiva de base florestalROQUE JUSTEN, PRESIDENTE

JOSÉ LAURO DE QUADROS, DIRETOR EXECUTIVOASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE EMPRESAS FLORESTAIS (AGEFLOR)

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Visão atual:A cadeia produtiva de base florestal do Rio Grande do Sul é constituída de inúmeros

segmentos, destacando-se os seguintes: a) florestamento e reflorestamento; b) madeira serrada para uso na construção civil, indústria moveleira etc.; c) indústrias de chapas (en-tre elas MDF), aglomerados e compensados; d) movelaria; e) celulose e papel; f) tanino; g) resinas (breu, terebentina); h) postes tratados; e i) energia (lenha e carvão).

O faturamento anual atingiu em 2003 o montante de R$ 3,5 bilhões, assim distribuí-dos:

* Indústria moveleira – R$ 2,5 bilhões;* Celulose e papel – R$ 0,5 bilhões;* Outros (madeira serrada etc) – R$ 0,5 bilhões.

Seus produtos são comercializados nos mercados interno e internacional. Além dos benefícios econômicos, destacam-se os aspectos sociais, através da geração de mais de 200.000 empregos, e as vantagens ambientais, decorrentes da utilização de matéria-pri-ma oriunda de florestas plantadas, refletindo-se na preservação do remanescente das florestas nativas do Estado. A base florestal ocupa atualmente 360.000 hectares, assim distribuídos:

Gênero Área (ha)Acácia negra (Acacia mearnsii) 100.000Eucalipto (Eucalyptus spp) 110.000

Pinus (Pinus elliottii e P. taeda) 150.000Fonte: Inventário Florestal RS - 2001

Pontos Fortes:1) A matéria prima oriunda de florestas plantadas é um recurso natural renovável, po-

dendo ser produzido indefinidamente no mesmo local. Essas florestas desempenham im-portantes funções ambientais, entre elas: proteção do solo, regulação do ciclo hidrológico, seqüestro e fixação do gás carbônico (CO2), atenuando o fenômeno “efeito estufa”; dimi-nuição da pressão sobre as florestas nativas em decorrência de maior oferta de madeira; ação reguladora e amenizadora dos elementos climáticos, agindo principalmente sobre a temperatura, a umidade e a circulação do ar.

2) As condições para a expansão das áreas implantadas com florestas são altamente favoráveis. Somente na Metade Sul do Rio Grande do Sul encontram-se vinculados às ati-vidades agropecuárias mais de 15 milhões de hectares. Através da introdução de sistemas agro-silvi-pastoris nessa região, racionalizando e otimizando o uso da terra, poderá ser destinado ao florestamento e reflorestamento 2,4% dessa área total, totalizando 360.000 ha, o que duplicará o patrimônio florestal hoje existente no Estado.

Ressalta-se ainda a qualidade dos solos e o clima favorável ao desenvolvimento flo-restal, tornando a Metade Sul uma das melhores regiões do mundo para essa atividade. Aliando-se a essas condições ambientais, dos avançados processos silviculturais adotados no nosso Estado resultam vantagens altamente competitivas em relação aos demais países no que se refere à qualidade e ao preço da matéria-prima florestal.

Reconhecendo o potencial de crescimento desse agronegócio, o atual governo estadual

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definiu como uma de suas prioridades a elaboração e a implantação do Programa Flores-ta-Indústria/RS. Para sua concretização, diversas iniciativas foram tomadas ou estão em andamento, entre elas:

a) Criação do Grupo de Trabalho Governo do Estado/Comitê da Indústria de Base Flo-restal e Moveleira da FIERGS. Pelo Governo participam: Secretaria da Agricultura e Abas-tecimento, Secretaria da Coordenação e Planejamento, Secretaria do Desenvolvimento e Assuntos Internacionais, Secretaria da Fazenda, Secretaria do Meio Ambiente, Gabinete da Reforma Agrária e Cooperativismo. Pelo Comitê: AGEFLOR – Associação Gaúcha de Empresas Florestais; MOVERGS – Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul; SINDIMADEIRA – Sindicato da Indústria de Serrarias, Carpintarias, Tano-arias, Esquadrias, Marcenarias, Móveis, Madeiras Compensadas e Laminadas, Aglomerados e Chapas de Fibras de Madeiras de Caxias do Sul; SINDMOBIL – Sindicato das Indústrias do Mobiliário da Região das Hortênsias; SINDMÓVEIS – Sindicato das Indústrias da Cons-trução e do Mobiliário de Bento Gonçalves; SINPASUL – Sindicato das Indústrias do Papel, Papelão e Cortiça do Estado do Rio Grande do Sul;

b) Fórum de Competitividade da Cadeia da Madeira, Celulose, Papel, Móveis e Afins/SEDAI

c) Criação do Núcleo de Inteligência Competitiva na CaixaRS, com ênfase na cadeia produtiva de base florestal;

d) Formação de Grupo de Trabalho, liderado pela SEDAI e pela CaixaRS, com o apoio de entidades representativas do setor produtivo, visando organizar Arranjos Produtivos

Locais (APL’S) direcionados à mencionada cadeia produtiva;e) Criação do Centro Gestor de Inovação (CGI) da Cadeia Produtiva Madeira-Móveis,

constituído por SEDAI, MOVERGS, SINDMÓVEIS, UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, SENAI/CETEMO e SEBRAE;

f) Comissão de Florestamento e Silvicultura da FARSUL;g) Câmara Setorial Madeira-Móveis do SEBRAE;h) PROFLORA (Programa de Financiamento Florestal Gaúcho), da Caixa-RS, alavancan-

do os financiamentos para os plantios florestais.

Esses órgãos e programas atuam e se desenvolvem de forma integrada, somando esfor-ços e harmonizando as diferentes ações em direção à construção de um cenário promis-sor para a economia de base florestal gaúcha.

3) Porto de Rio Grande, com calado compatível e com amplas condições para expor-tação da madeira e de seus produtos.

Pontos Fracos:

1. Logística de transporte:a) O modal ferroviário é inexistente nas principais regiões produtoras de madeira; b)

Baixa utilização do modal fluvial/lacustre; c) O modal rodoviário, intensamente utilizado, se

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apresenta com grande número de rodovias em precárias condições de conservação;2. Elevada carga tributária;3. Excessiva regulamentação decorrente da vasta legislação florestal-ambiental existente;4. Insuficiência na oferta de contêineres para o transporte internacional dos produtos

do setor;5. Juros excessivos nas linhas de crédito para implantação de novas indústrias e para mo-

dernização tecnológica das atualmente existentes.

Oportunidades:1. Utilização de financiamentos com recursos do PROPFLORA (Programa de Plantio

Comercial de Florestas). Esta linha de crédito atende parcialmente às atuais necessidades do setor;

2. Disponibilidade de terras com vocação para a implantação de florestas;3. Acesso facilitado ao mercado mundial de produtos florestais.a) Esse mercado está permanentemente em expansão, tanto em decorrência do cresci-

mento populacional como pelo aumento do poder aquisitivo das populações nos países em desenvolvimento. A participação brasileira no mesmo é de menos de 3%. Há muito espaço para crescimento;

b) As restrições ambientais no Oeste dos Estados Unidos e no Canadá, a escassez de madeira no Sul dos Estados Unidos, falhas no sistema de produção na Rússia e colheitas decrescentes de madeiras tropicais nativas no Sudeste asiático provocaram uma diminuição

na oferta global de madeira, abrindo possibilidades para o surgimento de novas áreas de produção, onde poderemos inserir o Rio Grande do Sul;

c) Inexistência de barreiras alfandegárias e fiscais para as nossas madeiras e para seus produtos;

d) Nossa produção mantém rígido controle fitossanitário, eliminando o risco de criação de barreiras de ordem ambiental pelos países importadores;

4. Avanço da certificação florestal;5. Disponibilidade de mão-de-obra para atendimento das necessidades de expansão do

setor;6. Utilização de tecnologias avançadas na silvicultura e no processamento industrial da

matéria-prima madeira;7. Pré-disposição dos poderes Executivo e Legislativo do Estado e dos municípios em

apoiar o desenvolvimento da economia de base florestal.

Ameaças:1. Disseminação de idéias equivocadas sobre as florestas plantadas, transformando seus

benefícios em riscos ambientais;2. Implantação de normas e exigências pelos órgãos públicos responsáveis pela política

ambiental, que poderão engessar o desenvolvimento do setor;3. Contingeciamento da utilização de áreas de plantio florestal ou a ele destinados através

da criação de Unidades de Conservação pelo Poder Público Federal.

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Visão Atual:O setor vive a euforia dos bons preços da madeira, impulsionado pela exportação de “cavacos de madeira”, realizada através do porto de Rio Grande, aliada aos investimentos, no setor, propos-

tos pelos grupos Votorantim e Aracruz.

Pontos Fortes:Muitos produtores estão investindo na atividade, formando florestas de eucaliptos, de pinhos e de acácia negra. Em decorrência, há aumento de empregos, de salários, de encargos e a conseqüente

otimização da economia. Pontos Fracos:Por uma série de razões, houve elevação substancial no preço das terras destinadas à formação das florestas.

Oportunidades:O segmento florestal proporciona a diversificação das atividades dos produtores e igualmente o aumento da renda dos agropecuaristas. O setor conta com financiamentos disponíveis nos prin-

cipais agentes financeiros, especialmente através do Programa Federal de Plantio e Comercialização de Florestas (PROPFLORA) e do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF-Florestal).

Ameaças:As principais ameaças a essa atividade são a legislação ambiental e a oligopolização do setor.

FLORESTAL

JOSÉ KOCHHANNGERENTE DE MERCADO AGRONEGÓCIOS DO BANCO DO BRASIL

Uma avaliação do setor florestal

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FRUTICULTURA

A produção de frutas impulsiona a economia de várias regiões do Rio Grande do Sul. Identificado especialmente com a pequena e a média propriedade rural, o segmen-to gera empregos e renda, seja constituindo-se na principal atividade da família ou

como uma chance para complementação dos ganhos. Além da produção de frutas in natura, o incremento no processo industrial, com o preparo de doces e de conservas, entre outros itens, tem aberto novas e interessantes oportunidades para os produtores, para os municí-pios e para todo o Rio Grande do Sul. Nos três artigos a seguir, lideranças profundamente identificadas com a realidade atual e com os esforços realizados por estas cadeias produti-vas analisam as potencialidades da fruticultura para fomentar o desenvolvimento estadual.

ALEXANDRE HOFFMANNCHEFE-GERAL DA EMBRAPA UVA E VINHO

Frutas para o Brasil e para o mundo

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Visão atual:

A produção de frutas, tanto para mercado destinado ao consumo in natura quanto para a industrialização, é reconhecidamente uma das atividades agrícolas com maior geração de empre-gos em relação ao capital investido, com ampla capacidade de geração de divisas e agregação de valor, inclusive em nível de propriedade agrícola; e com forte capacidade de fixação do produtor na atividade agrícola. Soma-se a isto o fato de que as frutas têm sido amplamente divulgadas como importantes fatores de composição da dieta, por contribuírem para o equilíbrio nutricio-nal, para a prevenção de doenças e para a melhoria da qualidade de vida da população.

O Brasil apresenta, adicionalmente, vantagens comparativas pela sua diversidade climática e por suas condições de solo que possibilitam obter-se frutas durante grande período do ano e produtos processados de alta qualidade organoléptica e ótima aceitação junto aos mercados consumidores brasileiro e internacional. Entretanto, trata-se de atividade de retorno a médio e longo prazos, exigente em tecnologia e de alto risco, requerente de políticas de crédito es-pecíficas e adequadas a retorno econômico a partir de – na maioria dos casos – quatro a cinco anos após a implantação do empreendimento.

Os principais desafios desta atividade dizem respeito à alta exigência de qualidade da fruta pelo mercado consumidor, necessidade crescente de especialização do processo produtivo,

exigência ampla de certificação de produtos e preocupação crescente com a sustentabilidade ambiental e econômica da atividade, num contexto de mercados cada vez mais competitivos e exigentes. A relevância socioeconômica da fruticultura tem estimulado, em todo o País, grande quantidade de programas públicos e privados de incentivo ao setor. Adicionalmente à quali-dade da fruta brasileira e aos investimentos de grande impacto econômico e aos resultados altamente promissores, políticas públicas importantes de incentivo têm dado ampla visibilidade à fruticultura brasileira, no cenário brasileiro e internacional.

Pontos fortes:* Diversidade de climas, favorecendo a produção de elenco quase ilimitado de espécies

frutíferas;* Condições de insolação e de precipitação pluviométrica que favorecem produção ao

longo de grande parte do ano em diversas regiões do País;* Significativo número de instituições com ampla competência na pesquisa adaptada às

condições brasileiras;* Iniciativas crescentes de parcerias entre produtores e instituições de pesquisa tecnoló-

gica;* Surgimento de vários programas de incentivo à fruticultura

FRUTICULTURA

Frutas para o Brasil e para o mundo

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FRUTICULTURA

Pontos fracos:* Carência e descontinuidade no fluxo financeiro para que a pesquisa ocorra de forma con-

tínua e progressiva, considerando-se ser atividade de retorno a médio e longo prazo;* Defesa fitossanitária brasileira dificultada pelas dimensões continentais do País, expondo

o mesmo a fortes riscos de pragas e doenças;* Limitação de fatores intervenientes à competividade, que podem reduzir o impacto da tecno-

logia, como logística, crédito, acordos bilaterais, subsídios e barreiras tarifárias e não-tarifárias;* Falta de políticas públicas consistentes e de longo prazo, que assegurem recursos públicos para

projetos estruturantes e de base para a competitividade.

Oportunidades:* Estabelecimento de parcerias com produtores e com suas organizações para assegurar recursos

e direcionamento estratégico das instituições de pesquisa tecnológica para execução de ações de pesquisa;

* Amplitude de oferta, em elenco de produtos e de épocas, no mercado nacional e internacional;

* Estrutura de ensino tecnológico e científico bastante capilarizada e com alto nível de espe-cialização;

* Consciência por parte de representantes da classe política e de entidades organizadas do setor produtivo sobre a importância da pesquisa tecnológica.

Ameaças:* Falta de continuidade na reposição de pesquisadores em instituições de pesquisa tecnológica;* Forte concorrência de outros países produtores;* Redução do preço unitário da fruta, exigindo políticas de certificação e agregação de valor via

sinais de qualidade (indicação de procedência, selo de qualidade ambiental etc.);* Entrada de inóculos de pragas e de doenças no País, aumentando as barreiras ao acesso do

produto no mercado internacional;* Aumento das restrições da apropriação de tecnologia em função da proteção intelectual da

produção científica e tecnológica;* Falta de políticas contínuas de apoio à pesquisa.

Frutas para o Brasil e para o mundo

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A microrregião do Vale do Rio Turvo reúne 21 municípios que, juntos, abrangem área de 470,8 mil hectares, sendo que 30 % da população – o equivalente a 60 mil habitantes – reside na zona rural. É uma região que tem sua economia baseada no setor primário,

com propriedades médias inferiores a 50 hectares. Com o desenvolvimento dos processos agrícolas e com a monocultura, a região sofreu

forte influência, alterando os ecossistemas tradicionais com a introdução indiscriminada de agroquímicos e da mecanização agrícola. A cobertura de matas nativas, que representou 40% em toda região no início da colonização, hoje é de apenas 5%. A produção agrícola, baseada nos grãos, tem proporcionado sólidas divisas para a balança de pagamentos do Brasil, porém registra, na região: sinais de degradação do solo, como erosão e perda de fertilidade; conta-minação dos recursos naturais, em especial da água e do solo, ambos com forte presença de agroquímicos sintéticos; desaparecimento de sistemas naturais; ociosidade da mão-de-obra, provocada pela mecanização; e pouca industrialização dos grãos na região, ocasionando o empobrecimento, entre outros.

Urge, para a região, a necessidade de diversificação da atual matriz produtiva, calcada na me-

canização, no agroquímico, na concentração de renda e no desemprego, devendo ser substituí-da por atividades que possibilitem a reversão do quadro atual. A fruticultura é uma das opções para mudança do perfil econômico e social da região, pelas condições naturais propícias para a exploração frutícola e pelo potencial de mercado interno e externo, além da possibilidade de geração de empregos diretos e indiretos, no campo e nas cidades. É de consenso que para cada US$ 10 mil investidos na fruticultura criam-se três empregos diretos e permanentes e dois indiretos.

O Brasil, com sua vastidão territorial e sua variabilidade climática, possui condições de pro-duzir frutas de todas as espécies, durante o ano todo. Mas, incompreensivelmente, contribuiu com apenas 1% do comércio mundial, sendo ainda importador líquido de frutas. Este agrone-gócio, nos últimos anos, tem merecido a atenção dos governos de todos os níveis, na definição de políticas públicas que propiciem condições para que o País alcance as primeiras posições entre os maiores exportadores mundiais.

A região celeiro tem posição estratégica para atingir os grandes mercados de Porto Alegre, de Curitiba, de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte; e, numa segunda etapa, os

Fruticultura: visão atual e perspectivas para o setorEUGENIO FRIZZO

PRESIDENTE-EXECUTIVO DA FUNDAÇÃO VALE DO RIO TURVO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (FUNDATURVO/DS), DE SANTO AUGUSTO (RS)VALDERI ZIRR

CONSULTOR DA VGV CONSULTORIA E DESENVOLVIMENTO S/C LTDA.

FRUTICULTURA

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FRUTICULTURA

países do Mercosul e, em parceria com bloco, os mercados americanos, europeu e asiático, já explorados pelos países tradicionalmente exportadores, como o Chile e a Argentina.

Como ameaças ao desenvolvimento comercial da fruticultura na região, entre outras, está a falta de tradição da atual geração dos agricultores, que são basicamente produtores de grãos e de leite. Apesar de se tratar de imigrantes europeus na quarta geração, muitos dominam pequenos pomares para autoconsumo. Para viabilizar uma produção com boa técnica e com rentabilidade sustentável, entre outras iniciativas, será necessário um forte processo de ca-pacitação e de treinamento dos fruticultores participantes no setor.

A fruticultura, para a quase totalidade dos agricultores, representa uma nova atividade, que requer conhecimentos específicos sobre os sistemas produtivos e sobre as questões de mercado. A cultura da soja, que se encontra num inédito momento da alta rentabilidade, também pode ser considerada como outro obstáculo a ser enfrentado, pois propugnar pela alteração de uma matriz produtiva que está proporcionando alto lucro aos produtores requer argumentos convincentes.

Os primeiros passos da FUNDATURVO/DS na direção da implantação da fruticultura na re-gião já foram iniciados, a partir da aproximação com a Embrapa Clima Temperado, resultando em um Convênio de Cooperação entre as partes, com visitas técnicas e administrativas, dis-cussões em seminários e workshops, caracterização técnico-agronômica da potencialidade dos solos para a fruticultura e implantação de Pomar Demonstrativo-Didático, com exemplares de

diversas cultivares de pessegueiro, macieira, pereira, nectarineira, ameixeira, mirtilo, videira, morangueiro, amoreira, citros e frutas nativas. Esta coleção de plantas será complementada pela introdução de fruteiras de clima tropical, com possibilidades de adaptação às condições edafoclimáticas da região celeiro.

O propósito destas ações é reunir as instituições parceiras, selecionadas segundo notória competência no ramo da fruticultura; e agregar experiências, em prol da inserção da região nos contextos nacional e internacional dos centros produtores de frutas de qualidade.

Para concluir, a FUNDATURVO/DS está liderando, a partir desta visão e destas estratégias estabelecidas, o Programa de Desenvolvimento da Fruticultura na Região do Vale do Rio Turvo (VALEFRUTI), com o objetivo de realizar ações para a transferência de modernas tecnologias de produção e de processamento de frutas de qualidade competitiva no agronegócio. Ao mes-mo tempo, pretendemos planejar e implantar a cadeia agroindustrial da fruticultura em escala comercial na Região do Vale do Rio Turvo.

Este programa contempla a instalação de matrizeiros, de viveiros telados, de packing houses, de cantinas, de indústrias processadoras, o desenvolvimento de recursos humanos e o aporte de tecnologias, desde a produção até a comercialização final dos produtos industrializados e in natura. Esta ação é uma comprovação de que a fruticultura, a curto, médio e longo prazos, é uma das grandes saídas para o desenvolvimento econômico e uma forma de elevar a qualidade de vida da população da Região Celeiro do Rio Grande do Sul.

Fruticultura: visão atual e perspectivas para o setor

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A agricultura gaúcha está baseada em pequenas propriedades rurais, tornando o Estado conhecido como celeiro do País. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Rio Grande do Sul participa com 49% da produção de arroz do País, com 76% da aveia e com 48% do fumo, com um rebanho que chega a mais

de 13 milhões de cabeças de gado. Os diferentes produtos que o Rio Grande é capaz de produzir transformam-se num estímulo para a rotatividade das plantações.

A diversificação de culturas é uma garantia de redução dos riscos de prejuízos, caso a comparemos com a mono-cultura, pois há uma série de variáveis que determinam a segurança para o produtor rural.

São culturas plantadas em áreas diferentes ou simultâneas, não concorrentes entre si, que permitem a atividade o ano inteiro, acompanhando as características próprias de cada estação. Isso pode, inclusive, permitir que se atenda os mercados local, nacional e até de exportação.

Um bom exemplo disto é o que está ocorrendo no Vale do Rio Pardo, tradicional produtor de fumo, que hoje tem seus produtores voltados também para a fruticultura. Os resultados são muito positivos, e resultaram em uma opção mais rentável que o tabaco, permitindo que os produtos sejam vendidos em diferentes locais e períodos.

A diversificação busca exatamente isto: o equilíbrio sócio-econômico o ano todo, além de permitir também a ro-tatividade de culturas e, em alguns casos, com menor manejo do solo, com menor utilização de insumos e garantindo uma excelente produtividade.

FRUTICULTURA

Monocultura não!!! Diversificação sim!!!PAULO AZEREDO

DEPUTADO ESTADUAL

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FUMICULTURA

A eficiência tecnológica e de manejo das propriedades fumicultoras no Sul do Brasil é garantia do sucesso que o produto brasileiro protagoniza no mercado internacional. Segundo maior produtor mundial, o Brasil é o

maior exportador mundial de fumos em folha, tendo conquistado os mais impor-tantes e exigentes clientes. Dentro desse contexto, o Rio Grande do Sul responde por quase metade do tabaco tipo Virgínia – matéria-prima básica para o blend dos melhores cigarros – colhido no Brasil. Cultura tradicional da pequena proprieda-de, o tabaco hoje envolve quase 200 mil produtores, gerando emprego e renda em uma das regiões mais desenvolvidas do Sul do País. Nos dois artigos a seguir, representantes das duas principais entidades do setor analisam o atual momento da fumicultura.

HAINSI GRALOWPRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DOS FUMICULTORES DO BRASIL (AFUBRA)

Fumicultura sul-brasileira

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Visão atual: A fumicultura sul-brasileira mostra expansão a cada nova safra. O crescimento advém, internamente, do sistema integrado de produção e dos avanços tecnológicos introduzidos na lavoura, soma-

dos à conquista de novos clientes no mercado internacional, atraídos pela produção de tabaco de alta qualidade (“fumos limpos”).

FUMICULTURA/CRESCIMENTOSAFRA Famílias hectares Produção Valor produtoras plantados t R$

1999/00 134.850 257.660 539.040 1.078.080.000

2000/01 134.930 253.790 509.110 1.247.319.500

2001/02 153.130 304.510 635.110 1.810.063.500

2002/03 170.830 353.810 600.540* 2.294.062.800

2003/04 190.270 411.290 851.060 3.608.494.400Fonte: Afubra* A estimativa era de 720 mil toneladas; houve frustração em decorrência do clima.

FUMICULTURA/EXPORTAÇÃO

ANO Quilos US$ US$/kg

2000 353.020.000 841.470.000 2,38

2001 443.900.000 944.320.000 2,13

2002 474.470.000 1.008.170.000 2,12

2003 477.540.000 1.090.220.000 2,28

*2004 550.000.000 1.400.000.000 2,55Fonte: Secex* Estimativa

FUMICULTURA

Fumicultura sul-brasileira

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FUMICULTURA

Pontos fortes:- O Brasil é o segundo maior produtor, entre 103 países; mesmo sem subsídios, o País participa com 10%

do volume total produzido no mundo;- Desde 1993, o Brasil é o maior exportador mundial; vende para mais de 100 países. A estimativa para

2004 é de 550 mil toneladas, o que vai proporcionar divisas de U$ 1,4 bilhão;- A participação do produto é superior a 2,5% na pauta de exportações;- O faturamento do setor em 2003 atingiu R$ 11,9 bilhões;- Foram pagos mais de R$ 5,5 bilhões em tributos no mesmo ano;- O valor das imobilizações na região Sul atinge R$ 2,7 bilhões;- O setor gera 2,4 milhões de empregos diretos e indiretos;- São 190 mil famílias ligadas diretamente à produção (no Brasil todo são 226.500);- Somente no Sul, são mais de 37 mil famílias que não possuem terra; com o fumo, elas têm uma forma

digna de sobrevivência;- O fumo gera grande emprego de mão-de-obra; do total do custo de produção, 50% provém dela;- O tamanho médio das propriedades dos fumicultores é de 17,3 hectares; o fumo ocupa 15% dessa área;

59% é utilizado com outras culturas; e 26% está coberto com florestas;- 67% da renda do produtor provém do fumo, cujo cultivo perdura de seis a sete meses; isto viabiliza o

plantio de outras culturas na mesma área e no mesmo ano;- A maioria dos produtores são minifundiários e residem em regiões de relevo acidentado; dificilmente

permaneceriam na atividade agrícola sem o fumo, em virtude do tamanho reduzido da propriedade e do mercado instável das outras culturas.

Pontos fracos:- As constantes divergências entre os produtores e a indústria em relação ao preço pago ao

produto in natura;- A injusta distribuição da renda gerada pelo setor: dos mais de R$ 11 bilhões gerados em

2003, o governo ficou com 47,1%; a indústria, com 26,9%; o produtor, com 19,9%; e o varejista, com 6,1%.

- O preço médio recebido por conta das exportações não está em consonância com a quali-dade do fumo brasileiro.

Oportunidades:Pelas constantes técnicas inovadoras na produção de sementes e nos tratos culturais da lavou-

ra, o fumo brasileiro tende a conquistar novas fatias no mercado internacional. A China, por sua abertura comercial, é o exemplo mais latente.

Ameaças:A possível ratificação do Brasil à Convenção-Quadro para Controle do Tabaco é a mais séria

ameaça. O setor entende que enquanto houver consumo, há necessidade de produção. Por conta disso, caso se proíba a produção de fumo no País, a dinamicidade do setor brasileiro de tabaco, tanto no campo quanto na indústria, será transferida para outras nações.

A situação se agravará ainda mais por não existir uma alternativa de produção agrícola tão rentável quanto a fumicultura para sustento da agricultura familiar em larga escala.

O Brasil é o segundo maior produtor e o maior exportador mundial. Diante disso, seria incoe-rente a ratificação sem antes ter definido alternativas viáveis, com garantia de preço e de mercado.

Fumicultura sul-brasileira

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Todas as projeções feitas para a safra 2004 se confirmaram e consolidaram o Brasil como o segundo maior produtor de fumo do mundo, sendo superado apenas pela China. Já há alguns anos o País disputava e alternava a segunda colocação com a Índia, que foi definitiva-

mente superada. O número oficial da safra totalizou 852 mil toneladas de fumo nos três estados do Sul do Brasil, sendo 51% no Rio Grande do Sul, 33% em Santa Catarina e 16% no Paraná.

Embora a qualidade tenha ficado um pouco aquém da esperada, ainda manteve-se dentro dos padrões tradicionalmente apresentados pelo fumo brasileiro e teve boa aceitação junto ao mer-cado. A produtividade das lavouras foi alta, considerando os três tipos de fumo (Virgínia, Burley e Comum), alcançando 2.094 quilos por hectare. No fumo Virgínia, a produtividade média foi de 2.161 quilos por hectare, enquanto no Burley o rendimento das lavouras foi de 1.831 quilos por hectare.

Para produzir esta safra recorde, a região Sul contou com 190 mil famílias produtoras, em 759 municípios dos três estados. Nas pequenas propriedades – que, juntas, cultivaram 407mil hectares – foram utilizadas 236 mil estufas e galpões para a cura do fumo.

SAFRA RENDEU R$ 3,6 BILHÕES AOS FUMICULTORES

Os números da safra 2004 realmente impressionam. Aliado à produção recorde e à alta produ-tividade das lavouras, o retorno econômico às famílias produtoras chegou a R$ 3,6 bilhões. Este desempenho superou em 50% o valor de 2003, que alcançou R$ 2,4 bilhões para a produção de 600,3 mil toneladas.

De acordo com dados da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), apurados pelo Núcleo de Pesquisa Social (Nupes) da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a cultura do fumo repre-sentou 67% do valor da produção agropecuária dos fumicultores na safra 2004. Já a produção de ou-tras culturas e a animal participaram com 20% e 13%, respectivamente. A mesma pesquisa também demonstra que, enquanto o fumo gera renda de R$ 8,7 mil por hectare, as outras atividades (vegetal e animal) rendem somente R$ 1,1 mil por hectare. Estes dados comprovam a importância da cultura do tabaco na formação da renda dos fumicultores do Sul do Brasil, que têm propriedades com área média de 17,3 hectares, dos quais somente 15% destinam-se ao cultivo do tabaco.

FUMICULTURA

Produção recorde supera as 850 mil toneladasCLÁUDIO HENN

PRESIDENTE DO SINDICATO DA INDÚSTRIA DO FUMO DO RIO GRANDE DO SUL (SINDIFUMO)

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FUMICULTURA

EMPREGOS: Além da geração de empregos e de renda no meio rural, a safra recorde tam-bém ampliou as oportunidades de trabalho na cidade. Para beneficiar toda a produção foram ne-cessários 21 mil trabalhadores temporários e 5,6 mil efetivos. Além disso, os contratos de trabalho foram prolongados em virtude da quantidade a ser processada. Em anos anteriores, as indústrias finalizavam o processo no mês de julho. Entretanto, diante da grande produção desta safra, com volume de mais de 250 mil toneladas superior à do ano anterior, as empresas precisaram estender o período de beneficiamento do produto, ampliando os contratos dos trabalhadores temporários até setembro, em alguns casos.

PROJEÇÕES APONTAM PARA NOVO RECORDE DE VOLUME

Enquanto as indústrias encerravam o beneficiamento da maior safra produzida, os fumicultores davam início ao plantio das mudas de um novo ciclo, que promete ser ainda maior. As estimativas do setor indicam que a área plantada na safra 2004/05 deverá ter incremento de aproximadamen-te 5%, podendo chegar a cerca de 430 mil hectares e resultar em novo recorde de produção, com o volume estimado de 880 mil toneladas de fumo. Caso se confirme, a nova safra poderá gerar mais de R$ 4 bilhões em receita aos agricultores.

A quantidade de famílias produtoras também deve alcançar número histórico, podendo supe-rar a 200 mil nos mais de 750 municípios produtores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. Isto significa que a fumicultura do Sul do Brasil vai proporcionar trabalho e renda para um universo de cerca de 1 milhão de pessoas do meio rural, que têm nesta atividade sua principal fonte de renda.

Esta projeção de novo crescimento leva em consideração os estoques mundiais, que ainda não estão normalizados, bem como a competiti-vidade do produto brasileiro, cada vez mais aceito por

sua excelente qualidade, pelos diversos estilos de fumos oferecidos aos compradores e por ser um produto limpo.

GARANTIAS: Característica exclusiva da fumicultura, os produtores já têm asseguradas várias garantias para a safra 2004/05. Desde já, a indústria garante a compra total da produção contratada, o pagamento no quarto dia útil após a compra, o aval nos financiamentos de insumos e de investi-mentos e o pagamento do frete e do seguro do transporte da safra até as empresas. A negociação do preço no mês de novembro e a tabela da última safra, como referencial para a próxima, também foram asseguradas pela indústria.

PERFIL QUALITATIVO DO FUMO DEVE SER ALTERADO

A demanda do mercado internacional por fumos mais leves, menos encorpados, de boa matura-ção – especialmente das cores laranja e castanho – e de bom equilíbrio químico (teores de açúcar e de nicotina balanceados) está motivando uma mudança de perfil na produção. Com base nesta tendência de mercado, a estrutura de valorização das classes do tabaco deve passar por alteração na safra 2005, com melhor remuneração para as folhas bem maduras do alto meio pé.

A idéia foi apresentada durante a primeira reunião entre o Sindifumo e entidades representativas dos produtores, realizada no final do mês de agosto, em Florianópolis (SC). Uma comissão mista, in-tegrada por representantes da indústria e dos fumicultores, vai avaliar a proposta de reestruturação das classes de compra do produto para adequá-la ao novo perfil exigido pelo mercado.

A medida, prevista para entrar em vigor já a partir do início da comercialização da próxima sa-fra, vai beneficiar os produtores que colherem o fumo bem maduro e que seguirem corretamente os procedimentos de cura e de secagem das folhas.

Produção recorde supera as 850 mil toneladas

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Referência nacional na produção de grãos, o Rio Grande do Sul é hoje um imenso celeiro. Pioneiro na introdução da soja, que constitui o carro-chefe do agronegócio brasileiro na geração de riquezas e na pauta de exportações, o Estado permanece entre os maiores estados no cultivo da oleaginosa.

No arroz, os gaúchos respondem por cerca de 50% da safra nacional, enquanto o milho colhido nas mais diversas regiões sul-rio-grandenses vem sendo decisivo para assegurar a competitividade das cadeias pro-dutivas animais. Da mesma forma, o Estado estimula a retomada na produção de trigo, contribuindo no abastecimento da indústria nacional.

Em todas as áreas, a evolução tecnológica foi decisiva, nas últimas três décadas, para que os gaúchos alcançassem níveis de excelência em produtividade e em qualidade. Mais recentemente, as possibilidades sugeridas pela biotecnologia, através do cultivo de sementes transgênicas, ganharam a pauta nos debates e nas discussões, exigindo imediato posicionamento das autoridades. Nos artigos reunidos neste capítulo, lideranças e especialistas das cadeias produtivas de grãos analisam individualmente estes temas.

GRÃOS

GESNER NUNES OYARZÁBALENGENHEIRO AGRÔNOMO E ASSESSOR TÉCNICO DA FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE MUNICÍPIOS DO RIO GRANDE DO SUL (FAMURS)

Situação atual do cultivo da soja

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Divulga-se que quantidade expressiva da soja cultivada no Rio Grande do Sul, bem como em outros estados produtores do País, pode ser constituída por cultivares genetica-mente modificadas para resistência ao herbicida glifosate.

A proibição legal confronta-se com a realidade dos fatos existentes. Muitas são as causas determinantes que motivaram os produtores a optarem pelo plantio de sementes de soja que permitiam manter a lavoura livre de ervas daninhas com um menor custo de produção por hectare.

A título de contribuição, podemos nos valer das colocações feitas pelo Conselho de Nuffield, o equivalente a um Conselho de Bioética da Inglaterra. Após inúmeros estudos, o mesmo con-cluiu que não há fundamento para a proibição de alimentos e de cultivares transgênicas. Diz o referido Instituto, entre outras coisas, que:

O uso de organismos transgênicos tem o potencial de oferecer benefícios reais na agricultura, na qualidade da alimentação e na saúde.

Existem, na verdade, incertezas acerca de diversos aspectos do uso de OGM’s. Porém, a pesquisa contínua e a ampla disponibilização de seus resultados são essenciais para o adequado

tratamento dessas incertezas, para que os riscos sejam devidamente avaliados e controlados e a fim de que o potencial das novas tecnologias se torne claro e acessível para a sociedade”.

Neste sentido, atualmente já existem no Brasil mais de 120 instituições públicas e privadas credenciadas pela CTNBio, através de Certificado de Qualidade em Biossegurança, para desen-volver atividades com transgênicos, das quais 20 efetivamente conduzem liberações planejadas no meio ambiente. Entre estas, destacamos a BRASKALB Agropecuária Brasileira; diferentes uni-dades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), como a Embrapa Cerrados, a Embrapa Hortaliças, a Embrapa Soja, a Embrapa Trigo e a Embrapa Recursos Genéticos e Biotec-nologia; e cooperativas de produtores, como a COODETEC e a COPERSUCAR, entre outras.

Considerando que:1. a soja é uma espécie autopolinizável, cuja taxa de polinização cruzada é da ordem de 1%, e,

por tratar-se de espécie exótica, sem parentes silvestres no Brasil, não se verifica a possibilidade de ocorrência de polinização cruzada da soja transgênica com outras espécies silvestres;

2. até o momento não há nenhum efeito documentado de variações de comportamento po-pulacional das espécies que interagem com a referida produção, qual seja, a soja geneticamente

SOJA

Situação atual do cultivo da soja

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modificada para resistência ao herbicida glifosate;3. não foi verificada qualquer evidência de que o consumo de soja geneticamente modificada

consiste em risco para a segurança alimentar, tanto na dieta humana quanto na dieta de animais, haja visto hoje o mundo estar consumido mais de 50 milhões de toneladas anualmente com esta oleaginosa;

4. estudos conclusivos da CTNBio indicam não haver qualquer prejuízo para o meio ambien-te, para a saúde humana e animal pelo cultivo e pelo consumo da soja geneticamente modificada para resistência ao herbicida glifosate; e

5. que existe um mercado mundial ávido de alimento, independente do mesmo ser genetica-mente transformado.

Nada impede que o Brasil venha optar pelo cultivo dos dois tipos de soja, realizando, ou não, a segregação entre a soja geneticamente modificada e a soja não-transgênica. Entretanto, obvia-mente, o mercado comprador deverá assumir o compromisso de premiar o diferencial para o agricultor em termos de custos de produção.

Face a tudo o que foi acima elencado, desejamos que seja procedida, com a máxima priorida-de, a regulamentação da legislação existente relativa a organismos geneticamente modi-ficados e, em especial, no tocante ao cultivo da soja transgênica com resistência ao herbicida glifosate. A liberação da atual safra de soja para comercialização deve ser imediata. Ao mesmo tempo, é preciso que seja suspensa, por parte do governo federal, qualquer medida restritiva ou

punitiva aos produtores rurais que, cientes ou não, tenham cultivado sementes de soja genetica-mente modificada. Insistimos que a decisão é política, de responsabilidade do Poder Executivo, e não deve ser judiciária.

Não se pretende polemizar sobre fato de tanta relevância para os nossos municípios, para os produtores, para os estados e para o País, principalmente em níveis social e econômico. Porém, é fundamental que tenhamos uma decisão por parte do Poder Executivo, uma normatização em nível nacional e uma regra clara, viável economicamente, que possibilite o plantio e a comercia-lização de soja geneticamente modificada no País.

Neste contexto, insistimos que o problema não é de ordem ambiental ou da segurança ali-mentar, como se atribui. O problema é, tão somente, de ordem político/econômica e tais deci-sões devem ser baseadas não apenas na informação mas, essencialmente, no maior conhecimen-to científico, capaz de direcionar a escolha de opções políticas adequadas, para dar à sociedade as respostas a que tem direito, e permitir o desenvolvimento e a consolidação do agronegócio brasileiro no mercado interno e externo com segurança, sustentabilidade, competitividade e, acima de tudo, com soberania.

Finalmente, é de grande importância que a sociedade brasileira tenha acesso aos benefícios desta ferramenta oferecida pela engenharia genética, seja através do aumento na qualidade nu-tricional dos alimentos, da disponibilidade de produtos funcionais e nutracêuticos, ou mesmo da possibilidade de se fazer uma agricultura mais sustentável e economicamente viável.

SOJA

Situação atual do cultivo da soja

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O Rio Grande do Sul colheu na safra 2003/04 a maior safra de arroz da história, com produção superior a 6,2 milhões de toneladas e produtividade próximo de 6 tonela-das por hectare.

Essa produção equivale a cerca de 50% do total produzido pelo Brasil e a produtividade gaúcha é praticamente o dobro da produtividade média nacional. O Estado planta um pouco menos de um terço da área cultivada com arroz no Brasil, utilizando alta tecnologia em lavouras inteiramente irrigadas.

O parque industrial instalado no Rio Grande do Sul, por sua vez, tem capacidade para benefi-ciar hoje, aproximadamente, uma vez e meia a produção do Estado, com plantas modernas, tanto no segmento de arroz branco como no de parboilizado.

Como cerca de 20% do arroz gaúcho – ou seja, mais de um milhão de toneladas – são ven-didas em casca para outros estados da Federação, a indústria aqui instalada, ao longo dos anos, tem absorvido parte da matéria-prima uruguaia e argentina, a fim de diminuir seu índice de ociosidade e garantir o abastecimento nacional, que esteve dependente das importações durante muitos anos.

Além das questões da ociosidade e logística – pela posição geográfica no extremo do País –, uma das principais dificuldades da indústria gaúcha do arroz atualmente é a diferença de trata-

mento tributário entre estados, que lhe tira competitividade e provoca distorções nas relações comerciais com várias unidades da Federação. As discrepâncias das alíquotas finais do ICMS, por exemplo, dependendo da origem da matéria-prima e dos locais de destino, podem variar de 4% a 13,5% de diferença em relação aos custos do produto que sai do Rio Grande do Sul, o que obviamente constitui brutal desvantagem competitiva.

Na colheita 2003/04, o Brasil praticamente garantiu sua autosuficiência e o bloco do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) como um todo gerou estoque excedente que, segundo estimativas, deve ficar ao redor de l,5 milhão de toneladas ao final do ano comercial, em fevereiro de 2005, havendo, pois, desde já, espaço para exportações a terceiros mercados. Esse estoque de passagem corresponde a pouco mais de um mês de consumo do Brasil e, por si só, portanto, não seria preocupante.

Ocorre que a tendência para a safra 2004/05 é no sentido de que se repita, em nível de Mercosul, o volume obtido na temporada anterior, o que poderá ampliar significativamente o excedente do bloco, tornando imperiosa a necessidade de exportações para terceiros mercados, sob pena de aviltamento dos preços no mercado interno, devido a uma pressão de oferta bem maior. Os valores que forem praticados no mercado externo, assim, passarão a ter importância maior no balizamento do comércio interno na temporada 2004/05.

ARROZ

Arroz no Rio Grande do SulELIO CORADINI

PRESIDENTE DO SINDICATO DA INDÚSTRIA DO ARROZ NO RIO GRANDE DO SUL (SINDARROZ)

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A presente análise procura identificar os principais fatores que envolvem a produção de arroz no Estado do Rio Grande do Sul e a sua competitividade nos mercados brasileiro e internacional. Sua escolha foi motivada pela importância econômica que o arroz tem

na região Sul e por ser um produto essencial na dieta alimentar brasileira. Por meio da observa-ção da cadeia produtiva do arroz, obtivemos dados que contribuem para determinar os efeitos sobre a produção, dada a implementação de novas políticas de mudanças tributárias, a partir de incentivos em tecnologia, ou através da redução dos preços dos insumos agrícolas.

Conjuntura:Com a situação economicamente viável do arroz demonstrada no resultado das ultimas qua-

tros safras, e com os custos de produção bastante compatíveis com o mercado, alcançamos uma receita operacional com média favorável. Entendemos, no entanto, estarmos ainda na busca de custos socialmente justos, pois vimos dando alguns passos no sentido de construir meios para atingirmos a grande meta: uma Agricultura Sustentável. Porém, os desafios são dinâmicos e se transformam a cada dia que passa, com a evolução natural do mercado de agronegócios.

Pontos fortes:Vivemos momentos de indispensáveis diálogos na cadeia produtiva do arroz gaúcho, para

avaliarmos a intenção de plantio e, conseqüentemente, as perspectivas possíveis para as próxi-mas safras. Tivemos em 2004 uma colheita cheia, mas com preços estabilizados e um estoque de passagem equivalente ao consumo de 60 dias. Com tais características, a safra que vem pode ser decisiva. Se tivermos números muito altos, corremos o risco de maior queda de preço. É fun-damental que tenhamos a consciência e a maturidade suficientes para que venhamos respeitar nosso teto mercadológico, qual seja, a capacidade de consumo do Mercosul. O mercado é um só no Mercosul: e chama-se Brasil. Nem nós nem nossos parceiros regionais podemos ignorar os parâmetros de consumo, sob pena de amargarmos prejuízos irrecuperáveis, como já aconteceu no passado.

Por outro lado, estão fortalecidas as propostas para implementar tanto a Câmara Setorial do Arroz do Mercosul como um Fundo Comum de Cotas para Exportação (pelas quais Brasil, Uru-guai e Argentina negociariam conjuntamente sua oferta para terceiros mercados e estipulariam cotas mínimas para vender fora do bloco econômico). Mecanismos de comercialização de arroz

ARROZ

A competitividade do arrozALFREDO ALBINO TREICHEL

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE ARROZ PARBOILIZADO (ABIAP)

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ARROZ

comuns a todo o Mercosul; a elaboração de um plano estratégico de promoção internacional de arroz beneficiado e derivados; e a estruturação de um convênio de exportação com a União Eu-ropéia precisam de definição para equilibrar o arroz gaúcho diante do mercado internacional.

Custo de produção:Os gaúchos, por produzirem quase a metade do arroz consumido no Brasil, habitualmente

se sentem autoconfiantes. Porém, torna-se indispensável, como aprendizado, o cálculo correto do custo de produção de acordo com o comportamento do mercado internacional. Nas últi-mas safras, a saca de 50 kg em casca tem se mantido estável, num custo médio de R$ 28,00, ou seja, entre 9,5 a 10 dólares. Enquanto isso, no Uruguai o preço oscila entre 6 a 7 dólares e na Argentina fica entre 5,5 e 6 dólares. A diferença de custo do arroz gaúcho em relação a países do Mercosul está calcada na carga tributária brasileira. Além disso, Argentina e Uruguai ainda se beneficiam de custos em média 40% a 50% menores nos insumos, nos fertilizantes, nas máquinas e em equipamentos.

Para podermos concorrer com os vizinhos do Mercosul, de forma igualitária, buscando a competição justa nos mercados nacional e internacional, urgem medidas que autorizem o setor orizícola gaúcho a adquirir insumos, fertilizantes e máquinas na origem por menor custo, ou seja, atravessando a fronteira para importação do Uruguai ou da Argentina. Só assim, poderemos formar um valor básico para cálculo de produção do arroz gaúcho, utilizando os parâmetros regionais do Mercosul.

Ameaças:Enquanto se espera o sonhado espetáculo do crescimento com o modelo de agricultura

sustentável na produção de arroz, o depauperado consumidor brasileiro está trocando qualidade por preço, preferindo levar para casa o arroz de terras altas produzido em Mato Grosso em vez daquele cultivado por irrigação nas lavouras do Rio Grande do Sul. A procura pelo arroz sempre cresce em épocas de vacas magras, o que explica em parte os baixos estoques mundiais e do governo. Em 2004, os produtores do Mato Grosso estão dando, literalmente, um banho nos gaú-chos, porque conseguem atender o maior mercado do País, que é São Paulo, além de abastecer também Minas Gerais e Goiás. Estes estados vêm adquirindo cada vez mais não só o produto em casca mas também aquele grão beneficiado, de alto valor agregado.

Até junho, só para São Paulo, foram exportadas 600 mil toneladas, de uma produção esti-mada em 1,5 milhão de toneladas, contra 400 mil toneladas enviadas àquele mercado em 2003. Além do atrativo preço final, entre outros fatores, pela redução do custo de logística, há uma explicação mais consistente para estabelecer o quadro atual. Além de já plantar um grão de boa qualidade, o produtor do Mato Grosso tem custo de produção bem mais baixo, uma vez que a lavoura demanda menos investimentos do que a do Sul. Isso dá mais competitividade. Na verdade, não é de hoje que o produtor do Mato Grosso usa o arroz como primeira cultura na terra recém-aberta. Se der produção, ótimo; se não, não perde muito e ainda tira a acidez do solo para plantar algodão no ano seguinte. O principal objetivo de plantar arroz em terras altas é esse mesmo: corrigir o solo para implementar outros cultivos nos anos posteriores. Além disso,

A competitividade do arroz

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como os mato-grossenses utilizam cada vez mais sementes crioulas, o custo de produzir uma saca de 50 kg não passa de R$ 20,00. No Sul, esse custo chega até a R$ 28,00 ou R$ 30,00, em função da tecnologia irrigada.

Temos que reconhecer que o mercado de arroz encontra-se com preços mais baixos nos dois maiores estados produtores do País. Os agricultores do Rio Grande do Sul ainda enfrentam forte concorrência do arroz uruguaio, que chega ao Estado custando em torno de R$ 29,00 a saca de 50kg (arroz em casca). Sendo assim, os orizicultores gaúchos, sobretudo os das regiões da Fronteira, precisaram baixar seus preços para tornarem-se competitivos. Além disso, a oferta tem aumentado porque os produtores precisam levantar recursos para o pagamento de bancos e também para o preparo do terreno para a safra seguinte. Outro fator que pressiona os preços é a falta de demanda por parte dos empacotadores e dos beneficiadores do Estado de São Paulo. Muitos engenhos do Rio Grande do Sul estão instalando filiais no Mato Grosso por causa do bai-xo custo da matéria-prima produzida lá, além dos fortes incentivos fiscais que recebem daqueles governos estaduais. De qualquer forma, como o mercado funciona tal qual uma gangorra, há a expectativa de que neste ano o produtor gaúcho também deverá ter boa rentabilidade.

Perspectivas:Olhando o quadro de oferta e demanda mundial, percebemos que há uma depreciação dos

estoques globais, o que mais cedo ou mais tarde acabará causando uma elevação de preços. Independente dos humores sazonais do mercado, o importante é pensar no futuro e preparar-

se para competir interna e externamente. É o que devem fazer os produtores gaúchos. Com o objetivo de atender demandas da cadeia produtiva e disponibilizar tecnologias que

favoreçam a obtenção de melhores índices de produtividade e de sustentabilidade, o Governo do Estado, por meio do Irga, lançou em 2003 o Programa Arroz/RS. O programa foi adotado para mudar a realidade atual da produção gaúcha. A principal meta é que todas as lavouras atinjam produtividade média de 6,5 mil quilos por hectare. A preocupação é que esse avanço ocorra de maneira uniforme e harmônica nas lavouras gaúchas, a fim de beneficiar 100% dos arrozeiros.

Futuro:Uma das vertentes que sugerimos para o futuro é que nosso sistema agroempresarial se

capacite para inclusive cobrar parte da conta do serviço que estamos prestando para a co-munidade mundial quando seqüestramos carbono, evitamos erosão, diminuindo gastos com fertilizantes e potabilização da água para populações urbanas; aumentamos a vida útil de re-presas hidrelétricas, garantimos a manutenção da produtividade das culturas de arroz, evitando avanço da fronteira agrícola, contribuindo para manter a área florestal do planeta etc. E tudo isto utilizando conhecimentos que respeitam as culturas locais. Gerenciar recursos naturais de forma que atendamos nossas necessidades atuais e proporcionemos a manutenção destes para atender as demandas das futuras gerações é o nosso grande desafio, e neste momento histórico o timão da produção orizícola está em nossas mãos. Por isto, mãos a obra!

ARROZ

A competitividade do arroz

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MILHO

O Brasil planta anualmente por volta de 12 milhões de hectares de milho, sendo que de 10% a 12% desse total – 1,3 a 1,4 milhão de hectares – são plantados no Rio Grande do Sul. A produção prevista para 2004, na faixa de 42 milhões de toneladas, nos faz o terceiro maior

produtor mundial, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Cerca de 60% do milho produzido no Brasil vai diretamente para a fabricação de ração para aves e

suínos. Mas adicionando-se rações para bovinos e outros animais, mais a utilização direta na proprie-dade sob a forma de silagem ou em espigas, conclui-se que por volta de 80% da produção nacional de milho vai para alimentação animal.

Nossa média de produtividade ainda é baixa, por volta de 3,5 t/ha, mas vem crescendo. Apesar de plantarmos hoje menos milho que há 15 anos, produzimos o dobro do que então, graças ao aumento de tecnologia e de produtividade.

A cultura do milho no Brasil caracteriza-se pela diversidade em todos os sentidos. É uma das pou-cas culturas plantadas em todos os estados da federação. A área ocupada por produtor varia de me-nos de um hectare, em algumas regiões do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, a mais de 20.000 ha, por alguns produtores do Mato Grosso. As médias de produtividade vão de menos de 1 t/ha em certas regiões do Nordeste a mais de 8 t/ha em várias regiões do Centro-Sul. Planta-se milho para vender o grão ao mercado, para uso do grão dentro da propriedade, para silagem (tanto de planta

inteira como de grão), para milho verde, para pipoca... No Rio Grande do Sul, podemos identificar cinco segmentos principais de produtores envolvidos

com a cultura do milho:* Minifúndio integrado-tecnificado: São pequenos produtores de terras acidentadas, pouco meca-

nizáveis, com até 20/25 ha. Geralmente, são produtores de frangos e/ou de suínos e/ou de leite, que plantam milho no verão. Trabalham de forma integrada com indústrias ou cooperativas e dificilmente sobrevivem sem elas. São estáveis, e muitos com altas médias de produtividade na cultura do milho e na produção animal. Boa parte do milho é aproveitado diretamente na propriedade, como grão ou silagem. Representam 25% da área de milho do Estado e estão presentes em regiões como Teutônia, Lajeado, Encantado, Nova Prata, Marau, Erechim etc.

* Minifúndio de baixa tecnologia: São produtores em regiões de topografia como as de cima, mas que não se desenvolveram tecnicamente e não têm bons sistemas de integração e trabalham basicamente para subsistência. Esse é hoje o principal segmento abandonando a atividade e a área rural no Rio Grande do Sul. Estão presentes, em maior ou menor proporção, em todas as regiões de minifúndio, e plantam 20% da área total.

* Pequeno-médio produtor de soja e milho: São produtores de até 100 ha, com áreas já meca-nizáveis, que plantam soja e milho; muitos ainda têm alguma produção animal. Plantam trigo, aveia ou

O milho no Rio Grande do SulDANIEL GLATT

DIRETOR-EXECUTIVO DA PIONNER SEMENTES

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cultura forrageira no inverno. Na sua grande maioria, são cooperados, e bastante dependentes de cooperativas, onde compram boa parte dos insumos, entregam e comercializam a produção, e se orientam e se atualizam técnica e administrativamente. Na sua maioria absoluta, utilizam sistema de plantio direto e geralmente plantam mais soja do que milho. Esse é o maior segmento plantador de milho no Estado, com cerca de 30% da área, e está presente em todo o Planalto Gaúcho, de Vacaria ao Extremo Oeste.

* Médio e grande produtor de soja: São produtores como os de cima, com culturas e práticas de manejo semelhantes, e diferem apenas por serem de porte maior, acima de 100 ha. Assim, tendem, em algumas regiões, a trabalhar mais independentes das cooperativas ou das indústrias; muitos já têm alguma estrutura de armazenamento na propriedade. Plantam 20% do milho do Estado e estão pre-sentes em regiões como Vacaria, Passo Fundo, Carazinho, Palmeiras da Missões, Cruz Alta etc.

Dentro desse segmento, temos que destacar o Produtor Irrigante: Hoje, existem mais ou menos 30.000 ha irrigados no Rio Grande do Sul, onde o milho é plantado tanto para produção de sementes como em rotação com soja ou feijão. A produtividade de milho sob irrigação tem se mostrado bas-tante alta, estável e rentável, com muitos produtores colhendo acima de 8 t/ha. Estão presentes em regiões como Ibirubá, Cruz Alta, Fortaleza dos Valos, Salto do Jacuí, Santo Augusto, São Luis Gonzaga etc.

* Produtores de outras culturas: São os produtores de fumo, de hortaliças e de arroz que têm essas como cultura claramente principal, mas plantam milho como cultura secundária, em rotação ou para complementação da cultura principal. Representam não mais que 5% da área total de milho.

Os principais problemas e obstáculos que a cultura do milho vem enfrentando nos últimos anos no Rio Grande do Sul são:

* Assim como no resto do País, falta um sistema mais profissional e organizado de comercialização, a exemplo da soja. O mercado de milho tem pouquíssimos mecanismos de fixação de preços e de vendas futuras e apresenta grande volatilidade e variação abrupta nos preços, o que tende a “irritar”

e desanimar muitos produtores, afastando-os da cultura.* A concorrência com a soja transgênica, de muito menor investimento inicial, de maior rentabi-

lidade e com facilidade operacional, tem ajudado a diminuir a área de milho em muitas regiões do Estado.

* Os constantes veranicos, presentes principalmente no Centro-Oeste e no Noroeste do Rio Grande do Sul, tendem a ser mais danosos ao milho do que à soja, aumentando a preferência por essa (daí, o grande benefício da irrigação nessas regiões).

A cultura do milho apresenta também algumas boas vantagens e oportunidades no Estado, e que têm sido aproveitadas pelos produtores mais tecnificados:

* Por ser um Estado consumidor de milho, como o vizinho Santa Catarina, é um dos estados que apresenta maior preço pelo grão no Brasil, além de ter oportunidade de exportar quando necessá-rio.

* É cultura fundamental e indispensável tanto para formação de palha no plantio direto como para alavancar a produção da soja em rotação.

* É uma cultura de alta rentabilidade quando se alcança níveis de produtividade acima de 130 sacos/ha.

* Quando não há falta de água, o ambiente de dias longos no verão é propício a altíssimas pro-dutividades de milho, principalmente sob boas adubações, com genética superior e com maiores populações de plantas por hectare.

Concluindo, acreditamos que Governo, indústrias, cooperativas e entidades do setor deveriam procurar urgentemente por mecanismos que tragam mais garantia e mais estabilidade para o pro-dutor de milho, pois quando se planta mais milho no Estado todos ganham: ganham os produtores e as indústrias de frangos e de suínos, ganha a soja, ganha o sistema de plantio direto, ganha o Estado e ganha o País.

MILHO

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TRIGO

Quando falamos sobre trigo, falamos de uma cultura milenar, que na escala mundial aparece como segunda no ranking de grãos produzidos, com 610 milhões de toneladas, represen-tando 32% da produção mundial de grãos, de 1,9 bilhão de toneladas. O trigo perde apenas

para a cultura do milho, estimada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em 664,5 milhões de toneladas na temporada 2004/05.

O quadro de oferta e de demanda mundial atualmente está equilibrado na casa dos 610 milhões de toneladas de produção, ante um consumo previsto de 600 milhões de toneladas. Temos o menor estoque mundial do cereal nos últimos 20 anos. Porém, o trigo é o produto mais comercializado no mundo, com transações comercias anuais de 105 milhões de toneladas, o equivalente a 36% do volume de grãos vendidos no mundo. Esse cereal serve de alimento básico para mais de 6 bilhões de pessoas – mais de 180 milhões somente no Brasil.

Atualmente, o Brasil produz aproximadamente 1% da produção mundial de trigo – ou seja, 6 mi-lhões de toneladas. O consumo anual do cereal é de 10,1 milhões de toneladas. A produção interna atende a apenas 60% das necessidades no Brasil. O Rio Grande do Sul produziu em 2003 2,3 milhões de toneladas. A demanda total no Estado é da ordem de 1 milhão de toneladas, considerando uso

industrial, reserva para semente e outros. O Rio Grande do Sul produziu na safra passada mais que o dobro das suas necessidades. A proje-

ção para este ano é de colhermos entre 2,1 milhões a 2,2 milhões de toneladas. A exemplo do que ocorreu no ano passado, vamos precisar encontrar mercado para mais de 1 milhão de toneladas. A exportação foi a saída encontrada pelos triticultores gaúchos para vendar a safra anterior.

A conjuntura atual de preços, tanto no mercado interno como no externo, não são favoráveis, neste ano. Os produtores já enfrentam dificuldades para vender a produção a preços remuneradores. São poucos os negócios ocorrendo no mercado interno. O preço ofertado é inferior ao mínimo para o trigo com PH 78 (trigo Pão), de R$ 400,00 a tonelada, e abaixo da paridade do grão importado. Frente ao atual cenário, onde a tendência é de preços baixos, os produtores vão enfrentar ainda uma concorrência acirrada no mercado externo em 2004.

Um dos fatores que vem contribuindo para a queda nas cotações no mercado mundial é o aumento da produção mundial do cereal, elevando a oferta no mercado e exigindo maior competitividade. Neste ano, será fundamental o apoio governamental, através de instrumentos e ações que visem assegurar que os preços tenham sustentação e dêem renda aos produtores.

Trigo: visão atual e perspectivasTARCISIO MINETTO

ASSESSOR-TÉCNICO DA FEDERAÇÃO DAS COOPERATIVAS AGROPECUÁRIAS DO RIO GRANDE DO SUL (FECOAGRO)ARTIGO/CONTRIBUIÇÃO DO GABINETE DO DEPUTADO ESTADUAL HEITOR SCHUCH

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A importância socioeconômica:O trigo é hoje o principal produto produzido no inverno no Rio Grande do Sul. Teve grande

importância no desenvolvimento da agricultura e para a economia gaúcha, apesar dos problemas enfrentados pelos produtores ao longo de sua história, com altos e baixos na área plantada e no volume de produção.

A cultura do trigo tem importância estratégica em todo o mundo, tanto que muitos países incentivam sua produção, oferecendo subvenção e mecanismos de proteção para intervir nos mercados.

De acordo com os dados do IBGE, a maior produção de trigo que o Brasil teve ocorreu em 1987, de 6,034 milhões de toneladas. Permaneceu com uma produção interna superior a 5,5 milhões de toneladas até 1989. A partir da safra 1990, caiu para patamares inferiores a 3 milhões de toneladas, coincidentemente no ano em que caiu o monopólio da compra estatal do trigo através do Departamento Geral de Comercialização do Trigo Nacional (CTRIN-Banco Brasil).

Nos últimos cinco anos, o Brasil importou, em média, mais de 6,8 milhões de toneladas e produziu, no mesmo período, uma média de 3,2 milhões de toneladas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – ou seja, volume para atender menos de 30% da demanda nacional. O dispêndio anual com importações de trigo nos últimos anos ultrapassou a U$S 850 milhões. Atualmente, o País aparece como um dos principais importadores mundiais de trigo, com aproximadamente 5% da importação mundial do cereal. Os principais estados produtores são Paraná e Rio Grande do Sul, representando mais de 80% do total nacional.

Perspectivas: Nas últimas duas safras, os produtores gaúchos e brasileiros voltaram a investir na cultura.

Praticamente foi dobrado o volume de produção na safra de 2003. A estimativa para 2004 é de colhermos safra superior à anterior. A retomada decorre do acordo entre todos os elos da ca-deia produtiva, assinado em 2001, visando a recuperação da produção nacional com a finalidade de caminhar para a proximidade de autosuficiência no abastecimento, aliado às boas expectativas de preços .

A produção brasileira de trigo ainda tem perspectivas de crescimento, frente aos possíveis ganhos de produtividade com a aplicação das mais modernas técnicas de manejo da cultura; ao desenvolvimento de novas cultivares com maiores potenciais de rendimento; e à ampliação da área cultivada.

A sustentabilidade da produção brasileira de trigo nos próximos anos dependerá de uma série de fatores. Sob o ponto de vista tecnológico, a maior ameaça é o controle das doenças. Mas, através de manejo adequado, o problema pode ser enfrentado por meio de controles e tratamentos, com aplicação de fungicidas. Precisamos avançar ainda na obtenção de cultivares com maior potencial de rendimento, com melhor qualidade industrial e nutritiva, com resis-tência a pragas e a doenças e com adaptabilidade às diferentes regiões edafoclimáticas. Para isso, será importante avançar no setor da pesquisa. Outros fatores, como condições climáticas, redução de custos e liquidez na comercialização, serão imprescindíveis para a manutenção da produção.

TRIGO

Trigo: visão atual e perspectivas

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TRIGO

Fragilidades e oportunidades: Os principais gargalos enfrentados pelos produtores são: falta de liquidez na venda da safra;

problemas climáticos; crédito insuficiente para custeio, investimento e comercialização; alto cus-to da lavoura; deficiência na classificação, na estrutura do recebimento e na armazenagem; falta de seguro com garantia de renda mínima para o produtor; Proagro inadequado; dificuldade para controlar o padrão de qualidade; duplicidade de análise do produto; tributação desigual (interna e externa); fretes elevados – elevado Custo Brasil; desestruturação do sistema de produção de sementes; concorrência desleal com o trigo e com a farinha importados; falta de política de esco-amento da safra; baixa produtividade; ausência de políticas de estoques estratégicos; burocracia no acesso ao crédito; perdas na colheita; perdas na armazenagem; elevados custos de manuten-ção de estoques e de conservação do grão em períodos longos de estocagem; dificuldade na segregação do trigo no recebimento e na descarga de produtos com características diferentes; necessidade de secagem do grão na colheita; recursos escassos para pesquisa; dificuldade no acesso a novas tecnologias por parte do pequeno produtor; elevado custo dos insumos básicos; entre outros.

Por outro lado, temos o trigo como uma das poucas alternativas de cultivo no inverno no Estado, o que contribui para aumentar a renda do produtor. Outro fator favorável é a demanda maior que a oferta, e o Brasil dependente das importações para garantir o abas-tecimento. O trigo também contribui com a redução do custo de produção das culturas

de verão, em margens entre 15% e 20%. Verificamos como oportunidades para o aumento da produção de trigo no Brasil o

incremento no consumo per capita de pão, ainda baixo se comparado à recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 60 kg por pessoa/ano. Estamos consumindo apenas 27 kg no Brasil.

Podem ser citados ainda a abertura de novos mercados no exterior (exportação); demanda brasileira superior a 10 milhões de toneladas; desoneração da cesta alimentar básica; programa de produção e de comercialização do trigo; e oportunidade para cresci-mento da demanda de derivados sem necessidade de investimento no parque fabril.

As ameaças que podem atrapalhar a produção nacional do trigo no futuro: a falta de li-quidez na comercialização da safra; a falta de continuidade no abastecimento com produto segmentado e com qualidade e preços competitivos; período de entrega, custos elevados, logística, taxa de juros elevadas, queda na renda, quebra de contrato entre indústria e produtor, falta de programa estratégico de produção e de incentivo através de políticas públicas.

O Rio Grande do Sul e o Brasil possuem produtores capacitados e regiões aptas à pro-dução de trigo. Porém, temos um mercado limitado. Através da integração da cadeia trigo, será possível eliminar gargalos e restrições, transformando assim o Estado em um forne-cedor do cereal principalmente para o mercado interno e também para a exportação.

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Numa rápida abordagem acerca da cadeia produtiva do trigo – que também pode ser estendida para a realidade da soja – propomos a pesquisa como forma de aumento da produtividade do capital no agronegócio.

Visão atual:- Forte dependência em insumos “modernos”;- Comercialização em mãos de poucas empresas;- Pouca verba para a pesquisa e fluxo irregular de recursos.Pontos fortes:- Tecnologia disponível;- Espírito empreendedor;- Experiência do produtor.Pontos fracos:- Infra-estrutura (armazéns, estradas);- Acordos internacionais (trigo);- Custo de Produção.Oportunidades:- Diversidade regional;- Oportunidade de reduzir custos com tecnologias poupadoras de insumos.Ameaças:- Dependência de insumos com componentes importados;- Comercialização.

TRIGO

Trigo e soja: um panorama estratégicoERIVELTON SCHERER ROMAN

CHEFE-GERAL DA EMBRAPA TRIGO

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Transgênico é o organismo cujo material genético foi modificado por técnica de engenharia genética, recebendo genes oriundos de espécies diferentes. Por que o seu cultivo causa tanta polêmica? Atual-mente, temos ambientalistas, cientistas, pesquisadores, empresas e expressivos lobbies posicionando-se

tanto contra como a favor do cultivo de transgênicos, cujas motivações obedecem a preocupações e a inte-resses ambientais, econômicos e científicos.

Somos do grupo que aposta nos transgênicos para melhorar as condições de vida e também a competi-tividade do agronegócio. Para tanto, baseamo-nos na FAO, a Agência das Nações Unidas para Alimentação, e na OMS – Organização Mundial de Saúde –, duas instâncias importantes da Organização das Nações Unidas (ONU), que desenvolveram o critério da equivalência substancial, segundo o qual as plantas geneticamente modificadas desenvolvidas até o momento têm composição equivalente às variedades convencionais, sendo, pois, tão seguras quanto.

As sementes geneticamente modificadas surgiram, inicialmente, para oferecer inovações que trouxessem vantagens para os agricultores. As primeiras variedades transgênicas plantadas em larga escala foram desenvol-vidas para facilitar o controle de plantas daninhas, já que elas competem com as culturas por água, nutrientes,

luz e espaço físico, e a dificuldade no seu controle está no fato de não existir um produto químico eficiente contra um amplo espectro de ervas e que não prejudique a cultura.

Hoje, entre as principais vantagens dos cultivos geneticamente modificados está a capacidade para aumen-tar a produtividade agrícola, para reduzir a aplicação de agrotóxicos, para tornar os alimentos mais nutritivos e saudáveis e para criar novos tipos de terapias e medicamentos.

As alegações de impactos negativos no meio ambiente são contestadas. Cientistas e representantes da indústria agroquímica argumentam que as culturas transgênicas são um poderoso agente de preservação do ambiente, na medida em que os genes de resistência a pragas e de tolerância a herbicidas permitem a redução no uso de veneno nas lavouras. Além disso, por apresentarem maior produtividade, a necessidade de abrir novas fronteiras agrícolas diminui, ampliando-se as áreas de preservação de matas, nascentes, fauna e flora.

O mercado externo é outro ponto que conta a favor da liberação dos transgênicos. O Brasil concorre, neste sentido, com produtos geneticamente modificados e que possuem menor custo de produção. Estamos tendo que competir de forma bastante desigual e não sabemos até quando iremos suportar essa situação.

Atualmente, são sete as principais culturas comerciais transgênicas no mundo: soja, milho, algodão, canola,

TRANSGÊNICOS

Um avanço da ciência a serviço da vidaEDEMAR VARGAS

DEPUTADO ESTADUAL

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Nestes últimos anos, muita polêmica tem sido gerada em torno da produção co-mercial de organismos geneticamente modificados (OGM’s), os chamados trans-gênicos. Infelizmente, as discussões sobre esse assunto têm sido direcionadas para

os aspectos emocionais, políticos e ideológicos, em detrimento dos argumentos técnicos e científicos – ou seja, a biotecnologia não está sendo discutida como ciência, mas sim como um dogma.

Essa tecnologia tem aplicação nas áreas médica, farmacêutica, industrial, agrícola etc. A produção mundial de insulina é 75% transgênica; o fator VIII de coagulação salva milhões de hemofílicos através da biotecnologia; o desenvolvimento de vacinas contra dengue, contra diarréias, contra tuberculose e contra a Aids, com o uso de OGM’s, é exemplo do progresso da ciência em favor da vida humana.

Com relação à restrição aos transgênicos porque podem fazer mal à saúde, o que se pode

TRANSGÊNICOS

Ciência ou dogma?ALMERI CANDIDO REGINATTO

COORDENADOR DA BANCADA DO PMDB NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL

arroz, batata e tomate. No entanto, cerca de 60 diferentes culturas transgênicas estão em teste para entrar no mercado futuramente.

Não devemos esquecer que o aumento da produção de alimentos nos últimos 35 anos deveu-se à apli-cação de tecnologias cada vez melhores. A adoção dos transgênicos no Brasil é irreversível e a opção mais inteligente para o Governo brasileiro é legalizar e normatizar a produção e a comercialização do material geneticamente modificado. Que ele seja produzido pelas formas legais, por sementeiros credenciados junto

aos órgãos competentes. Que seja identificado – preservando os direitos do consumidor – e fiscalizado pelos órgãos responsáveis, atendendo às exigências dos mercados interno e externo, ao mesmo tempo evitando a pirataria e fomentando a pesquisa científica subsidiada, no setor.

O Brasil precisa de uma política séria e responsável, neste sentido. Pretender extinguir o cultivo e a comer-cialização dos transgênicos é insistir num retrocesso econômico, social, científico e tecnológico que sabemos ser impraticável, pois a humanidade move-se natural e inexoravelmente em direção ao futuro.

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TRANSGÊNICOS

contrapor é que isto não foi comprovado cientificamente, inclusive sendo liberado pelo ór-gão de proteção à saúde pública nos Estados Unidos. De outra parte, está comprovado que a utilização dos agrotóxicos faz muito mal à saúde da população e a sua redução drástica com o uso de transgênicos na agricultura se torna salutar.

A maior polêmica quanto ao uso da biotecnologia (transgênicos) está na agricultura. En-tretanto, os benefícios dessa tecnologia no setor agropecuário são os seguintes:

- Numa primeira fase da biotecnologia, os maiores impactos são no aumento da produtivi-dade e da produção, na diminuição dos custos de produção por meio da redução de defensivos agrícolas e de óleo diesel (menos horas/máquina), na melhoria da qualidade do produto final com menores índices de fungos e de micotoxinas, na menor contaminação do meio ambiente com uso de menos agrotóxicos, e na menor intoxicação de agricultores pela substituição de herbicidas de faixa vermelha pelos de faixa verde (glifosato, bem menos tóxico).

- Numa segunda fase, algumas propostas são a melhoria da qualidade nutricional dos grãos (óleo, proteína, ferro, ácidos graxos, ômega 3 etc.) e o aumento da eficiência na utilização de fertilizantes e de água, entre outras.

- Na terceira fase – ou seja, num estágio mais evoluído – poderemos esperar pela produção de vacinas, de produtos terapêuticos e farmacológicos em culturas.

A taxa de adoção de sementes transgênicas no mundo evoluiu com o plantio em 1996 de 1,7 milhão de ha, principalmente nos EUA, para 58,7 milhões de ha em 2002, em 16 países. A taxa de crescimento é de 35 vezes em 7 anos.

De 5,5 milhões a 6 milhões de produtores plantaram transgênicos em 2002. Desses, apro-ximadamente 80% são pequenos produtores de países em desenvolvimento.

Podemos citar alguns dos maiores produtores mundiais de OGM’s: Estados Unidos, Ar-gentina, Canadá, China, Brasil, África do Sul, Austrália, Filipinas, Indonésia, México, Espanha, Romênia e Colômbia.

Estudos do National Center for Food and Agriculture Policy (NCFAP), nos Estados Unidos, revelam que o uso de transgênicos em 2001 gerou um impacto líquido de US$ 1,5 bilhão de renda extra para o produtor americano.

Se 75% da soja brasileira fosse transgênica, geraria uma renda extra para os produtores brasileiros de aproximadamente R$ 1,8 bilhão por ano.

Ciência ou dogma?

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INSUMOS

O crescimento na produção agropecuária costuma estar direta-mente relacionado com o incremento no uso de tecnologia. Lavouras e sistemas de diversos respondem imediatamente

ao maior volume e à maior qualidade dos insumos. Para o produtor, o planejamento da atividade implica no minucioso estudo das neces-sidades de sua propriedade. O aumento da produtividade e inclusive da rentabilidade, assim como o custo de produção, ficam dependentes da boa gestão dos insumos. Os dois artigos a seguir analisam o quadro atual e as perspectivas na demanda e no mercado de defensivos agrí-colas e de calcário para a correção dos solos. Em ambos os casos, são aspectos que podem determinar o sucesso de uma safra e a sustenta-bilidade do produtor dentro do agronegócio moderno.

Defensivos agrícolasTULIO TEIXEIRA DE OLIVEIRA

DIRETOR-EXECUTIVO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS DEFENSIVOS GENÉRICOS (AENDA)

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Visão atual: Acompanhando a desenvoltura da agricultura brasileira, o mercado dos defensivos agrícolas

atingiu o patamar de US$ 3,1 bilhões em 2003, estando entre os maiores do mundo. A indústria gera cerca de 7.000 empregos diretos e mais de 30.000 indiretos. O investimento médio anual tem sido de aproximadamente US$ 300 milhões.

O emprego deste insumo tem assegurado as colheitas com ganhos expressivos de produtivi-dade nos últimos anos. É evidente a incorporação acelerada de tecnologia na agricultura: a área plantada cresceu 14% a partir de 1990, enquanto a produção aumentou 107% em toneladas.

É um mercado com forte inversão de capital no desenvolvimento de novas moléculas, com altos custos de distribuição e de serviços, tendo por isso mesmo um caráter de oligopólio. As cinco primeiras empresas do mercado detêm 63% da oferta, e as 10 primeiras respondem por 87% da oferta.

O grupo dos HERBICIDAS representa a locomotiva dos produtos, ocupando 48,7% do total. Vêm em seguida os FUNGICIDAS, com 22,7%; os INSETICIDAS, com 23,1%; os ACARICIDAS, com 2,6%; e OUTROS PRODUTOS, com 2,9%.

Na distribuição espacial, a expansão da soja e do algodão para o Centro-Oeste transferiu para aquela região a hegemonia na utilização dos defensivos agrícolas, que durante muito tempo teve a região Sudeste como líder. Veja o percentual de cada região representado no mapa do Brasil:

Quanto à destinação por cultivos, os dados indicam que a SOJA sozinha consome 44,27%

dos pesticidas usados no país; o ALGODÃO absorve 10,30%; o MILHO, 8,42%; a CANA-DE-AÇÚCAR, 8,05%; e as lavouras de CITROS, 4,27%. Essas cinco culturas respondem por 75% do consumo de produtos para preservação do potencial produtivo.

Pontos fortes:- O crescimento do setor tem sido acompanhado por forte aporte de tecnologia e de

conhecimento, seja na forma de equipamentos e de processos fabris, seja na pesquisa de campo, ao focar em tempo hábil as dinâmicas necessidades de sanidade do vasto território nacional. A indústria abriga 9 estações experimentais e 12 laboratórios de pesquisa e desen-volvimento. A rede nacional de ciência (universidades, institutos de pesquisa, EMBRAPA e órgãos estaduais) é bem representativa neste segmento e mantém uma intensa movimenta-ção em experimentação e interação.

- A indústria tem consciência da sua responsabilidade em lidar com produtos tóxicos e já estabeleceu vigoroso programa de recebimento das embalagens vazias no campo. Hoje, cerca de 50% das embalagens que vão ao campo já retornam para reciclagem ou para inci-neração.

INSUMOS

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Pontos fracos:- Há baixo nível cultural e de condições de vida dos pequenos agricultores; cerca de 4

milhões de propriedades ainda nos mostram um quadro inaceitável de intoxicações em razão do mau uso, no manuseio e na aplicação dos produtos. O Serviço Nacional de Apren-dizagem Rural (SENAR), as empresas fabricantes e diversas instituições dedicam-se a pro-mover cursos de boas práticas agrícolas, mas ainda não obtiveram sucesso na redução deste risco trabalhista. Mais recentemente, o governo federal e alguns estaduais intensificaram os programas de monitoramento de resíduos, o que permitirá mapear as subregiões com problemas.

- A burocracia na esfera governamental de registro de produtos favorece a situação oligopolista, porquanto são três Ministérios envolvidos no processo e a morosidade é grande. Para o registro de um produto, mesmo com base em ingrediente ativo já conhecido e estudado no país, a espera nunca é menor que 2 anos. O regime de registro por equivalência, preconizado pela FAO para os produtos genéricos, foi aprovado em janeiro de 2002, através do Decreto 4074, e até hoje ainda não foi implementado.

- Outro fator redutor da oferta é o financiamento das vendas. Com a incapacidade do tesouro nacional em disponibilizar o custeio das safras com juros suportáveis nesta atividade de forte de-pendência climática, as grandes empresas do setor têm bancado suas vendas com prazos de 150 a 250 dias. A indústria média e pequena fica à margem desta oferta por falta de capital de giro a um risco desta magnitude.

Oportunidades:- A extensão e a diversidade de nossa agricultura aos poucos vêm atraindo controles fitossanitários

alternativos, como produtos biológicos, feromônios e técnicas de esterilização massal de insetos, sem falar no desenvolvimento de cultivares resistentes e na biotecnologia.

- Empresas transnacionais deste setor estão fazendo diligências e observações para aqui se instalarem.- Ao contrário do que a imprensa noticia, a agricultura nacional ainda usa pouco defensivo por área.

Estamos no patamar de 3 a 4 quilos por hectare de ingrediente ativo, enquanto, por exemplo, em outros países os índices são muito superiores: a Holanda aplica 17,5 kg; a Bélgica, 10,7 kg; e a Itália, 7,6 kg.

- O Brasil é deficitário em mais de US$ 1 bilhão quando se coteja as importações com as exportações. Apoiar a síntese e a produção em território nacional é uma grande oportunidade a ser desenhada por uma política industrial para o setor.

Ameaças:- Na verdade, este é um mercado sujeito ao sobe-e-desce dos preços dos produtos agrícolas em

escala global. Quando a relação de troca está favorável, a agricultura em escala comercial usa mais, e vice-versa.

- Também, a falta de um sistema de seguro consistente é responsável pelo aumento da incerteza, gerando um clima de continuada expectativa e de angústia por parte do agricultor.

- A legislação de transferência de lucros para o exterior exagerou na dose de tal forma que empresas multinacionais já começam a mudar parte de suas estruturas para países vizinhos.

INSUMOS

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INSUMOS

Visão atual:A significativa importância da agricultura e da pecuária na economia do Rio Grande do Sul, somada à

difícil expansão de área, obriga à racionalização destas atividades pelo aumento da sua eficiência através do incremento da produtividade.

Os solos agricultados no Rio Grande do Sul são ácidos por natureza e pelo próprio uso. Pesquisa feita pelo Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) demonstra que o Estado de-veria consumir cerca de 7 milhões de toneladas/ano de calcário agrícola para corrigir adequadamente o solo agricultado.

Na realidade, o consumo médio do qüinqüênio 1999-2003 foi de 1,8 milhão de ton/ano – ou seja, menos do que 30% do ideal.

Em solo ácido há significativo desperdício do fertilizante, menor crescimento das raízes e presença do alumínio tóxico, entre outros óbices.

Estudos comprovam que a adequada correção da acidez alavancaria a produção agrícola do Rio Grande do Sul em 30%. Considerando que o efeito da calagem no solo perdura em média por cinco anos e que o retorno econômico deste investimento a maior é da ordem de 1:3, fica evidente que a correção deve ser uma meta prioritária para todos.

A maior produtividade agrícola enseja a otimização do uso da terra, bem como de toda a infra-estrutura instalada de estradas, de armazéns, de portos etc. Os reflexos na economia do Estado serão imediatos e de curto prazo.

Pontos fortes:A forma mais econômica para a correção da acidez do solo é a incorporação de calcário moído à terra.

O calcário é um minério abundante e com jazidas bem-distribuídas no Rio Grande do Sul. O Estado tem um parque industrial operando, apto a atender uma demanda crescente.

O calcário não é tóxico e é de fácil manuseio quando moído.Pontos fracos:Falta uma efetiva divulgação oficial dos benefícios da calagem, bem como um programa siste-

matizado de incentivo ao seu uso. É notória a falta de percepção generalizada dos significativos e imediatos benefícios da adequada calagem dos solos agricultados. É imprescindível uma efetiva atenção dos órgãos governamentais, estimulando esta correção.

Oportunidades:O alto retorno na aplicação de um insumo gaúcho e abundante pode contemplar a toda a

sociedade. A maior produção agrícola trará satisfação ao agricultor, ao comércio, à agroindústria e ao próprio governo, pois, além de aumentar a arrecadação de impostos, isso fixará o homem no campo.

Ameaças:Os entraves principais são a ignorância e a falta de divulgação das vantagens da correção, bem

como a ausência de um estímulo específico, o que faz com que o Rio Grande do Sul desperdice a oportunidade de aumentar sua eficiência e sua produtividade.

Correção da acidez dos solos agricultadosFERNANDO CARLOS BECKER

DIRETOR-EXECUTIVO DO SINDICATO DA INDÚSTRIA DE CALCÁRIO DO RIO GRANDE DO SUL (SINDICALC)

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LOGÍSTICA

De maneira tão incisiva quanto o desempenho da própria lavoura, as condi-ções da estrutura de apoio à produção agropecuária podem determinar o sucesso ou o fracasso de um empreendimento. A conservação das estra-

das, as modalidades diversas de transporte, a infra-estrutura para armazenagem, a capacidade e o dinamismo dos portos, entre outros itens, são aspectos prioritários para garantir a boa competitividade de um produtor, de uma região, de um Estado e, finalmente, do País. Influenciam, assim, o custo para produzir e para comerciali-zar. A eles pode ser acrescentado o necessário desembaraço na formalização de negócios e nos procedimentos para exportação, por exemplo. Confira no artigo a seguir uma análise da situação atual e das perspectivas para armazenagem e para escoamento da produção agrícola em nível de Rio Grande do Sul.

Armazenagem e escoamento da produção primáriaFERNANDO FERREIRA BECKER

PRESIDENTE DO SINDICATO DOS ARMADORES DE NAVEGAÇÃO INTERIOR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (SINDARSUL)

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LOGÍSTICA

O SINDARSUL – Sindicato dos Armadores da Navegação Interior do Estado do Rio Grande do Sul –, instado a apresentar alguma contribuição para a agricultura gaúcha, colhe a oportunidade para trazer à Comissão de Agricultura da Assembléia Legislati-

va uma sugestão que não abrange a agricultura propriamente dita, nem, tampouco, enquadra-se rigorosamente dentro de qualquer dos temas cuja abordagem foi proposta, mas que, por sua de-ficiência, pode incidir de maneira extremamente perniciosa, fazendo malograr todos os sucessos obtidos no plantio e na colheita: a armazenagem e o escoamento da produção.

De fato, ano a ano, colheita a colheita, nossos agricultores vêm demonstrando sua capacidade e sua superação, aumentando a produtividade de suas lavouras.

Não obstante, ou por descapitalização, ou por falta de créditos atrativos, ou mesmo por falta de conscientização, os produtores rurais não têm investido em armazenagem em nível de fazenda. No comparativo da capacidade de estocagem, em nível de estabelecimento produtor, a capacidade brasileira é equivalente a uma quinta parte da capacidade dos Estados Unidos e pouco menos do que a metade da capacidade argentina.

O sistema de armazenagem em nível de estabelecimento produtor tem a grande vantagem de não pressionar o sistema de transportes no exato momento da colheita, pressão essa que atua de maneira impactante sobre os preços e não só justifica, mas incentiva, a entrada em ope-

ração de caminhões antigos, com manutenção precária, muitas vezes sem condições de enfrentar longas distâncias.

A armazenagem em nível de cooperativas e de cerealistas está quase que totalmente na região suburbana dos municípios de sua área de atuação, em raríssimos casos com alguma preo-cupação maior do que estar próxima a uma estrada asfaltada.

Nos raros casos em que estes terminais eram dotados de desvio ferroviário, com a priva-tização da malha ferroviária e com uma concepção mais moderna de uso desse modal, com o carregamento dos comboios completos, num centro concentrador de cargas, e não mais o de catar vagão por vagão para formar o comboio, muito desses terminais que possuíam acesso ferroviário perderam a possibilidade de seu uso. A ALL deixou de operar em grande quantidade de locais onde não há a possibilidade de formar uma composição completa (40 vagões de 50 toneladas, cada um perfazendo 2.000 toneladas) e passou a operar com o conceito dos centros concentradores de carga, dotados de eficientes sistemas de carga e descarga, de onde as compo-sições partem completamente lotadas. Esses centros concentradores de carga, por outro lado, pelo menos até o momento, não são centros de estocagem e sim locais com capacidade estática compatível com as necessidades de carga e descarga das composições.

O Rio Grande do Sul dispõe do único porto marítimo de grande porte que tem condições

Armazenagem e escoamento da produção primária

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de ser abastecido por hidrovia. O escoamento por esse modal é, indiscutivelmente, o que requer menos investimentos para sua manutenção e também o que tem mais baixo custo de operação.

É sabido que o maior trunfo dos Estados Unidos, na competitividade de sua produção agrícola, deve-se ao eficiente sistema de escoamento hidroviário de suas safras. É um exem-plo a ser seguido, uma experiência a ser copiada.

As modernas barcaças autopropelidas, com capacidade para cerca de 4 mil toneladas (equivalentes a 2 comboios ferroviários ou a 100 bi trens rodoviários), nos momentos de pico de exportação, muito rapidamente e com menores custos, sem congestionar rodovias e sem colocar em risco vidas humanas, tem condições de escoar a produção agrícola gaúcha para os terminais portuários de exportação.

Para maximizar a possibilidade do aproveitamento das vantagens desse modal deverão ser adotados alguns princípios básicos de planejamento. Diga-se, de passagem, que esse é o maior óbice ao desenvolvimento de nossas exportações agrícolas: a falta de plane-jamento.

Como ponto básico, apontamos a necessidade de desenvolver mecanismos para incenti-var a instalação de armazenamento em nível de propriedade rural, pela conscientização das vantagens e dos ganhos econômicos que essa prática viabiliza. Acoplado a sistemas de finan-ciamento compatíveis (hoje, com a estabilidade monetária, é possível montar sistemas de

financiamento, com prestações fixas, em que o tomador saberá, com antecedência, o valor exato que deverá desembolsar).

Como segunda providência, fazer com que o sistema cooperativo, os grandes cerealistas e os industriais e exportadores de grãos localizem suas instalações de armazenamento na proximidade das regiões produtoras, junto às margens dos rios navegáveis onde, com suas próprias estruturas, poderão operar a carga e a descarga das embarcações de maneira rápi-da, eficiente (sem desvios ou perdas) e econômica.

Paralelamente, também deverá ser desenvolvido um estudo de viabilidades para um me-lhor aproveitamento de nossas hidrovias, seja pela inclusão de trechos que não são usados, seja pelo aprimoramento dos atualmente em uso. Deve-se levar em conta que nossas hi-drovias – principalmente no tocante às eclusas – foram planejadas e preparadas para operar com embarcações de, no máximo, 1.200 toneladas e com calado de 2,5 metros, na década de 1950. Modernamente, as embarcações de navegação interior, para serem eficientes e eco-nômicas, devem transportar três ou quatro vezes mais e necessitam calados de 4,5 metros, para utilização plena de suas capacidades.

Essas providências, que não requerem investimentos públicos significativos, teriam a con-dição de propiciar significativa vantagem competitiva para nossa produção agrícola, na cada vez mais renhida competição de preços nos mercados globais.

LOGÍSTICA

Armazenagem e escoamento da produção primária

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Encontrar espaços para comercializar a produção agrícola e in-dustrial, assegurar e – dentro do possível – ampliar essa partici-pação, são desafios constantes para quem atua no agronegócio.

Para o Rio Grande do Sul, que ocupa posição destacada em várias cadeias produtivas, dos grãos à fruticultura, passando pela pecuária de corte e de leite e ainda pela ovinocultura, entre outras, concorrer nos cenários nacional e internacional tem sido aposta constante. A presen-ça arrojada nos mercados assegura o crescimento regular da produ-ção e da atividade industrial e estimula novos investimentos, gerando riquezas e fomentando o desenvolvimento no campo e na cidade. No artigo a seguir, formula-se uma análise do desempenho do agronegócio gaúcho em sua participação no comércio mundial.

MERCADO

O agronegócio gaúcho e o mercado internacionalBERFRAN ROSADO

DEPUTADO ESTADUAL

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O Rio Grande do Sul, em 2003, sedimentou sua vocação exportadora ao apresentar números positivos recordes. Ao contrário do resultado negativo do PIB nacional de –0,2%, o Estado apresentou taxa real de crescimento de +4,7%, decorrente, em especial, do formidável

desempenho do seu agronegócio.

O agronegócio gaúcho:No período compreendido entre os meses de janeiro a abril do corrente ano, as exportações pro-

venientes do agronegócio do Estado representaram 62,9% do total exportado. Cumpre lembrar que a balança comercial deste setor foi maior que o total do saldo comercial do Rio Grande do Sul, uma vez que os demais bens apresentaram saldo deficitário. O que deflagra uma já constatada certeza: são as exportações do agronegócio gaúcho que sustentam o saldo comercial positivo do Estado.

No primeiro semestre deste ano, os 10 primeiros produtos exportados pelo Rio Grande do Sul eram in natura ou industrializados derivados da agropecuária, ou utilizados pelo agronegócio. Estamos em primeiro lugar no ranking brasileiro em produção de arroz, de centeio, de cevada, de fumo e de uva, e somos o principal produtor de máquinas e de implementos agrícolas, com destaque para o segmento de tratores, onde produzimos metade do total nacional. O Rio Grande do Sul está em segundo lugar na produção de suínos, de alho, de aveia e de trigo; e em terceiro lugar na produção de

aves, de cebola e de leite. A previsão da balança comercial para o agronegócio gaúcho, neste ano, é de ultrapassar todos os

recordes positivos apresentados até hoje, a reboque, predominantemente, da produção e da capa-cidade de comercialização agrícola do Estado, que, segundo todos os indicadores, será a maior da história.

Pontos fortes:O panorama próspero do agronegócio, que se desenha, deve-se a diversos fatores internos sedi-

mentados, como a modernização do setor, a produção recorde agrícola e pecuária e a sua capacidade de inserção no mercado internacional, a agricultura orgânica e transgênica e a pesquisa e o desenvol-vimento no setor de produtos primários.

A modernização da atividade rural, decorrente do desenvolvimento científico-tecnológico e da expansão industrial de máquinas e de implementos, somou-se perfeitamente às vantagens compara-tivas já existentes de clima e de qualidade do solo, e à qualidade da mão-de-obra existente no nosso campo.

Outra área já modernizada no Estado, que assegurou confiabilidade importante da produção frente ao comprador externo, abrindo novos mercados, foi a de controle sanitário e fitossani-tário.

O agronegócio gaúcho e o mercado internacional

MERCADO

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O País:Os números do cenário estadual refletem-se no País, que apresenta um incrível crescimento

competitivo, ostentando, de 1990 para cá, um acréscimo na produção de grãos de 131%, com aumento significativo de 85,5% no índice de produtividade, nas últimas 13 safras. Também a pe-cuária, onde a produção de carne bovina brasileira aumentou 85,2%, e a avicultura, que em 10 anos cresceu 234%, demonstram a ascensão do agronegócio nacional.

Com isso, o Brasil lidera o ranking dos maiores exportadores de carne bovina e de frangos. Um exemplo internacional do reconhecimento da qualidade da carne brasileira é a classificação, por parte do Comitê Veterinário da União Européia, da área campestre brasileira como “área de risco desprezível”, no tocante à ocorrência do chamado “Mal-da-Vaca Louca”.

Outros segmentos onde o Brasil é líder são as exportações de álcool, de açúcar e de café. A produção de cana-de-açúcar está em franca ascensão, conseqüência da grande demanda do açúcar e do álcool, que encontra um vasto campo a ser explorado, qual seja, o energético, com o surgimento, nos planos interno e externo, dos veículos bicombustíveis.

Também a agricultura orgânica tende a ganhar espaço no mercado externo, como já o faz internamente. Produtos livres de agrotóxicos estão cada vez mais ganhando mercado, já que não agridem a saúde e o meio ambiente da forma como o fazem os defensivos agrícolas. Esta é uma conscientização que vem, há algum tempo, dos países desenvolvidos do Norte e, através de um bom marketing, tendem a ganhar muitos consumidores espalhados pelo mundo. No Brasil, este tipo de agricultura está crescendo a uma taxa anual de 20%.

Oportunidades:Estabelecidas as condições comparativas e competitivas fortes, o que se desenha no cenário

mundial das commodities é animador. Novos mercados estão se abrindo às exportações do agro-negócio gaúcho e brasileiro. A China, por exemplo, é o mercado que mais cresce no mundo, e está apontando para consideráveis investimentos neste setor, da mesma forma que é um grande

comprador de nossos produtos primários, especialmente da soja gaúcha.A pauta agrícola está sendo cada vez mais incluída nas negociações da Organização Mundial

do Comércio (OMC), e setores subsidiados de países, como os Estados Unidos, e blocos, como o da Comunidade Econômica Européia, estão sendo deflagrados e condenados dentro dos seus “painéis”, a exemplo do caso recente do algodão americano.

As conquistas dos países em desenvolvimento, com relação à inclusão dos seus produtos pri-mários, legitima e encoraja a vocação gaúcha na exportação que, em 2003, registrou os maiores ganhos na sua balança de comércio com os seguintes produtos: calçados de couro, soja em grão, carnes, farelo de soja e móveis de madeira.

Desafios:Entretanto, ainda enfrentamos obstáculos muito grandes. Temos experimentado, ano após

ano, de forma muito cruel, o constante aumento da carga tributária, o que prejudica nossa capaci-dade competitiva. Também carecemos de melhor infra-estrutura para escoamento da produção. A ampliação de recursos, de custos e de prazos certamente propiciarão novos investimentos, aumento da produção, emprego e renda. No mercado internacional, continuamos enfrentando barreiras tarifárias e não tarifárias, como sanitárias e fitossanitárias. Da mesma forma, o protecio-nismo dos tradicionais protagonistas mundiais é duro quando a discussão urge em temas como a liberalização de produtos primários.

Futuro:Evoluímos muito, crescemos, mas a importância que o agronegócio tem para nosso Estado

e para o País nos obriga a prosseguir. O agronegócio é, hoje – e com certeza continuará sendo –, o pilar de sustentação de nossa economia. Temos tecnologia, mão-de-obra, área e capacidade competitiva. O caminho é único, e está no fortalecimento de nossas cadeias produtivas e no acesso a novos mercados.

MERCADO

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PECUÁRIA

O Rio Grande do Sul apresenta desempenho arrojado em vários segmentos da produção animal. Na pecuária de corte, diferencia-se em relação ao restante do Brasil pela presença das raças européias, com plantéis de elite e com alta produtividade em carne com qualidade

tipo exportação. No segmento leiteiro, as pequenas propriedades rurais, especialmente nas regiões de colonização européia, são famosas por seus índices de produtividade e pela qualidade, fomentando o desenvolvimento e a expansão da atividade industrial. Na ovinocultura, o Estado se destaca com raças apropriadas à produção de lã e migra, ao sabor do mercado, para a produção de carne. Na suinocul-tura e na avicultura, os gaúchos são grandes fornecedores para os mercados doméstico e mundial. A excelência do Rio Grande do Sul alcança inclusive a eqüinocultura, com haras modernos e sofisticados. Em todos os campos, alguns diferenciais impõem-se como definitivos: entre eles estão a genética apri-morada e os invejáveis índices de sanidade. Nos artigos a seguir, essas cadeias produtivas são analisadas em suas peculiaridades, apontando méritos e perspectivas.

A pecuária e o agronegócio nacionalMARCUS VINICIUS PRATINI DE MORAES

PRESIDENTE DO CONSELHO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS EXPORTADORAS DE CARNES (ABIEC)

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PECUÁRIA DE CORTE

Ao contrário do que nossos concorrentes internacionais insistem em afirmar, o potencial agropecuário nacional é superior ao que se pode conceber. O Brasil é a última fronteira agrícola do mundo. Isto porque conta, ainda, com cerca de 90 milhões de hectares de

área agricultável disponível (um pouco inferior à área utilizada para plantio nos Estados Unidos da América), bem como com 220 milhões de hectares de pastagens passíveis de serem explo-radas.

O mais importante de ressaltar, ao se aprofundar a análise destes dados, é o fato de que o crescimento do agronegócio brasileiro em nada impacta na conservação das áreas consideradas de preservação nacional – como a Amazônia.

Além disso, cabe fazer uma breve referência à capacidade do agronegócio nacional em se adaptar às demandas nos planos interno e externo. Entre as safras 1990 e 2001, o País prati-camente manteve a mesma área plantada, com elevação da ordem de 42,5% em sua produção. Pode-se afirmar que o mundo cada vez mais dependerá do Brasil para se alimentar. O País tem hoje produção, produtividade, sanidade, qualidade e competitividade.

Tais dados refletem-se, de certa forma, nos resultados da balança comercial brasileira ao longo da última década. Comparando-se os valores obtidos nas exportações brasileiras em 1999 com os dados de 2004, verifica-se que o crescimento foi de 75%.

Esse aumento nas exportações do setor agropecuário resultou no fato de que, atualmente, de tudo o que se exporta no Brasil, 42,4% é proveniente do agronegócio nacional, equivalente à expectativa, para 2004, de US$ 30 bilhões.

No caso das exportações de carne bovina, houve variação de 77,8% entre os meses de janei-

ro e agosto de 2003 e em igual período de 2004.O Brasil detém o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 180 milhões de cabeças,

cerca de 16% de todo o rebanho mundial. No País, abatemos, por ano, 38 milhões de bovinos, o que representa 17% do total do mundo. Pode-se, portanto, concluir a razão pela qual o Brasil se apresenta, atualmente, como o maior exportador mundial de carne bovina.

Os principais mercados consumidores hoje abastecidos pelo Brasil são: países membros da União Européia, Rússia, países do Oriente Médio, Chile, Estados Unidos da América, países africa-nos, países asiáticos e outros. Dentre os novos mercados, destacam-se: Egito, Irã e Argélia.

Apesar do crescimento das exportações brasileiras de carne bovina, somente 20% é destina-da ao mercado externo; ou seja, 80% é consumida no mercado interno.

Para garantirmos que se alcance, de acordo com as estatísticas das exportações brasileiras para 2004, o valor de US$ 4,6 bilhões do complexo carnes e para mantermos a competitividade do Brasil no mercado externo devemos dar a devida atenção à importância dos programas de defesa sanitária, à completa implementação da rastreabilidade animal, bem como ao controle de doenças como a febre aftosa, a encefalopatia espongiforme bovina (BSE) e a peste suína clássi-ca.

Finalmente, cabe ressaltar que a agropecuária brasileira enfrenta, hoje, dois grandes desafios, a curto prazo: marketing e logística. Durante 400 anos o Brasil foi vendido; devemos agora aprender a vender nossos produtos no exterior, nos valendo do marketing para alcançar nossos objetivos. No caso da logística, o País encontra-se no limite da sua capacidade. Investimentos, nesse setor, tornam-se, portanto, imprescindíveis.

A pecuária e o agronegócio nacional

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Momento atual:A pecuária gaúcha vive um momento extremamente difícil, ocasionado por diversos fatores,

que cito a seguir:a) MERCADO: A competitividade do setor hoje está vinculada à capacidade de exportação.

O Brasil vai exportar em 2004 20% de sua produção. O Rio Grande do Sul, com apenas um frigorífico aprovado para todos mercados, irá exportar apenas 5% de sua produção. Por outro lado, por questões políticas, o Estado perdeu o mercado de Santa Catarina para o gado de abate, que sempre teve muita importância na formação dos preços locais. Até este momento, ainda não foi viabilizada a exportação de gado para o Uruguai, mercado que tem a mesma condição sanitária que o Rio Grande do Sul e preços muito superiores, por estar operando o mercado do NAFTA.

b) CONCORRÊNCIA DE OUTROS ESTADOS: Especialmente os estados do Centro-Oeste, fortes exportadores, ingressam com cortes não exportáveis, como a costela e outros, a preços muito reduzidos, nivelando nosso mercado por baixo e inibindo nossa produção.

c) LAVOURA: A baixa rentabilidade da pecuária levou a que muitos pecuaristas buscassem outras alternativas, dentre elas a lavoura de soja. Mais de 250 mil hectares de campos foram transformados em lavoura no último ano. A desocupação destas áreas embretou a pecuária em todos os sentidos. Primeiro, derrubou o preço do gado magro diante da grande oferta ocorrida

no final de 2003 e no início de 2004. Os baixos preços do outono estimularam a engorda de novilhos e de vacas no intervalo da cultura da soja, causando neste momento uma espetacular super oferta de gado gordo para abate em virtude da necessidade de desocupação das áreas para o novo plantio da soja. Os preços do gado gordo desabaram e a grande oferta deve perma-necer até o final de outubro de 2004.

d) RASTREABILIDADE: A falta de rastreabilidade no gado preparado no intervalo da soja impediu que novos programas de exportação fossem estabelecidos.

A conjunção destes fatores momentâneos faz com que o gado gaúcho obtenha um dos me-nores preços do Brasil e do Mercosul. Em média, tem ficado 10% abaixo do Centro-Oeste, 20% abaixo da Argentina e 50% abaixo do preço praticado no Uruguai.

Além da soja, outras atividades têm tirado áreas da pecuária, como a silvicultura e a fruticul-tura, principalmente a videira.

Pontos fortes:A pecuária gaúcha é diferente da praticada no Brasil. Predominam as raças européias, especial-

mente as britânicas. Temos as melhores pastagens naturais do País. Temos ainda a maior tradição nesta atividade, aliada à cultura de nosso povo.

PECUÁRIA DE CORTE

A pecuária de corte gaúchaFERNANDO ADAUTO LOUREIRO DE SOUZA

PRESIDENTE DA COMISSÃO DE PECUÁRIA DE CORTE DA FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO RIO GRANDE DO SUL (FARSUL)

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PECUÁRIA DE CORTE

Com relação à sanidade, temos a maior capilaridade do Brasil e do Mercosul. São 240 ins-petorias veterinárias e 111 escritórios de atendimento veterinário. Temos igualmente seis labo-ratórios de diagnóstico veterinário e um laboratório de segurança máxima para a produção de vacinas e de insumos.

Quase a totalidade da pecuária empresarial é familiar, administrada pelos proprietários, mui-tos deles veterinários, agrônomos, zootecnistas e administradores, entre outras formações uni-versitárias.

Pontos fracos: O aumento de consumo a partir do Plano Cruzado fez com que os gaúchos consumissem

toda a carne produzida no Estado. Esta realidade permitiu que indústrias informais se insta-lassem e a competitividade do setor estabeleceu-se na sonegação e no calote. A indústria organizada, inviabilizada pela concorrência desleal e pelos diferentes planos econômicos, com contingenciamentos, proibições de exportações, falta de cultura e lideranças políticas, faliu.

O estímulo que o Estado dava para a informalidade praticamente há 20 anos continua nos dias de hoje. Na área oficial, não há nenhum estímulo para a formação de arranjos produtivos. Tanto o Governo Federal quanto o Estadual estimulam a agroindústria familiar, uma forma contraditória e equivocada de desenvolvimento neste setor. A agropecuária familiar brasileira só é viável onde existirem arranjos eficientes, com agroindústrias competitivas, vide setor

fumo, aves e suínos.O abate clandestino e o abigeato são conseqüências de uma cultura permissiva, endossada

por prefeitos coniventes, que não cumprem sua função determinada por lei, estimulados por uma atitude indiferente de uma sociedade sem conhecimento, enganada por idéias medievais, sem sustentação num mundo globalizado, que inevitavelmente só pode alienar a quem de for-ma inocente aderiu ao processo.

Falta foco ao Estado e ao produtor. O orçamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é ridículo. Este ano, o Rio Grande do Sul não recebeu nenhum recurso para a defesa sanitária. O Brasil não abre novos mercados há anos e contenta-se em vender carne barata para apenas 35% do mercado mundial. O Mapa exige guia de trânsito, rastreabili-dade e vacina para a aftosa, para quê? Quando vamos avançar? A EMATER, que possui a maior capilaridade em extensão rural, estimula a indústria informal na pecuária de corte. Quando vai ajudar no desenvolvimento? O problema da pecuária de corte é conjuntural em todos os ní-veis e a solução passa por uma mudança drástica de postura de todos os agentes envolvidos.

O Rio Grande do Sul também possui um problema de escala, se o compararmos às outras regiões brasileiras e do Mercosul. A maioria de nossos pecuaristas trabalha com áreas muito pequenas.

Pela falta de indústrias organizadas, o Estado perdeu o padrão e a diversidade de raças e os sistemas de produção também preocupam.

A pecuária de corte gaúcha

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Cenários e oportunidades:De todos os itens produzidos pela agropecuária gaúcha, o melhor cenário internacional é o

da carne bovina. A União Européia, nosso principal cliente, com a mudança na forma de subsidiar sua produção, reduziu em um terço o PIB agropecuário do Bloco nos últimos dois anos. No ano passado, pela primeira vez registrou déficit em carne bovina. O fato deve repetir-se, agravado pelo aumento de consumo com o ingresso de mais 10 países a partir de 1° de maio passado.

Os Estados Unidos da América reduziram sua produção pecuária e, apesar de não terem exportado em 2004 em função do problema de BSE, aumentaram suas importações, devendo atingir a marca inédita de 1.500.000 toneladas.

Países em desenvolvimento, como a China, a Índia, o México, e alguns países árabes, entre outros, aumentam o consumo de carne, sustentado por importações irreversíveis. É importante considerar que o preço praticado no Brasil é muito baixo e um aumento no crescimento da economia doméstica teria também um efeito muito significativo.

A conquista do mercado americano pode aumentar em 50% o valor da carne brasileira. Foi o que ocorreu no Uruguai. Cinqüenta por cento em 8 milhões de toneladas equivale a um au-mento de aproximadamente R$ 14 bilhões neste setor, gerando mais trabalho, emprego, divisas e outros benefícios diretos e indiretos.

Investir em defesa sanitária é o caminho. Revoltados, assistimos o Governo Federal destinar

amplos recursos ao Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) – mais de R$ 3 bilhões – e manter o Mapa à míngua, com um valor inferior a R$ 1 bilhão. Não sabem que investimento em defesa sanitária atinge diretamente também a agricultura familiar, a avicultura, a suinocultura, o leite e a própria pecuária de corte. Falta visão.

Apesar das dificuldades, com o cenário favorável, a indústria organizada gaúcha está em re-cuperação. Investimentos estão sendo realizados. Plantas paralisadas estão sendo adquiridas e colocadas em funcionamento; nossas exportações e nossas vendas para outros estados estão em crescimento. Aumentada a formalidade, a atratividade do setor poderá ser desenvolvida.

Ameaças:A única e grande ameaça para o setor é a condição sanitária. A aftosa e outras doenças da lista

A da Organização Internacional de Epizootias (OIE) podem comprometer nossas exportações e, conseqüentemente, causar grandes prejuízos. As barreiras sanitárias são instrumentos impor-tantíssimos na relação interestadual e internacional. Ainda estamos sofrendo as conseqüências do último surto de aftosa.

Manter uma condição sanitária competitiva é dever de Estado e tem que ser apoiada pelos segmentos envolvidos, além de toda a sociedade, que necessita de segurança alimentar e da inocuidade dos alimentos.

PECUÁRIA DE CORTE

A pecuária de corte gaúcha

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PECUÁRIA DE CORTE

A pecuária gaúcha pode ser expressada pelos seguintes números:* Número de empresas: 873* Número de empregos: 26 mil * Faturamento anual: R$ 3 bilhões* Participação no PIB gaúcho: 2,3%O setor teve crescimento de 12,7% no abate formal em 2003 e cresceu 19% nas exporta-

ções. Para 2004, a expectativa é aumentar em 15% o abate formal e em 32% as exportações. A maior parte das empresas do setor se concentram na Metade Sul do Estado, que detém 65% da produção.

O que ainda atrapalha o desenvolvimento do segmento são a desorganização da cadeia pro-dutiva e as irregularidades observadas na venda do gado e no abate – onde, por exemplo, não se sabe o número de animais abatidos sob inspeção municipal. Na cadeia da carne, falta integração

entre produtor, indústria e consumidor, além da elevada carga tributária e da falta de fiscaliza-ção.

O que precisa melhorar: o controle sanitário e fiscal no abate e o comércio do gado e da carne, bem como o controle sanitário do rebanho; a qualidade e a padronização dos animais destinados ao abate. É preciso reduzir drasticamente a informalidade, a sonegação de impostos, a clandestinidade e o abigeato, que, somados, alcançam 50% da carne vendida no Estado.

O Rio Grande do Sul pode ampliar ainda mais sua participação nas vendas ao mercado externo e, para isto, criou em 1999 a marca “South Brazilian Beef”, com apoio da Agência de Promoção das Exportações (Apex) e do Sebrae/RS. Em 1996, antes da criação desta marca, as exportações gaúchas eram de 5,7 mil toneladas; em 2003, chegaram a 68,3 mil toneladas. Para se alcançar esta melhoria foi fundamental o apoio do Governo do Estado, traduzido pelos progra-mas Carne de Qualidade (ago/1995 a mar/2002) e Agregar/RS/Carnes (abr/2002 a mar/2006.

A pecuária gaúcha em númerosMAURO DANTE AYMONE LOPEZ

PRESIDENTE DO SINDICATO DA INDÚSTRIA DE CARNES E DERIVADOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (SICADERGS)

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PECUÁRIA LEITEIRA

Os números do setor lácteo gaúcho são expressivos. O leite no Rio Grande do Sul é pro-duzido por aproximadamente 80.000 famílias, sendo responsável por 6,72 % do PIB do agronegócio gaúcho. O capital circulante, resultante de sua comercialização, constitui-se

na principal fonte de renda mensal da propriedade rural. O Estado é o 3° maior produtor do País, com o primeiro lugar em produtividade, e a região

Noroeste do Estado é a segunda maior bacia leiteira do Brasil. Fomos pioneiros na granelização; hoje, 98 % do leite é transportado a granel e 95% de nossa produção é resfriada na propriedade, assegurando desta forma a manutenção da qualidade de nosso produto.

Somente entre os anos de 1995 e 2003 a produção de leite no Rio Grande do Sul cresceu 36%. Quando comparamos os dados acumulados de janeiro a julho de 2003 com igual período de 2004, encontramos um crescimento de 7,29%. Há ainda que se considerar que em 2004 vivenciamos uma das piores estiagens da história recente, e ainda assim estamos em franca expansão.

Mas não podemos analisar o leite apenas até a porteira da propriedade; necessitamos ampliar o foco e constatar que, do produtor ao consumidor, ele gera no Estado aproximadamente 400

mil empregos diretos e indiretos. A indústria láctea gaúcha é moderna e diversificada, fazendo com que os produtos lácteos do Estado já não mais tenham fronteiras. No Brasil, da Amazônia ao Nordeste, apenas para citar nossas fronteiras mais distantes, é possível saborear os produtos aqui produzidos. Atualmente, 60% de nossa produção é comercializada para fora do Estado. No exterior, os Estados Unidos renderam-se ao sabor do leite condensado e do nosso creme de leite. Angola, Gana, Moçambique, Croácia e até mesmo a distante China já dispõem na mesa dos produtos de nosso “pago”.

O atual cenário mundial nos remete a algumas considerações que anunciam uma tendência extremamente favorável ao setor. A recente integração de países do Leste Europeu à União Eu-ropéia – que é, como bloco, o maior produtor mundial de leite – provocou discussões acerca da capacidade financeira de manter os incentivos governamentais à produção, os tão discutidos sub-sídios. Também lá se intensificam as análises sobre as condições ambientais da produção do leite, barrando, em alguns casos, por completo sua ampliação.

Outro fator a ser considerado é a população chinesa, iniciando-se no mercado consumidor.

O leite grande do SulJONES RAGUZONI

SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE LATICÍNIOS E PRODUTOS DERIVADOS NO RIO GRANDE DO SUL (SINDILAT/RS)

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PECUÁRIA LEITEIRA

Hoje autosuficiente na produção láctea, a China, mantendo a ampliação da base consumidora do País, será em poucos anos uma grande compradora de lácteos, a exemplo do que já ocorre com a soja.

A crescente ajuda humanitária desencadeada pela Organização das Nações Unidas (ONU) criou um novo mercado para o leite. Populações que até há pouco tempo estavam excluídas do consumo mínimo recomendado de lácteos pela UNESCO – Fundo da ONU para a Educação, a Cultura e a Ciência – começam a ter o leite disponível em sua alimentação. O Brasil não ficou de fora deste mercado, onde destacamos os recentes embarques efetuados para o Iraque e para países africanos.

Ainda no contexto global, 50% da comercialização mundial de lácteos está concentrada em dois países – a Nova Zelândia e a Austrália –, ambos distantes de alguns dos principais mercados consumidores. Esta situação já levou algumas das principais indústrias destes países a estabelecer parcerias estratégicas com indústrias brasileiras, visando sua manutenção competitiva no mercado e propiciando novos consumidores aos produtos brasileiros.

Diante deste quadro, as expectativas para a produção do leite no futuro são animadoras. Mas não podemos acreditar que todo este potencial do mercado está assegurado para o Brasil – e, por conseqüência, para o Rio Grande do Sul. Apesar de termos números significativos, quando comparados com outros estados, ainda há muito a realizar para atingirmos índices semelhantes aos obtidos pelos países mais desenvolvidos na produção de leite.

Os rumos a serem seguidos para não ficarmos à margem das tendências mundiais passam pela ampliação da qualificação profissional e técnica de nossos produtores, do manejo adequado do rebanho, do investimento em genética aprimorada, do emprego de tecnologia a serviço da produção, da qualificação e da tecnificação das plantas industriais e, sobremaneira, do apoio e do acompanhamento dos organismos governamentais, tanto das esferas municipais e estaduais como, principalmente, da esfera federal.

A receita parece fácil. Mas para todo programa de desenvolvimento que se estabeleça e que tenha sucesso, um ingrediente não pode faltar: a atitude. Façamos, pois, cada um dos elos da cadeia láctea gaúcha, a nossa parte.

O leite grande do Sul

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AVICULTURA

A avicultura do Rio Grande do Sul tem como entidades representantes a Associação Gaú-cha de Avicultura (ASGAV) e o Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas no Estado do Rio Grande do Sul (SIPARGS), ambas situadas em Porto Alegre e em constante atu-

ação na defesa dos interesses do setor avícola gaúcho.

Visão atual: Atualmente, a avicultura do Rio Grande do Sul desempenha um grande papel no meio socio-

econômico do Estado e do Brasil, sendo uma das principais engrenagens para o desenvolvimen-to do agronegócio gaúcho. E o sistema de parceria avícola entre agroindústria e produtor rural no segmento frango de corte reflete a importância social do setor.

A atividade de postura comercial – ou seja, a produção de ovos – está impulsionando novas etapas de comercialização, voltadas para a modernização e a valorização do ovo em diversas fases da alimentação humana.

Perfil da avicultura gaúcha:Conheça a seguir a estrutura do complexo avícola do Rio Grande do Sul, contemplando as-

sociados da ASGAV. * 16 frigoríficos com inspeção federal;

* 5 frigoríficos com inspeção estadual; * 21 fábricas de rações;* 16 incubatórios; * 32 empresas produtoras de ovos; * 12 fornecedores para avicultura; * 45 mil empregos diretos e 800 mil empregos indiretos; * 10.500 famílias de produtores integrados de frango de corte; * Produção anual de 630 milhões de frangos de corte; * Alojamento anual de 5,2 milhões de matrizes de corte;

A avicultura do Rio Grande do SulEDUARDO SANTOS

ASSESSOR TÉCNICO DA ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE AVICULTURA (ASGAV) E DO SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DE PRODUTOS AVÍCOLAS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (SIPARGS)

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AVICULTURA

* Plantel de 6 milhões de aves de postura; * Produção anual de 4,7 milhões de caixas de ovos com 30 dúzias cada;* Alojamento anual de 4,7 milhões de matrizes de postura comercial;* Receita bruta anual de R$ 4,2 bilhões;* Participa com aproximadamente R$ 160 milhões na arrecadação anual de ICMS do Estado;* Exportação de US$ 471 milhões em 2003; * Produção anual de 1 milhão de toneladas de carne de aves; * 4 granjas que trabalham com desenvolvimento genético; * Consumo anual de 2,350 milhões de toneladas de milho; * Consumo anual de 800 mil toneladas de farelo de soja; * Consumo anual de 250 mil toneladas de sorgo. Pontos fortes:A avicultura do Rio Grande do Sul destaca-se em níveis nacional e internacioanal devido à exce-

lente qualidade dos produtos avícolas e também à seriedade e à competência daqueles que fazem parte da cadeia produtiva da avicultura.

O produto avícola produzido no Estado hoje é vendido para mais de 100 países, os quais a cada dia que passa ficam cada vez mais rigorosos em sua normas e exigências para importarem alimentos de outros países. Destacamos ainda a estrutura existente de portos para exportação.

Pontos fracos:Hoje, a avicultura gaúcha tem um de seus pontos fracos especialmente na insuficiência em abaste-

cimento de milho no Estado. Oportunidades:O setor avícola pode ser considerado um dos que mais oportunidades oferece, pois toda a evolu-

ção, o progresso e a tecnologia que estão sendo aplicados na avicultura abrem novos caminhos para estudantes e outros profissionais e até mesmo na geração indireta de empregos.

A alta demanda dos produtos avícolas gaúchos exige dos dirigentes das agroindústrias investi-mentos constantes em tecnologia, em logística e em assistência técnica especializada aos produtores integrados.

Outra oportunidade que podemos apontar é o novo mercado para ovos de consumo com destino à exportação. Para tanto, ainda há necessidade de aprimorar sistemas mais rápidos de transporte.

Ameaças:As ameaças para a avicultura gaúcha são provenientes da falta de cereais em quantidades neces-

sárias para o abastecimento dos seus plantéis; e da necessidade de aprimoramento dos sistemas de defesa sanitária, com o objetivo de proteger os plantéis avícolas.

A avicultura do Rio Grande do Sul

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SUINOCULTURA

Visão atual:Os bons resultados econômicos obtidos na atividade suinícola a partir do terceiro trimestre

de 2003 estão proporcionando ao suinocultor condições de investir em equipamentos e em genética e, assim, buscar redução de custos no sentido de alcançar bons e duradouros ganhos na atividade.

A análise da situação atual da suinocultura não pode ser feita sem considerar-se fatos ocor-ridos no mínimo a partir de 2001. Os bons resultados obtidos naquele ano e no início de 2002, somados às perspectivas de crescimento nas exportações, geraram um clima de euforia que levaram muitos produtores a aumentar o plantel e outros a darem seus primeiros passos na suinocultura ainda em 2001 e mais intensamente em 2002. Esses, dado o longo período com ex-cesso de oferta de animais para o abate e dada a acentuada alta nos preços dos insumos básicos (milho, soja e premix), não poderiam ter escolhido época menos propícia.

A região Centro-Oeste, especialmente os estados de Mato Grosso e de Goiás, continua sendo alvo de novos investimentos de empresas nacionais e multinacionais. Tais aplicações na atividade suinícola elevaram o rebanho da região, estimado em cerca de 3,2 milhões de cabeças em 2002, para cerca de 3,5 milhões de cabeças em 2003. Na região Sul, entre 2000 e 2002, a

expansão do rebanho foi de 7,58%. No mesmo período, a região Centro-Oeste cresceu 9,96% e a região Sudeste, 6,02%. Já as regiões Nordeste e Norte apresentaram contração no rebanho, de 3,24% e 4,16%, respectivamente.

Com relação ao número de matrizes, observou-se a partir do 4º trimestre de 2001 forte crescimento no número das instaladas nas regiões de produção.

Primeiramente motivados pelos bons resultados obtidos em 2001 e no início de 2002 (ja-neiro a março), e posteriormente incentivados pelas possibilidades anunciadas de aumento nas exportações, os produtores seguiram aumentando o número de fêmeas instaladas até agosto de 2002, apesar de já em abril de 2002 a atividade começar a apresentar resultados negativos. A partir de 2002, os produtores começaram a intensificar o descarte de matrizes, buscando desta forma reduzir seus prejuízos. Descartes mais fortes se verificaram em 2003. Em abril de 2003, o número de fêmeas instaladas já era inferior ao do início de 2001.

Com os resultados positivos de setembro e outubro de 2003, observou-se no mercado, a partir de novembro de 2003, uma procura acentuada por leitoas para reposição de plantel.

A agroindústria suína gaúcha é responsável por 75% da produção através do sistema integra-do. Face a isso, ela precisa discutir melhor o incremento de matrizes com todos os segmento en-

GILBERTO MOACIR DA SILVAMÉDICO VETERINÁRIO, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE CRIADORES DE SUÍNOS DO RIO GRANDE DO SUL (ACSURS)

A suinocultura gaúcha

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SUINOCULTURA

volvidos, para que não tenhamos a repetição da crise vivida recentemente pela cadeia suinícola.De acordo com a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína

(ABIPECS), o consumo per capita brasileiro, cresceu 18,20% nos últimos cinco anos, em parte devido à queda nos preços em nível de consumidor e também pelas campanhas promovidas pela Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e por suas filiadas, destacando as qualida-des da carne suína.

Como se sabe, a participação da alimentação nos custos de produção varia de 70 a 80% do custo total, assim, qualquer variação nos preços destes insumos têm peso significativo na determinação do resultado econômico da atividade.

Com os resultados positivos a partir de setembro de 2003, os produtores, novamente empolgados, começaram a ampliar/recompor o plantel de matrizes. Parece-nos que os produtores – individualmente ou, preferencialmente, através de suas associações – pre-cisam discutir melhor os incrementos de matrizes com todos os segmentos envolvidos, buscando identificar a real necessidade de se buscar aumentos na produção e na oferta de carne suína, não só para o mercado interno como, também, com relação às expectativas de exportação.

Entendemos que, pelo menos até que se definam ações conjuntas que envolvam todos os segmentos da cadeia suinícola, a atividade estará sujeita a oscilações, o que trará difi-culdades especialmente ao produtor de suínos.

Pontos fortes:O principal ponto forte é a boa sanidade geral do rebanho.

Das pequenas propriedades rurais espalhadas pelo Rio Grande do Sul aos grandes complexos de criação de suínos, a atividade torna-se expressiva sob o ponto de vista econômico e social no Estado. Com instalações modernas nas granjas, mão-de-obra quali-ficada e infra-estrutura sofisticada no processo agroindustrial, o segmento de suínos tem na pesquisa e na genética um forte aliado, tanto é que o suíno brasileiro está entre os me-lhores do mundo. Em 20 anos de evolução genética, técnicos e suinocultores conseguiram reduzir os níveis de gordura em 31%, os de colesterol em 10% e os de calorias em 14%.

Campanhas de divulgação das qualidades da saudável e saborosa carne suína realizadas pela ABCS e por suas filiadas, utilizando os recursos do Fundo de Marketing, têm contri-buído para o aumento do consumo per capita.

Pontos fracos:- Autosuficiência na produção milho. O cereal, ao lado da soja, compreende a matéria-

prima básica na elaboração das rações balanceadas.- Alto custo de financiamentos para investimento e para custeio e falta de recursos.- Estruturação da defesa sanitária animal.- Margem elevada de ganhos na comercialização varejista, que possui poder de barga-

nha através da ação dos super e hipermercados.- Organização da cadeia produtiva.- Disponibilidade de cortes práticos da carne suína e sua melhor distribuição nos cen-

tros consumidores.- Regulamentação da atividade.

A suinocultura gaúcha

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SUINOCULTURA

SUINOCULTURA GAÚCHA

Evolução da suinocultura do Rio Grande do Sul

ESPECIFICAÇÃO 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004*

REBANHO

Cabeças 4.055.024 4.140.468 4.133.303 4.076.247 4.483.871 4.125.161 4.290.167

Matrizes 283.073 267.569 275.722 276.017 333.309 292.894 283.100

PRODUÇÃO-ABATE

Cabeças Total 4.587.884 4.924.064 4.827.319 5.223.670 6.001.190 5.511.405 5.487.000

Carne (kg) (carcaça 75kg/04) 321.151.880 344.684.480 338.072.000 363.771.800 459.691.154 432.645.292 411.525.000

Desfrute % 113.14 118.93 116.79 128.15 133.84 133.60 127.90

Cabeças-Abate SIF+CISPOA 3.587.884 3.824.064 3.827.319 4.223.670 5.001.190 4.783.405 4.787.000

CONSUMO

Kg 187.047.514 195.449.436 203.755.960 207.357.397 218.243.991 225.674.664 234.042.695

Per Capita kg/habitante 19.00 19.60 20.00 20.50 21.00 21.50 21.82

% da Produção 58.24 56.70 60.27 57.00 47.48 52.16 56.87

EXPORTAÇÕES

Toneladas 22.184 24.390 35.742 47.411 86.000 136.000 120.000

CRIADORES

* RS 80.126 76.828 75.291 74.538 72.301 70.855 68.020

POPULAÇÃO RS

Habitantes 9.844.606 9.971.910 10.187.798 10.289.675 10.392.571 10.496.496 10.726.063

Fonte: ACSURS/SIPS/IBGE Pasta: Estatística-Arq. Suinocultura Brasileira

Elaboração e montagem: ACSURS

* Estimativa da ACSURS

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Com um rebanho de cerca de 3,95 milhões de cabeças e um plantel de 283.100 matrizes, foram abati-dos 4,785 milhões de suínos, sob Inspeção Federal e Estadual, em 2003, estimando-se ainda um abate complementar de 528.000 cabeças para auto-consumo, proporcionando uma produção de 621 mil

toneladas de carnes e de derivados e um faturamento de R$ 2,2 bilhões.A produção gaúcha representa 18% da produção nacional, ocupando o segundo lugar em importância. A

região Sul, a maior produtora, com cerca de 58% da produção nacional, detém uma participação de 30,9%.Nos anos recentes, a atividade se expandiu a taxas significativas, com maior participação dos plantéis tec-

nificados, em constantes ganhos de produtividade, iguais ou superiores aos das melhores regiões produtoras nacionais ou internacionais.

Foram incorporados ao processo produtivo novas tecnologias em instalações, em equipamentos e em manejo, com especial destaque para a melhoria genética, da sanidade e para a preservação do meio ambien-te.

A coordenação e a liderança da cadeia são exercidas pelo segmento agroindustrial, com o crescimento de um sólido sistema de integração, passando por um intenso processo de diversificação em produtos e em mercados.

Os investimentos no campo são avaliados em R$ 519 milhões e na agroindústria em R$ 753 milhões, ocupando aproximadamente 87.000 pessoas com dedicação integral e mais 270.000 pessoas com ocupação parcial.

As exportações em 2003 foram superiores a 136 mil toneladas, com receita cambial de US$ 151 mi-lhões.

Da produção de carnes e de derivados em 2003, somente 24,10% foi consumida no Estado; 47,19% foi

comercializada com outros estados e 28,71% foi exportada.Como pontos fortes da cadeia identificam-se o melhoramento genético, os ganhos de produtividade

e o crescente trabalho da cadeia frente aos desafios dos mercados, quanto a segurança alimentar, a sanidade, a gestão ambiental e a qualidade dos produtos.

As oportunidades relacionam-se com o consumo interno, que pode ser aumentando, hoje limitado a cerca de 13 kg per capita, sendo considerado o quarto mercado consumidor. A participação brasileira no mer-cado internacional de carne suína é tão somente de 39% do total de 4,1 milhões de toneladas. Também há um sistema de integração em evolução, que está conferindo à cadeia condições de avanços e novos parâmetros produtivos, asseguradaos pela capacitação e pela tradição da atividade.

Como desafios, são relevantes e podem ser mencionados: a necessidade de recursos para investi-mentos na adequação ambiental e na modernização tecnológica da produção à industrialização; o sistema de defesa sanitária animal, indispensável no processo de certificação oficial da produção; o suprimento do insumo básico (milho/sorgo), quer por sua produção irregular e insuficiente no Estado, quer pela inexistência de uma política de sustentação da cultura; e a revisão do sistema tributário, oneroso às exportações e inibidor do consumo interno, pela falta de isonomia tributária entre as carnes e os estados.

A suinocultura brasileira é uma das mais competitivas do mundo, junto com todo o agronegócio brasileiro, fazendo com que o protecionismo assuma diferentes formas. Desta maneira, nos mercados, com suas exigên-cias crescentes quanto à segurança alimentar, à inocuidade dos alimentos, aos padrões sanitários e à qualidade dos produtos, resta evidenciada a grande ameaça à manutenção e ao crescimento do segmento, impondo-se uma nova postura do setor público, compreendendo o investimento de recursos, técnicos e estruturais, para uma defesa sanitária eficiente.

SUINOCULTURA

A cadeia de produtos suínos no Rio Grande do SulROGÉRIO KERBER

DIRETOR-EXECUTIVO DO SINDICATO DA INDÚSTRIA DE PRODUTOS SUÍNOS DO RIO GRANDE DO SUL (SIPS)

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Visão atual do setor:A perspectiva atual da suinocultura brasileira, em especial no Rio Grande do Sul, é de grande

expansão e modernização. Para que isso aconteça, se faz necessária uma produção eficiente, ba-seada em grandes investimentos. A fonte desses recursos está alocada em empresas frigoríficas integradas e em empresas de material genético.

Para que haja aumento na demanda interna e nas exportações do produto, o setor deve inves-tir também em marketing, visando conquistar novos clientes, que venham consumir a totalidade do produto ofertado, impedindo assim uma nova crise no segmento, que atualmente vive um bom momento.

É importante entender que a suinocultura brasileira sofre uma forte limitação de mercados, principalmente na União Europeia, que tem sérias restrições ao produto suíno brasileiro desde 1978, quando ocorreu a peste africana. A importância desse mercado, no entanto, justifica que se invista na sua reabertura, pois lá existe o maior consumo per capita de carne suína (77 kg ao ano na Dinamarca). Se contabilizarmos as trocas existentes entre os países componentes do bloco, as importações podem chegar a 1,5 milhão de toneladas.

Para que haja uma variação positiva na curva da demanda, é necessário que os três níveis de governos, as entidades de classe e a iniciativa privada invistam fortemente na conquista de novos mercados externos, já que o crescimento da oferta tem se mostrado preocupante em relação à demanda doméstica (o consumo do produto suíno no Brasil não teve importante crescimento na última década; apenas acompanhou o crescimento populacional). A reabertura do mercado europeu seria capaz de promover uma importante variação da curva da demanda a curto e médio prazos.

Cabe lembrar que precisamos melhorar o produto que colocamos no mercado para ser-mos competitivos, pois cenários como o europeu e o japonês são muito exigentes no que diz respeito à qualidade. O Japão é o maior importador mundial de produtos suínos. A previsão de importação japonesa para 2004 é de 1,15 milhão de toneladas de carne suína e seus principais fornecedores são os Estados Unidos, Dinamarca, Canadá e México. Entretanto, é extremamente exigente quanto à qualidade do produto, o que deixa o Brasil de um modo geral fora dessa dis-puta, pois poucas empresas nacionais poderiam competir naquele mercado.

Outro mercado que sempre deve ser olhado com atenção é o chinês, que em 2003 importou

SUINOCULTURA

Os rumos da suinocultura gaúchaJOÃO PICOLI

COORDENADOR DAS COMISSÕES DA FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO RIO GRANDE DO SUL (FARSUL)

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SUINOCULTURA

cerca de 120.000 toneladas da exportação brasileira. A produção chinesa é pouco tecnificada, baseada em regime de economia familiar e de alto consumo. O maior produtor mundial não é o maior concorrente, pois também é o maior consumidor, abocanhando mais do que pro-duz. Além disso, sofre com a febre aftosa, que impede a comercialização internacional de seus produtos.

Hoje, a Rússia é o principal importador brasileiro de produtos suinícolas. Em 2003, o Bra-sil exportou para aquele país 314.752 mil toneladas, cerca de 63,7% do total exportado no período. Em 2002, a Rússia importava cerca de 80% de nossa produção, o que representava 95% do total importado por aquele país. A Rússia reduziu em 16,5% a importação em relação ao mesmo período do ano anterior, sendo um dos poucos importadores que diminuíram a demanda. Essa redução deu-se em função do sistema de cotas imposta pelo governo russo, a fim de fomentar o mercado interno. O teto imposto é de 337,5 mil toneladas, sendo que o excedente é submetido a altas taxas.

Pontos fortes:- Baixo custo de produção;- Grande área para criação;- Produtividade competitiva;- Genética;

- Estimativa de altos investimentos no setor.

Pontos fracos:- Controle sanitário;- Qualidade do produto;- Falta de padronização do produto final;- Grande dependência do mercado russo.

Oportunidades:- Aumento da demanda doméstica;- Penetração no mercado europeu;- Competição no mercado chinês. Ameaças:- Saturação dos mercados com depressão de preços ao produtor;- Maior exigência nos padrões de qualidade dos produtos por parte dos mercados exter-

nos (japonês e europeu);- Solução da questão ambiental;- Baixo nível no processo de gestão pelo produtor.

Os rumos da suinocultura gaúcha

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SUINOCULTURA

Passamos governo e presidentes de comissões, viajamos, discutimos, renegociamos dívi-das, e muitas portas se abriram, principalmente estaduais. Nossos pleitos foram aten-didos pelo BANRISUL a juros pactuados, pelo SICREDI e pela Superintendência do

Banco do Brasil e por outras instituições bancárias, que, sentindo a dificuldade do produtor rural (suinocultor), acreditaram em nossas reivindicações e deram um voto de confiança. Esta atitude possibilitou que muitos suinocultores pudessem continuar na atividade. Infelizmente, não obtivemos sucesso com o Governo Federal.

Como a fênix, renascemos e estamos produzindo riquezas e impostos pelo Brasil afora. Somos uma das principais atividades econômicas, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE).

À base de reivindicações, com determinação, conseguimos participar e implantar o Progra-ma “Juntos para Competir”. Participamos da CPI da carne da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, levantando problemas e dificuldades.

Nossa preocupação é com a euforia no setor, o que pode levar ao surgimento de pro-dutores de asfalto, começando a produzir indiscriminadamente, aviltando os preços atuais.

Solicitamos aos nossos produtores que façam seus custos de produção e tomem os cuidados necessários.

Hoje, é hora de o nosso produtor (suinocultor), de qualquer tamanho e integração, sentar à mesa de negociações com as empresas do setor, colocando suas necessidades e seus anseios com o intuito de manter a cadeia produtiva forte. Este chamamento não distingüe o tamanho da propriedade rural ou o tamanho da indústria; existe espaço para todos, mas sempre cum-prindo as normas vigentes.

Se porventura uma destas indústrias falhar no processo de produção, isso prejudica a todos os elos da cadeia produtiva. Alguma atitude irresponsável, colocando produtos de baixa quali-dade, identificados pela dona-de-casa ao abrir a panela e dizer “que cheiro de porco”, estragará toda a indústria, e automaticamente toda a cadeia.

Quanto mais rastrearmos nossa produção, quanto mais investirmos em sanidade, mais mer-cados abriremos, sejam eles locais, nacionais ou internacionais. Assim, poderemos melhorar nosso negócio, resultando em melhorias financeiras, com o conseqüente aumento da renda do produtor rural.

Lei da oferta e da procuraJOÃO PICOLI

COORDENADOR DAS COMISSÕES DA FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO RIO GRANDE DO SUL (FARSUL)

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OVINOCULTURA

Cenário:A ovinocultura, uma das mais tradicionais riquezas da pecuária do Rio Grande do Sul, sempre

desempenhou importante função socioeconômica na Metade Sul do Estado, produzindo lã para exportação e gerando divisas; oportunizando empregos e renda para assegurar a permanência do homem no campo; e produzindo carne, alimento básico das pequenas propriedades familiares da região.

Com a lã, exportada em estado bruto e sob diversos produtos manufaturados, como tops, fios e tecidos, a ovinocultura gaúcha abastecia importantes indústrias de tecidos da Inglaterra, da Alemanha e da Itália. A produção desta fibra atingia então 35 milhões de quilos, gerando divisas superiores a US$ 80 milhões por ano.

Mais recentemente, com a retração do consumo mundial de lãs, ocasionada pela grande expan-são das fibras sintéticas, formaram-se grandes excedentes da fibra. O resultado foi a queda dos preços e a drástica redução do efetivo ovino mundial. Como reflexo, o rebanho gaúcho, que no

seu auge ultrapassava a 13 milhões de cabeças, foi reduzido para menos de 4 milhões de cabeças, enquanto a produção de lã despencou para menos de 12 milhões de quilos.

A recente retomada dos preços históricos da lã no mercado internacional e a grande valoriza-ção da carne ovina no mercado interno são oportunidades que se abrem para a recuperação da ovinocultura e da economia da Metade Sul do Estado.

Pontos fortes:- Baixo investimento para iniciar a criação;- Pequena inversão de capital;- Rápido retorno do capital investido;- O ovino é um dos animais com maior liquidez no mercado;- A docilidade facilita o manejo dos animais;- Os ovinos se adaptam aos mais diversos tipos de clima e de solo;

A ovinocultura gaúchaADAYR COIMBRA FILHO

ENGENHEIRO AGRÔNOMO, MESTRE EM ZOOTECNIA, ASSISTENTE TÉCNICO ESTADUAL DE OVINOCULTURA DA EMATER/RS E COORDENADOR DO PROGRAMA DE REESTRUTURAÇÃO DA OVINOCULTURA NO RIO GRANDE DO SUL

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- Versatilidade da espécie (produz diversos produtos ao mesmo tempo: carne, lã e pele);- Tanto a lã quanto a carne e as peles ovinas são produtos de grande escassez no mercado; - A espécie não compete em alimentação com o homem; pode ser criada só a pasto;- O pequeno porte dos animais, o curto ciclo de produção e a alta prolificidade proporcionam

elevada rentabilidade para a criação, mesmo em pequenas áreas;- Existência de raças especializadas na produção de lã e de carne, perfeitamente adaptadas às

condições do Rio Grande de Sul;- O Estado possui longa tradição, conhecimento das técnicas de criação e grande estoque de

tecnologias, tanto para a produção de lã quanto de carne e de peles;- O pequeno porte e a docilidade dos animais facilitam a integração da ovinocultura com ou-

tras culturas animais e/ou vegetais, como bovinos de corte e/ou leite, fruticultura e erva-mate;- O esterco ovino possui elevado valor fertilizante, bem superior ao bovino.

Pontos fracos:- Atual desestruturação da cadeia produtiva da lã;- Desarticulação da cadeia produtiva da carne;- Falta de informação e de assistência técnica para o produtor;- Inexistência de canais e/ou estrutura para a comercialização de animais para o início de uma

criação.

Ameaças:- Abigeato;- Grande avanço da agricultura nas áreas de pecuária, especialmente da cultura da soja;- Problemas sanitários (verminoses e foot-rot ou manqueira ovina);- Diminuição do rebanho estadual,- Perda de importância econômica do setor.

Oportunidades:- Excelente opção para a diversificação das pequenas propriedades rurais;- Possibilidade de a espécie ser utilizada em pomares como roçadeira biológica, substituindo

capinas manuais, roçadas mecânicas, herbicidas e adubos químicos;_ Possibilidade de integração com cultivos permanentes (fruticultura e erva-mate), para reduzir

custos, racionalizar o uso da terra e ter aumento da renda; - Grande expansão do consumo da carne ovina e alta valorização do preço de mercado; - Retomada dos preços históricos da lã no mercado internacional;- Possibilidade da produção de carne em curto espaço de tempo, a baixo custo e com elevado

valor agregado (exclusivamente a pasto);- Possibilidade de dinamizar a economia da Metade Sul do Estado, através da recuperação da

produção de lãs e de carne ovina, produtos de alto valor agregado.

OVINOCULTURA

A ovinocultura gaúcha

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OVINOCULTURA

Visão Atual:O setor vive a euforia dos bons preços da carne, especialmente dos “cortes”, ocasionado pelo aumento no consumo e pela decisão dos produtores de criar ovinos tipo carne.

Pontos fortes:Muitos produtores estão investindo na atividade, melhorando pastagens, arraçoamento e plantéis. Isso tem proporcionado aumento de empregos, de salários e de encargos e a conseqüente oti-

mização da economia. Ponto fraco:Houve a elevação substancial no preço da carne, afastando muitos consumidores.

Oportunidade:A atividade hoje proporciona o aumento de renda dos agropecuaristas. Há financiamentos disponíveis nos principais agentes financeiros, especialmente através do Programa Federal de Desenvol-

vimento do Agronegócio (PRODEAGRO) e do Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF).

Ameaças:Os riscos enfrentados pelo setor são a substituição da carne ovina e a importação do produto do Mercosul.

Os caminhos para o crescimentoJOSÉ KOCHHANN

GERENTE DE MERCADO AGRONEGÓCIOS DO BANCO DO BRASIL

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EQÜINOCULTURA

O Rio Grande do Sul é um Estado com características muito peculiares e fortes, tendo sua economia embasada, primeiramente, na pecuária. Depois vieram a agricultura e o desenvolvimento industrial. Existe uma diferenciação entre as diversas regiões que

compõem o nosso território, com uma linha muito tênue separando a Campanha, o Noroeste e a região que se desenvolve vizinha à Capital, onde se nota a predominância das três fontes, respectivamente, pecuária, agricultura e indústria.

O cavalo sempre esteve presente na composição do Estado; foi ferramenta de trabalho, de demarcação das fronteiras, de meio de comunicação. Portanto, está ligado, de maneira muito especial, ao crescimento da economia estadual. Antes, sua importância era considerada natural, pois fazia parte da vida diária; os cavalos simplesmente existiam e a sua criação era decorrência do meio em que vivíamos.

Hoje, a eqüinocultura tem outra conotação. Se para os que vivem na Campanha o cavalo continua sendo ferramenta de trabalho, com um valor agregado pela importância adquirida em outros setores, pode-se dizer que o uso do cavalo fora do seu meio veio contribuir com mais força na economia geral. Ele tornou-se uma fonte de renda para quem se dedica a criá-lo, mas

principalmente tornou-se uma mola propulsora na geração de renda e de emprego.Analisando rapidamente, o cavalo continua sendo usado no serviço das propriedades rurais.

Mas saindo do meio rural e chegando às cidades, alcançou o homem urbano, que passou a usá-lo no seu lazer e de sua família, incorporando pouco a pouco a vontade de possuir um exemplar de destaque nas competições esportivas, que foram sobressaindo e tomando conta da sociedade em que vive. E, como em um círculo vicioso, foram se incorporando aos amigos, e cada vez mais pessoas foram sendo conquistados pelo mundo dos cavalos.

Competições de grande porte, como o “Freio de Ouro” ou simplesmente uma competição de Tiro de Laço, que acontece em um canto qualquer, envolvem muitos setores. O que não di-zer das inúmeras provas realizadas todos os finais de semanas, envolvendo pessoas de todas as idades?

Por trás deste mundo especial dos usuários do cavalo, pode-se encontrar aquilo que comu-mente chamamos a “indústria do cavalo”. Para ter-se uma idéia, passamos a relacionar itens que fazem parte desta “indústria”:

- Ferraduras, rações, remédios, caminhões, reboques, cocheiras móveis, construção de haras,

A eqüinocultura no Rio Grande do SulELISABETH LEMOS

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CRIADORES DE CAVALOS CRIOULOS (ABCCC)

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arreamentos, roupas, acessórios, hotéis para cavalos, centros de treinamento, bijouteria temática, livros, material publicitário, pastagens específicas, entre tantas outras.

Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento indica que cada cavalo gera quatro empregos diretos e indiretos. Se olharmos para a população eqüina exis-tente, será fácil dizer que a eqüinocultura é grande responsável por sanear o desemprego neste País. Tomando por base a população de Cavalos Crioulos registrados na ABCCC, que sabemos estar vivos – em torno de 160.000 animais –, só aí teremos 640.000 empregos.

São muitos os setores atingidos, pois o cavalo requer desde o mais humilde tratador até o mais experiente médico veterinário, passando pelo ferreiro, pelo vendedor de ração, pelo cami-nhoneiro, pelo domador, pelo ginete, pelo fabricante de reboques e carrocerias, pela artesã, pelo publicitário, pelo pedreiro, pelo aramador, e por aí afora. São tantas as profissões ligadas ao cavalo que seguramente podemos dizer que este animal, assim como no passado era imprescindível para a sociedade de então, hoje, na era da comunicação, ele faz girar a economia da sociedade moderna.

A criação de cavalos, em especial, o Crioulo, animal símbolo do Rio Grande do Sul, tem

contribuído também para divulgar o Estado na área turística. A conquista dos demais estados da Federação, mais fortemente Santa Catarina, Paraná e São Paulo – mas a curto prazo teremos Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Tocantins, Rondônia, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais –, tem trazido divisas com a intensa comercialização.

No âmbito do Mercosul, a balança comercial também reverteu. Antes éramos grandes importadores; hoje com a competência da criação e o desenvolvimento funcional do Cavalo Crioulo, passamos a exportar em maior quantidade. Temos granjeado a admiração dos cria-dores da Argentina, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. Seria muito salutar termos aprovado o Passaporte Eqüino, para facilitar o intercâmbio com os países do Cone Sul.

Com a qualidade demonstrada pelo Cavalo Crioulo nas provas específicas de outras raças, notadamente nas do Quarto de Milha, está-se abrindo um mercado para os Estados Unidos da América que, se consolidado, será praticamente para atender a demanda. As pers-pectivas para a criação do cavalo, especificamente do Cavalo Crioulo, são infinitas, abrindo grandes oportunidades de emprego. E quando há emprego, há geração de renda, e a econo-mia toda cresce.

A eqüinocultura no Rio Grande do Sul

EQÜINOCULTURA

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SANIDADE ANIMAL

A importância socioeconômica da sanidade animal, nos diversos elos da cadeia produtiva do agronegócio, constitui-se em fator determinante para:

1. obtenção de índices de produtividade desejáveis dos rebanhos e o conseqüente aumento de produção, de modo que gere renda ao meio rural;

2. obtenção de competitividade nos mercados existentes, constituídos por populações que, à medida em que aumentam o poder aquisitivo e a longevidade, tornam-se mais exigentes quanto à qualidade dos alimentos;

3. obtenção da condição higiênico-sanitária dos produtos e dos subprodutos de origem ani-mal, destinados ao consumo humano, relacionada diretamente com a sanidade dos rebanhos na unidade produtiva e com a fiscalização em nível industrial, viabilizando, assim, a certificação de origem e a segurança alimentar.

Transpondo os aspectos de natureza de produção e de comercialização para o território rio-grandense, na Metade Sul está o ““Pampa Gaúcho”, coberto por uma vegetação privilegiada,

fruto de um solo de boa qualidade, com exploração bovina e ovina, constituídas, predominante-mente, de raças européias, em regime de criação e de engorda a pasto, conforme o desejável; na Metade Norte, estão o frango, a suinocultura e a produção de leite, integrados em cadeias pro-dutivas mais bem organizadas, conquistando novos mercados e consolidando os já existentes.

Identifica-se a necessidade de manutenção de um Sistema de Vigilância Epidemioló-gica, potencializando as condições naturais do Estado, com adoção de um conjunto de procedi-mentos de natureza sistemática e permanente. Por meio dele, pode-se tomar conhecimento dos eventos relacionados à presença de enfermidades e aos respectivos meios de combatê-las, com vistas à promoção da saúde, e oferecer elementos de apoio aos programas de sanidade em nível de controle e de erradicação de enfermidades.

No Rio Grande do Sul, a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SAA), através do Depar-tamento de Produção Animal (DPA), órgão gestor, no Estado, das políticas relativas à sanidade animal, vem dedicando esforço para cumprir essa atribuição institucional. Ela constitui a base para que se obtenha produtividade dos rebanhos, tornando competitivos os seus produtos, seus

A importância da sanidade animalILDARA NUNES VARGAS

DIRETORA DO DEPARTAMENTO DE PRODUÇÃO ANIMAL DA SECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO DO RIO GRANDE DO SUL (DPA-SAA)

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SANIDADE ANIMAL

subprodutos e os derivados no âmbito dos mercados interno e externo, sem, no entanto, esque-cer dos aspectos sociais que dizem respeito à saúde pública.

A coordenação das ações técnicas pertinentes ao DPA é de responsabilidade da Divisão de Fiscalização de Defesa Sanitária Animal (DFDSA), da Coordenadoria de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (CISPOA) e da Central Rio-Grandense de Inseminação Artificial (CRIA). Em nível de campo, estão 19 supervisões regionais, 240 unidades locais – as Inspetorias Veterinárias e Zootécnicas (IVZ’s) – e 111 escritórios locais de atendimento à co-munidade.

As atribuições sob a responsabilidade dessas Coordenadorias são, simultaneamente, interde-pendentes e complementares. Por isso, as ações devem realizar-se de forma sinérgica, sem haver solução de continuidade e com a celeridade possível, na busca de congruência de todas elas, para que se obtenham níveis de excelência no cumprimento das metas, dos propósitos e da indis-pensável credibilidade do sistema. Em última análise, visa-se à promoção da saúde pública com a higidez dos produtos alimentares, ao bem-estar social, à mudança de paradigma ao desenvolver-se uma consciência sanitária nos produtores e na população em geral; e ao desenvolvimento econômico do Estado.

O sistema de defesa sanitária animal deve merecer prioridade em nível de política pública, do-tando-o de gestão modernizada ao nível dos novos desafios e da expectativa gaúcha, envolvendo ações integradas com outros órgãos da administração e com atores de interesses comuns, com envolvimento e participação da comunidade, visando à integração de agentes sociais na atenção

sanitária, na promoção da saúde animal, na segurança alimentar e na discussão permanente para gerar renda no meio rural.

No objeto das atividades sanitárias relativamente às enfermidades limitantes para o co-mércio internacional de animais e de seus produtos, que integram a Lista “A” da OIE – Or-ganização Internacional de Epizootias –, dentre elas estão as doenças vesiculares, em especial a febre aftosa, para a qual o Rio Grande do Sul foi reconhecido pela OIE como Área Livre com Vacinação, em novembro de 2002; Doença de Newcastle, para a qual desde setembro de 2003 o plantel avícola industrial do Estado foi reconhecido como livre dessa enfermidade; e Peste Suína Clássica, para a qual o Estado obteve em 1992 a condição de Área Livre.

A manutenção da condição sanitária das enfermidades citadas é imprescindível, não só pelos prejuízos já determinados à economia gaúcha como também pelo risco que suas even-tuais presenças ofereceriam às exportações de produtos de origem animal, com reflexos negativos em outras cadeias produtivas do agronegócio.

O Rio Grande do Sul detém as condições desejáveis no que diz respeito a raças bo-vinas, a sistemas de criação, a meio ambiente, a manejo alimentar e a sanidade. Por isso, não se pode admitir a perda de congruência das atividades profissionais em sanidade animal, nem desviar o foco do público-alvo, constituído pela própria comunidade e por segmentos expressivos do agronegócio, situados, em ordem de grandeza, dentre os que proporcionaram ao Rio Grande do Sul a conquista da posição de maior exportador bra-sileiro per capita.

A importância da sanidade animal

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PESQUISA

Os avanços tecnológicos verificados na agropecuária gaúcha e brasileira de-vem-se especialmente à ação das instituições de pesquisa, sejam elas públi-cas ou privadas. Os ganhos em produtividade e na qualidade dos produtos

e a redução dos custos de produção reafirmam o acerto nas técnicas gestionadas nesses centros do conhecimento. No Rio Grande do Sul, várias instituições vieram emprestando, nas últimas décadas, seus esforços para tornar a lavoura e os complexos de criação animal mais dinâmicos e mais competitivos. Os investimentos na conti-nuidade destes estudos é condição quase obrigatória para assegurar a indispensável competitividade. Os artigos a seguir analisam a conjuntura atual e as perspectivas para a evolução da pesquisa agropecuária no Rio Grande do Sul.

A pesquisa como forma de aumento da produtividadeCARMEM ILSE PINHEIRO JOBIM E SÔNIA MARIA LOBATO SCHUCH

ENGENHEIRAS AGRÔNOMAS, PESQUISADORAS DA FUNDAÇÃO ESTADUAL DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (FEPAGRO), REPRESENTANTES DA ASSOCIAÇÃO DOS SERVIDORES DA PESQUISA AGROPECUÁRIA (ASSEP)

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PESQUISA

Visão atual:O Ministério da Ciência e Tecnologia, na qualidade de formulador e gestor de Política de Ci-

ência, Tecnologia e Inovação, editou em 2002 o documento “Diretrizes Estratégicas do Fundo Se-torial de Agronegócio”, buscando nortear ações dos setores público e privado, com o propósito de aumentar a competitividade desse importante segmento da economia, através da capacitação científica e tecnológica do País. Essas diretrizes foram fundamentadas em objetivos globais, que buscam viabilizar processos tecnológicos para o desenvolvimento de um agronegócio inovador, contribuir para o desenvolvimento sustentável, reduzir os desequilíbrios regionais e as desigual-dades sociais, melhorar a qualidade de vida da população brasileira, viabilizar mecanismos que ampliem a geração, a transferência e a difusão de tecnologias e gerar novas empresas de base tecnológica.

O tema pesquisa, desenvolvimento e inovação foi avaliado preliminarmente no estudo “Cená-rios do ambiente de atuação das organizações públicas de pesquisa, ddesenvolvimento e inova-ção para o agronegócio brasileiro – 2002-2012”, publicado pela Embrapa, em 2002, e serviu de base para as considerações aqui abordadas.

A atuação das instituições de pesquisa depende da evolução das tendências do ambiente político, econômico, social e tecnológico, estabelecido a partir dos processos mundiais e na-cional em andamento. Os desafios enfrentados por países em desenvolvimento, como o Brasil, para acompanhar as fronteiras do desenvolvimento tecnológico são cada vez maiores, uma vez que as novas tecnologias caracterizam-se pela maior densidade em conhecimento e em pessoal qualificado. A introdução de ações de políticas de desenvolvimento rural impulsiona a demanda

por pesquisa na área da agricultura familiar, particularmente, sobre sistemas de produção, de transformação, de gestão, de apoio a normas de certificação, de coordenação econômica e o desenvolvimento de formas de gestão tecnológica.

Por outro lado, a pesquisa terá relevante papel no processo de diversificação alimentar, com agregação de valor em algumas cadeias específicas. Contribuirá, também, para a redução de custos, identificando novas utilizações de produtos existentes e novos produtos com potencial de absorção nos mercados externos e interno. A pressão da sociedade por tecnologias que atendam igualmente os requisitos de viabilidade econômica e de sustentabilidade ambiental, pro-movendo a justiça social e a qualidade da vida, conduz ao investimento em pesquisas nas áreas de biotecnologia e bioinformática. Da mesma forma, a demanda por tecnologias que integrem conceitos de saúde física e mental com nutrição tem aumentado na medida do avanço dos estu-dos relativos à saúde e à alimentação e do crescimento do mercado dos alimentos nutracêuticos ou funcionais.

A ampliação da pesquisa para apoio técnico-científico à qualidade e à segurança responde às exigências de conservação, manutenção da qualidade e durabilidade dos alimentos, bem como à organização da produção, da logística e do apoio institucional e técnico. Na área de manejo dos sistemas agrícolas regionais, a demanda direciona a pesquisa para o controle de pragas, de doen-ças, de plantas daninhas e de estresse ambiental com alternativas biológicas ou práticas culturais, no sentido de diminuir a dependência a insumos químicos.

A utilização com maior eficiência dos recursos naturais disponíveis, inclusive a biodiversidade, contribuirá positivamente para o manejo do sistema. Também, o surgimento do agronegócio

A pesquisa como forma de aumento da produtividade

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com características e padrões de produção com identidade ecorregional em produtos espe-cíficos ou conjuntos de produtos afins gera demandas por novas tecnologias. A produção e a comercialização globalizadas exigem o estabelecimento de novos processos de homogeneização e de padronização tecnológica nas cadeias produtivas, gerando demandas por tecnologias mecâ-nicas e mecatrônicas.

A velocidade e a complexidade da produção de novos conhecimentos, o processo de gestão da pesquisa, para ser eficiente, necessita de flexibilidade na utilização da infra-estrutura física e de recursos humanos. No entanto, o compartilhamento de informações e a gestão em tempo real dos avanços obtidos pelos pesquisadores e pelas organizações devem estar conectados em redes institucionalizadas e os interesses dos pesquisadores e das instituições disciplinadas e subordinadas em relações legais no que se refere à apropriação de resultados e à proteção intelectual.

Conforme essa avaliação preliminar, a estratégia das organizações de pesquisa pública para o agronegócio brasileiro indica um equilíbrio face às interações das forças e das fraquezas existen-tes com as oportunidades e ameaças identificadas.

Pontos fortes:- A qualificação dos pesquisadores;- A qualidade da pesquisa nacional e a credibilidade das instituições envolvidas;- A infra-estrutura disponível.

Pontos fracos:- A desarticulação e a falta de coordenação entre as organizações públicas envolvidas em

pesquisa no agronegócio brasileiro;- A fragilidade dos processos de transferência de tecnologia tradicionais face aos novos for-

matos de gestão tecnológica exigidos pelo agronegócio;- A inadequação na capacitação e no desenvolvimento e a deficiência na reposição do efetivo

de recursos humanos.

Oportunidades:- A intensificação da demanda pelo desenvolvimento sustentável do agronegócio;- A crescente demanda pelo desenvolvimento de produtos competitivos e de maior valor

agregado;- O surgimento e a expansão das demandas por tecnologias de baixo custo e de maior im-

pacto social.

Ameaças:- A insuficiência e a descontinuidade dos fluxos de recursos para financiamento das pesqui-

sas;- A cultura institucional predominante, que implica em fortes entraves burocráticos e reduzi-

da flexibilidade e autonomia para as instituições de pesquisa; - Aumento da competição oportunista com a entrada de novos atores.

Opções estratégicas:- Concentração de recursos e de esforços em poucas linhas de atuação, com forte senso de

prioridade e foco;- Ênfase na diversificação de produtos e de serviços para os clientes atuais, complementada

pela expansão dos mercados-alvo;- Prioridade ao desenvolvimento de competências multidisciplinares com ênfase nas áreas de

sustentabilidade dos sistemas, de segurança alimentar e do alimento, de tecnologias emergentes e de transferência de tecnologia;

- Maior articulação e conectividade das instituições de pesquisa do agronegócio brasileiro, com ênfase em integração, nas parcerias e no desenvolvimento de redes de pesquisa para gera-ção de inovações.

PESQUISA

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Visão atual: Pesquisas na área de sanidade, genética e reprodução animal nas áreas de suinocultura, avi-

cultura e bovinocultura de leite evoluíram consideravelmente e apresentam–se como um marco no desenvolvimento em muitos aspectos da produção animal desde a criação pela EMBRAPA, dos Centros Nacionais de Pesquisa em suínos, aves e bovinos de leite, em décadas passadas. No âmbito estadual, destacam-se as universidades federais, como a UFRGS e a UFPel, que criaram e desenvolveram setores específicos dedicados à pesquisa em suínos. A UFSM também desenvolve pesquisas nestas áreas do agronegócio, assim como em algumas universidades privadas pode-se observar o elenco de projetos de pesquisa dirigidos para estas espécies animais.

No Rio Grande do Sul contamos desde meados do século passado com a marcante presença do Instituto de Pesquisas Veterinárias “Desidério Finamor” (IPVDF), que, desde sua fundação, muito tem contribuído para a solução de graves problemas sanitários que ocorreram no Estado. Assim, é do IPVDF o mérito de desenvolver e produzir certas vacinas animais, como a vacina contra a peste suína, contra a brucelose e contra a febre aftosa, entre outras.

Pontos fortes:O momento atual da tecnificação em suinocultura no Brasil compara-se ao dos Estados Unidos e ao

dos países desenvolvidos da Europa, pois o País é o 4º produtor mundial de carne suína e o 4º em ex-portação. Muito significativa é também a expressão mundial do Brasil no segmento da avicultura indus-trial. Com relação à produção de leite e de derivados, o País apresentou nos anos 90 um crescimento de quase 40% nesse segmento, obtendo em 2000 a cifra de 20 bilhões de litros de leite produzidos.

O Rio Grande do Sul foi responsável por aproximadamente 11% deste volume, o que o coloca na condição de 3º Estado produtor, sendo ultrapassado por Minas Gerais e por Goiás. O crescimento da produção estadual reflete-se na participação brasileira no cenário mundial. As pesquisas científicas desenvolvidas nos diversos setores do agronegócio gaúcho, realizadas por profissionais mestres e doutores nas diversas áreas do conhecimento, e pelos cursos de Pós-Graduação, são traduzidas por uma rica produção científica e por resultados que possibilitam sua imediata aplicação no sentido de obter maior produtividade por unidade ou lote animal e por aumento na produção de alimentos de origem animal.

PESQUISA

Uma panorâmica da pesquisa no EstadoCELSO PIANTA

PRESIDENTE DO SINDICATO DOS MÉDICOS VETERINÁRIOS DO RIO GRANDE DO SUL (SIMVET-RS)

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Pontos fracos: Com relação à pesquisa em gado leiteiro, embora muito tenhamos avançado e novos e pre-

ciosos conhecimentos tenham sido adquiridos, alterando inclusive algumas tradicionais regras de criação e de manejo do gado leiteiro, ainda precisamos avançar com relação aos níveis de produção obtidos, por exemplo, pelos países integrantes do Mercosul. Apenas neste aspecto, a produtividade média de leite no Brasil foi a mais baixa quando comparada com Argentina, Uru-guai e Paraguai. Com relação ao queijo, o consumo médio no Brasil (3 kg/pessoa/ano) é inferior ao da Argentina (11 kg/pessoa/ano), do Chile (4 kg/pessoa/ano) ou ao consumo da Espanha (8,4 kg). Com relação à suinocultura, o apoio laboratorial deve ser intensificado, visto que há exigên-cias para a exportação.

Oportunidades: A manutenção do comércio nacional e internacional de carnes de suínos, de aves e de bovinos

e derivados do leite do Rio Grande do Sul, assim como a abertura de novos mercados mundiais para os produtos gaúchos, desponta como uma promissora perspectiva para o aumento do capi-

tal decorrente do agronegócio. Na América do Sul, o Brasil, pelas suas dimensões, e o Rio Grande do Sul em particular, por sua vocação agrícola e pecuária, podem oferecer respostas rápidas e adequadas às demandas tecnológicas e comerciais, quando forem solicitados.

Ameaças: A constante vigilância sanitária, que deve ser efetivada desde a criação dos animais até o abate,

e o devido processamento do alimento podem estar realmente enfrentando ameaças, se me-didas de ampliação dos quadros de pesquisadores e de técnicos dedicados às tarefas de defesa sanitária animal e de inspeção sanitária, assim como aqueles da área de saúde pública, continua-rem sendo negligenciadas pelas autoridades sanitárias instituídas. Esta ameaça torna-se cada vez mais importante, pois desde o momento em que atingimos um elevado patamar tecnológico e um “status” sanitário que nos permite participar em igualdade de condições com outros países produtores de alimentos e satisfazer as exigências e ultrapassar as barreiras sanitárias impostas pelos importadores, qualquer falha ou percalço detectado pode tornar-se um bloqueio impor-tante nas negociações, com desastrosas conseqüências econômicas daí decorrentes.

PESQUISA

Uma panorâmica da pesquisa no Estado

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PESQUISA

A expansão do agronegócio brasileiro nos últimos anos é devida a um conjunto de fa-tores, mas principalmente ao conhecimento científico gerado internamente no País. Este permitiu que os agricultores brasileiros pudessem dispor de uma tecnologia de

ponta e de técnicas modernas de manejo das culturas e dos rebanhos. Hoje, os agronegócios são constituídos de um conjunto complexo de atividades humanas, integradas e globaliza-das, de ampla abrangência socioeconômica e de enorme impacto ambiental, que ao mesmo tempo oferece campos permanentemente abertos à inovação tecnológica e ilimitados para a indagação científica (Dewes, 2003).

Por outro lado, grandes mudanças ocorreram nas relações do meio rural com o ambiente urbano, e as vantagens comparativas, que eram a terra, os recursos naturais e a localização geográfica, deram lugar à necessidade de recursos humanos qualificados e da capacidade de gerar e de aplicar o conhecimento no desenvolvimento de processos, de produtos e de servi-ços na solução de problemas locais. As descobertas científicas são incorporadas cada vez mais rapidamente nos produtos e nos processos, com agregação de valor e com diferenciação de mercado. Assim, é de fundamental importância que a pesquisa científica não trabalhe somente com as demandas de hoje, mas antecipe o futuro e seja a base sustentável da inovação tecno-lógica da agropecuária, porque, no mundo globalizado de hoje, quem não faz, compra.

Pontes fortes: 1. O agronegócio no Estado beneficiou-se dos investimentos para a formação de recursos

humanos altamente qualificados e para o desenvolvimento de projetos de pesquisa agrope-cuária, realizados a partir dos anos 70.

2. O Rio Grande do Sul tem uma ampla tradição na formação de recursos humanos e na pesquisa agropecuária, possuindo uma grande rede de instituições que se dedicam à pesqui-sa científica agropecuária (universidades públicas, universidades comunitárias, instituições públicas de pesquisa, como o IRGA, a FEPAGRO, a FUNDACEP, a EMBRAPA, e empresas privadas).

3. A comunidade científica tem bons contatos com a comunidade científica internacional, podendo favorecer o desenvolvimento de pesquisas cooperativas.

4. Os produtores agropecuários do Estado têm experiência na implementação de inova-ções tecnológicas com relativa rapidez.

5.Também, o Estado tem um parque agroindustrial diversificado e moderno, que incorpo-ra rapidamente os conhecimentos na gestão e nos processos, nos serviços e nos produtos.

6. A posição geográfica e o clima do Estado permitem que sejam cultivadas plantas o ano inteiro.

A pesquisa científica e o desenvolvimento do agronegócioLUIZ CARLOS FEDERIZZI

DIRETOR DO CENTRO DE PESQUISAS EM AGRONEGÓCIOS E PROFESSOR DA FACULDADE DE AGRONOMIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL (UFRGS)

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Pontos fracos: 1. Falta de uma política de Ciência e Tecnologia que permita o desenvolvimento de projetos

aglutinadores, multidisciplinares e multiinstitucionais, com financiamento de longo prazo e que possam fixar os jovens talentos formados no Estado.

2. Problemas institucionais reduziram consideravelmente o número de pesquisadores atuan-do no Estado. É o caso específico da FEPAGRO e das universidades públicas.

3. A forte divisão ideológica do Estado não tem permitido que sejam feitas pesquisas na área da biotecnologia, aplicadas à agropecuária, tanto por empresas públicas como por empresas pri-vadas. Ocorreu o cerceamento da liberdade dos pesquisadores, especialmente das instituições públicas; como conseqüência, jovens com talento tiveram que migrar e buscar trabalho fora daqui.

4. Falta de uma maior articulação das agroindústrias com os centros de pesquisa para que a ciência desenvolvida seja inovadora e permita a criação de uma tecnologia própria e não depen-dente.

5. Ainda não há no Estado um número suficiente de empresas agroindustriais com base nas novas tecnologias da informação, da biotecnologia, da microeletrônica, da nanotecnologia e dos novos materiais que moldarão a produção agroindustrial do futuro.

Oportunidades: 1. O Estado tem todas as condições para o desenvolvimento de pesquisas de ponta e que po-

dem ser rapidamente transformadas em tecnologias adequadas à nossa sociedade, com destaque para a presença de lideranças científicas com credibilidade, conhecimento e tradição na pesquisa agropecuária, aliada à infra-estrutura básica para a pesquisa já existente.

2. São necessários investimentos em projetos inovadores, que contemplem todos os segmen-tos das principais cadeias produtivas.

3. É preciso desenvolver, com urgência, uma estratégia de Ciência e Tecnologia para o Estado, com objetivos de curto, médio e longo prazos, envolvendo as principais lideranças da pesquisa científica, das agroindústrias, do Executivo e do Legislativo.

4. Desenvolver redes virtuais de excelência, interligando profissionais de diferentes locais trabalhando ao redor dos mesmos problemas.

5. Inovar na forma de financiamento e na análise de projetos, para que os mesmos tenham continuidade e possam ser plenamente executados.

6. Desenvolvimento de projetos que contemplem novas culturas e a agregação de valor nas atuais commodities, uma vez que os agricultores perderam a vantagem de escala.

Ameaças: 1. Perda de jovens talentos e envelhecimento das instituições de pesquisa, gerando pesquisas

de rotina, fazendo apenas experimentação e não ciência. 2. Atraso tecnológico e necessidade de importação de pacotes de outros estados ou países

por não poder realizar as pesquisas internamente. 3. Pouco poder político dos setores de Ciência e Tecnologia do Estado. 4.Falta de negociadores treinados para participar das rodadas da OMC, para beneficiar o

setor agropecuário do Estado, especialmente para combater as barreiras não tarifárias. 5. Perda de escala, uma vez que a grande maioria dos produtores rurais no Estado é composta

de pequenos produtores. 6. Incapacidade da captação de recursos continuados para grandes projetos.A vantagem competitiva depende da criação e da aplicação do conhecimento científico e tec-

nológico. Portanto, é necessário inovar na forma de fazer e de financiar a ciência no Rio Grande do Sul, para aumentar o estoque disponível de conhecimento científico e para que este seja apropriado por toda a sociedade e possa ser transformado em fonte de riqueza para todos.

PESQUISA

A pesquisa científica e o desenvolvimento do agronegócio

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Visão atual: A competitividade exigida no agronegócio, tanto em escala empresarial quanto na pequena

propriedade rural, tem como uma de suas bases a tecnologia a ser incorporada no âmbito do sistema de produção. A incorporação desta tecnologia envolve, essencialmente, duas grandes vertentes: a geração de soluções tecnológicas e a posterior adoção destas por parte do produ-tor rural.

A pesquisa é parte fundamental da primeira vertente, pois são necessários esforços e inves-timentos contínuos, intensos e direcionados, para gerar informações tecnológicas que sejam adaptáveis e adequadas às condições de cada país ou região. Estas tecnologias, sob a forma de cultivares, de plantas básicas, de insumos, de recomendação de práticas culturais, de organização do sistema de produção, dentre outras, são essenciais para assegurar produtividade com qualida-de e sustentabilidade ambiental, econômica e social da atividade produtiva.

Pesquisa tecnológica é uma atividade essencial à competitividade e que tem caracterizado países avançados e países que apresentaram relevante evolução de suas atividades econômicas. O atual momento, de forte reconhecimento da importância do agronegócio no equilíbrio da

balança comercial, tem reforçado o papel e a contribuição das instituições de pesquisa tecnoló-gica, públicas e privadas, em nível estadual ou federal, como fatores decisivos para que o Brasil pudesse atingir o patamar em que se encontra.

Entretanto, é necessário manter estas instituições, como é o caso da Embrapa, e ampliar os investimentos, públicos e privados, por meio de parcerias, como forma de prosseguir avançando no rumo de um agronegócio competitivo e sustentável, num contexto de blocos econômicos fortalecidos, de protecionismo de todas as formas e de barreiras à aceitação dos produtos brasi-leiros no mercado internacional. É importante, também, considerar que a pesquisa, isoladamente, poderá ter seu impacto limitado junto ao produtor caso não haja uma estrutura consolidada e eficiente de transferência e de extensão, assegurando o acesso irrestrito das tecnologias a todo o público-alvo no setor agropecuário, além de políticas públicas de crédito que permitam ao produtor habilitar-se a aderir às tecnologias geradas.

Pontos fortes:- Significativo número de instituições com ampla competência na pesquisa adaptada às con-

PESQUISA

Para continuar competitivoALEXANDRE HOFFMANN

CHEFE-GERAL DA EMBRAPA UVA E VINHO

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dições brasileiras;- Ampla capacidade criativa dos pesquisadores brasileiros;- Reconhecimento da contribuição das Instituições de Pesquisa Tecnológica para a competiti-

vidade do agronegócio por parte dos produtores rurais;- Iniciativas crescentes de parcerias entre produtores e Instituições de Pesquisa Tecnológica.

Pontos fracos:- Carência e descontinuidade no fluxo financeiro para que a pesquisa ocorra de forma con-

tínua e progressiva;- Limitação de fatores intervenientes à competividade que podem reduzir o impacto da tecno-

logia, como logística, crédito, acordos bilaterais, subsídios e barreiras tarifárias e não tarifárias; - Falta de políticas públicas consistentes e de longo prazo que assegurem recursos públicos

para projetos estruturantes e de base para a competitividade;- Estrutura insuficiente para transferência de tecnologia, acarretando forte cobrança em ações

de extensão junto às Instituições de Pesquisa Tecnológica;- Persistência de consciência de que os recursos para pesquisa somente devem ser originados

a partir de fontes públicas.

Oportunidades:- Estabelecimento de parcerias com produtores e com suas organizações para assegurar

recursos e direcionamento estratégico das Instituições de Pesquisa Tecnológica para execução de ações de pesquisa;

- Diversidade da matriz produtiva, gerando necessidades muito amplas de ações de pesquisa;- Estrutura de ensino tecnológico e científico bastante capilarizada e com alto nível de espe-

cialização;- Consciência de parte de representantes da classe política e das entidades organizadas do

setor produtivo sobre a importância da pesquisa tecnológica;- Orientação e implementação dos fundos setoriais para fomento à pesquisa na área tecno-

lógica.

Ameaças:- Falta de continuidade na reposição de pesquisadores em Instituições de Pesquisa Tecnoló-

gica;- Obsolescência da infra-estrutura física de Instituições de Pesquisa;- Ampliação do elenco de empresas com áreas ou setores de pesquisa;- Aumento das restrições da apropriação de tecnologia em função da proteção intelectual da

produção científica e tecnológica;- Perda de competências (“fuga de cérebros”) em Instituções Públicas de Pesquisa Tecnoló-

gica;- Falta de políticas contínuas de apoio à pesquisa.

PESQUISA

Para continuar competitivo

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POLÍTICAS DE CLASSE

A aproximação das lideranças dentro de cada cadeia produtiva e no cená-rio do agronegócio como um todo é uma das principais alternativas para alcançar objetivos comuns. As políticas de classe, formuladas de maneira

a serem apresentadas aos órgãos públicos e à sociedade em geral, contribuem para a busca de soluções nos problemas que atrapalham o desempenho da agri-cultura e da pecuária do Rio Grande do Sul e do Brasil. Da defesa dos interesses dos setores produtivo e industrial – e, igualmente, do atendimento aos propó-sitos dos consumidores nacionais e internacionais – nascem as alternativas que poderão consolidar definitivamente os bons negócios para o País. Os dois artigos a seguir analisam a maneira como vêm sendo conduzidas as políticas de classe no agronegócio gaúcho.

Em defesa do agronegócioCELSO PIANTA

PRESIDENTE DO SINDICATO DOS MÉDICOS VETERINÁRIOS DO RIO GRANDE DO SUL (SIMVET-RS)

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Visão atual:O agronegócio no Rio Grande do Sul, desde o período da colonização do Estado até os dias

atuais, foi e continua sendo uma das mais importantes fontes de renda para o produtor rural, para a sociedade gaúcha e, por conseqüência, para o Erário Público. Esta atividade tem seu início nas criações extensivas de gado bovino para a produção de carne e na criação de raças de ovinos produtores de lã. A introdução e o desenvolvimento de raças de bovinos leiteiros, de criações de suínos não mais para a produção de banha e sim de carne, bem como a introdução da avicultura industrial, alavancaram o conceito e a importância do agronegócio gaúcho a patamares bastante elevados, através do emprego de técnicas de criação, envolvendo a seleção zootécnica e o me-lhoramento genético, a sanidade acompanhada da nutrição animal, a tecnologia e os métodos utilizados no abate, o desenvolvimento da industria de alimentos e a exportação destes produtos alimentícios.

Acompanhando inseparavelmente o agronegócio, encontra-se lado a lado a agroindústria como parte integrante da cadeia produtiva de cada um dos alimentos derivados da criação ani-mal, como a carne bovina, a suína, a aviar (com destaque para o frango), os ovos, o leite e seus derivados, sem esquecer do mel e do pescado.

Os médicos veterinários atuantes em cada uma das etapas das diferentes cadeias anterior-mente citadas tornam-se responsáveis não apenas pela sanidade dos rebanhos a eles confia-dos como também responsabilizam-se pela higiene do alimento, através da fiscalização sanitária exercida no abatedouro/frigorífico, como também são responsáveis pelo armazenamento, pelo transporte e pela manutenção destes alimentos.

Ponto forte:Parece-nos que a vigilância sanitária exercida em todas as etapas das cadeias produtivas (“an-

tes, dentro e depois da porteira”) está sendo muito bem-executada pela atividade profissional do médico-veterinário oficial ou privado, fundamentada em sólidos conhecimentos técnico-cien-tíficos aliados ao caráter investigativo inerente à profissão.

Pontos fracos:Considerando-se que a suinocultura, a avicultura e a bovinocultura de leite representam

as grandes molas-mestras do agronegócio gaúcho, mister se faz observar que a atuação mais decisiva e constante da vigilância sanitária executada pelos médicos-veterinários só não ocorre com mais intensidade pela falta de postos de trabalho específico e também pela modesta remu-neração oferecida.

Oportunidades:Deve ser focada com mais entusiasmo pelas autoridades competentes e responsáveis pela

manutenção e pelo desenvolvimento deste setor da economia estadual a possibilidade de opor-tunizar não apenas a contratação e o treinamento adequado de maior número de profissionais para atuar nas diversas áreas da atividade profissional – como defesa sanitária e inspeção, por exemplo –, assim como rever a faixa salarial onde estes profissionais estão enquadrados.

Ameaças:Mesmo sem a intenção de ser fatalista, a permanência e a estagnação do presente cenário

permitem vislumbrar a sombria perspectiva da redução dos profissionais envolvidos em impor-tantes e decisivas faces do agronegócio, com a conseqüente ameaça de riscos à saúde pública, como decorrência do consumo de alimentos não inspecionados. Além disso, fica a certeza da ocorrência de grandes prejuízos econômicos para a receita estadual em função não apenas do abate clandestino mas também – e talvez de tão grande importância – da comercialização de produtos clandestinos.

Esta é a análise que hoje pode ser feita pelo Sindicato dos Médicos Veterinários do Rio Gran-de do Sul, que pretende sempre permanecer ao lado dos profissionais que atuam nestas áreas, não apenas na defesa de seus direitos trabalhistas, mas também procurando posicionar-se junto aos governantes no sentido de contribuir para o melhoramento do nível de sanidade e de higie-ne dos produtos alimentícios de origem animal.

POLÍTICAS DE CLASSE

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Visão atual:No ano passado, quando o agronegócio no Brasil foi responsável por 33,5% do total do Pro-

duto Interno Bruto, no Rio Grande do Sul o percentual beirou os 30%, segundo informações da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e da Fundação de Economia e Estatística (FEE) – e há quem afirme que estes são dados tímidos. No ranking nacional dos produtos agrícolas, o Estado acumula o 1º lugar em produção de arroz, de centeio, de cevada, de fumo e de uva. É o 2º lugar em produção de suínos, de alho, de aveia e de trigo. É o 3º lugar em aves e cebola e 4º lugar em soja em grão.

O Estado é o principal produtor de máquinas e de implementos agrícolas, incluindo tratores, no que é responsável pela metade da produção nacional. Os gaúchos também alcançam a tercei-ra posição na produção do leite. Os principais produtos de exportação do Rio Grande do Sul, em junho, vêm do agronegócio: frango, tratores, farelo de soja e celulose.

Cerca de 87% dos associados da ABAG-RS (agosto/04) acreditam que o setor do agronegócio está melhor do que há cinco anos. A expectativa em relação ao setor em 2004 e em 2005 é boa para 100% dos associados entrevistados.

Pontos fortes:A qualidade do trabalhador gaúcho, a intimidade com o associativismo, a composição indus-

trial formada por pequenas, médias e grandes empresas; a tradição da agropecuária, os pólos in-

dustriais de máquinas e de implementos, a qualificação do serviços, as universidades e os centros de pesquisa de referência são pontos fortes.

Pontos fracos:As más condições do transporte e do armazenamento, a alta carga tributária e a legislação, os

problemas com crédito e com financiamento são pontos fracos.

Oportunidades:O Rio Grande do Sul disputa com o Paraná (apenas atrás de São Paulo) o segundo lugar no

ranking dos exportadores brasileiros. E a exportação é, exatamente, a responsável por isso. A política econômica voltada para o mercado externo e o aquecimento da economia, ampliando o mercado interno, são oportunidades. A abertura de novos mercados mundiais também. Mas necessitamos de maior participação das lideranças e dos produtores nas discussões das novas regras da OMC e na formação da ALCA. É promissor termos um Ministério da Agricultura, Pe-cuária e Abastecimento comandado por um empresário do setor do agronegócio.

Ameaças:A concorrência internacional desleal e a morosidade dos nossos passos no mercado interna-

cional são as principais ameaças.

POLÍTICAS DE CLASSE

O agronegócio gaúcho de frente para o BrasilANTONIO WÜNSCH

PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO AGRONEGÓCIO (ABAG-RS)

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PROFISSIONALIZAÇÃO

O conhecimento constitui a melhor das ferramentas para a plena realização pessoal e profissional. No agronegócio não é diferente. Produtores, indus-triais e agentes do mercado capacitados e atualizados potencializam o re-

sultado de qualquer safra. A competência e o empreendedorismo podem ser medidos pelo entendimento que cada um dos protagonistas do negócio agrícola possuem da sua cadeia produtiva. É preciso entender, conhecer e, principalmente, aprender com o outro, com os que fazem certo, que fazem melhor, estejam eles do lado de dentro ou do lado de fora da porteira da propriedade ou das portas da empresa. Nos seis artigos a seguir, profissionais, especialistas e lideranças do agronegócio discutem as condições atuais e as necessidades de profissionalização dos “homens do campo” no Rio Grande do Sul.

A importância da educação do homem ruralGILMAR TIETHBOHL RODRIGUES

SUPERINTENDENTE DO SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL (SENAR-RS)

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PROFISSIONALIZAÇÃO

Visão atual:As constantes transformações econômicas e sociais geram mudanças significativas no mundo

do trabalho.Os desafios estão relacionados aos avanços tecnológicos, resultando em novas expectativas

das empresas, que agora enfrentam mercados globalizados, extremamente competitivos. O agro-negócio está cada vez mais movimentando as relações entre os países.

A educação não poderia ficar alheia a essas transformações. Uma grande inquietação domina os meios educacionais de todo o mundo, provocando reformas que preparem o homem para competir produtiva e eficientemente no mundo do trabalho. No modelo adotado pela legislação brasileira, a educação profissional foi concebida como complementar à formação geral. Isto sig-nifica reconhecer que, para enfrentar os desafios, o profissional precisa cumprir duas exigências fundamentais: ter uma sólida formação geral e uma competente educação profissional.

Essa formação profissional não se esgota com a simples conclusão de um determinado curso, pois a evolução das tecnologias sugere e exige uma educação continuada, permanente, como for-ma de atualizar, especializar e aperfeiçoar jovens e adultos em seus conhecimentos tecnológicos.

Para despertar o interesse do público pela educação profissional, é necessário utilizar técnicas atualizadas, de forma atraente e criativa. Estas devem estar em equilíbrio com os demais elemen-tos do processo de ensino-aprendizagem: educador e educando (que são os pilares do processo); os objetivos; o meio geográfico, político, social, econômico e cultural; e a metodologia do ensino.

As Ações de Formação Profissional Rural e Atividades de Promoção Social desenvolvidas pelo SENAR-RS têm sua estrutura intimamente associada ao mercado de trabalho, nas inovações tec-nológicas e na diversificação das atividades produtivas.

O SENAR-RS também contempla nos conteúdos de todos os seus cursos, sob a forma de temas transversais:

- informações tecnológicas relativas às ocupações trabalhadas; aspectos referentes ao desen-volvimento de conhecimentos, de habilidades e de atitudes dos participantes;

- informações relativas à segurança e à saúde do trabalhador;- informações sobre preservação do meio ambiente; questões sobre cidadania; e- aspectos de gestão, de qualidade e de produtividade.

A importância da educação do homem rural

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Pontos fortes:- Diversidade dos cursos oferecidos pelo SENAR-RS;- Flexibilidade na adaptação dos conteúdos e na criação de novos, acompanhando o desenvol-

vimento tecnológico das ocupações;- Conteúdos programáticos elaborados para as necessidades identificadas no mercado gaúcho;- Recursos didáticos apropriados para cada evento;- Metodologia da Formação Profissional Rural especialmente desenvolvida para a preparação

didático-pedagógica dos instrutores;- Elenco de prestadores de serviços (instrutores) com capacidade técnica reconhecida;- Participação de parceiros para planejar e desenvolver os eventos;- Sucesso de empreendedores após a participação dos cursos desenvolvidos pelo SENAR-RS;- Profissionalização dos segmentos produtivos;- Busca acentuada de tecnologia de produção;- Gratuidade dos eventos; - Eventos programados de acordo com o calendário agrícola e disponibilidade de produtores

e de trabalhadores (flexibilidade); - Etapas dos trabalhos administrativos e técnicos totalmente informatizados;- Informações institucionais disponíveis no site www.senarrs.com.br.

Oportunidades:- Crescente interesse pelos cursos do SENAR-RS;- Alfabetização de adultos;- Aprendizagem de menores entre 14 e 18 anos, nos termos da legislação vigente;- Segmentos produtivos solicitando novos eventos;- Bom desempenho do agronegócio;- Acelerar a comunicação entre SENAR-RS, parceiros e público através de sistemas informatizados.

Pontos fracos:- Baixo nível de escolaridade;- Dificuldade de mobilização (organização das turmas de alunos);- Acompanhamento dos alunos após a conclusão dos cursos;- Dificuldade do produtor e do trabalhador rural para ausentar-se do trabalho.

Ameaças:- Interferência governamental, via Parlamento, no sistema “S”;- A questão do “falso saber”, observado principalmente junto a produtores e a trabalhadores

rurais ligados a atividades agropecuárias tradicionais.

PROFISSIONALIZAÇÃO

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A profissionalização do setor ruralPEDRO WESTPHALENDEPUTADO ESTADUAL

A atividade agrícola vem sofrendo constantes avanços e experimentando fases distintas de crescimento. Pode-se mencionar a fase de mecanização (responsável por forte excedente de mão-de-obra no campo) e a fase da engenharia, entre outras. Essas mudanças são reflexos das exigências do mercado consumidor, que preza cada vez mais a busca por melhores produtos, com os melhores preços.

A atual competitividade do setor agroindustrial exige que os produtores rurais trabalhem de forma a reduzir seus custos, sem deixar os quesitos produtividade e qualidade de lado. Por isto, o produtor tem, hoje, obrigação de ser gerente do processo produtivo, preservador do meio ambiente e agente catalisador da grande reação social, política e econômica que coman-da a produção e o consumo de alimentos no mundo.

Para que a agricultura possa enfrentar os desafios impostos pela conjuntura atual, o produ-tor rural tem que assumir total controle sobre sua área, a fim de que o setor permaneça cada vez mais forte no contexto da economia e, sobretudo, do social, além de ter a sensibilidade de entender o papel político da agropecuária como instrumento de renda e da desconcentração de pólos de desenvolvimento.

Os produtores, para ascenderem ao profissionalismo, deve aprimorar-se na capacitação e

nas facilidades de acesso à tecnologia, agregando valor ao produto; além disso, devem inserir-se na realidade global e estar suficientemente politizados para garantir o retorno econômico de sua atividade e sustentar a função social da agricultura, tanto na distribuição como na segu-rança alimentar.

Visualizando o passado, buscando atender os anseios do presente e do futuro, o avanço na profissionalização do setor rural representa a ampliação do aperfeiçoamento tecnológico; da preparação de quadros através da capacitação; da difusão de padrões de qualidade; da segu-rança e da produtividade; da modernização e da homogeneização de técnicas de gestão e de redução dos desequilíbrios de escala entre os agentes produtores.

Atualmente, a consciência do trabalhador está crescendo, na busca pela união para ven-cer obstáculos, como é o caso específico da soja transgênica (dificuldades para aprovação e demais burocracias que trazem entrave ao setor). Os produtores sempre souberam o que é bom para eles, buscando informações sobre a área e delas absorvendo diferenciais para o produto e para as áreas rentáveis. Juntamente com estas características, a profissionalização do setor rural age como um grande diferencial para o aprimoramento e para a elevação do segmento todo.

PROFISSIONALIZAÇÃO

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PROFISSIONALIZAÇÃO

Uma das mais significativas modificações para o setor agrícola, nas últimas décadas, é a sua trans-formação de atividade intuitiva, bucólica, exercida dentro dos parâmetros do uso tradicional, em uma atividade que exige profissionalização atualizada.

Se até há uns 30 anos ainda havia riqueza no campo, mesmo naquelas propriedades geridas de for-ma habitual, as modificações das políticas públicas nacionais trouxeram, a partir da década de 80, uma derrocada para o setor primário, tendo como conseqüência, além do empobrecimento, as tensões decorrentes de ações na esfera judicial.

No cenário internacional, a partir da metade do século XX, a chamada Revolução Verde, além de sistematizar a genética das sementes, instituiu o uso maciço de insumos químicos, trazendo grande crescimento na produção de alimentos. Para obtermos os volumes atuais de produção, com a produ-tividade dos anos 50, seria necessário dobrar a atual área agricultada do planeta!

Com a extensa industrialização no pós-guerra e o uso intensivo de substâncias químicas, começa-ram, porém, a ser constatados impactos ambientais severos no solo, na água e no ar, que traziam dano não apenas às plantas e aos animais mas também estavam acarretando prejuízo à saúde humana.

Como decorrência, surgiram alguns novos conceitos: poluição, desenvolvimento sustentável, produ-ção mais limpa. Atualmente, são slogans nos discursos das entidades internacionais.

O conceito de desenvolvimento sustentável está baseado em três pilares: desenvolvimento eco-nômico, desenvolvimento social e proteção ambiental. Desenvolvimento econômico é o trabalho que

gera riqueza. Sem ele, não há renda que possa ser distribuída. Sem desenvolvimento econômico não há desenvolvimento social, base para um acesso amplo e justo às vantagens e aos confortos da “vida moderna”. Desenvolvimento econômico e social só se sustentam se forem desenhados sobre os pa-radigmas da proteção ambiental.

A produção mais limpa é uma filosofia de trabalho, na qual um processo é analisado criticamente, buscando-se a redução de todo e qualquer impacto ambiental, através da minimização ou da eliminação de resíduos, o que significa menor poluição, menor impacto ambiental e também maior lucrativi-dade.

Outras modificações significativas têm ocorrido no cenário internacional, com profundo impac-to sobre o setor primário brasileiro. O GATT – Acordo Geral de Comércio e Tarifas – transfor-mou-se em OMC – Organização Mundial do Comércio, com fortificação do seu papel normativo. Os subsídios à agricultura na Comunidade Européia e nos Estados Unidos são colocados na mesa de discussão. O Brasil, recentemente, obteve duas vitórias significativas para o algodão e para o açúcar, alicerçadas, fundamentalmente, na organização destes setores.

Todos estes conceitos e fatos – desenvolvimento sustentável, poluição, OMC etc – lentamente começam a gerar novos instrumentos organizacionais.

Um destes instrumentos são as barreiras não alfandegárias: na exportação, qualquer produto está sujeito a limites precisos para a presença de determinadas substâncias químicas. Há algum tem-

A informação como insumo fundamentalGERDA CALEFFI

DIRETORA DO INSTITUTO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL E DIREITO AMBIENTAL (IBPS E DA)

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po, o Japão devolveu ao Brasil uma remessa de peitos de frangos, por conterem mais glifosato, uma substância química organofosforada, do que o estabelecido pela legislação. Esta substância entrou na carne dos frangos por estar contida na serragem usada como cama de aviário. Esta serragem era proveniente de uma serraria que processava madeira cujas árvores haviam sido desfolhadas pelo glifosato. Ao ser trocada, esta cama foi usada como adubo em lavoura de fumo, vindo a alterar as características organolépticas das folhas de fumo.

Não analisaremos os efeitos dos organofosforados no organismo humano, nem as doses tolerá-veis estabelecidas pela legislação. Queremos alertar para a crescente vigilância internacional sobre a existência de resíduos de substâncias químicas em alimentos. No caso dos agroquímicos orga-noclorados, sua degradação libera substâncias voláteis, que se propagam a grandes distâncias e se biomagnificam na cadeia alimentar, através do depósito no tecido adiposo. Uma vez no organismo, podem provocar graves alterações metabólicas e hormonais. Estas substâncias são genericamente chamadas POP’s – poluentes orgânicos persistentes – e são motivo de preocupação mundial.

Outro novo instrumento surgido nos últimos anos é a análise do ciclo de vida dos produtos. Os mercados começam a perguntar sobre a origem das matérias-primas usadas: provêm de desmata-mento de floresta protegida? Foi utilizada mão-de-obra infantil? Além disso, a análise dos produtos é feita através de exames laboratoriais cada vez mais eficientes e sensíveis na detecção de resíduos. A produção primária e seu processamento agroindustrial têm necessariamente de adaptar-se a es-tas exigências internacionais, para inserção e permanência no mercado. Programas de fito e zôo-sa-nidade, rastreabilidade pecuária e respeito ao zoneamento agrícola são algumas destas exigências.

Também no sistema financeiro encontramos modificações significativas. Ele incorporou em seus

pré-requisitos que os projetos a serem financiados apresentem Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental, para que sejam aprovados, pois passou a ser co-responsável pelos acidentes ambientais causados por empreendimentos por ele financiados. Os prêmios de seguro crescem para aquelas atividades que apresentem risco ambiental. É a preocupação com o ambiente modificando os critérios de acesso ao financiamento.

A água, que todos considerávamos o mais inato e óbvio dos elementos naturais, agora é insumo, bem comum, ao qual é atribuído um valor econômico.

Os órgãos ambientais estão exigindo licenciamento ambiental para todos os estabelecimentos agrícolas, com datas limites para a concessão ou para a renovação da licença de plantio. O IRGA, por solicitação de seu Conselho Deliberativo, criou recentemente a Comissão de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, formada por produtores e técnicos da Autarquia. A meta é a elaboração de amplo sistema de gestão sustentável da lavoura de arroz, para diminuir seu impacto ambiental.

A globalização torna a escala de produção uma necessidade, para que o produtor possa con-trapor-se a mercados compradores oligopolizados. Neste sentido, a produção organiza-se em co-operativas, em centrais de venda de produtos (e de compra de insumos), ou mesmo em blocos regionais de países. O produtor, no entanto, tende a se sentir espoliado da posse de seu produto.

Esta nova conjuntura necessita de muita informação para ser apreendida. Para que nossa condu-ta se modifique – seja no plano pessoal ou no profissional –, é necessário que estejamos convenci-dos da necessidade da adoção de novos paradigmas.

Este convencimento, e através dele a aquisição de novas capacidades gerenciais para enfrentar os novos desafios, só pode ser obtido por meio de informação, de muita informação.

A informação como insumo fundamental

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PROFISSIONALIZAÇÃO

A educação profissional constitui-se em modalidade de ensino articulada com a educação bá-sica e com a educação superior, no contexto da LDBEN nº 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Pressupõe a concepção de educação continuada dos sujeitos sob forma de uma nova cultura de desenvolvimento pessoal e profissional, a partir das competências, do traba-lho, da reflexão, da pesquisa, da ciência e da tecnologia.

A oferta da educação profissional foi apontada com acentuada ênfase nos planos estratégicos de desenvolvimento dos municípios do Noroeste colonial, especialmente na região celeiro, de abrangência da Fundação Vale do Rio Turvo para o Desenvolvimento Sustentável (FUNDATUR-VO/DS). Esta expectativa visa um novo impulso no processo de profissionalização, de qualificação continuada de jovens e de adultos e de sua inserção no mundo do trabalho, gerando emprego e renda, contribuindo para o crescimento local e regional, além de produzir alternativas frente às situações complexas e aos desafios postos pelo mundo contemporâneo.

Em se tratando da região essencialmente agrícola, o desafio está na consolidação de novos paradigmas, pautados na diversificação da produção, na transformação da matéria-prima gerada na região através da agroindustrialização, na superação da insuficiente demanda de mão-de-obra, na qualificação profissional e na estagnação e na reversão do êxodo rural.

Importa considerar a agropecuária como vocação local e regional, e, nesse contexto, a agroin-dustrialização constitui-se alternativa viável, seja pelo investimento de grande porte, pela mul-tiplicação de iniciativas locais, bem como pelo beneficiamento de produtos de origem animal e vegetal. Em decorrência desse processo, urge a necessidade de qualificação técnico-profissional de recursos humanos, o maior desafio para a sua efetivação, pois todo esforço que vise introduzir modificações na matriz produtiva supõe, necessariamente, forte investimento em educação, na

agregação de valores através da inovação e da busca de alternativas com criatividade.O processo de educação constitui-se em vetor de desenvolvimento sustentável, em re-signi-

ficação de conhecimentos e em interlocução de saberes, em alargamento do horizonte cultural, relacional e expressivo; em aprimoramento de competências e valores humanos, além de postura coerente com o ambiente e com o desenvolvimento de novas técnicas de produção e de mane-jo.

Entre os objetivos da FUNDATURVO/DS, cabe destacar o desenvolvimento da consciência lo-cal e regional; a promoção da educação em todos os níveis, graus e formas; a realização de estudos e de pesquisas nos domínios da ciência e da tecnologia; a promoção da formação e da qualificação profissional; a prestação de serviços educacionais e tecnológicos à comunidade local e regional; a manutenção de estabelecimentos de ensino e de educação profissional. Estes objetivos tendem a ser desenvolvidos através da instituição do Centro de Educação Profissional Vale do Rio Turvo (CEPROVALE), uma de suas mantidas. Esta apresenta como missão a oferta da educação profis-sional de excelência, visando a profissionalização e a qualificação continuada de jovens e adultos para atuarem no mundo do trabalho como empreendedores ou com vínculo empregatício, bem como potencializando o desenvolvimento sustentável de toda a região Noroeste do Rio Grande do Sul.

O Centro de Educação Profissional terá cinco cursos técnicos em nível pós-médio e 22 cursos de qualificação, todos focalizados nas áreas prioritárias de vocação regional, que são a agropecu-ária e a gestão. Terá capacidade para receber cerca de 400 alunos nos cursos técnicos, a saber: Técnico em Produção Pecuária; Produção Agroindustrial; Agrícola em Produção Orgânica; Gestão Pública de Cidades; em Administração; e ainda 600 alunos nos cursos de qualificação por ano, o

Alternativa para o desenvolvimento ruralMARILEI ANDRIGHETTO

VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA DA FUNDAÇÃO VALE DO RIO TURVO PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (FUNDATURVO/DS)

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que oportunizará a formação de uma nova geração de profissionais capazes de participar do sis-tema produtivo regional em condições de fazer a diferença para melhor.

Como potencialidades da oferta da educação profissional numa região que tem sua base eco-nômica na agricultura, importa destacar a geração de emprego e de renda nos novos cenários mercadológicos; a articulação da inserção dos alunos no mercado de trabalho, com intervenção qualificada no campo profissional; a contribuição para com o desenvolvimento local e regional; o empreendimento de iniciativas perante as situações complexas e aos desafios cotidianos; o estímulo à mudança e à inovação nas atividades econômicas de vocação regional; novas opor-tunidades para melhoria da qualidade de vida da população para atrair e formar profissionais qualificados e inseri-los no mundo do trabalho; a prática de planejamento estratégico e da ava-liação como ações norteadoras e potencializadoras de resultados; e, igualmente, a firmatura de parcerias.

Entre as oportunidades projetadas para o Centro de Educação Profissional apontamos a política de preservação ambiental, a atuação das organizações sociais envolvidas com as ques-tões ambientais, com o solo e com o clima da região favoráveis ao desenvolvimento de diversas culturas; forte ramificação hidrográfica e desenvolvimento de ações ambientais integradas entre entidades governamentais e não-governamentais.

Destacamos, ainda, a implantação de programas de apoio e de qualificação dos trabalhadores pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, o PROEP – Programa de Expansão da Educação Profissional/Ministério da Educação –; estímulo à profissionalização e à qualificação do jovem e do adulto, firmatura de parcerias e de convênios com entidades e órgãos, regime de colaboração entre os entes federados, execução de políticas públicas, prestação de serviços, realização de eventos técnicos e de negócios; participação em projetos, em financiamentos e na captação de recursos financeiros.

Além disso, cabe ressaltar a demanda crescente por capacitação da área do setor agrícola e de serviços; a crescente conscientização dos municípios sobre a capacitação para o trabalho; os programas de formação continuada para os profissionais do Centro; a participação em conselhos e setoriais da área agrícola e de gestão na região e no Estado; rede de cooperação e de trabalho em parceria.

Já as ameaças existentes do contexto externo, as quais podem ser preventivamente trabalha-das ou amenizadas, integram a fragmentação de ações e de políticas públicas frente às questões ambientais; a precária consciência e ações de cidadania ambiental; possibilidades de estiagem; escassez de recursos públicos; a desarticulação entre as políticas públicas setoriais da educação profissional e o desenvolvimento econômico; burocracia para obtenção de verbas públicas; a alternância de governo; a resistência à cultura do empreendedorismo; o custo operacional dos portos brasileiros; dificuldades econômicas do setor produtivo; instabilidade política e econômi-ca mundial; efeitos da política cambial na comercialização de produtos brasileiros; e migração da população local e regional em busca de profissionalização e conseqüente trabalho.

A educação profissional voltada para o setor rural, integrada às variadas formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, contribuirá com a promoção da capacidade de raciocínio, com a autonomia intelectual, com a criatividade, com a iniciativa própria e com o espírito em-preendedor, com a capacidade de visualização, com pensamento estratégico e na resolução de problemas dos sujeitos, aos quais colocam-se os desafios do conhecimento contínuo, da compe-tência de gerenciamento e de reconhecimento da dinâmica do mercado e do mundo do trabalho, do exercício das atividades produtivas e das sucessivas melhorias de desempenho profissional.

Dessa forma, a educação contribuirá significativamente para o crescimento regional, potencia-lizando a vocação agropecuária e a prestação de serviços tecnológicos à comunidade, com vistas ao desenvolvimento sustentável e aos relevantes resultados conquistados.

Alternativa para o desenvolvimento ruralPROFISSIONALIZAÇÃO

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PROFISSIONALIZAÇÃO

O aumento desenfreado da produção na segunda metade do século XX levou ao comprome-timento dos recursos naturais. O conceito de desenvolvimento sustentável é o caminho para que a produção seja mantida dentro de um equilíbrio entre a necessidade de insumos (água, energia, matérias-primas) e seu potencial de renovação, bem como a capacidade do meio ambiente de absorver os resíduos gerados.

Uma empresa e seu produto, para serem válidos dentro dos conceitos atuais, devem ser eco-nomicamente rentáveis, ambientalmente compatíveis e socialmente justos. Somente assim perma-necerão no mercado. Qualidade e produtividade continuam como condições necessárias, porém não mais suficientes. O produto precisa ser também competitivo. Competitividade vem com a redução do custo de produção, que se obtém racionalizando o processo produtivo, eliminando desperdícios e modificando o produto de acordo com a expectativa do mercado.

Vantagem comparativa é a identificação, em um país ou em uma região, de quais os produtos que ali podem ser feitos da melhor maneira e mais baratos. Modernamente, é a meta de todas as economias. Esta identificação é feita através de complexos métodos de análise econômica. Identificar um produto com esta vantagem passa pela avaliação de potencial tecnológico, da infra-estrutura industrial e de transportes, da vocação da população produtiva, bem como de minuciosa avaliação dos concorrentes. Sondagens mercadológicas prospectivas são importantes nesta análi-se, assim como estudos de marketing, que mostrem as expectativas futuras do mercado, ainda no plano inconsciente dos consumidores.

Nos países desenvolvidos, cada setor aperfeiçoa dinamicamente suas políticas de gestão es-tratégica da tecnologia de produção, procurando manter horizonte de no mínimo uma geração.

Instrumento fundamental para esta gestão é a pesquisa aplicada, que consiste no direcionamento da pesquisa e do desenvolvimento, para a geração de tecnologias que atendam às demandas dos setores produtivos. A modernidade entende que a pesquisa cada vez mais deve ser atividade-meio na trajetória em direção à melhor qualidade de vida e ao bem-estar da humanidade. Um país que decide organizar-se dentro de parâmetros globais éticos necessita estabelecer centros de inteli-gência democráticos, que elaborem estas políticas de desenvolvimento de forma legítima e justa.

É preciso entender que não se consegue desenvolver real vantagem comparativa se a cadeia de produção não estiver adequadamente organizada, de forma que todos os elos se beneficiem sólida e solidariamente com a riqueza advinda da vantagem competitiva adquirida pelo produto.

Para cumprir este desiderato, é necessário investir no sistema estrutural tecnológico. A depen-dência científico-tecnológica é sinônimo de subdesenvolvimento. O conhecimento científico é o caminho para a efetiva independência tecnológica e econômica. Somente assim pode-se incluir um povo como cidadão, com capacidade para julgar, olhando suas raízes e seus valores culturais próprios.

A agricultura e o agronegócio vivem, nos dias atuais, situação de importância transcendental. Além de fornecerem alimentos, têm também que produzir combustíveis e matérias-primas substi-tutivas para a indústria. O volume de capital movimentado pelo setor já ultrapassou aquele movi-mentado pelo petróleo, tendo colocado o agronegócio como o “maior negócio do mundo”.

O crescimento demográfico e a melhoria no poder aquisitivo em alguns países em desenvolvi-mento fazem aumentar a cada ano a demanda por alimentos.

A substituição dos combustíveis fósseis por outros, orgânicos, renováveis e mais compatíveis

Gestão e qualidade para aumentar a rendaCARLOS ADILIO MAIA DO NASCIMENTO

PRESIDENTE DO INSTITUTO BRASILEIRO DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL E DIREITO AMBIENTAL (IBPS E DA)

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com o ecossistema, tem sido tônica universal. Os países generalizam legislações que recomendam a mistura progressiva de álcool e de óleos vegetais na gasolina e no diesel. A geração de energia pela queima de biomassa cresce rapidamente. A cada dia, aumenta a responsabilidade da agricultu-ra de produzir esses insumos energéticos.

As fibras vegetais voltam a ocupar espaço, substituindo aquelas de origem petroquímica. É a sensata adoção do biodegradável em lugar do impactante ambiental. Na mesma linha, sistemas biológicos de bactérias produzem resinas a partir de meios de cultura como açúcar e resíduos agrícolas. Essas resinas substituem alguns polímeros de outras origens não-renováveis. Tanto as fibras como os meios de cultura referidos são produtos agrícolas.

O complexo agroindustrial abrange o conjunto de operações de produção e de distribuição de insumos agrícolas, como máquinas, fertilizantes e defensivos; as operações de produção nas propriedades agrícolas, o armazenamento, o processamento e a distribuição dos produtos in na-tura e tudo aquilo que é com eles feito. A interação harmônica, racional e solidária de todas essas atividades consiste no que se considera uma cadeia de produção organizada. E existe uma para cada produto primário.

Esta organização é fundamental para a competitividade do produto final. O trabalho na pro-priedade agrícola – chamado “dentro da porteira” – é, sem dúvida, a etapa mais importante. É nesse nível que ocorrem os maiores riscos da atividade e é daí que saem os insumos principais de todas as cadeias: os produtos agropecuários.

O produtor encontra-se intimamente ligado com a natureza e opera neste fantástico laborató-rio de fotossíntese, onde os recursos naturais são transformados em grãos, em carnes, em leite, em madeiras e em frutas.

A ciência de manejo de uma unidade de produção agrícola reveste-se de grande complexidade e requer, além de conhecimento e de experiência, forte dose de vocação telúrica, que fixa o

homem à terra, transformando-o em fiel depositário da gleba e despenseiro responsável por fazê-la frutificar e distribuir seus frutos. Assim procedendo, estará o agricultor cumprindo sua função social. A função econômica será plenamente exercida se a terra for utilizada segundo sua potencialidade, condicionada a práticas conservacionistas, que permitam a perenização de sua capacidade geradora de riquezas.

Cada vez mais a bacia hidrográfica tem sido considerada a unidade natural de planejamento. Os cuidados com o uso da água, insumo fundamental da vida, são preconizados em todo o planeta. O inventário hidrológico da bacia, complementado por estudos de formação geoló-gica, de topografia, de potencial hidro-energético, de derivações e de potencial hidroviário, de cadastro pedológico, de potencial agro-climatológico e do inventário de resíduos, devem orientar o plano diretor da bacia, levando a eficientes: zoneamento agrícola, matriz energética, abastecimento de água e tratamento de resíduos. Este processo conduzirá ao tão necessário zoneamento econômico-ecológico, que deverá orientar as decisões de planejamento e de uso do território nacional.

O inigualável potencial brasileiro, para que a agricultura cumpra plenamente seu grande destino, necessita ainda de algumas ferramentas imprescindíveis. É fundamental a definição clara de política agrícola de longo prazo, com seus componentes fundamentais, como crédito rural compatível, livre acesso às tecnologias de produção, seguro agrícola, extensão rural e organização mercadológica. A organização fundiária deverá basear-se nos modernos conceitos de reforma agrária, que atribuem menor importância à propriedade da terra e valorizam o disciplinamento da posse e do uso, bem como o acesso às avançadas tecnologias de produção e à moderna organização do trabalho no campo.

A organização do agro no Brasil, pautada nos conceitos da modernidade, certamente levará o País a melhores dias, trazendo paz social e riqueza para seu admirável povo.

Gestão e qualidade para aumentar a rendaPROFISSIONALIZAÇÃO

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PROFISSIONALIZAÇÃO

O produtor rural gaúcho, tradicionalmente, em sua maioria, procura solução para suas ativida-des apenas com o esforço das próprias mãos.

Tudo quer resolver só, como se amigos, vizinhos e colegas inexistissem. Exercita o individualismo; descrê da força solidária e dos benefícios do associativismo.Sua ausência fragiliza as entidades que devem representá-lo.Desconsidera a reunião; aquilo que faz é sempre mais importante (?).Penaliza, assim, o coletivo.Na aquisição dos insumos, vai só, para enfrentar toda uma organização às costas dos bens a

adquirir.No momento de comercializar, entrega o resultado de seu trabalho na porteira da saída, indi-

ferente ao acréscimo de valor que segue. Vende commodities; não agrega valor.Agora, quando a agricultura dispara em velocidade inusitada, só olha para a lavoura e cruza os

braços para a elevação vertiginosa dos insumos, bastante superior em relação àquilo que produz.Até quando?... E o futuro?...A Dra. Ana Raquel Ribeiro, em palestra na FEDERACITE, advertiu:“É vertiginoso o crescimento das empresas compradoras dos produtos primários e, cada vez

mais, diminuem as portas por onde devem entrar.”Interrogou: “E os produtores, que providências tomaram para enfrentar essa dificuldade cres-

cente?”

Levantamento procedido pela EMATER, na diversidade dos municípios, apurou essa dura rea-lidade :

“Os produtores caracterizam-se por serem individualistas, desorganizados, com pouca partici-pação em ações associativas.

Comercializam seus produtos em épocas inadequadas para satisfazerem suas necessidades imediatas”.

Os tentáculos da economia globalizada exigem competitividade de quem produz.Tornaram-se imperiosos a gestão eficiente e o cuidado em todos os detalhes.A conseqüência de um descuido pode ser irreversível.O associativismo, se já era importante, passou, agora, a ser imprescindível, imperioso, urgen-

te!Os Clubes de Integração e Troca de Experiências (CITE’s) chegaram ao Estado com espírito

associativo e buscando soluções solidárias.Nasceram em 1976, quando eu me encontrava na Secretaria da Agricultura.O CITE é constituído por um grupo de produtores rurais, aproximadamente 12, que se reú-

nem mensalmente para troca de experiências, para a busca da produtividade e para a introdução da moderna tecnologia.

Os CITE’s, que se reúnem ordinariamente, alcançam médias produtivas superiores às de sua região.

A força da uniãoGETÚLIO MARCANTONIO

EX-SECRETÁRIO DA AGRICULTURA DO RIO GRANDE DO SUL, PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DOS CLUBES DE INTEGRAÇÃO E TROCA DE EXPERIÊNCIAS (FEDERACITE)

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Amadurecidos, constituíram sua federação – a FEDERACITE –, com sede própria no Parque Estadual Assis Brasil, em Esteio.

A FEDERACITE procura jogar informações para seus filiados.Informação é o principal dos insumos.Proporciona: palestras, seminários, dias-de-campo, viagens.Edita um livro a cada ano versando sobre temas relevantes à agropecuária.Já levou os citeanos para observarem as estações de pesquisa do Estado e as de Santa

Catarina, do Paraná, de São Paulo, de Minas Gerais e do Mato Grosso do Sul.Cruzou a fronteira castelhana para trazer pesquisas da Argentina, do Uruguai e do Chile.No interior do ônibus, o microfone transmite, enquanto perdura o dia, as trocas de expe-

riências – encurtando distâncias e enriquecendo conhecimentos.A peculiaridade levou-o a ser conhecido como “ônibus-escola”.É do proceder dos CITEs a aquisição conjunta de máquinas, animais, insumos.Os sediados no município de Camaquã, nas vezes em que fizeram licitação para adquirir

adubo, a queda nos preços chegou a ter reflexo mesmo fora da área citeana.O CITE 120, de Vacaria, adquire 90% dos insumos de forma conjunta, com significativos

descontos.Para compras, criou departamento próprio; outro, só para vendas conjuntas de sua produção.Um terceiro já introduziu a tecnologia para um banco de sêmen, com touros próprios e

com o objetivo de servir seus componentes e a terceiros.Todos criam a mesma raça bovina.Os campos rio-grandenses, em média, produzem 50 kg de carne ha/ano.

Alguns citeanos já alcançaram a marca dos 400, ou seja, oito vezes mais, através do Pas-toreio Rotativo Racional.

A atividade pastoril elevada a esse patamar é lucrativa mesmo no quadro atual de preços deprimidos.

Alegam, alguns, como recusa ao ingresso em entidade associativa: “Ah, é preciso sair de casa, tomar um veículo para ir à reunião”. É verdade.

Mas quem monta no comodismo não chega a lugar nenhum.Simplesmente fica!Quem não sai da toca não vê a luz do Sol.A EMATER empresta apoio aos CITE’s desde seus passos primeiros, através de dedicados

e eficientes técnicos, que participam das reuniões e da criação de novas células.No último período governamental, o apoio foi suspenso, sob a alegação de que nem todas

as propriedades citeanas se enquadravam como de pequeno porte.A ausência da EMATER foi sentida e teve reflexos.Penso que o Movimento Citeano seja uma corrente auxiliar no impulso ao aumento da

produtividade rural rio-grandense. O saudoso homem público Sinval Guazzelli, quando Ministro da Agricultura, asseverou:

“Os CITE’s realizam um verdadeiro serviço de extensão rural sem custo para o Estado”. A agropecuária gaúcha será mais forte e expressiva à medida em que os produtores de-

rem-se as mãos para a força solidária da corrente associativa.Concluo, reafirmando: Em todos os tempos, em todos os lugares, ainda não se descobriu

força maior do que a força da união.

A força da uniãoPROFISSIONALIZAÇÃO

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REFORMA AGRÁRIA

A inclusão social e a criação de oportunidades para que famílias possam al-cançar a sustentação através do trabalho na agricultura são aspectos ligados ao conceito da Reforma Agrária. Conturbado, esse movimento nem sempre

merece a devida atenção dos poderes públicos e da sociedade em geral. O meio rural apresenta-se, nesse contexto, como cenário para a solução de graves distorções so-ciais e, igualmente, como espaço para a realização econômica de milhares de pessoas hoje alijadas do sistema produtivo e de consumo. O artigo a seguir faz uma análise das ações em Reforma Agrária e estabelece algumas reflexões sobre os passos a se-rem dados, no sentido de realmente encaminhar um processo que possa apresentar resultados concretos.

Reforma agrária: visão atual e suas perspectivasVULMAR LEITE

SECRETÁRIO ESTADUAL DE REFORMA AGRÁRIA E COOPERATIVISMO

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Visão atual: O expressivo desenvolvimento industrial e a modernização da agricultura, ocorridos no Estado

a partir da metade do século passado, originaram um intenso fluxo migratório da população rural rumo à cidade. Assim, a relação entre as populações rural e urbana, que em 1960 era, respectiva-mente, de 70% e 30%, inverteu-se em 2000, passando para 18% de população rural e para 82% de população urbana.

Paralelamente, também ocorreu um processo de concentração de terra no Estado. Em 1970, propriedades com menos de 100 hectares representavam 93,5% dos estabelecimentos rurais, ocupando 35,9% da área total; em 1995, estes números reduziram-se para 92,1% e 32,9%, res-pectivamente. Soma-se a este quadro a estagnação do desenvolvimento industrial, verificada no Brasil nos últimos anos, que vem se refletindo no aumento das taxas de desemprego, causando problemas sociais, estruturais e econômicos, tanto nas áreas urbanas como no campo.

A Reforma Agrária tem sido relacionada como uma das alternativas para abrandar estes pro-blemas, ou seja, para inclusão econômica e social de grande massa de desempregados. Deste modo, o número de projetos de assentamento e de reassentamento de agricultores implantados no Rio Grande do Sul, em pequeno número na década de 50 do século passado, chegou a cente-nas nos últimos 10 anos. Ao todo, distribuídos em seis Pólos de Assentamento, que abrangem 75 municípios, foram criados 290 projetos, abrigando cerca de 13.308 famílias de agricultores assen-tados, numa área de 250.853 hectares.

Além dos projetos de assentamento, decorrentes dos programas tradicionais de Reforma Agrária, o Estado também conta com assentamentos viabilizados pelos programas nacionais de Crédito Fundiário, que até agora beneficiaram 11.500 famílias, em 112.000 hectares. A perspectiva é de que venham beneficiar outras 6.000 até o final do próximo ano, com cerca de 42.000 ha. A discriminação dos empreendedores responsáveis por estes projetos constam na Tabela 1.

Reforma agrária: visão atual e suas perspectivasREFORMA AGRÁRIA

Tabela 1: Nº de PA’s, de famílias assentadas e área total dos PA’s sob responsabilidade do Estado, do INCRA, do Convênio INCRA/GRAC e do Crédito Fundiário Nacional

Empreendedores responsáveis Projetos de Assentamento Famílias assentadas Área total Nº Nº haEstado–RS 135 4.311 88.410Estado–INCRA (Convênio) 29 940 21.288SUBTOTAL 164 5.251 109.698INCRA 126 6.057 141.155União-Crédito Fundiário 11.500 112.000TOTAL 290 22.808 362.853

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Page 116: A G C A , P C A L R G S 2004 - al.rs.gov.br · movimentos que necessitam ser dados (resolução dos pontos fracos e necessidade de evitar-se as ameaças) estão contidas neste material

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A estes, deve-se somar os agricultores que foram e deverão ser desalojados de áreas rurais a serem destinadas a obras públicas do Estado, como construção de barragens. Esta ação implica em trabalhos de vistoria e de avaliação tanto de imóveis a serem indenizados como de imóveis a serem adquiridos pelo Estado, para a implantação de projetos de reassentamento. Pode-se citar que na Reforma Agrária são:

Pontos fortes: A inserção no sistema produtivo de aproximadamente 60.000 pessoas; a inclusão socioeconômica de mais de 22.000 famílias de agricultores sem terra e, por conseguinte, do alivio da tensão social e política; a alteração da estrutura agrária e econômica em diferentes regiões do Estado; o aumento da produção de produtos destinados ao consumo da população gaúcha; entre outros.

Pontos fracos: Morosidade e insuficiência de recursos para infraestrutura básica (moradia,

estradas, eletrificação rural e abastecimento de água); área social (saúde e educação); setor pro-dutivo (o projeto de desenvolvimento do assentamento deve ser compatível com as diversidades regionais-clima, solo, topografia e mercado).

Oportunidades: Existem ainda milhares de famílias vivendo sob lona preta, à espera de oportunidade para serem assentadas; logo, é necessário que se conjugue esforços para que os projetos futuros sejam bem-planejados e sua instalação executada com agilidade. Para os agricul-tores assentados, é importante que se dê continuidade aos projetos de viabilização econômica, como os de fruticultura e de reflorestamento, bem como devem ser criados novos projetos, como gado leiteiro, de produção de grãos e outros.

Ameaças: Falta de recursos; planejamento inadequado; indecisão política; incompreensão da sociedade do que seja a reforma agrária; que seja considerada como um projeto de solução de todos os problemas sociais e econômicos para a inclusão social da população excluída.

Como se vê, o Estado, sob sua exclusiva responsabilidade ou em convênio com o INCRA, em 164 projetos de assentamento, criados a partir de 1979 e totalizando área de 109.689 hectares, assentou 5.251 famílias. A distribuição do número de Projetos de Assentamentos (PA’s) no perío-

do compreendido entre 1979 e 2004 consta na Tabela 2. Além dos assentamentos já criados, é de responsabilidade do Estado e uma de suas prioridades na área da Reforma Agrária a indenização ou o reassentamento de 800 agricultores que ocupam áreas das reservas indígenas do Estado.

Tabela 2: Distribuição do Nº de PA’s no período de 1979 a 2004

Período de criação do PA PA’s - Nº Área ha Lotes Nº

1979 a 2003 164 109.698 5.251

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