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A GEOGRAFIA E OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA* MARIA LUlSA GOMES CASTELLO BRANCO" * "Para compreender a evolução da Geografia e de suas ca- racterfsticas epistemológicas em tal época e em tal país, é preci- so levar em conta as idéias dominantes, os tabus, as rivalidades dos grupos, na corporação que formam os geógrafos (e o mesmo para outras ciências sociais), porque há, na verdade, maneiras muito diferentes de conceber a Geografia, de definir seus méto- dos, seu campo e suas relações com as outras ciências." (Lacoste, Y.,1995:5). I. Introdução o uso de computadores e sistemas de informação teve ampla difusão nos últimos anos alterando profundamente o modo de vida das populações. A cada dia os softwares e os hardwares se tornam cada vez mais amigáveis e baratos, o que, aliado à comodidade do seu uso, constitui a razão de seu sucesso. O impacto dessa tecnologia no desenvolvimento da ciência tem sido enorme, entretanto, como já chamava a atenção Lyotard, em 1979. Este impacto se dá de forma desigual entre as diferentes formas do saber, devido às limitações impostas pela linguagem da máquina. Na Geografia estes sistemas materializaram-se nos Sistemas de Infor- mação Geográfica - os S IGs. O seu uso tem se tornado tão difundido que já há inclusive softwares disponíveis na Internet, que seriam "amostras grátis" de produtos mais sofisticados. O fascínio dos Sistemas de Informação Geográfi- ca estende-se além das fronteiras da Geografia. A sua rápida difusão por dife- rentes áreas do saber e também nas áreas de administração, especialmente pública, e na área comercial e financeira, justificam uma reflexão a respeito do papel destes sistemas no campo do conhecimento geográfico. --_ .. -- • A autora agradece ao prot, Mauricio A. Abreu e aos geógrafos Evangelina X. G. Oliveira e Cesar Ajara a estímulo e a troca de idéias. *' Pesquisadora Titular do Departamento de Geografia/IBGE e Doutoranda em Geog ratia/U FRJ

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A GEOGRAFIA E OS SISTEMAS DEINFORMAÇÃO GEOGRÁFICA*

MARIA LUlSA GOMES CASTELLO BRANCO" *

"Para compreender a evolução da Geografia e de suas ca-racterfsticas epistemológicas em tal época e em tal país, é preci-so levar em conta as idéias dominantes, os tabus, as rivalidadesdos grupos, na corporação que formam os geógrafos (e o mesmopara outras ciências sociais), porque há, na verdade, maneirasmuito diferentes de conceber a Geografia, de definir seus méto-dos, seu campo e suas relações com as outras ciências." (Lacoste,Y.,1995:5).

I. Introdução

o uso de computadores e sistemas de informação teve ampla difusãonos últimos anos alterando profundamente o modo de vida das populações. Acada dia os softwares e os hardwares se tornam cada vez mais amigáveis ebaratos, o que, aliado à comodidade do seu uso, constitui a razão de seusucesso. O impacto dessa tecnologia no desenvolvimento da ciência temsido enorme, entretanto, como já chamava a atenção Lyotard, em 1979. Esteimpacto se dá de forma desigual entre as diferentes formas do saber, devidoàs limitações impostas pela linguagem da máquina.

Na Geografia estes sistemas materializaram-se nos Sistemas de Infor-mação Geográfica - os S IGs. O seu uso tem se tornado tão difundido que já háinclusive softwares disponíveis na Internet, que seriam "amostras grátis" deprodutos mais sofisticados. O fascínio dos Sistemas de Informação Geográfi-ca estende-se além das fronteiras da Geografia. A sua rápida difusão por dife-rentes áreas do saber e também nas áreas de administração, especialmentepública, e na área comercial e financeira, justificam uma reflexão a respeito dopapel destes sistemas no campo do conhecimento geográfico.

--_ .. --

• A autora agradece ao prot, Mauricio A. Abreu e aos geógrafos Evangelina X. G.Oliveira e Cesar Ajara a estímulo e a troca de idéias.*' Pesquisadora Titular do Departamento de Geografia/IBGE e Doutoranda emGeog ratia/U FRJ

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Inicialmente a discussão a respeito dos Sistemas de Informação Geo-gráfica fazia-se, de modo geral, apenas entre seus usuários e os aspectosconceituais abordados relacionavam-se muito mais a definição de SIGs, tiposde SIGs e suas aplicações. Com o passar do tempo, os SIGs, como assinalaPICKLES (1993:451 ), deixaram "de ser controvérs ia e passaram a ser' natu-rais' ... Deixaram de ser novos transformados no fácil conforto do útil". Hoje,devido a generalização do seu uso, o debate deixou o círculo dos adeptos dosSIGs. Novas questões foram levantadas e se dá uma crescente preocupaçãoacerca do papel dos Sistemas de Informação Geográfica no âmbito filosóficoda Geografia e das implicações que podem ter no papel e natureza da informa-ção geográfica.

Desta forma, o objetivo deste trabalho é apresentar uma reflexão sobreas principais questões relativas à inserção dos Sistemas de Informação Geo-gráfica na evolução do pensamento geográfico. Para atingir este objetivo pre-tende-se apresentar o que são os Sistemas de Informação Geográfica (SIGs),suas origens e o debate atual: o seu lado "positivo" e a sua crítica (a questãoética, a questão de sua utilização).

11.O que são os SIGS?

Os SIGs são sistemas com base em computador que apresentam natu-reza especial por fornecer informações não só sobre os fenõmenos, mas tam-bém sobre sua localização no espaço. Muitas das funções desempenhadaspelos SIGs sempre fizeram parte do trabalho rotineiro de pesquisa geográfica,entretanto, estes sistemas permitem realizá-los de modo mais rápido e, alémdisso, a quantidade de informação tratada via SIG muitas vezes não pode sertrabalhada manualmente. Estas características fazem com que o número deadeptos do seu uso seja cada vez maior, havendo uma variedade de explica-ções e definições sobre o que seja um SIG. Inúmeros autores/pesquisadoresespecializados neste campo, e até mesmo produtores de softwares, apresen-tam definições paraos SIGs, onde é dado maior relevo à linha de trabalho/pesqui-sa adotada ou às características do produto que representa. Há hoje um esforçopara adoção de definições que apresentem características comuns, em geral:

"a maioria identifica uma base de dados na qual todos os objetostêm uma localização geográfica precisa, junto com software paradesempenhar funções de entrada, manipu lação, análise e output.Além da localização geográfica, a base de dados também conteránumerosos atributos que servem para distinguir um objeto do ou-tro, e informação sobre o relacionamento entre eles" (GOODCHILD,1995:35).

No anexo, ao final deste trabalho, encontram-se algumas definições deSIGs compiladas de diferentes fontes, inclusive de fora da área da Geografia.

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As definições, com raras exceções, estão voltadas para o lado operacionaldos SIGs, onde a ênfase é dada pela grande preocupação em dístlnqut-los dossistemas de desenho e de mapeamento automatizado, privilegiando o aspectoutilitário da análise espacial. Estas definições, portanto, não apresentam osfundamentos teóricos dos SIGs, ou seja, a linguagem da informaçãocomputadorizada, isto é, a linguagem matemática. Apesar da maioria dasdefinições focalizar apenas estas questões, alguns especialistas em SIGs,como BURROUG H & FRAN K (1995), procuram chama r a atenção para o fatode que é necessário que se conheça os fundamentos teóricos dos sistemas ese saiba como tratar os fenômenos espaciais para avaliar se os sistemasdisponíveis atendem ou não aos objetivos propostos.

A origem e a evolução dos SIGs explicam o enfoque no lado operacionalencontrado na maioria das definições dos sistemas.

111.Evolução dos SIGs

o surgi menta dos SIGs (TAYLOR & JOHNSTON 1995), identifica-se, nocontexto da história da Geografia, a mudanças por influências de fatores "ex-terno" e "interno". O fator externo seria constituído pela tecnologia computacionale o interno pelo movimento surgido na Geografia, nas décadas de 50 e 60conhecido como Nova Geografia.

As bases da Nova Geografia foram lançadas com a adoção dopositivismo lógico após a Segunda Guerra Mundial, apoiado na filosofia analí-tica, onde se associa a estrutura da linguagem à verdade. A linguagem mate-mática seria então a "garantia de uma relação lógica com a realidade" (GO-MES, 1996:253). Gomes aponta duas conseqüências que advêm deste fato a:

"valorização das ciências matemáticas tidas como novo paradigmametodológico." [...] e a "universalização dos procedimentos paraa ciência e a unificação do método, que se referem sempre aosprincípios lógicos, os quais são os fundamentos da matemática"(GOMES: 253).

A Nova Geografia não constituía um movimento unitário, apresentandodiferentes tensões. Segu ndo TAYLOR & JOHNSTON (1995), os SIGs seriamassim resultantes de duas dessas tensões. Entre "ciência" indutiva e dedutiva,onde os SIGs incluir-se-iam no primeiro caso como técnicas para pesquisaempírica; e entre Geografia "pura" e "aplicada": inicialmente houve maior ênfa-se na ciência pura, a preocupação era em desenvolver teorias em linguagemcientífica, o que daria maior status à Geog rafia na Academ ia. Na década de 70passou a haver ênfase na Geografia Aplicada em detrimento de uma Geogra-fia Teórica, esta ênfase permanecendo durante a década de 80, constituindo achave do sucesso dos SIGs. Os SIGs resultariam, assim, da aliança entre atécnica e a aplicação.

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A ênfase na aplicação fez com que a concepção dos primeiros SIGsocorresse, na década de 60, em órgãos governamentais que necessitavamtratar grandes massas de informação. Nesta ocasião, estes órgãos apresenta-vam maior disponibilidade de recursos para realizar este empreendimento,apesar da incipiente tecnologia existente. Desta forma surgiu o primeiro SIGdo mundo, o "Canada Geographi c Information System" - CG IS, e pouco maistarde foram desenvolvidos o "Minnesota Land Management Information Systern",pelo estado de Minnesota, e o "New York Land Use and Natural ResourcesInventory" - LUNR, pela prefeitura de Nova York. Embora os maiores esforçosse concentrassem em órgãos governamentais, isto não significava que nãohouvesse pesquisa neste sentido na área acadêmica, onde destacava-se oHarvard Graphics Laboratory, responsável por uma série de sistemas, inclusi-ve o SYMAP, que tornou-se o mais difundido na época. Mas as limitações men-cionadas acima fizeram com que os grandes centros universitários se tornas-sem mais importantes na formação de pessoal especializado do que em cen-tros responsáveis pelo desenvolvimento dos SIGs.

Os custos, a limitada capacidade de processamento do equipamento naépoca, limitaram o desenvolvimento destes sistemas aos Estados Unidos,Canadá e Inglaterra, especialmente nos dois primeiros países, onde a maiordisponibilidade de recursos e a necessidade de manuseio de grande quantida-de de informações, já sob a forma de base de dados, principalmente nos ór-gãos governamentais, foi o impulso necessário à implementação dos SIGs.Nesta fase inicial os softwares de SIG ainda não despertavam o interesse dasfirmas comerciais (TOM LINSON, 1990).

Na década de 70 os órgãos de governo, no Canadá e Estados Unidos,ainda lideravam o processo.O barateamento dos custos computacionais con-seqüente aos avanços na tecnologia permitiram desenvolvimento mais rápidodos SIGs. A importância que os "emergentes" SIGs passam a ter na Geografiacomeça a consolidar-se com a realização da primeira conferência sobre SIG,em 1970, em Ottawa, Canadá, patrocinada pela UGI. VisIumbrando o imensopotencial comercial destes sistemas, inúmeras firmas iniciaram suas ativida-des nesta área, mas o verdadeiro boom, principalmente na área comercial,deu-se na década de 80. Nesta ocasião as firmas comerciais passam a lideraro processo de desenvolvimento e implementação de SIGs, tornando os órgãosgovernamentais e acadêmicos dependentes da orientação do mercado para aspossibilidades de aplicação destes sistemas.

Ainda na década de 70, entretanto, inicia-se, na Geografia, um processode questionamento da Nova Geografia tanto de base teórico-metodológico comorelacionado ao "domínio prático e ideológico" (GOMES, 1995: 274), adotando-se então uma perspectiva critica, com base no materialismo histórico e dialético:a "Geografia Crítica". Assim, a partir de então, houve dois caminhos paralelosno pensamento geográfico, um liderado pelo pensamento crítico e outro quepermanecia apoiado nos pressupostos positivistas, a Geografia Aplicada, vol-tada para a solução de problemas e que utiliza o enorme arsenal de novas

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tecnologias de informação e que responde pelo desenvolvimento dos SIGsnum trabalho multidisciplinar. Aparentemente, as duas linhas estavam tãovoltadas para discussão e afirmação de suas questões principais que pareci-am tipos de saber completamente divorciados um do outro. Como cada linhapassa a encarar a outra? Este debate se estabelece em fins da década de 80e hoje é tema de importância crescente entre os geógrafos. As principaisquestões neste debate referem-se ao tipo de saber que é produzido via SIG ea questão ética relacionada ao saber produzido desta forma.

IV. O debate atual

o uso dos SIGs em Geografia é hoje objeto de discussão cujos tópicosprincipais estão relacionados com os aspectos teóricos/conceituais que cons-tituem seus fundamentos, com as limitações às suas aplicações e com asquestões éticas envolvidas. Tendo em vista o atual interesse da comunidadegeográfica neste debate procurou-se, de um lado, apresentar a visão dos SIGspeja comunidade a eles identificada, aqui denominada de visão "positiva" (uti-lizando o duplo sentido da palavra: referência à adoção da linha de pensamen-to positivista e referência a uma visão otimista dos SIGs) e do outro a reflexão"crítica" aos seus fundamentos teóricos e sua utilização.

1. A visão "positiva" dos SIGsA grande maioria dos trabalhos na literatura especializada em SIGs

versa sobre a nova tecnologia, a possibilidade de trabalhar informações espa-ciais (localizadas geograficamente) integradas a bases de dados, o que são osSIGs, os tipos de SIGs, aplicações e avaliações e problemas operacionais.Esta ênfase não significa que não exista literatura sobre os aspectos filosófi-cos que fundamentam os SIGs e o papel que podem representar no avanço daciência geográfica. O pensamento geográfico de tradição positivista, basedestes sistemas, apesar da violenta crítica a que foi submetido nas duas últi-mas décadas, constitui, ainda hoje, a base teórica adotada por inúmerospesquisadores em Geografia. Goodchild, por exemplo, recentemente definiucomo objetivo da ciência a busca do "sentido de um mundo aparentementecaótico e imprevisível através do encontro de teorias e leis que possam expli-car o comportamento natu ral e social." (GOODCH ILO 1992: 138)

Nesta linha de pensamento a grande contribuição dos SIGs seria permi-tir atingir o ideal cientffico positivista, o que se traduziria numa revalorizaçãoda ciência geográfica. Esta idéia é partilhada por diferentes pesquisadores(Dobson, Openshaw, Goodchild, Marble, Peuquet, Cromley, Monmonier ...),variando entretanto o nível de entendimento de cada pesquisador acerca dapossibifidade dos SIGs atenderem plenamente a estes objetivos, chegando aser considerado por alguns, como é o caso de Openshaw, citado porGOODCHILD (1995; 34) como o cavaleiro andante que colocaria os fragmen-tos da geografia juntos novamente. Para DOBSON (1993), o uso dos SIGs

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permitiria a retomada da escola da paisagem, pois tornaria factfvel suaimplementação prática. Já CROMLEY (1993) destaca que o uso dos SIGspode levar a Geografia a realizar estudos e pesquisas mais complexos do quesimplesmente replicar de modo automatizado o que fazia antes, chamando aatenção também para a valorização da perspectiva geográfica por parte denão-geógrafos que descobriram que os SIGs permitem "investigar relaçõesespaciais entre objetos e padrões entre classes de objetos". Assim, com adifusão dos SIGs os geógrafos não serão mais os únicos a produzir Geografia(CROMLEY 1993:442).

Considerando o papel que os SIGs teriam na evolução do pensamentogeográfico, os pesquisadores identificados a esta linha não entendem a indife-rença da academia em relação aos SIGs. Marble & Peuquet destacam que ouso de computadores pela maioria da comunidade geográfica tem sido parautilizar as facilidades dos processadores de texto e para análise estatísticanos centros que utilizam métodos quantitativos e vêem a pesquisa relacionadaaos SIGs escapando da Geografia devido ao descaso da academia (MARBLE& PEUQU ET, 1993: 446 - 448). Goodchi Id identifica como causa duas tendên-cias que nos últimos 10 anos solaparam a pressuposição de que o espaço érelevante para a geografia: teoria social e processos geomorfológicos, e a im-portância crescente do espaço em outras disciplinas (GOODCHILD, 1993: 445).Dobson coloca a mesma questão de outra forma: estes sistemas constituemo maior

"agente de mudança na capacitação e conhecimento geográficodesde a Renascença. Os SIGs estão democratizando tanto oconhecimento como a prática da Geografia. Talvez metodólogosda Geografia não estejam impressionados por uma tecnologia quefaz rigorosamente o que geógrafos sempre fizeram (ou tentaramfazer) intuitivamente. Talvez eles não percebam quão difícil es-tes objetivos têm sido para o resto da sociedade. Se osmetodólogos desejam acompanhar e influenciar os eventos naciência da Geografia, eles terão de voltar-se para os SIGs comoprofundo agente de mudança." (DOBSON, 1993: 435).

A preocupação com o reconhecimento de toda a academia varia, portan-to, de posições moderadas a extremadas na defesa dos SIGs, mas há doisfatos a destacar: já há um debate instalado sobre o assunto na academia e hátambém o consenso em relação ao fato de que o uso dos SIGs hoje é irreversível.

Outro ponto importante levantado pelas duas linhas é a questão do usodos SIGs. Para a linha "positiva" há grande preocupação com o usoindiscriminado de SIGs, havendo inclusive alguns autores preocupados emdiscutir questões relativas a suas limitações por entenderem que a falta deconhecimento sobre elas, juntamente com o uso abusivo dos SIGs, pode com-prometer seriamente o trabalho de pesquisa. Mais uma vez vê-se a adoção de

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diferentes perspectivas pelos diferentes pesquisadores comprometidos comesta linha. Para Dobson a impossibilidade dos SIGs darem conta dos diferen-tes aspectos da realidade é resultado da falta de recursos alocada àimplementação destes sistemas (DOBSON, 1993). Isto é apenas parcial menteverdadeiro; os SIGs apresentam limitações de ordem estrutural e não podemdar conta de todos os aspectos da realidade, não sendo uma questão de recur-sos apenas. Estas limitações estão relacionadas à adoção do paradigmapositivista. No cerne destas limitações está a questão da linguagem matemá-tica e, apesar dos progressos nesta área do conhecimento, este progressoainda não se estendeu a todos os campos do saber que trabalham a informa-ção espacial e nem aos projetos e implementações dos SlGs. Como desta-cam Burrough & Frank, estes sistemas foram

"projetados para atender a um paradigma limitado no qual os fenô-menos do mundo real possam ser aproximados por tipos de da-dos geográficos exatos [...] Esta abordagem reducionista [...] étotalmente inadequada para fenômenos que (a) variam sobre mui-tas escalas simultaneamente, (b) são diffceis de definir exata-mente, (c) são dinâmicos e (d) são probabtlfstícos. Isto inclui amaior parte do mundo natural". (BURROUG H & FRANK, 1995: 105).

Estes autores analisam a lógica dos SIGs e as principais limitaçõesimpostas pela lógica da linguagem matemática utilizada na implementação edesenvolvimento dos SIGs: "(1) Objetos versus campos, (2) fenômenos uni-escalares versus multiescalares, (3) critério único versus múltiplos critérios (4)sistemas estáticos versus dinâmicos, (5) determinismo versus incerteza"(BURROUGH & FRANK, 1995: 106). Assim, as aplicações dos SIGs estãolimitadas pelos pressupostos da lógica matemática em que os sistemas sebaseiam, havendo necessidade de implementação nestes sistemas com vis-tas a ampliar o espectro de aplicações possíveis.

A questão dos sistemas estáticos versus dinâmicos é amplamente dis-cutida por PEUQUET (1994), que propõe um novo modo de abordagem aoproblema. A autora chama a atenção para o fato de que nos SIGs utiliza-se umsistema de representação tradicional baseado nos conceitos de apresentaçãoestática de mapeamento 1 e propõe um novo modelo de abordagem ao proble-ma, incluindo conceitos de "percepção da psicologia, inteligência artificial ecampos relacionados" buscando

"representar dados espaço-temporais arquivados de modo a aco-modar ambos desde as construções humanas do mundo no espa-

1 Como já havia sido mencionado acima, nas limitações às aplicações dos SIGs,nas citações relativas ao artigo de Burrough & Frank

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ço-tempo e teoria geográfica até demandas técnicas por precisãoe flexibilidade na análise com base em computador e apresenta-ção visual". (PE UQUET, 1994: 442)

Além das questões mencionadas dois pontos são extensamente debati-dos pelos adeptos desta linha de pensamento: o problema da qualidade do dado eo papel dos mapas em Geografia2 (MARBLE & PEUQU ET, 1993: 446-447).

Desta forma, na atualidade, o enfoque na literatura geográfica da linha"positiva" tem sido alterado, deixando de lado a linha operacional, buscandodefender o seu papel como agente de mudança no pensamento geográfico, oque permitiria atingir o ideal científico de teorias e leis universais e ao mesmotempo buscando analisar as limitações impostas pelo paradigma em que sebaseiam para, nos casos em que o avanço da ciência permitir, vencer estaslimitações.

2. A visão crítica dos SIGsOs autores que apresentam visão crítica dos SIGs fazem, em linhas

gerais, uma reflexão sobre os fundamentos filosóficos e éticos embutidos naestrutura conceitual dos SIGs e sobre questões de ordem moral relativas a suaaplicação. Desta forma, inúmeros aspectos que para os autores identificadoscom a comunidade dos SIGs constituem apenas limitações ao seu uso. vãoalém da simples limitação para os autores engajados com o pensamento críti-co e pós-moderno.

A questão básica é que por serem sistemas com base em computador,os SIGs trazem a questão da adoção da linguagem de computador para apre-ensão do mundo real. Já em 1976, Lyotard. ao referir-se ao saber pós-moder-no, discute a questão dos sistemas de informação via computador, prevendo oabandono do saber (no caso o narrativo) que não pudesse ser transformado emlinguagem de máquina. Assim, ao se adotar qualquer sistema de computação,e portanto os SIGs, adotam-se os pressupostos positivistas: objetividade téc-nico-analítica, neutralidade política, dualismo sujeito-objeto e conhecimentodo mundo com base em regularidades (LAKE, 1993). Estes fundamentosconceituais dos SIGs são discutidos por quase todos os autores desta linha depensamento. Sheppard, por exemplo, questiona a neutralidade da tecnologia,levando a uma reflexão crítica sobre este conjunto de ferramentas para soluci-onar problemas e sobre seu impacto na distribuição do conhecimento e poder(SHEPPARD,1993).

Analisando e contextualizando os SIGs, Pickles afirma que estes seri-am parte de uma tradição na Geografia que "compreende o fenômeno geográ-

2 Estes autores identificam duplo papel para os mapas em geografia: como meio dearmazenar informação geográfica e de realizar processos analíticos (neste casocabe investigar a natureza da estrutura da informação do ponto de vista puramentelógico); e como me ia de apresentar e transmitir uma informação espacial espec ífica.

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fico como padrão espacial, captu rado por ti pos de dados particulares de repre-sentação espacial e prática da disciplina" (PICKLES, 1993: 452) segundo óticacartesiana, refletindo a reconfiguração do processo de trabalho na academia eo relacionamento com as máquinas, numa linguagem de reestruturaçãocorporativista típica dos anos 80. Pickles ressalta a dissociação entre a evo-lução paralela desta linha de pensamento e aplicação da Geografia e os deba-tes desenvolvidos, especialmente na área da Geografia humana, na década de80, criticando a

"ontologia reducionista do espacialismo, e voltando-se a ques-tões de conhecimento contextual, contingência e necessidade,sociedade, espaço e natureza, a construção (social/política/gê-nero) do espaço, e a produção de escala, cada um delesproblematizando muitos aspectos da ciência Cartesiana e aontologia da análise espacial. Estas abordagens questionaram asuperênfase no padrão, desafiaram geógrafos a repensar o signi-ficado de espaço, problematizaram a dominância do método deciência natural no estudo do fenômeno social, e levantaram ques-tões sobre a subjacente ontologia dos objetos, localização, e apli-cação nos quais se baseara a análise espacial." (PICKLES,1993:452)

Os problemas éticos envolvendo os SIGs são amplamente discutidospo r CURRV (1994 e 1995), envolvendo a questão ética não só na Geog rafi a,mas na ciência, no âmbito profissional, na tecnologia, em computação, nosnegócios, no governo e até mesmo na "emergente éti ca da representação". Adiscussão apresentada por Curry levanta os seguintes pontos: conceitos mo-rais e atuação (no nível metaético e na teoria moral à visão teleológica edeontológica); heteronomia e autonomia (a especialização, o "outro", a vigilân-cia e a privacidade, o indivíduo e a comunidade). Além de Curry, a questãoética é discutida por Lake e por Smith, ambos de forma mais pessimista queCurry. Lake discute a abordagem teleolóqica que tem subjacente a análisecusto/beneficio: o uso dos SIGs seria ético se produzisse benefício sociallíquido, caindo em outro problema de definir o que é beneficio social. A alterna-tiva para este problema moral seria uma abordagem deontológica baseada emprincipios de direitos e deveres. A dificuldade em adotar principias deontológicosutilizando os SIGs é a questão do dualismo sujeito-objeto e a incapacidade deapreender as diferenças subjetivas entre objetos e suas análises (LAKE, 1993).No pressuposto sujeito-objeto "a perspectiva, ponto de vista e ontologia dopesq uisador são separadas ~ e diferentes ~ das daqueles dos ind ivíduos cons-tituintes que são os pontos de dados formadores da base de dados SIG" (LAKE,1993:408). A questão do conhecimento reificado embutido nos SIGs é tam-bém amplamente discutida por Lake, referindo-se à impossibilidade de tratarda questão da identidade, e portanto da subjetividade, utilizando SIGs. Smith,

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por outro lado, atém-se à questão do uso ético dos SIGs e utiliza como exem-plo a Guerra do Iraque, revelando que os SIGs têm ampla utilização na esferamilitar, o que pode ser demonstrado com o número crescente de empregospara especialistas em SIG nos meios militares. Esta seria a face oculta dosSIGs e da Geografia como já havia chamado atenção Lacoste em seu livro AGeografia - Isto serve, em primeiro fugar, para fazer a guerra. Smith estranhao silêncio da academia de usuários de SIG para estas aplicações, chamandoatenção que a grande preocupação dos advogados dos SIGs em vê-los comoa solução para os problemas filosóficos da disciplina.

Além destas questões que se referem aos fundamentos filosóficos dosSIGs e à ética em sua utilização, há outros aspectos apontados na literaturacrítica, podendo ser destacados os seguintes:

• A visão de que a sistematização de práticas estabelecidas em Geo-grafia seria facilitada por processos de rotina automatizada, através dos SIGs,é duramente criticada, principalmente por Sheppard, pois isto se daria em de-trimento de outras práticas. Assim, diz ele, qual seria a Geografia resultantedestas práticas e para que sociedade se faria esta Geografia?

• O exagero no uso e/ou defesa dos SIGs é criticado por diferentesautores, cabendo aqui dois exemplos. O emblemático artigo de defesa dosSIGs escrito por OP ENSHA W (1991 ), "A view on the G IS crisis in Geog raphy,or, using G1S to put Humpty-Dumpty back together again", é citado por diver-sos autores como uma ode aos SIGs, havendo alguns que afirmam que estetipo de defesa é um "malefício" prestado aos SIGs. O exagero na aplicação decertos tipos de análise oferecida pelos SIGs é também motivo de crítica, comoé o caso da exacerbada crítica de Lacoste ao uso de coremas por parte dealguns geógrafos franceses, chegando a dedicar um número da revista Herodotea esta temática.

• A questão da democratização na difusão e uso dos SIGs, que segun-do os autores da linha "positiva" ocorreria naturalmente, já na visão dos auto-res da linha crítica isto efetivamente ocorreu nos países ricos, com o baratea-mento dos equipamentos (hardware e software), mas o acesso aos SIGs porparte dos países do Terceiro Mundo continua restrito, pois os parcos recursoslimitam o seu uso (PICKLES, 1993).

Finalizando, os autores da linha de pensamento crítico não negam aevidência de que o uso dos SIGs na ciência em geral, particular na Geografia,na admi nistração governamental, na área militar, em firmas come rciais, etc. éirreversível, e por isso mesmo consideram necessário lançar luz sobre aspec-tos não discutidos pela comunidade de usuários de SIGs.

V. Conclusão

Procurou-se aqui expor como os S IGs se inserem no estágio atual do pen-samento geográfico, através de um sumário sobre sua origem e evolução, e asprincipais questões levantadas sobre esta temática pela academia geográfica.

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Indubitavelmente, como Dobson chama atenção, os SIGs constituemagente de mudança para a comunidade cienUfica e geográfica. Estes siste-mas "banalizaram" o conhecimento do espaço e o resultado final das pesqui-sas realizadas utilizando estes sistemas é apresentado sob a forma demapeamento extremamente atraente, que exerce forte fascínio sobre quem ovê, podendo-se comparar o efeito exercido pela transmissão da mesma infor-mação sob a forma de tabela, quadro estatístico e até mesmo um gráfico coma informação mapeada utilizando um SIG. Daí a importância da discussão queora se trava na academia, pois as conseqüências da informação produzida porestes sistemas podem ser imprevisfveis, tendo em vista a aparência de verda-de inquestionável.

A atração e disseminação dos SIGs dentro e fora da comunidade geo-gráfica tem provocado, assim, maior reflexão sobre os fundamentos filosófi-cos e sobre os limites para a sua utilização. Podendo-se citar Pickles:

"Questões de acessibilidade e escala na qual construímos o co-nhecimento permanecem problemas cruciais para os geógrafosnos anos 1990, se a disciplina não quiser se tornar mais ampla-mente comprometida com as demandas do poder das corporações,militar e estatal. Se isto é para servir a academia e a sociedadede modo crítico, "automated geography" precisa engajar debatessociais teóricos e desenvolver uma economia política sobre suaspróprias produções e práticas. Se é para continuar a argumentarque é legítimo porque é útil, é preciso desconstruir cuidadosa-mente o que se entende por útil, valor e aplicação. Se é paracontinuar a argumentar que é "ciência", então é preciso ampliarsua esfera de legitimação para além do método e da aplicaçãoatravés de engajamento crítico com métodos pós-positivistas,epistemologias pós-Cartesianas e conceitos pós-estruturalistasde poder, conhecimento e representação." PICKLES (1993: 454).

Portanto, a questão que se coloca hoje a respeito dos SIGs não é maisusá-los ou não, mas definir o seu papel na Geografia e tendo em vista aslimitações impostas pelo paradigma em que se baseiam, por quê, como e paraquê utilizá-los.

VI. Bibliografia

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VII. Anexo

Definições de SIG:

AGI Source Book (1996:332) - "Um sistema para captura, armazenamento,checagem, integração, manipulação, análise e apresentação de dados quesão espacialmente referenciados a Terra." (Fonte: OSI - Working Party to

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Aronoff (1995:1) - "Sistemas de Informação Geográfica são sistemas com base emcomputador que são utilizados para armazenar e manipular informação ge-ográfica".

___ (1995:39) - "Um SIG é um sistema de base computacional que fornece osseguintes quatro conjuntos de possibilidades para manipular dadosgeorreferenciados: 1 - input; 2 - gerenciamento de dados (armazenamento erecuperação de dados); 3 - manipulação e análise e 4 - output."

Co((et (1992) - "Ao nível mais simples, o SIG é visto como um ambiente que forneceinformações sobre objetos espaciais; sua principal função é oferecer ao usu-ário uma interface gráfica, permitindo localizar objetos a descrever ou a iden-tificação daqueles que respondem às características desejadas."

de Bruijn (1989) - "Há tantas definições de sistemas SIG quanto existem sistemas.Geralmente o conceito compreende: 1) uma base de dados com variedadede dados espaciais que são: georreferenciados de modo compatível; comresolução espacial e temática que seja pequena o suficiente para refletir: ostemas incorporados; a escala da área para o qual o sistema foi desenhado,todas as diferenças espaciais significativas que são pertinentes às aplica-ções para as quais o sistema se destina; 2) software adequado para acessara base de dados e desempenhar operações lógicas, estatísticas e cartográ-ficas com os dados. Além disso, é desejável que qualquer sistema de geo-informações funcione em uma estrutura organizacional que permita: manteros dados confiáveis e atualizados; trocar dados com partes interessadas;manter confidencialidade dos dados onde e quando necessário."

Dobson (1993) - "Representação digital da paisagem de um lugar (sítio, região ouplaneta), estruturada para sustentar a análise."

Fabbri (1992) - "Sistemas de informação geográfica são sistemas com basecomputacional que são utilizados no manuseio de informação geografica-mente referenciada."

Goodchlld (1995) - ''Vários testes têm sido sugeridos ou aplicados num esforçopara refinar a definição, incluindo o seguinte: a) capacidade de armazenar eanalisar relacionamentos espaciais entre objetos, tais como cruzamentos,interseções, adjacente a, ou conectado a, ou a computá-los como se neces-site (freqüentemente denominados topologia na livre terminologia da comu-nidade de SIGs). b) Capacidade de armazenar e analisar um ilimitado nú-mero de atributos para cada objeto. c) Maior ênfase na análise do quesimples manipulação e recuperação de dados. d) A capacidade de integrardados de diferentes fontes, talvez em diferentes escalas e utilizar mais de ummodo de representação."

Marble (1990) - ~...Estes sistemas de informação geográfica compreendem algunssoftwares para computador bastante sofisticados, mas todos contêm os se-

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A geografia e os sistemas de informação geográfica 91

guintes componentes principais: 1 - Um subsistema de entrada de dadosque coleta elou processa dados espaciais derivados de mapas existentes,sensores remotos etc.; 2· Um subsistema de armazenamento e recupera-ção de dados em uma forma que permita sua rápida recuperação pelo usu-ário para análise subseqüente, bem como permitir rápidas e precisas atuali-zações e correções a serem feitas na base de dados espaciais; 3· Umsubsistema de manipulação e análise de dados que desempenhe uma sériede tarefas tais como alteração na forma dos dados empregando regras deagregação definidas pelo usuário ou produzindo estimativas de parâmetrose restrições para vários modelos de otimização espaço- temporais ou mode-los de simulação; 4 - Um subsistema de relatório de dados que seja capazde fornecer toda ou parte da base de dados originais, bem corno dadostrabalhados e o resultado dos modelos espaciais em formato tabular ou demapas. A criação destas apresentações de mapa envolve o que se denomi-na de cartografia digital ou computadorizada. Esta é uma área que repre-senta considerável extensão conceitual das abordagens cartográficas tradi-cionais, bem como mudança substancial nas ferramentas utilizadas na cria-ção de apresentações cartográficas. Esta definição de SIG exclui inúmerossistemas de softwares que apresentam somente parte dos critérios."