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A geração dos Anos Dourados A geração dos Anos Dourados J.R. Palladino Numa madrugada de saudosismo explicito... J.R. Palladino Numa madrugada de saudosismo explícito...

A geração dos Anos Dourados A geração dos Anos Dourados J.R. Palladino Numa madrugada de saudosismo explicito... J.R. Palladino Numa madrugada de saudosismo

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A geração dosAnos Dourados A

geração dos

Anos Dourados

J.R. PalladinoNuma madrugada de saudosismo explicito...

J.R. PalladinoNuma madrugada de saudosismo explícito...

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Eu pertenço

a uma geração

que deixou

saudade. Que viveu a vida com respeito, com charme, com romantismo. E com intensidade.

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Que navegou em mar de almirante no que hoje chamam de anos

dourados.

E olha que o mar nem era tão de almirante assim. Tivemos lá nossas

tormentas,

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Mas soubemos enfrentá-las e vencê-las.

Sempre com o peito aberto e a cabeça erguida e com dignidade.

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Soubemos degustar o suco da vida, sem destroçar o fruto.

Usufruir a natureza, sem estuprá-la.

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É , meu amigo, eu pertenço a uma geração que deixou e sente saudade.Uma geração que não teve medo de ser feliz.E nem vergonha.

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Uma geração que via Copacabana como a ‘‘Princesinha do Mar.’’

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Que conhecia São Paulocomo a elegante e charmosa terra da garoa

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E para nós, o Brasil era o grande país do futuro.

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Hoje, a princesinha casou,teve filhos.E mudou sem deixar endereço.

Dizem até que, hoje, já nem vai mais à praia.

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São Paulo cresceu,engord

ou. Perdeu o

charme e a garoa.

Quem viu nem reconhece.

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Já o Brasil, ah o Brasil!Continua sendo o país do futuro. Mas do jeito que a coisa anda,só não sabemos que futuro será esse.

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Eu pertenço a uma geração

que viu o biquíni nascer.

E não viu nada além.

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Agora, mulher de biquíni é como mina abandonada.

Quando se chega,já não resta nada pra explorar.

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Eu pertenço a uma geração que viu Mitchun, Waynne e Cooper

transformarem em romantismo os horrores de uma

guerra.

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Hoje,se você descuidaa guerrasai da TVe cai em sua sala.Suja,violenta,cruel.

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E por falar em TV, também foi na minha geração que ela nasceu.Primária, incipiente, amadorística.Mas limpa, emocionante, querendo vencer. E sem apelações. Tanto que o primeiro beijo na TV até hoje é cantado em prosa e verso.

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Agora beijo é no horário

infantil. Sexo fica prá

sessão vespertina.

E o explícito nas novelas da

noite.E pensar que a

gente se emocionava muito mais

com Chaplin, que sequer

falava.

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Ah, eu pertenço a uma geração que namorava na matinée dos domingos,

comendo pipocas, chupando drops.Que esperava o filme começar prá buscar a

emoção de um beijo roubado.

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Hoje a chupação começa bem antes. E o escracho dos motéis acabou com o doce mistério do escurinho do cinema.

Só Rita Lee lembra disso.

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É seu moço,

eu pertenço

a uma geração

que encarav

a a virgindade como virtude.

Não como

vergonha.

Que usava camisinha como preservativo, não como meio de sobrevivência.

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Eu pertenço a uma geração que estudava prá ficar culta e vencer na vida.

Não prá ficar esperta e ganhar a vida.

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Uma geração que desprezava agiotas. E olha que cobravam só 5% ao mês.

Agora tem banqueiro que cobra 15% e continua em liberdade. Até sai em

coluna social.

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Sabe,meu amigo, eu pertenço a uma geração que tinha respeito pela

autoridade. Não medo.Que manifestava amor pela Pátria.

Não deboche.

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Uma geração que valorizava a amizade.

Não o interesse.

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Sem deixar de ter carinho pelos velhos bondes.Uma geração que amava, não tinha só tesão. Que respeitava, mesmo quando havia cobiça.

Que se fascinou

com os novos

aviões.

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Que fazia coisas bobas, como abrir a porta para uma mulher. Puxar a cadeira prá ela

sentar.Que oferecia seu lugar no ônibus para uma

senhora. Mesmo que nem fosse tão senhora.

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É meu caro, minha geração vai deixar saudade.

Ela viveu anos dourados de verdade. E intensamente. Com pique, com tesão, com

alegria.

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E dizer quea gente era feliz... e nem sabia!

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• Texto : José Roberto Palladino Texto : José Roberto PalladinoFormatação : Nathalia Nichel

PalladinoMúsica: Imagine - John Lennon