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A geração Y chega ao serviço público Bruno Silva Os órgãos do Executivo, Judiciário e Legislativo estão cada vez mais jovens. Dispostas a encontrar a realização profissional nesse setor, pessoas com até 30 anos são aprovadas em concursos difíceis e para cargos com remunerações altas Ser estável e ter uma boa remuneração são as principais justificativas de quem busca um emprego no funcionalismo, e essas vantagens levam cada vez mais jovens a ter o Estado como patrão. Nos últimos 10 anos, apenas no Executivo ingressaram mais de 40 mil pessoas com até 30 anos — faixa etária também chamada de Geração Y, com nascidos nos anos 1980 até meados de 1990. O Correio conta a história de nove pessoas que conseguiram a aprovação logo após sair da faculdade ou antes mesmo de ingressar no ensino superior. Elas ganham salários entre R$ 4 mil e R$ 19 mil e, além de ter os benefícios do serviço público, mostram como é possível evitar a estagnação e decolar na carreira. São casos como o de Gustavo Souza, 25 anos, que em sua primeira experiência profissional passou no concurso do Ministério Público da União (MPU) e, hoje, chefia um grupo de 120 pessoas. Também o de Cintia Silva, 27, que coordena a equipe de documentação do Ministério das Cidades. Há ainda relatos de pessoas que foram aprovadas em provas tradicionalmente concorridas, como João Thiago Oliveira, delegado da Polícia Federal desde os 23 anos; Bruno Pereira Rezende, 1º colocado no certame do Ministério das Relações Exteriores (MRE) aos 22, ou Elyesley Silva, que, aos 24, é servidor da Câmara dos Deputados. De acordo com o Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento, 65.218 servidores públicos federais civis ativos no Executivo têm até 30 anos — 12,4% do total de funcionários. Há 10 anos, 23.851 servidores estavam nessa faixa etária: 5,2% do total. Os jovens representam dois terços do crescimento total de servidores do Executivo, de 458.674 em 2001 para 521.749 em 2011. “Hoje em dia, o serviço público é uma febre. As pessoas estão sendo muito seduzidas em relação a isso, pois há um apelo maior, com mais informações e muitos cursos preparatórios para concursos. Então, elas estão se despertando mais para esse tipo de carreira. Há também a velha e boa situação de estabilidade”, explica o psicólogo Fernando Elias José, mestre em cognição humana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Mas o que acontece com aqueles que conseguem a aprovação para cargos com remuneração alta? José argumenta que há outros desafios para evitar a estagnação. “Vejo que, mesmo que esteja realizado, o jovem pode seguir outras linhas. Há a área acadêmica, compatível em muitos momentos. O servidor também pode resgatar algo que pensava em fazer antes de prestar concursos. É uma questão muito pessoal”, define o psicólogo. Identifique-se Escolher o serviço público como primeira opção de carreira pode ser uma má ideia se o candidato não souber exatamente o papel que quer desempenhar. Camilo Cavalcanti, professor do Departamento de Contabilidade da Universidade de Brasília (UnB), conta que é comum, em sala de aula, encontrar mais da metade dos alunos almejando uma vaga no funcionalismo. “Pergunto por que eles escolheram contabilidade e a maioria responde que era um curso mais fácil de entrar e que as disciplinas são requisitos para provas de

A geração Y chega ao serviço público

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A geração Y chega ao serviço público

Bruno Silva

Os órgãos do Executivo, Judiciário e Legislativo estão cada vez mais jovens. Dispostas a encontrar a realização profissional nesse setor, pessoas com até 30 anos são aprovadas em concursos difíceis e para cargos com remunerações altas

Ser estável e ter uma boa remuneração são as principais justificativas de quem busca um emprego no funcionalismo, e essas vantagens levam cada vez mais jovens a ter o Estado como patrão. Nos últimos 10 anos, apenas no Executivo ingressaram mais de 40 mil pessoas com até 30 anos — faixa etária também chamada de Geração Y, com nascidos nos anos 1980 até meados de 1990. O Correio conta a história de nove pessoas que conseguiram a aprovação logo após sair da faculdade ou antes mesmo de ingressar no ensino superior. Elas ganham salários entre R$ 4 mil e R$ 19 mil e, além de ter os benefícios do serviço público, mostram como é possível evitar a estagnação e decolar na carreira. 

São casos como o de Gustavo Souza, 25 anos, que em sua primeira experiência profissional passou no concurso do Ministério Público da União (MPU) e, hoje, chefia um grupo de 120 pessoas. Também o de Cintia Silva, 27, que coordena a equipe de documentação do Ministério das Cidades. Há ainda relatos de pessoas que foram aprovadas em provas tradicionalmente concorridas, como João Thiago Oliveira, delegado da Polícia Federal desde os 23 anos; Bruno Pereira Rezende, 1º colocado no certame do Ministério das Relações Exteriores (MRE) aos 22, ou Elyesley Silva, que, aos 24, é servidor da Câmara dos Deputados. 

De acordo com o Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento, 65.218 servidores públicos federais civis ativos no Executivo têm até 30 anos — 12,4% do total de funcionários. Há 10 anos, 23.851 servidores estavam nessa faixa etária: 5,2% do total. Os jovens representam dois terços do crescimento total de servidores do Executivo, de 458.674 em 2001 para 521.749 em 2011. “Hoje em dia, o serviço público é uma febre. As pessoas estão sendo muito seduzidas em relação a isso, pois há um apelo maior, com mais informações e muitos cursos preparatórios para concursos. Então, elas estão se despertando mais para esse tipo de carreira. Há também a velha e boa situação de estabilidade”, explica o psicólogo Fernando Elias José, mestre em cognição humana pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). 

Mas o que acontece com aqueles que conseguem a aprovação para cargos com remuneração alta? José argumenta que há outros desafios para evitar a estagnação. “Vejo que, mesmo que esteja realizado, o jovem pode seguir outras linhas. Há a área acadêmica, compatível em muitos momentos. O servidor também pode resgatar algo que pensava em fazer antes de prestar concursos. É uma questão muito pessoal”, define o psicólogo. 

Identifique-se Escolher o serviço público como primeira opção de carreira pode ser uma má ideia se o candidato não souber exatamente o papel que quer desempenhar. Camilo Cavalcanti, professor do Departamento de Contabilidade da Universidade de Brasília (UnB), conta que é comum, em sala de aula, encontrar mais da metade dos alunos almejando uma vaga no funcionalismo. “Pergunto por que eles escolheram contabilidade e a maioria responde que era um curso mais fácil de entrar e que as disciplinas são requisitos para provas de concursos”, conta o professor, apontando ainda que se trata de uma característica da cidade. “No meio em que eles estão, há muitos servidores públicos, o que acaba sendo um diferencial dentro de casa ou nos meios sociais, no convívio com amigos ou parentes que dão preferência a isso.” 

“Muitas vezes, a pessoa abdica de fazer realmente aquilo de que gosta. Dificilmente, um jovem escolhe determinada área no setor público porque se identifica com o trabalho de auditor de um tribunal de contas ou da Receita Federal, por exemplo”, afirma Cavalcanti. O professor ressalta que, apesar de todas as vantagens de ser concursado, não se deve descartar a iniciativa privada, principalmente no atual período de crescimento econômico do país. 

Entretanto, se o candidato souber as funções que pode desempenhar e encontrar afinidades com elas, não há empecilhos para conseguir a realização profissional no serviço público. “Se a pessoa levantar os prós e contras, e decidir com a razão, mas também com a emoção, não tenho a menor dúvida de que ela terá sucesso”, argumenta o psicólogo Fernando Elias José. Ele também indica que trabalhar no setor público pode ser um caminho que dê condições ao jovem para buscar o que ele realmente gosta na vida. “Escuto muitas pessoas que querem passar para ter o dinheiro necessário para fazer outra atividade”, ressalta o especialista. 

Em crescimento 

Porcentagem de servidores públicos federais civis ativos do Executivo entre 21 e 30 anos: 

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Dez/2011 - 12,5% Dez/2010 - 12,7% Dez/2009 - 11,5% Dez/2008 - 10,4% Dez/2007 - 9,5% Dez/2006 - 9,3% Dez/2005 - 8% Dez/2004 - 7,3% Dez/2003 - 6,1% Dez/2002 - 5,4% Dez/2001 - 5,2% 

Fonte: Boletim Estatístico de Pessoal/Ministério do Planejamento 

Conquista precoce 

 

Aos 25, chefe de 120 pessoas Gustavo Souza, 25 anos 

Órgão: Procuradoria-Geral da República (PGR) Idade em que ingressou no serviço público: 19 anos 

Quando ingressou no Ministério Público da União (MPU), Gustavo Souza era frequentemente chamado de estagiário por seus colegas. “Em algumas reuniões, eu tinha de me apresentar como servidor para as pessoas não me confundirem”, conta o brasiliense, que, em 2004, passou no concurso do órgão e no vestibular da Universidade de Brasília (UnB), aos 19 anos. A matrícula no curso de geografia foi trancada no ano seguinte, quando veio a nomeação no serviço público e a mudança para o Acre, onde ele atuou no gabinete de um procurador do Ministério Público Federal no estado. 

Era a primeira experiência profissional de Gustavo. “Não tinha ideia de como fazer muitas coisas”, recorda. Após seis meses na Região Norte, o servidor voltou para Brasília e, na Procuradoria-Geral da República (PGR), exerceu sua primeira chefia, em um órgão colegiado de meio ambiente. “Na minha equipe, vários servidores e até alguns estagiários eram mais velhos que eu. Eles tinham 22, 23 anos, e eu só tinha 20. Foi difícil conseguir ganhar o respeito de todo mundo”, lembra o rapaz. 

Além de superar esse desafio, Gustavo progrediu rapidamente na PGR, onde já foi chefe de cartório, chefe de núcleo e gerente administrativo. Hoje, aos 25, ocupa o cargo de secretário adjunto processual, um dos mais altos para quem entra no órgão como técnico administrativo. Em sua atual função, ele chefia uma equipe de 120 pessoas, responsável por padronizar o recebimento de processos das unidades do Ministério Público Federal de todo o país. Entre vencimentos e gratificações, seu salário é de aproximadamente R$ 12 mil. 

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Ele atribui a ascensão rápida à vontade de compartilhar o conhecimento. “Por ser jovem, consegui trazer uma dinâmica diferente nos setores por onde passei. Conhecia novas ferramentas e novos modos de se relacionar, como as redes sociais.” Uma das ideias de Gustavo, de montar um site de consulta similar à Wikipedia para todos os servidores do MPF, foi considerada como projeto prioritário pelo órgão e deve ser liberada para o público até o próximo mês. 

Cinco anos de muitos desafios Thiago Henrique Souza, 25 anos 

Órgão: Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Idade em que ingressou no serviço público: 20 anos 

Com apenas 25 anos, Thiago Henrique Souza pode dizer que tem muita experiência no serviço público. Ele já atuava no setor antes mesmo de passar em seu primeiro concurso, prestando serviços na área de tecnologia da informação para o Banco Central. A aprovação veio aos 20, no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), enquanto ainda cursava a faculdade de processamento de dados. No ano seguinte, ele deixou o órgão para tomar posse no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Entretanto, as maiores ascensões na carreira ocorreram quando Thiago passou a trabalhar com outras áreas. No Dnit, ele continuou no setor de tecnologia, mas sua atuação também envolvia planejamento estratégico. Quando foi para o TSE, o servidor seguiu a mesma linha de atuação até, alguns meses depois, assumir um projeto de gestão da qualidade em seu setor. “Gostei muito da área e, como tinha acabado a faculdade, resolvi fazer uma especialização”, conta o jovem, cujo cargo para o qual foi aprovado tem remuneração inicial de cerca de R$ 4 mil. 

A experiência e o curso de pós-graduação capacitaram Thiago para a função atual, na chefia do escritório de gestão da qualidade do TSE, ligado à diretoria-geral e responsável por implantar e manter o certificado ISO 9001 no tribunal. Além disso, o rapaz participou de projetos de alcance nacional do órgão, como o recadastramento biométrico de eleitores em todo o país. 

Thiago acredita que há oportunidades para não deixar a carreira estagnar dentro do serviço público. “Você tem a possibilidade de crescer lá dentro, almejar cargos. Eu me sinto bastante realizado por participar de grandes projetos, que demandam atuação no país todo.” 

 

O diploma veio depois da aprovação Cintia Silva, 27 anos 

Órgão: Ministério das Cidades Idade em que ingressou no serviço público: 21 anos 

Cintia Silva sempre estudou em escola pública e, aos 18 anos, ingressou na Universidade de Brasília (UnB) para cursar arquivologia. Lá, ela percebeu que o caminho mais vantajoso em termos de remuneração e aprendizado seria o dos concursos. “A arquivologia tem um conteúdo mais voltado para atender às demandas do serviço público, é um currículo direcionado para essa área.” afirma. Contudo, ela não conseguiu esconder a surpresa quando foi aprovada, ainda no sexto semestre de graduação, para o cargo de arquivista no Ministério das Cidades. 

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Cintia fez o concurso motivada pelos irmãos, que prestariam as provas para nível médio. Ela não chegou a estudar especificamente para a avaliação. “Sabia o conteúdo por ainda estar na graduação”, lembra. Desde que assumiu o cargo, aos 21, sempre buscou se aprimorar, com cursos de especialização e auxiliando o coordenador do setor de documentação. Com a saída do chefe, ela foi convidada a substituí-lo. “Eu sempre o ajudava e conhecia bem o trabalho. Com isso, a passagem para a coordenação foi natural.” 

Hoje, aos 27, a servidora coordena toda a equipe de documentação do ministério, recebendo, com as gratificações, cerca de R$ 8 mil. Ela diz que a idade nunca foi problema para assumir as responsabilidades. “As pessoas respeitam bastante, conversam, nos ajudam. Nossa equipe é jovem, a maioria tem por volta de 30 anos”, explica. 

Mesmo com a nova função, Cintia não deixou de se especializar. Está concluindo um curso de gestão pública e pretende iniciar o mestrado ainda este ano, além de prestar outros concursos com remuneração maior. Para ela, serviço público não diminui a vontade de crescer na carreira. “A pessoa precisa saber que há várias oportunidades.” 

Primeiro emprego, primeiro colocado Bruno Pereira Rezende, 23 anos 

Órgão: Ministério das Relações Exteriores (MRE) Idade em que ingressou no serviço público: 22 anos 

Durante o curso de relações internacionais, Bruno Pereira Rezende tomou uma decisão comum a quem opta por essa graduação: encarar o difícil concurso do Ministério das Relações Exteriores (MRE), ou Itamaraty, um dos mais concorridos do país. Ano passado, 7.180 pessoas disputaram 26 postos — uma relação de 275,16 candidatos por vaga. O jovem superou todos os concorrentes e, aos 22 anos e sem qualquer experiência profissional anterior, ocupou a primeira colocação do certame. 

Atualmente, aos 23, Bruno é o mais novo da sua turma no Instituto Rio Branco, que ministra o curso de formação obrigatório aos aprovados na seleção, com duração de um ano e meio. Em agosto, começará o estágio no Itamaraty. “No início, eu achei que pudesse ficar um pouco deslocado por causa da idade. Tenho colegas que vieram de outras profissões, moraram fora do país por muito tempo. E nem estágio eu cheguei a fazer. É o primeiro emprego da minha vida”, conta o servidor. 

Embora já tenha sido aprovado e receba a remuneração inicial de R$ 12.962,12, Bruno precisará de muito tempo para alçar voos maiores na carreira. Atualmente, ele é terceiro-secretário, o mais baixo dos seis postos da hierarquia no MRE. Para chegar ao patamar mais alto, o de ministro de primeira classe, também chamado de embaixador, é preciso ter, no mínimo, duas décadas de serviço, além de fazer mais cursos de preparação no Instituto Rio Branco. 

O jovem não se arrepende de ter ingressado cedo no Itamaraty. “Tenho aprendido muito sobre muitas coisas”, conta. Ele também não se intimida com a perspectiva de precisar de um longo tempo até subir na carreira. “Diferentemente de outros órgãos públicos, nós temos uma estrutura privilegiada. Mesmo que você fique no Brasil, há uma rotatividade muito grande. Uma hora você trabalha com direitos humanos, depois com meio ambiente, depois com a Europa… aqui dizem que, a cada dois anos, a gente muda de emprego”, brinca o servidor. 

Assessor jurídico, professor e escritor Elyesley Silva, 24 anos 

Órgão: Câmara dos Deputados Idade em que ingressou no serviço público: 18 anos 

No fim do ensino médio, Elyesley optou por um caminho diferente do convencional: em vez de entrar em uma faculdade e, depois, buscar o mercado de trabalho, ele decidiu arrumar um emprego para então cursar o ensino superior. “Preferi desde cedo conquistar a independência financeira, de modo que pudesse custear a minha graduação”, justifica. Já no terceiro ano (atual nona série), ele conciliou a escola com cursinhos preparatórios para concursos. 

Elyesley precisou de 10 tentativas até conseguir a primeira aprovação, no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aos 18 anos. “Tive uma fase de adaptação, mas continuei acreditando que era possível alcançar meu objetivo”, afirma. O sucesso veio praticamente na mesma medida: o servidor foi aprovado em oito concursos, a ponto de poder recusar alguns. Do IBGE, ele foi para o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (Dnit) e, pouco depois, migrou para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde ficou por quatro anos. Na Câmara dos Deputados, entrou como técnico legislativo, cargo que tem remuneração inicial de R$ 5 mil. Hoje, é assessor jurídico. Analisa os contratos que a Casa firma na área de tecnologia da informação. 

Durante essa trajetória de aprovações, Elyesley também passou a dar aulas de direito administrativo em cursos preparatórios e publicou cinco livros. “Fiz tudo com base na minha experiência. Eu queria dizer, de maneira nua e crua, o que fiz para passar em tantos cursos”, explica o servidor. Mesmo com essa ascensão rápida, Elyesley vê possibilidades de

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mais crescimento. “Quem entra cedo tem muito tempo pela frente para consolidar seu trabalho e sua reputação.” Ele também acredita que ingressar em órgãos públicos não impede os jovens de buscar uma carreira na iniciativa privada. “O serviço público proporciona isso, desde que não prejudique as atribuições exigidas pelo cargo”, salienta. 

Conheça a história de nove pessoas, de 21 a 30 anos, que entraram no serviço público logo após a faculdade ou antes mesmo disso. Elas ganham bem e descartam qualquer tipo de estagnação profissional 

Delegado aos 23 anos João Thiago Oliveira, 30 anos Órgão: Polícia Federal 

Idade em que ingressou no serviço público: 19 anos 

 

á no início do curso de direito, João Thiago Oliveira decidiu que queria ser delegado. “Das opções que eu via, essa era a que achava mais interessante, pois poderia trabalhar diretamente com as vítimas e as testemunhas e ir a campo traduzir a cena do crime para a linguagem jurídica.” Ele chegou a experimentar outras áreas — entrou no serviço público aos 19, passando pela Justiça Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça —, mas não gostou muito e decidiu focar em seu objetivo profissional. Aos 23, conseguiu o que desejava: foi aprovado no concurso para delegado da Polícia Federal. Ainda estava na faculdade. “Quando prestei o concurso, teve uma greve onde estudava (a Universidade de Brasília), permitindo que eu estudasse para o certame”, conta. A remuneração inicial do cargo de delegado da PF é de R$ 13 mil e pode chegar a R$ 19 mil. 

Outro ponto que levou João a escolher essa carreira foi a chance de trabalhar com casos variados em locais diferentes. “Enquanto a maioria tem uma rotina definida, atuando em um só local, aqui você pode mudar de cidade”, analisa. Foi exatamente o que aconteceu com o jovem delegado, que tomou posse em Araguaína (TO) e morou no estado nortista por quatro anos antes de retornar para Brasília. Hoje, ele atua na Delegacia de Polícia Fazendária. 

Para João, ter assumido o cargo de delegado com pouca idade o ajudou no começo da profissão. “Facilitou não ter filhos e não ser casado, principalmente na Região Norte, em que há muitas missões em Tocantins ou em estados vizinhos. Quando fui para lá, era um período em que a PF estava fazendo muitas operações, então, às vezes, pegava uma missão de dois ou três dias para cumprir um mandado”, conta. 

A jovem docente da UnB Ludmila Souza, 25 anos 

Órgão: Universidade de Brasília (UnB) Idade em que ingressou no serviço público: 24 anos 

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Ludmila Souza sempre foi uma aluna aplicada e, como queria atuar com pesquisa acadêmica, viu no serviço público um caminho natural para a carreira. Iniciou a graduação em ciências contábeis na Universidade de Brasília (UnB) com 17 anos, terminou aos 21 e logo emendou o mestrado, quando teve contato com a docência pela primeira vez. 

A paixão por dar aulas foi à primeira vista. Quando passou no concurso, aos 24, era a professora mais jovem do quadro da universidade. Na primeira vez dentro de sala, os estudantes questionavam sobre quem era o professor. “Perguntavam se era trote, não acreditavam que eu era a professora. Mas isso foi só no começo”, conta Ludmila. Quando ela foi aprovada no concurso, estava com cerca de 60% do mestrado concluído. Como precisava do título para assumir o cargo, precisou correr com os estudos. Ela fez o curso em 15 meses, quando o período regular é de dois anos. Com a remuneração mensal de cerca de R$ 6,2 mil, além de garantir a independência financeira, Ludmila já conseguiu comprar apartamento e carro próprio. 

Sobre a possibilidade de o serviço público ser desestimulante, a jovem argumenta: “Minha carreira é muito interessante e dinâmica, e você conhece várias pessoas”. O que mais lhe agrada é saber que suas aulas incentivam os alunos a continuar pesquisando, embora admita que essa carreira não é muito valorizada no Brasil. Para o futuro, Ludmila espera cursar o doutorado e continuar estudando. 

Satisfeito com o patrão Pedro Simões, 25 anos Órgão: Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) Idade em que ingressou no serviço público: 24 anos 

Ao entrar na faculdade de jornalismo, ingressar no serviço público era uma ideia que nem passava pela cabeça de Pedro Simões. Mas, quando foram abertas as inscrições para o último concurso do Ministério Público da União (MPU), ele considerou a ideia. “É uma instituição que respeito e que tem um trabalho legal. A oportunidade apareceu e achei que tinha tudo a ver”, justifica. Após prestar algumas seleções e se dedicar por três meses apenas à preparação para a prova do MPU, em junho de 2011 o jovem foi nomeado. 

Pedro é analista de comunicação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que fiscaliza a atuação do órgão. No dia a dia, é responsável por gravar as sessões e editar o site e as contas de redes sociais do conselho. Sua remuneração mensal fica em torno de R$ 7,2 mil. Para ele, o bom salário serve como segurança para tentar outros projetos. “Muita gente enxerga o serviço público como plano de aposentadoria, mas não precisa ser assim”, opina. Fora do horário de expediente, Pedro faz trabalhos como freelancer e cursos. “Você pode usar como ponto de partida para o que você quiser, sem enfrentar angústias existenciais sobre como vai pagar aluguel ou se vai ser demitido depois que o chefe brigar com você.” Ingressar cedo não foi um problema para Pedro, pois seu local de trabalho também tem pouco tempo de funcionamento. O CNMP foi criado em 2005, e os primeiros concursados chegaram em 2011. “Apesar de ter servidores mais antigos, a maior parte do quadro é muito nova. O clima é dinâmico, com gente jovem, querendo trabalhar. Quando você propõe uma ideia, as pessoas não vêm dizer que ‘não é assim que se faz’”, descreve o servidor. 

A caçula do TJDFT Emmanuelle Santos Costa, 21 anos 

Órgão: Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Idade em que ingressou no serviço público: 18 anos 

Como muitos que concluem o ensino médio no Distrito Federal, Emmanuelle Santos Costa tinha o sonho de estudar na UnB. Queria cursar direito, mas, por conta da alta concorrência no vestibular, escolheu química. Ao mesmo tempo, pretendia ganhar seu próprio dinheiro e não mais depender financeiramente dos pais. Priorizou o segundo objetivo: após um semestre, trancou a faculdade e passou a se dedicar aos concursos. 

“Química não era bem o que eu gostava e com ela eu demoraria mais tempo para ganhar dinheiro”, explica. Na mesma época, sua mãe havia acabado de perder o emprego e, com isso, Emmanuelle sentiu a necessidade de ter uma remuneração maior do que as recebidas em seus empregos anteriores, como recepcionista e atendente de call center. Com oito meses de estudos, passou na prova de técnico do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), aos 18 anos. O emprego, com salário de aproximadamente R$ 3,6 mil, deu a Emmanuelle condições para voltar ao ensino superior — desta vez, no sonhado curso de direito. “Pude pagar minha mensalidade, comprar meus livros. Além disso, estou na área jurídica. Então, o trabalho me ajuda na faculdade e vice-versa”, diz a jovem, que está no oitavo semestre. Ela pretende utilizar esse aprendizado como preparação para cargos mais altos e acredita que valeu o esforço de começar a trabalhar para, então, voltar a estudar. “Fiz o caminho inverso, mas não me arrependo. Para quem quer garantir a independência em relação aos pais, é uma boa alternativa.”

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“Para poucos serem imortais, muitos desse mundo devem morrer”

“do filme O preço do amanhã”

“O sistema, a ciência e a religião se combinaram para deixar bilhões cansados de viver, mas ao mesmo tempo

com medo de morrer.”