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http://www.aprh.pt/rgci/pdf/rgci-308_Oliveira.pdf DOI:10.5894/rgci308 A Gestão Costeira no Brasil e os dez anos do Projeto Orla. Uma análise sob a ótica do poder público * Coastal Management in Brazil and ten years of the Orla Project. An analysis from the government’s standpoint Revista da Gestão Costeira Integrada 12(1):89-98 (2012) Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012) Márcia Regina Lima de Oliveira 1 , João Luiz Nicolodi @, 2 * Submissão: 8 Novembro 2011; Avaliação: 5 Dezembro 2011; Recepção da versão revista: 6 Janeiro 2012; Aceitação: 30 Março 2012; Disponibilização on-line: 24 Abril 2012 @ - Corresponding author: [email protected] 1 - Ministério do Meio Ambiente, Gerenciamento Costeiro – GERCO, Esplanada dos Ministérios, bloco B. 9º andar, Brasília, DF, CEP 70068-900, Brasil. e-mail: [email protected] 2 - Universidade Federal de Rio Grande (FURG), Instituto de Oceanografia – Laboratório de Oceanografia Geológica – LOG, Av. Itália, km 8 S/N. Campus Carreiro. Rio Grande, RS, CEP 96201-900, Brasil. e-mail: [email protected] RESUMO A gestão costeira e marinha do Brasil dá-se a partir de espaços definidos pela legislação específica do tema, tais como ‘Mar Territorial’, ‘Zona Costeira’, entre outros. A partir de 2004 o Decreto 5.300, que regulamentou a Lei do Gerenciamento Costeiro no país, definiu um novo espaço geográfico de gestão do território: a Orla Marítima. No Brasil, uma das principais frentes de ação do Ministério do Meio Ambiente é o Projeto ORLA, que tem como objetivo otimizar o ordenamento dos espaços litorâneos sob domínio da União, aproximando as políticas ambiental, urbana e patrimonial. O presente artigo descreve os dez anos de existência do Projeto ORLA sob a ótica da situação legal dos espaços de orla marítima e praia, identificando as principais contribuições e entraves do referido projeto à gestão da zona costeira brasileira. Como principal conclusão, aponta-se para a necessidade de retomada do Projeto junto aos municípios atendidos, com foco na revisão dos Planos de Gestão da Orla e na definição das formas de apoio à implementação das ações propostas nos Planos de Gestão. Embora apresente problemas específicos, principalmente na implementação das ações supracitadas, o Projeto Orla pode ser considerado uma ação governamental exitosa, dada a consistente mobilização por parte da sociedade em torno de seus objetivos e por tratar-se de um projeto consolidado, com metodologia validada e amplamente aplicada ao longo de seus dez anos de existência. Palavras Chave: Praias, Zona Costeira, Projeto ORLA, Políticas Públicas, Gerenciamento Costeiro. ABSTRACT e coastal and marine management in Brazil was defined from specific legislation, such as ‘Territorial Waters’, ‘Coastal Zone’, among others. From 2004, Decree 5300, which regulated the Coastal Management Act in the country, set a new geographical area of land management: the seashore. In Brazil, one of the main line of action of the Ministry of Environment is the ORLA Project, which aimed to optimize planning of coastal areas under national jurisdiction, by harmonizing environmental, urban, and national heritage policies. is paper is a proposed study on Orla Project’s ten years of existence from a legal perspective; a review of the situation of coastlines and beaches, plus a description of the main contributions – as well as obstacles – of the Orla Project to management of the Brazilian coastal zone. As a main conclusion, pointing to the need to resume the project in the municipalities served, focusing on reviewing the seashore Management Plans and defining ways to support the implementation of actions proposed in the management plans. Although it has specific problems, especially in implementing the above actions, the Orla Project can be considered a successful government action; given the consistent mobilization by the society around their goals and that this is a consolidated project, with validated methodology and widely applied throughout its ten years of existence. Keywords: Beach’s, Coastal Zone, ORLA Project, Coastal Management, Public Policies

A Gestão Costeira no Brasil e os dez anos do Projeto Orla

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Trabalho publicado na Revista da Gestão Costeira Integrada.

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  • 1. Revista da Gesto Costeira Integrada 12(1):89-98 (2012) Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012) http://www.aprh.pt/rgci/pdf/rgci-308_Oliveira.pdf DOI:10.5894/rgci308 A Gesto Costeira no Brasil e os dez anos do Projeto Orla. Uma anlise sob a tica do poder pblico * Coastal ManagementinBrazil and tenyears of theOrlaProject. An analysis from thegovernments standpoint Mrcia Regina Lima de Oliveira 1, Joo Luiz Nicolodi @, 2Resumo A gesto costeira e marinha do Brasil d-se a partir de espaos definidos pela legislao especfica do tema, tais como Mar Territorial,Zona Costeira, entre outros. A partir de 2004 o Decreto 5.300, que regulamentou a Lei do Gerenciamento Costeiro no pas, definiuum novo espao geogrfico de gesto do territrio: a Orla Martima. No Brasil, uma das principais frentes de ao do Ministrio doMeio Ambiente o Projeto ORLA, que tem como objetivo otimizar o ordenamento dos espaos litorneos sob domnio da Unio,aproximando as polticas ambiental, urbana e patrimonial. O presente artigo descreve os dez anos de existncia do Projeto ORLA soba tica da situao legal dos espaos de orla martima e praia, identificando as principais contribuies e entraves do referido projeto gesto da zona costeira brasileira. Como principal concluso, aponta-se para a necessidade de retomada do Projeto junto aos municpiosatendidos, com foco na reviso dos Planos de Gesto da Orla e na definio das formas de apoio implementao das aes propostasnos Planos de Gesto. Embora apresente problemas especficos, principalmente na implementao das aes supracitadas, o Projeto Orlapode ser considerado uma ao governamental exitosa, dada a consistente mobilizao por parte da sociedade em torno de seus objetivose por tratar-se de um projeto consolidado, com metodologia validada e amplamente aplicada ao longo de seus dez anos de existncia.Palavras Chave: Praias, Zona Costeira, Projeto ORLA, Polticas Pblicas, Gerenciamento Costeiro.Abstract The coastal and marine management in Brazil was defined from specific legislation, such as Territorial Waters, Coastal Zone, amongothers.From2004, Decree5300, which regulatedtheCoastal ManagementActin the country,set a new geographical areaof land management:theseashore.In Brazil,oneof the mainline of actionof the Ministry ofEnvironmentis theORLAProject, whichaimed to optimize planning ofcoastal areas under national jurisdiction, by harmonizing environmental, urban, and national heritage policies. This paper is a proposed studyon Orla Projects ten years of existence from a legal perspective; a review of the situation of coastlines and beaches, plus a description of the maincontributions as well as obstacles of the Orla Project to management of the Brazilian coastal zone. As a mainconclusion,pointingtotheneed toresumethe projectin the municipalities served,focusing onreviewing theseashoreManagement Plansand definingways to support theimplementation ofactionsproposed in themanagement plans.Although it hasspecific problems, especiallyin implementing theaboveactions,theOrla Projectcan be consideredasuccessfulgovernment action;giventhe consistent mobilizationby the societyaround theirgoalsandthat thisisaconsolidated project, with validated methodologyandwidely appliedthroughout itsten yearsof existence.Keywords: Beachs, Coastal Zone, ORLA Project, Coastal Management, Public Policies@ - Corresponding author: [email protected] - Ministrio do Meio Ambiente, Gerenciamento Costeiro GERCO, Esplanada dos Ministrios, bloco B. 9 andar, Braslia, DF, CEP 70068-900, Brasil.e-mail: [email protected] - Universidade Federal de Rio Grande (FURG), Instituto de Oceanografia Laboratrio de Oceanografia Geolgica LOG, Av. Itlia, km 8 S/N. CampusCarreiro. Rio Grande, RS, CEP 96201-900, Brasil. e-mail: [email protected]* Submisso: 8 Novembro 2011; Avaliao: 5 Dezembro 2011; Recepo da verso revista: 6 Janeiro 2012; Aceitao: 30 Maro 2012; Disponibilizao on-line: 24 Abril 2012
  • 2. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012)1. Introduo Tais definies no nascem em um rompente de impulso A Constituio Federal de 1988 consagrou o meio legislador, e sim so derivadas de alguns anos de experinciaambiente como bem de uso comum, e declarou a Zona do Ministrio do Meio Ambiente na execuo do ProjetoCosteira como patrimnio nacional. O conceito de ORLA, que foi implementado em 2001 e encontra-se empatrimnio nacional tem o significado de domnio eminente, plena execuo no ano de 2011, quando completou seus 10isto , de um conjunto de poderes outorgados sociedade anos de atividade.que, independente de qualquer outro ttulo, condiciona ou O Projeto Orla consiste em uma ao integrada entre osubmete todos os outros direitos sobre as coisas, inclusive a MMA e a Secretaria do Patrimnio da Unio (SPU/MPOG),propriedade privada ou publica. visando otimizar o ordenamento dos espaos litorneos sob Ao declarar a zona costeira patrimnio nacional, a domnio da Unio, no caso em questo a orla, aproximandoConstituio afirmou um princpio jurdico que sustenta as polticas ambiental, urbana e patrimonial.toda a aplicao da legislao federal e estadual relativa A experincia acumulada em dez anos de existncia dozona costeira, gerando assim, um sistema de alta coerncia projeto o objeto do presente artigo, sendo que a mesmae eficcia. ser analisada sob a tica da situao legal dos espaos de orla Neste contexto, o Plano Nacional de Gerenciamento martima e praia, identificando as principais contribuiesCosteiro - PNGC foi institudo pela Lei n. 7.661 em do ORLA gesto costeira brasileira. Constitui-se tambm1988 (D.O.U., 1988) e regulamentado em 2004 por em objeto do presente estudo, a identificao e discussomeio do Decreto n 5.300 (D.O.U., 2004). O PNGC dos principais entraves execuo das metas estabelecidascoordenado pelo Ministrio do Meio Ambiente (MMA) e pelo poder executivo para essa poro do territrio brasileiro.tem como um dos objetivos principais o ordenamento dos Para tanto, faz-se premente contextualizar a Zona Costeirausos na zona costeira visando a conservao e proteo dos Brasileira (ZCB) no mbito legal, analisando seus principaisrecursos costeiros e marinhos. O processo de gesto da zona componentes territoriais, tanto de cunho natural quantocosteira desenvolvido de forma integrada, descentralizada e social.participativa, sendo que a responsabilidade de formulao eimplementao dos planos regionais e locais de gerenciamento 2. A Zona Costeira Brasileiracosteiro atribuda aos estados e municpios costeiros. A delimitao da zona costeira no Brasil baseia-se em A Zona Costeira Brasil (ZCB) se estende da foz do riocritrios polticos e administrativos. A poro terrestre Oiapoque (045245N) foz do arroio Chu (334510S)delimitada pelos limites polticos dos municpios litorneos e dos limites dos municpios da faixa costeira, a oeste, at ase contguos conforme os Planos Estaduais de Gerenciamento 200 milhas nuticas, incluindo as reas em torno do AtolCosteiro, enquanto a poro marinha delimitada pela das Rocas, dos arquiplagos de Fernando de Noronha eextenso do Mar Territorial (12 milhas nuticas ou 22,2kma partir da linha de base). de So Pedro e So Paulo e das ilhas de Trindade e Martin Em termos legais, a partir de 2004 institui-se um novo Vaz, situadas alm do citado limite martimo (Figura 1).espao de gesto territorial: a Orla Martima, que foi definida Essa configurao espacial definida por um conjunto deno Artigo 22 do Decreto 5.300 D.O.U., 2004) como a faixa leis e decretos publicados pelo Governo Federal nas ltimascontida na zona costeira, de largura varivel, compreendendo duas dcadas, alguns dos quais decorrentes de acordosuma poro martima e outra terrestre, caracterizada pela internacionais assinados pelo Brasil, entre os quais se destacainterface entre a terra e o mar. a Conveno das Naes Unidas sobre o Direito do Mar J o Artigo 23 do mesmo Decreto define os critrios (CNUDM). A faixa terrestre, de largura varivel, se estendepara delimitao da orla martima, sendo eles: I limite por aproximadamente 10.800 quilmetros ao longo da costa,martimo: isbata de dez metros, profundidade na qual se contabilizadas suas reentrncias naturais, e possui uma reaa ao das ondas passa a sofrer influncia da variabilidadetopogrfica do fundo marinho, promovendo o transporte de de aproximadamente 514 mil km2, dos quais 324 mil km2sedimentos; II limite terrestre: cinquenta metros em reas correspondem ao territrio de 395 municpios distribudosurbanizadas ou duzentos metros em reas no urbanizadas, ao longo dos 17 estados litorneos (Zamboni & Nicolodi,demarcados na direo do continente a partir da linha de 2008).preamar ou do limite final de ecossistemas, tais como as A ZCB, por sua beleza singular e grande biodiversidade,caracterizadas por feies de praias, dunas, reas de escarpas, reconhecida como Patrimnio Nacional na Constituiofalsias, costes rochosos, restingas, manguezais, marismas, Federal, correspondendo ao espao geogrfico de interaolagunas, esturios, canais ou braos de mar, quando do ar, do mar e da terra (incluindo seus recursos), abrangendoexistentes, onde esto situados os terrenos de marinha1 e seus uma faixa martima e uma faixa terrestre.acrescidos. A carta magna identifica as praias martimas, os terrenos de marinha e seus acrescidos, o mar territorial, as ilhas ocenicas1 - Conforme o Decreto-Lei 9760/46, que lista os bens da Unio, os terrenos e costeiras como bens da Unio. Tal identificao se d emde marinha so: funo da importncia destes espaos defesa da soberania- os que ocupam a faixa litornea de terra 33 metros medida a partir da nacional, conservao do meio ambiente, proteo aoslinha das reas inundadas pela mar alta do ano de 1831;- os situados no continente, na costa martima e nas margens dos rios e povos indgenas (habitantes e proprietrios originais dolagoas, at onde se faa sentir a influncia das mars; territrio brasileiro), ao controle sobre a explorao dos- os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faa sentir a influncia recursos naturais e garantia da propriedade sobre os imveisdas mars. adquiridos pela Unio. - 90 -
  • 3. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012) O conceito de patrimnio nacional tem o significado O patrimnio natural contido na zona costeira do Brasilde domnio eminente, isto , de um conjunto de poderes pode ser qualificado como de grande valor ambiental,outorgados sociedade que, independente de qualquer outro apresentando recursos altamente valiosos, tanto do pontottulo, condiciona ou submete todos os outros direitos sobre de vista ecolgico quanto socioeconmico. Contudo, esteas coisas, inclusive a propriedade privada ou publica. Ao patrimnio encontra-se sob crescente risco de degradao,declarar a zona costeira patrimnio nacional, a Constituio proporcionalmente presso da ocupao antrpicaafirmou um princpio jurdico que sustenta toda a aplicao desordenada (Freire, 2002).da legislao federal e estadual relativa zona costeira, Podem ser apontados como principais vetores degerando assim, um sistema de alta coerncia e eficcia. desenvolvimento, que vm alterando a configurao de uso A Constituio Federal reconhece ainda trs outros e ocupao desse espao, a urbanizao, a industrializaodireitos coletivos que precisam ser tratados no mbito (petrleo e gs, os complexos industriais e porturios),do gerenciamento costeiro integrado: os direitos ao a explorao turstica e imobiliria (implantao deplanejamento das cidades, ao meio ambiente equilibrado e loteamentos, condomnios verticais e horizontais para fins de participao popular na gesto das cidades. Consolidado segunda residncia, grandes empreendimentos tursticos) e ano Estatuto da Cidade (Lei Federal n10.257/01) (D.O.U., maricultura. Cabe ressaltar que embora alguns vetores no2001), a propriedade da terra, seja ela pblica ou privada, estejam diretamente localizados no espao da orla martima,deve cumprir uma funo socioambiental. acabam por exercerem forte presso sobre ela, requerendo Neste contexto institudo, tambm em 1988, pela cuidados especiais, principalmente pelos aspectos conflitantesLei n. 7.661 (D.O.U., 1988c). o Plano Nacional de com a beleza cnica (Freire, 2004).Gerenciamento Costeiro PNGC, como parte integrante Neste contexto, torna-se imperativa a atuao do poderdas polticas de Recursos de Mar (Decreto no 74.557/1974) pblico enquanto mediador dos processos de planejamento(D.O.U., 1974). e de Meio Ambiente (Lei n. 6.938/1981) desta poro do territrio nacional, em conformidade com(D.O.U., 1981). O PNGC visa orientar a utilizao racional os conceitos e aspectos legais que orientam a formulaodos recursos na Zona Costeira de forma a contribuir para dos instrumentos de gesto costeira. A aplicao desteselevar a qualidade de vida de sua populao, e, tambm, instrumentos e seu respectivo impacto na sociedadea proteo do seu patrimnio natural, histrico, tnico e depender, em grande medida, do grau de prioridade dada cultural. A zona costeira do Brasil constituda pelo mar gesto costeira pelas trs esferas governamentais e do poderterritorial e pelo conjunto dos territrios dos municpios de participao da sociedade civil organizada.litorneos. A populao residente na zona costeira atinge quase 44 3. Um novo espao de gesto: A Orlamilhes de habitantes, com uma densidade populacional de Martima135 hab/km2 (seis vezes a mdia nacional). Destaca-se que 16 A orla espao de multiuso sujeito a srios conflitosregies metropolitanas brasileiras encontram-se beira-mar, socioambientais resultantes do seu processo de uso erepresentando mais de 35 milhes de habitantes cerca de ocupao, constituindo a borda martima imediata a escala20% da populao do pas - em menos de 1% do territrio de planejamento definida como zona costeira (Moraes,nacional. 2007). Entende-se como orla o espao imediato de contato Essas reas de adensamento populacional na costa entre os meios terrestre e marinho, cujos limites, definidoconvivem com amplas extenses de povoamento disperso no Decreto n. 5.300/2004 (D.O.U., 2004), so, na zonae rarefeito. So os habitats das comunidades de pescadores marinha, at a isbata de 10 m e, na zona terrestre, 50m emartesanais, dos remanescentes de quilombos, de tribos reas urbanizadas ou 200 metros em reas no urbanizadas,indgenas e de outros agrupamentos imersos em gneros demarcados na direo do continente a partir da linha dede vida "tradicionais". Tais reas, pelo nvel elevado de preamar ou do limite final de ecossistemas, tais como reaspreservao de seus ecossistemas, vo se constituir naquelas de de escarpa, falsias, manguezais, entre outros (figura 2).maior relevncia para o planejamento ambiental preventivo A proposta de delimitao adotada combina os critrios(Zamboni & Nicolodi, 2008). de fragilidade e/ou vulnerabilidade natural com as situaes e Em estudo coordenado pelo MMA referente s reas ritmos de ocupao ocorrentes no litoral brasileiro. Estabelece,Prioritrias para a Conservao, Uso Sustentvel e Repartio portanto, uma faixa de proteo da costa na perspectiva dede Benefcios da Biodiversidade Brasileira da Zona Costeira manter as caractersticas paisagsticas e prevenir quanto e Marinha destacam-se que, em mais de 50% das reas elevao do nvel do mar, contemplando o "princpio daidentificadas, a importncia biolgica foi classificada como precauo" (Freire, 2002).extremamente alta, com recomendaes de aes de criao De acordo com o Decreto n.5.300/2004 (D.O.U.,de diferentes categorias de Unidades de Conservao 2004), a gesto da orla martima tem como objetivo(UCs), de recuperao de reas degradadas e/ou espcies planejar e implementar aes nas reas que apresentemameaadas, de criao de mosaicos e corredores ecolgicos maior demanda por intervenes na zona costeira, a fim dee de ordenamento pesqueiro (Zamboni & Nicolodi, 2008). disciplinar o uso e ocupao do territrio. A norma prevEm contraste a esta situao, somente 1,5% da zona costeira que ser elaborado o Plano de Interveno da Orla Martima,e marinha encontra-se protegida no mbito do Sistema de modo participativo com o colegiado municipal, rgos,Nacional de Unidades de Conservao - SNUC (MMA, instituies e organizaes da sociedade. Dispe ainda que o2010). uso e ocupao da orla martima devem ser compatibilizados - 91 -
  • 4. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012) Figura1. Delimitao da zona costeira brasileira, com destaque para os municpios que compem sua poro terrestre e o limite da Zona Econmica Exclusiva (200 milhas nuticas). Figure 1. Delimitation of theBraziliancoastal zone, especiallyfor municipalities thatcompose the onshore portionand the limitof theExclusive Economic Zone(200nautical miles).Figura 2. Desenho esquemtico da orla martima do Brasil, segundo metodologia proposta no Projeto ORLA (Freire, 2002).Figure 2. Schematic drawingof the waterfrontof Brazil,according to the methodology proposed in the ORLA Project (Freire, 2002). - 92 -
  • 5. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012)com o Zoneamento Ecolgico Econmico Costeiro (ZEEC) complexos navais e outros complexos nuticos, desenvolvimentoou outros instrumentos similares de ordenamento do uso do do turismo, de atividades pesqueiras, da aquicultura, daterritrio. explorao de petrleo e gs natural, de recursos hdricos e Dentre o contexto legal que envolve a aplicao dos minerais, aproveitamento de energia hidrulica e outrosinstrumentos previstos para a gesto costeira, destaca-se empreendimentos considerados de interesse nacional... uma peculiaridade da orla martima de natureza jurdica: A Lei de Crimes Ambientais (n. 9.605/98) prevsua dominialidade, em grande parte, pertence Unio, penalidades nos casos em que se promovam alteraes ementretanto, sujeita aos instrumentos de ordenamento local especialmente protegido por lei, a exemplo da zonamunicipal decorrente do Estatuto das Cidades. costeira, praia e manguezais. Tambm esto sujeitas a pena O Decreto Lei n 9.760/46 (D.O.U., 1946) define os e multa as construes em solo no edificvel, ou no seuterrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e entorno, sem autorizao da autoridade competente ou emtrs) metros, medidos horizontalmente, para a parte da terra, da desacordo com a concedida.posio da linha da preamar mdio de 1831: a) Os situados nocontinente, na costa martima e nas margens dos rios e lagos, at 4. O Conceito de Praias alm dosonde se faa sentir a influncia das mars; b) Os que contornam depsitos sedimentaresas ilhas situadas em zonas onde se faa sentir a influncia dasmars. Os acrescidos de marinha so formados, naturalmente, Consideradas como um dos principais atrativospela ao dos ventos e das guas, ou artificialmente, e esto tursticos no Brasil, as praias correspondem a uma rea delocalizados na costa martima do litoral brasileiro, no continente aproximadamente 82.800 hectares, sendo que apenas 2,7%e nas margens dos rios e lagoas, at onde ocorre a influncia das esto inseridas em territrios protegidos por Unidades demars. Conservao de proteo integral. No caso de Unidades de Os terrenos de marinha e seus acrescidos compreendem Conservao de uso sustentvel, este percentual sobe parauma faixa que, originariamente, foi reservada Unio por 21,5%, totalizando algo em torno de 24% (MMA, 2010).razes de aproveitamento econmico e defesa da Nao. Segundo a Lei n. 7.661/88 (D.O.U., 1988c), entende-Entretanto, luz da Constituio Federal de 1988, trata- se por praia a rea coberta e descoberta periodicamente pelasse de um espao estratgico para polticas pblicas como a guas, acrescida da faixa subsequente de material detrtico, talregularizao fundiria, ordenamento das cidades, proteo como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, at o limite onde sedo meio ambiente e das comunidades tradicionais e de apoio inicie a vegetao natural, ou, em sua ausncia, onde comeceao desenvolvimento sustentvel, conferindo aos bens da outro ecossistema.Unio sua funo socioambiental (Saule Junior, 2006). Em seu Art. 10, a praia conceituada como bens pblicos Segundo o Decreto n. 5.300/2004 (D.O.U., 2004), que de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e francoestabelece critrios para gesto da orla, as aes de gesto de acesso a elas e ao mar, em qualquer direo e sentido, ressalvadosreas de domnio da Unio, previstas no Plano de Interveno, os trechos considerados de interesse de segurana nacional oupodero ser objeto de convnios e contratos entre a Secretaria includos em reas protegidas por legislao especfica. Destado Patrimnio da Unio e os Municpios. Os terrenos de forma, no ser permitida a urbanizao ou qualquer formamarinha e seus acrescidos tm sua destinao de uso sob de utilizao do solo na Zona Costeira que impea oudiferentes regimes, como permisso de uso e concesso de dificulte o acesso praia.direito real de uso resolvel, locao, arrendamento, alienao, Os bens de uso comum do povo so destinados ao usoocupao, cesso e aforamento (que pode ser gratuito ou coletivo, podendo ser usados indistintamente pelas pessoas,oneroso). A cesso pode se dar de forma onerosa, gratuita em igualdade de condies. So inalienveis (no podem(para finalidades de cunho social) e especial, para atividades ser transmitidos, mediante doao, venda, permuta),diversas, tais como reservas extrativistas aquicultura, portos, imprescritveis (no podem ser objeto de usucapio),marinas, trapiches e embarcadouros, entre outros. Sempre impenhorveis (no podem ser transferidos foradamente,observando o interesse social, os encargos, normas e restries seja para garantir a execuo de um ttulo judicial ouda cesso originria (Freire, 2004). extrajudicial) e insuscetveis de serem onerados (no podem Desta forma, a possibilidade de aes de gesto da orla ser dados em garantia por uma dvida contrada pelo poderpode se dar tanto nos procedimentos de autorizao ou cesso pblico) (Saule Junior, 2006).para a utilizao dos terrenos de marinha e acrescidos, como De acordo com o Decreto Federal n. 5.300/2004na regularizao e inscrio de ocupaes ou na contratao (D.O.U., 2004), o Poder Pblico Municipal, em conjuntoda venda do domnio til para a constituio da enfiteuse ou com o rgo ambiental, assegurar no mbito do planejamentoaforamento. urbano, o acesso s praias e ao mar, ressalvadas as reas de O Decreto federal n. 3.725, de 10 de janeiro de 2001 segurana nacional ou reas protegidas por legislao especfica.(D.O.U., 2001), regulamenta a Lei n 9.636 (D.O.U., Nas reas j ocupadas por loteamentos beira mar sem acesso1998b), que dispe sobre a regularizao, administrao, praia, as reas de servido de passagem sero definidas eaforamento e alienao de bens imveis de domnio da Unio. implantadas pelo Poder Pblico Municipal, em conjuntoA norma prev a criao de reas para gesto ambiental, de com o rgo ambiental. Nas reas a serem loteadas, deverocomum acordo entre Unio, estados e municpios, para ser identificados os locais de acesso praia.implementao de projetos demonstrativos de uso sustentvel A Secretaria do Patrimnio da Unio, o rgo ambientaldos recursos naturais a ttulo de compensao por possveis e o Poder Pblico Municipal so os responsveis por definirimpactos decorrentes de: ... instalaes porturias, marinas, as diretrizes necessrias para a garantia do acesso a praia. - 93 -
  • 6. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012) Excepcionalmente, possvel atribuir aos particulares o expressar o consenso local do que se almeja para a orla douso temporrio desta categoria de bens, a exemplo das reas municpio. constitudo um Comit Gestor responsvel porcedidas para a realizao de eventos de natureza recreativa, supervisionar, de formar articulada com Comisso Tcnicaesportiva, cultural, religiosa ou educacional. Mas essa outorga Estadual e GI-GERCO, a implantao, monitoramento edo uso de curta durao e est vinculada ao cumprimento avaliao do Plano de Gesto3.da funo socioambiental do bem (Saule Junior, 2006).Dependendo do porte do evento o poder municipal pode 5.1 Os resultados obtidosexigir um Estudo de Impacto de Vizinhana. Como forma de sistematizar os resultados obtidos A Lei de Crimes Ambientais (Lei n. 9.605/98) prev durante os dez anos de existncia do ORLA pode-se definirpenalidades nos casos em que se dificulte ou impea o uso trs perodos distintos em termos de conjectura poltica,pblico das praias. J o Cdigo Florestal (Lei n. 4771/65) estratgia de ao e evoluo do escopo do projeto: entreestabelece como reas de preservao permanente, diversos 2001 e 2004, de 2004 a 2008 e de 2008 at 2011.ecossistemas costeiros, como restingas, dunas, , manguezais,mata ciliar entre outros, que so regulamentados por meio Primeira Fase: 2001 a 2004de Resolues CONAMA. O primeiro perodo diz respeito elaborao da metodologia, verificao e validao das etapas a serem5. Os dez anos de execuo do Projeto implementadas, e como qualquer novo projeto, de ajustes Orla metodolgicos em funo das anlises preliminares. A metodologia foi aplicada e validada em seis municpios, O Plano de Ao Federal da Zona Costeira (PAF), sendo trs deles estrategicamente localizados no Delta doinstrumento previsto no Decreto n.5.300/2004 (D.O.U., Parnaba, Piau: Cajueiro da Praia, Parnaba e Luiz Corra, os2004), visa o planejamento de aes estratgicas para a quais compem uma das regies mais paradoxais do Brasil,integrao de polticas pblicas incidentes na zona costeira, que apresenta ao mesmo tempo grande potencial turstico ebuscando responsabilidades compartilhadas de atuao de conservao da natureza, aliados a ndices de risco sociale estabelecendo o referencial acerca da atuao da Unio bastante elevados. Alm destes locais, a metodologia dona regio. Nessa perspectiva, um dos projetos prioritrios ORLA foi testada em Tibau do Sul (Rio Grande do Norte) eapontados no PAF o Projeto Orla, uma ao conjunta do nas capitais do Esprito Santo (Vitria) e de Santa CatarinaMMA e da SPU/MP, no mbito do Grupo de Integrao (Florianpolis).para o Gerenciamento Costeiro (GI-GERCO).2 Este perodo inicial foi tambm marcado pela publicao O Projeto Orla, que completa seus dez anos de criao dos materiais didticos de apoio, que contm a base, noem 2011, introduz uma ao sistemtica de planejamento somente metodolgica, mas tambm filosfica do projeto.da ao local visando gesto compartilhada desse espao, Este perodo coincide com o incio do incremento dasincorporando normas ambientais e urbanas na poltica atividades relacionadas a leo e gs no Brasil, principalmentede regulamentao dos usos dos terrenos e acrescidos de no que tange s bacias sedimentares de Santos e Campos,marinha, como um processo mais inclusivo de alocao de responsveis pela maior parte da produo de petrleo e gsrecursos e tomada de decises. Trata-se, portanto, de uma natural offshore nacional. Entre 2000 e 2005 o petrleo e opoltica estratgica que contribui para qualificar a tomada de gs natural obtidos a partir dos poos martimos nestas duasdeciso com vista a cumprir a funo socioambiental da orla bacias corresponderam, respectivamente, a 85% e 59% domartima. Suas linhas de ao esto embasadas em mtodos total. Em relao aos poos martimos, em 2005, o estado doque exploram fundamentos de avaliao paisagstica, a Rio de Janeiro respondeu por 96% da produo de petrleodinmica geomorfolgica e de uso e ocupao do litoral, e 77% da produo de gs do Brasil (Zamboni & Nicolodi,para pensar cenrios com rebatimentos na aplicao dos 2008).instrumentos de ordenamento do uso do solo para gesto da Evidentemente, os reflexos de tais atividades rebatemorla. A sua rea de abrangncia envolve 17 estados costeiros primordialmente na zona costeira e, mais especificamente, nae cerca de 300 municpios defrontantes. orla de tais localidades. Os municpios de Maca e Campos A implementao do Projeto Orla no nvel local inicia-se dos Goytacazes se destacam - em relao aos outros municpioscom a adeso municipal, por intermdio do rgo Estadual do norte fluminense - pelas densidades de ocupao e porde Meio Ambiente OEMA e da Gerncia Regional do concentrarem as atividades econmicas ligadas exploraoPatrimnio da Unio (GRPU/SPU) nos respectivos Estados, de petrleo e gs natural. No perodo 1991-2000, entre aspassando pela etapa de capacitao, que envolve os gestores localidades que apresentaram maiores taxas de crescimentolocais, universidades, sociedade civil organizada e entidades demogrfico esto os municpios litorneos Armao deprivadas, culminando com a estruturao do Plano de Gesto Bzios, Rio das Ostras, Iguaba Grande, Cabo Frio e Maca,Integrada da Orla (PGI) que pode envolver a orla municipal todos eles intrinsecamente envolvidos com as atividadescomo um todo ou atender s especificidades de setores petrolferas na bacia de Campos (Strohaecker, 2008).pr-selecionados. Uma vez elaborado, o Plano de Gesto Com intuito de fornecer subsdios para uma pactuao legitimado, por meio de audincia pblica, de forma a entre os diversos interesses conflitantes que se intensificavam2 - Supervisionado pela Comisso de Recursos do Mar (CIRM), conforme 3 - Cabe ressaltar que o Plano de Gesto Integrada da Orla (PGI) o equiva-previsto no Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGCII, 1997). lente ao Plano de Interveno, previsto no Decreto n. 5.300/2004. - 94 -
  • 7. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012)na regio, foram inseridos os seguintes municpios cariocas O ano de 2004 encerrado com I Seminrio Nacional dono Projeto Orla: Araruama, Iguaba Grande, So Pedro da Projeto Orla: Fortalecimento no mbito regional e local, queAldeia, Saquarema, Armao dos Bzios, Arraial do Cabo, reuniu representantes estaduais do gerenciamento costeiroCabo Frio, Casemiro de Abreu e Rio das Ostras, Campos e das Superintendncias do Patrimnio da Unio (SPUs),dos Goytacases, Carapebus, Maca, Quissam, Angra dos alm do MMA e SPU. O objetivo foi fazer um balizamentoReis, Mangaratiba e Paraty. conceitual e contribuir para a definio de procedimentos Alm destes, tambm passaram a fazer parte do escopodo projeto os Municpios de Macap e Santana (Amap), para conduo do Projeto nos estados envolvidos. AlmBeberibe e Icapu (Cear), Joo Pessoa e Cabedelo (Paraba), disso, neste perodo estabeleceu-se a assinatura dos primeirosCabo de Santo Agostinho e S. Jos da Coroa Grande vinte e oito convnios entre municpios, SPU e MMA.(Pernambuco), Itaporanga dAjuda; e Estncia (Sergipe), Um dos fatores mais importantes do perodo refere-seConde (Bahia), Pontal do Paran, Matinhos e Guaratuba efetivao do retorno da SPU ao conjunto de parceiros(Paran), Navegantes, Itaja, Balnerio Cambori, Itapema, idealizadores do ORLA, fato que j havia sido indicadoPorto Belo e Bombinhas (Santa Catarina) e Torres, Arroio do por meio das recomendaes do Grupo InterministerialSal e Capo da Canoa (Rio Grande do Sul). composto por 18 instituies, que formulou um documento4 A criao de uma linha de financiamento junto ao indicativo de Gesto do Patrimnio da Unio com asPrograma Nacional do Meio Ambiente (PNMA II) viabilizou seguintes diretrizes:o atendimento destes 45 municpios, denotando o graude prioridade dada ao projeto por parte da administrao Consolidar a parceria entre os rgos Ambientaispblica federal. Estaduais/OEMAs e as Gerncias Regionais de Patrimnio da Unio/GRPUs.Segunda Fase: 2004 a 2008 Trabalhar os conflitos entre a Secretaria de Patrimnio At 2004, haviam sido capacitados 57 municpios em da Unio/SPU e as Prefeituras Municipais para que14 estados litorneos por meio de oficinas do ORLA que alcancem um objetivo comum.resultaram na elaborao de 55 Planos de Gesto Integrados(PGIs) de trechos da orla definidos pelas equipes locais. Na A mudana no papel da SPU, enquanto entidade responsvelanlise do conjunto dos planos, 100% apresentaram aes pelo patrimnio pblico brasileiro, passa a ser estruturadade projetos de urbanizao; paisagsticos; de conteno de em uma viso focada na gesto pblica participativa, emrisco e eroso; organizao e padronizao de quiosques e detrimento de atividades fundamentalmente cartoriais,sinalizao. As aes consideradas setoriais corresponderam tendo o Projeto Orla como uma de suas prioridades.a 93% dos PGIs, tratando de questes como saneamento, Foram tratados temas como a aproximao do projetoregularizao fundiria, recuperao de reas de preservao Orla com a questo de regularizao fundiria, mobilizaopermanente (APP) e disciplinamento de uso e atividades. O da sociedade civil e orientaes quanto o papel dos atoresgrfico da figura 3 detalha esta informao. do arranjo institucional. Os resultados destas discusses orientaram na construo das diretrizes, metas e ajustes para segunda fase do projeto. Este perodo coincide com a publicao do Decreto 5.300/2004 (D.O.U., 2004), que, aps 16 anos, regulamenta a Lei do Gerenciamento Costeiro (Lei n.7661/88). Tal decreto traz, como uma de suas principais contribuies, as definies do escopo do Projeto Orla para o processo de gesto costeira integrada no pas e estabelecendo as bases para a formulao de polticas, planos e programas federais, estaduais e municipais. no captulo IV que so definidos os limites, objetivos, instrumentos e competncias para a gesto da orla martima. No perodo entre 2004 e 2008 foi definida uma nova estratgia por parte da equipe executora do ORLA, com foco em capacitao de multiplicadores da metodologia,Figura 3. Percentual das demandas oriundas de 50 Planos de comunicao e articulao com outros setores do governoGesto da Orla de municpios brasileiros participantes do Projeto com papel preponderante na zona costeira.ORLA (Dados do Ministrio do Meio Ambiente, MMA) Como exemplo desta estratgia pode-se citar a capacitaoFigure 3. Percentage of requests from 50 Management de 250 multiplicadores do Projeto Orla envolvendo osPlans of municipalities participating in the ORLA Project (Data 17 estados costeiros, abrangendo um pblico compostofromMinistry of Environment, MMA). por gestores federais, estaduais, municipais, membros da 4 - Relatrio do I Seminrio Nacional do Projeto Orla: Fortalecimento no mbito regional e local, MMA e MP, 2004. - 95 -
  • 8. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012)academia, e representantes da sociedade civil. Alm disso, podem ser citados os seguintes avanos: a incorporao dasfoi criada uma rede virtual de discusso do Projeto Orla, aes definidas nos PGIs em Planos Diretores Participativos;que conta, em 2011, com 3495 associados e mais de seis mil a constituio de novas reas de proteo ambiental (Ex:mensagens. Fortaleza criou/instituiu o Parque Natural das Dunas; Criao Em termos de articulao com outros setores, foi criado o da Unidade do Parque da Lagoinha em Bzios) e a incluso deComit de Articulao do Projeto Orla, no mbito do Grupo Zonas de Especial Interesse nos Planos Diretores Participativosde Integrao do Gerenciamento Costeiro (GI-GERCO), do Municpio (Ex: Zona Especial do Projeto Orla ZEPO;com a participao do MMA, SPU, Ministrio das Cidades, ZEIS em Itapema).Ministrio da Pesca, Ministrio do Turismo, Agencia Houve um avano tambm na participao das SPUs nasNacional de Transportes Aquavirios (Antaq), Associao discusses sobre o PGI e sua aproximao com as OEMAs,de Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente promovida pelo formato da Coordenao Estadual e da(ABEMA), Associao Nacional de rgos Municipais de Comisso Tcnica Estadual. Esta aproximao propiciou oMeio Ambiente (Anamma) e representante da sociedade aprimoramento tcnico, principalmente na questo ambiental,civil. dos representantes das SPUs para a tomada de deciso quanto As principais linhas de integrao do ORLA com outras cesso de uso das terras da Unio.polticas pblicas tiveram foco na Agenda do Petrleo e Uma das principais linhas de anlise em questo anas Agendas do Turismo e Cidades. Em relao primeira, efetividade do Projeto Orla enquanto poltica pblica. Talprocurou-se a articulao com o processo de licenciamento efetividade diretamente ligada capacidade de articulaode petrleo e gs, cujo objetivo foi o de construir mecanismos entre os diferentes atores e instituies envolvidas. Nessepara que aes proposta nos Planos de Gesto Integrada sentido, ressalta-se o importante papel da Coordenaoda Orla pudessem subsidiar a proposio de medidas Estadual, que tem como frum de articulao e apoio acompensatrias no processo de licenciamento, melhorar o Comisso Tcnica Estadual (CTE). A CTE constitui-se em umcontrole social no acompanhamento das condicionantes grupo que articula e contribu na harmonizao de polticasdas licenas expeditas e criar condies para uma adequada estaduais atuantes na orla. Entretanto, at 2008, poucas CTEparticipao popular, com garantia de acesso s informaes tinham sido formalizadas nos estados costeiros, com atuaoem todas as etapas do processo de licenciamento. Alm ainda muito incipiente.disso, buscou-se apoiar o processo de regularizao fundiriade comunidades pesqueiras nos processos de licenciamento Terceira Fase: 2009 a 2011ambiental de atividades de leo e gs. A segunda linha de articulao, com as Agendas de Com base na avaliao do Projeto Orla e na agenda do IITurismo e Cidades, teve a celebrao de um Protocolo de Seminrio, a Coordenao Nacional do ORLA executou, emIntenes, cujo objetivo unir esforos institucionais com 2009, capacitaes especficas para as Coordenaes Estaduaisvistas harmonizao das leis urbansticas e ambientais e das e CTEs em nove estados costeiros (BA, RN, ES, RJ, SC, PA,polticas pblicas incidentes na zona costeira. O principal SE, PE e CE), com objetivo de otimizar a atuao das mesmasmote de tal iniciativa foi o estabelecimento de colaborao e definir uma agenda de trabalho conjunta.mtua para integrar as aes relacionadas ao Projeto Orla e Deve-se ressaltar que no final de 2008 o MMA passouao Plano Diretor Participativo. por uma reestruturao interna de seus setores e prioridades. No final deste perodo, em 2008, foi realizada a Avaliao Uma das reas mais atingidas foi a Coordenao Nacional dodo estado atual de implementao do Projeto Orla na esfera Gerenciamento Costeiro, que teve reduzida sensivelmente amunicipal e proposio das estratgias para seu fortalecimento sua equipe, agenda e oramento. Este fator teve rebatimento noe aperfeioamento. Durante o II Seminrio Nacional do andamento do ORLA, determinando problemas na estratgiaProjeto Orla, foram apresentados os resultados da pesquisa de comunicao e apoio aos estados, o que prejudicou o plenode avaliao do Projeto Orla e discutida as diretrizes e metas desenvolvimento do projeto. Alm disso, a agenda articuladapara o seu fortalecimento, com elaborao de uma agenda para os setores de petrleo e gs, turismo e cidades no tiveramde compromissos entre as trs esferas de governo. A agenda continuidade.compreendia as seguintes linhas: a) Divulgao, mobilizao Apesar dessas dificuldades transitrias na esfera federal,e sensibilizao pblica, b) Fortalecimento institucional e c) o esforo de sensibilizao e mobilizao para implantaoFomento e apoio execuo das aes dos PGIs, do ORLA resultou, ao final de 2010, na criao das CTEs Os resultados da avaliao indicaram a falta de recursos em 11 estados costeiros e cerca de 80 municpios com PGIshumanos e da disponibilidade de recursos financeiros nos elaborados.municpios como as principais dificuldades enfrentadas para a No final de 2010 foi realizado o III Seminrio Nacional doimplementao dos PGIs. Projeto Orla com objetivo de definir uma agenda de diretrizes Apesar da baixa implementao dos PGIs, a implantao para fortalecer a cooperao interinstitucional e suas respectivasdo ORLA nos estados e municpios costeiros possibilitou capacidades de fomentar os Planos de Gesto Integrada6.momentos de discusso e de levantamento de conflitos gerando Foram cerca de 100 participantes (governos federal, estaduala aproximao dos atores envolvidos na gesto da orla martima e municpios, entre outros) que debateram e apontaram aesconsolidando uma viso integrada da orla. Nesta perspectiva sobre: fomento e apoio execuo das aes previstas nos PGIs;5 - Em julho de 2011. 6 - Relatrio do III Seminrio Nacional do Projeto Orla. MMA: Braslia, 2011. - 96 -
  • 9. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012)monitoramento, informao e comunicao; fortalecimento do Embora apresente problemas especficos, principalmentearranjo institucional do Projeto Orla (GI-GERCO, Comisso na implementao das aes definidas pelos Planos deTcnica Estadual e Comit Gestor); e Projeto de Extenso do Gesto, o Projeto Orla pode ser considerado uma aoProjeto Orla e rede de multiplicadores. governamental exitosa, pois alm de mobilizar milhares Outra ao representativa nesse perodo a criao de de cidados brasileiros em torno de seus objetivos, trata-seum convnio entre a SPU e a Universidade Federal de Rio de um projeto consolidado, com metodologia validada eGrande (FURG) visando operacionalizao de um Curso amplamente aplicada ao longo de seus dez anos de existncia.de capacitao distncia na metodologia de planejamento Tais constataes o credenciam a ser considerado como umae implementao do Projeto Orla. Tal iniciativa pretende poltica de estado, visto que desde sua implantao ocorreramqualificar a insero dos atores no mbito do projeto, para que trs eleies para o governo federal, e, conforme descritoos mesmos participem das oficinas j com uma preparao na neste estudo, o projeto foi sendo aperfeioado e adaptado aometodologia e implementao do projeto. O curso atender contexto atual.uma de manda aproximada de 500 atores sociais envolvidos na Cabe ao poder pblico incentivar a busca por soluestemtica, entre tcnicos de secretarias municipais, dos estados e para os entraves da plena execuo do ORLA, promovendodo governo federal, alm do setor privado e terceiro setor. o incremento das articulaes polticas nas trs esferas de governo, bem como com a sociedade civil organizada eConcluses demais atores atuantes nesta poro do territrio brasileiro. Os padres de desenvolvimento da zona costeira, emespecial a orla, devem decorrer da integrao das dimenses Bibliografiaeconmica, social e ambiental, refletindo os diferentes D.O.U. (1974) - Decreto-Lei n 74.557, de 12 de setembrointeresses e necessidades dos grupos sociais que vivem na de 1974 - Cria a Comisso Interministerial para oszona costeira. Recursos do Mar (CIRM) e d outras providncias. Nessa concepo, o uso dos bens da Unio localizados Publicado no Dirio Oficial da Unio de 13.9.1974 ena Zona Costeira deve ser integrado ao Plano Nacional revogado pelo Decreto n 3.939, de 26.9.2001, Braslia,Gerenciamento Costeiro, tendo em vista o seu papel no DF, Brasil. Disponvel em http://www.planalto.gov.br/estabelecimento de normas gerais visando gesto ambiental ccivil_03/decreto/Antigos/D74557.htmda Zona Costeira, em especial a orla, na formulao de D.O.U. (1946) - Decreto-Lei n 9.760, de 5 de setembropolticas, planos e programas estaduais e municipais. de 1946 - Dispe sobre os bens imveis da Unio e dConferindo, assim, aos bens da Unio sua funo outras providncias. Publicado no Dirio Oficial dasocioambiental ao determinar as condies para diferentes Unio de 6.9.1946, Braslia, DF, Brasil. Disponvel emusos e atividades que ocorrem nesse espao. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del9760.htm O Projeto Orla d foco especial aos espaos litorneos D.O.U. (1981) - Lei n 6.938, de 31 de agosto de 1981sob propriedade ou guarda da Unio, sendo que o modelo - Dispe sobre a Poltica Nacional do Meio Ambiente,descentralizado proposto para gesto da orla obedece ao seus fins e mecanismos de formulao e aplicao, e dpacto federativo, envolvendo princpios e procedimentos outras providncias. Publicado no D.O.U de 2.9.1981,de ao, cuja execuo est alicerada nas Coordenaes Braslia, DF, Brasil. Disponvel em https://www.planalto.Nacional (MMA e MPOG), Estadual (Superintendncias gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htmdo Patrimnio da Unio/SPU e rgo Estadual de Meio D.O.U. (1988c) - Lei n 7.661, de 16 de maio de 1988 -Ambiente) e Municipal (prefeitura), como instnciaspromotoras de articulaes intergovernamentais e Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dinterinstitucionais, apoiadas por colegiados nos trs nveis. outras providncias. Publicado no D.O.U. de 18.5.1998,Estimula-se, assim, a implantao de uma rede de parcerias Braslia, DF, Brasil. Disponvel em http://www.planalto.que visa realizar intervenes necessrias ao uso comum desse gov.br/ccivil_03/leis/L7661.htmespao, com planejamento ambiental e territorial, e diviso D.O.U. (1998a) - Lei n 9.605, de 12 de fevereiro de 1998.clara de tarefas entre todas as partes. Dispe sobre as sanes penais e administrativas derivadas Nos dez anos de execuo do Projeto Orla, alguns pontos de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dnecessitam ser ajustados; alguns em funo da experincia outras providncias. Publicado no D.O.U. de 13.2.1998acumulada com a aplicao da metodologia em cerca de eretificado no DOU de 17.2.1998, Braslia, DF, Brasil.80 municpios e outros em funo da conjuntura poltico- Disponvel em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/institucional, que por sua vez, vai alterando-se com o passar leis/l9605.htmdo tempo. D.O.U. (1998b) - Lei n 9.636, de 15 de maio de 1998. Dentre estes pontos destacam-se a retomada do Projeto Dispe sobre a regularizao, administrao, aforamentojunto aos municpios atendidos, realizando a reviso dos e alienao de bens imveis de domnio da Unio,Planos de Gesto da Orla, a definio das formas de apoio altera dispositivos dos Decretos-Leis nos9.760, de 5 deimplementao das aes propostas nos Planos de Gesto, a setembro de 1946, e 2.398, de 21 de dezembro de 1987,melhoria da efetividade da atuao das Comisses Tcnicas regulamenta o 2o do art. 49 do Ato das DisposiesEstaduais e o acompanhamento dos Comits Gestores Constitucionais Transitrias, e d outras providncias.Locais. Outro ponto crucial o processo de mobilizao local Publicado no D.O.U de 18.5.1998, Braslia, DF, Brasil.e legitimao das aes (envolvimento das comunidades e Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/processos participativos), que necessitam ser mais efetivos. leis/L9636.htm - 97 -
  • 10. Oliveira & Nicolodi Revista de Gesto Costeira Integrada / Journal of Integrated Coastal Zone Management 12(1):89-98 (2012)D.O.U. (2001a) - Decreto n 3.725 , de 10 de janeiro de Moraes, A.C.R. (2007) - Contribuio para a gesto costeira 2001 - Regulamenta a Lei no9.636, de 15 de maio de do Brasil: elementos para uma geografia do litoral brasileiro. 1998, que dispe sobre a regularizao, administrao, 232p., Annablume, So Paulo, SP, Brasil. ISBN: aforamento e alienao de bens imveis de domnio da 9788574196770 Unio, e d outras providncias. Publicado no Dirio Freire, O.D. da S. (coord.) (2002) - Projeto Orla: Fundamentos Oficial da Unio de 11.1.2001, Braslia, DF, Brasil. para gesto integrada. 78p., Ministrio do Meio Ambiente, Disponvel em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos decreto/2001/d3725.htm Humanos / Ministrio do Planejamento, Oramento eD.O.U. (2001) - LEI n 10.257, de 10 de julho de 2001 Gesto, Secretaria do Patrimnio da Unio, Braslia, DF, - Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituio Brasil. ISBN: 8577380297. Disponvel em http://www. Federal, estabelece diretrizes gerais da poltica urbana e d planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/spu/ outras providncias. Publicado no DOU de 11.7.2001, publicacao/081021_PUB_ProjOrla_fundamentos.pdf Braslia, DF, Brasil. Disponvel em http://www.planalto. Freire, O.D. da S. (coord.) (2004) - Projeto Orla: Subsdios gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm para um projeto de gesto. 104p., Ministrio do MeioD.O.U. (2004) - Decreto n 5.300 de 7 de dezembro de Ambiente, Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos / Ministrio do Planejamento, 2004. Regulamenta a Lei no 7.661, de 16 de maio de Oramento e Gesto, Secretaria do Patrimnio da Unio, 1988, que institui o Plano Nacional de Gerenciamento Braslia, DF, Brasil. ISBN: 8577380505. Disponvel em Costeiro - PNGC, dispe sobre regras de uso e ocupao http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/ da zona costeira e estabelece critrios de gesto da orla Arquivos/spu/publicacao/081021_PUB_ProjOrla_ martima, e d outras providncias. Publicado no D.O.U. subsidios.pdf de 8.12.2004, Braslia, DF, Brasil. Disponvel em Saule Junior, N. (coord.) (2006) - Manual de regularizao https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004- fundiria em terras da Unio. 120p., Ministrio do 2006/2004/Decreto/D5300.htm Planejamento, Oramento e Gesto, Instituto Polis,Zamboni, Ademilson; Nicolodi, Joo Luiz (org.) (2008) - So Paulo, SP, Brasil. ISBN: 8589199037, Disponvel Macrodiagnstico da Zona Costeira e Marinha do Brasil, em http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/ 242p. Ministrio do Meio Ambiente, Secretaria de Arquivos/spu/publicacao/ 081021_PUB_Manual_ Mudanas Climticas e Qualidade Ambiental. Braslia. regularizacao.pdf. DF, Brasil. ISBN: 9788577381128. Strohaecker, T.M. (2008) - Dinmica Populacional. In:MMA - Ministrio do Meio Ambiente (2010) - Panorama Ademilson Zamboni & Joo Luiz Nicolodi (org.), da Conservao dos Ecossistemas costeiros e marinhos no Macrodiagnstico da Zona Costeira e Marinha do Brasil, Brasil. Ministrio do Meio Ambiente, Secretaria de pp.59-92, Ministrio do Meio Ambiente, Secretaria Biodiversidade e Florestas, Gerncia de Biodiversidade de Mudanas Climticas e Qualidade Ambiental. Aqutica e Recursos Pesqueiros, Braslia. 2010. 148p. Braslia. DF, Brasil. ISBN: 9788577381128. Disponvel em ISBN: 9788577381425 ftp://gw.laget.igeo.ufrj.br/macro/03_populacao.pdf - 98 -