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A GESTÃO DA DEMANDA EM UMA CADEIA DE SUPRIMENTOS EMERGENTE: O CASO DE UM FRIGORÍFICO DE PEIXE DO ESTADO DE SÃO PAULO Carla Roberta Pereira (UFSCAR) [email protected] Daniela de Castro Melo (UFSCAR) [email protected] MIGUEL ANTONIO BUENO DA COSTA (UFSCAR) [email protected] Rosane Lucia Chicarelli Alcântara (UFSCAR) [email protected] O potencial brasileiro para o desenvolvimento da aquicultura é imenso, sendo possível observar algumas tendências para um futuro próximo como o aumento significativo na produção de peixes de água doce, especialmente o das tilápias. A importtância da gestão da demanda tem sido reconhecida na literatura não só em gestão de operações, mas também em gestão da cadeia de suprimentos (SCM) nos mais variados ramos de negócio, incluindo a aquicultura. Muitos benefícios, listados na literatura, pela implementação da gestão da demanda numa cadeia de suprimentos, principalmente aquelas emergentes como a da tilapicultura, não são conhecidos por muitas empresas. Assim, este trabalho tem como objetivo identificar os problemas da gestão da demanda na cadeia de suprimentos da tilapicultura e propor abordagens de melhoria para alcançar a efetividade da gestão da demanda no setor. Para isto, utilizou-se o método do estudo de caso na cadeia de suprimentos de um frigorífico de peixe e como instrumento de pesquisa foram realizadas entrevistas com os gerentes do Frigorífico (empresa foco), da unidade I das Psiculturas (empresa a montante) e de dois Distribuidores (empresas a jusante). Após a análise dos resultados conclui-se que a gestão da demanda nestas empresas emergentes é falha quanto: à previsão da demanda de maneira formal e completa; às ações de marketing para impulsionar o mercado e divulgar seus produtos; à desconfiança e restrição no compartilhamento de informações com empresas terceirizadas; e a um processo mais criterioso e adequado de planejamento da produção e das necessidades de materiais. Por fim, diante destas dificuldades, algumas melhorias nesta cadeia foram propostas. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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A GESTÃO DA DEMANDA EM UMA

CADEIA DE SUPRIMENTOS

EMERGENTE: O CASO DE UM

FRIGORÍFICO DE PEIXE DO ESTADO

DE SÃO PAULO

Carla Roberta Pereira (UFSCAR)

[email protected]

Daniela de Castro Melo (UFSCAR)

[email protected]

MIGUEL ANTONIO BUENO DA COSTA (UFSCAR)

[email protected]

Rosane Lucia Chicarelli Alcântara (UFSCAR)

[email protected]

O potencial brasileiro para o desenvolvimento da aquicultura é

imenso, sendo possível observar algumas tendências para um futuro

próximo como o aumento significativo na produção de peixes de água

doce, especialmente o das tilápias. A importtância da gestão da

demanda tem sido reconhecida na literatura não só em gestão de

operações, mas também em gestão da cadeia de suprimentos (SCM)

nos mais variados ramos de negócio, incluindo a aquicultura. Muitos

benefícios, listados na literatura, pela implementação da gestão da

demanda numa cadeia de suprimentos, principalmente aquelas

emergentes como a da tilapicultura, não são conhecidos por muitas

empresas. Assim, este trabalho tem como objetivo identificar os

problemas da gestão da demanda na cadeia de suprimentos da

tilapicultura e propor abordagens de melhoria para alcançar a

efetividade da gestão da demanda no setor. Para isto, utilizou-se o

método do estudo de caso na cadeia de suprimentos de um frigorífico

de peixe e como instrumento de pesquisa foram realizadas entrevistas

com os gerentes do Frigorífico (empresa foco), da unidade I das

Psiculturas (empresa a montante) e de dois Distribuidores (empresas a

jusante). Após a análise dos resultados conclui-se que a gestão da

demanda nestas empresas emergentes é falha quanto: à previsão da

demanda de maneira formal e completa; às ações de marketing para

impulsionar o mercado e divulgar seus produtos; à desconfiança e

restrição no compartilhamento de informações com empresas

terceirizadas; e a um processo mais criterioso e adequado de

planejamento da produção e das necessidades de materiais. Por fim,

diante destas dificuldades, algumas melhorias nesta cadeia foram

propostas.

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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Palavras-chaves: Cadeia de suprimentos, gestão da demanda,

tilapicultura, frigorífico de peixe

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1. Introdução

O potencial brasileiro para o desenvolvimento da aquicultura é imenso. Constituído por 8400

km de costa marítima, 5,5 milhões de hectares de reservatórios de água doce (equivalente a

quase 12% do planeta), clima favorável para o crescimento dos organismos cultivados, terras

disponíveis e baratas na maior parte do país, mão de obra abundante e crescente demanda por

pescado no mercado interno. Com todas estas vantagens, nos últimos cinco anos a aquicultura

vem obtendo taxas de crescimento anuais superiores a 22%, podendo-se, assim, identificar

algumas tendências para a aquicultura brasileira num futuro próximo como o aumento

significativo na produção de peixes de água doce, especialmente das tilápias e de algumas

espécies nativas (MPA, 2008).

A gestão da demanda tem sido reconhecida na literatura não só em gestão de operações, mas

também em gestão da cadeia de suprimentos nos mais variados ramos de negócio, incluindo a

aquicultura. Esta gestão da demanda reúne várias atividades estratégicas e funcionais das

empresas, de modo que se consiga atingir bons níveis de coordenação e colaboração entre os

membros da cadeia, podendo ser eles: fornecedores de serviços e insumos, indústrias de

processamento e transformação, distribuição e comercialização e, por fim, consumidores

finais. A meta da gestão da cadeia de suprimentos é sincronizar oferta e demanda, buscando a

redução dos custos e melhoria na satisfação dos clientes (CHRISTOPHER; TOWILL, 2001).

Porém, muitos benefícios da implementação da gestão da demanda numa cadeia de

suprimentos, listados na literatura, não são conhecidos por muitas empresas, principalmente

naquelas emergentes como a da tilapicultura.

Neste contexto, este trabalho tem como objetivo identificar os problemas da gestão da

demanda na cadeia de suprimentos da tilapicultura e propor melhorias para alcançar a

efetividade da gestão da demanda no setor. Para isto, utilizou-se o método do estudo de caso

na cadeia de suprimentos de um frigorífico de peixe, localizado no estado de São Paulo, e

como instrumento de pesquisa foram realizadas entrevistas com os gerentes do Frigorífico

(empresa foco), da unidade I das Pisciculturas (empresa a montante) e de dois Distribuidores

(empresas a jusante).

Deste modo, o artigo se estrutura em quatro partes. A primeira expõe uma abordagem teórica

sobre gestão da cadeia de suprimentos (SCM), gestão da demanda na cadeia de suprimentos,

desafios da gestão da demanda nas cadeias agroalimentares, e cadeia produtiva da tilápia. A

segunda e a terceira apresentam o método de pesquisa e os resultados, consecutivamente. A

quarta, e última, corresponde à conclusão do trabalho, identificando os pontos fracos

encontrados e propondo melhorias com base no referencial teórico.

2. Referencial teórico

2.1 Gestão da cadeia de suprimentos

A partir de 1980, diversas mudanças de ordem econômica e tecnológica favoreceram o

surgimento do termo “cadeia de suprimentos”. Uma cadeia de suprimentos envolve o fluxo

desde a extração da matéria-prima, passando pelos fabricantes, atacadistas, varejistas, até os

usuários finais (CROOM et al., 2000). É uma rede que inclui várias empresas e os

relacionamentos que ocorrem entre elas (BALLOU, 2006; LAMBERT et al., 1998).

Neste contexto, surge a necessidade da gestão eficiente da cadeia de suprimentos. Para o

Council of Supply Chain Management Professional (CSCMP, 2009) a gestão da cadeia de

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suprimentos, também chamada de Supply Chain Management (SCM), engloba o

planejamento e a gestão de todas as atividades relacionadas com aquisição e suprimento,

transformação e atividades de gerenciamento logístico. Isso inclui a coordenação e

colaboração entre membros da cadeia.

Mentzer et al. (2001) definem SCM como a coordenação sistêmica e estratégica das funções

tradicionais e táticas de negócio dentro e entre as empresas de uma cadeia de suprimentos,

com o objetivo de melhorar os resultados de longo prazo de cada uma e da cadeia de

suprimentos como um todo.

Já, para o Global Supply Chain Forum (GSCF), SCM significa a integração dos processos

chaves de negócio desde o usuário final até o fornecedor original que provê produtos, serviços

e informações que agregam valor para os clientes e outras partes interessadas (CROXTON et

al., 2008; LAMBERT, 2004; LAMBERT et al., 1998). Nesta visão, o modelo de gestão da

cadeia de suprimentos proposto pelo GSCF é baseado na integração de oito processos chave

de negócios, que são: gestão de relacionamento com o cliente, gestão de serviço ao cliente,

gestão da demanda, processamento de pedidos, gestão do fluxo de manufatura, gestão de

relacionamento com fornecedores, desenvolvimento de produto e comercialização e gestão de

retorno. Estes processos são compostos de sub-processos estratégicos e operacionais

(LAMBERT; COOPER; PAGH, 1998).

Dentre estes processos estão a gestão da demanda e o processamento de pedidos. O primeiro

consiste em prever a demanda, incluindo sua sincronização com a oferta, aumentando a

flexibilidade e diminuindo a variabilidade, de modo a reduzir incertezas. Coordena, também,

os requerimentos de marketing e os planos de produção. O último atende aos pedidos dos

clientes sem erros e dentro do prazo acordado, buscando o menor custo (LAMBERT, 2004;

LAMBERT, 2008).

2.2 Gestão da demanda na cadeia de suprimentos

Inicialmente, a literatura sobre gestão da demanda na cadeia de suprimentos surgiu no

contexto de trabalho da amplificação da demanda ou efeito chicote (distorções na informação

da demanda que se propagam e aumentam à medida que se afasta do consumidor na cadeia).

Este tema foi apresentado por Forrester (1958) e Burbidge (1961) dando origem a vários

outros estudos em diferentes cenários e setores industriais.

Vollmann et al. (2004) identificam a gestão da demanda como uma conexão entre as

atividades de produção da empresa, sistemas de planejamento e controle e o mercado. Os

mesmos definem seu escopo como atividades que vão desde uma previsão até converter os

pedidos dos clientes em datas de entrega, sempre equilibrando oferta e demanda.

Convencionalmente, opta-se por antecipar a demanda por meio das previsões de vendas.

Apesar de ser uma importante ferramenta, as previsões, em si, não oferecem os subsídios

suficientes para ajustar as decisões que envolvem o sistema produtivo com o comportamento

da demanda. A gestão da demanda deve incluir a identificação de formas de reduzir a

variabilidade da demanda e aumentar a flexibilidade em reagir com mais rapidez em situações

imprevisíveis (CROXTON et al., 2008).

Segundo Mentzer et al. (2007), a gestão da demanda é a criação de um fluxo coordenado de

demanda entre os membros da cadeia de suprimentos e seus mercados, de forma que todos os

parceiros estejam envolvidos com objetivo de alcançar um melhor desempenho na cadeia.

Convencionalmente, opta-se por antecipar a demanda através das previsões de vendas. Apesar

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de ser uma importante ferramenta, as previsões, em si, não oferecem os subsídios suficientes

para ajustar as decisões que envolvem o sistema produtivo com o comportamento da

demanda. A gestão da demanda é um componente importante para o sucesso da gestão da

cadeia de suprimentos. Uma implementação bem conduzida do processo pode gerar

benefícios substanciais para os resultados financeiros da empresa como, por exemplo, a

redução dos níveis de estoque, melhoria da utilização dos ativos e melhoria na disponibilidade

do produto (CROXTON et al., 2008).

2.3 Desafios da gestão da demanda nas cadeias agroalimentares

Muito se tem discutido sobre a gestão da cadeia de suprimentos, porém ainda são

identificadas algumas dificuldades em sua implantação, principalmente em empresas

emergentes. Fawcett e Magnan (2002) conduziram uma pesquisa para analisar o escopo

teórico da SCM e o que realmente é praticado. Apesar de todos os benefícios da integração e

colaboração apresentados na literatura entre os membros da cadeia de suprimentos, poucas

empresas conseguem integrar-se com os diversos membros. Isto porque, provavelmente há

dificuldades em alcançar colaboração efetiva e compartilhamento total de informações,

devido à resistência dos gestores das empresas (BALLOU, 2006).

Mentzer e Moon (2004) identificaram que a gestão da demanda, como também o próprio

conceito de demanda, não são bem compreendidos pelos agentes da cadeia de suprimentos.

Baljko (1999) recomenda o trabalho conjunto entre os membros da cadeia com a utilização de

tecnologia de informação que permita aumentar a velocidade de comunicação e reduzir o

tempo de resposta (lead time).

Em análise ao fluxo da gestão da demanda, Taylor (2006) comprovou a ocorrência de

variabilidade da demanda no ponto de consumo, sendo uma das razões desta, as causas

naturais como os padrões de consumo sazonal ou as influências do tempo. Geralmente, a

produção agrícola tem longos lead times. Desta forma, uma previsão conjunta a longo prazo

pelos produtores rurais, processadoras e varejistas, seria um passo importante para ajudar a

ligação da produção rural com a demanda no ponto de consumo (TAYLOR, 2006).

Vários são os desafios da gestão da demanda nas cadeias de suprimentos, destacando-se

dentre eles (MELO; ALCÂNTARA, 2009):

Somente um fluxo de informação transparente na coordenação da cadeia de suprimentos

não reduz os efeitos da amplificação da demanda. É necessário o compartilhamento de

visão, objetivos e suporte operacional nas medidas de desempenho com os elos chave na

cadeia de suprimentos.

A maioria dos fornecedores de alimentos ignora as previsões dos varejistas;

Vários dados são coletados, frequentemente sem nenhuma razão clara do porquê;

O direcionador chave do planejamento da demanda é mais o plano orçamentário de

vendas do que a demanda atual de consumo.

2.4 Cadeia produtiva da tilápia

No Brasil, a produção de pescado proveniente da aquicultura e da pesca extrativa, tanto em

águas interiores como em águas salgadas, apresentou um crescimento na ordem de 2% em

2007 em relação ao ano de 2006. A pesca extrativa, que é a retirada de organismos aquáticos

da natureza, apresentou um decréscimo de 3,2% em 2007, enquanto que a aquicultura,

processo de produção de organismos aquáticos em cativeiro obteve, em 2007, um crescimento

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de 10,2% em relação a 2006 (IBAMA, 2007).

A tilápia é um peixe de água doce com uma variedade de espécies. Possui ótimas

características organolépticas e nutricionais, tais como: carne saborosa, baixo teor de gordura

e de calorias, ausência de espinhas em forma de “Y” e rendimento de filé em

aproximadamente 35% a 40%, que a potencializam para industrialização (SEBRAE, 2006). É,

ainda, o peixe com maior representatividade na aquicultura, alcançando, em 2007, 45% da

produção total (IBAMA, 2007), contudo, a criação desta passa por dificuldades que, às vezes,

se configuram como gargalos em sua cadeia produtiva. A Figura 1 destaca algumas

necessidades de melhorias específicas na cadeia e na aquicultura em geral.

Aprimoramento das técnicas de cultivo existentes gerando melhorias na produtividade;

Treinamento e qualificação de técnica ao longo de toda a cadeia.

Ações de promoção do produto tilápia, no sentido de formar um conceito positivo na mente do consumidor;

Integração comercial e tecnológica entre os elos da cadeia produtiva.

Aumento da competitividade da aquicultura em pequena e média escala.

Viabilização, em escala industrial, do processamento dos produtos derivados da aquicultura.

Conquista de novos mercados e consumidores.

Figura 1 - Necessidades de melhorias na cadeia produtiva da tilápia e da aquicultura

Fonte: Adaptado de Sebrae (2006); Ostrensky, Borghetti e Soto (2007)

O maior volume de pescados é comercializado na época da quaresma, sendo a venda deste

mês o equivalente há outros três meses. A rede Carrefour de supermercados projetou, no ano

de 2009, uma venda de cinco milhões de quilos de pescados nesta época e a tilápia tinha peso

expressivo nessa estimativa, estando entre as dez espécies mais vendidas no Brasil. Desta

forma, desde novembro muitas empresas começam a estocar pescados, garantindo uma maior

margem de lucro (SEAGRI, 2009).

Um aumento da demanda externa, indicado pela produção global, deve sofrer um incremento

de 50% até 2010, quando o planeta produzirá algo em torno de três milhões de toneladas da

espécie. Espera-se que o desenvolvimento desta atividade no Brasil tenda a acompanhar o

ritmo do mercado internacional (SEBRAE, 2006).

A cadeia produtiva da tilápia apresenta os seguintes elos, representados na Figura 2.

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Figura 2 - Cadeia produtiva agroindustrial da aquicultura e da pesca

Fonte: Adaptado de Sonoda (2002, p.6)

3. Método de pesquisa

Utilizou-se, neste trabalho, o método do estudo de caso. Yin (2005) denomina este método

como uma pesquisa empírica que investiga um fenômeno dentro de um contexto da vida real,

especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente

definidos. O objeto de pesquisa escolhido foi à cadeia da tilapicultura com foco em um

frigorífico de peixe localizado no estado de São Paulo. O interesse de estudo nesta empresa

resultou do fato da mesma ter iniciado suas atividades recentemente, e também, por ser pouco

conhecida e estudada.

Sendo assim, foi estabelecido, inicialmente, o tema, o problema e o objetivo da pesquisa,

seguido de um referencial teórico. Com base neste referencial, elaborou-se um guia para

execução da entrevista, relacionando os seguintes tópicos: compreensão do processo

produtivo e da cadeia de suprimentos; compreensão da gestão da demanda - seus problemas e

dificuldades; sistema de troca de informações; planejamento da produção e das necessidades

de materiais; e compreensão do processo de atendimento de pedidos.

As entrevistas ocorreram entre as três primeiras semanas de janeiro de 2010. Optou-se por

entrevistar os gerentes gerais da Piscicultura (unidade I) e do Frigorífico pessoalmente, e os

gerentes dos Distribuidores A e B por telefone, devido ao fato destes últimos se encontrarem

localizados distantes da cidade da empresa foco. Totalizando, assim, quarto entrevistas. O

passo seguinte foi transcrever as informações em relatórios e esclarecer algumas pendências

por telefone. Após analisados os relatórios, problemas na gestão da demanda desta cadeia

foram identificados e, a partir destes, melhorias foram propostas.

4. Resultados

A descrição dos resultados é apresentada no formato de cadeia de suprimentos, a qual

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participa a Piscicultura (unidade I), o Frigorífico de peixe e os Distribuidores A e B.

4.1 Cadeia de suprimentos

A Figura 3 apresenta a cadeia de suprimentos da empresa foco. Os blocos em destaque são os

membros que foram entrevistados para análise da gestão da demanda. A empresa foco é uma

das unidades de negócio de uma Corporação (Grupo). Esta é composta por cinco empresas:

Frigorífico de peixe, Pisciculturas (unidade I, II e III), Fábrica de ração, Pecuária e

Loteamento. A Figura 3, também, destaca (bordas em negrito) os membros que fazem parte

da cadeia em estudo.

Figura 3 - Cadeia de Suprimentos da empresa foco

4.2 Piscicultura

As informações associadas ao setor de piscicultura da empresa são apresentadas na Figura 4.

Membro Piscicultura – unidade I

Ano de fundação 2007

Produto Peixe: Tilápia

Venda mensal 100 a 120 toneladas

Quantidade de tanques Unidade I – 322 tanques-rede

Unidade II – 12 tanques escavados

Unidade III – 30 tanques-rede

Figura 4- Informações da piscicultura

Compreensão do processo produtivo

O processo de criação das tilápias inicia na unidade II, onde há tanques escavados propícios

para um bom desenvolvimento dos alevinos que chegam a um peso de 0,5g a 1g. Estes são

produzidos em laboratório. Com manejo e alimentação adequados, a base de ração específica,

os alevinos se desenvolvem até o estado juvenil (30g) e, em seguida, são transportados para a

unidade I. Nesta, permanecem até o momento do abate, atingindo um peso de 750g a 850g em

quatro meses.

Prontos para o abate, os peixes são retirados do tanque-rede, pesados e lançados a outro

tanque (sólido e cilíndrico com gelo) para que haja a sensibilização. Manualmente, cortam-se

suas guelras, uma a uma, e colocam-nos em outro tanque cheio de água com gelo (este

processo é denominado de sangramento). Em seguida, são colocados em caixas de 20 kg com

gelo e transportados até o frigorífico.

Compreensão do processo de gestão da demanda

A compra de alevinos é feita quinzenalmente com base na quantidade de peixes que eles

Piscicultura

(Unidade I)Frigorífico

(empresa foco)

Distribuidor A

Distribuidor B

Piscicultura

(Unidade II)

Fábrica de

Ração

CEAGESP

Pesque-pagues

Produtora

alevinos

Piscicultura

(Unidade III)

Outras

Piscicultura

Distribuidor Y

Varejos locais

Frigorífico X

5 Distribuidores

Supermercados

Restaurantes

Lanchonetes

Pequenos varejos

Restaurantes

Lanchonetes

Consumidor final

Empresas

diversas

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possuem e na época do ano. O volume de compra gira em torno de 220 a 240 mil alevinos,

exceto no verão, a empresa adquiri 250 mil, pois é neste período que há um melhor

desenvolvimento dos peixes e, no qual, a sazonalidade impacta. Eventos especiais, como a

quaresma, também influenciam. Nesta época, devido à tradição do catolicismo em não comer

carne vermelha, ocorre uma alta na venda dos peixes. Houve, também, aumento nas vendas

no fim do ano de 2009, o que até então não era esperado. Isso ocorreu por causa do aumento

contínuo do mercado de tilápia.

A quantidade média de saída dos peixes da piscicultura (unidade I) está entre 100 a 120

toneladas por mês. Este número poderia ser maior, contudo há uma alta mortalidade dos

mesmos decorrentes do transporte, do manejo e da adaptação aos tanques-rede. A piscicultura

produz mais do que o frigorífico necessita para atender antigos clientes de pesque-pague e a

CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), contudo, não

executam nenhum processo de previsão da demanda. No ano de 2010, a empresa pretende

providenciar um histórico de vendas para aplicá-lo em previsões futuras.

Os pedidos do frigorífico são passados semanalmente para a piscicultura, podendo ocorrer

correções diárias, pois o lead time mínimo de atendimento é de 2 horas, por causa da

proximidade de ambos (em torno de 15 km). Quanto ao planejamento da necessidade de

matérias primas, os juvenis são transportados até a unidade I ao atingirem o peso de 30g (dois

meses em média). Quanto à ração, ela é solicitada mensalmente, de acordo com as

necessidades e quantidades existentes no estoque da piscicultura, sem nenhum processo

formal de controle.

Como auxílio à troca de informações e controle das atividades, a empresa possui um sistema

integrado entre Pisciculturas, Frigorífico e Fábrica de ração. As informações são transferidas

internamente por meio de ordens e entre o Grupo através de pedidos diários, via telefone.

Nenhuma informação é trocada com empresas externas, com exceção dos pedidos. A grande

dificuldade encontrada pelos gerentes das pisciculturas, em relação à execução da previsão da

demanda, é a falta de histórico.

Compreensão do processo de atendimento de pedido

Como há um sistema integrado Piscicultura-Frigorífico, todo pedido e recebimento da

empresa foco são registrados no sistema e verificados na chegada. O custo de engorda dos

peixes é considerado baixo, comparado aos concorrentes, pois a ração (contêm carcaças,

vísceras, escamas e couros dos peixes advindas do frigorífico) é fabricada pelo próprio Grupo,

além da criação e manutenção desses peixes também serem.

4.3 Frigorífico de peixe

As informações associadas ao frigorífico de peixe são apresentadas na Figura 5.

Membro Frigorífico (empresa foco)

Ano de fundação 2008

Venda mensal 24 toneladas

Mix de produtos Filé de tilápia (40g-80g, 80g-120g, 120g-

180g, 180g-250g) mini e premium; Tilápia

SC (Sem Cabeça); Tilápia eviscerada; Isca;

Filé a vácuo; Espetinho; e Quibe.

Figura 5 - Informações sobre o frigorífico de peixe

Compreensão do processo produtivo

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A Figura 6 mostra o fluxo de todos os insumos e matérias-primas que entram na empresa

foco, suas origens e destinos, de acordo com a cadeia de suprimentos.

Figura 6 - Fluxo de entrada e saída de insumos

As principais fornecedoras de peixes do frigorífico são as próprias unidades de piscicultura do

Grupo, fornecendo 90% das tilápias. Já, a jusante, a empresa vende a maior parte da sua

produção para três distribuidores e, o restante, para varejos e consumidores locais, entretanto,

almeja criar uma parceira de exclusividade com o Distribuidor B (menor), de modo que este

só distribua seus produtos. Posteriormente, a mesma busca criar sua própria logística de

distribuição, transportando suas mercadorias até este distribuidor e outras localidades.

O processo de produção consiste na chegada e armazenamento dos peixes em câmara fria. Em

seguida, são escamados e lavados, e logo, transportados por esteiras até o setor de

beneficiamento, onde o produto final (filé) será extraído. Depois de separado os filés dos

couros, carcaças, vísceras e espinhos centrais, eles são classificados em pesos e colocados em

bandejas. Estas são colocadas em carrinhos e levadas até a câmara de congelamento. Depois

de congelado, os filés são retirados das bandejas, embalados em caixas de 15 kg e

transportados até a câmara fria de produto acabado. Lá permanecem até o momento da

expedição.

Compreensão do processo de gestão da demanda

Os pedidos chegam até o gerente geral ou financeiro semanalmente, por telefone ou email. Os

distribuidores passam seus pedidos, geralmente, no final da semana, de modo a fazer o

carregamento no início da semana seguinte. A partir do estoque de segurança mantido pela

empresa, eles conseguem ter um lead time de atendimento de dois dias.

A troca de informações entre os membros do Grupo são sempre maiores, devido à confiança,

cooperação e uma coordenação sincronizada. Percebeu-se que a resistência à troca de

informação com empresas externas ao Grupo se dá pela falta de confiança e de interesse deste

em compartilhar suas metas e ações.

A sazonalidade e os eventos especiais impactam no aumento das vendas na quaresma e no

verão, época esta em que ocorrem as festas de final de ano. Os hábitos de alimentação dos

brasileiros têm mudado muito pelo estímulo dos órgãos da saúde em ter uma alimentação

saudável e balanceada. Sendo assim, durante e nos dias que antecedem datas comemorativas,

como Natal e Reveillon, períodos em que geralmente os cardápios são repletos de carne

vermelha e de aves, já se encontram peixes. Também, nestas épocas de férias as pessoas

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procuram uma alimentação diferenciada da do dia a dia, e como é costume da região, devido

ao calor, consomem mais filés como petiscos em barzinhos.

Nenhum tipo de integração entre as áreas de marketing e produção foi identificada, pois a

empresa focal ainda não possui departamentos bem definidos. Do mesmo modo, não há

evidência de nenhum processo de previsão da demanda formal, com cálculos, pesquisa e

tendências de mercado. Como relatado pelo gerente geral, a empresa não possui um histórico

de vendas reais para se basear, tendo apenas uma estimativa de vendas antiga, de quando ela

era bem menor.

Com relação ao planejamento da produção, o frigorífico não ultrapassa 60% da sua

capacidade produtiva, trabalhando de acordo com conhecimentos prévios dos pedidos de seus

clientes fixos (distribuidores e varejos locais) e mantendo um estoque de segurança para

suprir pedidos de consumidores finais ou novos clientes. No entanto, devido a este programa

da produção sem uma previsão da demanda, um grave problema no final do ano de 2009

ocorreu. A empresa produziu e estocou seis toneladas de filés em dezembro/09 para dar férias

coletivas aos funcionários de duas semanas. Porém, a demanda foi muito maior do que a

esperada e a empresa acabou por deixar de atender muitos pedidos. Com o retorno das

atividades, muitos pedidos foram entregues com atraso, pois a produção não era capaz de

supri-los de imediato. De acordo com o relato do gerente, isso ocorreu devido ao aumento de

pedidos e ao surgimento de novos clientes, o que não era esperado.

Do mesmo modo da piscicultura, o frigorífico possui um software para controle das

atividades, sendo o mesmo integrado entre as áreas funcionais e os membros do Grupo.

Porém, ele também executa um processo formal de planejamento da necessidade de materiais

e controle diário. A empresa verifica eventualmente o estoque para ver se é necessário ou não

efetuar a compra de mais matérias-primas ou os próprios funcionários passam esta informação

aos gerentes.

A não execução do processo de previsão da demanda está relacionada à falta de conhecimento

quanto ao real conceito de gestão da demanda e aos métodos de previsão. Atualmente, o

frigorífico lida com essas dificuldades através do aprendizado e experiência diária.

Compreensão do processo de atendimento de pedido

Como a empresa, no momento, não efetua nenhum tipo de transporte, pois todos os produtos

são buscados e distribuídos por terceiros, ela não se preocupa quanto à verificação da entrega

dos pedidos. O custo dos produtos finais também é considerado um dos menores, devido ao

frigorífico fazer parte de um Grupo que compartilha do mesmo ramo de negócio e, também,

pela proximidade da piscicultura ao mesmo, ganhando em tempo e custo.

4.4 Distribuidores A e B

A Figura 7 mostra informações sobre os Distribuidores A e B.

Membros Distribuidor A (maior) Distribuidor B (menor)

Ano de fundação 2005 2009

Venda mensal 2000 kg 1600 kg

Distribui para 2 frigoríficos (sendo um deles a

empresa foco) e 5 distribuidores

Empresa foco

Mix de produtos Tilápia, Camarão, Salmão e Merluza Tilápia

Figura 7 - Informações dos distribuidores

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Compreensão do processo produtivo

A cadeia do distribuidor A possui várias ramificações, estando a montante dois frigoríficos e

cinco distribuidores, que fornecem peixes importados, como é o caso da merluza, salmão e

camarão; enquanto que o distribuidor B possui apenas a empresa foco a montante. Já a

jusante, o distribuidor A tem por volta de 150 clientes em quatro regiões distintas. Tais

clientes incluem restaurantes, lanchonetes, supermercados e pequenos varejos sem

compromissos semanais. O distribuidor B, entretanto, possui como clientes apenas

restaurantes e lanchonetes, totalizando 35 empresas em 12 cidades diferentes.

No processo de transporte do distribuidor A, os pedidos dos varejos são pegos semanalmente

pelo telemarketing, que contatam os clientes um dia antes da entrega (cada cliente tem um dia

determinado para a entrega dos seus pedidos). Deste modo, este distribuidor, já tendo uma

previsão dos pedidos semanais dos seus clientes, faz o pedido ao fornecedor, neste caso, a

empresa focal. Ele, então, busca seus pedidos uma vez por semana no frigorífico, geralmente

no início da semana, e estoca na câmara fria da própria distribuidora. Assim, conforme o

telemarketing for solicitando os pedidos aos clientes, no outro dia, o distribuidor já efetua a

entrega. Desta forma, consegue ter um lead time de apenas um dia. Se sobrar mercadoria em

seu estoque, na semana seguinte ele faz uma estimativa para menos daqueles produtos que

sobraram.

Já, a solicitação dos pedidos aos clientes do distribuidor B acontece no momento da entrega

dos mesmos, ou seja, ao entregar as mercadorias pedidas, já efetua-se um novo pedido para a

semana seguinte. Ao final da semana, ele transmite estes pedidos à empresa focal, que fica

responsável por atendê-lo até o início da outra semana. No início da semana este distribuidor

se desloca até o frigorífico, para fazer o carregamento, e no mesmo dia, já entrega diversas

mercadorias a alguns clientes, enquanto que o restante é estocado na câmara fria, distribuindo

até, no máximo, nos próximos dois dias. Neste caso o lead time é de uma semana, não

apresentando impactos, pois no momento que o cliente efetua seu pedido para a próxima

semana, ele recebe mercadoria para supri-lo na semana atual.

Compreensão do processo de gestão da demanda

O distribuidor A não efetua um processo de previsão formal da demanda, com cálculos

adequados e outras variáveis a não ser o histórico. Ele apenas adquire, com base em seus

conhecimentos e histórico, uma base de 5 a 10 caixas a mais dos pedidos que recebe para

estoque de segurança. Logo, a “previsão” é gerada semanalmente e obtida a partir da

experiência de quatro anos do gerente neste ramo do mercado. A demanda média do

distribuidor A é de 1800 a 2000 kg de filé por semana.

O distribuidor B, por estar a menos tempo neste ramo, não possui um histórico de vendas para

se basear, mesmo porque a solicitação dos pedidos é antecipada uma semana. Sua demanda

média gira em torno de 1600 kg de filé por semana.

Ambos os distribuidores não desenvolvem nenhuma ação para expandir suas vendas ou

mesmo para prevê-las de forma a incorporar outros fatores importantes à previsão. Igualmente

aos membros anteriores, a sazonalidade impacta no verão e como evento especial tem-se a

quaresma. Em ambos os casos ocorrem aumento das vendas.

Com relação à troca de informações, o distribuidor A recebe e envia seus pedidos via telefone

e email, já o distribuidor B recebe seus pedidos no próprio local de entrega e envia-os por

telefone. Contudo, com exceção à solicitação dos pedidos, o distribuidor A não troca nenhum

tipo de informação à montante ou à jusante, ao contrário do Distribuidor B que tem uma

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maior cooperação, confiança e compromisso com a empresa foco; logo, trocam informações.

Os gerentes não relataram problemas quanto ao fato de não efetuarem previsão de demanda,

pois o distribuidor A possui um estoque de segurança e o B trabalha sob pedidos. Porém,

constatou-se durante a entrevista dificuldade em relação ao entendimento e conhecimento dos

métodos de previsão da demanda, incluindo, também, a não compreensão exata sobre o real

conceito de gestão da demanda e da cadeia de suprimentos.

Compreensão do processo de atendimento de pedido

Ambos os distribuidores efetuam seu próprio transporte e distribuição. Assim, ao entregar as

mercadorias, verificam no local se o pedido foi entregue conforme solicitado. Desta forma,

não há nenhuma reclamação quanto ao atendimento de pedidos, exceto o não atendimento de

pedidos no final do ano de 2009, devido ao erro de previsão da demanda da empresa foco.

5. Conclusão

Algumas falhas foram encontradas e necessitam ser eliminadas para se conseguir melhores

resultados nos negócios e na cadeia de suprimentos. Logo de início, foi possível observar a

ausência de conhecimento sobre o conceito e a função da SCM e da gestão da demanda que

tantos autores (CSCMP, 2009; MENTZER; MOON, 2004; MENTZER et al., 2007;

BALLOU, 2006) enfatizam seus benefícios de implantação. Também, a falta de

conhecimento da própria demanda em si, como afirma Mentzer e Moon (2004), é prejudicial

para a coordenação da cadeia de suprimentos.

Nenhum tipo de processo de previsão da demanda formal foi encontrado nas empresas

entrevistadas. Apenas o Distribuidor A, que está a mais tempo no mercado, executa uma

estimativa com base no histórico e no conhecimento sobre seus clientes. Já, a Piscicultura, o

Frigorífico e o Distribuidor B sentem dificuldades em executar a previsão da demanda por

não terem um histórico de venda para se apoiarem. Contudo, há muitos outros fatores

importantes a serem considerados no cálculo da previsão, como: pesquisa e tendências de

mercado, planejamento e estratégia da empresa, sazonalidades e eventos especiais. Com isso,

conclui-se, também, que o real conceito de gestão da demanda e os métodos de previsão não

são conhecidos pelos membros da cadeia. A previsão não deve ser só baseada em histórico, e

a gestão da demanda não consiste somente em previsão da demanda. A gestão da demanda é,

como afirmada por Vollmann et al. (2004), uma conexão entre atividades de produção da

empresa, sistemas de planejamento e controle e o mercado, equilibrando sempre oferta e

demanda. O planejamento da produção e o planejamento das necessidades de materiais não

têm nenhum vínculo com a demanda, produzindo apenas em lotes e de acordo com a

capacidade produtiva da empresa, o que causa um desalinhamento na cadeia, podendo gerar

amplificação da demanda conforme o conceito apresentado por Forrester (1958).

Percebeu-se que a empresa foco não se preocupa com o atendimento de pedido, devido a este

ser terceirizado. No entanto, nenhum problema quanto a este processo de negócio foi notado

nos distribuidores, com exceção da falta de produtos no fim do ano de 2009 pelo erro de

previsão da demanda da empresa focal.

No geral, conclui-se que a gestão da demanda nestas empresas emergentes é falha quanto: à

previsão da demanda de maneira formal e completa, abordando apenas histórico de demandas

e vendas; às ações da área de marketing para impulsionar o mercado e divulgar seus produtos;

à desconfiança e restrição no compartilhamento de informações com empresas terceirizadas; a

um processo mais criterioso e adequado de planejamento da produção e das necessidades de

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materiais.

Como este ramo do mercado está crescendo, novos clientes e aumento da demanda surgirão,

logo, a cadeia tem que estar preparada para lidar com este fator. Para isto, melhorias são

necessárias como: obter conhecimentos sobre SCM, gestão da demanda e sobre a própria

demanda em si; executar um método de previsão de demanda mais robusta; gerir a cadeia para

poder acompanhar o ritmo de crescimento desta e atender ao mercado, principalmente em

épocas de maior venda; executar um trabalho conjunto entre os membros da cadeia, obtendo,

assim, maior confiança, troca de informações, cooperação, coordenação, parcerias e aumento

da velocidade da comunicação, a fim de diminuir o lead time da cadeia como um todo;

desenvolver os planejamentos da produção e de materiais ligados a demanda, já que no

momento produzem apenas em lotes causando o efeito chicote; melhorar as técnicas de

cultivo e transporte de forma a reduzir a mortalidade dos peixes; e executar ações de

promoção dos produtos, no sentido de aumentar o consumo.

A empresa foco possui muitas vantagens por estar inserida em um Grupo onde suas unidades

situam-se próximas e compartilham do mesmo ramo de negócio. Se implementarem uma

adequada gestão da demanda na cadeia conseguirão reduzir, ainda mais, os custos, serem

flexíveis e seguros aos atendimentos de pedidos, obterem maior velocidade de comunicação,

menores lead times e uma maior sincronização. A situação observada, neste estudo, ainda se

enquadra na situação das cadeias e empresas emergentes de hoje.

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