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A GESTÃO DE CONHECIMENTOS CRÍTICOS APLICADA AO DIA A DIA DO TRABALHO: A MISSÃO DE AMPLIAR O COMPARTILHAMENTO, APRIMORAR A TOMADA DE DECISÃO E APERFEIÇOAR PROCESSOS DE TRABALHO GUSTAVO PIRES DE ANDRADE SILVA

A GESTÃO DE CONHECIMENTOS CRÍTICOS APLICADA AO … · a gestÃo de conhecimentos crÍticos aplicada ao dia a dia do trabalho: a missÃo de ampliar o compartilhamento, aprimorar

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A GESTÃO DE CONHECIMENTOS CRÍTICOS

APLICADA AO DIA A DIA DO TRABALHO: A MISSÃO

DE AMPLIAR O COMPARTILHAMENTO, APRIMORAR

A TOMADA DE DECISÃO E APERFEIÇOAR

PROCESSOS DE TRABALHO

GUSTAVO PIRES DE ANDRADE SILVA

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Painel 09/026 Escolas de governo, estratégias de capacitação e gestão do conhecimento

A GESTÃO DE CONHECIMENTOS CRÍTICOS APLICADA

AO DIA A DIA DO TRABALHO: A MISSÃO DE AMPLIAR O COMPARTILHAMENTO, APRIMORAR A TOMADA DE DECISÃO E

APERFEIÇOAR PROCESSOS DE TRABALHO

Gustavo Pires de Andrade Silva

RESUMO

Exposição de Modelo de Gestão do Conhecimento, apropriado à realidade de um órgão público, desenvolvido e implantado nos últimos 04 anos pela Secretaria de

Estado de Fazenda de Minas Gerais, com dois focos: sustentação dos conhecimentos críticos corporativos que subsidiam os principais processos de trabalho da Secretaria, e atuação dos gerentes e dos servidores na execução do dia

a dia de trabalho. O modelo a ser apresentado (política + estratégias + ações + procedimentos + ferramentas) está alicerçado na missão, visão e valores da

SEF/MG e tem como um dos principais objetivos a criação, utilização e proteção do capital intelectual dos servidores e dos conhecimentos organizacionais. A Política de Gestão do Conhecimento trata de diretrizes e responsabilidades macro; as

estratégias e ações explicitam a tática adotada; enquanto procedimentos e ferramentas são a operacionalização de todo o modelo com participação de

gerentes e servidores. Palavras-chave: Modelo., Estratégias. Política. Gestão do conhecimento

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 05

1.1 Conceituando a gestão do conhecimento........................................... 07

1.2 Importância da gestão do conhecimento............................................. 08

2 DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO.......................................... 09

2.1 Dado......................................................................................................... 10

2.2 Informação.............................................................................................. 10

2.3 Conhecimento......................................................................................... 12

2.4 Conhecimento velho e conhecimento novo........................................ 14

2.5 Conhecimento tácito e conhecimento explícito.................................. 15

2.6 Conhecimento certo, no lugar certo, na hora certa............................ 16

3 MODELO SEF DE GESTÃO DO CONHECIMENTO............................... 17

3.1 Direcionadores estratégicos................................................................. 18

3.2 Viabilizadores do conhecimento........................................................... 20

3.2.1 Papel da alta administração..................................................................... 20

3.2.2 Administração de Recursos Humanos..................................................... 21

3.2.3 Sistemas de informação........................................................................... 23

3.2.4 Processos de trabalho.............................................................................. 24

3.2.5 Considerações finais sobre os viabilizadores........................................... 25

3.3 Partes interessadas................................................................................ 26

3.4 Modelo SEF/MG para os conhecimentos críticos corporativos......... 27

3.4.1 Variáveis de análise.................................................................................. 28

3.4.1.1 Características do conhecimento............................................................. 28

3.4.1.2 Negócio..................................................................................................... 29

3.4.1.3 Criação..................................................................................................... 29

3.4.1.4 Codificação e organização....................................................................... 29

3.4.1.5 Compartilhamento e disseminação.......................................................... 29

3.4.1.6 Proteção................................................................................................... 30

4

3.5 Ciclo KDCA.............................................................................................. 30

3.6 Institucionalização da GC...................................................................... 31

4 FERRAMENTAS...................................................................................... 32

4.1 Identificação de processos críticos...................................................... 32

4.2 Mapeamento do conhecimento............................................................. 33

4.3 Lacunas do conhecimento.................................................................... 34

4.4 Plano de ações........................................................................................ 40

5 REFERÊNCIAS........................................................................................ 42

5

1 INTRODUÇÃO

A habilidade de gerir conhecimento está se tornando mais crucial na

economia hoje em dia. A criação e difusão dos conhecimentos se tornaram um dos

fatores mais importantes para o alcance dos resultados organizacionais.

Mais e mais conhecimentos estão sendo considerados como commodities

valiosas (commodity é um bem produzido em larga escala mundial com

características homogêneas e que tem valor de mercado considerável como a água,

o petróleo, o café) que estão relacionadas a produtos (principalmente produtos

relacionados à tecnologia) e ao arcabouço tácito (conjunto dos conhecimentos que

se entende sem que seja preciso exprimir por palavras) de pessoas chave nas

organizações.

Apesar de o conhecimento ser visto como um ativo intelectual (bem

necessário à execução do trabalho), ele possui características paradoxais que são

radicalmente diferentes de outras ativos commodities valiosas, são elas:

O uso do conhecimento não o consome;

A transferência e o compartilhamento de conhecimento não resultam

em perda;

O conhecimento é abundante, mas a habilidade de utilizá-lo é escassa;

Muitos dos conhecimentos organizacionais valiosos vão embora para

casa no final do dia.

Hoje em dia, uma das únicas fontes seguras de sustentabilidade das

organizações é o que ela conhece, o quão eficiente ela usa o que conhece e o quão

rápido ela adquire, adapta e usa um novo conhecimento.

Uma organização na Era do Conhecimento é aquela que aprende, lembra

e age baseada nas melhores fontes possíveis de informação e conhecimento.

Esta nova realidade criou uma forte necessidade de estabelecer políticas

sistemáticas de cultivo e compartilhamento dos conhecimentos organizacionais,

em outras palavras, para obter sucesso frente aos desafios de hoje as

organizações precisam aprender com seus erros do passado e não reinventar a

roda de novo e de novo.

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Uma pesquisa feita no Canadá em 2014 (Coveo Research: The

Knowledge Rework Report) mostra que 58% das pessoas indicam que trabalham

com algo ou se envolvem em algum projeto que nunca havia sido feito ou

solucionado na organização e, para tanto, gastam 25% do seu tempo útil. Também

mostra que 36% conseguem fácil e rapidamente encontrar e reutilizar trabalhos ou

projetos que já tenham sido feitos menos de 25% das vezes. Outra informação

interessante é que 85% das pessoas indicaram que se pudessem reutilizar 98% do

conhecimento organizacional conseguiriam aumentar a produtividade entre 10 a

50% ou mais.

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O conhecimento organizacional não substitui o conhecimento individual,

mas o completa tornando-o mais forte, mais coerente e ampliando sua aplicabilidade.

A Gestão do Conhecimento representa uma forma deliberada e sistemática de

garantia da completa utilização da base de conhecimentos organizacionais,

associada ao potencial dos indivíduos, suas competências, pensamentos,

inovações e ideias para criar uma organização mais eficiente e efetiva.

1.1 Conceituando gestão do conhecimento

Gestão do Conhecimento é um campo multidisciplinar de ação que buscar

suprir a organização com técnicas e ferramentas para potencializar o uso e reuso

dos conhecimentos que subsidiam os processos.

Podemos ver a GC sob três perspectivas diferentes:

Da perspectiva do negócio temos dois aspectos:

Tratar o componente conhecimento das atividades relacionadas ao

negócio como uma preocupação explícita que se reflete na

estratégia, política e prática em todos os níveis da organização; e,

faz uma correlação direta entre os ativos intelectuais da organização

e os resultados de negócio positivos.

Gestão do Conhecimento é uma forma colaborativa e integrada de

criação, captura, organização, acesso, uso, disseminação e proteção

dos ativos intelectuais da organização.

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Da perspectiva de processos/tecnologia:

É um conceito sob o qual a informação é transformada em

conhecimento pragmático e disponível, em uma forma utilizável,

para as pessoas que precisam aplicá-lo.

Um sistema de gestão do uso das informações com o intuito de

manter um fluxo contínuo de conhecimento para as pessoas corretas

no momento correto, possibilitando tomada de decisões eficientes e

efetivas no dia a dia da organização.

Da perspectiva da ciência cognitiva:

Gerir o conhecimento – os insights, entendimentos e todo o know-

how prático que todos nós possuímos – é gerir o principal fator que

torna possível o comportamento pessoal, organizacional e social.

1.2 Importância da gestão de conhecimento

Por que a gestão do conhecimento é importante? Por que agora?

O fato é que realmente entramos em uma nova época, a época da

informação, que se difere profundamente da época industrial. Certo? Antigamente, a

organização dos negócios se dava em forma de hierarquias. Atualmente, você pode

perceber que a base dos negócios se prolifera por meio das redes, aumentando

substancialmente o fluxo de informações.

Na economia da sociedade globalizada, o grande diferencial competitivo

das empresas e dos países deixou de ser a mão de obra barata ou os recursos

naturais, para estar centrado na capacidade de gerar conhecimento e produzir

inovação.

Um dos fatos mais marcantes de toda essa evolução está na

transformação de recursos físicos escassos em recursos digitais ilimitados, abrindo

uma nova infraestrutura de negócios – a tecnologia da informação. Com a

velocidade e a interatividade da Internet, o conhecimento pode ser adquirido e

disseminado com a mesma velocidade. Inicialmente, acreditava-se no poder da

tecnologia como a solução de todos os problemas.

9

Mais recentemente, percebeu-se a necessidade de gerenciar as

informações como um processo estratégico dos ambientes de negócio.

Onde será que estamos hoje?

Nunca antes a informação foi tão importante para a economia e,

atualmente, é considerada um dos principais ativos das empresas. Veja, na tabela, a

comparação da era industrial com a era do conhecimento enfatizando suas

diferenças e apontando os paradigmas da nova era.

Item Paradigma da Era Industrial

Paradigma da Era do Conhecimento

Pessoas Geradores de custos ou recursos

Geradores de receita

Fonte de poder dos gerentes Nível hierárquico na organização

Nível de conhecimento

Principal responsabilidade da gerência

Supervisionar os subordinados

Apoiar os colegas

Informação Instrumento de controle Ferramenta para comunicação

Produção Operários processando recursos físicos para criar produtos tangíveis

Trabalhadores do conhecimento convertendo conhecimento em estruturas intangíveis

Fluxo de informação Por meio da hierarquia organizacional

Por intermédio de redes colegiadas

Gargalos na produção Capital financeiro e habilidades humanas

Tempo e conhecimento

Conhecimento Um recurso entre outros O foco do negócio

Propósito do aprendizado Aplicação de novas ferramentas

Criação de novos ativos

2 DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO

Em conversas informais é comum utilizar expressões como dado ou

informação como sinônimos de conhecimento. Mas, na realidade eles são

componentes do conhecimento. Existem diferenças importantes que precisamos nos

familiarizar:

10

2.1 Dado

“Dado: elemento que representa eventos ocorridos na empresa ou

circunstâncias físicas, antes que tenham sido organizados ou arranjados de maneira

que as pessoas possam entender e usar.” (Rossini & Palmisano)

Dado é qualquer registro ou indício relacionável a algum ou evento .

Um dado não é, necessariamente, resultado de uma intenção de registrar alguma

coisa – o som produzido por um fenômeno natural, uma pegada, a sombra de um

objeto, podem ser Dados. O registro ou indício não precisa ser físico – uma imagem

ou um valor guardados na memória de uma pessoa podem ser Dados.

2.2 Informação

“Informação: Dado configurado de forma adequada ao entendimento e à

utilização pelo ser humano.” (Rossini & Palmisano)

Podemos afirmar que a informação pode ser composta a partir de um

conjunto de dados, desde que estes dados sejam apresentados de forma que

possamos compará-los, permitindo que análises sejam feitas. Isto é obtido

primeiramente pela introdução de outros dados de mesmo tipo, bem como pelo

fornecimento de outros detalhes, como o ambiente a que se referem os dados, como

foram coletados e de que forma foram convertidos.

Informação é o sentido que um conjunto de dados tem para alguém.

Informação é uma visão pessoal sobre um conjunto de Dados – as

relações percebidas associam ao Dado um significado próprio, na medida em que

são específicas para cada indivíduo, pois dependem de suas capacidades e

experiências anteriores. Assim, um mesmo conjunto de Dados não gera a mesma

Informação para diferentes pessoas. Nos casos mais simples, envolvendo Dados e

relações menos complexas, as Informações percebidas por diferentes pessoas

poderão ser mais semelhantes. Quanto maior a complexidade da Informação, mais

ela dependerá do repertório anterior e da capacidade de cada indivíduo e, portanto,

mais pessoal será.

Informação é, portanto, a leitura que cada indivíduo faz de um conjunto de

Dados, é o significado que lhe atribui ao "internalizar" esses Dados.

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Comunicação da informação

Sabemos que Dados podem ser transmitidos e recebidos com um grande

grau de fidelidade. A comunicação de Dados é algo presente em muitos aspectos de

nossa vida diária. E a Informação, pode também ser comunicada?

Se o detentor da Informação for capaz de explicitar a maioria das relações

e dos decorrentes significados que estabeleceu na aquisição da Informação, poderá

também comunicá-las a outros. Estes poderão assim adquirir uma Informação

semelhante, mas certamente diferente da original, não só pelas limitações na

explicitação das relações, como também pela impossibilidade de assegurar que as

relações estabelecidas tenham o mesmo significado para cada receptor. Essa nova

Informação, do receptor, poderá se aproximar daquela original, na medida da

precisão e abrangência da explicitação, da qualidade da comunicação e da

equivalência das experiências pessoais do emissor e dos receptores, relacionadas

ou não ao assunto (background geral e específico). Portanto, uma Informação só

pode ser objeto de uma comunicação se suficientemente explicitada e, mesmo

assim, sem garantias de fidelidade total.

Qualidade da informação

Quais as características que tornariam os produtos de informação

valiosos e úteis?

Uma maneira de responder a essa pergunta é examinar as características

ou atributos da qualidade da informação. Informações antiquadas, inexatas ou

difíceis de entender não seriam muito significativas, úteis ou valiosas para os

usuários finais. As pessoas desejam informações de alta qualidade, ou seja,

produtos de informação cujas características, atributos ou qualidades ajudam a

torná-los valiosos para elas. A informação é dotada de três dimensões: tempo,

conteúdo e forma.

Dimensão do Tempo

Prontidão: A informação deve ser fornecida quando for necessária

Aceitação: A informação deve estar atualizada quando for

necessária

Frequência: A informação deve ser fornecida tantas vezes quantas

forem necessárias

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Período: A informação pode ser fornecida sobre períodos passados,

presente e futuros

Dimensão do Conteúdo

Precisão: A informação deve estar isenta de erros

Relevância: A informação deve estar relacionada às necessidades

de informação de um receptor específico para uma situação

específica

Integridade: Toda informação que for necessária deve ser fornecida

Amplitude: A informação pode ter um alcance amplo ou estreito, ou

um foco interno ou externo

Desempenho: A informação pode revelar desempenho pela

mensuração das atividades concluídas, do progresso realizado ou

dos recursos acumulados

Dimensão da Forma

Clareza: A informação deve ser fornecida de uma forma que seja

fácil de compreender

Detalhe: A informação pode ser fornecida em forma detalhada ou

resumida

Ordem: A informação pode ser organizada em uma sequência

predeterminada

Apresentação: A informação pode ser apresentada em forma

narrativa, numérica, gráfica ou outras

Mídia: A informação pode ser fornecida na forma de documentos em

papel impresso, monitores de vídeo ou outras mídias

2.3 Conhecimento

O conhecimento provê capacidade para interpretar e operar sobre um

conjunto de Informações. Essa capacidade é criada a partir das relações que ele

estabelece sobre o conjunto de Informações, e desse conjunto com outros conjuntos

que já lhe são familiares (incluindo experiências, impressões, valores, crenças, etc.),

que lhe permitem compreende-lo e tirar conclusões sobre ele e a partir dele.

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É uma capacidade, pois o Conhecimento é dinâmico: quem conhece pode

estabelecer novas relações, tirar novas conclusões, fazer novas inferê ncias, agregar

novas Informações, reformular significados. Ao exercitar o Conhecimento, ele se

consolida e cresce.

As relações podem servir para estabelecer contextos para as

Informações, realizar comparações, categorizações, classificações, associações,

etc., que definirão sua compreensão e a capacidade operativa sobre elas.

Conhecimento – pode ser entendido como sendo o conjunto obtido pela

informação e o contexto associado, envolvendo a percepção do ambiente, do

sistema em que foi composta e coletada e como este sistema age, funciona.

Conhecimento é um conjunto de informações interligadas e logicamente

relacionadas, é um nível mais elevado do que um mero conjunto de informações.

Quanto maior o volume de Conhecimentos de alguém, maior sua

facilidade de ampliá-lo, pois não só partirá de uma base mais rica de Informações e

Conhecimentos, aumentando as referências para o estabelecimento de relações,

como, provavelmente, conhecerá um repertório maior de relações e estará também

mais "treinado" para reconhecê-las.

Comunicação do Conhecimento

A tentativa de comunicar um Conhecimento, mesmo com suas

dificuldades e limitações, pode ajudar a desenvolver e multiplicar esse

Conhecimento – por um lado, o esforço para sua explicitação e comunicação, e para

dar respostas a eventuais dúvidas e questionamentos podem resultar no seu

aprofundamento ou refinamento por parte de seu detentor original – por outro, cada

receptor, ao adquirir a sua versão daquele Conhecimento, pode também amplia-lo,

estendê-lo, etc.

De qualquer forma, talvez a melhor maneira de comunicar um

Conhecimento seja criar condições para que cada receptor reproduza e vivencie,

real ou virtualmente, os caminhos que permitiram sua aquisição pelo detentor

original.

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2.4 Conhecimento velho e conhecimento novo

A maior parte das estratégias de Gestão do Conhecimento geralmente

tem uma (às vezes ambas) de duas vertentes. A primeira é utilizar melhor os

conhecimentos que já existem na organização, e a segunda é criar novos

conhecimentos.

Utilizar melhor os conhecimentos que já existem na organização

(conhecimento “velho”) quase sempre começa com “conhecer o que você conhece”.

Frequentemente os gerentes comentam: “Se ao menos conhecêssemos o que

conhecemos...”. Quase sempre, pessoas de uma unidade administrativa da

organização reinventam a roda ou falham em resolver problemas porque o

conhecimento que precisam está em outro lugar da organização e eles não sabem

disso ou não tem acesso a ele. Assim, a primeira iniciativa de Gestão do

Conhecimento de muitas instituições é descobrir o que elas já sabem e tomar os

passos necessários para fazer com que estes conhecimentos estejam acessíveis

para toda a organização. Práticas específicas incluem conduzir uma auditoria sobre

os conhecimentos, mapear as fontes, fluxos e recursos de conhecimento que a

organização possui, e estabelecer mecanismos que possibilitem disponibilizar os

conhecimentos para onde são necessários de forma rápida.

A criação de novos conhecimentos também pode ser alcançada de várias

formas, treinamento, contratação de recursos externos, colocar pessoas diferentes e

seus conhecimentos juntos para criar conhecimentos atualizados, gerar insights, etc.

Está também relacionada à inovação – fazer a transição entre ideias e ações mais

efetivas.

Na realidade, a distinção entre conhecimentos “velhos” e “novos” não é

sempre clara. Inovações quase sempre estão embasadas em lições do passado,

particularmente aquelas que foram esquecidas, ou aquelas que podem compor

novas combinações para alcançar novos resultados. Similarmente, a aplicação de

conhecimentos “velhos” quase sempre envolve algumas adaptações, e no processo

de adaptação, novos conhecimentos são criados.

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No fim do dia, a qualidade dos conhecimentos não depende se ele é

“velho” ou “novo”, mas sim se ele é relevante. Se é um conhecimento pré-existente

ou inédito não importa, a questão é: funciona na prática?

2.5 Conhecimento tácito e conhecimento explícito

Existem basicamente dois tipos de conhecimento: tácito e explícito

(Nonaka & Takeuchi, 1997). O conhecimento tácito é difícil de articular e também

difícil de colocar em palavras, em um texto ou desenhos. Em contraste, o

conhecimento explícito representa conteúdo que pode ser capturado em uma forma

tangível como palavras, gravações de áudio ou imagens.

O conhecimento tácito reside “dentro da cabeça dos conhecedores”,

enquanto o conhecimento explícito pode ser contido em mídias tangíveis ou

concretas. De qualquer forma, devemos perceber que esta divisão é uma dicotomia

simplista. Aqui reside um paradoxo que precisamos observar, a característica de ser

tácito de um conhecimento depende do conteúdo e de como a comunicação entre o

receptor e detentor do próprio conhecimento se estabelece. O mesmo conteúdo

pode ser explícito para uma pessoa e tácito para outra ou vice versa. Podemos ter

uma pessoa com habilidades excepcionais, com muita experiência, um expert que

encontrará dificuldades em articular o seu know-how, o seu conhecimento; enquanto

um novato em determinado assunto conseguiria facilmente verbalizar sobre o seu

trabalho porque está seguindo um manual ou um passo a passo.

Tipicamente, quanto mais tácito um conhecimento é, mais valioso ele

tende a ser devido à dificuldade de articular saberes pessoais para criar significado,

de entendimento de outros interlocutores, estruturado em linguagem falada, escrita,

imagem etc. O paradoxo reside no fato de que quanto mais difícil é articular um

conceito como uma “história”, mais valioso o conhecimento é. Isto é frequentemente

evidenciado quando as pessoas fazem referência ao conhecimento sobre alguma

coisa versus o conhecimento sobre como fazer alguma coisa. Outra perspectiva é

que o conhecimento explícito tende a representar o produto final, enquanto o

conhecimento tácito é o saber fazer ou todos os processos requeridos para produzir

o produto final.

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De acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), a principal razão do sucesso

das empresas japonesas, principalmente na década de 90, foi sua competência na

construção do conhecimento organizacional. Essa construção é conseguida quando

são elaborados processos sociais capazes de criar novos conhecimentos através da

conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito e quando se

reconhece a sinergia entre estes dois tipos de conhecimento. A criação do

conhecimento organizacional é, segundo estes autores, “um processo que amplifica

de maneira organizacional o conhecimento criado pelos indivíduos e cristaliza-o

como parte da rede de conhecimento da organização”.

Neste sentido, duas dinâmicas orientam o processo de amplificação do

conhecimento: (1) converter conhecimento tácito em conhecimento explícito e (2)

transferir o conhecimento individual para o grupo, para a organização e para outras

organizações.

A base da criação do conhecimento organizacional é, portanto, a

conversão do conhecimento tácito em explícito e vice-versa. Dessa forma, para

tornar-se uma empresa que gera conhecimento (knowledge creating company), a

organização deve completar o que Nonaka e Takeuchi (1997) definem como “a

espiral do conhecimento”. Essa espiral mostra que o conhecimento tácito deve ser

articulado e então internalizado para tornar-se parte da base de conhecimento de

cada indivíduo dentro da organização. A espiral sempre começa novamente depois

de ter sido completada, porém em patamares cada vez mais elevados, ampliando

assim a aplicação do conhecimento em outras áreas da organização.

Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que “... quando há interação entre o

conhecimento explícito e o conhecimento tácito, surge a inovação”.

2.6 Conhecimento certo, no lugar certo, na hora certa

Algumas pessoas assumem erroneamente que Gestão do Conhecimento

é relacionada somente com capturar as melhores práticas que as pessoas possuem

e guardá-las em um sistema informatizado na esperança de que um dia possam ser

úteis. De fato, esse é um bom exemplo do que não é Gestão do Conhecimento.

Considere isso: Com qual a frequência você recebe informações ou conhecimentos

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que você não precisa – papéis, e-mails, treinamentos ou uma reunião irrelevante?

E mais tarde, quando você realmente precisa, você se lembra vagamente de ter

visto alguma coisa relevante mas não consegue mais encontrar. Algumas pesquisas

mostram que quem trabalha com conhecimentos gasta dez por cento do seu tempo

procurando por informações que eles sabem que está em algum lugar. E se o que

você precisa está na cabeça das pessoas, e essas pessoas não estão sempre à sua

volta, como você pode acessar o que precisa quando precisa? E se você nem sabe

em qual cabeça está o que você precisa, ou se eles estariam disponíveis para

compartilhar com você?

Em suma, boa Gestão do Conhecimento é conseguir o conhecimento

certo, no lugar certo, na hora certa.

O conhecimento certo é aquele que você precisa para fazer seu trabalho,

quer seja tomando uma decisão, administrando um conflito, planejando um

resultado, treinando pessoas, interpretando gráficos, usando um sistema

informatizado, etc.

O lugar certo é o lugar onde a ação ou decisão está acontecendo, na

reunião, na estação de trabalho, na base de dados do sistema.

A hora certa é quando você (a pessoa ou a equipe que está fazendo o

trabalho) precisa.

3 MODELO SEF DE GESTÃO DO CONHECIMENTO

Um modelo é uma descrição concisa e holística dos principais elementos,

conceitos e princípios de uma área de conhecimento. Ele busca explicar essa área

do conhecimento e definir um desenho padronizado do seu conteúdo, essencial

como referência para a implementação de desenhos no futuro.

Um modelo de gestão do conhecimento oferece a referência para a

tomada de decisões sobre como implementar a GC.

As organizações utilizam modelos para:

Descrever os principais componentes da GC;

Prescrever como implantar a GC;

Comunicar de forma coerente o que é GC;

Como elaborar e avaliar soluções de GC.

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Os modelos de GC construídos para o setor privado não são adequados

para o setor público e foi necessário construir modelos genéricos, holísticos e

específicos de GC adequados à realidade da Secretaria de Fazenda de Minas Gerais.

Neste capítulo, apresentaremos os modelos de GC construídos para a

SEF/MG que reúne as características acentuadas na introdução deste estudo.

Para que pudéssemos desenvolver a Gestão do Conhecimento foram

necessárias duas abordagens:

Conhecimentos Críticos Corporativos;

Institucionalização da GC.

Para os dois modelos são aplicados os mesmos Direcionadores

Estratégicos, Viabilizadores dos Conhecimentos e a mesma Parte Interessada.

Todos serão explicados à frente.

3.1 Direcionadores estratégicos

O primeiro componente e ponto de partida do modelo são os

direcionadores estratégicos da organização: Missão, visão de futuro e valores.

É fundamental para o sucesso alinhar a GC com esses direcionadores,

pois, a GC deve ser implantada para gerar resultados, para contribuir para o alcance

dos objetivos da organização pública.

Para facilitar o entendimento do alinhamento proposto seguem a Missão,

a Visão e os Valores da SEF/MG:

MISSÃO – A missão é uma declaração sobre o que é a organização

pública, sua razão de ser, seus cidadãos – usuários e os serviços que

presta. A missão define o que a organização pública é hoje, seu propósito

e como pretende atuar no dia a dia.

A Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais tem como Missão

Institucional prover e gerir os recursos financeiros do Estado,

formulando e implementando políticas que garantam a justiça fiscal, o

equilíbrio das contas públicas e o desenvolvimento de ações de

governo, em benefício da sociedade mineira.

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VISÃO – A visão de futuro define o que a organização pública pretende

ser no futuro. Incorpora as ambições da organização e descreve o quadro

futuro que se quer atingir. Assim, dá forma e direção ao futuro da

organização pública.

Ser reconhecida como instituição de excelência no cumprimento da sua

missão:

por possuir um fisco reconhecido como justo, eficaz e com ações

transparentes;

por contar com um quadro de funcionários qualificados, motivados e

comprometidos com o seu trabalho;

por responder às mudanças agindo com flexibilidade diante da

variação dos cenários político, econômico e social;

por alcançar o equilíbrio estrutural das contas públicas;

por contribuir para a transformação de Minas Gerais no melhor

Estado para viver, trabalhar e investir.

VALORES – Os valores são premissas que dão embasamento a todas as

ações executadas dentro da organização pública.

Efetividade

A SEF, através de uma melhor aplicação dos recursos humanos,

materiais e institucionais, buscará atingir resultados que contribuam

para a prestação de serviços públicos de qualidade.

Ética

A atuação da SEF e de cada um dos servidores será pautada nos

princípios da lealdade, impessoalidade, moralidade, probidade

administrativa e respeito para com a instituição.

Justiça Fiscal

A SEF promoverá justiça fiscal, obedecendo ao princípio da

legalidade tributária, aplicando tratamento igualitário entre os

contribuintes, e coibindo a sonegação.

Qualidade

A SEF buscará a qualidade dos seus resultados, por meio de um

trabalho competente e participativo, objetivando a satisfação do

cliente, em conformidade com seus anseios e exigências, e a

qualidade de vida de seus servidores.

20

Responsabilidade Social

A atuação da SEF deverá se basear em ações que visem a proteger

e melhorar o bem-estar da sociedade.

Transparência

A SEF tornará visíveis e acessíveis à sociedade, sem prejuízo do

sigilo fiscal, as ações institucionais, as decisões administrativas e os

valores de receitas e gastos públicos.

3.2 Viabilizadores do conhecimento

Papel da Alta administração

Administração de recursos humanos

Sistemas de informação

Processos de trabalho

3.2.1 Papel da alta administração

O tempo é o mais escasso de todos os recursos, aquele impossível de se

replicar e ainda o mais essencial para uma geração genuína de conhecimento. Os

gerentes precisam reconhecer que a disponibilidade de “tempo livre” para o

aprendizado e pensar pode ser uma das melhores medidas da orientação do

conhecimento da empresa. DAVENPORT E PROSAK, 1998.

Na Era do Conhecimento, um dos papéis fundamentais dos gerentes é a

definição de “áreas do conhecimento” a serem exploradas pela organização e o

estabelecimento de diretrizes que estimulem a inovação, mas sempre relacionadas

ao alcance dos objetivos estratégicos determinados.

Essas áreas de conhecimento e as diretrizes ajudam as pessoas a

tomarem dezenas de decisões no dia-a-dia e a elevar o moral geral da organização,

pois permitem a elas relacionar as atividades individuais a algo maior.

Neste contexto, um fator que faz enorme diferença é um processo de

Gestão de Conhecimento bem implantado (estimulado e utilizado).

A capacidade de liderança, organização e o gerenciamento da força de

trabalho são fundamentais para qualquer estratégia, pois são vantagens e ativos

imprescindíveis na Era do Conhecimento.

21

Saiba que, competências organizacionais que envolvem a capacidade de

obter resultados específicos e tangíveis, a partir da mobilização integrada das

competências individuais e coletivas, do uso efetivo de recursos produtivos, de

informação, de redes de relacionamentos, entre outros, é o fator principal para

alcançar tudo o que foi determinado no planejamento estratégico.

Percebemos que o mapeamento de competências e habilidades é muito

importante porque facilita o desenvolvimento de estratégias de gestão de pessoas,

logo, produzem um círculo virtuoso que acaba por alavancar ainda mais os ativos de

conhecimento da organização.

É papel da alta administração criar necessidades permanentes de

inovação. As práticas administrativas devem ser flexíveis e um grande foco deve ser

estabelecido quanto ao perfil das pessoas que serão alocadas aos processos de

trabalho.

A organização deve motivar as pessoas a um aprendizado contínuo e

promover o seu pensamento estratégico. Assim, a organização passa a ter uma

visão clara dos conjuntos de conhecimentos essenciais que sustentam seus

objetivos estratégicos.

3.2.2 Administração de Recursos Humanos

Acredita-se que muitas características como a criatividade e a capacidade

de trabalhar em equipe são desenvolvidas ao longo da vida e muito valorizadas

dentro da organização. Assim, a escolha das pessoas que ocupam cargos

estratégicos na organização ganha uma relevância especial na era do

conhecimento.

A seleção ou recrutamento de colaboradores possui grande importância

em uma empresa que realiza a Gestão do Conhecimento. Ela possibilita que seja

agregado um importante valor aos seus ativos intangíveis – o capital intelectual.

Na seleção de candidatos a uma vaga, é muito importante analisar se o

candidato possui, além de habilidades e conhecimentos explícitos, a capacidade de

mobilizar sua equipe para fazer com que a espiral do conhecimento gire e possa

trazer inovação para a organização.

22

Além disso, é importante que a organização diversifique o tipo de

profissional que aprova na seleção. A diferença de perfis entre os colaboradores

pode auxiliar para a criação do conhecimento.

Outro aspecto do dia-a-dia das organizações é o treinamento dos

colaboradores. A evolução tecnológica exige um aprendizado constante das pessoas.

Nesse sentido, os gerentes devem se perguntar sempre “Que tipos de

treinamentos são eficazes?”, “Como o aprendizado adquirido pelos colaboradores

será revertido em benefícios para a instituição?”, etc.

É muito comum nas organizações que colaboradores mais antigos

instruam os novos em suas funções e desafios. Nesse momento, acontece a

transferência do conhecimento e um aprendizado, tanto de quem recebe quanto de

quem transmite a informação. A gestão do conhecimento na organização passa,

claramente, pela alocação de recursos para a educação de seus membros.

As organizações que estimulam o colaborador a trabalharem em projetos

e funções diversificados estão indiretamente investindo no seu potencial criativo

(quanto mais realidades e subsídios a pessoa possuir, maior será a sua base de

conhecimentos para a inovação).

Além disso, servidores com visões diversificadas compreendem melhor a

missão, a visão e os valores da organização e são capazes de destacar facilmente

os pontos fortes e aqueles que precisam ser melhorados no dia-a-dia de trabalho.

Por fim, podemos também inferir que a diversificação do trabalho está

relacionada com a gestão de conhecimento na organização, pois há uma troca de

informações e um maior relacionamento entre os departamentos da organização.

Organizações que reconhecem seus colaboradores mais inovadores

estão utilizando uma importante alavanca motivacional. Muitas instituições possuem

em sua cultura organizacional o hábito de reconhecer publicamente realizações

importantes.

Para potencializar a Gestão do Conhecimento deve haver uma

preocupação em manter um alto grau de confiança entre os colaboradores e a

organização. Sem esse requisito, não se pode esperar o comparti lhamento de

insights, pensamentos e experiências entre todos os envolvidos (lembre-se se não

houver confiança, estimula-se o pensamento defensivo dos funcionários).

23

3.2.3 Sistemas de informação

Você sabe como utilizar os sistemas de informação para o

compartilhamento de informações e do conhecimento?

Para isso destacam-se diversas tecnologias como as intranets, sistemas

de gerência de documentos e videoconferência. Nas “organizações que aprendem”,

os sistemas de informação devem ser personalizados, imediatamente disponíveis e

de fácil acesso. (TERRA, 2005).

Os sistemas de publicação e documentação são aqueles que possibilitam

o fácil acesso à informação (conteúdo explícito). Estes sistemas de colaboração

podem ser síncronos (envolvimento em tempo real, como chats e videoconferência)

ou assíncronos (e-mails, fóruns de discussão).

Alguns fatores devem ser analisados quando tratamos de sistemas de

informação e sua relação com a Gestão do Conhecimento:

O excesso de informações pode causar a perda de produtividade.

As políticas de acesso à informação devem ser pouco restritivas.

Os usuários muitas vezes precisarão ser treinados nas ferramentas.

O uso efetivo das ferramentas deve ser motivado e monitorado.

Deve-se desenvolver ferramentas de mensuração de resultados desde

o início.

O excesso de informações (sem a devida análise da relevância das

mesmas) é um dos grandes inimigos da produtividade. Ele pode causar sentimentos

de desespero, impotência frente às informações, perda de entusiasmo, entre outros.

O objetivo de um sistema de informação deve ser levar a informação para

onde ela será verdadeiramente útil. A imprecisão ou falta de informações pode

causar um retrabalho e tornar as pessoas insatisfeitas.

Quanto mais flexível for a procura por informação, mais rápido ela será

recuperada e utilizada em prol da organização.

Os portais corporativos centralizam muitas informações da organização.

Eles são responsáveis pela não publicação de informações redundantes, pela visão

unificada da organização e pelo compartilhamento da cultura organizacional. Além

disso, os portais colaborativos agregam os processos e sistemas relacionados aos

negócios da organização.

24

Os sistemas de informação devem dar uma atenção especial à

usabilidade, ou seja, devem priorizar a simplicidade e a estruturação adequada da

informação. Os sistemas devem ser intuitivos e de fácil assimilação, pois facilitam a

autoaprendizagem do mesmo.

Por fim, destacamos que, embora os sistemas de informação sejam

determinantes para a elaboração da gestão de um plano de conhecimento, o contato

humano e o compartilhamento de conhecimento ainda são imprescindíveis.

3.2.4 Processos de trabalho

A pressão das organizações por resultados leva os gestores a se

questionarem se a estratégia em curso está correta, se o esforço despendido é

suficiente (parece que nunca é) ou se a equipe está realmente engajada.

Esses questionamentos aumentam a ansiedade e podem levar à

conclusão que trabalhar mais resolve. Será que é isso mesmo? Se os esforços

forem direcionados a atividades com pouco impacto nos resultados, tais como

inúmeras verificações do que foi feito, retrabalho ou busca de documentos em meio

a pilhas de papel, provavelmente não! Neste caso “mais” não significará “melhor”...

Existem ferramentas de excelência operacional que não afastam o

trabalho árduo e o esforço de pensar, mas podem aumentar consideravelmente a

produtividade, melhorar os resultados e ao mesmo tempo a satisfação da equipe por

estar dedicando sua energia em atividades realmente significativas.

No fundo, trata-se de envolver a equipe na avaliação do trabalho do dia-a-

dia em busca de eliminar:

atividades sem valor agregado;

tempo de espera;

movimentação física desnecessária;

execução incorreta;

erros;

desperdício da criatividade dos funcionários.

A revisão dos processos de trabalho e eliminação das questões acima

pela própria equipe responsável pode alavancar resultados e ao mesmo tempo

aumentar a satisfação das pessoas. Atingir e superar as metas passará a ser

sistemático e sustentável.

25

3.2.5 Considerações finais sobre os viabilizadores

Sabemos que as organizações estão mudando: antes tínhamos

trabalhadores manuais, agora temos trabalhadores do conhecimento. Mas sabemos

ridiculamente pouco sobre a gestão de funcionários de conhecimento e trabalho de

conhecimento, integrando-o e medindo-o. E apesar de todo o trabalho de pesquisa

feito nos últimos cinquenta anos, até agora sabemos na verdade muito sobre como

exterminar a motivação e muito pouco sobre como reavivá-la.

PETER DRUCKER

Primeiramente, a organização deve definir qual a sua visão de Gestão

do Conhecimento e apresentar esta “verdade” para todos os

colaboradores.

Em um segundo momento, ela deve focar em como capturar e

disseminar este conhecimento dentro da organização.

Mais adiante, sua função será incentivar a transformação de

conhecimentos tácitos em conhecimentos explícitos (e vice-versa) –

promovendo uma espiral de conhecimentos – e propiciar a sua

aplicação em inovações e melhorias para a organização.

Agora vamos ver um resumo de cada viabilizador:

Viabilizador 1 – Fatores Estratégicos e o Papel da Alta Administração

A Gestão do Conhecimento deve ter um apoio incondicional da alta

gerência da organização. Os gerentes devem sempre dar o exemplo

e eles próprios executarem as práticas que fomentam. A Gestão do

Conhecimento jamais deve ser encarada como uma função apenas

da Superintendência de Recursos Humanos, seu sucesso depende

da consciência coletiva de sua relevância e do engajamento de

todos nas ações e na utilização massiva das ferramentas da GC.

Viabilizador 2 – Administração de Recursos Humanos

Trabalhar com a Gestão de Conhecimento passa, necessariamente,

pela gestão de recursos humanos. São as pessoas que possuirão o

conhecimento e o reverterão em prol da organização. Este

viabilizador ressalta que devemos conduzir os servidores cada vez

26

mais a trabalhar com foco na Era do Conhecimento . Dessa forma,

atuar de forma contundente em Gestão do Conhecimento passa a

ser decisivo para manter o capital intelectual da organização.

Viabilizador 3 – Sistemas de Informação

Os sistemas de informação fornecem ferramentas que

operacionalizam a Gestão do Conhecimento na organização.

Através de portais institucionais, intranet’s, salas de discussão, entre

tantos outros, é que acontece o comparti lhamento das informações.

Algumas características importantes destas ferramentas são: a

usabilidade, o acesso a informações precisas e a recuperação

rápida de informações.

Viabilizador 4 – Processos de Trabalho

Os processos devem ser mapeados e constantemente melhorados,

aplicar a metodologia de Gestão do Conhecimento a estas

atividades inter-relacionadas e interativas traz inúmeros benefícios,

entre os quais podemos citar a identificação e eliminação do

retrabalho, eliminação de etapas desnecessárias, a redução do

tempo empregado em determinadas tarefas, a redução do tempo de

treinamento de novos servidores para executar as tarefas e a

melhoria dos indicadores de desempenho.

3.3 Partes interessadas

O último componente do modelo de GC para a SEF/MG são as partes

interessadas na administração pública. O modelo destaca duas partes interessadas:

o cidadão-usuário e a sociedade.

O cidadão-usuário é o destinatário dos serviços e das ações da

administração pública. Pode ser tanto uma pessoa física como jurídica.

A gestão do conhecimento sobre os cidadãos-usuários é fundamental

para que a organização pública cumpra sua missão e atenda às necessidades e

expectativas dos destinatários dos seus serviços. Portanto, o foco no cidadão-

usuário é fundamental para o êxito da estratégia e plano de GC da organização.

27

A preocupação com a sociedade em geral deve estar presente também

na gestão do conhecimento na instituição. Ao se definir o que se pretende com a GC

é essencial contemplar temas como desenvolvimento, responsabilidade pública,

inclusão social, interação e gestão do impacto da atuação da organização na

sociedade.

3.4 Modelo SEF/MG para os Conhecimentos Críticos Corporativos

Os Conhecimentos Críticos Corporativos são aqueles que subsidiam os

principais processos estratégicos da SEF/MG. Foi feito um extenso mapeamento e

definida uma lista com conhecimentos imprescindíveis para a sustentabilidade da

SEF. São eles:

No Gabinete na SEF:

Gestão da Inovação no Setor Público

Banco de Casos – Conselho de Contribuintes

Na Secretaria Adjunta:

Aquisição de bens e serviços

Negócios Fazendários

Legislação de Pessoal

Na Subsecretaria da Receita

Práticas de Controle fiscal

Setores Econômicos

Legislação Tributária e Direito

Arrecadação de Tributos e demais Receitas Estaduais

Cobrança Administrativa

Política Tributária em âmbito nacional

Na Subsecretaria do Tesouro

Contabilidade Governamental

Finanças Públicas

Metodologia de Gerenciamento de Riscos Fiscais

Impostos – competência da instituição dos tributos e suas

repartições

Metodologia do PAF

28

Este trabalho é feito por uma equipe formada pela Coordenação de

Gestão do Conhecimento da SEF juntamente com os servidores que detém os

conhecimentos estratégicos de cada área.

3.4.1 Variáveis de análise

Para que possamos analisar a situação atual dos processos relacionados

aos conhecimentos e determinar onde queremos chegar utilizamos seis variáveis

descritas a seguir.

3.4.1.1 Características do conhecimento

O conhecimento caracteriza-se através de um processo sistemático de

análise de informações acerca o número de processos envolvidos dentro da

organização, seu processo de evolução e atualização, sua correlação ou

dependência de outras áreas do conhecimento e das práticas gerencias relativas à

articulação e estruturação de suas etapas, processos e responsabilidades.

Variáveis

29

3.4.1.2 Negócio

O fator humano configura parte importante na estrutura da Gestão do

Conhecimento. Para o mapeamento do conhecimento crítico é necessário analisar

a estrutura da equipe de trabalho em relação a suas competências e habilidades,

ponderar a adequação da quantidade necessária de servidores para gerir o

conhecimento e a disponibilidade desses profissionais capacitados para

desenvolvê-lo.

3.4.1.3 Criação

Para compreender a natureza do conhecimento que se quer gerir e quais

ferramentas, métodos e processos são mais eficazes para estimular seu

desenvolvimento é fundamental analisar o processo de criação do conhecimento na

instituição levando-se em consideração todo o processo de aprendizagem, o ciclo e

a velocidade de evolução da integração do conhecimento aos processos de trabalho

e cultura interna.

3.4.1.4 Codificação e organização

O grau de explicitação dos conhecimentos e o nível de complexidade dos

mesmos são fatores que devem ser considerados para análise da possibilidade de

codificação do conhecimento. Já a forma como os conteúdos explícitos estão

organizados define processos ou atividades relacionados à classificação,

armazenamento, associação ou acessibilidade.

3.4.1.5 Compartilhamento e disseminação

A gestão do conhecimento parte do princípio de que e quem comparti lha

aprende, assim, é possível dizer as atividades que promovem interação entre os

níveis estratégico, tático e operacional, e a dispersão do uso do conhecimento,

visam a transmissão de conhecimentos predominantes tácitos entre pessoas e

equipes. Nesta linha a GC observa que a análise do relacionamento entre as

diversas unidades que usam o conhecimento em questão, no que tange à evolução

do mesmo, é também um fator crucial na observação do grau de compartilhamento e

disseminação.

30

3.4.1.6 Proteção

A proteção é a balança entre a percepção do risco de perda (por pressão

do mercado ou por ausência do detentor do conhecimento) e preservação de

conhecimento cujo caráter seja sigiloso e/ou crítico para os processos de trabalho. A

partir desta análise o alinhamento das diretrizes estratégicas da organização

partindo da visão técnica (nível de ameaças e dificuldades); uma visão operacional

(no tratamento da segurança de informação e conhecimentos específicos), e uma

visão gerencial (que vai de análises gerenciais a políticas e estruturas

organizacionais) se torna imprescindível na estratégia da Gestão destes

conhecimentos.

3.5 Ciclo KDCA

As atividades do processo de GC são executadas no Ciclo de GC

chamado no Modelo de GC para a administração pública de Ciclo KDCA.

31

O Ciclo KDCA deve ser uti lizado na gestão de processos e no

gerenciamento de projetos, de programas e de políticas públicas para aumentar a

eficiência; melhorar a qualidade e efetividade social; contribuir para a legalidade,

impessoalidade, publicidade e eficiência na administração pública; e contribuir para

o desenvolvimento da organização.

O Ciclo KDCA se baseia no Ciclo PDCA de controle de processos que

conta com as seguintes etapas: P, de PLAN (planejar) quando são definidas as

metas de melhoria e os métodos que permitirão atingir as metas propostas; D, de

DO (executar) quando são executadas as atividades previstas no plano; C, de

CHECK (verificar), quando se verificam os resultados da tarefa executada; e A, de

ACTION (atuar corretivamente) quando a organização atua corretivamente caso as

metas não tenham sido atingidas.

A substituição do P (Plan = planejar) pelo K (Knowledge = conhecimento)

visa destacar o foco no conhecimento existente no Ciclo KDCA. Não se trata de

eliminar o planejamento. Ele continua a ocorrer, mas agora com foco no

conhecimento.

O principal objetivo da substituição do P pelo K está relacionado, portanto,

com a natureza do Ciclo KDCA que, em vez de ter foco no controle de processos

(como o Ciclo PDCA), destaca as atividades do Processo de GC. Na fase K, de

KNOWLEDGE (conhecimento), a organização identifica o conhecimento relevante

para melhorar a qualidade do processo da organização. A principal característica do

Ciclo KDCA é relacionar os processos de GC com o desempenho organizacional.

3.6 Institucionalização da GC

Institucionalizar a GG significa uti lizar regularmente um conjunto de

práticas gerenciais específicas para o gerenciamento contínuo deste ativo intangível

que é o conhecimento.

No dia a dia da organização é importante que os gerentes incorporem no

seu trabalho práticas que os conduzam a sedimentar a Gestão do Conhecimento.

32

4 FERRAMENTAS

4.1 Identificação de processos críticos

Para conseguirmos identificar um processo crítico que necessite de ações

de Gestão do Conhecimento utilizamos um questionário para auxi liar os gerentes:

Descrição do conhecimento

1. Como você define o conhecimento sobre o processo x?

2. Existem pré-requisitos para acesso e utilização deste conhecimento

(ex. formação, idioma, etc.)? Qual (s)? Quais são os conhecimentos

necessários para a execução das atividades do processo?

3. Quais os temas críticos para seu processo / área hoje? E para o

futuro?

4. Existe alguma legislação que regulamenta ou respalda esse tipo de

conhecimento ou a execução desse processo?

5. Quais Atividades estão relacionadas a este conhecimento? (entender

qual é a sequência de atividades relacionadas e qual momento do

ciclo de GC pode estar atrelado a cada atividade).

6. Que áreas uti lizam este conhecimento? Quais são os atores

envolvidos e como eles se relacionam?

7. Quais são os produtos deste processo?

8. Como funcionam estas áreas, quais são os desafios de curto e longo

prazo?

9. Quantas pessoas fazem uso deste conhecimento na SEF?

10. Quem são as pessoas mais experientes?

11. O que define uma pessoa experiente neste contexto?

12. Quais os desafios da SEF para melhorar a utilização do

conhecimento?

13. O que já existe de práticas de gestão do conhecimento?

14. Quais são os comportamentos/traços culturais existentes que

facilitam ou dificultam o compartilhamento destes conhecimentos?

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15. Você participa de alguma comunidade, fórum ou algum outro tipo de

interação e troca de conhecimento dentro ou fora da SEF? Qual (s)?

16. Quais transformações e inovações estão previstas para este

processo?

4.2 Mapeamento do conhecimento

Assim que temos os conhecimentos críticos identificados utilizamos o

Mapeamento dos Conhecimentos para elucidar as fontes de informação associadas

a este conhecimento. Dividimos os tópicos relacionados ao assunto e identificamos

temas e subtemas:

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4.3 Lacunas do Conhecimento

Com o mapeamento do Conhecimento completo iniciamos a análise da

distância entre a situação atual e o ideal para o melhor funcionamento do processo

crítico. A análise é feita considerando as variáveis de análise mencionadas

anteriormente:

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38

39

40

4.4. Plano de Ações

Com base nas informações adquiridas pelas 03 ferramentas (o

questionário, o mapeamento e as lacunas), elaboramos um plano de ações:

41

Este plano tem uma perspectiva bianual para que os novos processos de

trabalho, baseados em Gestão do Conhecimento, se tornem parte da cultura da

organização.

É imprescindível que todas as pessoas da cadeia de execução se

envolvam para que as iniciativas tenham sucesso.

42

5 REFERÊNCIAS

Manual Metodologia de Gestão do Conhecimento na SEF- TerraForum – Novembro 2011.

BATISTA, F – Governo que Aprende: Gestão do Conhecimento em Organizações do Executivo Federal, Texto para discussão 1022, 2004, Disponível em <http://portal2.

tcu.gov.br/portal/pls/portal/docs/2056692.PDF> Acesso em18/03/2013.

BATISTA, F.; Quandt, C. O.; Pacheco, F. F; Terra, J. C. C. Gestão do Conhecimento na Administração Pública. Texto para discussão n. 1095. Brasilia: IPEA, 2005.

LUCHESI, E – Gestão do Conhecimento nas Organizações, Disponível em <http://www.cetsp.com.br/media/117897/nota%20tecnica%20221.pdf>. Acesso em

18/03/2013. TERRA, J – Gestão do conhecimento: tecnologia e aprendizado coletivo no contexto

da educação corporativa. Disponível em <http://biblioteca.terraforum.com.br/ Paginas/Gest%C3%A3odoConhecimentoTecnologiaeAprendizadoColetivonoContext

odaEduca%C3%A7%C3%A3oCorporativa.aspx?page=1> Acesso em 18/03/2013. FONSECA, A. Organizational Knowledge Assessment Methodology. Washington,

DC: World Bank, 2006.

FRESNEDA, P. S. V.; GONÇALVES, S. M. G. A Experiência Brasileira na Formulação de uma Proposta de Política de Gestão do Conhecimento para a Administração Pública Federal. Centro de Documentação e Informação, Câmara

Federal. Brasília. 2007.

Resolução Nº 55 de 27 de Julho de 2012: Dispõe sobre a instituição da Política de Gestão do Conhecimento, no âmbito da Administração Direta e Indireta, Autárquica e Fundacional do Poder Executivo Estadual.

UNDESA/DPADM. Understanding Knowledge Societies In twenty questions and

answers with the Index of Knowledge Societies. New York, 2005.

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AUTORIA

Gustavo Pires de Andrade Silva – Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais.

Endereço eletrônico: [email protected]