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A GUERRA DO VIETNÃ: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O INTERVENCIONISMO ESTADUNIDENSE Helna Almeida de Araujo Góes 1 Resumo: O presente artigo tem a finalidade de expor as causas e desdobramentos da Guerra do Vietnã, correlacionando-a à questão intervencionista presente na política externa dos EUA. É abordado as diferenças do modo de percepção e execução da guerra por ambos os lados, e é demonstrado como tal fator influenciou positivamente ou negativamente ambos os lados. É realizada análise sobre as características e peculiaridades das guerrilhas e sobre na influência no desfecho da guerra. A conduta do EUA também é analisada, a fim de demonstrar a relação assimétrica dessa guerra. Por fim, é feito um panorama geral sobre a questão da política intervencionista estadunidense e suas consequências. Palavras-chave: Vietnã; Guerra; EUA; Guerrilha. Abstract: This article purposes to explain the causes and consequences of the Vietnam War, correlating it to the interventionist issue of U.S. foreign policy. It is addressed differences in the way of perception and execution of the war by both sides, and it is shown how this factor influenced positively or negatively both sides. The Analysis performed about the characteristics and peculiarities of the guerrillas influence on the outcome of the war. The conduct of the U.S. is also examined in order to demonstrate the asymmetry of this war. Finally, an overview is made on the issue of U.S. interventionist policy and its consequences. Keywords: Vietnam, War, USA; Guerrilla. 1 Graduanda em Relações Internacionais na Universidade Federal de Sergipe.

A GUERRA DO VIETNÃ: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O INTERVENCIONISMO ESTADUNIDENSE

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O presente artigo tem a finalidade de expor as causas e desdobramentos da Guerra do Vietnã, correlacionando-a à questão intervencionista presente na política externa dos EUA. É abordado as diferenças do modo de percepção e execução da guerra por ambos os lados, e é demonstrado como tal fator influenciou positivamente ou negativamente ambos os lados. É realizada análise sobre as características e peculiaridades das guerrilhas e sobre na influência no desfecho da guerra. A conduta do EUA também é analisada, a fim de demonstrar a relação assimétrica dessa guerra. Por fim, é feito um panorama geral sobre a questão da política intervencionista estadunidense e suas consequências.

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A GUERRA DO VIETNÃ: UM ESTUDO DE CASO SOBRE O

INTERVENCIONISMO ESTADUNIDENSE

Helna Almeida de Araujo Góes1

Resumo: O presente artigo tem a finalidade de expor as causas e desdobramentos da

Guerra do Vietnã, correlacionando-a à questão intervencionista presente na política

externa dos EUA. É abordado as diferenças do modo de percepção e execução da guerra

por ambos os lados, e é demonstrado como tal fator influenciou positivamente ou

negativamente ambos os lados. É realizada análise sobre as características e

peculiaridades das guerrilhas e sobre na influência no desfecho da guerra. A conduta do

EUA também é analisada, a fim de demonstrar a relação assimétrica dessa guerra. Por

fim, é feito um panorama geral sobre a questão da política intervencionista

estadunidense e suas consequências.

Palavras-chave: Vietnã; Guerra; EUA; Guerrilha.

Abstract: This article purposes to explain the causes and consequences of the Vietnam

War, correlating it to the interventionist issue of U.S. foreign policy. It is addressed

differences in the way of perception and execution of the war by both sides, and it is

shown how this factor influenced positively or negatively both sides. The Analysis

performed about the characteristics and peculiarities of the guerrillas influence on the

outcome of the war. The conduct of the U.S. is also examined in order to demonstrate

the asymmetry of this war. Finally, an overview is made on the issue of U.S.

interventionist policy and its consequences.

Keywords: Vietnam, War, USA; Guerrilla.

1 Graduanda em Relações Internacionais na Universidade Federal de Sergipe.

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Introdução

A guerra do Vietnã foi travada entre os Estados Unidos e os nacionalistas comunistas do

Vietnã. A proposta deste artigo é tratar sobre a guerra do Vietnã ocorrida no período de

1964 a 1975, que também é conhecida como a Segunda Guerra da Indochina. Tida

como a maior guerra do período, deixou aproximadamente mais de 1 milhão de mortos2.

Este artigo será baseado na teoria realista centrada na figura do Estado Nacional como

único ator das Relações Internacionais, que o caracteriza como racional, único e auto-

interessado. Em outras palavras, só prevalecem no cenário internacional os interesses

dos Estados. Tal teoria é baseada no poder, e aponta que a paz é uma preparação para a

guerra, ou seja, o sistema internacional é marcado por conflitos continuamente3.

Também será exposta a questão das guerras irregulares, suas principais características e

peculiaridades.

O propósito deste artigo é demonstrar o contexto histórico da Guerra do Vietnã,

expondo seus principais desdobramentos e analisando seu arcabouço teórico como

guerra irregular. Por fim é proposta uma reflexão sobre a intervenção dos EUA na

região e sobre as deficiências do sua política externa baseada no hard power4.

2 Guerra do Vietnã. Disponível no endereço eletrônico: < http://www.militarypower.com.br/frame4-

warVietna.htm>. Acessado em 20/10/2012.

3 BAZZANO DE OLIVEIRA, Ariana. O conceito de segurança humana. Disponível no endereço eletrônico:<

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0BxFngBrmoKMaMzk0MDQ4Y

WMtOThmYy00MDgxLWE1YjEtMTI5MDMyODQxNWE2&authkey=CMLp0Bw&hl=pt_BR>. Acessado em

15/10/2012.

4 Conceito de Hard Power: Termo utilizado nas Relações Internacionais criada pela teoria realista que,

diz respeito ao poder nacional exercido através das forças convencionais (militar, econômica, política)

para obter um determinado fim.

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Contexto Histórico

Na opinião de John Keegan, a guerra do Vietnã foi caracterizada como:

“uma prolongada batalha de contra-insurgência, muito pouco caracterizada por

choque entres exércitos.”

(Keegan, 2006, p. 352)

Após passar décadas em combate contra os franceses, visando sua independência,

eclodiu uma guerra civil no Vietnã, devido ao fato da influência dos blocos da Guerra

Fria na região5. Com a finalidade de resolução do conflito interno, um acordo foi

assinado em Geneva em julho de 1954. Tal acordo dividia o Vietnã em duas partes a

partir do décimo sétimo paralelo de latitude, o norte influenciado pelo comunismo e o

sul, influenciado pelo capitalismo. Com a finalidade de controlar esse território, os EUA

financiaram ditaduras no Vietnã do Sul, porém existia um grande número de comunistas

que formaram uma resistência na região. Liderados por Ho Chi Minh, a guerra civil foi

retomada.

A política externa dos Estados Unidos no período da Guerra Fria foi baseada na

doutrina Truman, que deixa explicita sua oposição à expansão comunista, abrangendo

qualquer aspecto entendido como ameaça ao capitalismo. A doutrina foi um

direcionamento para a política utilizada por Washington em todo o mundo conhecida

pelo uso do hard power. Logo, para os EUA, sua imagem internacional como defensor

da democracia e da liberdade estava ameaçada por conflitos em regiões estratégicas

influenciadas pela URSS, como foi o caso do Vietnã.

Para os vietnamitas, a intervenção dos EUA foi interpretada como uma continuação do

seu processo de independência, pois antes de lutarem com os EUA, eles lutaram e

derrotaram os franceses, japoneses e ingleses a fim de conquistar sua autonomia como

nação soberana. Para os EUA, a intervenção na região era uma ação estratégica, devido

à importância da mesma geopoliticamente. Portanto, para eles, a guerra do Vietnã era

uma guerra contextualizada pelos entraves da Guerra Fria, ou seja, uma guerra entre o

5 A Guerra Fria abrange o período de 1946 a 1991, no qual o sistema internacional era controlado por

duas superpotências, EUA e URSS.

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capitalismo e o socialismo. Tal questão pode ser mais bem explicada com a citação do

autor Demetrio Magnoli:

“Na guerra do Vietnã, estava em jogo a unidade do Estado vietnamita e a natureza do

seu regime político e econômico. Do ponto de vista dos Estados Unidos, jogava-se nada

menos que o futuro geopolítico da Ásia e a configuração geral da esfera de influência

soviética no continente. O evento é um elo da teia da Guerra Fria, cuja lógica se

impunha sobre as motivações nacionais, étnicas ou religiosas de diversos conflitos

regionais.”6

Em 1941, Ho Chi Minh convencido pelo fato de que o Vietnã só seria independente

caso fosse criado um Estado marxista e responsável pela unificação do território, fundou

a Frente pela Independência do Vietnã ou Vietminh. Ho Chi Minh interpretou como o

momento político ideal para iniciar as ações da Frente, a transição do controle da região

da França para o Japão ocorrida em 1944. Seu primeiro movimento foi conduzido para

as montanhas do norte, áreas fronteiriças com a China, a fim de conter a ocupação

japonesa. Devido a derrota dos japoneses para os EUA, os mesmos retiraram-se do

território vietnamita em 1946, momento no qual Ho Chi Min proclamou a República

Democrática do Vietnã.

6 MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. 3ª Ed. São Paulo: Contexto, 2006.

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Desenvolvimento do Conflito

Ao pensar-se na Guerra do Vietnã é feita instantaneamente a assimilação a uma guerra

irregular. Porém, apesar de ter usado majoritariamente forças irregulares, também foram

utilizadas forças regulares e táticas e combate convencional. Em relação a essa

característica, Visacro aponta que

“(...) é preciso reconhecer que a Guerra do Vietnã e, antes dela, a Guerra da Indochina

não se limitaram à guerra de guerrilhas e à luta subterrânea.”

(Visacro, 2009, p.101).

Um dos fatores estratégicos principais favoráveis à guerrilha era o alto nível de

recrutamento, causado primeiramente pelo fato de a população vietnamita ser

predominantemente rural e a repressão violenta empregada pelo governo em civis. Tal

fato fez com que a população civil apoiasse totalmente a guerrilha

Em contra partida, o meso não ocorreu nos EUA. Apesar de ter contado com o apoio da

população inicialmente, no decorrer da guerra, esse apoio foi retirado. Este fato pode ser

explicado através das divulgações sobre a guerra feitas pela mídia local e internacional.

Outro fator decisivo para a vitória dos vietnamitas foi o apoio logístico fornecido tanto

pela China quanto pela URSS. A China desempenhou um papel diferenciado, pois, além

de fornecer materiais bélicos, forneceu também refúgios para os guerrilheiros.

É da opinião da autora que as ações dos guerrilheiros do Vietminh eram mais bem

elaboradas estrategicamente em relação às ações dos soldados estadunidenses. Tal

argumento é ilustrado pelo fato das forças ocidentais serem orientadas para a guerra

total e não para o combate irregular e também pelo fato dos vietnamitas possuírem a

iniciativa estratégica.

A guerra eclodiu em 1965 com o ataque dos avios estadunidenses por parte Vietnã do

norte. Quando os primeiros navios dos EUA desembarcaram na região, o Vietminh já

contava com apoio de 80% da população. Outra situação agravante foi o fato de

nenhuma outra potência ter demonstrado interesse em enviar tropas para o Vietnã.

Os primeiros anos da Guerra foram caracterizados pelo impasse estratégico, apesar do

aumento do efetivo estadunidense e da movimentação vietnamita. Outro fator

igualmente importante foi o fato dos vietcongues evitarem a qualquer custo lutar

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batalhas convencionais, pois sabiam que estavam em desvantagem. Baseavam seus

movimentos em emboscadas e ataques-surpresa, favorecido pelo fato do Vietnã possui

densas florestas com a mata fechada.

Os Estados Unidos além de utilizarem forças terrestres, também utilizaram bombardeios

aéreos de forma intensa.

Em 1974, foi assinado um acordo de paz em Paris, o que finalizou a guerra e

institucionalizou a derrota estadunidense no conflito. Demetrio coloca que:

“Os acordos de Paris emergem nessa conjuntura, marcado pelo colapso da vontade

política americana de prosseguir a guerra e pela eficácia dos bombardeios aéreos

conduzidos nos meses anteriores.

“[...] Em junho, enquanto a fogueira do caso Watergate (crise política deflagrada pela

denúncia de escutas clandestinas usadas por Nixon contra os democratas) começava a

arder, o Congresso americano aprovava uma emenda proibindo qualquer novo

envolvimento militar no Sudeste Asiático.”

“[...] O Vietnã foi reunificado em 1976 e a cidade de Saigon, rebatizada em

homenagem a Ho Chi Minh.”

(Demetrio, 2006, p.415)

A ofensiva TET

Na cultura vietnamita existe a comemoração do Ano novo Lunar conhecido como TET.

Até esse momento, a guerra estava em um impasse estratégico, foi quando os

vietcongues executaram uma ofensiva constituída por grandes ataques simultâneos em

todo o país. As forças armadas dos EUA não estavam preparadas e, como resultado a

força nacionalista obteve resultados positivos reforçados pela mídia.

Apesar de ser um caso da vitória militar dos EUA, a grande conquista desta operação

foi à desmoralização psicológica das tropas dos EUA, fato que contribuiu para sua

derrota posteriormente. A vitória psicológica foi tamanha que o presidente Johnson

renunciou o cargo de presidente.

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A influência da guerra irregular no conflito

Existem vários termos para descrever a guerra irregular, alguns são: guerra de partisans,

conflito de baixa intensidade e guerra não convencional. Em seu texto, Visacro cita a

definição de acordo com Von der Heydte :

“[...] a guerra irregular é um fenômeno que manifesta características diferentes e

singulares. É guerra que aparentemente não é guerra.”

[...] A guerra irregular é, de qualquer maneira, guerra. E guerra “real” não um

“substituto de guerra”, nem “ uma guerra por procuração”, nem ainda uma

“operação que se aproxima da guerra”, “uma situação que não é só guerra”- ou

qualquer outra expressão que pudesse usar “ numa circunscrição semântica”, de modo

a privilegiar a chamada “ guerra de grande escala”, por qualquer razão, como a

única “ guerra real”, na qual grandes unidades militares e meios de destruição

manuseados por soldados uniformizados desempenham o papel decisivo.”

(Visacro, 2009, p.222)

As táticas de guerrilhas são o oposto das utilizadas em guerras convencionais, são

rápidas, informais, fluidas, móveis, não possuem frentes, travadas por pequena

quantidade de efetivos, operam contra os pontos fracos da retaguarda inimiga e

valorizam mais a ofensiva do que a defesa. Uma característica essencial da guerra

irregular é a inexistência de regras, o que lhe permite adequar-se a cenários diversos

mais rapidamente. Divide-se em: guerra civil, de resistência, insurreição e

revolucionária. Nesse ponto Visacro faz uma observação importante:

“[...] as guerras da Indochina e do Vietnã fizeram parte de um único processo

histórico, que abarcou guerra regular e irregular, guerra de independência, guerra de

resistência e guerra revolucionária.”

(Visacro, 2009, p.224)

Outro fator destacado pro Visacro e que teve grande influência no desfecho da guerra do

Vietnã foi o ambiente favorável. Ele coloca que o desenvolvimento da guerra irregular

está intrinsecamente relacionado ao seu ambiente político e psicossocial. Fatores como

cultura, história influenciam para a motivação dos guerrilheiros durante a guerra.

Talvez, este seja um dos aspectos mais notáveis na guerra do Vietnã, pois os

vietnamitas levaram em consideração suas realizações históricas como a derrota de

franceses, ingleses, e japoneses em prol da sua independência. Penso que este fim, foi a

principal motivação dos guerrilheiros e um dos fatores que ajudaram a acentuar a

desmoralização dos EUA perante esta guerra.

Visacro coloca em seu texto, fatores que podem contribuir para a formação de

guerrilhas e para o desencadeamento de guerra irregular, são eles: contraste social,

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aquisição de referencial crítico, ou seja, quando um oprimido passa a ter consciência do

que é opressão, crescimento populacional desordenado, conquistas sociais incompletas,

imobilidade social, violência cultural institucionalizada, ausência do Estado,

inexistência de uma estrutura sólida institucional, experiência militar positiva,

existência de interesses externos antagônicos, aspirações nacionalistas, influência de

ordem ideológica e falência do regime político vigente.

No caso do Vietnã destacam-se os fatores de origem social (contraste social,

imobilidade, etc.), experiência militar positiva, devido ao histórico de sucesso de

empreitadas anteriores, existência de interesses externos antagônicos, o que explica o

envolvimento dos EUA na região, aspirações nacionalistas e influência de fatores

ideológicos, que tiveram grande importância na motivação dos guerrilheiros.

Por fim, Visacro trabalha as características fundamentais presente nas guerras

irregulares e que caso forem bem executadas, podem influenciar de modo positivo para

os guerrilheiros o desfecho da guerra. Serão citados os que estavam presentes na guerra

do Vietnã, a saber: apoio popular, fornece informações do inimigo, prove recursos

básicos para os guerrilheiros, etc.; ambiente político, social, histórico e cultural

favorável, estratégia prolongada, falta de linearidade, busca de resultados psicológicos

nas ações de combate, exemplificado pela “manipulação” da mídia estrangeira visando a

desmoralização dos EUA; ausência de padrões rígidos de planejamento e execução,

insubordinação a restrições legais,individualidade,desenvolvimento em fases e

subordinação dos objetivos militares aos políticos.

A influência da teoria do dominó

Exposta pro Maxwell Taylor e Walt Rostow, a teoria do dominó apontava que a queda

do Vietnã do Sul desencadearia em toda a Indochina, derrubando Laos, Camboja,

Tailândia e Malásia. Tal teoria é fundamental para compreensão do envolvimento dos

EUA na região7.

Respaldada nos fundamentos de geopolítica dos EUA, mostrava como a perda de

influência de uma área, neste caso do Vietnã do Sul, desencadearia o aumento da

influência do comunismo nos países citados acima. Fato que explica o envolvimento

dos EUA devido a sua política externa de contenção do comunismo.

7 MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. 3ª Ed. São Paulo: Contexto, 2006

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A questão intervencionista

A inserção dos EUA na região foi feita de modo gradativo. Primeiramente, durante a

guerra da Indochina, forneceram materiais bélicos para os franceses. Posteriormente,

forneceu apoio político e treinamento militar ao Vietnã do Sul.

Keegan coloca que as dinâmicas das guerras mudaram drasticamente após a segunda

guerra mundial, devido ao fato da dissuasão nuclear. Nenhum país iria atacar o outro ou

a sua zona de influência nuclearmente a fim de não sofrer retaliações. Este foi o caso

ocorrido no Vietnã. Para Visacro:

“Os soviéticos, que, ao menos oficialmente, sempre defenderam uma solução

negociada, impediam que os Estados Unidos exercessem seu poder de dissuasão

nuclear sobre o governo de Hanói.”

(Visacro, 2009, p.114)

Em relação à opinião pública é ressaltado que as imagens e testemunhos da Guerra

foram fatores decisivos para a mudança da opinião pública interna e internacional, o que

levou Washington ao isolamento político momentâneo. Além disso, somava-se a

questão do alto custo da guerra. Visacro expõe que:

“A guerra não estava sedo perdida nas selvas do sudeste asiático, mas nas ruas da

América do Norte.”

( Visacro, 2009, p.118)

Conclusões

Pode-se dizer que a guerra do Vietnã surpreendeu o mundo devido a sua astucia e

ousadia. Ela mostrou que mesmo em uma guerra assimétrica, pode-se vencer uma

superpotência com táticas de guerrilhas. O fator surpreendente desta guerra foi a

combinação da utilização das forças irregulares juntamente com o exército por parte dos

vietnamitas. Entende-se que os fatores que influenciaram a vitória dos vietnamitas

foram o apoio da China e URSS, eficiência da logística, a ação conjunta da luta armada

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com a política, ataques psicológicos, aplicação da estratégia da usura, desapego ao

terreno, apoio popular e motivação dos guerrilheiros. Demetrio expõe que:

“A derrota foi construída nas cidades dos Estados Unidos, não nas selvas e montanhas

da Indochina. No Vietnã travou-se a primeira guerra da “era da informação”, as

câmeras, os fotógrafos e os repórteres praticamente não encontraram restrições na

cobertura de batalha.”

(Demetrio, 2006, p 417)

Tal fato abalou o status quo dos Estados Unidos, pois os mesmos saíram derrotados

logística e psicologicamente. Visacro expõe que:

“A derrota política e militar sofrida pelos Estados Unidos no Sudeste Asiático foi

completa e absoluta.”

(Visacro, 2009, p.110).

A conduta desta guerra solidificou a necessidade da reavaliação de conceitos como

vitória e eficiência das forças convencionais. O uso indiscriminado de bombas e

substâncias tóxicas como o agente laranja causou mortes de inocentes. Tal ação

contribuiu para modificar a opinião pública estadunidense em relação a retirar o apoio

da guerra. A conduta desta guerra solidificou a necessidade da reavaliação de conceitos

como vitória e eficiência das forças convencionais.

A guerra do Vietnã, na opinião da autora, exemplifica a conduta imprópria dos EUA

característico de suas operações de intervenção ou em guerras assimétricas, de uma

forma geral.

Apesar de ter tido um grande custo de vidas, os EUA somados ao Vietnã do sul

perderam 283 mil homens, enquanto que o Vietnã do norte somado ao Vietcongue

perdeu mais de um milhão de vidas, a guerra do Vietnã ficou como um exemplo do que

os EUA ou nesse caso uma superpotência, não deve fazer8.

8 MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. 3ª Ed. São Paulo: Contexto, 2006.

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- MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. 3ª Ed. São Paulo: Contexto, 2006.

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Anexo

Fonte: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das guerras. 3ª Ed. São Paulo: Contexto,

2006.