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Resenha: “A helenização de Roma - os livros, os tradutores”, de João Ângelo Oliva Neto O texto aborda a questão da aculturação da paideia e de seu acolhimento por decisão própria dos romanos que, tendo em vista a helenização do Mediterrâneo, inseriram a língua e os livros gregos no repertório latino, bem como ampliaram a circulação de livros e também de traduções na Roma antiga. Esta aculturação pode ser evidenciada em produções poéticas, como na citação da passagem das Epístolas, de Horácio, na qual o autor destaca a relação do olhar latino para com os livros e a cultura grega, de forma aguda, através da acuidade visual, cuidadosa, estabelecendo novas relações de conhecimento, aprendizagem e formação. O livro ganha destaque e importância como instrumento educacional e possibilidade de divulgação de ideias. Haviam gregos em Roma ensinado em cursos concorridos e, com o século III a. c., o comércio livreiro se intensificou, os acervos públicos e privados se tornaram patrimônios valiosos, como também surgiram diversos profissionais relacionados com a produção de livros, tais como copistas, leitores, corretores, livreiros, etc., além de ampliarem as fases da produção em Latim. Produção que chegou a ser tão concorrida que a qualidade de livros em Roma chegou a ser afetada, principalmente para o público mais exigente, como atesta um trecho citado de correspondência entre Cícero a seu irmão, Quinto, onde reclama da qualidade material dos livros latinos. A divulgação das obras e a presença de gregos em Roma favoreceram essa produção de livros de prosa e poesia em latim, bem como o estabelecimento dos cânones, das leis dos gêneros poéticos, da emulação e imitação dos gregos. Os romanos não tinha a intenção de helenizar Roma, acolhendo a paideia, mas as letras latinas mediante a imitação dos autores gregos do passado. Assim, promoveram a imitação, a paráfrase (ou reelaboração) e a tradução. A imitação, no sentido horaciano, devia ser feita segundo modelos eleitos, a reelaboração adaptativa de poemas, inserindo variações, e as traduções que, se possuíam desvios, eram por acomodarem numa segunda língua elementos supostamente pertencentes ao texto original, contribuíram com este acolhimento da paideia, como também das escolhas úteis desse acolhimento, o que fica explicitado no poema de Horácio. Cícero, anterior a Horácio, já refletira sobre a tarefa do tradutor, de forma teórica, explicando a importância dessa acomodação do que era estrangeiro ao uso do vernáculo latino, como também da própria função da tradução e, como observa João Angelo de Oliva Neto, estabelecendo critérios, estratégias e fins às traduções, de forma que o mesmo texto, principalmente o texto poético, pudesse ter diferentes

A Helenização de Roma

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Resenha: A helenizao de Roma - os livros, os tradutores, de Joo ngelo Oliva Neto

O texto aborda a questo da aculturao da paideia e de seu acolhimento por deciso prpria dos romanos que, tendo em vista a helenizao do Mediterrneo, inseriram a lngua e os livros gregos no repertrio latino, bem como ampliaram a circulao de livros e tambm de tradues na Roma antiga.

Esta aculturao pode ser evidenciada em produes poticas, como na citao da passagem das Epstolas, de Horcio, na qual o autor destaca a relao do olhar latino para com os livros e a cultura grega, de forma aguda, atravs da acuidade visual, cuidadosa, estabelecendo novas relaes de conhecimento, aprendizagem e formao. O livro ganha destaque e importncia como instrumento educacional e possibilidade de divulgao de ideias. Haviam gregos em Roma ensinado em cursos concorridos e, com o sculo III a. c., o comrcio livreiro se intensificou, os acervos pblicos e privados se tornaram patrimnios valiosos, como tambm surgiram diversos profissionais relacionados com a produo de livros, tais como copistas, leitores, corretores, livreiros, etc., alm de ampliarem as fases da produo em Latim. Produo que chegou a ser to concorrida que a qualidade de livros em Roma chegou a ser afetada, principalmente para o pblico mais exigente, como atesta um trecho citado de correspondncia entre Ccero a seu irmo, Quinto, onde reclama da qualidade material dos livros latinos.

A divulgao das obras e a presena de gregos em Roma favoreceram essa produo de livros de prosa e poesia em latim, bem como o estabelecimento dos cnones, das leis dos gneros poticos, da emulao e imitao dos gregos.

Os romanos no tinha a inteno de helenizar Roma, acolhendo a paideia, mas as letras latinas mediante a imitao dos autores gregos do passado. Assim, promoveram a imitao, a parfrase (ou reelaborao) e a traduo. A imitao, no sentido horaciano, devia ser feita segundo modelos eleitos, a reelaborao adaptativa de poemas, inserindo variaes, e as tradues que, se possuam desvios, eram por acomodarem numa segunda lngua elementos supostamente pertencentes ao texto original, contriburam com este acolhimento da paideia, como tambm das escolhas teis desse acolhimento, o que fica explicitado no poema de Horcio.

Ccero, anterior a Horcio, j refletira sobre a tarefa do tradutor, de forma terica, explicando a importncia dessa acomodao do que era estrangeiro ao uso do vernculo latino, como tambm da prpria funo da traduo e, como observa Joo Angelo de Oliva Neto, estabelecendo critrios, estratgias e fins s tradues, de forma que o mesmo texto, principalmente o texto potico, pudesse ter diferentes tradues, conforme se diferenciassem, em cada caso, em seus critrios, estratgias e fins. Algo como fazia o Haroldo Campos entre ns.