A História Da Igreja - Duncan Reily

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    AHistriada Igreja

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    A HISTRIA DA IGREJA

    Copyright- Imprensa Metodista V- edio: 1988 2S edio: 1993

    Todos os direitos reservados pela Lei 5988 de 14/12/73

    Redator: Duncan A. Reily

    1993

    Imprensa Metodista

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    INTRODUO No fcil combinar pesquisa erudita com uma apresentao simples e prtica. O rev.

    Dr. Duncan Alexander Reily conseguiu unir as duas coisas nestes estudos sobre a Histria da Igreja.

    Com estes dados histricos e um rico embasamento bblico, seu grupo pode acompanhar o desenrolar da histria da Igreja Crist. E este estudo no deixar seu grupo com os olhos voltados apenas para o passado. Estas lies do passado abriro nossos olhos para a misso presente para a qual o Senhor da Histria est nos chamando aqui e agora.

    Esta coordenadoria preparou os testes e o material pedaggico que aparece no final de cada parte dos estudos.

    Ao Dr. Duncan Alexander Reily, professor na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, nossos profundos agradecimentos.

    Warren C. Wofford

  • ND I C E I - Foras Dominadoras .................................................................................... 06 II - Pentecostes ................................................................................................ 11 III - "Os Sete" .................................................................................................... 16 IV - Concilio de Jerusalm ............................................................................... 21 V - A Igreja Perseguida ................................................................................... 25 VI - A Estruturao Interna da Igreja .............................................................. 31 VII - A Oficializao da Igreja .......................................................................... 36 VIII - Os Conclios - Enfrentando as Divergncias .......................................... 41 IX - Conclios - O que Estava em Jogo? ......................................................... 45 X - Conclios - O que que conseguiram Fazer? ........................................... 49 XI - O Poder Eclesistico e o Poder Temporal ............................................... 53 XII- A Cristandade e o Declnio da Igreja; as Cruzadas ................................... 58 XIII - A Igreja Exige uma Reforma .................................................................... 65 XIV - A Reforma ................................................................................................ 70 XV - Metodismo na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Brasil ....................... 75 XVI - O Metodismo no Novo Mundo ................................................................ 80 XVII - O Metodismo Brasileiro ........................................................................... 85 Nos finais de cada estudo ................................................................................. 90 Glossrio - breve explicao de termos que podem no ser muito familiares

    aos leitores...................................................................................... 92

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    I - FORAS DOMINADORAS

    A Histria dos Hebreus Uma Longa Srie de Dominaes

    A Igreja Crist surgiu num mundo politicamente dominado por Roma e culturalmente pelo Helenismo. Neste captulo, vamos tratar brevemente de dois momentos na histria: o primeiro dos judeus (o perodo dos Macabeus), e o segundo dos cristos (o Imprio Romano). Vamos tentar perceber um pouco o sentido de dominao e como reage o povo frente a tal dominao. Mas, para uma melhor perspectiva, vamos recordar o que foi a histria dos Hebreus desde os primrdios, a saber: uma longa sucesso de dominaes e correspondentes libertaes. Alis, um dos temas mais constantes da Bblia a libertao do povo hebreu da sua quase escravido no Egito, na qual Moiss serviu Deus como agente desta libertao.

    Nenhuma compreenso do Antigo Testamento pode ser considerada adequada

    sem que se perceba como pano de fundo o surgimento e a queda dos imprios do chamado Crescente Frtil a rea dos rios Tigre e Eufrates. Assim, sucessivamente se levantam Assria ( qual Israel, o Reinado do Norte, sucumbia em 722 a.C), a Babilnia (que, sob Nabucodonosor, destri Jerusalm e leva a nata do seu povo ao exlio 597-581), a Prsia (a qual permite a volta dos exilados e o restabelecimento de sua vida religiosa e poltica). A Prsia ento dominada por Alexandre Magno, que estabelece hegemonia desde a Grcia at a ndia, naturalmente incluindo a Palestina. Uma poltica de Alexandre, aluno do filsofo Aristteles, era a imposio da cultura grega (helnica) nas vastas terras por ele conquistadas, uma prtica seguida pelos seus sucessores. Para simplificar, poucos anos depois da morte de Alexandre em Babilnia (323 a.C), seus generais dividiram o imprio entre si, um deles assumindo controle da Sria (o que inclua os judeus).

    Agora, para o "primeiro momento" de nossas consideraes para hoje, Antoco IV,

    da linha dos Selucidos, passa a ser o Rei da Sria. Muito antes dele, pela lgica da dominao cultural helnica*, a lngua e o pensamento grego (especialmente a filosofia) j se faziam sentir em muitos nveis. As Escrituras Sagradas do povo hebraico, escritas em hebraico, j no eram mais inteligveis aos judeus da dispora (espalhados pelos diversos cantos do mundo), tornando necessrio traduzirem-se para o Grego. Assim surgiu a LXX (a Septuaginta)* traduzida em Alexandria, Egito. Muito mais tarde, na mesma cidade, Filon interpretaria estas mesmas Escrituras luz da filosofia grega (platnica). A cultura grega, fortemente aprovada pela corte da Sria, ganhou muitos adeptos entre os judeus, especialmente das classes altas, aos quais a cultura grega parecia muito mais desenvolvida que a hebraica.

    Antoco IV, chamado Epifnio, tentou em dezembro de 168 a.C. extirpar a cultura

    judaica e destruir sua religio. Portanto, ele tomou o templo de Jerusalm e ofereceu um porco sobre o altar-mor, ato considerado abominvel pelos judeus (cf. Daniel 11.31). No af de acabar com a religio dos judeus, o Rei Antoco proibiu, sob pena de morte, a obedincia lei de Moiss, como a guarda do sbado e a circunciso. Confiscou e queimou as Escrituras. Depois mandou erguer altares a deuses gregos por toda parte, e tornou obrigatria a sua adorao.

    Havia trs nveis de reao a estas novidades: 1) Havia um grupo, principalmente das classes altas, j helenizado*, que,

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    basicamente, aceitou a nova situao e, no processo, abandonou sua antiga f. 2) Um segundo grupo, os Hasidim ou Piedosos, ofereceram resistncia passiva. O

    melhor comentrio sobre a situao deste grupo o comportamento de Daniel e seus companheiros frente s ordens de Nabucodonosor de adorar uma imagem de ouro. Daniel sempre pratica quietamente sua f e se arrisca fornalha e cova de lees. Seria melhor do que contrariar suas convices religiosas.

    3) Uma terceira alternativa se apresenta quando Matatias, o velho sacerdote

    (Modin), recusou-se a oferecer o sacrifcio exigido e matou um judeu apstata que quis oferecer sacrifcio.

    O Perodo dos Macabeus Surge assim o perodo chamado dos Macabeus, pois Matatias e seus filhos foram

    forados ao de guerrilha. O primeiro filho, Judas, liderou o povo nesta sua luta contra um helenismo imposto. Seu sucesso contra os destacamentos srios lhe deu o apelido de Macabeu (MAKKABI), o "martelador". Ele e seus seguidores investiram contra Jerusalm, onde, a 25 de dezembro de 165 a.C, ele purificou o Templo e reinstituiu os sacrifcios dirios, onde durante os 3 anos anteriores queimavam-se sacrifcios a Zeus, o chefe do panteo grego.

    A purificao do templo deu ocasio festa chamada HANUKKAH ou da Dedicao

    (cf. Joo 10.22). Ele havia conseguido a liberdade religiosa, mas quis conquistar tambm a independncia poltica. Morto em batalha, Judas foi sucedido por seu irmo, Jnatas, e este por Simo. Simo conseguiu pela diplomacia (142 a.C.) o que seus irmos buscavam pelas armas, a independncia da sua ptria.

    Talvez como transio podemos destacar os fariseus. No perodo dos Macabeus, os

    fariseus eram vistos com muito bons olhos; eram tidos como um partido do povo, ou seja, essencialmente democrticos. Sua insistncia na observao minuciosa da lei era vista como resistncia ao inimigo, o governo srio que quisera forar o helenismo* e destruir o judasmo. A guarda do sbado, a recusa de comer porco, a circunciso do filho ao oitavo dia tudo isso era rebelio contra a imposio do inimigo. Eram vistos como homens de convico, de fibra e de carter a toda prova.

    Mas, no tempo de Jesus que nosso prximo momento o fariseu j projetava

    uma outra imagem. Ele no era mais visto como do povo e nem amigo do povo. No era da classe mais alta (esta era reservada aos saduceus), mas sua longa tradio de uma observao meticulosa da lei o havia transformado em um rancoroso desprezador de todos aqueles que no quiseram ou no puderam guard-la com igual rigor. Os galileus, em geral mais atrasados e muito menos rigorosos na observao da lei, eram objetos de seu desdm (cf. Jo. 1.46).

    O Imprio Romano Que projeto tinha Jesus para libertar Israel do jugo romano? No creio que seja fcil

    dizer isso com muita clareza. Ns podemos, talvez, responder a uma outra pergunta menor ou pelo menos a um outro nvel. O que podemos afirmar com razovel certeza? Creio que podemos afirmar o seguinte: Jesus percebeu sua funo como essencialmente proftica. Ele iniciou seu ministrio no esprito de Joo Batista, reconhecido por todos como profeta e tido como o precursor do prprio Jesus (Mt 3; Mc 1.1; Lc 3.1-22). Conforme Mateus, Jesus iniciou sua pregao com palavras idnticas s de Joo Batista (Mt 3.2, 4.17; Mc 1.4, 15).

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    "Arrependei-vos porque est prximo o reino dos Cus". Em Lucas, que diverge de Mateus e Marcos aqui, a nota proftica no menos presente. No s Jesus se associa a Joo Batista na sua pregao de arrependimento (cf. 3.2), mas Jesus inaugura sua misso em Nazar com a mensagem libertadora de Isaas 61.1, 2 (Lc 4.18-19).

    O povo que escutava a pregao e acompanhava o seu ministrio era unnime em

    ver em Jesus o modelo do profeta Joo Batista, Elias, Jeremias (Mt 16.14; Mc 8.28; Lc 9.19), cf. o reconhecimento de Jesus como profeta quando da ressurreio do filho da viva de Naim (Lc 7.16), o qual dificilmente poderia deixar de lembrar a ressurreio do filho de Sarepta (Zarefate) por Elias (I Rs. 17.17-24).

    H muitas evidncias que a Igreja apostlica via Jesus morto e ressurreto como

    essencialmente um profeta, no raro nos moldes do Servo Sofredor do projeta Isaas do Exlio. Lucas preservou a palavra de Jesus que "no se espera que um profeta morra fora de Jerusalm" (13.33-34). Assim, o Cristo ressurreto abre as Escrituras aos discpulos de Emas (Lc 24.44-46; Is. 53.1-12 e Lc 24.19). Ou Filipe que, comeando com Is 53.7-8, anunciou Jesus ao Eunuco da Etipia (At 8.32, 35). Assim, Estevo argumentou no Sindrio que Jesus seria aquele profeta semelhante a Moiss (At 7.37), certamente no apenas um legislador, mas essencialmente um libertador!

    Nas passagens e nas afirmaes acima, no apenas se tem a certeza de que Jesus

    aceitou o papel de profeta, mas percebe-se tambm o tipo de profeta que ele pretendia ser. Seus temas estavam relacionados com o Reino de Deus, de justia e paz, de libertao e abundncia.

    Jesus deixou claro sua divergncia aos conceitos comuns dos seus dias. Seria um

    reino onde crianas, na sua simplicidade e fraqueza, forneciam o modelo. Onde mulheres tinham tanto lugar como homens. Onde o pobre tem o mesmo direito que o rico (Tg 2.1-9). Onde a riqueza de uns e a misria de outros impensvel (Lc 16.19-31). Onde h lugar mesa do banquete do Reino para os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos (Lc 1421).

    Qual o preparo para este tipo de Reino que Jesus tinha em mira? A resposta est

    na mudana de mente e de corao que Jesus exigiu desde o incio de seu ministrio: "Arrependei-vos e crede no Evangelho" (Mc 1.15).

    Se Jesus tinha um projeto para derrubar o Imprio Romano, isto no evidente. Ele no organizou nenhum exrcito ou guerrilha. Na noite da sua priso, seu arsenal de guerra possua 2 espadas, o que ele

    considerou adequado (Lc 22.38). O povo comum, os pobres, o ouviam com prazer (Mc 12.37) e, pelo menos na

    ocasio da Entrada Triunfal, houve uma manifestao pblica que poderia ter sido transformada em um exrcito popular para tentar assumir poder em Jerusalm (cf. Mc 11.10). Neste momento, tudo indica que Jesus poderia, se quisesse, iniciar uma revolta que, possivelmente, teria libertado Israel do jugo romano.

    O Evangelho de Joo diz que, por ocasio da multiplicao dos pes, a multido quis "arrebatar para o proclamar rei", mas Jesus percebendo isto "retirou-se sozinho para o monte" (Jo 6.15).

    o mesmo Evangelho que relata esta palavra de Jesus: "O meu reino no deste

    mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam para que no fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino no daqui" (Jo 18.36).

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    Porm, h evidncia bastante clara que Jesus foi executado pelo poderio romano

    como revolucionrio. Ele foi crucificado, punio comum para revolucionrios, e a inscrio rezava "Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus". Antes ele fora atormentado pelos soldados, fazendo uma pardia dele como rei.

    Por que no tomou este caminho? A resposta no fcil, mas parece que o projeto

    dele era outro. Ele traria a redeno para todos, mediante assuno pessoal do papel do servo sofredor. A libertao viria mediante a identificao com este projeto.

    EXERCCIO

    Escolha a melhor resposta 1 - Os judeus:

    a) como "O POVO ESCOLHIDO DE DEUS" nunca sofreram. b) tm uma longa histria de sofrimentos e dominao. c) sofreram por serem aqueles que mataram Jesus. d) com sua astcia em assuntos financeiros, conseguiram sempre dominar os outros.

    2 - Antoco IV, chamado Epifnio: a) foi um soldado romano condecorado por bravura na conquista da Palestina. b) foi um soldado romano que se converteu ao judasmo. c) tentou extirpar a cultura hebraica e destruir sua religio. Chegou ao ponto de mandar

    sacrificar um porco no altar principal do Templo de Jerusalm. d) foi um governador romano que instalou muitas obras pblicas para favorecer a f

    hebraica.

    3 - Os macabeus: a) queriam tanto a liberdade religiosa quanto a liberdade poltica para os judeus. b) queriam apenas a liberdade religiosa para os judeus. c) queriam s a liberdade poltica para os judeus. d) queriam uma reforma agrria bem abrangente para os judeus. Qual palavra melhor descreve como Jesus percebeu sua misso terrena? a) Guerrilheiro b) Ditador c) Sacerdote d) Profeta

    4 - Para se aprofundar mais. Com os (as) companheiros (as) de grupo, completar o quadro comparativo com base nos

    estudos:

    Modelo dos reinos deste mundo Modelo do Reino que Jesus tinha em mira

    ......................................................................

    ......................................................................

    ......................................................................

    ......................................................................

    ...................................................................... ...................................................................... Como sinalizar hoje o reino que Jesus tinha em mira?

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    II PENTECOSTES

    Do Pscoa dos Judeus ao Pentecostes do Cristo

    Todos os valores da religio judaica e no so pequenos foram retomados e realados em Cristo. A Pscoa dos Judeus era sua festa de libertao, lembrando-lhes que Deus os havia libertado da sua opresso no Egito. Deus, pela ressurreio, poderosamente manifestou Jesus como seu filho, e fez da Pscoa o smbolo da libertao universal. O Pentecoste, sete semanas aps, lembrava aos Judeus que Deus estabelecera com eles uma aliana e havia lhes dado a sua Lei. Ex 20.2 sugere a ligao ntima entre os dois eventos. O Pentecoste Cristo, assinalado pela manifestao do Esprito de Deus, foi a renovao da aliana entre Deus e seu novo povo, no mais apenas de Judeus, mas "de todas as naes que esto debaixo do cu" (At 2.5) e no meio do qual no s filhos como filhas profetizam (proclamam) e a idade cronolgica no constitui mais uma camisa de fora, pois nele "os jovens tero vises" e os "velhos tero sonhos" (At 2.17).

    A narrativa do acontecimento ocupa um captulo inteiro no livro de Atos (At 2147),

    incluindo a pregao de Pedro, que constitui sua explicao e "aplicao" do evento. Que o sentido duradouro de Pentecoste? Certamente alguns elementos ou fatores desse sentido so os que seguem: 1) O povo de Jesus no seria limitado pelas mesmas restries dos Judeus. Seria

    aberto a todos que seriamente se dispunham a ser povo de Jesus. Isto no significava, evidentemente, que de repente tornara-se fcil ser discpulo de Jesus! O ms mo Jesus que havia advertido: "as raposas tm covis e as aves tm ninhos, mas o filho do homem no tem onde reclinar a cabea" (Mt 8.20) tambm havia declarado: "se algum quiser vir aps mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me" (Mt 16.24).

    A dura realidade disso logo apareceria na forma de perseguio, priso e at morte

    dos discpulos do crucificado. Significava, sim, que um centurio romano Cornlio, "temente a Deus", no seria

    barrado por causa da sua raa e nacionalidade (At 10). Significava que um etope no seria excludo por causa da cor da sua pele (At 8). Significava que as mesmas atitudes de Jesus que aceitava livremente as expresses de amor e devoo de mulheres (Lc 7.36-50), que discutia teologia com elas e ouvia delas as mais sublimes afirmaes (Jo 11.27) e que aceitava alegremente a colaborao de discpulas, as quais no apenas o serviam na Galilia, como o acompanharam mais de perto que os discpulos (homens) na sua Paixo (Mt 27.55-61) e a quem ele primeiro se manifestou aps a ressurreio (Mt 28.9; Mc 16.9; Jo 20.16), haveriam de ser determinantes na Igreja.

    Os preconceitos no seriam mais fceis de serem vencidos naquele tempo do que

    no nosso! Pedro s iria compartilhar as boas novas com o gentio Cornlio depois de uma revelao de Deus; s assim ele poderia dizer: "Reconheo por verdade que Deus no faz acepo de pessoas, mas que lhe agradvel aquele que, em qualquer nao, o teme e obra o que justo" (At 10.34, 35). Paulo custou muito at reconhecer que todos so um em Cristo; da, entre seu povo "no h nem judeu, nem grego, no h servo nem livre, no h

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    macho nem fmea" (Gl 3.28). Mas quando percebeu esta verdade, o ministrio (servio) de mulheres floresceu nas Igrejas de Paulo (como a Epstola aos Romanos, captulo 16, abundantemente demonstra). Entre nove colaboradores de Paulo mencionados especificamente, uma (Jnia) ele destaca como apstola (Rm 16.7). E a Igreja hoje parece relutar em aceitar as conseqncias bvias do cumprimento da profecia de Joel (Jl 2.28-29) que o ministrio de proclamao compartilhado por homens e mulheres indistintamente!

    2) O povo de Jesus no seria privado de sua presena, da sua orientao e de seu

    poder. Alis, Jesus havia prometido exatamente isto a seus discpulos ainda em vida. Isto o sentido da chamada "Grande Comisso" de (Mt 28). Esta Comisso ou ordem , antes de ordem, uma recitao e promessa: " me dado todo o poder no cu e na terra. Eis que estou convosco todos os dias". nesse contexto de declarao e promessa que Jesus ordena o "ide". Este o sentido do "portanto". paralelo a xodo 20 (Dt 5) onde, antes de ordenar "No ters outros deuses diante de mim", Deus lembra ao povo que ele havia tirado Israel da escravido no Egito. Portanto, "No tereis outros deuses".

    Parece-me que isto que Lucas est dizendo em Atos captulo 1 e versculo 1,

    onde diz. "Fiz o primeiro tratado, Tefilo, acerca de tudo que Jesus comeou, no s a fazer, mas a ensinar." Lucas sugere que o segundo volume de sua obra, o livro de Atos (o primeiro volume, naturalmente o Evangelho de Lucas), vai contar o que Jesus continuou a fazer entre o seu povo aps sua morte, ressurreio e ascenso. Isto, porm, ele far por meio do Esprito que far dos discpulos de Jesus suas testemunhas e apstolos (Atos 1.8). Jesus havia deixado claro que ele no abandonaria seu povo: "No vos deixarei rfos; voltarei para vs (Jo 14.18). "Rogarei ao Pai e ele vos dar outro consolador, para que fique convosco para sempre" (Jo 14.16).

    Uma das evidncias de mais importncia desta presena de Jesus se encontra no

    seu acompanhamento e orientao da Igreja. Ora, o "anjo do Senhor" que ordena Felipe caminhar pelo caminho que descia de Jerusalm a Gaza e o Esprito que lhe diz a ajuntar-se ao carro do mordomo-mor da rainha da Etipia, resultando na converso do homem e, qui, por ele, na evangelizao dos etopes! Ora, a nao do Esprito que de tal forma dirige Paulo e Lucas que levem o Evangelho Europa. Estilizando, simplificando o trajeto, o que aconteceu pode ser visto neste mapa:

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    Leia com cuidado os versculos de 6 a 10 do captulo 16 de Atos, e verifique o trajeto

    dos missionrios no mapa estilizado no seu livreto. Que exemplo extraordinrio de jogo divino/humano que finalmente levou Paulo e seus companheiros Europa!

    3) A presena de Jesus no meio do seu povo se expressou na qualidade da sua

    vida comunitria. H um quadro desta vida, idealizada, sem dvida, em Atos (2.42-47). Os elementos mais marcantes desta so resumidos no versculo 42:

    a) A doutrina dos apstolos* que, sem sombra de dvida, se refere profecia

    messinica, a morte, sepultamento, ressurreio e os encontros do Cristo redivivo com seu povo (cf. At 2.16-36, I Co. 15.1-10).

    b) Uma tal solidariedade que "os que criam estavam juntos, e tinham tudo em

    comum", de modo que ningum passava necessidade.

    c) O partir do po era uma prtica comunitria com duas dimenses importantes,

    alimentao e culto. Pois consistia de uma refeio (real, no simblica) em que todos, ricos e pobres, se alimentavam, sem distino. Mas era uma ceia presidida pelo Senhor Jesus ressurreto, em grata memria pela sua morte sacrificial e em expectativa de sua volta gloriosa e definitiva.

    d) E orao. O povo de Jesus era (e ) um povo de orao. A riqueza desta vida de

    orao no perodo apostlico impressionante. "Perseveravam unnimes todos os dias no templo" (At 2.46; 3.1). A Didaqu, no captulo 8, instruiu o catecmeno da necessidade de orar o Pai Nosso, pelo menos 3 vezes ao dia. Paulo desafiou os Cristos de Tessalnica a manter uma comunho ininterrupta com o Pai, exortando-os a "orar sem cessar" (I Ts. 5.17). Assim tambm o Esprito de Jesus, cuja intimidade com Deus lhe permitia chamar-lhe de Aba (Papai), permeava a vida do seu povo.

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    4) Um outro aspecto no pode deixar de ser destacado, a saber: a questo da unidade. Dificilmente esta nfase pode deixar de ser vista numa leitura cuidadosa do cap. 2 de Atos. Sem nos preocupar demasiadamente com os detalhes desta experincia nica, uma leitura cuidadosa nos deixa com certas impresses indelveis. Foi quando a totalidade da comunidade homem e mulheres se encontrava unida, que a promessa de Jesus foi cumprida (cf. At 1.8). Todos foram atingidos e todos passaram a participar de uma comunidade de testemunho no mais s "os onze" mas todos e cada um. Tambm todos testemunharam eficazmente "das grandezas de Deus" multido ali reunida (versculo 11).

    Em resumo, foi uma experincia comunitria da qual todos participaram. J vimos

    no terceiro ponto como o Pentecoste resultou numa comunidade unida de amor, solidariedade e adorao, quebrando as antigas barreiras de raa, sexo e classe. este mesmo Esprito de Cristo que busca a unidade do Povo de Deus e ainda a unidade da raa humana. Este o desafio do Pentecoste para o Cristo de hoje.

    EXERCCIO

    Escolha a melhor resposta: 1 - Mateus 5.17 confirma que:

    a) todos os valores da religio judaica foram retomados e realados em Cristo. b) com a vinda de Cristo, foram cancelados e anulados os valores da religio judaica. c) a Lei Judaica irrelevante para os tempos modernos. d) Jesus nem tomava conhecimento da lei contida no Antigo Testamento. 2 - At 16.6-10 nos leva concluso que os desgnios de Deus: a) se realizam exclusivamente por ao divina. b) se realizam exclusivamente atravs da ao humana. c) se realizam dentro de um jogo humano/divino em uma extraordinria combinao de

    impulsos divinos e respostas humanas na concretizao da vontade divina. d) existem s na imaginao humana, sendo que os acontecimentos nascem por acaso.

    3 - Com base no livro de Atos, podemos observar que:

    a) o Cristo Ressurreto continua aquilo que comeou no seu ministrio. b) Deus agiu at o Sculo I mas no est agindo mais. c) Deus continua a agir, mas apenas por um grupo pequeno e seleto de santos

    especialmente destacados para realizar seu trabalho. d) Deus tinha espao para operar dentro de uma sociedade simples e pacata como a

    dos tempos bblicos, mas sua ao muito difcil em uma sociedade moderna com todos os avanos cientficos e tecnolgicos.

    4 - Resumindo, no significado de Pentecoste, conforme os registros em Atos, podemos

    destacar que: a) a igreja se dividiu entre aqueles que falavam em lnguas estranhas e aqueles que

    no conseguiam esta faanha. b) a igreja se uniu em torno da misso em uma rica experincia comunitria. c) a igreja conseguiu se livrar de alguns maus elementos que comprometeram o nome de

    "cristo". d) a igreja descobriu uma forma correta e indiscutvel de organizao eclesistica para

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    consolidar e fortalecer sua presena na sociedade.

    5 - Para se aprofundar mais

    Sendo vlida a observao de que Lucas registrou no seu primeiro volume (o Evangelho de Lucas) tudo que Jesus comeou a fazer na vida terrestre e registrou no seu segundo volume (Atos dos Apstolos) aquilo que Jesus continuou a fazer aps sua morte, ressurreio e ascenso, Jesus estaria continuando seu trabalho ainda hoje? Como? Por intermdio de quem?

    6 - Colocar os seguintes dizeres em papel de metro ou em quadro de giz e incentivar o grupo a completar: O que nossa igreja local faz de mais significativo para comemorar o Pentecoste ........................................... Pentecoste poderia ser mais significativo para ns se fizssemos assim em nossa igreja local: ..................... Para ns, o significado duradouro de Pentecoste .................................................................

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    III - "OS SETE"

    Surge um Problema

    Um momento de conflito e de aparente injustia ameaou perturbar a paz da Igreja em Jerusalm. No se tratava de diferena teolgica ou doutrinria, mas pode ter tido sua base num preconceito to profundo que nem era reconhecido por aqueles que o nutriam. Em todo o caso, o resultado era injustia e prejuzo para as vivas gregas.

    1 Dar po a quem tem fome Antes de entrar numa tentativa de anlise do problema e sua soluo, vale a pena

    notar a questo da "distribuio diria". Havia uma notvel preocupao na Igreja de Jerusalm de que ningum passasse necessidades, preocupao essa que ganha mais importncia pelo fato de que muitos dos discpulos eram pobres. Vivas encontraram na comunho da Igreja no apenas acolhida, respeito e comunidade, mas tambm amparo material. Tudo isso refletia a atitude do Deus dos cristos, o qual "Faz justia aos oprimidos, d po ao que tem fome, o Senhor liberta os encarcerados, o Senhor guarda o peregrino, ampara o rfo e a viva"... (SI 146.7-9; Tg 1.27).

    Pois bem: nesta distribuio diria, as vivas dos gregos estavam sendo

    discriminadas, provavelmente de maneiras sutis. Talvez tenham sido atendidas depois dos outros, ou nem sempre sobrava para elas. Eram tratadas como pessoas de segunda classe. Eram "esquecidas". Talvez a coisa pior que pode acontecer a algum simplesmente no eram vistas como pessoas importantes. E o resultado era que no recebiam que deveriam receber na distribuio.

    Mas as vivas, na Igreja, no eram aquelas figuras desamparadas da sociedade

    comum; havia algum que, percebendo sua situao, "ps a boca no mundo" at que se tomasse uma medida satisfatria.

    Eis ento o problema: a distribuio diria, que visava cuidar das vivas

    desamparadas pela sociedade, de maneira bem concreta e de todas elas, independente de sua origem nacional ou racial, no estava atendendo s vivas gregas.

    2 - Caminhando para uma soluo: A primeira coisa a ser notada quanto busca de soluo do problema que a

    liderana da comunidade no caso, os apstolos* estava atenta para ouvir o que a comunidade estava dizendo. Os apstolos* eram pessoas com uma aguda conscincia da sua tarefa; eram, antes de mais nada, testemunhas da ressurreio de Jesus (At 1.8, 22; At 2.32, etc), pela qual Deus poderosamente manifestou-O como Filho de Deus (Rm 1.4).

    Tendo assim sentido a insatisfao e detectado a injustia, os apstolos* se

    mobilizaram. Tudo indica que tomaram ao logo que perceberam o problema e sentiram as suas dimenses. No deixaram o problema criar razes; agiram logo, mas no agiram sozinhos e nem precipitadamente. O problema no era meramente das vivas, era problema da comunidade que sofre quando apenas um dos seus membros sofre.Portanto, os apstolos, ou seja, a liderana da Igreja no um indivduo, mas a liderana coletiva

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    convocou no apenas as vivas e os que at faziam a distribuio. No, eles convocaram a comunidade para que houvesse uma soluo comunitria e global!

    Interessante que os Doze no fizeram interveno, como muito bem poderia ter

    acontecido. Eles no perderam sua confiana na capacidade dos discpulos de acharem solues satisfatrias para seus problemas.

    Surge uma Soluo Os apstolos* propem comunidade da f: "Escolhei dentre vs sete homens de

    boa reputao, cheios de Esprito e de Sabedoria, aos quais encarregaremos deste servio" (At 6.3). A Congregao concordou com a proposta, que no foi simplesmente imposta pelos doze. E foram eles que escolheram os sete; pessoas da confiana da Igreja toda. Gostaramos que tivessem ido um passo alm nesse processo de democratizao, incluindo algumas das prprias vivas, mas isto no aconteceu!

    Pouco sabemos sobre as pessoas escolhidas para esse servio. Mas os critrios

    para sua escolha merecem pelo menos breve meno. Eram homens de boa reputao, isto , eram pessoas cuja vivncia crist

    convencia a todos. Os nomes so essencialmente gregos, o que mostra a maturidade e a sabedoria da comunidade na sua escolha. Gregos seriam mais sensveis s necessidades das vivas gregas, presumivelmente as hebrias que, por serem da maioria, no precisariam de proteo na mesma proporo. Os sete nomes escolhidos tiveram, portanto, a confiana da Comunidade como um todo.

    Eram homens cheios do Esprito Santo; sua f era mais do que meramente formal,

    pois estava fundamentada em um relacionamento pessoal com Deus em Jesus Cristo e a conscincia da sua presena e direo.

    Eram tambm pessoas sbias talvez no muito letrados mas tementes a

    Deus, experimentados na vivncia da "f que atua pelo amor" (Gl 5.6). A Igreja no raciocinou: estes homens vo estar fazendo um servio essencialmente secular ou material, de modo que o que precisamos de bons tcnicos, gente entendida em questes de contabilidade, etc. No! Embora reconhecendo a necessidade da "sabedoria", as qualificaes eram especialmente "espirituais".

    verdade que os Doze pareciam colocar a distribuio diria num plano inferior ao

    seu prprio. "No razovel que ns abandonemos a palavra de Deus para servir as mesas" (At 6.2). Como j mencionamos acima, os apstolos viam como sua funo principal testemunhar a ressurreio de Jesus. Em certo sentido, era uma coisa insubstituvel. Historicamente, havia apenas um nmero limitado que havia seguido Jesus desde suas andanas na Galilia, acompanhando-o tambm at Jerusalm onde Ele foi crucificado e haviam visto Jesus depois de sua ressurreio. Mas a experincia posterior da Igreja mostra que ambas as pressuposies chegaram a ser seriamente questionadas. Hoje Saulo de Tarso, ou Paulo, universalmente reconhecido como apstolo, apesar de nunca ter sido discpulo de Jesus em vida deste e apesar de ter perseguido ferozmente a Igreja. Paulo tambm teve um autntico encontro com o Cristo redivivo e passou a ser o maior missionrio e telogo da Igreja apostlica*. Paulo que tambm nos d notcia de uma mulher apstola*, que ele qualifica de notvel entre os apstolos* (Rm 16.7 veja especialmente na Bblia de Jerusalm). Estes dois exemplos e outros que o espao no permite comentar (cf. At 14.14) deixam claro que, na prtica, a Igreja no limitava os

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    apstolos* a 12 e nem entendeu que a tarefa de testemunhar a ressurreio era exclusivamente dos doze. No, isto veio a ser funo da Igreja como um todo, passando a prpria Igreja a ser chamada de "apostlica"*.

    Tambm no prprio texto de Atos, dois dos Sete se destacaram no ministrio da

    proclamao. Estvo, descrito como cheio de f e do Esprito Santo, de graa e de poder (6.5, 8), se destacou nas suas pregaes perante a chamada Sinagoga dos Libertos e perante o Sindrio; to corajosamente pregou Jesus como o cumprimento das profecias que foi apedrejado, tornando-se o primeiro mrtir Cristo. A pregao de Filipe em Samaria se acompanhou de sinais e curas (8.6, 7); ele, atravs da converso do eunuco tambm, o evangelista indireto da Etipia (8.26-39). No sabemos dos outros cinco, mas no somos obrigados a pensar que eles se dedicaram exclusivamente distribuio de alimentos.

    Finalmente, a importncia desta obra, que se assemelha aos "Atos de misericrdia"

    no Plano Vida e Misso, to evidente que os apstolos* formalizaram a eleio dos sete com um ato pleno de solenidade: "orando, lhes impuseram as mos" (6.6), este ato solene de imposio de mos, julgado como uma espcie de ordenao, que tem convencido muitos estudiosos no decorrer dos anos que Atos (6.1-7) efetivamente narra a instituio da ordenao de diconos. Outros argumentam, por causa da ausncia do termo Dicono no trecho todo e, deveras, em todo o livro de Atos, que a ordem teria surgido depois, embora no haja nenhum consenso sobre onde e quando. No nosso propsito tentar desvendar este mistrio, nem necessrio, pois podemos tirar algumas concluses importantes do acontecimento sem dar a Estvo, Filipe e os outros nenhuma designao mais precisa que "Os Sete". J ter sido notado o seguinte:

    a) A Igreja apostlica* buscava socorrer os oprimidos e, em particular, as vivas; b) Neste sentido, diariamente ela distribua comida e outras coisas necessrias

    sustentao dos necessitados; c) Quando surgiram prticas discriminatrias na distribuio, ela procurou, atravs

    de processos comunitrios, chegar a uma soluo satisfatria para todos; e) Nesse processo, formalizou-se um grupo dentro da Igreja de Jerusalm que teria

    a responsabilidade desta distribuio diria; f) Na prtica, isto no resultou em uma dicotomia de funes "espirituais" e

    "materiais-sociais", e nem os Sete se restringiram funo da distribuio! Falta colocar a seguinte questo: "Os Sete" representam uma instituio permanente na Igreja de Cristo? A resposta

    definitiva gira em torno da questo se realmente a ordenao dos Sete constitui o estabelecimento da ordem dos diconos, uma ordem que veio a ser considerada como paralela aos Levitas entre os Judeus (sendo os presbteros e bispos como equivalentes aos sacerdotes e sumo-sacerdotes, respectivamente). Mas a opinio dos peritos sobre isto est dividida, e no convm sermos dogmticos.

    Mesmo sem decidir sobre esta questo maior e genrica, a maneira que a Igreja de

    Jerusalm agiu na soluo de um problema existencial pode nos fornecer "dicas" hoje. Face a um problema que seriamente ameaava a paz da Igreja e que mostrava uma falha na sua prtica de amor (Atos de Misericrdia), a Igreja como um todo agiu de modo srio,

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    responsvel, ponderado, democrtico e comprometido. Como comunidade, sob a direo do Esprito, a Igreja nem ignorou o problema e nem tentou escond-lo ou subestimar sua importncia. Pelo contrrio, enfrentou o problema aberta e inteligentemente e buscou uma soluo que lhe fosse adequada.

    EXERCCIO

    Escolha a melhor resposta

    1 - Atos 6.1-7 nos leva a concluir que a Igreja Primitiva: a) abandonou a "Ao Social" e se dedicou exclusivamente evangelizao. b) conseguiu se entender em torno de questes espirituais, mas nunca chegou a um

    acordo em torno de assuntos sociais. c) teve a notvel preocupao em atender s necessidades da comunidade de f

    sejam necessidades materiais, sejam espirituais. d) distribuiu alimentos como "isca" para atrair estranhos para o seio da igreja. 2 - Atos 6.1-7 nos indica: a) que os apstolos deram tempo ao tempo, deixando o problema em "banho maria" at

    desaparecer por si mesmo. b) que o problema da distribuio diria foi resolvido por uma interveno da parte dos

    DOZE que agiram como colegiado. c) que o problema da distribuio diria foi resolvido por uma palavra forte e autoritria

    do Chefe da Igreja. d) que a soluo do problema da distribuio diria foi resultado de ao comunitria e

    global envolvendo a liderana da igreja, as vivas que se sentiram injustiadas, os que faziam a distribuio e a comunidade dos fiis em geral.

    ] 3 - Atos 6.2 parece indicar que os DOZE colocaram a distribuio diria num plano

    inferior ao seu prprio servio de proclamar a palavra. Mais tarde: a) esta diviso se confirmou mais ainda e a Igreja aceitou como verdadeiros apstolos

    somente aqueles que pregaram a palavra. Os diconos que serviram as mesas foram cortados da comunidade.

    b) a Igreja no limitava a tarefa de testemunhar aos DOZE. Todos eram desafiados a testemunharem do Cristo Vivo em palavras e aes. De fato, dois dos Sete se destacaram no ministrio da proclamao.

    c) a Igreja ampliou mais esta diviso e deu um modelo para a sociedade secular onde trabalho braal e prestao de servio so inferiores e recebem salrios mais baixos.

    d) os diconos tomaram o poder e passaram a mandar na Igreja. 4 - Para se aprofundar mais

    a) Vocs se lembram de um desentendimento que ocorreu em uma congregao local? Como o grupo enfrentou o problema? A soluo foi individual? Legalista? Jurdica? Comunitria? Crist?

    b) Como pode a Igreja proclamar a Cristo hoje por Atos e Piedade ou Atos de

    Misericrdia ou por intermdio de ambos estes atos? c) Comparar a nfase dos Dons e Ministrios com o modelo da igreja que encontramos

    em Atos 6.1-7.

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    IV - CONCILIO DE JERUSALM

    Duas Verses do Mesmo Acontecimento

    Provavelmente este momento na histria da Igreja apostlica* seja um dos mais

    difceis para harmonizar luz dos textos do Novo Testamento. Na verdade, muitas explicaes so dadas, mas nenhuma que parea to convincente como a seguinte: realmente temos duas verses do mesmo acontecimento, de dois pontos de vista bem diferentes, a saber: Atos 15.1-29 e Glatas 2.1-10. Sem dvida, h diferenas em detalhes que parecem at contradies, pelo menos quanto a certos detalhes dos dois trechos. Mas, se olharmos para o sentido geral das decises, vamos perceber que realmente h uma grande concordncia quanto aos pontos principais.

    Que que temos? 1) Temos o clmax de vrios acontecimentos que mostram que as Boas Novas do

    Reino no se destinam apenas aos judeus. A prpria experincia de Pentecoste ocorreu quando se encontravam em Jerusalm Judeus proslitos "de todas as naes debaixo do cu" (At 2.5, 11). Mas, no entender de Lucas, o autor de Atos, a perseguio dos discpulos aps a morte de Estvo e a presso do prprio Deus levaram ao questionamento da idia de que o Evangelho pertencia exclusivamente aos judeus, e os acontecimentos mostram que os discpulos pouco a pouco deixaram esta idia de lado na sua atuao dia a dia. Filipe vai desprezada Samaria e "anuncia-lhes a Cristo" e "as multides atendiam unnimes" (At 8.4, 5). O mesmo batiza o oficial de Etipia, provavelmente temente a Deus (gentio* adepto do Judasmo) mediante sua f em Jesus como Filho de Deus (At 8.37). O prprio Pedro "empurrado" por Deus atravs da viso dos animais puros e imundos (At 10.9-16) para oferecer Cristo ao "temente a Deus" Cornlio, centurio romano. Deus prova a aceitao de Cornlio e sua famlia por lhes derramar o Esprito Santo, e Pedro se sentiu obrigado a batiz-los (At 10.44-48). Entrementes, discpulos, fugindo da perseguio, pregaram Cristo a "gregos" (gentios* em Antioquia). "A mo do Senhor estava com eles, e muitos, crendo, se converteram ao Senhor" (At 11.21). E finalmente, o Esprito separa Barnab e Paulo para a proclamao no mundo gentlico (At 13.2-3). Quando voltaram a Antioquia aps a "primeira viagem missionria", "relataram quantas coisas fizera Deus com eles, e como abrira aos gentios* a porta da f" (At 14.27).

    2) Mas nem todos concordaram com esta nova abertura; relutantemente aceitavam

    o fato que Deus estava realmente abrindo a porta da f aos gentios*. Mas criam que, antes de os gentios* se tornarem cristos, tinham que ser judeus, isto , tinham que se submeter circunciso e a totalidade da lei judaica. Eis o sentido de At 15.1: "Se no vos circuncidardes segundo os costumes de Moiss, no podeis ser salvos".

    Esta declarao, no autorizada pelos apstolos* em Jerusalm, mas aparentemente

    representando o pensamento de muitos cristos da Palestina, teria posto em cheque toda a misso de Paulo e ainda a autenticidade da converso dos cristos gentlicos, ou seja, teria negado toda a misso de Paulo. Neste momento de crise, o que que foi feito?

    3) Como agiu a Igreja frente crise? a) A primeira coisa foi que houve "contenda e no pequena discusso" (At 15.2).

    Paulo descreve a mesma coisa em Glatas (2.11-14), onde percebemos que a "contenda"

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    envolveu o prprio apstolo Pedro, o mesmo que Deus havia empurrado para proclamar Cristo a um soldado romano. Pois Pedro havia revertido velha exclusividade judaica de no comer com gentios*, mesmo quando estes fossem seus irmos em Cristo! Paulo o resistira cara a cara!

    Sim, ocorriam, s vezes, diferenas entre pessoas na liderana da Igreja nos

    tempos apostlicos!* b) Mas a Igreja agiu rapidamente para resolver o problema. Crise havia, mas ela

    no imobilizou a Igreja como muitas vezes ocorre hoje. Tambm nada de "panos quentes". O essencial era um dilogo franco de parte a parte, com boa representao de todos os lados. E no s de liderana! Da Antioquia foram Paulo e Barnab (notem a ordem!) e "alguns outros" (At 15.2); conforme o texto, reuniram-se com os apstolos e presbteros de Jerusalm. Houve franca discusso, em que ficou cristalino que a unidade da Igreja se encontrava em Cristo e que todos, gentios* e judeus, foram "salvos pela graa do Senhor Jesus" (At 15.11). Seria impensvel frente a este fato deixar qualquer diferena dividir a Igreja.

    c) A concluso pode parecer, primeira vista, um tanto legalista e at mesquinha,

    isto , se atentarmos demais para os detalhes conforme a epstola enviada aos cristos em Antioquia:

    "Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos dolos, bem como de sangue, da carne de animais sufocados e da incontinncia" (15.29). Na realidade, parece-me que h uma outra leitura possvel, uma leitura que vai alm da letra para o cerne das coisas:

    d) Os cristos gentlicos* estavam sendo aceitos como irmos em Cristo com o

    absoluto mnimo de legalismo. A circunciso no seria exigida nem o sbado era imposto e nem era proibido comer carne de porco (e nem as outras proibies da lei cerimonial). Isto significa, ento, no mesquinhez, mas uma notvel abertura por parte dos cristos de origem judaica. Em outras palavras, era uma declarao de autonomia, um reconhecimento que o Cristo Cristo no em funo da sua raa, mas unicamente pela sua f em Jesus Cristo. Que extraordinria fundamentao para a ao missionria da Igreja!

    4) Mas o cristo, embora livre dos detalhes da lei, alis j questionados no prprio judasmo (SI 51.16-17; Mq 6.8, etc), expressa sua liberdade atravs do seu compromisso com o Reino de Deus e Sua Justia. Como o prprio Paulo disse na sua epstola mais veemente em favor da liberdade crist, a de Glatas, "... fostes chamados liberdade, porm no useis da liberdade para dar ocasio carne; sede antes servos uns dos outros, pelo amor" (5.13). Lutero entendeu bem o que Paulo estava dizendo, por isso no seu magnfico tratado sobre a liberdade ele insistiu que o cristo , a uma vez, o ser humano mais livre do mundo e o mais preso, pois ele passa a ser o servo de todos!

    5) Por que destacar idolatria, absteno do sangue e impureza sexual? Quer me parecer que h aqui uma maneira, bem prtica, bem dentro da compreenso at de cristos novos a insistir em trs valores duradouros, a saber:

    a) O cristianismo, como o judasmo, no admite diviso de lealdades.O judeu se

    lembrava sempre: "...o Senhor nosso Deus o nico Senhor. Amars pois o Senhor teu

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    Deus de todo o corao, de toda a tua alma, e de toda a tua fora" (Dt 6.4-5), alis, muito relacionado aos primeiros dois mandamentos (Dt 5.7-9). Assim, o cristo confessava unicamente Jesus como o Senhor da sua vida (Rm 10.9; I Co 12.3).

    b) Abster-se de comer carne com sangue era uma proibio muito antiga e pode ser

    vista simbolicamente com reverncia pela vida (cf. Dt 12.23). provvel que poucos cristos hoje se preocupem literalmente com esta proibio, mas qual de ns seres humanos no se importa se formos cristos ou no, no se rebela contra o desprezo do valor humano to evidente em nossos dias, o genocdio dos ndios do Brasil, os "desaparecidos" da Argentina e das Filipinas calculados por alguns como talvez semelhantes em nmero aos da Argentina, e a transformao do nosso planeta Terra to prdigo de vida natural em um deserto que poder vir a ser nosso sepulcro? (No momento em que escrevia estas linhas, uma nuvem radioativa de um grande reator atmico russo ameaa vida e sade de milhares, qui milhes, na Europa).

    c) E finalmente, pureza sexual, que tem tantas implicaes no sentido de vida

    familiar responsvel, estvel e saudvel; relacionamento entre homem e mulher baseado em igualdade e respeito mtuo e no explorao. Ou, no conjunto, h o lembrete de que ser cristo significa ter liberdade do pecado, da mediocridade, da inutilidade, e liberdade para viver plenamente para os outros, sem cair nos erros to comuns do ser humano. Pois como Tiago disse, a verdadeira religio consiste em visitar os rfos e as vivas nas suas tribulaes e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo (Tg 1.27).

    EXERCCIO:

    Escolha a melhor resposta

    1 - Os dois textos, Atos 15.1-29 e Glatas 2.1-10, relatam o Concilio de Jerusalm.

    a) estes dois relatos so idnticos. b) os dois relatos se divergem em alguns detalhes mas existem uma grande

    concordncia quanto aos pontos principais e ao tomada. c) os dois relatos se divergem no somente em detalhes mas em pontos fundamentais

    sobre a ao tomada. d) os dois relatos so contraditrios e no possvel determinar o que aconteceu no

    conclave. 2 - A respeito dos dois textos (Atos 15.1-29 e Glatas 2.1-10), os entendidos:

    a) sugerem que os dois textos bblicos so duas verses do mesmo acontecimento. b) afirmam que, na realidade, so dois conclios diferentes. c) preferem no considerar o fato de um texto bblico estar em contradio com o outro e

    se calam sobre os detalhes divergentes. d) consideram Atos 15.1-29 como sendo totalmente correto e Glatas 2.1-10 como

    sendo totalmente falho. 3 - O Concilio de Jerusalm o clmax de vrios acontecimentos que mostram: a) que a Boas Novas do Reino no se destinam apenas aos judeus. a) que Jerusalm a Cidade Santa, portanto sede incontestvel do cristianismo. b) que os judeus, de fato, so o povo escolhido. c) a superioridade da religio judaica.

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    4 - Aps o Concilio de Jerusalm: a) todos aceitaram pacificamente as resolues do conclave. b) houve a rejeio macia das decises tomadas. c) nem todos concordavam plenamente com a nova abertura. Aceitavam o fato que

    Deus estava realmente abrindo a porta da f aos gentios. Todavia, criam que, antes de se tornarem cristos, os gentios tinham que se submeter circunciso e totalidade da lei judaica.

    d) os gentios convertidos tinham que ser dizimistas. 5 - Quanto s resolues do Concilio de Jerusalm: a) Pedro e Paulo se divergiram. Pedro tinha uma posio mais fechada e Paulo o

    enfrentou cara a cara. b) Pedro e Paulo lutaram juntos para a implantao imediata e plena das mesmas. c) Pedro queria a implementao imediata das resolues, mas Paulo resistiu. d) nem Pedro nem Paulo se entusiasmaram com as mesmas.

    6 - Para aprofundar mais e trocar idias em grupos

    Hoje colocamos pesos desnecessrios sobre os candidatos converso? Apresentamos as Boas Novas do Evangelho com seu esprito libertador ou colocamos obstculos de legalismos e dificuldades mesquinhas perante os interessados?

    Como encontrar um equilbrio entre uma disciplina eclesistica necessria e prudente

    para garantir unidade da igreja e contribuir para a edificao dos fiis, sem cair no legalismo mortificante?

    Comparar alguns costumes de disciplina eclesistica de outros grupos religiosos com os da

    nossa igreja. Quais costumes aproximam mais o modelo dado pelo Concilio de Jerusalm?

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    V A IGREJA PERSEGUIDA

    Quando se trata da questo da perseguio, h diversos aspectos que devem ser

    considerados, tais como: - Quem perseguiu a Igreja? Por que a perseguiram? - De que consistiu a perseguio; qual a durao e a intensidade das perseguies? - Como os cristos encaravam a perseguio e como se portaram mediante ela(s)? Talvez, para fins de clarificao, devemos fazer algumas breves declaraes sobre as

    perseguies, a fim de responder, de forma sucinta, o tipo de pergunta que nos propusemos acima.

    A Igreja nasceu sob a nuvem de suspeita; seu fundador fora crucificado

    ostensivamente como revolucionrio pelo governo romano, instigado a isto pela liderana judaica de Jerusalm a qual viu Jesus como ameaa a seus privilgios e prpria religio judaica como eles a entendiam. Aquilo que fora feito com o lder facilmente aconteceria aos discpulos. Alis, o prprio Jesus, medida que havia advertido seus discpulos sobre sua paixo e morte, no deixava de falar-lhes sobre o que lhes esperava (cf. Mt 20.17-28; Lc 21.12; Jo. 15.20; Mc 5.11, 12). Ento, quando Jesus foi levado preso, ".. .os discpulos todos, deixando-o, fugiram" (Mt 26.56).

    Escondidos e imobilizados pelo medo quando Jesus foi crucificado, os discpulos

    foram transformados em testemunhas por seu encontro com o Cristo redivivo e pela apropriao do Esprito Santo no dia de Pentecoste. O espao de tempo mencionado em Atos 2.47 em que os irmos contavam "com a simpatia de todo povo" foi de curtssima durao. Pois imediatamente na narrativa de Lucas vem o episdio da cura do coxo por Pedro e Joo. O povo, de fato, aceita seu testemunho e dois mil se convertem; os sacerdotes e os saduceus, "ressentidos por ensinarem eles o povo e anunciarem em Jesus a ressurreio dentre os mortos" (os saduceus no admitem a possibilidade da ressurreio), prenderam os apstolos* e os proibiram, sob ameaa, a pregar em nome de Jesus (o que se recusaram a fazer). Mas apenas o preldio de perseguies, sempre s mos dos judeus (no o governo romano), em escala cada vez mais geral e violenta.

    Os apstolos* todos so presos, aoitados e ameaados pelos principais

    sacerdotes (5.40). Estevo, pregando Jesus na Sinagoga dos Libertos, irritou os ancios, os quais o levaram perante o Sindrio*, onde ele tentou provar que Jesus fora o profeta prometido por Moiss (7.37), mas eles se enfureceram contra ele e o apedrejaram. "Naquele dia, levantou-se grande perseguio contra a Igreja em Jerusalm; e todos, exceto os apstolos, foram dispersos pelas regies da Judia e Samaria" (At 8.1).

    Saulo (que depois adotar a forma judaica Paulo), o grande perseguidor da Igreja,

    se converte a caminho de Damasco onde pretendia prender os cristos, homens e mulheres, que se haviam refugiado ali (anos mais tarde na prpria cidade de Damasco, Paulo tentou convencer os judeus que Jesus era o Cristo, mas o resultado foi que eles deliberaram mat-lo e ele teve que fugir de noite, cf At 9.22-25).

    O Rei Herodes matou o apstolo Tiago espada e prendeu Pedro, o qual escapou

    (At 12.2-3). Paulo, aps um considervel perodo, presumivelmente de retiro espiritual e reflexo (Gl 2.17-18), parte de Antioquia na companhia de Barnab na famosa primeira viagem missionria. Eles encontram perseguies em quase todo lugar que vo; em Antioquia de Psdia, so expulsos (At 13.50); em Icnio tm que fugir para escapar do

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    apedrejamento (At 14.5, 6); mas so apedrejados em Listra e arrastados para fora da cidade como mortos (At 14.19), tudo isso instigado pelos judeus. Para encurtar a longa histria da perseguio da Igreja no Novo TeStamento, podemos lembrar que Paulo, aps sua terceira viagem missionria, resolveu ir a Jerusalm, onde foi falsamente acusado de pregar contra a religio judaica e ainda de introduzir um grego (ilegalmente) no templo. Teria sido linchado pelos judeus se no fosse a pronta ao dos soldados e centuries romanos. Ficou preso por muito tempo e, mediante sua prpria escolha, foi levado, ainda preso, Roma. Mas a real perseguio que sofreu, sofreu-a nas mos dos judeus e no dos romanos.

    Mas o que a Igreja apostlica* sofreu de perseguio s mos dos judeus ela

    sofreu ainda em maior escala em Roma. Mesmo no primeiro sculo d.C, houve duas sangrentas perseguies instigadas por Roma. A primeira foi a de Nero, na dcada dos 60, em que Nero chegou a iluminar uma corrida de carros com tochas vivas, os corpos cobertos de piche dos cristos que preferiram a morte renncia da sua f em Nome de Jesus. A segunda foi a do Imperador Domiciano, perto do primeiro sculo da era crist. Esta descrita no livro do Apocalipse, no qual os cristos so encorajados com palavras como "S fiel at a morte e dar-te-ei a coroa da vida" (At 2.1). Esses mrtires tambm nutriam a certeza de que Jesus logo venceria todos os seus inimigos, pois ele era o alfa e o mega, o Senhor da histria. S ele era digno de abrir o livro do futuro e desatar seus selos At (5.1).

    J no segundo sculo, o cristianismo havia se estabelecido firmemente na sia

    Menor (moderna Turquia), no Egito (Alexandria), Sria (Antioquia), Roma, frica do Norte e Alhures. Em alguns lugares, como Bitnia, j no incio do segundo sculo, o cristianismo de tal forma atraa a populao que os templos pagos se esvaziavam, o que poderia trazer sobre a cidade a vingana dos deuses desprezados.

    Pelo menos, assim pensavam os no cristos, especialmente aqueles que se viam

    prejudicados pela vitria crist. Um exemplo destes seriam os aougueiros que funcionavam nos templos (dos animais imolados, s parte era usada nos sacrifcios, a carne boa era vendida a bom preo!)

    Da o governador Plnio persegue ferrenhamente a Igreja. Qualquer cristo que

    persistia na sua fidelidade a Cristo pelo mero fato de ser cristo era condenado morte; alis, at o tempo de Constantino, no incio do quarto sculo (por volta de 311-313 d.C.), ser cristo era tido como crime digno de morte!

    H muitos exemplos de cristos que enfrentaram a morte corajosamente, apesar

    de ameaas e a mais feroz tortura. Deveras, o martrio como a mais perfeita imitao de Cristo era o modelo para os cristos e as crists durante o segundo e terceiro sculos (e comeo do quarto, quando desabou a mais cruel e generalizada perseguio de todos). Vejamos alguns breves trechos que nos foram preservados deste perodo herico:

    1) Incio, Bispo de Antioquia, foi levado para o martrio em Roma no comeo do

    segundo sculo. Na prpria viagem, ele escreveu 7 cartas. Na carta Igreja em Roma, ele implorou Igreja a no usar sua influncia para libert-lo. Ele escreve:

    "Sou trigo de Deus e sou modo pelos dentes das feras, para encontrar-se como puro po de Cristo. Acariciai antes as feras, para que se tornem meu tmulo e no deixem sobrar nada do meu corpo, para que na minha morte no me torne peso para ningum. Ento de fato serei discpulo de Jesus Cristo."

    2) Em 155 a.C, o venervel Policarpo, Bispo de Esmirna, foi levado ao martrio

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    no estdio da sua prpria cidade. Os guardas tentaram persuadi-lo a escapar da morte por uma renncia apenas formal da sua f:

    - "Ora, que mal h em dizer 'Csar Senhor!' e em sacrificar aos deuses como de costume, e assim salvar a SUA vida?"

    Aps a recusa de Policarpo, os guardas o levaram ao estdio, onde o procnsul

    tambm tentou persuadi-lo a apostatar-se para salvar a vida. - "Considera tua idade... Jura pelo esprito de Csar, retrata-te; grita 'Abaixo os

    ateus!' (os cristos, que adoravam um Deus invisvel, do qual no faziam imagens, eram considerados ateus).

    Policarpo, muito gravemente olhando para os pagos que enchiam as escadarias do

    estdio e acenando para eles, suspirou e exclamou: - Abaixo os ateus! O procnsul insistiu: - Jura, e eu te soltarei. Insulta a Cristo. Policarpo respondeu: - Oitenta e seis anos h que sirvo a Cristo. Cristo nunca me fez mal. Como

    blasfemar contra meu Rei e Salvador? Policarpo foi queimado vivo. Era por causa de testemunhas como Policarpo que Tertuliano declarou: - "O sangue dos mrtires semente". 3) Em Leo e Viena, Glia (atual Frana), houve uma severa perseguio no ano

    de 177. Nessa ocasio, a populao, enfurecida pelo falso testemunho de que cristos comiam seus prprios filhos e tinham relaes sexuais com as prprias mes, maltrataram e at lincharam cristos. Estes crimes alegados eram, na realidade, uma m interpretao dos sacramentos cristos, ao que s os batizados assistiam. Na sua Eucaristia, os cristos comiam o corpo e bebiam o sangue do seu Senhor". Isto cheirava canibalismo! Tambm participavam de "festas de amor" o que, imaginao paga, s poderia significar orgias sexuais!

    Entre as vtimas da perseguio foi o velho Bispo Potino, com seus 90 anos. Foi

    preso e torturado. "... todo o seu corpo estava gasto, mas reconfortava-o o sopro do Esprito e o

    desejo do martrio. Ento empurrado, sem nenhuma humanidade, foi vtima de muitos ferimentos. Os que conseguiram aproximar-se, injuriosamente precipitaram-se sobre ele com pancadas e golpes, sem levar em conta a sua idade; os que estavam mais longe atiravam nele tudo quanto tinham mo; todos se teriam considerados rus de impiedade e de grave delito se no ultrajassem ao infeliz. Criam que desse modo vingavam a injria feita a seus deuses. Da, apenas respirando, foi levado ao crcere, onde entregou a alma dois dias depois.. "

    Portanto, em tempos de perseguio, que no eram constantes e nem aconteciam

    em todo o lugar, os cristos e as crists dos quais havia muitos que no sofriam apenas s mos dos magistrados, muitos eram virtualmente linchados, como no caso do velho Potino, pela populao irada por causa das calnias levantadas sobre os cristos.

  • 26

    Na mesma perseguio, foi martirizada a jovem escrava Blandina, qual os prprios cristos temiam que lhe faltasse a firmeza para confessar a f. Mas, "ela se mostrou to corajosa, a ponto de cansar e desencorajar os carrascos. Desde pela manh tiveram estes que se revezar para tortur-la cada vez mais. tarde confessaram-se vencidos, pois no tinham mais nada a fazer-lhe. Espantavam-se que ela tivesse ainda um sopro de vida, tanto seu corpo estava despedaado e transpassado; e afirmavam que um s destes suplcios seria suficiente para causar-lhe a morte. Mas a bem-aventurada, como uma valorosa atleta, renovava as foras ao confessar a f. Esta lhe era um conforto em seus sofrimentos, era-lhe um alvio o dizer: 'eu sou crist e entre ns no h nada de mal'".

    EXERCCIO:

    Escolha a melhor resposta 1 - A Igreja Crist: a) sofreu nas mos dos judeus e mais ainda nas mos do Imprio Romano. c) sofreu nas mos dos judeus, mas no nas mos do Imprio Romano. d) sofreu nas mos do Imprio Romano, mas no nas mos dos judeus. e) sofreu s nas mos dos pagos e hereges. 2 - Incio, Bispo de Antioquia, foi levado para o martrio em Roma no comeo

    do segundo sculo. No caminho: a) enviou uma carta igreja em Roma pedindo que os lderes usassem sua

    influncia para salv-lo da morte. b) escreveu uma carta amaldioando seus inimigos. c) enviou uma carta igreja em Roma implorando aos fiis a no tentar

    libert-lo, pois com este martrio ento seria, de fato, um discpulo de Jesus. d) escreveu uma carta perdoando seus malfeitores. 3 - O venervel Policarpo, Bispo de Esmirna, aos 86 anos de idade: a) teve sua pena de morte transformada em sentena de priso perptua em

    deferncia sua idade avanada. b) aceitou a sugesto do procnsul e fingiu que insultava a Cristo e por isso foi

    solto da priso. c) afirmou: "oitenta e seis anos h que sirvo a Cristo. Cristo nunca me fez mal.

    Como blasfemar contra meu Rei e Salvador?" d) pediu aposentadoria e assim ficou isento das torturas e perseguies.

    4 - A jovem escrava, Blandina: a) mostrou-se to corajosa nas perseguies que conseguiu at desencorajar

    e cansar os carrascos. b) se converteu f crist mas negou a Cristo mediante perseguies e

    torturas intolerveis. c) se prontificou a seguir a Cristo como discpula se seu dono lhe concedesse

    a liberdade. d) fugiu da casa do seu dono para escapar das terrveis perseguies

    dirigidas aos cristos.

  • 27

    5 - Para se aprofundar mais Trocar idias sobre estes pontos com seus companheiros e suas companheiras

    de grupo: - H lugares no mundo hoje onde a Igreja Crist enfrenta perseguies

    semelhantes s dos primeiros dois sculos? Se responder SIM, onde? Se responder NO, por que no h perseguies assim hoje?

    - O cristianismo floresce maio dentro das perseguies ou quando h completa

    liberdade para se desenvolver?

  • 28

    VI - A ESTRUTURAO INTERNA DA IGREJA

    (Hierarquia X Carisma)

    Todas as grandes Igrejas (ou denominaes) hoje em dia possuem sua hierarquia. O bispo de Roma, ou seja, o Papa, preside sobre uma vasta hierarquia de cardeais, de arcebispos, de bispos etc, como sabido por todos. No cristianismo oriental (ou Ortodoxo), diversos Patriarcas presidem sobre os fiis de pases inteiros ou de vastas regies, tendo abaixo deles toda uma hierarquia bem como sacerdotes, monges e monjas em grande nmero. Obviamente, a Igreja Metodista tambm tem uma hierarquia bem estabelecida. No Brasil, os sete bispos, individualmente e como Colgio, renem muito prestgio, influncia e poder entre os metodistas do pas.

    Isto bom ou mau? Ser uma aberrao? No to fcil responder a essa

    pergunta! Vejamos o que podemos descobrir atravs de um exame da Igreja nos tempos

    apostlicos* e ps-apostlicos. UMA TAREFA I Sugiro para o nosso estudo hoje o seguinte exerccio: que o aluno coloque, numa

    folha de papel ofcio, no sentido vertical, ou no quadro-de-giz, uma lista de dons, ministrios e servios nas seguintes passagens bblicas (e na ordem sugerida):

    Texto Bblico Ministrio servio relatado a) Romanos 12.6-8 b) I Corntios 12.8-10 c) I Corntios 12.28 d) Efsios 4.11 e) Filipenses 1.1 f) I Timteo 3.1-16 e I Timteo 5.3-20 Depois de estudar o quadro, algumas coisas comeam a ficar evidentes. Entre outras

    coisas, provavelmente sero notadas as seguintes: 1) Nestas 6 passagens, algumas apresentam uma situao de muita variedade e de

    variao de dons e ministrios. Representa o perodo "carismtico" da Igreja antiga (coluna 1 a 3). Efsios 4.11 representa um estgio de transio entre um ministrio estritamente carismtico e um mais hierarquicamente estruturado. As ltimas duas colunas mostram o processo para um estgio de ordens fixas e mais ou menos hierarquicamente estruturadas.

    2) Apesar da variedade de dons e ministrios nas primeiras trs colunas, h tambm

    elementos em comum; Profetas e profecia fazem parte das trs listas, e ainda a de Efsios. Ainda com palavras diferentes, o ministrio de ensino aparece nas trs colunas e em Efsios (Doutores). Servio comunidade aparece em todas as colunas sob diversos ttulos. Em

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    Romanos, aparecem ministrio, servio (DIACONIA) e o repartir (METADIDOMI) e ainda o exerccio da misericrdia (ELEOS), e "socorros" aparece na terceira coluna.

    Nas listas de I Corntios "Dons de curar" e "milagres" aparecem. claro que a cura

    de pessoas doentes um servio inestimvel; julga-se que as "maravilhas" e "milagres" no seriam simples demonstraes de poder, mas o uso da energia divina em servir comunidade da f e outros. Assim foram os milagres de Jesus, no verdade?

    3) Uma terceira coisa que certos dons que so muito valorizados hoje no se

    encontram em todas as listas e, quando encontrados, acham-se nos ltimos lugares nas listas. o caso de falar e interpretar lnguas. tambm o caso de presidncia/governo. Embora no haja identidade e nem semelhana no grego dos termos, h evidncia que bispos foram tambm chamados presidentes (o termo "presidente" empregado por Justino Mrtir, por exemplo, na sua descrio detalhada da Santa Ceia na sua primeira Apologia (captulo 66. cf. Gomes, Antologia dos Santos Padres, SP, Paulinas, p. 66).

    OS MINISTRIOS NO NOVO TESTAMENTO Mesmo dentro do Novo Testamento, como vimos, h evidncia de uma

    considervel evoluo nos conceitos de ministrios, e especialmente nos ttulos dados aos diversos ministrios.

    Dissemos acima que Ef 4.11 marca a transio. Nesse versculo, duas fases de

    ministrios podem ser distinguidas: apstolos*, profetas e evangelistas representam a fase missionria, itinerante, carismtica. Pastores e doutores so servos especialmente na igreja local. A Didaqu, antigo manual para catecmenos (candidatos ao batismo), tambm ilustra esta transio. Didaqu, captulo 15: "Elegei, ento, para vs mesmos, bispos e diconos, dignos do Senhor, vares mansos e no amantes de dinheiro, verdadeiros e aprovados, porque tambm eles vos ministram os servios dos profetas e mestres".

    4) H uma coisa final a notar. No h distino de sexo entre aqueles que

    exercem dons e ministrios na Igreja de Cristo (Gl 3.28). A nica passagem que examinamos que de qualquer forma se refere ao sexo menciona especialmente dois tipos de ministrios femininos, a saber, as diaconisas (I Tm 3.11) e a importante ordem das vivas (I Tm 5.3-16), cuja descrio ocupa duas vezes mais espao do que a do bispo. provvel que encontraramos exemplos de todos os dons e ministrios exercidos especificamente por mulheres, o que tambm pode ser assunto para a discusso da classe. Podemos citar rapidamente alguns exemplos. Nas listas mais formais de ministrios, apstolos sempre vm em primeiro lugar: pois Paulo identifica Jnia como apstola com distino (Rm 16.7). Seguem os profetas (e profetizas): o evangelista Filipe, por exemplo, teve "quatro filhas donzelas, que profetizavam" (At 21.9; cf. At 2.17).

    Mulheres ensinavam e exortavam, a exemplo de Priscila, qual, junto com seu

    marido quila, cuidava (pastoreava?) da comunidade crist em feso, onde tambm ensinou a Apoio "mais pontualmente o caminho de Deus" (At 18.26). E o que dizer de Dorcas, cujas caridades tanto comoveram a comunidade de Jope (At 9.36-41)? Marta representa aquelas mulheres telogas (doutoras) que tiveram a sensibilidade de perceber quem era Jesus, muito antes da sua morte e ressurreio: "Creio que tu s o Cristo, o Filho de Deus" (Jo. 11.28; Jo. 4.30-42). A lista j vai se tornando longa... Os caps. 11 e 12 da Didaqu tratam especialmente desse ministrio local (de bispos e diconos) lado a lado (embora aparentemente de menor importncia para o autor desconhecido do Didaqu) com

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    o carismtico. Para evitar delongas, no citaremos uma passagem de mrtir Incio de Antioquia, o qual insistia na necessidade de um ministrio em trs ordens, bispo, presbtero, dicono. I Timteo j assume, no entanto, esta hierarquia, mas interessantemente menciona tambm diaconisas e descreve detalhadamente a ordem das vivas, deixando muito evidente a importncia dos ministrios femininos na Igreja antiga.

    Qual o sentido dessa transio e eventual (quase) substituio do ministrio de

    dons e ministrios pelo ministrio de ordens e hierarquia? As respostas no so to fceis, mas algumas respostas podem ser pensadas.

    1) Certas funes essenciais tinham que ser exercidas na igreja pela sua prpria

    natureza. Para o exerccio destas funes, pessoas tinham que ser encontradas. A funo da proclamao, a do ensino, a presidncia do culto e sacramento, do servio comunidade da f e comunidade maior eram indispensveis, de modo que pouco a pouco assumiram formas mais definidas e institucionalizadas.

    2) provvel que alguns dos ministrios que surgiram na Igreja tenham tido modelos na sinagoga judaica. Alguns estudiosos encontram no HYPERTES (At 4.20, onde ele chamado de "ministro") o bispo; outros o vem como o modelo do dicono. O ancio ou "presbtero" era figura importante na vida pblica e religiosa de Israel, como o era em Roma (o Senado era a assemblia dos ancios etc). Curiosamente, nosso termo senil vem da mesma raiz. A necessidade sentida de se ter um ministrio estvel para a Igreja local resultou na adoo de um ministrio em trs ordens: bispo, presbtero e dicono, bem como de diaconisas e vivas. bem possvel, porm, que estas "ordens" tenham tomado como modelos respectivamente o sumo sacerdote, o sacerdote, e o levita.

    3) Especialmente a partir do meado do segundo sculo, a Igreja foi perturbada pelas novidades doutrinrias* dos gnsticos*. Nesse ambiente de confuso doutrinria* o bispo (que era o pastor da igreja local) assumiu a funo de defensor da f (preservador da pura doutrina*) e smbolo da unidade da Igreja. No mesmo perodo, em meio perseguio romana, o bispo, como chefe da Igreja local, era tambm o alvo da mais feroz opresso. O martrio corajoso de pessoas como Policarpo, o bispo de Esmirna, Incio, bispo de Antioquia, e o velho Potino, bispo de Leo, reforou o prestgio do bispo.

    Uma observao final Ns usamos muito na Igreja e na sociedade a categoria de "lder". Promovemos

    cursos para o "treinamento de lderes" etc. Mas, curiosamente, no se encontra o conceito na Bblia; simplesmente no uma das categorias em que biblicamente se discute a questo de dons e ministrios! "Liderana" cheira um pouco aos discpulos que disseram a Jesus: "Concede-nos que na tua glria nos assentemos, um tua direita, e outro tua esquerda" (Mc 10.37), ou o desejo de ser grande. Mas, a estes ltimos Jesus falou: "Se algum quiser ser o primeiro, ser o derradeiro de todos e o servo de todos" (Mc 9.35). Parece que nas passagens bblicas examinadas, as posses das pessoas, geralmente to valorizadas hoje, e que podem sutilmente influenciar na escolha de pessoas para os diversos ministrios da Igreja, no pesavam. A Didaqu, por sua vez, v no dinheiro um possvel empecilho ao verdadeiro servio: nenhum "amante ao dinheiro" servia para ser eleito Bispo ou Dicono!

    No, a categoria bblica outra servo. E tinha que ser assim. J no Antigo

    Testamento, aparece a figura de Servo sofredor que a igreja desde cedo reconheceu como tipo de Cristo (Lc 24.25-27; At 8.32-35). Jesus tambm disse:

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    "Porque o Filho do Homem tambm no veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos" (Mc 10.45; cf. sua exortao tambm no versculo 44).

    Escolha a melhor resposta

    1 - No Novo Testamento: a) h evidncia de uma considervel evoluo nos conceitos de ministrios e especialmente nos ttulos dados aos diversos ministrios. b) h um organograma claro e fixo para a estruturao da igreja s seguir. c) h uma recomendao explcita de no se preocupar com a estruturao da igreja, dedicando as energias exclusivamente para a misso. d) h uma preocupao preponderante com estruturas internas da igreja e organizaes das congregaes para a misso. Esta preocupao ocupa grande parte do Novo Testamento.

    2 - Na descrio dos ministrios na Igreja de Cristo: a) mulheres no aparecem como participantes. b) ambos os sexos exercem os dons e ministrios. c) o Esprito probe a participao de mulheres explicitamente. d) as mulheres tiveram oportunidades de exercer os ministrios mas no

    quiseram, preferindo as prendas domsticas. 3 - Pode-se traar no Novo Testamento: a) uma eventual transio e quase substituio de dons e ministrios pelo

    ministrio de ordens e hierarquia. b) a presena constante de dons e ministrios e a completa ausncia de ordens e

    hierarquia. c) uma hierarquia comeando com Cristo e descendo at todas as congregaes

    locais com autoridades intermedirias, conforme o tamanho e a importncia da comunidade local.

    d) o costume constante de admitir na igreja somente os ministrios de ordens e hierarquia.

    4 - Para se aprofundar mais a) Trocando idias em grupos sobre estes pontos: Considere que, em meados do segundo sculo, o pastor (ou bispo) assumiu a

    funo de defensor da f e preservador da doutrina. Era o smbolo da unidade da Igreja. Na opinio do seu grupo, esta funo vlida hoje? Como funciona na prtica? Pastores hoje so considerados como smbolos da unidade da Igreja e aqueles que zelam pela doutrina? So considerados administradores? Organizadores? Gerentes? Fiscais da mquina eclesistica? Financistas? Animadores? Gerentes de Marketing e Promoes? Construtores?

    b) Possvel exerccio - Distribuir papel e canetas. - Solicitar que todos escrevam no papel as cinco funes mais importantes de

    pastor (observao: Deve ser a opinio pessoal). Tabular os resultados e conferir com os estudos em curso.

    - Trocar idias sobre a idia de LIDERANA e a idia do SERVO no Novo Testamento.

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    c) Considerar estes pontos sobre sua igreja local e trocar idias em grupos sobre

    os mesmos: - Sua igreja local est bem estruturada para a misso? Falta algo? Existem peas

    inteis ou suprfluas? Algum est fora da estrutura que poderia ser arregimentado para a misso? Algum tem poder demais ou alm do necessrio para a misso?

    - Que mudanas faria seu grupo na estrutura da igreja local? d) Responder: - Os pontos mais fortes do funcionamento da nossa igreja local so: - Os pontos mais fracos do funcionamento da nossa igreja local so :

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    VII - A OFICIALIZAO DA IGREJA

    A histria da Igreja, grosso modo, at o tempo de Constantino, foi uma luta contnua pela sua prpria sobrevivncia e integridade. A despeito disso, porm, a Igreja se havia espalhado largamente. Os inimigos da Igreja eram tanto de dentro como de fora. De dentro, surgiram modos de interpretar o ensino cristo que simplesmente no atendiam ao ensino bblico tradicional (ou seja, do Antigo Testamento) e nem interpretavam adequadamente a natureza e a obra de Jesus Cristo.

    Os historiadores chamam o conjunto destas novas interpretaes de "gnosticismo*

    pelo fato que ensinavam que a salvao depende de conhecimento (que na lngua grega gnosis). Todos os sistemas desprezavam a matria como m (portanto negavam a doutrina* bblica da criao e da verdadeira humanidade de Jesus Cristo). Os melhores pensadores da Igreja combateram estas heresias*, as quais ameaavam a integridade da f. Entrementes, o governo romano se sentia ameaado pelo crescimento da Igreja e especial-mente sua recusa de participar da religio estatal, o que lhe parecia falta de patriotismo e at deslealdade ptria.

    Diante da recusa dos cristos sacrificarem a Csar (como Deus e como smbolo de

    Roma), cristos chegaram a sofrer severa perseguio e at morte s mos do governo e, s vezes, foram vtimas da violncia do povo que, excludo dos "ministrios" (especialmente a Santa Ceia) chegavam a suspeitar que os cristos praticassem horrores nos seus esconderijos. Afinal, no diziam que l comiam o corpo de Cristo e bebiam seu sangue? No estariam escondidos, praticando o sacrifcio humano e o canibalismo? Nas suas "festas de amor" no estariam tendo verdadeiras orgias sexuais?

    Por vezes, o prprio povo se levantava contra os cristos, maltratando uns,

    matando outros. As maiores perseguies foram as do Imperador Dcio (por volta de 250 d.C.) que, no clmax da euforia da celebrao do milsimo aniversrio da fundao de Roma, desfechou uma terrvel perseguio visando forar os cristos a abandonar sua f e voltar religio tradicional do povo romano. E na verdade, muitos membros da Igreja preferiam ceder que sofrer. Mas um nmero impressionante sofreu priso, tortura e morte, sem abandonar o seu Cristo.

    Aps um perodo de aproximadamente 40 anos de relativa paz (260 a 303 d.C), o

    imperador Diocleciano iniciou a mais severa perseguio de todas, na qual ele procurou derrotar o cristianismo, visto por ele como ameaa ao Imprio, o qual j no apresentava o seu antigo vigor e prosperidade. Por sucessivos decretos ele tentou forar os bispos (ou seja, os pastores) a renunciar sua f (ou ento morrer), confiscou as Bblias e destruiu os templos cristos (construdos no perodo da paz acima mencionada) e finalmente forar os cristos individualmente a renunciar sua f ou sofrer punio e at a morte. Aps 10 anos da mais severa perseguio, menos severo no Ocidente onde reinava Constncio Cloro (o pa de Constantino), o ento Imperador Galrio, enfermo, convocou seus colegas do governo imperial para decretar tolerncia aos cristos em troca da; suas oraes em favor da sua sade abalada (311 d.C).

    Esteve presente Constantino, governante do ocidente depois da morte do seu pai, e

    j simptico causa dos Cristos, e Licnio. No estiveram presentes os governantes da parte oriental, os quais no concordavam com esta nova posio. Posteriormente, aps a morte do velho Imperador Galrio, Constantino se convenceu que no seria possvel vencer os cristos fora. Alis, como Tertuliano havia declarado bem antes, no meio de perseguio

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    "o sangue dos mrtires semente". No se mata a semente plantando-a; deste sangue floresce a Igreja! Sua resistncia parecia indicar a proteo de Deus sobre os cristos. Constantino arrazoava que os cristos, favorecidos e no mais perseguidos, poderiam ser uma base firme para a renovao e a unidade do Imprio!

    Sem dvida, seu tratamento com a Igreja tinha no seu bojo esta convico poltica. Maxncio de maneira alguma concordava com esta tolerncia

    e ele marchou contra Roma, onde estava Constantino com um exrcito numericamente inferior. Num sonho, na noite anterior batalha, Constantino viu as iniciais do nome de Cristo na lngua grega e as palavras "Por este sinal vencers". No dia seguinte (dia 28 de outubro daquele longnquo ano de 312 d.C), na Ponte Mlvia sobre o rio Tibre, Constantino usando o smbolo cristo (figura ao lado) enfrentou (portanto em certo sentido como cristo e, como ele entendia, na fora do Deus dos Cristos), e derrotou Maxnco, que morreu em batalha.

    Pouco depois da vitria de Constantino, Maxncio e Licnio,

    em Milo, concordaram em tolerar os cristos no seu territrio, parando a perseguio e permitindo a reconstruo dos tempos, etc, (comeando 313 d.C). Porm os governantes do Oriente continuaram a perseguio dos cristos at que aqueles fossem vencidos em batalha.

    Maximino Daia ainda persistia na perseguio do cristo e se constitura em inimigo

    de Constantino e Licnio. Licnio enfrentou Maximino Daia perto de Adrianpolis e o derrotou definitivamente (Abril de 313). Posteriormente (314) Constantino enfrentou tambm Licnio e se estabeleceu senhor de 75% do Imprio. Novamente Constantino enfrentou Licnio em 323, se tornou o nico Imperador do vasto Imprio Romano.

    comumente dito que Constantino oficializou o Cristianismo como religio do Im-

    prio. Isto no exato; a oficializao veio depois, sob o Imperador Teodsio I (em 395 d.C), o qual chegou a ordenar a destruio dos templos das religies no crists. Mas j havia comeado uma situao radicalmente nova sob Constantino, especialmente de 323 d.C em diante.

    Qual foi a reao dos cristos? A atitude dos cristos, refletida nas histrias da

    Igreja Antiga, mostra uma euforia total! Dificilmente poderia ser outra a sua atitude. Afinal, enquanto Maxncio e Maximino Daia (e por um perodo, tambm Licnio) haviam feito tudo para arrancar a f dos cristos e destruir suas igrejas e matar seus pastores, agora Constantino restaura-lhes a paz. No apenas ele permite a reconstruo dos templos cristos destrudos. Ele prprio emprega fundos do governo para construir grandes bas-licas (templos) nas principais cidades, como nos lugares sagrados a Jesus na Terra Santa. Ele facilita a participao dos fiis aos cultos semanais no dia do Senhor (o dia principal do culto cristo desde o incio), tornando o domingo em dia de descanso. Ele dispensou o clero do servio militar etc. Tornou a Igreja em pessoa jurdica com a possibilidade de receber legados e doaes. E em contrapartida ele dificultou a situao dos no cristos, fechando seus templos, no permitindo a reforma deles etc. Em tudo agia como se fosse cristo e, na realidade, chegou a presidir como chefe da Igreja, embora s aceitasse o batismo no seu leito de morte, em 337 d.C.

    Hoje em dia costuma se ver a questo com olhos diferentes daqueles do povo e at

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    de historiadores como Eusbio de Cesaria, o qual foi testemunha ocular das ltimas perseguies. Quem no ficaria eufrico se, depois de uma dcada de feroz perseguio, voltasse a paz Igreja? Quem no veria em Constantino, o instrumento desta paz, quase como um salvador? Quem iria suspeitar, como pensam alguns hoje, que com Constantino teria se iniciado a "queda da Igreja"?

    Quais eram as conseqncias da nova situao? J vimos a parte positiva, o que no deve ser desprezado. Com a paz, vem tambm

    crescimento e expanso da Igreja. Mesmo no tempo de Constantino, discusso doutrinria, antes um assunto s da Igreja e certamente assunto que pertence Igreja e no ao Estado! passava a ser assunto poltico.

    Deveras, quando, aps 320 d.C, veio tona a questo da heresia ariana

    (promovida por Teodoro rio) e na qual os telogos da Igreja j tomavam posio, a importncia da questo parecia ameaar a unidade do Imprio. O cristianismo parecia ser, ento, um elemento para dividir e no unificar o Imprio. Da, no a Igreja (na qual, na verdade, no existia nenhuma autoridade suprema para pessoalmente assumir a liderana nessa emergncia) e, sim, o Imperador Constantino, convoca um Conclio dos bispos para decidir a questo.

    O Concilio, o de Nicia (325 d.C) foi tambm presidido no pelos bispos, mas pelo

    Imperador. Esta situao significava que decises que deveriam ser livres decises da Igreja passam a sofrer influncia e at controle imperial, com os bvios perigos disso.

    Uma outra novidade aparece. A Igreja sempre lutava em favor daquilo que julgou ser

    a verdade e contra o que julgava ser erro, at expulsando da Igreja aqueles cujos erros ou desvios eram grandes demais para serem tolerados. Mas com a oficializao da Igreja, heresia passa a ser crime, punvel no tanto pela Igreja como pelo Estado.

    Ainda uma outra considerao. Se era verdade que o Imprio, agora favorvel

    Igreja e no mais o seu perseguidor, trazia positivos benefcios, o mesmo Imprio facilmente poderia privar a Igreja da sua liberdade e frustr-la no desempenho da sua misso ao mundo. O Imprio defendia e controlava a Igreja, e a Igreja passou a defender e legitimar o Imprio e suas polticas, deixando de ser proftica e passando a ser aliada. A cruz e a espada estavam juntas pro bem, e infelizmente, pro mal tambm.

    EXERCCIO 1 - Assim nascem uma srie de perguntas: a) Qual a funo da Igreja Unida ao Estado? b) Como que a Igreja pode manter sua integridade e conseguir autonomia

    suficiente para o desempenho da sua misso? c) Que faz a Igreja mediante a manifesta injustia de um rei ou imperador? d) Pode a Igreja ao mesmo tempo receber benefcios do Estado condenar

    seus erros? e) A Igreja estatal tem funes polticas? Quais?

    Sugesto: O professor faria bem em consultar uma boa histria da Igreja, como

    Williston Walker, Histria da Igreja Crist, ou a de Justo Gonzlez, Uma Histria

  • 36

    Ilustrada do Cristianismo, sobre momentos como: a) o confronto de Ambrsio e Imperador Teodoro I, aps o massacre da

    Tessalnica; b) a luta de Atansio em favor da f ortodoxa, e seu sofrimento (de 5

    banimentos) s mos de sucessivos imperadores. 2 - Colocar as dez afirmaes perante o grupo. Cada pessoa coloca concordo

    ou no concordo ou depende ao lado ou abaixo das afirmaes abaixo:

    a) A poltica s sujeira. Cristo no entra nesta.

    b) Com cristos em cargos pblicos, a comunidade evanglica fica mais atenta a abusos da moral (pornografia, drogas, jogo de azar, corrupo etc).

    c) Cristos devem votar mas no devem concorrer para cargos pblicos.

    d) Com cristos nos cargos governamentais, mais fcil realizar campanhas que

    visem uma legislao mais humana, melhor sade pblica, melhores escolas e mais obras sociais.

    e) Evanglicos devem concorrer aos cargos pblicos para poder conseguir mais

    verbas para instituies evanglicas e igrejas.

    f) Devemos pregar a separao da Igreja do Estado, portanto, o cristo no deve se meter na poltica.

    g) Cristos na poltica podem participar de uma maneira significativa na luta em

    prol dos direitos humanos, uma distribuio mais justa da renda dos bens da nao, a proteo dos verdadeiros interesses nacionais e a preservao dos recursos naturais e o equilbrio ecolgico.

    h) Cristos tendem a ser ingnuos e inocentes em questes de poltica, portanto

    sua influncia nunca chega a ser uma fora no cenrio nacional.

    i) Pastores, padres e sacerdotes no devem concorrer s eleies.

    j) Desde o tempo de Constantino, a participao da Igreja na vida poltica (e vice-versa) s tem causado dificuldades. Por isso, preciso lutar pela completa separao entre Igreja-Estado.

    3 - Comparar as respostas e trocar idias sobre os resultados, especialmente as divergncias.

  • 37

    VIII - OS CONCLIOS - I

    - Enfrentando as Divergncias

    Vimos na lio sobre o Concilio de Jerusalm (cf. At 15) que a Igreja j se valeu antes de um concilio para evitar que uma diferena a nvel de doutrina* e prtica dividisse a Igreja. Mas entre o Concilio de Jerusalm e os chamados Conclios Ecumnicos*, a partir do quarto sculo, muitas mudanas haviam ocorrido.

    A Igreja j se encontrava arraigada desde a Prsia at Bretanha e Espanha e

    estava no processo de se tornar a religio oficial do Imprio Romano. Na luta contra os Gnsticos*, ela havia percebido o ensino apostlico* como o

    centro da sua crena, e podia lanar mo com relativa facilidade de instrumentos que exibiam tal ensino. O Credo chamado de "Apostlico"* marcava claramente a posio "ortodoxa"* ou "catlica*, enquanto o Cnon do Novo Testamento pretendia explicitar mais o contedo desse ensino. Os bispos, tidos como os sucessores legtimos dos apstolos* e as tradies das igrejas fundadas pelos apstolos, eram como curadores ou guardas do depsito da f apostlica. E por fim, Cipriano havia estabelecido o episcopado como depositrio da f e, no caso de haver disputa entre bispos, um snodo (ou Concilio) de bispos haveria de apurar a mente coletiva do episcopado, o que representaria a verdade.

    Como se Faziam Decises O que foi escrito at aqui mostra que uma maneira para se decidir questes

    doutrinrias o consenso da Igreja. Pelo uso ou pela prtica, chega-se a consenso. Pois nada que mencionamos no pargrafo acima foi decidido em Conclio. Na realidade, muitas destas decises alcanam to perfeito consenso que passam a ser ponto pacfico. Vamos explicitar apenas um exemplo disso.

    Falamos do "ensino apostlico* como a regra da f. Quando Irineu primeiro

    anunciou este princpio, ele o fez no combate ao gnosticismo*. Provou ser um o pensamento e prtica do cristianismo majoritrio que at foi incorporado ao mais ecumnico* dos credos da Igreja, o Credo Niceno, que define a prpria Igreja como "apostlica". O mesmo Irineu, muito envolvido na luta contra os gnsticos*, que queriam abolir o Antigo Testamento, percebeu o elemento permanente e o temporrio no Antigo Testamento. Ele contm, dizia Irineu, lei permanente (que geralmente chamamos de "lei moral") ao lado de leis transitrias, ou seja, a lei cerimonial. A Igreja poder e dever manter o Antigo Testamento por causa da lei moral que permanente sem ser obrigada a observar as partes cerimoniais, mesmo coisas to arraigadas como o sbado!

    Julga-se que o processo de dilogo levando a consenso seria a melhor maneira de se

    conseguir o estabele