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A Igreja Apostolica . O Que Significa Isso

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A Igre ja A p o s tó l ica

Que Signif ica Lúo ?

A Bíblia tem alguma coida a dizer dobre como a Igreja Cridtã deve der regida? Edta éuma quedtão que, raramente, recebe a atenção que merece. Mad, edte livro a responde de form a agradável e atraente. Thomad Witherow edtudou o addunto profundamente; ele expõe deid princCpiod muito decidivod, tiradod do endino e da prática dod Apódtolod. Ele, então, analida o<f váriod didtemad de governo eclediádtieo à luz dedted pnncLpiod bíblicod, chegando à concludão clara e precisa de que “o Sidtema Predbiteriano de governo eclediádtieo edtá maid próximo à form a que exidtiu na Igreja Apodtóliea do que qualquer outro

0 autor começou o deu edtudo do addunto um tanto indeguro de que o Sidtema Predbiteriano pudedde redidtir a um edcrutínio detalhado e rigorodo dad Edcriturad. Mad, anted de terminar ad pedquidad, ad duad dúvidad tinham de dedvanecido diante de uma invedtigação cabal dad evidênciad bíblicad. E no decorrer do edtudo, ele leu todod od edcritod dod deferutored maid capacitadod dod didtemad rivaid. Não é de admirar pois, que Jamed Begg, ele medmo um grande edcritor, dedcreveu edte livro como dendo “muito condidtente e datidfatório ”,

Depoid de um minidtério de 20 anod no Condado de Londonderry, na Irlanda do Norte, Witherow (1824-1890) paddouo redtantede dua vida como profeddor de Hidtória da Igreja na cidade de Londonderry. Ele fo i o autor de váriod livrod, includive um volume maior dobre edte medmo addunto, TheFormof the Chridtian Temple.

EDITORA

OS PURITANOS

Facioli Gráfica e Editora Ltda Rua Canguaretama, 18 1 — Vila Esperança CEP 03651-050 — São Paulo-SP Fone/Fax: 11 - 695 7-5111/3148 E-mail: livraria@ puritanos.com .br Web: www.puritanos.com.br

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• (iies lã o <|iie, r a ram en te , recebe a a tenção que m e r e ­ce. Mas este l ivro a r e s p o n ­de de fo rma ag radáve l e a t raen te . T h o m a s W i l h e r o u a e s tu d o u p r o ­fu n d am en te e e xpõe seis pr incípios m u i to decisivos,1 irados do ens ino e da prática dos Apóstolos . Ao c o m p a r a r os vár ios s is te ­mas de g o v e r n o eclesiást ico à luz des tes pr incípios bíblicos ele ch eg o u à con ­c lusão clara e prec isa de que “o Sis tema P resb i te r ia n o de g o v e rn o ecles iás tico é o que mais se ap ro x im a tia fo rm a que exis t iu na Ig re ja A pos tó l ica”.

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A Igreja

A po stó licaQ u e S ig n ific a I sto ?

T h o m a s W it h e r o w

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A Igreja

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O S PURITANOS

T h o m a s W it h e r o w

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1' i'cc Presbyterian PublicationsI .í.í Woodlands Road — Glasgow G3 6LE

First published 1856 First FPP edition 1954

This edition © Free Presbyterian Publications 1990 ISBN 0 902506 04 8

A Igreja Apostólica — Que Significa Isto?Por Thomas Witherow

1- Edição em Português — Julho 2005 É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, sem

autorização por escrito dos editores, exceto citações em resenhas.

Editor ResponsávelManoel Sales Canuto

ospuritanos@uol. com. br Tradução:

Pr. Francisco Cardoso Revisão:

Marcos Vasconcelos Robério Basílio Linda Oliveira

Editoração Eletrônica e Capa:Heraldo Almeida

[email protected] Editora:

Os Puritanos Fone/fax: (11) 6957-1111 /(11) 6957-3148

[email protected] www.puritanos.com.br

Impressão:Facioli Gráfica e Editora Ltda

Rua Canguaretama, 181 — Vila Esperança CEP 03651-050 — São Paulo — SP

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S u m á r io

PlU I Al'IO ......................................................................................................................... 7

( ' AI* í 1111,0 I

A p r e s e n t a n d o a Q u e s t ã o ...................................................................................9

S ig n if ic a d o d a P a la v r a I g r e j a ........................................................... 19

G o v e r n o da I g r e j a .......................................................................................2 5

( Al’í l ULO I I

P r in c ípio s A p o s t ó l ic o s ......................................................................................3 3

O P r im e ir o P r in c íp io ...................................................................................3 5

( ) S e g u n d o P r in c íp io ...................................................................................3 9

O í’i kc iíiro P r in c íp io .................................................................................. 4 4

( ) Q u a r t o P r in c íp io ..................................................................................... 4 8

( ) Q u in t o P r in c íp io ........................................................................................51

O S ex to P r i n c í p i o ........................................................................................ 5 8

( ApiUILO I I I

A n ic a ç ã o d o T e s t e ............................................................................................. 6 3

P r e l a d o o u E p is c o p a l ............................................................................... 6 4

C o n g r e g a c io n a l is m o o u G o v e r n o In d e p e n d e n t e ................. 6 8

P r e s b it e r ia n is m o ............................................................................................7 3

O R e s u l t a d o ........................ .............................................................................7 8

C a p ít u l o I V

L iç õ e s P r á t ic a s ......................................................................................................8 5

A p ê n d ic e 1 .............................................................................................................1 03

C o n f is s ã o d e F é d e W e s t m in s t e r

C a p í t u l o 31 — Dos S ín o d o s e C o n c í l i o s .............................. 1 0 3

A p ê n d ic e 2 .............................................................................................................1 0 4

L e it u r a s C o m p l e m e n t a r e s ................................................................ 1 0 4

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I

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Prefácio

A I g r e j a A p o s t ó l ic a

Q u e S ig n if ic a I s t o ?

A Bíblia tem alguma coisa a dizer sobre como a Igreja Cristã deve ser regida? Esta é uma questão que, ra­

ramente, recebe a atenção que merece. Mas, este livro a responde de forma agradável e atraente. Thomas Witherow estudou o assunto profundamente; ele expõe seis princí­pios decisivos, tirados do ensino e da prática dos Após­tolos. Ele, então, analisa os vários sistemas de governo eclesiástico à luz destes princípios bíblicos, chegando à conclusão clara e precisa de que “o Sistema Presbiteriano de governo eclesiástico está mais próximo à form a que existiu na Igreja Apostólica do que qualquer outro" .

O autor começou o seu estudo do assunto um tanto inseguro de que o Sistema Presbiteriano pudesse resistir a um escrutínio detalhado e rigoroso das Escrituras. Mas, antes de terminar as pesquisas, as suas dúvidas tinham se desvanecido diante de uma investigação cabal das evi­dências bíblicas. E no decorrer do estudo, ele leu todos os escritos dos defensores mais capacitados dos sistemas rivais. Não é de admirar pois, que James Begg, ele mesmo um grande escritor, descreveu este livro como sendo “muito consistente e satisfatório”.

Depois de um ministério de 20 anos no Condado de Londonderry, na Irlanda do Norte, Witherow (1824-1890) passou o restante de sua vida como professor de História da Igreja na cidade de Londonderry. Ele foi o autor de vários livros, inclusive um volume maior sobre este mesmo as­sunto, The Form o f the Christian Temple.

Os Editores

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Capítulo I

A p r e s e n t a n d o a Q u e s t ã o

E muito comum os crentes professos fazerem distinção entre o essencial e o não essencial em religião e inferir

que, se algum fato ou doutrina pertence exatamente a esta última classe, deve ser uma questão de pouca importância e pode, na prática, ser seguramente relegada a um plano secundário. A maioria das pessoas tira conclusões sem um exame prévio; não querem pagar o preço de pensar, pesquisar, de raciocinar sobre nada e um dos expedientes mais freqüentemente adotados por elas para se livrarem da responsabilidade de usar a mente e desprezar algum fato que se julgue desagradável é dizer: “Esse problema não é essencial para salvação; portanto, não precisamos nos preocupar muito com isso”.

Se essa tal distinção for acertada, a conclusão dela inferida é, certamente, perigosa. Afirmar que um fato da revelação de Deus não é essencial para a salvação e que por essa causa deve ser irrelevante e pode ou não ser aceito por nós, é declarar um princípio cuja aplicação devastaria o cristianismo. Pois, quais são as verdades essenciais para a salvação? Não são estas: Que Deus existe; que todos os homens são pecadores; que o Filho de Deus morreu na cruz para salvar o pecador; e que todo aquele que crer no Senhor Jesus Cristo será salvo? Há boas razões para acreditarmos que não poucos gozam felicidade, por conhe­cerem agora pouco mais que essas coisas — os princípios elementares dos oráculos de Deus — o alfabeto do Cristia-

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A IGREJA APOSTÓLICA

iii si no. Isendo assim, nenhuma outra verdade da Palavra de Deus pode ser considerada absolutamente necessária para a salvação. No entanto, se todas as outras verdades reveladas são irrelevantes porque não são essenciais para a salvação, o resultado é que o que está sendo negado é a importância da própria Palavra de Deus; porque em sua maior parte a Bíblia contém ensinos que, considerando a situação alegada, não são absolutamente necessários à feli­cidade eterna. Isso não altera o caso se considerarmos queo número de verdades fundamentais é bem maior. Quem se convencer de que só são importantes aquelas coisas a que tem o prazer de chamar de essenciais, sejam quantas forem, irá sem dúvida encurtar o seu credo e eliminar as raízes de muitas controvérsias. Todavia deixará de lado praticamente tudo exceto uma mui pequena porção das Escrituras. Se não mutila a Bíblia, tal princípio, no míni­mo, estigmatiza a sua maior parte como irrelevante. Por sua preciosidade e pureza a Escritura é toda ouro, mas o toque mínimo de um tal princípio pode converter a sua maior parte em escória.

Embora nem todas as afirmações da bíblia possam ser consideradas absolutamente necessárias para a salvação, tudo que se encontra nela é essencial para algum outro sá­bio e importante propósito; pois, se não fosse assim, estas não teriam lugar na perfeita Palavra de Deus. A sabedoria humana pode errar na tentativa de especificar a intenção de cada parte da revelação de Deus, mas na eternidade nós iremos nos convencer de que nenhuma de suas partes era inútil e sem propósito. Toda Escritura é proveitosa. Um ensino das Escrituras pode não ser essencial para salvação e, no entanto, ser altamente importante para outro grande e gracioso propósito na economia de Deus — isso pode ser necessário para o nosso conforto pessoal, para nos direcio­nar na forma de viver a nossa vida, para nosso crescimento

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em santidade e, mais ainda, ser essencial para a totalidade do sistema da verdade divina. A lei de Deus é perfeita. Riscar da Bíblia uma verdade que possa parecer a mais irrelevante de todas seria o mesmo que tirar a perfeição da Lei do Senhor. Em arquitetura, o pino que preenche uma rachadura na parede ocupa uma posição inferior, se comparado à pedra angular; mas o construtor reconhece a importância tanto de um como da outra e que ambas fa­zem a sua parte na estabilidade e harmonia da casa. Numa construção naval, os parafusos e as porcas que seguram as peças de um navio são insignificantes se as compararmos, por exemplo, com as vigas de carvalho e com os mastros de pinho, mas cada um contribui totalmente para manter a segurança da embarcação e dos passageiros. Podemos dizer que o mesmo acontece na teologia cristã. Cada fato, grande ou pequeno, que a Deus aprouve revelar na Bíblia é, por isso mesmo, revestido de valor e tem razão de ser. E, conquanto talvez possa ser apropriadamente considerado como não essencial para a salvação, não merece ser tido como descartável.

Toda verdade divina é importante, embora nem todas as verdades divinas sejam igualmente importantes. A afir­mação mais simples da Bíblia é, para um ser imortal, uma questão de muito maior relevância do que o mais sublime sentimento de um mero gênio humano. Uma carrega consigo o que a outra não contém — o selo da aprovação de Deus. Uma vem para nós do céu, a outra tem carac­terísticas terrenas. Uma tem para nós especial interesse, como porção integrante da Bíblia, que é a mensagem de Deus para cada indivíduo; a outra é a produção de uma mente meramente humana, para a qual nós e todo nosso interesse era igualmente desconhecida. Qualquer verdade meramente humana é insignificante em comparação com a mais insignificante das verdades de Deus. A fé de um

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i i isliUi deveria levá-lo a lutar para alcançar e se apegar a liulo que Deus honrou dando um lugar em Sua Palavra, cujo propósito é ser luz para os nossos pés, à medida que peregrinamos neste mundo tenebroso. Além disso, a Bíblia é diferente de todos os outros livros. A Palavra de Deus não deixará de existir. O céu e a terra passarão, mas as palavras de Cristo não passarão. O selo da eternidade está estampado em cada versículo da Bíblia. Isso é suficiente por si só para revestir cada linha da Bíblia de especial importância.

Com isso em mente, passamos à nossa exposição sobre a política eclesiástica. Poucas pessoas ousariam afir­mar que uma correta compreensão sobre governo de Igreja é essencial para a salvação. Entretanto, seria insensatez tentar depreciar este assunto. O Espírito Santo trata deste tema nas Escrituras. O mundo cristão está dividido quanto a sua opinião sobre este assunto, desde a Reforma. Pessoa alguma pode se filiar a uma igreja cristã sem se colocar ao lado da verdade ou do erro nessa questão particular. E as posições que adotamos sobre este assunto são capazes de influenciar as nossas opiniões no que diz respeito à fé e à prática cristãs. Diante de tais fatos, embora não possamos considerar o governo da Igreja Neo-Testamentária como essencial à salvação humana não devemos, por outro lado, subestimar a sua importância.

As várias formas de governo de igreja que existem atualmente no mundo cristão podem ser classificadas em uma das seguintes categorias: Episcopal ou Prelado, Congregacional ou Independente e Presbiteriano. Não empregamos esses termos em sentido ofensivo, mas como termos mais precisos para denotar os seus respectivos sistemas. Episcopal é a forma de governo administrado pelos arcebispos, bispos, deãos, arcediago e outros oficiais eclesiásticos, dependendo de qual hierarquia; exemplos

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disto são a Igreja Grega, a Igreja Romana e a Igreja da Inglaterra. Congregacional é a forma de governo cujo princípio distintivo é a compreensão de que cada con­gregação separadamente, está sob Cristo e, portanto, não está sujeita a nenhuma jurisdição externa qualquer que seja, pois cada congregação tem, em seus oficiais e mem­bros, todos os elementos necessários para o exercício do governo; exemplos disso são a Igreja Congregacional e a Igreja Batista. Presbiteriano é a forma de governo que é regido pelos presbíteros docentes e regentes reunidos em Conselho, Presbitério, Sínodo ou Assembléia Geral (que no Brasil denomina-se Supremo Concilio. N.E.); esta forma de governo é praticada pela Igreja Presbiteriana da Irlanda, Escócia, Inglaterra e Estados Unidos. Essas três formas de política eclesiástica são, até este momento, pre­dominantes no mundo cristão. Na verdade, todas as outras organizações que qualquer grupo considerável de cristãos tem adotado é somente uma modificação ou mistura de alguns dos sistemas mencionados acima.

Um exame muito breve nos permite ver que estes três sistemas diferem amplamente em seus princípios característicos. E não apenas isso, o sistema Episcopal, em todos os seus princípios fundamentais, é oposto ao sistema Presbiteriano. E o sistema Congregacional por sua vez, em seus princípios fundamentais é oposto tanto ao sistema Episcopal quanto ao Presbiteriano. Podemos estar certos de que três sistemas que diferem tanto um do outro não podem estar todos embasados biblicamente e não podem, naturalmente, reivindicar que os seus res­pectivos defensores estejam igualmente certos. Está bem claro, além disso, que a Palavra de Deus, a nossa única regra de fé e de prática, não pode aprovar todos esses sistemas; isto porque, uma vez que a Palavra de Deus não se contradiz, ela não pode confirmar sistemas contra-

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ilitórios. Um destes três sistemas deve estar de acordo com a vontade de Deus revelada na Bíblia e os outros não. Saber qual dos três é o verdadeiro deve ser uma matéria que exerce profundo interesse sobre cada filho de Deus. Entre todos os homens, os cristãos têm a obrigação de amar a verdade; e nós não estamos errados em supor que, se um cristão se convence sobre qual destes sistemas antagônicos tem o respaldo da Palavra de Deus, deveria defender este sistema com todas as suas forças e não daria qualquer tipo de apoio aos outros. Se alguém, depois de ver a diferença, continuar a defender o que não passa de mera invenção humana com a mesma consideração do que é divino, que dê adeus ao Cristianismo e pare de fingir que estima e ama a verdade. A religião de Jesus Cristo, a menos que estejamos redondamente enganados, exige que todos os cristãos amem o que é verdadeiro e desprezem o que é falso, que façam o que é certo e detestem o que é errado, que acolham o bem e abominem o mal. De forma que, se nós assumimos posições erradas e as estimamos como se fossem verdadeiras, isto é o mesmo que jogar na lata de lixo a mais básica exigência do Cristianismo. Geralmente a influência do cristão neste mundo é muito pequena mas, seja ela qual for, isso é um talento; seja o tempo, ou o dinheiro de que dispõe, ou a sua capacidade intelectual, ele terá de prestar contas a Deus. Terá que responder pelo fato de que deve estar ao lado da verdade e não contra ela.

Qual é, então, desses três sistemas de governo preva- lecentes ao longo da história do mundo, que o cristão tem o dever de escolher e apoiar?

Esta é uma questão de grande importância. Somos levados a considerar as situações em que uma congrega­ção dissidente se ergue e, como nova igreja, abre as suas portas. No entanto, precisamos admitir que a maioria dos

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cristãos conseguem passar toda a vida sem pensar nesse tema tão interessante, sequer por uma única hora. Muitas pessoas estão satisfeitas por seus antepassados terem es­colhido uma igreja para eles. Assim, todos os domingos vão para a igreja seguindo as pegadas dos seus respectivos bisavós sem saber e sem se importar com o porquê disso. Alguns não questionam com medo de que isso os leve a reconhecer que a igreja a que pertencem por tradição fa­miliar, ou por educação ou mesmo por hábito, é destituída de toda e qualquer autoridade bíblica e temem passar pelo desconforto de terem que enfrentar conflitos por causa de suas convicções e interesses. Contudo, a principal razão por que muitas pessoas não têm disposição para questionar sobre este assunto é que todos ou quase todos os púlpitos são silenciosos sobre governo eclesiástico. Quanto a isto, o problema não é com as afirmações incertas, o problema é que normalmente, nada se diz. Estamos convencidos de que há pouquíssimos pastore.s que sobre o assunto em questão dizem aos membros de suas igrejas: “jamais deixei de vos anunciar todo desígnio de Deus”. Se as pessoas jamais tiverem a atenção chamada para aquelas passagens que tratam do governo da igreja, jamais dedicarão tempo ao assunto ou refletirão sobre ele. O resultado é que a grande maioria dos membros vive na mais total ignorância, não apenas quanto ao ensino bíblico relativo ao governo da igreja, mas também sobre as peculiaridades da sua própria denominação; são episcopais, congregacionais ou presbiterianos de nascença, não por convicção; acham que todas as formas de governo são igualmente certas, o que é o mesmo que dizer que a forma de governo não tem importância nenhuma; não têm idéias firmes a este respei­to; e assim, pela falta de instrução pública, são educados pelas circunstâncias e preparados para aceitar ou não o primeiro sistema com o qual se deparam, levando em conta

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a|K‘iiiis ;is suas próprias conveniências ou apromoção das s u í i s ambições terrenas. De fato, muitos que a julgar pela sua caridade são cristãos, agem para com a denominação a que pertencem por nascimento ou por “acidente”, de uma maneira sentimental, cega ou com uma indiferença pecaminosa; e embora diferentes formas de governo eclesiástico tenham representantes em cada bairro, estes estimulam as pessoas a viverem a sua vida sem dar ne­nhum valor a este assunto e a nunca se incomodar com o fato de que cada igreja existente sugere a pergunta: Qual destes é o sistema de governo correto?

Muitas pessoas que deixam de freqüentar uma igreja e vão para outra, exercitando assim o seu direito de escolher entre várias formas de governo eclesiástico, são levadas a fazer tais escolhas por motivos que nunca deveriam influenciar um cristão inteligente. São mais levados pelo sentimento que pela razão. Eles não se familiarizam primeiro com os princípios básicos da denominação a partir de seus livros e documentos oficiais para depois examiná-los à luz da Palavra de Deus. A maior parte da humanidade não é educada suficientemente para analisar princípios e julgá-los. Pelo menos a grande maioria das pessoas não percebe os erros em suas escolhas e, pelo con­trário, são influenciados pela autoridade de algum homem notável ou pelo valor moral de alguém, ou mesmo pela eloqüência e piedade de um algum pastor local. Pode-se dizer ainda que as pessoas podem ser influenciadas por ressentimentos, por desejos mesquinhos, amor a posições, valores do mundo, ou por alguma outra coisa igualmente futil e medíocre. Mas, escolher entre os sistemas Episcopal, Independente e Presbiteriano baseado em tais coisas é re­almente o cúmulo do absurdo. Se alguém tentar escolher um sistema de governo por causa dos grandes homens queo defenderam, é bom que se diga que, de cada um destes

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sistemas, pode-se fazer uma lista enorme dos notáveis que defenderam os seus sistemas até o último minuto de suas vidas. Se alguém quiser basear a sua escolha no valor moral de cada sistema, saiba que para cada um deles pode-se apresentar um número razoável de coisas boas que dependem da sua prática e que se refugiam à sua sombra. Se nós perguntarmos qual destes sistemas tem pastores capazes e piedosos para instruir o povo, encontraríamos um grande número de pessoas com estas características ocupando o púlpito de cada uma das igrejas que, respec­tivamente, praticam estes sistemas de governo. Se dermos um passo adiante, não raramente podemos encontrar na mesma cidade um pastor eloqüente e poderoso na Palavra de Deus e que trabalha arduamente como se fosse uma abelha na colméia, pregando os favos de mel da Santa Escritura para a edificação do povo; enquanto na mesma denominação, pode ser que haja, no outro lado da rua, um pobre e coitado zangão que só faz zumbir durante todo o ano sem ser diligente no seu trabalho. Quaisquer desses critérios para escolher um sistema de governo, embora comuns, são imprecisos e inseguros.

Segundo nos parece, há uma forma muito mais satis­fatória de escolher um sistema de governo em vigor no mundo atualmente, ou seja, examinar os seus princípios peculiares tendo como critério a Palavra de Deus. A Bíblia é suficiente para mostrar o caminho para o cristão sobre este assunto específico, bem como sobre outras questões, pois a intenção do Autor Divino ao nos dar a Bíblia é que esta seja a nossa regra de fé e de prática. A Bíblia nos fornece elementos para formar a nossa opinião sobre este assunto. A Palavra de Deus nos fala de uma igreja que foi organizada 1800 anos atrás.1 Os fundadores daquela Igreja

1 Tenhamos em mente que o autor escreveu este livro no século XIX.

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A IGREJA APOSTÓLICA

Ibi iim os apóstolos e profetas, agindo pela autoridade del )eus. Certamente cada fato conhecido sobre a constituição original da Igreja, está registrado na Bíblia; o que quer que esteja preservado em algum outro lugar que não seja a Palavra de Deus, é apenas invenção e tradição humana. Nós encontramos nas Escrituras muitos fatos e ensinos que nos capacitam a conhecer de uma maneira bastante acurada a história, a doutrina, a adoração e o governo da Igreja que existiu nos dias apostólicos. Os princípios de governo exercidos em uma igreja que foi fundada por homens inspirados, precisam ter, estamos convictos, a aprovação de Deus. A corrupção tanto em governo ecle­siástico quanto em doutrina começou a surgir logo no início, mas a igreja dos dias dos apóstolos era mais pura do que o foi nos anos subseqüentes. O método mais óbvio, portanto, para se chegar à verdade, é comparar os sistemas modernos de governo eclesiástico com o modelo apresen­tado nas Sagradas Escrituras. O sistema que apresenta a maior semelhança com o modelo neotestamentário é, mais provavelmente do que qualquer outro, aquele que está em conformidade com a vontade de Deus.

Os defensores mais ardorosos dos sistemas existentes na atualidade não podem de forma honesta objetar a este teste. Dificilmente há na terra igreja que não reivindique sua apostolicidade. As igrejas que praticam a forma de governo episcopal se dizem apostólicas. As igrejas cuja forma de governo é a presbiteriana também se dizem apos­tólicas. Cada uma dessas igrejas professa manter a mesma doutrina, liturgia e forma de governo que caracterizaram a igreja plantada por Jesus Cristo. Quanto ao último ponto

— governo eclesiástico— nos propomos a fazer um exame destas reivindicações usando o critério que eles mesmos escolheram. Despindo-nos de qualquer preconceito vamos à lei e ao testemunho, desejosos de conhecer o que Deus

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diz em sua Palavra sobre o assunto em questão. Devemos ir aonde quer que as Escrituras nos digam que devemos ir. Va­mos examinar a Bíblia para ver o que ela ensina sobre este importante tema. Se depois de examinar cuidadosamente, não tivermos descoberto nenhum princípio claro e definido sobre governo eclesiástico, concluiremos inevitavelmente que os sistemas episcopal, congregacional e presbiteriano estão no mesmo nível e que nenhum deles tem base bíbli­ca. Desse modo, os critérios para escolher um sistema de governo serão as vantagens e conveniências de cada um. Se, por outro lado, descobrirmos que certos princípios de governo eclesiástico são ensinados nas Escrituras, então, quando tivermos averiguado minuciosamente quais são estes princípios, teremos encontrado a vontade de Deus quanto a este assunto e o critério pelo qual poderemos julgar o valor dos sistemas de governo existentes e, assim, saber se têm base bíblica ou não.

S ig n if ic a d o d a P a l a v r a I g r e ja

A palavra Igreja em linguagem informal tem várias conotações. As vezes significa o prédio construído para cultuar a Deus; às vezes significa o povo reunido no re­ferido prédio; às vezes significa o clero em distinção com os leigos; às vezes significa a coletividade dos cristãos professos. Como o uso geral é a lei da linguagem, não nos opomos à variedade de significados que são dados ao ter­mo pelos escritores; também não precisamos discutir aqui as várias inconveniências de ordem prática que advêm des­se uso indiscriminado, visto que as circunstâncias que as acompanham geralmente determinam o sentido específico em que a palavra deve ser entendida. Mas, não devemos esquecer nunca de que, quando interpretamos a Palavra de Deus, a variedade de sentidos comumente vinculada ao

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A IGREJA APOSTÓLICA

Ia mo c lokilincnte inadmissível e se for adotada, poderá obscurecer e corromper o significado da Revelação Divina. A pa Iavra Igreja tem apenas um significado nas Escrituras, ou seja, uma assembléia do povo de Deus — uma comu­nidade de cristãos. A palavra grega ecclesia, no seu uso comum e público significa qualquer assembléia convocada para qualquer propósito (Atos 19:32); mas no seu melhor sentido, que é o religioso, significa uma comunidade de cristãos e é invariavelmente traduzida pela palavra Igre­

ja . Examine as Escrituras do começo ao fim e você verá que a palavra Igreja nunca tem outro significado além desse. Desafio quem quer que seja a mostrar, se puder, alguma passagem da Palavra de Deus em que o sentido seja prejudicado se a expressão comunidade de cristãos ou assembléia cristã for substituída pela palavra Igreja. Estamos persuadidos de que isso seria impossível.

Embora o significado da palavra Igreja seja sempreo mesmo nas Escrituras, é bom que observemos que as suas aplicações são muitas. É aplicado, de acordo com o gosto do escritor, a qualquer comunidade de cristãos seja ela pequena ou grande. Exemplos disso são sempre auto- evidentes a todos que estão familiarizados com a Palavra de Deus. As seguintes passagens mostram isso:

Colossenses 4:15 — “Saudai os irmãos de Laodicéia, e Ninfa, e à igreja que ela hospeda em sua casa”. Aqui o termo é aplicado a uma comunidade de cristãos tão peque­na que podia ser acomodada em uma casa particular.

Atos 11:22 — “A notícia a respeito deles chegou aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Bam abé até Antioquia”. Neste caso, a palavra Igreja significa uma comunidade de cristãos que vive em uma mesma cidade e, segundo sabemos com bastante proprie­dade, incluía algumas milhares de pessoas.

Atos 7:38 — “É este Moisés quem esteve na con­

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gregação no deserto, com o anjo que lhe falava no monte Sinai e com os nossos pais; o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir”. Agora a palavra Igreja significa uma comunidade de crentes — uma assembléia do povo de Deus que era tão grande a ponto de incluir uma nação inteira, consistindo naquela época de pelo menos dois milhões de pessoas. O termo é aplicado também ao povo de Deus dos dias de Davi, quando o povo residia em Canaã, espalhado por um grande território e que chegava a milhões de pessoas. Hebreus 2:12, comparado com Salmo 22:22-25.

I Coríntios 12:28 —“A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas” . Aqui o termo significa”uma comunidade de cris­tãos vivendo no mundo; porque foi entre os cristãos que Deus levantou homens possuidores dos dons de apóstolo e de profeta, não entre os santos na glória.

Efésios 5:25 — “Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela”. A palavra aqui é usada para designar a comu­nidade de cristãos em um sentido mais amplo”— todos pelos quais Cristo morreu — a família de Deus como um todo — todos os santos no céu e os crentes na terra, como sendo uma grande companhia.

Devemos notar, contudo, que no meio de toda esta variedade de aplicação, a palavra Igreja nunca é emprega­da em outro sentido. Todas as vezes em que esta palavra é usada, o sentido é sempre o mesmo. Contudo, em sua aplicação ela nunca deixa de significar uma comunidade de cristãos; no entanto a comunidade que o autor inspirado tem em mente, se é pequena ou grande, geral ou particular, é para ser inferido não a partir do termo, mas das circuns­tâncias em que o termo é usado. Em cada instância é a

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p.irlii- do contexto, não a partir do termo em si mesmo, que definimos se a comunidade de cristãos referida pelo aulor deve ser entendida como a coletividade do povo de Deus na terra e no céu, ou apenas aqueles vivendo na terra, em uma nação, em uma cidade ou em uma residência particular. A prática — na qual a maioria dos melhores expositores bíblicos se traem — de defender uma idéia inferida apenas a partir do contexto e considerar esta como sendo o significado de uma dada palavra é, segundo um crítico do passado, a origem dos inúmeros sentidos dados a uma única palavra e a quase todas as palavras em nossos dicionários clássicos, o que confunde pela sua variedade, tomando esta a fonte de erros na interpretação da Palavra de Deus. Isto é, obviamente, o que tem levado muitos a pensarem que a palavra Igreja tem muitos sig­nificados — significando uma coisa diferente quando se refere ao conjunto universal dos crentes e significando outra coisa quando se refere ao conjunto de crentes de uma certa localidade. A verdade é que a palavra Igreja tem apenas um significado, mas tem várias aplicações. A palavra em si mesma nunca é usada para designar outra coisa além de uma sociedade de cristãos; é o contexto que invariavelmente determina a sua aplicação geral ou particular. É claramente falho e impreciso, portanto, sus­tentar que uma idéia inferida a partir do contexto, seja o real significado da palavra; isto quando, e todos hão de convir, o termo à parte do seu contexto não sugere nem uma aplicação limitada nem uma aplicação universal.

Se tivéssemos oportunidade de falar dos vários grupos cristãos de um estado ou nação, cada um em sua própria jurisdição, estaria bem de acordo com a linguagem bíblica designá-los como as igrejas daquela região. Ninguém pode esquecer a forma freqüente como os apóstolos falavam das igrejas da Síria e Acáia, da Galácia e da Ásia. De

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forma que, se formos requeridos a falar de congregações particulares de cristãos na Irlanda — as comunidades de cristãos espalhadas pelo país— nós poderemos chamá-las de as igrejas da Irlanda sem haver nada no uso eclesiás­tico que faça tal linguagem ser unilateral ou passível de ser mal interpretada. Mas, é bom notarmos que, quando usamos expressões como a — “Igreja Estabelecida da Escócia”, a “Igreja Episcopal dos Estados Unidos, ou a “Igreja Presbiteriana da Irlanda”, o termo Igreja mantém o mesmo sentido usado nas Escrituras. O sentido dessa pala­vra nas Escrituras é, como já vimos, invariavelmente uma comunidade de cristãos e esse é o exato significado das expressões acima. Pelo contexto, os cristãos designados pelo termo são aqueles que professam certos princípios e pertencem a um dado país. Quando empregamos, por exemplo, uma designação como a Igreja Presbiteriana da Irlanda, a palavra Igreja é usada precisamente no sentido bíblico para denotar uma comunidade de cristãos que, segundo sabemos pelo contexto, professa princípios presbiterianos e mora na Irlanda.

O uso apropriado do termo para significar o povo cristão de um certo país, não decorre do fato de que eles estejam reunidos em uma congregação, seja pessoalmente ou através de representantes, mas decorre do fato de que a lógica os contempla como sendo um conjunto ou um corpo coletivo. Todos os santos no céu e os crentes na terra são chamados de Igreja, não porque eles estejam reunidos de forma literal ou figurada mas, por causa desta lógica, eles são considerados uma grande comunidade, separada do mundo e unida através de princípios comuns em uma grande fraternidade. Assim pois, os cristãos de qualquer denominação podem, em suas respectivas jurisdições, ser propriamente chamados de Igreja; a razão para isto não é o fato de eles estarem reunidos, mas porque, de acordo

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com essa lógica, nós somos levados instintivamente a considerá-los um corpo coletivo, um conjunto, distintos uns dos outros e ao mesmo tempo unidos pelo fato de professarem um credo comum.

Já se duvidou que as Escrituras tivessem um exemplo da palavra Igreja sendo aplicado aos cristãos de um país. A ciência do criticismo bíblico tem levantado uma questão que nunca foi ventilada em tempos passados. A verdadeira leitura de Atos 9:31 é, “A Igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e ca­minhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em n ú m e r o Ninguém com pretensões de erudição pode agora hesitar em aceitar isso como sendo a forma original do texto — quando se sabe que a recente descoberta do Codex Sinaiticus a sustenta, tanto quanto os manuscritos Alexandrinus, Vaticanus e Ephaemi; são estes quatro os manuscritos mais antigos e valiosos do Novo Testamento agora existentes. E isto para não falar da evi­dência derivada da versão dos Pais da Igreja, a voz unida destes quatro manuscritos é suficiente para estabelecer a forma correta de qualquer texto; ninguém pode questionar o testemunho destes manuscritos quanto à leitura original de Atos 9:31; e em relação à passagem que seguramente apontamos como sendo um exemplo claro da aplicação da palavra Igreja aos cristãos de um determinado país, como sendo uma comunidade unida, embora dividida em muitas congregações.

Alguns escritores, na verdade, têm diferentes compre- ensões sobre este assunto. Eles nos dizem que a comuni­dade universal dos cristãos no céu e na terra é chamada nas Escrituras de Igreja, não porque seja vista como uma grande fraternidade, unida por princípios comuns, mas porque eles “são em todos os tempos verdadeira e apro­priadamente reunidos em Jesus”. É uma mera fantasia

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supor que um raciocínio mais lógico nunca leve esta rea­lidade em consideração quando o termo é empregado em sua aplicação universal. Mas, sendo assim, isso não altera o caso. Os cristãos de um certo bairro ou de um estado ou nação podem ser apropriadamente chamados de Igreja pe­las mesmas razões; porque eles também “são em todos os tempos verdadeira e adequadamente reunidos em Jesus”. Não faz nenhum sentido acreditar que todos os cristãos no céu e na terra estão reunidos em Jesus e os cristãos de um determinado país não possam também estar reunidos em Jesus. Se o todo está reunido, as partes também estão. De uma forma ou de outra, os cristãos de um bairro, de um estado ou de uma nação que têm certos princípios em comum, considerados como uma comunidade, são a Igreja, exatamente no sentido em que este termo é usado nas Escrituras. Eles são uma Comunidade de Cristãos.

G o v e r n o d a I g r e j a

A Comunidade Cristã na terra ou, como é mais conhe­cida, a Igreja, é representada nas Escrituras como sendo um reino. Foi à sua Igreja que o Senhor se referiu quando disse a Pilatos, “O meu reino não é deste mundo” (João 18:36). O fato de ser um reino, necessariamente implica em pelo menos três coisas — primeiro, um rei ou gover­nador, segundo, súditos', terceiro, leis. Na Igreja ou Reino de Deus, o rei é Cristo', os súditos são os crentes', as leis são as verdades das Escrituras.

Todo rei tem oficiais debaixo de sua autoridade que estão encarregados de executar as suas leis e que têm autoridade da coroa para exercer justiça e julgar. Juizes e magistrados são os oficiais de um reino e derivam o seu poder do monarca debaixo de cujo domínio servem e põem as leis em prática entre todos os segmentos da

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soucdadc c entre todas as classes de pessoas. Portanto, podemos dividir um reino em governadores e governados

aqueles cujo dever é administrar a lei e aqueles cujo dever é obedecer à lei.

A mesma distinção pode ser feita no Reino de Cristo. Pois esse também consiste em governadores e governados

— os oficiais encarregados do exercício da lei e o povo que tem a obrigação de se submeter a eles. Isto é bastante claro em Hebreus 13.17: “Obedecei aos vossos guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem deve prestar contas..”. Essa passagem deixa claro que há alguns na Igreja cujo dever é governar; estes são os oficiais da Igreja. Não é menos claro o fato de que há outros na Igreja cujo dever é obedecer; eles são os membros que pertencem ao reino — o povo.

Mas em toda comunidade onde se reconhece o dever de algumas partes de exercer autoridade e de outras se subme­terem, deve existir o que se chama de governo. A essência de todo governo consiste de tal autoridade exercida por um lado e da submissão praticada pelo outro. Mesmo se não existisse nenhuma outra passagem sobre este assunto além daquela citada, é inegável que um governo foi estabelecido na Igreja Apostólica. Se existiu governo, então, alguma forma de governo foi indubitavelmente, adotada; assim pois, dizer que havia governo no reino de Cristo sem uma forma de governo é absurdo. A história nos fala de muitas coisas espantosas no campo eclesiástico e político, mas de todas as coisas estranhas que se têm testemunhado no mundo ou na Igreja desde o princípio dos tempos, nunca até agora apareceu um governo sem uma forma de governo. Isto é impossível. O governo é em si mesmo uma abstração. A partir do momento que passa a ser exercido e se toma uma realidade — passa a existir diante do mundo como ■uma realidade visível — assume uma forma.

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É muito fácil demonstrar que houve um governo na Igreja Apostólica e que este governo existiu dentro de uma certa forma. Determinar com precisão que forma era essa é uma matéria de grande importância e que tem muitas implicações pois é evidente para todos que um plano de governo de Igreja instituído pelos apóstolos do Senhor, agindo sob a direção do Espírito Santo, necessariamente tem um peso muito grande e uma autoridade que nenhum sistema humano, embora seja em si mesmo uma obra prima de sabedoria — admirada no decorrer dos anos e recomenda pela sua utilidade e conveniência — pode exi­bir; e que qualquer forma de governo existente só merece respeito se estiver em conformidade com o modelo bíblico de governo eclesiástico. Mas há algumas razões óbvias que tomam um tanto difícil averiguar com muita precisão o sistema de política eclesiástica que foi estabelecido na Igreja do Novo Testamento.

1) Os apóstolos escrevendo para cristãos que eram membros da Igreja apostólica, e é claro bem familiari­zados com a sua organização, não julgaram necessário fazer descrições detalhadas da comunidade cristã. Fazer isso poderia não ter sido natural. Eles faziam afirmações ocasionais sobre fatos concernentes ao governo de Igreja e fizeram alusões indiretas a práticas prevalecentes. Tais alusões e fatos foram suficientemente sugestivos e inteligí­veis para as pessoas a quem eles escreveram originalmente. Mas não são entendidos tão facilmente assim por nós que vivemos em outra época, em uma nação estrangeira e entre associações largamente diferentes.

2) Eles nem mesmo dispuseram esses fatos para teste­munharem sobre uma tal questão, de maneira sistemática. Se o homem fosse o autor da Bíblia, ela seria um livro completamente diferente; mas como não pudemos esco­lher isto, temos de estar contentes com o que temos. Ao

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examiná-la vemos que a Bíblia não ensina nada em uma ordem científica. Mesmo moralidade e doutrina não estão dispostas em uma ordem regular, mas são registradas em porções separadas, de forma que a nossa engenhosidade é estimulada quando temos de juntar os fragmentos espa­lhados, compará-los uns aos outros e colocá-los em ordem para nós mesmos. De modo que a política eclesiástica não é ensinada na Bíblia metodicamente, mas fatos, alusões e circunstâncias se espalham pelo campo da revelação, os quais temos de examinar, pesquisar, relacionar e classi­ficar. Agora, nem todos concordam quanto à disposição destes fatos, nem quanto às inferências que podemos legitimamente fazer a partir deles e nem quanto ao modo de construir um sistema a partir do material espalhado.

Essas coisas tomam um tanto difícil ver com clareza e mais difícil ainda ver de modo unânime a forma de gover­no da Igreja instituída na época pelos apóstolos. Embora pareça difícil, está provado ser bastante possível descobrir, através de um exame cuidadoso e sem predisposições, os princípios constitutivos mais importantes da Igreja Primitiva. Dissemos princípios mais importantes — não devemos esperar mais do que isso. A Palavra de Deus, excetuando-se raras instâncias, não entra em detalhes, mas afirma princípios. Essa peculiaridade da Palavra de Deus, que é bastante perceptível, merece algumas considerações. Em qualquer país civilizado pode-se observar como aque­les a quem foi confiado o dever de governar pretendem ter uma lei para cada caso especifico. O legislador humano desce aos mínimos detalhes. O resultado disso é que, em nosso próprio país, as leis comuns instituídas da Inglaterra são tão volumosas que os livros que versam sobre elas poderiam formar uma grande biblioteca. O Parlamento se reúne todos os anos com o expresso propósito de criar novas leis e fazer emendas nas velhas leis para adequá-

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las às circunstâncias dinâmicas de um país e ou de uma época. Apesar de todo o esforço, diariamente nas cortes públicas ocorrem casos em que os melhores juristas têm de admitir que as leis existentes nada dizem sobre certas situações. Mas observemos como a lei de Deus funciona de modo bastante diferente. A lei de Deus, dificilmente entra em detalhes específicos, mas estabelece princípios gerais, sendo qualquer um deles suficiente para decidir uma grande variedade de casos. Em vez de, por exemplo, tentar prescrever cada coisa boa que os homens devem praticar para com o seu próximo, a lei de Deus oferece um princípio suficiente para atender cada caso e cada necessidade — ama o teu próximo como a ti mesmo. Em vez de enumerar as diferentes formas pelas quais os filhos devem se portar quanto aos pais, as Escrituras prescrevem esta lei geral que cobre cada situação — honra a teu pai e tua mãe. Especificando cada forma de pecado que os cristãos devem evitar, os estatutos do Senhor dizem: “Fugi da aparência do m a l A legislação humana desce aos pormenores, mas a legislação divina prescreve princípios gerais. O resultado é que enquanto há talvez mais espaço para diferenças de opinião na interpretação e aplicação das prescrições de um código da lei construída de acordo com este último sistema (a legislação divina), esta des­vantagem é mais do que contrabalançada pelo fato de que as leis de Deus são perfeitas nelas mesmas; elas não mudam como as circunstâncias sempre mutáveis de um país ou de uma época; as leis de Deus contemplam cada situação que, possivelmente, venha a ocorrer; e essas leis não estão escritas em um grande número de livros como as leis humanas, estando todas elas escritas em um livro tão pequeno que apenas uma mão o pode levantar e que cabe até mesmo em um bolso. As Escrituras nos ensinam governo de Igreja tanto quanto nos ensinam moralidade.

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As Escrituras não nos dão muitos detalhes, mas nos for­necem os mais importantes princípios norteadores que foram usados na política da Igreja Apostólica. Verificar quais foram esses princípios mais importantes é agora o nosso propósito.2

A prática comum dos escritores nessa importante discussão sobre governo eclesiástico é selecionar uma de nossas Igrejas modernas que seja a favorita, delinear as suas características marcantes e, então, mostrar que elas são o reflexo do modelo apresentado na Palavra de Deus. Podemos acreditar de pronto que esse plano tem algumas vantagens, mas não é menos óbvio que seja passível de algumas sérias objeções. Isto parece supor logo a princípio a conclusão à qual o pesquisador pode apenas esperar nos conduzir depois de um processo lógico e saudável. Isto de alguma forma produz a impressão fatal de que o escritor tem determinado em primeiro lugar que a sua visão do assunto está certa e, então, vai para as Escrituras procurar a base para isto. O autor pode ser o mais imparcial e o mais ardoroso amante da verdade entre os homens, mas o seu ponto de partida o trai ao mostrar a sua preferência por um dado sistema e, assim, desperta de início o pre­conceito dos leitores. Além disso, ao analisar passagens das Escrituras fora do seu contexto, os escritores são tentados a usar apenas os textos que lhes favorecem. Por essas razões preferimos não adotar esse método para o presente caso.

O plano de procedimento a cuja realização nos pro­pomos é menos usual, embora, creiamos que não seja menos satisfatório. Examinaremos as Santas Escrituras tendo em mente averiguar os vários fatos que tenham al­guma coisa a dizer sobre o governo da Igreja Apostólica.

2 Este parágrafo foi sugerido pela leitura do sermão do Dr. Paley baseado em Romanos 14:7.

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Trabalharemos nessas passagens contemplando-as em seu contexto imediato tentando descobrir o seu significado e ver se, pela ajuda delas, podemos chegar aos princípios mais importantes. Voltaremos então a nossa atenção para as Igrejas modernas para ver as diferentes formas de po­lítica eclesiástica que existem no mundo atual e verificar qual delas incorpora todos ou quase todos estes princípios. Uma vez feito isso, teremos encontrado a denominação que, em termos de governo, é a mais qualificada a ser considerada a Igreja Apostólica.

Esse processo de racionalização é tão claro e simples que não há espaço para nos enganarmos; nem a nós nem aos nossos leitores. A mente mais humilde poderá seguir o nosso raciocínio até o final. Mas há dois passos até que cheguemos à conclusão. Primeiro, temos de tirar da inerrante Palavra de Deus os princípios que nortearam o governo da Igreja fundada pelos apóstolos do Senhor e, em segundo lugar, temos de concluir em qual das igrejas modernas esses princípios são mais aceitos e aplicados. Então aplicaremos um axioma para a resolução definitiva da questão, que irradia através da luz da sua própria auto- evidência. O axioma é, a Igreja moderna que incorpora mais princípios apostólicos no seu governo é a mais próxima em seu governo à Igreja Apostólica.

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Capítulo II

P r in c íp io s A p o s t ó l ic o s

A partir de um exame cuidadoso das Escrituras, en­contramos pelo menos quatro tipos de oficiais na

Igreja Apostólica: 1) Apóstolos; 2) Evangelistas; 3) Bis­pos (também chamados pastores e mestres); 4) Diáconos. Cada um desses tinha o direito de exercer todos os ofícios inferiores ao seu; mas quem tivesse um ofício inferior não tinha o direito de exercer os deveres de um ofício superior. Assim, o ofício de apóstolo incluía todos os outros; o de bispo ou presbítero tinha o direito de atuar como diácono, contanto que, em fazendo isso, não fosse impedido de de­sempenhar as funções do seu próprio ofício. Um diácono, por outro lado, não tinha o direito de exercer o ofício de bispo; nem o bispo tinha o mínimo direito de exercer o oficio de apóstolo. Cada ofício superior incluía os que lhe estavam abaixo.

Dois desses ofícios — o de apóstolo e o de evangelista— eram temporários, necessários ao estabelecimento da Igreja Primitiva, mas não eram para ser perpetuados. Os apóstolos foram testemunhas oculares da ressurreição do Senhor Jesus, dotados de poder para operar milagres e conferir o Espírito Santo através da imposição das mãos, eram os expositores infalíveis da vontade de Deus e os fundadores da Igreja Cristã que, tendo servido ao propó­sito para o qual foram enviados, saíram de cena e, como apóstolos, não deixaram sucessores. Evangelistas eram missionários — homens que viajavam de um lugar para

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outro pregando o Evangelho e que agiam como assisten­tes e emissários dos apóstolos na organização das Igrejas. Destes, Felipe, Timóteo e Tito foram os principais exem­plos. Com relação a esses ofícios temporários ou, como alguns preferem, extraordinários, deve ser dito que sua esfera de atuação não estava limitada a uma congregação em particular, mas era extensiva à Igreja como um todo. Foram membros de alguma Comunidade Cristã, dentro de cujos limites viveram por algum tempo, mas a missão deles era voltada para o mundo e a sua autoridade era extensiva à Igreja Universal.

Os ofícios de bispo e diácono foram, por outro lado, criados para serem perpétuos na Igreja. Os bispos, ou como eles são mais comumente chamados, presbíteros, pastores e mestres eram oficiais cujo dever era instruir e governar a Igreja. Os diáconos tinham a obrigação de ocupar-se das questões temporais e eram encarregados do dever especial de suprir as necessidades dos pobres. A Igreja sempre precisará destes dois ofícios enquanto seus membros tiverem necessidades espirituais e temporais a serem supridas. Devemos observar, com relação aos presbíteros e diáconos, que eles eram primariamente oficiais que atuavam em congregações. O raio de ação deles não era tão amplo como o dos apóstolos, profetas e evangelistas. O trabalho dos presbíteros e diáconos se limitava, na maioria das vezes, a uma dada congregação ou a uma área sobre a qual eram responsáveis.

Dr. Campell explica a necessidade especial que havia na Igreja Primitiva tanto de ofícios temporários quanto de ofícios perpétuos: “Comparando a partir de realidades temporais: conquistar um reino e tomar-se o seu governante é uma coisa; outra é governar o reino conquistado e manter a riqueza adquirida nessa empreitada. Os mesmos agentes e expedientes não se aplicam adequadamente a ambos os

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casos. Para o primeiro desses propósitos havia um grupo de ministros ou oficiais extraordinários na Igreja que, a exemplo de uma força militar, tinham como propósito conquistar e, portanto não podiam estar restritos a um lugar enquanto houvesse mais regiões para serem conquistadas. A missão deles era, de certa forma, global e as suas funções eram ambulantes, ou seja, não tinham paradeiro certo. Para o segundo propósito havia um grupo de pastores e minis­tros ordinários — correspondente aos governantes civis

— ao qual era necessário atribuir obrigações e jurisdições específicas a que estavam principalmente confinados para que pudessem instruir o povo, presidir o culto público e as ordenanças religiosas e lhes prestar a assistência necessária para regular as suas condutas. Sem esse segundo grupo de homens as conquistas realizadas não se manteriam por muito tempo. A conseqüência inevitável da falta de líderes que acompanhassem devidamente as igrejas recém-forma- das seria os membros se envolverem em práticas idólatras e caírem em um estado de infidelidade. A distinção entre ministros extraordinários e ordinários tem sido reconhecida por polemistas de ambos os lados”.

O P r im e ir o P r in c íp io

Todos os ofícios na Igreja têm a sua origem no Senhor Jesus. Ele mesmo é o autor e a personificação de todos eles. Ele é o Apóstolo da nossa profissão. E o evangelista que anuncia a paz a todos os que estão longe e perdidos e aos que estão perto; é o grande pastor das ovelhas — o Presbítero das almas; é o Diácono, ou servo, que veio não para ser servido, mas para servir. Todos os ofícios na Igreja estão personificados na pessoa de Cristo.

Os apóstolos foram os únicos oficiais escolhidos du­rante a vida terrena do Senhor. O próprio Senhor Jesus os

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designou para o trabalho. Foram chamados para o ministério pela voz de Jesus e comissionados pelas mãos do Senhor. Simão e André estavam jogando suas redes ao Mar da Ga- liléia quando Jesus caminhava na praia. Contudo, ao serem chamados por Jesus, deixaram as redes para seguirem ao Senhor. Os filhos de Zebedeu, ao ouvirem a voz de Jesus, imediatamente deixaram seu pai e sua mãe, ávidos por se tomarem pescadores de homens. Quando Cristo disse

“ Segue-me!”, Levi esqueceu seus afazeres na alfândega e deixou de ser um publicano. O chamado pessoal de Jesus era, e é, a primeira e maior autoridade sob a qual alguém pode legitimamente assumir um ofício na Igreja de Deus. Se tão-somente formos convencidos por alguém de que a sua vocação procede diretamente do Senhor — como o fizeram os apóstolos — nada mais lhe exigiremos para sermos induzidos a submeter-nos a ele. Todavia, depois da ascensão de Jesus ao céu a chamada pessoal, excetuan­do-se apenas o caso do apóstolo Paulo que nasceu fora de tempo, não era o passaporte para entrar no ministério ou no apostolado. Depois da ascensão de Jesus, homem nenhum que tenha assumido qualquer oficio na Igreja foi chamado pela Sua voz audível. A partida de Jesus e a vaga aberta na lista dos apóstolos pela morte de Judas, permitiram que um novo princípio entrasse em operação. O primeiro capítulo do Livro de Atos coloca toda a situação diante de nós. Va­mos especialmente examinar a passagem — Atos 1:13-26

:— na qual teremos uma exposição completa dos fatos. É evidente que no intervalo entre a Ascensão e o dia de Pen- tecostes, os discípulos se encontravam em um cenáculo na cidade de Jerusalém. A mãe e os irmãos de Jesus estavam presentes juntamente com os onze apóstolos. Todos juntos somavam cento e vinte pessoas. Pedro se levantou e falou aos presentes. Ele os fez lembrar da vacância no grupo dos apóstolos. Judas que traiu o Mestre estava morto e o

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ofício que ele perdeu por causa da sua transgressão precisa ser conferido a outro. Ele expõe as qualidades necessárias que devem ser encontradas no sucessor de Judas. E obri­gatório que o candidato tenha tido muita proximidade com os onze do começo ao fim do ministério terreno de Jesus. Pedro também enfatiza quais devem ser as obrigações do novo apóstolo; juntamente com os outros ele deveria ser uma testemunha da ressurreição de Jesus. Esses foram os critérios levantados por Pedro diante de todos os presentes àquela reunião no cenáculo, na cidade de Jerusalém. Então, lemos no versículo 23, — “Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias'’. Em conseqüência dessa dupla escolha tomou-se necessário decidir-se qual dos dois seria o verdadeiro apóstolo. Isso foi feito depois de orarem, através de lançamento de sor­tes. Não esqueçamos que, embora Pedro tenha exposto as qualificações necessárias e os deveres peculiares ao ofício, a decisão não coube a Pedro, mas aos irmãos a quem ele tinha dirigido a palavra. Posteriormente, não deve ser es­quecido que no versículo 20, o ofício para o qual Matias foi escolhido, é chamado de presbiterato (episkopen). E no versículo 25, é dito que ele foi escolhido para “preencher a vaga neste ministério e apostoladó". Os irmãos, ao serem estimulados por Pedro, exerceram o direito de apontar um homem para o presbiterado, ou seja, para o oficio de bispo e para tomar parte no ministério. Na Igreja Apostólica o povo apontou Matias para ser um ministro — um bispo

— um apóstolo. O caso relatado em Atos 14:23 tem a mes­ma natureza, embora, por um erro de tradução, a idéia não tenha a mesma ênfase que tem no grego. A versão autori­zada, em inglês, fala de dois apóstolos, Bamabé e Paulo, como ordenando presbíteros em cada igreja; enquanto o verdadeiro significado dessa palavra no original é: “eleger pelo levantar das mãos” — isso tem sido agora admitido

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pelos melhores expositores.3 Não podemos admitir que um erro de tradução obscureça o testemunho das Escrituras sobre um fato tão importante, a saber: que os presbíteros do Novo Testamento eram escolhidos para o oficio pelo voto popular.

Examinemos o sexto capítulo de Atos. No período ao qual esta narrativa se refere, o número dos discípulos em Jerusalém havia crescido muito. Os gregos começaram a reclamar dos judeus convertidos, dizendo que as viúvas deles estavam sendo negligenciadas nas ministrações diárias. Até aquele momento os doze tinham atendido as necessidades dos pobres; mas, ao mesmo tempo, havia muitas outras obrigações e numa multidão como aquela, não é de surpreender que alguns estavam sendo preteridos, o que era de se esperar considerando que a natureza huma­na é propensa à murmuração, mesmo estando os apóstolos na liderança. O que deveria ter sido feito? A divisão dos ofícios era claramente uma necessidade. Deveriam os apóstolos ter assumido a responsabilidade de escolher pessoas que se encarregassem de assistir as necessidades temporais da comunidade? Se tivessem agido assim, pou­cos questionariam este direito deles, ou acusariam homens inspirados de terem agido com autoridade despótica e ilegítima. Mas, em vez disso, eles adotaram um procedi­mento diferente. Trataram da questão objetivamente de uma forma que a Igreja pudesse ter uma base para a eleição de oficiais quando os apóstolos não mais estivessem pre­sentes. Dessa maneira abriram precedente para as épocas futuras. Os apóstolos convocaram a multidão e explicaram o caso. Disseram-lhes que como ministros tinham por obrigação ir pregar a Palavra de Deus. Disseram-lhes que não seria bom negligenciar o seu trabalho espiritual

3 Sobre esta passagem, veja Dean Alford

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para atender às necessidades temporais da comunidade. Mandaram então que os irmãos escolhessem entre eles mesmos sete homens de bom caráter, cheios de sabedoria e do Espírito de Deus, que pudessem se encarregar das questões seculares, deixando-os assim livres para se dedi­carem às atividades próprias do seu oficio, ou seja, orar e ministrar a Palavra de Deus. “Oparecer agradou a toda a comunidade; e elegeram Estevão, homem cheio d e féed o Espírito Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Párme- nas eNicolau, prosélito de Antioquia. Apresentaram-nos perante os Apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram as mãos” (Atos 6:5-6). Os sete homens que foram esco­lhidos naquela ocasião foram os primeiros diàconos. A Bíblia não os chama expressamente de diàconos, embora isso tenha sido o que eles foram, segundo um consenso quase universal. Portanto, mesmo os diàconos na Igreja apostólica foram escolhidos pelo povo.

Aqui então, nós temos três fatos claros, completa­mente suficientes para basear um princípio. O primeiro capítulo de Atos nos fornece um exemplo de uma assem­bléia de irmãos nomeando, para o oficio, um apóstolo e um ministro. O capitulo 14 mostra que os presbíteros da congregação foram escolhidos pelos votos dos membros. O capítulo 6 mostra todo o conjunto dos discípulos esco­lhendo sete homens para o diaconato. Nesses três fatos, claros e incontestáveis, encontramos o principio da Elei­ção Popular. A conclusão que tiramos dessas evidências irrefutáveis é que, na Igreja Apostólica, os oficiais eram escolhidos pelo povo.

O S e g u n d o P r in c íp io

Há uma classe de oficiais cuja existência na Igreja Primitiva é mencionada freqüentemente mas, no entanto,

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a temos citado muito ligeiramente. Nos referimos aos presbíteros. Tais oficiais são mencionados muitas vezes no livro de Atos e nas Epistolas, mas um leitor cuidadoso perceberá que passagem bíblica nenhuma faz distinção entre o ofício de presbítero e o de bispo. Um mesmo ver­sículo nunca fala de bispos e presbíteros. Quando Paulo, por exemplo, escreve à Igreja de Filipos (1:1), ele menciona os bispos e diáconos, mas não diz nada sobre presbíteros. Quando Tiago orienta os doentes a chamarem os presbítros da igreja (5:14), ele não diz nada a respeito de bispos. Se os ofícios de bispo e presbítero fossem diferentes — se um bispo fosse um oficial com autoridade sobre um grupo de presbíteros, seria estranho o fato de que nenhuma passagem bíblica fale de bispos e presbíteros ao mesmo tempo. Há apenas uma passagem que parece fornecer base para esta suposição. Se os dois termos são apenas diferentes termos para o mesmo oficio, conclui-se que falar sobre bispos e presbíteros como sendo diferentes seria uma agressão à língua; isso seria uma tautologia — seria a mesma coisa que falar de anciãos e presbíteros ou de bispos e bispos. O fato significativo de que os dois termos nunca são mencio­nados juntos em uma mesma passagem bíblica é suficiente para nos levar a entender que os dois eram usados inter- cambiavelmente, ou seja, um pelo outro. Pois se um dos termos pode designar fielmente o oficial pretendido, não há necessidade de usar o outro ao mesmo tempo.

A despeito disso, deve haver um argumento mais for­te do que a suposição de que os dois termos são apenas nomes diferentes para designar a mesma realidade. Por mais improvável que possa parecer, é possível que estes dois, bispo e presbítero, fossem oficiais distintos, embora uma mesma passagem nunca se refira aos dois juntos. Isto nos obriga a consultar as Escrituras mais adiante sobre esta questão.

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A primeira passagem com a qual nos deparamos é Tito 1:5-7 : “P or esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados. Porque é indis­pensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante, não irascível, não dado ao vinho, nem violento, nem cobiçoso de torpe g a n â n c ia Esta passagem confirma, em fortes termos, a veracidade da suposição já ventilada de que os dois termos se referem ao mesmo ofício. Vemos que Paulo deixou Tito em Creta para a ordenação de presbíteros em cada cidade. Para orientar Tito quanto ao desempenho de sua tarefa, o após­tolo Paulo passa a listar as qualidades que um presbítero deve ter. Membro nenhum da Igreja é elegível para este ofício a menos que tenha uma vida íntegra, seja marido de uma só mulher e tenha filhos obedientes; “porque”, ele afirma, “é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus”. O Dr. King, em seu comen­tário sobre esta passagem, observa corretamente “que o termo presbítero, usado no começo, é trocado pelo termo bispo no final, enquanto o apóstolo continua falando so­bre o mesmo oficial. Um presbítero precisa de tais e tais qualidades. Por quê? Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus. Será que isto não é suficiente para identificar presbítero com bispo e vice-versa? Se não, a identificação é impossível. Se dissermos que é indispensável que o prefeito de Londres dedique-se aos seus deveres porque o chefe do magistra­do de tal cidade tem grandes responsabilidades, isso não significaria que prefeito e chefe do magistrado se refiram à mesma função? De outra forma, a representação seria

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absurda; por que, então, o prefeito deveria dedicar-se aos seus deveres devido ao fato de outra pessoa ter grandes responsabilidades? Portanto, o prefeito e o chefe do ma­gistrado não são mais idênticos nesta passagem do que são o presbítero e o bispo na instrução de Paulo a Tito.4 Claro está, para qualquer pessoa, que o apóstolo nunca afirma­ria que a razão para não ordenar ao ofício de presbítero e bispo alguém que não tenha um bom caráter é que um bispo deve ser irrepreensível, se tal pessoa entende que presbítero e bispo eram apenas diferentes designações para o mesmo ofício. De outra forma, a linguagem usada pelo apóstolo não teria qualquer coerência.

Voltaremos a nossa atenção agora para 2 João 1. Nes­ta passagem vemos que o apóstolo se intitula presbítero

— “O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade...” O próximo texto é 1 Pedro 5:1. Neste também nós vemos o apóstolo Pedro se intitulando presbítero. — “Rogo, pois, aos presbíteros que há entrè vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimen­tos de Cristo”. Todos admitem o fato de que João e Pedro eram apóstolos; mas, estas passagens mostram que, além de apóstolos, eles eram presbíteros. Isto nos deixa à apenas um passo da conclusão. Pode ser verdade que todo general seja um oficial, mas não é verdadeiro que todo oficial é um general. A exemplo de João e Pedro, um bispo pode ser um presbítero, mas disso não resulta que um presbítero seja um bispo. Isso pode ser verdade, mas vamos continuar a nossa pesquisa antes de chegar a uma conclusão. Essa verdade é tão clara quanto ao que é apresentado em Atos 20:17-28. Lemos nesta passagem que Paulo enviou os presbíteros à Igreja de Efeso afim de se encontrarem em

4 King, Exposition and Defense o f the Presbytcrian Form o f Church Govern­ment, páginas 176-7. Edinburg, 1853.

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Mileto. Ele falou sobre o seu ministério na c idade deles, e o grande tema de sua pregação foi o arrependimento diante de Deus e a fé em Jesus Cristo. Ele p rev iu as afli­ções que o esperavam em Jerusalém e em ou tros lugares. Ao dizer-lhes que não veriam mais a sua face , Paulo os entristeceu sobremodo. Ele os advertiu quanto a cuidarem de si mesmos e a cuidarem do rebanho sobre o qual Deus os havia constituído supervisores, ou seja, bispos, como a palavra é traduzida em outras partes do Novo Testamento. Qualquer leitor que seja versado no original g rego sabe que a palavra supervisor usada em Atos 20:28 é a mesma palavra traduzida por bispos em Filipenses 1:1, de forma que temos aqui uma evidência fortíssima de q u e os pres­bíteros de Éfeso eram bispos apontados pelo Espírito. Isto faz com que esta linha de raciocínio seja contundente e conclusiva. Bispos, como já vimos, eram presbíteros, e presbíteros, como acabamos de ver, eram bispos. Isto nos conduz a um princípio, a saber, na Igreja Apostólica, os ofícios de bispo e presbítero eram a mesma coisa. Um presbítero não era inferior a um bispo, nem era um bispo superior a um presbítero. Era o mesmo oficial que era conhecido por estes dois diferentes designativos. Nós não estamos inclinados a dar muito valor à opinião de um homem como Edward Gibbon quanto a qualquer ponto de doutrina ou moralidade, mas aquele distinto historiador foi perspicaz o suficiente para dar-se conta de uma reali­dade muito importante. Ele pode ser ouvido com o alguém que não pendia para nenhuma matiz religiosa e , portanto, está em posição de julgar imparcialmente um a questão como esta. Falando sobre o governo e a administração da Igreja, antes do Concilio de Nicéia, ele diz: “A s funções públicas de religião eram confiadas somente aos ministros estabelecidos da Igreja, bispos e presbíteros; dois epítetos que, quando surgiram, parecem ter distinguido o mesmo

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o/icio c n mesma ordem de pessoas. O nome presbítero se reloria à idade ou, mais ainda, à seriedade e à sabedoria deles. O título de bispo denotava a supervisão deles quanto à fé c à forma como viviam os cristãos que estavam sob seu cuidado pastoral”.5

O T e r c e ir o P r in c íp io

Não esqueçamos de que, como já vimos, os termos presbítero e bispo em seu uso original eram apenas dife­rentes nomes para o mesmo ofício eclesiástico. Já temos suficientes provas escriturísticas para afirmar que pres­bíteros eram bispos e bispos eram presbíteros na Igreja Apostólica. Temos base bíblica, portanto, para considerar este fato completamente comprovado enquanto prosse­guimos agora para examinar o terceiro princípio.

O capítulo quatorze de Atos descreve a viagem missionária de Paulo e Barnabé. Houve uma tentativa- de apedrejá-los em Icônio, mas eles conseguiram fugir para Listra e Derbe. Quando Paulo fez um paralítico em Listra levantar-se e andar, o sacerdote de Júpiter trouxe touros e grinaldas para os portões. O povo foi com muita dificuldade impedido de, em sua ignorância pagã, ofere­cer sacrifícios aos dois pregadores. Mas os sentimentos do povo são tão inconstantes que, logo depois, o grande apóstolo foi apedrejado e por pouco não morreu no mes­mo lugar onde queriam adorá-lo pensando que ele era um deus. Tendo a duras penas escapado com vida, Paulo e seus companheiros visitaram novamente Derbe, Listra, Icônio e Antioquia, pregando o evangelho, confirmando as almas dos discípulos e exortando-os a continuarem firmes na fé. O autor do livro dos Atos nos fala sobre o

5 History o f the Decline and Fali o f the Roman Empire, capítulo 15.

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importante fato de que promoveram a eleição de pres­bíteros em cada Igreja. Nas palavras exatas do escritor bíblico: llE, promovendo-lhes, em cada Igreja, a eleição de presbíteros, depois de orar com jejuns, os encomen­daram ao Senhor em quem haviam crido” (At. 14:23). Como já vimos, a palavra Igreja nas Escrituras significa qualquer assembléia de cristãos, grande ou pequena. Era uma prática na época chamar os cristãos residentes em alguma cidade, por maior que fosse, ou em alguma aldeia, por menor que fosse, a Igreja daquele lugar. Muitas dessas comunidades gentias e pagãs que foram evangelizadas por aqueles pioneiros do Cristianismo, organizadas em meio a muitas dificuldades e vítimas de hostilidade, eram inexpressivas em termos de números. Mesmo assim, os dois apóstolos não estavam satisfeitos em apenas apontar um presbítero ou um bispo em cada uma daquelas comunidades, embora fossem pequenas; mas, como temos sido ensinados pelo Espírito Santo, eles promoveram a eleição de presbíteros em cada Igreja. Se, então, o evangelista Lucas, falando movido pelo Espírito Santo, é uma testemunha verdadeira, havia mais de um presbítero em cada congregação da Igreja Apostólica. Nós não somos informados sobre a quan­tidade, se havia dois, três ou mais, mas é claro que em cada Igreja havia uma pluralidade de presbíteros.

Voltaremos a nossa atenção mais uma vez para o ca­pítulo 20 de Atos. Este capítulo fala da viagem de Paulo partindo da Grécia para Jerusalém. Tendo passado uma semana em Troas, ele prosseguiu em sua viagem, às vezes pelo mar e às vezes por terra. Paulo estava se esforçando muito para chegar na capital dos judeus antes de Pente - costes. Tendo chegado a Mileto, um porto do mar da Jônia, que distava trinta e seis milhas ao sul de Éfeso, ele enviou um mensageiro àquela cidade aos presbíteros da Igreja.

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As palavras inspiradas são: “De Mileto, mandou a Éfeso chamar os presbíteros da Igreja” (Atos 20:17). Parece, a partir disso, que a Igreja de Éfeso tinha não apenas um presbítero, porém, mais de um. Vimos no versículo 28 que os presbíteros da Igreja eram chamados de bispos. A menos que a linguagem não tenha significado e as afirmações da Bíblia sejam ininteligíveis, havia uma p lu­ralidade de presbíteros ou bispos na Igreja de Éfeso.

Filipos era uma cidade nos limites da antiga Trácia. Para os primeiros leitores, a Trácia era conhecida como o lugar onde Augustus e Antônio com muito esforço venceram Brutus e Cassius numa batalha campal e, as­sim, conseguiram o império do mundo daquela época; para os cristãos isto é notável por ter sido o primeiro lugar na Europa onde a bandeira da cruz foi desfraldada e os pecadores ouviram o Evangelho de Jesus. Foi lá que o coração da vendedora de púrpura foi aberto para prestar atenção à pregação de Paulo. Foi lá que, por ter expulsado o espírito de adivinhação de uma jovem adivinhadora, Paulo e Silas foram açoitados pelos ma­gistrados e tiveram seus pés colocados no tronco. Foi lá que, por volta da meia noite, os alicerces da prisão foram sacudidos, todas as portas se abriram e soltaram- se as cadeias de todos; o carcereiro fez a dois de seus prisioneiros a pergunta mais importante que um pecador pode fazer a um ministro de Deus: “Senhores, que devo fa zer para que seja salvo?” Uma Igreja foi organizada nesta cidade de Filipos, mesmo enfrentando oposição; e dez ou doze anos depois da primeira visita de Paulo, ele achou por bem escrever uma carta àquela Igreja. Esta carta foi preservada e ocupa lugar na Palavra de Deus. A referida carta é conhecida como a Epístola aos Filipen- ses. As pessoas terão mais curiosidade de ler o que um apóstolo achou necessário escrever para uma Igreja cujo

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rol de membros ostenta logo no começo, os nomes de Lídia e do carcereiro. Como era de se esperar, esta carta é cheia de verdades preciosas e consoladoras; mas, o que é mais importante para o nosso propósito no momento, é o que diz o primeiro versículo do primeiro capítulo da carta em apreciação: “Paulo e Timóteo, servos de Cristo Jesus, a todos os santos em Cristo Jesus, inclusive bispos e diáconos que vivem em F i l ip o s Filipos era sem dúvida uma cidade considerável, mas em termos de população e importância, Filipos estava para Dublin e Liverpool como uma igreja está para um presbitério, ou seja, era uma cidade pequena e sem muita expressão; quer dizer, acredita-se que um bispo é suficiente para uma cidade como Londres (no sistema episcopal), onde o número de cristãos professos chega à casa dos milhões. Ao passo que uma única congregação formada por pessoas con­vertidas de entre uma população pagã, existindo como Igreja há apenas dez ou doze anos, exposta a zombaria e a sofrimentos por causa de Cristo, além de ser localizada em uma cidade desprezível nos arredores da Macedônia, tinha uma pluralidade de bispos. Paulo escrevendo à Igreja de Filipos, endereça a sua epístola aos bispos e diáconos.

Que o leitor sincero possa atentar para os argumentos que acabamos de apresentar. Um leitor honesto percebe que a carta que Paulo escreveu à Igreja de Filipos está endereçada aos bispos. Ele percebe que havia presbíteros na Igreja de Éfeso, pois Paulo os chamou para Mileto. O leitor encontra a afirmação de que Paulo e Barnabé promoveram a eleição de presbíteros em cada Igreja. Como é possível a um leitor sincero e honesto resistir à conclusão de que, nos dias dos apóstolos, havia em cada Igreja uma pluralidade de presbíteros, ou de bispos, que é a mesma coisa? Com isso, chegamos ao terceiro princí­

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pio de governo praticado na Igreja Apostólica, ou seja, em cada Igreja havia uma pluralidade de presbíteros.

O Q u a r t o P r in c íp io

Ordenação é a designação solene de um homem para o oficio eclesiástico pela imposição de mãos. Cada oficial permanente na Igreja, seja bispo ou diácono, foi separado solenemente para este ofício pelo ato da ordenação. Em sua forma externa, isto consistia em três coisas — jejum, oração e imposição das mãos. A imposição das mãos era usada quando os dons espirituais eram conferidos (Atos 8:17; 19:6); e isso era também praticado quando o doente era curado de maneira miraculosa (Marcos 16:18; Atos 9:17; 28:8). Diferentemente desses casos, a imposição das mãos era usada para a ordenação de oficiais da Igreja e, durante as cerimônias de ordenação, nenhum dom extraordinário ou miraculoso era concedido (Atos 6:6-; 13:1-3; e I Timóteo 4:14; 5:22). A ausência de poderes miraculosos não é, portanto, uma razão válida para que durante as cerimônias de ordenação, esta prática de impor as mãos seja descartada; a imposição de mãos em casos como esses nunca é o meio através do qual o Espírito é concedido, mas apenas a forma de investidura de ofício eclesiástico.

A grande questão quanto à ordenação é se isto é o ato de um indivíduo apenas ou mais, de um presbítero ou de vários presbíteros, de um bispo ou de um presbitério. Não há dúvida de que o Senhor Jesus pode chamar alguém de uma maneira especial e enviá-lo para o trabalho em Sua vinha. Também não há dificuldade em aceitar que, se um apóstolo inspirado ainda estivesse aqui na terra, ele teria o direito de ordenar sozinho se achasse correto fazer isso. E mais, se algum evangelista moderno pudesse mostrar,

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a exemplo de Tito, que um apóstolo o deixou para este propósito especial, ele também, em virtude do direito que lhe foi concedido por uma autoridade maior, teria o direito de ordenar (Tito 1:5). Qualquer um, portanto, que reivindique o direito de fazer tudo o que um evangelista fez, se interessaria em mostrar que, mesmo não sendo um apóstolo possui, a exemplo de Tito, a autoridade concedida por um apóstolo. Mas nenhum líder de igreja conseguiria passar nesse teste. Ainda precisamos examinar as Escri­turas para descobrir quem, na ausência dos apóstolos ou daqueles delegados por eles, poderia exercer o privilégio de, solenemente, separar homens para o oficio eclesiástico e, mais do que isso, precisamos descobrir se este privilégio era possuído por um ou mais indivíduos.

Direcionemos a nossa atenção agora para 1 Timóteo 4:14. Temos aqui a ordenação de Timóteo. O apóstolo exortou o seu filho na fé a usar corretamente o dom que tinha sido conferido a ele. Ele afirma que este dom fora dado por profecia, ou seja, em conseqüência do fato de os profetas, que eram muitos naquela época onde existiam vários dons espirituais, o terem apontado como alguém que seria um eminente ministro. Ele acrescenta que o re­ferido dom espiritual foi conferido “com a imposição de mãos do presbitério”— isso é, com a imposição das mãos dos presbíteros reunidos como concilio. As palavras do apóstolo são: “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te fo i concedido mediante profecia, com a imposição de mãos do presbitério”. Estas palavras são decisivas quanto ao apontar aqueles em quem residia a autoridade para ordenar.

Vamos agora para Atos 13:1-3. Parece que na Igreja de Antioquia havia certos profetas e mestres cujos nomes são mencionados nessa passagem. Eles estavam servindo ao Senhor e jejuavam; enquanto eles assim procediam,

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receberam do Espírito a ordem para separar Bamabé e Saulo para o trabalho missionário entre os gentios. Os dois tinham servido como pregadores do Evangelho anterior­mente; mas agora deveriam entrar em uma nova esfera e se engajar em uma nova área do trabalho. Era necessário, portanto, que os profetas e mestres solenemente sepa­rassem os dois irmãos para o trabalho missionário pelo ato da ordenação. Lemos, de acordo com o versículo 3,

“Então, jejuando e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram”. Aqui está claro que o ato de ordenação não era o trabalho de um mestre, mas de vários. Havia uma pluralidade.

Outro exemplo de uma pluralidade de oficiais de Igreja participando em uma cerimônia de ordenação está registrado em Atos 6:6. Nesse caso, nós temos a ordenação de diáconos. A Igreja de Jerusalém escolheu sete homens para atender as necessidades dos pobres, “Apresentaram- nos perante os apóstolos, e estes, orando, lhes impuseram ' as mãos”. Esse texto é bastante elucidativo à medida que prova que, sempre que possível e conveniente, os apósto­los preferiam que o ato da ordenação fosse praticado por uma pluralidade de oficiais.

Observamos novamente a base que acabamos de examinar. Era a prática de um apóstolo ou de alguém diretamente designado por um apóstolo para este pro­pósito específico, realizar sozinho o ato de ordenação. Mas ninguém fazia isto sozinho quando era possível que eles estivessem juntos para tal objetivo. Quando possí­vel, era comum mais de um participar da cerimônia de ordenação. Na ausência dos apóstolos, como já vimos no caso de Barnabé e Saulo, a ordenação foi realizada por certos profetas e mestres; e que, no caso de Timóteo, foi um ato de um presbitério. Isso nos leva a concluir o quarto princípio, a saber, na Igreja Apostólica, a orde-

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nação era um ato do presbitério — de uma pluralidade de presbíteros.

O Q u in t o P r in c íp io

O capítulo quinze de Atos é muito longo para ser transcrito aqui. Por isso, antes de você continuar lendo este livro, leia o referido capítulo cuidadosamente do co­meço ao fim. Se você está realmente interessado em saber a verdade e aceitá-la em sua forma simples, uma leitura cuidadosa do capítulo quinze o convencerá dos seguintes fatos: Parece que alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e ensinaram àquela Igreja que circuncisão era necessária para a salvação. Paulo e Bamabé se opuseram a eles, mas em vão. Então, decidiu-se que alguns da Igreja de Antioquia, inclusive Paulo e Bamabé, deveriam ir para Jerusalém e expor o problema aos apóstolos e presbíteros. Quando chegaram a Jerusalém — que era a metrópole do Cristianismo daquele tempo — os apóstolos e presbíteros reuniram-se para considerar a questão. No início havia consideráveis diferenças de opinião. Pedro, finalmente, levantou-se para falar. Ele os lembrou de como Deus o tinha honrado ao fazê-lo instrumento da primeira prega­ção do Evangelho aos gentios e de como, sem acepção de pessoas, o Senhor tinha se agradado em conceder o Espírito Santo não somente aos gentios, mas também aos cristãos convertidos do judaísmo. Pedro argumentou que tomar a circuncisão um requisito necessário para a salvação — colocando sobre os gentios um fardo que nem os judeus eram capazes de suportar — seria tentar a Deus; para concluir, ele afirmou a grande verdade de que judeus e gentios, sem distinção, são salvos pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo. Bamabé e Paulo se alternaram testemunhando também que através deles Deus tinha

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realizado milagres e maravilhas entre os gentios. Tiago 1'oi o próximo a emitir a sua opinião. Ele mostrou que a verdade declarada por Pedro, a saber, que Deus tinha separado para si um povo de entre os gentios, tinha sido profetizada. Ele cita o profeta Amós para mostrar como Deus tinha prometido construir o tabemáculo de Davi que tinha se tomado em ruínas, para que o restante dos homens e os Gentios chamados pelo Seu nome pudessem procurar a face do Senhor. Ele termina declarando o julgamento por vir e que os gentios que já tinham se voltado para o Senhor não deveriam se preocupar com nenhum fardo des­necessário, mas que deveriam se abster das contaminações dos ídolos, de relações sexuais ilícitas, da carne de animais sufocados e de sangue. A opinião de Tiago foi aprovada pela assembléia. Os apóstolos e presbíteros juntamente com toda a igreja, concordaram em enviar Judas e Silas para Antioquia, com Bamabé e Paulo encarregados de anunciar o resultado. A decisão tomada naquela assem- bléia foi expressa em cartas enviadas com os nomes dos apóstolos, presbíteros e irmãos aos gentios cristãos de Antioquia, Síria e Cilícia. A epístola acusava aqueles que estavam ensinando que a circuncisão era necessária para salvação de serem perturbadores dos irmãos e de estarem subvertendo as suas almas; a epístola também negava que eles tivessem a autoridade dos apóstolos e presbíteros para ensinar; mencionava ainda que Judas e Silas tinham sido encarregados de, juntamente com Bamabé e Paulo

— homens que tinham arriscado as suas próprias vidas pelo nome de Jesus Cristo — declarar verbalmente a decisão da assembléia; por último a epístola afirmava que tinha parecido bom ao Espírito Santo e a eles não impor aos gentios convertidos nenhum fardo, exceto que se abstives- sem da carne sacrificada aos ídolos, de sangue, de carne sufocada e de fomicação. Este era o conteúdo da epístola

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que foi levada a Antioquia pelos representantes da assem­bléia de Jerusalém. A multidão se reuniu para ouvir qual tinha sido a decisão. A carta foi entregue e lida. O povo se alegrou ao ouvir aquelas palavras consoladoras. Judas e Silas os exortaram depois que a carta foi lida e os irmãos foram confirmados na fé. Logo depois, Paulo, tendo tido algumas diferenças com Barnabé, escolheu Silas como seu companheiro de viagem e partiu para outra viagem missionária com o objetivo de visitar os convertidos de cada cidade onde ele tinha pregado a Palavra de Deus e ver como eles estavam. Confiados pelos irmãos à graça de Deus, Paulo e Silas partiram de Antioquia e foram através da Síria e Cilícia confirmando as igrejas. Derbe e Listra e outras cidades da Ásia Menor foram visitadas naquela ocasião e, à medida que passavam por aquelas cidades, eles falavam o que tinha sido ordenado pelos apóstolos e presbíteros de Jerusalém quanto ao que deveria ser ob­servado (Atos 16:4).

Qualquer homem sincero admitirá que isto é uma justa representação de todos os fatos relacionados a este assunto, assim como está exposto diante de nós nos capítulos 15 e 16 de Atos. Deve ser notado que, na narrativa simples, os seguintes fatos aparecem claramente:

(1) Que Bamabé e Paulo tiveram uma disputa sobre circuncisão com certos falsos mestres que desceram para a Judéia;

(2) Esta disputa não foi resolvida na Igreja de Antio­quia onde isto se originou;

(3) O problema foi levado a uma assembléia ecle­siástica extema que era composta pelos apóstolos e por presbíteros em Jerusalém;

(4) Esta assembléia reuniu-se publicamente para de­liberar sobre a questão;

(5) Eles chegaram a uma decisão;

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U>) As igrejas de Antioquia, Síria e Cilícia se subme- leram à decisão tomada no Concilio de Jerusalém.

Tais fatos estão claros na narrativa e não podem ser negados. Seria de estranhar que esses acontecimentos fo­ram permitidos, bem como o registro deles nas Escrituras Sagradas, se não fossem para nos servir de exemplo. Teria sido suficiente para a Igreja de Antioquia saber a vontade de Deus sobre aquela questão através do apóstolo Paulo que estava presente, pois Paulo poderia ter declarado aque­la decisão do Concilio com uma precisão infalível; e mais, ele não apenas falava movido pelo Espírito Santo, mas freqüentemente decidia questões igualmente importantes com apenas uma palavra dos seus lábios ou com um traço da sua pena. E reconhecido pela Igreja de Deus que uma única sentença do apóstolo que estava naquele momento em Antioquia teria sido decisiva quanto a qualquer questão relacionada à fé ou ao dever cristãos. De forma que, se uma decisão infalível era a única coisa requerida, alguém pode questionar por que a questão foi levada adiante. Quando o caso foi levado a Jerusalém, se a questão tivesse sido resolvida apenas com uma palavra inspirada de Paulo, al­guém poderia não ver razão alguma por que os presbíteros teriam de se reunir com os apóstolos para analisar o pro­blema. Certamente os apóstolos eram capazes de declarar a vontade de Deus sem precisar do auxílio de homens que não eram inspirados. Se nada era necessário senão que os apóstolos fizessem um pronunciamento infalível, por que é que houve uma discussão na assembléia e mesmo a aparência de decisão? Ou ainda, porque um apóstolo após outro teve de emitir a sua opinião? Podemos supor que o pronunciamento de um único homem inspirado seria mais do que suficiente. Se a discussão que ocorreu na assembléia tivesse ocorrido apenas entre os presbíteros, estes teriam sido muito tolos para discutir sobre uma matéria que deve­

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ria ser resolvida com uma palavra inspirada e, em relação à questão, eles, como homens que não eram inspirados, não tinham nada para fazer, a não ser ouvir a voz de Deus; e por que os apóstolos permitiram a discussão, uma vez que uma palavra dos expositores infalíveis da vontade de Deus teria decidido a questão? E por que a decisão foi enviada em nome dos apóstolos e presbíteros que estavam em Je­rusalém? Há apenas uma explicação satisfatória para isto, como podemos ver. Esses eventos foram permitidos que acontecessem e foram registrados para nossa orientação em quaisquer situações similares a esta. Em surgindo uma questão ou um problema que não possa ser resolvido no âmbito da congregação onde a situação se originou, esta questão ou problema deve ser levado à apreciação dos governantes (os líderes — presbíteros) da Igreja reunidos em concilio. Se os apóstolos estivessem vivos na terra para se encontrarem com os presbíteros e fazendo uso da sua inspiração os orientasse quanto a uma decisão inerrante, e levássemos uma questão para a referida assembléia, isto seria obediência literal ao exemplo colocado diante de nós pela Palavra de Deus. Mas, na ausência pessoal deles (os apóstolos), levamos as nossas diferenças a um concilio de presbíteros (docentes e regentes), os quais, guiados pelos escritos inspirados dos apóstolos que estão contidos nas Escrituras, decidem quanto a um determinado assunto, e quando nos submetemos no Senhor à referida decisão, isto é agir de acordo com o exemplo apostólico.

Assim, chegamos à conclusão de que na Igreja Apos­tólica havia o privilégio de levar matérias à apreciação de uma assembléia de homens que não estavam no âmbito da congregação onde a discussão de uma matéria tenha se originado, assembléia esta que era composta pelos governantes da Igreja; e que esta assembléia eclesiástica, na ausência dos apóstolos, sendo composta apenas pelos

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) í o V L T i i ; i n l e s da Igreja, tem o direito de se reunir, decidir e exigir que a sua decisão seja obedecida no Senhor. A este principio duplo chamamos o privilégio de apelar para o presbitério (composto por presbíteros docentes e regen­tes), e o direito de governo exercido por seus membros em conjunto.

Dificilmente seria necessário dizer alguma palavra na presença dos irmãos na assembléia de Jerusalém, se tal fato não fosse considerado a base para a resolução de situações especiais como essa. Uma vez que são mencionados separadamente dos apóstolos e presbíteros, parece claro que os “irmãos” eram as pessoas que não ocupavam cargos de oficiais na igreja ou, como seriam chamados hoje em dia, eles eram os leigos. Que eles estavam presentes naquela assembléia; que eles concor­daram com a decisão, e que a carta enviada para Antio­quia foi escrita tanto em nomes deles como em nome dos apóstolos e presbíteros são, em nossa opinião, fatos inegáveis — claros em uma primeira leitura da narrativa. Mas não temos todos os fatos do caso diante de nós, a menos que observemos:

(1) Que a referência original de Antioquia não era em direção aos irmãos, mas aos apóstolos e presbíteros (Atos 15:2);

(2) Que não é dito que os irmãos estavam reunidos para deliberar sobre a questão, mas que “se reuniram os apóstolos e presbíteros para examinar a questão” (ver­sículo 6);

(3) Que nós não lemos sobre nenhum dos irmãos fa­lando sobre a questão apreciada, mas que “toda a multidão silenciou” enquanto os outros falavam (versículo 12);

(4) Que não é dito que as decisões foram tomadas pelos irmãos, mas “pelos apóstolos e presbíteros de Je­rusalém'" (Atos 16:4).

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PRINCÍPIOS APOSTÓLICOS

O pesquisador sem predisposições observa que os membros particulares da Igreja, aqui designados como

“irmãos”, não tomaram as decisões, não falaram na as­sembléia, não se reuniram para deliberar e nem recebe­ram o apelo que fora levado de Antioquia (o apelo não foi a eles dirigido). O escritor de Atos, por outro lado, ressaltou que eles estavam presentes na assembléia, que concordaram com a decisão e que, para mostrar que to­dos os cristãos de Jerusalém eram unânimes quanto ao assunto, a carta contendo as decisões foi escrita tanto em nome deles como em nome dos apóstolos e presbíteros. Por motivos de cortesia e razões de saudação cristã, Sil- vano e Timóteo são referidos em conexão com o apóstolo Paulo, na sua Primeira Epístola aos Tessalonicenses, mas isto não quer dizer que Silvano e Timóteo eram homens inspirados, muito menos que estivessem unidos a Paulo na autoria da carta. E, do mesmo modo, a carta endereçada aos gentios de Antioquia, Síria e Cilícia era dos “apóstolos e presbíteros”— o nome dos irmãos foi adicionado para mostrar, não que eles participaram da redação da carta, mas que apenas concordaram quanto ao teor dela. Pessoas, portanto, que desejam nos convencer que cristãos particulares na Igreja Apostólica não esta­vam presentes nas reuniões dos governantes da Igreja apenas como ouvintes, mas que eles participavam das decisões e agiam como membros constituídos de tribu­nais eclesiásticos, teriam de produzir alguma coisa mais clara sobre o assunto do que o capítulo 15 de Atos. Para nós é bastante claro que os apóstolos e presbíteros reu­nidos, apreciaram o problema e decidiram sobre ele; os irmãos estavam presentes, ouviram e anuíram à decisão. Os apóstolos e presbíteros eram membros do tribunal. Os irmãos eram ouvintes que deram o seu consentimento à decisão tomada pelos governantes da Igreja.

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A IGREJA APOSTÓLICA

Nosso quinto princípio, portanto, pode ser resumido nestes termos — o privilégio de apelar para o presbitério, e o direito de governo exercido por seus membros em conjunto.

O S e x t o P r i n c í p i o

Uma das características do governo apostólico é que os governantes de Igreja não prestam obediência a ne­nhum poder temporal, nem a nenhum chefe eclesiástico. Paulo raramente começa alguma de suas epístolas sem relembrar aos seus leitores que ele é apóstolo pela vontade de Deus, não pela vontade de homem. Tomemos como exemplo, Gálatas 1:1: “Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os m o r t o s etc. Pelo que o Novo Testamento apresenta, não vemos nenhuma instância da Igreja reconhecendo o do­mínio espiritual de um monarca terreno, ou consentindo negociar uma parte de sua liberdade religiosa em troca de algum favor temporal qualquer que fosse ele. Não en­contramos nos Evangelhos qualquer preocupação quanto à supremacia de um cristão, muito menos de um pagão, reinando nas coisas de Deus. O ensino das Escrituras é claro: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Marcos 12:17). Em todas as questões temporais, os membros da Igreja Apostólica consideraram que era seu dever prestar obediência aos governantes civis do país no qual eles viviam; em todas as questões espirituais, eles se submetiam a um poder mais alto. Em questões tempo­rais, o apóstolo submetia-se às leis do lugar, efetivadas por um magistrado de uma vila; em questões espirituais, o apóstolo não cederia nem ao próprio César sentado em seu trono.

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PRINCÍPIOS APOSTÓLICOS

Nada seria alterado se alguém retrucasse afirmando que nós procuraremos em vão por um exemplo das Es­crituras devido ao fato de que, na era primitiva, nenhum príncipe temporal foi convertido ao cristianismo e, por­tanto, nenhum estava em condições de dispensar proteção eclesiástica e exercer o papel de centralizador do poder espiritual. Deus não está limitado à vontade dos seus ins­trumentos. A mesma graça que subjugou Saulo de Tarso quando este ainda estava respirando ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, poderia ter convertido Pilatos, Agripa, ou César em Roma. Se isto tivesse sido útil, os meios necessários para que isto acontecesse, com a mais absoluta certeza, teriam sido supridos por Deus. O fato de que, nos dias apostólicos, Deus não chamou nenhum príncipe pagão para fazer parte da Igreja para que este pudesse ocupar o cargo de cabeça temporal da Igreja na terra, é bastante elucidativo — chegando mesmo a conter um princípio fundamental. E não nos esqueçamos de que as Escrituras não dão nenhum incentivo para que isto viesse a acontecer em dias subseqüentes. As Escritu­ras não contêm nenhum princípio autorizando príncipes que viessem a se tomar cristãos em anos subseqüentes a reivindicarem, nem a exercerem autoridade em questões eclesiásticas. Se há um princípio como este, nós desco­nhecemos; é necessário que todos os que abraçam esse tipo de pensamento mostrem a base bíblica para justificar que um rei cristão tenha o direito de exercer supremacia na Igreja quanto a questões espirituais. Até que isso seja feito nós não podemos acreditar que príncipes ou gover­nantes temporais tenham o direito de agir como senhores da herança de Deus.

Também nenhum poder supremo foi conferido a nenhum oficial da Igreja, embora este se distinguisse por seus dons, seus sofrimentos, ou mesmo os seus abundantes

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A IGREJA APOSTÓLICA

esforços pela causa de Cristo. Os membros comuns, na verdade, receberam a ordem de obedecer aos governantes ou presbíteros da Igreja; mas os presbíteros, por sua vez, foram instruídos a agir não como dominadores da herança de Deus, mas como exemplos do rebanho (I Pedro 5:3). Nem mesmo os apóstolos reivindicaram ter domínio sobre a fé do povo, mas apenas colaboradores de suas alegrias (“... não que tenhamos domínio sobre a vossa fé, mas porque somos cooperadores de vossa alegria” — II Co. 1:24). E, entre esses apóstolos, não parecia que algum deles tinha a preeminência. Pedro é o único para o qual foi reivindicada supremacia oficial, em tempos posteriores; mas ele próprio nunca reivindicou nenhuma supremacia para si mesmo; ele sempre agiu com os seus companheiros apóstolos como um simples pregador da cruz de Cristo; Pedro nunca é apresen­tado nas Escrituras reivindicando o ofício eclesiástico para si mesmo, ou como alguém que exerce algum tipo peculiar de controle sobre os oficiais inferiores na Igreja. Em certa ocasião, quando ele estava tergiversando muito, um outro apóstolo resistiu-lhe face a face, porque ele merecia repre­ensão (Gálatas 2:11). As Escrituras, portanto, não nos for­necem nenhuma base para acreditarmos que poder espiritual supremo está depositado em algum oficial eclesiástico mais do que em algum príncipe temporal.

As Escrituras devem ser o nosso guia quanto a isto tanto quanto em quaisquer outras matérias religiosas. Agora veremos algumas passagens que nos mostrarão onde reside a fonte de todo poder espiritual:

Efésios 1:20-23: “O qual exerceu ele em Cristo, res­suscitando-o dentre os mortos e fazendo-o sentar-se à sua direita nos lugares celestiais, acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro. Epôs todas as coisas debaixo dos pés e, para ser o cabeça

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PRINCÍPIOS APOSTÓLICOS

sobre todas as cousas, o deu à Igreja, a qual è o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas cousas”.

Efésios 5:23: “porque o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da Igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo”.

Colossenses 1:18: “Ele é a cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia

As passagens acima transcritas são tiradas das ‘'Sa­gradas Escrituras”— a única regra cristã de fé e prática. Temos dado a elas uma cuidadosa atenção: e elas têm nos levado à conclusão de que a doutrina dos apóstolos era que Cristo somente é o cabeça da Igreja. Cristo é para a Igreja o mesmo que a cabeça é para o corpo humano; e que, assim como o corpo não pode ter duas cabeças, a Igreja também não pode ter duas cabeças — nem Cristo e o papa, nem Cristo e um monarca. Parece-nos que não há meio termo nesta questão. Das duas uma, ou nós re­jeitamos a autoridade da Bíblia, ou acreditamos no que ela ensina — a saber, que Cristo é a cabeça suprema da Igreja em todas as coisas. O fato de Cristo ser a cabeça é o sexto princípio de governo que encontramos nos dias apostólicos. Observemos as implicações deste princípio, pois, sendo Cristo a cabeça da Igreja, os membros da Igreja estão sujeitos a Ele; e como não temos outra forma de sondar a mente de Cristo, exceto através das Escrituras, por conseqüência os assuntos da Igreja são administrados pelos oficiais aos quais ele confiou tal poder e que devem ser regidos de acordo com a mente de Deus tal como está expressa em sua Palavra e sem a interferência de nenhum poder externo.

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A IGREJA APOSTÓLICA

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Capítulo III

A p l ic a ç ã o d o T e s t e

S e o leitor considerar seriam ente as evidências apresentadas no capítulo anterior, acreditamos que

ele se convencerá de que há autoridade divina para se dizer que os princípios, dos quais os seguintes fatos são a con­cretização, estavam em operação na Igreja Apostólica:

1) Os oficiais da Igreja eram escolhidos pelo povo;2) O ofício de bispo e de presbítero era o mesmo;3) Havia uma pluralidade de presbíteros em cada

Igreja;4) Ordenação era um ato do presbitério, ou seja, de

uma pluralidade de presbíteros;5) Havia o privilégio de apelar para a assembléia de

presbíteros e o poder de governo exercido por eles em conjunto;

6) A única cabeça da Igreja era o Senhor Jesus Cristo.Os princípios contidos nestes seis fatos abrangem toda

a plataforma de governo eclesiástico, cada um sobrepon- do-se em importância acima do seu precedente, em escala ascendente, da eleição pelo povo até o Senhor, como Ca­beça da igreja. Não chegamos a esses princípios por meio de uma elaborada dedução lógica, mas pela aceitação das Escrituras, o que cada filho de Deus deveria fazer, a menos que haja razões óbvias e boas apontando o contrário, no sentido claro, simples e natural. Até mesmo o leitor mais iletrado, se honesto e sem preconceitos, não poderá exa­minar as passagens da Escritura que especificamos sem

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A IGREJA APOSTÓLICA

deixar de ver que esses seis grandes princípios estavam todos incorporados no governo da igreja apostólica.. Mas se tais princípios estão presentes nas formas de governo existentes hoje em dia no mundo é uma questão bastante importante — é uma questão sobre a qual é nossa respon­sabilidade responder. Passaremos, portanto, a trazer suces­sivamente os sistemas de governo eclesiástico existentes para o teste do modelo apostólico.

E p i s c o p a l o u P r e l a d o

Como já vimos, o Episcopal ou Prelado é o sistema de governo eclesiástico administrado por arcebispos, bispos, padres (ou pastores, se for na Igreja Anglicana), deões, diá- conos e outros oficiais. Este tipo de governo é praticado na Igreja Católica Romana e na Igreja da Inglaterra; tanto uma quanto a outra são episcopais em sua forma de governo; a diferença é que na Igreja de Roma, o papa é revestido' de autoridade eclesiástica suprema, enquanto o chefe da Igreja Anglicana é o monarca reinante. Apesar dessa ex­ceção, as duas igrejas, não obstante difiram amplamente em doutrina, são, em cada aspecto importante de governo, as mesmas. Como muitos estarão dispostos a considerar o prelado de uma Igreja Protestante com mais brandura do que o prelado de Roma, e, uma vez que não temos nem a necessidade nem o desejo de levar qualquer vantagem injusta em nossa argumentação, preferimos comparar o prelado protestante com o modelo apostólico.

A fonte da jurisdição da Igreja da Inglaterra é o monar­ca que está ocupando o trono, é aquele que herda o trono por descendência hereditária e que, a despeito de todo o caráter, é, por um decreto do Parlamento, o cabeça da Igre­ja da Inglaterra e da Irlanda (Henrique VIII 37, capítulo 17). Ninguém pode ser recebido no ministério da Igreja

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APLICAÇÃO DO TESTE

sem subscrever este artigo: “A majestade do rei, debaixo de Deus, é o único governante supremo desse reino e de todos os outros paises e domínios de sua alteza, tanto em todas as coisas ou causas espirituais e eclesiásticas quanto nas temporais^ (Cânon 36). A indicação de todos os arcebispos e bispos é feita pela Coroa, que é guiada na seleção pela administração política do momento — um corpo composto por pessoas de cada tendência ou matiz religioso, sendo mantidos no cargo pela maioria dos vo­tos que recebam no Parlamento. Os oficiais eclesiásticos mais altos, debaixo da Coroa, são os arcebispos, os quais são dois na Inglaterra — o arcebispo da Cantuária e o de York, e dois na Irlanda — o arcebispo de Armagh c o de Dublin. Cada um deles tem sob os seus cuidados o clero inferior de sua diocese, que prega e administra as ordenanças da religião para os membros de sua paróquia como eles acharem conveniente. Os clérigos da paróquia são, em alguns casos, apontados pela Coroa; há casos também em que eles são apontados pelo bispo; em outros ainda, por um patrono leigo e, às vezes, de uma maneira ainda mais execrável.

Assim é o Prelado em sua forma mais favorável, como é apresentado na Igreja da Inglaterra. Agora, comparemo- lo com o sistema de governo que, pelo que já vimos, era praticado na Igreja Apostólica.

Na Igreja Apostólica, os oficiais eram escolhidos pelo povo; mas, na Igreja da Inglaterra, os arcebispos e bispos são escolhidos pela Coroa e os clérigos subordinados são indicados para as suas obrigações ou por uma diocese ou por algum proprietário de terra, ou mesmo por alguma corporação civil. Os membros da Igreja Apostólica exer­ceram o privilégio de eleger um apóstolo; os membros da Igreja Anglicana não têm o poder de eleger nem mesmo um vigário de aldeia ou povoado.

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A IGREJA APOSTÓLICA

deixar de ver que esses seis grandes princípios estavam todos incorporados no governo da igreja apostólica.. Mas sc tais princípios estão presentes nas formas de governo existentes hoje em dia no mundo é uma questão bastante importante — é uma questão sobre a qual é nossa respon­sabilidade responder. Passaremos, portanto, a trazer suces­sivamente os sistemas de governo eclesiástico existentes para o teste do modelo apostólico.

E p i s c o p a l o u P r e l a d o

Como já vimos, o Episcopal ou Prelado é o sistema de governo eclesiástico administrado por arcebispos, bispos, padres (ou pastores, se for na Igreja Anglicana), deões, diá- conos e outros oficiais. Este tipo de governo é praticado na Igreja Católica Romana e na Igreja da Inglaterra; tanto uma quanto a outra são episcopais em sua forma de governo; a diferença é que na Igreja de Roma, o papa é revestido de autoridade eclesiástica suprema, enquanto o chefe da Igreja Anglicana é o monarca reinante. Apesar dessa ex­ceção, as duas igrejas, não obstante difiram amplamente em doutrina, são, em cada aspecto importante de governo, as mesmas. Como muitos estarão dispostos a considerar o prelado de uma Igreja Protestante com mais brandura do que o prelado de Roma, e, uma vez que não temos nem a necessidade nem o desejo de levar qualquer vantagem injusta em nossa argumentação, preferimos comparar o prelado protestante com o modelo apostólico.

A fonte da jurisdição da Igreja da Inglaterra é o monar­ca que está ocupando o trono, é aquele que herda o trono por descendência hereditária e que, a despeito de todo o caráter, é, por um decreto do Parlamento, o cabeça da Igre­ja da Inglaterra e da Irlanda (Henrique VIII 37, capítulo 17). Ninguém pode ser recebido no ministério da Igreja

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APLICAÇÃO DO TESTE

sem subscrever este artigo: “A majestade do rei, debaixo de Deus, é o único governante supremo desse reino e de todos os outros paises e domínios de sua alteza, tanto em todas as coisas ou causas espirituais e eclesiásticas quanto nas temporais” (Cânon 36). A indicação de todos os arcebispos e bispos é feita pela Coroa, que é guiada na seleção pela administração política do momento — um corpo composto por pessoas de cada tendência ou matiz religioso, sendo mantidos no cargo pela maioria dos vo­tos que recebam no Parlamento. Os oficiais eclesiásticos mais altos, debaixo da Coroa, são os arcebispos, os quais são dois na Inglaterra — o arcebispo da Cantuária e o de York, e dois na Irlanda — o arcebispo de Armagh c o de Dublin. Cada um deles tem sob os seus cuidados o clero inferior de sua diocese, que prega e administra as ordenanças da religião para os membros de sua paróquia como eles acharem conveniente. Os clérigos da paróquia são, em alguns casos, apontados pela Coroa; há casos também em que eles são apontados pelo bispo; em outros ainda, por um patrono leigo e, às vezes, de uma maneira ainda mais execrável.

Assim é o Prelado em sua forma mais favorável, como é apresentado na Igreja da Inglaterra. Agora, comparemo-lo com o sistema de governo que, pelo que já vimos, era praticado na Igreja Apostólica.

Na Igreja Apostólica, os oficiais eram escolhidos pelo povo; mas, na Igreja da Inglaterra, os arcebispos e bispos são escolhidos pela Coroa e os clérigos subordinados são indicados para as suas obrigações ou por uma diocese ou por algum proprietário de terra, ou mesmo por alguma corporação civil. Os membros da Igreja Apostólica exer­ceram o privilégio de eleger um apóstolo; os membros da Igreja Anglicana não têm o poder de eleger nem mesmo um vigário de aldeia ou povoado.

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A IGREJA APOSTÓLICA

Na Igreja Apostólica, o ofício de bispo e presbítero eram idênticos; os presbíteros de Éfeso eram os bispos do rebanho; mas, na Igreja Anglicana, isto é muito di­ferente. O presbítero apostólico, sendo o docente e o regente de uma congregação, assemelha-se mais a um pastor do que qualquer outro oficial da Igreja Anglicana. Mas, é bastante claro que, naquela Igreja, um pastor tem uma posição muito diferente em relação à posição de bispo. O reitor exerce autoridade sobre a jurisdição de uma paróquia; mas o bispo governa uma diocese que, geralmente, inclui várias paróquias. Um preside sobre uma única congregação; o outro, sobre varias paróquias. Um exercita autoridade sobre os leigos, mas um bispo da Igreja Anglicana exerce autoridade sobre um grupo de clérigos. Se, então, o pastor de uma paróquia correspon­de ao presbítero dos tempos apostólicos, é muito claro que, na Igreja Anglicana, o bispo e o presbítero não são idênticos em termos de ofício. Na Igreja Anglicana cada presbítero está sujeito ao bispo; mas, na Igreja Apostólica, cada presbítero era um bispo.

Na Igreja Anglicana, cada congregação está debaixo do cuidado de um presbítero. Quando um segundo é con­vidado, ele vai ser um simples auxiliar à disposição do outro, destituído de qualquer jurisdição eclesiástica. Isto não é comum e, certamente, não é essencial para o sistema ter mais de um presbítero em cada igreja; enquanto que, conforme vimos, em toda igreja dos dias apostólicos havia uma pluralidade de presbíteros.

Na Igreja Anglicana, a ordenação é um ato exclusi­vamente realizado por um bispo; ele pode convidar outros para juntarem-se a ele, mas é a sua presença, não a dos outros, que é essencial para o ato; enquanto que, na Igreja Apostólica, a prática era ordenar homens ao ministério pela imposição de mãos do presbitério.

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APLICAÇÃO DO TESTE

Na Igreja Anglicana, não importa que razão de queixa eclesiástica possa existir, não há poder para apelar, exceto para os tribunais de justiça, ou para o Conselho Privado da rainha, ou para algum outro tribunal. A prática de trazer alguma questão à apreciação da assembléia dos presbí­teros para que estes decidam sobre a matéria, de acordo com o exemplo dos apóstolos, é desconhecida nesta deno­minação. No entanto, esse era, como está claro, o modo pelo qual as coisas eram tratadas na Igreja Apostólica.

No nosso sistema Anglicano o monarca é por um ato do Parlamento a cabeça da Igreja e, ao rei ou à rainha, conforme for o caso, pertence a chefia de todos os estados do reino, sejam estes de natureza eclesiástica ou civil, em qualquer caso, conforme o artigo 37 nos informa; enquanto que na Igreja Apostólica, a Igreja não tinha outra cabeça além de Jesus.

Examinamos e comparamos as duas igrejas, apro- ximando-as uma da outra e honestamente, tanto quanto nos é possível fazer, somos levados a concluir que, dos seis grandes princípios de governo eclesiástico que encon­tramos na Igreja Apostólica, nem um sequer está presente no sistema episcopal da Igreja da Inglaterra. Inferimos portanto, que, conquanto a Igreja possa ser considerada em muitos aspectos, como um sistema humano, mantida por um Ato do Parlamento e contando em suas fileiras com muitas pessoas notáveis, não há qualquer base para consi­derarmos essa denominação como uma Igreja Apostólica, em termos de seu governo eclesiástico. Mesmo correndo o risco de sermos excomungados, sentimo-nos impelidos a declarar a nossa convicção de que o governo da Igreja Anglicana é inconsistente com a Palavra de Deus.6

6 O artigo VII de Constitutions and Canons Ecclesiastical, de acordo com autorização do rei em 1603, reeditada pelo Prayer-Book e Homily Society

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A IGREJA APOSTÓLICA

Congregacionalismo ou Governo Independente

É difícil averiguar as particularidades da ordem eclesiástica aprovada pelos independentes, visto que não sabemos se eles incluíram as suas idéias sobre o que as Escrituras ensinam a respeito deste assunto em alguma fórmula comum e, como cada congregação existe sepa­radamente, estas podem, às vezes, diferir grandemente umas das outras em pontos importantes. Temos, portanto, de descobrir as suas concepções sobre política eclesiástica a partir de práticas gerais que sabemos existir entre eles, bem como a partir dos princípios defendidos pelos seus escritores mais proeminentes. Esses princípios contudo, são suficientemente conhecidos para nos permitir com­parar o Sistema de Governo Independente com o modelo apostólico.

O princípio de eleição popular existiu na Igreja Primi­tiva como já notamos, tendo sido aprovado pelos apóstolos do Senhor. Entre os Independentes (também chamados de congregacionais ou congregacionalistas) esse principio é preservado em sua totalidade: entre eles cada oficial é escolhido pelo povo.

Na Igreja Apostólica o ofício de bispo e presbítero era a mesma coisa; o bispo não exercia qualquer autoridade sobre o presbítero; pois, cada bispo era um presbítero, e cada presbítero era um bispo. Acontece da mesma for­ma entre os Independentes. Cada um dos seus pastores preenche o oficio de bispo e presbítero, e nenhum deles

(1852) reza que: “Quem quer que, daqui por diante, afirme que o governo da Igreja da Inglaterra, exercido debaixo de Sua majestade pelos arcebispos, bispos, deões e por todos os seus outros oficiais, é anticristão ou abominável à Palavra de Deus, seja excomungado ipso facto, e assim continue até que se arrependa e se retrate publicamente de seus erros ímpios.”

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APLICAÇÃO DO TESTE

reivindica autoridade sobre os outros. Para eles, bispo e presbítero são apenas nomes diferentes para o mesmo oficio, a exemplo da compreensão reinante nos dias dos apóstolos.

Temos visto que na época dos apóstolos havia uma pluralidade de presbíteros em cada Igreja. Neste ponto reside a falha do Sistema Independente. Nos princípios desta teoria de governo de igreja, é muito difícil ter uma pluralidade de presbíteros e na prática é raro, se é que isto já aconteceu alguma vez*. Para eles há apenas um único ministro, ou bispo, em cada congregação. Praticamente o sistema deles admite apenas um presbítero para cada Igreja. Um apóstolo, escrevendo uma epístola para uma Igreja que pratica esse governo Independente, não poderia nem pensar em endereçar a sua carta para os bispos, nem para os diáconos, e isso pela simples razão de que, para eles, comumente há apenas um presbítero para cada Igre­ja; também um apóstolo não poderia nunca enviar uma carta para os presbíteros de uma Igreja cujo sistema de governo é o Independente, como Paulo fez para com os presbíteros de Éfeso, pela razão óbvia de que uma Igreja Independente tem apenas um presbítero. Apenas um pastor com diáconos sob a autoridade deste pastor, regendo uma Igreja, é a característica principal que os independentes apresentam em todos os lugares — uma compreensão que não poderia se opor mais à realidade de que havia uma pluralidade de presbíteros em cada congregação na épo­ca apostólica. Alguns Independentes tentam amenizar o distanciamento deles em relação ao precedente apostólico dizendo que a pluralidade de presbíteros é preferível, mas as Igrejas deles não são capazes de mantê-los. Será que os

* Atualmente existem várias igrejas Batistas Reformadas que possuem um conselho de presbíteros (Nota do Editor).

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A IGREJA APOSTÓLICA

nossos estimados irmãos não se dão conta do fato de que, sendo assim, deve haver uma grande disparidade entre o sistema apostólico e o deles, uma vez que as suas Igrejas mais ricas não podem possuir o que era possuído pelas Igrejas mais pobres dos dias dos apóstolos? É a Palavra de Deus que diz sobre Paulo e Bamabé: “Eles ordenaram presbíteros em cada Igreja” (Atos 14:23).

Os oficiais da Igreja Apostólica foram separados para o exercício de seus deveres peculiares pela imposição das mãos do presbitério. Para os Independentes, contudo, nenhum tipo de ordenação é essencial; isto é freqüen­temente considerado desnecessário. São conhecidos alguns exemplos de pessoas agindo como pastores por toda a sua vida sem jamais terem sido investidos ao ofício pela imposição de mãos e oração. Ordenação não é uma exigência deste sistema. Para eles, isto é apenas uma questão de gosto, que cada um deve arbitrar conforme preferir. Se um pastor recém-eleito desejar ser ordenado,' isso pode ser feito, mas de maneira inconsistente com os princípios Independentes. Uma vez que a congregação é destituída de uma pluralidade de presbíteros, a ordena­ção dele só pode ser levada a efeito pelo povo que não tem nenhum direito de fazer tal coisa, de acordo com as Escrituras, ou pelo pastor da Igreja mais próxima. Mas quem não percebe que esta prática está em completa de­sarmonia com o principio fundamental de Independência que ensina que cada congregação tem em si mesma todoo material necessário ao seu governo? Tanto este é o caso que, enquanto alguns pedem a assistência do pastor do bairro em alguma ocasião, aqueles que preferem prati­car o seu princípio Congregacionalista com um pouco mais de consistência fazem pouco caso de ordenação, acham que isso não é necessário, e acham melhor viver sem isso.

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APLICAÇÃO DO TESTE

Na Igreja Apostólica havia o privilégio de apelar para a assembléia de presbíteros. No sistema congregacional a decisão do pastor, dos diáconos e do povo, reunidos em as­sembléia, é a palavra final em cada caso. Não importa quão parcial ou injusta a decisão deles seja, não há possibilidade de apelar para que tal decisão seja reconsiderada em outra instância em que haja menos parcialidade. O julgamento da Igreja pode ser rigorosamente de acordo com a justiça, ou pode resultar de preconceito ou malevolência de uns poucos líderes da reunião, naturalmente com aparência de zelo pela pureza da comunhão e pela causa da religião; mas, não importa quão superficial a investigação seja, ou quão sério o erro seja, o fato é que este sistema priva a pessoa injustiçada do privilégio de apelar e investe os per­petradores de um poder irresponsável. Através da negação e do repúdio a um poder participativo, isto permite que os líderes ou governantes das Igrejas ajam como tiranos, privando assim os prejudicados de que as decisões injustas sejam corrigidas. “Independência,” diz o Dr. Wardlaw, “é a competência de cada Igreja, separadamente, administrar sem apelação, suas próprias causas ou situações”.7 Isto é um modo ingênuo de disfarçar a característica mais repulsiva deste sistema em apreciação. Poucas pessoas negariam que uma Igreja é competente para lidar com seus próprios assuntos, de forma que remova a necessi­dade de apelação; porém, o que estamos afirmando é que, quando uma Igreja necessita de sabedoria e discrição no trato de suas questões internas não é permitido apelar, no âmbito dos Independentes; resultado, a pessoa injustiçada é privada do direito de recorrer e o poder, pelo qual o seu detentor é responsável para com o homem, degenera-se em

7 Congregational Independency, por Dr. Wardlaw. Página 232. Glasgow, 184B.

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A IGREJA APOSTÓLICA

I iranía c despotismo quando este não é exercitado de forma sábia c coerente, não havendo, então, nada que lhe esteja acima em termos de instâncias eclesiásticas humanas. O caso de Antioquia mostra que, quando uma contenda se levantava na Igreja Primitiva, havia o direito de levar a questão para a assembléia dos presbíteros (o presbitério), os quais, sob a direção dos apóstolos, resolviam a situ­ação. Presbíteros ainda podem se reunir e todos podem ter acesso à palavra escrita dos apóstolos, de forma que a tomada de decisões por pessoas que não estão ligadas diretamente ao lugar onde a controvérsia foi levantada, não influenciados por preconceitos locais, não estando, portanto, inclinados a nenhum partidarismo, pode existir, assim como nos tempos antigos, para resolver dissensões, se estas, infelizmente, aparecerem. Mas, quanto a isto, os Independentes repudiam o exemplo apostólico. O prin­cípio é renegar qualquer reconhecimento de autoridade externa, de forma que a decisão tomada na assembléia' da Igreja seja a palavra final, rejeitando-se assim, o privi­légio de apelar ou recorrer por parte daqueles que foram injustamente afetados.

O fato de Cristo ser a cabeça era o princípio dos tempos apostólicos. Temos a satisfação de dizer que os Independentes reconhecem este princípio em sua inte- gralidade.

O resultado de nossa comparação é que há três princí­pios da Igreja Apostólica que encontramos integralmente na compreensão de governo de Igreja dos nossos irmãos Independentes, a saber: eleição popular; a identidade de presbítero e bispo; e o reconhecimento de que Cristo é a cabeça da Igreja. Contudo, há três princípios apostólicos que não encontramos no sistema deles, quais sejam: a pluralidade de presbíteros em cada Igreja; ordenação com a imposição de mãos pelo presbitério e o privilégio

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APLICAÇÃO DO TESTE

de apelar ou recorrer. Portanto, concluímos que, embora o sistema de governo Independente seja mais próximo do padrão dos tempos primitivos do que as Igrejas de Roma e Episcopal, ele ainda não é o sistema apropriado para reivindicar o precedente da Igreja Apostólica.

P r e s b i t e r i a n i s m o

Agora resta apenas que comparemos o sistema Pres­biteriano com o modelo da lei e do testemunho, ou seja, o modelo apostólico. O termo Presbiteriano é derivado da palavra presbitério, devido ao fato de que a principal característica dessa forma de governo eclesiástico é que ela confia ao presbitério o dever de reger a Igreja. A Igre­ja é, pois, regida pelos presbíteros (docentes e regentes) reunidos em concílios. Mas, comparemos este sistema ao modelo bíblico como já fizemos com os outros.

Na Igreja Apostólica, como já mencionamos diversas vezes, a eleição popular era um fato inquestionável. Assim também acontece no meio presbiteriano. Em todas as Igre­jas da Grã-Bretanha, dos Estados Unidos, com exceção apenas da Igreja Estabelecida da Escócia, os membros de cada congregação invariavelmente elegem seus próprios oficiais. Às vezes, tem-se abusado desse privilégio, mas qual a coisa boa da qual os homens, pelo seu próprio pecado e paixões tolas não têm abusado? Contudo, é um privilégio escriturístico que a Igreja Apostólica nos lega, e os presbiterianos têm mostrado que consideram isso mais importante do que ouro.

Na época primitiva o ofício de bispo e presbítero eram idênticos, eram termos intercambiáveis. Um presbítero não era inferior, em termos da sua posição oficial, ao bispo, nem o bispo ao presbítero. Esta é também a compreen­são da Igreja Presbiteriana. Cada presbítero é um bispo

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ou supervisor do rebanho; e cada bispo é um presbítero cujo ofício é governar a casa de Deus. Há dois aspectos no ofício de presbítero — o docente e o de regente, mas o ofício em si mesmo é apenas um.

Havia uma pluralidade de presbíteros ou bispos em cada congregação da Igreja Apostólica. Esta é a prática de cada Igreja Presbiteriana da atualidade. Há em cada congregação um número de pessoas ordenadas para o ofício do presbiterato, entre as quais, pelo menos uma, dedica-se ao trabalho do ministério sagrado em seus vários aspectos, particularmente o da instrução pública, enquanto os outros se ocupam da regência da Igreja de Deus. Docência e regência são, como acabamos de afirmar, aspectos diferentes do mesmo oficio; embora não deva haver nenhuma dúvida de que aqueles que são eleitos para o oficio têm o direito de ocupar-se dos dois aspectos do ofício de presbítero, contudo, na prática é mais convenien­te e benéfico para o povo que cada presbítero conceda o máximo da sua atenção ao aspecto para o qual ele está mais qualificado a desempenhar. Todos os presbíteros, sendo bispos, têm direitos iguais de acordo com as Escrituras, de pregar, batizar, ministrar a Ceia do Senhor, ordenar,8 mas estes deveres são dispostos de forma a recair sobre um dos presbíteros, distintamente chamado de ministro, o qual é especialmente treinado para o seu trabalho e é, pelo consentimento geral, reconhecido como aquele que tem mais dons e habilidades, sendo, em conseqüência, o mais qualificado para ministrar as ordenanças, edificando a Igreja; enquanto a maioria dos presbíteros apenas admi­nistra, visita os doentes, superintende a escola dominical,

8 Não deve haver dúvida quanto ao fato de que, na Igreja Presbiteriana, so­mente aqueles que são licenciados ou ordenados pelo presbitério ao Sagrado Ministério podem ministrar os sacramentos.

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conduze reuniões de oração e serve de outras formas necessárias. Os presbiterianos, portanto, mantêm uma pluralidade de presbíteros em cada Igreja e, a exemplo dos dias apostólicos, é comum entre eles que os presbí­teros regentes não trabalhem no ministério específico da Palavra e doutrinação. Qualquer pessoa honesta verá a partir de I Timóteo 5:17 que o presbiterado dividia-se em dois aspectos importantes nos tempos primitivos, e isso é mantido até hoje. “Devem ser considerados merecedo­res de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”. O comentário do Dr. King sobre esse texto deve, pelo seu bom-senso e veracidade, apelar a qualquer homem inteligente: “Estas palavras”, ele diz, “poderiam sugerir a um leitor imparcial somente um significado, ou seja, que todos os presbíteros que regem bem são dignos de dobrados honorários, mas especialmente aqueles que, entre eles, além de regerem bem, também trabalham na palavra e na doutrina. Naturalmente, a passagem sendo assim interpretada, mostra que entre os presbíteros que regem bem, apenas alguns trabalham na palavra e na dou­trina, isto é, existem presbíteros regentes e, entre estes, há presbíteros docentes, como nós os temos na atualidade”.9 Assim, somos levados a inserir a verdadeira exposição des­ta celebrada passagem, da qual temos sido freqüentemente acusados pelos nossos oponentes de fazer interpretações grotescas e extravagantes. Mas o leitor não pode furtar-se de observar que no momento, o ponto que temos em mente, particularmente, é que a Igreja Presbiteriana, a exemplo da Igreja Apostólica, tem uma pluralidade de presbíteros em cada congregação.

9 King, op. cit., página 115.

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Oficiais eram separados para as suas esferas distintas de atividade na Igreja Apostólica pela imposição das mãos do presbitério. A Igreja Presbiteriana em seus vários ramos, pelo que sabemos, é a única que invariavelmente coloca em prática este princípio bíblico.

Na Igreja Apostólica foi reconhecido o privilégio de apelar ou recorrer e o direito de governo. Este privilégio não é somente aceito, mas é uma das principais características do Presbiterianismo. No caso de algum problema surgir na Igreja, os membros são competentes para resolvê-lo; mas, se não o resolverem, é igualmente apropriado que levem a questão ao presbitério a fim de pedir conselho ou que os membros do presbitério tomem uma decisão. O concilio eclesiástico mais alto é o Presbitério; Sínodo é o nome dado, comumente, ao presbitério de um estado ou de uma grande área; e a Assem bléia Geral10 é o nome dado ao presbitério de uma nação. A Assembléia Geral exerce jurisdição sobre o Sínodo apenas porque é um presbitério maior. Portanto, a subordinação de um concilio em rela­ção a outro sobre a qual alguns amigos precipitados do presbiterianismo se referem como sendo a característica principal do sistema, é uma simples e acidental questão de organização que, segundo a experiência nos mostra, produz união e fortalecimento; mas, a subordinação à que se referem, não é de forma alguma essencial à existência do sistema. O fato de que a denominação sem Sínodo ou Assembléia Geral e sem possuir nenhum outro concilio eclesiástico exceto o presbitério de uma área ser, contudo, um corpo presbiteriano completo, prova isto. Mesmo no caso de haver apenas um presbitério ao qual a congregação possa submeter um apelo ou a apreciação de uma questão,

10 O termo “Assembléia Geral” parece mais apropriado ao designativo “Su­premo Concilio” (Nota do Tradutor).

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o princípio apostólico é preservado. Nem mesmo é certo que a representação (sistema representativo) seja a princi­pal característica deste sistema, embora representação seja eventualmente uma de suas implicações. Há representação quando uns poucos oficiais, escolhidos pelo povo desde o início de seus ofícios decidem por muitos outros. Nem todos os oficiais têm o privilégio de ser escolhidos para os concílios mais altos porque, embora todos sejam presbíte­ros, ou seja, iguais quanto à posição oficial que ocupam e tendo naturalmente direitos iguais quanto a tomar assento no presbitério, contudo, por uma questão de conveniência, a prática é que apenas alguns deles exerçam esse direito ao mesmo tempo. Na Igreja Presbiteriana da Irlanda, o costume que tem sido adotado já por bastante tempo é que o presbítero docente ou ministro e um presbítero regente de cada Igreja tomem assento no presbitério. A experiência tem apenas confirmado as vantagens de proceder dessa forma. O resultado dessa disposição ou organização é que uma eventual representação ocorre, e este sistema desfruta todas as suas vantagens. No entanto, dizer que isto é o principal pilar do sistema Presbiteria­no é, em nossa opinião, contrário aos fatos inerentes ao caso. Se as normas do presbitério fossem tão elásticas a ponto de dar assento a todos os presbíteros em nossos concílios eclesiásticos, isto seria em grande medida, acabar com a representatividade e, por várias razões não seria sábio, mas não abalaria um único pilar do sistema. Nesse ínterim, o que quer que pensem sobre o princípio de representação e subordinação dos concílios eclesiás­ticos, não deve haver dúvida de que a forma de governo Presbiteriano, a exemplo da Igreja Apostólica, assegura ao povo o direito de apelar ou recorrer ao presbitério e garante ao presbitério o direito de governar — um privilégio que, até onde sabemos, não é desfrutado por

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nenhuma outra denominação que não seja, em termos de governo, a Presbiteriana.

Na Igreja Apostólica, o Senhor Jesus sozinho era o Rei e Cabeça. Esta é uma verdade reconhecida e, praticamente, aceita por todos os Presbiterianos, excetuando-se apenas alguns poucos que, devido à sua conexão com o estado, têm sido acusados de se desviarem desse principio.11 Todas as Igrejas Presbiterianas têm em altíssima conta, bem como entre os seus princípios mais distintivos, o fato de que Cristo somente é o Rei e Cabeça da Sua Igreja. Na qua­lidade de denominação, os presbiterianos têm defendido sempre que a Igreja, independentemente dos governantes civis, tem jurisdição suprema sobre todas as questões es­pirituais e que os seus oficiais têm a obrigação de exercer essa jurisdição em conformidade com a mente de Cristo, tal como esta expressa em Sua Palavra. A doutrina de que Cristo é a Suprema Cabeça da Sua Igreja é sempre defendida ardorosamente pelos presbiterianos.

Assim pois, através de paciente e cuidadoso exame, vemos que os seis princípios de governo mais importantes estabelecidos na Igreja Apostólica por homens inspira­dos, são todos reconhecidos e observados e praticados entre os Presbiterianos. Não conhecemos nenhuma outra denominação no mundo sobre cuja forma de governo eclesiástico possa ser feita a mesma afirmação sem que haja um desvio da verdade.

O R e s u l t a d o

Aqui, então, está o resultado de nossas investigações e comparações. A Palavra de Deus contém seis grandes

11 Possivelmente, esta é uma alusão a alguns na Igreja Presbiteriana da Escócia naquela época. (Nota do Tradutor).

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princípios bem definidos de governo que estavam pre­sentes na igreja plantada e organizada pelos apóstolos inspirados do Senhor. Todas as Igrejas modernas existentes reivindicam ser apostólicas e, com exceção das Igrejas Grega e Romana, professam adotar as Escrituras como única regra de fé e prática. Mas, comparando o sistema Episcopal da Igreja da Inglaterra com o modelo da Pa­lavra de Deus, percebemos que naquela Igreja nenhum dos princípios apostólicos de governo é praticado ou reconhecido. Entre os Independentes, três dos princípios apostólicos estão presentes e em vigor; os outros três estão ausentes. Entre os Presbiterianos, estes seis princípios são todos reconhecidos e cada um deles é uma característica principal do sistema Presbiteriano. Agora lembramos ao leitor do axioma com o qual encetamos a nossa inves­tigação: A Igreja moderna que adere em sua form a de governo aos princípios apostólicos está muito próxima da Igreja Apostólica em termos de governo. Ao aplicar­mos este axioma à resolução dessa questão concluímos que enquanto o Prelado ou Episcopalismo de Roma e da Inglaterra está em franca oposição à forma de governo que foi sancionada por homens inspirados e conquantoo Sistema Independente se aproxime mais, não obstante a contrapartida de estar aquém do modelo primitivo, o Sistema Presbiteriano é, em termos de governo, a única Igreja Apostólica.

Na verdade estamos muito longe de afirmar que al­guma Igreja na terra seja em tudo um exemplo exato do modelo apresentado na época primitiva. Não é necesário muito esforço mental para notarmos que a Igreja Apostó­lica das Escrituras é totalmente singular — uma que em todos os seus aspectos nunca vai existir neste mundo nova­mente. Nela havia apóstolos, profetas e representantes dos apóstolos — todos revestidos de poderes extraordinários

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que não foram legados a nenhum sucessor. Era bastante comum aos primeiros pregadores a operação de milagres para a confirmação de sua doutrina e concessão do Espírito Santo pela imposição das suas mãos. Algumas vezes, na mesma congregação havia vários irmãos que possuíam dons, podendo olhar para o futuro com olhos proféticos e declarar infalivelmente a mente de Deus. Na Igreja de Jerusalém, organizada pelo inteiro colégio dos apóstolos, e a mãe de todas as outras igrejas, foi estabelecido um centro de assistência ao necessitados; era uma coisa bastante co­mum para o povo daqueles dias quando os seus corações estavam aquecidos pelo primeiro fulgor do amor de Jesus Cristo, vender todas as suas propriedades e colocar a renda aos pés dos apóstolos. Não se construíam prédios públi­cos para a celebração da adoração cristã durante a época apostólica; e os pregadores públicos, em vez de limitar o seu ministério a um bairro pequeno ou país, dirigiram-se a todos os lugares pregando a Palavra. Estas são coisas das' quais nenhuma denominação que conhecemos tem sido capaz de imitar da Igreja Apostólica, nem é provável que isso venha a ser feito.

E mais, há convenções, algumas das quais não são im­portantes, mas que estão intimamente ligadas ao Sistema Presbiteriano, para as quais, seria difícil achar precedentes nas Escrituras. Já advertimos quanto à representação — a prática de um ou dois presbíteros representarem seus ir­mãos presbíteros em nossas reuniões de presbitério— uma convenção que se baseia mais no senso comum do que nas Escrituras, e que foi adotada para impedir que uma dada congregação exerça uma influência preponderante e assegurar, tanto quanto possível, que haja deliberações tranqüilas e sentenças imparciais. Se pudéssemos ter em nossos concílios a presença pessoal de apóstolos inspi­rados para guiarem os irmãos quanto às decisões mais

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acertadas a serem tomadas, temos certeza de que tudo transcorreria muito bem, e não deveríamos ser tão solícitos quanto à representação; mas, uma vez que a humanidade está muito distante de ser perfeita, é bom que se previna contra abusos e excessos para coibir o exercício arbitrário do poder. Não há melhor plano para se realizar isso e para assegurar ao mesmo tempo a confiança das pessoas do que a representação. Já falamos também da subordinação dos concílios eclesiásticos, uma convenção estabelecida para promover o princípio da apelação, onde podemos recorrer das decisões e que não somente gera unidade na denominação e a fortalece, mas também tem muitas outras vantagens. A utilidade desses dois princípios é indubitável, mas seria vão e sem propósito dizer que eles são essenciais ao Sistema Presbiteriano.

Não é incomum ouvir pessoas falarem sobre as vanta­gens do Sistema Presbiteriano por ele admitir o elemento leigo em seus concílios eclesiásticos. Isto é um grande mal-entendido. Ninguém mais, exceto os presbíteros — presbíteros docentes e regentes — estão habilitados á tomar assento em qualquer concilio presbiteriano, do con­selho de uma igreja à Assembléia Geral e, como já vimos, todos os presbíteros são iguais em termos da posição que ocupam, embora as suas esferas de atuação, em algumas coisas, sejam diferentes, contudo, o oficio é um e o mes­mo. Nenhum presbítero, seja este docente ou regente, é leigo, mas um oficial eclesiástico que foi ordenado com a imposição de mãos do presbitério e designados a supervi­sionar o rebanho quanto ao desempenho de seus deveres espirituais. Muito menos um presbítero toma assento em um concilio eclesiástico para defender o laicato. Ele re­presenta o laicato tanto quanto o ministro os representa; ambos são escolhidos pelo povo e ambos preenchem a posição de oficiais da Igreja; a única diferença entre eles é

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em termos de formação, de trabalho e de recompensa. Tal entendimento só será possível se considerarmos o fato de que a maioria dos presbíteros está engajada em serviços seculares. Mas deve ser lembrado que todos os ministros no início tinham esse perfil. Até mesmo o apóstolo Paulo trabalhou secularmente pela sua própria subsistência, como ele repetidamente nos informa (Atos 20:34; 18:3;I Cor. 4:12; I Tess. 2:9; II Tess. 3:8); e isso foi parte da instrução de Paulo aos bispos de Éfeso, que,“trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados” (Atos 20:35). Se a procura de emprego secular for uma prova de que os nossos presbíteros são leigos”— então, os bispos de Éfeso eram leigos e o apóstolo dos gentios era leigo também. É igualmente inútil argumentar que, como os irmãos estavam presentes no concilio de Jerusalém (Atos 15:23), o laicato tem direito de ser representado e é representado pelos presbíteros em nossos concílios eclesiásticos; pois, como é sabido de todos, presbíteros e irmãos estavam ambos presentes naquele concilio e, portanto, um não poderia ter representado o outro — cada grupo teve o seu próprio lugar e função. Presbíteros tomam assento de acordo com a sua posição de presbítero na casa de Deus. Não há em nossos concílios eclesiásticos nem leigos representantes e nem presbíteros representantes, termos inventados pela ignorância e preservados pela malevolência a fim de trazer desprezo e descrédito ao ofício.

É, contudo, bom que se diga claramente que tais no­ções grotescas de ordem eclesiástica, como esses termos re­velam, têm recebido aceitação a partir da disparidade que no decurso do tempo têm se levantado entre os presbíteros docentes e regentes. Essa disparidade não é o resultado de nenhuma decisão eclesiástica mas era no princípio, e ainda é, o efeito principalmente da diferença de dons. O mais dotado dos presbíteros era, no inicio, designado a pregar

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e o que no início era apenas uma diferença de dom, tor­nou-se no decorrer dos anos uma diferença de hierarquia. Aqui somos lembrados da consideração verdadeira do Dr. Campbell: “O poder tem um tipo de força de atração que só tende a acumular; aquilo que a princípio era apenas uma distinção quase imperceptível, toma-se com o passar do tempo, numa das mais notáveis disparidades”.

A discrepância existente entre presbíteros docentes e regentes no meio presbiteriano, em vez de defendida, deve ser lamentada e o tanto quanto possível, ser removi­da. Isso deve ser feito sem contudo rebaixar o presbítero docente, mas elevando o presbítero regente e indicando para o ofício somente aqueles que se distinguem do povo por terem realmente dons, que sejam conscientes com as responsabilidades do presbiterato e que estejam determinados, pela graça do Senhor, a desempenhar as suas atividades da melhor forma possível. Além disso, o ofício de diácono, o qual é realmente exercitado apenas em algumas congregações, deve ser avivado em cada congregação onde os presbíteros não podem cuidar de questões temporais sem negligenciar as questões espiri­tuais que são a sua preocupação peculiar. Esses e outros defeitos podem ser remediados, uma vez que sejam vistos como defeitos; pois, esta é uma das muitas outras reco­mendações da política eclesiástica presbiteriana, ou seja, este sistema possui em si mesmo um poder purificador e reformador pelo qual, ao mesmo tempo em que preserva os princípios Escriturísticos e essenciais do sistema, pode alterar qualquer disposição que a experiência revele, pelo seu uso prático, não produzir o bem.

Não afirmamos, então, que a Igreja Presbiteriana seja em tudo igual à Igreja Apostólica. Há algumas coisas que encontramos em uma que deve sempre estar faltando na outra e vice-versa; há algumas coisas faltando em uma

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que são encontradas na outra. Mas, em termos de dou­trina, elas são exatamente iguais; são exatamente iguais na adoração;12 em termos de governo; todos princípios mais importantes de uma são encontrados na outra. Não há nenhuma outra Igreja na terra sobre a qual se possa afirmar isso sem que se fuja à verdade. Consideramos, portanto, conforme exposto acima de qualquer dúvida razoável, que, de todas as Igrejas existentes no mundo, a Igreja Presbiteriana é a que mais se aproxima do modelo dos tempos apostólicos. Todo aquele que, cuidadosamen­te e sem preconceitos considerar a evidência dos fatos aqui apresentados, deverá — segundo pensamos — ser convencido.

12 O autor tinha em mente a igreja Presbiteriana da sua época (Nota do Editor). Com raras exceções a afirmação não pode ser aplicada a Igreja no Brasil, visto que esta necessita urgentemente de reforma. (Nota do Tradutor)

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Capítulo IV

L iç õ e s P r á t ic a s

Os princípios apostólicos de governo eclesiástico são as características do Sistema Presbiteriano. O

fato de que nenhuma outra Igreja reconhece ou pratica esses princípios é a razão por que os Presbiterianos estão separados delas.

Não conheço outra razão para que eu seja presbi­teriano, e não Independente, senão o fato de acreditar que o Presbiterianismo tem feito o que o sistema rival tem falhado em fazer, ou seja, preservar os princípios apos­tólicos de governo; e, por essa razão, está fundamentado em uma grande quantidade de textos bíblicos (sem falar de sua unidade, coerência e vigor), o que não pode ser dito sobre o Sistema Independente. A ausência desses princípios apostólicos no Sistema Episcopal deve manter os presbiterianos mais atentos e conscientemente distantes de qualquer inclinação para este sistema, independente­mente das modificações introduzidas em seus artigos ou das mudanças que sejam feitas em seus rituais.

Se os nossos princípios distintivos não fossem apos­tólicos e relevantes, o Presbiterianismo não seria apenas uma tolice, mas uma grande tolice; e a nossa separação das outras denominações visando a preservação dos prin­cípios apostólicos, seria apenas a perpetuação de divisões desnecessárias na Igreja de Deus. Se descobríssemos que as peculiaridades do sistema não fossem verdadeiras ou que fossem apenas verdades sem muita importância, de­

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veríamos nos apressar em sanar o cisma que existe e dar um exemplo de unidade cristã em larga escala pela união com algum grupo co-irmão, cujos princípios fossem mais bíblicos e importantes do que os nossos. Mas, se por outro lado, os nossos princípios distintivos são tão importantes quanto verdadeiros, então, o compromisso para com Deus e para com a Igreja exige que os confessemos, que os defendamos e que os tornemos conhecidos ao mundo.

Os presbiterianos da atualidade, pelo contrário, pa­recem bastante remissos quanto ao desempenho desses deveres. Como denominação, não mostramos nenhum desejo de renunciar aos nossos princípios distintivos e de aderir ao Sistema Episcopal ou ao Sistema Independente; mas, por outro lado, não temos nos esforçado para ensinar e propagar os referidos princípios como se deve esperar dos detentores da verdade. O fato de termos tirado o nome e o caráter de nosso sistema eclesiástico desses princípios parece dizer ao mundo que tais princípios são de grande importância; pelo fato de sermos habitualmente reserva­dos em nossas pregações quanto a este assunto, dizemos ao mundo que esses princípios tem pouca importância. Nossa conduta tem sido, em relação a isto, ambígua e vacilante. O que fazemos com uma, desfazemos com a outra. Baseados em certos princípios, nos distinguimos de outros grupos cristãos; porém, ensinar esses princípios dos nossos púlpitos é visto como uma coisa inconsistente com o Evangelho. Nossa existência como Igreja separada reveste as nossas peculiaridades com implicações sérias; nosso habitual esquecimento quanto à necessidade de apresentar estes princípios ao povo, aprofunda, se é que não produz, a noção popular de que eles não têm qualquer implicação e não são importantes.

A exposição que fizemos acerca dos nossos princípios é dificilmente apresentada dos nossos púlpitos, e é um

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LIÇÕES PRÁTICAS

fato que poucos dos que estão a par das circunstâncias se aventurariam a negar. Eu mesmo passei anos em várias Igrejas Presbiterianas. Nunca deixei de ouvir a pregação do Evangelho de Jesus Cristo, nem dos grandes preceitos de moralidade cristã pregados pelos nossos ministros, que os enfatizam sempre com grande fidelidade e, algumas vezes, com grande poder; mas eu não lembro de ter jamais ouvido, exceto por ocasião da instalação de um ministro, nenhuma tentativa de ensinar ao povo a razão pela qual eles devem ser presbiterianos e não prelatistas ou episcopais — e, contudo, eu nunca fui adorar em locais onde não houvesse outra igreja presbiteriana distante mais que 5 quilômetros. Tenho encontrado muitos outros que têm passado toda a sua vida em Igrejas Presbiterianas e não lembram de terem ouvido em nenhum Dia do Senhor um único princípio de governo eclesiástico Presbiteriano ser afirmado e expli­cado. O [livro] — Plea ofPresbytery (Apelação em favor do Presbiterato), uma das melhores defesas do governo eclesiástico apostólico e adoração que já foi produzido no presente século, atesta o fato singular de que há um silêncio sepulcral em nossos púlpitos quanto aos nossos princípios distintivos. No prefácio da referida obra, os seus autores fazem as seguintes observações: “Será que o senhor Boyd pode apontar um único ministro em Ulster que tenha anteriormente pregado por quatro domingos consecutivos sobre as peculiaridades do Presbiterianismo? Será que ele pode dizer o nome de pelo menos um ministro presbiteriano que tenha anteriormente aproveitado um único domingo para discutir esse assunto? Estamos mais do que convencidos de que ele não poderia apresentar um único caso que pudesse defender a provocação dessa controvérsia”. Em tudo isto deve haver algumas honrosas exceções, mas mesmo assim, não se pode negar que a exposição de nossa política eclesiástica tem, em geral, se

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tornado fora de moda e ineomum. Mesmo por ocasião de cerimônias de ordenação, a ausência da explanação dos nossos princípios já se faz sentir — pois isso, segundo alguns pensam, é inconsistente com a liberalidade destes tempos modernos — princípios que têm sido praticados desde os dias dos apóstolos; os quais têm sido rejeitados por um pessoal “equilibrado” que almeja, a qualquer pre­ço, passar por bom diante da sociedade; temendo, desta forma, que as pessoas se ofendam ao ouvirem a verdade. Esses tais desejam que o ensino das verdades do Sistema Presbiteriano em tais ocasiões seja abolido inteiramente ou, o que significa a mesma coisa, que sejam amenizados ao ponto de poderem agradar a gregos e troianos. As edi­toras presbiterianas raramente publicam um livro com os seus princípios, a menos que, alguém animado pela nossa apatia, seja suficientemente ousado para atacar o nosso sistema; e, então, algum presbiteriano corajoso, vestido de sua armadura de batalha, desce ao campo da controvérsia, mas, antes que arremesse o seu golpe, ele toma o cuidado de se desculpar diante do público pela sua intromissão alegando que está apenas se defendendo — o que é o mes­mo que dizer que ele não teria se preocupado em dizer a verdade ao mundo se não tivesse sido provocado primeiro. Essa confissão sincera prepara o leitor, logo no começo, a considerar o ardor do zelo do escritor apenas como uma ebulição de indignação pessoal e os golpes mais afiados de sua lógica apenas como a ferroada venenosa de uma retaliação sectária.

As causas desse silêncio condenável são múltiplas. Não acredito que estejamos envergonhados de nosso Presbiterianismo, mas é essa a impressão que temos. O fato, contudo, é que alguns ministros jamais voltaram a sua atenção direta e particularmente para a grande im­portância de deixar o povo a par dos fundamentos que

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separam os Presbiterianos dos outros grupos cristãos; e o reconhecimento de que esses princípios são importantes para produzir consistência de conduta e para perpetuar a nossa existência denominacional. Outros mantêm silêncio, pois revelar fortes laços com os princípios Presbiterianos soa como intolerância e falta de caridade, sem falar que isso pode parecer ríspido para com a heresia evangé­lica tão popular em nossos dias, ou seja, que todas as denominações protestantes são igualmente verdadeiras, merecendo, destarte, o apoio e a simpatia dos cristãos. No entanto, a principal razão para o silêncio dos púlpitos sobre esse assunto é a impressão predominante entres os ministros de que nossos princípios distintivos são tão cla­ros nas Escrituras a ponto de serem evidentes para todos e que, portanto, a defesa pública do Presbiterianismo é desnecessária. Estou persuadido de que isso é um engano clerical que chega a ser grosseiro e gigantesco. Os princí­pios Presbiterianos são, na verdade, claramente ensinados nas Escrituras, mas não nos esqueçamos de que o que é claro para um homem pode ser muito obscuro para outro. A mente popular, tão aguda e perspicaz nas coisas do dia- a-dia, é embotada quanto às coisas de Deus, a ponto de precisar de direção e instrução em cada passo que dá, a fim de que possa alcançar compreensões corretas quanto às questões espirituais. Eu acredito que a mensagem do Evangelho é mais clara ainda do que os princípios do Sis­tema Presbiteriano, no entanto, não é incomum encontrar pessoas que têm lido á Bíblia desde que eram crianças, líderes religiosos cujo trabalho é pregar e escritores que têm tentado instruir o mundo em questões de religião, que igualmente ignoram os princípios fundamentais do Evangelho do Senhor Jesus. Assim como não seria sábio para os pregadores da Cruz deixarem o povo descobrir o Evangelho na Bíblia por eles mesmos, também não é sábio

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deixar o povo sem assistência em sua procura por princí­pios de governo presbiteriano. Alguém que seja mais bem treinado intelectualmente do que nós, em poucos minutos poderia mostrar-nos o sentido para o qual nunca teríamos atinado por nós mesmos, de forma que ficamos pensando por que lemos esta mesma passagem tantas vezes e nunca conseguimos perceber a sua beleza e veracidade? Além disso, parece claro que, se governo eclesiástico é uma porção da vontade revelada de Deus, cada ministro fiel tem a obrigação de separar em sua escala de pregação um espaço proporcional à importância desse assunto, de forma que o povo não seja privado de ouvir sobre esses princípios; pois há uma necessidade peculiar de que, neste departamento, o povo receba a assistência do ministro, isso porque, em lidando com o sistema apostólico, é trabalhoso coletar as passagens, comparar os fatos e fazer deduções e inferências, tarefa cujo exercício poucas mentes, deixadas ao seu próprio esforço e capacidade, conseguiriam ser suficientemente zelosas no seu cumprimento. E quem é que tem o dever de ajudar, se não o próprio ministro, o qual foi chamado pelo Espírito Santo e escolhido pelo povo para trabalhar na palavra e no ensino? “Os lábios do pastor devem guardar o conhecimento e eles devem procurar a lei em sua boca”.

Qualquer que seja a causa para o silêncio dos púl­pitos sobre os princípios característicos do Sistema Pres­biteriano, os tristes resultados disso são manifestos todos os dias. Os poucos inteligentes que estão familiarizados quanto aos nossos princípios, têm tirado o seu conhe­cimento da Bíblia e de outros livros, pois muito raramente têm aprendido algo sobre isso diretamente dos púlpitos; enquanto muitos, uma vez que são completamente desi- nformados quanto a esses princípios, agem de forma a violá-los abertamente. Muitos freqüentam reuniões porque

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LIÇÕES PRÁTICAS

estão acostumados a fazer isto desde que eram crianças, não porque tenham alguma vez pensado sobre os prin­cípios peculiares do Sistema Presbiteriano e, a partir de um exame da Palavra de Deus, tenham se convencido de sua veracidade. Eles são presbiterianos por nascimento e por hábito apenas, raramente por convicção. Não sendo sistematicamente ensinados que os princípios de gover­no praticados em sua própria Igreja são exclusivamente apostólicos, muitos entre o povo presbiteriano parecem considerar todas as Igrejas Protestantes como estando no mesmo nível de verdade; não se preocupam com formas de fé; aos olhos deles a Confissão de Fé de Westminster e os Trinta e Nove Artigos são a exata cópia um do ou­tro; os sistemas Episcopal, Independente e Presbiteriano são iguais para eles — pretender ver a diferença que há entre eles é apenas fanatismo. Opiniões desse tipo são agora altamente comuns ao ponto de ninguém demonstrar interesse em refutá-las, especialmente os presbiterianos ricos, os quais se inspiram em alguma forma antiga de rejeição do Sistema13. Também é surpreendente que muitos outros que não têm nenhuma intenção de considerar os princípios Presbiterianos como uma porção da Revelação Divina, estão cercados por circunstâncias que os levam a aprofundar a impressão de que todas as formas de Fé Protestante são igualmente bíblicas; esses tais continuam na Igreja apenas pela força do hábito ou por amizade para com algum ministro digno e estão dispostos a abdicar da confissão nominal que fazem dos princípios apostólicos tão logo surja uma separação da Igreja Presbiteriana que possa favorecer aos seus interesses mundanos, agradar aos que podem beneficiá-los, saciar os seus instintos ou satisfazer os seus caprichos.

13 Refere-se á Igreja Oficial da Inglaterra.

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Não há dúvida de que a ignorância quanto à funda­mentação bíblica e o valor destes princípios têm feito com que a comunidade Presbiteriana se tome muito fria e apática para com a sua própria Igreja, mais do que, de outra forma, poderia ser, Tenho freqüentemente ressaltado como os católicos romanos, os metodistas ou batistas, cada um deles, pensa sobre as suas respectivas igrejas como sendo as melhores e mais puras do mundo; enquanto que os presbiterianos são comum ente pessoas que consideram qualquer outra Igreja Protestante como sendo, pelo menos, tão boa quanto a sua própria Igreja. É essa convicção popular que tem cooperado para que muitos deixem a Igreja Presbiteriana em Ulster. Alguns grupos cristãos esforçam-se por difundir a idéia de que as diferenças entre as Igrejas Protestantes não têm importância; os que fazem isso têm pouco a perder e muito a ganhar pela difusão dessa idéia mentirosa. Cada ministro deles que esteja a par de sua tarefa é, natural e indubitavelmente, uni defensor ardoroso e consciente da aliança entre as igrejas protestantes.14 O clero episcopal também, com raríssimas exceções, faz o possível para difundir a mesmíssima idéia entre os Dissidentes, porque isso lhes dá acesso mais livre para propagar o puseísmo15 no âmbito das famílias presbiterianas; e isso porque eles são espertos a ponto de perceber que, em usando dessa artimanha em sua geração, quando a mente dos presbiterianos se tomarem saturadas

14 Guardando as devidas proporções, esta observação do autor atingiu o seu clímax no moderno movimento ecumênico das Igrejas Cristãs.15 O termo deriva do nome de E. B. Pusey (1800-1882), líder do movimento de Oxford, cujo intento era, através de folhetos religiosos, interpretar os Trinta e Nove Artigos numa perspectiva “católica” . “Movimento ritualístico iniciado pelo teólogo inglês Edward Pusey (1800-1882), que aproximou do catolicismo uma parte da Igreja anglicana””— Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI — Vrs. 3.0 (Nota do Editor).

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desse sentimento, então, não haverá nenhuma diferença entre as duas Igrejas; a isso seguir-se-á o questionamento: Por que estamos exigindo tanto de nós mesmos por nada? Por que sustentar financeiramente uma Igreja separada? Por que não nos filiarmos à Igreja do Estado? Se o fato de estarmos perdendo membros nos aborrece, não podemos culpar ninguém, senão a nós mesmos. Se fôssemos fiéis aos nossos próprios princípios, o povo nos seria fiel. A indiferença reinante em relação ao presbiterianismo que a nossa instrução deficiente tem causado, tem nos dei­xado vulneráveis às investidas de qualquer outro grupo cristão; até mesmo os menos ortodoxos sempre contam com o apoio e a cooperação de muitos de nós. Isso tem tornado a Igreja Presbiteriana da Irlanda uma espécie de “reserva” eclesiástica, onde os papistas não podem ousar colocar os pés, mas qualquer atirador que use a máscara de protestante é livre para desferir os seus tiros como melhor lhe aprouver. Que a culpa seja toda nossa se os inconstantes e influenciáveis que estão em nosso meio forem, de tempo em tempo, presos na armadilha do caçador que os espreita.

Contudo, em vez de expressar arrependimento quanto às deficiências passadas, talvez fosse melhor para todos nós se considerássemos o expediente que melhor pudesse comunicar uma nova e mais atraente qualidade da mente Presbiteriana. Os ministros têm o poder para fazer isto no momento que quiserem. O clero de nenhuma outra denominação é capaz de exercer uma influencia inteligente sobre a nossa sociedade tão bem quanto nós. A Assembléia Geral — reunião dos ministros de um país, e uma grande inteligência mestra, que usa da sua posição no plenário para gravar algumas grandes verdades nos corações da sua audiência — pode dar início a um princípio que será sentido até nos confins da nação. Como os filhos da ju ­

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ventude, cada expectador é uma flecha nas mãos de um homem forte. Os sentimentos e os princípios lá enunciados são levados por cada ministro para sua respectiva esfera de atuação; e, em suas mãos, sentimentos e princípios são colocados em prática. A medida que o tempo passa, em sendo esses princípios e sentimentos espalhados por todos os recantos do país, nossos ministros tomam-se o centro, cada um em sua respectiva esfera; eles entram em contato com todos os segmentos da sociedade, tanto os segmentos mais altos, quanto os mais baixos, por assim dizer, em termos de abstração intelectual; eles pregam para o povo pelo menos uma ou duas vezes por semana durante o ano todo, e visitam famílias em suas casas tendo oportunidades de conversar com muitas pessoas; participam de encontros públicos, são convidados para proferir palestras em esco­las, alguns escrevem para jornais e revistas e têm acesso de muitas outras formas às mentes e corações das pessoas; ou seja, são formadores de opinião e de estilo de vida. É desnecessário acrescentar que isso toma a nossa influên­cia muito vasta, seja para o bem ou para o mal. Está em nossas mãos o poder de formar opinião em nossa própria comunidade e de causar um profundo impacto em nossa sociedade. Precisamos apenas ser unânimes quanto a um princípio e defendê-lo com entusiasmo, afim de incutí-lo de maneira profunda na mentalidade do país. O ministério presbiteriano, com tantos homens letrados e eruditos já poderia, usando sabiamente a capacidade intelectual que têm, revolucionar a compreensão religiosa desta nação.

Analisando todas essas coisas, é obvio que temos apenas de nos engajar vigorosamente em outra linha de ação, visando a colocar o sentimento popular em favor do Presbiterianismo. Jamais devemos esquecer que, como ministros do Evangelho, temos em nossas mãos uma missão tremendamente importante. Os deveres inerentes a

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essa missão são melhor desempenhados por cada homem quando se esforçam, o máximo possível, por fazer a sua parte. Zelo em outras áreas não pode suprir deficiências nestas. Que os nossos ministros preguem o Evangelho fielmente e sejam saudáveis na fé, pois sem isso não pode haver prosperidade religiosa. Que tenham em sua própria vida e caráter a moralidade e a pureza que ensinam aos membros de suas respectivas Igrejas. Que intensifiquem, redobrem, se possível, a sua atenção para com o povo e não poupem esforços para levar a mensagem de vida a cada lar. Que visitem os doentes, confortem os enlutados, instruam os ignorantes, tenham empatia para com os pobres e oprimidos, encorajem o trabalho missionário e patrocinem tudo que tenha como objetivo a promoção da benevolência e da virtude. Que sejam estudiosos e dili­gentes em tudo para se apresentarem aprovados diante de Deus— como obreiros que não têm do que se envergonhar. Mas que estejam certos de que, se não cuidarem em expor a Palavra de Deus e não instruírem o povo pessoalmente, usando os seus esforços para gravar profundamente nas mentes do povo os princípios característicos do Sistema Presbiteriano, eles nem estarão servindo a Igreja, nem a eles mesmos. De forma nenhuma quero dizer que estas coisas devem substituir o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo; mas, visto que eles formam uma porção integral da Revelação Divina, têm a obrigação, como fiéis ministros de Cristo, de ensiná-las ao povo. Também não quero dizer que as outras denominações devam ser atacadas sistematicamente com um espírito não-cristão; mas, a impressão que tenho é, se um pregador apenas prega sobre coisas que o povo quer ouvir, sobre coisas que sejam

“agradáveis” à sua audiência, ele não estará tratando dos erros que são comuns na comunidade, e que contribuem para que o engano se alastre e, propositalmente, prive o

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povo de ouvir a verdade com medo de ser tachado de ra­dical; assim, ele deixa de ser um ministro de Deus para ser servo do homem. Contanto que permaneçamos separados do Sistema16, é tanto nosso interesse como nosso dever fazer com que o povo Presbiteriano esteja completamente a par das razões para mantermos e perpetuarmos uma existência eclesiástica distinta. Que a nossa divergência se baseie na inteligência, não na ignorância do povo. Dessa forma, isso se tomará instantaneamente racional e consistente e, naturalmente, mais atraente e mais forte do que antes. Amizade para com o ministro é um laço muito fraco para manter pessoas em uma Igreja, pois, mudança de campo ou mesmo morte podem desfazer tal laço a qualquer momento. Os laços afetivos de parentesco ou de amizade longa, embora sejam importantes em alguns casos, não são tão fortes a ponto de não serem quebra­dos, como a experiência tem mostrado. Isto nos mostra a necessidade de ensinarmos a nossas congregações que os' nossos princípios, sendo uma porção da Revelação Divina são, para todo o povo de Deus, tão preciosos quanto ouro. Devemos instruí-los periodicamente quanto à natureza do Presbiterianismo. Que cada ministro faça isso com regularidade que achar melhor, mas que seja feito de forma firme e fiel. Que o ministro não se deixe levar pela murmuração por parte dos que estiverem descontentes com isto, nem pelos clamores dos que se opõem, mas que esteja consciente do fato de que, geralmente os pacientes gritam quando o médico toca na parte do seu corpo que está ferida. Que o ministro deixe claro para todos que ele mesmo acredita firmemente nos princípios dos quais é um público defensor e que tem estes princípios em alta estima. Que o ministro em nenhum momento seja conivente com

16 Refere-se á Igreja Oficial da Inglaterra.

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o erro de considerar que os nossos princípios são um as­sunto de pouca importância. Mesmo sendo cuidadoso para não se opor aos outros cristãos que visam a expansão do Reino de Deus da forma que pensam, o ministro não deve nem ajudar nem encorajar pessoas que sistematicamente repudiam o que nós consideramos como sendo grandes e importantes verdades. Que ele não tema ser chamado de fanático, pois, neste caso, o que é um fanático senão um rótulo que o mundo dá ao homem que ousa ter princípios, sendo firme o suficiente para mostrar durante a sua vida que é bastante coerente para não abrir mão deles? Em última análise, o objetivo de todos nós deveria ser o de fazer com que todo presbiteriano nominal tome-se pres­biteriano por convicção.

A indiferença morna e odiosa em relação aos princí­pios Presbiterianos que nesses dias podemos ver em todos os lugares, necessita de algum tipo de remédio. O melhor que eu conheço é o ensino da Palavra de Deus para instruir o povo, pública e privadamente, o que o Presbiterianismo realmente é. Se quiséssemos fazer uma conspiração para apagar os nossos princípios da memória do mundo, não teríamos um plano de ação melhor para conseguir este objetivo do que jamais pregá-los do púlpito. Se desejarmos que o povo os conheça e os valorize, é necessário mostrar- lhes que nós mesmos os conhecemos e os valorizamos. Se quisermos que as pessoas aceitem estes princípios, temos que enfatizá-los, temos de continuar batendo nessa tecla. As pregações do púlpito, os livros publicados sobre esse assunto e quaisquer outros esforços para fazerem esses princípios conhecidos e aceitos não serão inúteis; é como o ditado popular — “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. No início, pode ser que muitos não simpatizem com esses princípios, mas eles modificarão a compreensão até mesmo de pessoas cujos julgamentos já

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estejam bastante amadurecidos. Eles irão se enraizar nas mentes dos jovens abertos para pensar com grande tena­cidade; eles se alargarão em círculos sempre crescentes até, finalmente, chegarem à opinião pública. O púlpito é a esfera adequada para a propagação de verdades religiosas. Concepções errôneas não precisam de impulso para se espalhar pelo mundo afora, assim como as sementes da natureza que, carregadas pelo vento do outono, espalham- se por todo o campo e germinam no solo sem precisar do trabalho do lavrador; mas, a verdade, raramente se propaga sozinha, pois o coração humano não tem afeição natural pela verdade; ignorância e preconceito obstruem o seu progresso logo no início, de forma que a verdade precisa de uma força impulsiva para que possa ser levada a todo o mundo. Ervas daninhas crescem por elas mesmas, mas as flores precisam de toda a habilidade e cuidado que o jardineiro possa lhes dispensar. O erro brota de maneira exuberante no coração humano sem nenhum tipo de ajuda; mas a verdade precisa de uma mão gentil que a plante, a regue e a exponha regularmente aos raios solares. Verdade religiosa, entre todas as coisas, é a menos atrativa para a mente natural. Como, pois, podemos esperar que uma verdade dessa natureza seja acolhida com simpatia em um mundo tal como este, sem receber um impulso dos nossos púlpitos? Eu realmente não sei. Eu nem mesmo posso imaginar. Certamente, um homem que na hora e lugar certos afirma e ilüstra seus princípios, que é coerente com os outros em que acredita e mostra que ele mesmo os valoriza e aprecia, cedo ou tarde conseguirá pessoas que abracem os seus princípios; mas, aquele que é conhecido por emitir opiniões mas que é sempre silencioso a respeito delas, deixa dúvidas quanto à sua própria sinceridade e nunca faz com que alguém acredite nos princípios que afirma.

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Se desejarmos que o Presbiterianismo seja a religião universal, devemos deixar que o mundo saiba que esti­mamos esses princípios e que, realmente, os temos em alta apreciação. Não devemos ficar titubeando entre duas opiniões, professando uma e praticando outra. Devemos parar de uma vez por todas de ser uma geração morna e híbrida — presbiterianos apenas de nome. Esta não é uma época para incoerência e inconstância — mas, uma época em que devemos ser decididos, enérgicos e ativos.O Presbiterianismo deveria estar indo de vento em popa. Quanto mais relutarmos para entrar em um curso de ação sério e vigoroso, tanto mais os nossos interesses como de­nominação sofrem. Nestas circunstâncias, nossa hesitação e acomodação estão eivadas de perigos, para não falar de morte denominacional. Cada púlpito de nossa denomi­nação deve ter um grande apego ao Presbiterianismo. Se como denominação queremos ser fiéis à verdade de Deus, se queremos que o povo entenda e ame o nosso sistema, se queremos conduzir a opinião pública a que se oponha a esse indiferentismo de forma firme e contundente, se queremos alavancar o nosso Presbiterianismo e chamar a atenção dos nossos irmãos cristãos para a sua funda­mentação bíblica e seu vigor; se queremos que nossos amigos nos sigam e que os nossos inimigos nos sigam, então, devemos aprender a amar e considerar os nossos princípios característicos; devemos pregá-los e ensiná- los até que o povo os conheça tanto quanto o alfabeto eo mundo indisposto seja compelido a ouví-los. A Igreja que esquece de afirmar e ensinar esses princípios vive neste mundo de favor; seus próprios filhos são frios para com ela; e quando ela reduzir-se ao pó, terá poucos que lamentem a sua queda. Mas a Igreja que emite as suas opiniões com voz de trovão aos ouvidos da humanidade, de forma que nem a pressão nem a bajulação podem silen-

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ciá-la, é a Igreja que terá muitos inimigos ferrenhos, mas também terá muitos amigos ardorosos; terá muitos que a odeiem, mas terá muitos que a amem e mesmo alguns que estejam dispostos a morrer por ela. Pode ser que em muitos lugares se fale contra ela, mas, sendo fiel à verdade de Deus, terá santos e mártires e, no devido tempo, traráo mundo aos seus pés.

Uma palavra conclusiva para o povo Presbiteriano. Este pequeno livro está sendo publicado principalmente por sua causa, para que você possa conhecer as razões bíblicas nas quais a Forma Presbiteriana de Governo de Igreja se fundamenta, e como a sua reivindicação de ser uma Igreja Apostólica é superior à de qualquer outro siste­ma rival.17 Desde o começo, tenho me engajado no estudo desse assunto para o meu próprio benefício e satisfação pessoal; apenas posteriormente ocorreu-me que, uma linha de argumento que para mim parece tão clara e convincen­te, pode ser útil para outras pessoas que também estejam ansiosos como eu estava, para conhecer a mente de Cristo sobre esta matéria tão controvertida. Assim, comecei a in­vestigação com certo receio, temendo mesmo que a minha investigação me levasse à conclusão de que o sistema de governo que eu abraço não tem uma origem divina. Tais receios foram produzidos, principalmente, por algumas afirmações plausíveis e bastantes autoconfiantes feitas por escritores que defendem o Sistema Independente; e eu re­conheço que, se tivesse dado ouvidos às bravatas deles sem consultar as Escrituras por mim mesmo, eu teria deixado de ser Presbiteriano. Mas, um dos meus princípios é não chamar nenhum homem de mestre, e, da Palavra de Deus

17 As igrejas Reformadas Continentais também apresentam um sistema pres­biteriano de governo com pequenas diferenças, mas sem dúvida possuem os seis princípios apostólicos citados neste livro (Nota do Editor).

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somente, tirar as minhas opiniões sobre matérias religiosas. Procurei luz na Fonte de Luz. Pedi a direção do Espírito Santo. Fui diretamente à Palavra de Deus, comparando uma passagem com outra, querendo com isso chegar aos princípios apostólicos. Fiz uma comparação dos sistemas de governo de Igreja existentes com a Bíblia e os exami­nei de acordo com a luz que irradia da Lâmpada de Deus. Para que nenhuma passagem importante da Bíblia bem como nenhum argumento de peso passasse desapercebido,li alguns dos ataques mais plausíveis que já foram feitos contra o Sistema Presbiteriano, e estudei os sistemas Episcopal e Independente da forma como eles são apre­sentados pelos seus defensores mais hábeis. O resultado é: estou persuadido de que o Episcopal é um sistema comple­tamente humano; é, em todos os sentidos, uma invenção de homens. Também estou convencido de que, embora divirja do Presbiterianismo, o Sistema Independente é mais defeituoso do que errôneo, precisando ter as suas deficiências corrigidas. Estou, portanto, completamente convencido de que a Forma Presbiteriana de Governo de Igreja está mais próxima da forma que existiu na Igreja Apostólica do que qualquer outra. Para fazer justiça a todos os argumentos que podem ser usados em favor deste sistema seria necessário um livro bastante grande; mas, como livros grandes são escritos e raramente lidos, eu achei melhor ir direto à raiz da questão, apresentando ao leitor a visão bíblica sobre o assunto e capacitando-o a julgar por si mesmo. Procurei ser breve em tudo o que estudamos para facilitar a leitura e estou certo de que mes­mo os leitores mais modestos intelectualmente poderão entender. Evitei, propositalmente, quaisquer discussões mais elaboradas e argumentações intrincadas, procuran­do apresentar fatos da Palavra de Deus que tenham a ver com a questão, de forma a conduzir o leitor pela mão à

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fonte pura e permitir-lhe tirar água por ele mesmo. Agora con­vido o leitor a observar em todas as suas partes as evidências aqui apresentadas; veja se citei algum texto erradamente, se falseei um fato, se distorci um testemunho ou se usei as Escri­turas em algum sentido que não tenha sido o seu sentido claro e natural; teste a argumentação aqui apresentada da forma mais acurada, honesta e precisa que você possa; dê às afirmações da Palavra de Deus a importância que elas têm e eu estarei con­fiante de que você concordará comigo que todos os princípios apostólicos de governo eclesiástico são encontrados somente na Igreja Presbiteriana. Certamente, é importante você ter boas razões para acreditar que, a Igreja com suas ordenanças e os seus pensamentos estão entremeados desde a sua infância, dentro de cujos templos, amigos amados que agora estão no céu, aprenderam o caminho da salvação e foram ensinados nas lições de vida, cujos salmos e obras exalam uma suave fragrância juntamente com a memória dos mártires, é, em sua forma de governo tanto quanto em sua doutrina e em sua adoração, fundada e lastreada na Palavra de Deus. Isto posto, é nosso dever durante, toda a nossa vida, apoiar de coração e consistentemente este sistema, aprender com entusiasmo, par­ticipar das atividades de seus vários departamentos. E possível ser um presbiteriano sem ser um cristão; assim como é possível ser um cristão sem ser um presbiteriano, mas é melhor ambas as realidades, ou seja, um cristão presbiteriano. Que a expiação de Jesus Cristo seja o refugio da sua alma; ame cada verdade da Palavra de Deus, seja pequena ou grande; não dê nenhum tipo de apoio aos oponentes; de forma nenhuma oculte o seu vínculo aos princípios Presbiterianos; esforce-se para honraro sistema ao qual você diz estar ligado, por amor a Cristo, por uma vida íntegra e consistente e por uma sincera tentativa de sua parte para merecer o caráter que distinguiu os santos de Deus em outros e melhores tempos —“ um povo peculiar, zeloso de boas obras”.

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Apêndice 1

C o n f i s s ã o d e F é d e W e s t m i n s t e r

C a p í t u l o 3 1 — D o s S í n o d o s e C o n c í l i o s

I. Para melhor governo e maior edificação da Igreja, deverá haver as assembléias chamadas sínodos ou concí­lios. Em virtude do seu cargo e do poder que Cristo lhes deu para edificação e não para destruição, pertence aos pastores e aos outros presbíteros das igrejas particulares criar tais assembléias e reunir-se nelas quantas vezes julgarem útil para o bem da Igreja.

II. Aos sínodos e concílios compete decidir, minis- terialmente, controvérsias quanto à fé e casos de con­sciência; determinar regras e disposições para a melhor direção do culto público de Deus e governo de sua Igreja; receber queixas em caso de má administração e com au­toridade decidi-las. Os seus decretos e decisões, sendo consoantes com a Palavra de Deus, devem ser recebidos com reverência e submissão, não só pela sintonia com a Palavra, mas também pela autoridade através da qual são feitos, visto que essa autoridade é uma ordenação de Deus, designada para isso em sua Palavra.

III. Todos os sínodos e concílios, desde os tempos dos apóstolos, quer gerais quer particulares, podem errar, e muitos têm errado; eles, portanto, não devem constituir regra de fé e prática, mas podem ser usados como um auxílio em uma e outra coisa.

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IV. Os sínodos e concílios não devem discutir nem determinar coisa alguma que não seja eclesiástica; não devem imiscuir-se nos negócios civis do Estado, a não ser por humilde petição em casos extraordinários, ou por conselhos, em satisfação de consciência, se o magistrado civil os convidar a fazê-lo.

A p ê n d i c e 2

L e i t u r a s C o m p l e m e n t a r e s

Confissão de Fé de Westminster, capítulos 25, 30, também The Form of Presbyterian Church Government

(Free Presbyterians Publications).

Thomas Witherow, “The Form o f the Christian Temple.”

James Bannerman,”The church of Christ”(2 volumes) (Banner o f Truth).

R. B. Kuiper,The Glorious Body of Christ (Banner of Truth).

Iain Murray (ed.), The Reformation of The Church (Banner of Truth).

Thomas M ’Crie, The Unity of the Church (Free Pres­byterian Publications).

R. L. Dabney, “Prelacy a Blunder”, in”Discussions: Evangelical and Theological, volume 2 (Banner of Truth).

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IV. Os sínodos e concílios não devem discutir nem determinar coisa alguma que não seja eclesiástica; não devem imiscuir-se nos negócios civis do Estado, a não ser por humilde petição em casos extraordinários, ou por conselhos, em satisfação de consciência, se o magistrado civil os convidar a fazê-lo.

A p ê n d i c e 2

L e i t u r a s C o m p l e m e n t a r e s

Confissão de Fé de Westminster, capítulos 25, 30, também The Form of Presbyterian Church Government

(Free Presbyterians Publications).

Thomas Witherow, “The Form o f the Christian Temple.”

James Bannerman,”The church of Christ”(2 volumes) (Banner of Truth).

R. B. Kuiper,The Glorious Body of Christ (Banner of Truth).

Iain Murray (ed.), The Reformation of The Church (Banner of Truth).

Thomas M ’Crie, The Unity of the Church (Free Pres­byterian Publications).

R. L. Dabney, “Prelacy a Blunder”, in”Discussions: Evangelical and Theological, volume 2 (Banner of Truth).

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