A Igreja de Roma e a destruição dos Cátaros

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    1/9

    A Igreja de Roma e o Movimento "Hertico" dosCtaros

    por

    Carlos Antonio Fragoso Guimares

    "On entend par fanatisme, une folie religieuse, sombre et cruelle; c'est une maladie qui se gagne comme la petite vrole."

    Voltaire

    Monumento em forma de megalito s inocentes vtimas ctaras na cidade de Minerve, Frana

    Durante a imerso da Europa, pelo colpso cultural da CivilizaoGreco-Romana, na estagnao intelectual e sedimentao do poder feudal naIdade Mdia, e apesar dos rgidos padres de controle do pensamento e dareflexo pela estrutura eclesistica, surgiram ainda vozes que se levantavamcontra o abuso e a arrogncia do poder da Religio de Roma, vestgio dointento de Constantino de transform-la no brao espiritual do Imprio.

    Ainda haviam pontos isolados de luzes e de pensamento, que, comocentelhas dispersas, vez por outra se juntavam. Estes movimentos conheciamboa parte da tradio espiritual do ocidente, ecos do pensamento de Herclito,Pitgoras e Plato, e procuravam recuperar a pureza do cristianismo primitivo,sem as pesadas roupagens da ritualsitica e dos dogmas romanos. Entre asmais famosas dessas correntes rebeldes, predecessoras da ReformaProtestante e do movimento de liberdade de conscincia, base da sepraomoderna entre Igreja e Estado, temos o movimento da Igreja Ctara, que

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    2/9

    reprensen t e f t por sua propos ta use soc ia lis ta , e a responsab ili ade ind i idua l uma sr ia ameaa egemon ia da Igre ja a tlica . Outro mov imen to, porm de a lcance menor e menos "subvers ivo", mas no menos po tenc ia lmen te renovador , parece ter s ido o da Ordem dos Temp l r ios ,con temporneo dos taros e , de incio, apo iada pe la pr pr ia Igre ja de oma .

    Antes de nos voltarmos a es tas duas , temos de prec isar o ue f oi e como se f ez o poder io da Igre ja omana na Europa .

    A Ascenso I eja C a tli ca R omana

    O mov imen to cr is to de incio, um mov imen to emerg ido no se io do juda smo na pa les tina , e logo espa l ado por ou tras reg i es do Impr io, s ia

    enor e Nor te da f r ica de itou ra zes em vr ios uadran tes , de onde surg iram vr ios grupos com suas pr pr ias trad ies interpre ta tivas da mensagem de Jesus . As comun idades da s ia enor , da rc ia , de Alexandr ia e de oma f ormavam Igre jas independen tes , a inda ue man tivessem con ta to umas com as ou tras . Porm , dev ido sua loca lizao , a comun idade de oma tinha um cer to des taque , que ser ia a inda ma is re f orado quando ons tan tino reconheceu e oficia lizou o r is tian ismo , tendo em men te ,en tre ou tras , a utiliz- lo como cimen to esp ir itua l do Impr io. Logo ap s , porm ,

    ons tan tino dividiu o Impr io em duas par tes , a do Ociden te , com cap ita l e oma , e a do Or ien te , em ons tan tinop la . A Igre ja igua lmen te ter ia duas

    cabeas pr inc ipa is , uma em oma , tendo por lngua oficia l o La tim, e ou tra em ons tan tinop la , tendo por lngua oficia l a mesma que j vinha sendo a lngua

    gera l desde o incio do Impr io, o rego (que tambm f oi a lngua em que f oram escr itos e traduz idos os pr ime iros livros cr is tos) . oma ter ia o Bispo ,chamado pos ter iormen te de Papa , e ons tan tinop la , de Pa tr iarca .

    O que , de incio, comeou como uma re ligio dos opr imidos do impr io ,indo dos povos co lon izados , passando pe los escravos e grande ma ior ia de plebeus , cons titua , apesar da persegu io oficia l do Impr io, uma crescen te comun idade no sen tido la to do termo , um comun ismo au t ntico , gerado pe la compreenso da dor m tua e da par tilha de idea is de igua ldade e f ra tern idade .Porm , os dom inados passaram a ser mu ito ma is numerosos que os dom inan tes e , com a en trada des tes , por interesses po lticos dian te da trans f ormao do Impr io, os dom inadores acabaram tornando-se novamen te preponderan tes e passaram a ex igir que o r is tian ismo abr igasse pr ticas e de ta lhes dos an tigos cu ltos pagos . a os sacerdo tes ca tlicos com seus a ltares , missa is , es tolas , mitras , e tc. O f a tor po ltico-econm ico passou a mo ldar o r is tian ismo oficia lizado , tendo seus aspec tos or igina is s ido de turpados pe la s imb iose r is tian ismo de ons tan tino/re ligio pag .

    Ao longo do scu lo V, porm , a Igre ja omana viveu sr ias ameaas sua sobrev ivnc ia e , por volta de 490, a s ituao tornou -se desesperadoramen te precr ia , is to porque , com a mudana da ma ior par te das pessoas para ons tan tinop la , a ex-grande cidade ficava merc das invases brbaras do nor te da Europa .

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    3/9

    E a igre ja de oma es tava a inda mu ito longe de ter a hegemon ia do poder esp ir itua l na cr is tandade den tro e f ora do Impr io, processo inev itave lmen te ligado imp loso oc iden ta l des te - agravada pe lo f a to de

    ons tan tino haver trans f er ido a cor te de oma para ons tan tinop la .

    Pouco an tes da trans f ernc ia , en tre 384 e 399, com o ap io oficia l, o bispo de oma j era denom inado papa , mas is to no s ign ificava mu ito po is sua cond io oficia l, em termos de cr is tandade , era bem dif eren te do que passou a ser a lguns scu los ma is tarde quando passou a desempenhar o pape l de lder e cabea suprema do cr is tian ismo oc iden ta l - Os gregos e ou tras comun idades do les te europeu e da f r ica e s ia jama is ace itaram es ta cond io , no que resu ltou no cisma en tre as Igre jas a tlica omana e

    a tlicas Or todoxas no scu lo XI. Na verdade , a t o scu lo V o papa era uma figura que represen tava apenas uma f uno cen tra lizadora de interesses ve lados do co lg io ec les is tico romano , que j possu ia e inves tia pesado em uma supremac ia teo lgico-po ltica . as es ta era apenas uma esco la den tre mu itas ou tras linhas do cr is tian ismo , todas lutando por man terem-se vivas e ado tarem livremen te seus pon tos de vis ta a respe ito da mensagem do r is to. AIgre ja de oma , sob presso de ons tan tino , que a r igor , con tinuava sendo um cren te dos cu ltos a itra e do ol Inv ictus , cu ja f es ta mx ima era comemorada no so ls tcio de inverno , no dia 25 de dezembro , lutava desesperadamen te para sobressa ir-se den tre as dema is , comba tendo uma grande var iedade de pon tos -de-v is ta teo lgicos dif eren tes dos seus . A pesar de encravada no corao do Impr io, de incio a Igre ja de oma no possu ia mora lmen te ma ior au tor idade que ou tras , como , por exemp lo, a Igre ja rega ou a Igre ja e lta . E sua au tor idade no era ma ior que a de ou tras corren tes cr is ts a inda ma is dis tan tes , do les te e o oes te de oma .

    Se a Igre ja de oma qu isesse sobrev iver derrocada do Impr io (na verdade , sendo uma ten ta tiva de man ter a lguma co isa des te) que se es f ace lava dian te das invases brbaras e , a inda , cr iar uma hegemon ia sobre todo o pensamen to cr is to , exercendo uma grande au tor idade e poder , e la necess itar ia do ap io de um re ino f or te e de uma poderosa figura secu lar q ue pudesse represen t- la resga tando um pouco da ms tica do Impr io dos

    sares , impondo grande revernc ia e respe ito. a que , para que o mundo cr is to evo lusse segundo a dou tr ina romana , a Igre ja a tlica dever ia ser dissem inada , imp lemen tada e i mpos t a por me io da f ora secu lar - uma f ora su ficien temen te poderosa para en f ren tar e fina lmen te ex itirpar o desa fio das ou tras esco las cr is ts .

    Por volta de 486, um re i brbaro , o re i f ranco-merov ngeo lvis , tinha

    expand ido ex traord inar imen te a ex tenso de seus dom nios , anexando re inos e pr inc ipados ad jacen tes e vencendo vr ias tr ibos r iva is . idades impor tan tes passaram a f azer par te de seu re ino , como Troyes , e Amiens , nas reg ies da

    lia . Em pouco ma is de 10 anos de conqu is tas , lvis era o che f e ma is poderoso da Europa Ociden ta l. E f oi em lvis que a Igre ja a tlica tinha achado um campeo para seus interesses . E f oi a travs de lvis que a Igre ja

    a tlica fina lmen te ir ia consegu ir es tabe lecer uma supremac ia que no f oiser iamen te ques tionada - dev ido "San ta " Inqu is io - na Europa por ma is de milanos .

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    4/9

    O pac to es tabe lec ido en tre lvis e a Igre ja assegurou um tr iun f o po ltico para ambas as par tes . Ao pr ime iro assegurava leg itimidade numa poca em que os idea is cr is tos sup lan tavam os pagos , e segu nda era assegurada sua sobrev ivnc ia , conso lidando -a como igua l, em cond ies ,Igre ja Or todoxa rega , de ons tan tinop la (mu ito influen te por con ta do Impr io

    omano do Or ien te , vivo e pa lpitan te a t o scu lo XV). Is to f ar ia a Igre ja de oma es tabe lecer-se como a suprema au tor idade esp ir itua l - com base na f ora militar do re ino f ranco-merov ngeo - na Europa Ociden ta l.

    A converso e o ba tismo de lvis marcar iam o nasc imen to de um novo Impr io omano , pre tensamen te cr is to , baseado na Igre ja de oma e adm inis trado , ao nve l secu lar , pe lo re ino f ranco e pe la linhagem merov ngea - pos ter iormen te tra da e derrubada pe la pr pr ia Igre ja .

    om poderosa e ficinc ia , a f ca tlica f oi impos ta pe la espada , e os traos das ou tras igre jas f oram , a par tir de en to , a f ron tados pe la f ora e irremed iave lmen te apagados (em par te) da his tr ia; com a sano da Igre ja , o re ino f ranco expand iu-se para o les te , eng lobando a ma ior par te da rana , Alemana e ou tros pa ses modernos .

    ois scu los ma is tarde , a Igre ja j era su ficien temen te poderosa para achar que a linhagem merov ngea de lvis comeava a ser um empec ilho .

    agober t II, descenden te de lvis , f oi um re i f or te que consegu iu domar a anarqu ia que , an tes de le , comeava a dom inar o re ino f ranco , res tabe lecendo a ordem , e reconhecendo os interesses po lticos e , por tan to, cada vez ma is menos esp ir itua is da Igre ja . Tan to ass im que e le parece ter abor tado de liberadamen te as ten ta tivas des ta de se expand ir a inda ma is . E, em vir tude de se ter casado com uma pr incesa vis igoda (cu jo povo , apesar de dec larar fide lidade a oma , tinham um imensa s impa tia por id ias cons ideradas "her ticas ", ou se ja , por interpre taes da mensagem de r is to no ace itas pe la or todox ia la tina) hav ia adqu irdo um imenso terr itr io, onde ho je o Languedoc , reg io Sul da a tua l rana e base dos f uturos taros . agober tparece ter adqu ir ido a lgumas das tendnc ias ar ianas que ques tionavam a au tor idade da Igre ja . om tudo isso , no de se ex tranhar que e le tenha ob tido inmeros inimigos po lticos , en tre e les seu chance ler , Pep ino , o ordo ,que , a linhando-se com ou tros inimigos e com a Igre ja , plane jaram o assass ina to de agober t e o ex term nio da linhagem merov ngea .

    abe sa lien tar que , do is scu los ap s sua mor te , agober t II f oi canon izado ,como uma f orma de encobr ir a tra io vis ve l da Igre ja ao pac to que fizera com

    lvis .

    O s Ct aros

    Nas pa lavras da Igre ja omana , no scu lo XIIa reg io do Languedoc es tava "inf ec tada " pe la heres ia de um mov imen to cons iderado por e la como noc ivo , chamado de ca tar ismo pe la Igre ja de "a l epra l ouca

    o su l " (no supor tava a San t a M adre I reja qua lquer concorrnc ia ao seu dom nio esp ir itua l e po ltico nem tolerava qua lquer interpre tao esp ir itua l f ora das ins trues romanas) . Embora f osse sab ido por todos , em espec ia l nas reg ies

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    5/9

    ad jacen tes ao Langedoc , que os adep tos dessa heres ia f ossem essenc ia lmen te pac ficos e mu ito es timados pe la popu lao loca l, tendo mu itos nobres en te e les . Ta l mov imen te se cons tituia , para os dou tores do Va ticano ,uma grave ameaa au tor idade romana , a ma is grave que oma encon trar ia nos trs scu los segu intes , a t a chegada de ar tinho Lutero . Por vo lta de 1200, a popu lar idade do mov imen to era ta l que hav ia rea lmen te a poss ibilidade rea l de que o ca tolicismo romano f osse subs titudo , como f orma predo m inan te de cr is tian ismo , no Languedoc , pe lo ca tar ismo que es tava se irrad iando para ou tras par tes da Europa .

    E, 1165 a Igre ja hav ia condenando f orma lmen te o ca tar ismo na cidade de Albi, no Languedoc . a por que os conhecemos tambm por a lbigenses .

    u itas de nossas inf ormaes sobre e les provm de f on tes ec les is ticas ca tlicas , e cr iar um quadro corre to dos c taros a par tir des tes documen tos como compreender a res is tnc ia es tudan tilbras ile ira , no tempo da itadura , a par tir dos re la tr ios dos militares e do OI-CO I, ou compreender a

    es is tnc ia rancesa , na Segunda uerra und ia l, a par tir dos re la tr ios da es tapo .

    Em gera l, os c taros acred itavam na dou tr ina da reencarnao e reconhec iam eus no como um pr inc pio com traos an tropom r ficos puramen te mascu lino , mas como tendo , igua lmen te , pr inc pios f em ininos . Na verdade , eus es tava bem ac ima das limitaes do en tend imen to humano (o que nos reme te , em par te , dou tr ina dos ru idas e Pitgoras e Pla to) . Tan to que os pregadores e pro f essores das congregaes c taras , conhec idos como par f a it s , eram de ambos os sexos . Sendo o ser humano cirao e filiao da divindade , as po lar idades mascu linas e f em ininas no ser iam an tagn icas , mas comp lemen tares , e , por tan to, igua lmen te impor tan tes .

    Seu pr inc ipa l tex to teo lgico era o Evange lho de Joo e um ou tro tex to (ta lvez o mesmo Evange lho de Joo) que e les chamava de o Evange lho do Amor . Ao mesmo tempo , re je itavam veemen temen te a au tor idade da Igre ja Ca tlica e negavam a va lidade das hierarqu ias cler ica is , ou de intercessores oficia is en tre eus e o homem . iziam e les que no encon travam em par te a lguma dos Evange lhos jus tificao para a es trutura ec les ia l romana . No cen tro des ta opos io res idia um pinc pio ex tremamen te impor tan te: a f s rea l se vivida e sen tida como como uma exper inc ia ms tica dire ta , sem passar por uma segunda mo . Alm do ma is , a n ica f rea l era que que produz isse obras , e os c taros ficaram f amosos e adqu ir iram imensa popu lar idade pe la ao soc ia l que promoveram no Languedoc , dando tra tamen to gra tuito de sade e educao a todos , e sendo toleran tes com membros de ou tros credos ,

    inc lusve judeus , que viviam em paz na reg io . Em ta l n f ase na exper inc ia ms tica dire ta e ap licada em uma tica soc ia lis ta vemos claramen te a influnc ia do neop la ton ismo , em espec ia l Plotino no pensamen to c taro , mas ta lvez se ja ma is corre to a inda dizer que aqu i provave lmen te a influnc ia ma is dire ta ve io do Cr is tian ismo puro . o je dir amos que os c taros buscavam vivenc iar uma exper inc ia de comunho com eus , ou uma exper inc ia de transcendnc ia ,num dom nio Transpessoa l, que , an tes , chamavamos de ms ti cas . Es ta exper inc ia chamava-se gnos i s , que em grego s ign ifica "conhec imen to", e era pr ivileg iada sobre todas as ou tras f ormas de credos e dogmas pe los c taros . A

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    6/9

    n f ase na exper inc ia dire ta com o transcenden te , o transpessoa l, tor nava supr fluos padres , bispos e qua isquer ou tras au tor idades ec les is ticas . Ass im , a Igre ja , sen tindo-se rea lmen te ameaada , tomou a inicia tiva de f ormar uma Cruzada (a pr ime ira den tro da Europa e con tra irmos cr is tos oc iden ta is , j que cr is tos or ien ta is f oram truc idados , com as bnos de oma , jun to com rabes e judeus nas es tp idas Cruzadas clss icas Terra San ta) com o fim de ex tirpar de vez com a "heres ia " c tara: a Cruzada Albigense .

    Em 1209, um exrc ito de ma is de 30 mil homens , desceu do nor te da Europa em direo ao Languedoc , no su l da rana , para execu tarem uma das ma iores carn ificinas da his tr ia humana . Na guerra que se segu iu, a popu lao tomou a espada e den f endeu com n f ase os c taros con tra o despo tismo ca tlico .

    iz-nos o pro f essor erm nio C. iranda que:

    "Na erdade , a ca l am i dade ue se aba t era sobre a reg i o a ti ng i a em che i o t ambm os ca tli cos (l oca i s) . E no apenas aque l es que davam cer t a cober t ura aos her ti cos' e os respe it vam e a t ti nham por e l es c l aras s i mpa ti as . E m repe ti das opor t un i dades , a popu l ao l ut ou ( e morreu) un i da , con t r o i ni mi go comum - i ndependen t es de pre f ernc i as re li g i osas . Alis , como t emos v i s t o, o povo conv i v i a mu it o bem com os c t aros , ti nha en t re e l es a m i gos e paren t es e de l es receb i a a t eno ,ens i namen t os , ass i s t nc i a soc i a l, re li g i osa e t ra t amen t o de sade ,f ossem ou no croyan t s" (MIR ANDA, 2002, p 240 ).

    Igua lmen te interessan te a observao do escr itor . . We lls no volume IIde Hi s t r i a da Ci v iliz ao , pg ina 380:

    " E ass i m que vemos o espe t cu l o de I nocnc i a III a pregar uma cru z ada con t ra esses desa f or t unados sec t r i os e a perm iti r o a li s t amen t o de t odos os desc l ass ifi cados , vagabundos e desorde i ros da poca , na obra de l evar o f ogo e a espad a , a v i ol nc i a e o rap t o e t odos os ult rajes concebve i s aos ma i s pac fi cos sd it os do re i da F rana . As descr i es das crue l dades e abom i naes dessa cru z ada so de l e it ura bem ma i s t errve l do que qua l quer narrao dos mar t r i os dos cr i s t os pe l os pagos e possuem , a l m d i sso , o acresc i do horror que l hes vem de as sabermos i nd i scu ti ve l men t e verdade i ras" .

    A reg io do Languedoc , porm , era independen te da rana , tendo ma is ligaos com a Espanha . A cruzada , anexando toda a reg io rana , a lm

    das barbr idades crue is con tra pessoas de bem , revo ltou ao ex tremo toda a popu lao loca l, inc luindo os ca tlicos , que lutaram ao lado e a f avor dos c taros . Ass im, quando fina lmen te o tem ido e od iado lder militar da cruzada ,Simon de on tf or t o mesmo cu jo nome insp irou um dos s ites ma is agress ivos e conservadores de ca tlicos intoleran tes , na intern t -, f oi fina lmen te aba tido (con ta-se , quando uma pedra de ca tapu lta lanado por uma guarn io f em inina da res is tnc ia lhe esmagou a cabea) , toda a cidade de Tolosa (a tua lTou louse) exp lod iu de a legr ia . Uma cano popu lar da poca , em lingua

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    7/9

    Occ itana , ou "Oc", mu ito parec ida com o por tugus - da Languedoc , ou lngua de oc - ass im comemorava:

    M on tf or t E s mor t E s mor t

    E s mor t! Vi va T ol osa

    Ci ot a t Gl or i osa Et P oderosa !

    T ornan l o para t ge e t l 'onor ! M on f or t E s mor t! E s mor t! E s mor t!

    Todo o terr itr io da reg io ao redor de Tou louse e Carcassonne f oipilhado e as cidades e vilare jos arrasados sem d nem piedade . oguer ias imensas eram acessas e ne las , homens , mu lheres e jovens eram assados em uma se lvager ia e sede de mor te sem igua l. Em a lgumas cidades , ma is de 400pessoas morreram des ta f orma "cr is t " em uma n ica no ite . Es ta f ebre f an tica cons tituia o f ervor cruzados , po is f oi prome tido pe lo Papa que todos os que par ticipassem da "San ta Cruzada " por 40 dias e demons trassem e ficc ia con tra a heres ia ter iam no s seus pecados perdoados , como a inda ob ter iam bene fcios ma ter ia is leg timos pe lo saque . S na cidade de Bez iers , por exemp lo, 15 mil homens mu lheres e cr ianas f oram ex term inadas , mu itos a t mesmo den tro de igre jas . Quando um oficia l pergun tou a um represen tan te esp ir itua l do papa Inocnc io III, o cnico Arnaud Amaury , arceb iso de Narbonne , como e le ir ia reconhecer um herege dos cren tes verdade iros , a respos ta f oi: " M a t e -os t odos . Deus reconhecer os seus" . Es te a inda escreveu escreveu orgu lhoso a Inocnc io III que "nem idade , nem sexo , nem pos io f oram poupados ".... epo is os hereges ma l ficos eram os c taros ....

    Ainda ass im, os inocen tes c taros e todos os que conv iviam na reg io so f reram abusos indescr itve is . esmo ass im , "como nos pr i me i ros t empos do cr i s ti an i smo , os c t aros con ti nuavam a pregar suas i d i as pe l os campos , nos bosques , em esconder i jos e em casas de um ou ou t ro ma i s corajoso s i mpa tiz an t e e a t nas cavernas , numa t r g i ca s i me t r i a com as ca t acumbas f reqen t adas pe l os cr i s t os pr i miti vos . No se en t regavam , no renegavam suas i d i as , nem mesmo qundo se l hes of erec i a a esco l ha fi na l en t re a v i da e a f ogue i ra , ou seja , en t re a f e a mor t e . A op o de t odos - com nfi mas

    excesses , uma unan i mi dade - era pe l o sacr if c i o supremo , sem um gem i do ,t emor ou angs ti a" ( I AN A, 2002,p. 252).

    A guerra crue l durou cerca de quaren ta anos . Quando term inou , toda a Europa ca iu numa espc ie de modorra e barbr ie , e a Igre ja se imps , pe lo espe tcu lo desumano que come tera , como a n ica leg tima represen tan te de

    eus , exercendo poder a t mesmo em assun tos civis e de es tado , e para ques e ev itasse um ressurg imen to da novas ameaas ao dom nio da Igre ja , f oicr iado uma das ma is crue is , vergonhosas e desumanas ins tituies da is tr ia:

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    8/9

    a "San ta " Inqu is io , de tr is te mem r ia , e que deu nomes de por te de um Torquemada . Oficia lmen te ex tinta , a Inqu is io , porm , con tinua com ou tro nome: Congregao para a e f esa da , tendo f e ito, no scu lo XX, novas vtimas , en tre e las Pierre Te ilhard de Chard in e , ma is recen temen te , Leonardo Boff. O seu a tua l men tor se conso lida na figura do Cardea l Joseph a tzinger . Ainda eno , no que imando ma is corpos , a inda pode que imar obras e pro ibir id ias nas un ivers idades ca tlicas e nas ed itoras man tidas pe la Igre ja , usando a inda ve cu los impressos e ou tras mdias para anema tizar que pensar dif eren te ...

    Tendo sed imen tado seu tota l con trole na Europa oc iden ta l, a Igre ja dom inan te cons titu ia-se em uma ins tituio poderosa econm ica , po ltica e militarmen te . Equ iparava-se a um gigan tesco f eudo , e sua organ izao impunha uma violen ta censura e con trole esp ir itua l e inte lec tua l (ou crer ou morrer) , subm isso tota l au tor idade ec les is tica , e tc. Em bru ta l e exp lcita opos io ao soc ia lismo human is ta dos pr ime iros cr is tos , a Igre ja de oma punha-se com toda a violnc ia que dispunha con tra todos os que ques tionassem a leg itimidade cr is t de ta is a titudes .

    Um dos mov imen tos que ma is tinha cer tas ligaes com os c taros era a Ordem dos Temp lr ios , cr iado na Terra San ta , e que represen tavam uma assoc iao militar cr is t , oficia lmen te pro te tora das peregr inaes re ligiosas e responsve l pe la guarda e cmb io de bens , mas igua lmen te aber ta ao es tudo e discusso de assun tos ms ticos . as es te uma ou tra his tr ia , e aconse lho o le itor a clicar nos links aba ixo para ler ma is sobre ambas as ordens:

    Os C taros

    A Ordem dos Temp lr ios

    Bibliogra fia:

    Mi chae l Ba i gne t, Ri chard Le i gh e H enry Li nco l n , cu jo livro O San t o Graa l e a Li nhagem Sagrada , Editora Nova ron te ira , 1997, serv iu

    de insp irao e mo tivao para es ta pg ina

    H ermn i o C. Mi randa , em seu exce len te livro " O s Ct aros e a

    H eres i a C a tli ca" f az um f abu loso e ca tivan te resumo de quase tudo o que j f oi escr ito sobre o ca tar ismo . Editora Lach tre , 2002.

    Graham S i mmas , M ary li n H opk i ns e Ti m W a ll ace -M urphy re tomam a tem tica de O San t o Graa l e a Li nhagem Sagrada em seu

    exce len te livro " R ex Deus" , apro f undando as mo tivases po lticas da Igre ja na persegu io aos c taros e aos temp lr ios . Editora

    Imago , 2002.

  • 8/9/2019 A Igreja de Roma e a destruio dos Ctaros

    9/9

    voltar ao i

    Joo P oa, 01/01/1997 R vi o m 18/12/2002

    (C) Copyr i h t 1997 b y Carlos Guim ares