24
1 A Iluminação da Arquitetura Tombada com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador dezembro/2014 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014 A Iluminação da Arquitetura Tombada com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador Nereida Passos dos Reis Eloy [email protected] Master em Arquitetura Instituto de Pós-Graduação e Graduação IPOG Salvador, BA, 31/03/2014 Resumo A arte de iluminar fachadas de Monumentos Tombados cria uma poética da luz, na atmosfera noturna, destacando a volumetria e detalhes da arquitetura da edificação, que muitas vezes não são percebidos com a iluminação natural. A pesquisa realizada contempla abordagens dos processos que envolvem a Iluminação dos Monumentos, a concepção projetual e sistemas luminotécnicos utilizados com novas tecnologias. A iluminação da arquitetura tombada tem procedimentos determinados pelos orgãos fiscalizadores à exemplo do IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que delimitam as ações intervencionistas para que se mantenha a integridade da edificação. Considerada como iluminação pública está deve ser harmônica com o entorno e atender os critérios executivos de acordo com a normatização. O que norteou a pesquisa é como conceber a arte de iluminar de forma a conciliar o enaltecimento arquitetônico do monumento, respeitando-se os critérios estabelecidos que envolvem a salvagarda, a ambiência e a percepção na área urbana. O desenvolvimento do estudo foi embasado em pesquisas bibliográficas sobre o tema e uma abordagem dos monumentos com iluminação cênica no Centro Histórico de Salvador. A Iluminação da arquitetura tombada, como agente transformador do cenário urbano, fomenta as ações preservacionistas da cidade e da cultura de um povo. Palavras-chave: Iluminação. Arquitetura. Patrimômio. Monumento. 1. Introdução A poética que a luz cria quando destaca uma edificação histórica, proporciona e enaltece o elemento que durante anos resistiu a passagem do tempo e por ser um marco de uma época transmite as gerações futuras a sua história e o seu momento. Iluminar não é apenas aplicar as frias regras predefinidas, mas integrar técnica e criatividade. A iluminação arquitetônica pode ser uma forma de interpretação da arquitetura, uma maneira de apresentar a edificação de formas diferentes sem modificar sua estrutura” (LIMA, 2010:105). A proposição para o artigo na iluminação da arquitetura tombada decorreu em função de verificar o quanto é transformador a percepção noturna do monumento, onde percebe-se claramente o grande diferencial entre a iluminação diurna e noturna. A pesquisa procurou verificar os critérios adotados para a arte de iluminar e os sistemas utilizados que envolvem a concepção da arte final, fazendo uma trajetória histórica da luz como arte e tecnologia e o seu contexto na iluminação pública.

A Iluminação da Arquitetura Tombada com … Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador dezembro/2014

Embed Size (px)

Citation preview

1

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de

Monumentos no Centro Antigo de Salvador

Nereida Passos dos Reis Eloy – [email protected]

Master em Arquitetura

Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG

Salvador, BA, 31/03/2014

Resumo

A arte de iluminar fachadas de Monumentos Tombados cria uma poética da luz, na atmosfera

noturna, destacando a volumetria e detalhes da arquitetura da edificação, que muitas vezes

não são percebidos com a iluminação natural. A pesquisa realizada contempla abordagens dos

processos que envolvem a Iluminação dos Monumentos, a concepção projetual e sistemas

luminotécnicos utilizados com novas tecnologias. A iluminação da arquitetura tombada tem

procedimentos determinados pelos orgãos fiscalizadores à exemplo do IPHAN – Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que delimitam as ações intervencionistas para que

se mantenha a integridade da edificação. Considerada como iluminação pública está deve ser

harmônica com o entorno e atender os critérios executivos de acordo com a normatização. O

que norteou a pesquisa é como conceber a arte de iluminar de forma a conciliar o

enaltecimento arquitetônico do monumento, respeitando-se os critérios estabelecidos que

envolvem a salvagarda, a ambiência e a percepção na área urbana. O desenvolvimento do

estudo foi embasado em pesquisas bibliográficas sobre o tema e uma abordagem dos

monumentos com iluminação cênica no Centro Histórico de Salvador. A Iluminação da

arquitetura tombada, como agente transformador do cenário urbano, fomenta as ações

preservacionistas da cidade e da cultura de um povo.

Palavras-chave: Iluminação. Arquitetura. Patrimômio. Monumento.

1. Introdução

A poética que a luz cria quando destaca uma edificação histórica, proporciona e enaltece o

elemento que durante anos resistiu a passagem do tempo e por ser um marco de uma época

transmite as gerações futuras a sua história e o seu momento.

“Iluminar não é apenas aplicar as frias regras predefinidas, mas integrar técnica e criatividade.

A iluminação arquitetônica pode ser uma forma de interpretação da arquitetura, uma maneira

de apresentar a edificação de formas diferentes sem modificar sua estrutura” (LIMA,

2010:105).

A proposição para o artigo na iluminação da arquitetura tombada decorreu em função de

verificar o quanto é transformador a percepção noturna do monumento, onde percebe-se

claramente o grande diferencial entre a iluminação diurna e noturna. A pesquisa procurou

verificar os critérios adotados para a arte de iluminar e os sistemas utilizados que envolvem a

concepção da arte final, fazendo uma trajetória histórica da luz como arte e tecnologia e o seu

contexto na iluminação pública.

2

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

Na iluminação de edifícios históricos que requerem cuidados e intervenções

harmoniosas a fim de evitar interpretações que contrastem com o espírito da

arquitetura original, tenta-se fazer com que as luminárias desapareçam, escondendo-

as o máximo possível e deixando que a luz fale por si própria (LIMA, 2010:106).

A iluminação de destaque em um monumento histórico tombado é de grande importância não

só pelo cunho significativo que a edificação possui como também a transformação da

ambiência, influenciando nos aspectos: de interesse dos governantes para projetos de

revitalização e valorização local; de orgulho dos cidadãos da cidade; de fomento para o

desenvolvimento das atividades sociais, culturais e turísticas. A interferência nessas

edificações requer o conhecimento da sua arquitetura e o estudo da percepção que envolve o

observador e as ações intervencionistas que devem obedecer aos critérios adotados pelos

órgãos responsáveis pela sua salvaguarda. O evento que norteou a concretização da pesquisa

da iluminação de destaque em monumentos históricos foi fascínio provocado pela visita

realizada ao Centro Histórico do Pelourinho em Salvador, quando da iluminação cênica dos

cinco monumentos a citar: Catedral Basílica; Ordem Primeira de São Francisco; Igreja de São

Domingos de Gusmão; Igreja São Pedro dos Clérigos e o Prédio da Faculdade de Medicina

todos tombados individualmente pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional, exceto o Prédio da Faculdade de Medicina, que fizeram parte da primeira etapa do

programa “Tempo e Luz” pelo Governo do Estado da Bahia, inaugurada em 21 de dezembro

de 2012. O impacto diferencial dessa iluminação nas edificações, fizeram com que buscasse

um maior entendimento para os processos que envolvem as etapas da concepção projetual, as

restrições em função das intervenções realizadas, os equipamentos utilizados e a integração

no contexto da iluminação pública. O artigo também contempla uma abordagem de alguns

monumentos envolvidos no programa “Tempo e Luz” do Governo do Estado da Bahia e os

benefícios gerados dessas ações de revitalização.

“A iluminação é um instrumento importante que reafirma a memória da cidade”

GONÇALVES (2005:2.4).

2. A Luz como Arte em Monumentos Urbanos

“A luz é utilizada há tempos como forma de expressão, criadora de simbolismos e emoção”

(CANDURA; GODOY, 2009).

Quando se trata de iluminar monumentos históricos, prédios tombados pelo

Patrimônio Histórico Nacional, a iluminação torna-se definitivamente arte pura, pois

além de lidar com a luz devemos entender o valor artístico de cada prédio e de cada

monumento. É importante ter sempre em mente a legislação, que manda

respeitarmos as características do prédio (SILVA, 2009:140).

“Neste caso, a luz dá vida ao monumento, fazendo que a noite a obra do artista seja

enaltecida, potencializada. A luz dignifica qualquer obra de arte, é a vida de um monumento,

como é a vida da arquitetura em geral” (SILVA, 2009:140).

O ato de iluminar é prover a percepção e a acuidade aos indivíduos, bem como a segurança,

3

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

com o nível correto de luminância, pois o que vemos é a luz refletida, observando também os

parâmetros técnicos (CANDURA; GODOY, 2009). A iluminação de fachadas em

monumentos mostra uma nova cidade à noite por proporcionar efeitos visuais e ambientes

diferentes dos existentes durante o dia (CEMING, 2012:34).

2.1. A Evolução da Iluminação de Destaque

A iluminação de monumentos e edificações urbanas relevantes se tornou frequente em todos

os países no final do século XX e início do XXI, decorrente do desenvolvimento tecnológico

dos equipamentos. No Brasil o pioneirismo para iluminação de monumentos foi da Rio Luz –

companhia responsável pela iluminação no Rio de Janeiro, outras cidades brasileiras seguiram

o exemplo carioca e promoveram a revitalização e o destaque de seu patrimônio (CANOSA,

2003).

A França atualmente é líder no que corresponde a iluminação urbana de qualidade e a

abordagem criteriosa de seus projetos são referências para diversos países. Os critérios

adotados pela escola francesa se propagaram nos países da Europa e da Ásia por apresentar

conceitos e observação sobre a iluminação dos monumentos e centros históricos. A evolução

da iluminação dos monumentos históricos sob o ponto de vista da escola francesa inicia-se

com a concepção clássica, onde as primeiras iluminações de monumentos e ainda muito

frequente, consistia em iluminar o edifício com a ajuda de alguns projetores dispostos nas

imediações, sem ter a preocupação com a valorização estética da edificação. Os

“Iluminations”, denominação dada pelos franceses, nasce da vontade de reproduzir da melhor

forma possível a imagem diurna no monumento com a predominância do princípio

luminotécnico, que através do posicionamento dos projetores passa a destacar os pontos de

observação das principais fachadas, obtendo maior iluminação que a pública viária, com a

iluminância maior que a do entorno. Já na abordagem contemporânea por uma outra leitura do

monumento temos o conceito da “Mise en Lumière”, que é pensada de maneira original e

autônoma, longe de qualquer referência à imagem diurna e abstraindo-se de certos princípios

que no passado foram considerados dogmas. Esse conceito também traduz a intenção e a

visão sensível do seu criador, propicia uma ou mais leituras do monumento, transforma a

imagem arquitetural procurando não descaracterizá-la, assim como estuda a escolha do

posicionamento dos projetores, o nível de iluminamento e as tonalidades da cor das lâmpadas

com a intenção de “mettre en lumière” - valorizar pela luz – e não mais simplesmente

destacar o volume arquitetônico (CANOSA, 2003).

Em busca de uma perspectiva história: Em que pesem as grandes diferenças entre as

cidades do velho e do novo mundo, os edifícios que contam a história das cidades

foram construídos durante longos períodos históricos e o crescimento urbano

progressivamente os absorveu. Um monumento não somente é somente um conjunto

de fachadas. Ele também é o testemunho de uma época, uma verdadeira referência

estilística e temporal. Mas a iluminação dos monumentos históricos nunca

considerou os diferentes estilos arquitetônicos: castelos medievais, catedrais góticas,

pousadas do século XVIII, mercados do século XIX, fontes art déco são ainda hoje

iluminados segundo os mesmos princípios “clássicos” (CANOSA, 2003).

Na iluminação de monumentos observa-se que a visão diurna é global, a luz do sol o envolve

4

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

integrando-o ao seu ambiente. Ao contrário a iluminação artificial é restritiva: ela pode

diferenciar ou destacar a edificação histórica do seu entorno e como consequência provocar o

isolamento do contexto urbano comenta (CANOSA, 2003).

Segundo Canosa (2003), a reflexão sobre o assunto no que concerne ao papel que a luz pode

desempenhar na identificação e valorização de um estilo arquitetônico, sobre o simbolismo da

luz nos diferentes períodos históricos, sobre o sentido da iluminação na época em que o

monumento foi construído poderiam ser realizados pelos estudiosos da história da arte.

“Esses estudos poderiam determinar novas opções para o partido da iluminação levando em

conta o contexto histórico do monumento; permitiriam também a criação de mobiliários de

iluminação originais e criativos que proporiam uma interpretação contemporânea”

(CANOSA, 2003). Ainda segundo Canosa (2003), o estilo arquitetônico é expresso por

formas, volumes, ornamentos e cores. Em função dessas características a proposta de “mise en

lumière” histórica, seria embasa pelas informações dos estudiosos da história da arte,

agregando aos projetos de iluminação um componente da realidade histórica que determinaria

uma ambiência mais coerente com a arquitetura. Historicamente os monumentos fazem parte

da estrutura das cidades, pois este é considerado um patrimônio “sacralizado”, que faz parte

de uma imagem forte e atrativa da cidade. Canosa (2003) questiona sobre o risco de

desestruturação urbana. Para ele o fato da “sacralização” do monumento pode levar a

concepção de intervenções de maneira exclusiva fora do contexto urbano, conduzindo-se a

criação de “Iluminations” que dissocia a intervenção de uma política de iluminação urbana.

“O destaque do patrimônio deve deixar de ser considerado como um fim em si mesmo e

evoluir para considerar os conjuntos monumentais a as paisagens que os cercam, contribuindo

assim para a estruturação noturna da paisagem urbana” (CANOSA, 2003).

A iluminação de destaque de fachadas e monumentos é considerada também como iluminação

pública pela Resolução ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica n° 456 – Condições

Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de 29 de Novembro de 2000.

A “mise en lumière dos centros históricos” vai buscar uma abordagem ampla tratando o

monumento e o tecido urbano que o envolve, a sua arquitetura, o sítio histórico e a paisagem

ao redor de forma a proporcionar a unidade de conjunto com a rede urbana de iluminação

pública dos acessos (CANOSA, 2003).

“A iluminação dos monumentos históricos constitui, por si só, um ato de preservação e

valorização do patrimônio, uma vez que beneficia a leitura da imagem arquitetônica do

imóvel, permitindo o seu destaque sobre a paisagem urbana” (JUNQUEIRA; YUNES,

2013:11).

2.2. A iluminação da arquitetura no ambiente urbano

Características Gerais:

A arte de iluminar o patrimônio histórico e cultural faz parte do sistema de iluminação para o

embelezamento das cidades, que visa atender de forma integrada o interesse da Administração

Pública que se traduz em ações bem vistas pelos cidadãos (GODOY, 2003).

A luz revela a beleza do cenário urbano noturno, propiciando efeitos visuais

diferentes daqueles observados durante o dia. Além disso, ela cria uma identidade

cívica tornando as cidades mais atrativas, receptivas, carismáticas e convidativas aos

5

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

visitantes e turistas.

Durante o dia, a cidade e seus edifícios são iluminados pela luz solar direta e pela

luz indireta e difusa do céu, ou por ambas ao mesmo tempo, mudando

constantemente a direção a cor e as relações de luz e sombra. Esses mesmos

volumes iluminados com luz artificial contrastam-se com a escuridão da noite,

tornando-se dramaticamente destacados e belos (GODOY, 2003).

Por muito tempo a iluminação nas cidades cumpria um papel estritamente utilitário e

funcional com o objetivo de permitir a visão noturna nas vias e edificações, encobrindo assim

as diversas potencialidades da luz. Estas potencialidades compreendem: capacidade de

criação cenográfica urbana e definições de ambiências psicológicas e simbólicas, explica

(Canosa, 2003). Para ele é importante analisar essas funções da iluminação urbana.

O potencial cenográfico da luz, é a mais importante no que diz respeito à iluminação

de monumentos e fachadas: o uso competente de todas as múltiplas possibilidades

de manipulação das fontes de luz. O conhecimento técnico, sensibilidade e a

criatividade do lighting designer são fundamentais para selecionar o partido

adequado entre tantas possibilidades que a iluminação artificial oferece.

A definição de ambiência psicológica e simbólica, a luz gera impressões

psicológicas, imprime de maneira duradoura e diferenciada a nossa percepção do

espaço ou a imagem de um local. Ela provoca sensações e nos associa a símbolos

que permitem qualificar a ambiência do espaço que percebemos. Por exemplo, a

simples escolha de lâmpadas com uma determinada temperatura de cor pode gerar

associação às noções de calor e de frio pela maioria das pessoas.

A Luz tem sido relacionada com a obscuridade ou com as sombras sempre que se

quer simbolizar uma evolução ou dualidade. Ela tem sido muitas vezes identificada

com o divino. A luz organiza o caos e, para nossos antepassados, se opunha às

“forças maléficas” escondidas nas sombras da noite, nas vielas das cidades antigas.

A falta de luz é também considerada como fator de insegurança. O medo do cidadão

se confunde com o medo da noite e o clarão da luz simboliza o refúgio.

A luz pode ser metafórica: ela restitui a ideia de fausto, cerimônia, de festa.

Estas características da luz começam a ser exploradas na iluminação da arquitetura e

dos espaços urbanos (CANOSA, 2003).

“A iluminação de destaque é uma ferramenta muito eficiente quando tratamos da valorização

do patrimônio, tornando-se assim uma ferramenta artística no sentido da valorização de uma

das características de uma cidade, que é seu acervo arquitetônico” (GODOY, 2003). Para

Godoy (2003), as ações no sentido de valorização urbana devem fazer parte do Plano Diretor

para se tenha uma unidade visual, em se tratando de um edifício de relevância histórica.

Deve-se ter cuidado para que as ações intervencionistas não causem poluição luminosa, para

isso verificam-se os efeitos como: ofuscamento, luz invasora, efeitos na população, efeitos

nos pedestres, efeitos nos sistemas de transportes, efeitos em plantas e animais.

Um ambiente bem iluminado deve utilizar as apropriadas tecnologias disponíveis,

baseando-se nas condições sociais e econômicas da cidade, suficientemente

definidas, objetivando as seguintes questões:

-Utilização somente da quantidade de luz necessária e suficiente para cada

aplicação;

-Utilização de sistemas que não prejudiquem a visão noturna;

-Eliminação do ofuscamento;

6

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

-Controle do fluxo luminoso em função da aplicação, do local e do período noturno

(GODOY, 2003).

3. Diretrizes da Iluminação de Destaque

A concepção de processos projetuais deve embasar-se em avaliar critérios de importância

histórica ou o mérito arquitetônico da edificação, viabilidade economicamente inerente aos

gastos iniciais e de operação dos elementos relacionados à iluminação e as questões no que

tange o consumo de energia elétrica e os aspectos de sustentabilidade. É interessante destacar

que o conceito de lightdesign é ressaltar as características do prédio. O design da instalação

tem que ser harmônico com seus arredores, proporcionando segurança e proteção e

encorajando as pessoas a frequentarem o local (GODOY; CANDURA, 2009:35).

Para a realização do projeto de iluminação em monumentos tombados alguns aspectos devem

ser considerados: macro escala (meio ambiente); condições do meio ambiente; arredores e

periferia; disposição dos prédios; estilo da construção (clássico, contemporâneo,

convencional); formas, volume e fachadas; cores, fatores de reflexão.

Após a obtenção de dados e antes de realizar a implantação e qualquer solução técnica em

design de iluminação, é necessário estabelecer parâmetros como: o nível de iluminação;

controle da luminância; contrates e uniformidade; modelagem; cor da luz e controle do brilho.

3.1. Estilos de Iluminação

Para definição do estilo a ser utilizado na iluminação de destaque é necessário avaliação do

monumento tombado e como proceder às ações intervencionistas. Existem diferentes escolas

de estilo com os quais se pode identificar qual é o mais apropriado para utilizar no

monumento.

- Estilo Italiano – prioriza a iluminação de patrimônios com o mínimo possível de

intervenção, fazendo-o inclusive a determinada distância.

- Estilo Francês – prima pelo trabalho da luz de forma mais integrada aos edifícios, tendo-se

uma iluminação mais intervencionista.

4.0. Processo projetual técnico-artístico

Para desenvolver um plano de iluminação para um edifício histórico, utiliza-se de um método

de análise de vários aspectos técnicos e artísticos, que podem ser agrupados nas áreas

humanas; referencial; luminotécnica e elétrica (GODOY; CANDURA, 2009:60).

“Devemos sempre lembrar que estamos destacando o patrimônio e não utilizando-o para criar

um show de iluminação” (GODOY; CANDURA, 2009:61).

O processo projetual contempla uma análise geral de estudos e especificação dos recursos

técnicos e econômicos que serão alocados, primando para resguardar o próprio patrimônio.

“A luz destaca. E só se destaca o que se aprecia, ou o que se quer apreciar” (CANOSA, 2003).

A atividade criativa do lighting designer, ao projetar a iluminação dos volumes

urbanos mais significativos, estará permanentemente balizada pela consciência de

que, em várias oportunidades ele estará trabalhando sobre a obra de terceiros, seja

7

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

ele a própria natureza ou outro artista.

Portanto, iluminar os espaços, construções e obras de arte das cidades exige um

sentimento de profundo respeito pelo trabalho daqueles que as conceberam e

construíram. Impõe responsabilidade em preservar a identidade dos monumentos e

edifícios. A iluminação não é mais importante que a obra iluminada. Deve, sim,

expressar a releitura noturna desta obra através da sensibilidade criativa e da

consideração profissional de quem ilumina (CANOSA, 2003).

O projeto de iluminação em arquitetura tombada deve envolver não só o lighting designer e

sim, também envolver uma equipe multidisciplinar composta de estudiosos da história da

arquitetura, história da arte, engenheiros eletricistas, entre outros, para ter noção do que é o

edifício e a intenção de seus projetistas (GODOY; CANDURA, 2009:61).

“O que se pode entender como eficiência visual dos volumes é o quanto, ao iluminar

determinado volume, vai-se contribuir para percepção final do edifício. Se não houver esta

diferenciação, corre-se o risco de iluminar-se tudo: o interessante é ter luz e não luz”

(GODOY; CANDURA, 2009:62).

Vários elementos estão envolvidos com a concepção do projeto, a saber: a alocação de

recursos, para não inviabilizar o projeto com custos elevados, mão de obra específica e

exaustivas avaliações à sua percepção de como ele se encaixa no âmbito urbano, o fato de não

proceder às verificações principalmente no que tange a ambiência pode-se incorrer em erros.

A iluminação tem a faculdade de mudar a percepção que temos de um objeto. A

volumetria dos diferentes elementos que compõem um edifício não é marcada

apenas pela luz, mas principalmente pela sombra. Luz e sombra são dois lados da

mesma moeda, não se pode pensar em forma e volume sem considerar as sombras e

suas projeções (LIMA, 2010:109).

Richard Kelly foi o pioneiro a criar projetos a partir da percepção. Ele se libertou

dos fatores condicionantes que fizeram da iluminância critérios essenciais da

luminotécnica. Trocou a quantidade de luz por suas qualidades individuais e uma

série de funções da iluminação dirigidas ao observador que percebe a realidade. O

ponto central do conceito de seus projetos é: Luz para ver, luz para olhar e luz para

contemplar (Lima, 2010:106).

A luz que destaca a arquitetura é percebida através da visão, um dos sentidos que nos permite

apreciar as formas, detalhes, cores e sensações de bem estar e segurança. O olho transmite

sensação de luminosidade. A nossa retina é formada por bastonetes e cones, os bastonetes nos

permite ver quando está escuro e também ajuda a visão periférica. Já os cones são

responsáveis por determinar as cores, portanto a visão associada aos cones é conhecida como

fotópica referente a altos níveis de luz (dia), já os bastonetes estão associados a baixos níveis

de luz (noite) sendo conhecida como visão escotópica. A área entre as duas, a fase de

transição para que contribuem os bastonetes e os cones, é conhecida como visão mesópica. A

visão mesópica corresponde a níveis de iluminação muito inferiores a luz do dia, mas que

continuam a ser mais altos do que a escuridão total. Condições de iluminação encontradas nas

ruas de uma cidade à noite (GODOY; CANDURA, 2009).

[...] sem luz os olhos não podem observar nem forma, nem cor, nem espaço ou

8

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

movimento. Mas a luz é mais do que apenas uma causa física do que vemos. Mesmo

psicologicamente ela continua sendo uma das experiências humanas mais

fundamentais e poderosas uma aparição compreensivelmente venerada, celebrada e

solicitada [...]. Ela interpreta para os olhos o ciclo vital das horas e das estações

(ARNHEIM, 2000:293 apud JUNQUEIRA, 2014).

5.0. Entendendo o Projeto de Iluminação da Arquitetura Tombada

Após as análises e definições dos conceitos que envolvem as premissas determinantes do

processo projetual artístico, já abordado anteriormente, começa-se assim a desenvolver o

projeto luminotécnico, mediante as informações à seguir:

a) Análise prévia dos elementos arquitetônicos a serem destacados como torres, cúpulas,

cornija, estátuas, telhados, etc.;

b) Composição luminosa incluindo considerações estéticas relativas ao tipo de cor das

lâmpadas, cor e refletância da superfície, níveis de iluminância, composição de luz e sombra;

c) Posicionamento horizontal e vertical dos projetores.

Segundo Godoy e Candura (2009) a partir do que se quer iluminar, o projeto luminotécnico

também pode ser dividido em: sistemas de iluminação e a definição das fontes de luz do

projeto.

Os sistemas de iluminação compreendem:

- O sistema básico ou primário, mostra o edifício como um todo de maneira real, mesmo sem

detalhes destacando-o volumetricamente.

- O sistema específico de destaque onde são iluminados os detalhes do edifício, tais como:

arcos, sacadas, brasões, entre outros elementos decorativos ou de importância arquitetônicas

criando “movimento” na percepção. É um sistema mais relacionado a emoção nos

observadores.

- O sistema complementar ou secundário é um tipo de iluminação que vem corrigir as

sombras ou distorções que alterariam a percepção do edifício produzida pelo sistema

primário. O sistema secundário complementa a imagem do edifício, cabendo ao projetista

definir se uma edificação histórica comporta os três tipos de sistemas. Pode-se em alguns

casos quando as edificações são muito próximas utilizar a iluminação de destaque. Em síntese

o importante é obter, utilizando as três ferramentas dos sistemas de iluminação, o melhor

resultado possível.

5.1. Definição de cores no projeto

Segundo Leão (2008), a cor da luz projetada na superfície de um edifício, e como esta luz

reproduz as cores naturais de seus acabamentos, influenciam a compreensão do objeto.

Dentre a enorme variedade de lâmpadas existentes, e suas respectivas temperaturas

de cor e composição espectral (que é responsável pela fidelidade da reprodução de

cores), as mais utilizadas para iluminar edifícios estão disponíveis, no mínimo em

quatro opções de luz branca: 2.700K, 3,000K, 4,000K e 5.000K (LEÃO, 2008:73).

Entende-se por temperatura de cor, como um termo utilizado para descrever a aparência da

cor de uma fonte de luz, pois existem várias tonalidades de cor e são catalogadas conforme

9

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

sua temperatura em Kelvin, assim define (SILVA, 2004). Já o IRC – Índice de Reprodução de

Cor é uma medida de correspondência entre a cor real de um objeto ou superfície e a sua

aparência diante de uma luz artificial. É medido de 0 a 100, em que 100 representa a cor do

objeto iluminado pela luz do sol (cor real).

A aparência da cor de uma lâmpada vista em combinação com outras lâmpadas de cores

diferentes é mais importante do que quando vista isoladamente.

A utilização de diferentes temperaturas de cor na iluminação de uma mesma fachada

pode servir como uma estratégia de hierarquia e informação da profundidade, desde

que compatibilizada com a linguagem da arquitetura. Quando um detalhe particular

de um determinado edifício é iluminado com uma fonte de 4.000K, enquanto a

maior parte dele recebe luz com 3.000K, este detalhe será destacado por um tom de

branco azulado. Neste caso, a temperatura de cor mais alta cria um diferencial no

conjunto, direcionando o olhar. Se usada como instrumento para facilitar a

compreensão tridimensional de um edifício, como pavimentos e reentrâncias,

permite a leitura de sua profundidade mesmo que todos os níveis e relevos sejam

iluminados. Contudo, em situações extremas, esta estratégia pode levar ao

rebuscamento excessivo comprometendo a interpretação da arquitetura (Leão,

2008:75).

Na figura 01, foram utilizadas lâmpadas com três tipos diferentes de temperatura de cor com

2.000K (destaque da volumetria dos arcos), 3.200K (destaque elementos arquitetônicos –

sistema específico) e 5.000K (banho de luz – sistema primário).

Figura 1 – Exemplo de combinação de cores

Fonte: Cemig (2012)

5.2. Incidência de luz, contraste de luz e sombra

A direção da luz incidente sobre a edificação influencia no aspecto de percepção dos

elementos arquitetônicos da superfície iluminada.

Quando os refletores são posicionados perpendicularmente à superfície iluminada

praticamente não há formação de sombras, e os detalhes arquitetônicos não são percebidos.

Porém, se eles forem posicionados em ângulo com a superfície, são projetadas sombras que

agregam qualidade dimensional e textura. O tamanho das sombras sobre a superfície está

10

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

relacionado à altura da posição dos projetores e dos ângulos de focalização (CEMIG, 2012).

“A variação entre luz e sombra é decisiva no resultado final do projeto. O efeito da

iluminação apresentará mais contraste quanto mais acentuado forem as sombras ou mais

direcional for a iluminação” (CEMIG, 2012). Deve-se ter cuidado com o excesso do

contraste, pois pode alterar o contexto de entendimento arquitetônico da edificação.

Figura 2 – Iluminação com alto contraste

Fonte: Cemig (2012)

“Pode-se valorizar ou ocultar texturas e relevos dependendo do posicionamento e da direção

da luz em relação a uma superfície. Quando a luz incide de forma rasante ou paralela a uma

superfície texturizada, produz sombras da própria rugosidade” (LEÃO, 2008:70).

A depender da direção da luz podemos ter diferentes interpretações das formas e relevos, a

saber:

- Direta: a luz é projetada de cima para baixo, como a luz natural e a maioria das luminárias

de alumínio fixadas em postes de iluminação viária;

- Indireta: a luz é projetada de baixo para cima, com projetores embutidos no piso para

valorização de pilares;

- Direta e indireta: a luz é projetada na vertical para baixo e para cima sem emissão lateral

(horizontal);

- Difusa: quando a luz é projetada para todas as direções.

5.3. Níveis de Iluminância e refletância da superfície

A percepção da iluminação sobre uma determinada superfície depende da claridade

do entorno onde a mesma está inserida. O nível de iluminância (medida em lux – é o

fluxo luminoso que incide em uma superfície a uma certa distância) necessário para

destacar uma fachada na área central de uma cidade será maior que o nível em seus

11

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

bairros ou uma cidade menor. Elementos como esculturas, arcos e outros detalhes

arquitetônicos podem requerer maior nível de iluminância em relação a área total da

fachada. A refletância da superfície também deve ser considerada na definição dos

níveis de iluminância, pois quanto mais clara menor poderá ser a luz incidente

necessária para destacar a superfície (CEMIG, 2012: 7.4).

Abaixo são apresentados os níveis de iluminância e refletância:

Refletância predominante da

superfície

Iluminação do entorno

Baixo Médio Alto

Áreas rurais

pouco

iluminadas

Áreas urbanas

iluminadas

Áreas urbanas

centrais muito

iluminadas

Alta Mármore ou pastilhas 20 lux 30 lux 60 lux

Média Concreto, pedra ou

pintura clara

40 lux 60 lux 120 lux

Baixa Tijolo vermelho ou

pintura escura

80 lux 120 lux 240 lux

Tabela 1 – Níveis de iluminâncias para fachadas e monumentos em função do entorno e da refletância da

superfície

Fonte: Cemig (2012)

5.4. Posição dos projetores e ofuscamento

“Ao elaborar um projeto de iluminação com projetores, o ofuscamento deve ser

cuidadosamente controlado. Em nenhum, caso a iluminação decorativa deve comprometer o

desempenho visual dos pedestres e, principalmente, dos condutores de veículos” (CEMIG,

2012).

O controle do ofuscamento deve ser feito principalmente pelo correto

posicionamento dos equipamentos, considerando os ângulos de abertura do facho

luminoso dos projetores. Como regra geral, os projetores devem ser instalados

perpendicularmente ao sentido do trânsito, com abertura de facho luminoso limitado

ao ângulo de meia intensidade luminosa (1/2 Imax) (CEMIG, 2012).

A área em vermelho indica as regiões onde o ofuscamento deve ser evitado para não

comprometer o trânsito dos veículos e pedestres, como apesentado nas figuras 3 e 4.

12

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

Figura 3 – Posicionamento horizontal de projetores

Fonte: Cemig (2012)

Percebe-se que o ângulo dos projetores nas figuras 3 e 4, não ultrapassam os aspectos técnicos

de abertura de foco, fator esse, importante para se alcançar os objetivos estéticos de um

projeto de iluminação, contribuindo assim para se evitar o ofuscamento da via de veículos e

pedestres.

Figura 4 – Posicionamento vertical de projetores

Fonte: Cemig (2012)

Ofuscamento – condição de visão na qual há desconforto ou redução da capacidade de

distinguir detalhes ou objetos, devido a uma distribuição desfavorável das luminâncias com

brilhos intensos ou em contrastes excessivos.

13

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

5.5. Definição das fontes de luz do projeto

Quando da invenção da luz artificial, com o aparecimento da primeira lâmpada, o homem ao

longo de mais de 100 anos, vem aprimorando as fontes de luz, passando pelas lâmpadas com

incandescência, lâmpadas de descarga elétrica e luminescência que são LEDs (diodo emissor

de luz). Além do grande crescimento com relação às fontes de luz, luminárias e

equipamentos, existe também uma preocupação para que os sistemas sejam cada vez mais

energeticamente eficientes. No Brasil, principalmente nos últimos vinte anos, a Eletrobrás e a

Companhia Hidro Elétrica do São Francisco – CHESF instalada no Nordeste, por meio do

programa ReLuz têm incentivado o desenvolvimento de projetos luminotécnicos que

valorizem e promovam a eficiência energética na iluminação pública.

A definição das fontes de luz ocorre após a identificação das características do edifício e os

efeitos de iluminação desejados na visualização noturna. Assim com a escolha das lâmpadas,

luminárias e dos modernos LEDs, sempre buscando a eficiência energética. Para Candura e

Godoy (2009) a definição das fontes de luz deve ser feita sob os seguintes critérios:

- Luminotécnico – com base no fluxo luminoso e abertura de foco;

- Estético – considera a aparência de cor e as cores.

Segundo Candura e Godoy (2009):

A função dos equipamentos de iluminação no destaque de fachadas podem ter as seguintes

classificações:

1-Iluminação primária ou básica: normalmente são utilizados projetores externos ou

embutidos de solo, provendo uma iluminação homogênea ao longo da fachada;

2-Iluminação secundária ou complementar: projetores de menor porte que os

utilizados na iluminação primária, corrigem possíveis distorções criadas pela

iluminação primária, como sombras. Equipamentos lineares também podem ser

utilizados em casos específicos, com lâmpadas fluorescentes ou mesmo LEDs;

3-Iluminação de destaque: em geral, são especificados spots de pequeno porte,

iluminação pontual balizadora, embutidos de solo de pequeno porte (são projetores,

mas embutidos de solo) e até equipamentos lineares. Existem ainda elementos

pontuais, que não projetam, mas sim emanam luz da fachada, como por exemplo os

LEDs: o elemento não está sendo iluminado, mas participa da iluminação como um

dos elementos discretos observados.

A diferença entre projetor e spot é que o segundo resolve pequenas necessidades de

iluminação;

Já o projetor provê soluções mais abrangentes. Enquanto os spots são utilizados para

iluminar determinado local, os projetores são empregados nas fachadas.

No entender de Leão (2008:83):

O projeto de iluminação deve atender aos princípios de sustentabilidade. O

profissional deve selecionar equipamentos e posicioná-los corretamente para

garantir o máximo de aproveitamento da luminosidade, evitando desvio de luz,

poluição luminosa e, consequentemente, desperdício de energia. O uso racional de

luz também deve ser considerado utilizando equipamentos de controle para

racionalizar o consumo energético. Seja um simples temporizador que controle o

14

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

intervalo em que as luminárias ficam ligadas ou um sistema avançado de tele gestão

que possui uma aplicação muito mais ampla, do controle de acendimentos à seleção

de níveis de intensidade compatíveis com a demanda do espaço.

Na iluminação de fachadas de monumentos podem ser utilizados projetores, lâmpadas e

filtros de todos os tipos, inclusive os acessórios complementares como: postes, suportes,

reatores, ignitores. Utiliza-se também as fibras óticas, os LEDs, que cada vez mais se

incorporam a variada oferta de materiais e equipamentos tanto no mercado brasileiro como de

fabricantes estrangeiros.

Quando se trata do uso eficiente de energia, deve-se proceder a escolha da lâmpada com

elevada eficiência luminosa (relação entre o fluxo luminoso e a energia consumida),

considerando também fatores de preço, a cor da luz, a vida mediana da lâmpada e facilidade

de manutenção.

Para iluminação de destaque estão sendo empregadas em larga escala as lâmpadas de

descargas de alta pressão de multivapores metálicos de pequeno e grande porte, vapor de

sódio de alta pressão, fluorescentes, LEDs, dentre outras, conforme os estudos realizados na

elaboração do projeto. A escolha de luminárias também contribui para a eficiência energética

projetual.

As luminárias têm diversas funções, a saber: controle e distribuição espacial do fluxo

luminoso da lâmpada, direcionando-o para os objetos e superfícies, sem produção de

ofuscamento e poluição luminosa. Elas desempenham o papel de proteção para as lâmpadas

contra danos provocados pelos agentes atmosféricos, determinado pelo IP (Índice de

Proteção), segurança das conexões elétricas e acomodação dos componentes auxiliares

necessários à sua operação. Nos sistemas de iluminação esses equipamentos tem a função de

enfatizar os objetos e superfícies a serem iluminadas, ficando imperceptíveis ao observador.

Portanto, as especificações técnicas desses equipamentos devem objetivar mais o seu

desempenho que a aparência estética dos mesmos. Outro fator a ser considerado é a eficiência

luminosa dessas luminárias (relação entre o fluxo luminoso emitido pelo projetor e o fluxo

luminoso emitido pela lâmpada), pois influencia na eficiência energética da instalação.

A instalação desses equipamentos segue critérios por tratar-se de bem tombado e protegido

pelos órgãos que primam pela sua salvaguarda. Para passagem da fiação de alimentação

estudos preliminares devem ser feitos de forma a intervir o mínimo possível na edificação

atentando para as cores dos cabos que devem ser o máximo possível despercebida. Para a

execução da infraestrutura, das instalações elétricas como dos equipamentos de iluminação

são utilizadas plataformas elevatórias que otimizam bastante a execução dos serviços, como

também, oferecem condições de segurança ao operário em observância das normas vigentes.

O projeto também deve estar embasado em cálculos dos índices de iluminâncias,

determinação da potência dos sistemas e atendimento das normas relacionadas à iluminação

pública NBR 5101, as de instalações elétricas de baixa tenção NBR 5410 e NBR 5413.

Os sistemas de iluminação dispõem de ferramentas de simulação do projeto luminotécnico

através de software específicos que realizam estudos para obtenção do resultado esperado.

Após todas as definições projetuais, o projeto luminotécnico só poderá ser executado

mediante aprovação do IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que

adota vários critérios para o sistema de iluminação de monumentos tombados (GABRIEL,

2008).

15

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

5.6. Posição dos aparelhos e efeitos luminosos

Na fachada para destacar e valorizar elementos da arquitetura isoladamente ou em conjunto,

utiliza-se efeitos de luz, os quais, objetiva alcançar a percepção correta do espaço iluminado.

Para Canosa (2003) a posição dos aparelhos de iluminação tem importância significativa na

maneira de destacar o elemento que se quer iluminar, obtendo-se diferentes resultados

conforme o tipo de efeito desejado. Dentre as várias alternativas para bem iluminar temos:

-Iluminação down light ou plongée – fonte luminosa em cima e na frente do objeto. Apresenta

um caráter dramático ao espaço arquitetônico. Projetores fixados em postes ou em consoles

nas fachadas;

-Iluminação up light ou contre-plongée – a fonte está colocada embaixo do objeto ou ao nível

do solo (projetores embutidos no solo dirigidos para o alto devendo ser considerado o IP-

índice de proteção). Enfatiza a monumentalidade e a elevação;

-Iluminação frontal – a fonte luminosa está à frente do objeto; é muito utilizada quando se

quer iluminar o tema com luz geral, uniforme;

-Iluminação lateral – a fonte está colocada em um dos dois lados do objeto, ligeiramente a

frente;

-Iluminação rasante – é lançada em um plano vertical, paralelo e bem próximo do objeto:

também chamada luz tangente, ela pode ser up light ou down light. Ela provoca uma lavagem

de luz na fachada (wall washing) e acentua os pequenos relevos;

-Iluminação em contra luz (backlight) – a fonte de luz está situada sobre um plano atrás do

observador. Esta condição sublinha as linhas e contornos dos objetos;

-Iluminação de fundo (background light) – a fonte luminosa incide sobre o fundo do objeto

que se quer destacar, obtendo-se o efeito silhueta.

O diagrama de flechas sinaliza a focalização dos projetores conforme observado na figura 5.

16

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

Figura 5 – Diagrama de flechas com pontos de focalização dos projetores do Theatro Municipal de São Paulo

Fonte: Revista Lume Ed. 51 AGO/SET (2011)

“Em um sítio histórico, a divisão dos comandos e a criação de programas de acendimento

viabilizam o acionamento parcial dos projetores diminuindo o impacto da luz invasiva,

proveniente da iluminação de fachadas e monumentos, em edifícios residenciais vizinhos”

(LEÃO, 2008:84). A luz invasiva é provocada pela invasão de luz nos ambientes e provoca

desconforto dos ocupantes.

5.7. Uma abordagem dos monumentos com iluminação cênica no Centro Histórico de

Salvador (BA)

O Centro Histórico de Salvador, notável por seu rico acervo arquitetônico e de grande valor

histórico, contempla importantes monumentos tombados e belos casarios, ruas e ladeiras em

pedras, marco de uma época, que ao longo dos seus 465 anos, ainda preservam a sua história e

a suntuosidade das edificações religiosas. É uma região que tem muitas manifestações

culturais e visitação de turistas de diversos locais do País, inclusive do exterior. Esse rico

acervo foi considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO (Organização das Nações

Unidas da Ciência e Cultura) em 1985.

17

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

Figura 6 – Centro Histórico – Terreiro de Jesus - Pelourinho – Google acessado em 30.03.14

A iluminação cênica de monumentos no Centro Histórico teve duas etapas. A Primeira etapa

em dezembro de 2012 no Terreiro de Jesus, nas edificações religiosas: Igreja de São

Francisco; Catedral Basílica; Igreja de São Domingos de Gusmão; Igreja São Pedro dos

Clérigos e o prédio da Faculdade de Medicina (figura 6). A segunda etapa do projeto

contemplou a região do Carmo nas edificações religiosas: Igreja do Boqueirão e Igreja de

Santo Antônio, já concluídas em dezembro de 2013 (figura 7). Ainda estão por vir, outros

projetos de iluminação cênica em várias edificações importantes do Centro Histórico.

Inicialmente a visitação para pesquisa sobre o tema começou na região do Carmo, nas Igrejas

do Boqueirão e de Santo Antônio e, posteriormente, no Terreiro de Jesus nas Igrejas de São

Domingos e São Francisco - Centro Antigo – Salvador (BA).

Figura 7 – Centro Antigo - Carmo – Google acessado em 30.03.14

Igreja do Boqueirão A Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição do Boqueirão dos Homens

Pardos foi construída em 1726.

-Visita em novembro de 2013-Execução da iluminação cênica, com utilização de plataforma

18

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

elevatória sobre rodas, facilitando o acesso às partes mais altas da edificação e de forma

segura para o operário, com minimização das interferências locais (figura 8).

- Visita em fevereiro de 2014-Iluminação cênica executada (figuras 9 e 10).

Figuras 8, 9 e 10 – Igreja do Boqueirão – Execução iluminação Cênica

Fonte: Autora (nov-2013 e fev-2014)

Foram utilizados no Boqueirão os equipamento e lâmpadas conforme a seguir:

-Projetores de Piso Embutido com lâmpadas de vapor metálico de 4.200K e 3.000K e

potência de 150W e 35 W; Projetores Sobrepostos a cornija - Baroled com lâmpadas de LED,

4.200K e 80W; Projetor Sobreposto a cornija – Epsilon com lâmpadas de vapor metálico de

3.000K e 35W; Projetores dentro da torre – Radial com lâmpadas de sódio de alta pressão de

2.000K e 70W; Projetor instalado no interior da torre – Radial com lâmpadas de sódio de alta

pressão de 2.000K e 250W;Projetores instalados atrás do frontão, nas arestas posteriores das

torres – Radial com lâmpadas de vapor metálico de 2.000K e 150W;Projetores instalados em

postes / sobrados do outro lado da rua – Focal com lâmpadas vapor metálico de 4.200K e

70W;Projetores instalados acima das portas das entradas dos anexos - Radial com lâmpadas

de 4.200K, 70W;Projetores instalados em empenas de sobrados vizinhos – Focal com

lâmpadas de 4.200K e 150W;Projetores instalados atrás do frontão – Radial com lâmpadas de

vapor metálico de 4.200K e 70W;Projetores instalados na cumeeira do corpo da nave – Focal

com lâmpadas de vapor metálico de 2.000K e 150W;Projetores instalados sobre os sobrados

na esquina da praça – Focal com lâmpadas de vapor metálico de 4.200k e 70W;Projetores

instalados na cumeeira do corpo da nave – Focal com lâmpadas de vapor metálico de 4.200K

e 150W. Total de projetores utilizados 34un (XAVIER, 2009).

Analisando o impacto da iluminação na edificação, percebem-se contrastes diferenciados da

superfície nos locais com pintura e cantaria das portadas. E a partir da cimalha superior no

frontão e torres, com acabamento em azulejos, um maior destaque na volumetria

arquitetônica. A iluminação cênica da Igreja do Boqueirão proporcionou a valorização e

destaque da arquitetura do monumento, contribuindo para melhora da iluminação pública

local como também para a segurança das pessoas. A iluminação criou uma dramaticidade

noturna.

Igreja de Santo Antônio

19

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

A histórica Igreja de Santo Antônio Além do Carmo foi fundada no século 16. A igreja

primitiva foi construída entre 1594 e 1595 por Cristovão de Aguiar Daltro. Em 1648, foi

elevada à categoria de igreja matriz, com a criação da paróquia.

-Visita em fevereiro de 2014 – Iluminação cênica (figuras 11, 12 e 13)

Figuras 11, 12 e 13 – Igreja de Santo Antônio Além do Carmo – Iluminação Cênica

Fonte: Autora (fev-2014)

Na igreja de Santo Antônio foram instalados projetores no total de 30un. A fachada possui

pintura com cores em amarelo e branco nos detalhes arquitetônicos. A iluminação artística

proporcionou contrastes na fachada e destaque dos elementos arquitetônicos característicos.

Os projetores foram instalados conforme à seguir: Projetores -Terra no piso do adro dando um

tratamento de véu na fachada com lâmpadas metálicas de 3.000K e 150W; Projetores - Focal

em poste no lado oposto da pista para destaque da parte de cima da cornija com lâmpadas

metálicas de 3.000K e 150W (figura 12); Projetor Corus sobrepostos à cornija para

iluminação rasante do frontão; Projetor Tau C instalado em poste da rede pública para

destaque da fachada lateral esquerda; Projetor Zeta instalado na parede do sobrado vizinho

para iluminação das partes baixa da torre anã; Projetor Radial instalado dentro da torre sineira

utilizando lâmpadas de sódio de alta pressão de 2.000K e 70W; Projetor Focal instalado na

laje da torre anã para destaque da estátua do Santo com lâmpadas de vapor metálico 3.000K e

70W (XAVIER, 2009). A iluminação cênica da igreja de Santo Antônio impactou não só por

dar destaque a igreja, como também revitalizou a iluminação local, proporcionando uma

maior convivência das pessoas na praça, como também apreciação da vista da Bahia de Todos

os Santos ao por do sol. Por mais simples que seja a volumetria arquitetônica a iluminação

artística tem poder transformador.

Igreja de São Domingos de Gusmão

A igreja da Venerável Ordem 3ª de São Domingos Gusmão teve sua construção iniciada em

1731.Tem fachada em estilo rococó. Seu interior possui talha neoclássica, que substituiu a

primitiva talha barroca.

Visita em 24 março de 2014.

20

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

Figuras 14, 15 e 16 – Igreja de São Domingos de Gusmão – Detalhe Iluminação Cênica

Fonte: Autora (24 março 2014)

Figuras 17 e 18 – Igreja de São Domingos de Gusmão

Fonte: Autora (24 março 2014)

Na Igreja de São Domingos de Gusmão foram utilizados 72 projetores, somente a fachada

frontal foi iluminada. A sua edificação é composta por elementos em cantaria nos detalhes

arquitetônicos característicos e paredes com pintura branca, seu adro é contornado por gradil

de ferro forjado. A iluminação cênica destacou principalmente os elementos em cantaria,

como também as janelas rasgadas da capela da Boa Morte e no seu corpo principal as

portadas e janelas do coro. Os projetores foram instalados conforme a seguir: Instalação de

Projetor Corus no adro junto aos gradis, proporcionando um véu na fachada e realce do

contraste proviniente dos elementos de cantaria. Observa-se que no corpo central da

edificação foram instalados três conjuntos do projetor Corus e nas laterais dois conjuntos.

Foram utilizados nos equipamentos lâmpadas de vapor metálico; Instalação de projetor Corus

nas janelas rasgadas da fachada e janelas centrais com lâmpadas de vapor metálico de 70W

para o tratamento de contra luz; Instalação de luminárias lineares de LED de 45W sobrepostas

nas cornijas; Para destaque da torre sineira, da torre anã, do óculos do frontão e da base da

cruz, foram instalados projetores com lâmpadas de vapor metálico com 75 W e 35W e

21

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

projetores de 3 LEDs com 1.2W alternados (GOBI, 2013). Durante o dia percebe-se que os

equipamentos instalados não provocam impactos na arquitetura do monumento.

Igreja de São Francisco

A igreja de São Francisco no contexto do Terreiro de Jesus destaca-se pela sua historicidade,

a arquitetura barroca, a exuberância do seu interior com suas talhas revestidas em folhas de

ouro e o seu rico acervo da azulejaria portuguesa. É considerada como uma das “Sete

Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo” uma relíquia poderosa dos franciscanos que

passaram pelo Brasil na colonização. A sua construção teve início pelo convento e uma

pequena capela em 1587.

Figuras 19, 20 e 21 – Igreja de São Francisco – Detalhe Iluminação Cênica

Fonte: Autora (24 março 2014)

Figuras 22 e 23 – Igreja de São Francisco – Iluminação Cênica

Fonte: Autora (24 março 2014)

A Iluminação cênica destacou a bela arquitetura à noite. Foram instalados 201 projetores na

sua fachada frontal, e entorno das torres. Na iluminação rasante de sua fachada, utilizou-se

lâmpadas com temperatura de cor entre 2.800K e 3.000K na tonalidade branco-dourada, em

22

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

função dos revestimentos em azulejos e detalhes arquitetônicos característicos em cantaria

(pedra talhada). Projetores embutidos no piso com iluminação em vapor metálico de 70W

destaca a parte mais baixa da fachada. As cornijas receberam linhas contínuas de luminárias

lineares de LED de 70W, além de projetores com lâmpadas de vapor metálico para os

elementos verticais. Nas torres foram instaladas luminárias de LED de 70W nas bases das

flechas (GOBI, 2013).

Ao anoitecer a iluminação pública foi se revelando e aos poucos cada monumento se

revelava, cada um com a sua especificidade estilística e em completa harmonia com o

entorno, onde a percepção da obra do artista da iluminação se torna grandiosa.

6. Conclusão

A requalificação dos espaços urbanos tem fomentado ações por parte dos governantes, para

iluminação de destaque em centros históricos, monumentos de valor arquitetônico e histórico

visando resgatar a memória local, bem como o incentivo ao desenvolvimento do turismo.

A iluminação da “Arquitetura Tombada” torna-se um agente transformador do sítio onde está

inserida, provoca uma dramaticidade na atmosfera noturna criando uma identidade única do

espaço. Contextualizada como iluminação pública, também contribui para a segurança e o

bem estar das pessoas no espaço urbano. Iluminar e enaltecer um monumento não é

simplesmente dotá-lo de destaque, iluminar um monumento é respeitar a sua história, a sua

importância é fazer com que a sua edificação possa ser preservada e valorizada. A pesquisa

relacionada ao tema não só proporcionou conhecimento enriquecedor, dos processos que

envolvem a iluminação de destaque, como também a vivência e percepção da transformação

da região do Pelourinho em Salvador (Ba), contemplada pelo programa "TEMPO e LUZ" do

Governo”, que revelou, o quanto é importante que ações relacionadas a requalificação dos

espaços, contribuam para a preservação da memória de uma cidade e a história de seu povo.

Referências

CANOSA, José. City Beautification x L´Urbanisme Lumière. Revista Lapro Fachadas &

Monumentos, ed. 04, p. 04-08, 2003.

CANOSA, José. A luz dos Monumentos Urbanos – A Visão Francesa. Revista Lapro

Fachadas & Monumentos, ed. 04, p. 12-17, 2003.

CANOSA, José. O Potencial Cenográfico da Iluminação de Monumentos e Fachadas. Revista

Lapro Fachadas & Monumentos, ed. 04, p. 28-12, 2003.

CAVALIN, Geraldo; CERVELIN, Severino. Instalações Elétricas Prediais. São Paulo:

Érica, 2011.

CEMIG, Companhia Energética de Minas Gerais. Manual de Distribuição - Projetos de

Iluminação Pública. Belo Horizonte, 2012.

23

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014

GABRIEL, João. Iluminação de Monumentos e Fachadas. Belo Horizonte: 2008.

GOBI, Erlei. Terreiro de Jesus - Cinco edifícios históricos ganham vida nova com iluminação

de destaque. Revista Lume Arquitetura, ed. 62, p. 14-18, 2013.

GOBI, Erlei. Theatro Municipal de São Paulo - Iluminação das fachadas destaca detalhes

arquitetônicos de edifício centenário. Revista Lume Arquitetura, ed. 51, p. 124-18, 2011.

GODOY, Plínio; CANDURA, Paulo. Iluminação Urbana Conceitos e Análise de Casos.

São Paulo: Editora VJ, 2009.

GODOY, Plínio. City Beautification Iluminação para o embelezamento das cidades. Revista

Lume Arquitetura, ed. 04, p. 23-32, 2003.

JUNQUEIRA, Mariana. A vocação expressional da luz: o design da iluminação no espaço

urbano contemporâneo como arte pública. Revista Ciclos, vol. 01 – Ano 1, 2014.

JUNQUEIRA, Mariana; YUNES, Gilberto. A vocação Cenográfica da Iluminação no

Processo de Valorização da Paisagem Urbana Contemporânea. II CONINTER -

Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades. Belo Horizonte, 2013.

LEÃO, Rafael. Plano diretor de iluminação urbana do Centro Histórico de São Paulo:

uma nova ambiência e atmosfera para os calçadões. São Paulo, 2008: Dissertação

(Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Área de

Concentração: Tecnologia da Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da

Universidade de São Paulo.

LIMA, Mariana. Percepção Visual Aplicada a Arquitetura e Iluminação. Rio de Janeiro:

Editora Ciência Moderna Ltda., 2010.

SÁ, Claudia. Arquitetura Tombada – Iluminar para preservar e enaltecer. Revista Lume

Arquitetura, ed. 29, p. 12-18, 2008.

SILVA, Amauri. Iluminação Simplificando o Projeto. Rio de Janeiro: Editora Ciência

Moderna Ltda., 2009.

SILVA, Amauri. Luz, Lâmpadas e Iluminação. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna

Ltda., 2004.

XAVIER, Fabiano. Projeto Executivo de Iluminação Artística de Monumentos programa

"Tempo e Luz" - Centro Histórico de Salvador Monumentos - Igreja do Boqueirão e Igreja de

Santo Antônio - 2009.

24

A Iluminação da Arquitetura Tombada – com Abordagens de Monumentos no Centro Antigo de Salvador

dezembro/2014

ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 8ª Edição nº 009 Vol.01/2014 dezembro/2014