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d0'-.I> Tw~'WVvD- . ~9g5 . , ,_, G...txC>-(/ ;V'-Q.!v--a- d.A Lou fL?~ ç~\..)( Sk,k,ctJJ quimioterapia do câncer (alopatia) ,e a alopáticos de tr~amento lha medicina aplicação da vacina antivariólica na geral. ' prevenção e controle de uma doença .' infecciosa (horneopatia) Um outro aspecto pouco cornpreen- . dido da homeopatia é a insistência no As formas, alopáticas de tratamen- tratamento não de um sinal ou sinto- to são também as que se sobressaem ma isolado e, sim, de uma "totalidade na Psiquiatria e na Psicoterapia, de de sinais ou sintomas que um pacien- modo especialmente notável na Psico- te apresenta, ou seja, o princípio da farmacologia, onde o que se pretende totalidade do.s sintomas". (BLAKIS- é produzir efeitos opostos à doenca T?N, 2). ~ssIm, a perspectrya homeo- 1 ." .. . >' pática possivelmente leva mais em CO:::l- po.r ex~~p o supnmir os slllto~as ~a ta a totalidade da vida do paciente do psicose . Por outro lado, a psicologia que o faz o ponto de vista alopático. profunda, começando com Freud e a Um dos aspectos mais destrutivos do psicanálise, desenvolveu-se principal- ponto de vista psicológico nas "condu- mente a partir de postulados que su- tas médicas miraculosas de hoje em punham uma aceitação da abordagem dia" é a especialização e a abordagem homeopática; por exemplo: a integra- em compartimentos estanques do pa- ção psíquica, ou cura, poderia ter lu- ciente, com perda de qualquer consi- gar e "bloqueios do desenvolvimento" deração por uma totalidade. poderiam ser removidos, ao se reviver Um dos objetivos do presente traba- ou ré-experimentar certas experiências lho será, pois, a investigação dos as- traumáticas, em pequenas doses de pectos homeopáticos do tratamento psi- emocionalidade, Uma revisão geral da coterápico. Mais especificamente, será abordagem de [ung ao processo de feita uma tentativa de re-exame dos a13- cura revela uma marcada ênfase so- pectos intra-psíquicos ~() processo de bre o ponto de vista homeopático, isto ~ especialmente n~~~~i:if~.xf(j~~:.cI!l--:1 I é? a.c.ura procede do "encontro de um transferê?cia entre, o médico (a~aliS!a)! / significado para a doença" ou quando e ~_p_~cIe1!~ Sera dada especial en- i "os sintomas se integram em uma to- rase aos componentes ar uetí icos desse{j talidade significativa" (MEIER, 19, processo. Ve aas questões serão reto- pág. 128). madas: Como se dá a cura? Quem ,e o que a promovem? Quais as qualida- des mais desejadas naqueles ' que se iniciam nas profissões que tem por ob- jetivo o tratamento de pessoas, especial- mente a psicoterapia? Embora admitin- do que a cura é, em última análise, um mistério, a revisão criteriosa daqui- lo que transparece do processo pode nos ajudar a nos tomarmos .mais com- petentes em nossa assistência e parti- cipação no ritual. Começaremos a revisão pelo mito de Esculápío, o paradigma do médico fe- ridO.Em seguida examinaremos ques- tões teóricas a propósito da transferên- cia, com destaque para os aspectos ar- t ""~V) ~ ~ ~'~ ~~\.AQ.. ?~.~~ ~·h·00.- \.A~ 1- A IMAGEM ARQUETÍPICA DO MÉDICO FERIDO* C. [ess Groesbeck ~ .) c, (Sacramento) Introdução - A cura É interessante notar, que existem, entre outros, dois princípios básicos de tratamento sobre os quais se bà- seia a maior parte das terapias moder- nas. O primeiro deles é a "alopatia, de- finida como um sistema de tratamento médico que se utiliza de medicamen- tos capazes de causar no organismo efeitos diferentes daqueles produzidos pela doença". O segundo é a homeo- patia, "ramo da medicina que trata da investigação e da aplicação do fenôme- no do símile. ou lei dos similares, ou seja um conjunto de sintomas e sinais que uma droga produz, ou por outra: similia similibus curantur, o semelhan- te é curado pelo semelhante". "O con- junto de sintomas e sinais que uma dro- ga produz em pessoas sadias, quando presente na vigência de uma efermida- de, pode ser revertido ao estado nor- mal pelo uso da mesma droga (rea- ções inversas das drogas)." Ou "um sistema de tratamento médico basea- do na teoria de que certas doenças po- dem ser curadas pela administração de doses ínfimas de drogas que, em gran- des doses, poderiam causar em pessoas sadias sintomas semelhantes àqueles da doença" (BLAKISTON, 2). A con- duta alopática tem gozado de uma con- fiabilidade cada vez maior em relação à homeopática, se bem que, aparente- mente, as terapias médicas e psiquiá- tricas modernas lançam mão de ambos os princípios, ou conjuntos de opostos, quando, por exemplo, preconizam a Todo procedimento médico, inclusi- ve o psiquiátrico e o analítico, tem co- mo preocupação central a cura, de vez que este é o seu objetivo pelo menos implícito. Isto pode fazer o reexame do conceito de cura parecer de início uma tarefa ampla demais, complexa demais e até desaconselhável. Não obs- tante, num momento em que a medi- cina moderna padece cada vez mais com a crescente especialização, parece valer a pena sair em busca de novo das raízes e das origens do processo de cura. Essa busca pode nos ajudar, a nós todos envolvidos com a psicoterapia e com a análise, no sentido de compor- mos um quadro mais nítido de nosso próprio trabalho, pois o processo de cura sempre foi enfocado de maneira muito difusa e, às vezes, abstrata. Mes- mo porque sempre que um paciente ou um analisando nos procura, sua ur- gência maior é obter ajuda para a cura daquilo que o faz sofrer. Lembro-me de um professor da Faculdade de Me- dicina que sempre repetia que um dos motivos da crise atual da Medicina re- sidia no fato dos médicos muito fre- qüentemente se descuidarem da queí. xa principal do paciente e ficarem, en- quanto isso, fazendo toda espécie de "outros milagres". * Reproduzido com permissão do Iournal of Analytical Psychology, Londres, do original "The archetype af the wounded-healer", J. A. P., vol. 20 - n." 2, 1975. 72 O princípio homeopático pode ser notado em um sonho de uma jovem contemporânea: "Sonhei que a mãe de um amigo tinha voltado à vida, e mor- ria de novo. Alguém dizia que tinha sido devido a uma dO~""~í>~~siva de drogas n.a corrente sa~íne~o que meu amigo acrescentava: aqudo que deveria curá-Ia, matou-a; agora é tar- de, já está morta". As contribuições da psicologia profunda, com uma maior ênfase homeopática aparentemente, en- tão, poderiam ser consideradas como uma compensação necessária para a restauração do equilíbrio rompido pela excessiva preponderância dos métodos 73

A Imagem Arquetípica Do Médico Ferido - Groesbeck

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    quimioterapia do cncer (alopatia) , e a alopticos de tr~amento lha medicinaaplicao da vacina antivarilica na geral. 'preveno e controle de uma doena . 'infecciosa (horneopatia) Um outro aspecto pouco cornpreen-

    . dido da homeopatia a insistncia noAs formas, alopticas de tratamen- tratamento no de um sinal ou sinto-

    to so tambm as que se sobressaem ma isolado e, sim, de uma "totalidadena Psiquiatria e na Psicoterapia, de de sinais ou sintomas que um pacien-modo especialmente notvel na Psico- te apresenta, ou seja, o princpio dafarmacologia, onde o que se pretende totalidade do.s sintomas". (BLAKIS- produzir efeitos opostos doenca T?N, 2). ~ssIm, a perspectrya homeo-

    1 ." .. . >' ptica possivelmente leva mais em CO:::l-po.r ex~~p o supnmir os slllto~as ~a ta a totalidade da vida do paciente dopsicose . Por outro lado, a psicologia que o faz o ponto de vista aloptico.profunda, comeando com Freud e a Um dos aspectos mais destrutivos dopsicanlise, desenvolveu-se principal- ponto de vista psicolgico nas "condu-mente a partir de postulados que su- tas mdicas miraculosas de hoje empunham uma aceitao da abordagem dia" a especializao e a abordagemhomeoptica; por exemplo: a integra- em compartimentos estanques do pa-o psquica, ou cura, poderia ter lu- ciente, com perda de qualquer consi-gar e "bloqueios do desenvolvimento" derao por uma totalidade.poderiam ser removidos, ao se reviver Um dos objetivos do presente traba-ou r-experimentar certas experincias lho ser, pois, a investigao dos as-traumticas, em pequenas doses de pectos homeopticos do tratamento psi-emocionalidade, Uma reviso geral da coterpico. Mais especificamente, serabordagem de [ung ao processo de feita uma tentativa de re-exame dos a13-cura revela uma marcada nfase so- pectos intra-psquicos ~() processo debre o ponto de vista homeoptico, isto ~ especialmente n~~~~i:if~.xf(j~~:.cI!l--:1I? a .c.ura procede do "encontro de um transfer?cia entre, o mdico (a~aliS!a)! /significado para a doena" ou quando e ~_p_~cIe1!~ Sera dada especial en- i"os sintomas se integram em uma to- rase aos componentes ar uet icos desse{jtalidade significativa" (MEIER, 19, processo. Ve aas questes sero reto-pg. 128). madas: Como se d a cura? Quem ,e

    o que a promovem? Quais as qualida-des mais desejadas naqueles ' que seiniciam nas profisses que tem por ob-jetivo o tratamento de pessoas, especial-mente a psicoterapia? Embora admitin-do que a cura , em ltima anlise,um mistrio, a reviso criteriosa daqui-lo que transparece do processo podenos ajudar a nos tomarmos .mais com-petentes em nossa assistncia e parti-cipao no ritual.

    Comearemos a reviso pelo mito deEsculpo, o paradigma do mdico fe-ridO.Em seguida examinaremos ques-tes tericas a propsito da transfern-cia, com destaque para os aspectos ar-

    t""~V)~ ~ ~'~ ~~\.AQ..

    ?~.~~ ~h00.- \.A~ 1-A IMAGEM ARQUETPICA DO MDICO FERIDO*

    C. [ess Groesbeck

    ~ .) c ,

    (Sacramento)

    Introduo - A cura interessante notar, que existem,entre outros, dois princpios bsicosde tratamento sobre os quais se b-seia a maior parte das terapias moder-nas. O primeiro deles a "alopatia, de-finida como um sistema de tratamentomdico que se utiliza de medicamen-tos capazes de causar no organismoefeitos diferentes daqueles produzidospela doena". O segundo a homeo-patia, "ramo da medicina que trata dainvestigao e da aplicao do fenme-no do smile. ou lei dos similares, ouseja um conjunto de sintomas e sinaisque uma droga produz, ou por outra:similia similibus curantur, o semelhan-te curado pelo semelhante". "O con-junto de sintomas e sinais que uma dro-ga produz em pessoas sadias, quandopresente na vigncia de uma efermida-de, pode ser revertido ao estado nor-mal pelo uso da mesma droga (rea-es inversas das drogas)." Ou "umsistema de tratamento mdico basea-do na teoria de que certas doenas po-dem ser curadas pela administrao dedoses nfimas de drogas que, em gran-des doses, poderiam causar em pessoassadias sintomas semelhantes quelesda doena" (BLAKISTON, 2). A con-duta aloptica tem gozado de uma con-fiabilidade cada vez maior em relao homeoptica, se bem que, aparente-mente, as terapias mdicas e psiqui-tricas modernas lanam mo de ambosos princpios, ou conjuntos de opostos,quando, por exemplo, preconizam a

    Todo procedimento mdico, inclusi-ve o psiquitrico e o analtico, tem co-mo preocupao central a cura, de vezque este o seu objetivo pelo menosimplcito. Isto pode fazer o reexamedo conceito de cura parecer de inciouma tarefa ampla demais, complexademais e at desaconselhvel. No obs-tante, num momento em que a medi-cina moderna padece cada vez maiscom a crescente especializao, parecevaler a pena sair em busca de novodas razes e das origens do processode cura.Essa busca pode nos ajudar, a ns

    todos envolvidos com a psicoterapia ecom a anlise, no sentido de compor-mos um quadro mais ntido de nossoprprio trabalho, pois o processo decura sempre foi enfocado de maneiramuito difusa e, s vezes, abstrata. Mes-mo porque sempre que um paciente ouum analisando nos procura, sua ur-gncia maior obter ajuda para a curadaquilo que o faz sofrer. Lembro-mede um professor da Faculdade de Me-dicina que sempre repetia que um dosmotivos da crise atual da Medicina re-sidia no fato dos mdicos muito fre-qentemente se descuidarem da que.xa principal do paciente e ficarem, en-quanto isso, fazendo toda espcie de"outros milagres".

    * Reproduzido com permisso do Iournal of Analytical Psychology, Londres, do original"The archetype af the wounded-healer", J. A. P., vol. 20 - n." 2, 1975.

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    O princpio homeoptico pode sernotado em um sonho de uma jovemcontempornea: "Sonhei que a me deum amigo tinha voltado vida, e mor-ria de novo. Algum dizia que tinhasido devido a uma dO~""~>~~siva dedrogas n.a corrente sa~ne~o quemeu amigo acrescentava: aqudo quedeveria cur-Ia, matou-a; agora tar-de, j est morta". As contribuiesda psicologia profunda, com uma maiornfase homeoptica aparentemente, en-to, poderiam ser consideradas comouma compensao necessria para arestaurao do equilbrio rompido pelaexcessiva preponderncia dos mtodos

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    quetpicos. Da passaremos elabora-o de uma aplicao especfica da ima-gem arquetpica do mdico ferido a umaspecto particular da transferncia.

    ESCULPIO, IMAGEMARQUETIPICA DOMDICO FERIDO

    , Numa reviso dos relatos de antigascuras tal como praticadas nos templosde Esculpio, Meier notou que, na an-tigidade, quando algum se encontrava,doente a soluco era recorrer a um"mdico divinO' e no a um. mdico hu-mano" (MEIER, 19, pg. 4). A razo.para tal procedimento era que o ho-mem da era clssica via a doena comoo resultado de uma ao divina, ques poderia obter cura atravs de umaoutra aco divina. Nas clnicas da an-'tigidace praticava-se, pois, uma for-madefinida de homeopatia, em que um'remdio divino vencia uma doena di-'vina, Conferir uma tal dignidade doena acarreta a vantagem nestm-'veI de conferir-lhe tambm um poder'curativo. A divina aiflictio contm,(d~ss maneira, seu prprio diagnsti-'to" terapia e prognstico, desde que,'daro, 'a atitude correta em relao"{ela tenha sido adotada. O que, pos-;sibilitva a atitude adequada era o cul-'t6;' que consistia simplesmente em dei-:~ai cargo: d" mdico divino toda aarte da cura: Ele prprio era a doena, eo remdio tambm, Estes dois concei-''tOs eram idnticos. Por ser a doena,.ele prprio' tambm era afetado (fe-'fidooupersegmdo, como EscuTaplO Ou:Trofnio)e, sendo um paciente divi-,no ele tambm conhecia o caminho da'Cura. a um deus nessas condies quese aplica o orculo de Apolo: "Aquele,que fere tambm cura" (Ibid., pg. 5).'.' .., Graves (7, pgs. 173-7), Meier (19,

    ,pgs. 24-8) e Kernyi (17) descrevem,as origens de Esculpio como mdicoferido. Na lenda, de Epidauro, Apolo

    SJi--1/

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    unia-se a Cornis, vindo esta dar a luza um filho que logo em seguida elaabandona no Monte Ttion, famoso pe-las virtudes medicinais de suas plantas.Ali, cabras o amamentam e um co oprotege. Quando o pastor das cabraso encontra, ouve-se uma voz proclamarsobre a terra e sobre o mar que aque-le recm-nascido viria a encontrar curapara todas as doenas e ressuscitaria osmortos, Num certo sentido, Esculpioseria o aspecto procriativo de Apoiodesabrochando das entranhas da me,ao mesmo tempo luminoso e sombrio.Representaria ento o lado da luz edo conhecimento, isto , o lado raco-nal da medicina e do processo de cura.Noutra verso, Cornis engravidadapor Apolo tem, no entanto, um casoamoroso com Isquis: quando Apolotoma conhecimento disto, mata-a. Umpouco antes porm da morte deCornis, j na pira funerria, Apo-lo se enche de remorsos e resgata,atravs de uma inciso cesariana, seufilho ainda no nascido. Este mtologe-ma reflete mais uma vez o princpio:"Aquele que envia morte, d tambm avida". Depois disso,~culpio entre-gue a Chron, o centauro, para ser edu-cado. Chron j conhecido e versadona arte de curar, ehabifa uma caver-na rio cimo do Monte Pelion. Kernyiafirma: "Tudo em Chron, o mdicodivino e ferdo ;:.. o faz parecer a maiscontraditria figura de toda amitolo-gia grega. Apesar de ser um deus gre-'go, sofre de uma ferida incurvel.Alm disso, 'a sua figura combina o as-pecto, animal com o apolneo, pois ape-sar do seu corpo de cavalo -r-r- configu-rao pela qual so conhecidos .os cen-'tauros, criaturas da natureza, fecundos'e destrutivos "---,- ele quem instrui os'heris nas artes-da medicina e da m-sica": (KERNYI, 17, pgs. 96"7). Demodo que, num certo sentido, as carac-tersticas 'que entram na composio dafigura de Esculpio so as, do seu paiApolo, alado racional luminoso da me-

    dicina, e as do seu mestre e pai adoti-vo Chron, o lado escuro e irracional.

    Kernyi continua: "Naquela metadedo mundo pertencente Chron situa-se o lago Boibeis, ao p do. Monte P-lio, e, abaixo de sua caverna, o valede Peletronion famsopela' profusode ervas medicinais. Nesse vale, Escul-pio fami1iarizou~se,sob a tutela de Ch-ron, como as plantas e seus poderesmgicos - e com a serpente. A tam-bm, crescia a planta chamada "ken-taureion" ou "chronon", sobre a qualse afirmava ser capaz de curar qualquermordida de cobra e at mesmo o feri-mento causado por uma flecha enve-nenada, do qual o prprio Chron so-fria. O detalhe trgico, no entanto, que a ferida de Chron era incurvel.De modo que o mundo de Chron, comsuas inesgotveis possibilidades de cura,era tambm um mundo de doena eter-na. Alm de que, parte todo esse so-frimento" a sua caverna, local em quese realizava um culto. ctnico subter-rneo, era uma das entradas do inferno.

    O quadro que se forma a partir detodos esses elementos singular. O deusmetade homem, metade animal, sofreeternamente de sua ferida; carrega-aconsigo para o inferno, como se a cin-cia primordial, personificada para oshomens de um remoto passado por este1!l~dico mitolgico, precursor do lumi-noso mdico divino, consistisse apenasdo conhecimento' de uma ferida eterna-mente aberta naquele que cura" (Ibid.,pgs. 98-9).

    E a serpente passou a ser associadaa Esculpio em seus poderes curadores,devido principalmente a seu "olhar pe-netrante e sua capacidade de reju-venescer a si prpria" (MEIER, 19,pg. 27). Isto , a troca peridica dapele simbolizaria libertar-se da doena.Livrar-se da doena equivaleria a darlugar ao' novo. homem. Segundo Meer,"As serpentes eram consideradas pelos

    /

    antigos como um smbolo da renovaoda vida" (Ibid., pg. 77). Da seremassociadas intimamente gua da vida.Parece que gua e fonte estavam as-sociadas s curas de Esculpio tal co-mo eram praticadas em seus templos.O basto de Esculpio, associado r-vore, posteriormente passou a ser re-presentado com uma cobra enrolada. Deacordo com a observaco de Hender-son, o basto de Esculpio possui ape-nas uma cobra enrolada em torno desi, simbolizando transcendncia e re-nascimento. J o caduceu, erroneamen-te referido profisso mdica como sefosse o basto de Esculpio, era umbasto com duas expanses laterais, noqual enrolavam-se duas serpentes uni-das sexualmente e simbolizava o deusHermes (HENDERSON, 10). O co,o cavalo, a grgona (serpente com a-bea de cachorro), bem como um me-nino, eram todos auxiliares significati-vos de Esculpio quando este realizavasuas curas. Tambm sua esposa e suafilha o acompanhavam. A isto acres"centava-se tambm como muito impor-tante o toque na parte ferida do corpo.Meier afirma: "Apelo, como um deuscurador, tambm utiliza o gesto de es-tender a mo sobre a pessoa doente'!(MEIER, 19, pg. 40). Tambm no no"me de Chron h implicaes relacio-nadas com a cura pelo toque da mo,A palavra Chron a raiz etmolgicade cirurgia e significa "com a mo"(do grego chirurgia "trabalho com asmos").

    Como ento se davam as curas? Deacordo com Meier e Kernyi, aconteciao seguinte: o paciente que buscava umacura era levado, atravs do processode incubao, at a parte mais internado templo, o baton, e ficava aguardan-do um sonho de cura. No sonho, o pr-prio deus deveria tocar a parte doen-te e assim efetuar a cura. Muitas ve-zes, no entanto, o deus aparecia sob aforma de um animal, ou seja, a ser-

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  • h,--~-, ",t-c C~pente. Kernyi (17, pgs. 32-3) des-creve um caso:

    Um homem teve um artelhocurado por uma cobra. Era umhomem que estava seriamentedoente com um abscesso no arte-lho. Durante o dia os assistenteso levaram para fora e fizeram-nosentar-se numa cadeira. Quandoele adormeceu, uma cobra saiu dacmara mais recndita do santu-rio, curou seu artelho com a ln-gua e, tendo feito isto, retirou-se.Ao acordar, curado, relatou tertido uma viso; havia sonhadoque um menino se aproximava eaplicava uma salva em seu arte-lho.

    Como diz Kernyi, "A viso daquelebelo jovem que cura surgindo ao mes-mo tempo em que o artelho do pa-ciente curado, uma espcie de so-nho dentro de um sonho, uma amplifi-cao que demanda um sentido aindamais profundo: a experincia imediatado divino no milagre natural do atode curar" (Ibid., pg. 34). Nos tem-plos de Esculpio, de fato, as serpen-tes estavam presentes e compunhamo cenrio adequado para a cura. Umoutro exemplo, uma reproduo de umrelevo votvo de Archinos, mostra co-mo "o invlido sonha que o prpriodeus o est operando, enquanto que, aofundo, v-se que uma serpente queo est lambendo" (Ibid., pg. 36). Ouainda: uma mulher estril que veio aEpidauro para ser fertilizada pelo deus,"dormiu no santurio a fim de se tor-nar me de numerosa prole e en-quanto isso teve um sonho. Sonhou queo deus vinha ao seu encontro seguidode uma serpente com a qual ela copula-va. E antes de um ano ela veio dar aluz a dois meninos (Ibid., pg. 41). Es-tas cri ancas eram consideradas filhosde Esculipio. Em outro exemplo: "Um

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    coxo se v curado depois que num so-nho Esculpio numa charrete puxadapor um cavalo d trs voltas em tornodo doente e em seguida faz o cavalopiso tear-lhe os membros paralizados"(ME lER, 19, pg. 28). Outro exem-pIo significativo e precursor da idiade transferncia, um exemplo vindo deEpidauro, sobre a transferncia paraas ataduras, pode ser encontrado em Mi-lagre VI:

    "Pandarus, um tesslio, tinhacicatrizes na testa. Em seu sonhode cura teve uma viso. Sonhouque o deus colocava uma atadurasobre suas cicatrizes e ordenava-lhe que, ao deixar o recinto sagra-do, retirasse a bandagem e a de-dicasse ao templo. Quando ani~-nheceu, ao levantar-se e arrancara bandagem, viu que seu rosto ha-via ficado livre das cicatrizes, ten-do estas passado para as ataduras,as quais dedicou votivamente aotemplo".

    As ataduras eram tambm pendura-das em' rvores existentes nos templosde modo a propiciar que as doenas setransferissem para as rvores (Ibid.,pgs. 81-2). Meier acredita que o sig-nificado do termo "transferncia"ori-ginou-se, aparentemente, desta idia(Ibid., pg. 82).

    DINMICA DOPROCESSO DE CURA

    De que modo a descrio do pro-cesso de cura nos tratamentos de Es-culpio poderia nos ajudar a compreen-der o que transparece do mesmo pro-cesso nos dias de hoje? Quais os eleimentes da relao mdico-paciente queconstelam a cura? Certos aspectos domito de Esculpio mostram-se parti-cularmente importantes.

    lEsculpio aprendeu de Chron, co- nia, muito embora a pneumonia seja

    mo j foi mencionado anteriormente, a uma doena "curvel".) : freqenteconhecer os poderes medicinais das er- ouvirmos explicaes do tipo: "sua re-vas existentes no vale em que habitava, sistncia interna cedeu" ou "ele no es-especialmente as virtudes da erva cha- tava querendo melhorar". De um pon-mada "chirnio", qu~ curava mordi- to de vista arquetpico, era o mdicodas de cobras (KERENYI, 17, pgs. interior que no estava funcionando.98-9). Dizia-se que era capaz de curar Guggenbhl coloca a questo nos se-at o ferimento provoc;=tdo pela flecha- guintes termos: "J1Q..jgnifica Esicolo-da, envenenada que ChIr?r: rec~bera de .gjJ

  • lier , conforme esclarece Guggenbhl,"curar a dissociao por meio de po-der" (Ibid., pgs. 94-95). Cada um ma-nipulando O outro na tentativa de mol-d-lo aum papel estereotipado. Existe,no entanto, um movimento espontneono sentido da restaurao do equilbrio(homeostase) interno da polaridade dasimagens arquetpicas. Se isto de algumaforma no ocorrer, os problemas dasombra do mdico podem ser ativados(Ibid., pgs. 125-6).

    O mdico fica bem somente na medi-daem que o p.aciente fica.mal. Restaum bloqueio na integrao de seus con-tedos inconscientes, tanto no mdicocorno no paciente. Esta condio pode,em muitos casos, explicar. a ocorrnciade nveis de tenso cada vez mais eleva-dos nas relaes mdico-paciente daprtica mdica moderna. COillJJill_emproc~s.us~bllsos--nCLexercicio_pro-~llsaO-de-p1'0meSSas"-de"s,ervicos" e "curaLj.amais-te-r-em-sido-~umpridas. a imagem d2-m~.-i,---.-:mo "milagros' que tende a levaraesta situao. A expectativa de que apessoa dOilldico, agindo externamente,mesmo com a ajuda de toda tecnologiapossa ser capaz de efetuar a cura, tan-to quanto, ou no lugar, do "mdicointerior", um grande erro de clculo.Em um nvel mais profundo, o mdicopode estar sustentando o estado de pro-jees mtuas em cumprimento a umaprimitiva lei de Talio vigente em seuinconsciente. Isto , a fim de negar suasprprias feridas, sua doena e vulne-raoIidade, afirma para si mesmo qllLI,~ a doenca ficar no paciente, eu ~~manecerei sadio, a doenca no me to-e-ar". Caplan d um ~xemplOdlsso(CAPLAN, 3). O mdico ento procura"superar a dissociao da imagem ar-quetpica dentro de si mesmo pelo ca-minho da projeo sobre o paciente, ma-nipulando abertamente ou sob disfarces.O paciente por seu turno, participa do

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    jogo .corn suas esperanas de uma "curamiraculosa", impressionante notar co-mo a agenda de certos mdicos se en-che de casos de um nico tipo, ou so-mente de casos gravssimos. Nestes ca-sos o mdico tenta "manipular a cura"desempenhando um papel inflado, masno fundo buscando curar a si mesmo;e tudo isso a uma distncia segura.

    Quando a cura demora a surgir, au-mentam-se os esforos teraputicas emtermos de tempo e de freqncia, mui-tas vezes de forma inconsciente. O queno deixa de ser contraditrio em rela-o s ansiedades inconscientes de queo tratamento fracasse. Mas a esperanailegtima do mdico conseguir man-ter a doena nos limites do paciente, demodo que no venha a tocara sua pes-soa. "As manipulaes" e "orientaes":asseguram mais uma vez um sentimen-to de se estar de algum modo domi-nando a situao, se bem que de umaforma vicariante. Trata-se de uma de-fesa anti-fbica: "posso me aproximardo perigo da doena sem que ela metoque". Quando as coisas no do cer-to ouve-se a exclamao: "este pacien-te incurvel; fiz tudo que Deus pode-ria fazer e continua doente!". Um exem-plo disso, cada vez mais comum, aadministrao de toda sorte de drogase medicamentos em doses cada vezmaiores, num esquema que se nega aperceber o fato que se vai evidencian-do, de que no houve cura ou mudan-a real. Por exemplo, uma jovem se-nhora recebera de certo mdico ajudaefetiva no tratamento de diversos males.Por fim surgiram enxaquecas, para asquais foi tentado um tratamento medi-camentoso. Como isto no funcionasse,ela passou a lhe pedir mais e maisnarcticos, no que era sempre atendi-da pelo mdico. Quando props umaabordagem psicolgica a sugesto delafoi rejeitada ..Finalmente o pacto incons-ciente dos dois conduziu a um proble-

    ~"~I'1

    ma de dependncia e adio a drogasde tal ordem que a questo das enxa-quecas passou a\ ser uma preocupaomenor. A paciente afirmava: "Na me-dida em que eu jamais o questionava,ele ia dando us prescries de narcti-cos tanto quanto eu desejasse". Umpesquisador chegou concluso de quecertos mdicos tm mais medo de mor-te e de doenas do que seria conside-rado normal estatisticamente (FEl FEL,4). Entrar na medicina seria uma formaintelectual de negar, mas ao mesmotempo de tambm tentar controlar essasrealidades; dai serem to enormes suasnecessidades de cura. Essa atitude co-Iabora para que jamais se enxergue olado sombrio, ferido, de si mesmo, oua periferia das prprias limitaes decada um.

    No entanto, alguma coisa tem queser elaborada a fim de que se retiremas projees mtuas.

    DIAGRAMA 1

    Mt"tD IC.O

    5

    FERIPO

    \Como acontece para mdico e pacien-

    te entrarem em contato com seus pa-pis complementares inconscientes demodo a abandonarem as projees epermitirem a ativao do "mdico inte-rior" do paciente? Um bom mdico tempelo menos um certo nmero de senti-mentos no-ansioso!'! em relao doen-a que trata. Recebeu treinamento ge-nrico e trabalha no sentido de "des-potencializar" sua ansiedade em rela-o doena, tendo-se familiarizadocom o seu curso natural. Alm disso, asua persona profissional capaz de mo-bilizar a esperana do paciente. Taisatribuies capacitam-no a propiciarque o mdico interior faa seu trabalho. nisso principalmente que se baseiaa confiana reiterada num bom trata-mento mdico-psiquitrico de curta du-rao.

    So outros os parmetros que pare-cem operar em uma pscoterapa anal-

    1 .. ' .....=< PACIE~NTE'

    7

    10

    FERlDO

    I

    81 13

    79

  • tica quando se visa; presumivelmen-te, a mudanas mais profundas e de'maior alcance. Na anlise, o analista-.curador deve manter sempre contatocom seu lado inconsciente, podendo,assim, tornar-se at mesmo o guia domdico interior do paciente. Mas como que ocorre este processo? As comuni-caes inconscientes entre analista e pa-ciente desempenhariam, aparentemente,um pape1crucial.

    [ung, em Psicologia da Transfern-cia, descreveu deta1hadamente comoisso pode ocorrer (JUNG, 13, pgs. 133-.338).

    ----V. Jung enfatiza que o processo de mu-dana e transformao ocorre prima-riamente no inconsciente. Sua nfaserecai sobre o relacionamento incons-ciente entre analista e paciente que de-terminaria os resultados (Ibid., pg.26~). Sublinha tambm os aspectos' ar-queticos das figuras envolvidas (Ani-ma e Animus), e o fato de ser errado eperigoso assumir uma identificao pordemais personalistica. Tambm Meier,em sua recente discusso sobre os ti-pos psicolgicos e individuao, fazaluso a isto (MEIER, 20). E acrescentaque a esse mesmo nvel de profun-didade que ocorrem os fenmenos pa-rapsico1gicos.

    Jung ento prossegue acompanhandoo desenvolvimento dessas imagens ar-quetpicas atravs das dez gravuras daobra alqumica. Como j havia afir-mado anteriormente, existe uma "uniotrans-subjetiva" dessas duas figuras ar-quetpicas. Esta unio, via morte, dorigem figura alada do filius philoso-phorum, tambm chamado de "smbo-lo de Cristo" (JUNG, 13, pgs. 308).Em linguagem psicolgica, trata-se deuma manifestao do Self.

    Em sua essncia, o processo analticoatingiu, a essa altura, um ponto em que

    ~O

    um "Terceiro Ser Personificado" ou"Terceiro Elemento" deu entrada na re-1ao,e passa a ser crucia1 na mudan-a e no desenvolvimento dos parti-.cipantes .. [ung vai mais alm e afir-.ma que o lpis ou filius philosopho-rum o Homem Primordial cosmo-gnico. .. o Uroborus, a serpen-te que se fecunda e se d luz"(Ibid., pg.309). A seguir diz que osmbolo era um paradoxo, "melhor des-crito em termos de opostos". O que significativo para os nossos propsitosneste trabalho que Jung descreve umprocesso dinmico, fluido, dentro datransferncia, em que as mudanas po-dem acontecer. Uma "Terceira Pessoa"ou Imagem Arquetpica, com sua pola-ridade de opostos, surge entre os parti-cipantes. O diagrama 2 ilustra isso.:

    O sistema agora fica sendo prima-riamente "de trs" em vez "de qua-tro". O "trs" representa o sistema emmovimento, com polarizao e gradien-te, enquanto que "o quatro de esta-bilizao e totalidade" (JUNG,12).Meier desenvolveu (MEIER, 18) commais detalhes o ponto de vista de [unga respeito da transferncia envolvendoa imagem arquetpica como um tercei-ro fator". Depois de discutir as pro-jees mtuas de sujeito e objeto, isto ,analista e paciente, concentra-se sobre aquesto da interpretao dessas proje-es. "O analista fora cada vez maispara um nvel mais profundo dentrodo objeto, de modo que o 'corte' entreo sujeito e objeto (analista e paciente)vai-se situando cada vez mais no inte-rior deste ltimo. A percepo inter-na do analista passa a ser de tal grau deintimidade que ele j no pode afirmarse est lidando com objeto ou se emparte j no consigo mesmo" (Ibid.,pg. 29). Finalmente, este processo p j-de avanar a ponto de se tornar impos-svel determinar a fonte de onde se cri-

    Jf,1

    jt1fi

    - ;!

    ginam as .magens (Ibid., pg. 30). Ahiptese de que uma imagem personi-,ficada,arquetpica, est presente entre.as duas partes, desenvolve-se a partirdisso. Da deriva tambm empiricamen-te a hiptese do inconsciente coletivoou psique objetiva (Ibid., pg. 30).

    Continua Meier: "Caracteristicamen-te, no entanto, estamos operando, o tem-po todo, dentro de um sistema queconstela uma terceira quantidade (parao analista e para o paciente), um obje-to que age para os dois"; Esta imagemarquetpica " tem dois efeitos: a) Au-menta a conscincia do paciente emparticular e desperta-lhe o poder decurar-se; b) Tem um efeito reativo so-bre o inconsciente coletivo, com alte-raes na imagem "original ou com osurgimerito de outras imagens" ...Is10 deflagra um movimento... poissegue um 'padro inato, que Jung cha-mou processo 'de individuao". (lbid.,pgs. 30-1).

    D JAGRA,rv\A 2

    ------

    . muito varivel a forma que esta"Terceira Quantidade" ou imagem ar-quetpica adotar. O nmero de formassob as quais o Self pode consteI ar-se infinito. Em seu trabalho sobre a re-soluo' da . transferncia Henderson(HENDERSON, 9) discute algumas ma-nifestaes importantes mais comuns.Comenta as manifestaes do Self sobforma de pedra preciosa, imagem deDeus, ou uma "amizade simblica". Oque significativo para a presente dis-cusso que "uma terceira quantidadeou quantidade superior" constela-se apartir da transferncia, adquirindo po-sio central no processo de cura .

    Jung, Meier e Jlenderson, todos eles,concentram-se no' sistema tridico datransferncia como veiculador da indi-vduao. De que modo esse aspectoda transferncia pode nos esclarecer so-bre o processo de cura, particularmen-te no que diz respeito a imagem arque-tpica do mdico ferido? Meier afirma

    ANALISTA '* :>PACIENTE-

    E"60 E6 O

    A ,lMA 6 EM A RQ \J ET li=' 1CA 1) OM~DICO PERIDO

    81

  • '(acima) que a interao reativa do pa- enso mais profunda e mais clara daciente e imagem arquetpica "desperta necessidade do prprio mdico analis-nele (paciente) o poder de curar-se" ta "ter conhecimento e participao(MEIER, 18, pg. 30). Como que isto em suas prprias feridas incurveis",ocorre, mais especificamente? E tam- de modo semelhante ao que ocorria nobm o que acontece no interior do ana- mistrio primordial da cura que che-lista? Podemos agora postular o que gouat ns atravs do mito de Es-ocorre quando um tratamento analti- culpio (KERNYI, 17,. pgs. 98-9).co profundo e completo tem lugar. No ~OiS para que o paciente tenha a ex-deve ocorrer apenas a retirada das pro- perincia integral dessa imagem arque-jees entre os dois participantes para . tpica dentro de um processo dinmico,que acontea a cura, mas imprescin- I cabe ao analista mostrar-lhe o cami-dvel que o paciente entre em contato, I nh, E isto so po e acontecer se. o ana-a nvel ~rofuiIo, com .Q.._f!TIJ.~lilL
  • DIAGRAMA 4-

    CONSC1EN1E MEfDICO - 1 PACIENTE

    CVRADOR

    71 18INCONSCIENTE FERIDA~ b

    ~PfSSOAL)

    ~~ .~A lMAbEM ARQUETIPICA-DICO FER IDO

    2.~

    o processo (de acordo com o que foidescrito), no pode tambm perder devista nem os ,perigos da inflao, nemsuas prprias limitaes, at mesmo apossibilidade da sua morte. exata-mente nessas condies que a imagemarquetpica domdico-ferido pode me-lhor ajud-Ia. Ele estar em melhorescondies se "a cura for entregue aDeus". Na verdade foi Deus quem trou-xe a doena, conseqentemente Ele quem sabe a cura. Da que, apesar deser imprescindvel um envolvimentoprofundo, paradoxalmente o excesso dezelo em curar deve ser evitado. O m-dico pessoal de Jung, que o tratou deum ataque do corao, passou por umagrande dificuldade por causa disso.[ung tinha tido um ataque cardaco;permaneceu inconsciente durante o tra-tamento e teve uma srie de vises. Sen-tia com toda certeza que estava presotes a morrer; isso porque atingira a"forma primal", um estado de extre-

    84

    fE(IDO

    J'

    DO ME-

    ma exaltao e "disponibilidade paraexperimentar tudo". Viu ento o seumdico, Dr. H. personificado tambmnuma "forma primal" como um "basi-leus (rei) de Kos". Quer dizer, estavapersonificado como uma figura curado-ra associada ao templo de Esculpio emKos (o mdico ferido). Trazia da terraa mensagem de que ainda no era omomento de [ung morrer. Jung ficouzangado, sentindo que j estava' pron-to para partir.

    Depois de muita luta, finalmente[ung foi trazido de volta e .comeou ase recobrar da doena. Passou entoa temer pela vida do Dr. H., como seeste devesse morrer em seu lugar, umavez que na viso aparecera tambm sobuma "forma primal", estado decomple-ta preparao para a morte. No dia emque [ung deixou o leito, o Dr. H.caiu enfermo e nunca mais se re-cuperou! Jung tentara advertir o Dr.

    H., mas parece que este no admi-tiu discusso nenhuma a respeito. Nocaso, o mdico-ferido arquetpico tinhaestado pronto para interceder por [unge salvar-lhe a vida. Poderia o Dr. H.ter-se identificado to profundamentecom a necessidade de curar Jung e tra-z-lo de volta a vida? Na viso, o Dr.H. literalmente o mdico Esculpio,rei de Kos. Est de tal forma identifi-cado com esta "Terceira Figura, a ar-quetpica", que no se pode diferen-ciar entre as figuras pessoal e transpes-soal (JUNG, 15).

    Ou teria ocorrido que o Dr. H., es-tando ele prprio pronto para morrer,identificou-se com o "mdico final"?Kernyi afirma: "De acordo com ospoemas e lendas que nos falam de Eu-ripilo, filho de Telephos, foi Macaonque, dentre os filhos de Esculpio, decerta forma sucedeu o pai em seu as-pecto mais sombrio, sua ligao com amorte. Ele representa a contraparte ter-rena do divino Paieon. O mdico dosdeuses no Olimpo exclusivamentecurador, no tem nada a ver com a mor-te. Mas o melhor mdico da terra umheri que fere, cura e irremediavel-mente ferido" (itlico meu) (KER-NYI, 17, pg. 84). Igualmente deve-serecordar que Esculpio foi morto porZeus por estar trazendo muitas pessoasde volta vida (GRAVES, 7, pg. 175).Tornou-se um deus exatamente por serum "mdico final", ou seja, por ter dadoa prpria vida pela vida do paciente!

    De acordo com o Dr. Joseph Hen-derson (comunicao pessoal), o Dr. H.era um clnico geral, eptome do mdi-co-curador. O prprio r. Hendersonrecorreu sua ajuda mdica em dadaocasio, tendo afirmado depois ter ex-perimentado "a comunicao de umenorme sentimento de ateno pessoale interesse". Era como se "o pacientefosse a pessoa mais importante do mun-do". Jung e o Dr. H. eram muito ami-

    gos, conforme conta o Dr. Henderson,e sem dvida a profunda identificaodo Dr. H. com o "mdico final" deveter-se estendido a Jung quando este fi-cou doente. Seja como for, a mortesincronstica do Dr. H. em seguida recuperao de Jung deixa muitas ques-tes em aberto.

    [ung afirma em outro ponto:

    " um tpico risco de insalu-bridade profissional para o tera-peuta ser infectado fisicamente eenvenenado pelas projees squais se expe. O terapeuta tem deficar continuamente em guardacontra a inflao. Mas o venenono o afeta apenas psicologica-mente; pode mesmo atacar o siste-ma simptico. Observei um bomnmero dos mais extraordinrioscasos de doenas fsicas entre ps-coterapeutas, doenas que no cor-respondiam aos sintomas mdicosconhecidos e que eu atribu aoefeito de um contnuo ataque deprojees, em relao s quais oanalista no consegue discriminarsua prpria psicologia. A condi-o emocional peculiar do pa-ciente tem um efeito contagioso.Quase que se poderia dizer quedesperta vibraes idnticas nosistema nervoso do analista e, porisso, da mesma forma que os psi-quiatras, os psicoterapeutas ten-dem a tornar-se um pouco esqui-sitos. um problema para se tersempre em mente. Est relaciona-do de maneira definida ao proble-ma da transferncia" (itlicomeu) (JUNG, 16, pgs. 172-173).

    Jung descreve mais amplamente as"infeces psquicas" que acometem omdico (JUNG, 13, pgs. 176-7). A Ias-cinao inconsciente do mdico pelo pa-ciente ativa contedos perigosos, "de

    85

  • nada adiantando para salv-lo, esconder-se por trs da 'persona mediei' ". exa-tamente por trs dessa cegueira, afir-ma, "que a doena vai-se transferir pa-ra o mdico". Adverte ento, com so-briedade, que cada mdico que se ini-cia nesse campo deva trazer conscin-cia sua prpria disposio instintiva emrelao sua motivao na escolhadesse campo como primeira opo. Sa-be-se que entre os mdicos a taxa desuicdio maior que a da populaoem geral, e que entre os' mdicos soos psiquiatras que detm os ndices maiselevados. Ser que isto significa queos psiquiatras simplesmente no estopsicologicamente preparados com o seuauto-conhecimento para lidar adequa-damente com o que iro se deparar emem seu caminho? [ung diz: "O mdicosabe - ou pelo menos deveria saber- que no foi por acaso que escolheuessa carreira; e o psicoterapeuta em par-

    DIA6RAMA 5

    CONSGlENTE..-

    MEPICO

    ticular deveria' ter uma compreensoclara de que infeces psquicas ( ... )so os concomitantes predestinados doseu trabalho, e por isso mesmo total-mente coerentes com a disposio ins-tintiva de sua prpria vida" (lbid.,pg. 177),

    Tambm Freud cifirmava:"No demuita vantagem para os pacientes queo interesse teraputico de seus mdi-cos tenha uma nfase emocional mui-to grande. Ajuda muito mais quando atarefa desempenhada sobriamente etanto quanto possvel em estrito cum-primento das normas" (FREUD, 6).

    Passando agora para a perspectiva dopaciente o que acontece parece ser oseguinte: (Ver diagrama 5)

    O paciente "toma para si" as forascuradoras do analista - 2 - e come--a tambm a ter a experincia dos con-tedos do aspecto "curador" da ima-

  • curador espiritual do seu prprio m-dico, ao ter uma revelaoprecogniti-va de que a vida do Dr. H. estava emperigo (comunicao pessoal de Hen-derson). Com isso Jung deslocou suaateno de si mesmo e passou a preo-cupar-se com o que poderia ocorrer aoDr. H., que agora era, de certa forma,"paciente de [ung". Aparentemente[ung procurou falar disso ao Dr. H.,mas no conseguiu (JUNG, 15). Semdvida isso mobilizou o poder de curadentro do prprio [ung, mais ou menosda mesma forma que na jovem enfer-meira acima citada. Claro que no casode Jung surge tambm o difcil proble-ma de mdico tratar de mdico. bemsabido que mdicos so os pacientesmais difceis de tratar.

    CASO N.o 1

    Uma senhora de quarenta e quatroanos de .idade, com uma histria de sin-tomas psico-fisiolgicos intensos em as-sociao com o seu quarto divrcio, so-nhou que:

    estava a caminho do hospital, masantes de chegar ao mesmo, viu umagrande serpente aproximar-se e morder-lhe o seio direito. Seu ento maridoacorria com' um alicate para extrair aserpente. No conseguia.

    Refletiu sobre o sonho e sentiu medo.Associo com a histria de Ado e Eva.que tambm foram atormentados pelaserpente. Sentiu-a como uma imagemdo mal. Em seguida porm voltou co-mo antes a achar que seus sintomas f-sicos "deveriam ser tratados basica-mente com remdios ou cirurgia". Trsmeses depois desenvolveu-se em seuseio um ndulo definido e doloroso.Imediatamente associou ao seu sonho.A avaliao mdica no sugeria pro-cesso mrbido alarmante. A interpre-tao encaminhou-se no sentido de aju-d-Ia a perceber que era necessrio pa-

    88

    ra ela, como para a Eva de antigamen-te, tornar-se mais consciente por meioda mordida da serpente. Neste caso aserpente representaria o lado que fereda imagem arquetpica. No poderiaocorrer cura seno aps tornar-se maisconsciente atravs do ferimento. Co-mo disse Adler: "Ser ferido significatambm ter a capacidade de curar ati-vada em ns; ou talvez pudssemos di-zer que sem ser ferido ningum podenunca aspirar possuir essa capacidade?Poderamos chegar at a dizer que oprprio objetivo da ferida nos tornarconscientes da capacidade de curar queexiste dentro de ns" (ADLER, I,18).

    CASO N.o 2

    Uma moa de vinte e oito anos comsintomas psicolgicos srios e portado-ra de uma verdadeira dissociao depersonalidade decidiu, um tanto impul-sivamente, mudar-se para outra cidadee com isso terminara terapia. O traba-'lho analtico tinha apenas comeado enesses poucos meses tinha havido jum bom comeo. Foi quando teve oseguinte sonho:

    estava numa cova e cercada de ser-pentes monstruosas por todos os lados.Muitas dessas cobras tinham nomes dehomens que haviam infludo destrutiva-mente em seu desenvolvimento, sexuaI-mente ou de outras maneiras. Haviacobras em seu pescoo e em suas ore-lhas, sufocando-a. Acima da cova dasserpentes postava-se uma outra partesua, uma . figura sombria que estavarindo. Acima tambm, sentado, estavao seu mdico. Este nada fazia para aju-d-Ia, apenas falando: "Hum, hum, seio que est acontecendo".

    Interpretou esse sonho como uma ad-vertncia a respeito do que lhe acon-teceria se interrompesse o trabalho ana-ltico. Nesse caso poderamos dizer que

    1l a imagem arquetpica do mdico feri-

    do, sob forma das serpentes, estava ou-tra vez, como no caso anterior, provo-cando um sintoma, a sufocao, a fimele preven-la sobre o que ocorreria seno desse continuidade ao processoanaltico. Enquanto isso seu mdico (as-pecto curador) a aguardava.

    ''11j,1

    precoce, privao emocional. O sonho)parecia apontar para uma poca de'sua vida em que poderia ter sofridoalgum trauma emocional grave, isto ,entre seis semanas e seis meses de ida-de. O mdico-ferido neste caso apare-ceu inflingindo-Ihe um ferimento fsi-co com a finalidade de p-Ia em con-tato com as "feridas emocionais" quesofrera quando criana. Alm disso, oferimento provoca o aparecimento deuma situao por meio da qual "umagente curador desconhecido" ir ope-rar. At suceder isto a paciente haviaperdido quase que totalmente a espe-rana de melhorar. Foi tambm signi-ficativo que pela primeira vez a pa-ciente recordava ter a 'sua me umamo deformada pela poliomielite, eque a mesma havia passado por prova-es semelhantes s que a paciente te-ve de suportar em sua vida adulta.

    CASO N.o 4

    Uma moa solteira de vinte e umanos veio para anlise por sofrer deasma crnica e mltiplos conflitos emo-cionais. Seu relacionamento com o m-dico na situao teraputica era tumul-tuado e difcil. Achava perturbador re-velar-se e examinar seus sonhos e asrecordaes do seu passado. Um dia,logo no incio da terapia, teve um so-nho:

    estava no consultrio do analista,mas era tudo muito diferente; de re-pente o mdico se transformou em umafigura ameaadora toda distorcida. Fi-cou bastante assustada com uma sriede imagens complexas que lhe surgirame finalmente viu-se num quarto adja-cente ao consultrio, onde havia umacadeira de dentista. A secretria doanalista estava ali tentando colocar umtubo em uma veia do seu pescoo, oque lhe provocou um imenso terror.Foi-lhe dito que isso era "necessrio

    89

    CASO N.o 3

    Uma senhora de quarenta e um anosestava em anlise h j um ano e meio,arrastando uma grave depresso, sobre-carregada pela responsabilidade dacriao de seis filhos aps um sofridodivrcio de seu marido alcolatra. De-pois de muitos altos e baixos comeoufinalmente a ter alguns sonhos que in-dicavam novas possibilidades de mu-dana. Teve o seguinte sonho:

    ela, sua filha de dezenove anos euma amiga de idade igual sua, tinhamtodas tido bebs. Tinham at mudadopara uma casa nova situada em umacolina. No entanto a polcia veio atrse tirou o beb da paciente. Este bebtinha seis meses de idade. Ao tom-loo policial falou: "Este beb lhe sertirado por um perodo de quatro me-ses". Tal fato no sonho deixou-a pro-fundamente entristecida. Achava queera um momento muito importante nodesenvolvimento da criana. Deixou en-to a casa e comeou a descer acom-panhando um comprido curso d'gua .Aproximou-se de alguma maneira dagua e serpentes de uma espcie desco-nhecida comearam a surgir, vindo emsua direo. Uma delas mordeu-lhe amo, na face lateral da palma. Ao se-gurar a mo atingida, um estranho des-conhecido, de aparncia sombria, apro-ximou-se afirmando: "Agora vou aju-d-Ia".

    Suas nicas associaes com esse so-nho foi que odiava cobras e que po-deria ter sofrido, numa idade muito

  • para ver se ela estaria trapaceando ouno".

    Neste caso a paciente parece estarsendo esmagada at pelas perspectivasde cura. O mdico-ferido e sua assis-tente aparecem apenas em seus aspec-tos terrveis e ameaadores, com a preo-cupao nica de inflingir o ferimento.Pouco tempo depois houve outro so-nho:uma cobra saa do meio das rvores

    de uma floresta onde havia uma garo-ta sentada e mordia-lhe o pescoo. Nosonho a paciente tentava extrair o Ve-neno do prprio pescoo, o que se re-velava uma tarefa extremamente dif-cil: Sentia-se isolada e sozinha, e seusesforcos no sentido de encontrar umasada: eram muito dbeis. interessantenotar que o seu pescoo era precisamen-te o ponto em que mais sofria duranteseus ataques de asma, quando sufoca-va e era hospitalizada por no conse-guir respirar. No' demorou muito eocorreu outro sonho: Estava correndopara um hospital na tentativa de en-contrar. um mdico que lhe desse umamquina que lhe possibilitasse respirar.Desta vez tambm a experincia erahorrvel e amedrontadora.

    No' muito tempo depois teve outrosonho: outra vez estava no consultrio,s que desta vez deitada no div, Co-meava a levantar-se quando ele gri-tava: "No! Fique a!" Mas a pacien-te retrucava "Sim!" e ficava sentada. Oanalista ento comecou a falar a res-peito de seu filho e idade dele. Nesteponto a imagem do mdico-ferido pare-ce estar se transformando em algo maisacolhedor e menos assustador.

    Algum tempo depois sonhou que es-tava de novo com o seu mdico, s quedesta vez era ele quem a. visitava emsua casa. Estava para adormecer no dive o mdico ia para a cabeceira do divsentar-se numa cadeira de balano, en-

    90

    quanto ela descansava das criancinhasde quem tomava conta.

    Nesses dois sonhos aparece o motivoda incubao conforme era praticadanos antigos templos" de Esculpio.Aimagem do mdico-ferido surge tambmnuma forma menos amedrontadora doque anteriormente. Tambm o seu re-lacionamento concreto, com o seu m-dico concreto, passou a ser mais cal-mo e permitiu-lhe comear a trabalharmais efetivamente no processo analtico.

    A seguir teve outro sonho em que seachava massageando .com toda a' for-a o pescoo do analista. Este lhe di-zia 'no sonho que estava um pouco de-mais, quer dizer, com presso demais.De repente a sonhadora percebe que osegundo dedo de sua mo esquerda lhehavia sido cortado e admira-se de queisso tenha acontecido sem que notasse.

    Nesse momento da sua terapia co-meava a sentir que seu analista real-mente lhe dava ateno; coisa que nun-ca havia sentido antes. Interessantetambm a associao que fez entreseu dedo cortado e o dedo mdio de-cepado da mo direita do analista, queestava machucado. Aqui neste sonhocomea uma identificao maior como mdico e, a nvel arquetpico, umatentativa forte demais de massagear ou"manipular" os. aspectos de sua doenaque .gostaria de ver curados, ou seja, opescoo de onde partiam a tosse e asufocao. Isto : o mdico-ferido estse queixando de que seus esforos: estosendo: por demais energticos e mal co-locados. .

    Pouco tempo depois veio outro sonhoem que um mdico desconhecido, decabelos pretos, de quem. realmente gos-tava, usava um instrumento para olharem seus olhos. Aps um longo interva-10 de tempo aquilo comeou a machu-car. O mdico dizia por fim: "Quandoa pele fina tenho de agir assim". E

    ~

    :."'-:'.'... '.... /_;.:~I, s:.'a paciente: "Fico contente em saberque voc diferente. A maioria dos m-dicos d s uma olhada no paciente ediz: 'est tudo bem' ". Estava tendo al-gum problema com a vista esquerda eaquele exame cuidadoso tinha por fimtrat-Ia.

    Nesse ponto comea a sua verdadei-ra cooperao como processo de cura.O mdico-ferido est tendo de lhe in-flingir um sofrimento, porm com ointuito mais elevado de promover acura. Foi possvel detectar, atravs dassuas associaes, a necessidade de me-lhorar sua capacidade de se perceberinteriormente (viso deficiente, no so-nho).

    ------'dela precisava, e seu mdico, que aaceitava. O beb seria ela prpria. Da,no sonho, os trs homens sacavam pis-tolas e atiravam nos pescoos de trsoutros homens, matando-os. O pesco-o sempre fora sua rea mais vulner-vel. Os trs mortos eram figuras som-brias, escuras, que tinham o intuito defazer-lhe mal.

    Por' fim, algumas semanas mais tar-de, coincidindo com um momento emque se tomara possvel diminuir-lhe adose de um dos medicamentos usadosno tratamento da asma, e em que o n-mero de ataques havia diminudo, so-nhou:

    dois mdicos desconhecidos avisitavam, sendo um jovem e ne-gro, e o outro, um branco sexage-nrio. Os dois queriam que elaviesse para a clnica naquela noi-te. O mdico idoso falava a res-peito da asma e mostrava comohavia sido terrvel ela no ter fa-lado disso durante tanto tempo.Ficou imaginando se os dois m-dicos conheceriam o Dr. G., seuanalista; e se deveria mencionaro nome dele. Disse quele doutorque no iria para a clnica mdi-ca porque um certo Dr. B. (seumdico clnico pessoal) havia gri-tado com ela e porque um tal Dr,M. "tambm no era bom". Am-bos "no queriam t-Ia como pa-ciente", explicou. Os dois mdi-cos desconhecidos retiram-se. Fi-cou imaginando se conseguiriamanter a consulta com os mes-mos.

    . ,VeIl}-os que dois mdicos desconhe-cidos, imagens arquetpicas do mdi-co-ferido, assistem-na amigavelmenteem sua enfermidade. Coincidentemente(ou sincronisticamente), seu analista, oDr. G., sonhou, na mesma noite do so-nho mencionado, que um dos seus den-tes estava caindo, com muito sangue

    91

    No sonho seguinte, encontrava-secom o seu mdico que, para sua surpre-sa, explicava que tinha tido sempre desentar-se na cadeira mais desconfort-vel, enquanto lhe deixava a melhor du-rante as sesses de anlise. Dizia tam-bm que sempre tinha dores de cabeaaps as sesses. Isso a fez sentir-se mui-to mal. Queria ajud-Io de alguma ma-neira. De repente o mdico comeoua tossir e isso a assustou ainda mais.

    Neste sonho a paciente comea a per-ceber o lado ferido do prprio mdico. interessante notar que exatamentepor essa poca alguns dos seus sinto-mas de asma comearam a perder in-tensidade, permitindo-lhe comear asentir, pela primeira vez, que poderiavir a melhorar da asma. B importantetambm assinalar que o analista come-ou a vivenciar subjetivamente maissintomas de tosse.

    Alguns meses mais tarde sonhou quevoltava a sentir (como em numerosossonhos anteriores) terrveis dores dedente. Sentia que havia um abscesso eapanhou uma faca para rasg-Ia. Sur-giram trs homens e um beb. Os trshomens eram (em suas associaes) seupai, que a amava, seu namorado, que

  • ;,

    ~oagula:lo. As associaes do Dr. G.referiram-se paciente. Aparentementeas feridas desta estavam-se transferin-do para ele, conforme ela ia comean-do a melhorar. Esse caso ilustra bem,em muitos aspectos diferentes,' como aimagem arquetpica do mdico-feridopode funcionar na transferncia entremdico e paciente.

    O que ocorre na fase final do pro-cesso analtico pode ser o seguinte:

    PIAGRAMA 6

    /

    MEDiCO

    cado porque a psicoterapia analticatranscorre melhor quando seu contrato feito dentro da clnica particular.Quando uma clnica ou uma institui-o fornece as condies para que ana-lista e paciente se encontrem, o "ter-ceiro fator" arquetpico, ou o "mdi-co-ferido", projetado sobre uma ins-tituio externa e, como conseqncia,nem mdico, nem paciente realmentese engajam no processo de cura. Ser

    .., : PACtsN-rE

    CUp.AnOR FERlDO I ~ F-ERIDA CURADAIIIIIIII

    - - , f

    A lMA6E:l'-1 ARQUETIPICADOI

    MEDICO FERtDO

    ( Este diagrama pretende mostrar a\ evoluo final do processo de cura. O

    )mdico fica sendo um "curador que ferido"; a imagem arquetpica do m-

    j dica-ferido permanece a mesma, e o pa-'\ ciente tem a sua "ferida curada". AoI final, analista e paciente separam-se Ie-I vando cada um dentro de si uma par-~ela da divindade.

    Uma implicao interessante desteprocesso to intenso que fica expli-

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    por isso que a anlise praticada damaneira que conhecemos? Ser por issoque ocorrem to poucas "curas" nasclnicas?

    Outra importante concluso a sertirada do estudo do arqutipo do m- / 7dica-ferido que o analista-curador //deve passar por uma anlise didticaj}/completa. Cada vez mais se afirma, emcrculos psiquitricos, que a anlise di-dtica do terapeuta no absolutamen

    te necessria. Jung, claro, de h mui-to tempo j a recomendava a Freud, co-mo um aspecto essencial do treinamentoe da preparao para uma rea onde assolicitaes so to grandes. Os dadosacima parecem" reforar sua necessida-de absoluta, no apenas para terapeu-tas mas at mesmo para aqueles quelidam em campos relacionados com oprocesso de cura, ou seja, as vocaespara as profisses de ajuda.

    //Fordham relembra, com o mximocuidado, que na anlise didtica queo futuro analista tem a oportunidade

    . de tocar em "suas prprias feridas",i algumas das quais jamais vem a ser\ curadas. Chega a sugerir que podem ser\ essas partes irredutveis ou permanen-

    )' temente danificadas, que constituem "averdadeira base da motivao para a

    I prtica da psicoterapia". Acrescenta'\ .ainda que na anlise didtica que

    (

    'do,ena e sade surgiro para o analis-ta em treinamento como um "par deopostos" que, aps anlise, "transcen-dero um ao outro" (FORDHAM, 5).

    Nessas afirmaes de Fordham estimplcita a postulao de uma raiz pa-ra acriatividade, que pode funcionarcomo uma fonte perene de auxlio parao analista que ter de sobreviver aosrigores de anos de exposio ao sofri-mento intenso experimentado em siprprio e nos outros. A semelhana deChron, o centauro da mitologia, ain-da que certas feridas permaneam in-curveis a fim de serem revi vidas sem-pre de novo, estas mesmas feridas po-dem ser transcendidas e/ou contraba-lanadas por fontes de fora e sadesempre renovadas. Tambm Neumanndevia ter isso em mente quando assi-nalou que "o homem criativo est sem-pre muito prximo do abismo da doen-a", onde suas "feridas permanecemabertas", no se fechando por meio damera adaptao coletiva. No fundo, oprprio sofrimento a fonte de um po-

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    der curativo e este "poder o proces-so criativo". Por esta razo "s um ho-mem ferido pode curar, pode ser ummdico" (NEUMANN, 21). J que o analista quem tem de achar suasprprias fontes de renovao interiorpermanente, a anlise didtica, e suaperidica reciclagem, podem ser meiospara se atingir tal objetivo.

    SUMRIO E CONCLUSSOES

    Gostaria de terminar relatando umaexperincia de minha prpria vida eque foi o estmulo do interesse pelopresente tema. H alguns anos atrs,ao longo de uma crise com mudanase transies, vieram-me diversos sonhose impresses importantes como instru-mentos que me auxiliavam no longocaminho da anlise didtica. Muitossonhos importantes pareciam dar dire-o' e apoio ao trabalho de treinamen-to e desenvolvimento interior necess-rio para o crescimento. Um destes so-nhos ficou quase esquecido. Mas umano depois, em retrospecto, pode servisto em sua verdadeira importncia.

    No sonho eu estava sozinho quandosubitamente via minhas mos sendodecepadas. Dizia ento para mim mes-mo: "sou igual Sra. W. que lecionapara minhas duas filhas". Comeavade repente a chorar e a experimentarum sentimento de verdadeira perda.Acordei com lgrimas nos olhos e asassociaes se produziram em relaoa antigas recordaes de minha primei-ra infncia, quando o dedo mdio deminha mo direita foi violentamentecortado.

    Na poca em que tive o sonho esta-va vivendo separado de minha famliana vigncia de um momento de tran-sio. Minhas filhas freqentavam umaescolinha de interior onde tinham co-mo professora uma senhora cujas duas

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  • mos eram deformadas. Tinha-me en-contrado uma vez com essa professora.Parece que nos anos imediatamente an-teriores a essa poca, esta senhora ti-nha carregado o grande peso de umavida familiar extremamente difcil, demuitas tragdias pessoais e com dificul-dade at para sustentar-se. No era umapessoa agradvel de se olhar e semprecriou problemas na escola, e mais tar-de corno professora, por ser "urna pes-te para os outros". Por fim, com o en-corajamento de minha sogra, voltou escola e diplomou-se professora. Suapopularidade com as crianas era inco-mum e possua urna enorme habilida-de para lecionar. Mesmo tendo asmos deformadas conseguia lidar efe-tivamente com seu defeito fsico e es-tabelecia contato com as crianas deuma forma muito especial. Minhas fi-lhas a descreviam corno urna pessoabonita.

    O significado do sonho tornou-seclaro para mim como urna resposta snecesidades de minha psicologia. Atento acreditara, corno me havia sidoensinado no curso de medicina e naresidncia em psiquiatria, que a pes-soa deve sempre demonstrar sua' for-a e esconder sua debilidade a fim dese tornar um bom mdico. Notraba-lho analtico porm, corno se revlua partir de muitas experincias, sonhose contatos com pacientes, no se podeescond~_t:_J"J.id._LOJ.L.fm.quezaS;-aev;seria-verdade confront-Ias e traz-Ias conscincia,qUailcO--~~--tei.llaesperan=-a aeum dia tornar-se um genuno m-dico-ferido. Corno se viu antes, tenta-tivas de esconder ou renegar as pr-prias fraquezas podem resultar em de-sastre e fracasso.

    Bem mais recentemente tive um OU"tro sonho em que me via perto de Ga-sa, procurando animais. De repenteavistava um macaco com um camun-

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    dongo que tinha uma mo direita es-quisita, semelhante minha. No en-tanto eu percebia que a mo direitaestava crescendo ali diante dos meusolhos. Mas quando olhei para' o maca-co vi que ele estava com a mo direitanuma cesta contendo fezes de onde aretirava e tornava a+enfiar. O sonhoparecia estar me dizendo que o traba-lho de ser umcurador requer tambmque s vezes o lado ferido, as tais reasvulnerveis, deva ser constantementesubmetido exposio do lado som-.brio da vida real, para se ficar comas mos sujas e se conseguir manterem contato com o que quer que sejaque os pacientes tragam, numa relaobem terra--terra. Entre os ,analistas h ~uma antiga frase segundo a qual mui- itas vezes a pessoa se sente como umcoletor de lixo. De modo que este 30-, Vnho parecia dizer-me que para eu ser\ r,-um verdadeiro mdico-ferido deverialembrar-me constantemente de manterl"a mo na massa" e somente isto po-deria promover o processo -de cresci-mento.

    Por fim devemos voltar questoa respeito da essncia do mistrio dacura. Segundo a descrio antiqussi-ma no' mito de Esculpio sendo edu-cado por Chron "a cincia primordialdo mdico ferido apenas o conheci-mento de uma ferida incurvel expe-rimentada para sempre, pelo prpriocurador", Na tentativa de responder aessa questo perguntamos: por que que, para que acontea a cura, o m-dico deve conhecer suas prprias fe-ridas e realmente vivenci-Ias cada vezde novo? Como procuramos demons-trar atravs de um exame detalhadoda transferncia que ocorre no proces-so'analtico eem outros relacionamen-tos teraputicas, s quando o prpriomdico capaz de se ligar e experi-mentar suas prprias feridas e doen-as, e confrontar as poderosas imagens

    -~

    de natureza arquetpica do inconscien-te, que opaciente, por sua vez, podepassar 'pl'' mesmo" processo. Pois sede fato ocorre alguma cura verdadeira,parece qu o'prprio mdico-feridoquem, pelo menos de alguma for-ma, deveefetu-Ia: mas, o analista de-ve estar presente. [ung disse-o de umaoutra maneiraCTUNG, 14, pg. 116):"No h anlise capaz debnir todoo inconsciente para sempre. O analis-ta deve continuar sempre aprendendoe nunca esquecer que cada caso novotraz luz"problemas novos e isso dlugar a suposies inconscientes queantes nunca' haviam se constelado, Po-demos dizer, .~em muito exagero, queuma metade de todo tratamento real-mente profundo consiste no exame queo mdico faz de si mesmo, pois saquilo que pode consertar em si mes-mo pode ele esperar poder consertarno paciente. Nem isso menos verda-de quando 'percebe o paciente recusan-do-o ou agredindo-o: sua prpria fe-rida que d a medida da sua capaci-dade de curar. este o sentido, e ne-nhum outro alm deste, do mito gregodo curador ferido".

    AdIer afirma tambm que a finali-dade do confronto de nossas feridaspode ser a busca de um caminho parase chegar aos poderes de cura existen-tes dentro de ns (ADLER, 1). pos-sivelmente este o motivo porque tantagente se v atrada pelas profisses decura. Como os loucos do provrbio,eles se aventuram por regies em queos prprios anjos temem entrar. Hpouco um analista me disse que jamaisabandonaria a prtica analtica pois sedeixasse de ver pacientes cairia doen-te outra vez. Em essncia o que eleestava me dizendo era que s pela ex-posio de si mesmo no trabalho comos pacientes que podia manter-se emcontato consigo mesmo e encontrar as

    -.razes e fontes de totalidade num n-vel que lhe .proporcionasse um certotipo de equilbrio.

    Se bem que" apesar de tudo o quefoi dito, a cura permanea sendo ummistrio, a tentativa de compreend-Ia uma aventura interminavelmenteatraente, porque ao longo dessa bus-ca podemos ficar conhecendo um pou-co"mais a respeito de ns mesmos.

    REFERNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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    Agradecimentos a: Joseph Hender-son, M. D., Paul Kaufmann, M. D.Dr. Med. C. A. Meier, Elzabeth Os-terman, M. D., Neil Russack, M. D.,Benjamim Taylor, M. D. pelo incenti-vo na elaborao deste trabalho).

    Traduo de Pedra Ratis e Silvacom a colaborao de Maria de Lour-des Felix Gentil.

    Y O ARQUETIPO DO INVLIDO E OS LIMITES DA CURA *-,Adolf Guggenbhl-Craig

    Ao lermos as descries da vida naCorte de Lus XIV, no sculo dezessete,nos surpreendemos com o fato que essesnobres e damas, embora extremamentericos e privilegiados em todos os aspec-tos, eram vtimas indefesas das doenasmais triviais. Um abscesso causado porum dente estragado significava agoniadurante dias e muitos perdiam todos osseus dentes ainda jovens. Nada podiaser feito para alterar este estado de coi-sas, mesmo se essa perda significasseuma catstrofe, como no caso da aman-te de Lus, que imediatamente perdeuos seus .favores aps a perda de umdente na frente. O slogan "Sorria" pro-vavelmente teria sido muito impopularnaquela poca. Um sorriso usualmentemostrava dentes pretos e podres, ou afalta fatal de dentes. A queda de umcavalo ou a menor infeco freqente-mente significativa a morte ou a inva-lidez para o resto da vida. Tudo queos mdicos eram capazes de fazer eraprescrever enernas ou sangrias; os cirur-gies sabiam somente cortar ou quei-mar.

    Hoje em dia o tremendo poder de curada medicina fato consumado parans. . . ' como se tudo pudesse ser re-solvido, com exceo da velhice e damorte.' Contudo, os mdicos, particular-mente os psicoterapeutas e psiquiatras,esto mais ocupados do que nunca. Oscustos mdicos esto cada vez mais al-tos e as estatsticas prevm que logo

    * Artigo traduzido com autorizao de Spring Publications, New York, do original "Thearchetype of the invalid and the limits of healing" - Spring 1979, pgs. 2941.

    (Zurique)

    60% de nossa renda ser gasta comsade. Estas maravilhosas tcnicas e ins-trumentais mdicos so carssimos, poisrequerem pessoal especializado e apa-relhagem dispendiosa. "Bem", podera-mos perguntar, "e porque no?". Pelomenos esses custos so recompensado-res. o preo que temos que pagar pa-ra o domnio progressivo da doena emutilaes como as que vimos nosexemplos da corte de Lus XIV.

    Hoje em dia, entretanto, o cenriomdico no to glorioso como no pas-sado. Grande parte dos custos mdicos gasta com medicamentos, pessoal, ad-ministrao e manuteno hospitalar,seguros, etc. Terminaram as batalhashomricas em campo aberto - Pasteur,Ehrlich, Lister - que acabavam emvitrias decisivas. A maioria das bata-lhas travadas pelos mdicos de hoje socontra inimigos ocultos e traoeiros, es-quivos, difceis de serem apanhados,qual uma guerra de guerrilhas na flo-resta. Estatsticas afirmam que entre30% e 60% de todos os esforos m-dicos esto relacionados com doenaspsicossomticas: todo tipo de doenasinexplicveis e estranhas, como doresde cabea, fadiga, insnia, comer emexcesso ou de menos, problemas de pe-le, etc. Esta lista nem mesmo inclui asinumerveis neuroses como compulses,obscesses, ansiedades, fobias, pertur-baes sexuais, etc., que nos mantmocupados continuamente. Estas pertur-

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