A IMIGRAÇÃO ALEMÃ EM JUIZ de FORA – Origens Históricas e a Cultura Alemã Contemporânea

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    Universidade Federal de Juiz de Fora

    Instituto de Cincias Humanas

    Departamento de Psicologia

    Curso de Turismo

    A IMIGRAO ALEM EM JUIZ DE FORA

    ORIGENS HISTRICAS E A CULTURA ALEM CONTEMPORNEA

    Trabalho apresentado pelos estudantes Verena Brhlere Conrado Pvel disciplina Psicologia e Cultura da

    Universidade Federal de Juiz de Fora sob a orientao

    da Profa. Dra. Neide Cordeiro de Magalhes

    Juiz de Fora

    Junho 2008

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    SUMRIO:

    1. INTRODUO................................................................................................. 3

    2. TEORIA PSICOLOGIA E CULTURA.............................................................. 3

    2.1. Noes de Cultura.................................................................................... 3

    2.2. Identidade Cultural.................................................................................... 4

    3. ORIGENS HISTRICAS DOS COLONOS ALEMES EM JUIZ DE FORA... 5

    3.1. O engenheiro Halfeld................................................................................. 5

    3.2. A chegada dos colonos alemes em 1858 e a construo da Estrada

    Unio & Indstria....................................................................................... 63.3. Cultura e tradies dos colonos nas primeiras dcadas........................... 8

    3.4. O caso de uma famlia alem: A famlia Hauck.........................................10

    4. A CULTURA ALEM CONTEMPORNEA ................................................... 12

    4.1. O bairro Borboleta...................................................................................... 12

    4.2. O bairro So Pedro.................................................................................... 19

    4.3. Outros testemunhos da cultura alem....................................................... 22

    5. DISCUSSO: RESGATE DA CULTURA E TRADICO.............................. 256. CONCLUSO.................................................................................................. 27

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................ 28

    8. ANEXOS...........................................................................................................31

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    1. INTRODUO

    Comemoramos neste ano um acontecimento expressivo para a histria de Juiz

    de Fora: os 150 anos da colonizao alem na cidade. A chegada desses pioneiros

    ressignificou a existncia da nascente Juiz de Fora e trouxe grandes contribuies

    tanto para o desenvolvimento da economia como da cultural local.

    O presente trabalho tem como objetivo propor uma reflexo sobre a presena

    significativa do imigrante alemo e como seu legado scio-histrico-cultural nos dias

    atuais permite uma nova produo de sentidos no espao popular das prticas do

    cotidiano na cidade de Juiz de Fora e com isso, maximizar o seu potencial turstico.

    A Psicologia Social e os Estudos Culturais sero as bases para nossa reflexo eutilizaremos a pesquisa em observao participante e entrevistas em histria oral

    como principais ferramentas para a construo de nosso trabalho.

    2. TEORIA PSICOLOGIA E CULTURA

    2.1. Noes de Cultura

    O conceito de cultura muitas vezes representado no senso comum como um

    estado educacional elevado, inclusive com discriminaes entre alta cultura e

    baixa cultura. Na ps-modernidade esse conceito se expande e passa a definir

    toda a produo, material ou simblica, prpria do homem e das coletividades

    humanas.

    A cultura pode ser entendida como a maneira de viver total de um grupo. aconstruo de significados partilhados por membros de grupos sociais especficos.

    Cada cultura um sistema prprio e se refere capacidade que os sujeitos tm de

    dar um significado s aes que pratica, realidade natural ou constituda que os

    cerca, s condutas das pessoas.

    No sentido antropolgico, cultura um conjunto finito de regras que nos diz como

    o mundo pode e deve ser classificado. Porm so infinitas as possibilidades de

    atualizao e formao de novas configuraes simblicas, j que toda cultura

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    possui um potencial de plasticidade, sendo capaz de receber e codificar as

    variaes scio-histricas e as motivaes dos seus membros.1

    O processo dinmico da construo cultural tem um papel central na formao e

    constituio da identidade tanto individual (formao da subjetividade dos

    indivduos), quanto coletiva (importncia dos indivduos e grupos como atores

    transformadores da sociedade).2

    2.2. Identidade Cultural

    O conceito de Identidade se refere s posies, aos lugares simblicos queocupamos no contexto scio-histrico e formada na interao entre o eu e o

    mundo que nos cerca. Um grupo ou sociedade possui a constituio de sua

    identidade baseada no cdigo simblico e caractersticas culturais partilhadas entre

    seus membros, tais como a lngua, os costumes, religio, danas, canes,

    sentimentos de lugar, etc.

    Reconhecemos essa persistncia do ser social em sua unidade e identidade nas

    mudanas e circunstncias diversas, o que permite a cada cultura a possibilidade dereconhecimento daquilo que lhe prprio, ou seja, o respeito e valorizao das

    caractersticas que so inerentes ao grupo.

    No entanto, assim como acontece com a cultura, a formao da identidade

    cultural no um processo rgido, mas sim uma incessante construo a partir das

    diversas prticas de significao e reconfigurao ao longo de cada contexto

    histrico.3

    1Da MATTA, Roberto. Voc tem cultura?. em: Exploraes. Rocco: Rio de Janeiro, 19862ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Os Estudos Culturais e a constituio de sua identidade.em: PscologiaSocial nos Estudos Culturais. Editora Vozes: Petrpolis, 2003.3MELILLO, Aldo. SUREZ OJEDA, Elbio Nstor.Resilincia. Descobrindo as Prprias Fortalezas. Artmed,2005.

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    3. ORIGENS HISTRICAS DOS COLONOS ALEMES EM JUIZ DE FORA

    3.1. O engenheiro Halfeld

    O engenheiro Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld (nome em portugus: Henrique

    (Guilherme Fernando Halfeld) foi o primeiro alemo que chegou Vila de Santo

    Antnio do Paraibuna em 1835. Ele nasceu no dia 23 de fevereiro de 1797 em

    Clausthal-Sellerfeld / Alemanha e se casou aos 27 anos com Dorota Augusta

    Filipina.4 Um ano depois o ex-capito do exrcito prussiano, que sobreviveu as

    batalhas de Waterloo em 1815, embarcou para o Brasil onde foi integrado como

    engenheiro no Imperial Corpo de Estrangeiros do Exrcito Brasileiro.5O seu primeirofilho ainda nasceu a bordo no dia 5 de julho de 1825.

    Em 1836 Halfeld nomeado Engenheiro da Provncia pelo presidente de Minas

    Gerais Alexandre Siqueira com a tarefa de construir uma nova estrada entre a

    capital Ouro Preto e a divisa de Rio de Janeiro, na ponte do Paraibuna, chamada a

    Estrada Nova de Paraibunaou a Estrada Provincial.

    A maneira em que os autores locais escrevem sobre o nosso Halfeld6mostra

    que o engenheiro alemo foi aceito e respeitado pelos brasileiros e totalmenteintegrado na comunidade de Santo Antnio do Paraibuna, atualmente Juiz de Fora.

    A sua primeira esposa Dorota faleceu em 1839 em Ouro Preto e o deixou oito

    filhos. O engenheiro Halfeld, saudvel alemo de quarenta-e-quatro anos de idade,

    h pouco naturalizado brasileiro, no podia viver sem mulher. Assim que, menos

    de oito meses aps ter enviuvado, casa-se com a fazendeirinha Cndida, de dezoito

    primaveras...7Cndida faleceu no dia 23 de abril de 1866 com 44 anos e deixou

    sete filhos para Halfeld. Um ano depois, no dia 13 de julho de 1867, Halfeld se casapela terceira vez, com Maria Luiza da Cunha Pinto Coelho. A primeira e nica filha

    desse casal, Maria Bertha, s nasceu seis anos depois. No mesmo ano, no dia 22

    4STEHLING, Luiz Jos.A Companhia Unio e Indstria e os Alemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura de

    Juiz de Fora, FUNALFA, 1979.5MOREIRA BENTO, Cludio.Estrangeiros e descendentes na histria militar do Rio Grande do Sul- 1635 a1870. A Nao/DAC/SEC-RS, Porto Alegre, 1976.6LESSA, Jair.Juiz de Fora e seus pioneiros (Do caminho novo proclamao). Juiz de Fora: UniversidadeFederal de Juiz de Fora, 1985 (pg. 45)7LESSA, Jair.Juiz de Fora e seus pioneiros (Do caminho novo proclamao). Juiz de Fora: UniversidadeFederal de Juiz de Fora, 1985 (pg. 42)

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    de novembro de 1873, Halfeld foi vtima de um disparo acidental com sua arma.

    Com esse trgico acidente a vida do fundador de Juiz de Fora chegou ao fim.

    3.2. A chegada dos colonos alemes em 1858 e a construo da Estrada

    Unio & Indstria

    O engenheiro e poltico Mariano Procpio Ferreira Lage, nascido em Barbacena

    no dia 23 de junho de 1821 e fundador da companhia Unio & Indstria, precisava

    de mo-de-obra para construir a Estrada Unio & Indstriaque ligaria Juiz de Fora a

    Petrpolis. O governo brasileiro apoiava a imigrao de estrangeiros com a LeiProvincial n56 de 1840que prometia terras para todos os imigrantes. Desde 1845,

    j existia uma colnia alem com 161 imigrantes em Petrpolis, o que levou a

    Mariano Procpio seguir o mesmo exemplo e contratar mo-de-obra qualificada no

    exterior.8

    Naquela poca, a vida na Alemanha era marcada pelas guerras napolenicas e o

    Congresso de Vienaem 1814 e 1815 onde foi decidido formar uma Confederao

    Alemcom 38 diferentes estados. O povo alemo ficou decepcionado porque notinha conseguido formar uma nao. Alm disso, existiam lutas religiosas entre

    protestantes e catlicos e a indstria estava parada. Por conseguinte foi uma nica

    oportunidade poder ir para o Brasil onde havia a promessa de um emprego e terras

    para os colonos, que desejavam ter uma vida melhor do outro lado do mundo.

    Os 1162 colonos alemes provinham do Gro Ducado de Hessen (335 pessoas),

    Tirol (ustria, 227), Prssia (147), Holstein (155), Baden (147), Hamburgo (13) etc. A

    bordo faleceram sete pessoas, sete bebs nasceram e uma pessoa desertou. Oscolonos chegaram ao Brasil entre 12 de junho e 10 de agosto de 1858 em cinco

    barcos (ver o seguinte grfico9):

    8ESPESCHIT, Antonio. Colonizao Alem em Juiz de Fora, MG.So Jos dos Campos, SP. Disponvel em:http://espeschit.com.br/historia/juiz_de_fora/, 11/06/20089Grfico criado pelos autores deste artigo. Fonte: STEHLING, Luiz Jos. A Companhia Unio e Indstria e osAlemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura de Juiz de Fora, FUNALFA, 1979

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    Navio ecapito

    Sada deHamburgo

    Dias daviagem

    Colonos Religio(Catlicos /Protestantes)

    Teel,

    R. N. Kock

    21 de abril

    1958,

    34 231

    (42 famlias, 2 solteiros)

    67 / 144

    RheinW. Bester

    28 de abril 37 182(32 famlias, 24 solteiros)

    30 / 52

    GundelaI. Eckmann

    15 de maio 70 285(66 famlias, 12 solteiros)

    233 / 52

    GessnerF. Lanke

    22 de maio 68 249(43 famlias, 13 solteiros)

    174 / 75

    OsnabrckL. W. Wolf

    5 de junho 59 215(42 famlias, 11 solteiros)

    131 / 84

    Entre eles haviam profissionais teis para a construo da nova estrada, comopor exemplo mecnicos, carpinteiros, ferreiros, pedreiros, construtores. Mas juntos a

    eles tambm chegaram um professor de primeiras letras, um alfaiate, um

    farmacutico.10

    A chegada dos colonos triplicou a populao local, que passou de 600 habitantes

    para 1.762 habitantes. A Unio & Indstria tinha prometido uma casa para cada

    famlia que ainda no tinham sido construdas quando os colonos chegaram. A falta

    de alojamento fez os colonos se instalarem em um acampamento na subida do

    Morro da Gratido (atual Morro da Glria, Largo do Riachuelo), junto a uma lagoa

    infestada que novamente levou a um princpio de tifo (que j havia se espalhado ao

    bordo do navio Teel) e causou 34 mortes. Pouco a pouco os colonos foram alojados

    nas Colnias Dom Pedro II, Colnia de Cima (atual So Pedro); Colnia de Baixo

    (atual Borboleta) e Villagem (atual Rua Bernardo Mascarenhas, Fbrica). Somente

    em 1863 a Unio & Indstriaconseguiu ter todas as famlias alojadas. A seguinte

    foto (ver foto n1) mostra Villagem em 1861 (Rua Be rnardo Mascarenhas)11:

    Foto n1: Villagem, 1861

    10LESSA, Jair.Juiz de Fora e seus pioneiros (Do caminho novo proclamao). Juiz de Fora: UniversidadeFederal de Juiz de Fora, 1985 (pg. 42)11STEHLING, Luiz Jos.A Companhia Unio e Indstria e os Alemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura deJuiz de Fora, FUNALFA, 1979

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    Uma planta da Colnia Dom Pedro II do ano 1859 mostra a diviso dos terrenos,

    onde por exemplo, as famlias Hauck (lote n1), Sco ralick (lote n4), Zolltau (lote

    n7), Kreutzfeld (lote n12) e Munck (lote n14), e ntre outras, receberam o seu

    terreno no atual bairro Borboleta.12

    Apenas trs anos depois, em 1861, a Estrada Unio & Indstria foi construda.

    Percorrendo 144 km a uma velocidade de 20 km/h, a Estrada era a primeira rodovia

    brasileira macadamizada13, com seis metros de largura e teve excelentes pontes de

    ferro ou de madeira. A Estrada foi considerada ...a maior obra de engenharia j

    realizada na Amrica do Sul.14 No mesmo ano, no dia 23 de junho de 1861, a

    Famlia Imperial assistiu a inaugurao da nova Estrada em Juiz de Fora.

    3.3. Cultura e tradies dos colonos nas primeiras dcadas

    Quando o contrato com a Companhia Unio & Indstria acabou, [nenhum]

    alemo queria ir embora: aqui ningum paga impostos e todo mundo tem cavalo, ecasa prpria, filhos brasileiros e louras gorduchinhas falando Ia! Ia!15Embora os

    colonos alemes manifestassem o seu gosto pela nova vida, nem todas as pessoas

    da populao local brasileira mostravam-se contente com isso. O autor do livro Juiz

    12INSTITUTO TEUTO-BRASILEIRO. Planta da colnia Dom Pedro II, 1859.13O PORTAL DE RODOVIAS DO BRASIL.Histria das rodovias. Estrada Unio e Indstria. Disponvel em:http://www.estradas.com.br/new/historia/uniaoindustria.asp, 13/06/200814LESSA, Jair.Juiz de Fora e seus pioneiros (Do caminho novo proclamao). Juiz de Fora: UniversidadeFederal de Juiz de Fora, 1985 (pg. 85)15LESSA, Jair.Juiz de Fora e seus pioneiros (Do caminho novo proclamao). Juiz de Fora: UniversidadeFederal de Juiz de Fora, 1985 (pg. 91)

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    de Fora e seus pioneiros (Do caminho novo proclamao), Jair Lessa, comenta

    que o Padre Tiago, vigrio da comunidade, reclamou: Meu Deus Santo! Como pode

    ser isso? Temos mais estrangeiros que brasileiros. Isso aqui vai virar uma Nova

    Alemanha. Vamos ter que aprender a falar alemo. A minha bondosa, fiel, catlica

    parquia tomada assim de assalto por uma horda de infiis!16 (anotao dos

    autores deste artigo: a fonte dessa citao no mencionada no livro).

    Os colonos instalaram vrias indstrias, entre elas uma de alta fermentao de

    milho (colonos Kunz, Kremer, Winter), uma oficina mecnica (Pedro Schubert), uma

    pequena fundio de maxambombas que depois chegou a ser uma fbrica de

    produo de pesadas mquinas industriais (Martim Kascher), uma fbrica de selas e

    couro (Weitzel), uma fbrica de carros e carroas (Heinrich Griese) e vriascervejarias.

    A primeira cervejaria alem do estado de Minas Gerais foi instalada em So

    Pedro por Sebastio Kunz. O Senhor Kunz usava milho e depois arroz em um

    primitivo processo de alta fermentao para produzir a cerveja. Uma cano alem,

    um brinde, falava: No cu no tem cerveja / por isto a bebemos aqui. / Quando no

    estivermos mais aqui, / outros, bebero nossa cerveja.17No auge, Juiz de Fora teve

    nove cervejarias, entre elas a Fbrica Kremer, Fbrica Jos Weiss, FbricaBorboleta, e era a cidade com a maior quantidade de cervejarias no Brasil. A cerveja

    foi considerada de boa qualidade e assim as fbricas criaram parques ao seu lado

    que se tornaram espaos para o lazer.18

    A linguagem dos colonos se fundiu em uma mistura entre alemo e portugus.

    Assim eles falavam frases, como: Y, ist alles resolvido, mit die ganz detalhe.., ou

    Die Rose ist caput, morreu en main braos.19Tambm mantiveram o costume de

    pintar os ovos de pscoa e criaram-se vrios clubes de lazer, como a Turnerschaft(Club Ginstico), fundado em 1909 com o lema: Franco-Firme-Forte-Fiel e o Kegel

    Club Juiz de Fora(Club Jogo da bola), fundado em 1921. Infelizmente, quase todas

    as instalaes alems tiveram que mudar de nome por causa da segunda guerra

    16LESSA, Jair.Juiz de Fora e seus pioneiros (Do caminho novo proclamao). Juiz de Fora: UniversidadeFederal de Juiz de Fora, 1985 (pg. 70)17STEHLING, Luiz Jos.A Companhia Unio e Indstria e os Alemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura deJuiz de Fora, FUNALFA, 1979 (pg. 357)18

    RIBEIRO DE OLIVEIRA, Mnica.Juiz de Fora Vivendo a Histria. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 199419STEHLING, Luiz Jos.A Companhia Unio e Indstria e os Alemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura deJuiz de Fora, FUNALFA, 1979 (pg. 302)

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    mundial, onde os descendentes dos colonos alemes foram perseguidos e foram

    proibidos de falar alemo em pblico.

    O crescimento da populao da Colnia s foi documentado entre 1858 a 187520:

    Populao da Colnia de 1858-1875

    950

    1000

    1050

    1100

    1150

    1200

    1250

    1300

    1858 1859 1860 1861 1862 1863 1864 1865 1866 1867 1868 1869 1870 1871 1872 1873 1874 1875

    Ano

    Populao

    3.4. O caso de uma famlia alem: A famlia Hauck

    Famlia de imigrantes germnicos protestantes, provenientes de Spabrken,

    estado de Rheinpreussen, vindos para o Brasil em 1858, formada por sete membros:

    O casal Friederich e Anna Maria Hauck (ver foto n2 ) e seus cinco filhos Louise (ver

    foto n3), Christina, Carl, Friederich e Catharina. Foram os primeiros passageiros da

    barca Osnabrck, como consta no livro de registro das embarcaes, e foram os

    primeiros a possuir um lote na colnia (ver planta da colnia Dom Pedro II).

    Foto n2: Anna Maria Hauck Foto n3: Louise Hauck

    20Grfico criado pelos autores deste artigo. Fonte: STEHLING, Luiz Jos. A Companhia Unio e Indstria e osAlemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura de Juiz de Fora, FUNALFA, 1979 (pg. 203)

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    Chegando pobres ao Brasil, arrumaram-se graas a uma enorme capacidade de

    trabalho. Aps a falncia da Colnia, Friederich e sua esposa estabeleceram -se em

    Chapu D'uvas (atual distrito de Paula Lima) e l montaram uma cervejaria, uma

    carroceria alm do cultivo de milho e produo de fub. Conta a tradio familiar que

    no fim da vida, Fritz, como era chamado Friederich, andava a noite por Chapu

    D'uvas vestido de um belo fraque e fumando charutos, afim de demonstrar sua

    origem alem.

    A maioria dos filhos deixaram descendncia. Friederich Hauck Junior, um dos

    filhos do casal, foi assassinato no local por questes polticas. O outro filho, Carl,

    migrou para o sul do pas em busca de uma nova vida e nunca mais voltou. Algumas

    anotaes familiares relatam que Louise, a primognita do casal Hauck, fora a damade companhia de Dona Maria Amlia, esposa de Mariano Procpio Ferreira Lage.

    Nesta ocasio, Louise Hauck conheceu outro imigrante alemo, Emmanuel

    Benjamim Pvel com quem se casou e foi morar em Rio Novo / MG. Nesta cidade

    instalou com seu marido uma penso que servia de posto de troca de cavalos das

    diligncias que partiam de Ouro Preto para o Rio de Janeiro, alm da cervejaria

    Pvel (ver fotos n4, 5), depois dirigida pelo seu primeiro filho Augusto.

    A famlia Hauck possui descendentes espalhados por toda a Zona da MataMineira, principalmente em Juiz de Fora e Santos Dumont, havendo alguns ainda

    em Belo Horizonte e Pedro Leopoldo, alm dos descendentes do ramo que migrou

    para o sul do Pas.

    Fotos n 4,5: Cervejaria Pvel

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    4. A CULTURA ALEM CONTEMPORNEA

    4.1. O bairro Borboleta

    O bairro Borboleta (ver foto n6) j teve vrios ou tros nomes: Colnia de Baixo,

    Rosenstall, Figueiras (devido a uma rvore especial que existia no caminho de

    acesso ao bairro) e Borboleta.21 Sobre a origem do nome Borboleta existem

    diferentes verses. A origem que parece mais evidente a grande quantidade de

    borboletas no bairro, o que ainda possvel observar hoje. Outras fontes destacam

    que o nome Borboleta devido a uma jovem bonita que sempre ia caar borboletas

    na mata com um professor alemo: Ach! Schmeterling, du fliest immer zum fensterraus..22 [na norma culta e padro do alemo seria: Ach! Schmetterling, du fliegst

    immer zum Fenster raus... e em portugus: Oh! Borboleta, tu sempre voas para

    fora da janela...]. A interpretao menos provvel que as terras do bairro

    Borboleta pertenciam a um uruguaio exilado de nome Ramirez Mendoza Borboleta.23

    Na diviso entre a antiga Colnia de Cima e a Colnia de Baixo, na Rua Ten.

    Paulo M. Delage, foi construdo o Marco Centenrio da Colnia Alem Dom Pedro II,

    1858-1958 (ver fotos n7,8). Infelizmente, esse mon umento hoje se encontra empssimo estado.

    Foto n6: Vista do bairro Borboleta Fotos n 7,8: Marco Centenrio da Colnia Alem

    21MENEZES, Alice Leite Coelho. Monografia - Festa Alem em Juiz de Fora/MG Memria e Tradio

    Cultural de um povo como atrativo turstico. Juiz de Fora: UFJF, 2005. 22STEHLING, Luiz Jos.A Companhia Unio e Indstria e os Alemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura deJuiz de Fora, FUNALFA, 1979. (pg. 296)23ESPESCHIT, Antonio. Colonizao Alem em Juiz de Fora, MG.So Jos dos Campos, SP. Disponvel em:http://espeschit.com.br/historia/juiz_de_fora/. 15/06/2008

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    Os moradores mais antigos do bairro Borboleta ainda chamam o seu bairro de

    vila. Existe uma quantidade significativa de antigas casas dos colonos, como por

    exemplo na Rua So Damio 90 (ver foto n9) e 120 ( ver foto n10) ou na Rua Ten.

    Paulo M. Delage, que parece uma rplica ou reforma do ano 1939 (ver foto n11).

    Foto n9: Rua So Damio 90 Foto n10: Rua So Damio 120 Foto n11:Rua T. PauloM. Delage

    Outras casas encontram-se na Rua Irmo Menredo, como por exemplo, a de

    nmero 480 (ver foto n12) ou 392 (ver foto n13,14 ), que pertence famlia

    Debussi.

    Foto n12: R.Irmo Menredo 480 Fotos n13,14:R.Irm. Menredo 392 (vista de fora e dentro)

    A Senhora Amlia Debussi Coelho (ver foto n15), na scida em 18 de setembro

    de 1930 na Borboleta, mora ao lado, na Rua Irmo Menrado 406 e de

    descendncia alem. A av dela era Elisa Goering (ver porta-retrato de sua famlia,

    n17) e chegou a Juiz de Fora com os primeiros colo nos e sua outra av era italiana.

    Amlia destaca que As minhas avs eram muito bravas!. A Senhora Amlia tem

    olhos azuis, igual aos de uma de suas filhas. Quando perguntamos se na sua famlia

    ainda se faz comida alem, ela diz: Assim, comida de vez em quando a gente come

    a umas coisas que todo mundo fala ah isso a coisa de alemo, isso coisa de

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    alemo, isso coisa de italiano.24Isso mostra que as diferentes culturas no caso

    da Dona Amlia: alem, italiana, brasileira j se misturaram completamente e que

    muito difcil saber qual a origem da comida ou de seus hbitos. Matheus Debussi

    (ver foto n16), irmo da Dona Amlia, de 82 anos, mora atrs da antiga casa dos

    colonos (Rua Irmo Menredo 392) com sua esposa Ernestina Dugue Debussi que

    afirma: Cuidado que os alemes so bravos!

    Fotos n 15,16: Amlia e Matheus Debussi Foto n17: Porta-retrato da famlia Debussi

    Para resgatar a cultura alem e para garantir a sua autenticidade nos dias

    atuais, Maria das Graas Schfer fundou o Grupo de Danas Folclricas alems

    Schmetterling Volkstanzgruppe no dia 16 de maio de 1990 que foi o primeiro grupo

    de danas alems em Minas Gerais. As danas alems esto compostas por sete

    categorias: Kindergarten (4-7anos), Kinder (7-11anos), Infanto-Juvenil (11-15anos),

    Juvenil (15-18anos), Mnnertanz (adulto), Gemtlichkeit (a partir de 30anos) e

    Master (a partir de 45anos). Cada grupo tem mais ou menos oito casais e os

    membros pagam uma pequena mensalidade de 7R$. Eles apresentam danas na

    Festa Alem e em muitas outras ocasies. Quando so convidados para danar em

    outras cidades, eles aceitam com muito orgulho e somente pedem que o transportee a comida sejam gratuitos.

    Poucos anos depois de ter fundado os grupos de danas alems, Maria de

    Graas Schfer, que casada com um alemo, fundou a Associao Cultural e

    Recreativa Brasil Alemanha (ver fotos n18,19), no dia 27 de abril de 1993. O

    presidente da associao Hilarina Annita del Mdico. O braso da associao (ver

    foto n20) representa os estados alemes Hessen, Ba varia e Baden, e tambm uma

    24ver anexo: Entrevista Amlia Debussi Coelho

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    borboleta e uma imagem da Unio & Indstria. A associao oferece muito para os

    seus membros, alm das danas. Eles transmitem contos dos famosos irmos

    Grimm para as crianas (como por exemplo, O Flautista, A Branca de neve e Os

    sete anes, A Princesa e o Sapo) e canes como o Pinheirinho de Alegria em

    ocasies festivas como Natal. Tambm organizam passeios para os adolescentes.

    No ano passado, pela primeira vez, eles participaram em uma procisso de

    lanternas, no dia de So Martim que ainda uma tradio muito importante na

    Alemanha. Este aspecto mostra que a associao faz muito mais que simplesmente

    resgatar a cultura antiga, ela tambm adquire novas tradies alems e procura

    novos impulsos.

    Fotos n18,19: Associao Cultural e Recreativa Brasil-Alemanha Foto n20: braso

    A partir de 1995, uma vez ao ano em setembro, a associao organiza a famosa

    Festa Alem Deutsches Fest - que um evento oficial no calendrio turstico de

    Juiz de Fora e atraem muitas pessoas, tantos juiz-foranos como outros turistas

    brasileiros. A Festa Alem recebe ajuda pela prefeitura da cidade e patrocinada

    pela Cerveja Itaipava e Frigorfico Bartels. A Festa Alem uma festa de famlia.

    Vanessa Schfer Kirchmair, estudante da UFJF e residente do bairro Borboleta, diz:

    No importa a idade, desde criancinha at velhinho pode vir que no tem

    importncia.25Um palco montado em frente da Igreja So Vicente de Paulo em

    Borboleta onde diferentes grupos de danas apresentam os seus bailes tradicionais,

    como por exemplo os grupos de danas da Associao Cultural e Recreativa Brasil -

    Alemanha ou o grupo Edelweiss. Mas tambm tem um grupo cigano, o grupo italiano

    Taranto lato e outros grupos de danas alems de outras cidades que se

    apresentam na Festa Alem. Barracas ao lado do palco vendem comida alem, feita

    com receitas que foram passadas de gerao em gerao. Essas barracas podem

    25ver anexo: Entrevista Vanessa Schfer Kirchmair

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    ser alugadas da associao pelos residentes do bairro. Assim a Festa Alem se

    tornou uma fonte de renda extra para os residentes da comunidade que trabalham

    nas diferentes barracas durante a festa. Esse aspecto econmico da festa muito

    importante, Alice Leite Coelho Menezes destaca na sua monografia sobre a Festa

    Alem em Juiz de Fora que a ...festa alem se tornou uma forma de Patrimnio

    Cultural, uma fonte de rendas para a comunidade, onde o trabalho recompensado

    pelo dinheiro e pelo resgate das tradies alemes. No futuro, quando o poder

    econmico e turstico da Festa Alemcrescer mais, torna-se necessrio tomar muito

    cuidado em no colocar o interesse econmico acima da idia inicial que foi resgatar

    a cultura alem e oferecer uma festa de alegria e amizade para os residentes do

    bairro Borboleta. Porque como Samuel Lima, residente do bairro, diz: a grandeoportunidade de resgatar os hbitos e costumes de um povo que aqui chegou

    trazendo na sua bagagem, apenas f e esperana.26Neste ano, a 13 Festa Alem

    vai ser entre o dia 4 e 7 de setembro e como Amlia Debussi Coelho diz: Quem

    vem na festa no se arrepende!27

    A estudante Vanessa Schfer Kirchmair, que participa no grupo adulto de

    danas alems da associao, descendente (5 gerao) por parte de ambos os

    pais (nome da me: Schfer, nome do pai: Kirchmair). Ela afirma que na sua famliaainda se mantm muitas tradies alems. Desde criana ela escutou muitos contos

    dos irmos Grimm e esse ano ela pintou ovos de pscoa (ver fotos n21,22 28) que

    um antigo costume alemo em que os ovos so cozidos ou cuidadosamente

    esvaziados para depois pint-los. Os ovos ficam escondidos no jardim para que as

    crianas os busquem ou servem como decorao na casa e no jardim. A famlia

    Schfer Kirchmair tambm faz a coroa de advento (ver foto n23,24 29), que tem

    quatro velas que correspondem a cada domingo do advento. De vez em quando afamlia Schfer Kirchmair come salada de batatas e ainda muito raramente usam a

    26MENEZES, Alice Leite Coelho. Monografia - Festa Alem em Juiz de Fora/MG Memria e TradioCultural de um povo como atrativo turstico. Juiz de Fora: UFJF, 2005.27ver anexo: Entrevista Amlia Debussi Coelho28Fotos ovos de pscoa, disponvel em: https://reader009.{domain}/reader009/html5/0313/5aa742636404d/5aa742701b0fa.jpghttp://www.welt.de/multimedia/archive/00205/osterei_DW_Wissensc_205035g.jpg. 18/06/200829Fotos coroa de advento, disponvel em: http://static.twoday.net/EinBlicke/images/Adventskranz.jpg. ehttp://www.medienwerkstatt-online.de/lws_wissen/bilder/1398-2.jpg. 18/06/2008

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    injria Scheidreck! (traduo: merda). A estudante afirma que ...a cultura pra mim

    muito importante por resgatar assim o meu passado, a minha histria.30

    Fotos n21,22: Ovos de pscoa Fotos n 23,24: Coroa de advento

    Dirceu Scoralick e a sua esposa Clia Maria Rodrigues Scoralick (ver foto n25)

    tambm so descendentes alemes e moram na Rua Tenente Paulo M. Delage nobairro Borboleta. Dois tios-av de Dirceu Scoralick fundaram a Cervejaria Scoralick

    na atual Rua Julio Menine n50, atualmente desativa da. Naquela poca havia um

    mdico, o Senhor Fassheber, que foi reclamar a Dom Pedro que a cerveja dos

    Scoralicks era to boa que as pessoas do bairro Borboleta s ficavam bebendo

    cerveja e ningum mais queria tomar o remdio que aquele mdico fabricava. O

    senhor Scoralick tambm conta que um tio seu foi preso durante a segunda guerra

    mundial por ter falado alemo em pblico.

    Foto n25: Dirceu e Clia Maria Scoralick

    O senhor Scoralick ainda fala algumas frases em alemo e foi um dos

    fundadores do Instituto Teuto-Brasileiroe organizador da primeira Festa Alem. Ele

    se casou com Clia Maria, tambm descendente de alemo e afirma o seu grande

    amor por ela: um perfeito entrosamento de ideais, de pensamento, de atitudes, de

    gnios, ns somos um casal, no vamos dizer maravilhoso, mas super-maravilhoso.

    Ns temos nossas riscazinhas, mas um no sabe viver sem o outro. a minha alma

    30ver anexo: Entrevista Vanessa Schfer Kirchmair

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    gmea. Para o senhor Scoralick ...O amor eterno. Se no for eterno, no

    amor. A comida da famlia Scoralick mostra uma riqueza culinria alem: Po

    alemo, torta de ma, sopa Rivlere joelho de porco que Dirceu Scoralick escreve

    em lngua misturada Haisben, e que em alemo se escreve Eisbein. Para Clia

    Maria a sua herana alem importantssima: Eu acho que a coisa mais

    importante da minha vida... Eu sem isso no seria o que eu sou. O seu marido

    afirma: Para mim... a primeira roupa que eu vesti na minha vida que eu nunca

    mais vou esquecer.31

    Nilo Srgio Franck, membro da diretoria da Associao Cultural e Recreativa

    Brasil Alemanha, e a sua esposa Dilza Masson Franck, tambm so descendentes

    de alemes, costumam reunir os seus filhos para ensinar receitas tpicas alems queeles aprenderam com seus avs, como por exemplo: po alemo, cuca, salada de

    batata, chucrute, sopa de repolho com costelinha, molho bechamel etc.32

    31ver anexo: Entrevista Clia Maria Rodrigues Scoralick e Dirceu Scoralick32NUNES, Janaina. 150 anos de imigrao alem. Festa, trabalho e muita f.Tribuna de Minas. Juiz de Fora: 10de junho de 2008. Caderno dois, pgina 6

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    4.2. O bairro So Pedro

    O atual bairro So Pedro antigamente chamava-se Colnia de Cima e,

    igualmente ao bairro Borboleta, muitos testemunhos daquela poca foram

    preservados, ou seja, a cultura alem foi novamente construda e valorizada entre os

    habitantes do bairro. Desta maneira, ainda possvel ver algumas casas antigas dos

    colonos, como por exemplo, na Avenida Costa e Silva 2969 que possvelmente ser

    renovada com a ajuda do Instituto Teuto-Brasileiro William Dillypara servir como um

    pequeno museu da cultura alem no futuro (ver foto n26). Outra casa encontra-se

    na Avenida Senhor dos Passos 1597 (ver foto n27).

    Foto n26: Av. Costa e Silva 2969 Foto n27: Av. Senhor dos Passos 1597

    O bairro So Pedro ainda tem como testemunho a Capela de Santana(ver foto

    n28) que conta uma histria interessante: o tercei ro barco, Gundela, demorou para

    chegar ao Brasil porque foi desviado em direo costa africana. As pessoas que

    vinham com esse barco, especialmente as famlias Larcher (austracos) e Klotz,

    fizeram uma promessa de levantar uma capela no lugar em que seriam fixadas. O

    barco chegou no dia 25 de julho de 1858 aps de 70 dias de viagem. A Capela de

    Santana foi construda no ano de 1864 e era o primeiro templo dos imigrantes

    alemes. Uma placa ao lado da capela ainda lembra os seus construtores.

    Brulio Borges (ver foto n29), descendente da fam lia austraca Larcher e

    estudante de direito na Universidade Federal de Juiz de Fora, afirma que ...A minha

    origem austraca motivo de muito orgulho, por se tratar de um pas to bonito e de

    uma histria de muita coragem dos meus antepassados ao decidirem cruzar o

    oceano e recomearem suas vidas aqui num ambiente bem diferente de onde

    cresceram. Brulio destaca que a grande crena religiosa uma tradio familiar

    que foi mantida durante todas as novas geraes que nasceram no Brasil.

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    Infelizmente, a maioria das tradies dos imigrantes se perderam, embora tenha

    ainda vrias famlias que tentam resgatar uma histria que ficou esquecida. O

    estudante, que est aprendendo a lngua alem, prope como os descendentes dos

    imigrantes poderiam assegurar a autenticidade da sua cultura: A cultura germnica

    seria ainda mais autntica se os descendentes interessados na mesma,

    mantivessem-se atualizados a respeito do que acontece na ustria e tambm na

    Alemanha hoje, porque seria uma forma especial de se ligarem aos pases dos seus

    antepassados. Brulio, que trabalha no Instituto Teuto-Brasileiro,conclui: Sinto que

    cabe a mim como descendente de austracos, continuar contando a histria que

    meus antepassados trouxeram, que uma histria de muito trabalho e inovao...33

    A primeira igreja luterana construda pelos colonos, foi a Igreja Luterana em SoPedro (ver foto n29) e encontra-se na Avenida Senh or dos Passos na esquina com

    a rua Dimas Bergo Xisto.

    Foto n28: Capela de Santana Foto n29: Brulio Borges Foto n30: Igreja Luterana

    Igualmente, vrios nomes de ruas lembram os seus habitantes do passado: Rua

    Roberto Stiegert, Avenida Pedro Henrique Krambeck, Rua Jacob Kirchmeier etc.

    Construes mais recentes imitam um estilo alemo que no parece muito autntico.

    Assim por exemplo a Boate German Villagena Avenida Pedro Henrique Krambeck(ver foto n31), o Bar do alemo (ver foto n32) na Rua Jos L. Kelmer e outras

    casas particulares construdas no mesmo estilo (ver foto n33)

    33ver anexo: Entrevista Brulio Borges

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    Foto n31: Boate German Village Foto n32: Bar do alemo Foto n33: Casa privada

    Um grupo recente que verdadeiramente resgata a cultura alem no bairro So

    Pedro o Grupo de danas Edelweiss Alpenbhne Tanz Gruppe, fundado no dia 26

    de outubro de 1999 e afiliado ao Instituto TeutoBrasileiro William Dilly. Atualmenteo grupo coordenado pelo estudante Irineu Ferreira Jnior, descendente dos

    antigos colonos que pratica as danas alems h oito anos. O grupo ensaia em um

    edifcio na Rua Dimas Bergo Xisto 264 que pertence Igreja Luterana em So

    Pedro e associado na Associao Cultural Gramada de Gramada / RS. Por uma

    anualidade em torno de um salrio mnimo, o grupo Edelweiss recebe vdeos e

    cursos da associao para garantir a autenticidade das tradies alems. As danas

    antigas que eles praticam chamam-se, por exemplo, Schwedentanz, RhlerSpringer, Gigue, Miserlou ou Krz Knig (ver fotos n34,35,36,37,38,39). O

    coordenador do grupo afirma a sua paixo para a cultura alem: Eu cresci vendo

    esses hbitos [alemes]... Cresci comendo po alemo, torta alem na famlia... Eu

    vi que tinha jeito [para danar] e vi que amava aquilo e isso motivador pois eu no

    recebo nada como coordenador para estar aqui. Mas s o fato de estar fazendo o

    que eu gosto j o suficiente.34

    Fotos n34,35,36: Grupo de danas Edelweiss Alpenbhne, ensaio

    34ver anexo: Entrevista Irineu Ferreira Jnior

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    Fotos n37,38,39: Grupo de danas Edelweiss Alpenbhne, apresentao durante a festa deinaugurao da exposio Bertha von Suttner em Juiz de Fora

    4.3. Outros testemunhos da cultura alem

    O Instituto Teuto-Brasileiro William Dilly foi fundado em 1967 para resgatar a

    cultura alem, as tradies e o folclore germnico em Juiz de Fora. O atual diretor,

    Jos Roberto Dilly (descendncia alem), ao mesmo tempo diretor do Museu do

    Crdito Realonde o Instituto Teuto-Brasileirose encontra (Avenida Getlio Vargas,

    455, 3andar).

    Neste ano, de 3 a 5 de setembro, o Instituto Teuto-Brasileiro William Dilly, junto

    com a Associao Cultural e Recreativa Brasil Alemanha organizaro o 6

    Encontro das Comunidades Alems da Amrica Latinana Estao So Pedro em

    Juiz de Fora. A coordenao geral est a cargo da Federao dos Centros de

    Cultura Alem no Brasil (FECAB). O objetivo do encontro reunir os integrantes das

    comunidades alems de Amrica Latina e discutir em palestras a histria e o

    desenvolvimento em cada pas. O encontro vai ser realizado os trs dias antes do

    incio da 13Festa Alemdo Bairro Borboleta de 5 a 9 de setembro.35Esse grande

    evento demonstra o potencial turstico da cultura alem em Juiz de Fora.

    Em 1900, as irms da Congregao das Irms de Santa Catarina (fundada em1552 na Polnia) chegaram a Juiz de Fora para construir um colgio para as

    crianas da colnia alem, que s foi inaugurado nove anos depois, em 1909. O

    Colgio Santa Catarina (ver foto n40), situado na Avenida dos Andradas 1 036,

    ainda funciona hoje e se tornou uma das melhores escolas da regio, oferecendo os

    cursos Educao Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Mdio sob a direo da Irm

    35INSTITUTO TEUTO-BRASILEIRO WILLIAM DILLY. 6 Encontro das Comunidades Alems da AmricaLatina. 2008. Juiz de Fora: 2008

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    Ernestina. Infelizmente, s a histria do colgio ainda lembra a relao que teve com

    os colonos alemes.36

    Foto n40: Colgio Santa Catarina Foto n41: Igreja Nossa Senhora da Glria

    Na mesma rua, na Avenida dos Andradas 855, encontra-se o Cemitrio e a Igreja

    da Nossa Senhora da Glria (ver foto n41) onde possvel ver um marco da

    Companhia Unio & Indstria do ano 1854.37Como os colonos falecidos estavam

    sepultados em qualquer lugar na colnia alem nos primeiros anos, os imigrantes

    alemes reclamaram da Unio & Indstriaum terreno para poder sepultar os seus

    entes queridos falecidos em uma terra sagrada. Por conseguinte, em 1860 lhes foi

    dado um terreno no Cemitrio da Nossa Senhora da Glria. Mas o cemitrio foidividido (o mesmo aconteceu muito tempo depois com o cemitrio da Igreja de So

    Pedro) porque o Padre Tiago no permitiu que catlicos e protestantes fossem

    sepultados juntos.38 possvel ver muitas lpides dos colonos alemes, os epitfios

    foram inscritos em alemo (ver fotos n42,43,46) ou em duas lnguas: alemo e

    portugus (ver fotos n44,45).

    36COLGIO SANTA CATARINA JUIZ DE FORA. Colgio. Histrico. Disponvel em:http://www.homecard.com.br/sites/csc/index.php?cod_tipo=2&cod_dados=54&origem=menu&cod_menu=87.15/06/200837CAMPUS UNIVERSITRIO UFJF / ICH / CENTRO DE PESQUISAS SOCIAIS. Guia turstico. Pontoshistricos, restaurantes e bares. Juiz de Fora: 200838STEHLING, Luiz Jos.A Companhia Unio e Indstria e os Alemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura deJuiz de Fora, FUNALFA, 1979

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    Foto n 42: Lpide da famlia Bartels F Foto n43: Lpide da famlia Jung

    Foto n44: Lpide da famlia Sybertz Foto n45: Jazigo de Sybille Krambeck Sybertz

    Foto n46: Jazigo de Karl Gerhard Sybertz

    Epitfio: Du sahst die Welt im Lichte

    warmer Farben, den Zauber des Lebensdamit gabst wieder! Im Dasein einfach,voll Gte und Gaben, warst du Vorbild daswir im Herzen tragen.(Traduo: Tu viste o mundo em coresalegres e desta maneira devolveste oencanto da vida! Na existncia estivestecheio de bondade e prendas, foste modeloque carregaremos no corao!)

    Na sada do cemitrio existe um lpide sem nome dizendo: Auf Wiedersehen!(Traduo: At a prxima!), (ver foto n47).

    Foto n47: Lpide Auf Wiedersehen!

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    5. DISCUSSO: RESGATE DA CULTURA E TRADIO

    Podemos observar que diferentes grupos de imigrantes estabelecidos no Brasil

    construram identidades coletivas baseadas em uma idia de pertencimento tnico

    que contrastava com o ideal de nacionalismo brasileiro. Essa concepo de uma

    sociedade integrada andava lado a lado de um sistema de colonato que deixavam

    os imigrantes relativamente isolados da sociedade nacional. Os germnicos portanto

    foram considerados como a etnia mais irredutvel ao caldeamento e assimilao de

    diferentes culturas.39Deve-se deixar claro, porm que, com o fim da construo da

    Estrada Unio Indstria e declnio da colnia, os alemes foram cada vez mais

    integrados sociedade juiz-forana.A cultura na cidade de Juiz de Fora foi influenciada pelo processo ativo de

    incorporao, ajuste, organizao e seleo de prticas, sentidos e valores dos

    diversos grupos que a formavam: alemes, italianos, srio-libaneses, brasileiros, etc.

    Deste modo, no existem mais rgidas paisagens culturais distintas para cada grupo

    tnico, o que leva a um processo de transformao de suas identidades. O

    indivduo, antes percebido como um sujeito unificado, sofre fragmentaes e

    constitui-se em novas identidades a partir de um constante dilogo e interao comdiversas realidades culturais.40

    Ao longo de todo processo histrico, desde a chegada dos pioneiros at os dias

    atuais, o elemento alemo foi representado socialmente, ou seja, percebido,

    interpretado e entendido, pela sociedade juizforana sob diversos olhares. Podemos

    notar, a partir de registros da tradio local e de nossa observao in loco das

    relaes no cotidiano da antiga colnia alem, que a presena germnica na cidade

    evocou as mais diversas crenas na populao local. Tais crenas, o nosso conjuntode idias que nos ajudam a interpretar a realidade objetiva que nos cerca, foram

    construdas por meio do contato interpessoal da comunidade com os imigrantes

    germnicos e tambm pelas representaes, muitas vezes estereotipadas e

    39SEYFERTH, Giralda.Identidade nacional, diferenas regionais, integrao tnica e a questo imigratria noBrasil.em: Regio e nao na Amrica Latina, UNB editora: Braslia, 200040BRUSCHI, Michel Euclides.Estudos Culturais e ps-modernismo: Psicologia, mdia e identidades. em:Psicologia Social nos Estudos Culturais, Editora Vozes: Petrpolis, 2003.

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    preconceituosas, sobre a figura do alemo.41Este foi percebido como a esperana

    de modernizao do Brasil, visionrio industrial, nazista, bravo e perigoso, at

    atualmente como smbolo de alta cultura, motivo de apreciao, resgate e

    preservao cultural. Portanto, a figura do alemo, devido a toda essa

    complexidade, assumiu diferentes identidades, muitas vezes conflitivas entre si.

    Uma maneira encontrada de preservao e resgate da cultura so as

    manifestaes atuais de danas alems que na verdade so de origem da Baviera,

    o que no corresponde com o fato de que s 26 imigrantes (de 1.162) provinham do

    estado bvaro. importante lembrar que, naquela poca, o pas Alemanha no

    existia, constituindo de 38 estados independentes. Por conseguinte, uma

    anacronia fazer referncia uma cultura unificada de todos os imigrantes.Sabemos que o uso da lngua uma das principais formas de se manter uma

    identidade cultural e era a nica caracterstica em comum entre os imigrantes.

    Atravs dela foi construda a identidade alem em Juiz de Fora. Infelizmente com o

    incio das guerras mundiais, a lngua alem foi proibida no Brasil, sendo assim, a

    nica caracterstica que unia os imigrantes foi dissipada, o que levou a uma maior

    fragmentao e perda da identidade cultural.

    Atualmente os descendentes manifestam muito orgulho de sua descendncia,mas infelizmente so poucos que tm o conhecimento de fato, de suas origens.

    Muitas vezes, o nico aspecto referente origem alem so os sobrenomes ainda

    existentes entre os juizforanos, o que mostra uma certa ignorncia com os seus

    passados. Ainda assim existe uma parcela significativa de descendentes que nem

    preservaram seus nomes por medo de perseguio durante as guerras mundiais.

    Hoje em dia observamos a formao de uma identidade distorcida e superficial em

    que as pessoas se importam mais com o que tem (sobrenomes, fotografias antigas,modelos de arquitetura) ao invs daquilo que so (engajamentos morais, tradies,

    crenas, atitudes).

    41KRGER, Helmuth. Cognio, esteretipos e preconceitos sociais. In: Marcos Emanoel Pereira; MarcusEugnio Oliveira Lima. (Org.). Esteretipos, preconceitos e discriminao: perspectivas tericas emetodolgicas. 1 ed. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2004.

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    6. CONCLUSO

    importante ressaltar que nem todos os imigrantes tiveram xito na sua nova

    vida no outro lado do oceano. Enfrentaram vrias adversidades que muitas vezes

    desafiaram a capacidade de resilincia coletiva dos corajosos colonos, que deixaram

    para trs tudo o que tinham, motivados por um desejo de construir uma vida melhor.

    Muitos morreram pobres, solitrios e longe de seus entes queridos e sua ptria.

    Os imigrantes que venceram todos estes desafios ainda sim sofreram

    humilhaes e perseguies durante o perodo de guerras: eles tiveram que

    esquecer e negar o seu passado a sua origem para poderem construir um futuro.

    impossvel desconsiderar toda a contribuio econmico e cultural destespioneiros no desenvolvimento da cidade de Juiz de Fora. Atualmente a

    perseverana, coragem e pacincia das pessoas que buscam resgatar a tradies

    germnicas so destacveis, diante de uma histria que foi muitas vezes

    desconsiderada e perdida ao longo dos anos.

    Considerando que muitas das tradies dos imigrantes do sculo XIX j se

    perderam na Alemanha atual, uma utopia querer resgatar ou reencontrar todosos

    aspectos que j se perderam da cultura alem em Juiz de Fora, pois uma lutacontra o tempo em uma sociedade cada vez mais globalizada e complexa.

    O desafio maior para o turismlogo e toda populao local transmitir as

    tradies dos descendentes de uma maneira que respeite tanto a sua origem quanto

    o atual significado dos costumes e tradies alemes para as geraes que ho de

    vir.

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    282

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ASSOCIAO CULTURAL E RECREATIVA BRASIL ALEMANHA. Histrico / As

    primeiras festas alems / A atual Deutschesfest.Disponvel em:

    http://www.culturalemajf.com.br/index.php , 11/06/2008

    BAUER, M. W. & GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com Texto Imagem e Som

    Um Manual Prtico.Petrpolis, RJ: 2 ed. Vozes, 2003.

    BRUSCHI, Michel Euclides. Estudos Culturais e ps-modernismo: Psicologia, mdia

    e identidades. em: Psicologia Social nos Estudos Culturais, Editora Vozes:Petrpolis, 2003.

    CAMPUS UNIVERSITRIO UFJF / ICH / CENTRO DE PESQUISAS SOCIAIS. Guia

    turstico. Pontos histricos, restaurantes e bares. Juiz de Fora: 2008.

    COLGIO SANTA CATARINA JUIZ DE FORA. Colgio. Histrico. Disponvel em:

    http://www.homecard.com.br/sites/csc/index.php?cod_tipo=2&cod_dados=54&origem=menu&cod_menu=87. 15/06/2008

    Da MATTA, Roberto. Voc tem cultura?. em: Exploraes. Rocco: Rio de Janeiro,1986

    ESCOSTEGUY, Ana Carolina D. Os Estudos Culturais e a constituio de sua

    identidade.em: Pscologia Social nos Estudos Culturais. Editora Vozes: Petrpolis,

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    ESPESCHIT, Antonio. Colonizao Alem em Juiz de Fora, MG.So Jos dos

    Campos, SP. Disponvel em: http://espeschit.com.br/historia/juiz_de_fora/,

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    - Planta da colnia Dom Pedro II, 1859

    KRGER, Helmuth. Cognio, esteretipos e preconceitos sociais. In: Marcos

    Emanoel Pereira; Marcus Eugnio Oliveira Lima. (Org.). Esteretipos, preconceitos e

    discriminao: perspectivas tericas e metodolgicas. 1 ed. Salvador: Editora da

    Universidade Federal da Bahia, 2004.

    LESSA, Jair. Juiz de Fora e seus pioneiros (Do caminho novo proclamao). Juizde Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 1985.

    MELILLO, Aldo. SUREZ OJEDA, Elbio Nstor. Resilincia. Descobrindo as

    Prprias Fortalezas. Artmed, 2005.

    MENEZES, Alice Leite Coelho. Monografia - Festa Alem em Juiz de Fora/MG

    Memria e Tradio Cultural de um povo como atrativo turstico. Juiz de Fora: UFJF,2005.

    MOREIRA BENTO, Cludio. Estrangeiros e descendentes na histria militar do Rio

    Grande do Sul- 1635 a 1870. A Nao/DAC/SEC-RS, Porto Alegre, 1976.

    NUNES, Janaina. 150 anos de imigrao alem. Festa, trabalho e muita f.Tribuna

    de Minas. Juiz de Fora: 10 de junho de 2008. Caderno dois, pgina 6

    O PORTAL DE RODOVIAS DO BRASIL. Histria das rodovias. Estrada Unio e

    Indstria. Disponvel em: http://www.estradas.com.br/new/historia/uniaoindustria.asp,

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    RIBEIRO DE OLIVEIRA, Mnica. Juiz de Fora Vivendo a Histria. Juiz de Fora:

    Editora da UFJF, 1994.

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    SEYFERTH, Giralda. Identidade nacional, diferenas regionais, integrao tnica e a

    questo imigratria no Brasil.em: Regio e nao na Amrica Latina, UNB editora:

    Braslia, 2000

    SILVA, Acildo Leite da. Memria, Tradio Oral e a Afirmao da Identidade tnica.

    UERJ/PENSEB: cidade. ano

    STEHLING, Luiz Jos. A Companhia Unio e Indstria e os Alemes.Juiz de Fora:

    edio da Prefeitura de Juiz de Fora, FUNALFA, 1979.

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    8. ANEXOS

    Fotos:

    Foto n1: Villagem, 1851: STEHLING, Luiz Jos. A Companhia Unio e Indstria eos Alemes.Juiz de Fora: edio da Prefeitura de Juiz de Fora, FUNALFA, 1979

    Foto n2: Anna Maria Hauck, Foto da famlia Pvel

    Foto n3: Louise Hauck, Foto da famlia Pvel

    Fotos n4,5: Cervejaria Pvel, Fotos da famlia P vel

    Foto n6: Vista do bairro Borboleta, Foto dos autor es

    Fotos n7,8: Marco Centenrio da Colnia Alem, Fo tos dos autores

    Foto n9: Rua So Damio 90, Foto dos autores

    Foto n10: Rua So Damio 120, Foto dos autores

    Foto n11:Rua T. Paulo M. Delage, Foto dos autores

    Foto n12: Rua Irmo Menredo 480, Foto dos autores

    Fotos n13,14: Rua Irmo Menredo 392 (vista de fora e dentro), Fotos dos autores

    Fotos n15,16: Amlia e Matheus Debussi, Fotos dos autores

    Foto n17: Porta-retrato da famlia Debussi, Foto d os autores

    Fotos n18,19: Associao Cultural e Recreativa Bra sil-Alemanha, Fotos dos autoresFoto n20: braso, Foto dos autores

    Fotos n21,22: Ovos de pscoa: disponvel em:http://www.welt.de/multimedia/archive/00205/osterei_DW_Wissensc_205035g.jpghttp://majainbarcelona.files.wordpress.com/2007/04/osterei.jpg.. 18/06/2008

    Fotos n23,24: Coroa de advento: disponvel em:http://static.twoday.net/EinBlicke/images/Adventskranz.jpg.http://www.medienwerkstatt-online.de/lws_wissen/bilder/1398-2.jpg. 18/06/2008

    Foto n25: Dirceu e Celia Maria Scoralick, Foto dos autores

    Foto n26: Av. Costa e Silva 2969, Foto dos autores

    Foto n27: Av. Senhor dos Passos 1597, Foto dos aut ores

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    Foto n28: Capela de Santana, Foto dos autores

    Foto n29: Brulio Borges, Foto dos autores

    Foto n30: Igreja Luterana, Foto dos autores

    Foto n31: Boate German Village, Foto dos autores

    Foto n32: Bar do alemo, Foto dos autores

    Foto n33: Casa privada, Foto dos autores

    Fotos n34,35,36: Grupo de danas Edelweiss Alpenb hne, ensaio, Fotos dosautores

    Fotos n37,38,39: Grupo de danas Edelweiss Alpenb hne, apresentao durante afesta de inaugurao da exposio Bertha von Suttner em Juiz de Fora, Fotos dosautores

    Foto n40: Colgio Santa Catarina, Foto dos autores

    Foto n41: Igreja Nossa Senhora da Glria, Foto dos autores

    Foto n42: Pedra sepulcral da famlia Bartels, Fot o dos autores

    Foto n43: Pedra sepulcral da famlia Jung, Foto do s autores

    Foto n44: Pedra sepulcral da famlia Sybertz, Foto dos autores

    Foto n45: Jazigo de Sybille Krambeck Sybertz, Foto dos autores

    Foto n46: Jazigo de Karl Gerhard Sybertz, Foto dos autores

    Foto n47: Pedra sepulcral Auf Wiedersehen, Foto dos autores

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    Entrevistas:

    1) Amlia Debussi Coelho, descendente alem

    2) Vanessa Schfer Kirchmair, descendente alem

    3) Irineu Ferreira Jnior, coordenador do grupo de danas Edelweiss

    4) Clia Maria Rodriguez Scoralick e Dirceu Scoralick, descendentes

    alemes

    5) Brulio Borges, descendente austraco (por escrito)

    Legenda de transcrio42:

    Sublinhado: nfase

    MAISCULAS: Sonoridade

    /

    / Comeo de falas sobrepostas

    . Pausa curta

    (2.0) Pausa medida

    = = Continuaes sem pausas audveis

    [ ] Transcrio incerta

    1) Amlia Debussi Coelho

    Data: 04/06/2008

    Lugar: Bairro Borboleta, Juiz de Fora, MG

    Verena: Boa tarde senhora /Amlia: / boa tarde /

    Verena: / Como voc se chama ?Amlia: Amlia Debussi CoelhoVerena: Quando voc nasceu e conta a ns um pouco sobre a sua famlia?Amlia: Eu nasci em 18 de setembro de 1930Verena: Conta a ns um pouco da sua histria = = a sua famlia.Amlia: A minha famlia?Conrado: Seus avs que eram alemes.Amlia: Minha ave era muito brava n. As minhas avs eram muito bravas. Uma eradescendente de alem e a outra era brasileira n.Verena: Como se chamavam elas?

    42BAUER, M. W. & GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com Texto Imagem e Som Um Manual Prtico.Petrpolis, RJ: 2 ed. Vozes, 2003.

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    Amlia: Minha av chamava Francisca Debussi, me do meu pai. E a me da minhame chamava Eliza [Goering]Verena: E vocs moram onde?Amlia: Ns moramos em Minas, bairro Borboleta. A minha casa 406

    Verena: E voc nasceu aqui tambm?Amlia: Eu nasci aqui, na Borboleta.Verena: Que bom. E voc, a sua famlia vai para a festa alem, todos os anos?Amlia: A gente assiste a festa mas no participa de nada no.Verena: Mas vocs gostam da festa?Amlia: Gostamos, gostamos sim.Verena: O qu que vocs gostam da festa?Amlia: uma festa muito bonita, tem a dana, tem a msica, uma beleza. muitolinda! Quem vem na festa no se arrepende!Verena: Aqui em casa voc ainda tem algumas alems, tipo a linguagem ou comidasque vocs ainda fazem?

    Amlia: No. Assim, comida de vez em quando a gente come a umas coisas quetodo mundo fala ah isso a coisa de alemo, isso coisa de alemo, isso coisade italiano (risos). S isso.Verena: Est bom, muito obrigada.Amlia: De nada.

    2) Vanessa Schfer Kirchmair

    Data: 04/06/2008

    Lugar: Bairro Borboleta, Juiz de Fora, MG

    Verena: Ento. Como voc se chama, quantos anos voc tem e qual a suaprofisso?Vanessa: Me chamo Vanessa Schfer Kirchmair, tenho 21 anos e sou estudante deServio Social na Universidade FederalVerena: Explica a ns um pouco sobre a sua famlia?Vanessa: Bem, os dois lados so de descendncia alem, tanto por parte da minhame que o Schfer quanto do meu pai que o Kirchmair.

    Verena: E voc de qual gerao depois dos colonos?Vanessa: Nossa = = tem a minha = = minha bisav = = minha bisav. Sou bisneta.Bisneta no, sou mais de bisneta.Verena: Quais tradies vocs mantm vivas na sua famlia?Vanessa: Na minha famlia hoje muito preservada a questo do natal, a questoda pscoa tambm mas at mais do natal. No natal a gente faz = = a gente tem ocostume de ir missa, depois a gente vai para casa, faz uma orao, canta algumascanes de natal, igual pinheirinho de alegria e algumas outras. Depois faz aorao, depois a chegada do papai Noel e tudo, distribui os presentes. Geralmenteagora tambm a gente tem feito muito amigo oculto. E na Pscoa tambm a tradiode pintar ovinhos de pscoa = = ovo mesmo, pintar e colocar balinha dentro e

    esconder no jardim, da a criana vai procurando o ovinho ali.Verena: E sobre comidas e contos de crianas?

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    Vanessa: Conto de crianas? Quando eu era pequena contavam muito pra mim aBranca de Neve, o Flautista, que ele tirava os ratos da cidade, do AlfaiatezinhoValente tambm. E a questo da culinria at hoje minha me faz a salada debatatas.

    Verena: Na linguagem voc preservou alguma coisa?Vanessa: No. S minha me que de vez em quando xinga um pouquinho, ela usa oScheidreck.(risos)Verena: Explica-me a idia e o objetivo da festa alem.Vanessa: Bem. A festa alem assim como a associao resgatar a cultura dosnossos antepassados que chegaram aqui h muito tempo em Juiz de Fora e a genteprocura resgatar atravs da dana, atravs da culinria e tudo essa cultura deles.Verena: A festa alem = = tem pessoas que constroem barracas aqui na rua evendem comida. Essas pessoas so do bairro Borboleta. Qual objetivo voc achaque eles tm?

    Vanessa: Acho que tanto seria o de resgatar quanto tambm o econmico porque odinheiro que fica pra eles = = eles pagam uma taxa, um aluguel pra associao prapoder estar utilizando essas barracas e depois o que eles ganham, a renda, odinheiro todo deles. Ento eu acho que a questo econmica mesmo e tambmpela cultura, por estar participando e estar muito tempo = = porque geralmente soas famlias que montam barraca so descendentes de alemes e os prprios filhos etudo participam, danam no grupo. Ento a questo realmente de preservar acultura.Verena: E a festa para quem? para famlias, para brasileiros, turistas, paraalemes? Quais so os grupos de pessoas que mais vm?Vanessa: Todos que vierem sero bem vindos. Mas eu acho que o que mais pegamesmo seria as famlias porque uma festa muito tranqila e tudo, mais pra famliamesmo. No importa a idade, desde criancinha at velhinho pode vir que no temimportncia. E a questo aqui de Juiz de Fora mesmo de estar passando estacultura para o pessoal aqui da cidade.Verena: Essa festa uma festa importante no calendrio turstico da cidade?Vanessa: , ela j foi colocada no calendrio turstico de Juiz de Fora.Verena: Voc acha que a cultura alem que as pessoas do bairro Borboletapreservaram aqui a cultura atual de Alemanha?Vanessa: Ah, eu acredito que no. Acredito que a cultura que aqui preservada da poca mesmo que as pessoas chegaram aqui e foi se preservando essa cultura

    daquela poca. Acredito que hoje a cultura na Alemanha mudou assim como acultura do Brasil mudou tambm. Foi mudando de acordo com o tempo e acreditoque na Alemanha tambm. E essa preservao que a gente tem hoje aqui acreditoque no seja a mesma de l no.Verena: E que significa a cultura alem para voc?Vanessa: Para mim muito importante por eu gostar demais, de eu estar aqui hmuito tempo, pela minha tia ser a fundadora da associao e do grupo e tudo, entoisso j est presente em mim desde pequenininha. Desde pequenininha eu semprequis danar e tudo, tanto que eu tive que esperar um tempo at sete anos prapoder entrar no grupo, porque na poca no tinha categoria menorzinha no. Entoeu sempre participava, eu ia aos ensaios da categoria maior e tudo, sempre queria

    entrar mas quando eu fiz sete anos que eu consegui entrar no grupo, pra mim foiuma felicidade muito grande porque eu esperava isso durante muito tempo. E a

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    cultura pra mim muito importante por resgatar assim o meu passado, a minhahistria.Verena: Voc conhece algumas pessoas de aparncia fsica tambm que aindaparecem alemes?

    Vanessa: Ah sim. No grupo hoje eu acredito que no. Tem muito moreno, cabelopreto e tudo, mas at aqui na Borboleta tem muitas pessoas loirinhas do olho azul etudo.Verena: Ta, muito obrigada.

    3) Irineu Perreira Jnior

    Data: 01/06/2008

    Lugar: Bairro So Pedro, Juiz de Fora, MG

    Verena: Como voc se chama qual a sua funo nesse grupo?Irineu: Bem, eu sou Irineu Ferreira, meu cargo aqui no grupo Edelweiss sercoordenador, eu passo as danas pro pessoal.Verena: Que idade voc tem e que idade os participantes deste grupo tem?Irineu: Eu tenho 21 anos e fao dana alem h 8 anos e o nosso grupo atual variaentre 17 a 28 anos, essa a faixa etria.Verena: Talvez voc possa explicar um pouco sobre o que vocs fazem, onde vocsapresentam as danas e qual o objetivo.Irineu: Bem, ns somos apreciadores da cultura germnica mas o grupo no precisater necessariamente descendentes alemes nos integrantes, mas como somosapreciadores a gente gosta do que faz e a gente apresenta onde a gente temoportunidade: em festas culturais, escolas, igrejas tambm, apesar de que aqui noBrasil muito ruim essa questo da cultura. Mas o que a gente tem feito porprazer mesmo.Verena: Ento vocs no recebem dinheiro para apresentar as danas?Irineu: No. por prazer mesmo. A gente no tem nenhum patrocnio, a gente noganha nada, a nica coisa que a gente recebe muito suor e cansao, mas como agente gosta a gente faz com muito carinho. E o patrocnio realmente difcil, massempre que a gente tenta alguma coisa a gente consegue, nem que seja coisa

    pequena mas umas ajudinhas a gente consegue sim, mas financeiro mensalmente agente no recebe nada.Verena: E onde vocs praticam?Irineu: Aqui no bairro So Pedro, na rua Rua Dimas Bergo Xisto 264, aqui na casade retiros cedida pela Igreja Luterana que cedeu o espao pra gente ensaiar todosos domingos das trs s cinco e meia da tarde.Verena: Quem o presidente ou como se chama a fundao ou associao dessegrupo?Irineu: A fundao se chama Instituto Teuto Brasileiro William Dilly. Ns somosfiliados a este instituto porque todo grupo alemo aqui no Brasil tem que ser filiado auma associao ou instituto e o nosso esse, mas a presidente do grupo se chama

    Regina.Verena: Ento, voc faz dana alem h oito anos. Como voc entrou?

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    Irineu: Eu sempre fui apreciador da cultura. Primos meus danavam no outro grupoem Borboleta e eu sempre gostei muito mas, como esse veio para o So Pedro eumoro aqui no bairro eu optei por esse grupo e eu gosto muito, no me arrependi daescolha que eu fiz. por gosto mesmo.

    Verena: Voc de descendncia alem tambm?Irineu: Sou de descendncia alem sim, mas como meu pai no muito, mas agente se perde, eu herdei o nome do meu pai e no o da minha me. Soudescendente sim.Verena: Como = = onde voc pega as idias e as msicas para danar?Irineu: Bem, todo grupo aqui no Brasil para ser denominado grupo de dana alemele tem que ser filiado associao cultural l na casa de Gramada, que tudo quevem de dana alem vai para essa casa diretamente da Alemanha. Vm pessoas,ensinam as danas e todo mundo tem que ser filiado a essa casa de cultura. Enessa casa de cultura passado os cursos, as danas pra gente, todos osintegrantes de todos os grupos e a gente ou vai e aprende o curso ou a gente

    compra o curso e aprende em casa e passa para os integrantes. atravs dessecurso que a Casa de Gramada passa pra gente.Verena: Quanto a anualidade para essa associao?Irineu: A anualidade para a associao em torno de um salrio mnimo, sendo queno inclui o custo do curso. A gente tem que pagar a anualidade e o que a gentegastar em relao ao curso.Verena: Como vocs conseguem esse dinheiro?Irineu: O nosso grupo tem uma mensalidade simblica para os integrantes que nopreo de cinco reais, preo simblico mesmo que no d pra suprir asnecessidades. Mas a gente eventualmente faz jantares, cafs coloniais que a gentearrecada um dinheiro e consegue manter o grupo em p e em relao a essescustos tambm.Verena: O qu significa as atividades [ ] alems para vocIrineu: Bem. como eu te falei. Eu cresci vendo esses hbitos e eu particularmentetenho oito anos que fao isso porque quando eu entrei eu gostei muito. Crescicomendo po alemo, torta alem na famlia e no grupo, ento eu s faltava danar.Eu vi que tinha jeito e vi que amava aquilo e isso motivador pois eu no recebonada como coordenador para estar aqui. Mas s o fato de estar fazendo o que eugosto j o suficiente.Verena: Entendi. Tem algum turista ou estrangeiros que chegam aqui e assistem asdanas de vocs e as apresentaes ou mais a populao local?

    Irineu: mais a populao local sim, porm a gente conhece, conheceu pessoasestrangeiras que so turistas ou o pessoal do sul mesmo, mas bem minoria. Amaioria da populao que chega para ver a gente do local mesmo.Verena: Muito obrigada.

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    4) Clia Maria Rodrigues Scoralick e Dirceu Scoralick

    Data: 20/06/2008

    Lugar: Inaugurao da exposio Bertha von Suttner, Centro, Juiz de Fora / MG

    Verena: Boa noite. Vocs poderia falar o seu nome e falar um pouco sobre a suafamlia? Vou comear com a senhora.Clia: Eu sou de descendncia alem = = sou de descendncia alem. Minhasfamlias por parte de minha me tanto materno quanto paterno = = posso dizer osobrenome?Verena: Pode.Clia: Por parte da minha me da famlia Stephan e por parte do meu pai Goering. E houve entrosamento e tal, mas a minha av, a av materna tambmtrouxe a descendncia dela que da famlia Landau.

    Verena: A senhora se chama como?Clia: Clia Maria Rodrigues Scoralick pelo meu marido. Eu no trago o sobrenomeda minha famlia nem paterna nem materna, infelizmente. Na poca da guerra nsfomos forados a no usar os nomes de descendncias alems, entendeu? Entofoi assim, no s os sobrenomes como tambm a prpria lngua que era falada porexemplo por minha av, por minha me entre elas, por exemplo, ns no pudemospraticar essa fala alem devido guerra. Inclusive na poca foi assim um movimentomuito grande que a gente no podia mesmo pronunciar nada nada, qualquervocbulo em alemo.Verena: E hoje em dia a senhora ainda usa algumas expresses em alemo?Clia: Algumas, poucas.Verena: Como por exemplo o qu?Clia: Ele mais...Verena: Ento vamos dirigir a pergunta para o seu marido, que poderia seapresentar brevemente e falar quais expresses alems voc ainda usa.Dirceu: Agradecer por exemplo, eu sei agradecer Danke schn!, Alles gut!, Wiegeht es Ihnen? e vamos por a afora. Tem tambm as comidas por exemplo, euadoro, adoro mesmo a sopa de Rivler que ela faz to bem. O Haisben que ojoelho de porco, o chucrute, o chourio branco que o = = agora me falhou, deu umbranco no chourio, entendeu /Clia: / [?]

    Dirceu: / [?] muitoobrigado. E tambm a cruce.Verena: E na famlia do senhor tem uma questo importante, da cerveja. O senhorpoderia falar um pouco mais sobre a Cervejaria Scoralick?Dirceu: Os meus tios avs. Vieram dois tios avs alemes. Um solteiro, morreusolteiro. O outro casou. Eu sou desse ramo do outro. Esses dois irmos chegaramaqui e implantaram no bairro Borboleta, onde eu moro h cinqenta anos com essaminha loira aqui (risos), a primeira Cervejaria, uma das primeiras cervejarias em Juizde Fora. Essa cervejaria = = tem at um fato muito pitoresco, que havia um mdico,descendente tambm de alemo, da famlia Fassheber, que era farmacuticotambm, e antigamente todos os remdios daquela poca, eram manipulados, na

    havia essa = = esse universo de remdios pr-fabricados como tem hoje. Bom, eleento foi reclamar pro Dom Pedro porque depois que os Scoralick comearam a

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    fabricar cerveja no Borboleta e o povo tomando s cerveja, pararam de tomarremdio porque no estavam adoecendo mais. (risos). Isso foi um fato acontecidoaqui, um fato pitoresco acontecido em Juiz de Fora.Verena: E o senhor se casou com uma alem. Qual a importncia que isso teve para

    o senhor?Dirceu: um perfeito entrosamento de ideais, de pensamento, de atitudes, degnios, ns somos um casal, no vamos dizer maravilhoso, mas super-maravilhoso(risos). Ns temos nossas riscazinhas, mas um no sabe viver sem o outro. aminha alma gmea. Eu tenho por ela um amor que eu no escondo de ningum. Poressa loira eu viro at um submarino se for preciso (risos).Verena: Voc poderia repetir o aviso que voc me deu na ltima visita sobre oamor?Dirceu: Ah sim, voc tem boa memria hein menina. Estou vendo que voc vai sermuito feliz (risos). Voc sabe guardar o que bom. O amor o seguinte, isso a mefoi passado em um desses raros momentos positivos da televiso. Televiso tem

    muita coisa que no tem poesia, no tem romantismo, no tem nada. Esse foi de umator, ele falou assim num dilogo para uma pessoa: o amor eterno, e a antesque ela falasse alguma coisa ele completou: Se no for eterno, no amor (risos)Verena: Muito obrigada por essas palavras. Vou dirigir outra pergunta sua esposa.A senhora tem filhos, no ?Clia: Tenho uma filha s.Verena: Vocs se acostumaram em passar tradies alems e receitas para ela?Clia: Sim. Ela j sabe quase que tudo que a gente pode herdar dos pais, dos avs,ela sabe.Verena: Que bom.Clia: / Agora queremos passar para as netas tambm, algumas coisaselas j sabem (risos).Verena: Quantos netos a senhora tem?Clia: Tenho duas. Uma de Vinte e dois e outra de quatorze.Verena: Que bom. E quais outras tradies de alemes a senhora ainda guarda,alm da comida?Clia: As festividades que a gente tem por exemplo, o natal, a gente ainda guardaaquela tradio mesmo do pinheiro. A gente fazia na poca, h anos atrs, a gentefazia com pinheiro natural, mas foi ficando mais difcil de manter essa tradio, entoa gente passou a fazer o artificial mesmo, mas com as tradies que a gente tinhaantes: colocar frutas debaixo, especialmente mas debaixo da rvore, os

    chocolates, na rvore a gente punha at hoje, mas a gente conserva muitas coisasassim em pratos debaixo do mvel da rvore, o perfume da ma. Isso tudo umacoisa que quando era pequena eu me lembro at hoje, voc est entendendo, socoisas que a gente nunca esqueceu, aquilo ficou gravado.Verena: Entendi. Vocs tambm fazem coroas de advento ou ovos de pscoa?Clia: Fazemos ovos de pscoa. A minha irm que a mais velha, a minha av,minha me tambm fazia. Ento minha irm mais velha no deixou de fazer, mesmodepois de minha me falecer h dezenove anos, ela conserva ainda essa tradio:Cozinhar os ovos de galinha coloridos de vrios tons e nuances e tambm estilosdiferentes. Uns so pintados com cera; outros so pintados com ps dourados eprateados; outros so amarrados com, por exemplo, samambaias, essas folhagens

    midas; e depois quando ele cozinha solta.

  • 7/23/2019 A IMIGRAO ALEM EM JUIZ de FORA Origens Histricas e a Cultura Alem Contempornea

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    Verena: Uma ltima pergunta. O que que a tradio alem, a cultura alemsignifica para a senhora?Clia: Eu acho que a coisa mais importante da minha vida porque eu vivo isso comtanto amor, com tanta vivncia mesmo que isso para mim se torna a coisa mais

    importante. Eu sem isso no seria o que eu sou.Verena: Eu vou perguntar para o senhor tambm. O que significa a cultura alem e atradio alem para o senhor?Dirceu: Para mim como eu diria assim = = a primeira roupa que eu vesti naminha vida que eu nunca mais vou esquecer. Entendeu?Clia: / o que a gente herdou e isso importantssimo. Tanto que ns fundamos a entidade, que tem o nome Teuto-brasileiro por causa de a gente querer manter isso vivo.Verena: Muito obrigada.

    5) Brulio Borges (por escrito)

    Data: 22/06/2008

    Lugar: Juiz de Fora, MG

    Verena: Quais tradies alems / austracos ainda esto vivas na tua famlia(comida, contos, ovos de pascoa, palavras alems etc)?Brulio: Infelizmente, muitas tradies germnicas no foram mantidas na minhafamlia. Algumas histrias do meu bisav (filho de austracos) contadas pela minha

    av, dizem a respeito da cultura e dos costumes da famlia. O que foi mantido athoje foi a grande crena religiosa (a minha famlia de austracos catlica).Verena: Que significa a tua origem austraca para voc? Porque voc trabalha noInstituto Teuto-Brasileiro?Brulio: A minha origem austraca motivo de muito orgulho, por se tratar de umpas to bonito e de uma histria de muita coragem dos meus antepassados aodecidirem cruzar o oceano e recomearem suas vidas aqui, num ambiente bemdiferente de onde cresceram. por isso que hoje tento resgatar esta cultura. Desdepequeno estou em contato com a cultura germnica, atravs de grupos culturais, eprincipalmente atravs do aprendizado da lngua alem, o que eu acredito ser opasso fundamental pra me ligar cultura dos meus antepassados. Sinto que cabe a

    mim como descendente de austracos, continuar contando a histria que meusantepassados trouxeram, que uma histria de muito trabalho e inovao, poisquem no descendente dificilmente poder contar isto. O melhor de tudo podertrabalhar no Teuto-Brasileiro, porque l tenho informaes no s sobre minhafamlia (Larcher), mas tambm de muitas outras famlias e com isto tenho acesso adocumentos que possam comprovar a chegada da minha famlia, e o que meusantepassados faziam, sem falar que o Roberto Dilly sabe muito da histria daimigrao. Alm disso, posso encontrar pessoas empenhadas em manter a culturagermnica viva, afinal a imigrao germnica uma parte muito importante para ahistria de Juiz de Fora.Verena: Na tua opinio, a cultura alem que existe em Juiz de Fora autntica eviva ou s um testemunho de antepassados?

  • 7/23/2019 A IMIGRAO ALEM EM JUIZ de FORA Origens Histricas e a Cultura Alem Contempornea

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    Brulio: Infelizmente muito de nossa cultura alem se perdeu, muitas vezes por faltade interesse de quem no faz parte desta histria, mas acredito que ainda muitasfamlias vivam suas tradies germnicas. Outras buscam resgatar uma histria queficou esquecida. Temos um grande exemplo na cidade que a Festa Alem no

    bairro Borboleta, onde ano aps ano, os descendentes de imigrantes contamhistrias, mostram a cultura e criam novas perspectivas para a vida a partir da.Portanto acredito que a cultura alem ainda muito viva e autntica aqui e ointeresse tende a aumentar. A marca de ser um descendente germnico traz paramim a responsabilidade de continuar contando esta histria para a minha e para asprximas geraes sobre a importncia que os austracos e alemes tiveram e tmna histria de Juiz de Fora. bom lembrar que se no fosse pela imigraogermnica, Juiz de Fora no teria muito do que tem hoje, graas ao pioneirismotrazido pelos imigrantes, o que dificilmente se encontraria entre os brasileiros napoca em que os imigrantes vieram. Neste ano comemoram-se os 150 anos deimigrao germnica em Juiz de Fora. S o fato de se comemorar esta imigrao

    com tanta importncia dada pelos descendentes suficiente para dizer que a culturagermnica ainda se faz muito presente entre ns. A cultura germnica seria aindamais autntica se os descendentes interessados na mesma, mantivessem-seatualizados a respeito do que acontece na ustria e tambm na Alemanha hoje,porque seria uma forma especial de se ligarem aos pases dos seus antepassados.