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A implantação da biometria nas eleições brasileiras

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Grande reportagem para trabalho de conclusão do curso de jornalismo. Junho de 2010

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2 | maio, 2010

ElEiçõEs ficam ainda mais modErnas E sEguras Em 2010

Luciana Magarão, Bianca KLüppeL e Mariana rosa

Depois de se tornar referên-cia mundial ao adotar a urna eletrônica, em 1996, o Brasil se prepara para dar mais um

salto tecnológico com a implantação da urna biométrica. o equipamento vai iden-tificar o eleitor pelas impressões digitais, na hora do voto. a promessa é que a urna acabará com qualquer possibilidade de uma pessoa votar no lugar de outra.

os primeiros testes foram feitos nas eleições de 2008, em três cidades. Nas eleições deste ano, o sistema será implan-tado em outros 61 municípios. as duas etapas são importantes porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quer checar to-das as possibilidades de erro.

Segundo o secretário de Tecnologia da informação do TSE, Giuseppe Jani-no, até 2018 a urna biométrica estará em todas as seções dos 5,5 mil municípios

brasileiros. a mudança teve repercussão internacional e o Brasil foi procurado por mais de 50 países interessados na tecno-logia. Já assinou acordos de cooperação técnica, por exemplo, com a argentina, Paraguai, méxico, Equador e República Dominicana.

atualmente, o país é o terceiro do planeta em número de eleitores, atrás apenas da Índia e Estados Unidos. Para atender a esses 130 milhões de pessoas com direito ao voto o TSE precisa de uma estrutura com 2 milhões de mesá-rios em 400 mil seções eleitorais nos 5.560 municípios. Sem contar que a cada eleição esse número aumenta 5% em média.

Janino afirma que o país optou pela identificação biométrica por impressão digital por se tratar de um processo ágil e seguro, muito utilizado inclusive pe-las práticas forenses. a nova urna vai garantir a unicidade do cidadão e a li-sura do processo eleitoral.

� O processoainda de acordo com o secretário,

para criar o novo cadastro dos eleitores brasileiros, com base em dados biométri-cos das impressões digitais o TSE exigiu vários pareceres técnicos dos peritos da Polícia Federal. Todo esse esforço teve como objetivo assegurar a eficiência do sistema de coleta e proteger o voto do ci-dadão nas urnas.

a biometria utiliza características fí-sicas para distinguir pessoas, por traços faciais, íris, retina, voz, grafia e as impres-sões digitais. Segundo o chefe de Divisão do instituto Nacional de identificação (iNi) da Polícia Federal, Lander de mi-randa, dos mais de 6 bilhões de habitantes do planeta ninguém tem impressões digi-tais iguais às de outra pessoa, por isso o modelo é tão seguro.

Para adotar o novo sistema, o país terá que investir ao todo cerca de R$ 485 milhões em equipamentos, em 08 anos. o treinamento de pessoal está incluído

Brasil será o único país do mundo a identificar o cidadão pela digital na hora do voto. Novo sistema é mais confiável e seguro

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no orçamento de cada Tribunal Regional Eleitoral (TRE). De acordo com miran-da os papiloscopistas – especialistas em identificação de impressões digitais – fo-ram os responsáveis pelo treinamento dos funcionários do TSE.

Conhecidos como multiplicadores, esses funcionários repassarão o conheci-mento para os demais envolvidos na cap-tura das digitais dos eleitores no recadas-tramento nos TREs. a coleta adequada é uma parte importante do processo, pois é a partir desse registro que o eleitor des-bloqueará a urna, no dia das eleições.

os dados coletados pelos TREs no recadastramento serão enviados para um banco de dados da Polícia Federal e de-pois de processados serão armazenados no TSE. o título de eleitor permanece o mesmo. o que mudou foi o sistema que os mesários usarão no dia das eleições para habilitar o voto.

� O que muda o novo sistema, de acordo com Jani-

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no, ainda não permite que o eleitor vote em qualquer lugar do país. Esta será uma outra etapa do processo. os regis-tros coletados estarão disponíveis ape-nas nas urnas biométricas das seções eleitorais autorizadas. E quem estiver fora da cidade deve justificar a ausência nos locais habilitados. a urna biométri-ca será bloqueada e desbloqueada pela conferência automática da impressão digital, a cada voto. o mesário irá con-firmar se a pessoa que está votando é a mesma cadastrada pelo número do título e foto armazenada no sistema.

Caso uma digital não seja reconheci-da pelo sistema, a abertura da urna será feita pelo mesário por meio da conferên-cia dos dados biográficos e título de elei-tor. Se ficar comprovado que a digital do eleitor armazenada na hora do voto não é arquivada no banco de dados, será aberto um protocolo de investigação e o eleitor poderá ter o título suspenso. Esse rigor na fiscalização, segundo Janino, ajudará a coibir a fraude do mesário.

� RecadastramentoPara as eleições deste ano o TSE

comprou 2 mil kits com leitor biomé-trico, máquina fotográfica e programa para captura de impressão digital. Um investimento de R$ 23 milhões até ago-ra. Também foi assinado um acordo de cooperação técnica entre o TSE, minis-tério da Justiça e o iNi para utilização do Sistema automatizado de identificação de impressões Digitais (afis). o afis é um software que verifica se os dados coletados são únicos ou se há duplici-dade. Segundo Janino o acordo foi feito porque a compra de um sistema desses apenas para utilização do TSE custaria aos cofres públicos US$ 3 por registro – o que resultaria em um investimento de US$ 500 milhões, no total.

os municípios escolhidos para a pri-meira fase da implantação das urnas bio-métricas são aqueles onde os eleitores teriam que passar pelo processo de reca-dastramento obrigatório. “a revisão é um item previsto na Lei 9.504/97 que con-voca, a cada dois anos, todos os eleitores para fazer um recadastramento sob pena da perda do título eleitoral”, explica Jani-no. Desta maneira o TSE utilizou a lei que tem o poder de convocação do cidadão, para a criação do cadastro biométrico.

giuseppe Janino,secretário de tecnologia da informação do TSE

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Os primeiros testes com as urnas biométricas foram feitas pelo TSE em 2008, nos municípios de São

João Batista (SC), Colorado do oes-te (Ro) e Fátima do Sul (mS). “as cidades foram escolhidas porque têm características climáticas, econômicas e culturais distintas. Esses fatores in-fluenciam na captura das impressões digitais e ajudaram a testar a eficiên-cia do equipamento”, afirma miranda.

além das condições climáticas, segundo o secretário do TSE, as cidades selecionadas para teste de-veriam estar próximas das capitais para reduzir custos e facilitar a lo-gística do processo. o TSE usou a estrutura dos cartórios eleitorais de cada cidade como apoio. Deu certo: naquele ano, cerca de 45 mil pessoas votaram utilizando a tecnologia.

o processo de recadastramento co-meçou um ano antes, em 2007, quan-do o TSE deslocou parte da equipe de informática e multiplicadores para os municípios. “os representantes do tri-bunal abordavam as pessoas dizendo que era uma novidade, que não havia em nenhum lugar do mundo, que aque-la era a primeira cidade do Brasil a uti-lizar o sistema. Dessa maneira o povo ficava curioso e fazia o recadastramen-to”, conta o chefe de cartório de Fátima do Sul (mS), Flávio alexandre martins Nichikuma. “o recadastramento nor-mal é feito em menos de um minuto. Com a inserção da coleta biométrica passou a demorar quase 20. Cada dia representava um novo aprendizado. a gente media a distância para tirar a foto, o enquadramento adequado, o jeito certo de capturar a impressão digital e até como lidar com eleitores com deficiência nos dedos”, recorda Nichikuma.

a diretora pedagógica marta de oli-veira, 40, morava em Prudente (SP) e

no começo, o sistema causou estranhamento

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flávo nichikuma,chefe do cartório de Fátima do Sul-MS, exibe a urna biométrica

há um ano vive em Fátima do Sul. Já se recadastrou e votará pelo novo sistema. “acho muito importante o aperfeiçoamento da tecnologia, mas, por outro lado, as pessoas não sabem bem para que serve”, lamenta.

Em São João Batista (SC), entre março e abril de 2008, cerca de 16 mil eleitores tiveram o título atualizado. Vanderlei antônio Correa, chefe do car-tório eleitoral conta que a cidade tratou o recadastramento como um evento cheio de pompa. “a promessa da biometria ativou a curiosidade das autoridades e da mídia. Era a primeira vez que viam equipamentos como aqueles”, relembra.

a advogada Roseane de Souza Ca-tarina, conta que alguns eleitores ficam trêmulos, na hora do recadastramento, com medo da novidade.

até entre os jovens, a novidade cau-sou estranheza. Lucas israel, 17, é um exemplo. o rapaz ficou sabendo da nova urna quando foi tirar o título. “Ninguém passou na minha escola explicando essa tal de biometria”, brinca ao se referir ao termo.

Em junho de 2008 a cidade ca-tarinense fez uma simulação com a participação de 2 mil eleitores para testar as novas urnas. o resultado foi que cada eleitor gastou 20% a menos do tempo normal para votar.

Nelson Jr.-Asics-TSE

colorado do oeste - ro: Ginásio preparado para o recadastramento

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Para fazer o cadastramento dos eleitores, o TSE adquiriu um conjunto de equipamen-tos batizado de KitBio. Tra-

ta-se de uma ferramenta desenvolvida pela akiyama, empresa de soluções tec-nológicas com sede em Curitiba (PR). o grupo foi contratado, por meio de licitação, para fabricar 2 mil kits para a primeira fase do processo eleitoral. Para o projeto piloto foram distribuídos 57 Kits Biométricos. Foram 23 para Fá-tima do Sul, 16 para São João Batista e 18 para Colorado do oeste.

o kit é composto por uma maleta contendo máquina fotográfica, fonte de

energia, conjunto de flash, mini estú-dio fotográfico com assento e um lei-tor biométrico (scanner de digitais), o Real Scan D, equipamento certificado pelos peritos do FBi (Federal Bureau of investigation), a Polícia Federal americana.

Entre funcionários e terceiriza-dos a akiyama conta com cerca de 300 pessoas para a fabricação do kit. Para o diretor, ismael akiyama, o TSE deu um grande passo na ado-ção da identificação biométrica. “o governo iniciou uma nova etapa da democratização: a cibercidadania”, acredita o diretor.

fBi certificou aparelho usado no recadastramento

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-TSE

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-TSE

KitBiouma revolução nas eleições brasileiras

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Um acordo de colaboração téc-nica entre o Brasil e a Fran-ça estabelecido pela Lei nº 10.201/01, que visava prover

a Polícia Federal de sistemas de infor-mação e de modernas ferramentas de tecnologia da informação é que possibi-litou o grupo Sagem, empresa francesa responsável por soluções de segurança em tecnologia, a trazer o Sistema auto-matizado de identificação de impressões Digitais (afis) há 12 anos para o país. mas só no governo Lula, em 2003 que o software foi ativado no país. No Brasil e américa Latina a Sagem hoje é repre-sentada pela iafis.

outro acordo de cooperação técni-ca entre o TSE e o iNi foi necessário para cercar o sistema de proteções le-gais e tecnológicas. a iafis readaptou

o software inicial às necessidades do Tribunal. Para atender ao órgão era in-dispensável que o software coletasse os dados biográficos e biométricos de cada cidadão. isto é, nome, sobrenome, data de nascimento, coleta de digitais e fotografia em alta resolução. Com es-sas adaptações o sistema vai possibili-tar a construção de um banco de dados com impressões digitais e fotos de qua-se todos os cidadãos brasileiros.

o afis pode trabalhar tanto on line quanto off line. os TREs hoje traba-lham de maneira off line. Passam os dois turnos do expediente fazendo re-cadastramento e no fim do dia, essas informações são passadas por meio de um DVD para a central de informações onde são checadas as possíveis duplici-dades dos dados.

o armazenamento dos dados é feito em DVD seguindo padrões internacio-nais do Nist (National institute of Stan-dards and Technology). “mesmo que alguém consiga abrir o arquivo, a pessoa não tem como ler a informação, pois ela só aparece se for aberto na central do afis. Fora do sistema o arquivo aparece criptografado”, explica o diretor geral da iafis, Fernando Cassina.

Hoje no Brasil o afis tem uma base civil que inclui todas as pessoas que estão tirando passaporte, o banco de dados cri-minal e todos os estrangeiros que moram no País. “o sistema é recomendado para todos os projetos que necessitem checar, por meio da caracterização e conferência das pessoas, os dados biométricos. Para esses projetos o sistema afis é eficaz e funciona”, conclui Cassina.

Banco de dados da Polícia federal dará suporte ao sistema

Base do sistema afis Polícia Federal - DF

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maio, 2010 | 7

Em 1893 entraram em cena as urnas de madeira, que fo-ram substituídas, em 1940, pelas urnas de ferro. Segun-

do o secretário de tecnologia da infor-mação do Tribunal Superior Eleito-ral, Giuseppe Dutra Janino, somente 10 anos depois é que as urnas de lona foram adotadas. “até hoje, em caso de pane das urnas eletrônicas, as ur-nas de lona são utilizadas”, explica.

a evolução para urna eletrônica começou em 1985, quando foi apro-

vada a lei nº 7.444. Porém, só no ano 2000 é que o novo método foi utiliza-do para eleger prefeitos e vereadores. “a tecnologia só atingiu a totalidade do País em 2002, quando o Brasil vo-tou para presidente”, lembra Janino.

Entre os benefícios que a urna ele-trônica agrega, o mais relevante é a agi-lidade na entrega dos resultados. o se-cretário do TSE afirma que nas últimas eleições o resultado total da contagem de votos em todo território brasileiro foi concluído em duas horas e meia.

urnas mudaram ao longo do tempo

urna de madeira e metal (1893)

saco de recolhimento de votos

urna eletrônica (2000)

urna biométrica (2010)

urna de lona (1950)

Assessoria de imprensa do TSE

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Dos 61 municípios espalha-dos por todas as regiões brasileiras, onde o sistema será implantado este ano,

Nuporanga foi escolhido para repre-sentar São Paulo. a cidade tem cerca de 7 mil habitantes, segundo o censo do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (iBGE) de 2007, e está a 400 quilômetro da capital.

o chefe do cartório eleitoral, Ed-mir Francisco Pereira, e seis repre-

sentantes da sede do Tribunal Regio-nal Eleitoral de São Paulo (TRE/SP) passaram por treinamento de uma semana em Brasília. o juiz eleito-ral da cidade criou um agendamento e durante quatro meses os cidadãos puderam consultar, em cinco postos, o horário e o local marcado para o recadastramento. os eleitores foram organizados por ordem alfabética, e o atendimento foi de 14 pessoas em média, por hora.

“Por ser uma coisa nova, era es-perado que tivéssemos algum pro-blema com a internet, mas foi tudo muito tranquilo”, explica Pereira. a funcionária do cartório, Francine Cristina Faria, se orgulha de ter par-ticipado do processo. “É muito bom trabalhar aqui. Como é uma novida-de, as pessoas concordam com tudo e, por exemplo, quando o sistema fa-lhava, não se importavam de voltar outro dia”, conta.

recadastramento obrigatórioM

aria

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Hidrolândia - go : Aldecinda leva sua filha Luciana para tirar o título de eleitor

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Para Pereira, a urna biométrica vai acabar de vez com as denúncias cons-tantes de que votos foram registrados em nome de pessoas mortas. “Não tem chance dessa fraude acontecer. a identificação é certa. o cadastro pas-sa a ser nacional e isso é outra ótima vantagem”, afirma o chefe do cartório de Nuporanga.

Em Hidrolândia, em Goiás, o reca-dastramento de moradores aconteceu no fim de 2009. o chefe de cartório, Fernando Kazuto Sado e o analista ju-

diciário Daniel Kenji Sano foram capa-citados em Goiânia para recadastrar a população. Segundo Sado, mesmo com pouco tempo para o recadastramento, foi tudo muito tranqüilo. “Só nos últi-mos dias ficou mais tumultuado. o que é normal”, afirma o chefe de cartório de Hidrolândia. No município, durante o recadastramento, 25% dos títulos fo-ram cancelados, um índice considerado baixo pelo TRE.

incentivada pela mãe, Luciana da Paz de Jesus, 16, requereu o título e o

primeiro voto dela vai ser na nova urna. “Essa experiência é ótima. Estou mor-rendo de ansiedade para votar pela pri-meira vez. Quero ficar treinada logo”, comemora Luciana. a mãe e a moça passaram uma hora e meia no ônibus e andaram mais meia hora para chegar ao cartório eleitoral. “moramos no mu-nicípio de Garavelo Sul, mas não me importo com a distância porque ela tem que votar. É importante. Trouxe meus outros filhos e agora é a vez dela”, se orgulha adelcina da Paz de Jesus.

Eleições em números

Para a fase inicial foram compradas 250 mil urnas

Até 2018 a substituição total, será de 500 mil urnas

Investimento total é de cerca de

R$ 312,5 milhões

Para a fase inicial das eleições, foram

comprados 2 mil KitsBioPara 2018, a previsão é a compra de mais 13

mil Kits totalizando 15 mil

Investimento de cerca de

R$ 172,5 milhões

Existem 190 milhões de brasileiros 130 milhões são eleitores aptos 2 milhões de brasileiros trabalham nas eleições

Existem 5.560 municípios nos 8,5 milhões de km² do país

As urnas biométricas foram testadas em 3 municípios no projeto piloto

Para a primeira fase, 61 municípios foram selecionados

Ao todo são 27 Tribunais Regionais Eleitorais (TREs)

o Brasil tem 3 mil cartórios e 400 mil seções eleitorais

100% das seções eleitorais são informatizadas

Existem 27 partidos concorrendo nas eleições deste ano

Em uma eleição municipal são em média 500 mil candidatos

A divulgação do resultado demora em média entre

2 e 3 horas

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a equipe do cartório de nuporanga-sP:da esquerda para à direi-ta Francine Cristina Faria, Edmir Francisco Pereira e Lucas Tadeu de Melo

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-TSE

sistema de recadastramento do TsE

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É numa construção modesta, onde funcionava o depósito de uma empresa de refrige-rantes que são fabricadas

as urnas eleitorais mais modernas do mundo. a Diebold Procomp empresa do ramo de tecnologia da informação, instalada no Brasil há 25 anos, presta serviço para o TSE desde 1998. ao todo 400 pessoas trabalham no local, em dois turnos. o inspetor da fábrica, marcelo Costa de oliveira, acredita que a presença da Diebold no Brasil é muito importante para a consolidação do novo sistema de votação.

Há um grande contraste entre o apor-te tecnológico da fábrica e a simplicida-de de um município do interior de mi-nas Gerais. Santa Rita do Sapucaí fica na região Sul, divisa com São Paulo, e tem pouco mais de 36 mil habitantes, de acordo com o censo de 2007 do iBGE.

a cidade é considerada um dos pólos industriais do estado. mais de 200 fábricas compõem a associação industrial e o Sindicato das indústrias de aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale Eletrônico (Sindvel). Em Santa Rita do Sapucaí funciona o instituto Nacional de Telecomuni-cações (inatel). Fundado em 1965, é pioneiro no ensino e na pesquisa espe-cializada em engenharia elétrica e de

um segredo guardado a sete chaves

U.D

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-TSE

telecomunicações no Brasil. ainda assim, nessa cidade anda-se de carro-ça, as ruas são de paralelepípedo e os táxis não têm taxímetro.

o acesso à fábrica é controlado por um rigoroso sistema de seguran-ça. a finalidade é evitar o vazamento de informações sigilosas. “É muito complicado para nóa deixarmos al-guém entrar sem a autorização do

TSE”, diz o diretor da Diebold Pro-comp, Lucas Costa. Representantes do TSE acompanham de perto todo o processo de confecção das urnas e o acesso à fábrica. as urnas são super-visionadas pelos agentes de Brasília, antes mesmo de ficarem prontas. o passo seguinte, antes de serem apro-vadas, é deixar o equipamento “vo-tando” por oito horas seguidas.

urna Biométrica

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o quE é a impressão

digitalA

impressão digital, ou datilograma, é uma característica única de cada pes-

soa. “É o desenho que representa a combinação das cristas papilares, as

elevações da pele, e os sulcos inter-papilares, a região entre as cristas papilares, que podem ser encon-tradas nas palmas das mãos”, explica o papiloscopista da Po-

lícia Federal, Alexandre Donicci. Essa particularidade física, para ser usada como característica biométrica, precisa atender a princípios como o da perenidade, variabilidade e classificabilidade.

A perenidade está relacionada com o tempo em que a pessoa car-

rega o traço biológico sem que este seja modificado até o fim da vida. A

variabilidade é associada ao fato de que cada pessoa tem uma característica

diferente da outra. E a classificabilida-de é aquela que permite a classificação de

modo único de cada individuo. Um dos primeiros pesquisadores a estudar a impressão digital foi o ita-

liano Marcello Malpighi (1628-1694). Porém, foi apenas em 1892 que o antropólogo in-

glês Francis Galton publicou a primeira classificação dos tipos de impressão digital conhecidos também como “detalhes de Galton” muitos utilizados até hoje. Galton provou por meio de pesquisas que as impressões digi-tais não mudam durante a vida de um indivíduo e ne-nhuma digital é exatamente igual à outra.

No Brasil, a impressão digital começou a ser utiliza-da em 1903, trazida na época pelo diretor do Gabinete de Identificação e Estatística do Distrito Federal,Felix Pacheco, para a “identificação dos delinquentes”. Mas só quem obteve o registro após 1912 teve a identidade emitida pelo Instituto Félix Pacheco (IFP). N

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cadastramento biométricoFátima do Sul - MS

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1824Pela Constituição só podem votar ho-mens maiores de 25 anos (21 anos, se casados ou oficiais militares, indepen-dente da idade se clérigo ou bacharel). Mulheres e escravos não votam.

1875Criado o primeiro título de eleitor.

1881As eleições para a Câmara de Deputa-dos, Senado e Assembleias passa a ser de maneira direta. Criação da Lei Sarai-va, para instituir o Título de Eleitor.

1889Fim da comprovação de renda para ser eleitor. Redução para 21 anos para vo-tar. Exigência de se saber ler e escrever para ter o direito de votar.

1932O código eleitoral concede o direito de voto às mulheres. Criação da Justiça Eleitoral.

1934Redução da idade mínima para ser elei-tor, 18 anos.

cronologia da história das ElEiçõEs no Brasil

1937 a 1945Suspensão das eleições, por causa do Golpe de Estado.

1945Mais de 10% da população foram as urnas. Eleições multipartidárias para presidente.

1955Cédulas oficiais são utilizadas pela pri-meira vez nas eleições para presidên-cia.

1965Suspensão das eleições para presiden-te e fechamento de antigos partidos.

1966Suspensão das eleições para governa-dor e prefeito da capital.

1980Fundação de novos partidos.

1985Concessão do direito de voto aos anal-fabetos. Registro de novos partidos, en-tre eles os comunistas.

1988Voto facultativo para jovens de 16 e 17 anos.

1989Volta das eleições diretas para presi-dente. Primeira eleição para o Executivo que usa a regra dos dois turnos.

1996A urna eletrônica é usada em 57 municípios.

2000Primeira eleição em que todos os eleito-res votam na urna eletrônica para vere-adores e prefeitos.

2008Começam os testes com as urnas bio-métricas.

201064 municípios brasileiros começam a votar pela urna biométrica.

* Jairo Nicolau - História do Voto no Brasil

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É preciso acabar com as fraudes nas eleições

Entrevista amÍLCaR BRUNazo FiLHoLuciana Magarão,

Bianca KLüppeL e Mariana rosa

Formado em Enge-nharia pela Escola Politécnica da USP e pesquisador do

Laboratório de Sub-sistemas integráveis (LSi), onde es-tudou Criptografia e inte-ligência artificial, amílcar Brunazo Filho, 60, hoje é técnico em perícias em urnas eletrônicas e acompanha o de-senvolvimento dos sistemas eleitorais do TSE desde 2004. Corintiano, Brunazo conta que o nome que recebeu do pai foi uma homenagem a um jogador do timão. Em 1989, recebeu menção Honrosa no iV Prêmio Nacional de infor-mática com o trabalho: “Har-dware Criptográfico, uma Solução Nacional”. Brunazo também faz parte do Comitê multidisciplinar independen-te sobre o Sistema Brasileiro de Votação Eletrônica. No dia 12 abril de 2010 entregou ao ministro Carlos ayres Brito, o então presidente do TSE, o re-latório produzido pelo comitê que, segundo Brunazo, é uma réplica ao conteúdo do estudo produzido pelo Comite multi-disciplinar do TSE (CmTSE) coordenado pelo secretário de tecnologia da informação do TSE, Giuseppe Dutra Janino, para defender a segurança das urnas eletrônicas brasileiras.

Sou a favor. Porém, ela não resolve todos os

problemas de fraudes existentes

no processo eleitoral brasileiro

Tony Winston

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Entrevista amÍLCaR FiLHo

qual o objetivo do relatório apresenta-do pelo comitê multidisciplinar inde-pendente à comissão de constituição, Justiça e cidadania (ccJc) da câmara dos deputados? o relatório tem como principal objetivo mostrar as incon-sistências e problemas do Relatório do CmTSE, além de enfatizar o que precisa ser aperfeiçoado no sistema eletrônico de votação brasileiro, de modo a garantir a integridade e o bom funcionamento do software que con-trola a urna eletrônica brasileira, em consonância com as propostas apre-sentadas pela Subcomissão Especial de Segurança do Voto Eletrônico da CCJC. o novo relatório pretende ainda reforçar e ampliar as justifica-tivas às propostas encaminhadas pela CCJC ao TSE, no que possam ter sido mal interpretadas, distorcidas ou des-consideradas no Relatório CmTSE.

que tipo de fraude ainda acontece no Brasil? Hoje consideramos que exis-tem cinco tipos comuns de fraude. o voto de cabresto, fraude do mesário, eleitor desonesto (aquele que vota pelo filho, tio, etc.), compra de votos, e ainda há a fraude do software deso-nesto – aquele que sofre adulteração para desvio de votos.

como seria possível acabar com as frau-des no processo eleitoral brasileiro? o voto impresso é uma maneira de se tentar defender a urna contra um tipo

de fraude muito específica e muito pe-rigosa que é a adulteração de softwa-re. Então imaginamos que se o eleitor votar na urna eletrônica ou biométri-ca, e após todo o processo essa urna emitisse um papel com a escolha feita por aquele eleitor que, depois de con-ferir, depositaria essa cédula em uma urna de lona, esse modelo facilitaria a conferência, por pessoas de confiança

do candidato, no momento de dúvida. Dessa maneira, a fraude diminuiria porque daria muito trabalho fraudar os dois meios.

E a fraude do mesário, como pode ser combatida? a fraude do mesário só é inibida por fiscalização, não exis-te biometria, não existe assinatura digital nem tecnologia que resolva isso, da mesma maneira que a com-pra de voto.

quais são os benefícios que a urna bio-métrica vai trazer para as eleições? a urna biométrica vai acabar com a frau-de do eleitor desonesto, pois impede que um eleitor vote no lugar de outro, por causa da identificação digital. a biometria facilita a fraude do voto de cabresto, mas isso é de fácil resolução, basta que façam máquinas indepen-dentes para a identificação e votação, pois assim nem com um programa adulterado é possível que uma pessoa descubra em quem o outro votou.

Você é contra ou a favor da da urna Bio-métrica? Sou a favor. Porém, ela não resolve todos os problemas de fraude existentes no processo eleitoral bra-sileiro e custa caro ao país. inclusive escrevi o 5 º parágrafo do artigo 5 da Lei 12.034, onde afirmo que o iden-tificador biométrico para funcionar deve estar desacoplado da urna, o que o TSE não respeitou de acordo com as informações que tive.

A urna

biométrica vai

acabar com a

fraude do eleitor

desonesto, pois

impede que um

eleitor vote no lugar

de outro, por causa

da identificação

digital.

IESB

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� 0621022002 - Luciana Magarão Duarte

� 0621022047 - Bianca Oliveira Klüppel

� 0621022034 - Mariana Rosa de Lima

Trabalho de conclusão de curso

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