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Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis A Implantação de Sistema ERP: um estudo de caso em indústria de Autopeças Gladis Borelli São Paulo 2013

A Implantação de Sistema ERP: um estudo de caso em ... · PDF file4.3.2. Resumo da Categoria: Aspectos Conceituais de Custos relacionados à implantação

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

A Implantação de Sistema ERP: um estudo de caso em

indústria de Autopeças

Gladis Borelli

São Paulo

2013

Gladis Borelli

A Implantação de Sistema ERP: um estudo de caso em

indústria de Autopeças

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências Contábeis

da Universidade Presbiteriana

Mackenzie para a obtenção do título de

Mestre em Controladoria Empresarial.

Orientador: Profa. Dra. Ana Maria R. Valentini C. Cesar

São Paulo

2013

B731i Borelli, Gladis

A implantação de sistema ERP: um estudo de caso em

indústria de autopeças / Gladis Borelli - 2014.

132f.: 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis) –

Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.

Orientação: Profª. Drª. Ana Maria R. Valentini C. Cesar

Bibliografia: f. 124-128

1. Sistemas de ERP. 2. Estratégia de negócios. 3.

Cultura comportamental. 4. Organizacional. 5. Aspectos

técnicos. I. Título.

CDD 658.4038011

Gladis Borelli

A Implantação de Sistema ERP: um estudo de caso em indústria de

Autopeças

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências Contábeis

da Universidade Presbiteriana

Mackenzie para a obtenção do título de

Mestre em Controladoria Empresarial.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Profa. Dra. Ana Maria R. Valentini C. Cesar- Orientador

Universidade Presbiteriana Mackenzie

____________________________________________________

Prof. Dr. Gilberto Perez - Examinador Interno

Universidade Presbiteriana Mackenzie

__________________________________________________

Profa. Dra Luciane Reginato - Examinador Externo

Universidade de São Paulo

Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Decano de Pesquisa e Pós-Graduação

Prof. Dr. Moisés Ari Zilber

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Prof. Dr. Sérgio Lex

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Profa. Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

Amará ao Senhor teu Deus de todo o

teu coração, e de toda a tua alma, e de todo

o teu entendimento e, amarás ao teu

próximo como a ti mesmo.

Allan Kardec

Aos meus pais que me deram a

maior herança: o estudo, a sabedoria e a

dignidade!

Agradecimentos

Agradeço a Deus, por existir, por me iluminar em todos os dias de minha vida, me

carregando no colo nos momentos de desafios.

Aos meus pais, Pedro e Lourdes, pelo apoio, amor, carinho e palavras de conforto: você

vai conseguir!

Às minhas irmãs Glésley e Dougliane, que apesar de tudo, sempre me apoiaram e me

compreenderam.

À minha querida cachorra de estimação, Tika, por ter sido companheira de todas as

horas, dormindo em meio aos livros e materiais de estudo, fiel companheira.

À minha amiga Luciana Orozco - Lu, por estar sempre ao meu lado nas horas mais

difíceis, dividir madrugadas da vida acadêmica e me incentivar rumo ao objetivo final.

A todos os meus amigos que compreenderam a ausência temporária pela fase de

dedicação que se fez necessária.

A minha orientadora, Profa. Ana Maria R. Valentini C. Cesar, por apoiar e auxiliar na

elaboração deste trabalho, nos momentos mais difíceis de mudanças profissionais e,

consequentemente, nos objetivos da dissertação.

Aos Professores Dr. Joshua OnomeImoniana e Dra. Luciane Reginato pelas sugestões,

orientações e indicações de bibliografia.

Ao Professor Dr. Gilberto Perez, que gentilmente colaborou com sugestões e

orientações ao tema.

Aos colegas e professores do curso de Mestrado em Controladoria Empresarial –

Mackenzie, pelas horas que passamos juntos em sala de aula e toda a experiência

compartilhada.

À instituição da qual sou colaboradora, por me proporcionar esta oportunidade e apoiar

a elaboração desta dissertação.

A todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste trabalho.

Lista de Quadros

Quadro 1 - Estudos Pesquisados

22

Quadro 2 - Análise Estratégica

26

Quadro 3 - Sistema de Custos

30

Quadro 4 - Sistema de Custo Padrão adotado pela empresa Beta

31

Quadro 5 - Fatores de Sucesso e Insucesso na Implantação de ERP

36

Quadro 6 - Práticas de trabalho e níveis de análise da cultura

42

Quadro 7 - Sumário de Mudanças

46

Quadro 8 - Sumário dos Aspectos Comportamentais

47

Quadro 9 - Fases da Metodologia Estudo de Caso

50

Quadro 10 - Caracterização dos Entrevistados

51

Quadro 11 - Questões x Roteiro de Entrevista

55

Quadro 11 - Questões x Roteiro de Entrevista

67

Quadro 11 - Questões x Roteiro de Entrevista

81

Quadro 11 - Questões x Roteiro de Entrevista

88

Quadro 11 - Questões x Roteiro de Entrevista

94

Quadro 11 - Questões x Roteiro de Entrevista

102

Quadro 11 - Questões x Roteiro de Entrevista

111

Quadro 12 - Diretrizes-Etapas para a Metodologia de Implantação

120

Sumário

1. Introdução ............................................................................................................... 13

1.1. Contextualização do Tema (Situação Problema) ....................................................... 14

1.2. Questão de Pesquisa ................................................................................................... 16

1.3. Objetivo Geral ............................................................................................................ 16

1.4. Objetivos Específicos ................................................................................................ 17

1.5. Justificativas e Contribuições .................................................................................... 18

2. Referencial Teórico ................................................................................................ 20

2.1. Estratégia Organizacional .......................................................................................... 23

2.2. Sistema de Custo e suas Especificidades ................................................................... 26

2.3. Implantação de sistemas ERP .................................................................................... 31

2.4. Aspectos comportamentais relacionados à implantação de sistemas ........................ 36

2.4.1. O conceito de cultura organizacional ................................................................. 37

2.4.2. Cultura organizacional e implantação de sistemas ERP ..................................... 40

2.4.3. Gestão de Mudanças ........................................................................................... 42

2.4.4. Aspectos Comportamentais ................................................................................ 46

3. Procedimentos Metodológicos ............................................................................... 48

3.1. Tipo de Pesquisa ........................................................................................................ 48

3.2. Método de Pesquisa ................................................................................................... 48

3.3. População e Amostra ................................................................................................. 51

3.4. Procedimentos de Coleta de Dados ........................................................................... 52

3.5. Procedimentos de Tratamento dos Dados .................................................................. 54

3.6. Aspectos Éticos .......................................................................................................... 54

4. Apresentação e Discussão dos Resultados ............................................................. 55

4.1. Caracterização da Empresa Beta ................................................................................ 56

4.1.1. O fundador da empresa ....................................................................................... 56

4.1.2. A empresa no mercado atual (2013) ................................................................... 57

4.1.3. A planta objeto do presente estudo de caso ........................................................ 59

4.2. Aspectos estratégicos relacionados à implantação .................................................... 60

4.2.1. Categoria 1: Aspectos que determinaram a implantação do sistema na

Planta da Argentina .......................................................................................................... 61

4.2.2. Categoria 2: Em relação ao mercado, a implantação do sistema de custos

pode ser considerada uma estratégia de competitividade ................................................. 63

4.2.3. Categoria 6: As informações estratégicas de custos ficaram melhores ou

piores após a implantação do módulo de custos ............................................................... 65

4.2.4. Resumo da Categoria: Aspectos Estratégicos Relacionados a Implantação ...... 67

4.3. Aspectos Conceituais de Custos relacionados à implantação .................................... 68

4.3.1. Categoria 5: Em termos conceituais, qual motivo levou a empresa a optar

pelo modelo de custo padrão no módulo de custos na implantação do sistema. .............. 68

4.3.2. Resumo da Categoria: Aspectos Conceituais de Custos relacionados à

implantação ....................................................................................................................... 70

4.4. Aspectos de Implantação de Sistema ERP................................................................. 70

4.4.1. Categoria 3: Após a implantação, quais os fatores críticos que poderiam

ser considerados de sucesso. ............................................................................................. 71

4.4.2. Categoria 4: Após a implantação, quais os fatores críticos que poderiam

ser considerados de fracasso. ............................................................................................ 75

4.4.3. Categoria 10: Tecnicamente quais os fatores tiveram influência para o

sucesso ou insucesso na implantação do sistema. ............................................................ 82

4.4.4. Resumo da Categoria: Aspectos de Implantação de Sistema ERP ..................... 87

4.5. Aspectos Comportamentais Relacionados à Implementação de Sistema ERP .......... 89

4.5.1. Categoria 7: Houve influência de aspectos culturais sobre a implantação

do sistema ERP ................................................................................................................. 89

4.5.2. Categoria 8: Com experiência de implantações em outros lugares,

aspectos regionais podem ser destacados nesta implantação de sistema como

fatores de sucesso ou insucesso. ....................................................................................... 92

4.5.3. Categoria 9: Como os aspectos comportamentais dos envolvidos

influenciaram na implantação, tanto para o sucesso quanto para o insucesso deste

projeto. 95

4.5.4. Resumo da Categoria: Aspectos Comportamentais Relacionados a

Implantação do Sistema ERP ......................................................................................... 101

4.6. Considerações Adicionais dos Entrevistados a Pesquisa ......................................... 103

4.6.1. Categoria 11: A experiência da planta Pacheco como modelo para outras

implantações de sistema ................................................................................................. 103

4.6.2. Categoria 12: Com relação a pesquisa, teria alguma informação adicional

a ser mencionada ............................................................................................................ 108

4.7. Considerações gerais acerca das categorias analisadas ........................................... 112

6. Diretrizes para Implantação do Sistema ERP em outras Plantas.......................... 114

7. Considerações Finais ............................................................................................ 121

Referências ................................................................................................................... 124

Apêndices ..................................................................................................................... 129

Anexo A – Termos de Esclarecimento ............................................................................... 129

A1 – Termo de Esclarecimento ...................................................................................... 130

A2 – Consentimento Informado ..................................................................................... 131

A3 – Informed Consent .................................................................................................. 132

Resumo

A competitividade das empresas se acirra dia-a-dia e aspectos relacionados a novas

tecnologias, sistemas de informação, processos e modelos de gestão se alteram em

intervalos de tempo cada vez menores, demandando um constante reposicionamento das

empresas em relação a novas competências e posturas. A implantação de sistemas do

tipo ERP (Enterprise Resource Planning) visa aumentar a competitividade pela

possibilidade de integração de dados, facilitando a tomada de decisão. Este estudo foca

a implantação de sistemas dessa natureza e tem como objetivo geral: analisar os fatores

críticos de sucesso na implantação do sistema de custos na Indústria Beta de autopeças,

considerando-se variáveis comportamentais e técnicas relacionadas à implantação.

Adotou-se como procedimento metodológico o método do estudo de caso, em que se

utilizaram a análise de documentos e as entrevistas para coleta de dados. Foram dez

entrevistados representantes dos níveis estratégico, tático e operacional que estavam

envolvidos com a implantação do sistema ERP – módulo de custos em uma fábrica da

empresa Beta na Argentina. Os resultados indicam que o posicionamento estratégico em

busca de competitividade foi determinante para a implantação do sistema. Todavia, a

implantação foi considerada um insucesso pela alta direção da empresa por diversos

fatores, destacando-se: não havia uma equipe tecnicamente apropriada para a

implantação, considerando-se tanto os funcionários da empresa quanto os da consultoria

que estava suportando a implantação, havia problemas de natureza cultural, tendo em

vista a não adaptação das ações de implantação aos aspectos locais. Embora o estudo

apresente restrições por ser um estudo de caso único, traz como contribuição prática o

desenvolvimento de um plano de ação para a implantação do sistema em outras bases da

empresa, evitando-se, assim, os fatores de insucesso apontados na implantação

analisada. Para estudos futuros, sugere-se o acompanhamento dessas novas

implantações a serem feitas com base no plano de ação ora proposto, em busca de seu

aprimoramento.

Abstract

Business competitiveness intensifies day by day and aspects related to new

technologies, information systems , processes and business models change at intervals

ever smaller , requiring frequent repositioning of companies in relation to new skills and

attitudes . The implementation of ERP systems will aim to increase competitiveness by

the possibility of data integration , facilitating decision making . This study focuses on

the implementation of such systems and has the general objective is to analyze the

critical success factors in the implementation of the system cost in the industry Beta

auto parts , considering behavioral variables and related deployment techniques . It was

adopted as a methodological procedure the method of case study , having used

document analysis and interviews for data collection . Module costs in a company plant

in Argentina Beta - representatives of strategic, tactical and operational levels who were

involved with the implementation of the ERP system were interviewed . Results

indicate that strategic positioning in search of competitiveness was crucial to the

implementation of system. However, the deployment was considered a failure by top

management of the company by several factors , namely: there was a technically

appropriate team for deployment, considering both the company and employees of the

consulting firm that was supporting the deployment , had problems of cultural nature

with a view to not adapting deployment actions to local aspects . Although the present

study restrictions for being a single case study , brings practical contribution to the

development of an action plan for the implementation of the system in other

cornerstones of the company , thereby avoiding the failure factors pointed in the

deployment analyzed . For future studies it is suggested to follow these new

deployments to be made based on the plan of action proposed here , seeking

enhancement of the same .

Keywords: ERP's systems, business strategy, behavioral, organizational culture,

technical aspects.

1. Introdução

A competitividade das empresas se acirra dia a dia e aspectos relacionados a

novas tecnologias, sistemas de informação, processos e modelos de gestão se alteram

em intervalos de tempo cada vez menores, demandando constante reposicionamento das

empresas em relação a novas competências e posturas.

O ramo de autopeças se encontra na posição intermediária entre fornecedores e

montadoras e demonstra ser cada vez mais pressionado pelos dois lados: os

fornecedores, que repassam todos os aumentos, e as montadoras, que não aceitam o

pagamento destes e, mais ainda, cobram eficiência e impõem planos de redução de

preços.

Além disso, as empresas do ramo ainda se deparam com a concorrência dos

mercados internacionais, abertos, o que pode ser muito ameaçador. Embora existam o

custo de importação e o tempo de espera nos portos deficitários do país, aumentando o

custo, existem outros fatores influenciando o negócio. Essas variáveis, por vezes,

tornam mais barato importar do que fabricar dentro do próprio país. Uma delas é a carga

tributária que se aplica à mão de obra no Brasil, o que encarece demais os produtos

nacionais.

Em face dessa situação, é necessário que as indústrias de autopeças tenham

estratégias de negócios bem solidificadas, mas, ao mesmo tempo, suficientemente

maleáveis a ponto de serem alteradas de acordo com a necessidade do negócio. Para

Govindarajan (2006, p.332), a competitividade se associa, portanto, à agilidade na

tomada de decisão, aos sistemas de informação, à estrutura da empresa e, não menos

importante, à capacidade das pessoas para fazerem frente aos níveis de produtividade e

qualidade exigidas em cenários de alta competição.

Agilidade de decisão em ambientes cada vez mais complexos exige a integração

do processamento das informações. Dessa forma, os Sistemas Integrados de Gestão

(conhecidos como ERP — Enterprise Resources Planning) foram desenvolvidos para

propiciar tal integração, reunindo em um único banco de dados todas as informações

oriundas de diversas áreas da empresa, o que lhe confere um caráter estratégico.

14

Todavia, embora possam ser genericamente nomeados, sistemas dessa natureza

precisam se adequar às necessidades de cada negócio. A escolha de um sistema

depende, portanto, de critérios específicos que atendam às demandas de cada área. Além

disso, sua eficácia depende do treinamento dos usuários para sua utilização, o que pode

não ser uma tarefa fácil (CARVALHO, 2009).

Pessoas não agem como máquinas nem como insumos da produção. Por mais

que se especifiquem as exigências dos cargos e se busquem pessoas que tenham as

qualificações adequadas, não se tem certeza de que essas pessoas operarão máquinas e

equipamentos como previsto, nem que participarão de processos ou usarão os sistemas

conforme o esperado; também não se garante que tomarão decisões eficazes. Aspectos

comportamentais precisam ser considerados, especialmente quando se introduz na

organização algum tipo de mudança que demande treinamento de novas capacidades,

exija novos posicionamentos ou altere a estrutura de poder vigente. Implantar novos

sistemas de informação é uma dessas situações nas quais o conhecimento técnico que as

pessoas têm acerca do sistema não garante a eficácia da sua implantação.

1.1. Contextualização do Tema (Situação Problema)

O complexo automotivo ainda é, de acordo com o Sindicato Nacional da

Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças), em todo o mundo,

uma importante fonte de desenvolvimento e progresso tecnológico, composto por

fabricantes dos mais variados produtos —desde automóveis, caminhões, ônibus até

chassis de ônibus, máquinas agrícolas automotrizes e autopeças. No Brasil, essa

indústria automotiva assumiu um papel estratégico no processo de industrialização do

país e constitui, desde então, uma das principais atividades econômicas brasileiras.

A indústria de autopeças instalada aqui passou por acentuada reestruturação

patrimonial, a partir da segunda metade dos anos 1990, articulando-se ao processo de

modernização e integração mundial da indústria automobilística. O Sindipeças aponta

que em 1994, 48% das empresas de autopeças eram estrangeiras, participação que

atingiu 73% em 2010. Essa internacionalização e a intensa modernização transformaram

radicalmente a inserção dessa indústria no cenário mundial: o Brasil passou de

importador de peças a exportador. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria

15

e Comércio Exterior (MDIC), o setor nacional de autopeças exportou, em 2010, pouco

mais de US$ 5 bilhões, tendo o Estado de São Paulo respondido por cerca de 65% desse

montante (INVESTE SÃO PAULO, 2013).

O setor de autopeças é liderado por quatro importantes potências: China, Japão,

Estados Unidos e Alemanha. Estudos demonstram que o México estará na posição de

quarto lugar até 2018, devido ao intenso investimento automotivo no país. Apesar do

cenário positivo nas ultimas décadas, segundo Paulo Butori, atual presidente do

Sindipeças, essa situação é preocupante para as indústrias instaladas no País, que

aumentaram sua compra de peças mexicanas em 87%. Ele complementa que o Brasil

sofre desvantagem devido ao câmbio e aos investimentos instalados com o apoio dos

fabricantes dos Estados Unidos (O Mundo em Movimento, 2013). Ainda cabe mencionar

que, nos últimos 12 meses, até agosto, o desempenho manteve-se praticamente estável,

com leve crescimento de 0,03%.

Paulo Butori ainda comenta que a falta de competitividade no setor é justificada

pelos preços mais altos praticados no Brasil. O executivo conta que as fabricantes de

componentes têm de repassar os altos custos de produção (desde infraestrutura,

tributação, matéria-prima, a mão de obra) para os produtos. Como consequência, as

montadoras recorrem aos importados, que além de mais baratos têm mais tecnologia

agregada, principalmente os chineses. De acordo com Butori, as fabricantes de

componentes automotivos apresentam ociosidade grande, aproveitando apenas cerca de

60% da capacidade instalada, com a rentabilidade prejudicada, diminuem os

investimentos em pesquisa e desenvolvimento. (AUTOMOTIVE BUSINESS, 2013).

A empresa canadense, foco do estudo, investiu no Brasil e na Argentina

comprando fábricas como um passo na estratégia de consolidar a unidade de negócios

na liderança do mercado global de bancos e sistemas de assento para a indústria

automotiva, pois entende que América do Sul tem papel relevante dentro dessa

estratégia. Um dos fatores que chamaram a atenção dos canadenses para a América do

Sul é o potencial de crescimento do mercado automobilístico nos próximos anos,

notadamente o brasileiro. Entre 2014 e 2015, o país deverá alcançar a marca de 5

milhões de carros produzidos por ano, volume que exigirá investimentos adicionais no

parque nacional de autopeças. Ao olhar para os próximos anos, espera-se um

crescimento consistente no mercado brasileiro, sem riscos à operação.

16

Diante do cenário no qual as empresas de autopeças atuam, este estudo busca

ampliar a discussão acerca da metodologia para implantação de sistemas ERP-

“Enterprise Resources Planning”. O foco é analisar o processo de implantação do

sistema ERP de custos em uma empresa de autopeças, apesar de essa mesma empresa

ter implantado outros módulos, o que não será foco neste estudo.

A empresa identificou a demanda pela implantação de um novo sistema de

custos que pudesse atender às necessidades internas para tomada de decisão relacionada

a compras, precificação, planejamento industrial etc. O sistema foi implementado e está

em fase de melhorias e adaptações em todos os módulos da empresa, inclusive o de CO

(Custos).

De acordo com Anthony e Govindarajan (2008, p.51), a estratégia que uma

empresa escolhe para atuar faz parte do ambiente que influencia a concepção do sistema

de controle gerencial. Ou seja, os sistemas de controle gerencial são influenciados pelo

meio: devem estar alinhados à estratégia segundo a qual os aspectos comportamentais

devem ser considerados, pois sua influência delineia o sucesso da estratégia. Assim, as

pessoas precisam estar envolvidas e capacitadas. O delineamento de uma estratégia

comportamental para implantação do sistema pode fazer a diferença entre o sucesso ou

não do uso do sistema delineado.

1.2. Questão de Pesquisa

A pesquisa buscou responder à seguinte questão: Quais os fatores

comportamentais, culturais e técnicos se relacionam com aspectos de implantação

do módulo de custos de um ERP em uma determinada empresa na Argentina?

1.3. Objetivo Geral

A pesquisa tem como objetivo geral: analisar os fatores críticos de sucesso na

implantação do sistema de custos na indústria Beta de autopeças, considerando-se

variáveis comportamentais, culturais e técnicas relacionadas à implantação. O

17

alcance desse objetivo pode propiciar o delineamento de diretrizes para a implantação

do mesmo sistema em outras bases da empresa.

1.4. Objetivos Específicos

Para cumprir o objetivo geral proposto, são delineados os seguintes objetivos

específicos:

Analisar, do ponto de vista da organização Beta (representada por sua alta

direção) quais aspectos foram considerados determinantes para a

implantação do sistema ERP – módulo de custos na base da empresa na

Argentina;

Analisar, do ponto de vista dos gestores argentinos e dos brasileiros envolvidos

com a implantação do módulo de custos do ERP na organização Beta, quais são

os fatores críticos de sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina;

Identificar, usando-se a tipologia de Hofstede para análise de traços da cultura

nacional, na visão de gestores brasileiros e argentinos envolvidos com a

implantação do módulo custos do ERP na organização Beta, como esses traços

culturais influenciaram na implantação do sistema na base da Argentina;

Identificar, na visão de gestores brasileiros e argentinos envolvidos com a

implantação do sistema ERP - módulo de custos na organização Beta, quais

fatores comportamentais foram considerados fatores críticos de sucesso

(FCS) na implantação do sistema na base da Argentina;

Identificar, na visão de gestores brasileiros e argentinos envolvidos com a

implantação do sistema ERP- módulo de custos na organização Beta, quais

aspectos técnicos foram considerados fatores críticos de sucesso (FCS) na

implantação do sistema na base da Argentina;

Com base nos fatores de críticos de sucesso (FCS) identificados, apontar

diretrizes para a implantação do mesmo sistema em outras bases da mesma

empresa.

18

1.5. Justificativas e Contribuições

Este estudo está focado em uma empresa de autopeças que optou por implantar

sistemas do tipo ERP para minimizar problemas na tomada de decisões — relacionados

à falta de informação integrada. O processo de decisão era lento.

Convém observar que a implantação de sistemas demanda vários rearranjos

dentro de uma organização, quais sejam estruturais, comportamentais, técnicos etc.

Aspectos técnicos são definidos a priori e ajustados de acordo com o desenvolvimento

do sistema. Todavia, mudanças em aspectos culturais e comportamentais demandam,

respectivamente, tempo para consolidação e aceitação das pessoas.

Este trabalho analisa um processo de implantação de sistema ERP em uma base

da empresa na Argentina. Essa implantação é um desafio, pois: (i) a empresa tem

origem norte-americana e, como tal, tem modelos de gestão coerentes com a cultura dos

Estados Unidos da América; (ii) os responsáveis pela implantação do sistema ERP são

brasileiros e argentinos trabalhando sob a supervisão de americanos; (iii) os usuários do

sistema ERP são argentinos. Esses desafios sinalizam a complexidade dos aspectos

comportamentais envolvidos com a implantação do sistema proposto.

Como contribuição para a organização sob estudo, propôs se o uso de uma

metodologia para analisar os fatores críticos de sucesso (FCS) na implantação de um

sistema de custos que pode ser generalizada para a implantação do mesmo sistema em

outras bases da empresa, ou mesmo para a implantação de outros sistemas dentro da

mesma base. Isso porque se pode (i) preparar pessoas (treinamentos técnicos e

comportamentais) para implantações de sistemas de informação; (ii) desenvolver (ou

otimizar) ações de comunicação que possam facilitar a disseminação de informações

relacionadas à implantação; (iii) desenvolver (ou otimizar) programas motivacionais

para aumentar a os benefícios de uso do sistema e diminuir os fatores de resistência

junto aos usuários.

Para a Academia, a análise crítica proposta pode ser objeto para outros estudos

na área de Controladoria que tenham como objetivo a análise dos fatores críticos de

sucesso e na implantação de mudanças em ambientes contábeis. Assim, pode-se

fundamentar a preparação da implantação de sistemas de outra natureza ou o

desenvolvimento e implantação de uso de ferramentas de controle gerencial, como o

19

Balanced Scorecard (BSC), custo ABC, custo de Qualidade, Brand Evaluation, dentre

outras, com base nas lições aprendidas com a experiência profissional na área.

20

2. Referencial Teórico

Para subsidiar teoricamente esta pesquisa fez-se uma revisão sistemática da

literatura utlizando-se as palavras chave do estudo para busca nos periódicos listados no

sistema Qualis Periódicos que tivessem avaliação até B2, limitando-se o período de

busca para artigos que tivessem sido publicados nos anos de 2008 a 2013 (inclusive).

Foram encontrados cerca de 70 trabalhos que tratavam da implantação de

sistemas do tipo ERP. Trinta deles foram selecionados, sendo que os mesmos estão

listados no Quadro1. A leitura detalhada apontou que nenhum deles focou nos aspectos

comportamentais e culturais relacionados à implantação de sistemas. O artigo que mais

contribuiu para a pesquisa foi de Paulo Andre da Conceição Menezes; Fernando

Gonzalez-Ladron-de-Guevara (2010) destacado em negrito no Quadro 1 porque aborda

a implantação do sistema de ERP em empresas de diversos tamanhos, demonstrando

seus benefícios e dificuldades no período de implantação.

Essa revisão preliminar deixou clara a existência de uma lacuna que poderia ser

investigada e que teria potencial para o desenvolvimento de uma metodologia de

implantação de sistemas nas diferentes bases da empresa Beta.

Como o foco deste estudo era a implantação do sistema de Custos, a revisão da

literatura na área contábil focou no sistema de custo padrão, por ser o sistema adotado

pela empresa Beta.

Em relação aos aspectos culturais o estudo foi centrado numa abordagem

funcionalista, com foco nas dimensões do trabalho, como: recepção de informação de

outras áreas, tarefas desafiadoras, definição clara da importância do trabalho, perda de

tempo com erros e a importância da liberdade no trabalho.

Os processos de desenvolvimento e a implantação de sistemas ERP estão

profundamente relacionados à estratégia da organização. Para Harwood (2003, p. 1) a

implantação de um sistema ERP não dever ser vista apenas como um projeto de

Tecnologia da Informação (TI), mas como o de uma equipe multidisciplinar, porque

também atinge as políticas e as práticas da organização.

21

Para garantir a eficácia da implantação de um sistema, não basta conhecer as

demandas da organização em termos técnicos: é preciso analisar o processo de gestão

das mudanças requeridas para tal implantação (HARWOORD, 2003, p. 5).

Os sistemas de informação não podem ser traduzidos como artefatos

tecnológicos que tornam as operações mais eficientes e menos conflitantes, mas devem

ser entendidos como instituições que modelam os processos de decisão dos gerentes e as

formas organizacionais das empresas. Dessa forma, a interação entre a utilização dos

sistemas da informação (nas operações cotidianas) e os processos de mudança

estratégica e estrutural se revestem de um papel crítico, porque, dessa interação, obtém-

se a coordenação do conhecimento organizacional (ORLIKOWSKY; HOFFMAN,

1997, p. 6).

Este capítulo está estruturado na sequência que se apresenta a seguir. Primeiro,

trata da Estratégia Organizacional, tópico no qual se discute o relacionamento da

estratégia com o ambiente no qual a empresa está inserida, dando suporte para a análise

da estratégia da organização em que o estudo está focado. A seguir, apresenta-se o

Sistema de Custos e suas especificidades, destacando-se o modelo utilizado pela

empresa-foco do estudo. Na sequência, são apresentados os fatores críticos de sucesso

na implantação de sistemas, em especial, de sistemas ERP. Por fim,são apresentadas

discussões sobre temas comportamentais relevantes na implantação de sistemas, como

cultura organizacional e gestão de processos de mudança.

22

Quadro 1 - Estudos Pesquisados

Fonte: elaborado pela autora.

Journal of Information systems and Technology Management

Artigo: FMEA and PMBOK Applied to Project Risk Managment

Autor: Flávio Roberto Souza dos Santos; Sandro Cabral

RAM

Artigo: DILEMAS DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO FACE À GLOBALIZAÇÃO E ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Autor: José Maria Carvalho Ferreira

FAE

Artigo: Uma reflexão sobre o estudo de caso como metodo de pesquisa

Autor: Eliane Cristine F Maffeozzolli Carlos Gabriel Egggerts Boehs

G&P

Artigo: Uma Análise de aspectos relacionados ao desenvolvimento e adoção do Enterprise Resources Planning livre de codigo aberto

Autor: Rogério Atem de Carvalho; Renato de Campos

Journal of Information systems and Technology Management

Artigo: Installing and ERP System with a methodology based on the principles of goal directed project managment

Autor: Ioannis Zafeiropoulos; Elli Pagourtzi; Dimitris Askounis

Artigo: ERP Systems Implementation in Complex Organizations

Autor: Rafaela Mantovani Fontana; Alfredo Iarozinski Neto

Artigo: ERP Implementations and their impact upon management accountants

Autor: Alan Sangster; Stewart A Leech; Severin Grabski

Artigo: Pesquisa sobre a percepção dos usuários dos modulos contabil e fiscal de um sistema ERP para o setor de transporte rodoviário de cargas e passageiros

Autor: Ivam Ricardo Peleias; Jose Carlos Trevizoli; Pedro Luiz Cortes; Napoleão Verardi Galegale

Journal of Information systems and Technology Management

Artigo: Maximizacion de los beneficios de los sistemas ERP

Autor: Paulo Andre da Conceição Menezes; Fernando Gonzalez-Ladron-de-Guevara

Artigo: ERP In the Production Area: User's opinions bout needs being met

Autor: Andre Luiz Pestana de Oliveira; Marco Antonio Pinheiro da Silveira

Artigo: A Comparison of ERP-Success Measurement Approaches

Autor: Stephan A Kronbichler; Herwig Ostermann; Roland Staudinger

Brazilian Business Review

Artigo: Serviços Compartilhados: estudo de caso sobre a atuação da controladoria em 13 paises da America Latina

Autor: Ana Cristina de Faria; Marcio Antonio Gonçalves

Artigo: Sistema Integrado ABC-EVA como uma ferramenta de gestão: um estudo de caso

Autor: Raimundo Nonato Sousa da Silva; Tiafo de Amorim Bueno Vieira

International Journal of Information Management

Artigo: The Critical Sucess factors of business process management

Autor: Peter Tkrman

Information Systems

Artigo: Identification and Classification of ERP critical failure factor in Iranian industries

Autor: Amin Amid; Morteza Moalagh; Ahad Zare Ravasan

G&P

Artigo: Levantamento das praticas de programaçao detalhada de produção: um survey na industria paulista

Autor: Edivaldo Giacon; Marco Aurelio Mesquita

Journal of Information systems and Technology Management

Artigo: A Theoretical Analysis of key points when chossing oper source ERP systems

Autor: Fernando Gustavo dos Santos Gripe; Ildeberto Aparecido Rodello

RAM

Artigo: Analise das Relaçoes dos Elementos de alinhamento estrategico entre negocio e tecnologis da informação com o processo de desenvolvimento do produto

Autor: Enor Jose Tonolli Junior; Angela Freitag Brodbeck; Carlos Alberto Costa

Artigo: Recursos de tecnologia da informaçao sustendadores de vantagem competitiva: um estudo no setor metal-mecanico agroindustrial

Autor: Renato Przyczynski; Adolfo Alberto Vanti

Journal of Information systems and Technology Management

Artigo: Uses of ERP system and their influence on controllership functions in brazilian companies

Autor: Arnaldo Morozini de Lira; Claudio Parisi; Ivam Ricardo Peleias; Marcos Reinaldo Severino Peters

Produção

Artigo: Um estudo sobre a implantação do sistema ERP: pesquisa realizada em grandes empresas industriais

Autor: Lindomar Subtil de Oliveira; kazuo Hatakeyama

International Journal of Production Economics

Artigo: Implementation of fashion ERP system in China: case study of a fashion brand, review and future challenges

Autor: Tsan Ming Choi; Pui Sze Chow; Shuk Ching Liu

Computers in Industry

Artigo: The concurrent application of lean production and ERP: Towards and ERP-based lean implementation process

Autor: Daryl Powell; Erlend Alfnes; Jan Ola Stranghagen; Heidi Dreyer

International Journal of Accounting Information Systems

Artigo: Acccounting Benefits and satisfaction in na ERP environment

Autor: Alexandra Kanellou; Charalambos Spathis

SciVerse ScienceDirect

Artigo: E-KMS: A KM tool for Educational ERP System

Autor: Anubhav Kumar; P C Gupta

G&P

Artigo: Avaliação da importancia relativa dos criterios para a seleção de sistemas integrados de gestão (ERP) para o uso em empresa da construçao civil

Autor: Mirian Picinini Picinini Mexas; Helder Gomes Costa; Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas

Revista Contemporanea de Contabilidade

Artigo: Pratica de Gestao de Custos Logisticos

Autor: Marcos Antonio Souza, Carla Schnorr ; Fernanda Baldasso Ferreira

Journal of Information systems and Technology Management

Artigo: Legitimation Implications in the process of implementing na ERP system in a holding company

Autor: Viviane Theiss; Nayane Thais Krespi; Carlos Eduardo Facin Lavarda

Artigo: Strategic Partnership Building it offshore outsourcing: institutional elements for a banking ERP System licensing

Autor: Luis Kalb Roses

Artigo: Business Professionals' perceptions related to the influence of information technology in individual work

Autor: Ricardo Adriano Antonelli; Lauro Brito de Almeida; Marcia Maria dos Santos Bortolocci Espejo; Fernanda Luiza Longhi

2013

2008

2009

2010

2011

2012

23

2.1. Estratégia Organizacional

Um dos primeiros usos do termo “estratégia” ocorreu há aproximadamente 3.000

anos, pelo estrategista chinês Sun Tzu1 o qual afirmava que todos os homens podiam

ver as táticas de conquista, mas o que ninguém conseguia ver era a estratégia a partir da

qual grandes vitórias eram obtidas.

O termo estratégia assumiu o sentido de habilidade administrativa na época de

Péricles (450 A.C.), quando passou a significar habilidades gerenciais (administrativas,

de liderança, de oratória, poder). Mais tarde, no tempo de Alexandre (330 A.C.),

adquiriria o significado de habilidades empregadas para vencer um oponente e criar um

sistema unificado de governabilidade global. A estratégia teve vários significados,

evoluindo de um conjunto de ações e manobras militares para a disciplina do

conhecimento administrativo– Administração Estratégica –, que é dotado de conteúdo,

de conceitos e de razões práticas e vem conquistando espaços tanto no âmbito

acadêmico como no empresarial.

Segundo Porter (2003, p.20), estratégia é criar uma posição exclusiva e valiosa,

envolvendo um diferente conjunto de atividades. Se houvesse apenas uma única posição

ideal, não haveria necessidade de estratégia, reforçando a necessidade de as empresas

estarem atentas ao mercado e ao modo como devem se comportar diante dele, que tem

uma dinâmica muito grande, por isso elas devem adaptar-se de acordo com as mudanças

da Indústria Automotiva.

A formulação das estratégias está associada, basicamente, a quatro fatores que

determinam os limites para a empresa: (i) pontos fortes e pontos fracos; (ii) valores

pessoais de uma organização; (iii) ameaças e oportunidades da indústria; e (iv) a

expectativa da sociedade.

Os pontos fortes e fracos, caracterizados pelo perfil de ativos, e a qualificação da

empresa em relação à concorrência combinada aos valores pessoais de uma

organização, motivações e necessidades de seus principais executivos, estabelecem seus

limites internos. Os fatores externos, determinados pela indústria e seu ambiente,

envolvem as ameaças e oportunidades da indústria e as expectativas da sociedade.

1General chinês, cuja existência tem sido discutida por historiadores, autor de A Arte da Guerra. Sua obra

foi redescoberta pelo ocidente e tornou-se best-seller por sua aplicação no mundo dos negócios.

24

"As ameaças e as oportunidades da indústria definem o meio competitivo,

com seus riscos consequentes e recompensas potenciais. As expectativas da

sociedade refletem o impacto, sobre a companhia, de fatores como a política

governamental, os interesses sociais e muitos outros." (PORTER, 1991,

p.18).

A formulação de uma estratégia corporativa, especificamente para a diversificação e que

agregue valor para os acionistas, deve ser avaliada segundo os aspectos:

Teste de atratividade: o setor deve ser estruturalmente atraente, ou, pelo

menos, potencialmente atraente, o que implica, normalmente, na existência de

altas barreiras de entrada.

Teste de custo de entrada: os custos de entrada no negócio não podem pôr em

risco sua rentabilidade futura; Quanto mais atraente for o novo setor, mais alto

será o custo de entrada (PORTER, 1997, p. 93).

Teste de melhoria da situação: a nova empresa precisa obter uma vantagem

competitiva quando integrar uma nova corporação, a qual deverá se beneficiar

com a nova unidade de negócio.

Em função das forças que afetam a estrutura da indústria, algumas estratégias são

definidas por Porter num conjunto de ações defensivas ou ofensivas. Esse conjunto de

ações está fundamentado em pontos fortes e fracos, detectados na relação

indústria/ambiente competitivo. Essas variáveis são: o Posicionamento, a Influência no

Equilíbrio e a Exploração da Mudança.

O Posicionamento ajusta a companhia à estrutura em função de seus pontos

fortes e fracos. Pode ser definida pela construção de defesas contra forças competitivas

ou como "... a determinação de posições na indústria onde estas forças sejam mais

fracas." (PORTER, 1991, p. 45).

A Influência no Equilíbrio ocorre quando a empresa estabelece uma estratégia

que assume a ofensiva. Não visando a apenas enfrentar as forças existentes, busca a

alterar suas causas.

A Exploração da Mudança está associada à evolução da indústria. Essa evolução

assume importância decisiva na formulação da estratégia. Entender o processo de

evolução da indústria é ser capaz de predizer as mudanças é importante por que

25

...o custo de reagir estrategicamente aumenta em geral quando a necessidade

de mudança se torna mais óbvia e a vantagem da melhor estratégia é maior

para a primeira empresa a selecioná-la (PORTER, 1991, p.156).

Os estudos das estratégias corporativas incorporam, ainda, o estudo da

Integração Vertical, as Estratégias Preemptivas, as Estratégias Defensivas e as

Alternativas Estratégicas no Declínio.

Os fatores externos, determinados pela indústria e seu ambiente, envolvem as

ameaças e oportunidades da indústria e as expectativas da sociedade.

As ameaças e as oportunidades da indústria definem o meio competitivo, com

seus riscos consequentes e recompensas potenciais. As expectativas da

sociedade refletem o impacto, sobre a companhia, de fatores como a política

governamental, os interesses sociais e muitos outros (PORTER, 1991, p.18).

No estudo das Estratégias Defensivas, Porter avalia o que ele chama de

"movimentos defensivos". Segundo ele, "... uma boa defesa consiste em criar uma

situação na qual os concorrentes (...) após testarem realmente um movimento,

concluirão que ele é inconveniente." (Porter, 1991, p. 106). Observa, entretanto, que a

defesa mais efetiva é impedir a batalha — de qualquer forma. Para ele, para impedir

uma ação, é necessário que o concorrente acredite veementemente em uma retaliação

efetiva.

Em relação à estratégia de enfoque, o seguinte conjunto de riscos é observado:(i)

eliminação das vantagens de custo em atender um alvo estreito ou anulação da diferença

alcançada pelo enfoque, pelo diferencial de custos entre os concorrentes de todo o

mercado; (ii) redução nas diferenças dos produtos ou serviços entre os alvos pretendidos

e o mercado; (iii) desfocalização da empresa com estratégia de enfoque pelos

concorrentes através da atuação em submercados.

Porter observa que o uso das estratégicas genéricas exige outros requisitos ou

diferentes recursos e habilidades. Seu uso implica arranjos organizacionais diferentes,

procedimentos de controle e sistemas criativos, compromisso com o alvo primário, além

de requerer diferentes estilos de liderança e mudança na cultura, para que se obtenha

sucesso com sua prática.

26

Segundo Anthony (2008, p.2):

Os sistemas de controle gerencial são ferramentas para implantar estratégias.

As estratégias podem ser diferentes entre as organizações e os controles

devem ser ajustados aos requisitos das estratégias específicas. As estratégias

diferentes requerem prioridades de tarefa diferentes, fatores críticos de

sucesso diferentes; e habilidades, perspectivas e comportamentos diferentes.

O Quadro 2 aponta os aspectos relevantes para a análise estratégica, como um sumário

dos principais aspectos de competitividade abordado na revisão teórica pelos autores,

onde aponta-se que a análise estratégica de uma empresa envolve não só as pessoas

mas também suas habilidades e como a empresa está posicionada naquele momento

frente ao mercado.

Quadro 2 - Análise Estratégica

Habilidade administrativa / gerencial Péricles, 450 A.C.

Posição exclusiva / valiosa da empresa no mercado Porter, 2003

Qualificação da empresa em relação à concorrência Porter, 2003

Motivação dos principais executivos Porter, 2003

Ameaças e oportunidades da indústria Porter, 2003

Expectativas da sociedade em relação à empresa Porter, 1997

Definição de riscos e oportunidades no meio competitivo Porter, 1991

Equilíbrio assumido estratégia ofensiva, alterar causas das forças existentes Porter, 2003

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

2.2. Sistema de Custo e suas Especificidades

Até a Revolução Industrial (século XVIII), quase só existia a Contabilidade

Financeira (ou Geral). Desenvolvida na Era Mercantilista atendia as empresas

27

comerciais. Para apurar o resultado do período, levantava-se o estoque fisicamente,

apurando o montante pago e assim valorizava as mercadorias. Assim, era bem simples o

cálculo:

Estoques Iniciais+ Compras (- Estoques Finais) = Custo das Mercadorias Vendidas

Com esse cálculo e as receitas obtidas no mês, obtinha-se o lucro bruto, do qual

se deduziam as despesas de manutenção do período. Os bens eram produzidos por

pessoas ou grupos — que poucas vezes eram entidades jurídicas. As empresas

propriamente ditas viviam do comercio, e não da fabricação, o que facilitava a

verificação do valor de compra, consultando documentos de aquisição.

Com o advento das indústrias, a situação do contador se complicou, pois ele teria

de apurar uma série de fatores de produção utilizados. Naquele momento, iniciaram-se

as adaptações, com a formação de critérios para avaliação de estoque no caso industrial

(MARTINS, 2001, p19)

Portanto, pode-se dizer, que a Contabilidade de Custos nasceu da Contabilidade

Financeira, da necessidade de avaliar os estoques na indústria, tarefa fácil para as

empresas típicas do mercantilismo, mas não suficientemente preparadas para responder

sobre as tarefas de decisão e controle.

Pelo fato de os contadores e os profissionais ligados à área terem a visão de

resolver o problema de mensuração monetária do estoque e do resultado, e não se

preocuparem em fazer dela um instrumento de administração, não se utilizou todo seu

potencial gerencial, deixando de ter uma evolução acentuada.

O crescimento das empresas foi quem forçou esse desenvolvimento. Em poucas

décadas, a nova visão sobre a gestão dos negócios expandiu-se para outros campos que

não o industrial, como forma de controle e até para as tomadas de decisões.

Ao longo do tempo, devido à necessidade, criaram-se os métodos de custeios –

composição do valor de custo de um evento, atividade, produto, atributo etc. —, ou seja,

de uma entidade objeto de custeio de interesse do gestor (MARTINS; ROCHA, 2010,

p.45).

O estudo e a prática dos diferentes métodos de custeio referem-se a várias

opções possíveis de decisão (tais como sobre quais elementos de custos devem ou não

28

ser computados na mensuração do custos dos produtos individuais), considerando-se a

natureza e o comportamento daqueles elementos em relação às oscilações do volume de

produção, ou seja, dos custos fixos e variáveis.

Assim, pode-se dividir esse sistema em sistema de custeio e métodos de custeio

— que são conceitos diferentes. Sistemas de custeio referem-se às entidades nas quais o

custo deve ser prioritariamente acumulado (ordem de produção ou processo de

produção). Método de Custeio, por seu turno, é a natureza do comportamento dos custos

que devem ser considerados na sua apuração (custo variável ou também fixo).

Ainda pode ser dividido e analisado pelo critério de avaliação, definição pela

qual se avalia através do tempo: (a) custo histórico, (b) custo de reposição, (c) custo–

padrão. (MARTINS, 2001)

Pode ser dividido em sete grandes grupos:

1. Sistema de Custeio Direto ou Variável – consideram como sendo dos produtos

exclusivamente seus custos variáveis. Todos os custos fixos, inclusive os

identificáveis com os produtos, são debitados do resultado do período em que

foram analisados.

2. Sistema de Custeio por Absorção – atribui custos fixos aos produtos. Uma de

suas espécies (custo pleno) também atribui despesas fixas de administração e

vendas.

3. Custeios por Absorção Parcial — não aloca aos produtos gastos de

administração geral da empresa. Subdivide-se em:

● Custeios por Absorção Parcial Modificado – não

incorpora aos produtos os custos fixos estruturais.

● Custeios por Absorção Integral ou Plena –

incorpora os gastos de administração geral e os fixos de

vendas aos produtos.

4. Sistema de Custeio Baseado em Atividades ABC (Activity-Based Costing) – a

metodologia ABC nasceu nos Estados Unidos (EUA), em meados da década de

80, e foi desenvolvida e criada basicamente pelos profs. Cooper e Kaplan. No

método ABC, as atividades são o foco do processo de custeio. Os custos são

investigados, relacionando-se as atividades aos produtos, com base na demanda

29

por tais atividades pelo produto durante o processo de produção ou o serviço em

questão.

5. Sistema de Custeio Meta — custo máximo permitido para um determinado

produto ou serviço. Segundo COGAN (1999, p97), o custeio meta é uma

ferramenta de gerenciamento estratégico que busca reduzir o custo do produto

durante seu ciclo de vida.

6. Sistema de Custeio Padrão –custo-padrão é um custo pré-atribuído, tomado

como base para o registro da produção antes da determinação do custo efetivo.

Em sua concepção gerencial, o custo-padrão indica um “custo ideal”, que deverá

ser perseguido, servindo de base para a administração mediar e eficiência da

produção e conhecer as variações de custo. Esse custo ideal seria aquele que

deveria ser obtido pela indústria nas condições de plena eficiência e máximo

rendimento.

7. Sistema de Custeio Pleno — essa metodologia, também conhecida como RKW,

nasceu na Alemanha e consiste no método segundo o qual todas as despesas

tanto de produção como despesa da administração da empresa são rateadas. A

técnica utilizada para esse rateio é semelhante às dos custeios tradicionais e cada

departamento da empresa recebe sua cota de custos, de maneira que, no final, o

rateio será sobre os produtos da empresa. Com esse rateio, chega-se ao valor

unitário do produto. Conforme conceituam Nascimento e Vartaniam (1999,

p.34), “método de custeio pleno é aquele em que todos os custos e despesas de

uma entidade são levados aos objetos de custeio, normalmente unidades de

produtos e/ou ordens de serviços”.

Para escolher o sistema mais adequado, segundo Martins (2001, p 379), é

necessário começar pelo fim, questionando para que se quer o sistema. É preciso saber

se será para controle, fornecimento rápido de informações para decisões rotineiras ou

intempestivas, decisões que não demandam rapidez de dados ou simples avaliações de

estoques para ajudar a contabilidade financeira na apuração de estoques e resultados.

Ou seja, a escolha do Sistema depende do objetivo que com ele se pretende

atingir, o seu nível de detalhes também depende disso e do quanto se gastará para sua

obtenção. As informações são caras, e sua utilidade não é igual em todos os níveis

detalhes— sua adoção como pacote é temerária (MARTINS, 2001, p. 381).

30

A implantação deve ser gradativa, iniciando-se pela motivação junto ao pessoal,

— prática que demonstra que um pequeno número seu gerado terá tamanho grau de

importância no sistema como um todo. Assim, pode-se demonstrar os benefícios que o

sistema trará, bem como a melhoria de seu desempenho e premiações, uma vez que

possivelmente existirá uma melhoria na rentabilidade da empresa.

Após essa fase, deve-se fazer o treinamento dos envolvidos, interagindo neste

treinamento, de forma que seja assegurado que os participantes entenderam e estão

aptos a executar as tarefas sozinhos e, não somente distribuir os manuais.

A empresa-foco do estudo adotou o custo padrão, mas analisa a periodicidade de

sua manutenção devido aos fatores econômicos do país, o que gera distorções

constantes no custo padrão.

O quadro 3 apresenta os tipos de sistemas de custos, acima descritos, de forma

sumarizada, onde diversos autores conceituam cada tipo de sistema de custos que as

empresas podem adotar.

.

Quadro 3 - Sistema de Custos

Direto ou Variável - considera todos os custos fixos como variáveis Martins, 2001

Absorção - atribui seus custos fixos e também as despesas administrativas Martins, 2001

Atividades- ABC - considera os custos das atividades relacionadas ao produto

Cooper e

Kaplan, dec 80

Meta - custo máximo permitido, usado para gerenciamento estratégico Cogan, 1997

Padrão - custo pré atribuído, base para registro de produção Martins, 2001

Pleno - rateio de todas as despesas da empresa (administrativas ou de produção)

Nascimento e

Vartanian 1999

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

O quadro 4 apresenta o tipo de sistemas de custos, adotado pela empresa Beta

onde demonstra as principais vantagens de se utilizar este tipo de custeio numa empresa

multinacional onde existem regras internacionais a serem cumpridas, bem como metas

orçamentárias a serem atingidas.

31

Quadro 4 - Sistema de Custo Padrão adotado pela empresa Beta

Custo de seleção material de produção

Estuda-se o tempo e desempenho operações produtivas para atribuir ao custo

Estuda-se equipamentos e operações fabris para atribuir

Martins,

2001

Os valores dos custos são pré-fixados através de:

a- Metas ou

b- Histórico

Custo padrão facilita a apuração de balancetes

O modelo de custo padrão agiliza os dados da contabilidade

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

2.3. Implantação de sistemas ERP

Os principais fatores que levam ao desenvolvimento de um sistema são: (a)

Pressão, (b) Oportunidade e (c) Racionalização. Esses sistemas podem ser inteligentes

ou aplicativos. Os sistemas inteligentes são os chamados B.I. - Business Inteligence e os

aplicativos são aqueles de que as empresas se utilizam no dia a dia (SAP, QAD dentre

outros).

A estratégia de negócio está relacionada a organização, tecnologia e operações

de decisões estratégicas (organização, tecnologia, qualidade e localização, gestão de

talentos etc.) de apoio às empresas (SOMERS; NELSON, 2002). A chave para o

desenvolvimento das capacidades dos sistemas de informação da empresa (SI) é saber

articular o papel estratégico e gestão do próprio SI, definindo arquitetura e estrutura de

controle de TI adequada para facilitar o seu desenvolvimento e sua exploração

(STRATMAN;ALEDA,2002).

O desafio de alcançar vantagem competitiva através de sistemas ERP é que eles

representam uma significativa complexidade: geralmente são necessários vários anos

para a implantação completa, incluindo a integração com o SI existentes, a realização de

reestruturação e o ajuste da organização com o sistema ERP para ganhar uma vantagem

competitiva (BEARD; SUMNER, 2004; DAVENPORT, 2000).

Para implantação de sistemas ou o desenvolvimento deste, existe uma

metodologia o SDLC – System Development Life Cycle ou Ciclo de Vida de

32

Desenvolvimento de Sistema é um método utilizado para desenvolvimento, manutenção

ou substituição de um sistema. Ele proporciona uma visão geral da implantação do

sistema constituído em seis fases, permitindo uma perspectiva integrada do

desenvolvimento.

Identificação e Seleção do Projeto — fase em que todas as necessidades de

SI (sistemas) da organização como um todo são identificadas, analisadas e

estabelecidas num período.

Planejamento e Inicio do Projeto — fase em que o projeto é explorado e

questionado, para verificar se realmente será dado andamento no processo.

Nessa fase, também é feito um planejamento detalhado do projeto para a

condução das fases posteriores.

Análise — o atual sistema da organização é estudado e estuda a alternativa

para a troca para um novo sistema.

Desenho (lógico e físico)— fase em que é descrita a solução recomendada,

consentida nas especificações lógicas e depois físicas do sistema. A

especificação lógica descreve as características funcionais do sistema para

desenvolvimento, independente da plataforma de computador a ser aplicado.

Já o desenho físico é o de/para das especificações lógicas vindas de um

desenho lógico a partir do qual serão produzidas as especificações dos

detalhes tecnológicos para que toda construção e toda programação possam

ser corrigidas.

Implantação — fase na qual o sistema é codificado, testado, instalado e

suportado dentro da organização.

Manutenção — fase na qual o sistema é reforçado e aplicado às melhorias

contínuas.

Existe ainda um modelo, chamado de “reduzido”, que condensa o modelo acima

de SDLC em apenas quatro fases: (a) Iniciação, (b) Desenvolvimento, (c) Implantação e

(d) Operação e Manutenção. O conceito é similar ao SDLC, somente simplificando-o.

As primeiras pesquisas em ERP de fatores de sucesso de implantação (por

exemplo, HOLANDA;LUZ,1999;JARRARET et al., 2000;GRABSKI et al.,

33

2001;SOMERS;NELSON,2001;AKKERMANS;VAN HELDEN,2002) listam

resultados de fatores que contribuem para o sucesso de implementação de ERP.

No entanto, elas não indicam se todos os fatores eram necessários nem se todos

os elementos necessários foram usados com o mesmo nível de esforço. Mais

recentemente, Aloiniet (2007) enfatizou a importância das organizações com foco em

maneiras de tornar sua implantação ERP de sucesso, comparando de um ponto de vista

de gestão de risco para destacar a chave de fatores de risco de falha e seu potencial

impacto sobre projetos de ERP de sucesso.

Grabski e Leech (2007) tornaram a pesquisa sobre a teoria de controle através da

utilização da teoria econômica de complementaridade.O estudo mencionado pelos

autores explorou a limitação de uma carteira de controles que foi a hipótese utilizada de

uma forma singular, quando projetos complexos exigiram o uso de várias técnicas ao

mesmo tempo. Ao examinar os pontos de riscos, os controles (associados com

implantações de sistemas ERP) e desenvolvimento de fatores críticos de sucesso

(quando usado em conjunto melhoram os resultados), descobriu-se que todos os fatores

(FCS) foram necessários para a implantação e que nenhum fator, por si só, era suficiente

para uma implantação bem sucedida.

Com base em um levantamento de organizações que implantaram sistemas de

ERP, este levantamento agregou os fatores individuais específicos identificados na

pesquisa anterior em cinco fatores mais abrangentes (SANGSTER, 2009, p 127):

Gerenciamento de projetos;

Gestão da mudança;

Alinhamento do negócio com o sistema de informação;

Supervisão (auditoria interna) e atividades;

Consultor e atividades de planejamento.

Inúmeros controles existem dentro de cada uma das cinco categorias mais

abrangentes(e alguns controles são aplicados em todas as categorias, de acordo com a

teoria da complementaridade). A partir destas categorias as complexidades associadas

com implantações de ERP de êxito podem ser vistas, e perdas de processos podem ser

identificadas no que pode ser definido como implantações bem executadas que tiveram

34

falhas, Estas categorias podem ser utilizadas como um direcional para a implantação de

um sistema ERP.

Aloiniet et al. (2007) realizaram uma análise de pesquisas publicadas em 1999 e

concluíram que existem quatro grandes categorias de falha do sistema ERP:

1.Processo: quando o projeto não é concluído dentro do prazo e do orçamento.

2.Expectativa: quando o sistema de TI não corresponde às expectativas do

usuário.

3.Interação: quando as atitudes dos usuários são negativas em relação ao TI.

4.Correspondência: quando não houver correspondência entre os sistemas de TI

e os objetivos planejados.

No decurso da sua análise, identificaram 19 fatores de risco. Seus fatores são

consistentes com aqueles identificados por Grabski e Leech (2007) e incluem: seleção

inadequada da adoção do projeto ERP, baixo envolvimento dos usuários-chave,

treinamento e instrução inadequados, processos de negócios de reengenharia

inadequados, serviços de consultoria e ineficazes.

Existem grupos de usuários de ERP, tais como ERP SELECT, em 2004,

ofereceram listas dos fatores que podem levar ao fracasso da implantação de ERP:

Instrução (não entendimento do objetivo que o novo "sistema" é projetado para

alcançar)

Falta de comprometimento da alta direção (gestão está envolvida, mas não

dedicada)

Definição inadequada de requisitos (processos atuais não são endereçados de

forma adequada)

Seleção pobre do pacote ERP (o pacote não aborda as funções empresariais

básicas do cliente)

Recursos inadequados utilizados pelo cliente

A resistência interna à mudança dos processos "antigos"

A má adequação entre os procedimentos dos usuários e o software

As expectativas irreais dos benefícios e do ROI

Treinamento inadequado (usuários não sabem como utilizar adequadamente a

nova ferramenta)

35

Expectativas de prazos irreais

Aplicação de uma abordagem de baixo para cima (o processo não é visto como

uma prioridade de alta gestão)

O cliente não é devidamente abordado assim como não são planejadas

corretamente as despesas envolvidas

Se a implantação do sistema ERP é bem sucedida, o foco da organização muda

de uma orientação funcional para a orientação do processo (DAVENPORT, 2000;

KREMZAR;WALLACE, 2001). Isso requer uma mudança na gestão e na estrutura

contábil de relatórios, uma mudança na geração de relatórios (já que todos os dados

estão agora centralizados em um banco de dados)estes relatórios gerados pelo próprio

sistema é um requisito para a comunicação entre as áreas funcionais. A partir do

momento em que os contadores não precisam mais gerar os relatórios "comuns", eles

podem fornecer valor para a organização através da geração de relatórios de previsão e

melhorias na análise de negócio. Isso é semelhante ao que Caglio (2003) chama de

"hibridização" dos gestores contábeis.

Um projeto de ERP menos bem-sucedido pode aumentar as atividades em

algumas tarefas existentes, absorvendo todo tempo dos usuários envolvidos. Com isso, é

obrigado gastar menos tempo em outras tarefas , não deixando tempo disponível para

desenvolver análises de para o negócio.

É inconcebível que o sucesso ou fracasso de uma aplicação ERP não tenha

impacto sobre as pessoas envolvidas ou sobre as tarefas que os indivíduos

desempenham.Reconhecendo a relevância da provável sucesso da implantação,

Grabskiet al. (2009) utilizaram uma abordagem de estudo de caso para analisar as

mudanças na contabilidade gerencial e no papel dos gestores contábeis resultantes da

implantação de pacotes ERP em sete grandes organizações com sede no Reino

Unido.Além disso, eles exploraram o efeito que o sucesso ou o fracasso na implantação

das mudanças que ocorreram. O estudo constatou que, em todos os 7 estudos de caso, o

papel dos gestores contábeis foi afetado e que as mudanças no papel foram relacionadas

ao sucesso da implantação do sistema.

Assim, implantações de maior sucesso resultaram em mudanças dramáticas para

a natureza de seu papel, processo através do qual o gestor contábil se tornou consultor

36

de negócios e tomou medidas proativas para ajudar os vários executivos e tomadores de

decisão.

Por outro lado, implantações em menos bem-sucedidas trouxeram um impacto

disfuncional sobre os gestores contábeis— mesmo quando se esperava que as tarefas

fossem executadas não houve mudança.

O quadro 5 apresenta os fatores de sucesso e insucesso que podem ocorrer na

implantação do sistema, fundamentos nos aspectos já analisados pelos autores

referenciados, onde demonstra-se que a implantação do sistema ERP não depende única

e exclusivamente da área técnica de TI, mas sim das pessoas envolvidas no processo e

seu planejamento junto ao projeto.

Quadro 5 - Fatores de Sucesso e Insucesso na Implantação de ERP

Sucesso Insucesso

Gerenciamento do Projeto Processo Aloiniet

Gerenciamento de Mudança Expectativa Et al.

Alinhamento do Negócio Interação (2007)

Supervisão e Atividades Correspondência ERP

Consultor Recurso Inadequado Select

Atividades de Planejamento Treinamento Inadequado (2004)

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

2.4. Aspectos comportamentais relacionados à implantação de

sistemas

Analisam-se, neste tópico, a cultura organizacional e sua relação na implantação

de um sistema ERP, bem como a gestão de mudança praticada nas organizações e seus

aspectos comportamentais.

37

2.4.1. O conceito de cultura organizacional

O conceito da cultura é originário da Antropologia. O pioneiro no uso do

vocábulo foi Edward Tylor, que conceituou cultura como: “conhecimentos, crenças,

arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo

homem como membro de uma sociedade”(RUSSO, 2010 p.15). O conceito é hoje

utilizado, no senso comum, como a capacidade de reter e comunicar as ideias entre

gerações, segundo Russo (2010, p. 15).

Há grandes correntes na antropologia que discutem o que seja cultura. O que

elas têm em comum é que(1) trabalham com as sociedades humanas; (2) têm uma

história evolutiva e são concebidas em torno do que caracteriza a vida humana, como

proteção ao grupo, luta contra os elementos, nascimento e morte, relações entre os

sujeitos; (3)têm como material de trabalho o comportamento, os ritos, a linguagem, ou

seja, manifestações do ser humano na sua relação com o meio ambiente social e físico;

(4) buscam na cultura o que caracteriza a sociedade humana; (5) explicam a relação

entre o indivíduo e a sociedade (THÉVENET, 1993, p.35). A visão das organizações

como sociedades humanas, com culturas que as identificam, está na base da

transposição dos conceitos de antropologia cultural para a análise do ambiente

organizacional (CESAR, 1999).

Estudos sobre cultura organizacional consideram que a cultura assuma dois

papéis: (1) como variável independente, supondo-se que sua modificação leve a

mudanças no desempenho da organização; (2) como variável dependente, supondo-se

que as modificações estruturais ou processuais em busca de desempenho levem à

modificação da cultura organizacional (WRIGHT, 1999, apud CESAR, 1999).

Em termos de pressupostos filosóficos, a corrente mais comumente utilizada no

ambiente organizacional é a funcionalista, segundo a qual a cultura é uma variável

independente e, como tal, pode ser gerenciada. Um dos defensores dessa abordagem é

Cameron (1999). Ao discutir o sucesso de grandes companhias cujos indicadores de

desempenho estavam fora dos parâmetros clássicos para análise de competitividade

(como Wal-Mart e Southest Airlines, nos anos 90), atribuiu à “forte” cultura

organizacional dessas empresas a razão de seu sucesso (CAMERON, 1999, p. 3-4).

38

Dentro dessa mesma abordagem funcionalista, Hofstede (2003) é um dos autores

mais conhecidos na área organizacional. Para esse autor, a cultura é a programação

coletiva da mente que distingue os membros de uma organização dos de outra. É de

Hofstede (2003) a afirmação de que

todos somos como os ingleses Hume ou Goring, observamos o mundo

através das janelas de uma casa cultural e agimos como se as pessoas de

outros países tivessem alguma característica especial (caráter nacional),

enquanto a nossa casa é normal. Infelizmente não existe norma em matéria de

cultura. Esta mensagem é incomoda, tão incomoda como foi a afirmação de

Galileu Galilei no século dezessete de que a Terra não é o centro do universo

(p. 271).

Ainda dentro da abordagem funcionalista, Denison, Hooijberg, Lane e Lief

(2013, p.3) apontam que as pesquisas realizadas nas últimas décadas demonstram que a

cultura da organização tem impacto nos negócios de quatro formas: (1) cria o sentido de

missão e direção; (2) constrói um alto nível de adaptabilidade e flexibilidade; (3) nutre o

envolvimento e o engajamento de seu pessoal; (4) fornece uma consistência que está

fortemente enraizada em um conjunto de valores essenciais. Assim, o futuro de uma

empresa está alicerçado em seu passado quando o que se discute são os aspectos

culturais. Esse é o forte argumento para que a cultura da organização seja identificada e

monitorada.

Outro representante da abordagem funcionalista é Schein (2009 p.22), que

afirma: “ou a empresa gerencia a cultura ou a cultura gerencia a empresa”. Para Schein

(2009, p. 24), a cultura pode ser analisada em três níveis: (1) nível das suposições

básicas: crenças e os pressupostos adjacentes que são subconscientes, invisíveis e

raramente questionáveis; (2) nível das crenças e valores expostos: os valores e as

atitudes pessoais que são menos visíveis, mas podem ser comentados; (3) nível dos

artefatos, comportamentos e normas que são visíveis e tangíveis, definidos como as

estruturas e processos organizacionais, coisas visíveis mas difíceis de decifrar.

Pode-se dizer que todas as organizações têm elementos culturais que as

distinguem, sejam elas pequenas empresas familiares, sejam empresas globais. Em

todas, há influência de nacionalidade; todas têm pressupostos acerca da natureza

humana, do tempo e do trabalho; todas têm crenças e valores que regem os

comportamentos e determinam as regras/normas de conduta e de trabalho; todas têm

39

artefatos como móveis, equipamentos e outros, cuja disposição e cujo uso são

influenciados pelos pressupostos assumidos.

Uma questão importante a ser considerada é o fato de muitas organizações terem

bases geograficamente dispersas, frequentemente em diferentes países. A cultura

nacional exerce influência sobre a cultura local de uma organização e, independente

dessa cultura,os aspectos nos quais as bases nacionais mais frequentemente diferem

estão relacionados aos valores, à estrutura de poder, à igualdade/desigualdade social e

aos valores individuais e grupais (HOFSTEDE; NEUIJEN; OHAVY;SANDERS,

1990).

Do ponto de vista de diferenças culturais nacionais,Hofstede (1998) aponta que

estudos dessa natureza devem considerar quatro dimensões principais2:

1) Distância do poder (pequena ou grande);

2) Aversão à incerteza (forte ou fraca);

3) Individualismo ou coletivismo;

4) Masculinidade ou feminilidade (papéis sociais assumidos pelos

gêneros).

Seus estudos foram fortemente criticados ao longo do tempo com alegações de

que não se pode medir cultura usando survey (metodologia que usa instrumentos de

pesquisa quantitativos);de que nações não são unidades de análise apropriadas; de que o

estudo de subsidiárias de uma empresa não prove informação sobre o pais; de que os

dados usados para validar seu modelo teórico são obsoletos, porque foram coletados na

década de 1970 (HOFSTEDE, 1998, p. 480-481).

Recentemente Hofstede apresentou a evolução do que denomina sua “doutrina”,

rebatendo as críticas que lhe foram feitas ao longo do tempo (MANKOV; HOFSTEDE,

2011). Nesse texto, suas argumentações são:

1) constructos, como cultura e suas dimensões, são ideias complexas que

refletem fenômenos existentes. Assim, não são a realidade em si e, como

tal, são apenas uma forma de se organizar os impressões que se tem

acerca de uma realidade;

2 Mais recentemente foi incluída uma dimensão ligada ao confucionismo, para diferenciar culturas

asiáticas dentre si. Cf. MINKOV; HOFSTEDE, 2011.

40

2) Não há uma “melhor maneira” de se construir dimensões, sejam elas

culturais, sejam psicológicas sejam de outra natureza.assim, não se

pergunta se elas são verdadeiras ou não, mas sim se são ou não coerentes

entre si;

3) Modelos diferentes e suas dimensões terão diferentes méritos,

dependendo do que os pesquisadores buscam explicar;

4) Validade de face (baseada na semântica das palavras usadas em um

questionário) não pode ser uma exigência rigorosa em uma análise

intercultural de culturas nacionais;

5) Há uma grande discussão na área de Ciências Sociais acerca dos

méritos de pesquisas dedutivas ou indutivas. A escolha de Hofstede é por

pesquisa indutiva, que começa com dados empíricos e, a partir daí, busca

construir modelos e teorias;

6) O uso de métodos quantitativos para a análise de culturas vêm sendo

criticado porque se alega que esse tipo de metodologia não capta a

riqueza dos aspectos culturais.Os autores não contradizem a afirmação,

mas apontam que gerar números exige a interpretação dos dados, e esse é

um aspecto subjetivo considerado por eles (MINKOV e HOFSTEDE,

2011, p. 17-18).

2.4.2. Cultura organizacional e implantação de sistemas ERP

Considerando-se o modelo de sistemas do tipo ERP, com desenho padronizado e

soluções para diferentes demandas nas organizações, a análise da cultura nacional ocupa

um papel importante na análise dos comportamentos dos atores envolvidos com a

implementação (KAPPOS; RIVARD, 2008).

De acordo com Kappos e Rivard (2008), uma revisão da literatura de Tecnologia

da Informação – TI aponta que estudos relacionando cultura e TI são classificados em

seis grupos: (1) cultura e desenvolvimento de TI; (2) Cultura, adoção de TI e difusão;

(3) Cultura, uso de TI e resultados; (4) Cultura, gestão de TI e estratégia; (5) Influência

41

da TI na cultura; (6) Cultura de TI. O presente estudo está alinhado ao grupo 3: cultura,

uso de TI e resultados.

Nas empresas de base global, é frequente o processo de expatriação de

funcionários para que gestores da sede possam se relacionar com gestores locais,

facilitando, assim, a compreensão das diferenças culturais. Além da internacionalização,

têm-se também os movimentos de fusão e incorporação como uma das tendências de

crescimento de organizações. As interações interculturais desempenham um grande

papel nessas situações, envolvendo não só a cultura nacional como a organizacional. O

movimento de fusão e incorporação é a situação cultural analisada no estudo de caso

que se desenvolve no presente trabalho.

No caso de aquisição de uma empresa por outra empresa estrangeira, a

compradora normalmente impõe à empresa que foi comprada a sua cultura e os

elementos da cultura do seu país de origem. Uma outra maneira de intervenção é não

integrar as duas culturas, o que também causa grandes problemas pela diferença entre

esquemas referenciais e modelos de atuação. De qualquer forma, sempre que duas

organizações entram em processo de cooperação (de qualquer natureza) sempre haverá

o choque entre duas culturas distintas. Conforme menciona Hofstede (2003, p. 262), as

aquisições estrangeiras conduzem muitas vezes à destruição do capital humano e, por

consequência, à do capital financeiro.

Apesar de todas as críticas que se faz ao modelo de Hofstede, e assumindo-se

como factíveis as suas argumentações a favor de seu modelo, considera-se que algumas

das práticas de trabalho apresentados em seu artigo "Atitudes, Valores e Cultura

Organizacional : libertando os conceitos" (HOFSTEDE, 1998) possam ser usados na

análise da cultura organizacional.

O Quadro 6 apresenta essas práticas e os níveis de análise propostos no presente

estudo.

Dentre as 79 dimensões categorizadas em 7 fatores o quadro 6 apresenta 5

dimensões que foram escolhidas por serem características na empresa Beta.

42

Quadro 6 - Práticas de trabalho e níveis de análise da cultura

Nível de análise:

Crenças e valores

assumidos

Justificativas para escolhas

estratégicas, definição de metas e

apresentação das políticas da

organização

Russo, 2010

Dimensões de

trabalho

Recepção de informação suficiente

de outras áreas da empresa

Solicitação de tarefas desafiadoras

Definição clara de quanto o

trabalho/atividade é importante

Perda de tempo corrigindo erros

Importância da liberdade no

trabalho

Hofstede, 1998

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

2.4.3. Gestão de Mudanças

Na história, viu-se que os primeiros grupos humanos agiam de forma a manter

seu status quo, vivendo de forma extrativista e sujeitos às condições que lhe eram

impostas. Ao se estabelecerem as primeiras comunidades, houve a necessidade de

mudar geograficamente, pois se exauriam os recursos de caças nos território nos quais

se fixavam. Ao longo do tempo, observou-se que os riscos de mudança foram sendo

assumidos porque os grupos precisavam encontrar novas áreas que assegurassem a sua

sobrevivência, ou ainda, percebeu-se ser necessário brigar por áreas que já estivessem

ocupadas por outros grupos (GONÇALVES, 2012).

43

Com a agricultura, criaram-se as aldeias, os muros e os obstáculos contra os

inimigos, minimizando-se o risco da mudança. Essa aversão primitiva à mudança

mantém-se psicologicamente viva em cada ser humano, como disse Charles Darwin: “O

homem ainda traz em sua estrutura física a marca indelével de sua origem primitiva.”

Ainda sobre mudança, tem-se a ideia expressa no texto de Heráclito: “nada existe de

permanente senão a mudança” (GONÇALVES, 2012, p.3).

Ainda sobre a predisposição das pessoas à mudança, é comum se ver a

afirmação: “somente 10% das pessoas aceitam as mudanças de imediato, 20% aceitam

com pouco esforço de gestão da mudança, 40% com muito esforço e 30% só aceitam

depois que a mudança foi bem sucedida.”(GONÇALVES, 2012). À medida que o

tempo passa, o ser humano também altera seu comportamento. O apego ao status quo,

por exemplo, também se modifica.

Promover uma mudança contínua é um trabalho árduo e complexo, no qual o ser

humano precisa se adaptar para sobreviver, pois o mundo sempre esteve e está em

mudança e, principalmente, nas ultimas décadas, a velocidade foi ainda maior, mudando

não só a tecnologia, mas também os hábitos das pessoas.

Todas essas mudanças de comportamento humano demandam adequações nas

organizações. O cenário competitivo já não é mais o mesmo de décadas passadas— as

diferenças dão espaço a estratégias mais adequadas às demandas. Com isso, entende-se

que as organizações vão continuar passando por processos de reestruturações e para

assegurar o sucesso de sua evolução, dependerão da competência das mesmas

organizações em gerir o fator humano em seus projetos de mudança. Gonçalves (2012)

ainda menciona que se vive um momento da história humana no qual o que muda é a

velocidade com que as mudanças estão ocorrendo.

Existem estratégias de mudanças chamadas mudanças impositivas, nas quais há

uma situação imposta ou a proposta de extinção de práticas ou de outros aspectos

relacionados à cultura anterior. Geralmente, isso ocorre em empresas altamente

hierarquizadas, nas quais as pessoas têm pouco acesso à decisão sobre a implantação

das mudanças. Isso gera um clima organizacional no qual as pessoas não se engajam no

propósito da organização, porque não se identificam com as novas práticas ou com a

nova cultura imposta.

44

Outro tipo de mudança é a negociada, participativa, que parte de um objetivo,

gerando um propósito e levando em consideração o fator humano e sua complexidade.

Essa abordagem é proposta como geradora de mais valor para a organização pela

possibilidade de maior engajamento das equipes, por isso facilita a renovação e o

aprimoramento de procedimentos bem como a superação de metas. Em mudanças

negociadas, o espírito de equipe se faz presente e as pessoas se sentem como parte do

sistema integrado, tendo amplo envolvimento com o processo.

Com base nesses dois conceitos, a estratégia de mudança vem para trazer

melhores resultados no tempo, sendo perene no desenvolvimento da organização.

Mudanças podem fortalecer a cultura organizacional, se houver engajamento de todos,

podendo levar a organização a um nível de competitividade diferenciado.

Todavia, embora necessárias, as mudanças trazem por si o desconforto e até

mesmo a dor para aqueles que a estão vivenciando no ambiente organizacional. Embora

mudanças sejam inevitáveis, é necessário ter em mente que a passagem de uma fase

para a outra da mudança implica uma etapa de queda de produtividade e readequação,

que é conhecida como “vale do desespero”(Gonçalves, 2012).

Essa fase ocorre, é inevitável e o tempo de sua duração vai depender da eficácia

do processo de gestão da mudança, ou seja, da capacidade de promover estratégias

capazes de levar os envolvidos a atravessar o mais rápido possível esse momento.

Considera-se importante, para esse estudo, o comentário de Gonçalves (2012, p.

10): “assim como o gerente de um projeto deve conduzir a gestão de prazos custos,

qualidade, etc. também a gestão de mudanças deve estar em seu “radar” para que o

projeto seja bem sucedido”. Assim, o processo de gestão de mudança não é operacional,

é estratégico e deve levar em conta o fato de que as atividades/rotinas são substituíveis,

porém as pessoas não o são. Seus conhecimentos, suas habilidades e suas experiências

não são repostos no curto prazo.

Existem ainda várias outras questões a serem consideradas na gestão de

mudanças. Quanto mais complexas forem às mudanças mais implicarão em mudanças

estratégicas, estruturais, em mecanismos de coordenação, em medidas de desempenho

diferenciadas, em incentivos ao comportamento e em mecanismos de controle. O

atendimento a esses quesitos será determinante para o sucesso ou fracasso da execução

da estratégia (HREBINIAK, 2005, p. 255).

45

Segundo Hrebiniak (2005, p.255), a incapacidade de gerenciar mudanças é o

maior obstáculo para execução da estratégia, devido à alta complexidade dos passos

requeridos para uma mudança eficaz. Dentre eles estão: a avaliação do tamanho e

conteúdo da mudança estratégica, o tempo disponível para essa execução, as táticas

empregadas nessa mudança, a responsabilidade e opinião dos envolvidos, a superação

das resistências e a definição de controles para monitorar o resultado da gestão da

mudança.

Hrebiniak (2005, p. 256) ainda afirma que a mudança complexa é difícil e

arriscada. O risco está ligado a questões visíveis quando o problema é estratégico, o

marco temporal é curto e muitas tarefas precisam ser atendidas ao mesmo tempo. Esses

problemas difíceis e simultâneos são caracterizados por sobrecarga de tarefas, não sendo

possível fazer uma análise de causa-efeito. Dessa forma, prejudica-se a aprendizagem

organizacional pelo desconhecimento, por falta de clareza entre a causa e efeito e por

não haver nenhuma redução dos requisitos de desempenho e suas responsabilidades, o

que fatalmente gera um resultado deficiente nas mudanças complexas.

A mudança sequencial é uma boa alternativa quando os problemas estão

iminentes, pois segrega a mudança em elementos menores, administráveis, que mudam

para o próximo apenas quando o anterior estiver implantado de forma satisfatória.

Contudo, existe a desvantagem do tempo, que é longo, e o processo se torna menos

estimulante. Mesmo assim, pode-se afirmar que é uma forma racional e metódica de

lidar com grandes mudanças.

Conforme já discutido no tópico sobre cultura, é importante lembrar que o

sucesso da gestão de mudança também depende da cultura e da superação de

resistências à mudança, já que se sabe que o individuo é resistente a ponto de não entrar

efetivamente no programa de execução, podendo sabotar as mudanças ou levá-las a

falhas. Por isso, conclui-se que administrar mudanças de forma eficaz é claramente um

ingrediente importante para fazer a estratégia funcionar.

Todavia existem diferenças nas capacidades organizacionais na administração de

mudanças; algumas organizações executam mudanças muito bem, enquanto outras as

executam como um desastre, o que corrobora o entendimento de que administrar bem

mudanças é uma marca distintiva da execução bem sucedida do processo.

46

Como afirma Sergio Hartenberg, CEO da L’oréal Brasil: “Após anos

conduzindo projetos, tornou-se claro para mim que o comportamento humano é a

questão mais importante para o sucesso das mudanças” (Gonçalves, 2012) .

O quadro 7 sumariza as mudanças no aspecto de aceitação , conforme

Gonçalves, demonstrando a dificuldade de aceitação que as pessoas tem ao que diz

respeito a mudanças, assim como as relevantes estratégias de mudança, as quais

poderão ser de forma impositiva ou negociada, mas ambas tem um impacto do

envolvido.

Quadro 7 - Sumário de Mudanças

Aceitação da mudança

10% imediato

20% pouco esforço

40% muito esforço

30% depois que a mudança foi bem sucedida

Gonçalves, 2012

Estratégias de Mudanças

Mudança Impositiva - situação imposta

Mudança Negociada - parte de um objetivo e gera um propósito

Gonçalves, 2012

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

2.4.4. Aspectos Comportamentais

Geralmente, o foco da gestão de mudança se concentra em três variáveis:

estrutura, cultura e pessoas, porque a mudança envolve modificação de atitudes e

comportamentos (ROBBINS, 2008). Os temas de Desenvolvimento Organizacional são

utilizados quando se fala de alteração de funcionários, pois reúnem técnicas para

entender, mudar e desenvolver a força de trabalho de uma organização, com a finalidade

de melhorar sua eficácia, fundamentados em valores humanistas e democráticos. De

acordo com Robbins (2008, p468), nessa linha de estudo se enfatiza o conjunto de

47

valores subjacentes, atribuindo-se importância ao crescimento humano e organizacional,

à colaboração e participação e ainda ao espírito investigativo.

Uma das características da Teoria Comportamental da Administração é a ênfase

em aspectos como motivação, liderança, comunicação, decisão. Pode-se dizer que as

empresas são visualizadas como sistemas de decisões, com os quais as pessoas

percebem, sentem, decidem, agem definindo seu comportamento de acordo com a

situação em que se encontram. Da mesma maneira, defendem a linha do

Desenvolvimento Organizacional para as modificações comportamentais a fim de

melhorar a eficiência e eficácia das empresas.

A percepção das pessoas é a primeira questão a ser analisada em termos

comportamentais. Afinal, seus valores e história pessoais agem como um filtro para

selecionar aspectos ambientais, o que pode alterar a forma como analisam as

informações, afetando, assim,o modo como essas pessoas se comportam.

Aspectos que podem minimizar a resistência a mudanças são educação,

comunicação, participação, facilitação e apoio, negociação, manipulação, cooptação e

coerção. Quando se analisa a resistência a mudança no âmbito de gestor, deve-se

considerar ainda aspectos relacionados à estrutura hierárquica, à cultura, à tecnologia,

ao ambiente e às pessoas.

O quadro 8 apresenta o sumário dos aspectos comportamentais com os seus

modelos de adaptação de mudanças, que podem ser minimizados através dos filtros de

cada envolvido e seu posicionamento dentro da organização.

Quadro 8 - Sumário dos Aspectos Comportamentais

Aspectos comportamentais importantes

Sistema de decisão das pessoas no ambiente

organizacional:

Percepção

Sentimento

Decisão

Motivação

Liderança

Comunicação

Equipe

Robbins, 2008

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

48

3. Procedimentos Metodológicos

3.1. Tipo de Pesquisa

Foi adotado o tipo de pesquisa explicativa. Gil (1999) ressalta que as pesquisas

explicativas visam a identificar os fatores que determinam ou contribuem para a

ocorrência dos fenômenos. Por explicar a razão e o porquê das coisas, essa é o tipo de

pesquisa que mais aprofunda o conhecimento da realidade. Pode-se dizer que

conhecimento científico está assentado nos resultados oferecidos pelos estudos

explicativos.

De acordo com Beuren et al. (2009, p. 83), as pesquisas explicativas não são tão

comuns, pois elas geram estudos mais aprofundados sobre os determinantes da

ocorrência dos fenômenos. A relevância de pesquisas dessa natureza está no grau de

maturidade e no detalhamento do estudo para que se responda o problema de pesquisa.

3.2. Método de Pesquisa

O estudo está qualificado como um estudo de caso, pois se trata de uma

investigação empírica que avalia um fenômeno contemporâneo no qual os limites entre

o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 2005, p. 32). Além

disso, enfrenta uma situação em que há variáveis de natureza técnica e variáveis de

natureza comportamental, sendo que a separação entre esses grupos de variáveis nem

sempre é clara. Assim, trata-se de uma situação complexa para investigação de outra

natureza que não seja a qualitativa.

No presente estudo, há um caso único, o que se justifica por se tratar de uma

condição na qual a pesquisadora pretende aprofundar o conhecimento relacionado à

implantação de um sistema de informação do tipo ERP em uma das bases de uma

empresa global (base da Argentina). De acordo com Yin (2005), o método do estudo de

49

caso não precisa ser, necessariamente, exploratório descritivo. Ele permite o

desenvolvimento de estudos explanatórios, caso do presente estudo.

Outra justificativa para a escolha do método do estudo de caso é a possibilidade

de se investigar características e eventos significativos da vida real – tais como ciclos da

vida organizacional, processos administrativos e mudanças, dentre outras

possibilidades.Com relação ao método de investigação científica, o estudo de caso

segue etapas, como coleta de dados, análise dos dados e construção de relatórios de

pesquisa. Além disso, considera: (1) o tipo de questão de pesquisa proposto (como, por

quê?); (2) a extensão do controle que um investigador tem sobre os eventos

comportamentais reais (baixo controle comportamental);(3) o grau de enfoque sobre os

eventos contemporâneos em oposição aos eventos históricos (alto foco na

contemporaneidade) (YIN, 2010, p.30).

Há discussões acerca das limitações do uso do método do estudo de caso. Por

exemplo, Trkman (2010, p. 128) comenta o fato de se estudar um único caso, o que

pode dificultar a generalização do estudo para outras empresas ou situações análogas.

Da mesma forma, apontam-se as restrições especialmente no tocante à construção de

uma teoria explicativa que, gerada a partir do caso, possibilite condições para se

fazerem inferências analíticas sobre proposições. Essas críticas são relevantes se o

pesquisador não atentar para os critérios propostos para se atestar a validade e a

confiabilidade de um estudo gerado pelo método do estudo de caso.

Há três tipos de validade (YIN, 2005, p. 55):

a. Validade do constructo: refere-se ao estabelecimento de medidas operacionais

corretas para os constructos que estão sendo estudados. Em outras palavras, as

questões do roteiro de pesquisa captam a realidade que se pretende investigar;

b. Validade interna: refere-se à construção de explanações e á análise de

explanações concorrentes no presente estudo, refere-se à análise que se faz das

respostas dadas às mesmas questões por diferentes entrevistados;

c. Validade externa: refere-se ao estabelecimento do domínio ao quais os

resultados do estudo podem ser generalizados. No presente estudo, trata-se da

análise da aderência das respostas aos conceitos teóricos identificados na

literatura.

50

A confiabilidade da pesquisa refere-se ao controle que se teve na elaboração do

protocolo de pesquisa e na coleta de dados. Mostra que as operações para realizar o

estudo (como o recolhimento de dados) podem ser repetidas em diferentes momentos,

esperando-se encontrar os mesmos resultados.

O quadro 9, baseado em Menezes (2010, p.13), mostra como dois autores

clássicos da área de pesquisa qualitativa (YIN, 1994; EISENHARDT, 1994) apresentam

os passos necessários para o uso da metodologia do estudo de caso. Adaptou-se o

quadro, inserindo-se, na última coluna, os passos adotados no presente estudo.

Quadro 9 - Fases da Metodologia Estudo de Caso

Fases Yin Eisenhardt Estudo de Caso

Questão de Pesquisa Definição da Questão

Pesquisa

Definição da Questão

Pesquisa/ Possíveis

Modelos Anteriores

Definição da Questão

Pesquisa

Hipóteses Proposições Teóricas Nem Teoria, nem

Hipóteses Proposições Teóricas

Unidade de Analises Unidades e População

Específicas

Unidades e População

Específicas

Unidades e População

Específicas

Revisão de Literatura Base para a construção do

modelo conceitual

Base para a construção do

modelo conceitual Base para a construção do

modelo conceitual

Modelo Conceitual

Teórico

Estabelece um modelo

teórico a ser testado

Seleção de Casos

Amostra selecionada com

critérios técnicos e não

randomizadas

Amostra selecionada com

critérios técnicos e não

randomizadas

Amostra selecionada com

critérios técnicos e não

randomizadas

Ferramentas de

Modelagem e Protocolo de

Coleta de Dados

-Vários Métodos de

Coleta de Dados

- Dados Quantitativos e

Qualitativos Combinados

-Vários Métodos de

Coleta de Dados

- Dados Quantitativos e

Qualitativos Combinados

- Coleta de

Dados:Entrevista semi

estruturada

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

51

3.3. População e Amostra

Como se trata de estudo de caso único, o conceito de população e amostra não se

aplica nem para a seleção da empresa, que foi escolhida por conveniência, nem para a

seleção dos respondentes.

Os respondentes (dez) foram selecionados com base no seu envolvimento com

os aspectos estratégicos, táticos ou operacionais relacionados com a implantação do

sistema ERP – módulo custos, na empresa BETA, do setor de autopeças. Foi

selecionada para estudo uma das plantas da empresa, a localizada em Pacheco

(Argentina), tendo em vista que tal planta foi recentemente adquirida pela empresa

BETA (era uma empresa independente) e, como tal, não tinha sistemas de informação

ou de controle gerencial alinhados às demais bases da empresa. Assim, havia a

premência para a implantação do sistema para que a matriz tivesse informações que

possibilitassem o gerenciamento e o controle operacional dessa nova planta.

O quadro 10 mostra os 10 respondentes, com seus respectivos cargos, tempo de

empresa, a data que a entrevista foi concedida, qual idioma e Localidade.

Quadro10 – Caracterização dos entrevistados

Resp

onde

ntes

Cargo Data

Entrevista

Tempo

de

Empresa

Idioma Local

A

B

C

D

E

F

G

H

I

J

Presidente

Vice-Presidente Financeiro

Gerente de Sistemas

Diretor de Compras

Analista de SAP

Gerente Global do Projeto

Gerente de Planta

Analista de Custos

Gerente de Controladoria

Analista de Contas a Pagar

11/11/13

11/11/13

18/11/13

11/11/13

18/11/13

14/11/13

14/11/13

12/11/13

12/11/13

12/11/13

1 ano

1 ano

4 anos

4 anos

4 anos

5 anos

3 anos

1 ano

1 ano

1 ano

Português

Português

Português

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Espanhol

Espanhol

Espanhol

Espanhol

São Paulo -BR

São Paulo -BR

São Paulo -BR

São Paulo -BR

São Paulo -BR

Pacheco - AR

Pacheco - AR

Pacheco - AR

Pacheco - AR

Pacheco - AR

Fonte: elaborado pela autora.

52

3.4. Procedimentos de Coleta de Dados

A coleta de dados foi feita utilizando-se entrevistas semiestruturadas, seguindo

um roteiro previamente estabelecido para atender aos objetivos intermediários da

pesquisa. Conforme Richardson (2007, p. 7), a entrevista é uma técnica importante que

permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas. É um modo de

comunicação no qual determinada informação é transmitida de uma pessoa para a

outra− por definição é uma comunicação bilateral, com objetivo de se obterem

informações detalhadas que possam ser utilizadas numa analise qualitativa, linha de

análise desta pesquisa.

Conforme exposto no Quadro 10, os entrevistados ocupam cargos de diferentes

níveis hierárquicos, de modo que se pode entender a visão estratégica, tática e

operacional, conforme proposto. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas na

íntegra. Houve quatro entrevistas em língua espanhola, uma em inglês e cinco em língua

portuguesa. Para análise dos dados, os textos foram traduzidos para o português pela

pesquisadora, que é fluente nas línguas citadas.

O roteiro de pesquisa é apresentado abaixo. Nem todos os entrevistados

respondiam às mesmas questões, pois havia o direcionamento para os níveis estratégico,

tático ou operacional. Assim, as respostas dos entrevistados serão apresentadas dentro

desses grupos. As letras entre parênteses mostram quais sujeitos responderam a quais

questões, conforme a classificação dos respondentes que aparece no Quadro 10.

Não houve uma padronização de tempo de duração das entrevistas, elas tiveram

uma média de 15minutos, não tendo interferência do entrevistador, somente para algum

esclarecimento, caso o entrevistado não tivesse compreensão da pergunta. Todas as

entrevistas foram presenciais, agendadas formalmente no sistema de agendamento

eletrônico da empresa Beta.

Nenhum entrevistado demonstrou resistência nas respostas, conforme descrito

acima, os entrevistados ocupam níveis hierárquicos diferentes. Os entrevistados foram

escolhidos de acordo com o seu envolvimento na implantação, sua posição hierárquica e

a área atuante, de modo a ter uma coleta de dados de diversas áreas para não deixar a

pesquisa focada somente em uma visão especifica de nível hierárquico ou setor.

53

Questionário Geral

Quais foram os aspectos que determinaram a implantação do sistema na

Argentina? (a,b,c,d)

Em relação ao mercado, a implantação do sistema de custos pode ser

considerada uma estratégia de competitividade? Por quê? (a,b,c,d, f,g)

Após a implantação, quais são os fatores críticos que poderiam ser

considerados de sucesso? (todos)

Após a implantação, quais são os fatores críticos que poderiam ser

considerados de insucesso? (todos)

Em termos conceituais, qual foi o motivo que levou a empresa a optar pelo

modelo de custo standard no modulo de custos na implantação do sistema?

(a,b,f)

Em sua opinião, as informações estratégicas de custos ficaram melhores ou

piores após a implantação do o módulo de custos? Você pode dizer por quê?

Dar exemplos? (a,b,d)

Em sua opinião, houve influência de aspectos culturais sobre esta implantação?

Explique. (a,b,f,i)

Você já fez implantações no mundo todo. Quais aspectos regionais podem ser

destacados como fatores de sucesso ou insucesso nessa implantação? (c,f,e)

Como os aspectos comportamentais dos envolvidos influenciaram a

implantação, tanto para o sucesso quanto para o insucesso do projeto? (todos)

Tecnicamente, quais fatores tiveram influencia para o sucesso ou insucesso na

implantação do sistema? Explique por quê. (b,c,d,e,g,h,i,j)

Você acha que a implantação na Planta Pacheco pode servir de modelo para

outras implantações. Quais foram as “Lições Aprendidas”? (a,b,c,d,e,f)

Com relação à pesquisa, o Senhor gostaria de fazer alguma consideração

adicional? (todos)

54

3.5. Procedimentos de Tratamento dos Dados

Foi feita a análise de conteúdo das pesquisas efetuadas. Segundo Gil (1999), a

interpretação dos dados tem por objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas,

mediante a ligação com os outros conhecimentos já assimilados (RICHARDSON,

1999).Como havia um roteiro de entrevista, considerou-se que cada pergunta

correspondesse a uma categoria. Assim, partiu-se de categorias pré-estabelecidas que

em seu conjunto podem atender ao objetivo geral do estudo: analisar os fatores críticos

de sucesso na implantação do sistema de custos na indústria Beta de autopeças,

considerando-se variáveis comportamentais, culturais e técnicas relacionadas à

implantação.

3.6. Aspectos Éticos

Como se trata de trabalho desenvolvido dentro de uma empresa, foi colhida a

autorização formal da empresa para o desenvolvimento do trabalho. Ela não está

disponibilizada, pois se busca garantir o anonimato da empresa. Todavia, encontra-se

em poder do pesquisador, podendo ser apresentada em qualquer situação que se faça

necessária.

Quanto aos procedimentos éticos, foi feito o termo de livre esclarecimento no

qual havia a explicação dos objetivos da pesquisa e a assinatura e o endereço do

pesquisador e do orientador, possibilitando que o entrevistado entre em contato a

qualquer momento, caso assim o deseje. Quanto à anuência para participação, essa era

colhida de forma verbal, e a entrevista só começava após o entrevistado concordar com

a participação no projeto− essa concordância está gravada. O termo está no Apêndice A.

55

4. Apresentação e Discussão dos Resultados

Apresentam-se, a seguir, os resultados encontrados na pesquisa. Os passos de

apresentação são os seguintes: (1) descrição da empresa que é objeto do presente estudo

de caso (item 4.1); (2) aspectos estratégicos relacionados à implantação (item 4.2); (3)

aspectos conceituais de Custos relacionados à implantação (item 4.3); (4) aspectos de

implementação de Sistema ERP (item 4.4); (5) aspectos comportamentais relacionados

à implementação de Sistema ERP (item 4.5); (6) considerações adicionais dos

entrevistados da Pesquisa (item 4.6).

O Quadro 11 apresenta quais categorias estão associadas a cada objetivo

específico do estudo. Cada categoria corresponde a uma questão do roteiro de

entrevista.

Quadro 11 - Questões X Roteiro de Entrevista

Objetivos específicos / Categorias Questões

Aspectos Determinantes para a Implantação do Sistema ERP 1,2,6

Fatores Críticos de Sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina 3,4

Como os traços culturais influenciaram na implantação do sistema na base

da Argentina 7,8

Fatores Comportamentais considerados críticos de sucesso ( FCS) na

implantação do sistema na base da Argentina 9

Quais aspectos técnicos foram considerados fatores críticos de sucesso

(FCS) na implantação do sistema na base da Argentina 10

Com base nos fatores críticos de sucesso (FCS) identificados , apontar

diretrizes para a implantação do mesmo em outras bases da empresa. 11 e 12

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

56

4.1. Caracterização da Empresa Beta

A empresa-objeto do caso será apresentada como empresa Beta, seguindo

solicitação da própria empresa, considerando-se o caráter público da dissertação.

4.1.1. O fundador da empresa

O fundador da empresa nasceu na Áustria e emigrou para o Canadá em 1954.

Começou com um trabalho de ferramentaria e engenharia no fundo do seu quintal, de

maneira informal. Em 1957, ocorreu a formalização do negócio como ferramentaria;

posteriormente, o negócio se expandiu para a produção de componentes automotivos.

No início do negócio, o fundador criou sua filosofia de gestão, que é conhecida

como Empresa Faire que se baseia em uma “Carta dos Direitos” do negócio, a qual

predeterminava o percentual anual de lucros compartilhados entre funcionários, gestão,

investidores e da sociedade. Tratava-se de uma visão inovadora para a época— e hoje é

comentado na empresa, em encontros formais, como tendo sido o fator de sucesso de

negócio.

O fundador da empresa atuou em vários órgãos sociais, governos e

universidades e prestou assistência a uma ampla gama de organizações de serviços de

caridade e da comunidade. Com suas atividades, conquistou vários prêmios como

empreendedor e empresário de destaque.

Conforme se destaca no item sobre cultura organizacional, os valores do

fundador são determinantes da formação da cultura organizacional. No caso da empresa

Beta, essa influência pode ser observada pela ampla divulgação que a empresa dá à

“Carta Beta”, conjunto de “credos” do fundador, que norteiam as políticas e práticas de

gestão da empresa. Essa carta é a base da cultura empresarial, considerada internamente

como “forte, que constrói a propriedade e inspira orgulho dos funcionários” (conforme

informação no site da empresa3.

3Intranet da empresa, consultada em out. de 2013. Convém ressaltar que, firmado o compromisso de

anonimato com a empresa Beta, uma das consequências é a omissão das referências formais a qualquer

meio que possa identificá-la. Isso justifica a ausência da referência esperada neste passo do texto.

57

Essa carta de princípios, além de estar na intranet da empresa, também se

encontra afixada em várias de suas dependências, em suas diferentes plantas e em

setores administrativos. Conforme observação da pesquisadora, é cobrado dos gerentes

que suas atividades sejam geridas de acordo com esses princípios. Por exemplo,

recentemente houve uma vaga para contratação em um setor administrativo. Como um

dos princípios é Tratamento Justo −" A Beta oferece oportunidades iguais com base nas

qualificações e desempenho individuais, sem quaisquer discriminações ou favoritismo."

−, primeiro a vaga foi divulgada internamente e somente depois aberta ao mercado.

Antes de se abrir a contratação para elementos externos, foi feita a divulgação

interna da vaga em todas as unidades da Beta no país. Esses dados apresentados,

embora colhidos por observação e comentários informais, são indícios das crenças e dos

valores que regem os comportamentos e determinam as regras/normas de conduta e de

trabalho, conforme já se discutiu.

4.1.2. A empresa no mercado atual (2013)

A empresa Beta é um fornecedor automotivo reconhecido pelo mercado como o

mais diversificado do mundo. A empresa projeta, desenvolve e fabrica sistemas

automotivos, conjuntos, módulos e componentes; também faz montagem de veículos

completos, principalmente para venda a fabricantes de equipamentos originais (Original

Equipment Manufacturer- OEMs) de carros e caminhões leves de três segmentos

geográficos: América do Norte, Europa e demais regiões do mundo, o que engloba

Ásia, América do Sul e África.

A sua tecnologia inclui o design, engenharia, testes e fabricação de sistemas de

interiores automotivos, sistemas de assentos, sistemas de fechamento, corpo de metal e

sistemas de chassis, sistemas de espelhos, sistemas de exterior, sistemas de teto,

sistemas eletrônicos, sistemas de power train, bem como engenharia de veículos e

montagem completa.

A empresa se compõe da seguinte forma: 315 operações de fabricação, 87 centros de

desenvolvimentos de produtos diversos centros de engenharia e de vendas em 29 países,

nos cinco continentes (esse número não está exato porque há alterações constantes).A

Beta é fornecedora das principais grandes marcas do mercado automotivo como Ford,

58

Fiat, GM, Mercedes-Benz, Renault, Peugeot, Alfa, BMW, Ferrari, Chrysler, Porsche

entre outras.

Veja-se o Histórico das Bases da empresa nas diferentes regiões em que atua:

América do Norte: Começando com Henry Ford e a linha de montagem no

início de 1900, a indústria automobilística na América do Norte sofreu muitos

altos e baixos, e hoje continua sendo um das maiores e mais importantes

indústrias do mundo em termos de vendas e de produção. A presença no

continente é significativa, com sede mundial em Aurora, Ontário, e mais de 160

instalações e mais de 58.000 funcionários em todo o Canadá, o México e os

Estados Unidos.

América do Sul: se tornou um dos mercados de automóveis mais quentes do

mundo nos últimos anos, liderado pelo Brasil e Argentina. Montadoras globais

têm aumentado o investimento e a produção na região, na esperança de lucrar

com um boom econômico e de crédito concedido para a classe média. Em apoio

a vários clientes globais, a empresa também tem experimentado um crescimento

significativo na região. Hoje, tem quatorze fábricas, duas de desenvolvimento de

produtos, engenharia e instalações de vendas, e mais de 5.400 funcionários.

África: Esse continente, particularmente a África do Sul, está cada vez mais se

tornando um importante centro de produção automotiva, já que faz a transição

para uma economia mais aberta, que apoia a produção em grande escala com

empresas nacionais e de exportação. Como essa transição ocorre, a empresa tem

um olhar atento sobre o mercado africano que poderia, provavelmente, ser uma

área de crescimento futuro.

Ásia: uma vasta região de diversas culturas e pessoas, está passando por um

rápido crescimento e industrialização. O domínio crescente da Ásia na indústria

automotiva global, impulsionado em grande parte pelas vendas fenomenais e

crescimento da produção na China, é parte de uma mudança gradual na

economia global.A empresa tem crescido na Ásia desde meados da década de

1990 e hoje tem cerca de 9.400 funcionários em 37 fábricas e 22 escritórios de

vendas desenvolvimento de produtos e engenharia.

União Europeia: o maior produtor mundial de veículos automóveis e da indústria

automóvel, é essencial para a prosperidade da Europa. Lá, a empresa é um dos

principais fornecedores no mercado europeu, com destaque para as operações de

59

montagem de engenharia veículo completo em Graz, na Áustria. Com a Europa

Oriental e Rússia como principais regiões de crescimento, tem mais de 150

unidades e mais de 43.000 funcionários em toda a Europa.

4.1.3. A planta objeto do presente estudo de caso

A divisão onde o estudo de caso será desenvolvido é líder inovadora no

desenvolvimento e fabricação de sistemas de alta qualidade na América do Sul. Está

presente em 7 fábricas, tendo um escritório central localizado no Brasil. Dentro deste

cenário, há 4 plantas localizadas na Argentina e as outras 3 em diferentes estados do

Brasil. Essa divisão enfrenta três concorrentes também multinacionais, também

presentes no Brasil e Argentina.

Apesar de a Beta ser uma empresa sólida e com vários anos de mercado, esta

divisão na América do Sul é relativamente nova, pois surgiu há 3 anos e a empresa

como um todo está sendo construída / moldada aos padrões internacionais, com suas

normas e procedimentos.

A planta-objeto deste estudo de caso está localizada na América do Sul,

especificamente em Pacheco, próxima a Buenos Aires. Ela foi escolhida como objeto de

análise porque faz parte das quatro plantas que são fruto de aquisição de empresas de

origem familiar com sistemas precários ou inexistentes de controle gerencial. A alta

administração da empresa considerou que deveria ser implantado um sistema ERP para

integrar os dados dessa planta com a matriz e as demais plantas, propiciando a efetiva

integração da nova unidade ao complexo da empresa Beta.

Pelo caráter de empresa familiar e pelo fato de a empresa estar localizada em um

país diferente tanto da matriz (Estados Unidos) quanto da gestora da divisão (Brasil),

havia a suposição de que seriam necessários alguns procedimentos para integração das

culturas organizacionais. Como já se apresentou, a Beta tem uma cultura corporativista

claramente definida e, em cada país em que se instala, ela leva seu modelo de gestão

organizacional. Essa cultura pode entrar em conflito com a cultura organizacional

instalada, ou seja, com a visão de mundo compartilhada dentre aqueles que atuavam na

60

empresa anterior − a cultura corporativista se impõe em um processo de aquisição, mas

a cultura organizacional não se modifica imediatamente.

O objetivo geral da pesquisa é analisar os fatores críticos de sucesso na

implantação do sistema de custos na indústria Beta de autopeças, considerando-se

variáveis comportamentais e técnicas relacionadas à implantação. Acredita-se que

a cultura organizacional pode ser um desses fatores de sucesso ou insucesso. Assim, em

vez de se estudar uma base no Brasil, optou-se por estudar essa base em outro país,

tendo em vista que o aprendizado gerado por esse estudo pode propiciar a generalização

de recomendações de implantação de sistemas em outras bases da empresa, dada sua

características multinacional.

4.2. Aspectos estratégicos relacionados à implantação

Como se trata de uma empresa multinacional de grande porte, a fluidez de

gestão das informações entre as bases é necessária e, para tal, um sistema integrado é

visto como uma solução adequada, pois proporciona às atividades administrativa e

gerencial uma base de informações que lhes permite comparar as demais empresas

concorrentes, o que é vantagem competitiva.

As categorias analisadas a seguir foram estruturadas a partir do roteiro de

entrevistas. Cada questão é considerada uma categoria definida a priori. Todos os dados

são analisados dentro das categorias, segmentados por níveis estratégico, tático e

operacional, de acordo com os níveis ocupados pelos respondentes, o que pode ser

visualizado no quadro 9. Optou-se por essa estruturação tendo em vista que os

respondentes possam ter diferentes ponto de vista e diferentes níveis de envolvimento

com cada categoria analisada. Além disso, havia perguntas que eram direcionadas a

determinados níveis.

61

4.2.1. Categoria 1: Aspectos que determinaram a implantação do sistema

na Planta da Argentina

a- Nível estratégico (entrevistados A, B e D)

Os três entrevistados de cargos estratégicos tiveram a mesma visão dos aspectos

determinantes para a implantação de um sistema integrado na planta de Pacheco, na

Argentina:a necessidade de integrar as informações e padronizá-las, fazendo com que o

fator “distância geográfica” fosse minimizado através de informações integradas e

rápidas que possibilitassem visibilidade da operação e gerenciamento da empresa. Um

deles (B) destacou a importância de modificação dos aspectos culturais, de modo que

propiciassem a implantação do sistema.

A visão do entrevistado A (presidente da empresa) é a mais ampla dentre as

visões, o que é coerente com sua posição na empresa. Ele considera um grupo de razões

para a implantação do sistema ERP em uma empresa recém-adquirida, fruto de uma

aquisição de uma empresa nacional. Ele aponta um tripé: (1) melhorar o controle, dando

mais visibilidade e transparência na gestão; (2) integrar as atividades do Brasil e

Argentina, para que o Brasil faça uma leitura rápida dos resultados; (3) o país ser

considerado crítico em termos econômicos, o que causa muitos impactos financeiros.

Ele sintetiza afirmando que, sem sistema, a questão de controle e agilidade se torna

ainda mais complexa. O foco de sua resposta está no fato de a planta Pacheco ser um

novo elemento para a Beta:

...é um grupo de razões, a primeira razão, a Argentina era uma

operação nova para a BETA e fruto de uma aquisição, então precisava se

adotar um sistema de gestão para controla a grande quantidade de fábricas

que tínhamos lá e aquilo era uma empresa nacional... (entrevistado A)

De maneira muito similar ao entrevistado A, o entrevistado B (vice-presidente

Financeiro) também enfatiza que a planta era uma empresa recém-adquirida, mas dá

destaque à diferença cultural entre essa planta e as demais bases da Beta. Afirma que

seria preciso implantar processos, mas também uma nova cultura organizacional que

facilite a implantação de um sistema robusto que permita à matriz ter controle das

62

informações, minimizando os riscos do sistema caseiro que existia à época da aquisição.

Segundo o entrevistado B, o SAP tem essa característica de sistema robusto e permite,

se bem instalado e parametrizado, dar tranquilidade a uma gestão a distância, que era

um dos grandes pontos buscados.

...uma empresa que foi adquirida na Argentina, se tentando fazer uma cultura,

implementar novos processos, tinha que se definir por um sistema robusto,

visto que o sistema anterior era um sistema de pequeno porte com alguns

risco pro longo prazo do negócio ... (entrevistado B)

Da mesma forma que os entrevistados A e B, o entrevistado D (Diretor de

Compras) aponta que uma empresa multinacional do porte da BETA precisa de um

sistema que ofereça visibilidade e facilidade na emissão dos relatórios alinhados com o

padrão das unidades das outras regiões.

...visibilidade dos dados, mas que facilite a emissão dos reports, ou seja, tudo

padronizado com as unidades lá de fora, acho que esse foi o principal motivo.

(entrevistado D)

b- Nível Tático (entrevistado C)

Neste nível, optou-se por entrevistar apenas o Gerente de Sistemas, tendo em

vista que ele participou da decisão da escolha do sistema implantado. Embora sua

função seja tática em termos de gestão geral da organização, é estratégica para a decisão

sobre sistemas.

Para o entrevistado C, a decisão de implantação foi norteada pela necessidade de

se ter um sistema gerencial único para a América do Sul. Foram discutidos e analisados

outros sistemas, mas o SAP foi escolhido porque a organização já detinha o

conhecimento vindo da Europa com esse sistema, sendo considerado pelo Gerente de

Sistemas como o único que tinha a complexidade de conhecimento mundial.

...esta foi uma decisão que teve basicamente uns 8 a 10 meses de estudo para

ele, ai foi decidido o SAP para ser implementado a nível América do Sul

porque a organização já detinha o know-how vindo da Europa, esta foi a

decisão... (entrevistado C)

63

Resumo:

De acordo com os 4 entrevistados em níveis estratégico e tático, o que pode ser

observado é que a empresa buscou, na implantação desse sistema, algo que se

relacionasse a sua estratégia, o que se alinha ao que menciona Harwoord (2003): a

implantação do sistema ERP está profundamente relacionada à estratégia da

organização. A empresa BETA é uma multinacional e quer ter o controle da gestão

operacional das suas bases de onde ela estiver, não importando sua localização

territorial, pois a tomada de decisão final será sempre da matriz. Essa posição exclusiva

e valiosa que a matriz procura manter pode ser associada ao conceito de estratégia de

Porter (2003), reforçando a necessidade de as empresas estarem atentas ao mercado e à

forma como se comportarão diante destes. O fato de a Argentina sofrer uma oscilação

econômica grande faz com que os custos da empresa se alterem a todo momento e, se a

empresa não estiver estrategicamente bem posicionada junto aos clientes, ela perde ou

retarda a oportunidade de repasse.

Quanto aos aspectos culturais, não se pode concluir que sejam parte da decisão

estratégica, embora tenha sido citado por um dos entrevistados (B) como sendo um dos

requisitos para a implantação de procedimentos e sistemas.

4.2.2. Categoria 2: Em relação ao mercado, a implantação do sistema de

custos pode ser considerada uma estratégia de competitividade

a- Nível Estratégico (entrevistados A, B e D)

Para os entrevistados de nível estratégico, fica clara a necessidade de se ter um

sistema de Custos para a estratégia da empresa, embora o entrevistado D entenda que

isso não seja um diferencial, mas sim uma necessidade da empresa.

Na fala do entrevistado A (Presidente), pode-se ver que ele considera que o

sistema de custos seja a base para toda a informação que vai ao cliente. Em suas

palavras, propicia uma “ fotografia rápida e veloz, com qualidade e acuracidade; é tudo

de melhor para a empresa” . Considera que, se a empresa não tem esse sistema, ela gasta

muita energia.

64

...melhorar a qualidade do serviço e melhorar a acuracidade a informação é o

"must" para nós, então é necessário ter e quem não tem gasta muita energia,

energia que eu digo é das pessoas em horas e em quantidade de

pessoa...(entrevistado A)

De maneira coerente com o entrevistado A, o entrevistado B (Vice-Presidente)

aponta que a alta competitividade e o dinamismo econômico (tais como evolução

econômica, inflação, mudança de preço de categorias) são fatores que exigem que a

empresa tenha um sistema robusto, que gere números precisos de forma periódica,

trazendo vantagem competitiva, o que é por ele considerado um aspecto-chave de

sobrevivência dos negócios.

...você ter um sistema robusto que te permita e te gere números precisos de

forma periódica, te traz uma vantagem competitiva até por sobrevivência,

porque os custos tão mudando a todo momento, então você ter um sistema

que amarre tudo isso, é sem dúvida nenhuma um aspecto chave de

sobrevivência dos nossos negócios... (entrevistado B)

De maneira bastante sucinta, o entrevistado D aponta que não ter um sistema

ERP prejudica a estratégia, mas que isso não é fator de competitividade, é necessidade.

...eu acho que não ter te prejudica, então ter não é nada mais do que a

obrigação, o ter não te diferencia... (entrevistado D)

b- Nível Tático (entrevistados C, F e G)

Para os entrevistados de nível tático, aqueles que estão voltados tecnicamente ao

sistema e à sua implantação (C e F), a visão fica mais voltada ao próprio sistema; já em

relação ao G, que tem responsabilidade pela planta, observa-se uma visão mais

estratégica, na qual os números são importantes para negociações junto aos clientes.

Para o entrevistado C (Gerente de Sistemas), a implantação do sistema de custos

depende muito de qual tipo de implementação foi feita para ser considerada fator de

competitividade. Se a implantação for muito customizada, pode-se obter o custo de

forma apropriada.

...sabendo o que desejam vão obter o custo apropriado do produto, sim,

poderia ser feito de uma maneira mais adequada, acho que sim, mais ainda é

uma ferramenta que ela é totalmente customizada, mas depende muito da

implementação e como ela foi feita... (entrevistado C)

65

O entrevistado F (Gerente de Projeto de Implantação do SAP) entende que não

seria uma estratégia de competitividade, mas sim uma abordagem para controlar o

negócio relacionado aos custos, em que podem estar os problemas.

... eu não diria que é uma estratégia no mercado, mas é uma abordagem para

controlar o negócio relacionado com o custo... (entrevistado F)

Sua visão é nitidamente ligada ao processo e não ao posicionamento

estratégico.Já o entrevistado G (Gerente da planta de Pacheco) entende que a

implantação é, sim, fator de competitividade, pois proporciona uma ideia mais clara dos

custos e, com isso, tem-se a possibilidade de melhorar preços com os clientes,

aumentando a competitividade.

... qual é a situação da companhia, qual a situação do custo, que é o ponta pé

inicial para poder entender o que devemos melhorar enquanto preço em

relação aos clientes... (entrevistado G)

Resumo:

Os 6 entrevistados, embora alguns não entendam o módulo de custos como fator

de competitividade, mas sim como fator importante para a gestão da companhia,

apresentam opiniões divergentes, devido às posições que ocupam na organização.

Todavia, todos concordam com o que propõe Porter (1991): mesmo podendo existir

diferentes estilos de liderança e diferentes arranjos organizacionais, é importante ter um

sistema que traga as respostas rápidas para se posicionar no mercado antes dos

concorrentes.

4.2.3. Categoria 6: As informações estratégicas de custos ficaram

melhores ou piores após a implantação do módulo de custos

a- Nível Estratégico (entrevistados A, B e D)

Para o entrevistado A ( Presidente da empresa), as informações estratégicas

ficaram melhores, porque existe uma padronização de informação, ou seja, existe uma

66

metodologia pré-definida para a construção de um custo, trazendo-o de maneira

organizada, estruturada, que respeita os padrões de custo quanto ao reconhecimento.

Isso dá velocidade de interpretação de dados e permite que sejam criados dados

comparativos, pois, no mercado automobilístico, o mesmo produto é feito em vários

lugares diferentes. Por isso, precisa ser buscado onde se faz melhor e ajustar os demais a

esse novo padrão. Sua fala exemplifica essa sua posição:

... de uma maneira organizada, estruturada e que respeita os padrões tanto de

apontamento de custo quanto de reconhecimento, acho que esse é o primeiro

ponto, acho que quando a gente não tem um formato definido... você perde

muito tempo tentando entender ... (entrevistado A)

Já para o entrevistado B (Vice-Presidente Financeiro), o ponto de vista é que ainda não

melhorou a qualidade da informação, pois se entende que a implementação do sistema

não está totalmente finalizada, por isso não está sendo beneficiado por tudo aquilo que

foi planejado como resultado desse sistema. Existe uma explicação para isso, pois, junto

com a implantação, foram feitas correções de informações de custos, passando por uma

revisão completa. Assim, as informações de custos perderam comparabilidade com o

sistema anterior e, por mais que hoje o sistema ERP gere números com maior precisão e

maior nível de detalhes, não se tem a certeza de que os números gerados pelo sistema

estão efetivamente corretos. Ainda com mais propriedade, explica o porquê da opinião,

demonstrando que nem todas as etapas de custeio estão sendo geradas no sistema, e que,

ao final do mês, não sem tem a validação do custo real, porque o sistema não está

totalmente implantado.

... por mais que o sistema , que estejam sendo gerados números com maior

precisão , com maior nível de detalhe, nós não sabemos ainda se o número

que está sendo gerado está efetivamente correto... (entrevistado B)

O entrevistado D comenta que, junto com a implantação do sistema, houve uma

mudança organizacional importante e que ele não consegue distinguir o que é

decorrente da mudança ou da implantação do sistema, mas que as informações de custos

estão melhores.

67

... então a parte de custos, sem dúvida, está melhor do que estava há um ano

atrás, mas eu não consigo te dividir por que é do sistema e o que é decorrente

da mudança organizacional...(entrevistado D)

4.2.4. Resumo da Categoria: Aspectos Estratégicos Relacionados a

Implantação

Para os entrevistados A e D, as informações estão melhores. Já o entrevistado B

aponta que elas ainda não estão melhores, tendo focado sua resposta totalmente na

implantação e geração das informações extraídas do sistema. Devido à sua posição, ele

tem a preocupação de que 100% das informações sejam geradas com qualidade através

do sistema, pois entende que é preciso haver a correlação entre todas as etapas e áreas, o

que gera consistência das informações, minimizando os possíveis efeitos da não

conexão. A visão do entrevistado B foi mais critica do que a dos demais.

Pode-se relacionar esses achados com o que aponta Anthony (2008) ao afirmar

que os sistemas de controle gerencial são ferramentas para implantar estratégias e, como

tal, os controles devem ser ajustados aos requisitos das estratégias especificas de cada

empresa.

Quadro 11 - Questões X Roteiro de Entrevista

Objetivos específicos / Categorias Questões

Aspectos Determinantes para a Implantação do Sistema ERP 1,2,6

Fatores Críticos de Sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina 3,4

Como os traços culturais influenciaram na implantação do sistema na base

da Argentina 7,8

Fatores Comportamentais considerados críticos de sucesso (FCS) na

implantação do sistema na base da Argentina 9

Quais aspectos técnicos foram considerados fatores críticos de sucesso

(FCS) na implantação do sistema na base da Argentina 10

Com base nos fatores críticos de sucesso (FCS) identificados, apontar

diretrizes para a implantação do mesmo em outras bases da empresa. 11 e 12

68

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

Resumindo-se a análise dos aspectos estratégicos relacionados à implantação

do sistema ERP, pode-se concluir que os entrevistados apontaram a implantação como

fundamental para obter uma posição valiosa no mercado. Enfatizam a necessidade de

um sistema integrado para que a empresa se qualifique em relação à concorrência e que

a disponibilização da informação integrada, em tempo real, é um fator de

competitividade que minimiza os riscos que a economia proporciona. Assim, considera-

se que o objetivo específico 1 tenha sido cumprido −Analisar, do ponto de vista da

organização Beta (representada por sua alta direção) quais aspectos foram

considerados determinantes para a implantação do sistema ERP – módulo de custos na

base da empresa na Argentina.

4.3. Aspectos Conceituais de Custos relacionados à implantação

Devido ao crescimento das empresas ao longo da história, foi necessária a

criação de métodos de custeio de modo que cada empresa, de acordo com suas

necessidades de controles, adote um critério que entenda seja o mais adequado para

atingir suas metas de controle. A empresa Beta em análise adotou o método de custeio

padrão.

4.3.1. Categoria 5: Em termos conceituais, qual motivo levou a empresa a

optar pelo modelo de custo padrão no módulo de custos na

implantação do sistema.

a- Nível Estratégico (entrevistados A e B)

Para ambos os entrevistados do nível estratégico, o critério adotado se baseou no

padrão da empresa Beta, ou de empresas/grupos tradicionais no mercado que seguem

esse modelo de custeio. Um dos conceitos do sistema de custo padrão é, exatamente, o

69

mencionado na entrevista,de que os valores dos custos são pré-fixados através de metas

e/ou históricos.

O entrevistado A disse não saber a resposta por não estar no momento da

decisão, mas tem uma opinião formada: todas as empresas do grupo trabalham com esse

conceito, portanto a Beta deve ter seguido o padrão do grupo.

... não fui eu quem decidiu isso, você fez uma pergunta objetiva, porque foi

decidido lá atrás, qual foi a razão...a gente seguiu a definição de um padrão

do grupo da Beta...(entrevistado A)

O entrevistado B afirma que, como toda empresa tradicional, a empresa Beta

também tem um orçamento, um modelo a ser seguido e comparado com o real, que para

os custos é o custo padrão. Ressalta que a escolha por esse modelo é, em termos

genéricos, mas que a Argentina, devido ao ambiente inflacionário, talvez um custo

padrão anual não fosse o ideal, devido a este fator, precisaria ser feitas atualizações ao

longo do ano em função das severas mudanças econômicas..Talvez fosse necessário

fazer algumas atualizações ao longo do ano em função das mudanças econômicas, que

são tão severas. Essa atualização proporcionaria um comparativo e o resultado poderia

ser medido e analisado em termos dos desvios, podendo-se desenvolver ações

relacionadas a esses desvios.

... como toda empresa, vamos dizer assim tradicional, nós temos um modelo,

um budget para seguir e a gente sempre quer comparar com um certo

standard para gente poder focar nos desvios e tomar ações nesses desvios...

(entrevistado B)

b- Nível Tático (entrevistado F)

O entrevistado F (Gerente de Projeto) entende que o sistema de custos é muito

importante para o ambiente fabril, no qual é necessário conhecer o custo para a

estratégia de produção e custo, mas também comenta que em ambientes inflacionários é

recomendado ter um alteração do custo-padrão mensal para comparar aos custos reais.

... É aconselhável que os países com inflação alta para rever o custo padrão

versus custo real em uma base mensal...(entrevistado F)

70

4.3.2. Resumo da Categoria: Aspectos Conceituais de Custos relacionados

à implantação

Para os 3 entrevistados, o modelo de custo padrão é o mais apropriado ao perfil

da empresa BETA, por isso sua escolha. Ficou claro o problema econômico que existe

na Argentina, onde se deve ter uma atenção especial à periodicidade da alteração do

custo-padrão. Esse fator econômico foi ressaltado por 2 entrevistados, sendo um do

nível estratégico e outro do nível tático, o que demonstra que, na Argentina, o fator é

visto como crítico.

De acordo com Martins (2010), a escolha do sistema de TI depende do objetivo

que se pretende atingir. Seu nível de detalhes também depende disso e do quanto se

gastará para sua obtenção. Nesse caso, fica claro que a escolha foi feita de acordo com o

mencionado por Martins (2010), devido ao conceito escolhido de sistema de custeio-

padrão.

O custo-padrão é um custo pré-atribuído, tomado como base para o registro

da produção antes da determinação do custo efetivo. Em sua concepção

gerencial, o custo-padrão indica um “custo ideal” que deverá ser perseguido,

servindo de base para a administração mediar e eficiência da produção e

conhecer as variações de custo. Esse custo ideal seria aquele que deveria ser

obtido pela indústria nas condições de plena eficiência e máximo rendimento.

(p.23)

Resumindo-se a análise dos Aspectos Conceituais de Custos relacionados à

implantação,pode-se concluir que o modelo de custo-padrão foi adotado por ser um

modelo mais apropriado ao perfil da empresa Beta.

4.4. Aspectos de Implantação de Sistema ERP

71

A empresa decidiu pela implantação de um sistema integrado devido à

necessidade gerada de se padronizar a planta da Argentina com as demais bases da

BETA, bem como ao seu porte no mercado. A chave para o desenvolvimento das

capacidades dos sistemas de informação da empresa é saber articular o papel estratégico

e a gestão do próprio sistema de informação, definindo arquitetura e estrutura de

controle de TI adequada para facilitar o seu desenvolvimento e exploração. O maior

desafio é alcançar vantagem competitiva através de sistemas ERP, pois eles representam

uma significativa complexidade.

4.4.1. Categoria 3: Após a implantação, quais os fatores críticos que

poderiam ser considerados de sucesso.

a- Nível Estratégico (entrevistados A, B, D)

Para os 3 entrevistados na posição estratégica, não houve nenhum fator de

sucesso nessa implantação. De maneira sucinta, o entrevistado D afirmou que o sistema

é muito embrionário, portanto não é perceptível um sucesso. De maneira bem alinhada,

os entrevistados A e B mencionam que a base para iniciar a implantação não foi

adequada, portanto não foi possível alcançar o sucesso. Apontaram também que os

fatores de insucesso contribuíram para entender e formular quais seriam os fatores de

sucesso ou, ainda, para perceber, comparando-se com experiências anteriores, os fatores

de sucesso de outras bases que não foram aplicados nessa implantação.

O entrevistado A (Presidente) menciona que, na implantação, não foram

desenhados os fatores necessários para se obter o sucesso. Afirmou que já fez outras

implantações de ERP nas quais o sucesso foi baseado numa equipe dedicada para o

projeto, em que as pessoas eleitas são aquelas que conhecem profundamente as áreas,

têm muitos anos de experiência não só na empresa, mas no mercado, e ajudam a

desenhar o sistema ideal, que vai se correlacionar com as áreas. Esse modelo é

desenhado, segundo o entrevistado, passo a passo e mostrado para a diretoria. O

entrevistado enfatiza que esse é um fator de sucesso que não foi adotado na atual

implantação.

... o sistema é desenhado do primeiro dia como estaria para atender todas as

áreas focado na necessidade das áreas e não ao contrário, top down,

72

necessidade de controle das áreas e ai obviamente isso ai vai sendo montado

stepbystep e apresentado para a diretoria, acho que isso é um fator de

sucesso. Aqui nós não fizemos exatamente isso... (entrevistado A)

O entrevistado B (Vice-Presidente Financeiro) ressalta que a implantação não

está finalizada e que houve muitos problemas na forma com que foi conduzida. Que os

fatores de sucesso podem ser interligados ao próprio insucesso que está sendo vivido

agora. Se ele pudesse voltar atrás na implantação, montaria um time robusto, localmente

preparado, para que esse grupo pudesse fazer a implantação, com conhecimento dos

processos e com uma gestão de projeto local. Isso tudo não existia quando foi iniciada a

implantação.

Outro aspecto apontado é que seria preciso ter a liderança de implantação local e

que ela deveria permanecer ao longo da implantação, pois se adquire muito

conhecimento ao longo da implantação, e isso deveria ser retido na empresa. A maneira

como a Beta desenhou a implantação originalmente, colocando como responsável pela

implantação alguém que estivesse presente na planta apenas durante a implantação,

seguindo depois para fazer implantações em outras localidades, gerou perda para

empresa.

... então se fosse para voltar atrás é ter um time robusto localmente

preparado, pra poder tocar uma implementação disso, conhecedor de

processos e com uma gestão de projeto local... (entrevistado B)

O entrevistado D afirmou que não se sentia à vontade para julgar, porque o

sistema é muito novo, embrionário e que ainda não viu nenhum resultado efetivo.

... eu ainda não vi o resultado efetivo dele acontecer, então eu não consigo te

falar nenhum... (entrevistado D)

b- Nível Tático ( entrevistados C, F, G, I)

Do ponto de vista tático, houve uma mescla de respostas para a pergunta de

fatores críticos de sucesso. Talvez pelo fato de os respondentes desse nível estarem

ligados diretamente à planta, viram vantagens na implantação do sistema, quando

73

compararam essa sistema ERP módulo-custos com o sistema anterior em termos de

obtenção de informação junto ao ERP. O Gerente de Sistemas foi o único que apontou

que a implantação não atingiu o objetivo esperado.

O entrevistado C (Gerente de Sistemas) afirmou que poderia ter sido

considerado sucesso se tivesse alcançado os objetivos delineados. Para ele, o único

sucesso no momento é ter uma ferramenta única na qual estão todas as informações e

que permite que os usuários tenham acesso a elas. Em sua opinião, todavia, a ferramenta

não está sendo utilizada da forma desejada, o que demandará ainda mais um tempo e

mais trabalho para se obter o sucesso na implantação.

... para ter os dados mais rapidamente para tomada de decisão ainda

não está sendo, ainda não é o que nós queremos, acho que vai depender ainda

algum tempo de demanda de trabalho para poder ter um sucesso na

implantação... (entrevistado C)

O entrevistado F (Gerente de Sistemas) afirmou que a qualidade dos dados é um

fator de sucesso numa implantação de ERP.

...é crítico ter dados mestres corretos... (entrevistado F)

O entrevistado G (Gerente de Planta) afirmou que agora todas as informações

estão num só lugar, que não havia nenhuma informação de custos confiáveis e que

agora é mais flexível a busca das informações no sistema.

...todas as informações agora estão num sistema mais robusto, toda a

informação, a base de dados é coisa que antes não tínhamos...(entrevistado

G)

O entrevistado I (Gerente de Controladoria) apontou que a empresa não tinha um

sistema de custos, trabalhava com informações desatualizadas, e que agora tem mais

informações, inclusive de inventário, controle interno, com informações de mais

qualidade e confiabilidade. Ele afirmou melhorias em outras áreas, como na de

logística, que, com o novo sistema, poderia ter maior nível de detalhes. Em termos de

controladoria, afirmou que pode se acessar dados mestres, ou seja, de onde vêm as

informações e não somente a transação que demonstra números.

74

... para a Controladoria a principal vantagem deste sistema é a facilidade de

fazer consultas interativas entre os dados, por exemplo se quiser entrar em

maiores detalhes da conta, pode se chegar até a transação inicial dentro do

sistema...(entrevistado I)

c- Nível Operacional (Entrevistados E,H e J)

Do ponto de vista operacional, foi demonstrado que houve situações parciais de

sucesso, ou seja, algumas informações não estavam disponibilizadas pelo sistema e

agora estão. Todavia, os entrevistados apontam que a falta de integração entre as áreas

contribuiu para não se obter o sucesso total. Essa opinião é um ponto em comum entre

os três entrevistados.

Para o entrevistado E (Analista de SAP América do Sul), o sucesso pode ser

mencionado entre os departamentos, e não da planta como um todo, pois alguns

departamentos se comprometeram com a implantação e outros não. Logo o sucesso está

ligado ao fator comprometimento. O que mais contribuiu para o sucesso da

implantação, segundo a opinião do entrevistado, foi o comprometimento dos usuários, o

entendimento da mudança, a disponibilidade para fazer os testes, os esforços colocados,

o sucesso do trabalho em equipe.

... usuários que se comprometeram com isso e se esforçaram então isso foi,

acho que é o principal para dar certo, um trabalho como equipe...

(entrevistado E)

Para o entrevistado H (Analista de Custos), hoje, com a implantação do SAP, tem-se

uma visão que antes não havia com o sistema antigo. Porém aponta que o sistema não

está todo integrado e muitas descobertas foram feitas através de tentativa e erro e, que o

sistema ainda não gera relatórios que possam ter uma análise geral dos custos.

... sucesso é que nós temos uma visão de que não tínhamos antes com outro

sistema , todavia ainda não podemos usar totalmente pois tem muitas partes

do sistemas que não estão integradas... (entrevistado H)

75

O entrevistado J (Analista de Contas a Pagar) não encontrou pontos de sucesso. Com o

processo que faz parte do seu trabalho, ele não teve problemas, mas em relação à planta

como um todo, ele entendeu que a implantação não teve êxito.

... não, não encontro pontos de sucesso...(entrevistado J)

Resumo:

Para todos os 10 entrevistados, cada um na sua maneira de expressar, de acordo

com o seu cargo ocupado dentro da empresa, após a implantação não houve fatores

críticos de sucesso. Alguns mencionaram fatores parciais, que seriam informações

obtidas no sistema, ainda que de forma parcial, o que antes não se possuía. No decorrer

das entrevistas, pode ser notado o grau de dificuldade em alguns dos entrevistados para

responder a essa pergunta.

Um ponto de convergência nas respostas dos entrevistados do nível tático foram

os aspectos comportamentais envolvidos na implantação. Afinal, são esses funcionários

que têm acesso direto às equipes de trabalho e consideraram que as equipes

colaboraram. Assim, talvez não tenham conseguido detectar as dificuldades culturais

apontadas por respostas de entrevistados de outros níveis.

Estudos demonstram que as organizações que implantaram sistemas de ERP

foram capazes de agregar os fatores individuais específicos e os cinco fatores mais

abrangentes: (1) gerenciamento de projetos; gestão da mudança; (2) alinhamento do

negócio com o sistema de informação; (3) supervisão (auditoria interna) e atividades;

(4) consultoria e atividades de planejamento (ALOINIET, 2007). Com isso, pode-se

concluir que essa implantação estudada não foi bem sucedida, pois não é possível

identificar nenhum desses fatores mencionados nas falas dos entrevistados.

4.4.2. Categoria 4: Após a implantação, quais os fatores críticos que

poderiam ser considerados de fracasso.

a- Nível Estratégico (Entrevistados A,B e D)

76

Para os entrevistados no nível estratégico, de forma geral, ficou entendido que

não houve um planejamento adequado antes de implantar o sistema, ou seja, a formação

de uma equipe dedicada, a implantação de processos paralelos para suprir

temporariamente as deficiências, o cálculo mais exato do tempo de implantação,

levando em conta o seu tamanho e complexidade, nada disso ocorreu. Esses fatores

resultaram numa extensão de consultoria para poder regularizar as lacunas / falhas que

ficaram, despendendo muito mais tempo e dinheiro do que o esperado para que o

projeto fique de acordo com o esperado.

Para o entrevistado A (Presidente), não ter montado um equipe dedicada e a

alteração de pessoas envolvidas, tanto da consultoria quanto da Beta, são fatores críticos

de insucesso. Outros pontos destacados foram o Custo e o Tempo: o ideal é que se

implante um ERP o mais rápido possível no menor custo e, no caso dessa implantação,

a variável Tempo está maior do que se esperava, logo o custo também é afetado.

... O insucesso pode ser definido de várias maneiras, você acaba implantando

um sistema ERP mas a que custo e em que tempo? Essa é a questão, porque

quando você implanta um sistema como esse a ideia é o mais rápido possível

no menor custo possível, aqui tem a variável do tempo que já tá além do que

se esperava e a variável do custo também, que obviamente andam

juntos...(entrevistado A)

O entrevistado B (Vice-Presidente Financeiro) referiu-se ao fato de não se ter

conhecimento, de modo geral, da complexidade e do tamanho do sistema para

minimizar algumas atividades em detrimento de outras. O entrevistado comentou que

não se pode iniciar um sistema integrado sem o funcionamento de todos os módulos,

pois, além de não ter o benefício do sistema integrado, são gerados problemas por conta

de o sistema não estar integrado num momento que o sistema antigo já foi eliminado

totalmente. Ainda afirmou que o sistema antigo não era bom, mas as pessoas tinham

algum tipo de convivência com aqueles processos. Essa fala do entrevistado aponta

aspectos comportamentais relacionados à aceitação de novos processos e à

aprendizagem necessária para atuação em novas situações.

Na visão do entrevistado B, a falta de familiaridade com o novo gera um

problema de gestão para a empresa. Não existiam processos paralelos para mitigar as

deficiências do processo e isso gerou um caos gerencial. Além disso, seria importante,

77

ao trazer um sistema desse porte, estabelecer processos, ainda que temporários, para

cobrir as deficiências da implantação parcial− o que não foi feito.

... você traz um problema muito grande de gestão para a empresa, porque o

sistema não está integrado, não existem processos paralelos implementados

para mitigar as deficiências do processo não estar integrado no sistema e ao

mesmo tempo isso gera um caos gerencial , mais ou menos o que a gente

viveu...(entrevistado B)

O entrevistado D (Diretor de Compras) apontou que, devido ao fato de a implantação ter

sido feita de forma muito rápida, agora existem muitas falhas encontradas que precisam

ser consertadas, como, por exemplo, a falta de relatórios básicos e de treinamento de

pessoas, que dificulta as atividades corriqueiras que deveriam ser mais simples.

... no dia a dia a gente percebe um monte de falha, tem um monte de buraco

no meio da estrada que a gente esta tentando tapar...(entrevistado D)

Mais uma vez, observa-se, na fala do entrevistado, a influência de aspectos

comportamentais, como a aprendizagem obtida por meio de treinamento.

b- Nível Tático (entrevistados C, F, G, J)

No nível tático, pode ser vista uma mescla de visões, até mesmo pela posição

exercida de cada gestor. Para os gestores da área de sistemas, os fatores de insucesso

estão voltados para o usuário e para a qualidade de seus dados; já para os gestores da

planta, que convivem com os problemas diariamente, a visão é de que não foi feita uma

coleta de dados adequada antes da implantação, principalmente levando em

consideração uma exceção que existe na planta com um determinado cliente, fator que

gerou problemas não resolvidos até o momento. O cliente exige um faturamento por

componentes e não por produto final acabado, isso não foi levado em consideração de

maneira adequada na customização do sistema. Agora este fator gerou trabalhos

manuais passíveis de erros, ou seja, o projeto não entendeu a complexidade da planta

antes de modelar a implantação do sistema. Além disso, o Gerente da Planta apontou

78

como fator de insucesso o fato de o projeto não ter sido liderado por uma pessoa da

operação que tinha conhecimento da planta de Pacheco.

Esse gestor aponta tanto problemas de natureza técnica como de natureza

comportamental. De natureza técnica, ao relatar que o sistema não atendeu às

especificidades técnicas da planta. Comportamentais, ao apontar que seria preciso

alguém que conhecesse a planta. Isso sugere que, além de conhecer os processos, essa

pessoa teria familiaridade com o funcionamento diário da fábrica, o que envolve

interação entre pessoas e grupos.

Para o entrevistado C (Gerente de Sistemas), os principais pontos de insucesso

foram o comprometimento dos usuários, sua rotatividade, bem como a qualidade dos

dados migrados. Os usuários foram treinados, mas, como muitos não estavam

comprometidos, deveria ter sido feito o treinamento de uma maneira mais adequada

junto aos usuários que estavam envolvidos. Outro ponto de destaque foi a má qualidade

dos dados migrados para o sistema, que foi feita muito rapidamente, muito

prematuramente, comprometendo a qualidade. Novamente, aparece a influência de

aspectos técnicos e comportamentais: o comprometimento pessoal.

... mas o insucesso principal é o comprometimento dos usuários e a

qualidade dos dados que foram migrados, acho que esta qualidade de dados

também é outro fator de insucesso...(entrevistado C)

O entrevistado F (Gerente de Projeto) afirmou a qualidade dos dados como fator

de insucesso. Se os dados alimentados no sistema não estiverem corretos, o sistema terá

informações incorretas.

... se os dados- mestre não são mantidos corretamente, portanto o custo do

sistema será errado....(entrevistado F)

O entrevistado G (Gerente de Planta) afirmou que a implantação não está

terminada, que uns dos fatores de insucesso foi a maneira como foi conduzida por

alguém do exterior e que detinha conhecimento técnico, mas não operacional da Planta

de Pacheco. Também foram subestimadas as informações e as documentações

necessárias, bem como as exigências sistêmicas para atender aos clientes, conforme

destacado por outro entrevistado (especificamente, o caso de um cliente)e até o

79

momento da entrevista (novembro 2013) esse problema ainda não havia sido

solucionado. As pessoas seguem trabalhando para que o sistema funcione de maneira

adequada, mas existem informações não amigáveis no sistema. Para o Gerente da

Planta, todo este panorama gera uma frustração, depois de tanto tempo dedicado de

trabalho, ainda se demandará um tempo para que se consiga atingir o patamar de

eficácia que foi planejado.

... o que não esteve bem foi que não houve alguém da operação liderando o

processo de implantação, foi uma pessoa do exterior que tinha conhecimento

sim, mas não o conhecimento da planta de Pacheco...(entrevistado G)

O entrevistado J (Gerente de Controladoria) disse que uns dos fatores de insucesso é

que, talvez por não ter sido feito um bom levantamento dos processos previamente,

provocou a falha na implantação de algumas necessidades, como, por exemplo, boa

visibilidade em relação a vendas, principalmente por ter um cliente específico para

quem se vendem componentes e não o produto acabado final. Reforça o que já foi dito

por outros entrevistados de que há necessidade de se utilizar em planilhas auxiliares,

fora do sistema, para ter as informações necessárias. Se todos os módulos do sistema

estivessem implantados, o próprio sistema geraria as informações automaticamente, sem

necessidade de cálculos manuais, o que pode gerar erros.

...usando informação fora do sistema ou , com os dados do sistema criar

planilhas externas para alimentar este circuito de informação, mesmo por um

tema de implantação, pois não estão todos os módulos

implantados...(entrevistado J)

c- Nível Operacional (entrevistados E, H e J)

Do ponto de vista operacional, pode-se dizer que os entrevistados têm a mesma

visão dos entrevistados dos níveis estratégico e tático, pois foram mencionados os

mesmos fatores críticos de insucesso: falta de comprometimento dos envolvidos;

alteração de consultores e, para módulos específicos, falta de consultores

especializados; não se ter uma pessoa local liderando o projeto; falta de comunicação

entre os envolvidos com a implantação; o fato de não terem sido levadas em

consideração as peculiaridades da planta.

80

Para o entrevistado E (Analista de SAP para América do Sul), o principal fator

de insucesso foi o comprometimento das pessoas. Em sua visão, os gestores não

estavam totalmente interados e comprometidos com o que estava acontecendo e,

portanto, não provocaram o “efeito cascata” de comprometimento em seus times. Outro

fator importante mencionado é que a planta possui um processo diferente de todas as

outras plantas. Na época da implantação, decidiu-se por não customizar para poder se

adequar; depois do insucesso, decidiu-se pela busca de ajuda em outra planta do grupo

na Alemanha, que tem o mesmo cliente com a mesma especificidade, para que se

pudesse implantar a mesma metodologia na planta de Pacheco, uma vez que na Europa

já se obteve o sucesso da informação via sistema junto ao cliente.

... se tivesse sido pedido naquela época para contatar a Europa e trazer uma

pessoa igual nós estamos fazendo agora, não teriam aceitado isso, isso

também foi um dos fatores...(entrevistado E)

Para o entrevistado H (Analista de Custos), existem vários fatores, mas o

principal que afeta sua área foi iniciar um sistema sem um consultor especifico do seu

módulo e só contratar depois de 3 meses do projeto em andamento um consultor para a

área. Apontou que, para utilizar o sistema, foram feitas tentativas e erros e que a

dificuldade ainda existente é devido ao fato de o sistema não ser amigável e, ao se

alterar uma informação, não se sabe ao certo qual impacto ela poderá gerar em outras

áreas.

... então tudo para nós era novo e fomos tentando com tentativa e erro,

tivemos um consultor depois de 3 meses do sistema funcionando, que nos

ajudou tecnicamente... (entrevistado H)

Para o entrevistado J (Analista de Contas a Pagar), a falha maior foi de

comunicação entre todos os setores. Além disso, a falta de uma pessoa para liderar o

projeto, que se identificasse com ele e fizesse com que todos os envolvidos seguissem o

mesmo caminho. Em sua opinião, essa integração não aconteceu, e cada setor acabou

cumprindo sua parte na implantação com temas distintos, olhando somente as

necessidades de sua parte, e não do todo.

... acho que a falta de comunicação entre todos os setores e também uma

pessoa para liderar o projeto...(entrevistado J)

81

Resumo:

Para todos os 10 entrevistados, cada um na sua maneira de expressar e sua visão

de acordo com a posição que exerce, os principais pontos de insucesso foram: (1) a falta

de planejamento antes de iniciar a implantação; (2) não se levar em consideração a

formação de equipes concisas que integrassem funcionários tanto da empresa quanto do

time de consultores; (3) não ter sido considerado o grau de complexidade das

informações da planta em referência; (4) não serem considerados aspectos

comportamentais como comprometimento de todos os envolvidos; (5) não terem sido

estimados adequadamente o tempo de implantação e o custo.

Pode-se dizer que, na visão de todos os entrevistados, o que foi planejado não foi

cumprido e que, de maneira geral, a implantação não está finalizada.

Quadro 11 - Questões X Roteiro de Entrevista

Objetivos específicos / Categorias Questões

Aspectos Determinantes para a Implantação do Sistema ERP 1,2,6

Fatores Críticos de Sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina 3,4

Como os traços culturais influenciaram na implantação do sistema na base

da Argentina 7,8

Fatores Comportamentais considerados críticos de sucesso (FCS) na

implantação do sistema na base da Argentina 9

Quais aspectos técnicos foram considerados fatores críticos de sucesso

(FCS) na implantação do sistema na base da Argentina 10

Com base nos fatores críticos de sucesso (FCS) identificados, apontar

diretrizes para a implantação do mesmo em outras bases da empresa. 11 e 12

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

Resumindo-se a análise dos Aspectos de Implementação de Sistema ERP,

pode-se concluir que os entrevistados apontaram o insucesso da implantação do sistema,

e que consideram que ele ainda não esteja totalmente implantado. Com base nos

depoimentos dos entrevistados, pode-se notar que todos os pontos de insucesso

82

apontados por Aloiniet (2007) estão presentes sob a ótica dos entrevistados, sejam eles

usuários ou do time de Sistemas.

Assim, considera-se que o objetivo específico 2 tenha sido cumprido −Analisar,

do ponto de vista dos gestores argentinos e brasileiros envolvidos com a implantação

do módulo de custos do ERP na organização Beta, quais são os fatores críticos de

sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina.

4.4.3. Categoria 10: Tecnicamente quais os fatores tiveram influência

para o sucesso ou insucesso na implantação do sistema.

a- Nível Estratégico (Entrevistados B e D)

No nível estratégico, principalmente pelo entrevistado B, ficou clara a falha

técnica tanto dos colaboradores da empresa quanto dos consultores, pois não foram

escolhidos os funcionários seniores das áreas, devido ao fato de ter havido alterações no

time. Na opinião dos entrevistados, foi um conjunto de fatores que influenciou os

fatores de insucesso em termos técnicos, como funcionários novos sem conhecimento

da empresa e de seus processos e consultores sem experiência suficiente para a

localidade (Argentina) e para o segmento de mercado (autopeças).

Para o entrevistado B (Vice-Presidente Financeiro), a maior falha também foi a

questão da mudança de equipes, que trouxe deficiências técnicas, pois pessoas que

talvez não conhecessem a empresa e o processo eram justamente aquelas que estavam

definindo os processos para o sistema novo. Em sua visão, outro ponto falho foram os

consultores, que deveriam ter experiência no setor e experiência local maior do que a

demonstrada. Para exemplificar, o entrevistado explicou o problema de cálculo de

impostos, que não foi desenhado corretamente e, em alguns casos, sequer foi

desenhado, pois a pessoa que estava definindo o sistema não tinha conhecimento da

legislação local e o consultor, que deveria estar atento a isso, não alertou a empresa para

o fato. Concluindo, o entrevistado afirmou que faltou senioridade dos consultores e dos

usuários-chave em relação aos aspectos técnicos.

83

... porque quem tava definindo o processo no que se refere a isso não tinha o

conhecimento local do que era preciso, então este é um caso típico, e ao

mesmo tempo, não tinha o consultor que deveria ta desempenhando seu papel

de consultoria dizendo, olha não vai por ali que ali tem um abismo, você tem

que fazer isso daqui...(entrevistado B)

Para o entrevistado D (Diretor de Compras), no momento da entrevista, ele

considerava que as pessoas já estavam mais bem preparadas. Porém, em sua visão, no

início do processo de implantação, ninguém conhecia nada sobre o processo de

implantação nem sobre como manusear o sistema.

... hoje sim, no inicio não, no início ninguém nunca tinha visto, ninguém

nem sabia abrir o sistema direito, agora eu acho que já esta

melhor...(entrevistado D)

b- Nível Tático (Entrevistados C, G e I)

No nível tático, também ficam claras as falhas técnicas relacionadas à

implantação, seja por parte dos colaboradores da empresa, seja por parte dos

consultores. Apontou-se que a alteração de pessoas no time, a falta de conhecimento dos

procedimentos da empresa (de ambos os lados) e a falta de conhecimento das

obrigações legais do país geraram uma mescla de problemas técnicos que estão

aparecendo ao longo do tempo. Conforme já visto em questões anteriores, os

entrevistados mencionam como fator de insucesso o fato de haver peculiaridades

técnicas relacionadas a um determinado cliente que não foram levadas em consideração

desde o princípio.

Para o entrevistado C ( Gerente de Sistema), houve problemas técnicos tanto por

parte dos usuários quanto por parte da consultoria. Como exemplo, ele contou sobre um

desenvolvimento de um leitor de código de barras cujos usuários são os operários de

chão de fábrica. O "software" foi desenvolvido para ser manipulado numa tela pequena

e com menu de opções, para um usuário de produção, que tem seu tempo

cronometrado. Ele aumentaria ainda mais seu tempo de trabalho em fazer uma opção no

leitor, além do grau de dificuldade de uso, devido ao seu posto de trabalho. Isso foi

considerado pelo entrevistado como sendo falha da empresa que desenvolveu o

aplicativo, que deveria propor algo de fácil entendimento devido ao público alvo. Além

84

desse fator, foi feito o treinamento para somente um usuário, sendo que a planta possui

cerca de 30 usuários. O entrevistado apontou que, do ponto de vista da empresa SAP,

não existem problemas técnicos, pois o sistema foi totalmente customizado e o ponto

principal é o treinamento aos usuários.

... então houve algumas falhas tecnicamente, tanto para o lado pela empresa

que implantou e da pessoa que levantou a necessidade de fazer, então acho

que houve uma grande falha tecnicamente...(entrevistado C)

Para o entrevistado G ( Gerente da Planta),os responsáveis pela implantação

subestimaram o que tinha que ser feito, que não era uma implementação-padrão do

SAP, mas sim uma implementação customizada, para atender ao requerimento do

cliente especifico, algo que até hoje não se cumpriu. Ele aponta que a nova solução

técnica proposta dentro do sistema SAP não atende ao requerimento do cliente interno,

que é a área de Finanças, ou seja, é uma solução para o sistema e não para a empresa.

...é uma implantação de SAP customizada e para um cliente que tem um

sistema bastante complexo como é o caso da Volkswagen, esta é a parte

técnica que eu vejo, que até hoje não funciona bem... (entrevistado G)

Para o entrevistado I (Gerente de Controladoria), houve vários fatores de

insucesso em termos técnicos. Um deles é que não se tinha conhecimento da cultura,

não só da cultura da companhia, mas também da companhia anterior (a mesma empresa,

mesma planta, antes da compra pela BETA), que era pequena e paternalista. Argumenta

que, se durante a implantação se tivesse mantido uma figura de gestão que reforçasse

esse tipo de gestão, poderia ter havido sucesso na implantação, pois as decisões estavam

muito descentralizadas.

Outro ponto apontado pelo entrevistado foi que existiram solicitações na

implantação que foram vistas como mero capricho dos gerentes para suas áreas, o que

impactava na disponibilidade de cada gestor perante a implantação. Além disso,

apontou que a extensão do prazo do projeto, acima de implementações normais,

caracterizado pelas alterações de pessoas na equipe e na consultoria, gerou desconexões

e foi um fator de insucesso.

Do ponto de vista técnico, havia muito desconhecimento da cultura

organizacional bem como dos procedimentos de trabalho na planta, o que levou a

85

implantar-se um procedimento-padrão do sistema, que gerou desconexão com as

pessoas, pois, em um dado momento, elas já não sabiam mais como fazer seu trabalho.

Como exemplo disso, o entrevistado afirmou que foi até o chão de fábrica para

explicar aos funcionários de operação como deveriam fazer o seu trabalho nesse novo

sistema− atividade totalmente fora do padrão de suas atribuições de cargo. Todavia, o

fez porque identificou essa ação como importante para mostrar para o nível operacional

que todos os níveis da empresa estavam empenhados em ajudar e implementar o sistema

na fábrica. Em consonância com isso, o entrevistado aponta que, com tantas alterações

de pessoas e adequações no sistema, foram feitos quatro ou cinco treinamentos após a

implantação− o que deveria ter sido feito antes.

O entrevistado também cita que foram detectados erros de lógica dentro da

configuração do sistema, alguns fáceis de arrumar, outros impossíveis. Ainda em termos

de especificação técnica, afirmou que relatórios que eram devidos por conta da

legislação do país não foram gerados e que ninguém sentiu falta deles no sistema,

porque as pessoas não tinham conhecimento técnico para criticar. Em resumo, o

entrevistado disse que foram vários os fatores técnicos: (1) falta de conhecimento; (2)

falta de instrução no direcionamento do projeto, de modo geral− não foi um ponto que

se tomou de atenção na implementação o fator técnico, que resultou mais em fracasso

do que em êxito; (3) não foram geradas as habilidades após a implantação, para que as

pessoas pudessem depois executar seu trabalho sem a necessidade de um consultor de

suporte explicando sempre como se deve executar as tarefas.

... digamos que houve vários fatores técnicos: falta de conhecimento, falta de

instrução de direcionamento do projeto, em geral foi para pior, em alguns

casos foi para melhor, porque se atingiu uma maior visibilidade em certas

coisas, mas digamos que em termos gerais se pode dizer que os aspectos

técnicos na implantação foi um coisa que não esteve muito bem considerada,

foi um fator mais de fracasso do que de êxitos...(entrevistado I)

c- Nível Operacional (Entrevistados E, H e J)

No nível operacional, as falha técnicas apontadas foram relacionadas aos

consultores, à falta de suporte, ao conhecimento e à clareza das informações por parte

dos consultores. Nesse nível hierárquico dos entrevistados, não foram levadas em conta

as peculiaridades da planta e isso gerou as dificuldades que os usuários enfrentaram nos

86

dias que se seguiram à implantação (situação encontrada à época da entrevista,

novembro de 2013).

Para o entrevistado E (Analista de SAP América do Sul), é necessário ter

consultores bons, pois eles não devem somente configurar o sistema, mas sim sugerir

mudanças, guiar o usuário, procurá-lo e também cobrá-lo. Em sua opinião, o nível

técnico dos consultores da Argentina não foi adequado. Como exemplo, ele cita a

transferência de problemas para os colaboradores da Beta da área de TI, enquanto os

problemas poderiam e deveriam ter sido resolvidos pelos próprios consultores. Assim

como o entrevistado C (Gerente de Sistema), apontou o problema dos leitores de

códigos de barras, bem como o fato de que a Planta de Pacheco possui muitas

peculiaridades. Aponta que foram muitos erros e que geraram aprendizados.

...Pacheco teve muitas coisas diferentes, a próxima a gente sabe até como

fazer, isso é o ponto bom de que você erra, mas tem que aprender alguma

coisa...(entrevistado E)

O entrevistado H (Analista de Custos) afirmou que não tem ponto de êxito para

o aspecto técnico, pois, antes de implantar o sistema, não se estudou bem como

funcionava o negócio e a empresa. Implantou-se um sistema padrão que pode servir

para outras empresas, mas não para a Planta de Pacheco, que tem muitas peculiaridades,

principalmente as relacionadas com um certo produto de um cliente específico. Isso foi

um fracasso: deveria ter um líder da própria empresa ajudando as pessoas.

...para mim o fracasso se deu quando se implantou o sistema e não se pensou,

não se tomou o tempo para estudar bem como funciona o

negócio...(entrevistado H)

O entrevistado J (Analista de Contas a Pagar) afirmou que o treinamento no início não

foi bom e foi insuficiente porque os consultores não estavam abertos à consulta, não

estavam envolvidos e identificados com o projeto. Isso tudo gerou um início muito

ruim.

... não havia nenhuma consulta nem comunicação, não estavam muito

identificados no projeto, ai já começou mal...(entrevistado J)

87

4.4.4. Resumo da Categoria: Aspectos de Implantação de Sistema ERP

Para todos 8 entrevistados, ficou claro que houve aspectos técnicos que geraram

o insucesso da implantação, tanto pelos colaboradores da empresa Beta quanto pelos

consultores da implantação. Do ponto de vista estratégico, a mudança constante dos

times gerou este desalinhamento. Apontou-se o papel dos consultores, como o de guiar,

direcionar os usuários, mesmo ponto de vista defendido pelo entrevistado E (analista de

SAP), que, apesar de estar posicionado no nível operacional, tem a visão estratégica do

papel dos consultores numa implantação de sistema. No nível tático, também foi

mencionada a mudança de pessoas e os consultores tecnicamente despreparados para

desenvolverem seus papéis junto aos usuários. De forma bem alinhada, em todos os

níveis hierárquicos foi percebida a falta de conhecimento técnico como fator crítico de

insucesso na implantação do sistema. De acordo com a teoria estudada sobre a

implantação de sistemas, pode se afirmar que, conforme Grabski e Leech (2007),

quando são projetos complexos, exige-se o uso de várias técnicas ao mesmo tempo e, ao

examinar os riscos e controles associados com implantações de sistemas ERP, deve-se

desenvolver fatores críticos de sucesso para que eles sejam usados em conjunto,

ajudando a melhor os resultados.

Com as entrevistas identificou-se que todos os fatores críticos foram necessários,

e que nenhum fator, por si, foi suficiente para uma implantação bem sucedida.

88

Quadro 11 - Questões X Roteiro de Entrevista

Objetivos específicos / Categorias Questões

Aspectos Determinantes para a Implantação do Sistema ERP 1,2,6

Fatores Críticos de Sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina 3,4

Como os traços culturais influenciaram na implantação do sistema na base

da Argentina 7,8

Fatores Comportamentais considerados críticos de sucesso (FCS) na

implantação do sistema na base da Argentina 9

Quais aspectos técnicos foram considerados fatores críticos de sucesso

(FCS) na implantação do sistema na base da Argentina 10

Com base nos fatores críticos de sucesso (FCS) identificados, apontar

diretrizes para a implantação do mesmo em outras bases da empresa. 11 e 12

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

Resumindo-se a análise dos Fatores Técnicos que tiveram influência para o sucesso

ou insucesso na implantação do sistema, pode-se concluir que os entrevistados

apontaram o insucesso da implantação do sistema tecnicamente devido à deficiência

técnica por parte dos usuários e também por parte dos consultores. Não foi devidamente

designado um grupo detentor de conhecimento técnico, sendo um dos motivos a

constante troca de funcionários, já que estes não tinham o conhecimento da empresa

suficiente para desenhar o processo dentro do sistema da fábrica. Pelo lado dos

consultores, esses não estavam devidamente qualificados, com conhecimento do setor ,

da localidade. A soma desses fatores gerou o insucesso apontado pelos entrevistados.

Assim, considera-se que o objetivo específico 5 tenha sido cumprido −Identificar, na

visão de gestores brasileiros e argentinos envolvidos com a implantação do sistema

ERP- módulo de custos na organização Beta, quais aspectos técnicos foram

considerados fatores críticos de sucesso (FCS) na implantação do sistema na base da

Argentina.

89

4.5. Aspectos Comportamentais Relacionados à Implementação de

Sistema ERP

A cultura organizacional e os aspectos comportamentais tem influência na implantação

de um sistema ERP e, no caso da empresa Beta, foi relevante por se tratar de uma

empresa nacional adquirida pelo grupo Beta, que mesclou o projeto com um gerente de

projeto americano e uma liderança brasileira no território argentino.

4.5.1. Categoria 7: Houve influência de aspectos culturais sobre a

implantação do sistema ERP

a- Nível Estratégico ( Entrevistado A, B)

No nível estratégico, existe uma resposta convergente de que o aspecto cultural

influenciou na implantação de modo negativo, pois a gestão do projeto estava sendo

feita por pessoas que não eram locais, portanto as adequações do projeto para atender à

localidade não foram feitas, o que gerou conflitos posteriores à medida que as pessoas

locais foram tendo mais contato com o projeto. A organização, no momento de iniciar a

implantação, entendia que esse era o melhor recurso disponível, uma vez que a equipe

local não estava formada.

Segundo os entrevistados, pode-se concluir que houve uma sucessão de decisões

truncadas, que provocou um choque cultural influenciando no sucesso do projeto.

Apresentam-se, a seguir, os comentários dos entrevistados em cada nível hierárquico.

Para o entrevistado A (Presidente), houve muita influência de aspectos culturais

sobre a implantação, pois foi escolhido um Gerente de Projeto que era pouco

conhecedor da legislação da Argentina, que conhecia muito da sistemática da Beta na

metodologia da Europa e Estados Unidos, o que não é comparável com o Brasil e a

Argentina no que diz respeito à legislação tributária, à criação de entidades legais, aos

preços de transferência e até mesmo à complexidade envolvida nos sistemas de ERP e

EDI e à cadeia produtiva. Em sua visão, quando o Gerente de Projeto é alguém de fora

90

como ocorreu, havia necessidade de alteração na metodologia de implantação, o que não

ocorreu. Como resultado, houve grande nível de interferência, consumo de tempo

excessivo, estresse da equipe e trabalho incompleto.

... na minha opinião bastante, porque interferiu , primeiro porque o gerente de

projeto que veio acompanhar o nosso projeto era pouco conhecedor de

legislação...(entrevistado A)

O entrevistado B (Vice Presidente Financeiro) entendeu que havia interferência

de aspectos culturais, pois a matriz, pelo conhecimento das deficiências do time e pela

formação de um time novo na região, trouxe um modelo que era entendido como o

melhor, só que as regras da região, que são de negócio, de tributação e os cenários de

negócio são diferentes na Argentina. Muitos dos problemas existentes ocorreram porque

não se deu a devida atenção a esses aspectos. Outro aspecto cultural por ele apontado

como importante é que, à medida que se foi construindo o time local e o processo estava

em andamento, houve choques culturais porque a forma como estava sendo conduzido o

time local e a forma esse time entendia que deveria ser conduzido (com base no

conhecimento das diferenças locais e na necessidade de retenção de conhecimento)

gerou questionamentos.

... e da necessidade de futuro, de ter retenção de conhecimento e tudo mais,

começou a se questionar a forma que havia sido definido anteriormente,

então obviamente, houve choque cultural com relação a isso...(entrevistado

B)

b- Nível Tático (Entrevistados F e I)

Do ponto de vista tático, as respostas dos entrevistados divergem quanto aos

aspectos de influência cultural, o que é facilmente entendido, pois uma das respostas

veio do Gerente de Projetos, profissional oriundo de uma outra cultura, que não a

brasileira nem a argentina.

Para o entrevistado I (Gerente de Controladoria), não foi estudada a cultura da

empresa anterior (a empresa antes da compra pela Beta) nem como essas mudanças da

91

implantação iriam influenciar essa cultura estabelecida. Assim, em sua visão, o fruto

dessa ação não tomada fez parte do insucesso da implantação.

O entrevistado F(Gerente do Projeto) não entende que aspectos culturais estejam

por trás do sucesso ou insucesso da implantação. Em sua visão, o mais importante é que

a organização entenda o valor da implementação assim como o valor da ferramenta.

Assim, é uma voz diferente no grupo. Talvez essa desconsideração da importância

desses aspectos culturais, uma “miopia” em relação a aspectos como crenças e valores

da base Pacheco, ritos de trabalho, dentre outros, tenha sido parte do problema de não

adaptação de metodologia desenvolvida em outros países para a base Pacheco.

... Eu não diria que existem aspectos culturais ou diferenças...(entrevistado F)

O entrevistado I ( Gerente de Controladoria) entende que os aspectos culturais

contribuíram para o fracasso da implantação, pois não se empenhou em convencer as

pessoas envolvidas de que a mudanças eram para a companhia e de que essa seria a

nova forma de trabalhar e que requeria o esforço de toda a equipe. Segundo ele, havia

muita resistência em todos os níveis hierárquicos. Com esforço, alguns se mobilizaram

e atingiram os objetivos; outros, não. Como exemplo, foi citado que alguns

departamentos, por simples capricho (em sua visão), não disponibilizaram suas

informações e, por isso, começaram a utilizar informações através de meios estatísticos

para gerar informações, o que prejudicou o funcionamento do sistema. Outras pessoas

tinham resistência à mudança por medo que as mudanças pudessem refletir no seu modo

de trabalhar. Dentro da cultura da empresa, está a descentralização, o que influenciou

para que não se aproveitasse o conhecimento entre as afiliadas, com o que se poderia ter

ganhado tempo.

Se tivesse sido feita uma análise de qual era a cultura existente no momento da

implantação e como as mudanças iriam afetar essa cultura, as resistências poderiam ter

sido antecipadas e se poderia ter buscado uma forma de trabalhá-las como equipe, com

soluções prévias antes da implantação do sistema.

92

... cultura existente na implementação do sistema e como as mudanças teriam

efeito na cultura era antecipar a resistência, e encontrar maneiras para

trabalhar como uma equipe e resolvê-los antes da implantação do

sistema...(entrevistado I)

Resumo:

Dentre os entrevistados de diferentes níveis hierárquicos abordados, os aspectos

culturais foram apontados como aspecto relevante no insucesso da implantação, pois

não foram levadas em consideração as divergências existentes para serem tratadas de

maneira adequada para minimizar ou antecipar os problemas.

Conceitualmente, é apontado que o fator de sucesso da gestão de mudança

depende da identificação de aspectos da cultura organizacional e da superação de

resistências à mudança, afinal sabe-se que há indivíduos que são resistentes e que

podem não entrar efetivamente no programa de execução, podendo ignorar ou mesmo

sabotar as mudanças, levando a falhas.

Ainda em complemento, é válido relembrar o comentário de Gonçalves (2008):

assim como o gerente de um projeto deve conduzir a gestão de prazos custos,

qualidade, etc. também a gestão de mudanças deve estar em seu “radar” para

que o projeto seja bem sucedido.

4.5.2. Categoria 8: Com experiência de implantações em outros lugares,

aspectos regionais podem ser destacados nesta implantação de

sistema como fatores de sucesso ou insucesso.

b- Nível Tático (Entrevistado C)

O entrevistado C (Gerente de Sistema) entende que o aspecto regional teve uma

influência negativa muito grande, pois foi escolhido um Gerente de Projeto que não

falava o idioma local e que caracterizou os argentinos como bairristas, ou seja, que eles

só queriam falar com pessoas de sua nacionalidade. Em sua opinião, isso gerou um não

comprometimento de parte dos usuários, ponto de vista que foi por ele comentado junto

à alta gestão da Beta.

93

... porque lá o pessoal é muito bairrista, na Argentina, eles querem conversar

com pessoas da Argentina...

c- Nível Operacional (Entrevistado E)

O entrevistado E (Analista de SAP para América do Sul) comentou que Pacheco,

assim como as demais plantas da Argentina, estão sofrendo muitas intervenções de

pessoas de fora: brasileiros, americanos e mexicanos, o que faz com que os profissionais

não cooperem tanto e se sintam desmotivados.

Outro aspecto relevante é que a implantação de Pacheco foi feita em duas fases:

A primeira, na qual foi implantado somente o módulo de Finanças. Nessa etapa,os

consultores eram brasileiros e sabe-se que tanto no Brasil quanto na Argentina existem

aspectos específicos de cada região. A segunda etapa se deu com a implantação de

“grande peso”, na qual o Gerente de Sistemas era americano. Em sua visão, isso

complicava a implantação, havendo necessidade de um acompanhamento local.

... você leva um consultor de um outro país para implantar, ai é complicado,

tem que ter acompanhamento local também...( entrevistado E)

Resumo:

O aspecto regional teve um peso negativo muito grande na implantação, pois não

se respeitou a cultura argentina, sendo identificada na fala dos entrevistados, por

exemplo, a necessidade das pessoas da base de Pacheco de falarem com pessoas nativas.

Durante a implantação, houve intervenção de diretrizes de diversos países, de pessoas

de diversas regiões que interferiam a todo momento, fazendo com que os argentinos

ficassem arredios à mudança.

Ao traçar um paralelo na definição de Hofstede (1990) sobre o fato de muitas

organizações terem bases geograficamente dispersas, diferentes países, a cultura

nacional exerce influência sobre a cultura local de uma organização e, independente

desta cultura, os aspectos nos quais as bases nacionais mais frequentemente diferem

estão relacionados aos valores, à estrutura de poder, à igualdade/desigualdade social e

nos valores individuais e grupais. Nada disso foi considerado durante a implantação do

sistema ERP na base de Pacheco.

94

Quando comparadas as práticas de trabalho apresentadas no artigo de Hofstede

(1998) com o que ocorreu na empresa Beta, notou-se que a Beta não sedimentou na

planta de Pacheco as dimensões de trabalho, pois as áreas apresentavam dificuldades em

trocar informações entre si, as tarefas da implantação do sistema que eram desafiadoras

não foram demonstradas como tal, fazendo com que os envolvidos não vissem que sua

atividade fosse importante. Assim, perdeu-se muito tempo corrigindo erros.

Quadro 11 - Questões X Roteiro de Entrevista

Objetivos específicos / Categorias Questões

Aspectos Determinantes para a Implantação do Sistema ERP 1,2,6

Fatores Críticos de Sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina 3,4

Como os traços culturais influenciaram na implantação do sistema na base

da Argentina 7,8

Fatores Comportamentais considerados críticos de sucesso (FCS) na

implantação do sistema na base da Argentina 9

Quais aspectos técnicos foram considerados fatores críticos de sucesso

(FCS) na implantação do sistema na base da Argentina 10

Com base nos fatores críticos de sucesso (FCS) identificados, apontar

diretrizes para a implantação do mesmo em outras bases da empresa. 11 e 12

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

Resumindo-se a análise dos Aspectos culturais sobre a implantação do

sistema ERP, pode-se concluir que os entrevistados apontaram a influência dos

aspectos culturais como fator de insucesso na implantação do sistema, pois não foram

levados em consideração por diversos aspectos, sendo o mais relevante deles o fato de

ter sido nomeado como Gerente do Projeto uma pessoa do exterior (de nacionalidade

americana),em vez de se identificar uma pessoa local (de nacionalidade argentina).

95

Havia ainda o agravante da barreira da língua, pelo fato de a responsável pela

implantação não falar a língua local, o que ela sente como um problema dos

funcionários da base e como um problema da cultura argentina, não como um problema

fundamental de comunicação −em uma das entrevistas ela menciona que "argentino

gosta e quer falar com argentino”. Assim, considera-se que o objetivo específico 3 tenha

sido cumprido −Uso da tipologia de Hofstede para análise de traços da cultura

nacional, identificar, na visão de gestores brasileiros e argentinos envolvidos com a

implantação do módulo custos do ERP na organização Beta, como esses traços

culturais influenciaram na implantação do sistema na base da Argentina.

4.5.3. Categoria 9: Como os aspectos comportamentais dos envolvidos

influenciaram na implantação, tanto para o sucesso quanto para o

insucesso deste projeto.

a- Nível Estratégico ( Entrevistados A,B e D)

Para o nível estratégico da empresa houve, sim, fatores relevantes de insucesso

na implantação do projeto relacionado ao aspecto comportamental: o fato de o gerente

de projeto ser de outro país, falar outro idioma e o fato de que a implantação se deu

início com um time não local e, à medida que o time local era composto, ter havido a

rejeição do que já estava efetuado. Em sua opinião todos esses fatos foram

potencializados pelo fator de negação do uso de novos sistemas e por os colaboradores

não se sentirem "donos" dos processos.

Outros aspecto relevante que foi mencionado é que a geração de expectativa

inicial indicava que as pessoas entendiam que o novo sistema faria tudo. O resultado foi

a frustração potencializada no momento em que as pessoas se deram conta de que o

sistema ERP, conforme implantado, não gerava a informação mínima necessária

esperada pelos usuários.

Havia, além disso, um problema com aspectos motivacionais relacionados ao

uso de sistemas ou mesmo de aspectos atitudinais relacionados à favorabilidade de

grupo em relação ao sistema e à sua implantação.

96

Analisando-se a fala dos entrevistados, o entrevistado A (Presidente) comentou

que aspectos comportamentais geram problemas complicados e acabam influenciando

as posições de facilitadores. Exemplificou com a posição de Gerente de Projetos, que é

um grande facilitador, tem uma posição de supervisão e coordenação, e não de

execução. Além de disso, deve conhecer tecnicamente o produto e as especificidades do

mercado e fazer com que o grupo trabalhe. Nisso houve uma ruptura, pois o Gerente

escolhido tinha um certo nível de senioridade na posição, estava sendo implantada uma

metodologia do exterior, que não respeitava 100% das especificidades internas e não

conhecia profundamente o que o grupo estava fazendo. Assim, os objetivos de

implantação não foram traduzidos como uma mudança necessária para o grupo, gerando

uma desconexão entre colaboradores e implantadores.

O entrevistado também aponta que houve um fator cultural, pois a responsável

pela implantação não tinha fluência na língua local e, em um trabalho desse porte, não é

simples capturar o que a pessoa explica, por isso se gera um ruído de comunicação, um

desentendimento na complexidade da implantação e também desmotivação e frustração

no grupo. Em sua opinião, talvez esse tenha sido o motivo de tanta rotatividade de

pessoas envolvidas na implantação.

... começando a ter um ruído na comunicação, um desentendimento no nível

de complexidade da implantação, isso gerou desmotivação e bastante

frustração...(entrevistado A)

O entrevistado B (Vice Presidente Financeiro) entendeu que o aspecto

comportamental está interligado com o aspecto cultural, pois a mudança da equipe

gerencial do país observava as deficiências e a forma como o projeto estava sendo

conduzido, mas não tinha alçada para resolvê-lo. Assim, o “dono do problema” não

estava lá.

Além disso, o entrevistado aponta que, além disso, havia uma rejeição muito

grande do grupo local da planta em relação ao que estava implantando. Tratava-se de

um choque entre os “já estavam e as que chegaram”, criando-se, assim, um

comportamento de negação, de não querer usar o sistema novo, alegando-se que já

existiam módulos que poderiam ser operados. Em sua opinião, as pessoas boicotavam o

processo de implantação porque não se sentiam donas dele. Como havia grande

97

rotatividade dos usuários-chaves, esses nunca poderiam ser donos do processo, porque

os que chegavam não sabiam como tinha sido realizado o processo.

Resumindo-se a visão do entrevistado B, os fatores comportamentais de

insucesso foram: negar o uso; querer voltar para o sistema antigo; não aceitar a

mudança, pois não se viam os benefícios; não saber atuar porque não haviam aprendido;

não terem visão sistêmica de todo o processo. O entrevistado finaliza sua fala apontando

que se entende como um fator de restrição implementar um sistema junto com

modificações profundas de equipes. Embora o centro de operação da empresa seja um

sistema integrado, como é possível que se queira implantar um sistema que vai integrar

todas as funções se não se tem uma equipe estruturada para fazê-lo? Isso aumenta a

possibilidade de fracasso, sendo a equipe, portanto, considerada um ponto-chave de

insucesso na implantação do sistema na Beta.

... foi um aspecto importante de insucesso do projeto essa questão de negar o

uso, de querer voltar para o sistema antigo, de querer não aceitar a

mudança...(entrevistado B)

O entrevistado D ( Diretor de Compras) apontou como aspecto comportamental

o fato de que as pessoas estavam vendo o sistema como um "salvador da pátria, onde se

apertaria o botão e todas as informações estariam prontas". Assim, num primeiro

momento, houve uma motivação muito grande para a implantação, mas que, por conta

do inadequado gerenciamento do projeto, essa expectativa não se concretizou. Isso deve

servir de lição aprendida para as demais implantações. Essa não confirmação das

expectativas pessoais acabou levando à descrença das pessoas em relação ao sistema.

Assim, resumindo, em sua opinião o insucesso está relacionado ao excesso de

expectativa do inicio do projeto, não confirmada com o uso do sistema.

Quanto ao gerenciamento inadequado, o entrevistado B comenta que isso

ocorreu porque, no momento de coleta de dados ("Blue Print"), houve uma pressão em

termos de tempo para entrega de informação, não se considerando os prazos que seriam

adequados para as pessoas envolvidas elaborarem e validarem as informações. Isso

acarretou vários problemas, dentre os quais está a não entrega junto ao sistema de

determinados relatórios que eram importantes. Usando uma metáfora, o entrevistado

resume em uma frase: “compramos um carro sem motor”.

98

... então hoje eu acho que boa parte do insucesso tem a ver com o excesso de

expectativa do começo...(entrevistado D)

b- Nível Tático (Entrevistado C, F, G e I)

O ponto de vista tático tem respostas divergentes sobre o ponto de vista

comportamental, de acordo com sua ocupação hierárquica. Foram mencionadas pelos

entrevistados desse nível (assim como citaram os de nível estratégico) a dificuldade do

idioma e a da nacionalidade do Gerente de Projeto. O Gerente da Planta apontou o

envolvimento das pessoas, porém apontou o insucesso por falta de direcionamento. Já o

entrevistado I (Gerente de Controladoria) separou a postura dos envolvidos em duas

etapas: a primeira sem nenhum envolvimento; a segunda, com um grupo totalmente

envolvido e comprometido em atingir a data de inicio do sistema.

Os gestores voltados ao Sistema tiveram a mesma opinião, de que houve falha

de comunicação e que, para outras implantações, o time todo precisa ser conscientizado

da mudança e de sua importância, antes da implantação.

Analisando-se individualmente as falas dos entrevistados, vê-se que o

entrevistado C (Gerente de Sistemas) aponta como ponto de insucesso o aspecto do

idioma do gerente de projeto, bem como a motivação, entendendo que a alta gerência

não estava totalmente comprometida, o que gerou o mesmo efeito em seus

colaboradores .

Outro aspecto relevante foi o fator de alta rotatividade de funcionários, que, em

sua visão, teve pontos positivos (os novos tinham um grau maior de motivação).

... a comunicação foi um ponto falho, barreira da língua, que é a barreira do

idioma, a motivação eu acredito que a alta gerencia não estava totalmente

comprometida e puxando seus colaboradores para estar todo mundo na

mesma sinergia...(entrevistado C)

O entrevistado F (Gerente de Projeto) deixou como recomendação incluir a

gestão de mudança organizacional para o próximo projeto, para que a liderança tenha

um sucesso na gestão da mudança e para que o valor do sistema seja mostrado para

99

organização antecipadamente, havendo o envolvimento de todos no processo de

implantação.

... ao valor do sistema deve ser feito com antecedência para que a

organização se aproprie da implantação...(entrevistado F)

O entrevistado G (Gerente de Planta) entendeu que houve muita gente envolvida

para que o projeto fosse um êxito, porém elas não conheciam o sistema. Faltou uma

pessoa que conhecesse o sistema e a operação. Além disso, faltaram documentos e

instruções para se utilizar o sistema, o que era importante diante dos três turnos

existentes na planta. Isso teria facilitado a comunicação. A ausência de guias para as

pessoas fez com que se demorasse ainda mais a implantação, não gerando um processo-

padrão, pois as pessoas faziam da maneira que sabiam, haviam escutado ou da forma

como alguém havia comentado.

... houve muita gente envolvida para que o projeto fosse um êxito,mas o

problema é que as pessoas locais não tinham conhecimento de SAP, tinham

conhecimento da operação, creio que estas foi uma das falhas, porque não

tinha ninguém conhecendo o sistema e a operação ...(entrevistado G)

O entrevistado I (Gerente de Controladoria) comentou que aspectos

comportamentais foram fatores críticos de insucesso, pois, no início, não havia um

grande compromisso com a mudança. No momento da implantação, podiam ser

identificados dois grupos. O primeiro era com posto por pessoas que se encarregaram da

última etapa de implantação, com todos os esforços, dedicação e aceitação, buscando

explicar as mudanças e apontando que a empresa não voltaria atrás da decisão de

implantação. Avisavam que, se as pessoas não tomassem consciência, o problema seria

ainda maior pós implantação. Esse grupo tentava modificar as condutas individuais e

conseguiu, com isso, que algumas pessoas colocassem o projeto em seus ombros e

trabalhassem da maneira que podiam para entregar os dados no prazo determinado.

O segundo grupo era composto por pessoas reticentes à mudança, com certo

nível de inconformismo e que geraram uma imagem negativa do sistema em todos os

níveis hierárquicos, devido à carga de trabalho. Na opinião do entrevistado I, a carga de

negatividade em relação à implantação era compreensível devido ao fato de se ter

100

mudado muito os consultores, gerando ruídos, pois não ficava claro para as pessoas do

segundo grupo a continuidade das atividades. Essa negatividade gerava um

inconformismo para o primeiro grupo, o do time envolvido.

... tiveram pessoas que colocaram o projeto no ombro e se encarregaram de

fazer o melhor da maneira que sabia, podia da melhor forma a concluir a

maior quantidade de informação possível na data limite que havia a dado a

corporação para o inicio de vida do sistema ...(entrevistado I)

c- Nível Operacional (E, H e J)

Para os entrevistados do nível operacional, também há a compreensão de que o

aspecto comportamental tem influência na implantação do projeto. Os entrevistados

também apontam a resistência das pessoas quanto ao uso do novo sistema, apontando

que pessoas com muito tempo de casa não queriam alterar sua rotina, pois havia o medo

da mudança.

Para o entrevistado E (Analista de SAP para América do Sul), o aspecto

comportamental é o ponto que mais influencia o sucesso ou de uma implantação de

sistema. Para explicar essa opinião, cita como exemplo o gerente de Engenharia, que

estava totalmente envolvido com a mudança de sistema, entendia muito bem o processo,

conversava com os usuários, ia até a linha de produção para explicar as mudanças. A

pedido do time de implantação do SAP, foi para outra planta da Argentina para explicar

a importância da implantação do sistema, pois os usuários dessa outra planta

simplesmente negaram o uso do sistema. O entrevistado aponta esse gestor na planta de

Pacheco como um grande diferencial.

O entrevistado ainda citou outro fator relevante: que as pessoas acabaram

destruindo equipamentos novos na linha de produção e que tal comportamento foi

gerado pelo medo de perder o emprego, por não saber ao certo o que está mudando. Um

ponto importante mencionado pelo entrevistado foi que o usuário no mais baixo nível

tem que ser informado das mudanças. Além disso, afirmou que o comprometimento é

importantíssimo em todos os níveis hierárquicos.

101

... o usuário no mais baixo nível tem que estar bem informado do que está

acontecendo e o comprometimento é importantíssimo tantos dos usuários e

mais ainda dos gerentes e mais ainda da diretoria...(entrevistado E)

Para o entrevistado H (Analista de Custos), no início não havia motivação, havia

falta de comunicação entre todos os setores e as pessoas faziam alterações no sistema

sem saber no que isso as afetaria. Ele apontou que à época da entrevista

(novembro/2013) havia mais motivação porque as pessoas entendiam que o sistema

funciona e que quando estivesse totalmente implantado, facilitaria a vida de todos.

... havia falta de motivação, falta de comunicação entre todos os setores,

chegamos ao momento de fazer sem saber o que afetava a cada

um....(entrevistado H)

Para o entrevistado J (Analista de Contas a Pagar), as pessoas não estavam

acostumadas a usar um sistema e, quando se implantou o SAP, elas se negavam a usá-

lo, pois queriam continuar utilizando seus próprios métodos de trabalho, com a “cabeça

fechada” para esta mudança. Em sua fala, pessoas com muitos anos na função não se

capacitaram e não quiseram se capacitar para essa mudança.

... em realidade não foram para o sistema,voltaram para atrás, seguiram

utilizando seus próprios métodos, com a cabeça fechada...(entrevistado J)

4.5.4. Resumo da Categoria: Aspectos Comportamentais Relacionados

a Implantação do Sistema ERP

Pode-se dizer que todos os entrevistados concordam que aspectos

comportamentais são fatores de sucesso ou insucesso na implantação de sistemas. A fala

dos entrevistados é coerente com a teoria citada por Robbins (2008), segundo a qual se

afirma que a mudança se concentra em três variáveis: estrutura, cultura e pessoas. A

mudança envolve modificação de atitudes (predisposições em relação à mudança) e

comportamentos (ações durante a mudança). Segundo os entrevistados, os aspectos que

podem minimizar a resistência à mudança são: educação, comunicação, participação,

facilitação e apoio, negociação, manipulação, cooptação e coerção. Todos esses

aspectos comportamentais apareceram nas falas dos entrevistados. Também foram

102

citados os aspectos relacionados à estrutura hierárquica, à cultura, à tecnologia e ao

ambiente, além das pessoas.

Quadro 11 - Questões X Roteiro de Entrevista

Objetivos específicos / Categorias Questões

Aspectos Determinantes para a Implantação do Sistema ERP 1,2,6

Fatores Críticos de Sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina 3,4

Como os traços culturais influenciaram na implantação do sistema na base

da Argentina 7,8

Fatores Comportamentais considerados críticos de sucesso (FCS) na

implantação do sistema na base da Argentina 9

Quais aspectos técnicos foram considerados fatores críticos de sucesso

(FCS) na implantação do sistema na base da Argentina 10

Com base nos fatores críticos de sucesso (FCS) identificado , apontar

diretrizes para a implantação do mesmo em outras bases da empresa. 11 e 12

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

Resumindo-se a análise dos como os aspectos comportamentais dos envolvidos

influenciaram na implantação, tanto para o sucesso quanto para o insucesso deste

projeto, pode-se concluir que os entrevistados apontaram a influência dos aspectos

comportamentais como fator de insucesso na implantação do sistema, pois não houve

uma liderança que no inicio do projeto fizesse uma comunicação clara e abrangente

demonstrando a todos os envolvidos a importância da mudança e motivando-os para

que estes se sentissem engajados e comprometidos. A mudança gerou insegurança,

devido à falta de comunicação clara dos objetivos. O medo e a resistência à mudança

foram comportamentos comuns apontados no projeto. Assim, considera-se que o

objetivo específico 4 tenha sido cumprido −Identificar, na visão de gestores brasileiros

e argentinos envolvidos com a implantação do sistema ERP - módulo de custos na

103

organização Beta, quais fatores comportamentais foram considerados fatores críticos

de sucesso (FCS) na implantação do sistema na base da Argentina.

4.6. Considerações Adicionais dos Entrevistados a Pesquisa

Esta categoria foi colocada no roteiro de entrevista para que os entrevistados

pudessem, de alguma maneira, sentir-se à vontade para comentar sobre a pesquisa ou

contribuir com mais algum fator relevante ao tema abordado durante a entrevista.

4.6.1. Categoria 11: A experiência da planta Pacheco como modelo para

outras implantações de sistema

a- Nível Estratégico (Entrevistados A, B e D)

Do ponto de vista Estratégico da empresa Beta, a implantação de sistema na

Planta de Pacheco não pode ser tomada como exemplo para as demais implantações,

pois houve muitas falhas. A mais importante mencionada em praticamente todas as

questões envolvidas na implantação, foi o planejamento antes da implantação. Isso ficou

claro como lição aprendida por todo o resultado obtido até o momento e o seu custo,

bem como as especificidades dessa planta, que geraram e ainda estão gerando

deficiências.

Analisando-se as falas individuais, o entrevistado A (Presidente) entendeu que

essa implantação não serve de modelo. Ele apontou que é necessário montar um time de

implantação de Sistema, que tem que ser local, com liderança local, reportando-se

localmente. Deve estar na prioridade do grupo local e não de um grupo de outro

hemisfério; deve fazer parte da agenda local e ser prioridade do Gerente Geral da Planta

no qual o sistema está sendo implantado, e não liderado por uma entidade fora da

localização, porque senão o Gerente Geral não tem um time dedicado e não tem o

projeto de implantação como foco. É necessário ter um time dedicado 100% do tempo

alocado para o projeto de implantação, porque ela demanda muita energia e somente

104

algumas áreas podem ter dedicação de pessoas em tempo parcial. Depois de criado o

time, é necessário mantê-lo, com um gerenciamento micro. Com isso, a linha de

comando é neutralizada, evitando-se a intervenção da matriz o tempo todo, o que

melhora o processo de comunicação, porque somente uma pessoa informa a matriz com

o resumo do trabalho, o que é normal de ocorrer.

... Não. Não pode, a lição aprendida aqui é que a gente tem que montar um

time, esse time tem que ser um time local, a liderança desse projeto tem que

ser local...(entrevistado A)

O entrevistado B (Vice Presidente Financeiro) afirmou que existem alguns

aspectos positivos, mas que a planta de Pacheco não serve de modelo de implantação. É

um modelo de lições aprendidas de como não se fazer, através de um custo muito alto,

mas válido para dizer aos outros como não fazer. A planta possui aspectos pontuais

atípicos de um cliente específico e que, apesar de ter falhas, podem servir para outras

implantações.

... em termos de modelo é tomar as lições aprendidas de como não se fazer,

na minha opinião, acho que isso tem um custo muito alto....(entrevistado B)

O entrevistado D afirmou que a planta de Pacheco serve de modelo de como não

fazer e não de como deveria ser feito. Como principais lições aprendidas, têm-se:(1) a

coleta de dados anterior a implantação do projeto é fundamental; (2) não adianta querer

fazer a implantação em tempo recorde, mas que sim de maneira adequada.

... e eu usaria a Pacheco como o modelo de não fazer e não de como

fazer...(entrevistado D)

b- Nível Tático ( Entrevistados C, F, G e I)

Do ponto de vista dos entrevistados do nível tático, a implantação de sistema na

Planta de Pacheco não pode ser tomada como exemplo para as demais implantações ou,

em outras palavras, deve ser o modelo de como não implantar. O detalhamento de lições

aprendidas, segundo o entrevistado F(Gerente de Projeto), serve como um alinhamento

da literatura sobre implantação de sistemas e as diversas fases vividas no projeto, o que

105

pode contribuir para uma nova implantação de projetos de ERP em outras bases da

empresa. O entrevistado I (Gerente de Controladoria) apontou, com base em

experiências anteriores, que a falta de embasamento teórico gerou o insucesso da

implantação e trouxe como lição aprendida o que não se deve fazer.

O entrevistado C (Gerente de Sistema) afirmou que essa implantação ainda não

pode ser utilizada como modelo, mas que depois das adequações que estão sendo feitas,

sim, pode ser colocada como modelo para outras bases da Argentina. Em relação às

lições aprendidas, aponta que deve ser levada em consideração a comunicação em

primeiro lugar, de forma muito clara e concisa, buscando o comprometimento dos

usuários, a disseminação de conhecimentos acerca da ferramenta. Salienta que em

nenhum momento da implantação foi feita uma apresentação a todos, demonstrando o

que era a ferramenta, no que ela poderia ajudar, qual o impacto da informação colocada

para as demais áreas. Concluiu dizendo que uma informação errada no início certamente

trará informação errada ao final.

... hoje eu falo que não, não dá para a gente usar como modelo, mas pode ser

que a gente adequando ela, que vai demorar eu diria um ano a dois para tentar

acertar essa implantação, dai depois podemos usar ela como sendo um

template para alguma outra planta da Argentina... (entrevistado C)

O entrevistado F ( Gerente de Projeto) afirmou que a estrutura de custos, sim,

pode ser usada em outras plantas, porém como lição aprendida. Separou por blocos as

deficiências e as necessidades de cada área. Dos gestores, ele destacou que não tinham

uma visão do contexto e estabeleciam prioridades e urgência. Apontou também que

faltou definir uma visão, estratégia e objetivos claros para o projeto e, no seu papel de

Gerente de Projeto, deveria ter montado um livreto para entregar, ao final, com todo o

detalhamento e suporte, bem como assinado pelos gestores das áreas para promover o

comprometimento maneira geral.

Em relação aos usuários chave, disse que precisam ser pessoas com

conhecimento e pouca probabilidade de sair da empresa, pois a rotatividade que ocorreu

prejudicou demasiadamente o projeto.

Ressaltou também que os usuários subestimaram os treinamentos e não deram a

devida importância a qualidade dos dados a serem migrados.

106

... são muitas as lições aprendidas e uma das maiores lições aprendidas são os

usuários-chave com seu comprometimento e participação...(entrevistado F)

Para o entrevistado G (Gerente de Planta), a resposta foi a deque a implantação

trouxe, sim, aprendizagem, tanto para os aspectos positivos, quanto para aqueles não tão

positivos, pois as pessoas que trabalharam na implantação aprenderam de maneira dura,

mas já sabem o que fazer em uma próxima implantação.

... em outra implementação já sabe o que não devemos fazer e tem mais

confirmada o que se deve fazer ...(entrevistado G)

Para o entrevistado I (Gerente de Controladoria), a implantação é um exemplo a

não seguir, pois já participou de outras implantações e que, neste caso, houve falhas

básicas, faltou a base, ou seja, um estudo para se levantar o que já existe, com um

conhecimento profundo do que se pesquisou e se está de acordo com as necessidades

da companhia. Em sua visão, faltou também, após essa etapa, procurar entender quais

eram as necessidades de mudanças para ter sucesso na implantação do novo sistema.

No caso da Beta, a sensação que ficou foi a de que não se atentou para

processos, fluxos de documentação, fluxos de informação, relatórios, o que fez com que

o processo ficasse num modelo muito padrão em alguns casos e, em outros,

demasiadamente customizado. Isso gerou uma necessidade não alinhada com aquilo de

que a companhia precisava, porque não se buscou de maneira eficiente e eficaz o que se

propusera que era um sistema ERP que simplificasse a vida. Não se deu conta, no início

da implantação, de que manter os dados mestres no dia a dia não era tão simples como

se imaginava. Muitas das customizações foram feitas de acordo com o conhecimento do

consultor, e não de acordo com as características especificas da empresa, o que gerou ao

final miniprojetos do sistema para desenvolver, o que, na verdade, deveria estar no

projeto principal de implantação.

... meu sentimento como um usuário final foi omitido no processo de

implementação e a conclusão de que ficou um processo bastante "padrão" em

algumas coisas e muito personalizado outras...(entrevistado I)

c- Nível Operacional (Entrevistado E)

107

O entrevistado E (Analista de SAP para América do Sul) entende que a

implantação da planta Pacheco pode, sim, ser utilizada como modelo, considerando-se o

que foi feito e o que ainda está sendo feito, principalmente se houver plantas que

utilizem o mesmo processo, características específicas do produto e cliente atípico. Ele

afirmou que houve várias lições aprendidas nessa implantação, tais como: (1) trabalhar

com as peculiaridades de um cliente específico; (2) a questão dos coletores de dados que

estão conectados com a Áustria, conexão superlenta e que, o correto deveria ser uma

solução à parte para otimizar tempo e minimizar risco, pois, se cair a conexão, não há

SAP, logo não há coletores; (3) as questões de treinamentos e documentações,

considerando que nas próximas implantações o time de TI deverá ser muito mais

exigente.

Outro ponto relevante exposto pelo entrevistado foi o de que a diretoria

executiva tende a apressar o projeto, mas que o "barato sai caro", pois os gastos para

correção são maiores. Sugere que seja envolvido o time de Sistemas da Beta em todas

as etapas do projeto, e não somente no final da implantação, apesar de ter aumento nos

custos de deslocamento, muitos erros poderiam ter sido evitados se eles estivessem

envolvidos.

...então muitas coisas poderiam ter sido evitadas e, algumas coisas realmente

dá para se melhorar nos próximos e outras nós sabemos que não vai mudar,

então é isso... (entrevistado E)

Resumo:

Em todos os níveis da empresa, ficou claro que o modelo de Pacheco não é o

ideal para implantar sistemas em outras localidades, embora alguns entrevistados

tenham apontado que estavam levando em consideração as lições aprendidas com os

erros. De modo geral, entendeu-se que a implantação teve um aprendizado muito grande

em todos os níveis hierárquicos, de modo que fica claro o que não pode ser feito

novamente nas próximas implantações se o objetivo é alcançar o sucesso. O

detalhamento das lições aprendidas pelo Gerente de Projeto deve ser levado em

consideração pela alta gestão como um direcional para as próximas implantações.

108

Os aspectos que foram abordados pelos entrevistados acerca da implantação do

sistema ERP quanto a fatores críticos de sucesso, insucesso e aspectos técnicos têm

correlação com o que se encontra na literatura.

O conceito de Stratman e Aleda (2002) é o de que a chave para o

desenvolvimento das capacidades dos sistemas de informação da empresa (SI) é saber

articular o papel estratégico e gestão do próprio SI, definindo arquitetura e estrutura de

controle de TI adequada para facilitar o seu desenvolvimento e exploração. Com as

respostas dos entrevistados, viu-se que esses aspectos não foram devidamente

atendidos: a arquitetura do sistema foi falha e a estrutura de controle estava pulverizada

entre gestores da BETA de bases diferentes, o que dificultou a comunicação, conforme

já apontado.

Também se pode apontar que alguns dos fatores de risco para a implantação de

ERPs, que foram levantados por Grabski e Leech (2007), foram evidenciados ao longo

das respostas dos entrevistados neste tópico de Implantação de Sistema, sendo eles:

baixo envolvimento de usuários chave, treinamento e instrução inadequados, processos

de negócios de reengenharia inadequados e serviços de consultoria ineficazes.

Todos esses tópicos foram abundantemente mencionados em todos os

questionamentos relacionados ao tema bem como em todos os níveis hierárquicos.

Resumindo-se a análise da Experiência da planta Pacheco como modelo para

outras implantações de sistema pode-se concluir que os entrevistados apontaram

como um modelo a não ser seguido, ou ainda, implantação com várias lições aprendidas

para serem aplicadas em outras implantações.

4.6.2. Categoria 12: Com relação a pesquisa, teria alguma informação

adicional a ser mencionada

a- Nível Estratégico ( Entrevistados A, B)

Para essa última questão, dois entrevistados do nível estratégicos quiseram

complementar sua fala: o A e o B. O entrevistado A (Presidente) adicionou o

comentário de que à medida que se vai observando a implantação, vai se aprendendo.

109

Segundo ele, as pessoas comentam que times dedicados custam mais dinheiro,

no que ele discorda. Outro ponto que não foi abordado na entrevista, mas que ele

entende como crucial é o "Blue Print", que é a cara da empresa ou a cultura da empresa.

Em sua visão, empresas multinacionais como a Beta deveriam ter um grupo trabalhando

para essa definição e que isso seria como um modelo padrão a ser implantado como

módulo do sistema−e que módulos adicionais para atender às especificidades de cada

região deveriam ser desenvolvido pelas próprias regiões. Ele entende que essa foi uma

falha, pois esse passo pode fazer com que a empresa economize muito dinheiro em

futuras implantações. A definição de "blue print"deve estar feita antes de tudo, de

modo que se tenham as definições básicas e as específicas. A Beta não está tirando

proveito disso, pois não estão deixando esses dois modelos prontos para serem

utilizados nas próximas implantações.

Implantações similares possibilitam a leitura do sistema em qualquer lugar do

mundo, como, por exemplo, a forma como é construído o custo. Hoje se passa muito

mais tempo tentando se entender como são compostos os dados do que propriamente

fazendo análises.

... eu e você aqui passa mais tempo tentando entender o que está dentro ou

que está fora...isso é a construção do número não a análise do

numero.(entrevistado A)

O entrevistado B (Vice Presidente Financeiro) disse que, ao final, é uma

necessidade da empresa ter um sistema integrado, que dê tranquilidade na gestão à

distância, seja flexível ao negócio, porém "inflexível a jeitinhos". Considera que tenha

sido uma decisão acertada investir em sistema, e que tudo que está se aprendendo com

tudo isso é fazer de forma melhor, o que já pode ver um resultado diferente do que se

foi obtido, a empresa não desistiu e continua investindo. Acrescenta que a presente

pesquisa vai ser muito importante para a empresa e que contribuirá no futuro para ter

mais sucesso e errar menos nas outras implantações.

... a sua pesquisa vai ser importante para gente, para você contribuir com a

nossa organização e melhorar e ter mais sucesso, errar menos nos outros

lugares.(entrevistado B)

b- Nível Tático (Entrevistados C,F,G e I)

110

O entrevistado C (Gerente de Sistemas) afirmou que agora é “correr atrás” para

resolver este problema e que ainda existem lacunas a serem resolvidas em Pacheco, mas

que a ideia é se resolver com o time local, estando alerta para resolver o que ainda está

em aberto.

... simples fato de que agora ter que correr atrás para tentar resolver este

problema...(entrevistado C)

O entrevistado F (Gerente do Projeto) comentou que toda a implantação de

projeto não é uma implantação de TI, é uma implantação do negócio. Com a

implantação do ERP, o negócio se torna controlável, e as decisões precisam ser

baseadas em dados.

... toda implantação (ERP) não é uma implantação de TI e sim uma

implantação do negócio...(entrevistado F)

O entrevistado G (Gerente da Planta) comentou que essa implantação foi a mais

complicada que já vivenciou em sua carreira, pois o sistema não funciona como deveria,

gera conflitos internos pela ansiedade em ter as informações em tempo real

comprometendo a necessidade de reportar os resultados. Como resposta a isso, as

pessoas seguem convivendo com as planilhas de excel, fazendo controles paralelos ao

sistema e que podem trazer problemas futuros junto aos clientes.

... esta foi a implantação mais complicada que já passei, até o dia de hoje é

frustrante...(entrevistado G)

O entrevistado I (Gerente de Controladoria) comentou que a velocidade da

implantação joga contra a efetividade da implantação e que tudo aquilo que não está

dentro do pacote original de implantação pode sair caro demais, caso seja desenvolvido.

Em sua opinião, seria preferível uma implantação um pouco mais extensa, cumprindo

todos os passos necessários para assegurar o êxito, do que fazer uma implantação

rápida, com muitas horas de consultoria posteriores para resolver questões prévias que

deveriam ser vistas antes do desenvolvimento do projeto.

111

... ter muito bem claro que a velocidade da implantação joga contra a

efetividade da implantação...(entrevistado I)

c- Nível Operacional (Entrevistados E, H e J)

Dentre os entrevistados do nível operacional, apenas o entrevistado J (Analista

de Contas a Pagar) comentou a necessidade de se ter um líder que se esforce e alcance

os objetivos para poder melhorar todo o processo do sistema. Sua fala sugere que, em

sua opinião, isso não aconteceu na implantação do sistema na planta Pacheco.

... que coloquem um pessoa, um líder...(entrevistado J)

Quadro 11 - Questões X Roteiro de Entrevista

Objetivos específicos / Categorias Questões

Aspectos Determinantes para a Implantação do Sistema ERP 1,2,6

Fatores Críticos de Sucesso (FCS) na implantação na base da Argentina 3,4

Como os traços culturais influenciaram na implantação do sistema na base

da Argentina 7,8

Fatores Comportamentais considerados críticos de sucesso (FCS) na

implantação do sistema na base da Argentina 9

Quais aspectos técnicos foram considerados fatores críticos de sucesso

(FCS) na implantação do sistema na base da Argentina 10

Com base nos fatores críticos de sucesso (FCS) identificados, apontar

diretrizes para a implantação do mesmo em outras bases da empresa. 11 e 12

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

112

4.7. Considerações gerais acerca das categorias analisadas

Pela fala dos entrevistados, pode-se ver que o momento da entrevista foi

utilizado como um momento de desabafo perante a frustração que representou para

todos a implantação do sistema ERP - módulo custos na planta Pacheco, da empresa

Beta.

Por várias vezes, observou-se que os entrevistados misturavam as respostas,

respondendo em uma questão os temas de outras perguntas, lembrando-se de outros

fatores de insucesso, quase como se estivessem partilhando a sua "dor" pela mudança.

Parecia ser um momento para registrar (ainda que informalmente perante a empresa) o

seu ponto de vista de tantos aspectos sequenciais que foram responsáveis por insucessos

na implantação.

O que todos os entrevistados trouxeram, em algum momento da pesquisa, foi a

possibilidade de aprendizagem com os erros. As lições aprendidas foram dolorosas, mas

percebidas como possibilidade de aprimoramento, sugerindo o que não se deve praticar

numa próxima implantação. Essa aprendizagem, ainda de que maneira dura, já traz um

ganho para a organização.

Essa forma de se comportar perante essa mudança traz muitos dos elementos

comentado por Cesar (2004) em relação ao processo de luto decorrente de mudanças. A

fala dos entrevistados mostra que houve luto decorrente das mudanças; as perdas para

os funcionários da planta de Pacheco se relacionavam à mudança da situação da

empresa familiar para uma empresa multinacional, perdendo-se a situação de conforto

por aquilo que é conhecido, conforme expresso na fala de um dos entrevistados. O

medo ao novo causa muita insegurança.

O momento da entrevista, acabou sendo uma chance de desabafo pode ter

representado, para os entrevistados, o momento que Cesar (2004) considera como a

etapa de “falar da dor”, fase da mudança na qual se discute o que o passado tinha de

bom e como esse passado pode alavancar o futuro. Conforme dito pelos entrevistados,

houve muita dissonância entre as expectativas dos empregados e a realidade que lhes foi

imposta. Isso não mobiliza as pessoas para ação, conforme apontado nas falas dos

entrevistados.

113

Muitos entrevistados relataram ações que deveriam ter ocorrido etapas de

conscientização para a implantação. Seria o que, no modelo de Cesar, caracteriza-se

como etapa na qual se “aliviar o peito”, ou seja, o momento no qual as pessoas

entendem a conjugação entre os seus objetivos pessoais e os objetivos da empresa em

um processo de mudança.

A implantação de um novo sistema certamente traz uma série de vantagens

dentro do ambiente de gestão, mas isso só é percebido quando as pessoas conhecem

claramente os rumos da implantação. Em termos de mudança a planta de Pacheco deve

estar vivenciando a etapa final da mudança na qual as competências dos envolvidos com

a mudança estão definidas e as pessoas estão vivenciando o uso do sistema em suas

atividades diárias, seja alimentando o sistema com informações, seja usando essas

informações em seus processos de trabalho. É a fase de consolidação da mudança,

descrita por Cesar (2004) como o momento de “ancorar o coração”, ou seja, como a

etapa na qual os esforços não estão mais voltados para resistência, e sim para a

mobilização em direção ao novo.

114

6. Diretrizes para Implantação do Sistema ERP em outras

Plantas

Com base em todas as entrevistas, pode-se concluir que a implantação do

sistema ERP nesta planta objeto de estudo não foi definitivamente um êxito, pois,

quando do inicio do projeto, não foram levados em consideração fatores críticos de

sucesso essenciais para a implantação do um projeto ERP.

Quando da definição de se implantar um sistema, o nível estratégico da empresa

deve equalizar a visão do projeto em primeiro nível e fazer com que o time "compre" a

ideia do projeto, demonstrando as vantagens competitivas do mercado, a visão do futuro

da empresa, o quanto será importante para o crescimento e até mesmo para a

sobrevivência da empresa no mercado perante os concorrentes.

Essa visão estratégica da empresa que justifica o porquê da implantação deve

estar clara para todos, em todos os níveis hierárquicos da empresa, especialmente para

aqueles do nível estratégico, pois serão eles os “vendedores” da implantação para o

nível tático, e este nível, consequentemente, “vendedor” para os funcionários do nível

operacional. A empresa deve ter uma só visão em todos os níveis hierárquicos.

Dentro dessa etapa, que pode ser denominada sensibilização, pois toda a

empresa está sendo preparada para a implantação do projeto, deverão ser analisados os

aspectos comportamentais. As pessoas precisam entender que, desde o mais alto nível

hierárquico até o operacional, todos deverão estar engajados em obter o sucesso do

projeto. Para isso, é necessário promover reuniões periódicas, demonstrando a

importância das pessoas para a empresa, definir claramente seus papéis dentro do

projeto, quais são as vantagens dessa implantação e deixar claro que a implantação trará

qualidade para o trabalho de todos, após a implantação.

Nesse momento, no qual o nível estratégico da empresa está trabalhando todo o

escopo estratégico do projeto para ser transferido para a base onde será implantado,

deverá ser considerado o fator de resistência à mudança. A comunicação entre níveis

115

deverá ser transparente e os objetivos da implantação precisam estar claros, pois isso

minimizará a resistência e proporcionará o comprometimento do grupo no projeto.

Conforme apontado por Cesar (2004), é natural que o ser humano tenha

dificuldade de aceitação de mudanças que sejam percebidas como rupturas irreversíveis,

por isso é importante abrir discussões para entender o que as pessoas pensam do seu

processo de trabalho atual, bem como é importante que os gestores (que devem ser os

agentes multiplicadores do objetivo da empresa) demonstrem porque as mudanças

podem ser benéficas.

Com este escopo montado e o time estratégico equalizado, o projeto deverá ser

exposto ao time tático da planta para que este multiplique os objetivos para os níveis

operacionais. Essa etapa pode ser chamada de adaptação da planta, pois é nesse

momento que será divulgado para todos os envolvidos o objetivo e a razão pelo qual se

definiu a implantação naquela planta.

A recomendação é de que o primeiro comunicado do projeto na planta seja feito

através do Presidente, para que as pessoas sintam o envolvimento e a importância do

projeto. Acredita-se que a figura do Presidente nas plantas pode gerar um conforto no

alinhamento do objetivo entre as diferentes áreas da planta, o que pode trazer mais

confiabilidade para os gestores da planta sedimentarem a mudança entre os empregados

do nível operacional. Essa comunicação precisa ser feita de forma clara e através de

uma linguagem que seja entendida por todos os níveis.

Ainda na fase de adaptação da Planta, deverá ser adequado um ambiente físico

para o time que estará dedicado ao projeto. Propõe-se a reserva de uma sala com

infraestrutura para que a equipe tenha condições de estar sempre no mesmo ambiente e

compartilhar as informações. No aspecto comportamental, essa possibilidade de

trabalho em equipe é de grande valia, pois as pessoas podem compartilhar seus anseios

e suas conquistas pela dedicação a essa nova tarefa.

Nessa etapa, propõe-se que os gestores ( estratégicos e táticos) também devam

avaliar os aspectos culturais da região e da planta específica. Todos os entrevistados

(exceto o Gerente de Projeto) criticaram o fato de ter sido escolhido um Gerente de

Projeto que não era do país, com o agravante de não falar a língua local. Essa lição

aprendida é um fator de recomendação relevante, pois o papel do Gerente de Projeto é

ser um elo entre a empresa e os consultores, afinal, cabe a ele equalizar as informações

116

de ambos. De acordo com o que declararam os entrevistados, é importante que esse

profissional seja um funcionário da empresa que nela permanecerá após a implantação,

pois a quantidade de informação absorvida durante o processo de implantação não pode,

de forma alguma, ser descartada pela empresa. O funcionário deve permanecer para que

seu aprendizado seja compartilhado com outros funcionários da mesma planta ou de

outras plantas que venham a passar por processos de implantação. Ele cumpriria a

função daquele funcionário que dá o exemplo, conforme apontado pelos entrevistados.

Um aspecto importante para a implantação de sistemas em outras bases da Beta

é a ênfase em sua cultura Beta, para demonstrar aos seus colaboradores que a mudança

proposta está de acordo com os objetivos do seu fundador, aqueles expressos na sua

Carta Beta. Considera-se que seja importante fazer esforços para que as pessoas

assimilem os valores da Beta em seu dia a dia de trabalho. Sabe-se que essa assimilação

não é imediata, mas deve haver a transição dos valores das bases que foram encampadas

para os valores da Beta. Cada região, pais e até mesmo estado segue alguns valores e

culturas específicos, e isso deverá ser respeitado para que seja assegurado o sucesso da

implantação. Essa regionalidade pode se assegurada pela forma como as práticas de

trabalho são implantadas em cada região. Para a planta Pacheco da Beta, essa

universalização dos valores é importante para facilitar a gestão, porque, afinal, trata-se

de uma empresa da América do Norte (Estados Unidos), que atua em um país latino da

América do Sul e que é comandada por brasileiros (cujo idioma é o português, e não o

espanhol nem o inglês). Essa diferença de culturas foi apontada como um fator de

insucesso na implantação da planta de Pacheco (Argentina), pois, segundo os

entrevistados, os argentinos, por sua cultura regional, não aceitavam as imposições

estrangeiras que na planta de Pacheco eram americanas, brasileiras e até mesmo

mexicanas. Como recomendação no aspecto cultural, sugere-se que a empresa sempre

deva colocar gestores de planta que sejam locais. Esses devem ter facilidade para atuar

em ambientes multiculturais, uma vez que devem respeitar os aspectos locais, estarem

alinhados com os objetivos da matriz e com os de seus gestores regionais. Essa

facilidade pode se refletir na facilidade de implantação, porque eles serão os

multiplicadores da cultura organizacional na planta, minimizando os efeitos das

interferências culturais.

Outro ponto de grande relevância mencionado pelos entrevistados de forma

geral foram os aspectos técnicos relacionados à implantação. É difícil entender como

117

tantos problemas dessa natureza foram apontados, tendo em vista a expertise da

empresa gestora do sistema ERP.

Para minimizar os problemas apontados a empresa Beta, seguindo

recomendação do próprio Presidente, deverá ser formado um núcleo duro, ou seja, um

time de funcionários devidamente capacitados, com experiência no setor e vivência na

Beta, com comprometimento de permanecer na empresa para disseminar seus

conhecimentos.

Esse time, tecnicamente denominado de "keyuser" deverá ser dedicado ao

projeto em tempo integral, de modo que sejam asseguradas todas as necessidades que

são geradas com a implantação de sistemas do tipo ERP. Esse time de "keyuser" ou

usuários-chave, devidamente suportados pelos seus gestores, deve manter comunicação

com o nível estratégico da empresa, estando alinhado com seus objetivos, devendo

delinear todo o processo de implantação da planta.

Seus conhecimentos deverão ser suficientemente abrangentes para assegurar que

todas as peculiaridades da planta sejam desenhadas no projeto, bem como as exigências

do Estado e da Federação nos quais as plantas estejam localizadas, de modo que todas

sejam cumpridas através do sistema. Atreladas a tudo isso, as exigências de clientes

especiais, comercialmente já aceitas pela Beta, deverão ser supridas pelo sistema

implantado. Além disso, esse grupo deverá desenhar todas as etapas do processo

existente para assegurar que o novo sistema esteja devidamente alinhado com os

procedimentos da empresa e com as exigências de "Sarbanes Oxley - SOX"

(procedimento exigido para empresas americanas).

Outro papel desse grupo deve ser assegurar, junto aos seus gestores, que

processos contingenciais poderão ser utilizados dentro do período de implantação, para

mitigar possíveis deficiências do sistema no processo de implantação. Deve-se lembrar

que, ao longo de todo o processo desse projeto, reuniões periódicas sobre o andamento

do projeto devem ser feitas com todo os níveis hierárquicos da empresa: estratégico,

tático e operacional.

O outro fator importante no aspecto técnico é a consultoria que implementará o

sistema ERP. Com base em todos os fatores críticos de sucesso apontados durante as

entrevistas, a escolha da consultoria adequada é um fator crítico de sucesso. O nível

estratégico da empresa, juntamente com o seu time tático (principalmente sistemas) que

118

detém conhecimentos específicos, deverá escolher a consultoria mais adequada para a

implantação, não levando em consideração somente o fator custo, mas sim os fatores:

experiência no setor, experiência na localidade da planta e a existência, em seu quadro

funcional, de consultores seniores e comprometidos que possam estar no time até o final

do projeto. Essa consultoria deverá, ainda, apresentar um cronograma das atividades que

seja exequível. Quanto aos seus consultores seniores, estes deverão ter amplos

conhecimentos nas áreas específicas de cada consultor, para que sejam capazes de

suportar com informações necessárias os usuários-chave, bem como alertar a empresa

de que os usuários designados não estão correspondendo adequadamente às exigências

técnicas do projeto (e vice-versa).

Este grupo de consultores deverá proporcionar treinamentos aos usuários,

levando em consideração todos os níveis de usuários, pois, em toda implantação, supõe-

se que haja no grupo pessoas que conhecem o sistema e outras que nunca sequer viram

sua tela de abertura. Portanto, esse grupo de consultores deverá proporcionar um

treinamento que cubra todos estes usuários e em que, ao final, todos estejam

tecnicamente treinados no mesmo nível de conhecimento.

Além disso, em todas as fases do projeto, os consultores deverão disponibilizar

manuais que contenham o passo a passo da implantação para os usuários, de modo que

possam servir de auxilio a todos os momentos de acesso ao sistema.

Resumindo-se: a partir da análise das diretrizes para implantação do Sistema

ERP em outras Plantas, pode-se concluir que o objetivo específico 5 tenha sido

cumprido — com base nos fatores de críticos de sucesso (FCS) identificados, apontar

diretrizes para a implantação do mesmo sistema em outras bases da mesma empresa.

O quadro 12, abaixo, demonstra, de maneira resumida, as recomendações para as

etapas de implantação, considerando-se a simultaneidade de ações em cada uma das

etapas previstas. Tais diretrizes serão apresentadas aos envolvidos com a implantação

do projeto na planta Pacheco da empresa Beta, de modo que sejam validados,

garantindo sua implementação nas próximas implantações de sistema, que devem

ocorrer em outras plantas da empresa Beta. Essas recomendações são esperadas pela

empresa, ideia que pode ser demonstrada com a fala do entrevistado B Vice Presidente

Financeiro da Beta:

119

Até a sua pesquisa vai ser importante pra gente, para você contribuir com a

nossa organização e melhorar e ter mais sucesso, errar menos nos outros

lugares.

120

Quadro 12 - Diretrizes-Etapas para a Metodologia de Implantação

Fonte: elaborado pela autora com base na teoria.

121

7. Considerações Finais

A pesquisa buscou responder à seguinte questão: Como os fatores

comportamentais/culturais se relacionam com aspectos de implantação do módulo

de custos de um ERP em uma determinada empresa? Seu objetivo geral foi:

analisar os fatores críticos de sucesso na implantação do sistema de custos na

indústria Beta de autopeças, considerando-se variáveis comportamentais e técnicas

relacionadas à implantação.

Através das entrevistas realizadas com os diversos níveis hierárquicos da

empresa Beta, ficou definido o insucesso da implantação devido aos diversos fatores

mencionados relacionados aos aspectos comportamentais, culturais da região em que a

planta se localizava e também somando a estes fatores, os aspectos técnicos que não

foram levados em consideração quando do delineamento do processo de implantação do

projeto.

No capítulo 5 são apontadas algumas diretrizes como sugestão para serem

utilizadas em próximas implantações, elaboradas de acordo com o referencial teórico

estudado e, em conjunto com as lições aprendidas mencionadas pelos entrevistados,

principalmente do nível estratégico, que trouxe uma maior contribuição de dados.

O nível estratégico da empresa Beta conta com a contribuição desta pesquisa

para melhorar as próximas implantações nas demais fábricas (palavras do Vice

Presidente Financeiro), visando o benefício em termos de qualidade de informação e

custo. Um dos principais aspectos mencionados, que foi o custo e tempo (palavras do

Presidente), podem ser otimizados através das diretrizes propostas de implantação. Com

o delineamento proposto, o envolvimento dos colaboradores propiciará um ganho de

motivação, comprometimento e, estes realmente terão o sentimento de que fazem parte

do processo. O fato da comunicação clara das diretrizes da empresa entre todos os seus

níveis hierárquicos fará com que os envolvidos tenham a liberdade de expor suas ideias

e apontar os problemas durante a implantação. Com este início bem modelado, o ganho

econômico com a otimização de horas de consultoria, atingirá o resultado final

esperado, bem como a qualidade e agilidade das informações apresentadas. De acordo

122

com o entendimento do Presidente, um time dedicado é um ganho para a companhia, e

as diretrizes propostas deixa isso bem claro. A eficácia das informações geradas pelo

sistema ERP será resultado da implantação adequada e bem planejada, ou seja, o

empenho e custo deste grupo dedicado ao projeto e alinhado com o planejamento será a

chave do sucesso para a implantação bem sucedida.

A validação dos resultados apontados no estudo dependerá da validação das

diretrizes propostas e de sua utilização durante uma futura implantação de sistemas na

empresa Beta. Embora se tenha abordado uma única empresa, por sua característica de

multinacionalidade acredita-se que os problemas encontrados na planta Pacheco possam

estar presentes em outras empresas, em situações semelhantes. Assim, este trabalho

pode trazer uma contribuição importante para outras empresas que passem por situações

semelhantes durante a implantação de sistemas.

As principais contribuições trouxeram como aplicação prática o

desenvolvimento de um plano de ação para a implantação do sistema em outras bases da

empresa, evitando-se, assim, os fatores de insucesso apontados na implantação

analisada. Para estudos futuros, sugere-se o acompanhamento dessas novas

implantações a serem feitas com base no plano de ação ora proposto, em busca de seu

aprimoramento.

Observou-se uma lacuna no relacionamento direto dos responsáveis pela

implantação com a área de Recursos Humanos que poderia ter informações relevantes

dos fatores estudados, como a rotatividade de funcionários.

O estudo interessa a todos os gestores da empresa Beta envolvidos com as

implantações futuras em outras bases da empresa. Interessa também a outras empresas

multinacionais que estejam sediadas em um país e liderando implantações em outros

países principalmente se estas forem do ramo de autopeças na Argentina.

Como limitação do trabalho, aponta-se o fato de terem sido entrevistados

profissionais de vários níveis, mas todos ocupando posições cuja formação técnica é de

nível superior. Seria interessante aumentar o escopo da pesquisa analisando a percepção

dos operários da planta Pacheco, para ver se suas percepções e expectativas confirmam

as visões de seus superiores. É possível que aflorem questões não resolvidas

relacionadas a problemas de conflito de interesses, por exemplo.

123

Também não foram discutidos os aspectos de relações trabalhistas e sindicais

que possam ter afetado a rotatividade dos empregados na planta Pacheco. O cenário

econômico da Argentina no momento da implantação pode estar relacionado a

problemas encontrados na fábrica. Assim, o que se considera tenham sido problemas

relacionados à implantação podem ser de fato, problemas de outra natureza. O estudo

não se aprofundou nesses aspectos, porque a implantação do sistema ocorreria de

qualquer forma, por se tratar de uma diretriz da Matriz da empresa. Todavia, fica como

recomendação que durante a implantação de sistemas em plantas de outros países seja

feita uma parceria com a área de Recursos Humanos da empresa, o que pode facilitar a

compreensão de aspectos de natureza trabalhista, bem como de práticas de trabalho

locais.

124

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129

Apêndices

Anexo A – Termos de Esclarecimento

130

A1 – Termo de Esclarecimento

TERMO DE ESCLARECIMENTO

Gostaria de convidá-lo a participar do projeto de pesquisa: Quais os fatores

comportamentais, culturais e técnicos se relacionam com aspectos de implantação

do módulo de custos de um ERP em uma determinada empresa na Argentina?

O objetivo da pesquisa será analisar os fatores críticos de sucesso na

implantação do sistema de custos na indústria Beta de autopeças, considerando-se

variáveis comportamentais, culturais e técnicas relacionadas à implantação.

Os dados para o estudo serão coletados por meio de entrevistas.

Em qualquer etapa do estudo você terá acesso aos Pesquisadores Responsáveis

para o esclarecimento de eventuais dúvidas (no endereço abaixo), e terá o direito de

retirar-se do estudo a qualquer momento, sem qualquer penalidade ou prejuízo. As suas

informações serão analisadas em conjunto com a de outros participantes. Em todas as

etapas do estudo será garantido o sigilo, a privacidade e a confidencialidade das

questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes bem como a

identificação do local da coleta de dados.

Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da

pesquisa, poderá entrar em contato com o pesquisador Responsável.

Gladis Borelli

Pesquisadora responsável

[email protected]

Ana Maria RouxValentini Coelho Cesar

Orientadora do projeto de Mestrado

[email protected]

131

A2 – Consentimento Informado

CONSENTIMIENTO INFORMADO

Me gustaría invitarle a participar en el proyecto de investigación: ¿ ¿Cuáles son

los factores de comportamiento, culturales y técnicos se refieren a los aspectos del

costo de implementación de un ERP en una empresa en particular en el módulo de

Argentina?

El objetivo de la investigación analizar los factores críticos de éxito en la

implementación del sistema de costo en la beta de auto partes de la industria,

teniendo en cuenta las variables de comportamiento, culturales y técnicos

relacionados con la implementación.

Los datos del estudio se recogieron a través de entrevistas.

En cualquier etapa del estudio usted tendrá acceso a los investigadores para

aclarar cualquier duda ( en la dirección abajo), y tendrá derecho a retirarse del estudio

en cualquier momento sin sanción o perjuicio . Su información será analizada en

conjunto con los demás participantes . En todas las etapas del estudio se garantizará la

confidencialidad , la privacidad y la confidencialidad de las preguntas contestadas, y

vigilados los nombres de los participantes y la identificación de la ubicación de la toma

de datos.

Si usted tiene alguna consideración o duda sobre los aspectos éticos de la

investigación , puede ponerse en contacto con el investigador responsable.

Gladis Borelli

Pesquisadora responsável

[email protected]

Ana Maria RouxValentini Coelho Cesar

Orientadora do projeto de Mestrado

[email protected]

132

A3 – Informed Consent

INFORMED CONSENT

I would like to invite you to participate in the research project: What are the

behavioral, cultural and technical factors relate to aspects of the implementation

cost of an ERP in a particular company in Argentina module?

The objective of the research is analyze the critical success factors in the

implementation of the system cost in the industry Beta auto parts, considering

behavioral, cultural and technical variables related to deployment.

The data for the study will be collected through interviews.

At any stage of the study you will have access to Investigators for clarifying any

doubts (at address below) , and will be entitled to withdraw from the study at any time

without penalty or prejudice . Your information will be analyzed together with the other

participants. At all stages of the study will be ensured confidentiality, privacy and

confidentiality of the questions answered , and guarded the participants' names and the

identification of the location of the data collection .

If you have any consideration or doubt about the ethical aspects of research , you

can contact the researcher responsible.

Gladis Borelli

Pesquisadora responsável

[email protected]

Ana Maria RouxValentini Coelho Cesar

Orientadora do projeto de Mestrado

[email protected]