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Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH
Escola de Museologia
Wagner Willian Martins
A IMPORTÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO MUSEOLOGICA,
O CASO DA COLEÇÃO JAPONESA DO SETOR DE ETNOLOGIA DO
MUSEU NACIONAL
Rio de Janeiro
2014.2
2
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH
Escola de Museologia
Wagner Willian Martins
A IMPORTÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO MUSEOLOGICA,
O CASO DA COLEÇÃO JAPONESA DO SETOR DE ETNOLOGIA DO
MUSEU NACIONAL
Monografia apresentada à escola de
Museologia da Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro –
UNIRIO, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em
Museologia.
Rio de Janeiro 2014.2
3
Monografia apresentada à escola de Museologia da Universidade Federal do Estado
do rio de Janeiro – UNIRIO, como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Museologia.
_____________________________________________________
WAGNER WILIAM MARTINS
Monografia apresentada em ____ / ___ / ________
____________________________________________
Orientadora Professora Helena Cunha de Uzeda
______________________________________________
Professora Avelina Addor
______________________________________________
Professor Marcio Rangel
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à minha esposa Carla e meus filhos Wiliam e Lívia, que
me incentivaram e apoiaram durante todo curso, tiveram paciência e compreensão
com minhas ausências, e nos momentos de angústias e irritações retribuíram com
carinho e amor.
5
AGRADECIMENTOS
Ao atual Decano do Centro de Ciências Humanas: professor Ivan Coelho de
Sá, como exemplo e inspiração para todo bom profissional de Museologia.
A dedicação dos professores da UNIRIO em especial: Amir Geiser; Anaildo
Baraçal; Antonio Carlos de Carvalho; Cícero Antonio Fonseca de Almeida; Marcio
Rangel e as professoras: Andrea Fernandes Costa; Avelina Addor; Deusana Maria
da Costa Machado; Geni Chaves Fernandes; Helena Cunha de Uzeda; Julia
Nolasco, Junia Guimarães ; Leila Beatriz Ribeiro; Líbia Schenker; Marcia Valeria
Rosa, Marisa Vianna Salomão;
A compreensão, apoio e incentivo da direção do Museu Nacional em especial
ao ex-diretor professor Sergio Alex Kugland de Azevedo, e a atual diretora
professora Claudia Rodrigues Ferreira de Carvalho.
Aos amigos da faculdade de Museologia, em particular: Rose Mary de Oliveira
Messias Moritz e Letícia Meirinho.
Aos amigos do Museu Nacional em especial à Eliana Ezagui Frenkel, Jaçanã
Elizabeth Nogueira da Silva e Roosevelt Rodrigues Mota.
A historiadora Regina de Macedo Dantas, e à arqueóloga Silvia Barreiros dos
Reis que muito me auxiliaram.
A seção de Museologia em especial as museólogas Cleide Maria da
Conceição Martins e Moana Campos Soto.
A chefia do arquivo geral do Museu Nacional Maria das Graças Freitas Souza
Filho e especialmente aos servidores: Gustavo Alves Cardoso Moreira; Ubirajara
Queiroz Mendes, Márcia Pereira de Barros Baptista, pelo auxilio e apoio na pesquisa
documental.
A chefia do laboratório de restauração do Museu Nacional Simone de Souza
Mesquita e a restauradora Márcia Valeria de Souza.
Ao setor de etnologia do Museu Nacional em especial aos servidores Raquel,
Correa Lima e Crenivaldo Regis Veloso Junior, por franquearem o acesso à coleção
e a documentação do setor.
E a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para concretização
deste trabalho.
6
RESUMO
O presente trabalho versa sobre os objetos que formam a coleção de origem
japonesa do setor de etnologia do Museu Nacional, reunidos durante os séculos XIX
e XX, onde temos a presença de uma armadura de Samurai como peça de maior
expressão. Esse tema é relevante tendo em vista que este acervo nunca foi
estudado ou exposto e nenhum trabalho foi produzido sobre o mesmo até o
momento. Constata-se, ainda, que mesmo entre os servidores do museu, inclusive
do setor de etnologia, há um completo desconhecimento sobre suas origens e,
apesar do Museu possuir uma sala de exposição de longa duração há mais de 60
anos dedicada a “Culturas do Pacífico”, não há nenhuma peça ou menção à cultura
japonesa. Assim, o objetivo desse trabalho é identificar o acervo ligado à cultura
japonesa do setor de Etnologia e discutir a importância da documentação
museológica como fonte de informação e instrumento de transmissão do
conhecimento. Como base, foram utilizadas fontes primárias documentais do setor
de etnologia e do arquivo geral histórico do Museu Nacional, assim como fontes
secundárias, como: relatórios e publicações do Museu, e dissertações sobre as suas
coleções.
Palavras-Chave: Coleção japonesa, Museu Nacional do Rio de Janeiro, Armadura
Samurai, Documentação museológica.
7
SUMÁRIO
Introdução....................................................................................................................8
Capítulo I – Documentação Museológica ..................................................................11
1.1 – O Colecionismo. Gabinetes de Curiosidades e Museus .......................11
1.2 – A documentação em Museus ................................................................12
1.3 – A documentação de objetos etnográficos .............................................16
Capitulo II – O Museu Nacional..................................................................................19
2.1 – Histórico..................................................................................................19
2.2 – A Transferência do Museu para Quinta da Boa Vista ...........................25
2.3 – A Casa dos Pássaros.............................................................................29
2.4 – João de Deus e Matos............................................................................32
Capitulo III – A coleção japonesa...............................................................................35
3.1– Histórico sobre o Japão...........................................................................35
3.2 – O estabelecimento das relações Brasil e Japão ...............................40
3.3 – A Coleção Japonesa...............................................................................40
3.4 – A identificação da Coleção Japonesa.....................................................42
Considerações Finais.................................................................................................47
Referências................................................................................................................49
Anexo I.......................................................................................................................54
Anexo II......................................................................................................................60
Anexo III ....................................................................................................................61
Anexo IV ....................................................................................................................62
8
INTRODUÇÃO
A ideia desta monografia surgiu no inicio de 2014, em função da orientação
da professora Avelina Addor de que o tema da monografia a ser escolhido pelo
aluno deveria responder ao seu interesse como pesquisador, podendo surgir da sua
vida profissional. O que me remeteu a lembrança do contato acidental ocorrido há
mais de dez anos com uma espada de Samurai; esta que se encontrava em
processo de conservação preventiva no Laboratório Central de Conservação e
Restauração (LCCR), do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro..
Este contato foi possível em função de minha atuação como servidor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autarquia do Ministério da
Educação a qual o Museu Nacional esta vinculado, exercendo o cargo de técnico em
edificações desde 1987, sendo posteriormente designado para a chefia do setor de
Manutenção do Museu Nacional em 1991, e desde o ano 2000 exercendo a função
de Diretor Adjunto Administrativo, o que me possibilitou o trânsito e o contato com as
diversas coleções, os especialistas e os curadores da instituição.
Tomado pela beleza e pela curiosidade da peça procurei me informar a seu
respeito, e para minha surpresa, descobri que a instituição possuía uma armadura
de origem japonesa (de Samurai), além de diversos outros objetos e indumentárias
japonesas. Esse acervo suscitou o meu interesse.
No ano de 2005, pude auxiliar a historiadora e, também, servidora do Museu
Nacional, Regina Maria Macedo Costa Dantas, em sua dissertação de mestrado, “A
Casa do Imperador: do Paço de São Cristóvão ao Museu Nacional”, no programa de
Pós-Graduação em memória social da Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro - UNIRIO, especialmente no terceiro capítulo, quando trata do “Museu do
Imperador”, em sua busca nas coleções do museu, por acervos reminiscentes das
coleções do imperador D. Pedro II.
Considerando que algumas coleções estrangeiras sob a guarda do Museu
Nacional pertenceram à família imperial, levantei na época a hipótese de que parte
das peças da coleção japonesa poderiam ter pertencido à família imperial brasileira.
Essas peças, ligadas às atividades guerreiras, como espadas e armaduras, que
possuem altos valores monetários, eram colecionadas normalmente pela burguesia
e pela nobreza, podendo ter sido adquiridas ou presenteadas à família imperial
9
brasileira, e posteriormente, repassadas ao Museu Nacional, uma hipótese que foi
descartada à época.
O fato de atuar profissionalmente na instituição me despertou o interesse pela
área museológica, especialmente, pelas coleções do Museu Nacional, levando-me,
inclusive, a ingressar e cursar a Graduação em Museologia na UNIRIO. Desde meu
ingresso no Curso de Museologia, o Museu Nacional já estava escolhido como tema
para o trabalho de conclusão de curso, e a identificação de um objeto específico era
ponto que faltava.
Ao iniciar minha pesquisa e solicitar um levantamento ao Setor de Etnologia
do Museu, obtive uma listagem de peças relacionadas à cultura japonesa. Para
minha surpresa, o primeiro objeto relacionado ao Japão registrado no livro de tombo
era de número “4898 – colete acolchoado para esgrima – D. Pedro II ou Japão (?)”.
O que me faz retornar a questão da ligação entre a coleção japonesa e a família
imperial brasileira.
Desta forma, nos propomos investigar a procedência das peças desta coleção
e uma possível ligação de pertencimento de parte destas com a família imperial
brasileira. O objetivo deste trabalho é reunir e identificar as peças representantes da
cultura japonesa existentes na coleção do setor de etnologia do Museu Nacional.
.Esse tema possui relevância, visto que este acervo nunca foi estudado ou
exposto, e nenhum trabalho foi produzido sobre ele até o momento. Constata-se,
ainda, que entre os servidores do Museu, inclusive, do próprio setor de Etnologia, há
um completo desconhecimento sobre a origem destas peças, e ainda que a
instituição possua uma sala de exposição de longa duração, há mais de 60 anos,
dedicada a “Culturas do Pacífico”, não há nela nenhuma peça ou menção à cultura
japonesa.
Para tentar responder a estas questões, o presente trabalho foi estruturado
em três capítulos. O primeiro apresenta o fenômeno do colecionismo no Mundo,
desde seu surgimento ainda na antiguidade clássica, passando pelos gabinetes de
curiosidades nos séculos XV, XVI e XVII, vinculados fortemente as monarquias
européias, e o surgimento dos Museus no ocidente. A proposta também é discutir o
histórico de construção e a importância da documentação museológica, para que as
informações presentes nos objetos de coleções possam cumprir sua função
comunicacional e de difusão do conhecimento.
10
O segundo capítulo apresenta um histórico da criação do Museu Nacional, a
formação de seu acervo, seu processo de transferência da antiga sede no Campo
do Santana para o Palácio da Quinta da Boa Vista, antiga residência da família
Imperial Brasileira, após a proclamação da Republica, analisando sua possível
ligação ou antecedência com à iniciativa da “Casa dos Pássaros” e apresentar a
relevância da atuação do funcionário João de Deus de Mattos, (porteiro; vigia e
preparador), na formação e consolidação da instituição.
O terceiro capítulo apresenta um breve histórico da formação da cultura
japonesa, dentro do contexto de seu isolamento com o mundo ocidental, e a partir
de seu processo de abertura e estabelecimento de relacionamentos diplomáticos e
comerciais com o Ocidente e com o Brasil. Trataremos nessa parte também da
identificação das peças da cultura japonesa do acervo sob a guarda do setor de
etnologia, apresentando os argumentos que sustentam a hipótese de que parte
deste acervo teria como origem o espólio do Imperador D. Pedro II, e possivelmente,
seu Museu Particular.
Desta forma, a metodologia adotada utilizou, além da literatura existente
sobre o tema escolhido, fontes primárias documentais do setor de Etnologia e do
Arquivo Histórico do Museu Nacional, como: os livros de tombo; as cartas de
doação; documentos oficiais de permuta de acervo; teses e dissertações visando a
análise destas referências para produção do presente trabalho.
11
Capitulo I – Documentação Museológica
1.1 -O Colecionismo, Gabinetes de Curiosidades Reais e os Museus.
Podemos encontrar já na Grécia antiga referências sobre as coleções e insti-
tuições preocupadas com a memória, como a existente no Liceu de Aristóteles (334
a.C.), ou em Alexandria (século III a.C.), de Alexandre Magno, onde foi criado por
Ptolomeu o Mouseion1 juntamente com uma Biblioteca.
Mas, o estudo de coleções de objetos de história natural, e o hábito do coleci-
onismo nos leva, necessariamente, ao início do século XV, quando o movimento das
grandes navegações iriam resultar no descobrimento de novos continentes, culturas,
plantas e animais, até então, desconhecidos.
Surgem, então, nos séculos XVI e XVII, os gabinetes de curiosidades euro-
peus, que traduzem a preocupação de inventariar a natureza, devido a incapacidade
de guardar na memória toda a maravilha da criação divina e da ação humana; tor-
nando-se necessário contar com mecanismos que não deixem cair no esquecimento
tudo o que Deus e os homens criaram. Podemos ver, cada vez mais fortemente, os
gabinetes de curiosidades como sendo pontes entre o “visível e o invisível” (POMI-
AN, 1984, p.66), conhecer o que está longe do alcance através da posse simbólica
de seus representantes.
Os gabinetes revelam uma tentativa de se ter ao alcance dos olhos, o que
existe em lugares distantes e desconhecidos. Antes de qualquer coisa, trata-se de
juntar, de colecionar objetos que dão a ideia da existência de “outros”. Tinha como
sua matéria prima a coleção de objetos, plantas e animais da natureza, sendo que
om o tempo, essas coleções tornam-se sinônimos de poder de monarcas e nobres e
de destaque social, ancorando-se cada vez mais no caráter científico.
. A partir de fins do século XVIII começam a surgir os Museus de História
Natural2, instituições ocidentais que expressam uma intenção de colecionar objetos
para serem exibidos, esses Museus recolhem e abrigam fragmentos; objetos;
artefatos e obras da natureza e da cultura, agrupando-os em coleções, com o
propósito de expor. Essa memória, constituída a partir de objetos selecionados,
1
Este não era um Museu como no conceito atual, era um espaço de convivência para os sábios e eruditos da época com salas de conferencia e observatórios. 2Britsh Museum – 1753; Muséum d’Historie Naturelle – 1793, Museu de História Natural de Coimbra –
1772.
12
segundo critérios de valor, não provém de um colecionismo neutro ou isento, mas
comprometido com o poder hegemônico, com as idéias que habitam e o contexto da
época em que ocorrem.
A tradição de colecionar objetos para serem mostrados é antiga, mas assume
diferentes características ao longo do tempo, variando de acordo com os valores de
cada momento. De fato, o Museu de História Natural têm em comum com o gabinete
de curiosidades, por exemplo, o enfoque na coleção de objetos da natureza,
diferindo, entretanto, nas formas de organização, nos critérios de coleta de objetos
que formarão o acervo, nos usos e nos modos de apresentação.
A partir dos gabinetes de curiosidades e depois dos museus de história
natural, temos, gradualmente, uma mudança entre o ato de apenas colecionar, ou
seja, coletar objetos e informações, e a produção do conhecimento através da
observação e experimentação. Os resultados das experiências e seus respectivos
registros e publicações, transformam as simples coleções em matéria-prima para a
construção do conhecimento. O museu moderno irá voltar-se, cada vez mais para o
objeto como portador de informação e não mais como suporte da memória ou da
reflexão.
Dentro deste universo, os gabinetes são considerados como marco funda-
mental do que podemos denominar como processo de consolidação deste novo mo-
delo de produção do conhecimento a partir da observação e experimentação, que ao
longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, apresentaram alguns dos aspectos básicos do
perfil dos museus, que se mantiveram até os nossos dias (LOPES, 1995, p.12).
.
1.2 - A documentação em Museus
A etimologia do vocábulo documento significa “título ou diploma que serve de
prova; declaração escrita para servir de prova” (CUNHA, 2007). O termo é oriundo
do latim documentium, de docere, que remete a ensinar, mostrar, informar. Segundo
Le Goff (1992), o significado do termo evoluiu de “ensinar” para “provar” é usado
freqüentemente no vocabulário judiciário, todavia, apenas no século XIX, o sentido
de “testemunho” é utilizado. Sendo no final daquele século e início do século XX,
que o termo documento afirma-se essencialmente como “testemunho escrito” e
passa a ser o fundamento do fato histórico, numa visão positivista da História.
13
Os dois dicionários mais conhecidos da Língua Portuguesa apontam o termo
documento em acepções convergentes, isto é, qualquer anotação que se possa
consultar, a fim de esclarecer, provar ou comprovar algum fato ou acontecimento.
Segundo Houaiss (2001), documento é “qualquer escrito usado para esclarecer
determinada coisa; atestado escrito que sirva de prova ou testemunho; qualquer
registro escrito”. Compartilhando do mesmo pensamento, Ferreira (2004) afirma que
o vocábulo significa “qualquer base de conhecimento, fixada materialmente e
disposta de maneira que se possa utilizar para consulta, estudo ou prova”.
A história da documentação museológica nos permite entender a
importância que ela teve e continua tendo para a preservação da memória coletiva,
em um primeiro momento. O objetivo da documentação era o registro das coleções
no sentido de posse e salvaguarda desses objetos, sendo que, mais tarde inicia-se
uma aproximação entre a documentação e a organização das coleções. Hoje, além
de englobar todas as funções anteriores, ela também está relacionada ao acesso e a
disseminação da informação, visando à construção do conhecimento.
Na Idade Média, as igrejas e conventos foram os “lugares dos objetos coleta-
dos” da época. Objetos de arte que eram levados pelas cortes itinerantes dos reis se
acumulam nesses lugares. Eram inventariados pelos sacerdotes que tinham a preo-
cupação do controle das coleções, com o objetivo de evitar que fossem roubados.
Os documentos eram autenticados e levavam um selo com certificado de origem.
Segundo Pomian, “Dois grupos, o clero e os detentores do poder, monopolizavam os
semióforos3, controlavam o acesso da população a estes, e serviam-se deles para
afirmar a sua posição dominante” (POMIAN, 2004, p.78).
No século XVII, o colecionismo científico se estabelece, com coleções de
caráter mais especializado e uma maior sistematização das coleções, surgindo um
museu racional, cartesiano, produto do pensamento ordenador, e também, uma
preocupação com a difusão da informação visual, destacando-se os catálogos de
gabinetes4, que eram produzidos pelos próprios gabinetes, e cujas coleções eram as
mais variadas possíveis, compostas por animais, plantas; moedas; pinturas; jóias,
etc. Alguns traziam a ilustração do gabinete na capa, minuciosamente reproduzido.
3
Pomian nomeia os objetos sem utilidade prática de semióforos, que passam a cumprir uma nova função, que não é mais utilitária. 4 Por exemplo, o caso do catálogo de Worm: O catálogo do Musei Wormiani História, publicado em
1655 pelo naturalista e professor de medicina Olef Worm, serviu também como manual de História Natural. (TORRES, 2002).
14
Os catálogos e inventários dos séculos passados, mesmo que elaborados
sem nenhuma técnica específica, são riquíssimas fontes de informação para
pesquisadores.
Barbuy classifica as informações referentes à catalogação em dois tipos:
Aquilo a que chamamos, em Museologia, “documentação de acer-vos”, corresponde ao registro sistemático de informações pertinen-tes a cada unidade de acervo (ou “peça”) e constitui-se em ativi-dade institucional interna, rotineira. Tem como base indispensável a catalogação, registra dois tipos principais de informação: ele-mentos relativos à contextualização e à “biografia” do objeto, tanto em seu gênero como em sua individualidade, isto é,envolve desde informações históricas sobre aquela tipologia de objeto, sobre seu autor, fabricante, região de fabricação e formas recorrentes de uti-lização, até os usos que foram dados àquele objeto determinado (pertencimento, locais e modos de utilização). A decodificação, no âmbito da catalogação, liga-se diretamente à morfologia do objeto, isto é, diz respeito a materiais e técnicas de confecção, a formas, ornamentos, a partes constituintes, a funções utilitárias para as quais foi concebido e a significados simbólicos relacionados às formas materiais de representação. (BARBUY, 2002,p. 71)
O conceito adotado de documentação museológica, neste trabalho, será o
que foi definido por Helena Dodd Ferraz:
[...] é o conjunto de informações sobre cada um dos seus itens e, por conseguinte, a representação destes por meio da palavra e da imagem (fotografia). Ao mesmo tempo, é um sistema de recupera-ção de informação capaz de transformar, como anteriormente visto, as coleções dos museus de fontes de informações em fontes de pesquisa científica ou em instrumentos de transmissão do conhe-cimento. (FERREZ, 1994, p.65).
O museu, enquanto fonte de informação tem a responsabilidade de
disponibilizar meios de transmissão de conhecimento e da informação, cabendo a
ele gerir sistemas capazes de possibilitar a comunicação das informações oriundas
dos objetos pertencentes a suas coleções. Estas informações devem receber
tratamento para que, dentro de um fluxo informacional, tornem-se instrumentos para
a geração de conhecimento. Os museus estão voltados, basicamente, para a
15
preservação, pesquisa e comunicação das evidências materiais do homem e do seu
ambiente, isto é, seu patrimônio cultural5 e natural6.
Para Loureiro, a documentação museológica serve não apenas como:
[...] ferramenta de grande utilidade para a localização de itens da coleção e o controle de seus deslocamentos internos e externos, como também fonte de pesquisa e auxiliar indispensável ao desen-volvimento de exposições e outras atividades do museu. (LOUREI-RO, 1998, p.46)
Com relação aos produtos documentários resultantes da atividade de
documentação em museus, destacamos: livro de tombo, inventário, catálogo, ficha
classificatória, índice, etiqueta. Segundo Camargo-Moro (1986), no livro de tombo
são registrados os objetos assim que chegam ao museu, assim como a sua baixa.
Utilizam uma numeração corrida, onde não pode haver repetições ou reutilizações. A
descrição deve ser sucinta, objetiva e completa, mantendo uma uniformidade. O
inventário seria o levantamento individualizado e completo dos bens de uma
instituição ou pessoa. Nele consta o registro, identificação e classificação.
Corsino aponta a dificuldade na catalogação do item, caso não se obtenha as
informações necessárias no momento em que o objeto é recebido pelo museu:
[...] quando os responsáveis pelo recebimento dos objetos não tive-rem grande preocupação com a coleta de informações, tais como o nome completo de doadores, artesãos, procedências anteriores, etc., na hora do recebimento, torna-se muito difícil o registro e cata-logação de maneira satisfatória antes de uma pesquisa mais apro-fundada. (CORSINO, 2000, p.124)
Aqui encontramos um ponto crucial do processo de construção da
documentação museológica, por se tratar de um momento único e muitas vezes
irrecuperável, que é a entrada do objeto na coleção, informações como doador,
procedência, data de entrada e histórico, são determinantes para que o processo de
comunicação e geração de conhecimento possam ocorrer de forma satisfatória.
Esse processo tem como finalidade não apenas obter o controle do acervo,
mas, também, de otimizar sua utilização por meio da preservação e disseminação
da informação. Essa documentação, no caso específico, de peças etnográficas de
5 Patrimônio cultural é a soma dos bens culturais de um povo, que são portadores de valores que
podem ser legados a gerações futuras. 6
Patrimônio natural é composto por formações físicas, biológicas e geológicas excepcionais, que tenham valor científico, de conservação ou estético.
16
museus é importante porque propicia a análise sob os mais diversos ângulos do
conhecimento, por diferentes profissionais, incrementando a produção de
publicações e contribuindo para a divulgação dos conhecimentos oriundos desses
objetos, que muitas vezes, “constituem o único documento objetivo disponível sobre
a realidade etnográfica de determinada época” (HARTMANN apud RIBEIRO;
VELTHEM, 1992).
Tendo em vista o caso da coleção japonesa do Setor de Etnologia do Museu
Nacional, onde no processo de registro no livro de tombo não houve a identificação
da data de entrada e do doador, em cerca de 50% desta coleção. Passados mais de
100 anos, as dificuldades para o desenvolvimento deste trabalho foi muito grande e
a conseqüente comunicação do mesmo com o público de maneira eficiente fica mais
difícil.
1.3 – A documentação de objetos Etnográficos
O objeto museológico, enquanto representação da memória adquire um valor
simbólico dentro do âmbito a que denominamos patrimônio cultural, passando a ser
representante de um grupo, de um tempo ou de um lugar. Ao ser inserido em uma
coleção, o objeto perde o seu caráter utilitário e passa a ter uma nova função, a de
representar o passado em função do presente. Neste sentido, Pomian (2004)
nomeia os objetos sem utilidade prática de semióforos. Mas para que estes passem
a cumprir esta nova função, não mais utilitária, é primordial que haja uma
documentação museológica que permita sua comunicação.
A história nos indica que o objeto etnográfico se consolidou como tal e assu-
miu a importância que tem hoje quando saiu de seu contexto particular e passou a
ser abrigado e conservado na instituição museu, formando, assim, as chamadas co-
leções etnográficas. Para entender melhor esse objeto, é preciso considerar que é
produzido pelo homem em um contexto específico e refere-se a uma sociedade hu-
mana particular (SAVARY, 1988, 1989).
Helena Dodd Ferraz aponta que os objetos produzidos pelo homem são
portadores de informações intrínsecas e extrínsecas que, para uma abordagem
museológica, precisam ser identificadas de forma a permitir que a documentação
museológica, possa extrair as informações contidas nos objetos:
17
As informações intrínsecas são deduzidas do próprio objeto, atra-vés da análise das suas qualidades físicas. As informações extrín-secas denominadas por MENSCH, de informação documental e contextual, são aquelas obtidas de outras fontes que não o objeto e que só muito recentemente vêm recebendo mais atenção por parte dos encarregados de administrar as coleções museológicas. Elas nos permitem conhecer os contextos nos quais os objetos existiram funcionaram e adquiriram significados e são, geralmente, fornecidas quando da entrada dos objetos no museu e/ou através das fontes bibliográficas e documentais existentes. (FERREZ, 1994, p.66).
O ICOM, através de seu comitê, o CIDOC/ICOM, estabeleceu um conjunto
mínimo de dados que deve constar no registro de itens da coleção de museus que
podem ser consultados nos CIDOC Fact Sheet7:
• Nome da instituição
• Número do inventário
• Palavra-chave do objeto
• Breve descrição e/ou título
• Método de aquisição/acesso
• Origem (pessoa/instituição) da aquisição/acesso
• Data de aquisição/acesso
• Local de permanência (CIDOC, 2007)
Outras informações poderão ser acrescentadas, segundo as necessidades
específicas de cada museu:
Os museus são orientados a formalizarem suas necessidades específicas e podem adicionar seções sobre: material/técnica, mensurações, local temporário, condições, referência cultural/histórica, referência de história natural, site, produção (artista,data), preço, número da fotografia (negativo), manual, conservação,notas, etc. Enquanto em muitas seções de dados estrutura dos deverá entrar uma pré-descrição usando listas de controle de terminologia, “breve descrição e/ou título” e “notas” normalmente contidas no texto. (CIDOC, 2007)
Os problemas encontrados nos registros e na documentação museológica do
acervo da coleção japonesa do século XIX até o inicio do século XX, decorrem da
7Os CIDOC Fact sheets. são recomendações apresentadas pelo CIDOC para documentação de
acervos museológicos. Apresentam-se como Fact sheet Nº 1: Registration e Fact sheet Nº 2: Label-ling.
18
ausência de profissionais especializados e de padronização de procedimentos, que
só foram estabelecidos na segunda metade do século XX.
Atualmente, os registros de entrada de objetos das diversas seções e
departamentos do Museu Nacional são feitos por profissionais especializados nas
áreas de pertencimento dos objetos, e atendem aos padrões de exigência e
especificidade científica de cada coleção, não sendo admissível o registro de objetos
sem informações mínimas como a data de entrada e o doador. Os campos de
informação a serem preenchidos são bastante minuciosos e muito variados, não
havendo um padrão único para todo Museu, tendo em vista a variedade de tipos de
acervo, como: arqueológico, botânico, etnológico, mineralógico, paleontológico e
zoológico.
19
Capitulo II - O Museu Nacional
2.1 – Histórico
A partir de 1808, o Rio de Janeiro tornou-se o centro das decisões políticas
do reino português, provocando impacto político, sociocultural, econômico e científi-
co na colônia. Até então, as instituições acadêmicas, culturais e científicas existen-
tes no Rio de Janeiro tinham um caráter limitado: eram vinculadas à metrópole. Com
a mudança do poder da metrópole para a colônia, era necessário dotá-la de padrões
e valores europeus.
[...] afinal uma corte que se preze não pode viver sem os seus íco-nes de distinção, grandeza e civilidade. Era preciso dotar a cidade de símbolos que representassem a visão iluminista do governo, e a cidade do Rio de Janeiro deveria estar apta para cumprir o seu pa-pel de sede da monarquia e cartão-postal do Império (SCHWARCZ, 2002, p. 256).
Criar instituições com alto grau de importância que pudessem integrar o proje-
to de modernização da nova sede do Império era uma necessidade urgente. Nesse
sentido foram criados o Banco do Brasil; a Imprensa Régia; a Real Biblioteca (atual
Biblioteca Nacional); a Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica; a Academia Militar
Real; o Teatro Real São José, a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, e mais
tarde efetivada como Academia Imperial de Belas Artes e o Museu Real (atual Mu-
seu Nacional).
O Padre Luiz Gonçalves dos Santos, contemporâneo dos acontecimentos e
que ficou conhecido como Padre Perereca, deixou em sua obra, “Memórias para
servir à História do Reino do Brasili”, várias descrições dos feitos resultantes da
instalação da Corte no Rio de Janeiro, comenta o religioso:
[...] nesta cidade do Rio de Janeiro, onde ficou a sua Corte, passou não só a criar todos os estabelecimentos públicos indispensáveis ao decoro, e majestade da sua Coroa, mas também os necessários, e úteis para o bem, e prosperidade dos seus vassalos nesta parte do Novo mundo [...] Sua Alteza Real criou os régios tribunais do Desembargo do Paço, da Mesa da Consciência e ordens, do Conselho da Fazenda, do Supremo Conselho Militar, e de Justiça, criou mais a Casa da Suplicação do Brasil, a Junta do Comércio e outras juntas administrativas, como a do Arsenal Real do Exército, da Academia Militar, etc. Criou também o Erário Régio,
20
a Relação do Maranhão, novas comarcas, e novas vilas; fundou o Banco do Brasil; mandou abrir estradas pelo interior do sertão até ao Pará, explorar a navegação dos rios, aldear e civilizar os índios bárbaros, e ferozes [...] criou a Academia Militar, e a Escola Médico Cirúrgica; promoveu a população, já permitindo aos estrangeiros estabelecimentos no Brasil, [...], além disto, terras, gado, instrumentos de agricultura, privilégios e isenções; e não havendo um só ramo da pública prosperidade, que não sentisse os benéficos efeitos da solicitude de Sua Alteza Real para engrandecer e fazer preparar este Estado (SANTOS,1981, p.466).
A criação destas Instituições, com a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil
provocou uma valorização dos estudos de história natural, e a abertura dos portos
às nações amigas, em 28 de janeiro de 1808, atraiu para o Brasil um grande número
de naturalistas viajantes, contribuindo assim, para a criação e o desenvolvimento do
Museu.
Em 06 de junho de 1818, D. João VI assinou, no Rio de Janeiro, o decreto de
criação do Museu Real com a missão de atender aos interesses de promoção do
progresso cultural e econômico no país, com redação do Ministro Thomaz Antônio
de Vilanova Portugal.
Querendo propagar os conhecimentos e estudos das Ciências naturais no Reino do Brasil, que encerra em si milhares de objetos dignos de observação e exame, e que podem ser empregados em beneficio do Comércio, da Indústria e das Artes que muito desejo favorecer, como grandes mananciais de riqueza: Hei por bem que nesta Corte se estabeleça um Museu Real para onde passem quanto antes, os instrumentos, máquinas e gabinetes que já existem dispersos por outros lugares, ficando tudo á cargo das pessoas que Eu para o futuro nomear. E sendo-me presente que a morada de casas que no campo de S. Anna ocupa o seu proprietário João Rodrigues Pereira d' Almeida, reúne as proporções e cômodos convenientes ao dito estabelecimento, e que o mencionado proprietário voluntariamente se presta á vende lá [...] Thomas Antonio de Villa Nova Portugal, do Meu Conselho, Ministro e Secretários d' Estado dos Negócios do Reino, encarregado da presidência do meu Real Erário, o tenha assim entendido e faça executar com os despachos necessários, sem embargo de quaisquer leis ou ordens em contrario. Palácio do Rio de Janeiro
em 6 de Junho de 1818.8
A museóloga Fátima Nascimento (2009, p.14) que foi curadora do setor de
etnologia do Museu Nacional, diz que o Museu Real foi criado por um Príncipe Re-
gente Português, com o objetivo de propagar o conhecimento e estudo da ciência
8Decreto de fundação do Museu, Arquivo Geral do Museu Nacional: BR MN. AO, pasta 1, doc. 2,
6.6.1818
21
natural no reino do Brasil, em uma ex-cidade colonial, recém-promovida à metrópole,
tem, como distinção inicial, o fato de ter sido criado através de um decreto de lei, no
qual fica especificado o fato de a instituição não estar sendo criada para salvaguar-
dar coleções pretéritas.
A historiadora Regina Dantas (2007, p.82) uma das organizadoras do arquivo
histórico do Museu Nacional, aponta que o Museu Real como as demais instituições
recém-criadas no Brasil representava uma “transposição de modelos europeus para
os trópicos, demonstrando um alinhamento às iniciativas análogas em toda a Euro-
pa” (ALMEIDA, 2001, p. 126).
Lilia Schwarcz, destaca também a atuação da princesa Leopoldina, no pro-
cesso de idealização do Museu Real.
[...] um dos motivos freqüentemente apontados para a criação do
Museu Real foi o interesse pelas Ciências Naturais da futura Impe-ratriz Dona Leopoldina, apaixonada naturalista, grande estudiosa de geologia, que desembarcou no Rio de Janeiro em 5 de novem-bro de 1817, devido ao seu consórcio com d. Pedro I, trazendo em sua comitiva nupcial, uma legião de naturalistas: Rochus Schüch, Johann Natterer, Johann Emanuel Pohl, Giuseppe Raddi e Johann Christian Mikan (LISBOA, 1997, p. 21).[...] Sua atuação, enviando caixotes com minerais, plantas e animais para a Europa, de prefe-rência para o Museu de História Natural de Viena, suscitou o inte-resse de cientistas e artistas em explorarem os territórios até então desconhecidos. A partir de então, os viajantes estrangeiros não se limitaram a desenvolver a pesquisa científica apenas nos países europeus. A curiosidade renascentista que imperava na exploração do Novo Mundo e no Oriente fortaleceu os atos de coleta e de pre-servação da cultura realizados em alta escala pelos viajantes es-trangeiros, até meados do século XIX (SCHWARCZ, 1993, p. 68-69).
A composição dos primeiros funcionários do Museu Real foi assim estabeleci-
da: o diretor, um porteiro, que também exercia as funções de vigia e preparador (ta-
xidermista)9, um ajudante das preparações zoológicas, um escriturário e um escrivão
de receita e despesa (LACERDA, 1905, p. 4-5). Para exercer o cargo de diretor, foi
nomeado pelo governo o Fr. José da Costa Azevedo, que era o diretor do Gabinete
Mineralógico da Academia Real Militar.
9Técnica para preservar animais mortos tal qual como eram quando vivos, popularmente conhecido
como empalhamento de animais.
22
Entre as muitas dificuldades enfrentadas pela primeira direção do Museu Re-
al, destacamos a falta de verba e o reduzido corpo de funcionários, para realizar um
imenso trabalho de estudo e conhecimento efetivo das naturezas da terra. Ladislau
Netto aponta isto quando compara os recursos e a equipe que dispunha a “Casa dos
Pássaros” e o Museu Nacional décadas depois.
Ao inspetor Francisco Xavier dos Pássaros, foram reunidos dois ajudantes, três serventes e dois caçadores. Auxiliares em numero superior ao de que dispõe hoje, três quartos de século depois, todo o Museu Nacional, cujas atribuições e responsabilidade natural tem em mais do décuplo das que eram impostas aquele pequeno gabinete de ornitologia. Os honorários de Francisco Xavier, pouco inferiores á um conto de réis, em moeda de então, eram proporcionalmente superiores á soma dos vencimentos dos quatro atuais diretores do Museu acrescendo ainda que aquele simples preparador de zoologia (tolerem-nos, em atenção á necessidade do paralelo, as minudencias á que descemos), dava-se além da habitação no próprio estabelecimento, 60 feixes de lenha por mês, 2 arrobas de velas de cera e 12 medidas de azeite doce por trimestre. (NETTO, 1870, p.13)
Esta comparação entre os recursos disponibilizados ao Museu Real e o que
dispunha a “casa dos pássaros”, evidencia o caráter econômico da casa dos pássa-
ros, cujo objetivo era abastecer os museus e gabinetes da Europa de espécimes
exóticas provenientes da colônia americana.
Quando o Museu foi criado, o Brasil era um país novo, quase desconhecido,
e as riquezas naturais de seu solo, assim como os costumes dos povos indígenas
que nele habitavam, não tinham começado a ser exploradas e estudadas. (DANTAS,
2007)
A criação e a organização de museus de história natural buscavam atender, a
necessidade que se tinha de selecionar os dados da natureza, de modo a organizá-
los e classificá-los para os pesquisadores. Esta visão é enfatizada por Lopes quando
afirma que:
Os museus foram espaços para a articulação do olhar dos natura-listas, transformando-se de gabinetes de curiosidade em institui-ções de produção e disseminação de conhecimentos, nos moldes que lhes exigiam as concepções científicas vigentes, alterando-se com elas em seus objetivos, programas de investigação, métodos de coleta, armazenamento e exposição de coleções (LOPES, 1997, p. 15).
23
Mas as coleções deste novo museu não se reduziriam às “riquezas da terra”.
Eliane Frenkel destaca a presença nas coleções do Museu desde sua criação de
objetos de arte, modelos didáticos e outros.
Desde a sua criação, foram acrescentados objetos de valor históri-co e artístico que ultrapassavam os limites espaços-temporais do país. D. João VI doou ao museu dois armários octaedros, contendo 80 modelos de oficinas das profissões mais comuns no fim do sécu-lo XVIII; uma taça-cofre de prata dourada decorada por corais es-culpidos que representam a Batalha de Constantino; um pé de mármore com alparcata grega; uma arma de fogo da Idade Média marchetada de marfim e uma coleção de quadros a óleo. (FREN-KEL, 2012, p.66).
O primeiro diretor do Museu Frei José da Costa Azevedo de 1818 a 1822,
teve a tarefa de recolher os instrumentos, máquinas e gabinetes dispersos em ou-
tras instituições. Objetos de arte e da Antiguidade doados pela Família Real; peças
etnográficas procedentes das províncias do Brasil, e também, a coleção mineralógi-
ca adquirida pela Coroa Portuguesa ainda no fim do século XVIII, conhecida como
Coleção Werner10, durante organização do acervo na sede do Museu no Campo de
Santana, atual Praça da República.
A Coleção Werner em é uma homenagem a Abraham Gottlob Werner, consi-
derado o pai da mineralogia, cujo catálogo manuscrito é hoje considerado a primeira
obra rara adquirida pelo museu. Figurou no centro do acervo mineralógico como co-
leção principal da Academia Real Militar que havia sido adquirida pela Coroa portu-
guesa para compor o chamado “Gabinete de Minerais” do Real Museu de Lisboa.
As coleções do Museu Real foram sendo ampliadas e durante a transforma-
ção do reino brasileiro em império, com o apoio e doações de D. Pedro I, da família
imperial, e a devida orientação de seu ministro José Bonifácio de Andrada e Silva,
foi também desenvolvida uma política de incentivo aos viajantes naturalistas11, que
doaram artefatos e espécies dos diferentes locais do Brasil para o Museu (LACER-
DA, 1905).
10
A coleção foi composta inicialmente de 3.326 exemplares – pertencera originalmente a Karl Eugen Pabst von Ohain, assessor de minas da Bergakademia de Freiberg, local onde Werner lecionava (FALCÃO, 1965, p. 262). No último levantamento dos geólogos do Museu Nacional, em 1987, foram identificados apenas 1.200 exemplares. 11
Responderam imediatamente ao chamado Heinrich Von Langsdorf, Johann Natterer e Frederico Sellow. Algumas das doações estão registradas nos documentos existentes na Seção de Memória e Arquivo do Museu Nacional da UFRJ.
24
Em 24 de abril de 1821, D. João VI retorna a Portugal, deixando no Brasil seu
filho D. Pedro I como Príncipe Regente. Em 1822, com a declaração da independên-
cia do Brasil, D. Pedro I assumiu o título de Imperador do Brasil e o Museu Real
passou a se chamar Museu Imperial, nome que permaneceu até 1830, quando a
instituição passa a ser denominada de Museu Nacional.
Na formação do acervo do Museu aparecem muitas doações ligadas à família
imperial Brasileira. Em 1823, D. Pedro I e Dona Leopoldina, doaram ao acervo: Duas
cabeças de chefes Maoris da Nova Zelândia; o manto Owhyeen, oferecido pelo Rei
Tamechameha II em 1824 e um colar de plumas doado pela Rainha Tamehamalu
das Ilhas Sandwich, atual Havaí. Preciosidades de extrema raridade que fazem par-
te das exposições de longa duração do Museu, na sala dedicada as “culturas do pa-
cifico”. No entanto, das doações realizadas pelo Imperador, as mais importantes, e
ainda, hoje, as mais populares são as múmias, os sarcófagos e outros objetos que
fazem parte da coleção egípcia, arrematados em 1826, num leilão da Alfândega, por
sugestão de José Bonifácio.
A localização central do Museu, prevista em seu decreto de criação, que cita
o Campo de Santana, mais tarde Campo da Aclamação, onde se realizavam as fes-
tas populares promovidas pela monarquia e onde outras instituições do Império, co-
mo o Senado, tinham sede, o colocam ao mesmo tempo próximo aos centros de de-
cisão do poder, assim como da população. Esta popularização do Museu foi comen-
tada por viajantes europeus, que estavam acostumados a uma maior elitização em
seus próprios museus e estranhavam a presença de pessoas mais humildes.
No livro de Ferdinand Dennis de 1838 encontramos a impressão de um via-
jante sobre os visitantes do Museu.
Há alguns anos, um viajante, que acabava de visitar esse estabele-cimento mostrou-se admirado pelo grande número de pessoas de classes mais humildes da sociedade, que ali encontrou; os solda-dos, principalmente, pareciam afluir para ali; todos pareciam tomar um grande interesse por aquela exibição um tanto confusa (DEN-NIS, 1980, p. 131)
Como observou o museólogo Cícero Almeida (2001, p. 124), os objetos cons-
tituídos em coleções no espaço museológico, “passam a exercer um papel específi-
co dentro de um sistema próprio, no qual estão em jogo inúmeros sentidos, cujas
invocações só podem ser analisadas à luz de um sistema cultural que lhe é comum”.
25
Portanto, o Museu Real foi criado para ser um Museu Metropolitano, como apontou
Maria Margaret Lopes (1997, p. 47), um núcleo para o recebimento e catalogação
das riquezas naturais das províncias brasileiras, que, por meio de intercâmbio com
outras nações, foi enriquecido com coleções de âmbito universal.
O prédio do Museu durante o período em que esteve sediado no Campo de
Santana, passou por inúmeras reformas. O Museu é aberto ao público em 24 de ou-
tubro de 1821, ou seja, três anos após sua criação, com a observação da visita se
dar:
[...] que faculte a visita, do Museu, ás quintas-feiras de cada sema-
na desde as dez horas da manhã até a uma da tarde não sendo dia santo,à todas as pessoas assim, estrangeiras como nacionais, que se fizerem dignas pelos seus conhecimentos e qualidades, e que para conservar-se em tais ocasiões a boa ordem e evitar-se qual-quer tumulto [...] (NETTO, 1870, p. 27).
O museu passa a ser conhecido como Museu Nacional a partir de 1842. Em
função do interesse do imperador D. Pedro II em construir uma identidade brasileira,
e visando a “assegurar não só a realeza como destacar uma memória, reconhecer
uma cultura” (SCHWARCZ, 1998, p. 126), o Museu passou a ser reconhecido como
uma instituição de caráter nacional.
Em 1858 o Museu obtém autorização para abrir ás exposições publicas, nos
domingos, em vez de fazê-lo ás quintas-feiras, dias em que somente a poucos era
dado fruir destas visitas de instrução e de recreio, sem perda dos interesses e ocu-
pações quotidianas de cada um. (NETTO, 1870).
As exposições começam a demonstrar preocupações dirigidas ao público em
1861, como a realização da exposição dos produtos da Comissão do Império efetu-
ada no Ceará. E em 1882, começa a tratar a exposição como um evento, a partir da
Exposição Antropológica. (NASCIMENTO, 2009, p.34).
2.2 - A Transferência do Museu para Quinta da Boa Vista
Após o banimento do Imperador D. Pedro II em 1890, o novo governo republi-
cano promove o leilão do Paço12, um rápido processo de venda dos pertences do
imperador, oriundos de suas antigas fazendas, e propriedades. Em ofício datado de
12
Sobre o assunto, ver O leilão do Paço, composto das sessões do leilão narradas detalhadamente e contendo o inventário dos pertences dos Paços do imperador (SANTOS, 1940).
26
28 de fevereiro de 1890, o então diretor do Museu Nacional, Ladislau de Souza Mel-
lo e Netto (1875-1892), começou a empreender esforços visando à possibilidade da
transferência do Museu Nacional do Campo de Santana, para o palácio da Quinta da
Boa Vista. Sua insistência foi pautada na falta de espaço para uma instituição que
estava em crescente desenvolvimento.
Museu Nacional do Rio de Janeiro, em 28 de fevereiro de 1890. Ao cidadão Francisco Glicério, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Snr. Ministro, tendo recebido do Ministério do Interior a autorização em que ha-veis solicitado, para que me fosse permitido examinar todo o edifí-cio da Quinta da Boa Vista, percorri e minuciosamente visitei aquele edifício, que me parece perfeitamente adequado as funções de um Museu de História Natural, a que destina o Governo Provisório, de que fazeis dignamente parte. Estranho, mas me parece útil e fácil [...] os reparos e melhoramentos, que se exige referido edifício para satisfazer aos fins que se tem em vista. Estes trabalhos limitam-se ao retalhamento de todo aquele imóvel e a colocação de cobertas de vidro em quatro pátios internos, transformáveis assim em novos salões de grande altura e portanto excelentes para neles se con-servarem ao alcance da curiosidade pública, os esqueletos de mai-ores dimensões conhecidas.[...] (DANTAS, 2007, p.89).
Há que se destacar neste trecho a solicitação de Ladislau Netto, ainda no
processo de mudança em 1890, para a colocação de coberturas de vidro em quatro
pátios internos do Palácio, atendendo demandas de grandes salas em altura para
exibição de esqueletos de grandes dimensões. Infelizmente isto não ocorreu e ainda
hoje, passados mais de 120 anos, a cobertura com estrutura de vidro de pelo menos
um dos pátios internos é uma prioridade da instituição a ser executada nas futuras
reformas do Palácio.
[...] Infelizmente, nos mais ricos salões, aposentos internos, galerias e corredores do Palácio, atiram-se desastrada e precipitadamente, em acervo mais que desordenado, todos os móveis do Paço da Ci-dade [...] é indispensável que se desocupe o edifício, onde deve ser colocado o novo museu, e sem a intervenção mais enérgica do Go-verno Provisório, nada se fará tão cedo neste sentido, o que facil-mente se depreende ao estado em que se acham aqueles móveis, e mais ainda da declaração formal do principal procurador do ex-imperador, recusando-se a tomar qualquer providência. Rogo-vos, pois que, atendendo a necessidade da mudança desta repartição para o edifício daquela Quinta, tomeis as providências precisas a fim de que pelo Ministro do Interior sejam removidos os móveis que aí se acham, impedindo qualquer instalação que me seja dado fa-zer de algumas coleções mal acomodadas já nesse Museu. Saúde
27
e Fraternidade. O Diretor Geral Ladislau Netto.13 (DANTAS, 2007, p.89).
Entretanto, dias após o término do leilão, em novembro de 1890, o prédio foi
destinado para abrigar a primeira Assembléia Constituinte republicana,14responsável
pela elaboração da Constituição de 1891 e pela indicação dos primeiro presidente e
vice-presidente do Brasil.
Dois anos após o primeiro documento solicitando o palácio ao ministro dos
Negócios, Comércio e Obras Públicas, identificamos um ofício de Ladislau Netto so-
licitando providências para o transporte do “Museu do Imperador” para o Museu Na-
cional. Talvez a estratégia de Ladislau tenha sido continuar presente nas discussões
sobre o palácio, dessa vez solicitando o acervo existente no prédio, para conseguir
por insistência o próprio edifício.
Museu Nacional do Rio de Janeiro em 6 de fevereiro de 1892. Ao Snr. Dr. José Hygino Duarte Pereira, Ministro e Secretário de Esta-do dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. Snr. Ministro sendo-me urgentemente necessário transportar para o Mu-seu Nacional todo o Museu da Quinta da Boa Vista com enorme material composto de numerosas coleções de objetos delicadíssi-mos, de aparelhos de física, de livros e de móveis, constando a maior parte dessas coleções de minerais guardados em frascos muito frágeis, e não sendo possível efetuar semelhante transporte senão em vagões da Companhia de São Cristóvão, peço-vos provi-dências a fim de que seja aquela companhia encarregada desse serviço, empregando vagões descobertos que tragam até os por-tões do Museu as referidas coleções, ainda que seja preciso pro-longar com alguns metros os trilhos da mesma companhia. O Dire-tor Geral Ladislau Netto.15 (DANTAS apud. NETTO, 2007, p.90)
Em maio de 1892, é possível constatar que a insistência de Ladislau fez com
que se conseguisse o palácio, e, por meio do ofício enviado ao ministro da Instrução
Pública, identificamos o processo de mudança e destacamos sua denúncia contra o
engenheiro do Ministério do Interior e seu trato com os objetos da ex-residência im-
perial.
Museu Nacional do Rio de Janeiro em 19 de maio de 1892. Ao Snr. Dr. Fernando Lobo Leite Pereira, Ministro e Secretário de Estado
13
Arquivo Geral do Museu Nacional: BR MN MN. DR. CO, RA. 9/f.151-151v. 14
Jamil Cury fez um minucioso trabalho sobre o I Congresso Constituinte republicano. (CURY, 2001). 15
Arquivo Geral do Museu Nacional: documento de Ladislau solicitando urgência para a mudança. BR MN MN. DR. CO, RA. 9/f. 156-157.
28
Interino dos Negócios da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. Snr. Ministro, passo a vossas mãos o ofício incluso, por cópia, que me foi dirigido pelo empregado Alexandre Magno de Mello Mattos, encarregado da direção do transporte do material do Museu Nacio-nal para a Quinta da Boa Vista e por mim particularmente incumbi-do de velar pelos móveis pertencentes a aquela Quinta, os quais por abusos praticados sob a direção do engenheiro de Obras do Ministério do Interior sofreram grande depredação [...] O caso me parece tão grave que não posso esquivar-me ao dever de chamar sobre ele o vosso zelo patriótico, a fim de que uma comissão seja nomeada para examinar o que houve neste assunto, [...] conduzin-do em trinta carroças de mudança móveis riquíssimos, nos quais se reconhecem os móveis do antigo palácio. O Diretor Geral Ladislau
Netto16. (DANTAS, 2007, p.92).
Lacerda (1905, p.67) diz que “Em 25 de julho de 1992, o museu estava
totalmente transferido para a Quinta da Boa Vista”. Os amplos espaços do palácio
possibilitavam a organização das coleções e, além disso, propiciavam os estudos de
botânica e zoologia, por estar localizado no parque da Quinta da Boa Vista, vasto
local de natureza exuberante e diversificada, diferentemente da antiga sede no
Campo de Santana.
A transferência do museu para o Paço de São Cristóvão significou a união de valiosos bens e de importantes referências da história do Brasil. O palácio residencial dos monarcas, também sede da primei-ra Constituinte da República, além de representar um dos mais sig-nificativos monumentos arquitetônicos do século XIX no país, pas-saria a sediar a mais importante instituição científica nacional da época, abrigando a partir de então, em um mesmo espaço, a histó-ria política, a história das artes e a história das ciências no Brasil (AZEVEDO, 2007, p.21).
Após a transferência do acervo para a Quinta da Boa Vista, o prédio passa
por muitas reformas e adaptações, para atender as demandas de acomodação do
Museu Nacional no Palácio, somente reabrindo para o público em sua nova sede em
25 de maio de 1900, com a presença do Presidente da República, Campos Sales
(AZEVEDO, 2007).
Em 1938, o Paço de São Cristóvão fez parte do primeiro grupo de monumen-
tos tombados, pelo Serviço de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(atual IPHAN) ressaltando seu valor no contexto dos bens que representam a identi-
dade nacional a ser preservada.
16
Arquivo Geral do Museu Nacional:BR MN MN. DR. CO, RA. 10/f.54.
29
Atualmente, o Museu Nacional é uma instituição autônoma, ligada à Universi-
dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e está vinculado ao Ministério da Educação.
Como Museu Universitário, tem perfil acadêmico e científico, ministrando cursos de
Pós-Graduação nas áreas de Antropologia, Arqueologia, Botânica e Zoologia. Pos-
sui um acervo de cerca de 20 milhões de peça sem suas coleções científicas e cons-
titui um dos maiores museus de história natural e antropológica da América Latina.
2.3 - A Casa dos Pássaros
Ainda nos dias de hoje se discute sobre a iniciativa do Vice-Rei Luis de Vas-
concellos e Souza (1778 – 1790), quando cria uma “Casa de História Natural”, no
Rio de Janeiro. Escolheu o Campo da Lampadosa, futuro Erário e atual Avenida
Passos, para erguer a casa que iria abrigar uma coleção expressiva de exemplares
da fauna e da flora brasileiras. “Estranha uma elegante arcaria de granito, -- entre
começo e ruínas --, erguida no mesmo lugar em que vemos atualmente o Tesouro
nacional: essa arcaria era o principio do Museu de Historia Natural Brasileiro” (NET-
TO, 1870, p.10).
Ao longo do período das obras da “Casa de Historia Natural”, foi construído
um grande barracão ao lado do futuro prédio, para servir de depósito, para a guarda
de materiais já coletados, e próximo a esse local havia a “Lagoa da Panela” que era
visitada por aves aquáticas, muitos exemplares foram capturados neste local, abati-
dos até mesmo da janela do barracão e compuseram as primeiras coleções. Como
conseqüência, a casa ficou popularmente conhecida como “Casa dos Pássaros”.
Esta iniciativa vista por alguns como sendo o primeiro museu no Brasil e por
outros um antecedente do Museu Real que seria herdeiro do seu acervo é contro-
versa, pois como afirma Fátima Nascimento:
O Museu, no decreto de sua fundação, passa a ser denominado de Museu Real e, a seguir, viria a ser tratado, em projetos, como um Museu Geral do Rio de Janeiro,[...] No projeto, uma vez recebidos os produtos de instituições provinciais no Museu do Rio de Janei-ro,[...] A partir desse programa de intenções, concordamos com Lo-pes, quanto ao alerta para o fato de a instituição, a partir de então formada, diferir radicalmente do que se denomina um entreposto com finalidades de armazenamento provisório para o envio de ma-terial a metrópoles portuguesas, alertando para o caráter metropoli-tano do museu recém-criado, baseando-se no fato de sua criação ocorrer na sede do Reino-Unido Português. Lopes discorda de La-
30
cerda que, nos Fastos do Museu Nacional, aponta a Casa dos Pás-saros como um embrião do Museu Nacional. A versão de Lacerda passa a fazer parte do senso comum sobre a história da instituição, sem dar conta da comprovação de uma continuidade em termos de política ou em termos de manutenção de coleções (NASCIMENTO, 2009, p.25).
Ladislau Netto, em sua Investigações, também se refere à casa dos pássaros
como um depósito de produtos zoológicos do Brasil, destinados sobretudo ao au-
mento das coleções brasileiras do Museu Metropolitano.
Segundo Dantas (2007, p.79). José Lacerda de Araújo Feio, ex-diretor do
Museu Nacional, acreditava ser imprecisa a data da inauguração da Casa de Histó-
ria Natural, pois ela começou a funcionar independentemente da conclusão das
obras de construção da sede. Calcula que o início foi em 1783 (FEIO, 1965, pp. 1-
31). Para Maria Margaret Lopes, o início da Casa de História Natural data de 1784,
mesmo ano em que o vice-rei D. Luis de Vasconcellos criou o Gabinete de Estudos
de História Natural, provavelmente, a Casa de História Natural (LOPES, 1997, p.
27).
Dona Maria I, aos 43 anos em 1777, assumiu o trono após a morte de seu
pai. Na condição de rainha de Portugal, ela determinou que seu ministro, D. Rodrigo
de Sousa Coutinho, e o Vice-Rei, Luis de Vasconcellos e Souza, recolhessem pro-
dutos naturais e objetos que representassem as culturas da população nativa da co-
lônia sul americana para serem enviados a Lisboa. Assim, várias amostras de “ri-
quezas da terra” foram transportadas para a metrópole para incrementar o tesouro
da Coroa e o acervo do Museu Real de Lisboa. (FRENKEL, 2012, p.63).
Francisco Xavier Cardoso Caldeira, conhecido como Xavier dos Pássaros, foi
o inspetor responsável pela Casa de História Natural. Interessado pesquisador e
guardião do material, Xavier praticava e ministrava aulas de taxidermia, processo
popularmente conhecido como de empalhamento de animais. “Ao inspetor Francisco
Xavier dos Pássaros, foram reunidos dois ajudantes, três serventes e dois caçado-
res” (NETTO, 1870, p.13).
Em sete de março de 1808 com a chegada a Família Real e sua Corte de-
sembarcavam no porto do Rio de Janeiro, marcando a transferência da sede da mo-
narquia de Lisboa para o Rio de Janeiro, numa estratégia de fuga das invasões na-
poleônicas na Europa.
31
Desta forma, perdeu-se o sentido da existência de um entreposto de produtos
naturais no Rio de Janeiro, já que Portugal estava dominado e os produtos teriam
que ser cedidos ao invasor. Infelizmente, o sucessor do Vice-Rei Luiz de Vasconcel-
los, não apoiou a “Casa de História Natural”, que acabou entrando em decadência.
Com o falecimento de Xavier dos Pássaros em 1810, foi designado com subs-
tituto em suas funções de inspetor, o Doutor em Filosofia Luiz Antonio da Costa Bar-
radas, Oficial do Real Corpo de Engenheiros e Professor de Física da Academia
Real Militar, que não deu continuidade às atividades. Após 1811, as pesquisas e a
formação do acervo das coleções zoológicas foram encerradas.
De acordo com as pesquisas de Lopes (1997), o edifício da “Casa de História
Natural” abrigou os encarregados dos serviços de lapidação de diamantes com suas
famílias, e foi derrubado posteriormente, para se transformar em prédio do Erário
Real, que depois abrigou o Tesouro Nacional.
Todos os seus móveis e produtos, entre os quais havia mais de mil peles de
pássaros, muitos insetos e alguns mamíferos, foram colocados em caixões e guar-
dados em um grande cômodo, sobe responsabilidade de Costa Barradas, e perma-
neceram neste espaço por cerca de um ano, quando foram recolhidos ao Arsenal de
Guerra.
Todas as coleções pertencentes á Caso de historia natural foram metidas em caixões e entregues a vigilância extramuros dos dois ajudantes de Costa Barradas, os quais nunca mais lhes puseram os olhos no quarto onde, os haviam emparedado e cuja entrada lhes foi formalmente vedada. Era o sarcófago em que houveram por bem sepultar os restos mortais daquele mal vingado e tão cedo as-fixiado começo do nosso primeiro museu. Pouco tempo depois se tendo encarregado o General Napion de vir caridosamente exuma-los, -- na cabal acepção do verbo -- apenas achou em estado de imperfeita conservação cerca de cinqüenta exemplares dos mil pássaros e dos muitos outros animais, que tenham sido ali depos-tos. Por sua iniciativa e ilustrada coadjuvação, foram eles conduzi-dos ao Arsenal do Exercito (hoje da Guerra) e conservados naquele estabelecimento d' envolta com uma bela coleção mineralógica e alguns instrumentos físicos destinados aos estudos práticos dos alunos da antiga Academia Militar (NETTO, 1870, p.15).
Assim, em 22 de junho de 1813, a decisão número 20 do Príncipe Regente
mandou “extinguir o museu desta Corte”, acabando com os “empregos do museu”,
em função da contenção de despesas que marcaram os primeiros anos da Corte no
país.
32
Segundo Frenkel (2012, p.66). “foram incorporadas ao Museu Real as cole-
ções existentes na antiga Casa dos Pássaros”. No entanto Ladislau Netto, em suas
“Investigações” afirma que:
[...] Mais tarde, no ano de 1816 -- quase nos fogem á vista as mal distintas pegadas que nos guiam -- como fosse inconveniente, para os estudantes a distancia em que se achava colocado este pequeno gabinete de ciências físicas e naturais, confiado então á direção do próprio lente de mineralogia, Fr. José da Costa Azevedo, transportaram no para a Academia, ficando apenas no Arsenal o resto da coleção ornitologia da antiga Casa de historia natural. Pelos documentos que temos consultado parece-nos que tal era o estado destes pássaros que achou se mais conveniente inutiliza lós pouco mais ou menos por esse tempo; certo é que não vieram para o Museu com os armários e instrumentos que também se achavam no arsenal de Guerra (NETTO, 1870, p.15).
O acervo que havia pertencido à Casa de História Natural, e que havia ficado
encaixotado sob a guarda de Costa Barradas, foi redescoberto pelo General Carlos
Antonio Napion17(1758-1814), que encaminhou o material ao Arsenal de Guerra (an-
tiga Casa do Trem e atual Museu Histórico Nacional), apesar de as aves e os de-
mais animais terem ficado em péssimo estado de conservação. Ladislau Netto afir-
ma que em função disto eles foram inutilizados.
2.4 - João de Deus de Mattos
Se o Museu Real realmente não herdou o acervo da Casa dos Pássaros, o
que contradiz os defensores de uma ligação ou antecedência da iniciativa da “Casa
de Historia Natural” que culminou no Museu Real. Alertamos que podemos ainda
encontrar um ponto indiscutível de ligação entre estas instituições. O funcionário
João de Deus de Mattos 18, ocupando e acumulando as funções de preparador, vigia
e porteiro, discípulo e depois ajudante de Xavier dos Pássaros, “será este, pois, o
elo moral que prendia a casa dos Pássaros ao Museu Nacional”. (NETTO, 1870, p.
30).
17
Diretor da Fábrica de Pólvora do Rio de Janeiro, também veio transferido para o Brasil em 1808. Napion teve a importante tarefa de criar estabelecimentos necessários ao fortalecimento da estrutura militar colonial. 18
Ocupava este tríplice encargo João de Deus e Mattos desde 1814 no gabinete físico e mineralógico por Fr. José da Costa Azevedo e de quem faremos mais adiante particular menção, por ter sido discípulo e depois ajudante de Xavier dos Pássaros.
33
Havia sido um dos raros discípulos do afamado Xavier dos Pássaros, ainda
quase menino, receberá desse mestre as primeiras lições de taxidermia, na própria
casa de Historia natural ou dos Pássaros, “á cujas doces recordações não podiam
deixar de enlaçar as mais vividas saudades” (NETTO, 1870, p.30).
João de Deus foi nomeado diretor interino com o falecimento do primeiro
diretor em 07 de novembro de 1822, ficando no cargo até 27 de outubro de 1823,
quando é nomeado Dr. João da Silveira Caldeira graduado em medicina pela
Universidade de Edimburgo. Coube a João de Deus recolher e fornecer as penas de
tucano para a confecção do manto do imperador D. Pedro I.
Foi à ele, como diretor interino do Museu, que se dirigiu a primeira portaria enviada á este estabelecimento, em nome do imperador; e ao receber esta portaria, o discípulo de Francisco Xavier não pôde ocultar um ligeiro movimento de fatalismo: havia cerca de dois anos que ele tinha sido encarregado de fazer, pelo litoral do norte do Rio de Janeiro, coleções zoológicas para o Museu, e nessas coleções que tantas canseiras e privações lhe custarão, havia procurado reunir, sobretudo, os mais belos tucanos, de que nunca houvera menção. Ora, na portaria á que nos referimos, eram justamente os seus belos tucanos que José Bonifacio de Andrade e Silva, em nome do imperador, lhe ordenava entregasse ao Barão de Santo Amaro para ornamento do novo manto imperial. (NETTO, 1870, p.31)
João de Deus aposenta-se em 19 de outubro de 1852 após 34 anos de
intenso e valoroso serviço, mas sua contribuição para com o Museu Nacional ainda
não havia cessado, fazendo uma grande e importante doação de espécimes
marinhos para o Museu. O museu até então não possuía este tipo de material em
seu acervo.
(...) dois mil produtos marítimos. Estes produtos haviam sido colhidos e preparados por ele na Ilha d' Água, e pertenciam ás classes dos Peixes, dos Crustáceos, dos Gastrópodes, dos Acephalos, dos Cirrhipedes , dos Echinodermes e dos Acalephos. O hábil discípulo de Xavier dos Pássaros, apesar dos anos, do cansaço e das privações inerentes aos seus quase nulos haveres, não quis separar-se da vida sem deixar esse penhor de sua muita estima ao estabelecimento a que se lhe prendiam os sonhos da juventude e o labutar incessante da virilidade. “E deixando tão significativo quanto valioso o legado de sua velhice ao nosso - melhor diríamos - ao seu Museu, prestou ele também um grande serviço a este pais e ás Ciências naturais em geral, por quanto antes d’ ele”, (NETTO, 1870, p. 112)
34
Na atualidade poucos conhecem ou ouviram falar de João de Deus de
Mattos, apesar do destaque e reconhecimento de sua dedicação e importância para
a História do Museu Nacional presente nas obras de Ladislau Netto em
“Investigações Históricas e científicas sobre o Museu Imperial e Nacional do Rio de
Janeiro” de 1870, e da Obra de João Batista de Lacerda “Fastos do Museu Nacional
do Rio de Janeiro” de 1905, o acesso as mesmas é restrito a poucos interessados.
Sua história enquanto funcionário do Museu Real e discípulo de Xavier dos
Pássaros são merecedores de destaque e lembrança.
35
Capitulo III – A Coleção Japonesa
3.1 - Histórico sobre o Japão
Neste capitulo discutiremos sobre os objetos existentes no setor de etnografia
do Museu Nacional, cuja origem e representação remetam a cultura japonesa, que
resultam da reunião dos diversas peças, que foram incorporados as coleções do
Museu Nacional ao longo dos séculos XIX e XX. Para melhor entender a formação
desse conjunto denominado de “coleção Japonesa do setor de etnologia do Museu
Nacional”, faremos uma breve e resumida apresentação sobre a história do Japão, e
o estabelecimento das relações diplomáticas do Brasil com o Japão.
Geograficamente, o Japão é formado por numerosas ilhas situadas a leste do
continente asiático. As maiores e mais importantes são: Honshu, Kyushu, Shikoku,
Hokkaido, somadas às incontáveis ilhas menores e ilhotas de rochedo, com várias
cadeias de montanhas que apresentam muitos vulcões ativos e uma intensa ativida-
de sísmica. Possui um clima com as quatro estações bem definidas: primavera, de
março a maio; verão, de junho a agosto; outono, de setembro a novembro e inverno,
de dezembro a fevereiro, resultando disso uma variação constante da natureza no
decorrer do ano.
O povo japonês não é de raça pura, nem aborígine. Entraram na sua composição os tunguses (japoneses propriamente ditos ou pro-tojaponêses), os ainos, indochineses, negritos, os hans (chineses propriamente ditos ou protochineses), e os indonésios (YAMASHI-RO, 1964, p.15).
Os ainos, raça branca, provavelmente frutos da mistura de brancos com
mongóis, emigraram da Sibéria para o Oriente avançando sempre para leste, atingi-
ram o extremo norte do que forma hoje o arquipélago do Japão; este teria sido o
primeiro contato humano com as terras do Japão. Ocuparam os ainos esse solo e aí
se desenvolveram, dirigindo-se, depois, para o Sul. Passaram por Hokkai-do, princi-
pal ilha do Arquipélago, sendo que muitos se estabeleceram na grande e fértil planí-
cie de Kwantô, que circunda Tokyo.
Estes movimentos migratórios ficaram bem claros pela descoberta de
sambaquis e objetos de pedra e barro, característicos dos Ainos, que têm sido
encontrados em quase todo o território do Japão. (YAMASHIRO, 1964, p.15).
36
Por volta do século II da nossa era, foram transmitidos aos japoneses
métodos de cultivar arroz e a arte de fabricar instrumentos metálicos; tais
conhecimentos foram transmitidos aos japoneses por intermédio de coreanos e dos
chineses, que desde a época em que os primitivos nipônicos usavam instrumentos
de pedra, já misturavam cobre com estanho para fazer o bronze, e logo a seguir
descobriam o emprego do ferro, fazendo com que os japoneses começassem a
utilizar instrumentos metálicos, espadas e escudos, bem como utensílios de ferro.
No interior do arquipélago, longe da cultura aristocrática da metrópole,
surgem os “Shoen” 19, onde os elementos mais influentes da sociedade começaram
a tomar posse de grandes glebas ("shoen") de terra.
A ausência da proteção policial, especialmente nas zonas rurais, fez com que
os homens do campo procurassem se organizar para cuidar da sua defesa,
formando grupos e mantendo armas. O responsável por esta organização era o
proprietário, o donatário, o dono do "shoen", cujo poder e influência cresciam cada
vez mais. Eles gozavam de privilégios diversos, como isenção de impostos. Depois
de certo tempo, os elementos treinados na arte militar, fortes e ágeis no manejo das
armas, tornaram-se guardas profissionais, abandonando parcial ou totalmente a
lavoura. Esta é a origem do Samurai.
Dos mesmos "shoen" nasceu uma nova e poderosa classe que, mais tarde,
substituiria a aristocracia na direção dos negócios de Estado. Eram os Samurais ou
bushi, guerreiros de profissão, irmãos dos cavaleiros da Idade Média no Ocidente
(YAMASHIRO, 1964, p.58).
Os conflitos por poder e terras geraram várias rebeliões, que vieram mostrar,
claramente, que os Samurais dispunham da força necessária para dominar o país.
Sem o seu apoio não seria mais possível exercer a autoridade do governo.
Na Era Kenlcyu em 1192, marca o início dos governos militares chamados
"bakufu", que quer dizer “posto militar”. O próprio nome já indicava, claramente, a
natureza marcial do novo regime. Por outro lado, "bakufu" era o local onde o "Sei-i
Taishogun” 20, de cuja abreviação temos a palavra "shogun", exercia suas funções
político-militares. Completava-se, assim, uma nova organização político-social. Esse
regime equivalente ao feudalismo ocidental ficou conhecido “O regime de
19
latifúndios ou grandes propriedades de terras, mais auto suficientes e afastadas do poder central, eram autônomos, econômica e, até certo ponto, politicamente. 20
comandante em chefe das forças militares.
37
shogunatos” 21ou governos militares, durou desde então até a Restauração de Meiji
em 1867, cerca de 700 anos.
Enquanto o Japão estava dividido em numerosos feudos que se
empenhavam em guerras frequentes, inicia se o processo das grandes navegações
realizado pelas potencias européias, gerando os primeiros contados com o mundo
Ocidental, sendo o Japão foi visitado pelos primeiros europeus.
Lê-se no Tratado dos descobrimentos antigos e modernos,de Antônio Galvão, que, no ano de 1542, três nautas, Antônio da Mota, Francisco e Antônio Peixoto, fugiram de uma nau portuguesa ancorada num porto de Sião. Embarcaram num junco que ia para a China, mas deu-lhes uma tal tormenta, que os fez andar à mercê das ondas durante muitos dias, até que, finalmente, chegaram ao Japão (YAMASHIRO, 1964, p.90).
O contato com os europeus, principalmente Portugueses e Espanhóis,
resultou na propagação da fé cristã, e em consequência, surgiram igrejas, colégios e
seminários. Nos colégios jesuítas ministrava-se o ensino do português e do latim,
além do religioso propriamente dito. A nova fé chegava num momento de
decadência do budismo, no momento em que o povo japonês estava descontente
com uma deterioração social geral, onde os sacerdotes budistas participavam das
lutas políticas. Em contraste, os missionários católicos que arriscavam suas vidas
fazendo viagens perigosas por mar e terra, eram vistos, estes, como homens de alta
virtude, cultos e bondosos que impunham respeito.
No entanto, houve desconfiança dos líderes japoneses relativa às intenções
das potencias européias de domínio e colonização, tendo em vista os
acontecimentos nos continentes americanos e africanos. A situação gerou o temor
das lideranças japonesas e o “bakufu” foi aconselhado pela Holanda, (que era um
país protestante, enquanto Portugal e Espanha eram católicos) a cortar relações
comerciais com os dois países ibéricos. Esse fato resultou na ordem de fechamento
do país em 1639, com uma severa perseguição aos cristãos, expulsando os
sacerdotes e proibindo o culto da fé cristã.
Em face de tal situação, o “bakufu” baixou um decreto proibindo comunicações com o exterior. Proibiram-se, rigorosamente, as
21
o shogunato dominava de fato, a administração do Japão e praticamente ignorou a existência do imperador, que, somente no tempo de Oda e Toyotomi, começou a receber homenagens e tributos dos poderosos chefes guerreiros,
38
viagens e os japoneses que viviam no estrangeiro não puderam mais voltar à Pátria. Foi até proibida a construção de navios de grande calado, capazes de viagens de longo percurso. Quase todas as relações com o estrangeiro foram rompidas, e o Japão entrou num período de completo isolamento. Com tal medida o povo japonês perdeu o contacto com o resto do mundo e a sua cultura ficou igualmente isolada (YAMASHIRO, 1964, p.114).
Durante anos, navios holandeses chegavam a Dejima22, desembarcando
mercadorias e levavando artigos adquiridos no Japão para portos estrangeiros.
Estes artigos de exportação eram enviados à Europa, por intermédio de
comerciantes holandeses.
Com a Revolução Industrial, já na segunda metade do século XIX, temos a
ascensão das potências na Europa, buscando expandir suas influências, tendo a
Inglaterra como principal, e os Estados Unidos já despontando como potência e
atuando fortemente no cenário do comércio internacional. O mundo Ocidental
passava por uma grande revolução produtiva, científica e tecnológica, e as grandes
potências buscavam em seu vigoroso avanço “imperialista” auferir novas colônias e
protetorados, dividindo o 'bolo' do mundo em vários pedaços de áreas de influência,
conquistando mercados consumidores e fornecedores de matérias-primas.
Nesse contexto, já nos anos 1840, os europeus, sobretudo os ingleses, tenta-
ram, sem sucesso, estabelecer relações comerciais com o Japão, enquanto este
buscava manter sua política de isolamento que já durava 260 anos, com o Decreto
de Isolamento Nacional. Nesse período o Japão vivia em paz e isolado do resto do
mundo. Seus costumes, sua estrutura social rigidamente estratificada e sua cultura
de maneira geral, baseados na ética confuciana, mantiveram-se intactas durante
quase três séculos (YAMAMURA, 1996, p.128).
Apesar da resistência japonesa, em 1853 chegava à baía de Edo (atual To-
kyo) o Comodoro Mathew Perrydos Estados Unidos, trazendo em nome do presiden-
te norte-americano uma proposta para o estabelecimento de relações comerciais. A
despeito de alegar intenções amistosas, a oferta exigia uma rápida resposta positiva
por parte do Japão, sendo evidente o tom ameaçador dos EUA.
22
O escritório comercial holandês ficou instalado em Dejima, Nagasaki. Tratava-se de uma área do mar que fora anteriormente aterrada para estabelecer ali as residências dos negociantes portugueses.
39
Um grande número de nossos poderosos navios de guerra dirige-se para o Japão e são esperados nestes mares de um momento para outro; o infrafirmado, como prova de suas intenções amigáveis, trouxe consigo tão-somente [sic] quatro dos seus menores navios; mas está pronto, caso se torne necessário [sic], a voltar a ledo na primavera com uma força bem maior [!] (PANIKKAR, 1997, p. 203).
O interesse dos americanos consistia em estabelecer depósitos de carvão em
portos japoneses para abastecer os navios que atravessavam o Pacífico, nas suas
viagens de ida e volta à China
No ano seguinte, em 1854, o Comodoro Perry retorna ao Japão conduzindo
uma grande esquadra, a fim de cobrar uma resposta positiva com relação à proposta
de abertura dos portos. Perante as pressões e a ameaça de um ataque militar23o
“Shogunato” cede. Dessa forma é assinado o primeiro tratado entre o Japão e uma
nação estrangeira, o Tratado de 'Amizade e Paz' entre Estados Unidos e Japão.
A solução adotada pelos japoneses foi “repelir” as pressões e abrir-se por “vontade própria”. Apesar do longo período de isolamento de quase três séculos com relação ao ambiente estrangeiro, as lide-ranças japonesas da época [...] entendiam que a abertura ao exteri-or permitiria a modernização, equipando-se dos meios necessários para enfrentar o desafio das potências imperialistas ocidentais e preservar a integridade nacional. [...] a abertura de suas portas ao exterior era entendida como 'meio de salvação' a médio e longo prazo. Dessa forma, de maneira relativamente pacífica, acima de in-teresses subalternos, ocorre em 1868 à transição do poder de qua-se três séculos do Shogunato para o poder central (YAMAMURA, 1996, p.132).
Após esse tratado, um a um, países como Inglaterra, França, Holanda e Rús-
sia reivindicaram tratados semelhantes. O primeiro de uma série de tratados desi-
guais24, porém, é firmado quando o Japão assina, em 1858, o Tratado de Amizade e
Comércio Japão e EUA, e o ratifica em 1860.
23
O Japão temia sofrer o mesmo destino da dinastia Ching da China em virtude da Guerra do Ópio (1839-42). 24
Dois pontos eram especialmente polêmicos nesse tratado: a questão das tarifas de importação, que impediam os japoneses de intervirem no estabelecimento das tarifas dos produtos americanos que entrariam em seu próprio território, e a questão dos privilégios de extraterritorialidade, que impediam que um cidadão norte-americano que cometesse crimes em território nipônico fosse julgado pela jus-tiça local.
40
3.2 - O estabelecimento das relações Brasil e Japão
A revisão dos tratados desiguais e desvantajosos perante as potências es-
trangeiras, era o tema político que mais estava em pauta no Japão dos fins do sécu-
lo XIX. Somente em 1875, o Japão firma o primeiro tratado com uma potência es-
trangeira em pé de igualdade com a Rússia. A assinatura do Tratado de Amizade e
Navegação com o México, em 1889, marca o início do processo de universalização
da política externa japonesa. Dentro desse processo, a chancelaria japonesa embu-
tiu a filosofia de abertura universal, de forma que o Japão deveria, além de revisar
os tratados desiguais com as potências imperialistas do Ocidente, buscar firmar tra-
tados com outras nações.
No dia 5 de novembro de 1895, em Paris, o embaixador Gabriel de Toledo Pi-
sa e Almeida, representando S. Ex. o Sr. presidente dos Estados Unidos do Brasil,
Prudente de Morais, e o embaixador Sone Arasuke Jushii, representando Sua Ma-
jestade, o imperador do Japão Meiji, mediante a assinatura de um documento com-
posto de quinze artigos e lavrado em três idiomas, português, japonês e o francês,
firmaram o início das relações diplomáticas e oficiais entre ambos os países. Até
então, os dois países ignoravam-se.
Mas somente 13 anos após a assinatura desse tratado bilateral em Paris, no
ano de 1908, o navio Kasato Maru chegava ao Brasil iniciando a saga dos imigran-
tes japoneses na história do país. É importante ressaltar que, uma das doações que
propiciaram a ampliação da Coleção Japonesa do Museu Nacional na primeira me-
tade do século XX, vem justamente de emigrantes e filhos de emigrantes Japone-
ses.
3.3 - A Coleção Japonesa
A formação das coleções do Museu Nacional nos séculos XIX e XX segue a
tradição ocidental que de acordo com a concepção de Clifford (1988), as práticas de
colecionamento, estão no ocidente, inteiramente ligadas ao processo de acumulação
e preservação, onde através desses mecanismos, as culturas e tradições serão
imortalizadas. Gonçalves resume esta questão da seguinte forma:
41
Nesses processos está presente uma determinada concepção da temporalidade, na qual a história é vista como um processo incontrolável de destruição, devendo as “culturas”, as “tradições” serem “resgatadas”, “preservadas”, especialmente através do colecionamento e exibição de seus objetos [...] (GONÇALVES,1998,p.10).
Berta Ribeiro (1989, p. 111), também analisa esse colecionamento do século
XIX, e expõe que este não passa de uma forma de apropriação da memória e da
tradição alheia, onde a preocupação maior dos colecionadores era o de abarcar um
grande número de produtos culturais exóticos, ou seja, de culturas extintas,
colonizadas e outros, preservando-os para as gerações futuras.
As doações de peças provenientes de lugares diversos não se encerraram no
século XIX. Ao longo de todo o século XX e até hoje o Museu Nacional recebe e
coleta vários objetos, formando ou dando continuidade às riquíssimas coleções que
podem ser definidas segundo o historiador e filósofo Pomian como:
[...] todo conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito de atividades econômicas, submetidos a uma proteção especial em um local fechado preparado para esta finalidade, e exposto ao olhar (POMIAN, 1987, p.18).
Segundo Berta Ribeiro, aproximadamente no final do século XIX e início do
XX, começa uma preocupação com a documentação das coleções, onde nestas
deveriam constar a denominação nativa do objeto, seu significado, uso, função e
informações sobre seu histórico. A ausência destes requisitos pode ser notada no
primeiro inventário do Museu Nacional datado de trinta de abril de 1838 e
apresentado pelo, então, diretor Frei Custódio ao ministro do Imperador. Ladislau
Netto, percebendo que neste documento não constavam objetos que ele conhecia,
observou que:
[...] as listas fossem abreviadas, representando apenas agrupamentos de objetos, segundo os assuntos e não pròpriamente um catálogo completo. Não seriam, de certo, nem muito bem organizadas, nem tão pouco bem conservadas aquelas coleções. (FARIA, 1949, p. 6)
Berta Ribeiro (1989, p.112) chama atenção para esse processo de
sistematização das regras de colecionamento, que dava o mesmo grau de
42
importância tanto ao objeto quanto à sua documentação, contribuindo para dar mais
status ao valor científico das coleções. Quando comenta que, por ignorarem as mais
rudimentares normas de colecionamento, os acervos arqueológicos e etnográficos
recolhidos ao Museu desde sua fundação, praticamente não possuem uma
documentação.
No período de transferência das peças do Museu para a Quinta da Boa Vista
em 1892, houve a perda de muitos objetos, não sendo possível na época e nem
atualmente, avaliar o número de peças perdidas devido à parcial ou total falta de
documentação. Estamos de acordo com Ribeiro quando destaca a necessidade e
urgência para a renovação dos museus em apurar as técnicas de cadastramento,
restauração, imunização e conservação das coleções, salientando que:
A ausência de uma metodologia destinada a uniformizar a catalogação das coleções, mediante um vocabulário controlado, criou uma situação caótica, impossibilitando a utilização dos dados acumulados em sucessivas catalogações efetuadas ao longo de décadas. (RIBEIRO, 1989, p. 120).
Dentro deste contexto, a Coleção Japonesa do setor de Etnologia do Museu
Nacional é um exemplo do problema enfrentado pela instituição quanto à falta de
uma documentação, e perda de informações relativas aos objetos tombados no
século XIX, que, conforme podemos observar na lista no anexo I deste trabalho,
carecem de informações mínimas e essenciais, como data de entrada e nome do
doador.
3.4 - A identificação da Coleção Japonesa
Inicialmente, buscamos identificar os objetos relacionados à cultura japonesa,
presentes nas coleções do setor de etnologia do departamento de Antropologia do
Museu Nacional. Através dos livros de registro “Tombo” do setor, com o auxílio dos
profissionais responsáveis. Obtemos como resultado 101 objetos.
Analisando a lista de objetos, e percebemos que estes apresentam caracte-
rísticas distintas, optamos, então por dividí-los em dois grandes conjuntos:
43
O primeiro conjunto englobando os objetos com número de tombo de
4898 a 6940, que denominamos “acervo do século XIX”. Composto por
51 objetos.
O segundo conjunto englobando os objetos com numero de tombo de
18790 a 39547, que denominamos “acervo do século XX”. Composto
por 50 objetos.
No primeiro conjunto que chamamos de acervo do século XIX temos 51 obje-
tos, sendo que destes apenas quatro possuem registro da data de entrada e do do-
ador, sendo certamente do século XIX; somente um possui data de entrada de 1904
ou 1905, e todos os outros 46 objetos não possuem data nem registro de doador.
Ainda neste conjunto encontramos o primeiro objeto relacionado no livro de
numero 4898 com descrição: “colete acolchoado para esgrima – D. Pedro II – Japão
(?)”.
Este registro foi especialmente importante neste trabalho, na medida em que
ao citar D. Pedro II, nos suscitou a buscar a documentação que comprova se esta
informação. A hipótese levantada inicialmente de que este colete teria pertencido ao
imperador e talvez até mesmo ele o tenha utilizado25. Infelizmente, não se pode
comprovar isso até o momento, persistindo a dúvida do que teria orientado o res-
ponsável pelo registro no livro a colocar esta informação.
No entanto, esta busca nos levou a descobrir que: o primeiro livro de tombo,
numerando de forma sequencial os objetos, teve seu termo de abertura lavrado em
1906, e que os objetos registrados neste livro, que deram entrada no Museu antes
desta data, tiveram seus registros baseados em informações documentais, catálo-
gos e, principalmente, o livro de registro anterior, que era geral a todas as seções do
Museu, mas que não numerava os objetos. Este livro de registro é conhecido no
Museu como “O Livro do Porteiro”26. Neste, o termo de encerramento se dá em
1892, ano que ocorre a transferência do Museu, do antigo prédio na Praça da Repú-
blica para o Palácio na Quinta da Boa Vista.
Neste conjunto percebemos uma predominância de armas, como: espadas,
punhais, armadura, assim como indumentárias identificadas como pertencentes a
uma elite japonesa, objetos de alto valor monetário, de uma cultura oriental que só
25
Peça em estado de conservação precária aparentemente usada cujo registro de numeração a posi-cionaria aproximadamente na metade do séc. XIX o que seria compatível com a juventude do impe-rador. 26Este livro está sobre a guarda do arquivo histórico do Museu Nacional.
44
estabeleceria contato formal com o Brasil nos últimos anos do século XIX e de fato
somente a partir de 1908 é que se dá o processo de imigração japonesa.
O artigo do jornal O País, de 06 de agosto de 1890, trazendo uma descrição
do acervo do “Museu do Imperador”, onde aponta a existência de “armas modernas
e antigas da Ásia” reforçam esta hipótese.
[…] relíquias de Herculano e Pompéia (as cidades que o Vesúvio soterrou). Estatuetas, hermas, caçarolas ou panelas, vasos, repuxos, trabalhos de cerâmica, de ferro e de bronze. […] armas modernas e antigas da Ásia e da África, yatagans recurvados dos ferozes guerreiros syrios e árabes, espadas e punhares de aço legítimo de Damasco, escudos e elmos. Ain-da a gente islamita figura no museu pelos seus instrumentos de música civil e militar> A história e a civilização da América ali tem conspícuo lugar, desde os Incas até os nossos dias. A anthropologia indígena tem objetos de estudos nas múmias e nas igaçabas, nos corpos e nas cabeças mumificadas ou pelo tempo ou pela arte. Há ali uma cabeça de guerreiro mumifica-da e tão reduzida, que parece a de uma criança (DANTAS 2007, p 222).
Ao tratar do Museu do Imperador Dantas (2007, p.218), diz que os objetos
encontrados no prédio no processo de mudança, foram apropriados pelo Museu Na-
cional e resignificados pelos diferentes departamentos da instituição. Mas alguns
departamentos não fizeram menção ao pertencimento anterior, registrando os obje-
tos apenas por suas descrições intrínsecas.
A manifestação do Imperador, quando afirma a intenção de que o acervo de
objetos etnológico e arqueológicos do seu museu fosse entregue ao Instituto Históri-
co e Geográfico Brasileiro - IHGB. Pode ter sido a razão da omissão das informa-
ções no livro de Tombo, pois o Imperador quanto indagado por seu procurador quan-
to ao destino que deveria ser dado ao acervo de seu Museu particular, respondeu ao
seu procurador em 8 de junho de 1891:
O meu Museu dou-o também ao Instituto Histórico, no que tenha re-lação com a Etnographia e a História do Brasil. A parte relativa às sciencias naturaes, e à mineralogia sob o nome de Imperatriz Leo-poldina,como os herbários, que possão, ficar no Museu do Rio27(DANTAS, 2007, p.218).
27
MI.CI.SC, I-DAS, 08.06.1891-PII.B.c.
45
Essa estratégia de omissão de informações nos registros de tombo, também,
foi apontada por Nascimento (2009, p.67) quando o mesmo ocorre com objetos des-
tinados ao IHGB, que foram incorporados as coleções do Museu.
[...] torna-se complexo explicar o apagamento de documentações fartas como o das coleções Dias, Comissão do Madeira e Couto Magalhães, não só quanto a colecionadores, como quanto a datas é rara a presença de datas nos dados de tombamento, [...] Raimun-do Lopes79 em seu trabalho sobre a coleção de Dias justifica o “apagamento” das informações no livro de tombo referindo-se a perda de referencial para a leitura de etiquetas pregadas ás peças, e usando uma etiqueta colada á peça da coleção Dias com os dize-res: “E. 97, IHG” para apontar o quanto essa pista, IHG (destinada ao Instituto histórico e geográfico), demorou a ser lida pelo pró-prio.[...] em verdade o conhecimento de vários aspectos das cole-ções ficavam restritos ao conhecimento de poucos e ao folclore oral de muitos [...] (NASCIMENTO, 2009, p.67).
A Portaria de 07 de novembro de 189428, do diretor do Museu Nacional,
determinando aos diretores das Seções que procedessem ao inventário dos objetos
existentes no museu do ex-imperador, selecionando o que deveria figurar nas
coleções da instituição e que fossem registrados nos livros das Seções, confirma a
presença de objetos do museu do imperador no prédio do Palácio já ocupado pelo
Museu Nacional
Apesar de termos nos limitado a analisar os objetos da coleção japonesa, ao
consultar os livros de Tombo, percebemos a presença de diversos outros objetos
estrangeiros, com numeração e características de registros semelhantes a dos japo-
neses (sem data de entrada e doador), e também posicionados com números de
registro que seriam do século XIX. E, em pelo menos um caso, encontramos docu-
mento no arquivo histórico do Museu, onde se informa à direção do museu a respei-
to de solicitação de informações e imagens sobre uma peça do acervo, (um instru-
mento musical indiano), onde é citado que o mesmo teria sido parte do espólio do
imperador. Esta peça possui numeração dentro da sequência que compõe parte do
acervo do Japão, e neste caso, com certeza é do século XIX, também tendo sido
registrada sem a data de entrada e sem o doador.
28
BR MN MN. DR CO, AO. 5314.
46
No documento de 22 de dezembro de 1917, da seção de Antropologia e Et-
nografia do Museu ao Diretor interino do Museu Professor Carlos Moreira consta a
informação:
O Sr. Professor Soares Dias, residente a rua Dr. Costa Ferraz nº 12 (Rio Comprido), visitando as coleções desta seção, revelou o dese-jo de possuir dados e esclarecimentos relativamente a alguns ins-trumentos de musica de origem asiática que nos vieram do espolio do Imperador do Brasil.A seção procurou identificar com segurança os ditos instrumentos, reconhecendo sendo os mesmos de proce-dência indiana e fez tirar as inclusas fotografias, para o fim de as fornecer, com licença desta diretoria, ao aludido professor, que as destina a um trabalho original.Peço-vos, por tanto, que providenci-es,se assim o entertedes, para que as mesmas fotografias che-guem ao referido destino.29
Todas estas evidências corroboram nossa hipótese de que parte significativa
deste acervo tenha feito parte do espólio do Imperador D. Pedro II e, conseqüente-
mente, de seu Museu particular.
Já no segundo conjunto do acervo, que denominamos de coleção do século
XX encontramos todos os 50 objetos, a partir do número de registro 18790 de 01 de
outubro de 1913, com registro do nome do doador e data de entrada identificados,
sendo os doadores colecionadores particulares, a viajantes e imigrantes. Neste con-
junto percebemos que, objetos são majoritariamente utensílios de uso cotidiano, al-
guns com características de souvenires turísticos, ou arqueológicos, como pontas de
flechas, todos de baixo valor monetário.
Praticamente, não há armas ou objetos com características de pertencimento
às classes guerreiras samurais ou aristocráticas, somente no final do séc. XX haverá
novamente uma entrada de arma, de número 39546: uma espada doada em 1975,
pela Sr.ª Yolanda Barbosa Costa e Silva, viúva do ex-presidente Artur da Costa e
Silva. Coincidência ou não, a entrada deste objeto está associada ao dirigente má-
ximo da nação, neste caso um Presidente da República.
29
Arquivo Geral do Museu Nacional: BR.MN.DA, cx. 10, procedência 25 maio 2005, pasta 367
47
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo deste trabalho buscamos identificar o acervo de objetos de origem
da cultura Japonesa presentes nas coleções do setor de etnologia do departamento
de antropologia do Museu Nacional. As dificuldades que encontramos em conse-
qüência da falta ou deficiência da documentação relacionada a este acervo eviden-
ciaram sua importância.
Ao omitir as informações referentes à data de entrada e ao doador no livro
de registro do Museu, uma parte significativa desta coleção, de maneira intencional
ou, até mesmo, por desconhecimento, conferiu, como consequência, certa “invisibili-
dade” ao acervo. Uma parte importante da potência de comunicação destes objetos
foi perdida, de tal forma que ocasionou o seu “abandono” nos armários das cole-
ções, sem que trabalhos científicos ou exposições fossem realizados com os mes-
mos, estando a maioria há mais de cem anos na instituição. Sem dúvida, uma expli-
cação para a ausência de objetos de tamanho valor e importância na exposição de
longa duração do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, que até possui uma sala
dedicada às culturas do pacífico. A falta de informações documentais destas deve
ter gerado insegurança aos curadores e museólogos do Museu, que decidiram não
expô-las.
Na busca por informações e documentação sobre este acervo, nos depara-
mos com os livros de registros de entrada das coleções do Museu. Identificamos que
a instituição passou 14 anos sem realizar o tombamento de acervo, pois, o “livro de
tombo” do setor teve seu termo de abertura em 1906 e o livro de registro anterior a
este, conhecido na instituição como “livro do Porteiro”, teve seu termo de encerra-
mento em 1892.
A partir desta informação, passamos a buscar no “livro do porteiro”, os objetos
registrados no livro de Tombo que não tinham data de entrada, ou que possuíssem
data de entrada anterior a 1892. Encontramos apenas dois objetos presentes, tanto
no livro de Tombo como no “livro do Porteiro”, ambos com data de entrada e nome
de doador, e nenhum objeto sem data de entrada e doador constava no livro do Por-
teiro.
Este fato, somado à carta do imperador D. Pedro II ao seu procurador,
quando destina o acervo etnográfico de seu Museu particular ao IHGB.
48
Ao artigo do jornal “O País,” de 06 de agosto de 1890, que traz uma
descrição do acervo do “Museu do Imperador”, onde aponta a existência de “armas
modernas e antigas da Ásia”.
A Portaria de 07 de novembro de 1894, do diretor do Museu Nacional,
determinando aos diretores das Seções que procedessem ao inventário dos objetos
existentes no museu do ex-imperador, selecionando o que deveria figurar nas
coleções da instituição e que fossem registrados nos livros das Seções.
E o documento de 22 de dezembro de 1917, da seção de Antropologia e
Etnografia ao Diretor interino do Museu Nacional, onde afirma a existência de
“alguns instrumentos de música de origem asiática que nos vieram do espólio do
Imperador do Brasil,” que também foram registrados no livro de Tombo, sem data de
entrada e doador, possuindo número de tombo dentro da sequência do acervo
japonês do século XIX.
Levaram-nos a formular a hipótese de que, estes 46 objetos sem data de
entrada e doador registrados na coleção, foram incorporados ao acervo do Museu
entre os anos de 1892 e 1906.
Essa conclusão leva em conta que estes objetos, apesar da ausência da data
de entrada, receberam numeração no livro de tombo que, cronologicamente, os
posiciona como objetos do século XIX, e que os mesmos compõem um conjunto de
objetos com significativo valor e importância, dignos de pertencerem a um
colecionador de posses e poder.
Desta forma, supomos terem pertencido ao Imperador D. Pedro II e, possi-
velmente, teriam feito parte do acervo do seu Museu particular mantido no Palácio
da Quinta da Boa Vista e que, com a transferência do Museu Nacional para o Palá-
cio da Quinta da Boa Vista, estes objetos teriam sido incorporados ao acervo do se-
tor de etnologia.
Esperamos que este trabalho contribua para que esta coleção venha a cum-
prir todas as suas funções, enquanto acervo de uma instituição museal, gerando no-
vos trabalhos, e que futuramente seja incorporada às exposições, ativando as suas
potencialidades de preservação, pesquisa e comunicação.
49
8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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52
FONTES PRIMÁRIAS:
Arquivo Histórico - Museu Imperial
MI. Arquivo Grão-Pará 218-AD-27 1-V-A. Inventário dos objetos do Paço de São Cristóvão. MI.CI. SC – I. DAS, 8.06.1891-PII-B.c. Resposta de d. Pedro II, no exílio, sobre como gostaria que fosse dividida a sua bi-blioteca e doando o seu museu ao Museu Nacional. MI.CI. SC. AM I - 5 e 6 Diário do príncipe de Joinvelle. Caderno de diário do príncipe de Joinvelle. Seção de Memória e Arquivo – Museu Nacional
BR MN. AO, pasta 1, doc. 2, 6.06.1818. Decreto de criação do Museu Real - atual Museu Nacional. BR MN MN. DR CO, AO. 5314. Portaria do diretor do Museu Nacional, Domingos Freire, determinando aos diretores das Seções que procedessem ao inventário dos objetos existentes no museu do ex-imperador, selecionando o que deveria figurar nas coleções da instituição e que fos-sem registrados nos livros das Seções. BR MN MN. DR, CO. A0. 9. Portaria do diretor do Museu Nacional dando início às visitas públicas, em 1821. BR MN MN. DR. CO, RA. 9/f. 151 – 151v. Ofício de Ladislau Netto para Ministro e Secretário de Estado dos Negócios de Ins-trução Pública, Correios e Telégrafos solicitando a transferência do Museu Nacional do Campo de Santana para Quinta da Boa Vista, em 28.02.1890. BR MN MN. DR. CO, RA. 9/f. 156 – 157. Ofício de Ladislau Netto solicitando urgência para a transferência do Museu Nacio-nal do Campo de Santana para a Quinta da Boa Vista. BR MN MN. DR. CO, RA. 9/f. 169 – 169v. Ofício de Ladislau Netto ao Ministro e Secretário de Estado Interino dos Negócios da Instrução Pública Correios e Telégrafos interessado em adquirir, para o Museu Na-cional, uma coleção de artefatos quetchuas do Museu do ex-imperador que seria leiloada junto com os móveis. BR MN MN. DR. CO, RA. 10/f. 42v – 43. Ofício de Ladislau Netto ao Ministro e Secretário de Estado dos Negócios dInstrução Pública, Correios e Telégrafos solicitando outros espaços pois estava consciente de que não se faria mais a mudança do Museu Nacional para a Quinta da Boa Vista. BR MN MN. DR. CO, RA. 10/f. 42 – 42v.
53
Ofício de Ladislau Netto solicita transferência do Museu do Imperador para o Museu Nacional, para isso solicita ligação férrea da Quinta da Boa vista para o Campo de Santana. BR MN MN. DR. CO, RA. 10/f. 54. Ofício de Ladislau Netto ao Ministro e Secretário de Estado Interino dos Negócios da Instrução Pública Correios e Telégrafos denunciando o engenheiro de obras do Mi-nistério do Interior, Bettencourt da Silva, de ter depredado o mobiliário que restou no palácio, oriundo do Congresso BR.MN.DA, cx. 10, procedência 25 maio 2005, pasta 367 Oficio da seção de Antropologia e Etnografia do Museu ao Diretor interino do Museu com a informação de que instrumentos de musica de origem asiática eram do espo-lio do Imperador do Brasil em 22.12.1917 Biblioteca Nacional: Jornal: O Paiz, Coluna Salada de Frutas, Rio de Janeiro, 11.08.1890.
54
ANEXO I
Lista do Acervo de objetos Japoneses do setor de Etnologia do Museu Nacional
1. 4898 – Colete acolchoado para esgrima – Pedro II ou Japão (?)
2. 5167 – Manto de papel – Japão (?)
3. 5176 – Kimono – Japão ou China (?)
4. 5179 – Alamares de seda - Japão ou China (?)
5. 5556 – Cinta de palha pintada de roxo - Japão (?)
6. 6829 – Espada ornamentada - Japão (?)
7. 6830 – Espada ornamentada com bainha de madeira L,C,8357 bs. - Japão (?)
8. 6831 – Espada ornamentada com bainha de madeira L,C,8357 bs. - Japão (?)
9. 6832 – Espada ornamentada com bainha de madeira L,C,8357 bs. - Japão (?)
10. 6833–Espada ornamentada com bainha de madeira L,C,8357 bs.- Japão
11. 6842 – Bainha ornamentada do Japão (?)
12. 6845 – Caixa de charão do Japão (?)
13. 6846 – Jogo Japonês (?)
14. 6847 – Idolo off pelo capitão de fragata Luiz Fellipe Saldanha da Gama em 21- 4 - 1882 – Japão
15. 6848 - Idolo off pelo capitão de fragata Luiz Fellipe Saldanha da Gama em 21- 4 - 1882 – Japão
16. 6849 – Bolsa de senhora de seda – Japão
17. 6850 – Bussola Japão
18. 6854 – Mapa da cidade do Japão e do Yedo
19. 6855 – Pano de mesa de cor avermelhado com bordados a ouro – Japão
20. 6856 – Pano de mesa de cor branca com bordados a ouro – Japão
21. 6857 – Pano de mesa de cor branca com bordados a ouro – Japão
22. 6858 – Pano de mesa de cor branca com bordados a ouro – Japão
55
23. 6859 – Pano de mesa de cor branca com bordados a ouro – Japão
24. 6860 – Papeis brancos fabricados com fios de seda – Japão
25. 6862 – Fragmentos de jornais – Japão
26. 6863 – Dinheiro em papel e jornais que circularam durante a guerra Russo-
Japonesa – Japão 1904 - 1905
27. 6864 – Enfeite de cabelo – Japão (?)
28. 6865 – Enfeite de cabelo – Japão (?)
29. 6866 – Enfeite de cabelo – Japão (?)
30. 6870 – Facas de madeira ornamentada – Japão (?)
31. 6871 - Facas de madeira ornamentada – Japão (?)
32. 6873 – Modelo de embarcação japonesa off. Pelo 1º Sargento da marinha
Camillo Dercanchy 25 – 8 – 1890
33. 6888 – Espada japonesa
34. 6889 – Espada japonesa com bainha de ouro off. Pelo Sr. Major Antonio Fer-reira de Assis 1888
35. 6890 – Espada ornamentada Japão
36. 6891 – Polvarinho de couro e palha – Japão
37. 6908 – Vestimenta de chefe guerreiro japonês
38. 6909 – Faixa japonesa
39. 6910 – Faixa japonesa
40. 6911 – Vestimenta japonesa
41. 6912 – Avental vestimenta japonesa
42. 6913 – Avental vestimenta japonesa
43. 6914 – Vestimenta japonesa
44. 6915 – Vestimenta japonesa
45. 6916 – Colcha japonesa
56
46. 6917 – Vestimenta japonesa
47. 6918 – Vestimenta japonesa
48. 6919 – Vestimenta japonesa
49. 6920 – Pano de mesa bordados a seda japonês
50. 6921 – Pano de mesa bordados a seda japonês
51. 6940 – Punhal japonês marfim
52. 18790 – Pinturas japonesas obscenas oferecidas ao museu nacional em 1 de
outubro de 1913 por um anônimo
53. 19114 –Arco - dos habitantes da ilha formosa (asia). Oferta do Dr. Olympio da Fonseca Filho do Instituto Oswaldo Cruz, de volta da sua viagem ao Japão 31 de março de 1927
54. 19115 - Lança - dos habitantes da ilha formosa (asia). Oferta do Dr. Olympio da Fonseca Filho do Instituto Oswaldo Cruz, de volta da sua viagem ao Japão 31 de março de 1927
55. 19116 - Flecha - dos habitantes da ilha formosa (asia). Oferta do Dr. Olympio da Fonseca Filho do Instituto Oswaldo Cruz, de volta da sua viagem ao Japão 31 de março de 1927
56. 19117 -Flecha - dos habitantes da ilha formosa (asia). Oferta do Dr. Olympio da Fonseca Filho do Instituto Oswaldo Cruz, de volta da sua viagem ao Japão 31 de março de 1927
57. 19118 -Flecha - dos habitantes da ilha formosa (asia). Oferta do Dr. Olympio da Fonseca Filho do Instituto Oswaldo Cruz, de volta da sua viagem ao Japão 31 de março de 1927
58. 19119 - Pente - dos habitantes da ilha formosa (asia). Oferta do Dr. Olympio da Fonseca Filho do Instituto Oswaldo Cruz, de volta da sua viagem ao Japão 31 de março de 1927
59. 19120 - Fotografia - dos habitantes da ilha formosa (asia). Oferta do Dr. Olympio da Fonseca Filho do Instituto Oswaldo Cruz, de volta da sua viagem ao Japão 31 de março de 1927
60. 20298 - fotografias e postais de costumes da ilha formosa of pelo Dr S. Naka-rai em outubro de 1928
61. 20299 -ornato para o peito - Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
57
62. 20300 - ornato para o peito - Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
63. 20301 - Colar -Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
64. 20302 -Colar -Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
65. 20303 -ornato para orelha - Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
66. 20304 - sapatos para pés deformados. Colar -Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
67. 20305 -cesto para carregar - bambu - Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em ou-tubro de 1928
68. 20306 -colher de vinho. Grupo Aino-Yezo. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
69. 20307 -Boneca - da ilha koto-shie, perto deIlha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
70. 20308 -cachimbo de bambu - Ramo Saichett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
71. 20309 -cachimbo de bambu - Ramo Saichett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
72. 20310 -colher para comer. Grupo Aipe. Japão. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
73. 20311 -Tecido-Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
74. 20312 -Bolsa de couro para polvora. Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
75. 20313 -ponta de flecha - grupo Aino-Yezo. Japão. Of. Dr S. Nakarai em outu-bro de 1928
76. 20314 -Reservatório para sal.Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
77. 20315 -Bolsa para tabaco. Bambú. Grupo Arewaishi. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
78. 20316 -Cintura com bolso. Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928.
58
79. 20317 -bolsa. Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
80. 20318 -Estojo de taquara. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
81. 20319 -cesto para carregar - bambu - Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em ou-tubro de 1928
82. 20320 -leque de bananeira. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
83. 20321 -leque de bananeira. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
84. 20322 -cabaça - Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
85. 20323 - Facão - Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
86. 20324 -Arco - Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
87. 20325 -flecha com ponta de ferro. Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
88. 20326 - flecha com ponta de ferro. Ramo Saishett. Ilha Formosa. Of. Dr S. Nakarai em outubro de 1928
89. 22020 -vaso de madeira dos aino (Japão), usado para sopa, chá para levan-tar os bigodes usam a espatula anexa of. Dr. Juliano Moreira em se-tembro de 1929
90. 22021 - Flecha dos aino of. Dr. Juliano moreira em setembro de 1929
91. 26528 –material etnografico (passaporte da japoneses e cabelos dos mes-mos) Of. Do sr. Ruy de Gouvea Nobre.
92. 26530 - Ponta de flecha usada noJapão antigo. Of.Srs. Simitikamiyá, Fumihi-dé Okubo e SigueoSekizu, de Aliança, Nordeste de São Paulo, em se-tembro de 1935
93. 26531 –Ponta de flecha usada noJapão antigo. Of.Srs. Simitikamiyá, Fumihi-dé Okubo e SigueoSekizu, de Aliança, Nordeste de São Paulo, em se-tembro de 1935
94. 26532 - Ponta de flecha usada noJapão antigo. Of.Srs. Simitikamiyá, Fumihi-dé Okubo e SigueoSekizu, de Aliança, Nordeste de São Paulo, em se-tembro de 1935
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95. 26533 -Caixinha feita com restos da madeira sagrada com que se construiu o
santuario do templo shintoista de Ise-Daí jin-gú, consagrado aos ante-passados do Japão. Of.Srs. Simitikamiyá, Fumihidé Okubo e Si-gueoSekizu, de Aliança, Nordeste de São Paulo, em setembro de 1935
96. 27937 - mascara usada nas danças sagradas japonesas. Adquirida em Nara Japão. Material permutado em outubro de 1937. Exc. Ruy de Lima e Silva
97. 27940 - Sapatos Típicos japoneses. Adquiridos em Moji. Japão. Material permutado em outubro de 1937. Exc. Ruy de Lima e Silva
98. 27941 - Sapatos Típicos japoneses. Adquiridos em Moji. Japão. Material permutado em outubro de 1937. Exc. Ruy de Lima e Silva
99. 39541 – miniatura de capacete Coleção Yolanda Barbosa Costa e Silva, En-trada em 29 de abril 1975
100. 39546 – Sabre (?) punho de madeira, lamina de metal com decoração em
relevo num dos lados e no outro, dois sulcos que vão até o meio da lamina, bainha de madeira com caracteres japoneses
101. 39547 - Espada de guerreiro, lamina fina temperada; bainha em laca preta com discreta decoração em ouro; cordões de seda no punho no estojo de seda (brocado) com estamparia em fios dourados representando pássaros em voo. Estas três peças 39545, 39546 e 39547, estavam colocadas sobre almofada de veludo azul. (ver detalhes no Registro manuscrito).
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ANEXO II
Oficio da seção de Antropologia e Etnografia do Museu ao Diretor interino do Museu com a informação de que instrumentos de musica de origem asiática eram do espo-lio do Imperador do Brasil em 22.12.1917
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ANEXO III
6908 – Vestimenta de chefe guerreiro japonês (SAMURAI)
Foto armadura de Samurai – registro de Roosevelt Mota.
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ANEXO IV
39547 - Espada de guerreiro, lamina fina temperada; bainha em laca preta com discreta decoração em ouro; cordões de seda no punho no estojo de seda (bro-cado) com estamparia em fios dourados representando pássaros em voo. Estas três peças 39545, 39546 e 39547. Doadas em 1975, pela Sr.ª Yolanda Barbosa Costa e Silva, viúva do ex-presidente Artur da Costa
Foto espada de Japonesa – registro de Roosevelt Mota.
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