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8/17/2019 A Impossível Linguagem
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A impossível linguagem:Uma leitura sobre as vozes dissidentes na escritura de Hilda Hilst.
Tatiana Franca Rodrigues
8/17/2019 A Impossível Linguagem
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Tatiana Franca Rodrigues
A impossível linguagem:Uma leitura sobre as vozes dissidentes na escritura de Hilda Hilst.
Dissertação apresentada !anca"#aminadora da Universidade Federalde $uiz de Fora % &'( como e#ig)ncia
parcial para a obtenção do título deMestre em Teoria da Literatura( do*urso de &estrado em +etras(Faculdade de +etras( UF$F( sob aorientação do Prof. Dr. Alexandre GraçaFaria.
$uiz de Fora( ,--.
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Aos rou#in/is
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AGRADECIMENTOS
0oder agradecer 1 uma imensa alegria. 2uer dizer 3ue o impossível(
a4inal( cedeu a nossa vontade.
" as palavras 3ue eu gostaria de ter agora são encontradas na doce
m5sica de &ilton 6ascimento( Rouxinol:
Rou#inol tomou conta do meu viver
*7egou 3uando procurei
Razão para poder seguir
2uando a m5sica ia e 3uase eu 4i3uei
2uando a vida c7orava
&ais eu gritei
08ssaro deu a volta ao mundo
" brincavaRou#inol me ensinou 3ue 1 s/ não temer
*antou se 7ospedou em mim
Todos os p8ssaros( an9os
Dentro de n/s(
Uma 7armonia
Trazida dos rou#in/is.
Todos a3ueles 3ue estiveram constantemente presentes 3uando a
m5sica ia; são os p8ssaros( an9os;( 3ue me ensinaram 3ue 1 s/ não temer;. H8
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tamb1m a3ueles 3ue vieram me presentear com sua e#ist)ncia em min7a vida(
e#atamente 3uando procurei razão para poder seguir;: os duros momentos de
d5vida 4oram superados pela certeza vinda de sentimentos de amor. 2uando a
vida c7orava;( 3uando mais eu gritei;( esses p8ssaros( an9os( por3ue brincavam;(
puderam trazer tona a 7armonia 3ue agora o4ereço a eles com terna alegria:
0ro4essor Ale#andre( &ãe( 6ara( ndida e 6eiva( e a cada um 3ue a9udou a
4ormar o coro ang1lico 3ue sustenta min7a vida( &uito ?brigada@
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RESUMO
"ste trabal7o pretende( a partir da leitura de tr)s livros de Hilda Hilst(
compreender de 3ue maneira o tema do erotismo se interrelaciona com 3uestBes
ligadas metalinguagem e ao pr/prio trabal7o de escrita. 6esta direção( o estudo
procura entender a pornogra4ia como um discurso a partir do 3ual se dão re4le#Bes
sobre a contemporaneidade.
Assim( procurase desconstruir as nomenclaturas obscena( er/tica e
pornogr84ica;( comumente vinculadas autora e demonstrar como tais elementos
são apenas um ponto de partida para propor 7ip/teses sobre como o discurso
sobre a se#ualidade( sobre o corpo( não est8 calcado na e#terioridade 3ue
representam( mas pode abranger 3uestBes pro4undas( como a da possibilidade de
representar a ess)ncia das coisas atrav1s de palavras( ou( no caso do se#o( aess)ncia da sub9etividade a partir da3uilo 3ue aponta para a e#terioridade.
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ABSTRACT
T7e aim o4 t7is Cor is( bE reading t7ree boos o4 Hilda Hilst( tounderstand 7oC t7e t7eme o4 eroticism is connected to 3uestions related to
metalanguage and to t7e issue o4 t7e process o4 Criting itsel4. Under t7ese
circumstances( t7e studE intends to appre7end pornograp7E as a speec7 t7roug7
C7ic7 critical t7oug7ts regarding contemporaneitE are taen into consideration.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO........................................................................................................
CAPÍTULO 1
&A+DGTA ?RT?D?GA; ?U RIDENDO A!TIGAT MORE!: ? 0A0"+ D?6ARRAD?R "& HG+DA HG+IT
. ? JnãoK valor da l/gica....................................................................................L
., Um narrador nada ortodo#o............................................................................,
.M *astigar( com palavras( os valores.................................................................
.N H8 ainda uma moralO......................................................................................ML
CAPÍTULO 2
? &"TADGI*URI? "& +?RG +A&!P: 0?R 2U" 6Q? I" D"
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Mas a n*s +..., s* resta' $or assim di-er' tra$a#ear#om a ln/ua' tra$a#ear a ln/ua. Essa tra$açasalutar' essa es0ui%a' esse lo/ro ma/nfi#o 0ue
$ermite ou%ir a ln/ua fora do $oder' no es$lendorde uma re%oluç1o $ermanente da lin/ua/em' eu#(amo' 0uanto a mim: literatura.
Roland !art7es
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G6TR?DUXQ?
A vasta obra de Hilda Hilst compBe um cen8rio desa4iante a todos
a3ueles 3ue pretendem estud8la. 0rimeiramente( por3ue( embora se9a ainda
escasso o n5mero de estudos publicados( 78 uma 3uantidade bastante grande de
leitores 3ue classi4icamna a partir de um vi1s a3ui entendido como redutor. ncia o trabal7o de
linguagem 3ue 78 nos seus te#tos. *omo se pode constatar atrav1s das
colocaçBes de
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prosa( poesia e teatro % pois( embora não 7a9a a pretensão de dar conta de tão
e#tensa obra neste trabal7o( 1 importante cuidar para não torn8la menor( nem em
relação teoria abordada( nem devido aos recortes escol7idos para a presente
an8lise.
Desse 9eito( tr)s obras 4oram elencadas para ilustrar discussBes
entendidas como principais na escritura 7ilstiana.
"m primeiro lugar( o livro de poemas( 3uf*li#as JSS,K( em seguida(
O #aderno rosa de Lori Lam)4 JSS-K e( por 5ltimo( A o)s#ena sen(ora D JSW,K.
*omo 1 possível constatar( 78 uma di4erença de dez anos entre o primeiro e o
5ltimo livro escol7ido para esta an8lise. A despeito da ordem cronol/gica em 3ue
4oram editadas( as obras serão estudadas na se3\)ncia apresentada. Tal 4ato se
9usti4ica na escol7a do tema( pois se pretende perceber como a tem8tica dita
pornogr84ica; de Hilda Hilst abre( na verdade( camin7os para uma re4le#ão aguda
sobre a metalinguagem como veio 3uestionador da contemporaneidade.
"m 3uf*li#as' o largo uso do palavrão na par/dia aos te#tos de
contos de 4adas tradicionais associa o 3uestionamento sobre os valores de moral
3ue sustentam as relaçBes 7umanas na sociedade ocidental( e os valores
est1ticos 3ue( via de regra( são crit1rios in4luenciados por padrBes morais( como
4eio; e belo;. ? suporte te/rico 4oi encontrado em 6ietzsc7e( na Genealo/ia da
Moral ( e nas suas re4le#Bes sobre o 3uanto o estabelecimento de padrBes morais
a serem cumpridos pode cercear as possibilidades inventivas do 7omem. Desse
modo( conceitos como 4eio; e belo; reduzem signi4icativamente o ob9eto a 3ue se
destinam. Al1m disso( o aspecto satírico proposto pela releitura malcomportada
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parecenos intencional( pois ao 4azerem rir( as poesias levamnos a criticar nossas
concepçBes de moral.
Iob outro >ngulo( a opção pelos voc8bulos ditos de bai#o calão
tornase necess8ria para evidenciar a 3uestão tratada por &ic7el Foucault na
2ist*ria da sexualidade. Devese reparar 3ue( nos contos reescritos por Hilst( a
3uestão relacionada se#ualidade constitui tamb1m uma crítica aos valores
estabelecidos como corretos( pois( de acordo com o pensador 4ranc)s( ela
des4ruta de um discurso pseudopermitido pela sociedade( 98 3ue 78 um enorme
cat8logo de normas( censuras e tabus para se 4alar de se#o.
H8( ainda( uma terceira 3uestão merecedora de uma leitura mais
atenta( o 4ato de o eulírico( nome dado voz usada na linguagem emotiva( ser
substituído( em 3uf*li#as' por um narrador( 3ue 1 uma voz( a4inal( mas sem
nen7uma ligação com a 4unção emotiva da linguagem] ao contr8rio( preocupase
em satirizar o comportamento de seus leitores. Desse modo( voltado para a crítica
aos padrBes de comportamento( o narrador 4az com 3ue o leitor ria de seus
pr/prios de4eitos( o 3ue 98 1( de certo modo( uma maneira de lev8lo a 4azer uma
crítica de si mesmo.
Ainda sob o aspecto do registro vocabular e da catalogação dos
te#tos de Hilda Hilst ao lado dos 3ue são considerados obscenos pela crítica( 1
3ue se procura ler O #aderno rosa de Lori Lam)4. A 7ist/ria de uma meninin7a de
oito anos prostituída pelos pais e( ainda pior( 3ue gosta de praticar o se#o 1
c7ocante para a maioria dos leitores. V e#atamente a 4im de pensar sobre a visão
do sensocomum 3ue a narrativa se dis4arça nesse perverso enredo: como se o
narrador 3uisesse seduzir seus leitores para o 3ue 1 peri41rico na composição da
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obra( a 4im de provar 3ue não somos capazes de perceber o 3ue realmente
importa.
V 3ue por detr8s da 7ist/ria imoral; de pedo4ilia( 78 uma outra
narrativa: a de uma meninin7a 3ue precisa a9udar o pai( escritor( a gan7ar
din7eiro( pois seu editor o avisa de 3ue sua obra 1 demasiadamente comple#a(
por isso ordena 3ue escreva umas bandal7eiras;( por3ue o p5blico leitor não 1
capaz de entender re4le#Bes densas.
Assim( 78 uma dedicat/ria bastante congruente com a r8pida
resen7a acima( 5 mem*ria da ln/ua' como num gesto de adeus literatura em
4avor da mercadoria. ? 3ue parece reverberar o dito de 3ue o cliente tem sempre
razão;( pois( ao assumir 3ue a literatura precisa ser vendida e( para tanto( tem de
ser aceita( o editor concretiza a crítica 3ue vem gradualmente se 4ormando at1
agora: trancados em percepçBes redutoras das realizaçBes est1ticas Jcomo o
9ulgamento sobre a primeira 7ist/ria de O #aderno rosa' como imoralK colaboramos
para 3ue a escritura se automatize( convertendose em produto de consumo.
6o 4inal da 7ist/ria( 78 a proibição dos pais e sua subse3\ente crise.
Ao lerem o caderno de +ori( pai e mãe o tomam da 4il7a e( em seguida( vão parar
numa instituição psi3ui8trica. A censura imposta a +ori 1 tamb1m parte do adeus
língua e mostra como a produção liter8ria tem se voltado a interesses econ^micos(
o 3ue a distancia de seu verdadeiro papel( revolucionar permanentemente a
linguagem( de modo a mant)la viva.
? 5ltimo capítulo do trabal7o destinase leitura de A o)s#ena
sen(ora D. A esta altura( 98 vimos como a re4le#ão sobre a metalinguagem em
Hilda Hilst 1 sustentada a partir de arti4ícios de cena do narrador( 3ue sempre est8
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em busca de burlar o leitor. 6este 5ltimo livro( a 3uestão 1 elevada a um
e#ponencial m8#imo. A personagem principal( Hill1( uma sen7ora de sessenta
anos( recentemente vi5va( abre mão de seu nome pr/prio em bene4ício da d5vida
proporcionada pela letra D.
Ao mesmo tempo( a morte de "7ud( o marido( desencadeia uma
s1rie de con4litos e#istenciais 3ue levam Hill1 a 7abitar o vão da escada. ? 3ue
est8 em 9ogo são os limites de representação da linguagem. Ie antes( num
movimento de despedida( +ori declara a morte da língua( a !en(ora D aponta para
o seu sil)ncio.
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&aldita ortodo#ia@; ou Ridendo asti/at Mores:
o 0apel do 6arrador em Hilda Hilst.
. ? JnãoK valor da l/gica
? neologismo 3ue nomeia o con9unto dos sete poemas de Hilda
Hilst( 3uf*li#as' 1 composto pela aglutinação das palavras bu4ão; e !uc/licas;. A
breve observação mor4ol/gica acerca da 9unção dos radicais em 3uestão dei#a
evidente( em primeiro lugar( o car8ter satírico desse con9unto de poesias dispostas
provocação de seus leitores( 98 3ue desconstroem % como 4azem os bu4Bes(
atrav1s de recursos de ironia % os usos e costumes de uma sociedade em 4ranca
decad)ncia de seus valores. 6o segundo radical( temos uma re4er)ncia ao poeta
latino nticas e
mor4ol/gicas no 9ogo de palavra 3ue d8 origem ao título do livro( denota o 3ue se
desdobrar8 nos poemas como sistema de pensamento crítico e remetenos
epígra4e colocada na p8gina de rosto de 3uf*li#as( o prov1rbio latino Ridendo
#asti/at mores6' 3ue dei#a entrever o di8logo da peculiar l/gica dos bu4Bes(
atrav1s da s8tira( com a racional doutrina de +ucr1cio. *uriosamente( o lema
latino( relacionado ao título da obra( leva a intuir o 3ue se concretizar8 a partir da
leitura dos poemas e como se constatar8 no e#ercício da sua an8lise: a prud)ncia
1
Rindo castigamse os costumes.
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est8 sob o 9ugo da zombaria. A 4im de 3uestionar o primado da razão % na
impossibilidade de poder continuar conceituando o 7omem como ser 3ue( ao
contr8rio dos demais( possui a 4aculdade de ponderar % e de pensar a
pseudoliberdade discursiva numa sociedade 3ue se diz democr8tica( Hilda Hilst
abre mão do registro ling\ístico padrão da língua portuguesa em bene4ício da
presença da oralidade nos te#tos escritos. ?u mel7or( em bene4ício de um tipo de
vocabul8rio 3ue mel7or e#pressa a liberdade % ou a vontade de liberdade % de
e#pressão( a palavra mais inculta e desclassi4icada: palavrão.
"liane Robert &oraes( em te#to publicado nos adernos de
Literatura 3rasileira( considera 3ue( sob o dis4arce de pornogra4ia( Hilda Hilst
promove uma 4ina re4le#ão sobre o ato de escrever como possibilidade de 9ogar
com os limites da linguagem; J&?RA"I( SSS( p. NK. Tal 9ogo de palavras ,
encontrase no limiar de nossas percepçBes( uma vez 3ue a escol7a le#ical da
autora 1 pelas palavras 3ue avaliamos como de bai#o calão;. ?ra( se vimos( a
partir mesmo do título( 3ue nada 1 4ortuito( seria ing)nuo usar de uma percepção
bin8ria de valores para classi4icar toda uma po1tica como obscena; ou
pornogr84ica; apenas. "m vez disso( a transgressão 3ue nos propBe Hilda Hilst 1
3ue se9amos todos indecentes( no sentido de não corroborarmos mais uma 4alsa
moral( ou se9a( o sentido can^nico de dec)ncia;( mas indagarmos pressupostos e
valores 3ue permaneceram at1 então praticamente in3uestionados. Talvez( por
esse motivo( se9a possível ainda recorrer observação de "liane Robert &oraes
no sentido de 3ue( ao e#travasar os limites da linguagem( 78 uma outra medida
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e#trapolada( a de nossas convicçBes. Daí a verdadeira transgressão de Hilda: o
palavrão( o voc8bulo c7ulo( retirados de seu conte#to prec8rio( o sensocomum( e
ressemantizados na literatura descentram o valor logoc)ntrico( 4azendo com 3ue
3uestionemos nossas pr/prias noçBes de valor.
H8 ainda mais um elemento a ser considerado para 3ue 7a9a uma
leitura proveitosa desta obra( a sua ambi)ncia;( o universo de 48bulas( se assim
se puder entender o seu enredo. V possível ler os poemas de 3uf*li#as como
pe3uenas narrativas 3ue se assemel7am aos contos de 4adas] e isto se d8 não s/
pela dicção oral re4orçada pela estrutura 4ormal dos te#tos Jredondil7as de rimas
ocasionais( cu9o ritmo se d8 pela repetição de voc8bulos e pelo tom 3ue
corresponderia a uma voz melodiosa 3ue conta as 7ist/rias 4ant8sticasK( mas
tamb1m pelas personagens 3ue movimentam e dão vida s breves narrativas: 78
4adas( rain7as( anBes( bru#as e toda sorte de seres 3ue povoam( sobretudo( o
universo in4antil. A ligação entre a critica moral cristã( cerceadora das liberdades
individuais( e o universo 4ant8stico in4antil 4az com 3ue a re4le#ão da autora passe(
necessariamente( pela 3uestão da se#ualidade na comunidade ocidental
contempor>nea( incentivada( pelas inst>ncias midi8ticas( a acontecer de maneira
precoce e( ao mesmo tempo( banalizada pela sociedade do espet8culo;. Ao ser
3uestionada( numa entrevista concedida aos adernos de Literatura 3rasileira(
sobre a pornogra4ia na T< brasileira e a necessidade de censurar o 3ue as
crianças assistem( Hilda Hilst respondeu:
Y...Z ? 3ue eu sei 1 3ue a criança est8 erotizada demais.
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prostitutas loucasO "u não entendo isso. " não sei o3ue 4azer. A min7a solução( a vida inteira( 4oi( sempre(escrever JHG+IT( SSS( p. M,K.
6esse sentido( a apropriação par/dica das antigas 7ist/rias de 4adas
e das 48bulas de cun7o moralizante signi4ica a sua reinserção no conte#to
moderno. 2uer dizer: a imitação burla a re4erencialidade( inter4erindo na produção
de valores( mas a partir da3ueles valores 98 estabelecidos socialmente(
apropriandose( assim( do te#to antigo % as 7ist/rias tradicionais e seu 4im
moralizante % e remetendoo ao 3ue ainda ser8 escrito: a transgressão da antiga
moral.
A releitura proposta por Hilda Hilst desconstruiu o estatuto edi4icante
dos contos antigos( pois( ao salientar o papel dos costumes( bem como dos
par>metros de 1tica e moral( didaticamente enraizados nos conte5dos da3uelas
7ist/rias( ocorreu( em contrapartida( a contribuição para problematizar a relação
do 7umano com seus potenciais valorativos( da sua relação com o
estabelecimento da moral dos usos e costumes e de 3ue maneira essas
avaliaçBes determinam o convívio do 7omem em sociedade.
Tais 3uestBes em torno das 3uf*li#as remetem problem8tica
nietzsc7eana sobre por 3ue o 7omem valora. 6o 0r/logo M de Genealo/ia da
Moral encontramos perguntas as 3uais 6ietzsc7e procurou responder:
Y...Z sob 3ue condiçBes o 7omem inventou para si os 9uízos de valor bom; e mau;O e 3ue valor t)m elesO?bstruíram ou promoveram at1 agora o crescimento do7omemO Ião indício de mis1ria( empobrecimento(degeneração da vidaO ?u( ao contr8rio( revelase neles
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a plenitude( a 4orça( a vontade da vida( sua coragem(sua certeza( seu 4uturoO J6G"T[I*H"( ,--( p. -SK
Iabese 3ue nas conclusBes sobre a re4le#ão acerca dos par>metros
3ue determinam a valoração moral( 6ietzsc7e en#erga 3ue o 7omem( ao vincular
se tradição 9udaicocristã e e#perimentar a decad)ncia da cultura grega(
suprimiu seus potenciais criativos e a pr/pria capacidade de superação do
niilismo. 6a mesma medida( Hilda Hilst pondera sobre a relação de opressão do
7omem com a sua se#ualidade e a maneira como( atrav1s o se#o( ou o
comportamento se#ual( acabam servindo como par>metro para atribuir valores
ascendentes ou descendentes ao 7omem. 6as palavras da poeta( em resposta ao
entrevistador $orge *oli( para os adernos de Literatura 3rasileira' sobre a
relação da po1tica com as partes bai#as do corpo;( notase o 3ue poderia ser um
esboço de resposta s 3uestBes acima( propostas pelo 4il/so4o alemão:
6/s nos desprezamos( temos desprezo por n/smesmos. 2uando eu penso nas partes bai#as docorpo;( como voc) diz( eu penso: como sou miser8vel(como eu sou ningu1m( como eu não sou nada. JHG+IT(SSS( MK.
"mbora 6ietzsc7e 9amais ten7a considerado a 3uestão do valor da
moral sob o vi1s do se#o ou se#ualidade( 78 converg)ncias entre a obra do
4il/so4o e as 3uestBes 3ue podem ser pensadas a partir da interpretação dos
poemas de 3uf*li#as( sobretudo( na moral imposta pelas relaçBes do 7omem com
sua pr/pria se#ualidade( pois a3uilo 3ue 1 designado bai#o;( para 6ietzsc7e(
adv1m de um direito de nomeação cun7ado pelos altos 7omens;( no sentido de
serem os aristocratas( 3ue se autointitularam altos e nobres de espírito;:
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Y...Z 3ue signi4icam e#atamente( do ponto de vistaetimol/gico( as designaçBes para bom; cun7adaspelas diversas línguasO Descobri então 3ue todas elasremetem mesma transformaç1o #on#eitual % 3ue( emtoda parte( nobre;( aristocr8tico;( no sentido social( 1
o conceito b8sico a partir do 3ual necessariamente sedesenvolveu bom; no sentido de espiritualmentenobre;( aristocr8tico;( de espiritualmente bem nascido(espiritualmente privilegiado;: um desenvolvimento 3uesempre corre paralelo 3uele outro 3ue 4az plebeu;(comum;( bai#o; transmutarse 4inalmente em ruim;J6G"T[I*H"( ,--( p. ,K.
?u se9a( se entendemos o se#o como as partes bai#as do corpo;(
não estamos 4azendo apenas uma re4er)ncia a sua localização anat^mica( mas
suscitando um 4ei#e de signos relacionados a conceitos de moralidade(
determinando( de comum acordo( 3ue o se#o 1 um valor in4erior na nossa
sociedade. As implicaçBes deste tipo de percepção em torno da se#ualidade estão
diretamente ligadas aos preceitos morais 3uestionados em Hilda Hilst e em
6ietzsc7e e( para al1m deles( imposição cultural( por ter restringido tanto os
discursos( 3ue desencadeou um con4lito pro4undo entre a se#ualidade e a cultura.
Daí % entendendose 3ue tais pressupostos ten7am sido cun7ados a partir do
direito de nomeação 3ue s/ caberia a inst>ncias legitimadoras do poder político(
os nobres aristocr8ticos %( a tentativa em Hilst de relativizar o estatuto do valor
usando tamb1m da possibilidade de cun7ar a palavra. &as( ao contr8rio do 3ue
4izeram os altos 7omens; citados por 6ietzsc7e( a poeta brasileira não buscou
cristalizar conceitos( ela os transgrediu.
Gsso e#plica o 4ato de os títulos das poesias de 3uf*li#as % O
rei-in(o /a47 A rain(a #are#a7 Drida' a ma/a $er%ersa e fria7 A (a$8u7 O an1o
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triste7 A #antora /ritante e Fil*' a fadin(a l8s)i#a 9 serem( e#atamente como nos
contos tradicionais e 48bulas antigas( a representação da personagem principal] o
3ue 1 muito did8tico( 98 3ue os percursos delas na narrativa devem servir como
e#emplo de tra9et/ria de vida para o leitor.
., Um narrador nada ortodo#o
De um modo geral( ao 4im das 7ist/rias tradicionais( para re4orçar
seu car8ter disciplinat/rio( 7avia as morais da 7ist/ria;( 3ue concluíam os te#tos
imputandol7es uma verossimil7ança capaz de gerir uma identi4icação entrepersonagem_leitor( narrativa_vida real e 3ue garantia 3ue o ob9etivo do te#to 4osse
alcançado( tornandose mecanismo de controle social( uma vez 3ue os
par>metros de comportamento são dados nas 7ist/rias. ? te/rico Alberto &arcos
?nate( em seu livro Entre o eu e o si 9 ou a 0uest1o do (umano na filosofia de
Niet-s#(e( d8 bem a dimensão do 3uanto esses conceitos de moral 4oram
destrutivos para o 7omem:
6o limite( a consideração cientí4ica do mundo deve serencarada como apenas um ramo da consideraçãomoral( pois onde radica a con4iança na verdade e nocon7ecimento( senão na esperança de 3ue o mundo ea vida 4uncionem na estrita observ>ncia de c>nonesmoraisO Ie no caso das apreciaçBes cientí4icas a vidaainda dispun7a de meios para de4enderse e at1 obtera vit/ria( diante das valoraçBes morais 78 sempre orisco iminente de a vida sucumbir em seu cerne. ?encadeamento da e#ist)ncia por parte do bin^mioverdade_4alsidade ainda 1 4rou#o se cote9ado 4orça doagril7oamento do bin^mio bem_mal. "nredada nos 4iosda teia moral a vida empobrece( pois cai na contradiçãode provar sua legitimidade perante um tribunalincompetente para o desempen7o da tare4a. ?sc/digos morais( 3uais3uer 3ue se9am os seus
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conte5dos( os seus valores( sempre 4uncionam como4atores de retração do 4lu#o vital( pois l7e impBembarreiras e#trínsecas sua din>mica J?6AT"( ,--M( p.,,NK.
? deleite gerado pela apreciação est1tica acaba por tamb1m ser
sub9ugado a valoraçBes unilaterais( pois(
6o limite( os atos cognitivos e est1ticos reduzemsea eventos valorativos: belo e verdadeiro s/ ad3uiremtais estatutos por3ue veiculam valores ascendentes]4eio e 4also e#pressam o contr8rio( ou se9a( valores
decadentes J?6AT"( ,--M( p. ,,K.0or isso( a se#ualidade verbalizada( supere#plicitada nos poemas( 1
elemento discursivo( de proposta crítica( pois( a partir das apreciaçBes valorativas
Jno sentido 3ue ?nate trataK em torno da obra de Hilda e das suas classi4icaçBes
Jer/tica( obscena( pornogr84icaK prec8rias( devese acrescentar( temse a
dimensão de o 3uanto o discurso sobre o se#o ainda 1 polpudo de eu4emismos e
melindres( a não ser no caso da supere#posição 3ue a mídia provoca em torno do
assunto( o 3ue leva a banalização e mercantilização do se#o( tornando a
discussão est1ril. 6a visão de &ic7el Foucault( no livro 2ist*ria da sexualidade(
3ue tamb1m trata do comportamento moral( 78 uma intenção por tr8s dessa
aparente liberação em torno do discurso se#ual. De acordo com o pensador( 78
uma relação bem íntima entre se#o e poder e( ao 4alar da3uele( o su9eito acaba se
sentindo como se 4izesse bom uso deste:
Ie o se#o 1 reprimido( isto 1( 4adado proibição( ine#ist)ncia e ao mutismo( o simples 4ato de 4alar delee de sua repressão possui como 3ue um ar detransgressão deliberada. 2uem emprega essa
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linguagem colocase( at1 certo ponto( 4ora do alcancedo poder] desordena a lei] antecipa( por menos 3uese9a( a liberdade 4utura JF?U*AU+T( ,--( p. ,K.
A intensi4icação do discurso se#ual não levou( como deveria( a uma
pes3uisa e re4le#ão em torno da 3uestão dos valores e da sua aplicação nos usos
e costumes( mas ao desgaste de seu potencial argumentativo devido( sobretudo( a
incitação cada vez mais precoce % como no caso da se#ualidade in4antil(
estimulada nas danças supersensuais de 3ue 4alou Hilda % e( em conse3\)ncia
mais imatura( a esse mesmo discurso:
Y...Z a se#ualidade( longe de ter sido reprimida nassociedades capitalistas e burguesas( se bene4iciou( aocontr8rio( de um regime de liberdade constante] não setrata de dizer: o poder( em sociedades como as nossas1 mais tolerante do 3ue repressivo e a crítica 3ue se4az da repressão pode( muito bem( assumir ares deruptura( mas 4az parte de um processo muito maisantigo do 3ue ela e( segundo o sentido em 3ue se leiaesse processo( aparecer8 como um novo epis/dio naatenuação das interdiçBes ou como 4orma mais ardilosaou mais discreta de poder JF?U*AU+T( ,--( p.LK.
?u se9a( 1 possível propor a 7ip/tese de 3ue as inst>ncias
midi8ticas desempen7em nas sociedades modernas a 4unção antes relegada aos
narradores das 48bulas e 7ist/rias de 4adas: a de prescrição de comportamentos(
pois ao elevar a presença da se#ualidade % de maneira aparentemente
democr8tica( 98 3ue se tem a liberdade de escol7er o canal a ser assistido( ou a
revista a ser lida % a uma pot)ncia e#traordin8ria nos cotidianos( todavia sua
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superimport>ncia resulta( ao mesmo tempo( na sua mercantilização( levando
banalização. ? 3ue se traduz( em termos pr8ticos( em controle social.
Tal des4açatez repousa numa 4alsa cordialidade em 3ue( como numtrato de comum acordo( o discurso sobre se#o aparece com os traços libert8rios
da democracia en3uanto( na verdade( continua sendo um veículo para solidi4icar
as noçBes tradicionais de valor. 0or isso( o essencial não são todos esses
escr5pulos( o `moralismo 3ue revelam( ou a 7ipocrisia 3ue neles podemos
vislumbrar( mas sim a necessidade recon7ecida de 3ue 1 preciso super8los;
JF?U*AU+T( ,--( p. ,K.
0ara buscar a superação e transtornar os valores antes canonizados
como ascendentes( o narrador de 3uf*li#as não compactua com o ob9etivo do
narrador tradicional( de tornar o te#to est8vel para o leitor. Ao contr8rio( desordena
as cone#Bes entre narração e e#peri)ncia( ou mel7or( entre a 7ist/ria contada e a
imposição de uma visão de mundo.
Daí a impossibilidade de classi4ic8lo segundo a regra normativa
Jpersonagem( observador ou oniscienteK( 98 3ue não 78 comprometimento com a
vig)ncia de 3uais3uer tipos de padrão( o 3ue por si s/ 98 encerra uma re4le#ão
acerca da produção te#tual par/dica: não 78 compromisso com o te#to re4erencial(
mas com a crítica 3ue se 3uer a partir dele( o 3ue( somado ao tom sarc8stico
satírico da 7ist/ria cu9o 4inal 98 se pode entrever maldosamente no título( leva a
crer 3ue a composição de Hilda Hilst inaugura um outro tipo de narrador % o 3ue
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ela mesma talvez ten7a calculado( dada a consci)ncia 3ue tin7a de sua obra % ( o
narradorbu4ão.
A personalidade multi4ac1tica do o;erman 1 bem conveniente aocar8ter re4rat8rio da narração em Hilda Hilst em 3ue 78 uma supressão da 4igura
do narrador en3uanto elemento te#tual respons8vel pela 4lu)ncia com 3ue o te#to
1 contado. "m Hilst( a 7ist/ria não tem uma organização interna rígida do ponto de
vista da estruturação 4rasal] ao contr8rio( a precariedade das relaçBes estruturais
desestabiliza o 7orizonte de leitura( 3ue normalmente prescinde da linearidade e
do acabamento escrupuloso 3ue d8 ao leitor a segurança de ter compreendido o
te#to] não 78( por e#emplo( uma pontuação considerada gramaticalmente
ade3uada( al1m da opção por um registro ling\ístico inusual em te#tos liter8rios( o
3ue comple#i4ica a relação entre te#to e narrador.
Tal ruptura tem seu 8pice na c7egada da conclusão da 7ist/ria(
3uando deveria 7aver( ap/s os dissabores e perip1cias por 3ue passou a
personagem( a retomada do e3uilíbrio com a advert)ncia do narrador. "m
3uf*li#as não 78 o amparo vindo do aconsel7amento da moral da 7ist/ria( a
conclusão bem acabada( mas o desalento de uma moral da est/ria; Jessa 1 a
gra4ia usada por HildaK 3ue não conclui nem tran3\iliza. H8 a pil71ria do bu4ão(
3ue se ri da sociedade 3ue imita( de maneira 3ue o te#to 1 concluído com a a
moral da 7ist/ria.
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.M *astigar( com palavras( os valores.
V possível perceber( a despeito do esgarçamento da unidade( uma
comunicação tem8tica entre as 7ist/rias( a imprescindível relação entre palavra eresist)ncia. 6o discurso do narrador o;er 78( na JnadaK conclusiva moral da
est/ria; de O rei-in(o /a4' versos 3ue serviriam bem como epígra4e para a leitura
de todos os outros( inclusive para ele mesmo. 0or e#emplo: a palavra 1
necess8ria_ diante do absurdo; JHG+IT( ,--,( p. NK( o 3ue e3uivale a dizer 3ue
num universo vazio de sentidos % o grande absurdo 1 3ue todas as personagens
bus3uem um 4im para si mesmas % a palavra par/dica( por ser ca/tica( 9oga seu
9ogo burlesco( sendo( de 4orma antit1tica( a alternativa vi8vel para compreender a
representação e as m8scaras dentro do te#to.
6o O rei-in(o /a4 1 contada a 7ist/ria de um reino antigo e 98
perdido( e a 7ist/ria de um reizin7o 3ue nunca 4alava( e de uma nação 3ue 4icou
toda muda.
Ieus 3uatro primeiros versos caracterizam a personagem central:
&udo( pintudão_ ? reizin7o gaE_ Reinava soberano_ Iobre toda nação; JHG+IT(
,--,( p. K. Ao lado da brevidade dos versos( a comple#idade do e#cesso de
ad9etivaçBes leva a entender 3ue a soberania inconteste do rei se d8 na presença
do seu superlativo anat^mico( met84ora do poder 4aloc)ntrico( tirano( e 3ue( 9usto
por isso( pode dispensar a dial1tica] basta ver 3ue o primeiro verso associa a
grandilo3\)ncia do 4alo soberania real( apresentada no terceiro verso. Houve
um momento na 7ist/ria em 3ue essa relação de poder teria sido contestada]
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segundo o narrador( os doutos do reino; 3uestionaram( em primeiro lugar( a
aus)ncia de pro4erimentos do rei 3ue( em troca( l7es respondeu com o poder 3ue
possuía e os calou( mostroul7es a bron7a_ sem cerim^nia; JHG+IT( ,--,( p. ,K.
Ao desbancar os s8bios( o reizin7o teve sua perman)ncia no trono 9usti4icada( 1 o
3ue se comprova nos cinco versos seguintes aos iniciais: &as reinava... _
A0"6AI... _ 0ela linda peroba_ 2ue se l7e adivin7ava_ "ntre as co#as grossas;
JHG+IT( ,--,( p. K. ?ra( o adv1rbio de intensidade em cai#a alta ressalta a
import>ncia de se considerar a origem e#clusiva do poder real( e a crítica de 3ue
não 78 outra ordem no reino al1m da 3ue 1 mantida na e#plicitação da tirania( na
4alta de cerim^nias para 4azer valer a lei do JsupostamenteK mais 4orte.
A reação p5blica( de impot)ncia diante do r1gio 4alo;( 1 de sucumbir
violenta imposição da ordem: Foi um ?7@@@ geral_ " desmaios e ais_ " doutos e
sen7oras_ Despencaram nos braços_ de seus aios. _ " de muitos maridos_
Iabic7Bes e bispos_ "scapouse um grito; JHG+IT( ,--,( p. K. ? grito masculino
Jdos maridos( sabic7Bes e bisposK denuncia a rudeza dos m1todos políticos de
estabelecimento de regras( pois seria bem mais ameno o impacto dos versos caso
a reação viesse das mul7eres( por3ue delas 1 sempre esperado 3ue( 4ragilmente(
percam o controle.
Aconteceu 3ue( daí por diante( para dei#ar claro 3uem manda( o
reizin7o passou a e#ercer o controle social com a demonstração apote/tico
apocalíptica do brusco se#o( ele aparecia ind^mito_ 6a rampa ou na sacada_ *om
a bron7a na mão; JHG+IT( ,--,( p. K( passando a emudecer( assim( todo o
reino: " eram /s agudos_ Dissidentes mudos_ 2ue se a9oel7avam_ Diante do
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mist1rio_ Desse r1gio 4alo_ 2ue de tão gigante_ 0arecia et1reo. _ " 4oi assim 3ue o
reino_ "mbasbacado( mudo_ A3uietouse son7ando_ *om seu rei pintudo; JHG+IT(
,--,( p. K. Houve( assim( uma inversão( 98 3ue o poder passou de repressor a
uma imagem id/latra por parte dos reprimidos.
A essa altura( com todo o potencial disciplinat/rio do seu 4alo em
pr8tica bem sucedida( o reizin7o decide se pronunciar( sendo este o clíma# da
7ist/ria: ? reizin7o gritou_ 6a rampa e na sacada_ Ao meiodia: _ Ando cansado_
De e#ibir meu mastruço_ 0ra 3uem nem 1 russo; JHG+IT( ,--,( p. ,K. ? reizin7o(
imagem metonímica de nossas inst>ncias de poder( 1 reduzido ao seu poderio
48lico( dei#ando ele mesmo de ser su9eito agente( subordinandose
estupidi4icante iconolatria 3ue o coroou. A 7omogeneização das individualidades(
entretanto( teve um des4ec7o e#cepcional no caso do c7e4e da nação: " 3uero
sem demora_ Um buraco negro_ 0ra raspar meu ganso._ 2uero um cu cabeludo@;
JHG+IT( ,--,( p.NK.
A reação 7ist1rica do reizin7o Jcomo a dos maridos( sabic7Bes e
bisposK ridicularizou a instituição real: o reizin7o gritou;. Gsto 1( despossuído de
bom senso( o reizin7o tornou o símbolo da dominação masculina( o potente 4alo(
4r8gil e diminuto. 2uanto ao restante do reino: sucumbiu de susto; JHG+IT( ,--,(
p.NK.
Ali8s( o capitalismo neoliberal atua nesse mesmo sentido( de impor
valores 3ue geram status social( identi4icando o indivíduo a partir do 3ue ele tem
em comum com o 3ue 1 o4erecido pelo mercado( e com o 3ue os outros indivíduos
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t)m. Assim como o rei elegeu um ícone 3ue garantiu sua perman)ncia no trono(
78 outros suportes( eleitos por outras instituiçBes Jda tecnologia( da medicina
est1tica( do universo 3ue dita a moda e mesmo da religiãoK( 3ue legitimam a
inserção do su9eito em determinado meio social e garantem seu bemestar( mas
somente a partir do momento em 3ue ele sente sua identi4icação num outro( 3ue
deve se assemel7ar a ele o m8#imo possível.
Desse modo( por não se ade3uar s e#ig)ncias do seu universo( a
rain7a( segunda personagem no cen8rio de 3uf*li#as( se sente careca: De
cabeleira 4arta_ De rígidas ombreiras_ de elegante beca_ Ula era casta_ 0or3ue de
passarin7a_ "ra careca; JHG+IT( ,--,( p. K.
A preocupação desimportante vai atravessar o te#to de ponta a
ponta e( apesar de se tratar de uma rain7a( em nen7um momento 78 re4er)ncias
sobre 3uais3uer atividades suas como c7e4e de "stado( o 3ue sugere 3ue 78 total
irresponsabilidade para com o bem p5blico e o comprometimento e#clusivo com o
con4orto pessoal. Al1m disso( a rain7a deposita na 4rustração est1tica todo o seu
potencial de 4eminilidade e( por esse motivo( permanece casta: c1us@
"#clamava._ 0or 3ue me 4izeram_ Tão 4arta de cabelos_ Tão careca nos meiosO_ "
c7orava; JHG+IT( ,--,( p. K.
A ang5stia de Ula( para al1m do 4ator est1tico( re4lete o niilismo do
su9eito 3ue nada 3uer( al1m do con4ort8vel sentimento de pertença Jou de
aceitaçãoK por um determinado grupo na sociedade. A banalização do discurso
se#ual( al1m de en4ra3uec)lo( parece tamb1m vulgarizar a necessidade
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constante de trans4ormar toda mul7er numa sex4 sim)ol ( independente de suas
ocupaçBes e mesmo aptidBes] com isso( o 3ue se cria 1 a depend)ncia da
imagem e( conse3\entemente( uma sociedade cu9o espírito crítico parece so4rer
de anore#ia.
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De 4elicidade
*abeluda ou não
Rain7a ou prostituta
7ei de 4icar contigo
A vida toda@ JHG+IT( ,--,( p. K.
A representação da mul7er no te#to 1 3uase um retorno 3uela do
Romantismo( 3uando sua imagem era laboriosamente tal7ada para ser e#emplo
de passividade. A rain7a Ula( como a 7eroína rom>ntica( resolve todos os seuscon4litos na concretização da relação amorosa. ? biscate( no lugar do 7er/i 3ue
salva ou redime a mocin7a( 1 a personagem 3ue tem maior densidade por3ue tem
postura ativa: Ula c7orava( ele trazia antídotos. *om isso( perguntase 3ual 1 o
lugar e4etivo das reivindicaçBes 4eministas na contemporaneidade( uma vez 3ue a
ir^nica &oral da est/ria; derruba 3ual3uer comple#idade: Ie o problema 1
relevante( _ apela pro primeiro passante; JHG+IT( ,--,( p. WK.
A capacidade política da mul7er parece ter so4rido um retrocesso e a
sensibilidade crítica( embrutecida.
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e#plicitadas at1 3ue ven7am a ser naturais no cotidiano. ?s recursos midi8ticos
t)m ostentado com cada vez mais rigor todo tipo de imagem agressiva e a
encarnação do mal absoluto nos tradicionais vilBes de 7ist/rias 4ol7etinescas tem
atingido níveis recordes de audi)ncia.
"ste tipo de posicionamento se deve( em primeiro lugar( estrat1gia
de representar a realidade cruel da sociedade contempor>nea( depois( ao
entendimento de 3ue 78 um discurso na brutalidade( como 1 possível perceber no
terceiro poema do con9unto de 3uf*li#as 3ue 98 no título( Drida' a ma/a $er%ersa e
fria( inclui os dois elementos supracitados. A perversão de Drida 1 o seu re3uinte
de crueldade( en3uanto sua 4rieza diz respeito espantosa naturalidade com 3ue
e#ecuta suas vítimas:
0airava sobre as casas
De4ecando ratas
Andava pelas vias
"spal7ando baratas
Assim era Drida
A maga perversa e 4ria
Rabiscava a cada dia o seu di8rio.
"is o 3ue na primeira p8gina se lia:
"n4or3uei com a min7a trança
? vel7o $eremias.
" en4orcado e de mastruço duro
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Fiz com 3ue a vel7a Gn8cia
Ientasse o cuzaço ralo
no dele dito cu9o.
Iabem por 3u)O
*omeramme a coru9a. JHG+IT( ,--,( p. SK.
&ais 3ue em todos os outros poemas( a3ui 1 preciso considerar a
4unção do narrador 3ue conta a 7ist/ria da maga Drida como 4aria um diretor de
cinema com sua c>mera( escol7endo o ponto de vista ade3uado para valorizar osensacionalismo da cena. A 9usti4icativa para o assassinato( irrelevante( 1 narrada
com pacto de veracidade( pois 1 retirada do di8rio( logo( de 4onte documental
espantando a espontaneidade do relato de Drida( 1 como se( para ela( o crime 1
3ue 4osse irrelevante.
? uso 3ue os produtos midi8ticos 4azem da supere#plorada relaçãoentre a viol)ncia e a perversidade( elementos 3ue 98 4azem parte do imagin8rio
urbano( dese9a potencializar sua inclinação para o com1rcio( o 3ue 3uer dizer 3ue(
embora a temam( os indivíduos consomem a viol)ncia. 6o te#to Outras Flores do
mal: desmesura da %iol
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3ue perde sua e4ic8cia( desprezado pela elite eabandonado pela multidão( 3ue pre4ere o cinema( omusic7all ou o circo( Artaud propBe um teatro de açãoe#trema( 3ue assedie a sensibilidade do e#pectador(para renovar o `espet8culo total( um espaço
bombardeado por imagens e sons J'?&"I( ,--( p.LK.
&as o espet8culo total; inibe a re4le#ão sensível( pois na medida em
3ue os re3uintes de viol)ncia na encenação se tornam re4er)ncias trazidas da
realidade o e#pectador acomoda seus ol7os para o 3ue v)( tanto no palco( 3uanto
na vida e( com isso( seguese o seu embrutecimento( at1 sua completa
imbecilização.
+embrando da advert)ncia contida na primeira moral; em 3uf*li#as(
a palavra 1 necess8ria_ diante do absurdo; JHG+IT( ,--,( p. NK( v)se 3ue em
Drida' a ma/a $er%ersa e fria( o registro de viol)ncia( desnecessariamente
abundante( 1 a perversão da palavra( no sentido de( atrav1s da mesma
banalização espetacular( promover a retirada do escudo bruto( constrangedor das
percepçBes e leituras 4inas( a 4im de 3ue o e#pectador se d) conta do 3uanto seu
aplauso oco( ao 4im( 1 a perpetração da brutalidade:
Gncendiei o buraco da 6eguin7a.
Uma crioula est5pida
2ue limpava ramelas
De porcas criancin7as.
0erguntame por 3ue
Gncendieil7e a rodelaO
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0ois um buraco 4undo
De r1gia 4unção
&as 3ue s/ tem valia
Ie usado na contramão
"ra por neguin7a ignorado.
&aldita ortodo#ia@ JHG+IT( ,--,( p. ,-K.
V interessante reparar 3ue o 5ltimo verso( &aldita ortodo#ia;( 1 a
declaração 4inal de Drida( mas poderia tamb1m ser um coment8rio do narradorintruso( amaldiçoando a ortodo#ia dos crit1rios de valor 3ue se dividem
rigidamente entre a3uilo 3ue 1 identi4icado como bom; ou mau;. +ogo em
seguida( como 3ue para desorganizar tal conceituação normativa( a perversa
maga vai espal7ar suas maldiçBes no camin7o dos JbonsK magos de Iantiago de
*ompostela: " agora vou enc7er de tra3ues_ ? camin7o dos magos._ *om min7a
espada de pal7a e bosta seca_ &e voE a Iantiago; JHG+IT( ,--,( p. ,-K. A &oral
da est/ria; 4ec7a a encenação dei#ando a compai#ão em dívida para com a
sociedade: Ie encontrares uma maga Jantes_ 3ue ela o 4açaK( enrabaa; JHG+IT(
,--,( p. ,-K.
As relaçBes de e#ploração dos potenciais dos indivíduos uns pelos
outros % característica da l/gica do lucro % 4azem com 3ue a moral passe( de
rigorosa( a permissiva( sendo relativizada de acordo com uma necessidade
7ier8r3uica( de modo 3ue a3ueles 3ue determinam os padrBes de comportamento
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e as regras de convívio em sociedade possam burl8los( caso l7es conven7a( o
3ue 1( de certa 4orma( um tipo de corrupção.
"m A (a$8u( 1 a perversão o vínculo entre as personagens( o 3ue 98 4ica claro no título do poema( 98 3ue o substantivo c7ap1u; so4reu uma
derivação impr/pria( pois o substantivo comum tornouse pr/prio( dando nome
personagem principal do te#to. Al1m disso( 1 possível propor 3ue A *7ap1u; se9a
tamb1m uma 4orma de ad9etivação da personagem( 98 3ue( no registro colo3uial( o
termo dar um c7ap1u; signi4ica usar de esperteza a 4im de lesar algu1m( moral ou
4inanceiramente. ? 3ue 4az sentido( 98 3ue *7ap1u e sua av/ +eoc8dia vivem de
e#plorar +obão se#ualmente( 4azendo dele prostituto. &as a *7ap1u parece ainda
guardar 3ual3uer coisa de ingenuidade Jou seria apenas toliceOK( pois: +eoc8dia
era s8bia_ Iua neta *7ap1u;_ De vermel7o s/ tin7a a gruta_ " um certo mel na
língua su9a;JHG+IT( ,--,( p. ,MK.
?s 3uatro primeiros versos do poema dei#am entender 3ue a av/
era realmente esperta( en3uanto a neta apenas parece s)lo. A princípio( os
desdobramentos dos di8logos entre av/ e neta levam a crer 3ue a terceira
geração se sobrepBe primeira:
Iai bruaca
Da tua toca imunda@ Jdizial7e a netaK
Aí vem +obão@ Y...Z
A vel7a +eoc8dia estremun7ada
Respondia neta:
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Ando cansada de ser e#plorada
0ois da 5ltima vez
+obão deu pra tr)s
" eu não recebi o meu 3uin7ão@JHG+IT( ,--,( p. ,MK.
&as( voltando introdução do te#to( a *7ap1u de vermel7o s/ tin7a
a gruta_ " um certo mel na língua su9a; JHG+IT( ,--,( p. ,MK( o 3ue serve como um
aviso de 3ue poder8 ser ela 3uem levar8 um c7ap1u; no 4im da 7ist/ria. A
suspeita logo se concretiza na declaração 3ue a av/ +eoc8dia 4az ao +obão: svezes te miro_ " sinto 3ue tens um nabo_ 0er4eito pro meu buraco; JHG+IT( ,--,(
p. ,NK e 1 s/ a partir disso 3ue a *7ap1u gan7a compreensão do 3ue sucede s
suas e#pensas:
AAAGGG@ 'rita *7ap1u.
6um 8timo percebo tudo@"nganaramme@
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verdadeiras intençBes de 3uem as usa. V o 3ue 3uer dizer a moral 7ilstiana: um id
oculto mascara o seu produto; JHG+IT( ,--,( p. ,NK. A ligação entre 41 e
necessidade numa sociedade nada altruísta passa necessariamente pela mesma
dissimulação dos 3ue buscam nas suas amizades a troca ou lucro nos 4avores(
caracterizando uma relação de e#ploração. 6esse novo caso( o 3ue se e#plora 1 a
c7amada boa 41;( o 3ue não 3uer dizer( por1m( 3ue o lado e#plorado se9a( de
4ato( ing)nuo.
? poema seguinte ao da *7ap1u; e#plora bem essa 3uestão. O
an1o triste 1 a 7ist/ria de um su9eito 98 marginalizado devido a sua compleição(
mas 3ue so4re ainda mais com a obrigação de manter a castidade por causa do
monstruoso se#o 3ue possui. Duas vezes e#cluído( ele se curva em preces
espera de um milagre: Ie me livrasses( Ien7or( _ Dessa estrovenga_ 0rometo
grana em penca_ 0ras vossas igre9a; JHG+IT( ,--,( p. ,LK.
? com1rcio da 41 1 recon7ecido como uma das mais perversas
4ormas de e#ploração do outro. 0rimeiro( por3ue o tipo de argumento em 3ue essa
relação se pauta 1 in3uestion8vel( considerando o !rasil( por e#emplo( 3ue 1 um
"stado laico. "m segundo lugar( destinase aos despossuídos( 3ue
comumentemente se atrelam a pr8ticas religiosas na esperança de darem um
sentido para suas vidas( tornandoas( assim( mais con4ort8veis para eles mesmos.
1 ? termo id;( a3ui( 1 tomado apenas no sentido de alteridade( portanto( a leitura psicanalítica
sobre id; e superid; não se 4az absolutamente necess8ria.
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Al1m de con4iar inteiramente na realização de seu dese9o( o anão
*idão 1 capaz de 9usti4icar 3ual3uer coisa 3ue l7e 4al7e:
Foi atendido. 6o mesmo instante
"vaporousel7e
? mastruço gigante.
6en7um tico de pau
6em bimba nem berimbau
0ra cont8 o ocorrido Y...Z
Um douto bradou: / c1us@
0or 3ue no pedido 3ue 4izeste
6ão especi4icaste pras Alturas
2ue te dei#aste um resto
0or3ue pra Deus? anão respondeu
2ual3uer dica
V compreensão segura JHG+IT( ,--,( p. ,LK.
A boa vontade do anão 1 paga com a sacrossanta traição( por isso 1
preciso saber previamente: Ao pedir( especi4i3ue taman7o_ grossura 3uantia;
JHG+IT( ,--,( p. ,WK. ? 3ue e3uivale a dizer mais uma vez 3ue a palavra 1
necess8ria;( sobretudo 3uando o acordo 1 et1reo.
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Ali8s( 78 acordos t8citos em sociedade e 3ue nunca devem ser
rompidos( a custo de se ter tol7ida 3ual3uer 4orma de liberdade. A e#emplo disso
podese citar o conto 4ant8stico de H.'. =ells( Terra de #e/os' em 3ue um 7omem
com visão per4eita( por acidente( cai numa tribo cu9os 7abitantes são todos cegos
e cr)( inutilmente( 3ue poderia( por isso( reinar. *omo se sabe( os ol7os do
estrangeiro 4oram retirados por serem percebidos como anomalia mal14ica pela
tribo J="++I( SSSK.
? poder da maioria não necessariamente signi4ica democracia(
por3ue( muitas vezes e#ercido de maneira brutal 1( na verdade( um dis4arce do
poder tirano para 3ue( atrav1s do sacri4ício do p8ria( o povo se sinta( de alguma
4orma( recompensado. ? 3ue 1 uma estrat1gia interessante( pois( com isso( 1
desenvolvida uma sociedade inteira de espiBes na 3ual os indivíduos se vigiam
mutuamente e todos são potenciais delatores uns dos crimes; dos outros.
V essa a met84ora 3ue vai em A #antora /ritante: *antava tão bem_
Iubiaml7e oitavas_ Tantas tão claras_ 6a garganta alva_ 2ue toda vizin7ança_
0assou a inve98la; JHG+IT( ,--,( p. ,SK.
?s sete versos seguintes são um par)ntese escrito na primeira
pessoa do singular pelo narrador para esclarecer % e( ao mesmo tempo( emitir
opinião % sobre o por3u) da inve9a e a 3uem tal sentimento( tão bai#o( a4etou: JAs
mul7eres( eu digo(_ por3ue os 7omens maridos_ s pampas e#citados_ de l7e ouvir
os trinados(_ a cada noite_ em suas gordas consortes_ en4iavam os bagosK; JHG+IT(
,--,( p. ,SK.
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V possível perceber a converg)ncia entre a re4erida 7ist/ria de
=ells e o poema de Hilda. A visão do estrangeiro e o canto sensualíssimo da
garganta alva são ameaçadores para a3ueles 3ue ignoram o 3ue se9a um ou
outro. 0or isso( De #erecas inc7adas_ &aldizendo a sorte_ Resolveram calar_ A
cantora gritante; JHG+IT( ,--,( p. ,SK. ?s 4inais dos dois te#tos tamb1m são
coincidentes( ambas as personagens t)m e#tirpado de si a3uilo 3ue não 1 tolerado
pelo contrato social:
*erta noite... de muita escuridão
De lua negra e c7uvas
Amarraram o 9umento Fodão a um toco negro.
" pelos gorgomilos
Arrastaram tamb1m
A 'arganta Alva
0ros bai#ios do bic7o.0etri4icado
? 9umento Fodão
"ternizou o nabo
6a gargantatesão...a3uela
2ue cantava tão bem
?itavas tão claras na garganta alva JHG+IT( ,--,( p.M-K.
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?s detal7es da narração dei#am entender 3ue( mesmo agindo em
acordo( o uso da 4orça bruta pelas mul7eres da vizin7ança não dei#a de ser
arbitr8rio.
?s momentos de terror vividos pela cantora( contados por 5ltimo e
com certo suspense( realçam a atmos4era ameaçadora da moral da est/ria;( na
3ual s/ 1 possível concluir 3ue o estímulo ao medo 1 a mel7or 4orma de coerção
social( segundo os derradeiros versos: Ie o teu canto 1 bonito( _ cuida 3ue não
se9a um grito; JHG+IT( ,--,( p. M-K.
6a se3\)ncia de 3uf*li#as' e de 4orma muito coerente( como se
ver8( encontrase Fil*' a fadin(a l8s)i#a. "( como nesse universo nada pode ser
identi4icado com os padrBes e par>metros da sociedade pseudoorganizada em
3ue vivemos( a personagem central agora 1 uma 4ada com aspecto de bru#a e
apetite se#ual incongruente com o ser 4ant8stico 3ue 1:
"la era gorda e mi5da.
Tin7a pezin7os redondos.
A cona era peluda
Ggual mão de um mono.
Alegrin7a e vivaz
Feito andorin7a
s tardes vestiase
*omo um rapaz
0ara enganar mocin7as JHG+IT( ,--,( p. MK.
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?ra( não 1 costumeiro 3ue se retrate uma 4ada( ser recon7ecido pela
beleza 4ísica( com os ad9etivos acima( menos ainda( se espera 3ue se9a mentirosa.
?utra coisa: a 4adin7a se metamor4oseia noite( revelandose novamente
descompromissada com a rigidez imposta pelo ideal:
&as noite... 3uando dormia...
0eidava( rugia... e...
6ascial7e um bastão grosso
De inicio igual a um caroço
Depois...
Ga estu4ando( crescendo
e virava um troço
+il8s
F5csia
!ord^ 6ingu1m sabia a c^ do troço
da Fadin7a Fil/ JHG+IT( ,--, ( p.MK.
&ais surpreendente ainda 1 o 4ato de Fil/ ser ob9eto turísticose#ual:
Faziam 4ila na
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Todo mundo tomava
Um bastão no oiti.
"ra um gozo gozozo
trevoso( gostoso
Um arrepião nos meio@
&ocin7as( marman9Bes
Ressecadas vel7in7as
Todo mundo gemia e c7orava
De pura alegria6a
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6a sua vidin7a
Fil/ estrebuc7ava os oín7o
"n3uanto veloz veloz
? troncudão nadava JHG+IT( ,--,( p. MMK.
? prazer ed)nico 3ue todas as outras personagens de 3uf*li#as
procuram c7ega( en4im( na combinação entre o troço de Fil/ e o beiço do
Troncudão( ambos os se#os de cor indeterminada Jbord (̂ 45csia ou maravil7a;(
ningu1m sabia o nomeK( como 3ue meta4orizando o caos sobrepondose ordem( lei.
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? narradorbu4ão propBe uma 7ist/ria amoral na medida em 3ue
desestabiliza o leitor( não respeitando uma ordem cronol/gica entre os 4atos
narrados( transgredindo o tempo da narrativa ao usar dos verbos( en3uanto
marcadores te#tuais( aleatoriamente Jo mesmo te#to cont1m diversas marcas de
temporalidade e modos verbais( como o pret1rito per4eito( o imper4eito( o presente
do indicativo e at1 o imperativo a4irmativoK e( dessa 4orma( distanciandose do
leitor e tamb1m da 7ist/ria contada( des4azendo o pacto de verossimil7ança
presente nos te#tos tradicionais.
Uma vez 3ue a 7ist/ria não tem a pretensão de convencer como
verdade( tamb1m não compactua com o antigo ob9etivo de prescrever par>metros
de comportamento] busca( ao contr8rio( c7ocarse com eles. As 7ist/rias
burlescas de Hilda Hilst( ao irem de encontro aos contos de 4adas convencionais(
procuram 3uestionar o papel da moralidade na sociedade ocidental( re4letindo
sobre o 3uanto as regras de convívio cercearam a liberdade e inclusive os
potenciais de criação( com a promoção dos eventos valorativos sempre calcados
nos bin^mios 3ue se a4irmam por negarem um ao outro( como 4also; e
verdadeiro; ou 4eio; e belo;.
Tal procedimento 1 insepar8vel( como vimos( do e#ercício do poder.
As inst>ncias legitimadoras da moral e dos conceitos de nobreza se 4azem
obedecer pela coerção( se9a atrav1s da tirania dos ditadores( da viol)ncia
irre4re8vel a 3ue vamos nos acostumando( das relaçBes corrosivas( 4raudulentas
ou dis4arçada nos son7os mes3uin7os aos 3uais atribuímos o sentido por 3ue
vivemos.
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As personagens de Hilda são a alegoria de uma sociedade composta
por indivíduos cu9as m8scaras caíram e o aspecto monstruoso 3ue l7es 4ica talvez
9usti4i3ue( ainda( a opção ortogr84ica da autora( 3ue substituiu a desgastada moral
da 7ist/ria; pela in3uietante moral da est/ria; JHG+IT( ,--,K.
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? metadiscurso em +ori +ambE: por 3ue não se deve ol7ar para as estrelas.
,. Umas coisas porcas: >5 mem*ria da ln/ua?
Para es#a$ar @ alienaç1o da so#iedade $resente' s*existe este meio: 4uga para 4rente: toda lin/ua/em anti/a8 imediatamente #om$rometida' e toda lin/ua/em setorna anti/a desde 0ue 8 re$etida 3ART2E!' BCCB' $.C.
O #aderno rosa de Lori Lam)4 J,--K 1 um livro obsceno. A 7ist/ria(
escrita em 4orma de di8rio( 1 o relato de uma criança de oito anos aliciada
se#ualmente pelos pais. &as o 3ue pode c7ocar de 4ato o leitor 1 o tom pueril
dado ao testemun7o por3ue +ori admite gozar o se#o e não v) absolutamente
nen7um mal nisso. Al1m do mais( a garotin7a 9usti4ica sua prostituição a4irmando
ser esse o meio possibilitador de suas realizaçBes mais imediatas( como o dese9o
de possuir um 3uarto todo decorado de corderosa ou ter din7eiro( simplesmente.
" ela admite gostar do din7eiro.
0ara al1m do ato se#ual em si( a obscenidade do livro 1 o tom
natural dado por +ori ao seu relato. *ontudo( se recon7ecemos no livro seu
potencial pornogr84ico( devemos ser cautelosos para não nos iludirmos com um
engodo. O #aderno rosa 1 obsceno somente na medida em 3ue cria um 9ogo de
cena: entre cena e JobsK cena( pois a3uilo 3ue est8 por detr8s da cena; 1 o 3ue(
de 4ato( merece nossa atenção.
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"u ten7o oito anos. "u vou contar tudo do 9eito 3ue eusei por3ue mamãe e papai me 4alaram para eu contardo 9eito 3ue eu sei. " depois eu 4alo do começo da7ist/ria. Agora eu 3uero 4alar do moço 3ue veio a3ui e3ue mami disse agora 3ue não 1 tão moço( e então eu
me deitei na min7a camin7a 3ue 1 muito bonita( todacorderosa. " mami s/ p^de comprar essa camin7adepois 3ue eu comecei a 4azer isso 3ue eu vou contarJHG+IT( ,--( p.MK.
H8( nesse início( um pacto acordado tacitamente com o leitor de 3ue
tudo o 3ue ser8 contado 1 veri4ic8vel( e o 3ue d8 credibilidade s palavras de +ori
1 o 4ato de ela atribuir mãe o m1rito de ter l7e ensinado a dizer sempre a
verdade( como( ali8s( conv1m ao bom educador. Ainda 1 necess8rio reparar 3ue a
mãe parece inter4erir durante a escrita do di8rio( pois 1 o 3ue se percebe no
trec7o: mami disse agora 0ue n1o 8 t1o moço JHG+IT( ,--( p.M.gri4os nossosK.
&as tudo isso 1 apenas uma esp1cie de prel5dio da 7ist/ria 3ue se
seguir8( 3uando começa o relato obsceno. ? livro começa antes( por1m( pois 78
uma dedicat/ria e duas epígra4es( uma das 3uais escrita pela pr/pria +ori +ambE(
e 3ue são medulares para a sua leitura. A dedicat/ria( 5 mem*ria da ln/ua
JHG+IT( ,--K( revela a proposta metaling\ística e se abre numa in3uietante
ambig\idade: sugere 3ue 78 uma linguagem es3uecida no_pelo tempo( abrindo
uma discussão sobre o valor est1tico % 3ue poderia ser entendida como dado
autobiogr84ico( 98 3ue a autora 4ora tida durante muitos anos como escritora de
uma literatura di4ícil; % e a pol)mica em torno da 3uestão se#ual Jinaugurada na
leitura de 3uf*li#asK contida 98 no pr/prio nome da personagem Lam)4' cu9o
recurso gr84ico da letra 4 remete imagem da língua en3uanto /rgão ou mesmo
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do corpo 7umano( num movimento de pernas abertas para o ato do se#o oral( ou
ainda( como considera a pro4essora "liane Robert &oraes:
Y...Z Hilda Hilst se aventura pelas mais diversascamadas da língua( a começar pelo 4ato de atribuir personagem um nome 3ue evoca a terceira pessoa dosingular do verbo lamber.
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9ulgamentos de valor( 3ue o castram desde o cerceamento 3ue so4re nas suas
possibilidades inventivas e criativas at1 os 9uízos est1ticos entre bom_mau e
belo_verdadeiro ou 4eio_4also 3ue limitam seu discernimento. *on4orme nos
admoesta &ic7el Foucault no seu 2ist*ria da !exualidade & a %ontade de sa)er:
"m vez da preocupação em esconder o se#o( em lugardo recato geral da linguagem( a característica denossos tr)s 5ltimos s1culos 1 a variedade( a largadispersão dos aparel7os inventados para dele 4alar(para 4az)lo 4alar( para obter 3ue 4ale de si mesmo(para escutar( registrar( transcrever e redistribuir o 3uedele se diz. "m torno do se#o toda uma trama devariadas trans4ormaçBes em discurso( especí4icas ecoercitivasO Uma censura maciça a partir dasdec)ncias verbais impostas pela 1poca cl8ssicaO Aocontr8rio( 78 uma incitação ao discurso( regulada epolimor4a JF?U*AU+T( ,--( p. MK.
A decad)ncia dos valores e da moral no ocidente 1 percebida bem
nitidamente nessa diversidade e na grande incid)ncia de discursos sobre a
se#ualidade 3ue( dis4arçados numa cordialidade tolerante( não revelam senão o
embrutecimento das percepçBes sensíveis e críticas do nosso conte#to. *omo
mesmo 4oi observado por Hilda Hilst na sua entrevista dada aos adernos de
Literatura 3rasileira' e transcrita no capítulo anterior deste estudo( a
mercantilização dos corpos embutiu a pr/pria se#ualidade numa atmos4era de
normalidade capaz de torn8la banal( como( por e#emplo( crianças 3ue dançam(
em tra9es sum8rios( movimentos 3ue as erotizam sem 3ue isso( parado#almente(
o4enda a noção do 3ue 1 permitido pela moralidade.
V possível 3ue ten7a sido por conta dessas 3uestBes 3ue a primeira
epígra4e( de ?scar =ilde( ten7a so4rido uma correção de +ori +ambE( segundo ele:
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Todos n/s estamos na sar9eta( mas alguns de n/s ol7am para as estrelas;( s/
3ue( de acordo com ela: " 3uem ol7a se 4ode;JHG+IT( ,--K. ?u se9a( 78
privilegiados num sistema 3ue condena todos a estarem abai#o de suas
dignidades( mas mesmo eles( 3ue des4rutam da possibilidade de ol7ar para o c1u(
so4rem a condenação de tentarem ir al1m do 3ue 1 permitido( o 3ue 4az ressoar(
por 4im( a dedicat/ria da autora: >5 mem*ria da ln/ua? JHG+IT( ,--K( 98 3ue os
desdobramentos do te#to em torno de si mesmo( num movimento de
metalinguagem( comprometemse com os 3uestionamentos pr/prios dela 3ue(
considerada di4ícil pela crítica liter8ria e pelos leitoresJdespossuídos de
sensibilidadeK sentiuse( en4im( es3uecida na literatura.
Talvez( então( a r1plica de +ori +ambE( >0uem ol(a se fode? ( se9a
como um discurso da autora sobre ela mesma 3ue( convivendo numa sociedade
carente de potenciais re4le#ivos( teve pago com o es3uecimento a ousadia de
tentar ver ou de re4letir sobre o 3ue via. ?u( pelo menos( 1 o 3ue se pode in4erir
da sua resposta entrevista aos adernos de Literatura 3rasileira 3uando 4oi
3uestionada a respeito de sua incursão na literatura pornogr84ica. "la disse:
"les nunca me liam( nunca. "ntão eu decidi 4azer o
livro.
J...K0ensei:
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Hilda Hilst assume 3ue a sua intenção com a literatura pornogr84ica 1
seduzir o mercado leitor para uma abordagem mais simples de seu trabal7o
liter8rio uma vez 3ue todos a consideravam di4ícil;. ? 4racasso de sua ambição(
portanto( remete conclusão de +ori( de 3ue não 78 solução( então 4icamos todos
irmanados na mediocridade. ? 3ue re4orça a tese 1 essa coincid)ncia
autobiogr84ica no aderno rosa( pois +ori escreve o di8rio Jumas bandal7eiras;( na
visão da pseudoautoraK na esperança de d8lo ao pai( escritor % 3ue era
incompetente na arte de escrever a3uilo 3ue as pessoas pre4erem ler( segundo seu
editor( o +alau % para a9ud8lo a vender seus pr/prios livros( como o 4ez a autora
3uando enveredou pela literatura pornogr84ica. &as o pai descobre o relato
absurdo( para uma criança de oito anos( e cai numa casa de repouso.
&ais uma vez( o narrador recompensa a nossa busca pela l/gica com
a pil71ria. " se ri das nossas intençBes pat1ticas de organizar a realidade a partir
de convicçBes desgastadas( pois o leitor 1 seduzido pelas con4issBes de +ori( mas
para( ao 4inal( descobrir 3ue ela aponta para n/s mesmos o dedo com 3ue a
9ulgamos.
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M.,? caderno negro ? caderno rosa: 3uando +alau 3uase encontrou o 3ueprocurava.
Disfarçado de $orno/rafia' O ADERNO RO!A DE LORILAM3 8 uma fina reflex1o so)re o ato de es#re%er #omo
$ossi)ilidade de o/ar #om os limites da lin/ua/emMORAE!' 6' $. 6B.
Tal%e- o es#asso nHmero de leitores 0ue a autora $aulista en#ontrou em seu Pas e em sua $r*$ria ln/uase de%a @ medio#ridade da maioria a#a#(a$ante da(umanidade' 0ue sem$re o$ta $elo f#il' sen1o $eloitsc7( em %e- do 0ue l(e $areça #r$ti#o e enfadon(o
$or0ue de dif#il de#odifi#aç1o RI3EIRO' 6' $. J6.
A re4le#ão sobre o ato de escrever; est8 presente( de ponta a ponta(
no enredo de O #aderno rosa. A 7ist/ria da menina cu9o pai 1 escritor ignorado
pelo mercado editorial por não agradar ao p5blico leitor 1 a 3uestão decisiva do
livro. +ori( in4luenciada pelas sugestBes do editor +alau ao seu pai( resolve
escrever um livro de bandal7eiras;( de leitura descomple#i4icada( con4orme
gostariam os leitores 3ue podem comprar( ou mel7or( consumir( livros.
Gnteressante considerar a descrição 3ue a menina 4az de seu pai:
"u 3uero 4alar um pouco do papi. "le tamb1m 1 umescritor( coitado. "le 1 muito inteligente( os amigosdele 3ue v)m a3ui e conversam muito e eu sempre 4icol8 em cima perto da escada encol7ida escutando(dizem 3ue ele 1 um g)nio.Y...Z "u 98 vi papi triste por3ue
ningu1m compra o 3ue ele escreve.Y...Z ? +alau 4aloupro papi: por 3ue voc) não começa a escrever umasbananeiras pra variarO Ac7o 3ue não 1 bananeira( 1bandal7eira( agora eu sei. Aí o papi disse pro +alau:então 1 s/ isso 3ue voc) tem pra me dizerO JHG+IT(,--( p.SK.
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Gnconteste( a re4er)ncia autobiogr84ica % vale lembrar o aspecto
abordado na epígra4e de +eo 'ilson Ribeiro( a segunda desta parte do te#to % traz
consigo( atrav1s da contraposição entre o escritor( o mercado editorial e o
p5blico leitor( o 3uestionamento a uma sociedade 3ue declara não compreender o
sutil e 3ue est8 demasiadamente mercantilizada( embrutecida( o 3ue 4ica ainda
mais claro nas palavras da pr/pria +ori( sem din(eiro a /ente fi#a triste $or0ue
n1o $ode #om$rar #oisas lindas 0ue a /ente %< na tele%is1o JHG+IT( ,--( p. K'
todo mundo s* $ensa em #om$rar tudo JHG+IT( ,--( p. ,,K.
? ressentimento para com esse tipo de incapacidade de percepção
4ica 4lagrante nas palavras da autora:
A consideração maior sempre 4oi uma coisa al1m."screvi isso em 3uase todos os meus livros. 6ão d8para e#plicar assim. "u e#pli3uei nos livros. 6ãoentenderam. "ntão( não adianta 4alar mais JHG+IT(SSS( p. MMK.
? elemento obsceno viria( por isso( ao encontro do p5blico leitor(
para agrad8lo. +ori +ambE narra suas 7ist/rias considerando o e4eito 3ue dese9a
provocar no mercado: o prazer causado pelo entretenimento. Roland !art7es( no
seu livro O $ra-er do texto' di4erencia te#to de prazer; de te#to de 4ruição;. De
acordo com o pensador 4ranc)s:
Te#to de prazer: a3uele 3ue contenta( enc7e( d8eu4oria] a3uele 3ue vem da cultura( não rompe com ela(est8 ligado a uma pr8tica con4ort8vel da leitura. Te#tode 4ruição: a3uele 3ue pBe em estado de perda( a3uele3ue descon4orta Jtalvez at1 um certo en4adoK( 4azvacilar as bases 7ist/ricas( culturais( psicol/gicas doleitor( a consist)ncia de seus gostos( de seus valores e
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de suas lembranças( 4az entrar em crise sua relaçãocom a linguagem J!ARTH"I( ,--,( p. ,-K.
Desse 9eito( o te#to de +ori pode ser identi4icado como o te#to de
prazer( 98 3ue se preocupa em estar em concord>ncia com o leitor( em dei#8lo
con4ort8vel. Todavia( 1 preciso considerar 3ue( embora O #aderno rosa se9a uma
narrativa con4essional % o di8rio de uma meninin7a 3ue encara a pr/pria
e#ploração se#ual de maneira rosa; % 78 algo de incomum no te#to: o 4ato de +ori
+ambE ser uma pseudonarradora. 0ortanto( os melindres de autoria( bem como a
capacidade de gerar 4ruição Jno sentido 3ue !art7es d8 ao termoK( são reservados
a outra categoria autoral( a mesma do narradorbu4ão( das 3uf*li#as. Gsso por3ue(
nos enganando ao ensinar uma moral da est/ria; JHG+IT( ,--,K 3uer( no 4undo(
3ue as risadas geradas pelo prazer na leitura de um te#to aparentemente
despretensioso apontem para a nossa 4alta de valores reais. Assim( o 3ue
supostamente seria um te#to de prazer; se torna um te#to de 4ruição;.
0or isso( o di8rio de +ori 1 escrito com uma dicção in4antil( como se
espera mesmo da autora. V importante transcrever as consideraçBes de "liane
Robert &oraes 4eitas em seu ensaio aos adernos de Literatura 3rasileira:
*omo toda criança( +ori escreve como 4ala: seu relato 1repleto de construçBes como e aí o tio disse 3ue;( e aía mami 4alou 3ue;( e aí o papi pegou e disse 3ue;(
numa narração 3ue se organiza segundo a 4ala(reiterando o imperativo oral 3ue governa o mundoin4antil J&?RA"I( SSS( p. ,K.
"ssa 4usão entre narrador e autor 1 3ue mant1m a sedução da
narrativa( pois embora se9a desnecess8rio 3uali4icar o absurdo imoral da 7ist/ria %
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uma garotin7a prostituída pelos pais % 78 uma curiosidade s8dica de con7ecer(
lin7a a lin7a( o desenlace do te#to. 6este ponto( valem as colocaçBes dos
pro4essores Fernando F8bio Fiorese Furtado e +aura Ribeiro da Iilveira:
Y...Z ao rasurar ou su9ar com a pornogra4ia a imagem deuma obra desde sempre incluída no regime da altaliteratura( Hilst transtorna a ordem tran3\ilizadora 3ueest8 sempre pronta a enredar o escritor e a pr/priaescritura 3uando esses se dei#am seduzir pelasbenesses do mercado. Ao apor o seu nome a umg)nero te#tual considerado( em geral( destituído destatus liter8rio( Hilst investe contra a canonização dasua obra( contra a mística da assinatura( contra oeterno retorno dos valores da arte imitativa % se9a sob odis4arce de uma literatura realista( se9a comosubservi)ncia aos ditames do mercado. 0or3ue apornogra4ia de Hilst 1 4alsa;( mas verdadeira a suaassinatura( constitui um atentado ao pr/prio sistemaliter8rio JFURTAD? IG+
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? conto grotesco narra uma 7ist/ria supererotizada( cu9o enredo
estritamente linear não dei#a d5vidas de 3ue 4oi escrito para o mero
entretenimento. Todavia( o 4inal s8dico da 7ist/ria nos propBe re4letir: "dernir
compBe( 9unto a *orina( o 9umento +ogaritmo e Ded1? 4alado( o 3uarteto de
pai#Bes er/ticas realizadas no limite da imoralidade( s/ 3ue "dernir se o4ende ao
perceber a traição de *orina e o convite 7omosse#ual de Ded1( terminando a
ligação entre eles com a mais crua viol)ncia:
Ded1 c7egou bem perto de mim e 4alou:
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o sentido etimol/gicoK( soar como di4icílimo;( Hilda Hilst colocase a3u1m das
nomenclaturas e catalogaçBes de g)nero( pois desestabiliza a ordem prevista( não
cabendo em nen7uma classi4icação normativa Jou do sensocomumK de estilo:
nem er/tica( nem pornogr84ica( nem obscena( mas revolucion8ria. 6o entender de
Roland !art7es( no te#to Aula' literatura 1 essa capacidade permanente de
revolução de linguagem( de revolução para 4ora das concepçBes can^nicas(
promovendo( segundo ele( uma trapaça salutar com a língua( 3ue coloca o te#to
4ora dos par>metros de poder( 4azendo girar os saberes;:
0or3ue ela encena a linguagem( em vez de(simplesmente( utiliz8la( a literatura engrena o saber norolamento da re4le#ividade in4inita: atrav1s da escritura(o saber re4lete incessantemente sobre o saber(segundo um discurso 3ue não 1 mais epistemol/gicomas dram8tico J!ARTH"I( SW( p. SK.
"ntão( o dis4arce do narrador em Hilst não 1 senão essa trapaça: o
engodo 4az entreter( mas( para al1m de tudo( 78 um to3ue sutil 3ue propBe aguda
re4le#ão.
0or isso( a 4igura do escritor centraliza a principal 3uestão do livro(
por3ue o ato de escrever implica um uso da linguagem 3ue não 1 o previsto( 3ue
prescinde de decodi4icaçBes( pois trabal7a nas reentr>ncias; da língua. As
compreensBes super4iciais desse tipo de linguagem ignoram o processo de
re4le#ividade in4inita; de 3ue trata !art7es( ocasionando percepçBes do te#to 3ue
o tornam apenas 4eio;( bonito; ou di4ícil; Jcon4orme 4az +ori +ambE ao resumir
sua impressão sobre o conto do caderno negro;K. De acordo com "liane Robert
&oraes( a conclusão 1 a de 3ue es#re%er si/nifi#a #orrer o ris#o de ex$lorar uma
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ln/ua misteriosa 0ue' #om #a%idades e reentr=n#ias se#retas' im$e uma #adeia
sem fim de #iladas $ara o autor J&?RA"I( SSS( p. ,K.
6a busca pela encenação da linguagem; J!ARTH"I( SW( p. SK(
O #aderno rosa de Lori Lam)4 se torna o palco da escritura; J0"RR?6"
&?GIVI( SW,( p. WK. Hilda Hilst propBe o enigma: 3uem seria o escritor em +ori
+ambEO ? pai( cultíssimo( um g)nio( como 4oi recon7ecido( mas 3ue não
consegue corresponder s e#pectativas e necessidades de seu editorO A pr/pria
+ori( 3ue rouba sorrateiramente as anotaçBes do pai e compBe seu caderno( na
clara intenção de 3ue sirva ao editorO A resposta( longe de ser alentadora( 1 mais
uma proposta de re4le#ão( "liane Robert &oraes assim a resume: !e Lori o)t8m
tra)al(ando #om a ln/ua?' o $ai fra#assa J&?RA"I( SSS( ,K.
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A m8scara autoral 3ue con4unde pai e 4il7a 1 a encenação de
linguagem do e#ercício crítico da pr/pria Hilda Hilst( por isso( a e#clamação 3ue a
7ist/ria de +ori e#trai de +alau: Isto sim 8 0ue 8 uma do#e e terna e $er%ersa
)andal(eira JHG+IT( ,--( p. SK( vai de encontro declaração de 3ue o livro
devia ser bosta; por3ue a3ui 1 tudo anar4a;. ? autor 3ue se curva diante das
e#ig)ncias do mercado de consumo 1 o mesmo 3ue o burla( pois( ao mesmo
tempo em 3ue +ori 1 autora( seu pai tamb1m o 1( pois o trabal7o da menina 1( em
boa parte( o de amalgamar escrita 98 pronta a sua:
Y...Z eu copiei s/ de lembrança as tuas cartin7as( eu iainventar outras cartin7as do tio Abel 3uando euaprendesse palavras bonitas. " as 4ol7as da moça e do
9umento eu devolvi l8 no mesmo lugar( essa 7ist/ria eutamb1m copiei como lembrança Y...Z JHG+IT( ,--( p.SK.
?u se9a( 78 uma unidade no discurso de ambos( o 3ue 4az com 3ue
as críticas do pai em relação ao mercado editorial e ao p5blico leitor se9am retidas
na escrita da 4il7a( como 4ica claro em: $or0ue a /ente a0ui 8 tudo anarfa' n8'
$a$iJHG+IT( ,--( p. S,K.
A pergunta ret/rica dei#a claro 3ue 78 mesmo uma coer)ncia de
opiniBes entre eles( o 3ue signi4ica dizer 3ue se( de um lado( +alau parece ter
encontrado o 3ue precisava( o seu livro de bandal7eiras;( por outro( a admissão
de +ori de 3ue teria escrito o livro para o tio +alau; para conseguir din7eiro; e o
trabal7o de coautoria com o pai são rasteira e drible do narrador: ao encarnar na
personagem de +ori a 4igura do autor 3ue obt1m )#ito por optar permanecer sob a
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tutela do mercado( Hilda Hilst estende sua crítica 4igura do pr/prio escritor. 6as
palavras dos pro4essores Fernando Fiorese e +aura Iilveira o ata0ue desfe#(ado
#ontra os es#ritores 8 antes a re#usa da re$resentaç1o so#ial' da ima/em $H)li#a
en/endrada $elo mareting a$li#ado aos autores de $araliteratura JFURTAD?
IG+
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A re9eição ao caderno se d8( principalmente( pelo 4ato de incomodar(
por 4azer re4letir( por desestabilizar bases conceituais 78 muito sedimentadas( pois
obriga a travar discussBes sobre a composição da personagem( por e#emplo(
e#plorada para a pr8tica da pedo4ilia( mas 3ue se dispBe a isso com espantosa
naturalidade. As palavras da menina sobre a pr/pria obra são de4initivas:
papi e mami( todo mundo l8 na escola( e voc)stamb1m( 4alam da tal cratividade mas 3uando a gentetem essa coisa todo mundo 4ica bravo com a genteJHG+IT( ,--( p. SLK.
Gmpedida de continuar seu trabal7o com a língua; ao ter seucaderno roubado de si( +ori trapaceia a ordem dos pais( mantendo em segredo
uma outra produção: o se/redo 8 0ue estou es#re%endo a/ora (ist*rias $ra
#rianças #omo eu +..., Eu a#(o 0ue elas s1o lindas+..., O nome desse meu outro
#aderno seria: O #u do !a$o Liu&Liu e outras (ist*rias JHG+IT( ,--( p.SK.
? curioso 1 3ue não sabemos se tal declaração se trata de um pacto
secreto para possibilitar a continuidade da escrita ou uma advert)ncia ao pr/prio
+alau] a4inal( o 3ue se pode esperar de leitores 3ue se9am #omo +ori +ambEO
Ie a escrita trans4ormase num segredo( 1 por3ue a leitura tamb1m
o 1. 6a medida em 3ue +ori constr/i seu te#to a partir do rascun7o de outrem(
podese supor 3ue o te#to se d) no segredo( segredo da re4erencialidade roubada(
ou do pai( ou de si mesma( investigando os ar3uivos de outrem ou os pr/prios %
3uiç8( para ela mesma( insond8veis.
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,.M Uns nascem para ser lambidos; J78 uma moral predestinadaK.
Mas' estando o $r*$rio #rti#o no mundo' a lin/ua/em
0ue usa 8 >uma das lin/ua/ens 0ue sua 8$o#a l(e $ro$e?. $or isso 0ue a #rti#a re$resenta um dilo/oentre duas (ist*rias e duas su)eti%idades. omo estedilo/o 8 >de$ortado $ara o $resente?' o 0ue a$are#en1o 8 a %erdade do $assado' mas a #onstruç1o dointeli/%el do nosso tem$o J0"RR?6"&?GIVI( SS( p.,K.
*onsiderar +ori +ambE como leitora tornase um dos elementos mais
interessantes da obra na medida em 3ue recupera a noção desenvolvida por
!art7es da literatura como re4le#ividade in4inita;: o discurso liter8rio( ao voltarse
sobre si mesmo( como num 9ogo de espel7os 4ace a 4ace( multiplicase( levando
ao in4inito as possibilidades e maneiras de en#erg8lo. O #aderno rosa( por isso( 1
tecido de citaçBes liter8rias 3ue re5ne as e#peri)ncias da meninaleitora com sua
língua Jou trabal7o com a língua;( como ela mesma dizK. 6o entender de Alcir
01cora( na nota do editor ( o e#ercício crítico embutido na 7ist/ria de +ori 1( de
4ato( uma 4orte característica de estilo em Hilda Hilst. 6as palavras do pro4essor:
A anar3uia de g)neros. *omo outros livros de HildaHilst( O #aderno rosa de Lori Lam)4 se preocupa com aimitação de g)neros da tradição( combinandoos todosde maneira improv8vel ou inusitada na mesmanarrativa. Assim( nO #aderno( cu9a base seria umdi8rio de menina( 9untamse um con9unto de cartas(contos e relatos interpostos J78( al1m do *adernorosa;( um *aderno negro;( al1m das 48bulas do*aderno do cu do sapo +iu+iu;K( alguma discussão delivros Jna 3ual os modelos de +aCrence( &iller etc. sãodebatidos e recusadosK( poesia cl8ssica( debate de
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3uestBes estilísticas e le#icol/gicas etc J0V*?RA(,--( p. -K.
V possível perceber( pelo sortimento de citaçBes e pela introdução
do di8logo com variados g)neros te#tuais( 3ue a escrita dO #aderno se d8 naleitura. A inserção dessas re4er)ncias não acontece( por1m( atrav1s da mimese'
mas atrav1s de uma estilização 3ue causa um desvio entre a obra original e a
reescritura. Tal movimento interte#tual proporciona um outro novo te#to original e
5nico( a essa associação criativa de novas combinaçBes 3ue T.I. "liot c7amou
talento individual;:
A mente do poeta 1 de 4ato um recept8culo destinado acapturar e armazenar um semn5mero de sentimentos(4rases( imagens( 3ue ali permaneceram at1 3ue todasas partículas capazes de se unir para 4ormar um novocomposto este9am presentes 9untas J"+G?T( SWS( p.NNK.
6a carta em 3ue e#plica aos pais o processo de produção da sua
obra( +ori conta 3ue copiou do paiescritor a maior parte de suas 7ist/rias( ela diz
ter encontrado no escrit/rio dele 4ilmes( revistas e livros 3ue a 4izeram aprender a
escrever:
Y...Z eu tamb1m aprendi a entender( e 4azer( lendo osoutros 3ue estão na segunda t8bua: o HenrE( e a3ueleda moça e do 9ardineiro da 4loresta( e o !atal7a 3ue euli o ?l7o e A &ãe.
"u tamb1m ouvia tudo o 3ue voc) e mami e tio Dalton(e tio Gn8cio e tio Rubem e tio &ill̂ r 4alavam nosdomingos de tarde JHG+IT( ,--( p. SK.
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Al1m disso( 1 sabido 3ue boa parte do 3ue a menina produziu 1
residual em relação ao 3ue o pai 98 7avia 4eito. 6esse caso( 1 preciso considerar
então as re4er)ncias da escrita dele e 3ue 4oram incorporadas pela de +ori. H8
di8logos entre o escritor e a mãe de +ori( *ora( em 3ue são travadas discussBes
estilísticas sobre o 3ue seria a grande literatura;. 6elas( são citados os escritores
recon7ecidos pela tradição; Jno sentido de 3ue T.I. "liot trataK em contraposição
ao trabal7o realizado pelo pai:
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As e#peri)ncias de ambos en3uanto leitores se tornam elementos de
criação para suas escritas. Dessa 4orma( os diversos tipos de g)neros dentro de O
#aderno rosa de Lori Lam)4 surgem a partir da interte#tualidade( como o entende
&ic7el !utor( citado no te#to de +eila 0errone:
6ão 78 obra individual. A obra dum indivíuo 1 umaesp1cie de n/ 3ue se produz no interior dum interiordum tecido cultural( no seio do 3ual o indivíduo não seencontra mergul7ado( mas a$are#ido. ? indivíduo 1(desde a origem( um momento desse tecido cultural.Tamb1m a obra 1 sempre uma obra coletivaJ0"RR?6"&?GIVI( SS( p. ,,LK.
&esmo os personagens criados por +ori para o seu relato v)m de
re4er)ncias interte#tuais( como o amante Abel;( nome 3ue ela aprendeu na leitura
da !íblia( no catecismo( ou o 4ato de 3ue o namoradin7o esperto( mas 3ue não
sabia usar Jno sentido se#ualOK sua língua 3uente;( o $os1 de Alencar da Iilva;(
curiosamente( se9a morador da rua &ac7ado de Assis;.
Gnteressantes as consideraçBes 3ue ela tece em relação ao conto ?
caderno negro; e sua relação com o $uca;:
Iabe 3ue eu estou 4azendo uma con4usão com aslínguasO 6ão sei mais se a língua do $uca 4oi antes oudepois da língua da3uele 9umento do son7o. &as ser83ue essa 1 a língua trabal7ada 3ue o papi 4ala 3uandoele 4ala 3ue trabal7ou tanto a línguaOJHG+IT( ,--( p.WMK.
A con4usão com as línguas;( de 3ue 4ala +ori( 1( no 4undo( a con
4usão; das línguas( a de todos os escritores citados cu9os rastros; são
perceptíveis no te#to 7ilstiano. As linguagens utilizadas pelo escritor estabelecem
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o di8logo bab1lico % ou coletivo % 3ue( na reescritura( 4ormam o inteligível do
nosso tempo;( para nos reportarmos s palavras usadas por +eila 0errone na
epígra4e 3ue abre esta terceira parte.
Desse 9eito( ao 4inal da narrativa( +ori +ambE nos revela uma outra
produção liter8ria( um caderno de 48bulas( com inspiração em +a Fontaine(
intitulado ? cu do sapo +iu+iu e outras 7ist/rias;. Acontece 3ue( como nos
c1lebres contos( a narrativa possui 4im moralizante e conte5do did8tico( mas( na
adaptação dos discursos para a linguagem da nossa 1poca;( a ironia sutil surge
como o recurso de escrita para 4azer dessas 7ist/rias alegorias da nossa
sociedade. Assim( o ol7ar do leitor ad3uire ainda maior relev>ncia( pois al1m do
di8logo estabelecido com uma outra tradição ou cultura( 78 a crítica especí4ica do
vedor;( do %o4eur 3ue procura nunca se acostumar com o cen8rio captado por
suas retinas.
6elson !rissac 0ei#oto trata da 3uestão no seu te#to O ol(ar do
estran/eiro( 3ue( segundo ele 1 a3uele 3ue não 1 do lugar( 3ue acabou de
c7egar( 1 capaz de ver a3uilo 3ue os 3ue l8 estão não podem mais perceber;
J0"G?T?( SWS( p. MLMK( assim como a criança 3ue( por ser rec1mc7egada;
ainda não teve tempo de se acostumar com o 3ue v)( acabando por ol7ar para
tudo como novidade:
Um mundo onde tudo 1 produzido para ser visto( ondetudo se mostra ao ol7ar( coloca necessariamente o vercomo um problema. A3ui não e#istem mais v1us nemmist1rios.
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e#tremo. *omo ol7ar 3uando tudo 4icou indistinguível(3uando tudo parece a mesma coisaOJ0"G?T?( SWS(p. MLK.
"m Lori Lam)4 ( percebemos 3ue a escol7a da personagem in4antil
tamb1m se deve ao tipo de ol7ar crítico presente como um todo em Hilda Hilst( o
de de4rontarse com o absurdo( nunca se dei#ando acostumar com ele.
0or isso( a narração de +ori nos apresenta uma 7ist/ria grotesca sob
um sob de vista tão natural( por3ue( como disse 6elson !rissac( vivemos num
mundo onde tudo 4oi 4eito para ser visto( o 3ue desgasta a nossa percepção(
4azendo com 3ue nosso ol7ar se torne incapaz de estran7ar o absurdo.
"ntão( as tr)s 7istorin7as 3ue 4inalizam a diversa gama de g)neros
em O #aderno rosa de Lori Lam)4 ( contadas na mesma dicção in4antil( possuem
uma moral comum( colocada a prop/sito( na terceira delas: A per4eição 1 a
morte;. Gnteressante notar a converg)ncia entre ela e as palavras colocadas a
prop/sito na 4ala de Tio Abel;( pois( ao e#plicar para +ori o 3ue signi4ica ser
predestinado; Ja menina descon7ecia o voc8buloK( o amante assim traduz a id1ia:
Uns nascem para ser lambidos e outros para lamberem e pagarem; JHG+IT(
,--( p. MK. ?u se9a( a crítica se dirige a todos a3ueles 3ue perderam a
capacidade de distinguir o 3ue v)em devido presença maciça das imagens
clic7)( passam a crer 3ue( mundo per4eito( o das id1ias acabadas( as relaçBes se
estreitam desde 3ue 7a9a mobilidade 4inanceira. De resto( acreditam mesmo 3ue
são 4elizes ao 3ue podem ol7ar para as estrelas. Aos desatentos 3ue se permitem
tão rom>ntica ilusão( a 5ltima rasteira do nar