64
i A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal por Ana Margarida de Oliveira Fernandes Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Economia pela Faculdade de Economia do Porto Orientada por: Maria Isabel Gonçalves da Mota Campos Anabela de Jesus Moreira Carneiro Setembro, 2016

A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

i

A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal

por

Ana Margarida de Oliveira Fernandes

Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Economia pela

Faculdade de Economia do Porto

Orientada por:

Maria Isabel Gonçalves da Mota Campos

Anabela de Jesus Moreira Carneiro

Setembro, 2016

Page 2: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

i

Breve nota biográfica

Ana Margarida de Oliveira Fernandes nasceu a 23 de Novembro de 1990, sendo

natural de Anadia (Aveiro). Em 2008, após o término do curso de Ciências

Socioeconómicas pela Escola Secundária de Anadia, ingressou na Licenciatura em

Economia pela Faculdade de Economia do Porto (FEP).

Em 2012, concluído o 1º ciclo de estudos, deu seguimento ao seu percurso

académico matriculando-se no Mestrado em Economia, igualmente pela FEP. Após a

conclusão do 1º ano curricular, interrompeu os estudos de modo a realizar um estágio

profissional no IEFP (Delegação Regional do Alentejo) com a duração de um ano. Em

2015, reingressaria no Mestrado supramencionado sendo que, atual e paralelamente,

exerce a sua atividade profissional no departamento de estudos de mercado da central de

compras do E. Leclerc: Cooplecnorte.

Page 3: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

ii

Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar, às minhas orientadoras, Professora Isabel Mota e

Professora Anabela Carneiro, pela orientação científica, disponibilidade e motivação

transmitida ao longo de todo este percurso.

Ao meu tutor, Professor Vítor Carvalho, o meu obrigada pelos importantes

comentários e sugestões.

Gostaria igualmente de agradecer ao Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério

da Economia e da Inovação, pela disponibilização da base de dados Quadros de Pessoal,

indispensável à realização desta dissertação.

À Cooplecnorte, agradeço toda a compreensão e facilidades concebidas, que

permitiram a conciliação da atividade profissional com os estudos.

Por último, aos meus familiares e amigos que me incentivaram para a concretização

deste objetivo.

Page 4: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

iii

Resumo

A pobreza de baixos salários corresponde a uma condição em que um trabalhador

aufere um salário abaixo de um limiar pré-definido, não conseguindo satisfazer

necessidades consideradas pela sociedade como sendo básicas. Os baixos salários podem

ser resultado tanto de variáveis relacionadas com o funcionamento do mercado de

trabalho, como de variáveis relacionadas com as características do indivíduo (e.g.

qualificações), da empresa e posto de trabalho (e.g. setor de atividade e antiguidade), bem

como da localização das empresas onde os trabalhadores se inserem.

Esta dissertação tem como principais objetivos (i) avaliar a incidência da pobreza

de baixos salários em Portugal ao longo das duas últimas décadas e (ii) analisar os

determinantes da pobreza de baixos salários em Portugal. Para tal, iremos recorrer à base

de microdados dos Quadros de Pessoal (GEP-MSESS) para os anos de 1992 e 2012, e

estimar para os diferentes limiares de baixos salários considerados (2/3 da mediana de

rendimentos e 50% da média de rendimentos) um modelo de regressão logit.

Os resultados mostram-nos que a percentagem de trabalhadores por conta de

outrem a auferir um baixo salário diminuiu ao longo das duas últimas décadas, passando

de 15,3% em 1992 para 10,5% em 2012. No que respeita à incidência de baixos salários

por regiões, em 2012 as regiões do Norte, Centro e Açores eram aquelas que

apresentavam uma incidência do fenómeno superior à média nacional, enquanto em 1992

apenas a região de Lisboa se situava abaixo da média nacional.

Os resultados econométricos revelaram ainda que são as mulheres, os jovens e os

menos escolarizados os grupos mais vulneráveis à pobreza de baixos salários. Mostra-se

ainda que indivíduos com menos antiguidade e os empregados em empresas de pequena

dimensão no setor da indústria transformadora exibem uma maior probabilidade de

auferir um salário baixo. No que se refere às variáveis espaciais, não existe evidência

empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e

Lisboa sejam menos propensos a auferir um salário abaixo do limiar de pobreza.

Palavras-chave: Pobreza, Baixos salários, Logit.

Códigos JEL: J31

Page 5: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

iv

Abstract

Low wage poverty is a condition where a worker earns a salary below a pre-

established threshold, not being able to satisfy his basic needs. Low wages may result

from labour market characteristics, individual and firms features, as well as firms’

location.

This dissertation aims (i) to measure the incidence of low wage poverty in Portugal

over the past two decades and (ii) to study the determinants of low wage poverty in

Portugal. Therefore, we use microdata from Quadros de Pessoal (GEP-MSESS) since

1992 until 2012 and estimate for the different low wage thresholds (2/3 of median income

and 50% of average income) a logit model regression.

The results show that the percentage of workers who earn a low income has

declined over the last two decades, from 15.3% in 1992 to 10.5% in 2012. Regarding the

incidence of low wages by regions, in 2012 the regions of Norte, Centro and Açores were

those who had an incidence of poverty higher than the national average, while in 1992

only the region Lisboa was below the national average.

The econometric results also show that woman, young people and less-educated

workers are the most vulnerable groups concerning low wage poverty. They also show

that individuals with less job seniority and employed in small firms in the manufacturing

sector have higher probability of earning a low income. With regard to spatial variables,

there is not robust empirical evidence that individuals employed in the metropolitan areas

of Lisboa and Porto are less likely to earn a salary below the poverty line.

Keywords: Poverty, Low wages, Logit

JEL-codes: J31

Page 6: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

v

Índice

Breve nota biográfica ......................................................................................................... i

Agradecimentos ................................................................................................................ ii

Resumo ............................................................................................................................ iii

Abstract ............................................................................................................................ iv

Introdução ......................................................................................................................... 1

1. Pobreza: principais conceitos e medidas ................................................................. 4

2. Estudos empíricos sobre a pobreza de baixos salários .......................................... 13

3. A dimensão regional da pobreza ........................................................................... 16

4. A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal ...................................... 21

4.1. Descrição da amostra .................................................................................. 21

4.2. O conceito de baixo salário ........................................................................ 23

5. Determinantes da pobreza de baixos salários em Portugal ................................... 33

5.1. Descrição do modelo .................................................................................. 33

5.2. Variáveis independentes ............................................................................. 34

5.3. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal ..................... 36

Conclusões e desenvolvimentos futuros ......................................................................... 43

Referências bibliográficas ............................................................................................... 46

Anexos ............................................................................................................................ 51

Page 7: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

vi

Índice de tabelas

Tabela 1. Definições de pobreza ativa .............................................................................. 9

Tabela 2: Teste Kruskal-Wallis para a igualdade da incidência de baixos salários tendo

como referência o limiar 1 de pobreza, por regiões NUTS II ............................... 29

Tabela 3. Descrição da amostra relativa ao limiar 1 de pobreza (2/3 da mediana de

salários), 2012 ....................................................................................................... 31

Tabela 4. Variáveis independentes (2012) ...................................................................... 35

Tabela 5. Probabilidades estimadas de um trabalhador por conta de outrem vir a auferir

um baixo salário (2012) ......................................................................................... 37

Tabela 6: Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal (2012) (I) ........ 38

Tabela 7. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal (2012) (II) ....... 42

Índice de figuras

Figura 1. Variáveis e mecanismos de pobreza ativa ......................................................... 8

Figura 2. Círculos viciosos de pobreza nas áreas rurais ................................................. 17

Figura 3. Trabalhadores por conta de outrem cuja remuneração total horária é inferior ou

igual ao limiar de pobreza, em percentagem do total de trabalhadores por conta de

outrem (1992 - 2012); ............................................................................................ 25

Figura 4. Evolução do valor dos limiares de pobreza, considerando rendimento total

horário dos trabalhadores por conta de outrem, em termos reais (1992-2002)4;5.. 25

Figura 5. Evolução do salário mínimo nacional, em termos reais .................................. 26

Figura 6. Trabalhadores por conta de outrem cuja remuneração total horária é inferior ao

limiar 1 de pobreza (2/3 da mediana), em percentagem do total de trabalhadores por

conta de outrem, por NUTS II (1992) ................................................................... 27

Figura 7. Trabalhadores por conta de outrem cuja remuneração total horária é inferior ao

limiar 1 de pobreza (2/3 da mediana), em percentagem do total de trabalhadores por

conta de outrem, por NUTS II (2012) ................................................................... 28

Figura 8. Trabalhadores por conta de outrem cuja remuneração total horária é inferior ao

limiar 1 de pobreza (2/3 da mediana), em percentagem do total de trabalhadores por

conta de outrem, por CAE a dois dígitos (2012) ................................................... 30

Page 8: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

vii

Índice de anexos

Anexo 1. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento

Regular/ hora, Áreas Metropolitanas (2012) ......................................................... 51

Anexo 2. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento

Total/ hora, Áreas Metropolitanas (1992) ............................................................. 52

Anexo 3. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento

Regular/ hora, Áreas Metropolitanas (1992) ......................................................... 53

Anexo 4. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento

Regular/ hora, NUTS II (2012) ............................................................................. 54

Anexo 5. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento

Total/ hora, NUTS II (1992) .................................................................................. 55

Anexo 6. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento

Regular/ hora, NUTS II (1992) ............................................................................. 56

Page 9: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

1

Introdução

O combate à pobreza é, segundo Akoum (2008), o objetivo final do

desenvolvimento económico e do trabalho desenvolvido por instituições como o Banco

Mundial. No entanto, como refere Bird (2004), não existe acordo quanto à relação

existente entre desenvolvimento económico e pobreza, dificultando assim a compreensão

das suas causas e a definição de medidas eficazes de combate à pobreza.

Em 2011, encontravam-se em risco de pobreza ou de exclusão social cerca de 120

milhões de pessoas na União Europeia, o que representa 24% da população total,1

constatando-se ainda a existência de diferenças regionais importantes2. Porém, a pobreza

e exclusão social não afetam apenas aqueles que estão inativos ou desempregados,

observando-se um aumento da percentagem de pobreza dentro da população ativa

empregada na Europa (Herman, 2014). Segundo o Eurostat,3 em 2013 cerca de 8,9% da

população empregada na UE-27 encontrava-se em risco de pobreza, sendo esta

percentagem de 10,4% em Portugal.

Lomasky e Swan (2009) afirmam que a pobreza é intrínseca ao ser humano, levando

a que este trabalhe para contrariar a sua condição inicial. De facto, o trabalho é, sem

dúvida, uma das principais formas de evitar a pobreza, sendo, por conseguinte, as

características deste bastante importantes para determinar a probabilidade de um

trabalhador vir a ser considerado pobre (Pena-Casas e Latta, 2004).

Muitos estudos sobre este tipo de pobreza, denominada na literatura por pobreza

ativa e que avalia a constituição do agregado familiar, a sua participação no mercado de

trabalho e os seus rendimentos (e.g. Marx e Verbist, 1998; Nolan, 1998; Nolan e Marx,

2000), debruçam-se sobre esta problemática incidindo essencialmente na questão dos

baixos salários (pobreza de baixos salários), alguns até, assumindo os conceitos de

pobreza ativa e pobreza de baixos salários como sinónimos (Crettaz e Bonoli, 2010), o

que se torna algo redutor, já que um baixo salário não é motivo para se entrar numa

situação de pobreza, sendo necessário ter também em consideração a dimensão e o

rendimento do agregado familiar, bem como as transferências sociais que são tidas em

conta aquando do estudo da pobreza ativa (Marx e Verbist, 1998; Strengmann-Kuhn,

1 http://ec.europa.eu/social/main.jsp?catId=751&langId=en (acedido em 8/10/2015) 2 http://ec.europa.eu/regional_policy/sources/docgener/focus/2011_02_hdev_hpov_indices.pdf (acedido em 22/10/2015) 3 http://appsso.eurostat.ec.europa.eu/nui/submitViewTableAction.do (acedido em 22/10/2015)

Page 10: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

2

2003; Andress e Lohmann, 2008; Swiss Federal Statistical Office, 2008 cfr. Crettaz e

Bonoli, 2010).

O conceito de pobreza ativa (situação em que um indivíduo trabalhador não

consegue unicamente através do trabalho sair de uma situação de pobreza (Slack, 2010))

é algo complexo, já que abrange duas perspetivas diferentes, trabalho e pobreza, e dois

níveis de análise, individual (situação face ao trabalho) e coletivo (rendimentos do

agregado familiar) (Lohmann, 2009; Eurofound, 2010). Esta condição pode ficar a dever-

se na sua essência a três fatores: elevada dimensão do agregado familiar, baixos

rendimentos e baixa participação no mercado de trabalho (Crettaz e Bonoli, 2010).

A pobreza de baixos salários, contrariamente à pobreza ativa, foca-se unicamente

na perspetiva do trabalhador, analisando as características deste e avaliando o seu nível

de rendimentos provenientes do trabalho (Pena-Casas e Latta, 2004).Este tipo de pobreza

pode ser resultado tanto de variáveis relacionadas com o funcionamento do mercado de

trabalho, bem como de variáveis relacionadas com as características do indivíduo (e.g.

qualificações), da empresa/ posto de trabalho (e.g. setor de atividade e antiguidade), e da

localização das empresas onde os trabalhadores se inserem (Cheung e Chou, 2015).

Em Portugal existem vários estudos sobre pobreza, sendo no entanto escassos

aqueles que avaliam a incidência da pobreza ativa e de baixos salários (e.g. Cardoso et

al.2000). Ainda, apesar de existir evidência da existência de diferenças regionais

importantes na incidência da pobreza (e.g. Alves, 2009), verificando-se, para o ano de

2008, um risco de pobreza superior nas áreas com baixa densidade populacional (23,4%)

quando comparado com áreas densamente povoadas (11,9%) (INE, 2010), os estudos que

existem são na sua maioria omissos relativamente às características regionais da mesma.

Considerando a escassez de estudos realizados sobre a temática da pobreza ativa e

de baixos salários aplicados ao caso português, e, dada a dificuldade de acesso aos

microdados dos agregados familiares em Portugal necessários para avaliar a incidência

da pobreza ativa, o presente estudo tem como objetivos estudar a incidência da pobreza

de baixos salários em Portugal e avaliar os fatores explicativos da mesma.

Em particular, pretende-se responder às seguintes questões: Como evoluiu a

incidência da pobreza de baixos salários em Portugal ao longo das duas últimas décadas

e qual a sua distribuição regional? Quais os principais determinantes associados à pobreza

Page 11: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

3

de baixos salários em Portugal, nomeadamente no que diz respeito às características dos

trabalhadores, das empresas/ posto de trabalho e da região onde a empresa se localiza?

Para tal, iremos recorrer à base de microdados dos Quadros de Pessoal (GEP-

MSESS) para os anos de 1992 e 2012 que contém informação sobre virtualmente todos

os trabalhadores por conta de outrem no setor privado da economia em Portugal.

O estudo empírico desenvolveu-se a partir de uma amostra, apresentando-se

algumas estatísticas descritivas da incidência de baixos salários em Portugal, estimando-

se de seguida um modelo de regressão logit para diferentes limiares de pobreza (2/3 da

mediana de rendimentos e 50% da média de rendimentos), diferentes conceitos de

rendimento (total e regular) e diferentes variáveis espaciais (NUTS II e áreas

metropolitanas) no sentido de identificar os principais fatores que estão associados a um

nível salarial considerado baixo.

Esta dissertação apresenta-se da seguinte forma. No Capítulo 1 discutem-se os

conceitos de pobreza ativa e de baixos salários, e a forma como os mesmos têm vindo a

evoluir. De seguida, no Capítulo 2, apresentam-se alguns estudos empíricos realizados

com a temática da pobreza de baixos salários. Já no Capítulo 3 explora-se a influência do

espaço na probabilidade de um indivíduo trabalhador vir a receber um baixo salário, com

enfoque na relação existente entre a localização do empregador e a probabilidade de um

trabalhador vir a receber um salário considerado baixo. No Capítulo 4 apresenta-se a

amostra em análise, bem como a evolução dos diferentes limiares de pobreza em análise

e as estatísticas descritivas dos mesmos. No Capitulo 5 descreve-se o modelo e

apresentam-se os resultados do modelo logit que permitem identificar as características

dos trabalhadores, empresas/ posto de trabalho e regiões que influenciam a probabilidade

de auferir uma baixo salário. Por fim, serão descritas as principais conclusões e

introduzidas algumas pistas para investigação futura.

Page 12: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

4

1. Pobreza: principais conceitos e medidas

A pobreza, em termos económicos, é vista como a privação de uma vida de

qualidade (Mabughi e Selim, 2006).

Na literatura não existe consenso quanto à definição de pobreza, tendo-se, no

entanto, assistido a uma evolução do próprio conceito. Mabughi e Selim (2006)

analisaram esta evolução, verificando que a primeira definição se deve a Rowntree em

1901. Este autor apresenta o conceito de pobreza absoluta, que corresponde a um limiar

de rendimento abaixo do qual um indivíduo não reúne as condições mínimas de

subsistência, avaliado através de um cabaz de bens considerado indispensável, que

garanta as necessidades nutricionais e outras, para que uma família singular tenha o

mínimo de subsistência. Porém, as famílias nem sempre fazem uma correta afetação dos

seus rendimentos, o que poderá levar a uma situação em que uma família possa estar

marginalmente acima do limiar absoluto definido e ainda assim não conseguir ter uma

vida digna. Assim, de modo a contornar esta lacuna no seu conceito, Rowntree

posteriormente efetuou uma diferenciação entre o que denomina de “pobreza primária”,

situação em que um indivíduo aufere rendimentos abaixo de um limiar absoluto definido,

e “pobreza secundária”, situação em que um indivíduo aufere um rendimento

marginalmente acima do limiar definido, mas que, devido à sua gestão imprudente, não

consegue evitar uma situação de pobreza (Mabughi e Selim, 2006). Mais tarde, Rowntree

reavalia o seu conceito assumindo-o como sendo uma questão social, acrescentando às

necessidades nutricionais, necessidades culturais, concluindo que uma definição de

pobreza não faz sentido quando se restringe unicamente ao bem-estar físico (Mabughi e

Selim, 2006).

No entanto, a subjetividade desta definição relativamente ao que é considerado uma

necessidade essencial e consequente valorimetria, levou a que a adoção deste tipo de

limiar fosse alvo de inúmeras críticas pelos autores que lhe seguiram. Em particular,

Townsend e Smith (1965) (cfr. Mabughi e Selim, 2006) adotaram uma definição relativa

de pobreza, argumentando que as necessidades individuais são influenciadas pela

sociedade em que os indivíduos estão inseridos.

Em 1964, nos Estados Unidos, houve uma forte preocupação por parte do governo

em vigência, chefiado pelo presidente Lyndon B. Johnson, no combate à pobreza. Nessa

época foi estabelecido um limiar com base nas despesas médias de uma família em

Page 13: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

5

alimentação, multiplicando-se o valor obtido por 3, uma vez que se assumia que as

despesas em alimentação representavam um terço das despesas familiares (Gustafsson,

1995).

Porém, ainda nos anos 60, ao invés dos parâmetros de consumo, a ênfase na

definição de pobreza passou a recair no nível de rendimento disponível, sendo criados

limiares de pobreza baseados em indicadores como o PNBpc e o crescimento do

rendimento (Eatwell, 1987, cfr. Mabughi e Selim, 2006). Mais tarde, na década de 70, a

definição de pobreza deixou de ser apenas medida pela falta de rendimentos, e passou a

incluir questões como o acesso à saúde, educação, e serviços sociais básicos, abrindo

assim portas para a exploração da definição não apenas em termos quantitativos mas

também de uma forma mais qualitativa (Mabughi e Selim, 2006).

Apesar de os rendimentos familiares serem muitas vezes usados pelos

investigadores como forma de medir o bem-estar (Mabughi e Selim, 2006),

Chotikapanich (1994) (cfr. Mabughi e Selim, 2006) argumenta que o consumo é uma

melhor medida, sendo esta ideia corroborada por Fields (1980), já que o consumo, por

exemplo, uniformiza a eventual disparidade de preços que possa haver entre regiões.

O conceito de pobreza relativa, baseado naquilo que os membros de uma

determinada sociedade consideram ser um standard de vida aceitável, é mais comum em

países desenvolvidos (Mabughi e Selim, 2006), uma vez que consegue captar as variações

que vão ocorrendo nas necessidades ao longo do tempo e espaço (Brady, 2003). Esta

adaptabilidade do limiar de pobreza é conseguida através da sua definição em função dos

rendimentos da sociedade em estudo, havendo deste modo uma comparação com os seus

pares (Sen, 1979). Assim, considera-se que uma pessoa que tenha um rendimento inferior

ao limiar determinado não consegue atingir o padrão de necessidades básicas da

sociedade para se poder integrar, sendo consequentemente considerada pobre (Brady,

2003). O principal precursor deste conceito é Townsend (1979), apresentando a seguinte

definição:

“individuals, families and groups in the population can be said to be in poverty when they

lack the resources to obtain the types of diets, participate in the activities and have the

living conditions and amenities which are customary, or at least widely encouraged and

approved, in the societies to which they belong.”(Townsend, 1979, p. 31)

Page 14: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

6

Analisando a definição apresentada por Townsend (1979) denota-se uma grande

subjetividade quanto ao que se considera um standard de vida aceitável, já que este

dependerá da sociedade em que o indivíduo se integra, pois, por exemplo, num país

subdesenvolvido o limiar de pobreza é fixado ao nível das necessidades básicas de

subsistência, enquanto num país desenvolvido, em que existem outras preocupações e

necessidades, acrescenta-se às necessidades de subsistência outras de carácter mais social

(Sen, 1979). Assim, nunca podendo ser um limiar fixo, este vai variando ao longo do

tempo à medida que a mudança das necessidades consideradas essenciais vai ocorrendo

(Mabughi e Selim, 2006). De notar também o facto de Townsend (1979) na sua definição

apresentar duas dimensões do conceito: pobreza de baixos rendimentos e um tipo de

pobreza assente na impossibilidade de atingir um nível de vida considerado razoável

(Mabughi e Selim, 2006).

Estudos como os realizados por Beverly (2001) e Airio et al. (2008) apresentam

uma definição de pobreza relativa assente na privação material dos indivíduos, vindo de

encontro à definição de “método direto” apresentado por Sen (1979), que define como

pobres aqueles que não conseguem atingir o padrão mínimo de consumo aceite pela

sociedade. Em relação ao “método do rendimento”, também definido por Sen (1979), o

“método direto” traz a vantagem de conseguir ter em conta todos os tipos de rendimento,

nomeadamente os que possam advir de cartões de crédito e poupanças, por exemplo, e os

diferentes custos de vida (Beverly, 2001). No entanto, para além de esta definição ser

mais subjetiva, ela apresenta inúmeras desvantagens, já que não tem em conta a forma

como os bens são adquiridos (estes podem ser obtidos pedindo, roubando, ou usando

excessivamente o crédito), nem as preferências individuais, que podem levar a um

afetação do rendimento diferente daquela que a sociedade em que o indivíduo se insere

considera fundamental (Beverly, 2001).

Sen (1979) afirma que a definição de pobreza não se deve basear unicamente num

conceito relativo, sendo ao invés necessário que os dois conceitos de pobreza (absoluta e

relativa) se complementem, pois só deste modo se poderá garantir que as necessidades de

carácter essencial, nomeadamente as relacionadas com a nutrição, estejam sempre

salvaguardadas de eventuais flutuações de rendimento. De facto, havendo uma variação

negativa generalizada dos rendimentos da sociedade em análise, mantendo-se o limiar

definido de igual forma, a percentagem da população considerada pobre poderá manter-

Page 15: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

7

se, ou mesmo reduzir, havendo no entanto mais pessoas a viver abaixo do valor de

rendimento determinado à partida como limiar de pobreza, sobretudo quando o limiar é

definido em função do rendimento mediano, criando o que Rodrigues et al. (2016, p.18)

apelida de “armadilha do rendimento mediano”.

A pobreza esteve por muito tempo associada a pessoas inativas, desempregadas ou

incapacitadas, acreditando-se nos países desenvolvidos que o facto de se ter emprego,

seria motivo mais do que suficiente para evitar uma situação de privação (Pena-Casas e

Latta, 2004). Porém, a baixa qualidade dos empregos leva a que, para alguns

trabalhadores, o emprego não seja suficiente para evitar esta condição (Pena-Casas e

Latta, 2004), surgindo assim o conceito de pobreza ativa.

O conceito de pobreza ativa, com génese nos Estados Unidos na década de 70, tem

vindo a ser usado desde então como medida da situação de privação da população ativa

(Pena-Casas e Latta, 2004). A sua definição vai para além do conceito de pobreza, uma

vez que engloba quer a própria definição de pobreza, quer a discussão sobre aqueles que

se consideram ativos, sendo para além disso, ainda avaliado tanto ao nível dos

rendimentos individuais, como no contexto global do agregado familiar (Lohmann, 2009

e Eurofound, 2010). Na Figura 1 identificam-se os mecanismos que podem conduzir um

indivíduo a uma situação de pobreza ativa, bem como as principais causas da sua

incidência.

Existem essencialmente três mecanismos que podem conduzir um indivíduo

trabalhador para uma situação de pobreza ativa: baixos rendimentos; baixa participação

no mercado de trabalho; e elevadas despesas com o agregado familiar (Crettaz e Bonoli,

2010). Fatores macroeconómicos, como o regime de segurança social (que através de

transferências sociais poderá aumentar o rendimento do agregado familiar em risco de

pobreza ativa) e instituições reguladoras do mercado de trabalho (como o salário mínimo)

(Lohmann, 2009), bem como fatores relacionados com as características individuais do

trabalhador (como a baixa escolaridade) e até mesmo do emprego em si (como o setor de

atividade) (Cheung e Chou, 2015) podem levar a que um trabalhador se insira numa

situação de pobreza ativa. Podendo, porém, este tipo de pobreza ficar a dever-se

unicamente aos baixos salários (Nolan e Marx, 2000).

Page 16: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

8

Figura 1. Variáveis e mecanismos de pobreza ativa

Fonte: Cheung e Chou, 2015

Os Estados Unidos da América (US Census Bureau, US Bureau of Labour

Statistics) foram pioneiros na definição de pobreza ativa. Este tipo de pobreza começou a

ser estudada nos anos 60, tendo sido definido em 1989 que a pobreza ativa existe quando

um indivíduo trabalhou ou procurou trabalho pelo menos 27 semanas e ainda assim vive

no seio de uma família pobre (Klein, 1989). A França (Instituto Nacional de Estatística e

Economia) adotou posteriormente uma definição similar, considerando que os

trabalhadores se incluem no grupo da pobreza ativa quando mesmo trabalhando ou

procurando trabalho há pelo menos 6 meses não conseguem viver acima do limiar de

pobreza definido (Ponthieux, 2004). De realçar porém que, e segundo Pena-Casas e Latta

Variáveis

Macro

Variáveis

Micro

Mercado de

trabalho

Apoios sociais

Variáveis

individuais

Variáveis

relacionadas

com o

emprego

Variáveis

relacionadas

com o

agregado

familiar

Idade

Género

Escolaridade

Migrante

Conhecimentos

linguísticos

Ocupação

Indústria

Empregado vs

Desempregado)

Número de

assalariados

Composição

do agregado

familiar

Baixos

rendimento

s

Participação

no mercado

de trabalho

Custos elevados

associados com

o cuidado dos

dependentes

Variáveis Mecanismos

Page 17: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

9

(2004), a maioria dos estudos franceses fazem distinção entre “active poor”, quando

inclui os trabalhadores e indivíduos à procura de emprego, e “working poor”, quando se

refere a pessoas que trabalham há pelo menos 6 meses. Importa portanto definir quais os

trabalhadores que se consideram para efeitos de cálculo de pobreza ativa, bem como quem

é que é considerado pobre, o que não é de todo consensual na literatura.

Para além da definição simples de um limiar percentual, Crettaz (2013) verificou

também que alguns autores como Iceland e Kim (2001) e Crettaz (2011a) optam por

incluir na avaliação da situação de pobreza ativa, para além dos rendimentos do agregado

familiar, as suas despesas. Há ainda outros autores (e.g. Beverly, 2001; Airio et al., 2008)

que acrescentam “indicadores de privação material”, e outros que procuram ainda avaliar

se as famílias recebem apoios de entidades sem fins lucrativos (e.g. Berner et al., 2008)

ou de caridade (e.g. Cormier e Craypo, 2000). Por fim, há ainda autores que utilizam no

seu estudo o “gap de pobreza” (e.g. Brown et al., 2007), que permite quantificar os

indivíduos que auferem um salário marginalmente superior ao limiar de pobreza

estabelecido, já que se considera um intervalo de valores para além deste.

A tabela seguinte (Tabela 1) apresenta de forma sistematizada algumas das

diferentes definições de pobreza ativa utilizadas por alguns países.

Tabela 1. Definições de pobreza ativa

País Fonte Condição de trabalhador Limiar de Pobreza

UE Eurostat - Empregado pelo menos 15 horas;

ou ativo frequente no ano anterior.

- Empregado pelo menos 7 meses no

ano de referência.

Limiar de baixo

rendimento: 60% da

mediana de rendimentos

(pobreza monetária

relativa)

França Instituto Nacional de

Estatística e Economia

(INSEE)

Plano Nacional de

ação para a inclusão

social

- Indivíduos que tenham despendido

pelo menos 6 meses do ano no

mercado de trabalho (a trabalhar ou à

procura de trabalho); ou trabalharam

pelo menos 6 meses; ou têm um

trabalho pelo menos um mês durante

um ano.

Limiar de baixo

rendimento: 50% (60%-

70% ocasionalmente)

da mediana de

rendimentos

(pobreza monetária

relativa)

Page 18: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

10

País Fonte Condição de trabalhador Limiar de Pobreza

Bélgica Plano Nacional de

Ação para a Inclusão

Social

- Indivíduos que despenderam pelo

menos seis meses do ano no mercado

de trabalho (a trabalhar ou à procura

de emprego)

Limiar de baixos

rendimentos: 60% da

mediana de rendimentos

do agregado familiar

(pobreza monetária

relativa)

Suíça - Gabinete oficial de

estatística Suíço

- Todos os indivíduos ativos,

independentemente das horas que

trabalhem; ou todos os indivíduos em

full-time (isto é, 36 horas por semana

ou mais); ou indivíduos com uma

atividade lucrativa em pelo menos 40

horas semanais.

- Taxa fixa

administrativa de

segurança social

modificada (pobreza

monetária

administrativa)

EUA US Census Bureau

(USCB)

Total de horas trabalhadas pelos

membros da família superior ou igual

a 1750 horas (44 semanas). Linha de pobreza

Federal (FLP) (pobreza

monetária absoluta) US Bureau of Labour

Statistics (USBLS)

Indivíduos que despenderam pelo

menos seis meses (27 semanas) do ano

no mercado de trabalho (a trabalhar ou

à procura de trabalho).

Canadá Conselho Nacional de

Bem-estar (NCW)

Mais de 50% do total dos

rendimentos da família proveniente

de salários ou trabalho independente.

Statistics Canada’s

Low-income cut-offs

(LICOs) (pobreza

monetária absoluta)

Conselho Canadiano

para o

Desenvolvimento

Social (CCSD)

Os membros adultos têm, entre eles,

pelo menos 49 semanas de emprego

full-time num ano (pelo menos 30

horas semanais) ou trabalho part-

time.

CCSD limiar de baixos

rendimentos relativo

(pobreza monetária

relativa)

Canadian Policy

Research Networks

(CPRN)

Full-time durante todo o ano Limiar de baixo

rendimento relativo:

menos de 20.000

dólares canadianos por

ano (pobreza monetária

relativa)

Page 19: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

11

País Fonte Condição de trabalhador Limiar de Pobreza

Austrália Centro de pesquisa de

política social

Todos os indivíduos ativos,

independentemente do número de

horas que trabalhem.

Linha de pobreza

absoluta de Henderson

(pobreza monetária

absoluta)

Fonte: Pena-Casas e Latta (2004) e Crettaz (2013)

Apesar de similares, as definições estão assentes em diferentes conceitos,

nomeadamente quanto a quem é considerado um indivíduo trabalhador e quanto ao limiar

de rendimento abaixo do qual o indivíduo trabalhador passa a estar incluído no grupo de

pobreza de baixos salários, que será explorado de seguida.

De acordo com Crettaz (2013), no período anterior à década de 70 já havia estudos

nos Estados Unidos que faziam referência a um conceito que denominavam de pobreza

ativa, no entanto este conceito tendia fortemente para o que hoje se denomina de pobreza

de baixos salários.

A pobreza de baixos salários é muitas vezes referida como sinónimo de pobreza

ativa, no entanto, apesar dos dois conceitos estarem relacionados, eles não se referem, na

sua essência ao mesmo, já que o baixo salário não é o único fator responsável pela

situação de pobreza ativa (como já foi visto acima), podendo esta estar também associada

à pouca participação na força de trabalho do agregado familiar e à dimensão do mesmo

(Crettaz, 2010). De facto, o baixo salário pode não ser a única fonte de rendimento do

agregado familiar, havendo a possibilidade de existirem, por exemplo, transferências

sociais e rendimentos de outros elementos do agregado familiar, a não ser que uma pessoa

viva num agregado unifamiliar (Pena-Casas e Latta, 2004).

À semelhança da pobreza ativa, a definição de um limiar abaixo do qual se

considera uma pessoa em situação de pobreza de baixos salários não é de todo consensual

na literatura (Crettaz, 2013), sendo no entanto geralmente aceite uma definição subjetiva

baseada numa percentagem do salário médio ou mediano do país em análise, ao invés da

utilização de um valor absoluto (Llorente e Pérez, 2007), que teria o problema da

comparação internacional de preços (Lucifora et al., 2005). Apesar da percentagem

utilizada nos diferentes estudos continuar a ser arbitrária e alvo de críticas, o seu uso

poderá tornar os estudos mais comparáveis entre si (Crettaz, 2013).

Page 20: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

12

Quando se analisa a definição subjetiva do limiar de pobreza de baixos salários,

verifica-se que os primeiros estudos apontavam para um limiar de 50% da mediana/

média dos salários do país (Lagarenneand e Legendre, 2000). Posteriormente, os estudos

produzidos pela União Europeia definiram este limiar como sendo de 60% do salário

mediano do país em análise (Crettaz, 2013), o que tem contribuído para que os estudos

mais recentes sigam a mesma definição. Existem, no entanto, outros autores ainda, como

por exemplo, Bruckmeier et al. (2008), Nollmann (2009) e Crettaz (2011a) que, segundo

Crettaz, 2013, determinam outro tipo de limiares, oscilando estes entre 40% e 70% da

mediana dos rendimentos.

Os baixos salários podem ser resultado de variáveis macro (mercado de trabalho),

de variáveis relacionadas com o indivíduo (por exemplo, educação), bem como de

variáveis relacionadas com as características do emprego (Cheung e Chou, 2015), sendo

que os grupos mais desprotegidos, como os jovens e mães trabalhadoras, são os que mais

são afetados por este tipo de salários (OCDE, 1996 cfr. Lucifora et al., 2005).

A região em que o indivíduo se insere também tem sido apontada pela literatura

como potenciador de desigualdades (Slack, 2010), havendo por parte das zonas rurais

uma menor proteção contra a pobreza. É nas zonas rurais que se concentram os empregos

com menores salários, havendo um prémio salarial associado às cidades (Yankow, 2006).

Assim, e acrescendo a baixa procura de trabalho por parte das empresas nas áreas rurais,

existe uma grande probabilidade de os trabalhadores nestas áreas ocuparem empregos

abaixo das suas qualificações, sendo que quando estas situações ocorrem, contrariamente

às áreas metropolitanas, estes trabalhadores veem reduzidas as probabilidades de virem a

trabalhar num emprego ao nível das suas qualificações e de contrariarem a situação de

pobreza (Jensen et al., 1999).

Page 21: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

13

2. Estudos empíricos sobre a pobreza de baixos salários

A questão da pobreza ativa começou a ser estudada na década de 70/ 80 nos Estados

Unidos da América, tendo a preocupação com esta temática chegado anos mais tarde à

Europa (Crettaz, 2013). Este tipo de pobreza está intimamente relacionado com a questão

dos baixos salários, coincidindo com o conceito de pobreza de baixos salários quando se

está perante um agregado unifamiliar, caso em que o indivíduo representa a única fonte

de rendimento (Pena-Casas e Latta, 2004).

Atualmente, a literatura que incide sobre os baixos salários, tal como se poderá ver

de seguida, tem tentado responder a questões como: “Quem são os trabalhadores de

baixos salários?”; “Como é que tem evoluído a sua incidência?”; “Qual a sua relação com

a pobreza?”; “Onde é que se localizam os trabalhadores de baixos salários?” e “Quais as

diferenças internacionais?”.

Para além de questões metodológicas relacionadas com a amostra (período

temporal, países/regiões) e com o método de estimação, estes estudos distinguem-se ainda

pela definição dos seguintes conceitos: qual o limiar abaixo do qual se considera um

salário baixo; quais os indivíduos que se incluem no estudo (definição de trabalhador); e

o que se deve contabilizar no salário para efeitos de comparação.

Nolan (1998) procura determinar a relação entre os baixos salários e a pobreza dos

agregados familiares na Irlanda, utilizando os dados do Painel Europeu de Agregados

Familiares para os anos compreendidos entre 1987 e 1994. O autor adota um limiar de

baixos salários de 2/3 da mediana do salário semanal de um trabalhador a full-time, à

semelhança do estudo realizado pela OCDE (1996) (cfr. Lucifora et al., 2005),

concluindo que apenas uma minoria dos trabalhadores que auferiam um salário

considerado baixo viviam no seio de um agregado familiar pobre, e que apenas uma

minoria dos agregados familiares pobres tinha um elemento com um baixo salário. A

mesma conclusão é retirada no estudo realizado por Nolan e Marx (2000). Tendo como

objetivo encontrar a relação existente entre os baixos salários e a pobreza nos países

desenvolvidos, estes autores partiram das bases de dados do Luxembourg Income Survey

e do Painel Europeu de Agregados Familiares, definindo como limiar de baixos salários

2/3 da mediana do salário bruto dos trabalhadores e como limiar de pobreza 50% do

rendimento do agregado familiar ajustado pelo número de elementos do mesmo.

Concluíram que os Estados Unidos da América eram o país que apresentava a maior

Page 22: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

14

percentagem de trabalhadores de baixos salários nos finais dos anos 80 - início dos anos

90, com uma percentagem de 26,4% da população empregada a auferir um baixo salário,

sendo de realçar que somente 24% destes viviam num agregado familiar pobre.

Havendo uma preocupação crescente com esta questão, Llorente e Pérez (2007)

realizaram um estudo com o objetivo de avaliar as determinantes e a evolução da

incidência dos baixos salários em Espanha de 1994 a 2004, utilizando um limiar de 60%

da mediana como forma de definir o valor mínimo que um trabalhador deverá auferir para

não se inserir numa situação de pobreza, que, sendo o mesmo limiar usado nos estudos

realizados pelo Eurostat, permite a comparação com eventuais estudos realizados por esta

entidade. Dado que o salário total é resultante do número de horas de trabalho e do salário

hora de cada trabalhador, os autores, para além de apontarem as características que

aumentam a probabilidade de um indivíduo trabalhador vir a ser considerado pobre,

também procuram identificar se a causa do baixo salário se deve a um reduzido número

de horas de trabalho ou, pelo contrário, a um baixo salário pago por hora. De forma a

avaliar o impacto a potenciais determinantes de baixos salários em Espanha no período

definido, os autores aplicam um modelo probit, em que a variável dependente (ter ou não

ter um baixo salário) pode ser explicada através de variáveis relacionadas com o indivíduo

(idade, género, escolaridade, etc.), com o tempo de trabalho, com o setor de atividade em

que o indivíduo se insere e com as características da empresa. Os autores concluem que

o salário-hora tem um comportamento semelhante ao salário mensal, tendo-se verificado

no período em análise, ao contrário do esperado, que o aumento do emprego não foi

promovido por empregos de baixos salários. Por seu lado, o emprego de baixos salários

está, neste período, bastante associado às mulheres, com educação básica, que trabalham

numa empresa pequena, sem contrato de trabalho, e que anteriormente tenham estado

desempregadas ou inativas. No entanto, de acordo com o mesmo estudo, os indivíduos

que se encontram em maior risco de pobreza continuam a ser os que não têm qualquer

tipo de emprego.

Portugal também tem alguns estudos semelhantes a este. Cardoso et al. (2000)

definiu como objetivo traçar o perfil do trabalhador e das empresas de baixos salários,

entre 1986 e 1997, em Portugal, tendo estabelecido para tal um limiar de baixos salários

de 2/3 da mediana de salários do país (mesmo indicador usado pela OCDE). Recorrendo

à base de dados dos Quadros de Pessoal (GEP-MSESS) os autores identificaram um

Page 23: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

15

aumento da percentagem da população que auferia baixos salários no período em análise

em Portugal, tendo esta passado de 13% em 1986 para 15%, em 1997. Quanto às

determinantes dos baixos salários, os autores recorreram ao modelo probit, em que

especificaram características do foro pessoal (idade, género, escolarização, etc.) e da

empresa (dimensão e setor de atividade) como explicativas da probabilidade do indivíduo

vir a receber um baixo salário. Desta forma, concluíram que, à semelhança de outros

estudos internacionais, o facto de se ser mulher, jovem e com um baixo nível de

escolarização aumenta a probabilidade de se vir a auferir um baixo salário, sendo que à

medida que aumentam os anos de experiência, esta probabilidade vai diminuindo. Quanto

às características da empresa que mais proporcionam esta situação, os autores referem

que estas normalmente são de pequena dimensão e que estão localizadas nos setores da

restauração e hotelaria, comércio a retalho, e indústrias têxtil, do vestuário e calçado, da

alimentação e bebidas e da madeira e cortiça.

Barros et al. (2005) procura aferir as características dos trabalhadores de baixos

salários em Portugal. Os autores assumem, tal como no estudo de Cardoso et al. (2000),

um limiar de baixos salários de 2/3 do salário mediano/ hora, tendo os seus dados origem

no Painel Europeu de Agregados Familiares, para os anos de 1998 e 1999. Usando um

modelo logit, os autores obtiveram conclusões semelhantes às anteriores, ou seja,

concluíram que o facto de se ser mulher, com um baixo nível de escolarização e a

trabalhar em regime de part-time, contribui para o aumento da probabilidade de se vir a

ter um baixo salário, sendo esta probabilidade aumentada se se trabalhar no setor agrícola,

numa empresa de pequena dimensão, ou na região dos Açores.

Vieira (2005), no estudo que efetua com o objetivo de avaliar se o baixo salário de

um trabalhador é uma situação temporária, parte da base de dados dos Quadros de Pessoal

(GEP-MSESS), entre os anos 1996 e 2000, estabelecendo para o efeito três limiares de

baixos salários: 2/3 da mediana do salário hora; primeiro quartil da distribuição de

rendimentos; e o terceiro decil da distribuição de rendimentos - uma vez que tal permite

efetuar uma comparação entre os resultados obtidos através dos diferentes limiares. O

autor conclui que a situação de baixos salários é duradoura, tendo os homens uma maior

probabilidade de conseguir sair desta situação.

Page 24: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

16

3. A dimensão regional da pobreza

A pobreza pode ser entendida como o resultado da combinação de fatores como: as

decisões das famílias e indivíduos face a choques idiossincráticos e agregados; o conjunto

de elementos que caracterizam a economia, incluindo a estrutura sociodemográfica, o

nível de capital humano e o funcionamento dos mercados de bens e serviços, de trabalho

e de crédito; e o grande número de políticas públicas que afetam o conjunto de

oportunidades de escolha e a estrutura de incentivos que os indivíduos defrontam (Alves,

2009). Assim, também a localização geográfica dos indivíduos pode pesar na

probabilidade de estes virem a ser pobres, já que a sua taxa de incidência é mais elevada

em zonas caracterizadas pelo isolamento, pela escassez de recursos e pelas condições

climatéricas inóspitas (Banco Mundial, 2009).

Segundo Blank (2005), existem 5 características das regiões (bastante interligadas

com a pobreza, o que dificulta a asserção de quais as suas causas e consequências (Pereira,

2010)), que podem influenciar positivamente a incidência da pobreza, são elas, o

ambiente natural, a estrutura económica, as instituições comunitárias e políticas, as

normas sociais e o ambiente cultural, e as características demográficas da população. Para

além destas características, estudos como o reproduzido por Weber et al. (2005) apontam

para mais dois fatores preponderantes para a contribuição das zonas rurais no aumento da

pobreza, são eles a acessibilidade e o contexto económico, uma vez que estas zonas

oferecem menos oportunidades e maiores barreiras ao sucesso económico. Blank (2005)

no seu estudo sugere ainda a existência de um outro fator não mensurável que dificulta o

sucesso económico destas áreas, cujo efeito é independente destas duas, como sendo

devido a barreiras institucionais, capacidade de comunicação, redes sociais, cultura e

práticas locais que dificultam a existência de diferentes decisões económicas e resultados.

Para além das características das regiões, a Comissão Europeia (2008), no relatório

que elaborou sobre pobreza e exclusão social nas áreas rurais, identificou ainda quatro

círculos viciosos presentes nestas zonas (Figura 2): Círculo vicioso da demografia

(população idosa, e baixa densidade populacional contribuem para um pior desempenho

da economia, que por sua vez leva à migração de parte da população, o que volta a

contribuir para um maior envelhecimento e baixa densidade populacional); Círculo

vicioso do isolamento (infraestruturas deficientes levam a que o desempenho económico

das áreas rurais não seja o melhor, conduzindo à migração de parte da população, que por

Page 25: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

17

sua vez afeta a situação demográfica, criando-se desta forma um obstáculo ao

desenvolvimento das infraestruturas); Círculo vicioso da educação (baixos níveis

educacionais conduzem a baixas taxas de emprego, que por sua vez aumentam a

percentagem de pessoas em situação de pobreza, havendo consequentemente um menor

acesso à educação); e o Círculo vicioso do mercado de trabalho (um mercado de trabalho

com uma procura de trabalho limitada leva a que a população mais qualificada migre, e

que, por conseguinte, predominem as pessoas com baixas qualificações nestas zonas, o

que desincentiva o investimento, e assim limita a procura de trabalho).

Figura 2. Círculos viciosos de pobreza nas áreas rurais

Círculo Vicioso da Demografia Círculo Vicioso do Isolamento

Círculo Vicioso da Educação Círculo Vicioso do Mercado de Trabalho

Fonte: Comissão Europeia (2008), p. 72

Page 26: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

18

Conclui-se, portanto, que a localização do indivíduo tem impacto na probabilidade

de este vir a ser considerado pobre, uma vez que o contexto da região em que o indivíduo

se insere poderá limitar as suas escolhas, nomeadamente em termos de educação e

trabalho, havendo uma forte influência da ruralidade sobre a pobreza, causada pela

limitação de opções (Pereira, 2010).

O meio rural é de facto reconhecido como sendo aquele que “oferece menos

oportunidades e maiores barreiras ao sucesso económico” (Weber et al., 2005, pág. 383),

havendo em Portugal, tal como noutros países europeus, uma prevalência maior da

pobreza nestas zonas (Pereira, 2010), com um claro diferencial salarial, quando

analisados os salários pagos nas áreas rurais e urbanas, sendo os valores pagos nas cidades

em média mais elevados (Glaeser e Mare, 2001).

O prémio salarial pago nas cidades pode, de acordo com Yankow (2006), ficar a

dever-se a inúmeros fatores: custos de vida mais elevados; trabalhadores mais

qualificados e mais produtivos; aceleração da acumulação de capital humano; e maior

eficiência no ajustamento entre a procura e oferta de trabalho. Segundo o mesmo autor, a

existência de custos de vida mais elevados nas cidades poderá levar a que o prémio

salarial seja meramente nominal ficando este a dever-se a uma compensação pelos custos

de vida mais altos, havendo assim uma igualdade a níveis reais entre o valor pago nas

diferentes zonas territoriais. Por outro lado, este prémio poderá ser justificado pela atração

para as cidades de pessoas mais qualificadas, que se deslocam para verem as suas

características recompensadas, ou pelo facto de os trabalhadores serem mais produtivos

nas cidades devido às economias de aglomeração. Também se poderá ficar a dever a uma

maior acumulação de capital humano, acelerada pelas cidades, devido à densidade

populacional, que proporciona um aumento das interações entre as pessoas. A migração

dos trabalhadores mais qualificados para as áreas metropolitanas pode ainda ser resultado

de nelas se concentrarem mais empresas e logo, maior procura de trabalho, que possibilita

aos trabalhadores mais habilitados e produtivos, com maiores qualificações, encontrar

mais facilmente um emprego ajustado às suas competências (Glaeser e Mare, 2001).

A aglomeração de empresas, característica das áreas metropolitanas, também pode

levar a que daí resultem economias, devido, por exemplo, à redução de custos de

transporte, que propiciam o pagamento de salários mais elevados (Partridge e Rickman,

2008), já que as empresas apenas se mantêm num local onde os salários a pagar são mais

Page 27: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

19

elevados se existirem menores custos de produção ou se os trabalhadores forem mais

qualificados (Glaeser e Mare, 2001). De notar, porém, que este prémio salarial pago nas

cidades não é imediato, havendo um tempo de permanência na cidade necessário para que

se comece a usufruir do mesmo, devido sobretudo ao tempo que decorre até que se

consiga o matching perfeito entre as qualificações do trabalhador e as características da

empresa, bem como à aprendizagem facultada nas cidades (Yankow, 2006).

À medida que vai aumentando a distância aos centros urbanos os salários tendem a

reduzir-se (Hanson, 1997) uma vez que a procura de emprego se vai reduzindo, levando

a que haja um ajustamento incompleto conducente ao aumento das migrações. A distância

ao centro urbano pode assim limitar a mobilidade do trabalho, que se traduz num aumento

dos custos de comunicação e migração, levando a um agravamento da situação de pobreza

nas áreas mais remotas (Partridge e Rickman, 2008). Assim, tem-se que existe uma

relação positiva entre o aumento da distância ao centro urbano e a pobreza.

No caso Português, observou-se uma redução da pobreza absoluta entre 2003 e

2008 (após transferências sociais), passando esta de uma taxa de 20,4% para 17,9%,

verificando-se um risco de pobreza superior nas áreas com baixa densidade populacional

(23,4%) quando comparado com áreas densamente povoadas (11,9%), no ano de 2008

(INE, 2010).

No estudo realizado por Pereira (2010), que procurava aferir o efeito da ruralidade

na probabilidade de um indivíduo viver numa situação de pobreza em Portugal, é

evidenciado que o risco de pobreza varia significativamente ao longo das regiões

portuguesas, tendo sido identificado logo à partida três oposições territoriais: norte /sul;

interior /litoral; aglomerações urbanas/ restante território, encontrando-se uma forte

relação entre ruralidade, a acessibilidade e o desenvolvimento económico. Também

Alves (2009) observa uma relação entre a densidade populacional e a pobreza,

constatando que as áreas menos densamente povoadas apresentam uma taxa de incidência

de quase o dobro da observada nas zonas mais povoadas, sendo que, com base nos

resultados apurados pelo inquérito à riqueza da população de 2005/06, a Madeira, Açores

e Alentejo apresentavam as maiores taxas de pobreza

Assim, conclui-se que a situação de pobreza dos agregados familiares se pode ficar

também a dever à limitação de opções dada pelas regiões onde estes se localizam, uma

vez que esta leva a que os indivíduos sejam influenciados nas suas escolhas em termos

Page 28: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

20

de emprego e educação, por exemplo, aumentando a probabilidade de virem a ser

enquadrados numa situação de pobreza (Pereira, 2010).

Page 29: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

21

4. A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal

Este estudo tem como objetivo analisar a incidência da pobreza de baixos salários

em Portugal, recorrendo, para tal, à base de microdados dos Quadros de Pessoal (GEP-

MSESS). Numa primeira fase, serão apresentadas algumas considerações metodológicas

relativas à construção da amostra. Em seguida, analisar-se-á a forma como se comporta a

incidência dos baixos salários ao longo do período em análise, avaliando-se em seguida

a incidência dos mesmos por região, para os anos de 1992 e 2012, e setor de atividade,

para o ano mais recente (2012).

4.1. Descrição da amostra

Tendo como objetivo o estudo da pobreza de baixos salários em Portugal, este

estudo socorre-se da base de microdados Quadros de Pessoal (GEP-MSESS).

A base de dados Quadros de Pessoal (GEP-MSESS) resulta de um inquérito

realizado anualmente a todas as empresas com pelo menos um trabalhador por conta de

outrem (com exceção da Administração Pública, Trabalho Doméstico, e com uma

cobertura reduzida do setor agrícola), por parte do Ministério do Trabalho, Solidariedade

e Segurança Social. Esta base contém informação reportada pelas empresas desde 1985

até 2012, com referência ao mês de Outubro (até 1993 a informação era referente ao mês

de Março), relativa às características das empresas e estabelecimentos (e.g. localização,

dimensão, setor de atividade) e, em particular, relativa aos trabalhadores (e.g.

habilitações, remunerações base e extra, prestações regulares e irregulares, horas de

trabalho normais e extra), o que lhe atribui a enorme vantagem de se poder cruzar

simultaneamente os dados das empresas, estabelecimentos e trabalhadores.

Neste estudo, recorre-se à informação disponibilizada pelos Quadros de Pessoal

(GEP-MSESS) para os anos de 1992 a 2012, por forma a perceber quais as características

dos trabalhadores e das empresas que propiciam uma maior probabilidade de um

indivíduo-trabalhador vir a auferir um baixo salário (i.e., um salário inferior ao limiar de

baixo salário definido), pretendendo-se avaliar eventuais discrepâncias entre as regiões

portuguesas, nomeadamente entre as áreas metropolitanas e as áreas não metropolitanas

do país. A escolha deste período temporal deve-se sobretudo ao facto de o mesmo ser

suficientemente grande para identificar alterações no padrão de características do

trabalhador de baixos salários.

Page 30: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

22

De maneira a minimizar eventuais erros de reporte de resultados foi necessário

efetuar alguns procedimentos de tratamento dos dados. Assim, começou-se por eliminar

todos os dados duplicados da base, isto é, o registo de trabalhadores cujos valores eram

iguais para todas as variáveis, já que um mesmo trabalhador só poderá estar associado a

uma determinada empresa/ estabelecimento uma única vez. De seguida, eliminaram-se

todos os trabalhadores cuja identificação se assumia errónea de acordo com os valores

normalmente assumidos (apenas se consideraram os trabalhadores cujo número de

identificação era superior a 100.000), bem como aqueles que reportaram um salário base

igual a zero euros. Restringiu-se ainda a análise apenas aos trabalhadores por conta de

outrem com idade compreendida entre os 16 e os 65 anos. Por último, eliminaram-se os

outliers, isto é, os trabalhadores que auferiam os rendimentos 1% mais baixos e 1% mais

altos, obtendo assim uma amostra final de 1.662.079 trabalhadores para o ano de 1992, e

de 1.674.269 para o ano de 2012.

Para além dos procedimentos anteriores, que permitem tornar os dados extraídos

mais fiáveis, foi necessário uniformizar as variáveis em estudo, já que, no decorrer do

período temporal de análise, a classificação das mesmas foi alterada, aumentando nalguns

casos o seu nível de detalhe (como, por exemplo, a escolaridade e a classificação das

profissões), noutros havendo a criação de novas variáveis (como, por exemplo, o regime

de duração de trabalho, que, apenas a partir de 2000, se classifica em part-time ou full-

time), havendo ainda ao nível de variáveis como a CAE um alteração da sua codificação.

No caso da CAE, havendo a necessidade de comparação dos resultados obtidos para

os diferentes anos, efetuou-se um trabalho de uniformização da mesma, já que no período

em análise se assistiram a duas revisões da mesma, Rev.2 que entrou em vigor a 01 de

janeiro de 1994 e Rev.3 que entrou em vigor a 01 de janeiro de 2008. Assim, e já que as

alterações da CAE têm sido feitas no sentido de aumentar o seu nível de desagregação,

foi necessário converter a nomenclatura das mesmas para a CAE 73 a um dígito, que

esteve em vigor de 1985 a 1994.

Depois de discutida a construção da amostra, apresenta-se de seguida a análise da

incidência dos baixos salários, em particular, a sua evolução e distribuição setorial e

regional.

Page 31: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

23

4.2. O conceito de baixo salário

Tendo como objetivo perceber quais as características dos trabalhadores, empresas/

posto de trabalho e regiões que influenciam a probabilidade de um indivíduo-trabalhador

vir a auferir um salário considerado baixo, foi necessário, em primeiro lugar, estabelecer

o limiar de baixos salários. Como se pôde verificar nos capítulos 1 e 2, a definição de um

limiar abaixo do qual se considera um trabalhador pobre não é de todo consensual na

literatura. Desta forma, iremos testar dois dos limiares mais usados na literatura:

- Limiar 1: 2/3 da mediana das remunerações (utilizado pelo Eurostat, e em estudos

como Cardoso et al. (2000));

- Limiar 2: 50% da média das remunerações (utilizado sobretudo nos primeiros

estudos realizados na Europa, como, por exemplo, em Nolan (1998) e Marx e Verbist

(1998)).

Desta forma, é também possível concluir sobre a sensibilidade dos resultados a

diferentes definições de limiar, já que diferentes definições poderão conduzir a resultados

distintos (DeFina, 2007).

Quanto ao conceito de remuneração aplicado no estudo, optou-se por considerar

duas definições: uma em que apenas são tidas em conta a remuneração base e as

prestações regulares (remuneração regular), e outra onde são incluídas todas as

componentes do rendimento proveniente do trabalho, nomeadamente prémios, horas

extraordinárias, etc., (remuneração total), que, a exemplo de Cardoso et al. (2000), inclui

a remuneração base, as prestações regulares, as prestações irregulares e as prestações

extraordinárias.

Assim, e de maneira a normalizar o rendimento auferido do trabalho, ir-se-á aplicar

o conceito de rendimento por hora de trabalho, uma vez que há a necessidade de

harmonizar o impacto dos trabalhadores em horário part-time. Considera-se então:

𝑅𝑒𝑚𝑢𝑛𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝑟𝑒𝑔𝑢𝑙𝑎𝑟 ℎ𝑜𝑟á𝑟𝑖𝑎 =remuneração base + prestações regulares

ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑖𝑠

𝑅𝑒𝑚𝑢𝑛𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 ℎ𝑜𝑟á𝑟𝑖𝑎

=remuneração base + prestações regulares + prestações irregulares + prestações extraordinárias

ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑖𝑠 + ℎ𝑜𝑟𝑎𝑠 𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎𝑜𝑟𝑑𝑖𝑛á𝑟𝑖𝑎𝑠

Page 32: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

24

Por forma a contextualizar a problemática dos baixos salários em Portugal, iremos

começar por avaliar como a incidência do fenómeno evoluiu no período decorrido de

1992 a 2012 (Figura 3), bem como a evolução dos valores estipulados para cada limiar

(Figura 4), fazendo um ponto de comparação com a evolução do salário mínimo (Figura

5). Por fim, analisa-se ainda a incidência do fenómeno (tendo em consideração o limiar

mais frequente na literatura, o limiar 1), de acordo com a região do país para os anos de

1992 (Figura 6) e 2012 (Figura 7), e de acordo com a CAE (Figura 8) para o ano mais

recente, 2012.

Como se poderá observar pela análise da Figura 3, a incidência da pobreza de baixos

salários, avaliada de acordo com os dois limiares acima definidos tem evidenciado uma

tendência decrescente.

De acordo com a Figura 4, constata-se que o limiar de baixos salários evidencia

uma tendência crescente.

Pela Figura 3 constata-se igualmente que a utilização de um limiar de pobreza que

tenha por base a média da remuneração bruta horária se traduz num acréscimo da

incidência da pobreza de baixos salários, já que para as amostras dos diferentes anos o

valor da média se situa acima do valor da mediana.

Page 33: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

25

Figura 3. Trabalhadores por conta de outrem cuja remuneração total horária é

inferior ou igual ao limiar de pobreza, em percentagem do total de trabalhadores por

conta de outrem (1992 - 2012)4;5

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS, 1992-2012) e cálculos próprios

Legenda: Limiar 1: 2/3 da mediana da remuneração total horária; Limiar 2: 50% da média da

remuneração total horária.

Figura 4. Evolução do valor dos limiares de pobreza, considerando rendimento total

horário dos trabalhadores por conta de outrem, em termos reais (1992-2002)4;5

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS, 1992-2012) e cálculos próprios

Legenda: Limiar 1: 2/3 da mediana da remuneração total horária; Limiar 2: 50% da média da

remuneração total horária.

4 Não existem dados para o ano de 2001. 5 A amostra em estudo varia consoante os anos da análise, mediante a entrada ou saída de

trabalhadores na base de dados que satisfaçam os requisitos iniciais.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Limiar 1 Limiar 2

2,00 €

2,20 €

2,40 €

2,60 €

2,80 €

3,00 €

3,20 €

3,40 €

Limiar 1 Limiar 2

Page 34: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

26

A existência de um salário mínimo também poderá estar a contribuir para que a

incidência dos baixos salários se tenha vindo a reduzir, já que esta conduz a uma redução

da dispersão salarial e desta forma a uma redução dos valores médios e medianos de

remuneração da população (Cardoso et al., 2000). De facto, avaliando a evolução dos

valores do salário mínimo nacional em termos reais (Figura 5) denota-se uma clara

relação com a evolução dos valores dos limiares de baixos salários, sendo visíveis de

igual forma os picos, por exemplo no ano de 2005 e 2010.

Figura 5. Evolução do salário mínimo nacional, em termos reais

Fonte: Direção-Geral do emprego e das relações de trabalho6 e cálculos próprios

Analisando a distribuição da incidência da pobreza de baixos salários a nível

regional e considerando o limiar 1 (2/3 da mediana da remuneração total bruta horária),

mais frequente na literatura, constata-se, pela Figura 5, que, para o ano de 1992, na

amostra considerada, apenas a região de Lisboa tem uma taxa de incidência inferior à

média nacional de 15,3%, sendo as regiões do Alentejo, Açores e Madeira as mais

afetadas.

Já quando analisado o ano de 2012, verifica-se uma redução da incidência da

pobreza baixa a nível nacional, passando esta a cifrar-se em 10,5%. Contrariamente ao

6 http://www.dgert.msess.pt/relacoes-de-trabalho/remuneracoes-do-trabalho/remuneracao-minima-

mensal-garantida (acedido em 22.09.2016)

300 €

320 €

340 €

360 €

380 €

400 €

420 €

440 €

460 €

480 €

500 €

Page 35: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

27

ano de 1992, existe na amostra considerada, uma maior percentagem de trabalhadores

com um rendimento abaixo deste limiar na região Norte, comparativamente às restantes

NUTS II, sendo que, juntamente com a região Centro e Açores, estas três são as únicas

regiões com uma taxa de incidência superior à média nacional.

Figura 6. Trabalhadores por conta de outrem cuja remuneração total horária é

inferior ao limiar 1 de pobreza (2/3 da mediana), em percentagem do total de

trabalhadores por conta de outrem, por NUTS II (1992)

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS) e cálculos próprios.

Legenda: - - - Média Nacional

21,1%

15,7%

18,7%

7,0%

23,4%22,1%

22,9%

15,3%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

Norte Algarve Centro Lisboa Alentejo Açores Madeira

Page 36: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

28

Figura 7. Trabalhadores por conta de outrem cuja remuneração total horária é

inferior ao limiar 1 de pobreza (2/3 da mediana), em percentagem do total de

trabalhadores por conta de outrem, por NUTS II (2012)

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS) e cálculos próprios.

Legenda: - - - Média Nacional

Por forma a verificar se existe evidência quanto a diferenças regionais

estatisticamente significativas no que diz respeito à incidência de baixos salários,

realizou-se o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis relativamente ao limiar 1 (2/3 do

salário mediano). Este teste avalia a hipótese nula de todas as funções de distribuição da

incidência de baixos salários nas diferentes regiões (NUTS II) serem iguais, ou seja:

𝑯𝟎: 𝑺𝑵𝒐𝒓𝒕𝒆(𝒕) = 𝑺𝑪𝒆𝒏𝒕𝒓𝒐(𝒕) = 𝑺𝑳𝒊𝒔𝒃𝒐𝒂(𝒕) = 𝑺𝑨𝒍𝒆𝒏𝒕𝒆𝒋𝒐(𝒕) = 𝑺𝑨𝒍𝒈𝒂𝒓𝒗𝒆(𝒕) = 𝑺𝑨ç𝒐𝒓𝒆𝒔(𝒕) =

𝑺𝑴𝒂𝒅𝒆𝒊𝒓𝒂(𝒕) = 𝑺𝑬𝒔𝒕𝒓𝒂𝒏𝒈𝒆𝒊𝒓𝒐(𝒕),

em que S representa a mediana de salários.

Pela Tabela 2, que contém os resultados do teste, verificamos que existe evidência

quanto à existência de diferenças regionais estatisticamente significativas no que à

incidência de baixos salários diz respeito, uma vez que se rejeita a hipótese nula

formulada acima.

14,3%

8,7%

12,3%

6,9%

9,3%

13,1%

6,9%

10,5%

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

Norte Algarve Centro Lisboa Alentejo Açores Madeira

Page 37: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

29

Tabela 2: Teste Kruskal-Wallis para a igualdade da incidência de baixos salários

tendo como referência o limiar 1 de pobreza, por regiões NUTS II

Região Observações

Chi2(7) = 19.754,652

(Pr > Chi2 = 0,0001)

Norte 580.860

Centro 284.150

Lisboa 660.502

Alentejo 71.967

Algarve 45.472

Açores 1.722

Madeira 29.576

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS)

Já quando analisada a incidência de baixos salários (Limiar 1) para o ano de 2012

por CAE a dois dígitos (Figura 8), existem três CAE’s que se destacam claramente pela

negativa, são elas: Indústrias têxteis, do vestuário e do couro (CAE 3); e Transportes,

armazenagem e comunicações (CAE 71 e 72). No extremo oposto temos o setor dos

Bancos e outras instituições monetárias e financeiras (CAE 81); e os Seguros (CAE 82),

com uma taxa de incidência de aproximadamente 0%.

Page 38: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

30

Figura 8. Trabalhadores por conta de outrem cuja remuneração total horária é

inferior ao limiar 1 de pobreza (2/3 da mediana), em percentagem do total de

trabalhadores por conta de outrem, por CAE a dois dígitos (2012)

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS) e cálculos próprios.

Em termos das características dos trabalhadores que auferem um rendimento total

horário abaixo do limiar 1 de baixos salários em 2012, verificamos que na amostra

considerada estes trabalhadores são na sua maioria mulheres, têm entre 36 e 45 anos, têm

habilitações ao nível do ensino básico ou menos, trabalham essencialmente nas Indústrias

transformadoras e nos Transportes, armazenagem e comunicações e Serviços prestados

à coletividade, e estão concentrados sobretudo na região Norte, como se pode verificar

pela tabela abaixo (Tabela 3).

2,18%

0,24%

0,03%

0,08%

3,04%

13,47%

4,04%

1,01%

0,41%

0,18%

0,81%

1,72%

2,00%

0,12%

0,21%

2,67%

2,10%

5,15%

1,39%

11,38%

15,09%

0,03%

0,06%

10,03%

9,07%

6,09%

4,01%

3,39%

11

12

13

29

31

32

33

34

35

36

37

38

39

41

42

50

61

62

63

71

72

81

82

83

91

93

94

95

CA

E 2

dig

ito

s

Page 39: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

31

Tabela 3. Descrição da amostra relativa ao limiar 1 de pobreza (2/3 da mediana de

salários), 2012

Trabalhadores por conta de

outrem cuja remuneração total

horária é inferior ou igual ao

limiar 1 de pobreza

Trabalhadores por conta de

outrem cuja remuneração

total horária é superior ao

limiar 1 de pobreza

Nº % Nº %

Género Masculino 54.447 30,96% 835.463 55.76%

Feminino 121.439 69,04% 662.920 44,24%

Classe

etária

16-25 25.805 14,67% 138.193 9,22%

26-35 44.803 25,47% 465.263 31,05%

36-45 50.495 28,71% 465.330 31,06%

46-55 39.790 22,62% 314.528 20,99%

56-65 14.993 8,52% 115.069 7,68%

Nível de

escolarid

ade

Ignorado 421 0,24% 3143 0,21%

Inferior a 1º Ciclo 2741 1,56% 8.515 0,57%

1º Ciclo 45.161 25,68% 186.449 12,44%

Ensino Básico 96.410 54,81% 604.575 40,35%

Secundário 26.123 14,85% 390.488 26,06%

Pós-Secundário 421 0,24% 7.147 0,48%

Ensino Superior 4.609 2,62% 298.066 19,89%

Tipo de

contrato

Contrato sem termo 116.762 66,39% 21.589 74,84%

Contrato a termo (certo e

incerto) 56.707 32,24% 5.239 24,49%

Outra situação 2.417 1,37% 309.460 0,67%

CAE

Agricultura, silvicultura,

caça e pesca 4.318 2,45% 21.589 1,44%

Indústrias extrativas 146 0,08% 5.239 0,35%

Indústrias transformadoras 46.936 26,69% 309.460 20,65%

Eletricidade, gás e água 582 0,33% 31.442 2,10%

Construção e obras Públicas 4.691 2,67% 76.316 5,09%

Comércio por grosso e a

retalho, restaurantes e

hotéis

15.190 8,64% 197.497 13,18%

Transportes e armazenagem

e comunicações 46.560 26,47% 351.891 23,48%

Bancos e outras instituições

financeiras, seguros,

operações sobre imóveis e

serviços prestados às

empresas

17.785 10,11% 226.571 15,12%

Serviços prestados à

coletividade, serviços

sociais e serviços pessoais

39.678 22,56% 278.378 18,58%

NUTS II

Norte 82.901 47,13% 497.959 33,23%

Algarve 3.953 2,25% 41.519 2,77%

Centro 34.813 19,79% 249.337 16,64%

Lisboa 45.265 25,74% 615.237 41,06%

Alentejo 6.689 3,80% 65.278 4,36%

Açores 226 0,13% 1.496 0,10%

Madeira 2.037 1,16% 27.539 1,84%

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS) e cálculos próprios

Page 40: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

32

Depois de caracterizada a evolução da pobreza de baixos salários e a sua incidência

por setor de atividade e região, pretende-se, analisar a influência das possíveis variáveis

explicativas apontadas pela literatura anteriormente revista no aumento da probabilidade

de um trabalhador vir a receber um baixo salário.

Page 41: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

33

5. Determinantes da pobreza de baixos salários em Portugal

Com o objetivo de avaliar as características do trabalhador, da empresa/ posto de

trabalho e da região que influenciam a probabilidade de um indivíduo vir a auferir um

baixo rendimento proveniente do trabalho, recorreu-se à estimação de um modelo de

regressão logit.

5.1. Descrição do modelo

Tendo em consideração o facto de a variável dependente do modelo a estimar ser

binária (estar ou não abaixo do limiar de baixos salários), o modelo que mais se adequa

para estes casos é um modelo de escolha binária que tem sido utilizado em estudos

semelhantes (e.g. Barros et al., 2005).

Como a variável dependente neste estudo (estar ou não abaixo do limiar de baixos

salários) é de carácter qualitativo, tal leva a que seja necessário definir uma variável

binária. Assim, considera-se que a variável assume o valor 1 quando se verifica a

condição “receber uma remuneração bruta horária inferior ou igual ao limiar

estabelecido”, e 0 caso contrário.

Temos então que:

Yi = {1, 𝑠𝑒 𝑤𝑖 ≤ 𝜆0, 𝑠𝑒 𝑤𝑖 > 𝜆

em que 𝑌𝑖 é a variável dependente, 𝑤𝑖 a remuneração bruta horária e 𝜆 o limiar de

pobreza.

Partindo do pressuposto de que a probabilidade de um indivíduo vir a receber um

baixo salário Prob (Yi = 1) é resultante das suas características individuais, das

características da empresa/ posto de trabalho e de características regionais (abaixo

especificadas como variáveis independentes /explicativas), vem:

𝑃𝑟𝑜𝑏(𝑌𝑖 = 1) = 𝐹(𝛽′𝑋𝑖)

𝑃𝑟𝑜𝑏(𝑌𝑖 = 0) = 1 − 𝐹(𝛽′𝑋𝑖)

em que 𝑋𝑖 é o vetor das variáveis explicativas, que engloba também uma constante,

e 𝛽 o vetor dos coeficientes associados, que reflete o impacto de variações em 𝑋𝑖 na

probabilidade de se observar a condição. No modelo logit assume-se que F é a função de

distribuição logística (Greene, 1999).

Page 42: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

34

Assim, temos que a probabilidade de um indivíduo auferir um salário abaixo do

limiar de pobreza (Prob (Yi = 1)) é dada por:

𝑃𝑟𝑜𝑏 (𝑌𝑖 = 1) = 𝑒𝛽′𝑥𝑖

1 + 𝑒𝛽′𝑥𝑖

= 𝛬(𝛽′𝑥𝑖)

sendo Prob (Yi = 0) a probabilidade de um indivíduo não ser considerado pobre:

𝑃𝑟𝑜𝑏 (𝑌𝑖 = 0) = 1 − 𝛬(𝛽′𝑥𝑖)

O efeito marginal da variável contínua 𝑋𝑘 sobre a probabilidade de o trabalhador

i vir a auferir um baixo salário é obtido através de:

𝜕𝑃𝑟𝑜𝑏(𝑌𝑖 = 1)

𝜕𝑋𝑘=

𝜕(𝛽′𝑋𝑖𝑘)

𝜕𝑋𝑘= 𝛬(𝛽′𝑋𝑖𝑘) ∗ [1 − 𝛬(𝛽′𝑥𝑖𝑘)]𝛽𝑘

De notar que os coeficientes das variáveis explicativas não traduzem a intensidade

do impacto das variáveis na probabilidade de um indivíduo vir a ser considerado um

trabalhador de baixos salários, fornecendo apenas, no imediato, o sentido da sua

influência, já que o efeito marginal da variável 𝑋𝑘 sobre a probabilidade de um indivíduo

𝑖 vir a ser considerado um trabalhador de baixos salários não é o mesmo para todos os

indivíduos da amostra, na medida em que este depende de 𝑋𝑖𝑘.

5.2. Variáveis independentes

De acordo com a literatura (Capítulo 2), existem variáveis relacionadas com o

trabalhador (e.g. idade e escolaridade), com a empresa/ posto de trabalho (e.g. dimensão,

antiguidade), e com a localização (e.g. zona rural vs. urbana) que poderão estar associadas

ao fenómeno da pobreza de baixos salários. Com base nessa literatura, e na informação

estatística disponível na base de dados Quadros de Pessoal (GEP-MSESS), apresentam-

se na Tabela 4 as variáveis explicativas a utilizar neste estudo, bem como as suas

estatísticas descritivas para o ano de 2012.

Page 43: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

35

Tabela 4. Variáveis independentes (2012) Estatísticas descritivas

Variável Categoria Descrição

Méd

ia

Desv

io-

pa

drã

o

Min

.

x.

Idade Idade dos trabalhadores 39,184 10,561 16 65

Idade2 Quadrado da Idade 1646,926 862,601 256 4225

Género Dummy (1 se Feminino) 0,468 0,499 0 1

Nacionalidade Dummy (1 se Estrangeiro) 0,043 0,202 0 1

Antiguidade Número de anos a que o trabalhador

se encontra na empresa atual 8,179 8,574 0 52

Escolaridade

Ignorado Dummy (1 se Ignorado) 0,002 0,046 0 1

Inferior a 1º Ciclo

Dummy (1 se Inferior ao 1º Ciclo) 0,007 0,082 0 1

1º Ciclo Dummy (1 se 1º Ciclo) 0,138 0,345 0 1

Ensino Básico Dummy (1 se Ensino Básico) 0,419 0,493 0 1

Secundário Dummy (1 se Secundário) 0,249 0,432 0 1

Pós-secundário Dummy (1 se Pós-secundário) 0,005 0,067 0 1

Ensino Superior Dummy (1 se Ensino Superior) 0,181 0,385 0 1

Tipo de contrato

Contrato sem termo Dummy (1 se Contrato sem termo) 0,740 0,439 0 1

Contrato a termo Dummy (1 se Contrato a termo) 0,253 0,435 0 1

Outra Situação Dummy (1 se Outra situação) 0,007 0,086 0 1

Setor de atividade

cae 1 Dummy (1 se Agricultura, silvicultura, caça e pesca) 0,015 0,123 0 1

cae2 Dummy (1 se Indústrias extrativas) 0,003 0,057 0 1

cae3 Dummy (1 se Indústrias transformadoras)

0,213 0,057 0 1

cae4 Dummy (1 se Eletricidade, gás e água)

0,019 0,137 0 1

cae5 Dummy (1 se Construção e obras

públicas) 0,048 0,215 0 1

cae6 Dummy (1 se Comércio por grosso e

a retalho, restaurantes e hotéis) 0,127 0,333 0 1

cae7 Dummy (1 se Transportes e armazenagem e comunicações)

0,238 0,426 0 1

cae8

Dummy (1 se Bancos e outras instituições financeiras, seguros,

operações sobre imóveis e serviços prestados às empresas)

0,146 0,353 0 1

cae9 Dummy (1 se Serviços prestados à

coletividade, serviços sociais e serviços pessoais)

0,190 0,392 0 1

Dimensão da empresa dim_emp Logaritmo do número de

trabalhadores ao serviço da empresa 4,462 2,592 0 9,998

Natureza Jurídica da empresa

Sociedade por quotas Dummy (1 se Sociedade por quotas) 0,372 0,483 0 1

Sociedade Anónima

Dummy (1 se Sociedade Anónima) 0,365 0,481 0 1

Empresa Pública Dummy (1 se Empresa Pública) 0,019 0,137 0 1

Empresário em nome individual

Dummy (1 se Empresário em nome individual) 0,033 0,178 0 1

Outras Naturezas Jurídicas

Dummy (1 se Outras Naturezas Jurídicas) 0,211 0,408 0 1

Localização

Norte Dummy (1 se Norte) 0,347 0,476 0 1

Centro Dummy (1 se Centro) 0,170 0,375 0 1

Lisboa Dummy (1 se Lisboa) 0,395 0,489 0 1

Alentejo Dummy (1 se Alentejo) 0,043 0,203 0 1

Algarve Dummy (1 se Algarve) 0,027 0,163 0 1

Açores Dummy (1 se Açores) 0,001 0,032 0 1

Madeira Dummy (1 se Madeira) 0,018 0,132 0 1

Estrangeiro Dummy (1 se Estrangeiro) 0,000 0,003 0 1

Área Metropolitana metropolitana Dummy (1 se Área Metropolitana) 0,559 0,496 0 1

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS) e cálculos próprios.

Page 44: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

36

5.3. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal

Com o objetivo de avaliar o impacto das variáveis relacionadas com o indivíduo,

empresa/ posto de trabalho e localização na probabilidade de um trabalhador vir a auferir

um baixo salário, foram estimados diferentes modelos logit7 , procurando com estas

diferentes especificações captar a sensibilidade do modelo a diferentes definições de

limiares de pobreza, a duas definições de rendimento (regular vs. total), bem como a

diferentes variáveis regionais (áreas metropolitanas vs. NUTS II).

Para cada um dos dois anos em análise8 (1992 e 2012) foram especificados dois

modelos de regressão logit, um contendo como definição de rendimento, o rendimento

total, e outro tendo por definição o rendimento regular. Para além destas duas variantes

do modelo, foram ainda estimados para cada um dos limiares de baixos salários avaliados

(2/3 da mediana de rendimento total e regular; 50% da média de rendimento total e

regular) dois modelos de regressão que se distinguem por considerar diferentes variáveis

espaciais. Num dos casos considera-se uma variável dummy que assume o valor 1 quando

a empresa na qual o trabalhador se encontra está localizada numa área metropolitana

(áreas metropolitanas do Porto e Lisboa), e outra onde se considera uma variável dummy

para cada uma das NUTS II. No total, foram estimados 8 modelos de regressão para cada

ano em análise, tendo-se optado, para facilidade de leitura, por incluir no texto apenas

alguns dos resultados, sendo deixados os restantes para anexo.

Na tabela 5 são apresentadas as probabilidades estimadas para o ano de 2012 tendo

em consideração as diferentes definições de limiar de pobreza de baixos salários e de

rendimento. Verifica-se que de facto o tipo de definição utilizada influencia os resultados

obtidos. Para ambos os limiares de pobreza considerados, a probabilidade de um

trabalhador vir a receber um baixo salário é aumentada quando utilizada a definição de

rendimento total. Já em termos de limiar, é o limiar 2 – 50% da média - aquele que

apresenta uma probabilidade superior.

7 Os modelos foram estimados recorrendo ao software STATA/ MP 13.0. 8 Atendendo ao facto de os resultados da estimação obtidos para o ano de 2002 não divergirem dos

obtidos para o ano de 1992, optou-se por não reportar os mesmos.

Page 45: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

37

Tabela 5. Probabilidades estimadas de um trabalhador por conta de outrem vir a

auferir um baixo salário (2012)

Definição de rendimento

Rendimento Regular Rendimento Total

Definição de

Limiar

Limiar 1

(2/3 da mediana) 6% 10,5%

Limiar 2

(50% da média) 8,2% 12,8%

Fonte: Quadros do Pessoal (GEP-MSESS) e cálculos próprios.

De seguida, na Tabela 6, apresentam-se os resultados da estimação, para o ano de

2012, do modelo logit considerando os dois limiares de pobreza definidos em função do

rendimento total - limiar 1: 2/3 da mediana do rendimento total/ hora; limiar 2: 50% da

média do rendimento total/ hora, bem como a variável dummy relativa às áreas

metropolitanas, tendo sido as especificações relativas ao rendimento regular (menos

comuns na literatura) remetidas para o Anexo 1.

Quanto aos coeficientes resultantes da estimação do modelo logit apresentados

abaixo, apenas nos poderemos pronunciar quanto ao sentido do impacto das variáveis

explicativas na probabilidade de um trabalhador vir a auferir um baixo salário. Assim, e

de forma a avaliar a magnitude do impacto de variações nas variáveis explicativas, foram

estimados os efeitos marginais produzidos pelas diferentes variáveis.

Page 46: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

38

Tabela 6: Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal (2012) (I)

Notas: * p-value < 0,1; ** p-value < 0,05; *** p-value < 0,01.

Começando por avaliar a significância das variáveis explicativas, verificamos que

nas duas estimações acima apresentadas apenas é possível encontrar uma variável não

significativa, outro_cont, que se refere a “outras situações contratuais”, sendo todas as

outras variáveis estatisticamente significativas para níveis de significância convencionais.

Em termos do sentido da influência das variáveis explicativas verificamos que o

mesmo é consistente nas duas estimações, não sendo portanto este afetado pelo nível

definido do limiar de baixos salários.

Começando por analisar as variáveis relativas às características dos trabalhadores,

a idade, tal como era expectável, influencia negativamente a probabilidade de um

trabalhador vir a auferir um baixo salário, vindo de encontro aos resultados obtidos, por

Variáveis

Variável dependente: Y=1, se o trabalhador auferir um rendimento total/ hora

inferior ou igual ao limiar de pobreza

Limiar 1 de pobreza Limiar 2 de pobreza

2/3 do rendimento total/ hora mediano 50% do rendimento total/ hora médio

Coef. Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais Coef.

Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais

Ind

ivid

ua

is

idade -0,0722*** 0,0017 -0,0058 -0,0742*** 0,0016 -0,0068

idade^2 0,0008*** 0,0000 0,0001 0,0008*** 0,0000 0,0001

mulher 1,2658*** 0,0061 0,1009 1,3038*** 0,0056 0,1203

nac_port 0,4609*** 0,0110 0,0367 0,4321*** 0,0105 0,0399

educ_desc -1,4020*** 0,0605 -0,1117 -1,4837*** 0,0569 -0,1368

1º Ciclo -0,1658*** 0,0249 -0,0132 -0,1909*** 0,0237 -0,0176

2º e 3º Ciclo -0,8146*** 0,0247 -0,0649 -0,8586*** 0,0235 -0,0792

secundario -1,7823*** 0,0255 -0,1420 -1,8386*** 0,0242 -0,1696

pos_secundar -2,2147*** 0,0571 -0,1765 -2,2724*** 0,0524 -0,2096

ens_superior -3,3227*** 0,0289 -0,2648 -3,4281*** 0,0273 -0,3162

Em

pre

sa/

Po

sto

de

tra

balh

o

antig -0,0792*** 0,0011 -0,0063 -0,0797*** 0,0010 -0,0074

antig2 0,0010*** 0,0000 0,0001 0,0010*** 0,0000 0,0001

cont_perm 0,0455*** 0,0070 0,0036 0,0181*** 0,0065 0,0017

outro_cont 0,0218 0,0254 0,0017 0,0202 0,0241 0,0019

cae1 -0,5045*** 0,0190 -0,0402 -0,5757*** 0,0179 -0,0531

cae2 -1,5151*** 0,0855 -0,1207 -1,3632*** 0,0697 -0,1257

cae4 -1,6007*** 0,0432 -0,1275 -1,3612*** 0,0340 -0,1255

cae5 -0,9497*** 0,0168 -0,0757 -1,0692*** 0,0155 -0,0986

cae6 -0,7356*** 0,0106 -0,0586 -0,8064*** 0,0098 -0,0744

cae7 -0,2821*** 0,0080 -0,0225 -0,3420*** 0,0074 -0,0315

cae8 -0,2423*** 0,0107 -0,0193 -0,3567*** 0,0100 -0,0329

cae9 -0,5771*** 0,0095 -0,0460 -0,6573*** 0,0089 -0,0606

dim_emp -0,2033*** 0,0015 -0,0162 -0,1935*** 0,0014 -0,0178

squotas -0,1159*** 0,0073 -0,0092 -0,1193*** 0,0069 -0,0110

socanon -0,4242*** 0,0101 -0,0338 -0,4411*** 0,0093 -0,0407

empublic -3,2078*** 0,1514 -0,2556 -2,9853*** 0,1186 -0,2753

Espaciais metropolitana -0,0293*** 0,0061 -0,0023 -0,0866*** 0,0057 -0,0080

_constante 1,5426*** 0,0421 1,9689*** 0,0396

Pseudo R2 0,1960 0,2066

LR 220.385,27 265.031,30

Prob (LR) 0,0000 0,0000

Nº de Observações 1.673.707 1.673.707

Page 47: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

39

exemplo, em Llorente e Perez (2007), sendo que, quanto maior a idade menor a

probabilidade de o trabalhador vir a auferir um baixo salário. Este resultado vem de

encontro ao facto de o perfil de ganhos provenientes do trabalho ser tendencialmente

côncavo, havendo tipicamente um aumento dos rendimentos a taxas decrescentes à

medida que a idade avança, já que os investimentos em capital humano, que se traduzem

em maior produtividade, são realizados maioritariamente pelos mais jovens que só vêm

a usufruir dos rendimentos daí provenientes anos mais tarde (Becker, 1962; Ben-Porath,

1967).

As diferenças salariais de género continuam a ser uma realidade nos países

industrializados, apesar de se ter vindo a verificar uma atenuação das mesmas, já que, por

exemplo, o nível de qualificação das mulheres tem vindo a igualar-se ao dos homens

(Blau e Kahn, 1996). No entanto, esta diferenciação continua a sentir-se de forma mais

acentuada, segundo Huffman (2004), nos empregos com maior valor de remuneração

esperado. À semelhança de estudos como Barros et al. (2005), na estimação efetuada,

verifica-se que o facto de se ser mulher continua a contribuir para o aumento da

probabilidade de um trabalhador vir a auferir um baixo salário.

Já quanto às variáveis relativas à escolaridade, verificamos que estas apresentam

um impacto negativo na probabilidade de os trabalhadores virem a auferir um baixo

salário, constatando-se que um maior nível de escolaridade permitirá aos trabalhadores

escapar de uma situação em que auferem um baixo salário, resultado igual ao obtido, por

exemplo, por Barros et al. (2005). De facto, e segundo os resultados do modelo para um

limiar de baixo salário definido em 2/3 da mediana do salário total/ hora, um trabalhador

que possua um grau de escolaridade ao nível do ensino superior reduz a probabilidade de

vir a receber um baixo salário em 26,5 pontos percentuais enquanto um trabalhador que

apenas possua educação ao nível do ensino básico apenas vê essa probabilidade reduzida

em 3,5 pontos percentuais, quando comparado com um trabalhador que não possua

escolaridade.

Relativamente às características do posto de trabalho, verifica-se que a antiguidade

influencia negativamente a probabilidade de um trabalhador vir a receber um baixo

salário, ou seja, quanto maior a antiguidade (proxy do investimento em capital humano

específico) maior a propensão para o ganho de salários mais elevados.

Page 48: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

40

No que diz respeito ao tipo de contrato, verifica-se que o efeito da variável contrato

sem termo é dependente da definição de rendimento aplicada, sendo que, para o ano de

2012, a mesma tem um impacto consistentemente negativo na probabilidade de um

trabalhador vir a receber um baixo salário quando o modelo é estimado tendo em conta o

conceito de rendimento regular/ hora (Anexo 1), tendo no entanto um impacto contrário

quando aplicado o conceito de rendimento total/ hora. Esta situação poderá ficar a dever-

se à componente mais volátil de rendimento obtidos aquando de um contrato a termo que

só será tida em conta com a definição de rendimento total.

No que se refere à dimensão da empresa, quanto maior for esta menor a

probabilidade do trabalhador vir a receber um baixo salário (redução de 1,6 pontos

percentuais por cada trabalhador adicional), sendo que os setores de atividade que mais

reduzem esta probabilidade, são a CAE 2 (Indústria extrativas) e CAE 4 (Eletricidade,

gás e água), com uma redução de 12,07 e 12,75 pontos percentuais, respetivamente. É de

realçar ainda o facto de serem as empresas públicas, quando analisada a natureza jurídica

das empresas, as que mais reduzem a probabilidade de um trabalhador vir a receber um

baixo salário, sendo que um trabalhador por conta de uma empresa pública vê a sua

probabilidade de vir a receber um baixo salário reduzida em 25,56 pontos percentuais.

Quanto à localização das empresas verifica-se que a presença destas nas áreas

metropolitanas leva a uma redução da probabilidade de o trabalhador vir a receber um

baixo salário. Este resultado já seria espectável, dados os resultados obtidos em estudos

anteriores, por exemplo, Glaeser e Mare (2001) e Yankow (2006), que apontavam para a

existência de um prémio salarial associado à localização das empresas nas cidades.

Assim, e segundo os valores obtidos, o facto de uma empresa se localizar numa área

metropolitana leva a que haja uma redução na probabilidade do trabalhador vir a receber

um baixo em 2,9 pontos percentuais, quando analisado o modelo para o Limiar 1 de

pobreza. De realçar, porém, que este resultado não é transversal a todas as estimações

efectuadas. De facto, quando realizadas as estimações de acordo com o rendimento

regular/ hora para os limiares de 2/3 da mediana e 50% da média de rendimentos, os

resultados vêm em sentido oposto, o que não era de todo expectável tendo em conta a

literatura revista (Anexo 1). Ainda, e para o ano de 1992 será possível concluir que

contráriamente ao que acontece no ano de 2012, a inflência das áreas metropolitanas não

é sensível à definição de rendimento utilizada, apresentando a variável metropolitana

Page 49: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

41

uma influência negativa quer se utilize a definição de rendimento total/ hora (Anexo 2)

quer a de rendimento regular/ hora (Anexo 3).

A tabela que se segue (Tabela 6) apresenta os resultados da estimação do modelo

logit, com base nos rendimentos totais/ hora, mas com uma variável espacial diferente,

deixando de ser postas em evidência as áreas metropolitanas, passando a evidienciarem-

se as NUTS II. O objetivo será identificar se existem regiões que propiciem mais a

existência de baixos salários, já que após a realização do teste de Kruskal-Wallis (Tabela

2) se concluiu que existiam evidências, para o ano de 2012, de diferenças regionais quanto

à incidência da pobreza de baixos salários. Nos Anexo 4, 5 e 6, estimaram-se modelos

logit equivalentes considerando, contudo, os limiares definidos em termos de

rendimentos regulares por hora para o ano de 2012 (Anexo 4) e 1992 (Anexo 6), e os

rendimentos totais por hora para o ano de 1992 (Anexo 5).

Os resultados obtidos da estimação do modelo com as NUTS II (Tabela 6) quanto

às variáveis explicativas em comum com o modelo apresentado acima, com as àreas

metropolitanas (Tabela 5), para o ano de 2012, são bastante semelhantes, sendo a

influência feita no mesmo sentido.

Pela análise da estimação conclui-se que a localização das empresas nas diferentes

regiões, classificadas de acordo com as NUTS II, é uma variável significativamente

explicativa da incidência de baixos salários, vindo de acordo aos resultados obtidos por

Pereira (2010), que constatava que o risco de pobreza variava significativamente ao longo

das regiões portuguesas (Alves, 2009).

A influência das NUTS II sobre a probabilidade de um trabalhador por conta de

outrém vir a receber um baixo salário alterou-se de 1992 para 2012. Se o facto de uma

empresa em 1992 se localizar na região da Madeira influenciava positivamente a

probabilidade de um trabalhador vir a receber um baixo salário, quando comparada a uma

empresa localizada na região Norte, em 2012 a mesma deixou de o influenciar, passando

a ser unicamente a região Açores a fazê-lo, quando analisada a influência para a definição

de rendimentos totais por hora.

No entanto, os efeitos das NUTS II nos anos em análise não são estáveis, sendo o

efeito destas sobretudo dependente da definição de rendimento utilizada, sendo que com

a definição de rendimento regular por hora existe um acréscimo de regiões que face à

região Norte aumentam a probabilidade de um trabalhador vir a receber um baixo salário.

Page 50: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

42

Tabela 7. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal (2012) (II)

Notas: * p-value < 0,1; ** p-value < 0,05; *** p-value < 0,01;

Va

riá

vei

s Variável dependente: Y=1, se o trabalhador auferir um rendimento total/ hora

inferior ou igual ao limiar de pobreza

Limiar 1 de pobreza Limiar 2 de pobreza

2/3 do rendimento total/ hora mediano 50% do rendimento total/ hora médio

Coef. Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais Coef.

Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais

Ind

ivid

ua

is

idade -0,0726*** 0,0017 -0,0058 -0,0745*** 0,001631 -0,0068

idade^2 0,0008*** 2,15E-05 0,0001 0,0008*** 2,01E-05 0,0001

mulher 1,2812*** 0,0061 0,1016 1,3201*** 0,005628 0,1211

nac_port 0,5342*** 0,0112 0,0424 0,5153*** 0,010654 0,0473

educ_desc -1,3964*** 0,0606 -0,1108 -1,4772*** 0,057028 -0,1355

1º Ciclo -0,1776*** 0,025 -0,0141 -0,2029*** 0,023789 -0,0186

2º e 3º Ciclo -0,8221*** 0,0248 -0,0652 -0,8660*** 0,023607 -0,0794

secundario -1,7824*** 0,0256 -0,1413 -1,8366*** 0,024293 -0,1685

pos_secundar -2,2213*** 0,0573 -0,1761 -2,2768*** 0,052519 -0,2088

ens_superior -3,3288*** 0,0290 -0,2639 -3,4335*** 0,027346 -0,3150

Em

pre

sa/

Po

sto

de

tra

balh

o

antig -0,0761*** 0,0011 -0,0060 -0,0769*** 0,001018 -0,0071

antig2 0,0009*** 3,65E-05 0,0001 0,0010*** 3,33E-05 0,0001

cont_perm 0,0132* 0,0070 0,0010 -0,0142** 0,006554 -0,0013

outro_cont -0,0156 0,0255 -0,0012 -0,0188 0,024218 -0,0017

cae1 -0,2917*** 0,0195 -0,0231 -0,3559*** 0,018351 -0,0326

cae2 -1,4153*** 0,0856 -0,1122 -1,2533*** 0,069847 -0,1150

cae4 -1,4844*** 0,0433 -0,1177 -1,2342*** 0,034164 -0,1132

cae5 -0,8875*** 0,0168 -0,0704 -1,0033*** 0,015587 -0,0920

cae6 -0,6350*** 0,0108 -0,0503 -0,7024*** 0,009931 -0,0644

cae7 -0,1819*** 0,0083 -0,0144 -0,2372*** 0,007652 -0,0218

cae8 -0,1514*** 0,0110 -0,0120 -0,2578*** 0,010307 -0,0236

cae9 -0,5380*** 0,0096 -0,0426 -0,6092*** 0,009033 0,0559

dim_emp -0,1983*** 0,0015 -0,0157 -0,1873*** 0,001391 -0,0172

squotas -0,1108*** 0,0073 -0,0088 -0,1155*** 0,006908 -0,0106

socanon -0,4298*** 0,0101 -0,0341 -0,4507*** 0,009312 -0,0413

empublic -3,1549*** 0,1514 -0,2501 -2,9460*** 0,118594 -0,2702

Esp

aci

ais

algarve -0,8151*** 0,0186 -0,0646 -0,8157*** 0,017104 -0,0748

centro -0,1391*** 0,0075 -0,0110 -0,1489*** 0,006925 -0,0137

lisboa -0,2320*** 0,0077 -0,0184 -0,3091*** 0,007144 -0,0284

alentejo -0,6043*** 0,0146 -0,0479 -0,5841*** 0,013274 -0,0536

açores 0,4015*** 0,0824 0,0318 0,4376*** 0,077533 0,0401

madeira -0,6702*** 0,0248 -0,0531 -0,5618*** 0,021918 -0,0515

_constante 1,5914*** 0,0423 2,0043*** 0,039804

Pseudo R2 0,1999 0,2106

LR 224815,46 270.148,65

Prob (LR) 0,0000 0,0000

Nº de observações 1.673.707 1.673.707

Page 51: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

43

Conclusões e desenvolvimentos futuros

De acordo com Mabughi e Selim (2006), a pobreza pode ser entendida como a

privação de uma vida de qualidade, existindo diferentes conceitos e medidas. Em

particular, a pobreza de baixos salários foca-se no trabalhador e define-se como uma

condição em que os rendimentos provenientes do trabalho são inferiores a um limiar pré-

definido.

Esta dissertação tinha como objetivos (i) avaliar a incidência da pobreza de baixos

salários em Portugal ao longo das duas últimas décadas e a sua distribuição regional (ii)

identificar e analisar os principais determinantes da incidência de baixos salários em

Portugal, em particular no que diz respeito às características dos trabalhadores, das

empresas/ posto de trabalho e da região onde a empresa se localiza.

Para atingir estes objetivos, desenvolveu-se, numa primeira fase, um trabalho de

revisão de literatura em que se contextualizou o conceito de pobreza de baixos salários.

Determinaram-se as principais variáveis explicativas do fenómeno de pobreza de baixos

salários, que se encontram divididas em 3 categorias relacionadas com os trabalhadores,

as empresas/ posto de trabalho e com a localização das empresas. A análise de estudos

empíricos sobre esta temática revelou ainda que não existe uma posição unanime quanto

ao limiar de baixos salários, sendo os mais frequentes de 2/3 da mediana de salários, e de

50% da média de salários.

Em seguida, o trabalho empírico desenvolveu-se a partir da base de microdados dos

Quadros de Pessoal (GEP-MSESS), recolhendo-se a informação sobre os trabalhadores

por conta de outrem e empresas para os anos de 1992 a 2012, e construindo os dois

limiares de baixos salários acima identificados.

A análise da incidência da pobreza revelou que, em Portugal, a percentagem de

trabalhadores por conta de outrem a auferir um baixo salário diminuiu ao longo das duas

últimas décadas, passando de 15,3% em 1992 para 10,5% em 2012, quando considerado

o limiar 2/3 da mediana da remuneração bruta horária. Em termos da distribuição dos

trabalhadores que auferem um rendimento total horário inferior ao limiar 2/3 da mediana

da remuneração bruta horária em 2012, constatou-se que estes trabalhadores são na sua

maioria mulheres, têm entre 36 e 45 anos, têm habilitações ao nível do ensino básico ou

menos e trabalham essencialmente nas Indústrias transformadoras e Transportes,

armazenagem e comunicações. Em termos regionais, verificou-se ainda que a incidência

Page 52: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

44

de baixos salários em 1992 era mais elevada nas regiões de Alentejo, Açores e Madeira,

situando-se apenas a região de Lisboa abaixo da média nacional, enquanto em 2012 as

regiões que apresentavam uma maior taxa de incidência eram as regiões do Norte, Centro

e Açores.

Por fim, e tendo como objetivo avaliar os principais fatores explicativos da

incidência de baixos salários e com referência às principais metodologias utilizadas em

estudos semelhantes, recorreu-se à estimação de um modelo logit. Para cada um dos anos

definidos (1992 e 2012) construíram-se dois modelos considerando, em alternativa, os

dois limiares de baixos salários mais utilizados na literatura: 2/3 da mediana de salários,

e 50% da média de salários. Também se testaram dois conceitos de rendimento do

trabalho, um em que todas as componentes dos rendimentos do trabalho/ hora foram

levados em consideração (rendimento total/ hora), e outra em que apenas foram

consideradas a remuneração base e as prestações regulares (rendimento regular/ hora).

Por fim, consideraram-se ainda duas variáveis espaciais: localização ou não da empresa

empregadora numa área metropolitana e, em alternativa, a região NUTS II em que a

empresa se inseria. Foram assim ensaiadas no total 16 regressões, com uma amostra de

1.662.079 observações para o ano de 1992, e 1.674.269 observações para o ano de 2012.

Os resultados obtidos dos ensaios realizados são bastante consistentes, com

exceção do impacto das variáveis relacionadas com o tipo de contrato detido pelo

trabalhador, as CAE’s e as variáveis espaciais.

Atendendo às características dos trabalhadores de baixos salários, os resultados

são consistentes com os estudos realizados anteriormente, verificando-se que são os

jovens, mulheres e trabalhadores com baixa escolaridade os grupos mais afetados pelos

baixos salários. Em particular, os resultados mostraram que ter o ensino secundário ou

pós-secundário (ensino superior) reduz em mais de 10 p.p. (25 p. p.) a probabilidade de

auferir um baixo salário quando comparado com um indivíduo com características

similares mas com uma escolaridade completa inferior ao 1º ciclo do ensino básico. Em

relação às características do posto de trabalho, constata-se que há medida que a

antiguidade vai aumentando, a probabilidade de se vir a receber um baixo salário vai

diminuindo, consequência dos investimentos efetuados pelas empresas em capital

específico.

Page 53: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

45

Os resultados revelaram ainda que, relativamente às características da empresa,

são as de menor dimensão aquelas que propiciam o pagamento de salários mais baixos,

sendo também o risco de pobreza mais elevado quando o trabalhador se emprega numa

empresa da indústria transformadora.

No que se refere às variáveis espaciais, os resultados não são muito consistentes,

contatando-se que a influência da localização da empresa na probabilidade dos

trabalhadores virem a receber um baixo salário depende das definições do rendimento do

trabalho utilizadas. Em particular, de acordo com o limiar de baixos salários mais

recorrentemente usado na literatura, de 2/3 do salário mediano, tendo como definição de

rendimento o rendimento total por hora, o facto de uma empresa se localizar numa área

metropolitana reduz a probabilidade de o trabalhador vir a receber um baixo salário, vindo

de encontro à literatura revista. No entanto, este resultado não se verifica quando para o

mesmo limiar se utiliza como definição de rendimento o rendimento regular/ hora, nos

dados para o ano de 2012. De igual forma, quando se avalia a influência das NUTS II,

dependendo da definição de rendimento utilizada a influência das regiões vai variando,

sendo que para 2012, utilizando o limiar de 2/3 do rendimento mediano, quando aplicada

uma definição de rendimento total, verificamos que o facto de uma empresa se localizar

nos Açores influencia mais a probabilidade de vir a receber um baixo salário. No entanto,

quando utilizada a definição de rendimento regular por hora verificamos que são as

regiões Centro e Lisboa as que mais influenciam.

Tendo os resultados referentes à localização das empresas empregadoras não sido

consistentes com as diferentes especificações adotadas, seria interessante numa

investigação futura tentar compreender melhor o fenómeno e identificar os trabalhadores

que se encontram entre os diferentes limiares. Outro tópico de investigação que poderia

ser seguido prende-se com a questão da duração da situação de baixos salários, tentando

criar um forma de avaliação mais dinâmica dos trabalhadores de baixos salários por forma

a acompanhar a sua evolução e tempo de permanência abaixo do limiar estabelecido.

Page 54: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

46

Referências bibliográficas

Airio, I., S. Kuivalainen, e M. Niemelä (2008), "‘Much ado about nothing?’Institutional

framework and empirical findings on the working poor phenomenon in Finland

from 1995 to 2005." in Andress, H. e H. Lohmann (2008), capítulo 7.

Alves, N. (2009), “New facts about poverty in Portugal”, Economic Bulletin, Banco de

Portugal, Spring: 117-143.

Akoum, I. (2008), "Globalization, growth, and poverty: The missing link", International

Journal of Social Economics, 35(4): 226-238.

Andress, H. e H. Lohmann (2008), “The Working Poor in Europe. Employment, Poverty

and Globalization”, Cheltenham: Edward Elgar.

Banco Mundial (2009), “Handbook on poverty and inequality”, World Bank

Publications.

Barros, C., I. Proenca, I., e J. Vieira (2005), “Low-wage employment in Portugal: A

mixed logit approach”, IZA Discussion Paper No. 1667.

Becker, G. (1962), “Investment in human capital: A theoretical analysis”, The Journal of

Political Economy, 70(5): 9-49.

Ben-Porath, Y. (1967), “The production of human capital and the life cycle of earnings”,

The Journal of Political Economy, 75: 352-365.

Berner, M., T. Ozer, e S. Paynter (2008), “A Portrait of Hunger, the Social Safety Net,

and the Working Poor”, Policy Studies Journal 36(3): 403-20.

Beverly, S. (2001), "Material hardship in the United States: Evidence from the survey of

income and program participation", Social Work Research no. 25(3): 143-151.

Bird, G. (2004), “Growth, Poverty and the IMF”, Journal of International Development,

16(4): 621-636.

Blank, R. (2005), "Poverty, policy, and place: How poverty and policies to alleviate

poverty are shaped by local characteristics", International Regional Science, 28(4):

441-464.

Blau, F., e L. Kahn (1996), "Wage structure and gender earnings differentials: An

international comparison", Economica, 63(250): S29-S62.

Brady, D. (2003), "Rethinking the sociological measurement of poverty", Social Forces

81(3): 715-751.

Page 55: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

47

Brown, S., J. Sessions, e D. Watson (2007), “The Contribution of Hour Constraints to

Working Poverty in Britain”, Journal of Population Economics 20(2): 445-63.

Cardoso, A., R. Sousa, V. Castro, e P. Ferreira (2000), “O perfil do trabalhador e da

empresa de baixos salários em Portugal”, Economia, 24: 53-66.

Comissão Europeia (2008), “Poverty and Social Exclusion in Rural Areas: Final Study

Report”, in European Communities, pp. 1-187

(file:///C:/Users/User/Downloads/rural_poverty_en%20(1).pdf, acedido em

20.12.2015).

Cormier, D e C. Craypo (2000), “The Working Poor and the Working of American

Labour Markets”, Cambridge Journal of Economics 24(6): 691-708.

Cheung, K., e K. Chou (2015), "Working Poor in Hong Kong", Social Indicators

Research, 129: 317.

Crettaz, E. (2013), "A state-of-the-art review of working poverty in advanced economies:

Theoretical models, measurement issues and risk groups", Journal of European

Social Policy,. 23(4): 347-362.

Crettaz, E. e G. Bonoli (2010), "Why are some workers poor? The mechanisms that

produce working poverty in a comparative perspective", Working Papers on the

Reconciliation of Work and Welfare in Europe, n. 12, October.

DeFina, R. (2007), “A comparison of poverty trends and policy impacts for working

families using different poverty indexes”, Journal of Economic and Social

Measurement, 32(2-3): 129-147.

Eurofound (2010), “Working poor in Europe. European Foundation for the Improvement

of Living and Working Conditions”, Dublin

(http://www.eurofound.europa.eu/publications/report/2010/working-

conditions/working-poor-in-europe, acedido em 20 de dezembro de 2015).

EUROSTAT (2013), “Low-wage earners as a proportion of all employees (excluding

apprentices) by sex”,

http://appsso.eurostat.ec.europa.eu/nui/submitViewTableAction.do, 21 de

Setembro 2013.

Fields, G. (1980), “Poverty, inequality, development”, Cambridge, Cambridge University

Press.

Page 56: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

48

Glaeser, E. e Mare, D. (2001), “Cities and skills”, Journal of Labor Economics, 19(2):

316-342.

Greene, W. (1999), “Econometric Analysis”, 4th edition, Prentice Hall.

Gustafsson, B. (1995), "Assessing poverty. Some reflections on the literature", Journal

of population economics, 8(4): 361-381.

Hanson, G. (1997), “Increasing returns, trade and the regional structure of wages”, The

Economic Journal, 107(440): 113-133.

Herman, E. (2014), "Working poverty in the European union and its main determinants:

An Empirical Analysis", Engineering Economics, 25(4): 427-436.

Huffman, M. (2004), "Gender inequality across local wage hierarchies", Work and

Occupations, 31(3): 323-344.

INE (2010), “Sobre a pobreza, as desigualdades e a privação material em Portugal”

(file:///C:/Users/User/Downloads/Pobreza_2010%20(1).pdf, acedido em

15.12.2015).

Jensen, L., J. Findeis, W. Hsu, e J. Schachter (1999), “Slipping into and out of

Underemployment: Another Disadvantage for Nonmetropolitan Workers?”, Rural

Sociology, 64: 417-38.

Lagarenne, C. e N. Legendre (2000), "Les travailleurs pauvres en France: facteurs

individuels et familiaux", Économie et statistique, 335(1): 3-25.

Llorente, R. e J. Pérez (2007), "Low wage work in a high employment growth economy:

Spain, 1994-2004”, Investigacion Economica, 66 (261): 119-145.

Lohmann, H. (2009), "Welfare states, labour market institutions and the working poor: A

comparative analysis of 20 European countries", European Sociological Review,

25(4): 489-504.

Lomasky, L. e K. Swan (2009), "Wealth and poverty in the liberal tradition", Independent

Review, 13(4): 493-510.

Lucifora, C., A. McKnight e W. Salverda (2005), "Low-wage employment in Europe: a

review of the evidence", Socio-economic review, 3(2): 259-292.

Mabughi, N. e T. Selim (2006), "Poverty as social deprivation: A survey", Review of

Social Economy, 64(2): 181-204.

Marx, I. e G. Verbist (1998), “Low-Paid Work and Poverty: A Cross-Country

Perspective”, em Bazen, S., Gregory, M. and Salverda, W. (eds) Low Wage

Page 57: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

49

Employment in Europe. Cheltenham, UK and Northampton, MA: Edward Elgar

Publishing.(http://www.uva-aias.net/uploaded_files/regular/low-

wage_chapter4.pdf, acedido em 03.01.2016).

Nolan, B. (1998), “Low Pay, the Earnings Distribution and Poverty in Ireland, 1987-

1994”, in S. Bazen, M. Gregory and W. Salverda (eds) Low Wage Employment in

Europe. Cheltenham: Edward Elgar Publisher. (http://www.uva-

aias.net/uploaded_files/regular/low-wage_chapter5.pdf, acedido em 03.01.2016).

Nolan, B. e I. Marx (2000), “Low Pay and Household Poverty”, in M. Gregory, W.

Salverda and S. Bazen (eds) Labour Market Inequalities: Problems and Policies of

Low-Wage Employment in International Perspective. New York: Oxford

University Press. (http://www.lisdatacenter.org/wps/liswps/216.pdf, acedido em

03.01.2016).

Partridge, M. e D. Rickman (2008), “Distance from urban agglomeration economies and

rural poverty”, Journal of Regional Science, 48(2): 285-310.

Pena-Casas, R. e M. Latta (2004), "Working poor in the European Union", European

Foundacion for the Improvement of Living and Working Condicions, Dublin.

Pereira, E. (2010), "Contextos territoriais diferentes fazem a diferença no risco de pobreza

em Portugal?", Sociedade e Trabalho, 41: 111.

Ponthieux, S. (2004), "Les travailleurs pauvres: Identification d'une catégorie", Travail,

Genre et Societe, 11(1): 93-107.

Rodrigues, C., R. Figueiras e V. Junqueira (2016), “Introdução ao estudo - Desigualdade

do rendimento e pobreza em Portugal, 2009-2014”, Fundação Francisco Manuel

dos Santos. (https://www.ffms.pt/FileDownload/79783fb3-9b9f-4ba1-9ee4-

473b82834d0c/introducao-ao-estudo-desigualdade-do-rendimento-e-

pobreza-em-portugal, acedido em 22.09.2016)

Sen, A. (1979), "Issues in the Measurement of Poverty", The Scandinavian Journal of

Economics, 81: 285-307.

Slack, T. (2010), “Working Poverty across the Metro‐Nonmetro Divide: A Quarter

Century in Perspective, 1979–2003.” Rural sociology, 75(3): 363-387.

Townsend, P. (1979), Poverty in the United Kingdom, London, Allen Lane and Penguin

Books.

Page 58: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

50

Vieira, J. (2005), “Low-wage mobility in the Portuguese labour market”, Portuguese

Economic Journal, 4: 1-14.

Weber, B., L. Jensen, K. Miller, J. Mosley, e M. Fisher (2005), "A critical review of rural

poverty literature: Is there truly a rural effect?" International Regional Science

Review, 28(4): 381-414.

Yankow, J. (2006), “Why Do Cities Pay More? An Empirical Examination of Some

Competing Theories of the Urban Wage Premium”,. Journal of Urban Economics,

60(2): 139-161.

Page 59: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

51

Anexos

Anexo 1. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento Regular/

hora, Áreas Metropolitanas (2012)

Notas: * p-value < 0,1; ** p-value < 0,05; *** p-value < 0,01;

Variáveis

Variável dependente: Y=1, se o trabalhador auferir um rendimento regular/ hora

inferior ou igual ao limiar de pobreza

Limiar 1 de pobreza Limiar 2 de pobreza

2/3 do rendimento regular/ hora

mediano

50% do rendimento regular/ hora

médio

Coef. Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais Coef.

Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais

Ind

ivid

ua

is

idade -0,0839*** 0,0021 -0,0043 -0,0897*** 0,0018 -0,0059

idade^2 0,0010*** 2,58E-05 0,0001 0,0010*** 2,29E-05 0,0001

mulher 0,7613*** 0,0073 0,0391 0,9705*** 0,0066 0,0641

nac_port 0,4720*** 0,0122 0,0242 0,5572*** 0,0109 0,0368

educ_desc -1,0356*** 0,0689 -0,0532 -1,1911*** 0,0611 -0,0786

1º Ciclo -0,1926*** 0,0305 -0,0099 -0,1626*** 0,0268 -0,0107

2º e 3º Ciclo -0,6216*** 0,0301 -0,0319 -0,7656*** 0,0265 -0,0505

secundario -1,3064*** 0,0310 -0,0671 -1,5686*** 0,0273 -0,1035

pos_secundar -1,5407*** 0,0633 -0,0791 -1,9842*** 0,0593 -0,1310

ens_superior -2,5474*** 0,0343 -0,1308 -2,9982*** 0,0306 -0,1980

Em

pre

sa/

Po

sto

de

tra

balh

o

antig -0,0928*** 0,0015 -0,0048 -0,1070*** 0,0013 -0,0071

antig2 0,0011*** 5,57E-05 0,0001 0,0013*** 4,75E-05 0,0001

cont_perm -0,1826*** 0,0083 -0,0094 -0,0735*** 0,0074 -0,0049

outro_cont -0,1053*** 0,0290 -0,0054 -0,1009*** 0,0270 -0,0067

cae1 0,6923*** 0,0223 0,0355 0,4637*** 0,0201 0,0306

cae2 -0,3770*** 0,1005 -0,0194 -0,6285*** 0,0908 -0,0415

cae4 -0,2852*** 0,0448 -0,0146 0,0289 0,0317 0,0019

cae5 0,2562*** 0,0195 0,0132 -0,0724*** 0,0180 -0,0048

cae6 0,2611*** 0,0144 0,0134 0,0357*** 0,0126 0,0024

cae7 0,9404*** 0,0115 0,0483 0,6866*** 0,0097 0,0453

cae8 0,2376*** 0,0158 0,0122 0,5652*** 0,0122 0,0373

cae9 0,4492*** 0,0133 0,0231 0,2494*** 0,0113 0,0165

dim_emp -0,1892*** 0,0018 -0,0097 -0,1332*** 0,0015 -0,0088

squotas -0,0947*** 0,0088 -0,0049 -0,0905*** 0,0079 -0,0060

socanon -0,3998*** 0,0128 -0,0205 -0,5074*** 0,0110 -0,033

empublic -4,7410*** 0,4085 -0,2434 -4,3629*** 0,2676 -0,2880

Espaciais metropolitana 0,2355*** 0,0077 0,0121 0,0893*** 0,0068 0,0059

_constante 0,1915*** 0,0509 0,7518*** 0,0449

Pseudo R2 0,1591 0,1737

LR 121.058,00 164.242,22

Prob (LR) 0,0000 0,0000

Nº de Observações 1.673.707 1.673.707

Page 60: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

52

Anexo 2. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento Total/ hora,

Áreas Metropolitanas (1992)

Notas: * p-value < 0,1; ** p-value < 0,05; *** p-value < 0,01;

Variáveis

Variável dependente: Y=1, se o trabalhador auferir um rendimento total/ hora

inferior ou igual ao limiar de pobreza

Limiar 1 de pobreza Limiar 2 de pobreza

2/3 do rendimento total/ hora mediano 50% do rendimento total/ hora médio

Coef. Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais Coef.

Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais

Ind

ivid

ua

is

idade -0,2564 0,0014 -0,0242 -0,2538 0,0013 -0,0257

idade^2 0,0030 0,00001 0,0004 0,0029 1,75E-05 0,0003

mulher 1,1301 0,0055 -0,1068 1,1978 0,0054 0,1214

educ_desc 0,4556 0,0147 0,0431 0,4382 0,0143 0,0444

1º Ciclo 0,6748 0,0079 0,0638 0,6978 0,0076 0,0707

2º e 3º Ciclo 0,3834 0,0088 0,0362 0,3945 0,0085 0,0400

secundario -0,9310 0,0143 -0,0880 -0,9593 0,0137 -0,0972

pos_secundar -2,1491 0,1016 -0,2032 -2,2142 0,0971 -0,02244

ens_superior -1,8089 0,0581 -0,1710 -1,8835 0,0559 -0,1909

Em

pre

sa/

Po

sto

de

tra

balh

o

antig -0,0705 0,0011 -0,0067 -0,0660 0,0010 -0,0067

antig2 0,0012 3,94E-05 0,0001 0,0011 3,72E-05 0,0001

cae1 0,6663 0,0146 0,0630 0,6286 0,0145 0,0637

cae2 -0,8407 0,0373 -0,0795 -0,8406 0,0351 -0,0852

cae4 -3,3743 0,4526 -0,3190 -3,6112 0,4523 -0,3660

cae5 -0,5968 0,0100 -0,0564 -0,6319 0,0097 -0,0640

cae6 -0,3111 0,0068 -0,0294 -0,3915 0,0066 -0,0397

cae7 -1,4053 0,0265 -0,1329 -1,4977 0,0254 -0,1518

cae8 -1,5552 0,0211 -0,1470 -1,6140 0,0201 -0,1636

cae9 -0,6667 0,0102 -0,0630 -0,7205 0,0099 -0,0730

dim_emp -0,4317 0,0020 -0,0408 -0,4249 0,0019 -0,0431

squotas -0,4215 0,0069 -0,0399 -0,4147 0,0067 -0,0420

socanon -0,9259 0,0135 -0,0875 -0,9421 0,0127 -0,0955

empublic -0,3373 0,0890 -0,0319 -0,2943 0,0808 -0,0298

Espaciais metropolitana -0,3130 0,0052 -0,0296 -0,3230 0,0051 -0,0327

_constante 4,9505 0,0250 5,0481 0,0244

Pseudo R2 0,2877 0,2938

LR 399.481,91 436.504,46

Prob (LR) 0,0000 0,0000

Nº de Observações 1.627.540 1.627.540

Page 61: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

53

Anexo 3. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento

Regular/ hora, Áreas Metropolitanas (1992)

Variáveis

Variável dependente: Y=1, se o trabalhador auferir um rendimento regular/ hora

inferior ou igual ao limiar de pobreza

Limiar 1 de pobreza Limiar 2 de pobreza

2/3 do rendimento regular/ hora

mediano

50% do rendimento regular/ hora

médio

Coef. Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais Coef.

Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais

Ind

ivid

ua

is

idade -0,2726 0,0014 -0,0229 -0,2841 0,0015 -0,0222

idade^2 0,0032 0,00002 0,0003 0,0033 1,97E-05 0,0003

mulher 1,0493 0,0059 0,0883 0,9565 0,0061 0,0747

educ_desc 0,4435 0,0154 0,0373 0,3987 0,0160 0,0311

1º Ciclo 0,6369 0,0085 0,0536 0,6221 0,0088 0,0486

2º e 3º Ciclo 0,3681 0,0093 0,0310 0,3715 0,0097 0,0290

secundario -0,9393 0,0155 -0,0791 -0,9105 0,0160 -0,0711

pos_secundar -1,9764 0,1040 -0,1664 -1,9068 0,1062 -0,1489

ens_superior -1,7504 0,0626 -0,1473 -1,6981 0,0643 -0,1326

Em

pre

sa/

Po

sto

de

tra

balh

o

antig -0,0780 0,0012 -0,0066 -0,0905 0,0013 -0,0071

antig2 0,0014 4,19E-05 0,0001 0,0015 4,62E-05 0,0001

cae1 0,8732 0,0149 0,0735 0,9443 0,0151 0,0737

cae2 -0,8300 0,0418 -0,0699 -0,8365 0,0442 -0,0653

cae4 -3,7925 0,5806 -0,3192 -3,5802 0,5812 -0,2795

cae5 -0,5088 0,0108 -0,0428 -0,5011 0,0112 -0,0391

cae6 -0,1213 0,0072 -0,0102 -0,0348 0,0074 -0,0027

cae7 -1,2196 0,0282 -0,1027 -1,1078 0,0287 -0,0865

cae8 -1,4039 0,0228 -0,1182 -1,3093 0,0234 -0,1022

cae9 -0,5437 0,0109 -0,0458 -0,4470 0,0113 -0,0349

dim_emp -0,3942 0,0021 -0,0332 -0,4046 0,0022 -0,0316

squotas -0,4117 0,0072 -0,0347 -0,4265 0,0074 -0,0333

socanon -0,7891 0,0142 -0,0664 -0,8436 0,0152 -0,0659

empublic -0,0700 0,0831 -0,0059 -0,0223 0,0874 -0,0017

Espaciais metropolitana -0,2853 0,0056 -0,0240 -0,2417 0,0058 -0,0189

_constante 4,7950 0,0261 4,9266 0,0270

Pseudo R2 0,2717 0,2749

LR 335.576,45 319.277,86

Prob (LR) 0,0000 0,0000

Nº de Observações 1.627.540 1.627.540

Page 62: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

54

Anexo 4. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento Regular/

hora, NUTS II (2012)

Notas: * p-value < 0,1; ** p-value < 0,05; *** p-value < 0,01;

Va

riá

vei

s Variável dependente: Y=1, se o trabalhador auferir um rendimento regular/ hora

inferior ou igual ao limiar de pobreza

Limiar 1 de pobreza Limiar 2 de pobreza

2/3 do rendimento regular/ hora

mediano

50% do rendimento regular/ hora

médio

Coef. Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais Coef.

Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais

Ind

ivid

ua

is

idade -0,0844*** 0,0021 -0,0043 -0,0899*** 0,0018 -0,0059

idade^2 0,0010*** 2,59E-05 0,0001 0,0010*** 2,29E-05 0,0001

mulher 0,7667*** 0,0074 0,0392 0,9777*** 0,0066 0,0644

nac_port 0,4725*** 0,0124 0,0242 0,5713*** 0,0111 0,0376

educ_desc -1,0479*** 0,0690 -0,0537 -1,1931*** 0,0612 -0,0786

1º Ciclo -0,1959*** 0,0306 -0,0100 -0,1630*** 0,0268 -0,0107

2º e 3º Ciclo -0,6265*** 0,0302 -0,0321 -0,7667*** 0,0266 -0,0505

secundario -1,3203*** 0,0311 -0,0676 -1,5753*** 0,0274 -0,1038

pos_secundar -1,5582*** 0,0634 -0,0798 -1,9947*** 0,0594 -0,1314

ens_superior -2,5638*** 0,0344 -0,1313 -3,009*** 0,0307 -0,1982

Em

pre

sa/

Po

sto

de

tra

balh

o

antig -0,0926*** 0,0015 -0,0047 -0,1059*** 0,0013 -0,0070

antig2 0,0011*** 5,58E-05 0,0001 0,0013*** 4,77E-05 0,0001

cont_perm -0,1947*** 0,0084 -0,0100 -0,0911*** 0,0074 -0,0060

outro_cont -0,1070*** 0,0291 -0,0055 -0,1101*** 0,0271 -0,0073

cae1 0,6690*** 0,0229 0,0343 0,5169*** 0,0207 0,0340

cae2 -0,4260*** 0,1006 -0,0218 -0,6204*** 0,0908 -0,0409

cae4 -0,2906*** 0,0449 -0,0149 0,0555* 0,0319 0,0037

cae5 0,2460*** 0,0196 0,0126 -0,0603*** 0,0180 -0,0040

cae6 0,2709*** 0,0146 0,0139 0,0654*** 0,0128 0,0043

cae7 0,9439*** 0,0118 0,0484 0,7092*** 0,0099 0,0467

cae8 0,2399*** 0,0160 0,0123 0,5786*** 0,0125 0,0381

cae9 0,4301*** 0,0134 0,0220 0,2470*** 0,0114 0,0163

dim_emp -0,1949*** 0,0018 -0,0100 -0,1373*** 0,0016 -0,0090

squotas -0,0958*** 0,0088 -0,0049 -0,0951*** 0,0079 -0,0063

socanon -0,3822*** 0,0128 -0,0196 -0,5056*** 0,0110 -0,0333

empublic -4,6421*** 0,4085 -0,2378 -4,2824*** 0,2676 -0,2820

Esp

aci

ais

algarve -0,4185*** 0,0215 -0,0214 -0,4311*** 0,0187 -0,0284

centro 0,2188*** 0,0097 0,0112 0,1308*** 0,0086 0,0086

lisboa 0,2927*** 0,0094 0,0150 0,1065*** 0,0083 0,0070

alentejo -0,0703*** 0,0171 -0,0036 -0,2304*** 0,0155 -0,0152

açores -0,2143 0,1588 -0,0110 0,8383*** 0,0848 0,0552

madeira -0,6704*** 0,0344 -0,0343 -0,6301*** 0,0290 -0,0415

_constante 0,2343*** 0,0511 0,7803*** 0,0451

Pseudo R2 0,1615 0,1758

LR 122.950,48 166.271,28

Prob (LR) 0,0000 0,0000

Nº de observações 1.673.707 1.673.707

Page 63: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

55

Anexo 5. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento Total/ hora,

NUTS II (1992)

Notas: * p-value < 0,1; ** p-value < 0,05; *** p-value < 0,01;

Va

riá

vei

s Variável dependente: Y=1, se o trabalhador auferir um rendimento total/ hora

inferior ou igual ao limiar de pobreza

Limiar 1 de pobreza Limiar 2 de pobreza

2/3 do rendimento total/ hora mediano 50% do rendimento total/ hora médio

Coef. Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais Coef.

Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais

Ind

ivid

ua

is

idade -0,2525 0,0014 -0,0237 -0,2499 0,0013 -0,0251

idade^2 0,0029 1,81E-05 0,0003 0,0029 1,76E-05 0,0003

mulher 1,1435 0,0056 0,1074 1,2113 0,0054 0,1219

educ_desc 0,4148 0,0147 0,0390 0,3967 0,0143 0,0399

1º Ciclo 0,6340 0,0080 0,0596 0,6556 0,0077 0,0660

2º e 3º Ciclo 0,3480 0,0088 0,0327 0,3580 0,0085 0,0360

secundario -0,9208 0,0144 -0,0865 -0,9481 0,0138 -0,0954

pos_secundar -2,1761 0,1017 -0,2044 -2,2411 0,0972 -0,2255

ens_superior -1,8328 0,0582 -0,1721 -1,9071 0,0560 -0,1919

Em

pre

sa/

Po

sto

de

tra

balh

o

antig -0,0773 0,0011 -0,0073 -0,0729 0,0010 -0,0073

antig2 0,0013 3,91E-05 0,0001 0,0013 0,00003 0,0001

cae1 0,8900 0,0153 0,0836 0,8620 0,0152 0,0867

cae2 -0,7592 0,0374 -0,0713 -0,7556 0,0352 -0,0760

cae4 -3,4553 0,4546 -0,3245 -3,6886 0,4543 -0,3711

cae5 -0,5237 0,0101 -0,0492 -0,5566 0,0097 -0,0560

cae6 -0,2033 0,0071 -0,0191 -0,2796 0,0069 -0,0281

cae7 -1,3382 0,0266 -0,1257 -1,4266 0,0255 -0,1435

cae8 -1,4415 0,0212 -0,1354 -1,4951 0,0203 -0.1504

cae9 -0,5416 0,0104 -0,0509 -0,5882 0,0101 -0.0592

dim_emp -0,4423 0,0020 -0,0415 -0,436 0,0019 -0.0439

squotas -0,3948 0,0069 -0,0371 -0,3868 0,0068 -0.0389

socanon -0,8345 0,0136 -0,0784 -0,8466 0,0128 -0.0852

empublic -0,0945 0,0894 -0,0089 -0,0299 0,0812 -0,0030

Esp

aci

ais

algarve -0,7558 0,0171 -0,0710 -0,7206 0,0164 -0,0725

centro -0,2743 0,0069 -0,0258 -0,2762 0,0067 -0,0278

lisboa -0,6496 0,0072 -0,0610 -0,6795 0,0069 -0,0684

alentejo -0,3273 0,0120 -0,0307 -0,3521 0,0116 -0,0354

açores -0,1714 0,0204 -0,0161 -0,2257 0,0201 -0,0227

madeira 0,2600 0,0175 0,0244 0,2427 0,0171 0,0244

_constante 4,9443 0,0252 5,0444 0,0246

Pseudo R2 0,2925 0,2989

LR 406.186,14 444.125,05

Prob (LR) 0,0000 0,0000

Nº de observações 1.627.540 1.627.540

Page 64: A incidência da pobreza de baixos salários em Portugal · empírica robusta de que indivíduos empregados nas áreas metropolitanas do Porto e Lisboa sejam menos propensos a auferir

56

Anexo 6. Determinantes da incidência de baixos salários em Portugal – Rendimento

Regular/ hora, NUTS II (1992)

Va

riá

vei

s Variável dependente: Y=1, se o trabalhador auferir um rendimento regular/ hora

inferior ou igual ao limiar de pobreza

Limiar 1 de pobreza Limiar 2 de pobreza

2/3 do rendimento regular/ hora

mediano

50% do rendimento regular/ hora

médio

Coef. Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais Coef.

Desvio -

Padrão

Efeitos

Marginais

Ind

ivid

ua

is

idade -0,2689 0,0014 -0,0225 -0,2808 0,0015 -0,0218

idade^2 0,0032 0,00002 0,0003 0,0033 1,97E-05 0,0003

mulher 1,0602 0,0059 0,0889 0,9674 0,0061 0,0753

educ_desc 0,409 0,0155 0,0343 0,3659 0,0161 0,0285

1º Ciclo 0,6043 0,0085 0,0507 0,5920 0,0088 0,0461

2º e 3º Ciclo 0,3404 0,0093 0,0285 0,3454 0,0097 0,0269

secundario -0,9307 0,0155 -0,0780 -0,9029 0,0160 -0,0702

pos_secundar -1,9983 0,1041 -0,1675 -1,9241 0,1063 -0,1497

ens_superior -1,7716 0,0627 -0,1485 -1,7154 0,0644 -0,1334

Em

pre

sa/

Po

sto

de

tra

balh

o

antig -0,0838 0,0012 -0,0070 -0,0959 0,0013 -0,0075

antig2 0,0015 4,17E-05 0,0001 0,0016 4,59E-05 0,0001

cae1 1,0541 0,0156 0,0884 1,1025 0,0159 0,0858

cae2 -0,7594 0,0418 -0,0637 -0,7779 0,0443 -0,0605

cae4 -3,9002 0,5817 -0,3269 -3,7091 0,5822 -0,2886

cae5 -0,4506 0,0108 -0,0378 -0,4503 0,0113 -0,0350

cae6 -0,0420 0,0074 -0,0035 0,0362 0,0077 0,0028

cae7 -1,1743 0,0283 -0,0984 -1,0675 0,0289 -0,0830

cae8 -1,3208 0,0229 -0,1107 -1,2316 0,0235 -0,0958

cae9 -0,4482 0,0111 -0,0376 -0,3630 0,0115 -0,0282

dim_emp -0,4029 0,0021 -0,0338 -0,4119 0,0022 -0,0320

squotas -0,3890 0,0073 -0,0326 -0,4054 0,0074 -0,0315

socanon -0,7147 0,0143 -0,0599 -0,7757 0,0153 -0,0603

empublic 0,1054 0,0834 0,0088 0,1334 0,0877 0,0104

Esp

aci

ais

algarve -0,6551 0,0179 -0,0549 -0,6188 0,0184 -0,0481

centro -0,2753 0,0074 -0,0231 -0,2218 0,0077 -0,0173

lisboa -0,5325 0,0076 -0,0446 -0,4670 0,0079 -0,0363

alentejo -0,2462 0,0125 -0,0206 -0,2167 0,0129 -0,0169

açores 0,0112 0,0208 0,0009 0,0447 0,0212 0,0035

madeira 0,2897 0,0182 0,0243 0,3315 0,0187 0,0258

_constante 4,7769 0,0262 4,9074 0,0270

Pseudo R2 0,2750 0,2778

LR 339.695,57 322.660,46

Prob (LR) 0,0000 0,0000

Nº de observações 1.627.540 1.627.540