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_________________________ * Bacharelanda no 10º período do curso de direito do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ, [email protected]. Agradeço a Deus e aos meus familiares que sempre ajudaram e estavam presentes na conquista de mais uma etapa. Agradeço também a professora que está me orientando neste trabalho pela ajuda e disponibilidade. ** Mestre em Direito pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Especialista em Direito pela FIP. Possui graduação em DIREITO pela Universidade Estadual da Paraíba (2004). Professora do Centro Universitário de João Pessoa. A INCLUSÃO SOCIAL APRESENTADA PELA LEI Nº 13.146/2015: INSTITUTO DA INTERDIÇÃO DIANTE DOS CONFLITOS COM O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL SOCIAL INCLUSION SUBMITTED BY LAW No. 13,146 / 2015: PROHIBITION OF STATUS BEFORE THE CONFLICT WITH THE NEW CIVIL PROCEDURE CODE Alanna Kássia de Araújo Leite* Juliana Guedes Alves** RESUMO Este estudo busca averiguar os reflexos da Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência) no ordenamento jurídico brasileiro, em especial no direito de família. De forma específica, busca-se analisar os efeitos e modificações no que tange à incapacidade civil e questionar sobre as reformas nos institutos da interdição e da curatela, confrontando com o que está normatizado no Código de Processo Civil de 2015. Ademais, apresentar a análise crítica da inclusão social apontada no Estatuto da Pessoa com Deficiência, juntamente com as alterações dela decorrentes, frente ao dilema entre o princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da proteção. Concluindo com a apresentação de uma forma capaz de viabilizar a participação social da pessoa com deficiência com segurança e dignidade. Palavras chaves: Pessoa com Deficiência. Capacidade. Interdição. Novo Código de Processo Civil. Estatuto da Pessoa com Deficiência. ABSTRACT This study seeks to ascertain the consequences of Law No. 13,146 / 2015 (Statute for the Person with Disabilities) in the Brazilian legal system, particularly in family law. Specifically, it seeks to analyze the effects and changes resulting particularly in terms of civil disability and to

A INCLUSÃO SOCIAL APRESENTADA PELA LEI Nº 13.146/2015 ... · com dignidade, o Estado instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015) visando

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_________________________

* Bacharelanda no 10º período do curso de direito do Centro Universitário de João Pessoa - UNIPÊ,

[email protected]. Agradeço a Deus e aos meus familiares que sempre ajudaram e estavam presentes

na conquista de mais uma etapa. Agradeço também a professora que está me orientando neste trabalho pela ajuda

e disponibilidade.

** Mestre em Direito pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Especialista em Direito pela FIP. Possui

graduação em DIREITO pela Universidade Estadual da Paraíba (2004). Professora do Centro Universitário de

João Pessoa.

A INCLUSÃO SOCIAL APRESENTADA PELA LEI Nº 13.146/2015: INSTITUTO DA

INTERDIÇÃO DIANTE DOS CONFLITOS COM O NOVO CÓDIGO DE PROCESSO

CIVIL

SOCIAL INCLUSION SUBMITTED BY LAW No. 13,146 / 2015: PROHIBITION OF

STATUS BEFORE THE CONFLICT WITH THE NEW CIVIL PROCEDURE CODE

Alanna Kássia de Araújo Leite*

Juliana Guedes Alves**

RESUMO

Este estudo busca averiguar os reflexos da Lei nº 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com

Deficiência) no ordenamento jurídico brasileiro, em especial no direito de família. De forma

específica, busca-se analisar os efeitos e modificações no que tange à incapacidade civil e

questionar sobre as reformas nos institutos da interdição e da curatela, confrontando com o que

está normatizado no Código de Processo Civil de 2015. Ademais, apresentar a análise crítica

da inclusão social apontada no Estatuto da Pessoa com Deficiência, juntamente com as

alterações dela decorrentes, frente ao dilema entre o princípio da dignidade da pessoa humana

e o princípio da proteção. Concluindo com a apresentação de uma forma capaz de viabilizar a

participação social da pessoa com deficiência com segurança e dignidade.

Palavras chaves: Pessoa com Deficiência. Capacidade. Interdição. Novo Código de Processo

Civil. Estatuto da Pessoa com Deficiência.

ABSTRACT

This study seeks to ascertain the consequences of Law No. 13,146 / 2015 (Statute for the Person

with Disabilities) in the Brazilian legal system, particularly in family law. Specifically, it seeks

to analyze the effects and changes resulting particularly in terms of civil disability and to

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question about reforms in institutions of interdiction and curatorship, confronted with what is

standardized in the 2015 Civil Procedure Code. In addition, to present a critical analysis of

social inclusion pointed out at the Status for the Person with Disabilities, along with the changes

arising from it, facing the dilemma between the principle of human dignity and the principle of

protection. Concluding with the presentation of a form capable of facilitating the social

participation of disabled people with safety and dignity.

Keywords: People with Disabilities. Capacity. Interdiction. New Civil Procedure Code. Statute

for the Person with disabilities.

1 INTRODUÇÃO

O princípio da dignidade da pessoa humana e da igualdade (não discriminação), são

preceitos constitucionais basilares. Visando à efetividade desses princípios no que diz respeito

as pessoas com deficiência e à real inclusão dessas no seio da coletividade, o Estado instituiu a

Lei nº 13.146 de 6 de julho de 2015, denominada Lei Brasileira de Inclusão ou Estatuto da

Pessoa com Deficiência.

Anteriormente a entrada em vigor da supracitada lei, as pessoas com deficiência tinham

como institutos assistenciais para sua proteção a interdição para os considerados absolutamente

incapazes e o instituto da curatela para os relativamente incapazes.

Com a entrada em vigor da Lei nº 13.146/2015, os referidos institutos sofreram diversas

mudanças, uma vez que limitavam a vontade do interditado ou curatelado, contrariando os

princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e da igualdade. Dentre as mudanças

está a sua limitação a apenas os atos da vida civil de natureza patrimonial ou negocial, bem

como a criação do instituto da tomada de decisão apoiada que passaremos a entender mais

adiante.

Nesse sentido, o presente artigo tem como instrumento propulsor o confronto entre os

benefícios e malefícios que a Lei nº 13.146/2015 produzirá dentro do instituto do direito de

família, bem como na sociedade, sob o prisma do ramo jurídico civil em indagar como

consequência o alcance a eficácia ou o retrocesso de normas jurídicas.

Ademais, o tema em questão tem a finalidade de analisar os efeitos que as modificações

no rol das hipóteses de incapacidade civil provocaram dentro do ordenamento jurídico brasileiro

em especial nos institutos da interdição e da curatela na órbita familiar e suas divergências com

a vigência do Código de Processo Civil de 2015.

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Inicialmente, será apontada uma breve explanação do tratamento que era dado antes da

vigência da Lei Brasileira de Inclusão, com a posterior abordagem dos conceitos de tutela,

curatela e da interdição e sua diferenciação. Depois de feitas as primeiras considerações, serão

apresentadas as modificações ocasionadas pela entrada em vigor da Lei nº 13.146/2015, no

tocante ao rol das incapacidades, com exposição do novo instituto, qual seja, a tomada de

decisão apoiada. Além das alterações perante o Código Civil, serão apontadas as divergências

tanto no âmbito doutrinário quanto no tocante ao que disciplina o novo Código de Processo

Civil, concluindo com a indicação de uma possível forma de inclusão com segurança.

2 TEORIA DAS INCAPACIDADES

Com a observância da necessidade de promover uma maior participação das pessoas

com deficiência e pela carência de acessibilidade para que estas possam desfrutar da sua vida

com dignidade, o Estado instituiu o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146, de 6 de

julho de 2015) visando a inclusão desse público na sociedade, bem como o afastamento de todo

e qualquer tipo de discriminação para com essas pessoas. Entretanto, para que tais objetivos

fossem atingidos, os dispositivos do Estatuto revogaram e modificaram diversas regras já

consolidadas e bastante eficazes do ordenamento jurídico brasileiro.

Com a publicação da Lei nº. 13.146, intitulada Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com

Deficiência, houve diversas inovações na lei civil, sendo as de maior relevância as que

modificaram os institutos da interdição e da capacidade civil.

2.1 VISÃO PANORÂMICA

Nelson Rosenvald citando Elimar Szaniawski (2015, p. 137) aponta que

“historicamente, o Direito Romano não cuidou dos direitos da personalidade nos moldes que

são concebidos hodiernamente”. Somente após a Segunda Guerra Mundial, com a promulgação

da Declaração dos Direitos do Homem em 1948, é que foi iniciada a busca pela proteção dos

direitos da personalidade como condição da própria natureza humana (FARIAS, 2015, p.137).

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 garantiu que as pessoas com deficiência física

não podem ser reputadas incapazes civilmente em razão, apenas, de sua debilidade física. É o

que o Luiz Alberto David Araújo (1994) defende em sua obra ao dispor que "à luz da igualdade

substancial (CF, arts. 3º e 5º), as pessoas com deficiência física dispõem dos mesmos direitos e

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garantias fundamentais que qualquer outra pessoa, inexistindo qualquer motivo plausível para

negar-lhes ou restringir-lhes a capacidade".

Numa "visão coerente das diferentes perspectivas de saúde: biológica, individual e

social" (CIF-OMS, 2001), a doutrina e legislação pátria adotaram a Teoria das Incapacidades

dividindo os incapazes nas modalidades absoluta e relativa.

Por incapacidade jurídica, Valtemar P. da Luz (2014, p. 213) explica que é a “ausência

de capacidade para participar de ato jurídico ou reivindicar pessoalmente algum direito. A

incapacidade jurídica confunde-se com a incapacidade de exercer pessoalmente os atos da vida

civil”.

O Código Civil de 1916, no seu art. 5º, considerava como absolutamente incapazes de

exercer pessoalmente os atos da vida civil:

I – os menores de 16 (dezesseis) anos;

II – os loucos de todo gênero;

III – os surdos-mudos, que não puderem exprimir sua vontade;

IV – os ausentes declarados tais por ato do juiz.

O termo “incapacidade absoluta”, segundo Rodrigo da Cunha Pereira (2015, p. 393), “é

a ausência de qualidades, ou inaptidão para o exercício dos direitos civis ou impedimento legal

da prática personalíssima de todos os atos da vida civil”.

Nesse sentido, a doutrina aponta como sendo absolutamente incapaz aquela pessoa que

em razão da sua deficiência não possui o discernimento e/ou não tem condições para exercer

pessoalmente os atos da vida civil, ou seja, não possui a capacidade de exercício ou de fato,

portanto, sua manifestação de vontade não é válida no âmbito jurídico. Diante disso, para esses

casos, o legislador viu a necessidade de referidas pessoas serem representadas por terceiro de

boa-fé (denominado representante legal), que deverá atuar em nome do qualificado como

absolutamente incapaz em todos os atos da vida civil, sendo nulo qualquer ato praticado por

este sem a necessária representação.

Por outro lado, aquelas pessoas que possuem capacidade de fato, mas não de forma

plena, necessitando de uma assistência quando da realização dos atos civis, sob pena de serem

estes anuláveis, são qualificadas como relativamente incapazes. Para o Código Civil de 1916,

antes das alterações trazidas pela Lei nº 13.146/2015, o rol das incapacidades relativas

compreendia:

I – maiores de dezesseis e menores de vinte e um anos;

II – os pródigos;

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III – os silvícolas.

Parágrafo único – Os silvícolas ficarão sujeito ao regime tutelar, estabelecido em Leis

e Regulamentos especiais, o qual cessará à medida que se forem adaptando à

civilização do país.

Alterando as supracitadas hipóteses de incapacidades, o Código Civil de 2002 inovou

quando disciplinou no art. 3º como sendo absolutamente incapaz:

I - os menores de dezesseis anos;

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário

discernimento para a prática desses atos;

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

Observa-se que a Lei Substantiva Civil de 2002 revogou os incisos II, III e IV do Código

de 1916 para uma forma menos discriminatória e atentatória à dignidade da pessoa humana,

bem como, por um sentido mais amplo e subjetivo, compreendendo todos os casos de

insanidade mental, agregando como nova redação: “os que, por enfermidade ou deficiência

mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil” e “os que,

mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade”.

2.2 DA ANÁLISE DA INCAPACIDADE A PARTIR DO ADVENTO DO ESTATUTO DA

PESSOA COM DEFICIÊNCIA (LEI Nº 13.146/2015)

Atualmente, na busca pela inclusão social para todos os cidadãos e pela máxima

efetividade dos princípios e normas constitucionais que regem o ordenamento jurídico e toda a

sociedade brasileira, a Lei de nº. 13.146/2015, também conhecida como Estatuto da Pessoa com

Deficiência, foi elaborada na tentativa de extinguir a discriminação, proporcionar a inclusão

social e a cidadania, mais especificamente das pessoas com deficiência.

Com o advento do Estatuto, os art. 3º e 4º do Código Civil foram completamente

modificados passando a ter a seguinte redação:

Art. 3º - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil

os menores de 16 (dezesseis) anos.

Art. 4º - São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:

I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;

III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua

vontade;

IV – os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.

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O artigo que trata da incapacidade absoluta, a Lei 13.146/15 foi revogado parcialmente,

restando somente uma hipótese de incapacidade. Portanto, as causas de natureza psíquicas não

mais podem ser consideradas hipóteses que ensejam proibição à prática dos atos da vida civil.

Nesse sentido, atualmente inexiste a presunção de absoluta incapacidade para os que, por

enfermidade ou deficiência mental, possam ter o necessário discernimento para a prática desses

atos e os que, mesmo por causa transitória, puderem exprimir a sua vontade. Entretanto, cumpre

ressaltar que nas causas em que a pessoa não puder exprimir sua vontade, não terá a capacidade

de exercício.

Já com relação aos relativamente incapazes, as hipóteses das pessoas com deficiência

mental com discernimento reduzido e dos excepcionais sem desenvolvimento completo foram

revogadas e substituídas pela nova redação, qual seja, “considerar-se-ão relativamente

incapazes aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a sua

vontade”.

Insta ressaltar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência, apesar de trazer preceitos

justos e dignos, trouxe consigo consideráveis mudanças, principalmente no âmbito do Direito

Civil que provocou muitos questionamentos dentre todos os civilistas.

2.3 DEFINIÇÕES FRENTE ÀS NOVAS MUDANÇAS

A Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CDPD) foi elevado

ao status de norma constitucional pelo Congresso Nacional brasileiro quando de sua ratificação,

pois o parlamento o fez conforme o procedimento previsto no §3º, do art. 5º, da Constituição

Federal. A CIF (Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde) ao

analisar o tratado internacional supra, o qualificou como o marco principal para essa “mudança

de um modelo médico-funcional para um modelo biopsicossocial”, no qual a deficiência não é

vista como uma “incapacidade”, mas sim como uma característica do indivíduo que faz parte

da diversidade humana (CIF-OMS, 2001).

O art. 1º, do referido tratado internacional, inovou ao trazer uma definição mais

inclusiva e digna sobre quem são consideradas pessoas com deficiência:

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de

natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas

barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades

de condições com as demais pessoas.

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Seguindo o novo modelo, o Estatuto da Pessoa com Deficiência repetiu em termos

similares a definição supracitada em seu art. 2º:

Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais

barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de

condições com as demais pessoas.

O Estado tem estabelecido como diretrizes para a criação e implementação de políticas

públicas o preceito constitucional da isonomia, com respaldo no princípio da dignidade da

pessoa humana, visando garantir igualdade de oportunidades e tratamento para todos,

independentemente da diversidade presente na população, de forma que a sociedade possa ser

mais inclusiva.

Sob esse pensamento a promulgação da Lei de nº 13.146/15, apresentando em seu artigo

primeiro a finalidade para qual foi instituída:

Art. 1º - É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto

da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de

igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com

deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania. (BRASIL, Lei 13.146, 2015)

Pablo Stolze (2015) confirma tal dispositivo e aponta ser a Lei Brasileira de Inclusão

um marco social, ao disciplinar "trata-se, indiscutivelmente, de um sistema normativo inclusivo,

que homenageia o princípio da dignidade da pessoa humana em diversos níveis".

O termo "inclusão" (do latim inclusione), descrito no título da Lei, é o ato ou efeito de

incluir (FIGUEIREDO, 1913, p. 1082), portanto, deriva do verbo incluir que apresenta diversos

significados, dentre eles: estar dentro, inserir num ou fazer parte de um grupo (FERREIRA,

1999, p. 1093). Ou seja, fazer parte de um grupo não quer dizer que todos devam ser iguais,

mas que todos possam ter as mesmas possibilidades, respeitando as diferenças individuais de

cada um.

Nessa ótica, os novos conceitos derivam da própria dignidade inerente à pessoa humana

proporcionando a agregação de valores mais inclusivos e solidários nos indivíduos e no Poder

Público, assegurando condições mínimas para uma vida digna.

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3 INTERDIÇÃO

Para melhor compreender todas as modificações que o Estatuto da Pessoa com

Deficiência provocou no instituto da interdição, cumpre inicialmente entender o que vem a ser

a interdição.

3.1 A INTERDIÇÃO E A CURATELA: CONCEITO E DISTINÇÃO

Em termos gerais, a interdição é o instituto de natureza civil no qual, por meio de uma

ação judicial, é requerida a declaração de incapacidade de uma pessoa viabilizando a aplicação

de outro instituto assistencial previsto no Código Civil, qual seja, a curatela.

O vocábulo interdição, derivado do latim, interdictione e são atribuídas as seguintes

definições: 1. Ato de interdizer; proibição, impedimento. 2. Privação judicial de alguém reger

sua pessoa e bens. 3. Suspensão de funções ou de funcionamento. 4. Privação legal do gozo ou

do exercício de certos direitos no interesse da coletividade. (FERREIRA, 1999, p. 1124)

Para Washington dos Santos (2001, p. 127), a interdição é a “privação legal que impede

alguém do gozo ou do exercício de certos direitos ou mesmo de gerir seus bens e a própria

pessoa”.

Em outros termos, a interdição é uma forma de instrumentalização da curatela que

declara, por meio de uma sentença, ser uma pessoa natural incapaz para os atos da vida civil,

designando um representante para cuidar dos bens e direitos, sendo, portanto, uma medida

extraordinária.

Nesse sentido, quando a incapacidade é decorrente apenas de características psíquicas,

se faz exigível o reconhecimento judicial da causa geradora da incapacidade que se dá através

da sentença a ser proferida na ação de interdição. Salientando que "o juiz, ao pronunciar a

interdição, deverá examinar com bastante cuidado o grau de desenvolvimento mental do

interditando". (QUEIROGA, 2011, p. 399)

A interdição pode ser total, que é a restrição e limitação sobre todos os atos da vida civil,

inclusive os atos de natureza personalíssima; e pode ser parcial, que segundo Rodrigo da Cunha

Pereira (2015, p. 412-413),

E a curatela relativa, isto é, modalidade de interdição na qual a restrição aos direitos

do interditando limita-se aos aspectos patrimoniais. Tal modalidade torna-se cada vez

mais recorrente no âmbito dos tribunais em razão do forte impacto de uma interdição

na vida da pessoa. Além de reforçar a incapacidade do sujeito, a declaração da

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incapacidade traz consigo um sentido de exclusão e expropriação de cidadania. Essas

noções só foram possíveis de serem apreendidas em razão da incorporação do

princípio da dignidade da pessoa humana.

Como é notório, não há como tratar da interdição sem mencionar o instituto da curatela.

Nesse sentindo, se entende por curatela “o encargo público, conferido, por lei, a alguém, para

dirigir a pessoa e administrar os bens de maiores, que por si só não possam fazê-lo”.

(BEVILAQUA, 1950, p. 411)

O art. 84, §3º, do Estatuto da Pessoa com Deficiência, prevê em seu texto a definição de

curatela de pessoa com deficiência como sendo “medida protetiva extraordinária, proporcional

às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível”.

Antônio Elias de Queiroga (2011, p. 397) aponta claramente a distinção entre os

institutos da tutela e da curatela quando explica que

Curatela é o encargo deferido por lei a alguém, para reger a pessoa e administrar os

bens de incapazes maiores, que não podem fazê-lo por si mesmos. Distingue-se da

tutela nos seguintes pontos: é sempre deferida pelo juiz, enquanto a tutela pode ser

por testamento ou codicilo; a curatela, às vezes, é dada só aos bens, ao passo que a

tutela alcança a pessoa e os bens do tutelado; a curatela recai sobre maiores e,

excepcionalmente, sobre menores, enquanto a tutela só é dada a menores.

Portanto, quando a declaração de incapacidade de uma pessoa esbarra no Judiciário por

via de ação, uma vez decretada a interdição pelo magistrado, o interditado fica impossibilitado

de praticar os atos da vida civil, devendo ser nomeado o curador nos mesmos autos processuais.

3.2 A TUTELA ASSISTIDA FRENTE AO INSTITUTO DA CURATELA

Como já explanado no tópico anterior, a tutela e a curatela são institutos do ramo do

direito civil que servem para auxiliar as pessoas que se enquadram nas hipóteses de

incapacidades. As principais distinções entre estes são quanto à idade que a pessoa qualificada

incapaz precisará de assistência e qual o motivo que faz nascer a necessidade de assistência ou

representação nos atos da vida civil.

Em suma, a curatela é adequada para as pessoas maiores de 18 anos ou emancipadas

que se enquadrem no rol das incapacidades previstas na Lei Substantiva Civil, sendo

instrumentalizada por requerimento na via jurisdicional através da ação de interdição. Ao passo

que a tutela é uma medida de proteção do menor de 18 anos não emancipado, que se encontre

sem a proteção e cuidados dos genitores, seja por morte destes ou por destituição do poder

familiar. (TARTUCE, 2015)

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Com a entrada em vigor do Estatuto da Pessoa com Deficiência, foi inserido ao lado da

curatela e da tutela o instituto civil assistencial denominado “tomada de decisão apoiada”.

A parte especial da Lei nº 13.146/15 que trata do acesso à justiça, em seu capítulo II,

disciplina o exercício e a aplicação dos supracitados institutos assistenciais para o

reconhecimento igualitário perante a lei, das pessoas com deficiência as demais pessoas.

Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua

capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.

§ 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme

a lei.

§ 2o É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão

apoiada.

Nesse sentido, o mesmo diploma legal alterou a redação do Livro que trata do direito de

família, no Código Civil, para a expressão “Da tutela, da Curatela e da Tomada de Decisão

Apoiada”. Ademais, o art. 116 do estatuto, proporcionando a aplicação do disciplinado no

supracitado §2º, inseriu na Lei Substantiva Civil o art. 1.783-A que em seu caput definiu a

Tomada de Decisão Apoiada:

A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege

pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem

de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada de decisão sobre atos da vida civil,

fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer sua

capacidade.

Por esse novo sistema da tomada de decisão apoiada, o legislador buscou valorizar a

vontade da pessoa com deficiência em escolher por si mesmo aqueles que serão responsáveis

para lhe auxiliar nos atos que praticar, privilegiando a autonomia da vontade. Nesse ponto, é

notória a distinção entre a aplicação da curatela de outrora com esse novo método.

Por esse novo mecanismo "vale salientar, fará com que se configure como “imprecisão

técnica” considerar-se a pessoa com deficiência incapaz. Ela é dotada de capacidade legal, ainda

que se valha de institutos assistenciais para a condução da sua própria vida". (STOLZE, 2015)

A curatela, como já mencionado, é aplicada por meio de uma ação de interdição, sendo

ajuizada na maioria dos casos à revelia e contra a vontade da pessoa com incapacidade. Com a

tomada de decisão apoiada, ou informalmente denominada “tutela assistida”, apesar desta

possuir um regime equivalente ao da curatela, posto que também indispensável a via judicial,

passou-se a ser imprescindível a oitiva de todos os envolvidos, bem como do Ministério Público

e de equipe multidisciplinar. Cumpre ressaltar que diferentemente da ação de interdição, a

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medida judicial que enseja a tomada de decisão apoiada é personalíssima, portanto, somente a

pessoa com a enfermidade cabe a legitimidade ativa para ajuizamento e indicação expressa das

pessoas aptas a prestarem o apoio.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência em seu artigo 85 expressamente dispõe: “A

curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e

negocial”, nota-se que diferentemente do aplicado à curatela antes da vigência do estatuto, o

curatelado tem resguardado a autonomia de vontade nos atos de caráter personalíssimo,

conforme aponta o §1º do mesmo artigo: “a definição da curatela não alcança o direito ao

próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e

ao voto”.

Para Nelson Rosenvald (2015), o Estatuto da Pessoa com deficiência aponta a

deficiência em dois modelos jurídicos: sem curatela e qualificada pela curatela. Nessa ótica, a

pessoa com deficiência desfruta plenamente dos direitos civis, patrimoniais e existenciais.

Porém, se a deficiência se qualifica pelo fato da pessoa não conseguir se autodeterminar, o

ordenamento lhe conferirá proteção ainda mais densa do que aquela deferida a um deficiente

capaz, demandando o devido processo legal.

Em resumo, a Tomada de Decisão Apoiada é uma medida que se adapta melhor a tão

buscada inclusão social das pessoas com deficiência, uma vez que o beneficiário permanecerá

com a sua vontade livre e autônoma, apenas não poderá praticar ativamente os atos da vida civil

que tenham natureza negocial ou patrimonial, mas cumpre ressaltar que sua vontade deverá ser

considerada quando da prática desses atos pelos apoiadores.

Nesse sentido, a pessoa com deficiência, quando auxiliada por esse instituto, não terá

restrição em sua capacidade, mas apenas uma privação de atuação. Contrariando o regime da

tutela e da curatela, o apoiado terá resguardada a sua dignidade como pessoa humana e a sua

liberdade, pois o legislador ao criar esse novo método priorizou o melhor interesse da pessoa

com deficiência, enquanto, conforme bem leciona Nelson Rosenvald (2015), “a curatela e a

tutela parecem atender preferentemente à sociedade (isolando os incapazes) e à família

(impedindo que dilapide o seu patrimônio), em detrimento do próprio interdito”.

3.3 ALTERAÇÕES NA INTERDIÇÃO PERANTE O CÓDIGO CIVIL, ESTATUTO DA

PESSOA COM DEFICIÊNCIA E NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

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O Código Civil tratava do instituto da interdição nos arts. 1.767 a 1.778. O primeiro

artigo disciplinava sobre as pessoas que são atingidas pela interdição, contudo, como

anteriormente exposto, tal dispositivo sofreu alterações em virtude da modificação no rol das

incapacidades. Já o art. 1.768, disciplinava a quem competia a legitimidade para a interposição

da ação de interdição:

Art. 1.768. A interdição deve ser promovida:

I – pelos pais ou tutores;

II – pelo cônjuge, ou por qualquer parente;

III – pelo Ministério Público.

A Lei nº 13.146/2015 alterou o supracitado artigo, acrescentando mais um legitimado

ao rol, qual seja:

Art. 1.768. O processo que define os termos da curatela deve ser promovido:

…………………………………………………………………………………

IV – pela própria pessoa.

Contudo, o novo Código de Processo Civil antes da entrada em vigor do Estatuto da

Pessoa com Deficiência, predeterminou em seu projeto a revogação do artigo da Lei Substantiva

Civil, para legislar sobre o tema no atual artigo 747 do CPC/2015, com a seguinte redação:

Art. 747. A interdição pode ser promovida:

I – pelo cônjuge ou companheiro;

II – pelos parentes ou tutores;

III – pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando;

IV – pelo Ministério Público.

Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que

acompanhe a petição inicial.

Ante o exposto, a Lei nº. 13.146/2015, com a inclusão do novo legitimado, criou uma

nova modalidade de interdição, a denominada “autointerdição”, que por estar regulada na

referida lei, tem caráter de norma de direito material, contudo, o Código de Processo Civil é o

diploma legal adequado para tratar sobre a legitimidade para propor a ação de interdição, uma

vez que é matéria de direito processual, não reconhecendo como possível a própria pessoa com

deficiência como legitimada a requerer a interdição.

Ademais, além de revogar o art. 1.768, a nova Lei Adjetiva Civil revogou o art. 1.769,

que normatizava a atuação do Ministério Público na propositura da ação de interdição, para

tratar sobre o tema em termos similares no art. 748, conforme trecho em destaque:

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Código Civil (versão anterior à Lei nº 13.146/2015)

Art. 1.769. O Ministério Público só promoverá interdição:

I – em caso de doença mental grave;

II – se não existir ou não promover a interdição alguma das pessoas designadas nos

incisos I e II do artigo antecedente;

III – se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas no inciso antecedente.

CPC/2015

Art. 748. O Ministério Público só promoverá interdição em caso de doença mental

grave:

I – se as pessoas designadas nos incisos I, II e III do art. 747 não existirem ou não

promoverem a interdição;

II – se, existindo, forem incapazes as pessoas mencionadas nos incisos I e II do art.

747.

Insta salientar que o Estatuto da Pessoa com Deficiência no tocante a legitimidade do

Ministério Público apenas alterou a expressão “doença mental grave”, para a adotada no rol das

incapacidades, qual seja “deficiência mental ou intelectual”.

A matéria que trata da entrevista judicial do interditando, também passou a ser regulada

pelo Código de Processo Civil, sendo revogado o que havia disposto no Código Civil, tendo a

Lei nº 13.146/2015 apenas reforçado a essencialidade da entrevista acompanhada por pessoas

com conhecimento técnico, alterando o caráter discricionário desse acompanhamento para fixar

uma imposição da audiência ocorrer na presença de um especialista e acrescentar juntamente

com este uma equipe multidisciplinar.

A Lei Adjetiva Civil de 2015 também revogou o art. 1.772 do Código Civil assumindo

o regramento da gradação da interdição e da escolha do curador. No tocante a essa alteração o

Estatuto da Pessoa com Deficiência manteve o disposto no CPC/15 em todos os seus termos.

Ante tais alterações, Flávio Tartuce (2015) conclui

Em suma, não existe mais, no sistema privado brasileiro, pessoa absolutamente

incapaz que seja maior de idade. Como consequência, não há que falar mais em ação

de interdição absoluta no nosso sistema civil, pois os menores não são interditados.

Todas as pessoas com deficiência, das quais tratava o comando anterior, passam a ser,

em regra, plenamente capazes para o Direito Civil, o que visa a sua plena inclusão

social, em prol de sua dignidade.

Por interdição total, Rodrigo da Cunha Pereira (2015, p. 412) aponta como sendo “a

interdição propriamente dita. A interdição absoluta, ou total, alcança os aspectos pessoais e

patrimoniais na declaração de incapacidade”.

Sob essa ótica, não pode a curatela ser confundida com a interdição total, uma vez que

em casos singulares, a pessoa com deficiência psíquica poderá ser submetida a curatela, se

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assim desejar proporcionalmente às necessidades e circunstâncias de cada situação, de forma a

proteger e não restringir direitos.

Atalá Correia (2015) entende que “caso o quadro legislativo não se altere, será razoável

tolerar uma hibridização de institutos, para que se admita a existência de incapacidade relativa

na qual o curador representa o incapaz, e não o assiste”.

Pelo exposto, é notória a divergência entre os diplomas legais retromencionados. Sobre

o tema, a grande discussão dentre os doutrinadores e legisladores está nas contradições

existentes entre o disposto no Estatuto da Pessoa com Deficiência e o disciplinado no Código

de Processo Civil de 2015 e as datas de entrada em vigor de cada lei.

Flávio Tartuce (2015), ao discorrer sobre o assunto, afirma

Nessa realidade, salvo uma nova iniciativa legislativa, as alterações terão aplicação

por curto intervalo de tempo, nos anos de 2015 e 2016, entre o período da sua entrada

em vigor e o início de vigência do Código de Processo Civil (a partir de março do

próximo ano). Isso parece não ter sido observado pelas autoridades competentes,

quando da sua elaboração e promulgação, havendo um verdadeiro atropelamento

legislativo.

Dessa forma, denota-se o curto prazo de vigência desse artigo trazido pelo Estatuto da

Pessoa com Deficiência, uma vez que este entrou em vigor em janeiro de 2016, e o Novo Código

de Processo Civil, que o revoga tacitamente em março de 2016, bem como, denota a desatenção

do legislador a elaboração de tais dispositivos.

4 PARTICULARIDADES NA APLICAÇÃO DO ESTATUTO

Observa-se que a Lei Brasileira de Inclusão em todo o texto normativo busca resguardar

os princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana, entretanto, muitos

questionamentos precisam ser superados quando analisados sob a liberdade e independência

das pessoas com deficiência.

4.1 PROTEÇÃO OU FRAGILIDADE?

O legislador, na busca pela inclusão social das pessoas com deficiência, proporcionou,

de forma brusca, grandes alterações em vários diplomas legais pátrios, trazendo com isso o

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confronto entre dois princípios constitucionais basilares do ordenamento jurídico brasileiro,

quais sejam: o princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da proteção.

Observa-se que a Lei nº 13.146/2015 em todo o seu texto normativo observou o

princípio da dignidade da pessoa humana porquanto sua finalidade é a inclusão social. Porém,

na medida em que equiparou as pessoas com deficiência às demais pessoas, foi de encontro ao

princípio da proteção, uma vez que deixou aqueles que pela sua diversidade necessitam de

cuidados protetivos sem qualquer garantia.

A Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, nas palavras de Carolina Valença

Ferraz (2012, p. 102), foi “inspirada no lema “iguais na diferença” e trouxe muitos dos direitos

fundamentais clássicos em uma roupagem inclusiva, direcionando o entendimento desses

direitos no contexto das especificidades próprias dos deficientes”. E ainda sobre o lema

complementa “não se trata de querer que as pessoas sejam todas iguais, mas que elas tenham

iguais oportunidades e que suas ditas “deficiências” não sejam empecilhos para o exercício de

seus direitos e liberdades”. (FERRAZ, 2012, p. 104).

Flávia Piva Almeida Leite (2001, p. 82) pondera que

para garantir a igualdade às pessoas portadoras de deficiência e aplicar o princípio da

não-discriminação, não basta criar leis que venham a garantir uma situação isonômica

frente às demais pessoas, deve-se também implantar políticas compensatórias capazes

de inserir e incluir essas pessoas dentro do contexto social.

Nesse sentido, o Estatuto da Pessoa com Deficiência não observou o modelo de inclusão

fixado no tratado internacional. Ao contrário, o legislador pátrio, na tentativa de garantir de

forma efetiva a aplicação do princípio da dignidade da pessoa humana na promoção da inclusão

social das pessoas com deficiência, de forma exagerada, as equiparou às demais pessoas,

revogando com isso todas as garantias legais antes estabelecidas para proporcionar a proteção

e inclusão na desigualdade, confrontando o que rege o princípio da proteção.

Contudo, seguindo os dogmas previstos na Constituição Federal, o princípio da

igualdade descrito no art. 5º é apresentado sobre as vertentes de igualdade de todos perante a

lei e de proibição de discriminação de qualquer natureza.

Sob essa ótica, a Lei Brasileira de Inclusão, em seu texto, adotou o previsto na

Constituição Federal no tocante ao princípio da igualdade, uma vez que garantiu as pessoas

com deficiência a autonomia da vontade e a capacidade de fato ou de exercício para praticar

todos os atos da vida civil.

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Diante da evidência de que a pessoa com deficiência é plenamente capaz, surgiram dois

posicionamentos da doutrina civilista,

o primeiro – o qual se filia José Fernando Simão e Vitor Kümpel – condena as

modificações sobrevindas do Estatuto, ao argumento de que a dignidade de tais

pessoas deveria ser resguardada por meio de sua proteção como vulneráveis

(dignidade-vulnerabilidade). A segunda vertente, por sua vez, liderada por Paulo

Lôbo, Nelson Rosenvald, Rodrigo da Cunha Pereira e Pablo Stolze – concorda com

as alterações, defendendo a tutela da dignidade-liberdade das pessoas com deficiência,

evidenciada pelos objetivos de sua inclusão (TARTUCE, 2015).

Pelo exposto, é possível observar a divergência quanto aos efeitos que o Estatuto da

Pessoa com Deficiência proporcionará com a mudança no rol das incapacidades. De um lado,

garantir as pessoas com deficiência a capacidade de fato permitiu a proteção da dignidade como

própria da condição humana, uma vez que terão autonomia de vontade e poderão exercer

pessoal e livremente todos os direitos e deveres legalmente previstos. Por outro lado, a partir

do momento que as pessoas com deficiência passaram a ser plenamente capazes, as proteções

legais que buscavam proporcionar a segurança dos seus interesses e a igualdade de

oportunidades para com as demais pessoas foram afastadas, ficando estas em uma condição de

fragilidade.

4.2 ACESSO A DIREITOS COMO PLENAMENTE CAPAZ

Um dos intrigantes pontos que se deve indagar sobre esse estatuto está presente no fato

de ele equiparar a pessoa com deficiência às demais pessoas, o que, apesar de ser um preceito

justo e digno, não se deve esquecer que pessoas com deficiência possuem necessidades

especiais.

Uma das modificações proporcionada pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência no

tocante ao ramo do Direito de Família foi a revogação do artigo que conferia nulidade ao

casamento das pessoas com deficiência psíquica e regulou expressamente sob esse

entendimento no artigo 6º da Lei 13.146/15:

A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:

I - casar-se e constituir união estável;

II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;

III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações

adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;

IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;

V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e

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VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou

adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

Nesta questão a conclusão de Flavio Tartuce (2015) é que o dispositivo gera, no plano

familiar, uma expressa inclusão plena das pessoas com deficiência.

Seguindo os novos regramentos, o Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba proferiu

decisão de acordo com o que prevê o art. 6º da Lei 13.146/2015, reconhecendo a união estável

de pessoa interditada, como é possível observar:

APELAÇÃO N° 0001300-63.2013.815.2001. ORIGEM: GAB. DO DES.

RELATOR. RELATOR: da Desembargadora Maria de Fátima Moraes Bezerra

Cavalcanti. APELANTE: M. C. M., J. H. C. V., C. C. B. E A. E. M. G.. APELAÇÃO

CÍVEL - DIREITO DE FAMÍLIA - AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO

ESTÁVEL - CONVIVENTE VARÃO INTERDITADO POR UM DOS IRMÃOS -

CURADOR CONTRÁRIO AO RECONHECIMENTO DA UNIÃO - ESTUDO

PSICOSSOCIAL QUE APONTA O MELHOR INTERESSE DO INCAPAZ -

MINISTÉRIO PÚBLICO FAVORÁVEL AO ACOLHIMENTO DO PEDIDO

TANTO EM PRIMEIRA QUANTO EM SEGUNDA INSTÂNCIAS - PRESENÇA

DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS - ANÁLISE SENSATA DO

MAGISTRADO SINGULAR - MODIFICAÇÕES INTRODUZIDAS NA TEORIA

DAS INCAPACIDADES PÁTRIA - POSSIBILIDADE JURÍDICA DE O

PORTADOR DE DEFICIÊNCIA CONSTITUIR UNIÃO ESTÁVEL - ADVENTO

DO ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA - GARANTIA DO DIREITO

AO AFETO, CUIDADO E ASSISTÊNCIA DO INTERDITADO, APESAR DE SUA

INCAPACIDADE PARA OS ATOS DA VIDA CIVIL - MANUTENÇÃO DA

SENTENÇA - DESPROVIMENTO DO APELO. O legislador constituinte

especificou, em seu artigo 226, §3º, que a união entre homem e mulher constituída

como entidade familiar, merece proteção do Estado, devendo a Lei facilitar a sua

conversão em casamento. “Para a caracterização da união estável devem-se considerar

diversos elementos, tais como o ânimo de constituir família, o respeito mútuo, a

comunhão de interesses, a fidelidade, a estabilidade da relação, não esgotando os

pressupostos somente na coabitação”1. O art. 6º, I, da Lei nº. 13.146/2015 (Estatuto

da Pessoa com Deficiência) expressamente chancela ser juridicamente possível o

reconhecimento da união estável nessa hipótese, considerando que uma parte da

capacidade civil da pessoa fica resguardada, ainda que ela seja portadora de

deficiência, permitindo-lhe o exercício de diversos atos da vida civil, inclusive aquele

objeto de discussão neste feito. Verificado no caso concreto que, apesar de incapaz

para os atos da vida civil, o convivente varão, mantém relação de afeto com a autora,

caracterizada por todos os elementos de uma união estável, e ainda, considerando que

as escusas do curador não possuem conteúdo voltado ao melhor interesse do

interditado, deve-se privilegiar a realização do direito ao afeto, cuidado e assistência

como alternativa visando à plena realização dos direitos personalíssimos do

interditado. Negar provimento ao apelo.

Contudo, na medida em que a questão envolve a guarda, adoção e desenvolvimento de

uma criança, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) já disciplinou pela observância em

todos os casos do princípio do melhor interesse da criança. Nessa ótica, é preciso indagar se,

mesmo qualificada como plenamente capaz para os atos da vida civil, uma pessoa com

deficiência, que tem impedimento de longo prazo de natureza mental, apresenta condições para

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assumir a responsabilidade, criação e educação de uma criança, quando muitas vezes estes

necessitam de assistência para sua própria vida.

Pablo Stolze (2015) aponta em suas lições

Como decorrência natural da possibilidade de a pessoa com deficiência mental ou intelectual se casar, foram alterados dois incisos do art. 1.557, dispositivo que

consagra as hipóteses de anulação do casamento por erro essencial quanto à pessoa.

O seu inciso III passou a ter uma ressalva, eis que é anulável o casamento por erro no

caso de ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não

caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por

herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência

(destacamos a inovação).

Em continuidade, foi revogado o antigo inciso IV do art. 1.557 do CC/2002 que

possibilitava a anulação do casamento em caso de desconhecimento de doença mental

grave, o que era tido como ato distante da solidariedade (“a ignorância, anterior ao

casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, torne insuportável a vida

em comum ao cônjuge enganado”).

Em relação a educação, foi assegurado um sistema educacional inclusivo em todos os

níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, no ensino regular público ou privado (inclusive

no ensino privado não se pode mais cobrar taxa extra a alunos com deficiência). Já no tocante

à Justiça e seus órgãos, disciplinou que a pessoa com deficiência terá acesso pleno para

reivindicar direitos garantida a prioridade processual. (MACIEIRA, 2016, p. 1)

Outra modificação proporcionada pelo Estatuto envolve os institutos da prescrição e da

decadência, ou seja, com a entrada em vigor da Lei nº 13.146/2015 e a modificação no rol das

incapacidades, a pessoa com deficiência não é mais beneficiada pelos artigos do Código Civil

que proporcionam aos absolutamente incapazes a proteção contra a prescrição e a decadência,

bem como, a proteção nas situações negociais em geral por possível aplicação das causas de

invalidade.

Ademais, passará a responder com seus próprios bens pelos danos que causar a terceiros,

tendo em vista que a responsabilidade subsidiária para com os bens dos representantes legais

não mais existe.

Rodrigo Alvarez de Oliveira (2016, p. 03) aponta

Como novidade, vislumbra-se a possibilidade de compartilhamento da curatela a mais

de uma pessoa, assim como se criou o instituto da tomada de decisão apoiada. Este

último parece mais apropriado às pessoas com transtorno mental – que em regra

possuem a capacidade intelectual adequada, mas apresentam limitações para interagir

com seu meio –, possibilitando a criação de uma rede de pessoas de confiança do

curatelado para assisti0lo nos atos da vida.

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Já quanto ao desenvolvimento de atividade laborativa pela pessoa com deficiência, o

art. 120 da Lei Brasileira de Inclusão alterou o art. 93 da Lei nº 8.213/91 (Lei de Cotas), no

qual, a partir da vigência do Estatuto, todas as empresas com número igual ou maior que

cinquenta empregados são obrigadas a ter no quadro de funcionários no mínimo uma pessoa

com deficiência, na medida em que a finalidade da Lei nº 13.146/2015 é proporcionar a inclusão

social dessas pessoas na sociedade.

No tocante ao direito à saúde, é possível destacar

Na Lei 13.146/2015, o capítulo III intitulado Do Direito à saúde, dispõe de uma

normatização no âmbito das políticas públicas e também regulamenta o setor privado,

quanto às obrigações no atendimento à pessoa com deficiência.

Além de garantir o atendimento integral, ou seja, em todos os níveis de complexidade,

considerando assim a prevenção até a urgência, garante também a participação da

pessoa com deficiência na criação das políticas de saúde destinadas a elas.

A lei assegura questões básicas, mas que não eram regulamentadas, como por

exemplo, as definições de serviços de habilitação e reabilitação; acompanhamento

integral em atendimento durante a gravidez; a garantia de atendimento adequado

quando o mesmo não puder ser realizado na cidade de residência, estabelecendo

transporte adequado inclusive para seu acompanhante; garantia de acompanhante

durante o período de internação. (PEREIRA; LELIS, 2016, p. 415)

Além das alterações já abordadas nos tópicos anteriores, é notório que o Estatuto da

Pessoa com Deficiência trouxe consigo a proteção em diversas áreas, dentre elas: educação,

saúde, assistência social, moradia, lazer, transporte, acesso à justiça, de várias outras que visam

proporcionar a igualdade entre as pessoas.

Cumpre esclarecer, entretanto, que a deficiência de natureza psíquica apresenta um

cuidado maior quanto a inclusão, tendo em vista que a inserção social é um meio totalmente

possível. Contudo, a equiparação às demais pessoas não se apresenta como o melhor caminho

para alcançar esse objetivo, uma vez que são casos distintos cada qual com suas peculiaridades.

4.3 AVANÇO COM SEGURANÇA

As diversas alterações anteriormente descritas provocaram a divergência de posições

doutrinárias sobre o caráter positivo ou negativo das modificações.

É notório que todas as alterações buscam privilegiar os interesses das pessoas com

deficiência de maneira plena. Porém, no que diz respeito à efetividade da aplicação dos novos

regramentos apresentados pela Lei Brasileira de Inclusão diante de situações em concreto, não

há como precisar se serão benéficas ou não, apenas o decurso do tempo demonstrará.

Sobre a inclusão da pessoa com deficiência Resende e Vital (2008, p. 29) afirmam que:

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Uma sociedade, portanto, é menos excludente, e, consequentemente, mais inclusiva,

quando reconhece a diversidade humana e as necessidades específicas dos vários

segmentos sociais, incluindo as pessoas com deficiência, para promover ajustes

razoáveis e correções que sejam imprescindíveis para seu desenvolvimento pessoal e

social, “assegurando-lhes as mesmas oportunidades que as demais pessoas para

exercer todos os direitos humanos e liberdades fundamentais”. E dentro deste

paradigma da inclusão social e dos direitos humanos que devemos inserir e tratar a

questão da deficiência. O desafio atual é promover uma sociedade que seja para todos

e onde os projetos, programas e serviços sigam o conceito de desenho universal,

atendendo, da melhor forma possível, às demandas da maioria das pessoas, não

excluindo as necessidades específicas de certos grupos sociais, dentre os quais está o

segmento das pessoas com deficiência. Isto quer dizer que, ao se projetar e desenhar

uma sociedade, esse todo, dentro de sua diversidade, deve ser contemplado, incluindo

as demandas específicas que não são apenas para as pessoas com deficiência. E

mesmo ao se pensar nas demandas específicas das pessoas com deficiência, e elas

existem, podemos observar que seu atendimento, reverte, quase sempre, em benefício

para uma série de outros grupos sociais, não precisando, portanto, ser encaminhadas

com exclusividade para as pessoas com deficiência.

Para auxiliar a recepção pela sociedade das pessoas com deficiência sem retirar a

dignidade que é inerente à condição humana, a Lei Brasileira de Inclusão instituiu a Tomada de

Decisão Conjunta ou Apoiada, na qual, a pessoa com deficiência escolhe por sua própria

iniciativa, duas ou mais pessoa de sua confiança para lhe proporcionar apoio quando da prática

dos atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa

exercer sua capacidade. (REQUIÃO, 2015)

Nesse novo sistema, foi garantida a pessoa com deficiência a vontade de escolha entre

os institutos da tutela, curatela ou tomada de decisão apoiada.

Nesse sentido, atualmente, o que antes tinha como regra a adoção da curatela por meio

do processo de interdição, passou a ser exceção, uma vez que a pessoa com deficiência foi

garantida a capacidade de fato de forma equivalente às demais pessoas. Sob essa ótica, o

processo de interdição não será mais visto como a morte civil da pessoa com deficiência, mas

sim uma forma de promover sua inserção social com respeito à dignidade da pessoa humana e

garantindo ao interditado a autonomia de vontade nas questões de natureza pessoal.

Resta claro, portanto, que o texto normativo do Estatuto da Pessoa com Deficiência

trouxe consigo tanto benefícios como malefícios. Entretanto, uma de suas inovações, a tomada

de decisão apoiada ou também denominada tutela assistida, como já exposto no capítulo

segundo do presente artigo, traduz-se como o instituto no qual é possível a inclusão social por

meio da garantia da dignidade da pessoa humana, bem como, o respeito ao princípio da

proteção, uma vez que a pessoa com deficiência é permitida a prática dos atos da vida civil,

com autonomia da vontade e sempre com o apoio de pessoas de sua confiança somente nas

questões de natureza patrimonial e/ou negocial.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Lei Brasileira de Inclusão é uma inovação legislativa que alterou significativamente

diversos dispositivos legais já consolidados no ordenamento jurídico, principalmente com a

modificação no regime da incapacidade civil. A Lei nº 13.146/15 visa a promover e assegurar

o exercício de direitos de forma livre e autônoma pela pessoa com deficiência.

Nesse contexto, o Estatuto da Pessoa com Deficiência encontra barreiras para adequar

a inclusão social prevista na legislação à realidade social, na medida em que a sociedade vem

se baseando, historicamente, em práticas discriminatórias com as minorias. Dessa maneira, a

inclusão social em textos normativos já vem regulada em diversos outros diplomas, mas essa

simples imposição legal, nesse caso, não acarreta a plena efetivação dos direitos, já que a

coletividade não está preparada para proporcionar a inclusão das minorias que já sofreram

discriminação ao longo da história.

Por tais razões, a Lei nº 13.146/2015 ocasionou o surgimento de grandes correntes

doutrinárias que só poderão ser qualificadas como majoritária e minoritárias ao longo do tempo.

A grande discussão entre os doutrinadores gira em torno da eficácia na proteção das pessoas

com deficiência, pois, por um lado, garantiu-se a proteção aos direitos com dignidade e

liberdade, e, por outro, afastou-se as medidas de proteção anteriormente disciplinadas, restando

a pessoa com deficiência uma condição de fragilidade diante da sociedade como um todo.

Pelo presente exposto se traduz a necessidade de um estudo mais aprofundado sobre a

efetividade da Lei, principalmente porque o Código de Processo Civil de 2015, que entrou em

vigor em março de 2016, ou seja, três meses depois da vigência do Estatuto, apresenta conflitos

normativos que deveram ser analisados pelo legislador e o magistrado quando da aplicação de

cada caso em particular.

Contudo, apesar de tantas divergências e contradições o Estatuto da Pessoa com

Deficiência, ao criar o instituto da tomada de decisão apoiada, proporcionou uma forma de

inclusão social com segurança que se for adequadamente aliada a políticas públicas e

campanhas de conscientização poderá ocasionar a efetivação da inclusão social que buscou o

legislador ao instituir a Lei 13.146/2015.

REFERÊNCIAS

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