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PATRÍCIA OLIVEIRA DA SILVA A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DE LONDRINA (2007 A 2010) Londrina 2011

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES … OLIVEIRA DA SILVA...Pessoas magníficas que Deus enviou na minha vida. A quem ... educacionais especiais nas escolas de educação infantil

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PATRÍCIA OLIVEIRA DA SILVA

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM ESCOLAS DA REDE

MUNICIPAL DE LONDRINA (2007 A 2010)

Londrina

2011

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PATRÍCIA OLIVEIRA DA SILVA

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM ESCOLAS DA REDE

MUNICIPAL DE LONDRINA (2007-2010)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina. Orientador: Prof. Dra. Silvia Márcia Ferreira Meletti

Londrina 2011

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PATRÍCIA OLIVEIRA DA SILVA

A INCLUSÃO DE ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS EM ESCOLAS DA REDE

MUNICIPAL DE LONDRINA (2007-2010)

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Prof. Orientador

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Componente da Banca

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Componente da Banca

Universidade Estadual de Londrina

Londrina, _____de ___________de _____.

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Toda honra e glória seja dada a Deus!

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AGRADECIMENTOS

A Deus, base da minha vida, meu refúgio nos momentos de aflições, meu auxiliador. Se não fosse pela sua sublime misericórdia não teria condições nenhuma de chegar até aqui. Por toda saberia, conhecimento, inteligência, forças, condições, paciência e vitórias dispensadas do céu sobre mim. A meu papai Reginaldo e minha mamãe Nadir, que depois de Deus são os pilares que me sustentam. Pessoas magníficas que Deus enviou na minha vida. A quem observei durante meu desenvolvimento e me serviram como modelo para ser o que sou hoje, ensinando-me coisas que instituição escolar nenhuma poderia me ensinar. Que de forma especial me deram força e coragem, me apoiando nos momentos de dificuldade. Se cheguei até aqui, sou grata a vocês por isso. Obrigada pelo amor incondicional dedicado a mim. Eu amo muito vocês! Ao meu noivo amado Luiz Henrique, que com sua presença amorosa, faz meu dia a dia ser repleto de felicidade. Quem me ajudou a acreditar que eu era capaz. Por todos os conselhos sábios nos momentos difíceis, todo carinho, cumplicidade e compreensão. Nas horas em que mais precisei de vitalidade, foi no seu amor que encontrei inspiração para seguir em frente. Obrigado por ser um modelo de coragem, força e sabedoria para mim. Essa vitória também te pertence! Também te amo muito. Ao meu irmão Rinaldo, pessoa que amo e admiro muito. Que sempre me incentivou a estudar e a prosseguir nos meus estudos. A Fundação Araucária e ao grupo de pesquisa ao qual faço parte, pelo auxilio na pesquisa dos dados. Por fim, a pessoa sem a qual esse trabalho não teria se realizado, minha orientadora Silvia Meletti. Que com sua imensa sabedoria, de forma exemplar, soube guiar meus passos para a construção dessa pesquisa. Agradeço de coração a essa pessoa de inteligência admirável, que me inspira desde o início da minha graduação.

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“Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu”

(Fernando Pessoa)

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SILVA, Patrícia Oliveira da. A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais em escolas da rede municipal de Londrina (2007-2010). 2011. 37f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

RESUMO

A inclusão dos alunos com necessidades educacionais no sistema regular de ensino é uma questão bem delicada que necessita de profundas análises e estudos para sua concretização. Considerando este contexto, tem-se como finalidade nesse trabalho, analisar como vem ocorrendo o movimento de inclusão educacional de 2007 a 2010, especificamente nas escolas da rede municipal de Londrina/PR. Para tanto se adotou como metodologia um levantamento de dados apresentados pelo INEP (nos anos estabelecidos) e análises de indicadores dos sociais acerca das condições de vida da pessoa com deficiência. O tema será discutido abordado por análises estatísticas dos números de matrículas, mediante cruzamentos pelo programa SPSS. O estudo demonstrou que ocorreu sim uma melhoria no atendimento educacional dos alunos com necessidades especiais no ensino regular, porém muitos desses alunos continuam sendo matriculados em instituições especiais e EJA (educação de jovens e adultos). Palavras-chave: Educação Especial, Necessidades Educacionais Especiais, Indicadores Educacionais, Matrículas.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Total geral de matrículas e total de alunos com necessidades

educacionais especiais (2007 – 2010) ..................................................................... 17

Tabela 2 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por

modalidade de ensino e por dependência administrativa (2007 – 2010) ................. 19

Tabela 3 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por

modalidade de ensino e por tipo de deficiência nas escolas municipais de Londrina

(2007 – 2010) ........................................................................................................... 21

Tabela 4 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais no

ensino de 8 anos em escolas municipais de Londrina (2007 – 2010) ...................... 22

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

NEE – Necessidades Educacionais Especiais

INEP – Instituto de Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

DM – Deficiência Mental

DA – Deficiência Auditiva

DF – Deficiência Física

DV – Deficiência Visual

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ....................................................................................................01

EDUCAÇÃO ESPECIAL E A ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL ......................................................................................04

PROBLEMA .............................................................................................................14

OBJETIVOS .............................................................................................................14

Objetivo geral ....................................................................................14

Objetivos específicos .......................................................................14

METODOLOGIA ......................................................................................................16

OS INDICADORES DE MATRÍCULAS DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE LONDRINA ...............................................................18

CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................26

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APRESENTAÇÃO

No ano de 2008 iniciei a graduação do curso de Pedagogia na

Universidade Estadual de Londrina. No decorrer desse ano letivo tive como uma das

disciplinas que compõem a grade curricular, a disciplina Educação e Diversidade

que despertou meu interesse por aprofundar meus estudos sobre as questões que

envolvem a escolarização de pessoas com deficiência.

Outro fator que intensificou meu interesse pela área da Educação

Especial foi minha inserção no Grupo de Pesquisa Estudos e Pesquisas em

Educação Especial, em 2008, por meio da participação no projeto de pesquisa

“Inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais (NEE) no sistema

regular de ensino no município de Londrina”. Neste projeto foram realizadas análises

sobre como estava ocorrendo o movimento de inclusão de alunos com necessidades

educacionais especiais nas escolas de educação infantil e ensino fundamental de

Londrina. A coleta dos dados foi feita por meio de entrevistas (gravadas em áudio

gravador para garantir a fidedignidade dos dados e posterior transcrição dos

mesmos) com gestoras e professoras das instituições de ensino foi realizado um

levantamento do percentual de alunos com NEE nas referidas escolas. As

dimensões que guiaram as entrevistas foram: se a escola possuía aluno com NEE e

questões pertinentes a educação especial, deficiência e escola inclusiva. Para a

análise, os dados foram organizados por: realidade sócio-político-econômica do

município; histórico da rede de ensino municipal; caracterização da educação no

município de Londrina; indicadores de atendimento no ensino regular e especial;

histórico da educação especial no município e; perfil do aluno atendido e tipos de

atendimentos ofertados.

No ano de 2009, iniciei a participação no projeto “Escolarização de

alunos com deficiência: uma análise dos indicadores sociais do Estado no Paraná e

do Município de Londrina (1997-2007)” e, nele, desenvolvi meu projeto de Iniciação

Científica. Nesse projeto, os objetivos são: 1- Identificar e analisar o crescimento

demográfico da população com deficiência segundo suas diferentes manifestações e

faixa etária; 2- Caracterizar e analisar o atendimento escolar da população com

deficiência no estado do Paraná e no município de Londrina; 3- Caracterizar e

analisar o crescimento demográfico e o atendimento escolar da população com

deficiência segundo distribuição pelo estado do Paraná e município de Londrina; 4-

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Caracterizar e analisar as matrículas em educação especial no município de

Londrina segundo distribuição pelas unidades escolares dos sistemas estadual,

municipal e privado. 5-Delimitar critérios para a construção de um Sistema de

Indicadores Sociais referente às condições de vida da pessoa com deficiência

segundo a combinação orientada das estatísticas do crescimento demográfico e do

acesso ao atendimento educacional desta população.

Perante essas experiências, e na apropriação do referencial teórico

do Grupo de Pesquisa e do curso de Pedagogia, percebi que os alunos classificados

com necessidades especiais têm sua trajetória de escolarização marcada por

processos de segregação, discriminação, raramente estão incluídos do sistema

regular de ensino e, quando ocorre, é de maneira perversa e desumana, não

obtendo aquilo que é seu por direito.

Isso porque, segundo Martins (2002, p.11), a sociedade exclui o

diferente a todo o momento, concedendo formas desumanas de participação. A

escola numa visão de renovação, “coloca” a criança com deficiência em um

constante “preparo para”, pois marginaliza, “prepara” e após perceber que a criança

está apta a acompanhar os ditos “normais” ela integra (MELETTI, 2009). Mas essa

integração está se realizando em formas desumanas, pois não a vêem como um

direito da criança e sim privilégios que caridosamente estão concedendo aos

deficientes.

Com base nesta trajetória optei por desenvolver meu Trabalho de

Conclusão de Curso por meio da realização de uma pesquisa que teve por objetivo

identificar e analisar as alterações quantitativas referentes ao acesso de alunos com

deficiência no sistema municipal de ensino de Londrina.

O presente trabalho é o relatório desta pesquisa e está organizado

da seguinte forma:

O Capítulo 1 constitui-se no Referencial Teórico, no qual abordamos

questões a respeito da exclusão social, exclusão escolar, escolarização de alunos

com NEE, as políticas públicas a cerca da escolarização desse alunado.

No Capítulo 2 descrevemos passo a passo a metodologia que

utilizamos para a realização dessa pesquisa,

No Capítulo 3 apresentamos os resultados da pesquisa, por meio de

tabelas construídas a partir dos dados coletados no INEP.

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Por último tecemos algumas considerações finais nas quais

identificamos uma forma mais ou menos mascarada de inclusão.

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EDUCAÇÃO ESPECIAL E A ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL

Observando o histórico da educação especial no Brasil, verifica-se

que esta se constituiu desde seus primórdios como um sistema de ensino paralelo

ao ensino regular, ou seja, um sistema de ensino que atende separadamente as

crianças com deficiência. Fato firmado pelas políticas públicas que incentivam

(técnica e financeiramente) as instituições privadas de caráter filantrópico assumirem

a educação desses alunos.

Esta condição se consolida submersa em um contexto social e

econômico mais amplo que sustentou o desenvolvimento de nosso país atrelado à

intensa desigualdade social, com a propagação da pobreza e da precarização e da

perversidade da situação de vida de grande parte da população.

A realidade que se constituiu não foi apenas a de uma perversidade

econômica como pensavam muitos, mas também uma perversidade social, cultural e

política, pois as populações carentes eram tolhidas a qualquer tipo de participação.

Nesse contexto, há uma ação mascarada que indica a inclusão

como uma forma de ruptura e de transformação da sociedade excludente em seu

contrário. Sintetizando esse pensamento temos as contribuições de Martins (2002),

apresentando a concepção de que a sociedade que clama por formas de inclusão é

a mesma sociedade que exclui e coisifica o sujeito em todo momento, desta maneira

“[...] a sociedade que exclui é a mesma sociedade que inclui e integra, que cria

formas também desumanas de participação, na medida em que delas faz condições

de privilégios e não de direitos” (p.11).

Por conseguinte, a inclusão constituiu-se em um movimento de

todos em prol daqueles que estão à margem das condições sociais, como se na

expansão desse movimento inclusivo acabariam com todas as exclusões há muito

vividas.

A escola passa a ser considerada prioridade, pois através da

educação o indivíduo teria condições de usufruir de todos os benefícios que os

demais desfrutam, ou seja, “[...] a inclusão escolar seria a garantia de inclusão social

posterior [...]” (MELETTI, 2009, p.3). E segundo Meletti (2009, p.3), no caso da pessoa com deficiência, a inclusão em ambientes regulares de educação aparece como o grande objetivo da área de educação especial. A indicação é a de que o acesso e permanência

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na escola regular são a via de ruptura com a condição de segregação e de exclusão social historicamente impostas a essa população.

Outro intuito foi o de amenizar o atraso cultural que o país se

encontrava e busca por uma sociedade mais civilizada, constituindo-se desta

maneira como um direito ao cidadão, para que pudessem exercer plenamente sua

cidadania. De acordo com Cury (2008, p.208), mediante lutas sociais, a escola

tornou-se um espaço de direito ao saber e a cidadania, devendo ser ofertada e

garantida pelo Estado.

Por outro lado, desde seu surgimento, a escola constituiu-se em um

espaço segregador, onde só teriam acesso àquela população privilegiada, ou seja,

aqueles que detinham um poder econômico elevado e aqueles que não fugissem do

padrão pré-estabelecido (de sujeitos “perfeitos”), capazes de aproveitar de todos os

recursos que nela dispõem. Os indivíduos que não se enquadram nesses padrões

eram os ditos excluídos, isto é, aqueles que sofriam de privação ora econômica, ora

social.

Sob as lentes do direito humano e no movimento de pensar

alternativas que modifiquem as práticas discriminatórias, em 1948, é assinada a

Declaração Universal dos Direitos Humanos, garantindo o direito de todos à

educação, sem restrição de origem, cor, sexo e idade. Podemos dizer que pela

primeira vez, em documentos legais o direito de todos a educação foi demarcado,

porém a especificidade de alunos com necessidades educacionais especiais ainda

não foi mencionada.

No Brasil, até a década de 1960 vemos que a educação especial

não detinha lugar central nas discussões sobre educação e o mínimo que se

constituiu foi em um sistema paralelo, ou seja, fora da escola, por esta razão que

propiciava uma segregação. Ao invés de incluir excluía-se ainda mais, de maneira a

“guardar” esse aluno em local mais adequado a suas necessidades.

Amaral (apud Meletti, 2009), aponta a desvalorização que a pessoa

com deficiência sofria, sendo quase invisível para a sociedade, chegava a ser

considerada desumana. [...] invisíveis para a sociedade em geral, pois guardados a “sete chaves” em instituições ou em suas casas; invisíveis para a legislação, que deles só se ocupava em termos de restrições ou sanções; invisíveis para as instituições educacionais regulares, que

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sequer os viam como sujeitos da educação; [...] E mais: quando tomados visíveis o eram, muitas e muitas vezes, com tonalidades e características drasticamente estereotipadas e des-humanizadas (1999, p.36, grifos meus).

De acordo com Magalhães (2000?), na tentativa de consertar o

desvio/ “defeito” da pessoa com deficiência, a sociedade discriminava e excluía, com

um discurso de bem-estar do desviante. “Há um processo de ‘normalização’ da

pessoa, por essa razão surgem manicômios, hospitais, presídios, escolas especiais

onde se procurava apagar/amenizar os atributos diferenciadores” (s/p).

Nesse período, no Brasil, não havia políticas públicas que

assegurem o acesso a educação especial, havia apenas políticas especiais

reafirmando a omissão do Estado e abrindo espaço para instituições privadas de

caráter filantrópico assumirem o atendimento desses alunos, responsabilidade (esta)

que deveria ser assegurada pelo Estado (direito determinado desde 1988 na

Constituição).

Na década de 1980 a escolarização dos alunos com deficiência não

passou por muitas modificações, permanecendo permeada por segregação. No final

dessa década ocorreram movimentos em prol desse atendimento, desta maneira

ocorreu o início de formulações de aparatos legais normativos estabelecendo e

reafirmando o direito da educação de todos. Por esta razão que a segregação cedeu

lugar a integração.

O movimento de atendimento ao aluno com deficiência que passou a

ser ofertado a partir desse período foi sustentado pelos princípios de integração e de

normalização, ou seja, O entendimento era o de que a educação especial deveria proporcionar ao indivíduo com deficiência condições de vida tão semelhantes quanto a de pessoas não deficientes, seja na escola, no trabalho ou no contexto social geral. Para isso, defendia-se a normalização das condições de vida e não do deficiente, a quem deveria ser ensinado beneficiar-se daquilo que a sociedade poderia lhe oferecer (MELETTI, 2009 p. 01)

As políticas públicas e a preocupação pedagógica voltam-se para o

sentido de normalização, ou seja, criar ambientes sociais onde o deficiente possa ter

condições de vida tão semelhantes quanto aos ditos “normais”. E podemos ver que

a escola constituiu-se em um ambiente propício a essa normalização.

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O discurso que ocorreu mediante esse movimento foi o de que essa

prática favoreceria uma melhor integração, porque tirariam o aluno de um ambiente

excludente, o “consertariam” e devolveriam apto a essa nova forma de vida,

consequentemente menos estigmatizadora (FERREIRA, apud MELETTI, 2009). De

acordo com Meletti (2009) tratam o deficiente como se ele estivesse em um

constante “preparo para”.

Houve, a partir dos discursos de integração, um aumento

significativo das classes especiais nas escolas públicas. Esse fato mostrou que

preparar um local e colocar os alunos dentro, não garantiria uma inclusão, e

segundo Ferreira (1995, apud MELETTI, 2009) foi o que realmente aconteceu esses

ambientes favoreceram ainda mais a segregação.

Pensava-se que a integração no sistema regular de ensino

proporcionaria ao individuo excluído o fim de uma segregação a muito vivida. E

também amenizaria as mazelas que ocorriam na sociedade, pois uma educação

escolar garantiria uma posterior integração social. Nesse espírito, constitui-se o novo

paradigma da inclusão, o de resolver todos os problemas da sociedade.

Nos discursos de integração destacava-se a questão pertinente a

quem deveria ser atendido em locais especiais (classes e instituições) e quem

deveria estar no ensino regular. Aqueles alunos com alto grau de deficiência,

considerada severa, deveria estar em locais especializados e os demais deveriam

receber apoio em classes comuns. Desta forma “nas escolas comuns, públicas, as

classes especiais eram para os deficientes mentais educáveis ou de Inteligência

limítrofe” e “as salas de recursos para os deficientes sensoriais [...]”, “nas escolas

especiais, filantrópicas, estavam os alunos [...] portadores de deficiências leves: os

‘treináveis’, os ‘dependentes’ e uma parcela dos ‘educáveis’ (FERREIRA, 2006,

p.89).

Todavia verificou-se que esse movimento de integração não atendia

as expectativas que uma educação de todos os alunos em instituições regulares,

mas que estava gerando mais rotulação, estigmatização e exclusão.

É na década de 1980, com a promulgação da Constituição Brasileira

de 1988, que observamos o reconhecimento legal desse atendimento, demarcando

o direito de escolarização pública a todos, inclusive ao aluno com algum tipo de

deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino.

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Fica estabelecido que a educação é um direito de todos e cabe ao

Estado e a família assegurar esse direito, garantindo para toda criança “igualdade de

condições para o acesso e permanência na escola” e também “atendimento

educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede

regular de ensino” (Constituição de 1988).

Em análises tecidas por Ferreira (2006, p.92) sobre a Constituição

de 1988 (art. 208) há três aspectos que marcam com destreza os discursos sobre

inclusão/exclusão. A primeira referência feita pelo autor é sobre o termo

“atendimento especializado” conduzindo o leitor a uma análise de exclusão, ou seja,

“que a educação dos alunos a que se refere o artigo é responsabilidade [...] dos

serviços de educação especial”. A segunda menção é ao termo “portadores de

deficiência” gerando uma extrema falta de foco no que tange a quem são esses

alunos. E por fim, o autor faz alusão ao termo “preferencialmente”, “aqui vêm às

questões acerca de como se configura e decide (e quem decide) tal preferência”.

Entretanto, estar em lei não garante que esse movimento realmente

acontecerá com êxito, pois há muitas barreiras preconceituosas que impedem o

acesso dessa população ao ensino escolar, por mais que a legislação contemple tal

direito a maioria dos alunos com necessidades educacionais especiais continua

sendo matriculados em ambientes segregados, como classes e instituições

especiais.

Historicamente, vemos que a educação especial no Brasil se

constituiu (quase que) exclusivamente em locais segregados. O Estado se omitiu

perante a educação das crianças com necessidades educacionais especiais e

incentivou (financeiramente) as instituições privadas de caráter filantrópico a

assumirem tal trabalho, ofertando atendimento em locais não regulares as crianças

com deficiência. Desta maneira que ocorreu a estruturação da educação das

crianças com necessidades educacionais especiais ao longo dos tempos, em locais

segregados, sendo classes e instituições especiais. A realidade não se constituiu tão bela quanto almejavam os

discursos, pois surgiram barreiras para impedir o acesso amplo à educação. Desta

maneira estruturou a partir do final de 1980 e início de 1990 um conjunto de

aparatos legais normativos, em que complementava o outro, no sentido de garantia

do direito de todos à educação básica (inclusive do aluno com deficiência que deve

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estar matriculado no ensino regular) e reafirmando a obrigatoriedade do Estado em

ofertar esse serviço.

Somente da década de 1990 com a adesão do país a Declaração de

Salamanca (1994) e a partir das orientações internacionais é que o discurso da

educação especial passou a incorporar uma perspectiva mais inclusiva. A

Declaração passou a influenciar na formação das políticas públicas de educação

inclusiva, no Brasil. Proclamava como princípio fundamental que [...] as escolas devem acolher todas as crianças, independentes das suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. [...] As escolas têm que encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, inclusive com deficiências graves. (apud DUTRA, 2006, p.68).

Como marco da legislação brasileira que contempla um caráter

inclusivo e estabelecendo uma perspectiva mais educacional a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional 9.394/96 aponta que [...] os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: currículo, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender as suas necessidades; terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; (CURY, 2002, p.47).

Na LDB/96 apesar de conter de forma mais clara uma perspectiva

educativa não há a definição de quem são os alunos que deverão ser atendidos pela

educação especial. Mas afirma que é direito de todos a uma educação pública,

gratuita e de qualidade. As leis anteriores como a 4.024/61 marca o

descompromisso com essa modalidade (educação especial) e a 5.692/71 traz que

para essa população, isto é, alunos portadores de deficiência (alvo da educação

especial) deva haver atendimento especializado.

Segundo Ferreira (1998), a LDB/96 aponta que educação especial

constituiu-se como modalidade da educação básica que deve ser ofertada,

preferencialmente, no sistema regular de ensino, e somente quando o aluno

apresentar características que o impeça de acompanhar os demais deve receber

atendimento especializado. Como no Brasil não há uma estrutura adequada e

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políticas esclarecedoras surgem cada vez mais ambientes “restritivo” e

segregadores.

Dessa maneira, a escola começa a abrir suas portas a todos,

garantindo educação a alunos com necessidades educacionais especiais nas

classes regulares, ou seja, a compreensão da escola que se passa a ter é de uma

escola inclusiva, que não elege, classifica ou segrega, “mas que modifica ambientes,

atitudes e estruturas para tornar-se acessível a todos” (DUTRA, 2006, p.69). Inicia-

se o paradigma da inclusão.

O termo deficiência, bem como suas inúmeras nomenclaturas no

decorrer dos tempos, é substituído por necessidade educacional especial a partir de

1994 com a Declaração de Salamanca. De acordo com Bueno (1997, apud

MELETTI e BUENO, 2010), essa abrangência do termo tem lados positivos e

negativos, pois ao mesmo tempo em que contribui para diminuir a estigmatização,

ela se torna ampla demais, ficando de difícil identificação quem são os alunos alvo

dessa educação, bem como transformando a deficiência em uma esfera da

necessidade educacional especial.

Desta forma o documento apresenta como alvo dessa educação as

crianças com deficiências e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e

que trabalham; crianças de populações distantes e nômades; crianças de minorias

lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas

desfavorecidos ou marginalizados (MELETTI e BUENO, 2010).

A Política Nacional de Educação Especial (1994) expõe como alvo

da educação especial os “[...] portadores de deficiência (mental, visual, auditiva,

física, múltipla), os portadores de condutas típicas (problema de conduta) e os

portadores de altas habilidades (superdotação)” (MELETTI e BUENO, 2010, p.3).

Um conceito mais amplo sobre quem os alunos atendidos pela

educação especial aparecem nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na

Educação Básica (CNE/2001), que em seu art. 5º expõe: consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: I- dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; aquelas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II- dificuldades de comunicação e sinalização diferenciada dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III-

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altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes.

Estar em lei não assegura que esse direito seja garantido, até

porque o ambiente (maior) que englobará esse indivíduo é rico em discriminações e

segregação. A inclusão que tanto proclamam a esse sujeito, segundo Martins

(2002), é uma inclusão perversa e marginal, pois tentam o incluir em um ambiente

(como já foi dito) propício a descartar essas pessoas e tratá-las como coisas.

Para que esse movimento de inclusão possa obter resultados mais

satisfatórios é necessária uma adequação por parte das escolas a heterogeneidade

dos alunos, pois cada um (independente de deficiência ou não) possui suas

particularidades que precisam ser respeitadas.

Ferreira (1998) atenta para a necessidade, que se faz extremamente

necessária, de uma reflexão por parte dos sistemas educacionais (estaduais e

municipais) a respeito da responsabilidade pela educação dos alunos que estão no

sistema paralelo, criando desta forma um ambiente menos segregador. “[...] Tal

necessidade se coloca para esses sistemas no momento em que muitos deles têm

reavaliado e mesmo desativado os serviços de ensino especial, até para reduzir

processos de estigmatização [...]” (s/p).

A “materialidade” da educação especial como modalidade da

educação básica, que deve ser oferecida na rede regular de ensino e apenas em

casos extremos o aluno deverá ser atendido em outras instituições (classes ou

escolas), é definida em 2001 nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na

Educação Básica: Por educação especial, modalidade de educação escolar [...] entende-se um processo educacional definido em uma proposta pedagógica, assegurando um conjunto de recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e em alguns casos substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, em todos os níveis, etapas e modalidades da educação. (MEC/SEESP, 2001, p.27-28, apud MELETTI, 2009).

Nesse sentido temos a contribuição de Garcia (2004) que realiza

uma análise no âmbito de “proposições” políticas nas Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial na Educação Básica. Segundo a autora, nesse documento a

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realização da inclusão escolar pode ocorrer de três formas: mantendo-a como uma

“rede paralela ao ensino regular, pela incorporação de certificação relativa ao ensino

fundamental e profissionalizante de seus alunos, ou ainda por serviços de apoio ao

professor de classe regular” (p.6). Para a autora, essa política não contemplou uma

proposta única para a educação especial, mas normatizou a existências de vários

projetos, isto é, permitiu a “flexibilização das modalidades de atendimento” (p.6).

Garcia (2004) expõe um fato muito pertinente: que os discursos

sobre inclusão vieram à tona justamente em um tempo de extrema desigualdade

social. E mostra o que as agências internacionais dizem a respeito desse tema.

No topo das discussões está a questão de criar mais abertura ao

setor privado, assim como às famílias e às ONGs em detrimento do setor público, no

qual refere a “direitos sociais, em especial a educação”. “A concepção de ‘educação

inclusiva’ que emerge destes posicionamentos é aquela que considera as escolas

como espaços comunitários de prestação de serviços sociais, dentro os quais os

educacionais” (GARCIA, 2004, p.9). Com esse pensamento fica evidente o tão

praticado repasse de responsabilidades.

Mediante o avanço tecnológico que o mundo sofreu as políticas

recomendam uma educação que prepare o cidadão a esse novo tempo. No âmbito

da “inclusão clamam por métodos mais ativos e flexibilizados” (p.11) que podem ser

ofertados, até mesmo, por ações comunitárias o que garantiria menor custo. Por isso

que para Garcia (2004) o “slogan: educação para todos” encobre uma proposta de

“política educacional compensatória” (p.11).

As políticas apresentam a educação inclusiva como saída para a

proposta educacional a todos, pois dessa forma todos os alunos terão acesso ao

conhecimento de maneira não segregada e não excludente.

Para a política nacional a educação inclusiva constituiu-se em um

serviço que deve ser responsabilidade do sistema de ensino público ou privado,

reforçando uma ideia defendida, a da flexibilização do serviço e da “flexibilização no

currículo” (p.14) para que o ensino possa contempla todos os sujeitos. Porém,

prescrevem uma organização no trabalho pedagógico no sentido de oposição ao

modelo clínico que prevalece na educação inclusiva, retirando o foco do diagnóstico

e aplicando “sobre as necessidades de aprendizagens”. Pois até a década de 1980

o que predominou na educação do deficiente foi uma visão psicologizada e

13

reducionista desenvolvida pela medicina, e somente a partir da década de 1990 é

que ocorreram mudanças no atendimento educacional desses alunos, originando

uma visão de cunho educacional.

Todavia o que vem ocorrendo nas escolas para que possam

contemplar uma educação a todos, é uma distorção do termo “flexibilização”, pelo

fato de sua amplitude não estão modificando estratégias e métodos pedagógicos,

mas diminuindo conteúdos que ditam ser complexo demais ou encaminhando esse

alunado a educação de jovens e adultos, fato que contempla outro componente

(também expresso em lei), a terminalidade específica.

Na educação especial no contexto paranaense, assim como no

município de Londrina, pois este segue a legislação educacional do Estado do

Paraná, vemos no histórico educacional de atendimento ao aluno com NEE do

Estado que 1939 ocorreu a abertura da primeira escola especial (Instituto

Paranaense de Cegos) e em 1958 a primeira classe especial em escola pública.

“Assim, desde o inicio, a educação escolar de pessoas com deficiência estendeu-se

aos dois contextos: as escolas especiais e os então denominados programas

especializados na rede pública” (SEED/2006, p.31).

Mediante a não prestação de serviços pelos órgãos públicos,

entidades não-governamentais (geralmente dirigidas por pais de crianças

deficientes) mobilizavam-se em prol de atendimento/serviços especializados,

disseminando-se assim os números de instituições por todo o Estado. A falta de

investimento do poder público para com a modalidade de ensino da Educação

Especial dá abertura para as instituições privadas de caráter filantrópico assumirem

tal educação.

A partir da década de 1970 é que ocorreu uma expansão da

Educação Especial em âmbito público, ou seja, abertura em vários municípios do

Estado de classes especiais em escolas regulares.

O ponto central das discussões tecidas até aqui é o dualismo que

reina na educação especial, concernente ao atendimento no sistema regular ou em

instituições filantrópicas/assistencialistas, já que esses locais recebem muito apoio

(financeiro) do governo obtendo o maior número de recursos destinados para área,

mantendo desta forma uma política muito forte.

14

Como vimos a LDB/96 expressa a importância do direito de todos à

educação, mas as Diretrizes/2001 denominam as instituições como escolas, com

isso há o movimento de encobertar os alunos que deveriam estar no ensino regular

e não estão. Fato expresso em nossas análises que mostram que houve um

aumento significativo desses alunos no sistema regular, sem uma diminuição similar

nas instituições especiais.

Mediante toda essa discussão referente à garantia de uma educação

de qualidade aos alunos da educação inclusiva em um sistema regular de ensino e

não em ambientes excludentes, faz-se necessário uma análise das matrículas

desses educandos no sistema regular, “já que é lá que a educação desta população

deve ocorrer preferencialmente e que são as escolas que tem que se transformar e

se adequar às necessidades especiais de seus alunos” (MELETTI, 2009), não ao

contrário como vem ocorrendo, isto é, os alunos que estão tendo que adequar as

escolas. Com base nesta referência, delimitamos o problema e os objetivos

da presente pesquisa, conforme apresentado a seguir.

PROBLEMA:

De que modo o atendimento educacional para o aluno com

deficiência está evoluindo no sistema regular do município de Londrina em termos

de acesso?

OBJETIVOS: Objetivo geral: Identificar e analisar as alterações quantitativas referentes ao

acesso e à permanência de alunos com deficiência no sistema educacional do

município de Londrina.

Objetivos específicos: - Caracterizar e analisar o atendimento escolar da população com

deficiência no município de Londrina.

- Caracterizar e analisar o crescimento demográfico e o atendimento

escolar da população com deficiência segundo distribuição pelo município de

Londrina.

15

- Caracterizar e analisar as matrículas em educação especial no

município de Londrina segundo distribuição pelas unidades escolares do sistema

municipal.

     

16

METODOLOGIA

Para identificar como a inclusão de alunos com deficiência está

sendo implementada nas escolas da rede municipal do município de Londrina/PR,

os dados serão coletados a partir do banco de microdados do Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (INEP), nos anos de 2007 a 2010.

Para tratamento e análise dos dados, utilizamos como recurso, o

software de estatística PASW Statistics (SPSS/17).

A análise dos microdados foi realizada da seguinte maneira:

primeiramente coletamos os dados das matrículas, ano a ano, no site do INEP,

posteriormente com auxilio do software tratamos essas matrículas de acordo com as

variáveis1 que foram estabelecidas, sendo:

- Modalidade de ensino:

. regular: refere-se às matrículas em classes regulares, com ou

sem sala de recurso ou apoio especializado e educação especial;

. especial: refere-se às matrículas em classes especiais e em

instituições especiais;

. EJA: refere-se às matrículas na educação de jovens e adultos,

com ou sem apoio especializado;

- Tipo de deficiência:

. deficiência mental: refere-se à soma das matrículas de

alunos com deficiência intelectual e com Síndrome de Down, nos anos de

2007 e 2008, e dos alunos com deficiência intelectual nos anos de 2009 e

2010. A coleta de dados do Censo Escolar separou a Síndrome de Down da

deficiência mental nos anos de 2005 a 2008.

. deficiência física;

. deficiência auditiva: refere-se à soma das matrículas de

alunos surdos e com deficiência auditiva

. deficiência visual: refere-se à soma das matrículas de alunos

cegos e com baixa visão;

- Dependência administrativa: refere-se às matrículas em

estabelecimentos de ensino das redes estadual, municipal e privada.

1As nomenclaturas das variáveis são de acordo com o INEP.

19

631 matrículas, em 2009, embora tenha ocorrido um decréscimo de 11,5%

(computando 558), se relacionado a 2008 o aumento ocorrido em 2010 foi

expressivo, 809 matrículas, sendo 44,9% a mais que em 2009.

Verifica-se que na modalidade especial houve uma redução ano a

ano, chegando a uma redução geral de 51,1%. Em 2007 havia 1.319 matrículas, em

2008 ocorreu uma queda de 41,5% (computando 771), em 2009 aconteceu um

declive de 4,7% (contando 734) e em 2010 houve um decréscimo de 12,2% no total

de alunos com NEE (sendo 644). Vale destacar que no início de 2010 as classes

especiais da rede municipal de ensino foram fechadas e o atendimento aos alunos

com necessidades educacionais especiais foi reestruturado em salas de recursos

multifuncional.

Na modalidade da educação de jovens e adultos também aconteceu

uma redução, tanto no total de alunos que não possui NEE, quanto dos alunos que

possuem necessidade educacional especial. No ano de 2007 havia 81 alunos

matriculados, no ano de 2008 aconteceu um acréscimo de 13,5%, mas em 2009

uma redução de 34,7% (60 alunos) e em 2010 um aumento de 30% (78 alunos), se

comparado ao ano de 2009.

Entretanto, um dado chama atenção nesses números, o decréscimo

que aconteceu ano a ano no sistema segregado e na EJA não foi compatível ao

acréscimo ocorrido na modalidade regular indicando a possibilidade de vários alunos

com NEE estarem sem participar de qualquer processo de escolarização. Se

somarmos a redução nas modalidades especial e EJA teremos, em 2010, 678

matrículas a menos que no ano de 2007, ao passo que o aumento na modalidade

regular de ensino foi de 294 matrículas.

A tabela 2 apresenta os dados relativos à modalidade de ensino

versus dependência administrativa (Estadual, Municipal e Privada).

20

Tabela 2 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por modalidade de ensino e por dependência administrativa (2007 – 2010)

Ano Modalidade

Dependência Administrativa Estadual Municipal Privada

Total Possui NEE Total Possui

NEE Total Possui NEE

2007

Regular 54 011 222 32 292 235 26 702 58 Especial -------- 60 -------- 147 -------- 1 112

EJA 6 601 12 1 672 69 224 0 Total 60 612 294 33 964 451 26 926 1 170

2008

Regular 53 106 284 30 569 279 27 951 68 Especial -------- 54 -------- 149 -------- 568

EJA 5 427 18 1 394 72 256 2 Total 58 533 356 31 963 500 28 207 638

2009

Regular 53 539 248 28 940 264 28 576 46 Especial ------- 155 ------- 105 ------- 474

EJA 4 886 14 1 280 46 272 0 Total 58 425 417 30 220 415 28 848 520

2010

Regular 52 494 320 28 633 403 29 433 86 Especial ------- 155 ------- 105 ------- 474

EJA 4 117 16 1 144 62 301 0 Total 56 611 491 29 777 570 29 734 560

Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica. Microdados: 2007, 2008, 2009 e 2010.

No ano de 2007 podemos analisar que de um total de 60.612 alunos

matriculados na rede estadual de ensino, 294 possuem necessidades educacionais

especiais (NEE). Destes 294 alunos, 24,4% (222 alunos) estão na modalidade

regular, 79,5% (60 alunos) na modalidade especial e 12 na educação de jovens e

adultos (EJA).

Na dependência municipal, igualmente em 2007, vemos que houve

um acréscimo similar nas três modalidades, mas podemos notar um expressivo

aumento das matrículas em NEE, em todas as modalidades. De um total de 33.964

matrículas, 451 alunos possuem NEE e estão subdivididos em: 47,8% (235 alunos)

na modalidade regular, 67,4% (147 alunos) na especial e 84,7% (69 alunos) na EJA.

Na esfera privada há um considerável percentual na modalidade

especial de ensino, de um total de 1.170 matrículas, 1.112 estão no sistema

segregado de ensino.

No ano de 2008 a proporção na rede estadual e municipal manteve-

se similar. Na dependência estadual, de um total de 58.533 matrículas, 356

21

possuam NEE, e na dependência municipal de um total de 31.963 alunos

matriculados, 500 possuem NEE. Destas 500, 55,8% (279 alunos) estão no ensino

regular. Desse total de 500 matrículas, 149 alunos estão na modalidade especial. No

âmbito da esfera privada ocorreu um decréscimo, pois de 1.170 em 2007, há um

total de 45,4% (638 matrículas) em 2008.

Em 2009, por mais que tenha ocorrido um decréscimo de matrículas

de alunos com NEE na rede privada, a concentração continua nessa dependência,

sendo que de um total de 520 matrículas, 474 matrículas estão na modalidade

especial. Já na rede estadual e municipal a concentração está na modalidade

regular, sendo que de 53.539 alunos na modalidade regular em escolas estaduais,

248 possuem NEE. E de um total de 28.940, 264 possuem NEE.

Em 2010 o movimento ocorrido foi semelhante ao ano de 2009. Na

esfera privada há concentração na modalidade especial, pois de um total de 560,

474 matrículas estão na modalidade mencionada. E nas dependências estadual e

municipal as matrículas de alunos com NEE concentram-se na modalidade regular.

De um total de 52.494 matrículas na modalidade regular em escolas estaduais, 320

possuem NEE, e no âmbito das escolas municipais de um total de 28.633, 403

alunos possuem NEE.

A esfera privada registra o maior percentual de matrículas de alunos

com necessidades educacionais especiais na modalidade especial, nos quatro anos

de análise, merece atenção o fato de que em 2007, 95,6% (1.170) das matrículas de

alunos com NEE estavam nesta condição.

A rede municipal é a segunda dependência administrativa que

apresenta maior número de matrículas de alunos com necessidades educacionais

especiais, mas ao contrário da modalidade privada, a municipal apresenta um

expressivo percentual no ensino regular, não deixando de ser elevada a proporção

de matrículas na modalidade especial.

A educação de jovens e adultos possui matrículas na modalidade

municipal e o número de alunos matriculados na modalidade estadual e privada é

ínfimo.

A tabela 3 apresenta os dados referentes às modalidades de ensino

(regular, especial e EJA), por tipo de deficiência (deficiência mental, visual, auditiva

e física) das escolas municipais de Londrina.

22

Tabela 3 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais por modalidade de ensino e por tipo de deficiência nas escolas municipais de Londrina (2007 – 2010)

Ano Modalidade Tipo de deficiência

DM DV DA DF

2007

Regular 68 24 14 55 Especial 124 1 3 6 EJA 60 2 2 1 Total 252 27 19 62

2008

Regular 104 27 15 63 Especial 117 0 2 4 EJA 64 4 2 1 Total 285 31 19 68

2009

Regular 175 18 20 55 Especial 97 0 2 2 EJA 42 3 2 2 Total 314 21 24 59

2010

Regular 299 31 17 61 Especial 97 0 2 2 EJA 58 2 2 3 Total 454 33 21 66

Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica: Microdados (2007, 2008, 2009 e 2010).

Quando analisamos os dados referentes à modalidade de ensino

versus tipo de deficiência, verificamos a tendência crescente das matrículas de

alunos com deficiência mental nas três modalidades nos quatro anos de análise.

Somando o total dos quatro tipos de deficiências em 2007 havia 360 matrículas,

destas 30% eram deficiência mental, em 2008 de 403 matrículas 29,2% eram de

alunos com deficiência mental, em 2009 de 418 matrículas 24,8% eram referentes a

tal deficiência e em 2010 de um total de 574 20,9% possuía deficiência mental.

Nos anos 2007 e 2008 a concentração de alunos com deficiência

mental estava na modalidade especial, seguida da regular. A partir de 2009 ocorreu

uma inversão, sendo que o foco de alunos com deficiência mental estava no ensino

regular. Computando o total de matrículas de alunos com deficiência mental nas três

modalidades, verificamos que dos 252 alunos 50,7% estavam na modalidade

especial em 2007, em 2008 de 285 alunos 58,9% estavam no ensino especial, em

2009 de 314 69,1% eram de escolas especiais e em 2010 de 454 matrículas 78,6%

estavam na modalidade especial.

23

A segunda deficiência com maior expressividade no computo das

matrículas é a deficiência física, concentrada na modalidade regular. Verificando a

soma total da deficiência física nas três modalidades em 2007, 11,2% (55 alunos)

estão no sistema regular, em 2008 havia 7,3% (63 alunos) no sistema regular, 6,7%

(55 alunos) em 2009 e 7,5% (61 alunos) em 2010.

Não há uma concentração significativa das matrículas de deficiência

visual e auditiva, principalmente, na modalidade especial e na EJA, mas apesar do

número ser ínfimo (em relação às deficiências acima apresentadas), há uma maior

concentração dessas deficiências na modalidade regular. Em 2007 houve 24

matrículas de deficiência visual e 14 de deficiência auditiva, em 2008 27 e 15

concomitantemente, em 2009 18 e 20, e em 2010 31 para deficiência visual e 17

para deficiência auditiva.

Assim como nas demais modalidades, na EJA, a deficiência mental

está mais presente (60 matrículas em 2007, 64 em 2008, 42 em 2009 e 58 em

2010), e as demais o número é ínfimo.

A tabela 4 apresenta os dados de matrículas nas escolas municipais

de Londrina, referente às quatro primeiras séries do ensino fundamental de oito

anos. Tabela 4 – Matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais no ensino de 8

anos em escolas municipais de Londrina (2007 – 2010)

Ano 1ª série 2ª série 3ª série 4ª série

Total Possui NEE Total Possui

NEE Total Possui NEE Total Possui

NEE

2007 8 194 33 9 087 87 8 403 83 8 347 72

2008 6 342 44 8 992 101 8 302 83 8 146 98

2009 919 1 7 396 84 8 438 78 8 242 67

2010 119 0 912 3 7 896 196 8 345 95

Fonte: MEC/INEP. Censo Escolar da Educação Básica: Microdados 2007, 2008, 2009 e 2010.

As matrículas de alunos com NEE nas escolas municipais

apresentam que de 2007 a 2009 ocorreram grande percentual na 2ª série do ensino

fundamental. Já em 2010 houve um expressivo número de matrículas na 3ª série do

ensino fundamental.

24

Os números mostram a evidência de aumento de matrículas dos

alunos com NEE ano a ano. Em 2007 entraram 33 alunos na 1ª série, em 2008 havia

101 na 2ª série, em 2009 havia 78 alunos na 3ª série e em 2010 na 4ª série havia 95

alunos com NEE. Se analisarmos o movimento gradual e pela lógica do nível de

escolarização, vemos um expressivo acréscimo de matrículas. Mas não podemos

esquecer que nas escolas municipais há classes especiais e salas de recursos e

esse fato não é especificado pelos dados, os alunos com NEE que estão

matriculados na rede municipal e esse aumento das matrículas, estão nas classes

regulas ou especiais?

No ano de 2008 entraram na 1ª série 44 alunos com NEE, na 2ª

série em 2009 havia 84 alunos e em 2010 na 3ª série 196 alunos diagnosticados

com NEE. Dois dados chamam atenção no número de matrículas do ensino

fundamental no município de Londrina e ambos contemplam certa discrepância. No

ano de 2010 havia 196 alunos com NEE matriculados na 3ª série (97,5% do total de

matrículas), ao mesmo tempo em que na 1ª série, do mesmo ano, não consta

nenhuma matrícula desse alunado. Onde estão os alunos com NEE? Um fato

importante que merece ser destacado é que no ano de 2010 não há classes

especiais nas escolas municipais, desta forma, necessariamente esses alunos

deveriam estar matriculados nas salas regulares, mesmo assim não há alunos com

NEE matriculados nessa determinada série.

Um fator de suma relevância em nossa analise é o fato da transição

que vem ocorrendo no município na estruturação do ensino fundamental, até 2009 e

início de 2010 o ensino fundamental era estruturado em 8 anos de duração, a partir

do ano referido há uma nova estrutura, sendo que agora possui uma duração de 9

anos.

Esse dado é importante no momento de analisar os dados de

matricula do município, porque nos anos de 2009 e 2010 as matrículas sofreram

uma redução, principalmente as de alunos NEE. Assim percebemos que em 2009

sendo o início da transição já não havia muitos alunos na 2ª série do ensino

fundamental e sim no 1º ano dessa mesma etapa de ensino. Dessa maneira os

alunos que deveriam estar matriculados na 2ª em 2010 estariam no 3º do ensino

fundamental.

25

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve por objetivo analisar as alterações

quantitativas das matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais na

rede municipal de ensino de Londrina.

Os dados indicam que tal alteração ocorre de modo expressivo em

duas esferas: rede regular de ensino e na modalidade de educação especial,

prioritariamente nas classes especiais.

Um fator que muito se destacou em nossa análise foi a questão de

que por mais que as matrículas tenham aumento na modalidade regular de ensino,

ao mesmo tempo não diminuíram, na mesma proporção, na modalidade especial,

demarcando a manutenção da segregação desses educandos. Fato marcado por

uma especificidade ocorrida no município de análise no final de 2009 e início de

2010, houve um decréscimo no número de matrículas da educação especial porque

as classes especiais nas escolas municipais foram fechadas, cedendo lugar as salas

de recurso, assim os alunos que recebiam atendimento educacional nessas classes

migraram para as classes regulares, aumentando o computo das matrículas no

ensino regular.

Vale destacar que alterações na estrutura do atendimento deveria

desencadear uma mudança radical no trabalho pedagógico destinado a esta

população. Isso nos remete à necessidade de investigações futuras que busquem

conhecer o alcance das proposições políticas nos processos de escolarização de

pessoas com deficiência.

Por mais que a legislação determine que é direito do aluno com

necessidade educacional especial estar matriculado no sistema regular de ensino,

esse dever pode não estar sendo assegurado de maneira sensata. Não podemos

ignorar que a inclusão deve contemplar: acesso, permanência e inserção em

processos efetivos de escolarização.

 

26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL.CASA CIVIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/constituicao1988>. Acesso em: 17/08/2010. BRASIL. MEC/SEESP. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, MEC/SEESP, 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Sinopse Estatística da Educação Básica/Censo Escolar 2007. Brasília: MEC/INEP, 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Sinopse Estatística da Educação Básica/Censo Escolar 2008. Brasília: MEC/INEP, 2008. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Sinopse Estatística da Educação Básica/Censo Escolar 2009. Brasília: MEC/INEP, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Sinopse Estatística da Educação Básica/Censo Escolar 2010. Brasília: MEC/INEP, 2010. CNE/CEB Nº2. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Ministério da Educação e Secretária de Educação Especial, 11 de Setembro de 2001. CURY, C. R. J. / A educação escolar, a exclusão e seus destinatários / Educação em revista, n.48, p.205-222. Belo Horizonte, 2008. DUTRA, Claudia Pereira. / Políticas públicas de inclusão e o papel da educação especial. / in. MANZINI, Eduardo José. Inclusão e Acessibilidade. Marília: ABPEE, 2006. p.67-77. FERREIRA, J. R. / A nova LDB e as necessidades educativas especiais. / cad. CEDES v.19 n.46. Campinas, 1998. GARCIA, R. M. C. Discursos políticos sobre inclusão: questões para as políticas públicas de educação especial no Brasil. UFSC/CNPq, 2004. Disponível em: <http:/ www.gepeto.ced.ufsc.br >. Acesso em: 15/11/2009. JANUZZI, G. S. M.; JANUZZI, N. Incidência de deficientes no Brasil segundo o Censo Demográfico de 1991: resultados empíricos e implicações para políticas. In: Anais do XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP. Caxambu, ABEP, 1998. JANNUZZI, P. de M. Indicadores Sociais no Brasil: conceitos, fontes de dados e aplicações. Campinas: Editora Alínea/PUC-Campinas, 141 p. 2006.

27

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