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48 Cadernos de Estudos Linguísticos da Universidade Federal do Ceará A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE NO PORTUGUÊS ORAL DO BRASIL Camille Feitosa de ARAÚJO Samuel Freitas HOLANDA Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar as diversas formas de indeterminação do agente no Português falado do Brasil, e as motivações discursivas que induzem à realização desse fenômeno em nossa língua. Para tanto, nos baseamos na análise de dados colhidos entre falantes brasileiros da década de 90. Inicialmente, expomos os meios, permitidos pela nossa língua e utilizados pelos falantes, para essa indeterminação e posteriormente, destacamos os casos de agente indeterminado no discurso dos falantes do nosso corpus. Através da análise realizada, nossa pesquisa identificou um uso frequente de pronomes e expressões indefinidos e de verbos na 3ª pessoa do plural para essa indeterminação do agente na nossa língua. Palavras-chave: indeterminação; agente; funcionalismo. INTRODUÇÃO Quando queremos identificar, em um enunciado, aquele que pratica a ação verbal, normalmente perguntamos ao próprio verbo, pois foi assim que aprendemos, nas gramáticas tradicionais, a identificar o agente da ação expressa pelo verbo, ou seja, o sujeito. No entanto, conforme vamos tendo mais contato com a língua Portuguesa, percebemos que nem sempre aquele que pratica a ação expressa pelo verbo é localizável na enunciação, e que também nem sempre coincide com o sujeito da oração. Assim, observamos que não é apenas o aspecto sintático que irá determinar o agente de uma oração, mas os aspectos semânticos e discursivos também deverão ser levados em consideração. A indeterminação do agente confere um caráter de imprecisão quanto ao termo que seria aquele que praticaria a ação verbal. Ou seja, a indeterminação do agente em um enunciado será o meio utilizado pelo enunciador para não identificar o agente de uma ação verbal, ou por não saber, ou por não querer identificá-lo. Muitas são as formas de

A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE NO PORTUGUÊS ......Mas poderemos, através de artigo, trazer uma boa contribuição para o estudo da indeterminação do agente na Língua Portuguesa

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Cadernos de Estudos Linguísticos da Universidade Federal do Ceará

A INDETERMINAÇÃO DO AGENTE NO PORTUGUÊS ORAL

DO BRASIL

Camille Feitosa de ARAÚJO

Samuel Freitas HOLANDA

Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar as diversas formas de indeterminação

do agente no Português falado do Brasil, e as motivações discursivas que induzem à

realização desse fenômeno em nossa língua. Para tanto, nos baseamos na análise de

dados colhidos entre falantes brasileiros da década de 90. Inicialmente, expomos os

meios, permitidos pela nossa língua e utilizados pelos falantes, para essa indeterminação

e posteriormente, destacamos os casos de agente indeterminado no discurso dos falantes

do nosso corpus. Através da análise realizada, nossa pesquisa identificou um uso

frequente de pronomes e expressões indefinidos e de verbos na 3ª pessoa do plural para

essa indeterminação do agente na nossa língua.

Palavras-chave: indeterminação; agente; funcionalismo.

INTRODUÇÃO

Quando queremos identificar, em um enunciado, aquele que

pratica a ação verbal, normalmente perguntamos ao próprio verbo, pois

foi assim que aprendemos, nas gramáticas tradicionais, a identificar o

agente da ação expressa pelo verbo, ou seja, o sujeito. No entanto,

conforme vamos tendo mais contato com a língua Portuguesa,

percebemos que nem sempre aquele que pratica a ação expressa pelo

verbo é localizável na enunciação, e que também nem sempre coincide

com o sujeito da oração. Assim, observamos que não é apenas o aspecto

sintático que irá determinar o agente de uma oração, mas os aspectos

semânticos e discursivos também deverão ser levados em consideração.

A indeterminação do agente confere um caráter de imprecisão

quanto ao termo que seria aquele que praticaria a ação verbal. Ou seja, a

indeterminação do agente em um enunciado será o meio utilizado pelo

enunciador para não identificar o agente de uma ação verbal, ou por não

saber, ou por não querer identificá-lo. Muitas são as formas de

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indeterminação do agente encontradas em uma dada situação

comunicativa, e serão algumas dessas formas que pretendemos investigar

e analisar. Assim, o objetivo da nossa pesquisa será, através da análise de

dados, observarmos como o emissor se utiliza dessas possibilidades para

conseguir indeterminar o agente na Língua Portuguesa falada no Brasil.

Não pretendemos aqui exaurir todo o assunto, já que é apenas um

artigo e não abrangemos um número de informantes suficientes para isso.

Mas poderemos, através de artigo, trazer uma boa contribuição para o

estudo da indeterminação do agente na Língua Portuguesa.

1. METODOLOGIA

Para a concretização do presente trabalho, analisamos quatro

entrevistas dadas por falantes do sexo masculino e coletadas na década

de 90. Os informantes falavam uma variedade da língua situada entre o

culto e o informal, pois todos possuíam curso superior e eram de uma

classe social mais culta e erudita. A faixa etária dos entrevistados foi bem

variada, indo dos 31 anos até os 70, o que diversifica ainda mais o nosso

corpus.

Coletamos os depoimentos nos corpora do VARPORT e, em

seguida, selecionamos algumas ocorrências de indeterminação no discurso

dos falantes, para analisarmos quanto a algumas variáveis como o tipo de

indeterminação e a identidade do agente. Após a análise, examinamos

cada caso, tentando identificar suas motivações discursivas e o papel

desempenhado por cada um dentro do discurso.

Para a produção desse artigo, recorremos a autores como Gredson

dos Santos (2006), Tupiná (1984) e Claudete Lima (2005), além de Cunha

e Cintra (2008) e Duarte (2005).

2. A RESPEITO DA INDETERMINAÇÃO DO AGENTE

Iniciaremos, porém, com uma elucidativa explicação sobre a

indeterminação do agente, como o falante pode alcançar esse fenômeno

durante seu discurso e o porquê de usá-lo.

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O fenômeno da indeterminação do agente vem sendo tema de

investigação de diversos pesquisadores, principalmente aqueles ligados à

Linguística, como os Funcionalistas, por ser um campo de estudo ainda

não totalmente explorado ou explicado pela gramática tradicional. Ainda

há muitas divergências, inclusive de terminologia, como observamos ao

lermos o artigo Questões sobre a “indeterminação” do sujeito, de Gredson

dos Santos. O autor chega a seguinte conclusão:

A partir das considerações de Rollemberg et al e de Bechara, e

admitindo-se como plausível a hipótese de que o sujeito é uma

função sintática que responde às necessidades estruturais do

sistema do PB e que a agentividade está ligada ao aspecto

semântico do sistema, podendo ela ser um traço do sujeito ou de

outro termo sintático, adota-se neste trabalho a posição de que,

na verdade, não faz sentido falar em indeterminação do sujeito em

contextos como os que aqui são analisados, mas sim em

indeterminação do agente da ação indicada pelo verbo – é o que

acontece, por exemplo, num enunciado como eu fui assaltado, em

que a função de sujeito cabe ao pronome, mas o agente não está

especificado. (SANTOS, 2006, p.15)

Assim, reforçamos que o agente nem sempre corresponde ao

sujeito, ou seja, se você indeterminar o agente de uma oração, não

significa que o sujeito será indeterminado. Ainda há muitas outras

divergências, mas não nos deteremos a esse assunto, pois necessitaria de

um artigo inteiro.

Em seu trabalho intitulado Abrangência pessoal dos processos de

indeterminação do agente, Tupiná (1984), sintetiza bem o assunto

abordado:

A indeterminação corresponde ao caráter de indiferenciação, falta

de individualidade ou de especificidade de um termo, capaz de

conferir ao enunciado um teor de imprecisão e generalidade, em

decorrência do ponto de vista do emissor. (TUPINÁ, 1984, p. 63)

Como já ponderamos, o falante disponibiliza de várias formas para

conseguir esse teor de imprecisão em uma oração. Em nossa pesquisa

não conseguimos encontrar todas as maneiras de indeterminar o agente,

ou pela ausência destas, ou por desatenção dos pesquisadores. Evitamos

também considerar casos polêmicos, que precisariam de mais explicações

e exigiriam um trabalho mais extenso e complexo, o que fugiria da nossa

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proposta, que é analisar e refletir sobre o uso desse fenômeno na

oralidade.

3. PROCESSOS DE INDETERMINAÇÃO DO AGENTE E ANÁLISE DO

CORPUS

Veremos agora os principais processos de indeterminação do

agente e alguns exemplos, que quando não encontrados no corpus, foram

retirados de falas e textos do nosso cotidiano. São eles, a nominalização,

o uso de pronomes ou expressões indefinidos, verbo impessoal não-

pronominal, voz passiva analítica, voz passiva sintética, voz média

(pronominal, não-pronominal e perifrástica) e infinitivo.

3.1. Nominalização

A nominalização é quando substantivamos um verbo, o utilizando

na função de sujeito de uma oração.

(1) A saída do jogador abalou a equipe.

3.2. Pronome Indefinido

Alguns autores dividem essa categoria em duas: pronomes

indefinidos (alguém, você) e expressões indefinidas (todo mundo, a gente,

as pessoas). Para esse trabalho, consideraremos todos esses pronomes e

expressões como parte de um mesmo processo, já que possuem

propriedades de uso bem semelhantes. Veja por exemplo esse trecho:

(2) normalmente eu dou preferência pelas praias... apesar de ser

um acampamento pouco mais desgastante... cansa mais... você não

tem... acomodação boa... sal... você fica salgado... você quer tomar

banho e já é mais difícil pra tirar o sal... e... normalmente quando você

está na montanha... você sempre tem um rio... a água é limpa... você

pode tomar banho e ficar sempre... se sentindo melhor... né? com a

água... o acampamento normalmente não é com um grande número de

pessoas... (VARPORT – Oc-B-9c-1m-001, linhas 47-52)

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A forma de tratamento você é bastante usada para a

indeterminação porque desperta o interesse e envolve o interlocutor,

tornando o discurso mais presente e mais vivo (Tupiná, 1984, p.66). É

evidente que o falante não está se referindo somente ao interlocutor

quando usa o você, mas generaliza o agente, na tentativa de indicar que

qualquer pessoa pode ser colocada como agente da ação. Isso acontece

principalmente quando o falante está tentando convencer seu interlocutor,

utilizando a função apelativa da linguagem. Note que, nesse trecho,

poderíamos trocar a forma você pela expressão a gente sem grande

prejuízo de sentido, pois estaria trazendo o interlocutor para participar da

ação juntamente com o emissor. Mais uma vez, temos o uso da função

apelativa. Observe agora esse exemplo:

(3) todo mundo procura conversar com todo mundo... é até uma

data assim... que as pessoas vêem pessoas que não se vêem há muito

tempo...às vezes até se conversam pelo telefone mas não... não se vê... e

realmente nos aniversários a gente encontra várias pessoas e coloca as

conversas em dia...né? (VARPORT – Oc-B-9c-1m-001, linhas 20-23)

Observe o uso de mais três expressões genéricas que o falante

utiliza para indeterminar o agente da oração. Genéricas porque não se

referem a ninguém, de modo específico, mas estende seu significado para

além de qualquer agente.

3.3. Impessoal não-pronominal

Esse processo é caracterizado pelo uso do verbo na 3ª pessoa do

plural, sem designar o pronome, e deixando o agente da oração

indeterminado. Vejamos um exemplo:

(4) e não tem biblioteca mais... tem biblioteca... mas no

computador... eu não sei pra quê... deram os livros todos... jogaram

(aquilo) fora... mandaram (rasgar... desaparecer) puseram uma pilha

de livros no corredor mandaram os alunos apanhar e escolher...

(VARPORT – Oc-B-9c-3m-001, linhas 47-50)

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Quando usamos a 3ª pessoa para alcançarmos a indeterminação,

protegemos a identificação do agente, ou por desconhecimento ou por não

interessar a especificação. Assim, o verbo pode se referir tanto a grupo de

pessoas, como a uma só pessoa.

3.4. Voz Passiva Analítica

A voz passiva analítica é caracterizada pelo verbo ser ou estar

acompanhado de um verbo principal no particípio. Na voz passiva o

sujeito é paciente. Notemos no trecho abaixo o seu uso:

(5) bom... eu acho que o Rio de Janeiro deve ser visto não só em

um de seus lugares belíssimos... como também nas suas... nos seus

lugares pobres e pelo menos a favela da Rocinha tem que ser visitada...

compreendeu? (VARPORT – Oc-B-9c-3m-001, linhas 2-4)

A voz passiva é usada quando o falante quer dar mais ênfase a

ação do que ao próprio agente. Por exemplo, no trecho acima, o falante

expressa que ―o Rio de Janeiro deve ser visto‖, mas não diz por quem ele

tem deve ser visto. Vemos aí que o mais importante é a ação, ou seja,

para o falante os lugares pobres do Rio de Janeiro devem ser visto por

todos, desde turistas, visitantes, a habitantes, enfim, qualquer pessoa que

quiser conhecer a cidade.

3.5. Voz Passiva Sintética

A passiva sintética, ou voz passiva pronominal, como designam

alguns autores1 se caracteriza pelo uso do verbo transitivo direto na 3ª

pessoa mais o se apassivador. Vejamos um exemplo:

(6) não se reúne muita gente... (VARPORT – Oc-B-9c-1m-001,

linha 16)

3.6 Voz Média

1 cf. TUPINÁ, 1984, p. 64

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A voz média causa muita polêmica atualmente porque alguns

autores desconsideram sua existência, outros consideram como subtipo da

voz reflexiva e ainda há aqueles que defendem uma estreita ligação com a

voz passiva. Veja o que diz Claudete Lima sobre isso:

A voz média, por exemplo, mantém com a passiva e a reflexiva

relações tão estreitas em português que, muitas vezes, se

confunde com estas. A descrição que predomina nas gramáticas

tradicionais é reflexo dessa dificuldade, uma vez que os autores

mostram flutuações na classificação de determinadas formas como

exemplos de voz média, de passiva, ou reflexiva. Até mesmo na

lingüística há indícios dessa dificuldade, quando autores, como

Camara Jr. não definem bem a chamada voz médio-passiva,

ilustrada por casos como vendem-se casas, bastante discutidos na

lingüística tradicional e moderna, para as quais têm-se dado

interpretações diversas. (LIMA, 2005, p. 545)

Temos três tipos de voz média:

Média pronominal

(7) A porta se fechou.

(8) Se preparou lá pra fazer o seu vestibular, não é isso?

(VARPORT - Oc-B-9C-3m-001, linha 16)

Média não-pronominal

(9) A porta ficou fechada.

Média perifrástica

(10) A porta está fechada

3.7 Infinitivo

Tupiná define muito bem o papel exercido pelo infinitivo na

indeterminação do agente:

É o verbo no máximo de sua indeterminação e generalidade. A

impessoalidade é propriedade essencial do infinitivo. Não encerra

indicação da pessoa do sujeito, não corresponde a nenhum tempo,

nenhum modo, nem espécie de ação em particular. Apresenta o

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processo em potência, aproximando-se do substantivo (TUPINÁ,

1984, p.66)

Observe agora um exemplo:

(11) tinha um período específico... de soltar pipa... (VARPORT, Oc-

B-9C-1m-002, linha 13)

4. RESULTADOS DA ANÁLISE

Com base na pesquisa, chegamos a alguns gráficos, os quais

iremos expor e explicar nesse momento. Como se pode observar no

primeiro gráfico acima, dos 68 enunciados analisados por nós, 43

apresentavam indeterminação pelo uso de pronomes indefinidos; nenhum

caso de nominalização identificado; 12 casos de verbos impessoais não-

pronominais foram encontrados; 5 casos de verbos na voz passiva

analítica; 2 verbos na voz passiva sintética; um caso na voz média

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0

43

12

5 2 1 0 0

5

Gráfico 1: Frequência dos Processos

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pronominal; nenhum caso na voz média não-pronominal foi encontrado,

assim como também na voz média perifrástica; e 5 casos de verbos no

infinitivo.

Podemos notar no Gráfico 1 o uso frequente de pronomes

indefinidos e, levando em consideração que englobamos pronomes e

expressões nessa categoria, uma grande recorrência da forma de

tratamento você, das expressões a gente, as pessoas, entre outros. Como

já explicamos, o uso dessas expressões causam distanciamento entre o

agente e a ação expressa pelo verbo, pois generaliza o termo utilizado. O

uso de verbos impessoais não-pronominais vem logo atrás e é um dos

meios mais simples de alcançar a indeterminação do agente. Isso porque

o falante só precisa colocar o verbo na 3ª pessoa do plural, se não quiser

ou não for possível identificar o que pratica a ação. Assim, a ação verbal

recai sobre um referente perdido, que não sabemos quem é ou quem são,

pois pode se referir tanto a um grupo de pessoas, como a uma só pessoa.

A voz passiva aparece em 3ª lugar, com a analítica e sintética.

Como vimos, a importância as voz passiva para o fenômeno estudado está

no fato de que ela dá ênfase a ação do verbo, colocando o sujeito apenas

como paciente, e indeterminando o agente. Quanto ao infinitivo, ele

também se apresenta como mais uma ferramenta recorrente na

indeterminação, já que foi encontrado em 5 casos.

Observe no Gráfico 2, construído a partir da análise dos resultados,

o número de vezes que as principais expressões indefinidas foram usadas

pelos entrevistados. Note que a forma de tratamento você e a expressão a

gente são bastante utilizadas, principalmente por causa da função

apelativa, como já explicamos.

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Temos ainda um terceiro gráfico que mostra o cruzamento de

dados, entre os processos de indeterminação e a identidade do agente.

Observe:

0

5

10

15

20

você a gente as

pessoastodo

mundooutros

casos

17

10

6

2

8

Gráfico 2: Uso dos Pronomes Indefinidos

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Gráfico 3: Cruzamento de Dados

Vemos o comportamento dos processos e como se dá a

indeterminação do agente em cada um deles. Por exemplo, podemos

perceber que o uso de um verbo impessoal não-pronominal aumenta a

possibilidade de deixar a identidade de um agente desconhecida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse artigo, trabalhamos com as várias formas de indeterminar

um agente num enunciado e quais são suas motivações discursivas. Para

isso, analisamos um corpus composto por 68 orações e analisamos os

casos de indeterminação.

17

4

15 11 2

3

11 1

1

2 1

Inferível Desconhecida

Dada Situacionalmente Dada Anaforicamente

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Tentamos nos esquivar de questões polêmicas, como a voz média,

voz passiva e os pronomes indefinidos – quanto à nomenclatura. Isso por

questão de tempo e espaço, pois não teríamos como desenvolver esses

assuntos nesse artigo.

Finalmente, conseguimos detectar a grande recorrência de

pronomes como você, que generalizam o sujeito do verbo. Por isso,

destacamos aqui a uso cada vez mais frequente, pelas falantes, de

expressões e termos indefinidos para obter a indeterminação do agente na

linguagem oral. Além disso, identificamos também uma grande frequência

de verbos impessoais não-pronominais para se conseguir esse fenômeno.

É evidente que nosso trabalho não consegue explicar todo o

assunto, pois a língua é complexa e os linguistas muitas vezes se

divergem, dificultando a análise de alguns casos. Mesmo assim,

esperamos contribuir de alguma maneira para o estudo da indeterminação

do agente em português.

REFERÊNCIAS

CUNHA E CINTRA, Celso e Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo.

5ª edição. Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

DUARTE, Paulo M. T. A voz média em português: seu estatuto. Estudos em

homenagem ao Professor Doutor Mário Vilela, vol. 2, 2005, pag. 783-794.

Disponível em: < http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4606.pdf> Acesso em: 22 mai.

2011.

LIMA, Maria Claudete. Reflexões sobre a medialidade em português. Estudos em homenagem ao Professor Doutor Mário Vilela, vol. 2, 2005, pag.

545-556. Disponível em: <http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/4585.pdf.>

Acesso em: 22 mai. 2011.

SANTOS, Gredson dos. Questões sobre a “indeterminação” do sujeito. Disponível

em: <http://www.inventario.ufba.br/05/pdf/gsantos.pdf.> Acesso em: 22 mai. 2011.

TUPINÁ, Heloísa Marques. Abrangência Pessoal dos Processos de Indeterminação do

Agente: ALFA, Revista de Linguística. Vol. 28, p. 63-69, 1984, São Paulo.