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FACULDADE CESMAC DO SERTÃO JOSÉ TORQUATO DOS SANTOS A INDISPENSABILIDADE DO LAUDO PERICIAL NOS CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS PALMEIRA DOS ÍNDIOS AL 2019.2

A INDISPENSABILIDADE DO LAUDO PERICIAL NOS CRIMES QUE ... · Graduando do curso de Direito [email protected] Tiago Tupinambá Fontes Gomes Professor Orientador [email protected]

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FACULDADE CESMAC DO SERTÃO

JOSÉ TORQUATO DOS SANTOS

A INDISPENSABILIDADE DO LAUDO PERICIAL NOS CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS

PALMEIRA DOS ÍNDIOS – AL

2019.2

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JOSÉ TORQUATO DOS SANTOS

A INDISPENSABILIDADE DO LAUDO PERICIAL NOS CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS

Trabalho de Curso apresentado como requisito final para conclusão do curso de Direito da Faculdade Cesmac do Sertão, sob a orientação do professor Especialista Tiago Tupinambá Fontes Gomes.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS – AL

2019.2

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JOSÉ TORQUATO DOS SANTOS

INDISPENSABILIDADE DO LAUDO PERICIAL NOS CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS

Trabalho de Curso apresentado como requisito final para conclusão do curso de Direito da Faculdade Cesmac do Sertão, sob a orientação do professor Tiago Tupinambá Fontes Gomes.

APROVADO EM: ___/___/_____

_________________________________________

Orientador: Prof. Esp.Tiago Tupinambá Fontes Gomes

BANCA EXAMINADORA

__________________________________

Prof. Me. Ronald Pinheiro Rodrigues

__________________________________

Prof. Esp. Alécio Marcelo Lima dos Santos

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar а Deus, qυе iluminou о mеυ caminho durante

esta caminhada, me proporcionando toda calmaria e tranquilidade.

Quero agradecer aos meus filhos, Lucas, Matheus e Isabella por todo apoio e

incentivo para concluir esta etapa da minha vida. Agradeço também as minhas noras

Ana Cláudia e Karla Simony, seus impulsos positivos me trouxeram força.

Em seguida, gostaria de agradecer aos meus pais Miliano e Inucência e

minha sogra Maria Luiza, no qual não se encontra mais entre nós, mas a cada passo

que dou, sinto vocês por perto transmitindo amor. E, com o coração carregado de

eterna saudade, agradeço pelo amor que, mesmo depois de terem partido, deixaram

comigo.

À minha esposa Isabel que esteve comigo, me dando todo suporte que

precisei, não mediu esforço para obter comigo essa conquista. Obrigado pelo

carinho e paciência nа correria dе cada semestre. Um agradecimento especial à

minha netinha Maria Clara, pоr sua amplitude dе me trazer pаz.

A todos os professores desta instituição, por todo conhecimento riquíssimo

que foi transmitido, a Coordenação, Secretaria, Biblioteca e Financeiro. Em especial,

a professora e Diretora desta instituição, Damares, por toda contribuição e

compreensão durante esta etapa.

E, por fim meu eterno agradecimento ao meu professor e orientador Tiago

Tupinambá, pela paciência nа orientação е incentivo, qυе foi de suma importância

para а conclusão deste trabalho.

Amigos e Familiares a todos o meu muito obrigado!

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INDISPENSABILIDADE DO LAUDO PERICIAL NOS CRIMES QUE DEIXAM VESTÍGIOS

INDISPENSABILITY OF THE PERICIAL AWARD IN CRIMES THAT LEAVE TRAGEDIES

José Torquato dos Santos Graduando do curso de Direito

[email protected] Tiago Tupinambá Fontes Gomes

Professor Orientador [email protected]

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar sobre a indispensabilidade do laudo pericial nos crimes que deixam vestígios. Mostrar a tamanha importância da perícia no processo penal. Trata-se de uma atividade, que se encontra devidamente tipificada no código de processo penal, possuindo um significado essencial e indispensável para a ilustração de crimes, desde que exista sinais. É através da perícia que existe a prova e averiguação dos fatos que foram recolhidos, no qual as provas são confirmativas e as informações que antes não se podiam colher e enxergar passam a ser circunstanciadas. A prova pericial possui uma grande importância tanto no processo civil como também no processo criminal e quando não existem mais resíduos para se receber os documentos, a prova testemunhal, as filmagens, gravações e outros meios lícitos são julgados como provas.

PALAVRAS-CHAVE: Corpo. Materialidade. Perícia. Laudo Pericial.

ABSTRACT This paper aims to present on the indispensability of the expert report on crimes that leave traces. Show the importance of expertise in criminal proceedings. It is an activity that is duly typified in the code of criminal procedure, having an essential and indispensable meaning for the illustration of crimes, provided there are signs. It is through the skill that there is evidence and ascertainment of the facts that were collected, in which the evidence is confirmatory and the information that could not be collected and seen before are now circumstantial. The expert evidence is of great importance both in the civil process and also in the criminal process and when there is no more waste to receive the documents, testimonial evidence, filming, recordings and other legal means are judged as evidence.

KEYWORDS: Body. Materiality. Expertise. Forensic report.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO…………….........................……………………….................... 07 2 BREVE HISTÓRICO DAS CIÊNCIAS FORENSES……............................... 08 2.1 O Sistema Pericial Brasileiro.................................................................... 10 2.2 A perícia e o Estado.................................................................................. 13 2.2.1 O perito..................................................................................................... 14 2.2.2 O Assistente Técnico................................................................................ 15 3 A PROVA NO PROCESSO PENAL.............................................................. 19 3.1 Princípios da Prova Penal........................................................................ 19 3.2 Etapas do Procedimento Probatório....................................................... 20 3.3 Meios da Prova: Busca e Apreensão ..................................................... 21 3.3.1 Interceptação Telefônica.......................................................................... 22 3.3.2 Escuta Telefônica.................................................................................... 22 3.3.3 Gravação Telefônica................................................................................ 22 3.3.4 Registro Telefônico.................................................................................. 22 3.3.5 Interceptação Ambiental .......................................................................... 23 3.3.6 Gravação Ambiental................................................................................. 23 4 INTERCEPTAÇÃO DE FLUXO DE COMUNICAÇÃO EM SISTEMAS DE INFORMÁTICA E TELEMÁTICA....................................................................

24

4.1 Delação premiada...................................................................................... 24 4.2 Agente Infiltrado ou “Homem de Confiança”......................................... 25 5 O LAUDO PERICIAL..................................................................................... 27 5.1 Princípios de um Laudo Pericial.............................................................. 29 5.2 A Contestabilidade do Laudo Pericial.................................................... 34 5.3 A Rejeição do Laudo Pericial É Corolário Do Livre Convencimento Motivado ........................................................................................................

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CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 41 REFERÊNCIAS................................................................................................ 42

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo, fazer uma análise e pesquisas acerca

da indispensabilidade do Laudo Pericial nos crimes que deixam vestígios e

procurando apresentar de uma forma ampla todo sistema pericial, trazendo um

pouco da historicidade das ciências forenses, a importância do laudo pericial e como

tudo funciona.

Então, a falta de exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios

por se tratar de casos de omissão do Poder Público tem por consequência a

nulidade do processo por trazer como resultado o prejuízo a defesa do eventual réu.

Assim a prova é o instrumento que tem a finalidade de formar o

convencimento do julgador em um processo judicial. Quanto à realização técnica,

como meio de mostrar os fatos, é necessário que seja realizada por pessoas

idôneas, imparciais e abastecido de qualidades técnicas suficientes a legitimar

exames dos vestígios que são pertencentes ao fato criminoso não temporário. Daí é

importante ter o perito criminal, agente público competente a produzi-la.

Portanto, o primeiro capítulo versa sobre a historicidade das ciências

forenses, como também apresenta um estudo sobre o sistema pericial brasileiro, a

perícia e o Estado, perito, assistente técnico e tudo que envolve esse sistema da

melhor maneira. O segundo capítulo por sua vez, discorre acerca da prova no

processo penal brasileiro, as etapas desse procedimento, os meios de prova

explicando cada um deles com muita transparência e dedicação.

E, por fim o terceiro e quarto que foi dedicado à interceptação de fluxo de

comunicação em sistemas de informática e telemática. Trazendo à baila, a delação

premiada, e encerrando com o laudo pericial, a importância disso, como se dar no

processo penal, tudo aprofundado.

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2 BREVE HISTÓRICO DAS CIÊNCIAS FORENSES

A criminalística nasceu da necessidade de se conferir rigor científico à prova

no processo penal, em substituição às confissões obtidas sob tortura e ao ineficiente

meio de obtenção da prova pelo castigo físico. Já no século XIX, reconheceu-se a

imprestabilidade desses métodos, não somente pela sua crueldade como também

pelo seu alto índice de incerteza.

O processo penal era então tido como instrumento questionável, a partir do

momento em que se fundamentava em provas frequentemente empíricas, sem base

científica. Diante dessa necessidade de se acreditar o processo penal é que surgiu a

Criminalística. Ela se relaciona com outras disciplinas do conhecimento humano,

especialmente as chamadas ciências forenses, como por exemplo, a antropologia, a

medicina legal, abrangendo, ainda, conhecimentos na área da física, da química e

da biologia.

Nesse contexto, surge a importância da perícia criminal, a qual, utilizando-se

de conhecimentos científicos obtidos pela Ciência Forenses, estuda e analisa os

vestígios de crimes que dão origem à prova material. Assinale-se que a primeira

ciência que serviu ao Direito foi a Medicina. Remonta à Antiguidade sua utilização no

esclarecimento de causa de morte. Como aponta os ensinamentos de Jesus,

Gustavo, e Alberi (2013, p. 01):

Em 1532, com o Código Criminal Carolino, de Carlos V, surgiu a primeira lei

exigindo a presença de técnicos para a interpretação de vestígios criminais

ligados à pessoa. Desde a aurora do Direito, portanto, é previsto que a

opinião técnica deve ser solicitada em todos os casos em que puder

esclarecer fatos.

O primeiro laudo cadavérico de que se tem notícia foi realizado na Roma

Antiga, no cadáver do imperador Júlio César, examinado por Antistius, médico da

corte, no ano de 44 a.C. Constataram-se 23 golpes, dos quais apenas um foi mortal.

A importância da prova pericial fez-se sentir, sobretudo, na França. Ali, ao

tempo de Filipe, os Audazes editaram-se as “Cartas Patentes”, que aludem a

cirurgiões juramentados, sendo que, a partir do século XIV, tornou-se comum em

Paris a nomeação de médicos, parteiras e até barbeiros para atuarem como peritos

em caso de lesões corporais, morte violenta e atentado ao pudor.

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A Revolução Francesa renovou o conhecimento humano. Fruto das ideias dos

iluministas proporcionou significativo progresso das ciências naturais, em especial a

Biologia, a Física e a Química. A perícia não ficou imune a esses avanços. Ainda

mais com a edição do Code d’Instruction Criminelle, de Napoleão, em 1808. Por ele,

o trabalho de Juízes e os laudos médicos se tornaram públicos, e novas técnicas

científicas foram permitidas e incorporadas às práticas forenses.

A partir do século XIX, a Biologia redimensionou a visão médica das doenças,

surgindo então várias especialidades no campo da Medicina, que durante muito

tempo foi à única ciência a prestar sistemática contribuição à Justiça. Então, com as

novas descobertas científicas, no entanto, essa exclusividade foi sendo mesclada,

com outros conhecimentos em áreas de importância como as ciências naturais.

Dessa forma, logo os médicos legistas, considerados os verdadeiros

fundadores da Criminalística, procuraram adotar novos rumos na interpretação de

vestígios no local do crime, com a adoção de novos métodos no exame de balística

e de identificação humana, por exemplo, e valorizaram, sobretudo, o emprego de

técnicas científicas no estudo dos casos, pelo que se consolidou em definitivo a

necessidade do exame científico da prova. Nesta linha de raciocínio, vejamos o que

diz Jesus, Gustavo e Alberi (2013, p.02):

Com a contribuição de ciências como a Física, a Química e a Biologia, os

médicos legistas foram os verdadeiros “inventores” da Criminalística

moderna, sendo os primeiros a desenvolvê-la para atender demandas

judiciais.

Daí a fulgurante expansão da perícia criminal, a qual passou a exigir um

conceito mais amplo, que juntasse todas as técnicas a serviço da lei. Os próprios

legistas, percebendo o largo horizonte da Criminalística, estreitaram seus laços,

buscando o efetivo intercâmbio de conhecimentos e convergindo o mais possível no

sentido de uniformizar procedimentos, no interesse cada vez mais presente de

inserir no processo penal a prova científica.

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2.1 O Sistema Pericial Brasileiro.

O sistema pericial brasileiro é estruturado como órgão de apoio ao Poder

Judiciário na produção das provas técnico- científicas subsidiárias da investigação

policial e do processo criminal, entendendo-se que a perícia surgiu no Brasil, como

de resto em todo o mundo, através da Medicina Legal. Discorre Alberi Espíndula

(2013, p. 04-05):

O Código de Processo Penal de 1941 federalizou toda a legislação penal, dando ênfase especial à Perícia Oficial. Vislumbrando sua essencialidade ao processo penal, determinou que o procedimento fosse realizado exclusivamente por agentes do Estado, permitindo, porém, nas localidades em que não houvesse peritos oficiais, a nomeação de peritos “ad hoc”, escolhidos entre os profissionais de reconhecida idoneidade e capacidade técnica.

Embora existindo em poucos Estados da Federação Institutos Médico Legal e

Institutos de Criminalística, o legislador de 1941, numa atitude vanguardista,

preocupou-se em regulamentar a produção da perícia pelo Poder Público. Ainda que

enfrentando percalços, a Perícia Oficial foi adquirindo, ao longo dos anos, estrutura

administrativa para atender a legislação processual.

Todavia, no Regime Militar de 1964, com as Forças Armadas no poder,

restringiram-se as liberdades democráticas. Nesse tempo negro da história

brasileira, o próprio Poder Judiciário sentiu-se frequentemente cerceado em sua

atuação. Sendo a ordem jurídica controlada pelos próprios arautos do novo regime,

as leis e os atos impuseram-se à revelia do povo, afetando por muitos anos os

destinos da nação.

Não obstante, a vigor do Código de Processo Penal houve muitas situações

em que a prova material e o laudo pericial produziram-se para atender vicissitudes

do Governo, numa clara disposição para comprometer a verdade dos fatos.

Agentes do Estado manipulavam as escâncaras a Perícia Oficial, evitando,

por exemplo, requisitá-la nas situações em que era necessária. Em outros casos,

montavam os processos judiciais com base em provas meramente subjetivas, nos

quais inseriam depoimentos suspeitos e testemunhas duvidosas. Ressalta ainda

Aberi (2014, p. 06):

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Um caso emblemático de desvirtuamento da perícia evidenciou-se na morte do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelo Estado nas dependências do DOI-CODI, um órgão repressor do regime, em São Paulo. Na ocasião, o laudo produzido a lana-caprina acusou morte por enforcamento.

Enquanto durou o Regime Militar, não houve, pois, interesse em melhorar as

estruturas dos órgãos da Perícia Oficial, uma vez que era vista como um perigo

iminente para as arbitrariedades cometidas, as quais não tendo provas, ficavam na

impunidade.

Nenhum benefício trouxe à Perícia Oficial a Constituição Federal de 1988.

Deixou lacunas a respeito do assunto, seja porque os parlamentares constituintes

não se mostraram capazes de avaliar aspectos jurídicos a ela relacionados, seja

porque o próprio Poder Judiciário permaneceu inerte diante de sua importância para

a sociedade e para a própria Justiça. Seguindo ainda o pensamento de Alberi (2014,

p. 07):

Faltou nessa Constituição democrática um espaço destinando à perícia oficial, devidamente elencada como um dos instrumentos a serem colocados à disposição do cidadão, para que pudéssemos assegurar, também, a democracia no processo criminal.

Como pode ser observado, não entrou no texto, por exemplo, a questão da

rejeição do laudo pelas partes ou pelo juiz. Sendo, como de fato é, peça técnico-

científica, a perícia poderia ter ganhado contornos constitucionais mais precisos,

uma valorização mais equânime, por ser produto de comprovação científica da prova

material, observada, por obvio, a hierarquia das provas. Seja como for, o fato é que

interesses remanescentes do Regime Militar influenciaram o debate, principalmente

lobistas de segmentos policiais que defendiam o status quo do período ditatorial.

Os Estados da Federação, em 1989, incluíram em suas Constituições

Estaduais algumas modificações na Perícia Oficial, dando-lhe a tão reclamada

autonomia e desvinculando-a da Polícia Civil. No âmbito federal, editou-se a lei

8862/94, que introduziu a obrigatoriedade da realização da perícia por 02 (dois)

peritos com formação universitária, a designação de profissional de nível superior

em lugares em que não existam peritos oficiais, a preservação do local do crime até

a chegada dos peritos e a proibição de liberação dos corpos de delito antes de

periciados.

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Finalmente, em 2003, o Governo Federal assumiu de forma patente a

implementação da total autonomia da Perícia Oficial, através da criação do Sistema

Único de Segurança Pública (SUSP) o qual, além de coordenar as Políticas Públicas

de Segurança, regulamenta, em todo o território nacional, os parâmetros atinentes

aos procedimentos periciais criminais, os quais se acham uniformizados no Manual

de Procedimento Padrão publicados pela Secretaria Nacional de Segurança Pública,

bem como fomenta a interligação de todos os Institutos Médico Legal e Institutos de

Criminalística dos Estados.

Cabe salientar ainda que o Sistema Único de Segurança Nacional também

prevê a realização de Conferências Públicas visando à coleta de subsídios que são

considerados na formulação das Políticas Públicas de Segurança Nacional.

Ocorrendo em nível nacional, estadual e municipal, esses encontros

debatem a segurança pública, incluindo temas relacionados à Perícia Oficial, a qual

obteve, na Conferência Nacional realizada em outubro de 2009, em Brasília, na

escolha das diretrizes do Plano Nacional de Segurança Pública, 1.094 votos (a

segunda proposta mais votada) a favor de sua total autonomia.

No que tange à organização administrativa, a Perícia Oficial segue o

ordenamento jurídico geral, sendo divida, quanto à competência e jurisdição, em

federal e estadual. Vejamos o que diz o Manual de Orientação de Quesitos da

Perícia Criminal (2012):

Em nível federal, tem-se o Instituto Nacional de Criminalística, sediado em Brasília-DF, de competência da Justiça Federal, pertencente à estrutura da Polícia Federal. Em seus quadros, contam-se aproximadamente 1.000 peritos altamente especializados, distribuídos por todo o território nacional, com mestrado ou doutorado nas áreas de biologia, química, economia, ciências contábeis, medicina, odontologia, engenharia, informática, veterinária e farmácia.

Para atender a demanda da Justiça Federal, há em cada estado Seções

Técnicas também denominadas como SETEC, com peritos federais

operacionalmente vinculados à Superintendência Regional da Polícia Federal em

cada estado.

Em cada unidade da federação existem os Institutos de Criminalística e os

Institutos de Medicina Legal, com sedes nas capitais, para auxiliarem a Justiça

Estadual.

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Nos Institutos de Criminalística são realizados todos os tipos de perícia,

excetuando-se aquelas relacionadas ao ser humano, em especial lesões corporais e

autopsia, que são de exclusiva responsabilidade dos Institutos Médico Legal.

2.2 A Perícia E O Estado

Na Justiça Criminal a perícia é de competência exclusiva do Estado, medida

que, em nossas leis, assegura sua máxima independência e imparcialidade, a fim de

atender com isenção seus destinatários, que são os agentes do processo, ou seja, o

juiz, o promotor, as partes e seus advogados.

Submetendo-se, ainda que prova material científica, ao princípio do

contraditório e da ampla defesa, deve ela ser elaborada com escoimo, livre de

qualquer elemento tendencioso, sob pena de se produzir prova ilícita. Daí constituir-

se a perícia atividade vinculada ao Estado, sob a égide, inclusive, do Direito

Administrativo, principalmente no que se refere a impróprias condutas funcionais,

com reflexos puníveis, ainda, no campo do Direito Penal.

Não deixa a perícia de exercer, pois, relevante função social, uma vez que é

componente instrutório básico para instruir um julgamento justo. Partindo-se da

percepção de que há estreita relação entre ela, a produção da prova e seu

processamento, garante-se o cumprimento de preceitos constitucionais basilares

como, por exemplo, o devido processo legal. Vejamos o que traz o art. 158, Código

de Processo Penal Brasileiro (1941) art. 158, “quando a infração deixar vestígios

será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo

supri-lo a confissão do acusado.”

Verifica-se que o Código de Processo Penal consolida a importância da

perícia no processo criminal, quando o crime deixa vestígios, como se encontra

expressamente tipificado pelo Código de Processo Penal. Em conformidade com

Espindula (2013, p. 13):

Essa determinação legal evidencia, de forma direta, a importância e a relevância que a perícia representa no contexto probatório, referindo-se, taxativamente, sobre a sua indispensabilidade, sob pena de nulidade de processos [...]

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2.2.1 O Perito

Perito nada mais é do que uma pessoa que possui conhecimentos e

habilidades acima do normal, significando, em sentido amplo, um especialista.

Quando se fala em perito oficial, quer se referir a um profissional pertencente aos

quadros da Administração Pública. Assim, elenca em seu caput do art. 159, Código

Penal Brasileiro (1940) “O exame de corpo de delito e outras perícias serão

realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior.

Assim, o perito oficial é um servidor público com graduação em nível superior,

policial ou não, componente do quadro funcional dos Institutos de Criminalística, dos

Institutos de Perícias, dos Institutos de Identificação e dos órgãos da Polícia

Científica, devidamente investido, por concurso público, nos cargos de nível superior

elencados na Lei 12.030/09.

Agindo por requisição da autoridade judicial, do Ministério Público ou da

Autoridade Policial, estuda o corpo ou objeto envolvido no delito, refaz o mecanismo

do crime para saber como ocorreu, examina o local do fato e efetua, dentre outros

procedimentos, exames de laboratório. Goza de completa liberdade em seu

trabalho, pois a lei garante sua autonomia, não se subordinando a nenhuma

autoridade requisitante, devendo, porém, ser provocado para iniciar a perícia.

Contribui para o êxito da perícia seu interesse em desvendar mistérios e,

sobretudo, sua frieza, pois seu trabalho estará ligado, não raro, a cenas fortes,

sendo indispensáveis, outrossim, características pessoais que favoreçam a

investigação, tais como: capacidade de observação, raciocínio rápido, capacidade

de concentração, visão realista, poder de concisão e metodologia sincera e

imparcial.

Sua atividade, conteudisticamente, prevê a realização de exames em local da

infração penal, de exames em instrumentos utilizados na prática de delitos, além de

pesquisas de informações e coleta de dados essenciais à confecção do laudo, bem

como a execução de medidas técnicas e administrativas que visem às metas da

Instituição Policial.

A ele é atribuído alto grau de responsabilidade, cabendo-lhe atender as

diligências legais e os parâmetros técnicos, tendo em vista que, em caso de desídia,

ser-lhe-ão aplicadas as sanções civis, administrativas e penais cabíveis. Submete-se

à disciplina jurídica, com aplicação de multa, quando: a) deixar de acudir à intimação

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ou o chamado da autoridade; b) não comparecer no dia e hora marcados para o

exame; e c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos

prazos estabelecidos; podendo até mesmo, no caso de ausência injustificada, ser

conduzido por determinação judicial. No art. 112 do CPP temos:

O juiz, o órgão do Ministério Público e os peritos (grifei) ou intérpretes abster-se-ão de servir no processo, quando houver incompatibilidades ou impedimento legal, que declararão nos autos. Se não se der a abstenção, a incompatibilidade ou impedimento poderá ser arguido pelas partes, seguindo-se o processo estabelecido para a exceção de suspeição.

Observa-se também como salienta, igualmente, o artigo 254 e 255 do mesmo

Diploma Legal:

Art. 254. O juiz (leia-se perito) dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; II - se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; IV - se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; Vl - se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. “Art. 255. O impedimento ou suspeição decorrente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casamento que lhe tiver dado causa, salvo sobrevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunhado , o genro ou enteado de quem for parte no processo.

Portanto, o profissional envolvido no trabalho de perícia sujeita-se a regras

legais que intencionam, acima de tudo, preservar a fortalecer a lisura da atividade

pericial.

2.2.2 O Assistente Técnico

Analisando o Processo Civil, também há possibilidade, no Processo Penal, da

indicação, pelas partes, de Assistente Técnico, bem como da formulação de

quesitos. Admitido pelo juiz ao processo, nos moldes do artigo 159, §4º do Código

de Processo Penal, a participação do assistente se dará a partir do momento que se

concluir o laudo.

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Esse momento posterior de atuação garante a rapidez e a urgência na

elaboração do laudo, porquanto, em perícia criminal, o tempo é preciosíssimo, uma

vez que cada momento que passa representa perda irreparável, pois vestígios

podem estar sendo destruídos, modificados, contaminados ou mesmo eliminados.

Ele poderá revisar o laudo, sempre sob o olhar do perito oficial, tendo acesso,

nas dependências do instituto, a todo o material de que necessitar, e utilizando,

inclusive, as tecnologias e equipamentos disponíveis na repartição, emitindo, ao final

do trabalho, seu parecer. Se for o caso, poderá prestar informações ao juiz na

audiência de instrução sobre as coisas e os fatos que tiver examinado ou avaliado,

desde que a natureza da infração o permita.

Sua escolha é de inteira responsabilidade da parte, que deve saber avaliar

sua capacidade profissional, em especial a acuidade técnica necessária à

elaboração de parecer a respeito do laudo apresentado pelo perito.

3 A PROVA NO PROCESSO PENAL

O processo penal pode ser entendido, simplificadamente, como o instrumento

pelo qual o Estado, através de uma série de atos ordenados, reconstrói,

dialeticamente, os fatos alegados na acusação, almejando recriar, na mente do

julgador, como tais fatos se deram, dando-lhe, por este meio, subsídio para o

julgamento.

A prova se mostra, pois, fundamental, na medida em que se entroniza como o

mais alto instituto do Direito, estando sempre vinculada ao princípio do devido

processo legal, com vistas à justa aplicação da lei. Dentro dessa perspectiva, a

tarefa de reconstruir os fatos de forma fidedigna e sobre eles formar um

convencimento assume inigualável preponderância na atividade jurisdicional, a qual

busca obter, em última análise, por meio da persecução penal, a revelação da

verdade.

Momentos de culminância são a coleta da prova, sua introdução e análise no

processo, quando devem ser observados critérios constitucionais e jurídico-culturais,

evitando-se a incidência de equívocos comprometedores na fase probatória,

avaliando-se, criteriosamente, as vantagens e desvantagens no emprego do método

acusatório, inquisitivo ou misto.

Na realidade, há consenso entre os doutrinadores em admitir que o sistema

penal brasileiro adota o sistema misto, tendo em vista que o modo de coleta da

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prova e o método de sua valoração são matérias regulamentadas, simultaneamente,

pela Constituição Federal e pelo Código de Processo Penal. Tradicionalmente, o

sistema acusatório funda-se em três bases: 1) em regra, os atos praticados em

investigação preliminar não podem ser considerados prova; 2) a jurisdição não pode

ser iniciada de ofício; e 3) o processo deve transcorrer em contraditório diante do juiz

natural.

Apontam-se como suas características relevantes a separação de funções

entre acusador e julgador, a oralidade, a publicidade, a presunção de inocência, a

prisão cautelar como exceção, o juiz passivo e o contraditório. No sistema inquisitivo

estão presentes premissas atualmente superados como, por exemplo, a inexistência

do contraditório e o juiz inquisidor, denotando-se, porém, a conjugação de muitas de

suas variantes, nomeadamente a concentração das funções de acusador e julgador,

o juiz ativo, a prisão do acusado durante o processo e a busca da verdade real.

Entende-se assim que esses dois sistemas de coleta e valoração da prova se

entrelaçam no Direito Processual Brasileiro, criando um sistema híbrido. Logo, com

efeito, sob a égide da Constituição Federal o processo penal se submete a princípios

típicos do sistema acusatório: contraditório, separação entre a acusação e o órgão

julgador, publicidade, ampla defesa, presunção de inocência, ao passo que, pelo

Código de Processo Penal, é dirigido observando-se critérios inquisitivos presentes,

principalmente, na fase do inquérito policial: sigilo, ausência do contraditório, forma

escrita, impossibilidade de recusa da investigação. Assim, Guilherme Souza (2007,

p. 104- 105) nos ensina:

O sistema adotado no Brasil, embora não oficialmente, é o misto. Registremos desde logo que há dois enfoques: o constitucional e o processual. Em outras palavras, se fôssemos seguir exclusivamente o disposto na Constituição Federal poderíamos até dizer que nosso sistema é acusatório (no texto constitucional encontramos os princípios que regem o sistema acusatório).

Ocorre que o nosso processo penal (procedimento, recurso, prova, etc) é

regido por Código Específico, que data de 1941, elaborado em nítida ótica inquisitiva

no CPP, muitos princípios do sistema inquisitivo são encontrados.

Para Moacyr Amaral Santos (1999, p. 329):

A prova destina-se... à levar o juiz ao convencimento da verdade dos fatos da causa. Esse conhecimento ele obtém através dos meios de prova.

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Costuma-se, assim, conceituar prova, no sentido objetivo, como os meios destinados a fornecer ao juiz o conhecimento da verdade dos fatos deduzidos em juízo.

Provar significa então convencer-se ou não, com certeza inequívoca, da

existência de fatos alegados no processo, havendo inúmeros meios de demonstrá-

los, os quais são guiados pelo princípio do contraditório, buscando-se a verdade não

por meio de uma prova (depoimento, laudo etc), mas por meio de todo o conjunto

probatório. Não se pode deixar de lembrar alguns conceitos vinculados à prova, os

quais se mostram relevantes na compreensão de sua conceituação.

De acordo com o doutrinador Sérgio Ricardo (2014, p. 34), são apontados

cinco elementos essenciais à definição do que vem a ser prova processual. Primeiro,

a evidência ou sinal, que é contido no meio de prova conducente, direta ou

indiretamente, ao conhecimento do objeto; segundo, o objeto de prova em si, que se

define como aquilo que se quer conhecer através do meio de prova; terceiro, o

próprio meio de prova, que estabelece a via pela qual se introduz no processo o

elemento da prova (o laudo, o documento, a declaração de testemunha); e por

último, o órgão da prova, que é seu destinatário.

Faz-se comumente a classificação das provas visando a avaliar seu impacto

na livre formação da convicção do julgador. Como alega Sérgio (2014 p. 32) à prova

pode ser direta, quando intrinsecamente relacionada ao fato probando, ou indireta,

que diz respeito a fato ou coisa provando diversa daquele que esta sendo

investigado, mantendo com ele uma simbiose que permite uma dedução lógica

acerca da sua existência. Vejamos o que salienta Sérgio Ricardo (2014, p. 35) sobre

o assunto: No que se refere à sua fonte ou sujeito:

Ainda divide também a prova em dimensões, a saber: prova pessoal ou de verificação de pessoa; prova real ou de verificação de coisa; prova testemunhal, prova documental; e prova material.

Destaque-se que a verdade descoberta no processo penal é de teor relativo,

tendo em vista que o que é verdadeiro para uns, pode ser falso para outros, sendo

que, filosoficamente, não há verdade absoluta. Entretanto, a convicção do juiz

jamais será falsa, porque ela se formará a partir das provas coligidas nos autos,

sendo seu julgamento verdadeiro (correspondente à realidade) ou errôneo (não

correspondente à realidade).

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Há liberdade na produção da prova. Embora o CPP não traga de forma

exaustiva todos os meios de prova admissíveis, pode-se, todavia, utilizar as provas

nominadas, que são as previstas na legislação, a teor dos artigos 158 e 250 do CPP,

como também as inominadas, ou seja, as atípicas.

Na busca da percepção da verdade e da formação do convencimento do juiz,

a persecução penal, em nome do princípio da verdade real, permite o uso de meios

probatórios não previstos na legislação, desde que moralmente aceitos e que não

afrontem o ordenamento jurídico. Por outro viés, é de se notar que há limites, porque

o intuito de obter a prova não se sobrepõe ao Artigo 5º, inciso LVI, da Carta Magna,

que veda, taxativamente, a prova ilícita.

Sua inadmissão ao processo é colorário do Estado Democrático de Direito,

que não tolera a coleta da prova sem a observância das regras próprias para

produzi-la.

3.1 Princípios Da Prova Penal

Ao tratar sobre provas existem diversos princípios. Assim, Humberto Ávila

(2007, p. 161) destaca:

O princípio da proporcionalidade ou razoabilidade otimiza a prova. Ele é aplicável nas situações em que se podem discernir, empiricamente, um meio e um fim, de tal forma que se obtenha, com equilíbrio, a apreciação desses três fatores: a adequação, a necessidade e proporcionalidade.

O conflito entre as decisões judiciais sempre clama pela serenidade do

julgador, residindo, no princípio da proporcionalidade, a oportunidade de se ponderar

entre o jus puniendi, direito do Estado, e o status libertas, garantia individual do

acusado. No encontro de provas tem-se a descoberta de prova que não diz respeito

ao fato investigado. Inesperadamente revelado, esse tipo de prova será então

carreado para o conjunto probatório de outra infração penal.

A ilicitude da prova exclui-se quando se percebe que a ilicitude é apenas

aparente; nesse caso, é reputada como válida quando, por exemplo, é captada no

caso de estado de necessidade, para servir à persecução penal. Alega Nestor

Távora e Rosnar Alencar (2014, p. 509) que “a produção de prova ilícita pode ser de

extrema prejudicialidade ao processo.”

Preocupa a teoria da prova envenenada porque é extremamente prejudicial

ao processo, pois, transcendendo a prova viciada, contamina todo o material

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probatório, sendo por isso imprestável e deve ser desentranhada dos autos. A teoria

do fruto envenenado é também conhecida como teoria derivada. Toda prova se

submete ao crivo do contraditório, dando-se oportunidade de manifestação à parte

contrária.

Pertence ela ao processo e não a quem a produziu, sendo aqui definido o

princípio da aquisição ou comunhão da prova, observado que, em havendo

desistência para produzi-la, a parte contrária deve ser ouvida. Importante destacar

que no princípio da oralidade a predominância é da palavra falada, sendo que a

oralidade está presente em oitiva de testemunha e interrogatório; desse princípio

decorre outro não menos importante: o da concentração, pelo qual se busca produzir

o máximo de provas em uma única audiência, ou em menor número delas.

A Lei 11.719/2008 consagrou definitivamente o princípio da identidade física

do juiz, estipulando que o juiz da instrução deve ser o mesmo que proferirá a

sentença. Em atenção ao princípio da publicidade, todos os atos do processo são

públicos, havendo, entretanto, a possibilidade do sigilo. Todavia, pela súmula

vinculante de nº 14 do STF, como discorre o doutrinador Nestor Távora (2014, p.

535):

É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

Por último, o princípio do livre convencimento do juiz, pelo qual é permitido ao

magistrado decidir com inteira liberdade, desde que motivadamente.

3.2 Etapas Do Procedimento Probatório

Guarda o processo penal rito especial para a coleta da prova, em etapas

claramente formalizadas pela processualística penal. O primeiro momento é a

proposição da prova, a qual é requerida de logo na denúncia, pelo Ministério

Público, na queixa-crime, pelo querelante, e na defesa preliminar, pelo defensor,

sendo viável, ainda, sua produção no curso do processo, a pedido das partes ou por

determinação do juiz, de ofício. O juiz indeferirá, de pronto, os pedidos

impertinentes.

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Ao examinar o pedido da prova, o magistrado, verificando seu cabimento,

ordenará sua produção ou introdução no processo, sendo essa fase conhecida

como admissibilidade da prova. Entranhada a prova, inicia-se a fase do contraditório,

em que são ouvidas testemunhas, verificados documentos e debatidos laudos. Tem-

se essa etapa como o ponto alto e tenso de toda a instrução processual.

Enfim, a fase de valoração da prova, na qual o magistrado, em seu decisium,

manifestar-se-á a respeito de todas as provas carreadas, dizendo a razão de seu

convencimento. Havendo má valoração, caberá recurso, caracterizando assim o

error in judicando. Impõe-se essa marcha em benefício do próprio processo,

evitando-se com isso tumultuá-lo, o que seguramente resultaria em correições

parciais, retardando indesejavelmente o curso normal da instrução.

3.3 Meios De Prova: Busca E Apreensão

A depender de sua finalidade, esse meio de prova assume duas facetas: a de

busca e apreensão propriamente dita, ou, alternativamente, a de medida

instrumental, cautelar. A busca visa a procura de objeto ou pessoa, ao passo que a

apreensão representa sua constrição, ou seja, a colocação da pessoa ou objeto sob

custódia do Estado, nada impedindo que haja busca sem apreensão, e vice-versa.

Se faz oportuno, registrar lição de Marcellus Polastri Lima (2005, p. 134):

Apesar do Código de Processo Penal a classificar como meio de prova, a busca a apreensão, com finalidade de preservar elementos probatórios ou assegurar reparação do dano proveniente do crime, ontologicamente, não é prova, tendo, ao contrário, a natureza de medida cautelar que visa à obtenção de uma prova para o processo, com o fim, portanto, de assegurar a utilização do elemento probatório no processo ou evitar o seu perecimento.

Modo peculiar de busca e apreensão é a busca pessoal, a qual envolve a

revista da pessoa incluindo malas, mochilas, automóveis, tendo a possibilidade,

nesse caso, da dispensa do respectivo mandado quando: a) houver prisão em

flagrante, pois no ato tudo o que estiver em poder do preso será revistado; b)

havendo fundada suspeita de porte de arma, objetos ou pessoas que tenham

relação com o fato criminoso; e c) na busca domiciliar, ocasião em que as pessoas

presentes serão também revistadas.

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3. 3. 1 Interceptação Telefônica

Mediante a interceptação telefônica capta-se a prova sem a ciência dos

interlocutores, a partir de requerimento do Ministério Público ou de representação da

autoridade policial, no inquérito, ou a pedido do Ministério Público, no processo.

Normalmente, na interceptação, estão presentes três pessoas: dois

interlocutores e um interceptador, entendendo-se que a captura da conversa é feita

pelo interceptador sem o conhecimento dos envolvidos na conversa, havendo,

ainda, a possibilidade de o próprio juiz determiná-la, no curso do processo, de ofício.

3.3.2 Escuta Telefônica

Nesse meio de prova uma das pessoas envolvidas no diálogo sabe da

captação, o que vem a diferenciá-lo da interceptação telefônica. Deste modo,

entende-se por escuta telefônica a forma de obter registro de conversas telefônicas

com gravação por pessoas estranhas à conversação, havendo, obrigatoriamente, o

consentimento de dois interlocutores, sob pena de se tornar prova ilícita.

3.3.3 Gravação Telefônica

Em sentido bem amplo, a gravação telefônica é tida como resultado da

interceptação telefônica, da escuta telefônica ou da gravação telefônica em sentido

estrito, entendido que a conversa, para ser entranhada nos autos, terá suas partes

desgravadas ipsis litteris e será devidamente acompanhadas de auto

circunstanciado.

É efetuada entre dois interlocutores, sendo o segundo interlocutor indiferente

ao momento gravado, podendo o ato ser do seu conhecimento ou não.

3.3.4 Registro Telefônico

Trata-se do histórico de ligações telefônicas efetuadas e recebidas por uma

unidade de comunicação, consistente em horário de chamadas, duração, números

discados, cujo controle está sob a responsabilidade da operadora, caracterizando a

chamada quebra de sigilo telefônico. Objetiva a obtenção de dados armazenados e,

portanto, pretéritos, mediante requerimento da parte interessada, sob autorização

judicial.

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3.3.5 Interceptação Ambiental

É o registro de conversas em áudio ou imagem ambiente, realizado por

terceira pessoa que não participa da conversação, condicionada, porém sua

validade às seguintes circunstâncias: 1) autorização judicial, quando os

equipamentos são previamente instalados no ambiente; 2) não autorizada

judicialmente, mas com o conhecimento de pelo menos um dos interlocutores; 3)

sem autorização judicial e sem conhecimento dos participantes; e 4) em local ou

espaço público. Percebe-se que a validade desse tipo de meio de prova está sujeita,

também, às condições estabelecidas pelo reserva jurisdicional.

3.3.6 Gravação Ambiental

É realizada por um dos participantes do diálogo, com ou sem o conhecimento

dos demais envolvidos, constituindo-se esse meio de prova em uma espécie de

proteção, de precaução e, não envolvendo o sigilo da conversa com a participação

de um agente interceptador, sua efetivação não exige autorização judicial. Nestor

Távora (2014, p. 615) elenca:

O Supremo Tribunal Federal, em sede de “Repercussão Geral”, destacou que é lícita a prova obtida por intermédio de gravação ambiental, ainda que sem o conhecimento dos demais interlocutores.

Então, com base em seus ensinamentos, tomando como base central o

Supremo Tribunal Federal, que a prova alcançada através de gravação em esfera

ambiental é ilícita.

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4 INTERCEPTAÇÃO DE FLUXO DE COMUNICAÇÃO EM SISTEMAS DE

INFORMÁTICA E TELEMÁTICA

Atento às inovações tecnológicas, o legislador contemplou a captação de

dados em sistemas de informática e telemática como mais um meio de obtenção da

prova penal, encampando todas as formas de comunicação de dados, não se

limitando aos sistemas convencionais.

Abrange assim sistemas complexos de telecomunicações com tráfego em

fibra ótica, cabo e satélite, bem como programas de computador (hardwares e

softwares) e rede, com armazenamento de dados em tempo instantâneo e a partir

de grandes distâncias.

Anote-se que a Jurisprudência dos Tribunais Superiores já firmou o

entendimento de que é possível ter acesso ao IP de máquina acoplada à rede

mundial de computadores sem autorização judicial, bem como admitiu a legalidade

da captação de áudio em sala de bate papo na internet.

4.1 Delação Premiada

A delação premiada é meio de prova relativamente novo no Brasil, tendo

sido importado do direito alienígena, principalmente dos Estados Unidos da América,

embora se possam detectar, ainda que tenuamente, no Livro V das Ordenações

Filipinas (1603-1830), referências a esse importante instituto de apoio às

investigações.

Há previsão de sua aplicação nas seguintes hipóteses: Lei dos Crimes

Hediondos (Lei 8.072/90); Lei de Combate às Organizações Criminosas (Lei

12.850/13); Código Penal; Lei de Lavagem de Capitais (Lei 9.613/98); Lei de

Proteção a Vítimas e Testemunhas (Lei 9.807/99); e Lei Antidrogas (Lei 11.343/06).

Qualifica-se a delação premiada como uma espécie particular de “delação”,

com desdobramentos notáveis no processo penal, com reflexos diretos na

dosimetria da pena a ser aplicada (podendo ocorrer até mesmo sua isenção),

estimada segundo a importância das revelações úteis à persecução penal, levando-

se sempre em consideração o valor do bem tutelado, tendo-se uma constante

aferição das informações em cotejo com os fatos apurados.

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Embora, doutrinariamente, envolva aspectos de ordem ética, mormente no que

diz respeito à traição de um pretenso criminoso em relação a outro, não deixa de ser

instrumento valioso no combate às organizações criminosas. A iniciativa da delação

premiada é do Delegado de Polícia, na fase inquisitorial, e do Ministério Público, em

qualquer fase da persecução penal, cabendo contudo, ao magistrado, ao homologá-

la, verificar sua escorreita aplicação, examinando-lhe a regularidade, a legalidade e,

precipuamente, a voluntariedade.

Tem-se, pois que a delação premiada carregará a marca da voluntariedade

do colaborador, sob pena de absoluta nulidade, exigindo a lei que o ato seja

voluntário, de livre vontade, realizado sem qualquer tipo de constrangimento. O

combate às organizações criminosas, por sua complexidade, exige mecanismos

especiais, uma vez que, a envolver às vezes número considerável de agentes,

desafiam a Autoridade do Estado com suas práticas cada vez mais refinadas.

Na atualidade observa-se o êxito da operação conhecida por “Lava Jato”,

típica de crimes do colarinho branco, cujo desvendamento só foi possível graças ao

instituto da delação premiada, com resultados que de outra maneira jamais seriam

alcançados.

É evidente que o juiz não está autorizado a decidir a causa baseando-se

somente na delação premiada, mas, ainda que haja limitações em face da existência

de outras provas, sua utilidade na investigação de organizações criminosas jamais

poderá ser, em qualquer circunstância, considerada insignificante, mesmo porque

proporciona meio eficaz de identificar crimes com a colaboração daqueles que

diretamente deles participaram.

4.2 Agente Infiltrado Ou “Homem De Confiança”

Em investigações complexas, notadamente aquelas envolvendo organizações

criminosas, pode-se recorrer à infiltração de agentes policiais na quadrilha, com

vistas à formação de lastro probatório. A infiltração é autorizada judicialmente, a

requerimento do Delegado de Polícia ou do Ministério Público, devendo o infiltrado

ser, obrigatoriamente, agente de polícia, não se admitindo, em face dos riscos e das

consequências da infiltração, pessoas que atuem como detetive particular,

informante, agente da ABIN ou policiais da inteligência da Polícia Militar.

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A atuação do agente infiltrado goza de prerrogativas estipuladas na Lei

12.850/13, desde que dentro dos limites legais, as quais prerrogativas consistem

em: exclusão da culpabilidade pelas excludentes de “em estrito cumprimento do

dever legal” e “inexigibilidade de conduta diversa”; além da permissão legal para

alteração da identidade, sigilo da verdadeira identidade, podendo, inclusive, recusar

ou fazer cessar a infiltração.

Todas as provas colhidas pelo agente infiltrado são consideradas válidas,

contanto que guardada consonância com os ditames constitucionais,

nomeadamente o direito à privacidade e o respeito à dignidade da pessoa humana,

invalidando-se as havidas por meio ilícito, caso em que o agente infiltrado

responderá pelos danos criminalmente. Nesta linha de raciocínio, observa o que

elenca Eugênio Pacelli (2013, p. 304):

Em relação à infiltração de agente de polícia ou de inteligência, a questão não é tão simples. Não pelas já dificuldades conhecidas de se identificar com precisão o que seja uma ação criminal resultante de organização criminosa; mas, sobretudo, pela ausência de delimitação legal da atuação permitida ao agente infiltrado. Ora, como é o próprio Estado que estará inserido nas relações criminosas, é preciso que se estabeleçam os limites de tal inserção, para que se saiba, com um mínimo de certeza possível, a fronteira que irá separar a ação lícita da ilícita.

Assim, no que se refere à inspiração das pessoas da polícia, isso não se trata

de algo tão fácil, e sim simplesmente pela falta de delimitação legal da atuação que

é permitida a pessoa infiltrada.

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5 O LAUDO PERICIAL

O Código de Processo Penal regula os procedimentos atinentes à confecção do

laudo pericial, caracterizando-o como prova fundamental nos delitos que deixam

vestígios, consoante já demonstrado alhures. Observa-se o Código de Processo

Penal em seu art. 159 e 160:

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) § 1o Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) § 2o Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) § 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 5o Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) I - requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) II - indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) § 6o Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. § 7o Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008.” “Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994) Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.”

Todavia, em regra o exame de corpo de delito assim como outras perícias são

realizadas através de peritos, na ausência deste, será direcionada a

responsabilidade e realização a duas pessoas idôneas. Após a conclusão dos

exames e laudos realizados pelo perito o Juiz admite a atuação do assistente

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técnico. Tratando-se de perícia mais complicada poderá ser mais de um perito oficial

para a realização desta perícia. De acordo com Alberi (2013, p. 136):

O laudo pericial como uma peça-técnico formal por meio da qual se apresenta o resultado de uma perícia e no qual é relatado tudo o que interessar ao fato criminoso, sempre com o escopo de desvendar o modo, o meio e os instrumentos pelos quais foi executada a infração penal, bem como seu resultado.

É produto de um trabalho exclusivamente científico que procura ser o mais

abrangente possível, sendo elaborado por especialistas, objetivando auxiliar a

Justiça, seu destinatário final, em assuntos que ensejam dúvidas no processo.

Se assente que o laudo pericial criminal é de inteira responsabilidade do

poder estatal e sua confecção levada a cabo por peritos vinculados aos quadros

funcionais dos Institutos de Criminalística e Institutos de Medicina Legal. Denote-se

a valoração que o legislador atribui ao Laudo Pericial, apontando que nem mesmo a

própria confissão do acusado será capaz de suplantá-lo.

Quando a lei afirma “deixar vestígios”, que dizer que, sempre que o crime

produzir pistas, caberá a realização de exame de corpo de delito, o qual ficará

consubstanciado na peça processual a que se denomina Laudo. Desse modo, o

conceito de “vestígio” torna-se essencial para a correta compreensão e leitura do

exame de corpo de delito. Acerca disso elenca Guilherme Nucci (2014, p. 388):

“Assim, é esclarecedor o conceito de Guilherme de Souza Nucci: “Vestígio é o

rastro, a pista ou o indício deixado por algo ou alguém.”

É de ver-se, pois, que há delitos em que se verificam sinais de sua prática,

impondo a lei, nesses casos, a constatação e o registro desses sinais por meio de

conhecimentos técnicos, com o fim precípuo de constituí-los em prova científica.

O Laudo Pericial é, na verdade, uma espécie de prova tarifada, uma vez que

atende a requisitos pré-estabelecidos em lei, não permitindo a ampla liberdade em

sua produção, sob pena de, não atendidas as especificidades legais, tornar-se

inválido e, portanto, ilegal, segundo os termos dispostos no artigo 564, III, b, do

Código de Processo Penal.

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5.1 Princípios de Um Laudo Pericial

Um exame pericial exige exaustas pesquisas com a finalidade de se chegar a

completa constatação, análise e interpretação do fato, devendo entretanto os peritos

não se restringirem ao que for perguntado ou requisitado, sempre atentos a outros

elementos que possam influir no exame, ou que lhe tenham relação. Então, neste

sentido afirma Jesus Antônio (2013, p. 12):

A perícia é o resultado final de um completo e detalhado trabalho técnico-científico, levado a efeito por peritos, cujo objetivo é o de subsidiar a Justiça onde existem vestígios a serem analisados.

Assim, perícia nada mais é do que a consequência de um trabalho realizado

por técnicos competentes para exercer aquele tipo de função no qual lhe é atribuída,

com a finalidade de alcançar a justiça perante aqueles crimes que deixam vestígios.

5.1.2 Elementos De Um Laudo Pericial

Pelo Código de Processo Penal, o Laudo Pericial Criminal requer uma série

de formalidades, uma vez que submetido a regulamento que acaba por diferenciá-lo

do laudo pericial civil, sendo sua principal utilidade servir às partes interessadas no

processo de forma singular, pois é peça genuinamente técnica, com características

definidas no âmbito do artigo 159 do Código de Processo Penal.

Assim, admitindo-se que no contexto da investigação criminal tão importante

quanto esclarecer um fato é reconstruí-lo com exatidão, permitindo assim sua

compreensão mesmo por aqueles que não são especialistas no assunto, como, por

exemplo, o advogado, o promotor de justiça, o defensor público e até mesmo o

magistrado, entende-se facilmente que a credibilidade do laudo estará diretamente

ligada ao seu grau de desenvolvimento, clareza, precisão e coerência.

Contudo, embora revestido de importância especial, deve o laudo pericial

zelar pela singeleza, sendo recomendada a descrição simples, bem como o uso de

palavras costumeiras, evitando-se o relato rebuscado e primando-se pela riqueza de

detalhes. Afirma o doutrinador Alberi (2013, p. 12-13):

A maioria dos doutrinadores, um laudo pericial deve conter, basicamente: “I – Preâmbulo: discrimina título e subtítulo do laudo; hora, data e local em que foi elaborado o laudo pericial; o nome do instituto ou órgão de perícia

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do qual é originário; a data de requisição ou solicitação; nome da autoridade que requisitou; nome do diretor do órgão pericial e dos peritos signatários. Transcrevem-se também os quesitos apresentados pela autoridade requisitante. II – Histórico: relata pequeno histórico da requisição, bem como síntese do fato que originou a requisição. III – Objetivo: descreve quais objetivos motivaram a realização da perícia, que geralmente refletem os quesitos formulados pela autoridade requisitante. IV – Exames periciais: descrição de todas as técnicas e os métodos empregados para a realização dos exames periciais, bem como os resultados obtidos. V – Considerações técnicas ou discussão (se necessário): na maior parte das vezes, a partir dos exames periciais pode-se partir para a conclusão do laudo de forma clara. Porém, em certos casos, há a necessidade de cotejar fatos, de analisá-los e dissipar dúvidas. Por meio da discussão asseguram-se conclusões lógicas, afastando as hipóteses capazes de gerar confusão. Enfim, relata-se neste tópico as análises e interpretação das evidências constatadas e respectivos exames, de maneira a facilitar a compreensão e o entendimento por parte dos usuários do laudo pericial. VI – Conclusão ou resposta aos quesitos: a conclusão pericial deve ser, obrigatoriamente, uma consequência natural do que já fora argumentado, exposto ou demonstrado nos tópícos anteriores do laudo. Mesmo que não seja possível uma conclusão categórica em determinada perícia, deverá constar do laudo o tópico correspondente e nele ser informada a impossiblidade de conclusão face aos motivos que devem ser relacionados (exiguidade de vestígios, falta de preservação, etc) de forma clara e explicativa. Em alguns casos, os peritos terão condições de eliminar algumas hipóteses e, com isso, delimitar o trabalho dos investigadores. A eliminação de algumas destas possibilidades é, na verdade, uma conclusão por exclusão. VII – Fecho ou encerramento: relata a finalização do laudo, indicando o número total de páginas do documento e que estas páginas seguem numeradas e rubricadas pelos peritos subscritores, terminando com o(s) nome(s) do(s) perito(s) e respectiva(s) assinatura(s).

Ressalta-se que o perito pode, a seu critério, criar, no laudo, outros itens, tais

como Exames Complementares, Da remoção do Cadáver, dentre outros, mas

sempre preservando a concisão do documento, o qual, como peça técnico-científica,

deve apresentar termos exatos, breves e claros, sendo possível enriquecê-lo com

ilustrações, croquis, fotografias e esquemas que facilitem a compreensão daquilo

que se quer transmitir.

5.1.3 . Quesitação

Embora tido como prova tarifada, uma vez que deve ser produzido com

observância do rito previsto na legislação específica, o laudo, contudo admite, em

homenagem aos princípios da ampla defesa e do contraditório, a participação, em

sua elaboração, das partes e do próprio juiz, mediante a formulação de quesitos.

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Assim diz o Código de Processo Penal em seu art. 176. “A autoridade e as partes

poderão formular quesitos até o ato da diligência.”

É corolário inafastável do devido processo legal a garantia de elaboração

de quesitos para submissão ao perito oficial, pelas partes, considerando que a busca

da verdade real não dispensa opiniões concordantes ou díspares, as quais

conduzirão, inexoravelmente, a conclusões mais exatas e mais seguras, em

benefício da formação da convicção do magistrado.

Havendo perícia que não possa ser realizada caso decorra muito tempo,

pode-se admitir, também, que a parte, ainda na fase inquisitorial, formule quesitos,

desde que se trate, obviamente, de prova pericial pré-constituída, ficando possível,

pois, sua participação na fase pré-processual. Nucci (2014, p. 425) ensina que:

O oferecimento de quesitos, por ocasião da realização da prova pericial, pode ser de fundamental importância para o esclarecimento da verdade real e para a garantia do devido processo legal, com seus corolários diretos: a ampla defesa e o contraditório.

O Código de Processo Penal, em seu artigo 160, que o perito responda à

formulação de quesitos. Preconiza Francisco (2017, p. 45) sobre o assunto:

Exige-se, todavia, na quesitação bastante atenção na construção das perguntas, as quais deverão guardar pertinência direta com o objeto ou fato periciado, evitando-se assim embaraços na solução da lide, uma vez que uma quesitação bem elaborada trará maior grau de certeza à perícia e propriciará mais celeridade ao processo, porque o perito saberá, precisamente, o que responder, não perdendo tempo em tentar interpretar ou adivinhar o que se pretende esclarecer.

A objetividade nesses casos revela-se imperiosa, pois o perito não pode se

deparar com questões vagas e imprecisas, o que o levaria a arriscar-se a preparar

um laudo mal feito, eivado de inconsistências e, portanto, facilmente questionável, o

que não condiz com a natureza técnico-científica da perícia.

Anote-se que, sendo o perito perspicaz, saberá ele, porém identificar o intuito

dos quesitos e, com agudeza de espírito, será capaz de afastar eventuais tentativas

de desvirtuamento do laudo, resguardando-se de propostos desvios, em

perseguição ao esclarecimento da verdade objetiva que auxiliará o trabalho da

justiça.

Espera-se do operador do Direito um mínimo conhecimento a respeito das

técnicas e métodos aplicados à perícia, porquanto desse conhecimento dependerá

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sobremaneira a boa formulação da quesitação, a qual declinará, necessariamente,

as dúvidas suscitadas nos autos, sendo, portanto, inadmissíveis formulações que

não encontrem retumbância nos autos.

É certo que a prolixidade mais confunde que esclarece; por isso, a

quantidade de perguntas limitar-se-á às dúvidas com fundamento nos autos, sempre

se tendo como guia a clareza e a concisão, porque o excesso nem sempre acha a

verdade, bem como não assegura, não raro, a certeza, impondo-se, dessa forma,

aos interessados no laudo a prudência e o equilíbrio no momento da apresentação

dos quesitos.

Ressalte-se, igualmente, como fator preponderante na formulação dos

quesitos, a coesão e a coerência, dando-se primazia ao bom uso da língua

vernácula, com o fito de afastar questionamentos sem sentido, que tão–somente

ofuscarão o desempenho do perito, tendo em vista que a objetiva colocação das

indagações pelos interessados no laudo contribuirá de forma profícua para a

revelação da verdade. Nesse sentido, a eficaz concatenação das perguntas

afugentará possíveis desvios da finalidade da lide.

Conforme registrado alhures, o perito não se restringirá à quesitação,

podendo recorrer à sua condição de autoridade do laudo para ampliar ou alargar o

horizonte da investigação, buscando aprofundar sua convicção, apoiando-se em

todos os elementos possíveis na construção de seu laudo.

Está previsto em cinco artigos do Código de Processo Penal, sendo eles o

artigo 6º, inciso II; 158, 161, 167 e também no artigo 168, que o exame de corpo de

delito é a mais importante das perícias, impondo-se sua realização sempre que a

infração penal deixar vestígios.

É direto quando realizado diretamente sobre o material tido como vestígios;

indireto quando, havendo a escassez ou mesmo o total desaparecimento dos

vestígios, é completado por outras provas como, por exemplo, a testemunhal.

O Código de Processo Penal confere-lhe o caráter de indispensabilidade,

ainda que haja confissão, tendo em vista a possibilidade de o acusado confessar um

crime que não fora cometido por ele, a fim de proteger o verdadeiro criminoso.

Seguindo esta linha de pensamento, alega o autor Almir Santos (2018, p. 06):

“constatar, definir, interpretar e registrar circunstâncias, pessoas envolvidas e todas

as particularidades do delito”. Sua finalidade precípua é devendo, neste caso, a

elaboração do respectivo laudo ser minuciosa.

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No que tange ao Exame necroscópico é realizado sobre a própria vítima,

recebendo outras denominações: autópsia, necropsia; é o exame interno do

cadáver, com vistas a lhe determinar a causa da morte, consistindo em dois

momentos distintos: o exame exterior e o exame interior do cadáver.

Não visa somente a causa da morte, sendo certo que se destina a examinar

outros elementos como número de ferimentos, orifícios de entrada e de saída de

projétil, tamanhos das feridas, quantidade de escoriações, entre outros. Vejamos o

que diz Almir Santos e Júnior (2018, p. 07):

Poderá, também, identificar o tempo do crime mediante a observação dos chamados fenômenos cadavéricos, tais como livores hipostáticos, rigidez cadavérica, resfriamento corporal, grau de putrefação e maceração.

Então, a exumação de cadáver consiste no desenterramento do cadáver para

nova inspeção, em razão de dúvidas supervenientes, suscitadas pela deficiência do

exame anterior ou por inconformismo das partes. É previsto no artigo 163 do Código

de Processo Penal, sendo previamente marcado pela autoridade policial, que lavrará

termo circunstanciado; também na exumação o cadáver é fotografado na posição

em que for encontrado, juntando-se as fotografias aos autos, na forma dos artigos

164 e 165 do Código de Processo Penal.

No artigo 164 do Código de Processo Penal está previsto o Exame

Perinecroscópico. Esse tipo de exame, que busca, precipuamente, analisar

cuidadosamente as lesões externas do cadáver e de todos os vestígios deixados no

local, incluindo-se métodos por fotografia. Exige total isolamento da área em que

será realizado, objetivando a preservação de todos os elementos concorrentes da

cena, até a chegada dos peritos.

O exame do local do crime é indicado naqueles casos em que ocorre

incêndio, furto qualificado pelo arrombamento ou pela escalada e nos demais crimes

que deixam vestígios, excetuando-se os que deixam cadáver. Observa o aspecto de

desordem, a situação dos móveis e utensílios, fendas e massas em paredes,

assoalhos e teto, além de perscrutar impressões digitais, manchas, tintados e

incrustações, os quais devem ser colhidos de modo a permitir sua incolumidade para

o envio ao laboratório.

É muito utilizado em crimes de trânsito, uma vez que, por meio da observação

das marcas feitas pelos pneus, a posição em que se encontram os veículos, os

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pontos de impactos, pode-se verificar a imprudência, imperícia ou negligência,

encontrando-se previsto nos artigos 6º, inciso I, e 169, 171 e 173 do Código de

Processo Penal.

O exame sobre os instrumentos do crime está a balística, na qual se procede

ao exame da arma e da munição usadas no crime, consistindo no confronto balístico

mediante comparações, com a finalidade de se confirmar, ou refutar, se a arma

efetuou determinado disparo. Registra-se ainda, que nos casos em que não se

puder recuperar a arma, por ter o agente decidido, por exemplo, jogá-la fora ou

ocultá-la, a realização desse exame fica, por evidente, prejudicada.

Nos exames de laboratórios e DNA Amostras do conteúdo estomacal também

se prestam para detectar substâncias entorpecentes ou dosagem de álcool. Assim,

diz Mariana de Almeida (2018, p. 09):

Alguns materiais são submetidos a exames de laboratório, a exemplo de sangue, saliva, sêmen, fio de cabelo e pele, através dos quais é possível identificar tanto a vítima como o criminoso, caso estejam sem identificação.

Cabe observar que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo,

ficando, pois, esses exames condicionados, em casos específicos, à permissão da

pessoa investigada.

5.2 A Contestabilidade Do Laudo Pericial

Com base nas pesquisas o laudo pericial é contestável. Neste pensamento

alega Gustavo Caminoto (2013, p. 413): “todo trabalho feito pelo ser humano é

passível de aperfeiçoamento, uma vez que a totalidade de conhecimentos é

impossível de ser absorvido por somente uma pessoa”. Então, não se deve

estranhar tal afirmação, pois, embora se trate de uma peça técnico-científica, o

laudo é, antes de tudo, uma obra do gênio humano, passível de falhas, a provocar

dúvidas.

Além disso, todo trabalho humano carece de aperfeiçoamento, uma vez que a

totalidade do conhecimento é impossível a uma pessoa, considerando-se que, por

conta do avanço das tecnologias, os conhecimentos científicos se multiplicam

continuamente, descortinando a cada dia novos horizontes. Portanto, ainda que

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elaborado com base em conhecimentos da ciência, um laudo pericial pode ser

contestado.

É de suma importância destacar a perícia de baixa qualidade, ou seja, a

perícia mal feita prejudica sensivelmente uma das principais finalidades do processo:

o argumento. A expectativa das partes se frustra diante de provas que deixam de ser

qualificadas, sendo certo que a prova ruim, falha, eivada de dúvida, enfraquece o

poder de persuasão dos atores do processo, ou seja, as partes e o Juiz. Ainda sobre

os ensinamentos de Gustavo Caminoto (2013, p. 425):

Há dois limites em que se orienta o trabalho do perito: o primeiro, de ordem externa, é a própria limitação da ciência, ou seja, até o ponto em que não se explica o fenômeno através do conhecimento científico: e o segundo, de ordem interna, diz respeito à capacidade e aptidão do perito responsável pela realização da perícia.

A escolha errada do método e da tecnologia a serem empregados na

confecção do laudo, aliada à falta de preparo do perito, certamente concorrerão para

um laudo de baixa qualidade.

Um péssimo perito produzirá erros pericias pelos quais será necessariamente

responsabilizado, porque, neste caso, não é caracterizado o dolo por erro, impondo-

se assim a respectiva penalização pela baixa qualidade do trabalho, uma vez que tal

situação é escandalosamente decorrente da desídia inadmissível ao profissional da

perícia.

O objeto da perícia é a busca da verdade. Sendo crime falsear a verdade em

Juízo, nada pior para o processo judicial do que um laudo pericial deliberadamente

mal intencionado. É oportuno lembrar que o artigo 342 do Código Penal Brasileiro

estabelece:

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. (Vide Lei nº 12.850, de 2.013) (Vigência) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência) § 1º - Se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. § 2º - As penas aumentam-se de um terço, se o crime é praticado mediante suborno.

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§ 3º - O fato deixa de ser punível, se, antes da sentença, o agente se retrata ou declara a verdade. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001).

Logo, o trabalho pericial requer alta responsabilidade, e quem o executa,

reconhecendo sua importância para o processo penal, deve ter a consciência

tranquila ao confeccioná-lo, sendo sempre sabedor de que o resultado de seu laudo

estará afetando de forma irreversível o patrimônio e a vida das pessoas, inclusive de

terceiros alheios à causa.

De outra banda, é certo que uma falsa perícia jamais se sustentará por muito

tempo, pois há meios pelos quais as irregularidades podem ser constatadas, sendo

possível que os próprios interessados na perícia, advogados, delegados de polícia,

promotores, defensores públicos, juízes, dentre outros, levantem a suspeição do

laudo, obtendo assim sua rejeição.

Também não resistirá à análise de outro perito ou outro assistente técnico,

pois a perícia é fato repetível sob certos conhecimentos e condições, o que sem

dúvida viabiliza diagnóstico totalmente diverso daquele a que chegou o perito

iniciador da falsa perícia. Acerca disso, preconiza Jesus Antônio (2013, p. 426):

Destacam-se três situações em que o perito pode ser enquadrado por falsa perícia: 1 – se no contexto do laudo o perito vier a inserir alguma informação falsa, ou seja, com resultado diferente do que deveria ser ou mesmo pelo acréscimo de alguma afirmação não pertencente ao contexto daquela perícia; 2 – se o perito negar algo que constatou na perícia que realizou, mediante negativa de resultado, quando teria condições de chegar a ele; e 3 – o perito calar a verdade é igualmente grave e tipificado no referido artigo do CP.

Nota-se que a falsa perícia é crime de perigo, ou seja, para ocorrer prescinde

da efetiva lesão, sendo suficiente o seu cometimento para o enquadramento do

agente na tipificação do artigo 342 do CP.

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5.3 A Rejeição Do Laudo Pericial É Corolário Do Livre Convencimento Motivado.

Influenciado pela Revolução Francesa, o princípio do livre convencimento

motivado trouxe a adoção da lógica racional como método de hermenêutica,

propiciando ao julgador ampla liberdade na aplicação de sua convicção íntima à

valoração da prova.

Integrado ao ordenamento jurídico brasileiro, é considerado pelo seu caráter

democrático, sendo por isso mesmo revolucionário, uma vez que preserva a

liberdade de apreciação, vincula o convencimento do juiz ao conjunto probatório dos

anos, obrigando-o a fundamentar sua decisão, privilegiando assim o

desenvolvimento de seu raciocínio e as razões do seu convencimento. Está

consubstanciado no artigo 155 do Código de Processo Penal Brasileiro:

Art. 155. O Juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente em elementos informativos colhidos na investigação, ressalvados as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.

Portanto, cabe ao juiz interpretar a lei e aplicá-la ao ato concreto proposto

pelas partes em lide, recorrendo quando admissível à flexibilidade, para evitar

situações manifestamente injustas, sem recair no excessivo arbítrio proporcionado

pelo sistema do livre convencimento absoluto, ensejando assim efetivo controle de

suas decisões.

Nesse contexto, poderá o laudo pericial ser rejeitado, porque o olhar do

magistrado, ao julgar, não se prende exclusivamente a ele, percorrendo todo o

conjunto probatório, a perscrutar a sentença que deverá fundamentar-se naquelas

provas que mais lhe convençam da existência ou inexistência do fato e da certeza

ou incerteza da conduta.

Dessa forma, se resulta em algo incomum ao senso, essa possibilidade da

rejeição do laudo pericial, pois seu caráter de peça processual produzida

cientificamente poderia lhe conferir a condição de prova irrefutável. Porém, não é

bem assim, com fulcro no Código de Processo Penal, em seu art. 182: “O juiz não

ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.”

Observa-se então que o laudo pericial não vincula o julgador, sendo pois

possível desconsiderá-lo por inteiro ou em parte no momento da valoração das

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provas, podendo, inclusive, ser ofuscado pela força probante dos fatos trazidos aos

autos.

Pode isto ser exemplificado pelo resultado de um laudo de insanidade mental

que dê como louco um autor de homicídio, impondo-se-lhe, de plano, a

inimputabilidade; entretanto, o magistrado poderá extrair de seu interrogatório em

juízo a convicção de que ele, ao cometer o delito, tinha consciência do ilícito,

entendendo perfeitamente o caráter criminoso de sua conduta.

Da mesma sorte, a perícia pode concluir que o sangue, as digitais ou

amostras de sêmen pertencem ao acusado, o que de fato será irrecusável; porém,

dos fatos narrados nos autos poderá emergir a certeza de que o material não foi

colhido no local do crime; ou ainda, na hipótese de rompimento de lacre de

segurança, a identificação dos instrumentos, dos meios e do tempo, sendo matérias

fáticas, podem ser refutados pelo juiz.

É, pois, possível que a força probante dos fatos oblitere a conclusão do laudo,

ocasionando assim sua total ou parcial rejeição pelo Juízo. É que o legislador não

quis dar ao perito a palavra final em relação à prova, relativizando o valor probatório

do laudo pericial e deixando sua análise à prudente e fundamentada convicção do

magistrado, sem desprezar, contudo, sua influência na consciência crítica do

julgador, ao qual não é permitido ser indiferente ao laudo, sendo então a

Criminologia indispensável à investigação da verdade real.

Vale ressaltar ainda, que embora sendo prova concluída com base em

conhecimentos científicos, o laudo pericial não oferece certeza absoluta a respeito

dos fatos dos quais se ocupa, necessitando, em sua leitura, de alguma força de

interpretação, até porque a própria verdade real é considerada inalcançável. Neste

raciocínio, vejamos o que diz o seguinte julgado (2013):

Ementa: APELAÇÃO CRIME. ROUBO MAJORADO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO. CONSUMAÇÃO. MAJORANTE EMPREGO DE ARMA. INDISPENSABILIDADE DE PERÍCIA. 1 - O só fato de anunciar assalto e simular a utilização de arma de fogo (com os dedos sob a veste) bastam para configurar a grave ameaça descrita no tipo do artigo 157 do CP já que causam o temor à vítima exigido pela elementar. Inviável, assim, a desclassificação para o delito de furto. 2 - Os réus foram detidos - sem que houvesse perseguição - somente após eficaz diligência realizada pela polícia. Dessa forma, ainda que por curto lapso temporal, consolidaram a posse indisputada dos bens subtraídos - que saíram da esfera de vigilância da vítima -, consumando o delito. 3 - Para que possa haver a incidência da majorante do emprego de arma, imprescindível a sua apreensão e respectiva perícia, dada a necessidade da certeza da existência da arma e

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do seu potencial lesivo, afastando-se a possibilidade de - inclusive - se tratar de arma de brinquedo, ou até mesmo outro artefato que por equívoco a vítima confunda com arma. O temor causado na vítima, pela percepção do provável emprego de uma arma de fogo, não se presta para fazer incidir a majorante, pois a grave ameaça já integra o próprio tipo penal, sendo a ele inerente. POR MAIORIA, APELO DEFENSIVO PARCIALMENTE PROVIDO. (Apelação Crime Nº 70052764297, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Francesco Conti, Julgado em 21/08/2013)

Assim, todo o trabalho da perícia será mais bem aproveitado se houver uma

correta interpretação dos dados inseridos no laudo, não sendo recomendado o uso

de ilações quando de sua apreciação pelos seus destinatários.

Pela sua complexidade, exige, para ser bem interpretado, um mínimo de

conhecimentos de Criminologia, ainda que sejam meras noções das ciências

aplicadas na sua elaboração. Para isso analisa-se o art. 181 CPP c/c o art. 437

CPC/15:

Art. 181 – CPP. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo. Parágrafo Único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente.” “Art. 437 – CPC. O juíz poderá determinar, de ofício ou a requerimento da parte, a realização de nova perícia, quando a matéria não lhe parecer suficientemente esclarecida.

Caberá ao intérprete, pois, que é irremediavelmente prejudicado o laudo em

que se encontrarem omissões, obscuridades ou contradições, as quais serão

levantadas, necessariamente, pelas partes ou pelo juiz, competindo a esses atores

processuais certa acuidade no trato das questões relativas à Criminologia, como

forma de garantir a procedibilidade da crítica ao laudo.

É que se desenvolveu a cultura de se verificar de imediato a conclusão do

laudo, prescindindo assim do seu exame mais aprofundado, acarretando dessa

forma distorções e acomodações no conteúdo dessa peça processual. Essa

realidade encerra medonho equívoco, pois um laudo contém informações relevantes

em todos os seus tópicos e não somente na conclusão, ficando assim questionável a

prática de se importar apenas com a conclusão, passando-se ao largo de outros

aspectos que foram registrados pelo perito, o que traduz de fato certo comodismo,

com sérios prejuízos à instrução processual, uma vez que se pode atingir o esforço

pela busca da verdade real.

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Cabe destacar que a perícia não pode determinar o julgamento, sendo-lhe

apenas requisito auxiliar, a orientar o magistrado, no sentido de subsidiá-lo em sua

decisão, até porque o parecer do perito não faz coisa julgada, não sendo, porém,

admitida ao magistrado a rejeição arbitrária do laudo, devendo, pois, delinear os

motivos de sua recusa. Destaca Eduardo Roberto (2007, p. 254):

Para haver um julgamento satisfatório, o julgador deve: 1- verificar se os fundamentos científicos nos quais o perito baseou suas conclusões são pacíficos ou admitem contestações; 2 – se as deduções se ajustam às regras da lógica; 3 – se as conclusões do perito estão em concordância ou divergem dos depoimentos das testemunhas ou da confissão do acusado; e 4 – a forma como o perito expõe suas opiniões.

Ainda, neste sentido, o autor continua (2007, p. 254):

Em uma análise feita nos julgados do Tribunal de Justiça de São Paulo dos últimos 10 anos, verificamos que são praticamente inexistentes os questionamentos que recaem sobre os fundamentos científicos da perícia ou sobre suas deduções lógicas. No máximo, existem ponderações a respeito de eventuais divergências aparentes, na maioria das vezes sem fundamento, ou sobre eventual contradição com os depoimentos presentes nos autos.

Tem-se essa realidade como o resultado da precária formação dos

operadores do direito na área da Criminologia, atribuída à pobreza da grade

curricular dos cursos jurídicos, que não chegam a sequer oferecer noções básicas

daquela disciplina, sendo certo que as instituições de ensino não demonstram

preocupação em relação ao ensino da perícia técnica.

Prova isso os certames públicos aplicados no Brasil, nos quais não se

constatam problemas relativos à perícia oficial, encontrando-se, raramente, questões

versando tão-somente a respeito de Medicina Legal, passando-se assim ao largo de

aspectos importantes do laudo pericial.

Tal despreparo limita enormemente a capacidade de leitura do laudo pericial,

podendo aparecer distorções no seu resultado, uma vez que sua interpretação se

restringirá ao tópico da conclusão, não sendo, pois, possível um exame mais crítico,

a fim de se verificar suas eventuais omissões, obscuridades ou mesmo contradições.

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CONSIDERAÇÕS FINAIS

Portanto, a importância da perícia oficial para o processo penal, destacando-

se sua origem, sua evolução, seus aspectos legais, suas espécies e sua estrutura,

apontando-se, igualmente, ao longo da exposição, seu papel na trajetória da

persecução penal. Embora classificado como prova produzida cientificamente, o

laudo pericial permite sua contestação, pois é obra do gênio humano, podendo

assim apresentar omissões, obscuridades e contradições, o que poderá ser feito

através de seu exame crítico. Para sua eficiente interpretação, exige-se um mínimo

de conhecimentos técnicos relacionados à disciplina de Ciências Forenses de seus

destinatários, ou seja, dos operadores do Direito.

Não deve o laudo pericial ser situado no último degrau no momento da

valoração da prova, a ser um trabalho neutralizado pelo comodismo das partes, com

resultado nefasto para o processo penal, uma vez que ocorre com muita frequência

a superestimação da prova testemunhal, com evidente prejuízo para as demais

provas constantes dos autos. Assim, o ensino de pelo menos noções das Ciências

Forenses nas faculdades de Direito impõe-se como questão inadiável, com vistas a

oferecer mais capacidade de conhecimentos técnicos aos destinatários do laudo

pericial, o qual necessita de uma leitura mais profícua, a fim de que cumpra sua

missão no processo penal: a busca da verdade real.

Dessa forma, a falta do corpo foi sempre considerada como uma brecha nos

processos de homicídios, mas analisando as interpretações mais recentes dos

tribunais, a ausência deste exame não é mais justificativa para proteger um

assassino. Então, conforme o exposto, o crime só é caracterizado por meio das

provas e testemunhas que são propriamente fundamentadas e baseadas em nosso

ordenamento jurídico, uma vez que, por mais que tenha que condenar um culpado,

deve existir a preservação do princípio da presunção de inocência, conforme

disposto no ordenamento jurídico brasileiro, bem como os seus direitos de defesa e

não frutificar prova contra si mesmo.

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