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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A INDIVIDUAÇÃO DA MULHER NA POLÍTICA ENTRE DOMINAÇÃO, OBJETOS TÉCNICOS E DISPOSITIVO DE ENUNCIAÇÃO Carla Maria Martellote Viola 1 Resumo: O texto pretende desvendar o processo de individuação da mulher como ser participativo na política partidária eleitoral nas diversas instâncias que abrangem o jogo do comando nas representações públicas, seja como eleitora, como candidata ou como parlamentar eleita, abordando a concretização dos objetos técnicos e os diversos elementos do dispositivo que enunciam sua trajetória na memória histórico-social. Para elucidar as questões abordadas foram feitas revisão na literatura, estudos sobre a legislação pertinente e mapeamento quantitativo das tramitações que abordam os direitos da mulher na Câmara dos Deputados. Após o estudo, percebe-se que a sociedade da informação ainda conserva estereótipos equidistantes da mulher como objeto e da mulher dona de casa que representa o alicerce da instituição familiar e o espírito do lar, prejudicando a vontade feminina de atuar na política e o entusiasmo das militantes em lutar por suas causas. Contudo, a busca pelo devir e empoderamento na política, faz com que a mulher desafie a dominação masculina que persiste no palco de poderes e decisões, renovando as esperanças de maior representatividade no país. Palavras-chave: Mulher na política; Feminismo; Individuação; Objetos técnicos; Dispositivo de Enunciação Introdução Os dilemas da mulher implícitos e explícitos da atualidade permitem que se pondere sobre acepções, confluências e divergências no tocante à representatividade da mulher na política com objetivo de investigar as questões eleitorais e partidárias. A individuação da mulher, tendo em vista suas heranças subjetivas e objetivas e a enunciação do dispositivo, serve para aclarar seus direitos e firmar sua maior participação sociopolítica. Nesse cenário, necessárias são a compreensão e a reflexão sobre as normativas, em vigor e em tramitação, referentes à mulher e sua prerrogativa em participar das questões públicas do país. Assim sendo, primeiramente se tecem comentários sobre a representatividade da mulher na política, indicando referenciais sobre a individuação e seu princípio, feminismo e visão androcêntrica. 1 Aquinos Advogados - Mestranda em Ciência da Informação IBICT/UFRJ Rio de Janeiro RJ - Brasil [email protected].

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A INDIVIDUAÇÃO DA MULHER NA POLÍTICA ENTRE DOMINAÇÃO, OBJETOS

TÉCNICOS E DISPOSITIVO DE ENUNCIAÇÃO

Carla Maria Martellote Viola 1

Resumo: O texto pretende desvendar o processo de individuação da mulher como ser participativo

na política partidária eleitoral nas diversas instâncias que abrangem o jogo do comando nas

representações públicas, seja como eleitora, como candidata ou como parlamentar eleita, abordando

a concretização dos objetos técnicos e os diversos elementos do dispositivo que enunciam sua

trajetória na memória histórico-social. Para elucidar as questões abordadas foram feitas revisão na

literatura, estudos sobre a legislação pertinente e mapeamento quantitativo das tramitações que

abordam os direitos da mulher na Câmara dos Deputados. Após o estudo, percebe-se que a

sociedade da informação ainda conserva estereótipos equidistantes da mulher como objeto e da

mulher dona de casa que representa o alicerce da instituição familiar e o espírito do lar,

prejudicando a vontade feminina de atuar na política e o entusiasmo das militantes em lutar por suas

causas. Contudo, a busca pelo devir e empoderamento na política, faz com que a mulher desafie a

dominação masculina que persiste no palco de poderes e decisões, renovando as esperanças de

maior representatividade no país.

Palavras-chave: Mulher na política; Feminismo; Individuação; Objetos técnicos; Dispositivo de

Enunciação

Introdução

Os dilemas da mulher implícitos e explícitos da atualidade permitem que se pondere sobre

acepções, confluências e divergências no tocante à representatividade da mulher na política com

objetivo de investigar as questões eleitorais e partidárias.

A individuação da mulher, tendo em vista suas heranças subjetivas e objetivas e a

enunciação do dispositivo, serve para aclarar seus direitos e firmar sua maior participação

sociopolítica.

Nesse cenário, necessárias são a compreensão e a reflexão sobre as normativas, em vigor e

em tramitação, referentes à mulher e sua prerrogativa em participar das questões públicas do país.

Assim sendo, primeiramente se tecem comentários sobre a representatividade da mulher na

política, indicando referenciais sobre a individuação e seu princípio, feminismo e visão

androcêntrica.

1 Aquinos Advogados - Mestranda em Ciência da Informação IBICT/UFRJ – Rio de Janeiro – RJ - Brasil – [email protected].

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No segundo tópico se evidenciam o desenvolvimento dos objetos técnicos, sua importância

para o cotidiano da mulher e a concretização da máquina como meio gradativo de libertação

feminina.

No terceiro item, aspectos normativos e sociais são apresentados visando salientar elementos

do dispositivo que proporcionaram a mulher conquistas ao longo da história e que na atualidade

fazem parte da composição normativa da reforma política em voga.

No quarto momento, fatores inerentes aos partidos políticos são explicados, formas de

dominação são tipificadas, além de se fazer referências as proposições relacionadas à mulher que

tramitam na Câmara dos Deputados.

Se finaliza com o corolário das vertentes que abrangem as situações propiciadas e

vivenciadas por mulheres nos contextos públicos e políticos.

Ressalta-se que os conceitos de feminismo, visão androcêntrica, dominação, individuação e

seu princípio, objetos técnicos, e dispositivo, abordados pelos autores Beauvoir, Bourdieu, Weber,

Deleuze, Simondon e Foucault, embasaram a pesquisa, trazendo junto com o compêndio

pesquisado, esclarecimentos para maior visibilidade e melhor representatividade da mulher.

A individuação da mulher na política

Quando a mulher se propõe a participar da política e a buscar uma função pública, ela

naturalmente está compelida a enfrentar sua individuação em confluência com a estrutura

dominante e o capital simbólica masculino que se estabeleceram desde nossos antepassados e

desencadearam lutas históricas por maior visibilidade e representatividade do gênero.

Nesse sentido, Simondon relata que:

[...] é preciso operar uma reviravolta na busca pelo princípio de individuação, considerando

como primordial a operação de individuação a partir da qual o indivíduo vem a existir e da

qual ele reflete, em suas características, o desenrolar, o regime e, enfim, as modalidades. O

indivíduo seria, então, apreendido como uma realidade relativa, uma certa fase do ser que

supõe antes dela uma realidade pré-individual, e que, mesmo após a individuação, não

existe sozinha, pois além de a individuação não esgotar de uma só vez os potenciais da

realidade pré-individual, aquilo que ela faz aparecer não é somente o indivíduo, mas o

acoplamento indivíduo-meio (SIMONDON, 2005, pp. 24-25).

Ademais, o processo de individuação da mulher na política se manifesta na construção

argumentativa em favor da sua real atuação na vida pública, mobilizando dimensões temporais e

modais na procura do contraponto entre o homem soberano e a mulher que se faz representar.

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Deleuze aduz que “na realidade, o indivíduo só pode ser contemporâneo de sua individuação

e, a individuação, contemporânea do princípio: o princípio deve ser verdadeiramente genético, não

simples princípio de reflexão” (Deleuze, 2014, p. 117). Percebe-se que tal encadeamento

fundamenta o gene singular na prospecção da formação e consciência do ser.

Nesse contexto, Beauvoir dignifica a individuação da mulher, esclarecendo que:

Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico

define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da

civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado, que

qualificam de feminino. Somente a mediação de outrem pode constituir um indivíduo como

um Outro (Beauvoir, 2009, p. 361, grifo do autor).

Assim, ao se projetar a individuação em nível conjuntural, infere-se que o princípio da

individuação feminina se encontra simetricamente desproporcional ao princípio de individuação

masculina, justificado pelo universal categórico masculino.

Como bem observa Beauvoir:

A própria mulher reconhece que o universo em seu conjunto é masculino; os homens

modelaram-no, dirigiram-no e ainda hoje o dominam; ela não se considera responsável; está

entendido que é inferior, dependente; não aprendeu as lições da violência, nunca emergiu,

como um sujeito, em face dos outros membros da coletividade; fechada em sua carne, em

sua casa, apreende-se como passiva em face desses deuses de figura humana que definem

fins e valores (BEAUVOIR, 2009, p. 782).

Contudo, a realidade que a mulher vislumbra na atualidade é seu devir nos contextos social,

político e econômico, e para isso, é imprescindível que a voz feminina ecoe nos âmbitos privado, e

principalmente, no público para fomentar que suas lutas sejam transformadas em leis. Fato que

atualmente está se configurando nos diversos debates em que participam, e também nas

oportunidades que lhe é concedido o poder da escrita.

Aspectos como fragilidade genética, predisposição à trabalhos domésticos e maternidade

não podem ser relacionados de forma arbitrária e necessária, resultando em impeditivos a sua real

individuação nas diversas instâncias de sua vivência, seja como ser social, político ou econômico.

Como preceitua Deleuze “o indivíduo não é somente resultado, porém meio de

individuação” (Deleuze, 2014, p. 117). Nesse entrecho, a mulher enquanto meio de sua própria

individuação, ela vem se empenhando em buscar soluções encadeadas que surtam efeitos nos seus

novos ideais e perspectivas. Inconcebível é a imagem embalsamada da mulher “bela, recatada e do

lar” 2 que a visão da política exercida por homens quer reproduzir.

2 Bela, recatada e do lar: matéria da 'Veja' é tão 1792. Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/politica/bela-recatada-e-do-lar-materia-da-

veja-e-tao-1792> Acesso em: 26 jun. 2017.

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Destarte, ao se analisar o processo de individuação das mulheres que foram vitoriosas ao

longo da história, compreende-se que estas possuíam uma determinação obstinada e por vezes

individuais para lutar em nome da visibilidade dos anseios do gênero feminino.

Apesar do longo caminho percorrido pelas mulheres até alcançar o direito de votar e ser

votada, ainda hoje, os conteúdos simbólicos e normativos, que perduram, são identificados como

repressores e desanimadores.

Circunstâncias, como a subordinação à maridos, pais, irmãos e a devoção à correligionários

políticos, resistem na simbologia da política, representando um universal natural articulador que

envolve as lutas enfrentadas pela particularidade do gênero e pela singularidade da mulher.

Nesse entrecho, Bourdieu explica que:

Tendo apenas uma existência relacional, cada um dos dois gêneros é produto do trabalho de

construção diacrítica, ao mesmo tempo teórica e prática, que é necessário à sua produção

como corpo socialmente diferenciado do gênero oposto (sob todos os pontos de vista

culturalmente pertinentes), isto é, como habitus viril, e portanto não feminino, ou feminino,

e portanto não masculino. A ação de formação, de Bildung, no sentido amplo do termo, que

opera esta construção social do corpo não assume senão muito parcialmente a forma de

uma ação pedagógica explícita e expressa. Ela é, em sua maior parte, o efeito automático, e

sem agente, de uma ordem física e social inteiramente organizada segundo o princípio de

divisão androcêntrico (o que explica a enorme força de pressão que ela exerce)

(BOURDIEU, 2012, p. 34, grifo do autor).

Atenta-se que as ações femininas não devem ser cúmplices ou mesmo, influenciadas por

esse imbróglio, sob pena de violarem o lugar do gênero no espaço político potencial. A prudência se

faz necessária, para que as mulheres se sobressaiam através de argumentação própria, vençam as

dimensões de sua passividade e a demanda negativa da soberania masculina.

Como bem observa Beauvoir:

O mundo não se apresenta à mulher como um “conjunto de utensílios” intermediário entre

sua vontade e seus fins, tal qual define Heidegger: é ao contrário uma resistência obstinada

indomável; ele é dominado pela fatalidade e cortado de caprichos misteriosos

(BEAUVOIR, 2009, p. 782).

Ademais, os estereótipos emanados a partir da relação entre gêneros feminino e masculino

estão na base da discriminação sofrida pelas mulheres e, por conseguinte estruturam as diferentes

oportunidades que se apresentam em suas vidas.

A mulher e os objetos técnicos

Os objetos técnicos emergentes da Revolução Industrial direcionaram e ilustraram o

processo de individuação do ser, influenciando o comportamento e os hábitos adotados na época. É

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neste momento que a mulher conhece o imaginário das fábricas, trabalha, se comunica com outras

mulheres, conhece a realidade do uso das máquinas e dos meios de comunicação.

Briggs e Burke observam que “o tempo (e distância) foi redefinido sob a influência,

primeiro, da ferrovia e do primeiro barco a vapor; e depois, de um conjunto de novos meios de

comunicação - telégrafo, rádio, fotografia e cinema” (Briggs e Burke, 2006, p.109).

A indústria com seus artefatos e a comunicação com suas mídias promoveram a replicação

de dados e o fluxo da informação mais rápidos. Consequentemente, a sucessão de adventos dos

objetos técnicos trabalhava em favor das mulheres, possibilitando com que fossem vislumbradas

novas metas, dificilmente pensadas em seus confinamentos aos afazeres do lar e a dedicação a

família.

Como bem explica Simondon “a máquina como elemento do conjunto técnico se torna

aquilo que aumenta a quantidade de informação, aquilo que aumenta a neguentropia, aquilo que se

opõe à degradação da energia” (Simondon, 2008, p. 15). Nessa perspectiva as máquinas do saber

foram os objetos técnicos que contribuíram para o equilíbrio e o desenvolvimento das habilidades

do ser.

Ademais, a concretização de todo maquinário industrial e comunicacional facilitou as tarefas

domésticas e otimizou o tempo de atuação mulher, propiciando sua ida para o mercado de trabalho.

A troca efetiva de informações com outras mulheres e a interação em comunidades femininas

asseguraram uma significativa movimentação contra a dominação masculina.

Simondon descreve a máquina que prospera como “obra de organização, de informação, é,

como a vida e com a vida, aquilo que se opõe à desordem, ao nivelamento de todas as coisas que

tende a privar o universo de poderes de mudança” (Simondon, 2008, p. 15). Foi esta “máquina” que

garantiu a todos maiores facilidades, contudo, proporcionou a mulher, em especial, ganhos

significativos no que tange ao acesso e ao conhecimento das informações que a tornaram apta para

galgar maior espaço em uma sociedade androcêntrica. Assim, os muitos saltos e rupturas, que

transformaram a técnica e a comunicação, permitiram a mulher sair da imanência para a

transcendência.

Nesse cenário, a mulher que busca seu lugar ao sol é a que reivindica “o direito de participar

do movimento pelo qual a humanidade tenta incessantemente justificar-se”, e que na busca da

superação, “ela só pode consentir em dar vida se a vida tem um sentido; não poderia ser mãe sem

tentar desempenhar um papel na vida econômica, política, social” (Beauvoir, 2009, p. 696).

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Ademais, a imagem imanente do passado cede a vez para um olhar transcendente, real e

concreto do mundo em novo formato. A máquina que anteriormente era mediadora entre o homem e

a matéria bruta, hoje é uma ferramenta que se torna um “prolongamento do corpo humano”,

passando “da fase baseada na energia para uma mais recente assente na informação” (Neves, 2007,

p.75).

A hibridização sociotécnica foi um dos fatores que permitiu a mulher uma nova era de

possibilidades e, por conseguinte, a luta pela liberdade de voz e comando, pela ascensão igualitária,

pela oportunidade plena e principalmente por uma representatividade política justa.

Nesse sentido que práticas do cotidiano da mulher, que conciliam a maternidade com o

trabalho, se tornaram verdadeiras bandeiras político-sociais. A exemplo disso, se tem a divulgação,

via web, da foto da deputada Manuela D'Ávila (PCdoB/RS) amamentando a pequena Laura durante

uma sessão na Assembleia da Comissão de Direitos Humanos que foi compartilhada mundo afora.3

Sua imagem foi replicada em países como Índia, Japão e Nigéria inspirando outras mulheres a fazer

parte do processo de individuação nos espaços públicos de poder, perpetuando uma política de

humanização e transformação.

Os elementos do dispositivo e a trajetória da mulher na política

A mulher em sua trajetória política realizou um verdadeiro “trabalho em terreno” (Deleuze

apud Foucault, 1990, p.155), desemaranhando as linhas dos elementos do dispositivo, traçando

mapas, empreendendo uma perfeita cartografia em terras desconhecidas.

No entendimento de Foucault, o dispositivo se apresenta como:

Um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações

arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados

científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são

os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes

elementos (FOUCAULT, 2016, p. 364).

Assim, o desenvolvimento da composição dos elementos do dispositivo ao longo dos anos,

permitiu de forma lenta, porém progressiva, a maior visibilidade da mulher na política. Observa-se

que as mulheres estavam suscetíveis aos “objetos visíveis, as enunciações formuláveis, as forças em

exercício, aos sujeitos numa determinada posição”, que “são como vetores e tensores” (Deleuze,

1990, p. 55) influenciando diretamente em suas conquistas.

3 Por que a foto de uma deputada amamentando se espalhou pelo mundo. Disponível em: <http://www.brasilpost.com.br/2016/07/27/deputada-

amamentando_n_11223570.html> Acesso em: 30 jun. 2017.

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Diante dessas circunstâncias, observa-se que a problemática sociopolítica feminina eleitoral

partidária teve importância enquanto elemento normativo do dispositivo que permitiu seu

pertencimento ao processo poder-saber.

Foram preciso três constituições no país para que a mulher pudesse votar, as duas primeiras,

no Império em 1824 e na República em 1891, negavam esse direito, porém em 1946 o direito ao

voto foi normatizado pela terceira Constituição. Assim, o direito ao sufrágio foi seguido pelo desejo

de ser votada e fazer parte do corpo político do país. O primeiro alistamento eleitoral de mulheres

aconteceu em 1928, na Cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte e em 1929, neste mesmo

Estado, se elegeu a primeira prefeita no Município de Lages, Alzira Soriano de Souza.

Porém foi a partir de 1995, em Beijing, na IV Conferência sobre Mulher, Desenvolvimento e

Paz, promovida pela ONU que as mulheres trilharam passos certeiros em direção à maior

representatividade política. Neste evento, o Brasil foi signatário do protocolo que objetivava

desenvolver e institucionalizar os princípios de igualdade da mulher e potencializar o seu papel na

sociedade. No conteúdo do protocolo estava a proposta legislativa apresentada pela deputada

federal Martha Suplicy que pleiteava a reserva de 20% das vagas para indicação partidária de

candidaturas do sexo feminino aos cargos disputados pelo sistema proporcional na eleição de 1996.

Nova normatização a posteriori proporcionou 25% na campanha de 1998 e 30% nas subsequentes,

contudo apenas como reserva, o que terminava por permitir maquiagem por parte dos partidos

quanto a real apresentação de candidaturas, passando a ser obrigatório o preenchimento dos 30%

apenas em 2009, medida normativa corretiva que sanou a interpretação equivocada. Esta legislação

eleitoral também determinou um mínimo de 5% das verbas recebidas pelo fundo partidário

destinado a programas de promoção e difusão fosse para divulgação das mulheres.

O elemento de enunciação da atualidade é a Lei 13.165/2015, que trata da Reforma Eleitoral

que tem em seus ditames uma série de alterações legislativas, entretanto algumas questionáveis,

como a que determina a aplicação de 5% dos recursos nas campanhas das mulheres, limitando o

teto em 15%; normativa que viola o princípio da igualdade, previsto no artigo 5º da Constituição e

que se contrapõe ao mínimo de 30% de candidaturas femininas. Outra norma preceituada é o

aumento do tempo mínimo reservado à promoção da participação feminina nas propagandas

partidárias em rádio e televisão que aumentou de 10% para 20% do programa e das inserções nas

próximas duas eleições e 15% nas duas subsequentes. Já Proposta de Emenda à Constituição (PEC

134/15) que normatiza o preenchimento mínimo progressivo de cada gênero nas legislaturas

subsequentes, representa uma melhor adequação do espaço do poder.

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Partidos políticos e os diversos tipos de dominação

A legislação brasileira permite criação e existência de várias agremiações políticas. De

acordo com Tribunal Superior Eleitoral são 35 partidos políticos registrados atualmente4.

A Lei dos Partidos Políticos nº 9.096, de 19 de setembro de 1995, em seu art.1º define: “O

partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do regime

democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais

definidos na Constituição Federal”.

Para os partidos políticos a baixa participação feminina não interfere, nem impede a rotina

do pleito eleitoral, desde que seja cumprida a cota mínima de 30%, refletindo a forma desigual com

que as legendas tratam as candidatas. Muitas mulheres são incluídas apenas para regularizar tal

normativa.

Como acertadamente constata Bourdieu, a preponderância dos homens dispensa

justificativa.

A força da ordem masculina se evidencia no fato de que ela dispensa justificação: a visão

androcêntrica impõe-se como neutra e não tem necessidade de se enunciar em discursos que

visem a legitimá-la. A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica que

tende a ratificar a dominação masculina sobre a qual se alicerça [...] (BOURDIEU, 2012, p.

18).

Na política, tal situação, não é diferente, demonstrando que os partidos brasileiros ainda se

encontram na contramão da democratização dos direitos das mulheres, pois são organizados,

administrados e geridos por homens.

Ademais, a cúpula do partido pertence à autonomia de escolher quem poderá se candidatar

aos cargos eletivos e com exceção dos cargos majoritários, o mandato pertence ao partido e não ao

parlamentar.

Nessa conjuntura, importante elucidar os três tipos puros de dominação legítima elucidadas

por Weber (2015, pp. 544-557) que auxiliam a compreensão do domínio exercido pelos homens na

política nacional que ainda se apresenta na atualidade.

A primeira é a dominação legal, baseada em regras racionalmente criadas que se fundamenta

na competência de seu cumprimento. A realidade jurídica que aflige a representatividade da mulher

4 Partidos políticos registrados no TSE. Disponível em: <http://www.tse.jus.br/partidos/partidos-politicos/registrados-no-tse>. Acesso em: 27 jun.

2017.

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na política se encontra em reforma, visando o ajuste das disparidades eleitorais encontradas em

nosso governo nos três âmbitos, federal, estadual e municipal.

A segunda é a dominação tradicional, que se fundamenta e se legitima no passado. A

tradição traz a figura masculina dominando os cargos exercidos nos três poderes, legislativo,

executivo e judiciário. Esta dominação ainda interfere de forma contundente sobre as mulheres

empenhadas em modificá-la, indicando que ainda existe árduo caminho a ser percorrido.

A terceira é a dominação carismática que se evidencia na hereditariedade política, passando

o poder partidário e político de pai para filha, de marido para mulher e de “padrinho político”

homem para uma mulher. Essas figuras masculinas passam a manipular suas indicações femininas.

A influência da liderança dos homens não pode ser afastada mesmo nos tempos modernos. As

mulheres que chegam a exercer algum cargo na política, na maioria dos casos devem favores,

referendam ou seguem opiniões masculinas.

Recentemente, em 2015, a Lei 13.165 criou mecanismos para incentivar mulheres no

cenário político, ao determinar que 5% dos recursos do Fundo Partidário devem ser investidos na

criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres,

além de dedicar no mínimo de 10% do tempo das inserções da propaganda partidária fixado pelo

órgão nacional de direção partidária para difundir a participação política feminina. Estas medidas

buscam equilibrar a dominação e o exercício do poder que envolvem a necessidade de legitimação

da ordem política e ao mesmo tempo sua institucionalização por meio de um quadro administrativo.

Além desta medida, outras mais estão tramitando no Congresso visando salvaguardar

direitos e regulamentar procedimentos protetivos para as mulheres. São 432 (quatrocentos e trinta e

dois) proposições de acordo com o Portal da Câmara dos Deputados até junho de 2017, conforme

demonstrado na tabela abaixo.

Tabela 1: Proposições sobre a Mulher em Tramitação

Proposições Quantidade

Medida Provisória (MPV) 3

Mensagem (MSC) 6

Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 1

Projeto de Emenda à Constituição (PEC) 13

Projeto de Resolução (PRC) 11

Projetos de Lei (PL) 380

Projetos de Lei Complementar (PLP) 12

Proposta de Fiscalização e Controle (PFC) 1

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Requerimento de Instituição de CPI (RCP) 3

Sugestão (SUG) 2

Total 432

Fonte: Câmara dos Deputados – Brasil.

Em contrapartida, ainda se encontra tramitando no congresso medida retrógada como a

Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 164/2012, do ex-deputado federal Eduardo Cunha que

estabelece a inviolabilidade do direito à vida desde a concepção, se contrapondo ao Código Penal

brasileiro que prescreve três casos em que o aborto provocado é legal. São esses: quando não há

meio de salvar a vida da mãe, quando a gravidez resulta de estupro e quando o feto é anencéfalo,

esta última autorizada pela Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, 54, Distrito

Federal.

Reflexões e Reflexos

A interação da mulher nas suas divisões clássicas, família, trabalho, sociedade e Estado, se

revela na busca frequente por uma conciliação entre direitos e deveres. Identifica-se que a relação

conflituosa entre homem e mulher é representada pela conduta simbólica androcêntrica.

Entretanto, ainda se encontram determinadas situações em que a própria mulher fomenta o

estereótipo arcaico pacificado pelos homens, como o ocorrido recentemente, em 13 de julho de

2016, na votação para presidência da Câmara dos Deputados, circunstância em que se constatou a

dialética da representatividade feminina. Essa eleição foi a primeira da história do país que duas

mulheres concorriam ao posto, pois anteriormente, em 2013, somente uma deputada tinha

concorrido ao cargo, a atual senadora Rose de Freitas (PMDB-ES). Contudo, o fato que foi

reconhecidamente uma conquista, infelizmente, também retratou questões dispares que perduram na

atualidade.

No referido pleito, mulheres foram “utilizadas” como principal chamariz para pedir votos.

Modelos contratadas ocuparam os corredores da Câmara dos Deputados com o objetivo de

distribuir santinhos com mensagens dos candidatos, a maioria usava maquiagem e tinham cabelos

lisos ou alisados, seus uniformes de campanha eram blusas com o nome do candidato e calças

justas. Tentar compreender e explicar tal situação tem seu grau de complexidade aumentado,

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quando se sabe que dentre os deputados contratantes das referidas “cabos eleitorais”, uma era

mulher, a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ).5

Assim, se pode verificar que a individuação se motiva permanentemente, perpetuando o

devir do ser que nunca se configura em um ser único e sim em um indivíduo que conserva em si

uma atividade de individuação permanente e que é resultado de seu acoplamento ao meio.

Conclui-se que a “individuação” de Simondon está imersa nos efeitos dos “elementos do

dispositivo” de Foucault, não podendo esses ser circunscritos por uma linha que os envolvem sem

que não passem outros vetores por cima ou por baixo, ocorrendo ainda a transposição da linha,

situação em que a força, em lugar de entrar em relação linear com outra força, se volta para si

mesma, exerce-se sobre si mesma ou afeta-se a si mesma (Deleuze, 1990, p.156).

Situação que também se pode constatar com a declaração polêmica da candidata a vice

Prefeitura do Rio, Cidinha Campos, em 2016, que ao fazer referência sobre a acusação de agressão

do candidato a Prefeito, Pedro Paulo a sua esposa, Alexandra Marcondes, relativizou a violência

contra a mulher, a partir dos benefícios oriundos de sua situação financeira, de seu status social e

matrimonial.6

Concepções como essa, estão na contramão do movimento feminista e dos direitos da

mulher, se voltando contra os elementos do dispositivo que visam conquistar o emponderamento, a

maior participação da mulher na política e a divulgação do conceito recentemente criado de

“sororidade” que significa a união e a aliança entre mulheres, baseado na empatia e

companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum.7

Ademais, necessária é a individuação da mulher na política consciente, transparente e

permanente, para tanto, se busca inspiração nas sugestões apresentadas no Encontro Propositivo

pela Igualdade das Mulheres na Política, pela coordenadora de Pesquisa Aplicada da Escola de

Direito de São Paulo da FGV, professora Luciana de Oliveira Ramos.

Entre suas propostas estão: ampliar a transparência no processo de recrutamento eleitoral

feito pelos partidos e coligações, por meio da maior inserção de mulheres nas lideranças partidárias;

verificar periodicamente o percentual mínimo e máximo de candidaturas de cada sexo durante todo

5 Mulheres na eleição da Câmara: de cabos eleitorais 'objeto' a candidatas sem chance. Disponível em:

<https://noticias.terra.com.br/brasil/mulheres-na-eleicao-da-camara-de-cabos-eleitorais-objeto-a-candidatas-sem-

chance,455346fbddf0146c43d668113ce3cce02bmfb9bu.html> Acesso em: 26 jun. 2017. 6 Vice de Pedro Paulo, Cidinha Campos minimiza acusações de agressão à ex-mulher. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/brasil/vice-de-

pedro-paulo-cidinha-campos-minimiza-acusacoes-de-agressao-ex-mulher-19781693#ixzz4FTWymAHI> Acesso em: 27 jun. 2017. 7 Sororidade, substantivo feminino. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/sororidade-substantivo-feminino-18959230> Acesso em: 27

jun. 2017.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

o processo eleitoral, e não apenas no período do registro de candidaturas e limitar o repasse do

Fundo Partidário para partidos/coligações que não elegeram mulheres.8

Referências

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BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 11. ed. Rio de Janeiro: Betrand Brasil, 2012.

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1997, 9.096, de 19 de setembro de 1995, e 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral, para

reduzir os custos das campanhas eleitorais, simplificar a administração dos Partidos Políticos e

incentivar a participação feminina. Poder Executivo, Brasília, DF. Disponível em:

<http://www.tse.jus.br/legislacao/codigo-eleitoral/lei-no-13-165-de-29-de-setembro-de-2015>

Acesso em: 29 jun. 2017.

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8 Direito SP debate participação feminina na política em encontro promovido pelo MPF. Disponível em: <http://fgvnoticias.fgv.br/pt-

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______. Metodologia das Ciências Sociais. 5. ed., São Paulo: Cortez Editora & Editora UNICAMP, 2015.

The individuation of women in the politics between domination, technical objects and

enunciation device

Abstract: The text intends to unveil the individuation process of women as participatory in

electoral party politics in the various instances that encompass the command role in public

representations, either as an elector, as a candidate or as elected legislator, addressing the

concretization of technical objects and the various device elements that enunciate their trajectory in

the historical-social memory. In order to elucidate the issues addressed, there were reviews in the

literature, studies on the pertinent legislation and quantitative mapping of the procedures that

address women's rights in the Chamber of Deputies. After the study, it can perceive that the

information society retains equidistant stereotypes of the object woman and the housewife woman

who represents family institution foundation and the home spirit, damaging the female will to act in

politics and the enthusiasm of the militants in fighting for Feminist causes. However, the search for

becoming and empowerment in politics women causes to challenge the male domination that

persists in the stage of powers and decisions, renewing the hopes of greater representativeness in the

country.

Keywords: Woman in politics. Feminism; Individuation; Technical objects; Enunciation device