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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, ATUÁRIA E CONTABILIDADE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E CONTROLADORIA MESTRADO ACADÊMICO EM ADMINISTRAÇÃO E CONTROLADORIA JOÃO HENRIQUE VIANA DE SOUSA A INFLUÊNCIA DA MARCA NA DECISÃO DE COMPRA DE PRODUTOS RELIGIOSOS FORTALEZA 2011

A influência da marca na decisão de compra de produtos ... · Família: uma dinâmica de ... inteligência e dinamismo, tudo isso permeado com uma extrema humildade. ... Produtos

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR

    FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO, ATURIA E

    CONTABILIDADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO E

    CONTROLADORIA

    MESTRADO ACADMICO EM ADMINISTRAO E CONTROLADORIA

    JOO HENRIQUE VIANA DE SOUSA

    A INFLUNCIA DA MARCA NA DECISO DE COMPRA DE PRODUTOS

    RELIGIOSOS

    FORTALEZA

    2011

  • JOO HENRIQUE VIANA DE SOUSA

    A INFLUNCIA DA MARCA NA DECISO DE COMPRA DE PRODUTOS

    RELIGIOSOS

    Dissertao apresentada Faculdade de Economia,

    Administrao, Aturia e Contabilidade da

    Universidade Federal do Cear, como requisito parcial

    para a obteno do grau de Mestre em Administrao

    e Controladoria.

    Orientador: Prof. Dr. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo.

    FORTALEZA

    2011

  • S697i Sousa, Joo Henrique Viana de

    A influncia da marca na deciso de compra de produtos religiosos /

    Joo Henrique Viana de Sousa . Fortaleza, 2011.

    160 f.: 30 cm.

    Dissertao (Mestrado Acadmico em Administrao e Controladoria)

    Universidade Federal do Cear, Faculdade de Economia,

    Administrao, Aturia e Contabilidade. Fortaleza (CE), 2011.

    1. Produtos religiosos. 2. Marca. 3. Comportamento do Consumidor.

    4. Deciso de compra. I. Ttulo. II. Acosta Reinaldo, Hugo Osvaldo

    (orientador).

    CDD: 658.827

  • JOO HENRIQUE VIANA DE SOUSA

    A INFLUNCIA DA MARCA NA DECISO DE COMPRA DE PRODUTOS

    RELIGIOSOS

    Esta dissertao foi submetida Coordenao do Curso de Mestrado Acadmico em

    Administrao e Controladoria, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de

    Mestre em Administrao e Controladoria, outorgado pela Universidade Federal do Cear

    UFC e encontra-se disposio dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.

    A citao de qualquer trecho desta dissertao permitida, desde que feita de acordo

    com as normas de tica cientfica.

    Data da aprovao: 14/ 04/ 2011.

    ____________________________________________

    Prof. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo, Dr.

    Professor Orientador - UFC

    ____________________________________________

    Profa. Cludia Buhamra Abreu Romero, Dra.

    Membro da Banca Examinadora - UFC

    ____________________________________________

    Prof. Antnio Wellington de Oliveira Junior, Dr.

    Membro da Banca Examinadora - UFC

  • DEDICATRIA

    A meu av, que em sua simplicidade, rene todo o

    conhecimento que compete a um ser humano.

    minha av que em sua singeleza, me faz perceber o

    belo deste mundo.

    Antnia (in memorian), por me ensinar sempre;

    mesmo na saudade.

    minha me, a motivao pela qual eu luto a ser cada

    vez melhor.

    Aos meus amigos fiis, presena constante nas vitrias

    e sonhos.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradecer a todos que ajudaram a construir um sonho no tarefa fcil. O maior risco

    que se coloca para o agradecimento seletivo no decidir quem incluir, mas decidir quem no

    mencionar.

    Se devo ser seletivo, ento melhor dar incio. Minha maior gratido e louvor so

    dirigidos Trindade Santa: Deus Pai, Deus Filho e Deus Esprito Santo, por ser a fonte eterna

    de sabedoria e providncia em meu viver. Tudo isso, com Maria; sempre; esta que alm de

    Rainha e Mestra, cuida-me com carinho maternal e amor sem fim. Santa Terezinha do

    Menino Jesus e da Sagrada Face: convosco posso viver e entender que a minha vocao de ser

    luz, ser Amor! Rogai por ns!

    Sinto-me eternamente agradecido aos meus avs; por vezes pais, Joo e Leide. Com

    vocs e da forma mais simples, pude vivenciar o que se ouve falar a respeito da Sagrada

    Famlia: uma dinmica de amor recproca, que me faz perceber a Deus nas pequenas coisas.

    Obrigado! Amo-vos!

    minha me, Penha. Na distncia e nas nossas limitaes, pude sonhar com um

    futuro em que no haver mais privaes de qualquer ordem entre ns. No entanto, percebi

    que mais importante vivermos o hoje, sem se preocupar com o amanh, para que, chegando

    neste tal futuro, estejamos mais certos de que amar uma tarefa que exige aes concretas.

    Agradeo-lhe, carinhosamente, por tudo o que s para mim. Marcelo e Thiago, meus irmos:

    crescemos, caminhamos e, por diversas vezes, nossos caminhos no foram os mesmos. E na

    insistente distncia, percebi o que temos de melhor: nossa amizade. tempo de viv-la!

    Aleide e Paula, primas-irms. Que a alegria da vitria possa animar nossas vidas de tal

    forma, que no esqueamos jamais as eternas crianas que somos! Amo-vos! s minhas tias:

    obrigado por terem me ajudado a chegar at aqui. Contem comigo!

    Minha seleo, no mbito acadmico, deve tambm comear. Todo o profissionalismo

    do Prof. Dr. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo, conferiu prestgio e valor minha dissertao

    como orientador. Incluo, de forma especial, Profa. Dr

    a. Cludia Buhamra Abreu Romero

    nesta minha lista seletiva. Desde a graduao, serviu-me como rica fonte de inspirao para o

    delineamento da vocao de ser professor. Ao Prof. Dr. Antnio Wellington de Oliveira

    Junior. Suas ricas percepes sobre religio e comunicao foram mpares, tendo ajudado na

    construo firme deste trabalho.

    No posso deixar de mencionar dois professores que me formaram como pessoa e

    profissional. Ao Prof. Dr. Augusto Czar de Aquino Cabral, coordenador do Programa de Ps

    Graduao em Administrao e Controladoria PPAC e vice-diretor da Faculdade de

    Economia, Administrao, Aturia e Contabilidade FEAAC. Desde a graduao devo-lhe

    muito pelo o que sou hoje, pois, como aluno, soube amar o que fao e de forma responsvel.

    Profa. Dr

    a. Sandra Maria dos Santos. incrvel como em uma s pessoa renem-se a

    competncia, inteligncia e dinamismo, tudo isso permeado com uma extrema humildade.

    Aos colegas do Mestrado Acadmico em Administrao e Controladoria MAAC,

    turma 2009, obrigado pelo convvio e as diferentes formas de aprendizado. Aos funcionrios

    da Secretaria do PPAC: Ezilda Castro, Cleverland Santos, Maruza Souza e Marta

    Alexandrino. Sem vocs, muito deixaria de se realizar. Obrigado. Agradeo Fundao

    Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - FUNCAP, pela bolsa

    concedida durante os anos do curso.

    No mbito da vida, devo ser sincero e no seleto. Creio firmemente que a amizade o

    amor sem asas. Sou infinitamente grato Obra Lumen de Evangelizao, pela gratido e

    alegria que me fizeram naturalmente aceitar ao chamado vocacional de ser luz,

  • transformando-me em um ser humano mais feliz e pleno em Deus. Tenho muito que aprender

    ainda, mas posso afirmar que at aqui, o meu corao e os vossos tornaram-se um s

    movimento de amor, como um fogo abrasador. No quero correr o risco de deixar de citar

    nomes. Por conta disso, fica a mensagem queles aos quais sou s gratido e que trazem

    consigo o entendimento pleno do que escrevo a seguir: Uma amizade fiel um abrigo

    seguro; quem a achou descobriu um tesouro (Eclesistico 6, 14). Eu amo vocs!

    Sendo assim, minha esperana que, compensando o tempo e esforo despendidos,

    algumas das idias proporcionadas aqui venham ajudar-me a identificar maneiras de

    engrandecer a vida dos leitores.

    Totus tuus ego sum, Maria. Et omnia mea tua sunt. Todo teu eu sou, Maria. E tudo

    o que meu, seu. (So Lus Maria Grignion de Montfort, 1673 1716).

  • Vivo j fora de mim, desde que morro de Amor;

    porque vivo no Senhor, que me escolheu para Si!

    Quando o corao Lhe dei, com terno amor Lhe gravei:

    que morro porque no morro, vivo sem viver em mim!

    Esta Divina Priso, do Amor em que eu vivo,

    fez a Deus ser meu cativo, e livre meu corao;

    E causa em mim to paixo ser eu de Deus a priso

    que morro porque no morro, vivo sem viver em mim!

    Ai que longa esta vida! Que duros estes desterros!

    Este crcere, estes ferros onde a alma metida!

    S de esperar a sada me causa dor to sentida,

    que morro porque no morro, vivo sem viver em mim!

    Vida, que posso eu dar a meu Deus que vive em mim,

    se no perder-me enfim, para melhor O gozar?

    Morrendo, O posso alcanar, pois nEle est meu socorro!

    Que morro porque no morro, vivo sem viver em mim!

    E to alta vida espero,

    que morro porque no morro, vivo sem viver em mim...

    (Santa Tereza Dvila, 1515 1582)

  • RESUMO

    A sociedade ocidental passou a ser cada vez mais orientada para o consumo, a partir da

    segunda metade do sculo XX, por conta das mudanas sociais, econmicas, polticas e

    tecnolgicas que ocorreram em grande velocidade. Neste contexto, compreender o

    comportamento do consumidor passou a ser uma necessidade vital no apenas para as

    empresas, mas para toda a organizao orientada para o mercado. Verifica-se na atualidade, a

    influncia da marca, atrelada deciso de compra do consumidor. O presente trabalho visa

    compreender os elos entre: o mercado de produtos religiosos, a influncia da marca, o

    comportamento do consumidor e a deciso de compra. O objetivo geral da dissertao

    verificar a influncia da marca na deciso de compra dos consumidores de produtos

    religiosos. Como objetivos especficos buscam-se: (a) investigar e descrever o processo de

    compra de produtos religiosos, (b) descobrir os elementos que influenciam a deciso de

    compra do consumidor de produtos religiosos e (c) identificar e descrever os aspectos

    relevantes para os consumidores de produtos religiosos na escolha de determinada marca.

    Trata-se de um estudo de natureza aplicada e de abordagem combinada (qualitativa e

    quantitativa), exploratrio e descritivo realizado por meio de reviso bibliogrfica e pesquisa

    de campo. Para alcanar o objetivo deste trabalho, a pesquisa de campo foi realizada em

    comunidades catlicas da cidade de Fortaleza, por meio da aplicao de questionrio semi-

    estruturado. A amostra foi composta de 352 entrevistados, de ambos os sexos e de diversos

    bairros de Fortaleza. Em sntese, as concluses extradas deste trabalho mostram que, a

    qualidade o elemento que, na maioria das vezes, mais influencia a deciso de compra desse

    consumidor, contudo, para algumas categorias de produtos, a marca prevalece na escolha.

    Palavras-chave: Produtos religiosos. Marca. Comportamento do Consumidor. Deciso de

    compra.

  • ABSTRACT

    The western society has become increasingly oriented to consumption, from the second half

    of the 20th

    century, because of the social, economic, political and technological changes that

    occurred at high speed. In this context, understanding consumer behavior has become a vital

    necessity not only for companies but for the entire market-oriented organization. In

    nowadays, there is the influence of the brand, linked to the consumer's purchase decision.

    This paper aims to understand the linkages between: the market of religious products, the

    influence of the brand, consumer behavior and purchasing decisions. The overall goal of this

    dissertation is to investigate the influence of the brand in purchase decision of consumers of

    religious products. The specific objectives are sought: (a) investigate and describe the buying

    process of religious products, (b) discover the factors that influence consumer purchase

    decisions of religious products, and (c) identify and describe the relevant aspects for the

    consumers of religious products in the choice of a particular brand. This is a study of applied

    nature and mixed-approach (qualitative and quantitative), exploratory and descriptive, through

    literature review and field research. To achieve the objective of this work, the field research

    was realized into catholic communities at the city of Fortaleza, through the application of

    semi-structured questionnaire. The sample was composed of 352 people of both sexes and

    from various neighborhoods of Fortaleza. In summary, the conclusions drawn from this study

    show that quality is the element that mostly influences the buying decision of consumers,

    however, for some product categories, the brand prevails in the choice.

    Key Words: Religious products. Brand. Consumer behavior. Purchase decision.

  • ix

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Igreja Catlica, comunicao e marketing .................................................... 30

    Quadro 2 Alinhamentos tericos entre religio e marketing ......................................... 33

    Quadro 3 Artigos religiosos e produtos religiosos ........................................................ 46

    Quadro 4 Produtos religiosos e a f contempornea brasileira ..................................... 49

    Quadro 5 Evoluo da marca na Era Moderna ............................................................... 52

    Quadro 6 Caractersticas das funes jurdicas das marcas .......................................... 54

    Quadro 7 As funes da marca para os consumidores ................................................... 58

    Quadro 8 Algumas definies existentes de brand equity ............................................ 62

    Quadro 9 Estudos baseados na escala de Jennifer Aaker sobre a personalidade da

    marca ............................................................................................................

    71

    Quadro 10 Comparaes das dimenses de personalidade de marca em diversos

    contextos culturais ........................................................................................

    73

    Quadro 11 Evoluo dos estudos sobre o comportamento do consumidor ................... 76

    Quadro 12 Questes de pesquisa interdisciplinar sobre o comportamento do

    consumidor ...................................................................................................

    81

    Quadro 13 Avaliao das alternativas e as hierarquias de efeitos ................................. 91

    Quadro 14 Ciclo de vida da famlia e comportamento de compra ................................. 100

  • x

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Fontes de informaes sobre os produtos religiosos ........................................ 113

    Tabela 2 Fator que mais influencia na deciso compra ................................................... 114

    Tabela 3 Frequncia de compra ....................................................................................... 114

    Tabela 4 Frequncia de compra Categoria outras ........................................................ 115

    Tabela 5 Finalidade da compra ........................................................................................ 115

    Tabela 6 Importncia da marca ....................................................................................... 118

    Tabela 7 Preferncia da marca ......................................................................................... 119

    Tabela 8 Preferncia da marca Categoria outras .......................................................... 120

    Tabela 9 Lembrana da marca ......................................................................................... 121

    Tabela 10 Lembrana da marca Categoria outras ........................................................ 122

    Tabela 11 Marca escolhida .............................................................................................. 123

    Tabela 12 Marca escolhida Categoria outras ................................................................ 125

  • xi

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 O signo para Peirce. .......................................................................................... 56

    Figura 2 Possveis interpretaes de marca ..................................................................... 60

    Figura 3 Escala de personalidade de marca Aaker, 1997 ............................................. 72

    Figura 4 Categorias de marcas que os consumidores podem recuperar da memria

    durante a busca interna .................................................................................

    90

    Figura 5 Por que as pessoas compram? ........................................................................... 92

    Figura 6 Experincia de consumo ................................................................................... 93

    Figura 7 Avaliao ps-consumo .................................................................................... 95

    Figura 8 Fatores de influncia no processo de deciso de compra .................................. 97

    Figura 9 Bairros e Secretarias Executivas Regionais 2011 .......................................... 111

  • xii

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Idade ............................................................................................................... 108

    Grfico 2 Sexo ................................................................................................................ 109

    Grfico 3 Nvel de escolaridade ...................................................................................... 109

    Grfico 4 Renda .............................................................................................................. 110

    Grfico 5 Estado civil ..................................................................................................... 110

    Grfico 6 Bairro .............................................................................................................. 111

    Grfico 7 Quem costuma comprar produtos religiosos? ................................................ 116

    Grfico 8 Comparaes entre produtos .......................................................................... 117

    Grfico 9 Compra exclusivamente em funo da marca ................................................ 123

  • xiii

    LISTA DE ILUSTRAES

    Ilustrao 1 Fluxograma genrico do processo de deciso do consumidor ..................... 106

  • xiv

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABPD Associao Brasileira de Produtores de Disco

    ACR Association for Consumer Reseach

    AMA American Marketing Association

    BEK Blackwell, Engel e Kollat

    CBBE Customer-Based Brand Equity

    CCM Contemporary Church Music

    CEBs Comunidades Eclesiais de Base

    CVF Ciclo de Vida da Famlia

    DAVI Departamento de udio-Visuais

    FEB Federao Esprita Brasileira

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IBMC Instituto Brasileiro de Marketing Catlico

    ICAR Igreja Catlica Apostlica Romana

    INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial

    IRC Igreja Renascer em Cristo

    IURD Igreja Universal do Reino de Deus

    JCR Journal of Consumer Research

    LPI Lei da Propriedade da Indstria

    MCS Meios de Comunicao Social

    MSI Marketing Science Institute

    NTLH Nova Traduo na Linguagem de Hoje

    RCC Renovao Carismtica Catlica

    TCC Teorias do Comportamento do Consumidor

    TGS Teoria Geral dos Signos

  • SUMRIO

    LISTA DE QUADROS ....................................................................................................... ix

    LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ x

    LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... xi

    LISTA DE GRFICOS ..................................................................................................... xii

    LISTA DE ILUSTRAES .............................................................................................. xiii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ....................................................................... xiv

    INTRODUO ...............................................................................................................

    18

    Precedentes e delimitao temtica ............................................................................... 18

    Definio do problema .................................................................................................. 20

    Objetivos ....................................................................................................................... 20

    Objetivo geral ........................................................................................................ 20

    Objetivos especficos ............................................................................................. 20

    Pressuposto ................................................................................................................... 20

    Justificativa ................................................................................................................... 21

    Metodologia .................................................................................................................. 23

    Estrutura do trabalho ..................................................................................................... 24

    1. PRODUTOS RELIGIOSOS .......................................................................................

    25

    1.1 Consideraes sobre religio, religiosidade e f ..................................................... 25

    1.2 A Igreja, a comunicao e o marketing na histria ................................................. 28

    1.3 Marketing Religioso ................................................................................................ 31

    1.3.1 Marketing Catlico ....................................................................................... 35

    1.4 A lgica do mercado religioso no Brasil ................................................................. 38

    1.4.1 Semelhanas entre os modelos religiosos ..................................................... 41

    1.5 Produtos religiosos .................................................................................................. 44

    2. MARCA ...........................................................................................................................

    51

    2.1 Evoluo histrica da marca ................................................................................... 51

    2.2 O conceito de marca ................................................................................................ 53

    2.3 Modelos de construo do valor da marca baseada no consumidor ....................... 60

  • 2.3.1 Definindo o valor da marca (brand equity) .................................................. 61

    2.3.2 Modelo de Aaker .......................................................................................... 62

    a) Lealdade marca ..................................................................................... 63

    b) Reconhecimento da marca ....................................................................... 64

    c) Qualidade percebida ................................................................................. 65

    d) Associaes marca ................................................................................ 66

    e) Outros ativos ............................................................................................ 66

    2.4 Personalidade da marca ........................................................................................... 66

    2.4.1 Definio de personalidade da marca ........................................................... 67

    2.4.2 Implicaes e importncia da personalidade de marca ................................. 69

    2.4.3 Mensurao da personalidade de marca ....................................................... 69

    2.5 A relao marca-consumidor .................................................................................. 73

    3. COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................................................

    75

    3.1 Contexto histrico ................................................................................................... 75

    3.2 Evoluo dos conceitos sobre comportamento do consumidor .............................. 77

    3.3 Comportamento do consumidor e a multidisciplinaridade ..................................... 78

    3.4 Modelos de comportamento do consumidor ........................................................... 82

    3.4.1 Modelo de Modelo de Howard e Sheth ........................................................ 83

    3.4.2 Modelo de Blackwell, Engel e Kollat ........................................................... 83

    3.4.3 Modelos contemporneos ............................................................................. 84

    a) Modelo de Kotler e Armstrong ................................................................ 84

    b) Modelo de Solomon ................................................................................. 85

    c) Modelo de Mowen e Minor ..................................................................... 85

    d) Modelo de Robertson et al. ...................................................................... 86

    e) Modelo de Engel, Blackwell e Miniard ................................................... 86

    3.5 Estgios do processo de deciso do consumidor de Mowen e Minor ...................... 87

    3.5.1 Reconhecimento do problema ...................................................................... 88

    3.5.2 Busca ............................................................................................................. 88

    3.5.3 Avaliao das alternativas ............................................................................ 90

    3.5.4 Escolha .......................................................................................................... 91

    3.5.5 Consumo ....................................................................................................... 92

    3.5.6 Avaliaes ps-consumo .............................................................................. 93

  • 3.5.5 Descarte ........................................................................................................ 95

    3.6 Percepo do consumidor ....................................................................................... 96

    3.7. Inconsciente cognitivo dos consumidores .............................................................. 97

    4. METODOLOGIA ........................................................................................................ 37

    99

    4.1 Classificao da pesquisa ........................................................................................ 99

    4.2 Populao e amostra ............................................................................................... 102

    4.3 Mtodo de coleta dos dados .................................................................................... 105

    5. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS .....................................

    108

    5.1 Perfil do consumidor ............................................................................................... 108

    5.2 Hbitos de compra .................................................................................................. 112

    5.3 Deciso de compra .................................................................................................. 116

    5.4 Conhecimento de marca .......................................................................................... 118

    CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................

    127

    REFERNCIAS ..............................................................................................................

    131

    APNDICES ....................................................................................................................

    155

    Apndice A Questionrio ........................................................................................... 156

    ANEXOS ..........................................................................................................................

    158

    Anexo 1 Carta de apresentao .................................................................................. 159

    Anexo 2 Cartes da entrevista ................................................................................... 160

  • 18

    INTRODUO

    Este captulo traz a introduo da dissertao, tendo sido estruturado da seguinte

    forma: inicialmente, so apresentados os precedentes do estudo e sua delimitao temtica,

    por meio da exposio das principais inferncias realizadas para viabilizar a pesquisa. Aps

    esta delimitao, os seis itens seguintes trazem na sequncia, a definio do problema de

    pesquisa, os objetivos do trabalho; estes, subdivididos em objetivo geral e objetivos

    especficos e os pressupostos. Dando continuidade, feita uma discusso sobre a justificativa

    da temtica, a metodologia utilizada e, por fim, comenta-se sobre a estrutura das demais

    partes do trabalho.

    PRECEDENTES E DELIMITAO TEMTICA

    No percurso histrico da evoluo das sociedades, percebe-se um crescimento

    exponencial na aplicao das mltiplas relaes mercadolgicas. A duradoura dicotomia da

    oferta crescente do produto e a procura intensa pelos mesmos geraram a identificao de

    escassas fontes de diferenciao no incio das relaes mercantis. Com o passar do tempo, na

    acirrada era globalizada, as organizaes esto em processo de transformao contnua e,

    supe-se, esto conscientes de que precisam mudar, acompanhando o mercado.

    Nesse contexto, um novo panorama exige das organizaes posicionamento de seus

    negcios de maneira competitiva, onde a ordem estabelece a comunicao da marca com o

    objetivo de alcanar as inmeras transformaes dos mercados. Dessa forma, cria-se uma

    releitura para a dicotomia inicial, na qual, as novas tendncias de oferta e procura de bens so

    percebidas pelo marketing, assimilando as potencialidades, necessidades e desejos do

    comportamento dos consumidores.

    No mundo moderno, diante dessas transformaes, os negcios revelam inmeros

    fatores indispensveis, percebidos pelos elevados nveis de consumo, onde o sistema

    produtivo de bens tangveis e; por assim dizer os intangveis; torna-se um acontecimento

    tpico da tradio crist, por meio da criao de novos produtos e servios para esse pblico,

    na busca de suprir as necessidades de consumo, tais como alimentao, vesturio e

    entretenimento.

  • 19

    Entender o comportamento do consumidor, bem como fatores exteriores que o

    influenciam, um tema relevante no mbito organizacional e que se estende para o meio

    acadmico. A complexidade do comportamento de compra, bem como a multiplicidade dos

    fatores inerentes a tal comportamento, dificulta a tarefa dos pesquisadores vidos por uma

    sntese que represente a realidade, havendo, portanto, a necessidade de ajuda de estruturas

    simplificadas geralmente chamadas de modelos (KARSAKLIAN, 2000).

    Associando-se esse ponto de vista comportamental com o fenmeno da globalizao, o

    mesmo tem colaborado para que o capital, a tecnologia, os produtos e as pessoas possam se

    interconectar sem fronteiras e de forma mais rpida, aumentando ainda mais a

    competitividade entre as empresas. Sobre esse aspecto, percebe-se que o mundo est ficando

    cada vez menor com o advento de meios de comunicaes, transportes e fluxos financeiros

    mais velozes (KOTLER; KELLER, 2006).

    Tal inferncia se faz necessria, para associar-se o exposto em relao marca. Por

    meio da construo de marcas fortes, possvel implantar-se estratgia de diferenciao numa

    empresa, por exemplo, dando-lhe vantagem competitiva (PRADO, 2007). Deve-se lembrar

    que as marcas, numa esfera mais simples, servem para identificar o produto e definir a sua

    qualidade, porm a marca tambm pode servir como smbolo de expresso do consumidor

    (AAKER, 1996, p. 168), gerando fidelidade e garantindo retorno econmico regular ao longo

    de um determinado perodo de tempo.

    Nesta perspectiva, busca-se tambm compreender o processo de deciso dos

    consumidores (ROBERTSON et al., 1984) de produtos religiosos. Tal tarefa favorece aos

    consumidores que podem se tornar mais atinados s organizaes e seus profissionais de

    marketing por acrescerem sua probabilidade de conhecer como devem agir em busca de

    determinada reao e aos estudiosos do tema (SCHIFFMAN; KANUK, 2000).

    Finalizando o aporte terico, apresentam-se os produtos religiosos e sua gama de

    possibilidades. Inseridos no universo do marketing religioso, tais produtos auxiliam na

    construo do abstrato relativo religio de seus consumidores.

    Vive-se hoje num mundo em que a globalizao atravessa as diferentes culturas,

    originando um crescente aumento de desafios multinveis. As pessoas que vivem em

    sociedades ditas democrticas tomam conscincia das diferentes opes religiosas que lhes

  • 20

    so oferecidas, no apenas na sua regio de provenincia, mas tambm confisses religiosas e

    espiritualidades de outras partes do globo (ABREU, 2004). Para a autora:

    As organizaes religiosas deveriam compreender que as pessoas constroem uma

    imagem destas e que comparam o que as diferentes organizaes tm para oferecer.

    neste contexto que as organizaes religiosas fazem uso das ferramentas do

    marketing, de modo a adequar a sua oferta e a desenhar a sua imagem de maneira a

    irem ao encontro dos pblicos pretendidos (ABREU, 2004, p. 1).

    Diante dessas necessidades, o presente trabalho trata de uma pesquisa desafiadora que

    visa compreender os elos entre quatro amplas esferas: o mercado de produtos religiosos, a

    deciso de compra de tais produtos, a influncia da marca e o comportamento do consumidor.

    DEFINIO DO PROBLEMA

    Nesse sentido, formula-se a seguinte pergunta de pesquisa: De que forma a marca

    influencia o comportamento de compra do consumidor de produtos religiosos?

    OBJETIVOS

    Para responder questo problema, propem-se os seguintes objetivos:

    OBJETIVO GERAL

    Verificar a influncia da marca na deciso de compra dos consumidores de produtos

    religiosos.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    De forma especfica, procurar-se-: 1) investigar e descrever o processo de compra de

    produtos religiosos, 2) descobrir os elementos que influenciam a deciso de compra do

    consumidor de produtos religiosos e 3) identificar e descrever os aspectos relevantes para os

    consumidores de produtos religiosos na escolha de determinada marca.

    PRESSUPOSTO

    Para os consumidores de produtos religiosos, a religiosidade ainda a principal

    motivao na deciso de compra, no entanto, mesmo com inmeras opes no mercado, o

  • 21

    processo de compra de produtos religiosos influenciado pela marca em alguns produtos

    especficos.

    JUSTIFICATIVA

    O comportamento do consumidor evolui ao longo do tempo, j que esses

    consumidores adaptam-se a novas condies econmicas, sociais, tecnolgicas e culturais

    (IKEDA et al., 2002).

    Da mesma forma, o consumo religioso uma dimenso do cotidiano que precisa ser

    mais bem investigada, em particular a hiptese de Pierucci (1996) sobre a formao do

    consumidor religioso:

    No penso propriamente na idia de um sujeito com direitos de reclamao sobre a

    eficcia da mensagem religiosa, nem na de um indivduo que tenha sua disposio

    inmeras possibilidades de escolha de credo, ou de vrios simultaneamente. A

    preocupao com o consumo de uma srie de produtos que atendem s vrias

    demandas da f na vida cotidiana, como discos, literatura, programao televisiva,

    educao, sade etc. Em resumo, mercadorias, atividades sociais e servios

    definidos segundo padres de consumo e estilos de vida, com circuitos particulares e

    cujo elemento estruturante a opo religiosa (PIERUCCI, 1996, p. 44).

    Para Ximenes (2008), desde o instante em que um produto ou servio ofertado ao

    mercado, a relao do consumidor com a marca da empresa e com tudo o que ela busca

    representar comea a ser constituda.

    Porm, o que uma marca? Tal assertiva simples, no entanto h uma riqueza de

    respostas baseada em diversas perspectivas. De imediato, interessante expor a diferena

    entre produto e marca, a saber:

    O produto e a marca consistiram, portanto, em elementos distintos, j que o primeiro

    seria aquilo que a empresa fabrica, e o segundo, aquilo que a empresa vende. A

    marca constituiria o principal motor de compra, assentando na percepo que os

    consumidores dela formavam, a partir das aes de marketing desenvolvidas pela

    empresa. Seriam constructos, muito alm das caractersticas fsicas do produto, pois

    fundadas em elementos intangveis, identificados como os nicos capazes de

    traduzir a verdadeira unicidade da oferta (RUO, 2000, p. 8).

    Em um sentido histrico, Schultz e Barnes (2001) afirmam que o termo marca

    originou-se da palavra norueguesa to burn, que significava queimar. Da derivou-se o uso

    mais comum, marcar gado, cavalos, ovelhas ou outros bens. O termo original foi

    desenvolvido para significar a fonte, o fabricante ou o proprietrio de um produto. medida

    que o comrcio se desenvolveu, a marca passou a significar a origem ou a fonte de um

  • 22

    produto ou a forma de diferenciar uns dos outros, os que produziam artigos semelhantes, tais

    como prateiros, fabricantes de porcelana ou cermicas, de artigos de couro e de espadas. Para

    os autores, o papel do consumidor destacado para a validade da marca:

    Mais do que propriedade, a marca traz para o mercado significado para o

    consumidor. Representa o que o consumidor e o que acredita que a marca oferece

    para ajud-lo a reforar seu lugar na sociedade. Assim, a marca mais do que um

    nome, um smbolo ou cone um vnculo que somente o consumidor capaz de

    criar (SCHULTZ; BARNES, 2001, p. 44).

    As organizaes, alm de desenvolverem esforos contnuos de marketing com a

    finalidade de posicionar a marca na mente do consumidor, proporcionam algo que ir

    sedimentar a marca influenciando o processo decisrio de compra do consumidor. Os

    elementos do processo podem ser sintetizados nas seguintes etapas: 1) reconhecimento do

    problema; 2) busca de informaes; 3) avaliao de alternativas; 4) deciso de compra; e 5)

    comportamento ps-compra (KOTLER; KELLER, 2006; BLACKWELL; MINIARD;

    ENGEL, 2005).

    Alinhando-se esta perspectiva comportamental com a influncia da marca, infere-se

    que ambas esto atreladas deciso de compra do consumidor. Esta, por sua vez,

    influenciada pelas avaliaes dos consumidores quanto aos atributos intrnsecos e extrnsecos

    de um produto e que esses os levam a formar percepes de qualidade, preo e valor das

    diferentes alternativas consideradas para compra (ZEITHMAL, 1988).

    Alm disso, para um produto ou oferta ter sucesso, dever proporcionar satisfao ao

    comprador-alvo, recebendo benefcios, mas em troca, assumindo custos como, por exemplo:

    dinheiro, tempo, esforo fsico e psicolgico (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). Caso o

    benefcio venha atender ou superar as suas expectativas o consumidor ficar satisfeito (ou

    altamente satisfeito), porm se o beneficio do produto ficar aqum, o consumidor ficar

    insatisfeito (KOTLER; KELLER, 2006).

    Neste trabalho, contudo, a investigao sobre a influncia da marca, foi elaborada em

    torno de um pblico-alvo especfico: o consumidor de produtos religiosos catlicos. Essa

    opo surgiu, de sobremaneira, por este pblico ainda no possuir um perfil delineado na

    literatura acadmica, bem como, pelo fato de que o uso de tcnicas de marketing na religio

    ser fenmeno recente (NEVES; MOTA, 2008).

    Assim sendo, este trabalho visa compreender, com base em pesquisa bibliogrfica e

    em uma pesquisa de campo, como se desenvolve a deciso de compra de consumidores de

  • 23

    produtos religiosos, objetivando identificar a influncia da marca nesses clientes.

    Considerando-se o universo de religies existentes, a Igreja Catlica Apostlica

    Romana (ICAR) foi escolhida tanto pela vivncia do pesquisador insider (HODKINSON,

    2005), praticante desta religio, quanto pela convenincia de acesso s pessoas catlicas, j

    que, conforme LAKATOS (2001), um tema a ser pesquisado deve levar em considerao as

    aptides e inclinaes do pesquisador. Sendo assim, a populao selecionada para a realizao

    da pesquisa de campo composta por participantes de comunidades catlicas de Fortaleza que

    so consumidores de produtos religiosos.

    importante perceber, por meio de um sinttico panorama da populao catlica no

    Brasil, que esses consumidores possuem uma representao significativa no somente na

    ordem religiosa, mas em especial, no aspecto mercadolgico que o foco deste trabalho.

    METODOLOGIA

    Justificado pelos estudos anteriormente citados ser detalhado a partir deste ponto a

    metodologia que orientou o presente trabalho dissertativo, no que respeita aos seguintes

    tpicos: natureza da pesquisa, os fins e os meios, universo, amostra de sujeitos da pesquisa,

    tratamento dos dados e limitaes do mtodo. Sendo assim, a metodologia adotada para a

    obteno dos objetivos deste trabalho configura-se como sendo uma pesquisa de natureza

    bsica e de abordagem combinada (qualitativa e quantitativa).

    Quanto aos seus fins, caracteriza-se a pesquisa realizada como: (a) exploratria, pois,

    em um levantamento bibliogrfico prvio em artigos, publicaes teses e dissertaes e na

    Internet, constatou-se a existncia de abordagens especficas sobre a gesto da marca, o

    comportamento do consumidor e os produtos religiosos; e (b) descritiva, pois abrangeu a

    narrao de variveis como o processo de compra de produtos religiosos, os elementos que

    influenciam a deciso de compra do consumidor de produtos religiosos e os aspectos

    relevantes para os consumidores de produtos religiosos na escolha de determinada marca.

    Quanto aos meios, a pesquisa se utilizou das seguintes ferramentas metodolgicas: (a)

    reviso bibliogrfica para identificao do referencial terico; e (b) realizao de uma

    pesquisa de campo nas comunidades catlicas Obra Lumen de Evangelizao, Cano Nova,

    Comunidade Shalom, Comunidade Recado, Comunidade Um Novo Caminho e Fundao

    Terra, na cidade de Fortaleza.

  • 24

    Para a pesquisa de campo foi coletada documentao emprica por meio da aplicao

    de questionrio semi-estruturado (perguntas abertas e fechadas). A pesquisa de campo ocorreu

    durante o ms de janeiro de 2011. O pblico-alvo participante foi composto por todos os

    fortalezenses com idade a partir de 15 anos, que professam o credo catlico, praticantes desta

    religio e sejam consumidores de produtos religiosos com finalidade de uso pessoal ou para

    presentear.

    ESTRUTURA DO TRABALHO

    O trabalho est organizado em 5 captulos. A Introduo discorre sobre os precedentes

    do estudo, sua delimitao, a definio do problema de pesquisa, os objetivos do trabalho, o

    pressuposto, a justificativa do tema, os procedimentos metodolgicos e a estrutura geral do

    trabalho.

    O captulo 1 trata dos produtos de religiosos, iniciando com consideraes sobre

    religio, religiosidade e a f, a trplice relao entre a Igreja Catlica, a comunicao e o

    marketing, definies acerca do Marketing Religioso e o Marketing Catlico, um panorama

    da lgica de mercado da religio no Brasil e os produtos religiosos em si.

    O captulo 2 disserta sobre marca e suas perspectivas de evoluo e conceitos, bem

    como os modelos de construo de valor da marca baseados no consumidor, a personalidade

    da marca, a relao marca-consumidor e a formao da imagem da marca.

    O captulo 3 discorre sobre o comportamento do consumidor, seu contexto histrico, a

    evoluo de suas definies mais relevantes e seu relacionamento com a

    multidisciplinaridade. Foram abordados os estgios do processo de deciso do consumidor, os

    principais fatores que influenciam o comportamento de compra, explicitando as caractersticas

    dos mesmos, a percepo do consumidor e o inconsciente cognitivo destes.

    O captulo 4 apresenta os procedimentos metodolgicos utilizados quanto

    classificao da pesquisa, delimitao da populao e amostra e o mtodo de coleta de dados.

    No captulo 5 traz a apresentao e discusso dos resultados da pesquisa, seguido pelas

    consideraes finais, limitaes e recomendaes para a realizao de novos estudos. O

    trabalho finalizado pelas referncias, classificando os autores e as obras que serviram de

    suporte terico e emprico ao presente trabalho de dissertao; bem como apndices e anexos

    relativos dissertao.

  • 25

    1. PRODUTOS RELIGIOSOS

    Em geral os estudos sobre a relao religio e mercado notabilizam-se pelo exame

    particular que se faz sobre o assunto. Considerando a situao de nichos de atuao, a

    sociedade de consumo contempornea e a necessidade de se estudar o marketing religioso em

    Fortaleza, demonstra-se neste captulo uma apreciao crtica que servir para identificar os

    produtos religiosos, cujo mote a livre concorrncia e no a misso e o proselitismo.

    A fundamentao terica relativa aos produtos religiosos apresenta-se dividida da

    seguinte forma: inicialmente sero tratadas as principais consideraes sobre religio,

    religiosidade e f, alm da trplice relao entre a Igreja Catlica, comunicao e marketing.

    Em seguida sero abordados o marketing religioso e o marketing catlico. Por fim,

    consideraes sobre a lgica do mercado na esfera da religio no Brasil e os produtos

    religiosos.

    1.1 CONSIDERAES SOBRE RELIGIO, RELIGIOSIDADE E F

    O assunto religio abordado de forma semelhante ou antonimamente, tendo em vista

    sua ampla possibilidade de conceituao. Geertz (2009), procura explicar a religio por meio

    da antropologia como sendo um sistema de smbolos que age sobre os homens, estabelecendo

    modos e motivaes poderosos e penetrantes sobre as pessoas. Este autor defende que:

    A religio nunca apenas metafsica. Em todos os povos as formas, os veculos e os

    objetos de culto so rodeados de uma profunda seriedade moral. Em todo lugar, o

    sagrado contm em si mesmo um sentido de obrigao intrnseca: ele no apenas

    encoraja a devoo como a exige; no apenas induz a aceitao intelectual como

    refora o compromisso emocional [...] Dessa forma, os smbolos sagrados

    relacionam uma ontologia e uma cosmologia com uma esttica e uma moralidade:

    seu poder peculiar provm de sua suposta capacidade de identificar o fato com o

    valor no seu nvel mais fundamental, de dar um sentido normativo abrangente quilo

    que, de outra forma seria apenas real (GEERTZ, 2009, p. 93).

    Sociologicamente, a religio, segundo Durkheim (2000), algo fenomenolgico e

    eminentemente social, conforme o que segue:

    As representaes religiosas so aspectos coletivos que exprimem realidades

    grupais; os ritos so maneiras de agir que nascem no seio dos grupos reunidos e que

    so destinados a suscitar, a manter ou refazer certos estados mentais desses grupos.

    Mas ento, se as categorias so de origem religiosa, elas devem participar da

    natureza comum a todos os fatos religiosos: elas tambm devem ser coisas sociais,

    produtos do pensamento coletivo (DURKHEIM, 2000, p. 16).

  • 26

    Na teologia, Buber (1999) explica que se a religio uma relao com eventos

    psquicos os quais s podem significar eventos da prpria alma, tm-se a implicao de que

    no se trata de uma relao com o Ser ou com a Realidade. Por mais plenamente que se possa

    de vez em quando descer at a alma humana, sempre se permanece transcendente a ela.

    Complementa o autor, afirmando que:

    Mais precisamente, no a relao de um Eu com um Tu. Mas esse tipo de relao

    , contudo, a maneira pela qual os religiosos inconfundveis de todas as eras

    compreenderam sua religio, ainda que ansiassem de maneira sobremodo intensa

    por deixar o seu Eu ser misticamente absorvido por esse Tu (BUBER, 1999, p. 105).

    Outro constructo necessrio de entendimento a religiosidade. Por meio da

    fenomenologia, a religiosidade definida segundo Oliveira (1999, p. 135) como um conjunto

    de disposies referentes ao sagrado antes que estas sejam socialmente elaboradas e

    socializadas.

    No entanto, para Otto (1992), a religiosidade ou a f do indivduo est ligada

    experincia social do sagrado. O termo sagrado ou sacro vem do latim: sacrum ou sacer. Tem

    como significado o sujeito, o objeto, o tempo, o lugar ou a coisa que permite experimentar o

    divino. Essa experincia vivida emocionalmente entre os sentimentos de plos opostos

    perceptveis, como por exemplo, os sentimentos flutuantes entre medo, terror e a fascinao.

    A essa percepo, o autor chamou de misterium tremendum (OTTO, 1992). Faz-se necessrio

    esclarecer tambm, que:

    O Sagrado uma categoria de interpretao e de avaliao que, como tal, s existe

    sob o domnio religioso e que traz em sua essncia, algo com um significado e

    abrangncia maior e mais amplo, transcendente e de natureza divina; o que em sua

    obra designou de numinosum (OTTO, 1992, p. 4).

    Toda ordem e, inclusive, todo poder portam sacralidade. Segundo Balandier (1995, p.

    107), a sociedade associa a ordem que lhe prpria a uma ordem que a ultrapassa,

    expandindo-se at ao cosmos no caso das sociedades tradicionais e o poder sacralizado

    porque toda a sociedade afirma a sua vontade de eternidade e receia o retorno ao caos como

    realizao da prpria morte. Embora, em algumas correntes interpretativas, o sagrado seja

    identificado com a religio, ele no se refere apenas ao campo religioso (NOLA, 1987). O

    sagrado tambm pode implicar categorias de puro e impuro (AUG, 1994; NOLA, 1987), e

    remeter ao mbito do poltico (SILVA, 2009) e do consumo.

  • 27

    Segundo Silva (2009), o sagrado domina e impe-se como um poder de ordenao que

    classifica. Para a autora:

    Conjugando-se no par puro e impuro, divide, separando aquilo que contamina,

    excluindo-o do sistema. Como um poder invisvel, o sagrado impe uma ordem,

    separando aquilo que lhe parte daquilo que deve ser excludo, segregando a

    transgresso ou o desvio. Geralmente concebidos como algo que contamina bem

    como algo que relativo ao sujo, todos os desvios e irregularidades so extrados da

    comunidade ou exorcizados mediante processos de purificao. O sagrado implica

    normatizao. O que sagrado para uma sociedade pode ser profano para outra e

    vice-versa. Isso significa que o que sagrado ou profano relativo sociedade, ao

    seu tempo e espao, a sua maneira prpria de organizao (SILVA, 2009, p. 5).

    Jung (1971) valoriza tanto o papel da religiosidade que chega a propor que os sistemas

    religiosos deveriam se ocupar de questes da psique, sendo ento sistemas

    psicoteraputicos. Para o autor:

    Religio provm do latim religare, uma acurada e conscienciosa observao daquilo

    que Rudolf Otto acertadamente chamou de numinosum, isto , uma existncia ou um

    efeito dinmico no causado por um ato arbitrrio [...] e independente de sua

    vontade (JUNG, 1971, p. 9).

    Consideradas as palavras de Otto (1992) e Jung (1971), a religiosidade ser entendida

    como uma capacidade intrnseca e extrnseca humana em transcender, significando e/ou re-

    significando a sua prpria existncia a despeito de valores dogmticos, doutrinrios,

    ritualsticos e teolgicos anteriores ou convencionais (ALMEIDA JUNIOR, 2007).

    Sendo assim e, buscando-se um posicionamento diante de tal complexo fenmeno

    humano, adotar-se- o sentido significativo de religiosidade, ao invs de religio, nesta

    dissertao. Tal escolha deriva do fato de que o termo mais adequado aos objetivos da

    presente pesquisa, pois se alinha discusso sobre as diversas apresentaes dos produtos

    religiosos e do marketing religioso.

    Por fim, a f, assim como a religio e a religiosidade, tambm um termo de mltiplos

    entendimentos. Alguns autores se preocuparam em observar e tentar descrever as situaes

    ocorrentes de f, por outras abordagens, entre os seres humanos. Um deles foi Fowler (1992),

    que sobre o prisma da religiosidade teceu consideraes sobre a f. Admite o autor que:

    A f um fenmeno na vida do ser humano e para isso, interpreta-o por um vis

    existencial. na existncia real que podemos vislumbrar o transcendente, e assim,

    construir um sentido para a vida, gerando conseqncias positivas para o contexto

    vivencial de cada um (FOWLER, 1992, p. 27).

  • 28

    A f religiosa construda sobre a base humana. Sem f humana, no haveria f

    religiosa. Ela pede um salto para o alm da esfera das relaes humanas: entra no campo do

    mistrio. A fenomenologia da religio constata como experincia existente em todas as

    culturas, exceto na cultura moderna, a realidade numinosa, a f religiosa. O termo numinoso,

    do latim numem, exprime a vontade e o poder divinos (LIBNEO, 2004, p. 24).

    Libneo (2004) afirma que a f religiosa cresce na sociedade atual por outra razo.

    Segundo o autor:

    A secularizao, que teve seu apogeu nas dcadas de 1960 e 1970, especialmente no

    meio intelectual e sob sua influncia, provocou uma reao contrria. Ao reduzir o

    papel e o poder das religies sobre a sociedade e a cultura, a secularizao produziu

    uma privatizao das formas religiosas. As pessoas escolhem as formas religiosas

    que mais respondem subjetividade, provocando verdadeiro surto religioso. a

    outra face da secularizao, que minando as instituies, engendrou uma busca

    sedenta de expresses religiosas (LIBNEO, 2004, p. 25).

    Dessa forma, conclui-se que os construtos expostos de religio, religiosidade e f

    auxiliam no entendimento de que o ser humano pode ter f em pessoas, objetos inanimados,

    ideologias, pensamentos filosficos, conjuntos de regras, crenas, dogmas de uma

    determinada religio, criando em torno de si instrumentais suficientes que concretizem suas

    abstraes.

    Alinhando este aspecto ao marketing, o mercado de produtos religiosos vem

    transformar esse desejo oriundo do abstrato em algo tangvel, por meio de diversas

    simbologias, como por exemplo, as bblias, teros, livros entre outros. Dessa maneira a

    prxima seo ater-se- a explicar a relao trade entre a Igreja Catlica, a comunicao e o

    marketing e como essa convergncia de perspectivas resultou no que atualmente se considera

    Marketing Religioso, suas principais caractersticas e ramificaes, em especial, o Marketing

    Catlico.

    1.2 A IGREJA CATLICA, A COMUNICAO E O MARKETING

    A ao de comunicao da Igreja Catlica Apostlica Romana (ICAR), instituio

    tipicamente crist, atravessa os sculos. De fato, ela to antiga quanto prpria instituio

    (MARQUES, 2001). Por assim dizer, entende-se que a funo fundamental da igreja de

    evangelizar, nada mais do que comunicar. Tal funo tem sido atualmente, a premissa de

  • 29

    todas as iniciativas da ICAR, bem como das demais igrejas crists, que envolvem o uso dos

    meios de comunicao em massa, de forma proselitista.

    Rompendo assim, o fundamento tnico do judasmo do qual nascera, o cristianismo

    torna-se uma religio de comunicao e no de segredos (MARIZ, 1998). Para a autora,

    uma religio que ao contrrio de religies onde h ordens secretas e mistrios somente

    revelados aos iniciados, onde os fiis devem ser discretos, quer pregar, se expandir e

    aparecer (MARIZ, 1998, p. 18).

    Nenhuma outra religio traduz assim esta conscincia existencial de sua

    universalidade, embora seja profundo em muitas o calado humano super-temporal de sua

    expresso religiosa e at mesmo a ampla difuso territorial de sua presena (AZEVEDO,

    1991).

    Por ser uma instituio milenar, a ICAR, por isto mesmo, reagiu com lentido diante

    das transformaes tecnolgicas que se aceleraram de forma impressionante no sculo XX

    (CAMPOS, 1997). No se pode negar que h preocupao, visvel dentro da igreja, com a

    necessidade de se buscar uma comunicao de melhor qualidade com o auditrio universal

    (PERELMAN, 1999, p. 15) representado por diferentes povos e diferentes culturas em todo o

    mundo.

    A ICAR, convicta de estar historicamente cumprindo uma misso a si atribuda e

    fundamentada nas palavras de Jesus de ide, pois e ensinai a todas as naes, v-se no dever

    de a todos evangelizar, instruir e educar. Objetivando implantar tal misso, aquela instituio

    eclesistica lanou mos, no sculo XX, de meios diversificados da cultura tecnolgica, como

    a televiso, mdias impressas e, mais recentemente a internet, enquanto veculos de

    comunicao social (MEDEIROS, 2006).

    O Decreto Inter Mirfica (2003), derivado do Conclio Vaticano II, foi dirigido aos

    meios de comunicao social e um dos tantos exemplos de empenho da igreja nessa rea.

    Tratou sobre a ampliao dos Meios de Comunicao Social (MCS), destinados formao

    religiosa, educacional, moral, tcnica e artstica do ser humano (MEDEIROS, 2006).

    Por meio da Encclica Communio et Progressio (2005) a ICAR reafirma sua posio

    sobre os MCS:

  • 30

    A Igreja considera hoje como uma das tarefas mais importantes prover a que os

    leitores ou espectadores recebam uma formao segundo os princpios cristos, o

    que tambm um servio comunicao social. O receptor bem formado ser

    capaz de participar no dilogo promovido pelos meios de comunicao e saber ser

    exigente quanto informao. As escolas e organizaes catlicas no podem

    esquecer o dever que tm neste campo, especialmente o de ensinar aos jovens, no

    s a comportarem-se como verdadeiros cristos, quando leitores, ouvintes ou

    espectadores, mas tambm a saber utilizar as possibilidades de expresso desta

    linguagem total que os meios de comunicao pem ao seu alcance. Sendo assim,

    os jovens sero verdadeiros cidados desta era das comunicaes sociais, de que ns

    conhecemos apenas o incio (COMMUNIO ET PROGRESSIO, 2005, p. 107).

    Isso possibilita a compreenso do quo importante uma formao propicia ao

    conhecimento na evangelizao da ICAR. Para Venturini (2008) o discernir e selecionar

    tornam-se palavras essenciais de um mecanismo que abre espao para uma gama de

    contedos disponveis ao povo e de valores fundamentais para quem os escuta.

    Alinhando o marketing com essa perspectiva de comunicao, percebe-se a grande

    adeso de fiis a algum tipo de crena, em especial na ICAR, criando no mundo uma grande

    modificao no que se refere aos princpios, tabus e formas de levar a palavra a seus

    seguidores.

    O fenmeno religiosidade anteriormente explicado neste captulo, passa a inovar as

    aes evangelizadoras nas igrejas, e at mesmo, percebe-se, em algumas crenas, o uso

    intenso de mdias como a televiso e a internet para atrair o pblico, associando a doutrina

    com o consumo.

    A necessidade do uso do marketing e, por assim dizer da aplicao de suas

    ferramentas pelas igrejas se explica pela concorrncia gerada pelo anseio cada vez maior do

    homem que cr e est voltado para o espiritualismo, a natureza, a energia csmica, um Deus

    indefinido e sobrenatural, do homem que deseja viver experincias espetaculares (BARNA,

    1992, p.11). Tal discurso relaciona-se com o Quadro 1, no tocante do crescente uso de

    instrumentais de comunicao para propagar as mensagens evangelizadoras tpicas dos

    cristos.

    Quadro 1 Igreja Catlica, comunicao e marketing.

    Nmeros Descrio

    35 mil visitantes

    e 182 expositores

    Movimentaram a edio 2010 da ExpoCatlica, que tem como objetivo, promover o

    mercado de livros e artigos religiosos. uma vitrine que proporciona aos seus expositores a

    divulgao de sua marca e de seus produtos com uma ampla interao com o mercado

    consumidor (EXPOCATLICA, 2010).

    40 editoras

    As seis maiores (Paulus, Paulinas, Ave Maria, Loyola, Vozes e Santurio) tm mais de 15

    mil ttulos em catlogo (PAULUS; PAULINAS; LOYOLA; VOZES; SANTURIO; AVE

    MARIA, 2010).

  • 31

    Nmeros Descrio

    13 emissoras de

    TVs

    Entre as quais o Sistema de Evangelizao Cano Nova, a Rede Vida, TV Aparecida e a

    TV Sculo 21 (OLIVEIRA; LOPES JUNIOR, 2009).

    10 gravadoras

    profissionais

    Entre as quais as Edies Paulus, Paulinas-COMEP e CODIMUC, que lanam a cada ano

    mais de 500 Cds e DVDs (SERGL; VICENTE, 2008).

    97 rdios e 3

    geradoras

    Entre as quais a Rede Catlica de Rdios RCR e a UNDA/ BR- Unio de Radiodifuso

    Catlica, evangelizando todo territrio brasileiro (GOLIN; SALVATTI, 2004).

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    dessa forma que surge o marketing religioso, usado para divulgao de um

    determinado produto, converso de membros para a igreja ou outras aplicaes, utilizando

    variados meios de comunicao, tais como, mdia falada e escrita, praas pblicas, templos

    entre outros, tendo seus representantes como um instrumento eficaz no competitivo mercado

    religioso (TRIGO; CIPOLLA, 2008).

    1.3 MARKETING RELIGIOSO

    Qualquer organizao, seja igreja ou empresa, depende do relacionamento e da

    sinergia com o ambiente externo. S se desenvolve a organizao que aperfeioa seu

    conhecimento de recursos materiais (inovao tecnolgica) ou simblicos (marketing) para a

    criao de mercadorias, servios, idias ou polticas (DRUCKER, 1998).

    Segundo Trigo e Cipolla (2008, p. 3), marketing para uma instituio religiosa

    constitui a troca de valores simblicos com o ambiente, na medida em que a organizao se

    desenvolve. No apenas a incorporao de valores folclricos, mas de adaptaes na

    essncia de prticas e doutrinas.

    O marketing religioso surge como consequncia do desenvolvimento do marketing,

    especialmente no seguimento do marketing social (ABREU, 2004). Kotler e Levy (1990)

    iniciaram o desenvolvimento da aplicao do marketing a diferentes atividades sociais e, a

    partir de dcada 1980, muitas organizaes pblicas ou privadas com carter no lucrativo,

    incluindo as organizaes religiosas, assumem a utilizao das prticas de marketing.

    O marketing religioso trata da aplicao da disciplina do marketing s organizaes

    religiosas, reconhecidas oficialmente como tal, cuja atividade principal a prtica e difuso

    de um credo, tendo como objetivo o desenvolvimento qualitativo e quantitativo dessas

    mesmas organizaes (ABREU, 2004). A autora explicita que:

  • 32

    Estas organizaes devem o seu aparecimento e consolidao s necessidades

    espirituais dos homens e o emprego do marketing religioso reveste-se de utilidade,

    uma vez que estas organizaes concentram os esforos nos seus pblicos e

    direcionam o trabalho para os objetivos e para o alcance da sua misso. O marketing

    religioso tem como objetivo o desenvolvimento qualitativo dessas mesmas

    organizaes, gerindo as relaes de troca que uma determinada organizao

    religiosa tem com todos os seus constituintes, procurando que estas organizaes

    atinjam de maneira eficaz e eficiente a sua misso. O processo de marketing

    religioso concretiza-se na anlise dos pblicos de uma organizao, no planejamento

    e concretizao de produtos religiosos para satisfazer as necessidades espirituais

    desses pblicos, permitindo assim que se alcancem os objetivos da organizao

    (ABREU, 2004, p. 4).

    No h distino essencial deste marketing religioso para as prticas, por exemplo,

    da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). As diferenas em aparncia se referem

    comparao natural entre instituies milenares, como o catolicismo e as religies africanas, e

    uma denominao pentecostal criada em 1977. Se a IURD inovou com o posicionamento

    contra a Umbanda, na arquitetura dos templos e no uso da televiso, a ICAR empregou

    estratgias de marketing semelhantes h vrios sculos (OLIVEIRA. 2003).

    A IURD e o mercado (KOTLER; ANDREASEN, 1996), mantm relaes que se

    expressam num contexto dominado por uma mentalidade calculista e pluralista, resultante de

    uma situao de mercado, que substitui a antiga situao de monoplio (BERGER, 1985).

    Segundo Campos (1999):

    A IURD possui uma refinada perspectiva de marketing, pois procura conhecer o seu

    pblico, padronizar os produtos, transformar as pessoas em participantes do

    processo de produo, segmentar a audincia, oferecendo-lhes exatamente o que

    se pensa precisar e desejar naquele momento. Isto , ela no se contenta em oferecer

    um produto genrico, que o principal benefcio esperado pelo consumidor.

    Muito pelo contrrio, ela oferece um produto ampliado, o qual desdobrado em

    outros produtos como cura, prosperidade, comunidade de apoio e outros mais

    (CAMPOS, 1999, p. 362).

    Barna (1991) visualiza o marketing e a religio, pelo vis estratgico e administrativo

    das igrejas evanglicas de diversas denominaes. O foco desse autor, no entanto, prende-se

    s preocupaes operacionais das igrejas, enquanto instituies.

    Mesmo os autores preocupados com o comportamento do consumidor, tais como

    Blackwell, Engel e Miniard (2005) referem-se ao marketing e religio pelo vis das

    mudanas no comportamento dos fiis, sob a tica das instituies e correntes de pensamento

    religiosos e no do comrcio varejista de produtos religiosos:

    Instituies religiosas judaico-crists historicamente representam um papel

    importante na moldagem dos valores das culturas ocidentais. Em anos recentes,

    estas instituies mudaram substancialmente. Alguns grupos religiosos crescem

  • 33

    necessariamente s custas de outros. Nos Estados Unidos, os catlicos cresceram

    dos pequeninos nveis em 1776 para um quarto da populao americana, em grande

    parte devido presena europia do incio dos anos 1900 e atual imigrao dos

    pases hispnicos. Os batistas substituram os anglicanos (episcopais) como grupo

    protestante dominante. Mais recentemente, grupos de crescimento rpido, como os

    Santos dos ltimos Dias (mrmons) tornaram-se uma grande influncia em muitos

    dos valores de seus membros. Religies no-crists ganharam influncia nos Estados

    Unidos, incluindo muitas das religies tradicionais orientais e o movimento Nova

    Era (BLACKWELL; ENGEL; MINIARD, 2005, p. 406).

    O Quadro 2 traz outras contribuies entre a dicotomia religio e marketing,

    demonstrando sua aplicabilidade inclusive em outras religies.

    Quadro 2 Alinhamentos tericos entre religio e marketing.

    Autores Consideraes

    Sung (2010)

    Afirmou haver uma razo pela qual o uso da lgica de marketing no est restrito s

    igrejas dos Estados Unidos, mas tambm em outros pases como Brasil. H setores das

    igrejas crists que acreditam que a soluo para os problemas pastorais e,

    especialmente, para fazer a igreja crescer (quantitativamente) est no marketing. Esta

    proposta bastante sedutora, pois muitos bispos e lideranas das igrejas esto, com

    certa razo, preocupados com o nmero de fiis. E como as teologias tradicionalmente

    utilizadas nos seminrios e nas pastorais no esto conseguindo solucionar este

    problema, marketing soa como uma inovao salvadora.

    Assim, muitas igrejas crists (inclusive a catlica) possuem ou esto criando institutos

    de marketing ou algo que parece como departamento de marketing no interior das

    igrejas.

    Refkalefsky (2005)

    Marketing para uma instituio religiosa significa a troca de valores simblicos com o

    ambiente, na medida em que a organizao se desenvolve. No se trata apenas de

    incorporar valores folclricos, mas de adaptaes na essncia de prticas e doutrinas.

    Houtart (2003) Considerou aspectos sobre o papel das religies na economia de mercado na atualidade,

    alm de oferecer ponderaes sobre o futuro das religies.

    Falco (2002)

    Abordou a dinmica comercial e religiosa. Porm, o foco e a preocupao deste autor

    foram demonstrar as relaes entre os erveiros e erveiras e os praticantes das religies

    afro-brasileiras.

    Foram duas as diretrizes adotadas neste estudo por este autor: a primeira foi o do

    mercado117 e das ervas, e nos convidou a entender a lgica das relaes pessoais entre

    os erveiros e a representao das folhas. A segunda diretriz foi a dos erveiros e erveiras

    e a experincia do sagrado, quando nos demonstrou a riqueza simblica das religies

    afrobrasileiras, com seus smbolos, os mistrios e os segredos da natureza vivenciados

    nas relaes dessas religies.

    Pereira (2001)

    Afirmou ser importante a continuidade no processo de evangelizao, por meio da

    utilizao de estratgias de marketing que possam ajudar aos agentes de pastorais ou

    promotores de aes evangelizadoras na Igreja a irem ao encontro das pessoas [...]Usar

    o marketing com inteligncia e bom senso para evangelizar , permitir que os agentes

    de evangelizao e os fiis sejam beneficiadas pelo anncio da palavra.

    Brando (1996)

    Aproximou os temas da religiosidade e do marketing, quando anotou, em seus estudo,

    observaes sobre alguns dos fatores integrantes do composto mercadolgico (produto,

    pontos de vendas e distribuio).

    Fonte: Elaborado pelo autor.

    Abordagens contemplando a religiosidade e o varejo ainda so mais raras. Autores que

    se preocupam em estudar os hbitos e as necessidades de compras do consumidor no mercado

    varejista anotam em suas crticas a importncia fundamental que os nichos mercadolgicos

  • 34

    ligados aos valores culturais e sub-culturais tm e so merecedores de ateno (ALMEIDA

    JUNIOR, 2007). Porm, no se aprofundam em detalhes mais tcnicos:

    Os fatores culturais exercem a mais ampla e profunda influncia sobre o

    comportamento do consumidor. [...] A cultura a determinante mais fundamental

    das necessidades e comportamento de uma pessoa. Enquanto as pessoas mais

    simples so largamente governadas pelo instinto, o comportamento humano

    amplamente adquirido. A criana em uma sociedade aprende um conjunto de valores

    bsicos, percepes, preferncias e comportamentos, por meio do processo de

    socializao envolvendo a famlia e outras instituies bsicas (KOTLER;

    KELLER, 2006, p. 209).

    Grupos religiosos, como os catlicos, mrmons, presbiterianos, e judaicos representam

    sub-culturas com preferncias culturais e tabus especficos (KOTLER; KELLER, 2006).

    Sobre os grupos religiosos, Vinic, Proena e Aronovich (2006) consideraram apenas o aspecto

    aflitivo pessoal, como oportunidade de negcios:

    Sabemos que as religies, para suas prticas, demandam grandes somas em

    investimentos financeiros a fim de cumprirem suas misses religiosas, com a

    montagem material de igrejas, templos, terreiros, entre outros. Aplicaes em caros

    veculos de comunicaes e de mdia tambm so facilmente constatveis. Os

    financiamentos dessas iniciativas ficam por conta dos fiis e da legislao fiscal, que

    no Brasil privilegia essas instituies ou organizaes que desempenham algum

    papel religioso, aos olhos dos poderes pblicos e da populao (VINIC; PROENA;

    ARONOVICH, 2006, p. 10).

    Uma vez que muitos novos consumidores consideram as religies tradicionais

    dogmticas demais e, em alguns casos, que no oferecem uma experincia espiritual

    autentica, h um interesse crescente em relao ao que muitos telogos consideram

    benefcio ou pseudo-f (LEWIS; BRIDGES, 2004).

    Sobre o comportamento do consumidor, no tocante s suas crenas, Mowen e Minor

    (2003), afirmam que:

    As crenas do consumidor provm da aprendizagem cognitiva. Elas representam o

    conhecimento e as concluses que um consumidor tem a respeito de objetos, seus

    atributos e benefcios. Objetos so produtos, pessoas, empresas e coisas a respeito

    das quais as pessoas apresentam opinies e atitudes. Atributos so os aspectos ou

    caractersticas dos objetos. Por fim, os benefcios so os resultados positivos que os

    objetos proporcionam ao consumidor (MOWEN; MINOR, 2003, p. 141).

    A relao entre esses dois ltimos pargrafos d-se pelo fato de que tais consumidores

    utilizam as experincias anteriores de consumo para obter benefcios nos processos cognitivos

    de compra, buscando tirar o mximo de proveito dos objetos adquiridos, gerando resultados

    positivos por meio dessa atitude.

  • 35

    Lewis e Bridges (2004) demonstram que a espiritualidade se tornou uma definio

    para tudo que as pessoas sentem estar faltando em suas vidas, no lugar do que esperam

    descobrir. De acordo com Brown (1999), essa busca espiritual :

    Um sintoma de incerteza coletiva em uma poca em que as instituies tradicionais

    como igreja, famlia e comunidade parecem estar desmoronando. Um sintoma

    tambm do crescente desencantamento com os valores do materialismo e de um

    desgaste da cincia, que desvendou todo o mistrio da existncia (BROWN, 1999, p.

    11).

    Para auxiliar numa melhor caracterizao da pesquisa, apresentar-se- o marketing

    catlico como uma ramificao do marketing religioso, alm de descrever o que a ICAR tem

    feito eficazmente por meio dos instrumentais de marketing a servio da evangelizao.

    1.3.1 MARKETING CATLICO

    Ao longo da histria, as igrejas tm muito mais a ensinar do que aprender com as

    empresas modernas. De acordo com Periscinoto e Telles (1998):

    Todos os conceitos de marketing foram criados pela Igreja. Deve ser acrescentado,

    como ressalva, o Exrcito, instituio to antiga quanto a religio. Desta maneira,

    ambos representam as duas primeiras formas de organizao social, seja com

    objetivo de dominar, pela fora, natureza e outros grupos sociais, seja para

    entender e cultuar o sagrado e estabelecer a comunho entre os homens

    (PERISCINOTO; TELES, 1998, p. 42).

    No por acaso que, a religio tem lanado mo de eficazes estratgias de marketing

    promocional para conquistar uma significativa parcela de mercado dos seus consumidores

    potenciais. Ao contrrio do que se pensa mesmo as marcas lderes no mercado, como o

    caso da ICAR, que ostentou por muitos anos o ttulo de nmero 1 aqui no Brasil, como o

    maior pas catlico do mundo, tem buscado novos consumidores, ou tem investido

    consubstancialmente em marketing para angariar a fidelidade e promover a permanncia dos

    seus fiis-clientes (PATRIOTA, 2004).

    Conforme Ito (2003), o homem atual, inserido num mundo em constante

    transformao um indivduo dinmico, competente, capaz, cercado por toda sorte de meios

    de comunicao, ao mesmo tempo, porm, mostra-se um indivduo inseguro, assustado com a

    violncia, com o desprezo pela vida, perturbado pela corrupo e pelas drogas. Segundo a

    autora:

  • 36

    A ICAR para atrair e conquistar o homem de hoje, consciente de que est

    concorrendo com outras religies, seitas, valores e ideologias, precisa adaptar-se,

    adquirindo uma nova viso e novas estratgias, no somente de dentro para fora,

    trabalhando a viso dos intelectuais luz dos dogmas seculares, mas tambm de fora

    para dentro, a partir das necessidades de seus prprios fiis e suas expectativas de

    mundo. Somente assim ela poder cumprir a sua misso evangelizadora no mundo

    atual (ITO, 2003, p. 4).

    Sendo assim, o marketing catlico nada mais do que as estratgias de como suscitar

    no povo a conscincia doutrinal e religiosa, buscando a aplicao de estratgias capazes de

    promover a evangelizao (GALVO, 2001, p. 82).

    Segundo Kater Filho (1996, p. 13), a proposta de um marketing catlico se justifica na

    prpria razo de ser do marketing: descobrir o que leva o ser humano a sentir-se motivado

    por alguma causa, por algum ideal, por algum objetivo, e a lutar por isso.

    A expresso h alguns anos atrs, soaria como blasfmia. Soaria, mas no soa mais.

    No para um bom nmero de catlicos no mundo, especialmente ligados Renovao

    Carismtica Catlica (RCC). No Brasil, a exemplo de outros pases como o Canad, j existe,

    inclusive, um instituto de marketing catlico de abrangncia nacional (MARQUES, 2001).

    A RCC se apresenta como a reao catlica frente ao avano pentecostal. Traz consigo

    a fidelidade instituio combinada com a vibrao pentecostal. Nascida por inspirao

    protestante, a RCC no nega certa identidade com os pentecostais. Foi o bispo Edir

    Macedo quem nos despertou. Ele nos acendeu, afirmou o padre Marcelo Rossi Revista

    Veja (OYAMA; LIMA, 1998). O padre Marcelo considerado uma das estrelas miditicas

    do movimento no Brasil juntamente com o padre Fbio de Melo, mais recentemente.

    Juanes (1995) deixa claro o papel da RCC quando diz que a grande contribuio da

    RCC o redescobrimento da pessoa do Esprito Santo, a nfase e a importncia que d sua

    ao entre os seus. De fato, o autor parece confirmar certa identificao dos carismticos

    com os pentecostais. Entretanto, para Marques (1995) inegvel a distino entre esses dois

    grupos religiosos sob certos aspectos estruturais:

    A RCC e a IURD [...] tm pouco a ver uma com a outra. A RCC, por exemplo, alm

    de no ser uma Igreja, no pede dinheiro a seus membros, muito menos faz

    exorcismo. O que pode haver de semelhante fica por conta da postura imatura de

    pessoas que buscam ter com Deus uma relao de comrcio, a ponto de

    instrumentaliz-lo (MARQUES, 1995, p. 4).

  • 37

    Ainda que, nas ltimas dcadas, iniciativas tenham sido tomadas no que diz respeito

    ao uso de estratgias de marketing aplicado a instituies catlicas (escolas, congregaes

    religiosas, entre outras), foi com a fundao do Instituto Brasileiro de Marketing Catlico

    (IBMC), em 1998, que um projeto nessa rea da ICAR no Brasil comeou a se consolidar e

    assumir uma amplitude maior (MARQUES, 2007).

    H de se considerar aqui que o projeto de marketing aplicado ICAR tem seu

    fundamento terico na obra de Kater Filho (1996), Conforme argumenta o prprio autor, este

    se baseia no pensamento de Kotler (2007; 2008) aplicado a instituies sem fins lucrativos,

    entre as quais, enquadram-se as Igrejas.

    Numa perspectiva mais recente, h quem diga que Jesus tenha sido o grande

    comunicador da histria das religies. Em reportagem da Revista Isto (RABELO, 2008),

    entende-se que:

    Em seus discursos, ele (Jesus) se posicionava a favor do vento para que sua voz

    ganhasse amplitude. Utilizava a simbologia da palavra pastor para mostrar a

    importncia de ser lder das ovelhas desgarradas. A ttica, mesmo que no

    intencional, funcionou. Milhes de pessoas se viram e se vem representadas em

    suas metforas, arqutipos e alegorias (RABELO, 2008, p. 64).

    Sculos mais tarde, tanto a mensagem quanto a forma de linguagem continuam sendo

    utilizadas, agora amplificadas pelos meios de comunicao de massa. Atualmente esse o

    mtodo mais eficaz de conquistar e manter fiis, conforme se v na reportagem:

    A ICAR, o grande pilar do cristianismo no mundo, se manteve distante e arredia dos

    recursos da mdia durante muito tempo, mas h alguns anos rendeu-se

    definitivamente ao seu poder. No Brasil, depois de engatinhar e perder para os

    evanglicos nesse campo, os catlicos do passos seguros em direo

    profissionalizao. [...] Tentam com esse recurso ampliar seu rebanho. (RABELO,

    2008, p. 65).

    Aps perdas considerveis para o pentecostalismo presente no Brasil, que se utiliza de

    um marketing agressivo para auferir fiis, a ICAR reagiu a este quadro negativo. Na mesma

    reportagem da Revista Isto (RABELO, 2008), infere-se que, com um discurso adaptado aos

    novos tempos, o nmero de seguidores no Brasil aumentou de 3,4% para 15% em 50 anos.

    Inversamente, os catlicos diminuram de 93% para 73% no mesmo perodo.

    Devemos copiar aquilo que deu certo na forma com que os evanglicos utilizam a grande

    mdia, reconhece Monsenhor Jonas Abib, fundador da Cano Nova, o maior plo de

    comunicao catlica no Brasil. A mudana j produz resultados. A cada ano, aumenta o

  • 38

    nmero de padres cantores, festivais profissionais de msica, livros, revistas, discos, DVDs,

    programas de rdio, tevs, alm de sites, blogs e, at mesmo, feira de produtos e servios

    semelhante aos grandes sales de negcios (RABELO, 2008, p. 65).

    Segundo Marques (2001), razovel considerar a RCC como um importante

    contributo para a revitalizao da comunidade catlica medida que resgata a paixo pelo

    cristianismo (historicamente atribuda s primitivas comunidades crists), substituindo a

    esterilidade que o catolicismo tradicional deixara como herana para as geraes mais novas.

    Para o autor:

    Esta apresenta alguns indiscutveis apelos sedutores, o que faz da RCC um dos

    principais segmentos em ascenso entre os catlicos romanos e que, como exposto

    anteriormente, tornou-se uma das pilastras da concreta reao catlica expanso

    evanglica pentecostalista. Ao parecer primar pelo uso das mesmas estratgias dos

    concorrentes pentecostais, os carismticos catlicos parecem contradizer, em parte,

    seu propsito de no difundir uma cultura massificante, permeada pela

    superficialidade que o pouco uso da capacidade crtica e o excesso de emotividade

    provocam (MARQUES, 2001, p. 8).

    Nesta seo, viu-se que a religio acompanhou na medida do possvel a evoluo das

    sociedades e culturas, oferecendo aos seus seguidores, ferramentas que pudessem atender s

    suas expectativas e necessidades relativas ao sagrado e ao bem-estar espiritual. Tal

    perspectiva alinha-se com o que os tericos mercadolgicos definem como marketing. Viu-se,

    tambm, que a trade igreja, comunicao e marketing, se bem harmonizadas, promovem a

    ramificao de um novo nicho de estudo: o marketing religioso, aplicvel s particularidades

    de diversas religies. No obstante, este originou o marketing catlico e suas estratgias de

    comunicao pioneiras, inicialmente no intuito de evangelizar e, contemporaneamente, no

    embate com as igrejas concorrentes.

    Dessa forma, faz-se necessrio, entender a lgica do mercado religioso no Brasil para

    posteriormente, tratar-se devidamente dos produtos religiosos, estes que so o fundamento

    desta pesquisa.

    1.4 A LGICA DO MERCADO RELIGIOSO NO BRASIL

    Usando os pressupostos do paradigma do mercado religioso, que tem em Berger

    (1985) Finke (1988), Stark (1992) e Iannaccone (1994), seus principais formuladores,

    percebem-se as transformaes que se realizam nos modelos de religiosidade em termos de

  • 39

    moldagem dos seus discursos e prticas religiosas, a partir de modificaes na constituio

    interna da esfera da religio no Brasil, no final do sculo XX.

    A lgica mercadolgica sob a qual a esfera da religio opera, produz, entre outras

    coisas, o aumento da importncia das necessidades e desejos das pessoas na definio dos

    modelos de prticas e discursos religiosos a serem oferecidos no mercado, ao mesmo tempo

    em que demanda das organizaes religiosas uma maior flexibilidade em termos de mudana

    de seus produtos no sentido de adequ-los da melhor maneira possvel para a satisfao da

    demanda religiosa dos indivduos (GUERRA, 2003b).

    Berger (1985) menciona na literatura a constituio de um mercado religioso, onde

    afirma que:

    A situao pluralista , acima de tudo, uma situao de mercado. Nela, as

    instituies religiosas tornam-se agncias de mercado e as tradies religiosas

    tornam-se bens de consumo. E, de qualquer forma, grande parte da atividade

    religiosa nessa situao vem a ser dominada pela lgica da economia de mercado

    (BERGER, 1985, p. 149).

    Como se v, h uma associao da situao de mercado com o pluralismo religioso,

    que, no caso brasileiro, se manifesta pela diminuio do peso da tradio catlica sobre a

    escolha religiosa dos indivduos, o que abre espao para a percepo de outras propostas de

    religiosidades, o que torna necessrio que o modelo catlico de religiosidade, antes imposto

    pela autoridade, tenha que ser colocado no mercado (GUERRA, 2003a). Para o autor:

    Alm dessa concorrncia em termos do espao interno do campo religioso, devido

    ao avano dos processos de secularizao do mundo j mencionados, as

    organizaes religiosas perderam uma posio confortvel, determinada pelos nveis

    de plausibilidade da atitude religiosa em geral, e devem enfrentar a competio livre

    com outras agncias no religiosas de produo de explicaes do mundo e das

    coisas, desta feita sem o poder de uma tradio cultural que lhe confira um

    argumento inquestionvel de autoridade (GUERRA, 2003a, p. 8).

    Outra formulao terica da abordagem da religio em termos de mercado aquela

    elaborada por um grupo de socilogos norte-americanos, liderados por Finke e Stark (1992;

    1988), que propem uma anlise mercadolgica das instituies religiosas, definindo-as como

    fornecedores de produtos para consumo religioso (1992, p. 32), atuando sob regras

    especificas de concorrncia pela preferncia dos indivduos (1988, p. 42). Esse modelo

    conhecido na sociologia norte-americana como o Paradigma do Mercado Religioso, ou o

    Novo Paradigma:

  • 40

    Ainda outra vertente de trabalhos nessa direo destaca a anlise dos processos pelos

    quais a religio se transforma numa mercadoria e a sua contra face, a sacralizao

    das mercadorias (FEATHERSTONE, 1991).

    Prandi e Pierucci (1996), analisando a individualizao da religio como uma

    conseqncia da secularizao e sua transformao em um item para consumo, consideram

    que preciso pensar o fenmeno sob a tica da lgica mercadolgica. Eles afirmam que:

    Desde que a religio perdeu para o conhecimento laico-cientfico a prerrogativa de

    explicar e justificar a vida nos seus mais variados aspectos, ela passou a interessar

    apenas em razo do seu proveito individual. Como a sociedade e a nao no

    precisam dela para nada essencial ao seu funcionamento, e a ela recorrem apenas

    festivamente, a religio foi passando