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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO, ATURIA E
CONTABILIDADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ADMINISTRAO E
CONTROLADORIA
MESTRADO ACADMICO EM ADMINISTRAO E CONTROLADORIA
JOO HENRIQUE VIANA DE SOUSA
A INFLUNCIA DA MARCA NA DECISO DE COMPRA DE PRODUTOS
RELIGIOSOS
FORTALEZA
2011
JOO HENRIQUE VIANA DE SOUSA
A INFLUNCIA DA MARCA NA DECISO DE COMPRA DE PRODUTOS
RELIGIOSOS
Dissertao apresentada Faculdade de Economia,
Administrao, Aturia e Contabilidade da
Universidade Federal do Cear, como requisito parcial
para a obteno do grau de Mestre em Administrao
e Controladoria.
Orientador: Prof. Dr. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo.
FORTALEZA
2011
S697i Sousa, Joo Henrique Viana de
A influncia da marca na deciso de compra de produtos religiosos /
Joo Henrique Viana de Sousa . Fortaleza, 2011.
160 f.: 30 cm.
Dissertao (Mestrado Acadmico em Administrao e Controladoria)
Universidade Federal do Cear, Faculdade de Economia,
Administrao, Aturia e Contabilidade. Fortaleza (CE), 2011.
1. Produtos religiosos. 2. Marca. 3. Comportamento do Consumidor.
4. Deciso de compra. I. Ttulo. II. Acosta Reinaldo, Hugo Osvaldo
(orientador).
CDD: 658.827
JOO HENRIQUE VIANA DE SOUSA
A INFLUNCIA DA MARCA NA DECISO DE COMPRA DE PRODUTOS
RELIGIOSOS
Esta dissertao foi submetida Coordenao do Curso de Mestrado Acadmico em
Administrao e Controladoria, como parte dos requisitos necessrios obteno do grau de
Mestre em Administrao e Controladoria, outorgado pela Universidade Federal do Cear
UFC e encontra-se disposio dos interessados na Biblioteca da referida Universidade.
A citao de qualquer trecho desta dissertao permitida, desde que feita de acordo
com as normas de tica cientfica.
Data da aprovao: 14/ 04/ 2011.
____________________________________________
Prof. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo, Dr.
Professor Orientador - UFC
____________________________________________
Profa. Cludia Buhamra Abreu Romero, Dra.
Membro da Banca Examinadora - UFC
____________________________________________
Prof. Antnio Wellington de Oliveira Junior, Dr.
Membro da Banca Examinadora - UFC
DEDICATRIA
A meu av, que em sua simplicidade, rene todo o
conhecimento que compete a um ser humano.
minha av que em sua singeleza, me faz perceber o
belo deste mundo.
Antnia (in memorian), por me ensinar sempre;
mesmo na saudade.
minha me, a motivao pela qual eu luto a ser cada
vez melhor.
Aos meus amigos fiis, presena constante nas vitrias
e sonhos.
AGRADECIMENTOS
Agradecer a todos que ajudaram a construir um sonho no tarefa fcil. O maior risco
que se coloca para o agradecimento seletivo no decidir quem incluir, mas decidir quem no
mencionar.
Se devo ser seletivo, ento melhor dar incio. Minha maior gratido e louvor so
dirigidos Trindade Santa: Deus Pai, Deus Filho e Deus Esprito Santo, por ser a fonte eterna
de sabedoria e providncia em meu viver. Tudo isso, com Maria; sempre; esta que alm de
Rainha e Mestra, cuida-me com carinho maternal e amor sem fim. Santa Terezinha do
Menino Jesus e da Sagrada Face: convosco posso viver e entender que a minha vocao de ser
luz, ser Amor! Rogai por ns!
Sinto-me eternamente agradecido aos meus avs; por vezes pais, Joo e Leide. Com
vocs e da forma mais simples, pude vivenciar o que se ouve falar a respeito da Sagrada
Famlia: uma dinmica de amor recproca, que me faz perceber a Deus nas pequenas coisas.
Obrigado! Amo-vos!
minha me, Penha. Na distncia e nas nossas limitaes, pude sonhar com um
futuro em que no haver mais privaes de qualquer ordem entre ns. No entanto, percebi
que mais importante vivermos o hoje, sem se preocupar com o amanh, para que, chegando
neste tal futuro, estejamos mais certos de que amar uma tarefa que exige aes concretas.
Agradeo-lhe, carinhosamente, por tudo o que s para mim. Marcelo e Thiago, meus irmos:
crescemos, caminhamos e, por diversas vezes, nossos caminhos no foram os mesmos. E na
insistente distncia, percebi o que temos de melhor: nossa amizade. tempo de viv-la!
Aleide e Paula, primas-irms. Que a alegria da vitria possa animar nossas vidas de tal
forma, que no esqueamos jamais as eternas crianas que somos! Amo-vos! s minhas tias:
obrigado por terem me ajudado a chegar at aqui. Contem comigo!
Minha seleo, no mbito acadmico, deve tambm comear. Todo o profissionalismo
do Prof. Dr. Hugo Osvaldo Acosta Reinaldo, conferiu prestgio e valor minha dissertao
como orientador. Incluo, de forma especial, Profa. Dr
a. Cludia Buhamra Abreu Romero
nesta minha lista seletiva. Desde a graduao, serviu-me como rica fonte de inspirao para o
delineamento da vocao de ser professor. Ao Prof. Dr. Antnio Wellington de Oliveira
Junior. Suas ricas percepes sobre religio e comunicao foram mpares, tendo ajudado na
construo firme deste trabalho.
No posso deixar de mencionar dois professores que me formaram como pessoa e
profissional. Ao Prof. Dr. Augusto Czar de Aquino Cabral, coordenador do Programa de Ps
Graduao em Administrao e Controladoria PPAC e vice-diretor da Faculdade de
Economia, Administrao, Aturia e Contabilidade FEAAC. Desde a graduao devo-lhe
muito pelo o que sou hoje, pois, como aluno, soube amar o que fao e de forma responsvel.
Profa. Dr
a. Sandra Maria dos Santos. incrvel como em uma s pessoa renem-se a
competncia, inteligncia e dinamismo, tudo isso permeado com uma extrema humildade.
Aos colegas do Mestrado Acadmico em Administrao e Controladoria MAAC,
turma 2009, obrigado pelo convvio e as diferentes formas de aprendizado. Aos funcionrios
da Secretaria do PPAC: Ezilda Castro, Cleverland Santos, Maruza Souza e Marta
Alexandrino. Sem vocs, muito deixaria de se realizar. Obrigado. Agradeo Fundao
Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - FUNCAP, pela bolsa
concedida durante os anos do curso.
No mbito da vida, devo ser sincero e no seleto. Creio firmemente que a amizade o
amor sem asas. Sou infinitamente grato Obra Lumen de Evangelizao, pela gratido e
alegria que me fizeram naturalmente aceitar ao chamado vocacional de ser luz,
transformando-me em um ser humano mais feliz e pleno em Deus. Tenho muito que aprender
ainda, mas posso afirmar que at aqui, o meu corao e os vossos tornaram-se um s
movimento de amor, como um fogo abrasador. No quero correr o risco de deixar de citar
nomes. Por conta disso, fica a mensagem queles aos quais sou s gratido e que trazem
consigo o entendimento pleno do que escrevo a seguir: Uma amizade fiel um abrigo
seguro; quem a achou descobriu um tesouro (Eclesistico 6, 14). Eu amo vocs!
Sendo assim, minha esperana que, compensando o tempo e esforo despendidos,
algumas das idias proporcionadas aqui venham ajudar-me a identificar maneiras de
engrandecer a vida dos leitores.
Totus tuus ego sum, Maria. Et omnia mea tua sunt. Todo teu eu sou, Maria. E tudo
o que meu, seu. (So Lus Maria Grignion de Montfort, 1673 1716).
Vivo j fora de mim, desde que morro de Amor;
porque vivo no Senhor, que me escolheu para Si!
Quando o corao Lhe dei, com terno amor Lhe gravei:
que morro porque no morro, vivo sem viver em mim!
Esta Divina Priso, do Amor em que eu vivo,
fez a Deus ser meu cativo, e livre meu corao;
E causa em mim to paixo ser eu de Deus a priso
que morro porque no morro, vivo sem viver em mim!
Ai que longa esta vida! Que duros estes desterros!
Este crcere, estes ferros onde a alma metida!
S de esperar a sada me causa dor to sentida,
que morro porque no morro, vivo sem viver em mim!
Vida, que posso eu dar a meu Deus que vive em mim,
se no perder-me enfim, para melhor O gozar?
Morrendo, O posso alcanar, pois nEle est meu socorro!
Que morro porque no morro, vivo sem viver em mim!
E to alta vida espero,
que morro porque no morro, vivo sem viver em mim...
(Santa Tereza Dvila, 1515 1582)
RESUMO
A sociedade ocidental passou a ser cada vez mais orientada para o consumo, a partir da
segunda metade do sculo XX, por conta das mudanas sociais, econmicas, polticas e
tecnolgicas que ocorreram em grande velocidade. Neste contexto, compreender o
comportamento do consumidor passou a ser uma necessidade vital no apenas para as
empresas, mas para toda a organizao orientada para o mercado. Verifica-se na atualidade, a
influncia da marca, atrelada deciso de compra do consumidor. O presente trabalho visa
compreender os elos entre: o mercado de produtos religiosos, a influncia da marca, o
comportamento do consumidor e a deciso de compra. O objetivo geral da dissertao
verificar a influncia da marca na deciso de compra dos consumidores de produtos
religiosos. Como objetivos especficos buscam-se: (a) investigar e descrever o processo de
compra de produtos religiosos, (b) descobrir os elementos que influenciam a deciso de
compra do consumidor de produtos religiosos e (c) identificar e descrever os aspectos
relevantes para os consumidores de produtos religiosos na escolha de determinada marca.
Trata-se de um estudo de natureza aplicada e de abordagem combinada (qualitativa e
quantitativa), exploratrio e descritivo realizado por meio de reviso bibliogrfica e pesquisa
de campo. Para alcanar o objetivo deste trabalho, a pesquisa de campo foi realizada em
comunidades catlicas da cidade de Fortaleza, por meio da aplicao de questionrio semi-
estruturado. A amostra foi composta de 352 entrevistados, de ambos os sexos e de diversos
bairros de Fortaleza. Em sntese, as concluses extradas deste trabalho mostram que, a
qualidade o elemento que, na maioria das vezes, mais influencia a deciso de compra desse
consumidor, contudo, para algumas categorias de produtos, a marca prevalece na escolha.
Palavras-chave: Produtos religiosos. Marca. Comportamento do Consumidor. Deciso de
compra.
ABSTRACT
The western society has become increasingly oriented to consumption, from the second half
of the 20th
century, because of the social, economic, political and technological changes that
occurred at high speed. In this context, understanding consumer behavior has become a vital
necessity not only for companies but for the entire market-oriented organization. In
nowadays, there is the influence of the brand, linked to the consumer's purchase decision.
This paper aims to understand the linkages between: the market of religious products, the
influence of the brand, consumer behavior and purchasing decisions. The overall goal of this
dissertation is to investigate the influence of the brand in purchase decision of consumers of
religious products. The specific objectives are sought: (a) investigate and describe the buying
process of religious products, (b) discover the factors that influence consumer purchase
decisions of religious products, and (c) identify and describe the relevant aspects for the
consumers of religious products in the choice of a particular brand. This is a study of applied
nature and mixed-approach (qualitative and quantitative), exploratory and descriptive, through
literature review and field research. To achieve the objective of this work, the field research
was realized into catholic communities at the city of Fortaleza, through the application of
semi-structured questionnaire. The sample was composed of 352 people of both sexes and
from various neighborhoods of Fortaleza. In summary, the conclusions drawn from this study
show that quality is the element that mostly influences the buying decision of consumers,
however, for some product categories, the brand prevails in the choice.
Key Words: Religious products. Brand. Consumer behavior. Purchase decision.
ix
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Igreja Catlica, comunicao e marketing .................................................... 30
Quadro 2 Alinhamentos tericos entre religio e marketing ......................................... 33
Quadro 3 Artigos religiosos e produtos religiosos ........................................................ 46
Quadro 4 Produtos religiosos e a f contempornea brasileira ..................................... 49
Quadro 5 Evoluo da marca na Era Moderna ............................................................... 52
Quadro 6 Caractersticas das funes jurdicas das marcas .......................................... 54
Quadro 7 As funes da marca para os consumidores ................................................... 58
Quadro 8 Algumas definies existentes de brand equity ............................................ 62
Quadro 9 Estudos baseados na escala de Jennifer Aaker sobre a personalidade da
marca ............................................................................................................
71
Quadro 10 Comparaes das dimenses de personalidade de marca em diversos
contextos culturais ........................................................................................
73
Quadro 11 Evoluo dos estudos sobre o comportamento do consumidor ................... 76
Quadro 12 Questes de pesquisa interdisciplinar sobre o comportamento do
consumidor ...................................................................................................
81
Quadro 13 Avaliao das alternativas e as hierarquias de efeitos ................................. 91
Quadro 14 Ciclo de vida da famlia e comportamento de compra ................................. 100
x
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Fontes de informaes sobre os produtos religiosos ........................................ 113
Tabela 2 Fator que mais influencia na deciso compra ................................................... 114
Tabela 3 Frequncia de compra ....................................................................................... 114
Tabela 4 Frequncia de compra Categoria outras ........................................................ 115
Tabela 5 Finalidade da compra ........................................................................................ 115
Tabela 6 Importncia da marca ....................................................................................... 118
Tabela 7 Preferncia da marca ......................................................................................... 119
Tabela 8 Preferncia da marca Categoria outras .......................................................... 120
Tabela 9 Lembrana da marca ......................................................................................... 121
Tabela 10 Lembrana da marca Categoria outras ........................................................ 122
Tabela 11 Marca escolhida .............................................................................................. 123
Tabela 12 Marca escolhida Categoria outras ................................................................ 125
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 O signo para Peirce. .......................................................................................... 56
Figura 2 Possveis interpretaes de marca ..................................................................... 60
Figura 3 Escala de personalidade de marca Aaker, 1997 ............................................. 72
Figura 4 Categorias de marcas que os consumidores podem recuperar da memria
durante a busca interna .................................................................................
90
Figura 5 Por que as pessoas compram? ........................................................................... 92
Figura 6 Experincia de consumo ................................................................................... 93
Figura 7 Avaliao ps-consumo .................................................................................... 95
Figura 8 Fatores de influncia no processo de deciso de compra .................................. 97
Figura 9 Bairros e Secretarias Executivas Regionais 2011 .......................................... 111
xii
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Idade ............................................................................................................... 108
Grfico 2 Sexo ................................................................................................................ 109
Grfico 3 Nvel de escolaridade ...................................................................................... 109
Grfico 4 Renda .............................................................................................................. 110
Grfico 5 Estado civil ..................................................................................................... 110
Grfico 6 Bairro .............................................................................................................. 111
Grfico 7 Quem costuma comprar produtos religiosos? ................................................ 116
Grfico 8 Comparaes entre produtos .......................................................................... 117
Grfico 9 Compra exclusivamente em funo da marca ................................................ 123
xiii
LISTA DE ILUSTRAES
Ilustrao 1 Fluxograma genrico do processo de deciso do consumidor ..................... 106
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABPD Associao Brasileira de Produtores de Disco
ACR Association for Consumer Reseach
AMA American Marketing Association
BEK Blackwell, Engel e Kollat
CBBE Customer-Based Brand Equity
CCM Contemporary Church Music
CEBs Comunidades Eclesiais de Base
CVF Ciclo de Vida da Famlia
DAVI Departamento de udio-Visuais
FEB Federao Esprita Brasileira
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IBMC Instituto Brasileiro de Marketing Catlico
ICAR Igreja Catlica Apostlica Romana
INPI Instituto Nacional da Propriedade Industrial
IRC Igreja Renascer em Cristo
IURD Igreja Universal do Reino de Deus
JCR Journal of Consumer Research
LPI Lei da Propriedade da Indstria
MCS Meios de Comunicao Social
MSI Marketing Science Institute
NTLH Nova Traduo na Linguagem de Hoje
RCC Renovao Carismtica Catlica
TCC Teorias do Comportamento do Consumidor
TGS Teoria Geral dos Signos
SUMRIO
LISTA DE QUADROS ....................................................................................................... ix
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ x
LISTA DE FIGURAS ......................................................................................................... xi
LISTA DE GRFICOS ..................................................................................................... xii
LISTA DE ILUSTRAES .............................................................................................. xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ....................................................................... xiv
INTRODUO ...............................................................................................................
18
Precedentes e delimitao temtica ............................................................................... 18
Definio do problema .................................................................................................. 20
Objetivos ....................................................................................................................... 20
Objetivo geral ........................................................................................................ 20
Objetivos especficos ............................................................................................. 20
Pressuposto ................................................................................................................... 20
Justificativa ................................................................................................................... 21
Metodologia .................................................................................................................. 23
Estrutura do trabalho ..................................................................................................... 24
1. PRODUTOS RELIGIOSOS .......................................................................................
25
1.1 Consideraes sobre religio, religiosidade e f ..................................................... 25
1.2 A Igreja, a comunicao e o marketing na histria ................................................. 28
1.3 Marketing Religioso ................................................................................................ 31
1.3.1 Marketing Catlico ....................................................................................... 35
1.4 A lgica do mercado religioso no Brasil ................................................................. 38
1.4.1 Semelhanas entre os modelos religiosos ..................................................... 41
1.5 Produtos religiosos .................................................................................................. 44
2. MARCA ...........................................................................................................................
51
2.1 Evoluo histrica da marca ................................................................................... 51
2.2 O conceito de marca ................................................................................................ 53
2.3 Modelos de construo do valor da marca baseada no consumidor ....................... 60
2.3.1 Definindo o valor da marca (brand equity) .................................................. 61
2.3.2 Modelo de Aaker .......................................................................................... 62
a) Lealdade marca ..................................................................................... 63
b) Reconhecimento da marca ....................................................................... 64
c) Qualidade percebida ................................................................................. 65
d) Associaes marca ................................................................................ 66
e) Outros ativos ............................................................................................ 66
2.4 Personalidade da marca ........................................................................................... 66
2.4.1 Definio de personalidade da marca ........................................................... 67
2.4.2 Implicaes e importncia da personalidade de marca ................................. 69
2.4.3 Mensurao da personalidade de marca ....................................................... 69
2.5 A relao marca-consumidor .................................................................................. 73
3. COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR ............................................................
75
3.1 Contexto histrico ................................................................................................... 75
3.2 Evoluo dos conceitos sobre comportamento do consumidor .............................. 77
3.3 Comportamento do consumidor e a multidisciplinaridade ..................................... 78
3.4 Modelos de comportamento do consumidor ........................................................... 82
3.4.1 Modelo de Modelo de Howard e Sheth ........................................................ 83
3.4.2 Modelo de Blackwell, Engel e Kollat ........................................................... 83
3.4.3 Modelos contemporneos ............................................................................. 84
a) Modelo de Kotler e Armstrong ................................................................ 84
b) Modelo de Solomon ................................................................................. 85
c) Modelo de Mowen e Minor ..................................................................... 85
d) Modelo de Robertson et al. ...................................................................... 86
e) Modelo de Engel, Blackwell e Miniard ................................................... 86
3.5 Estgios do processo de deciso do consumidor de Mowen e Minor ...................... 87
3.5.1 Reconhecimento do problema ...................................................................... 88
3.5.2 Busca ............................................................................................................. 88
3.5.3 Avaliao das alternativas ............................................................................ 90
3.5.4 Escolha .......................................................................................................... 91
3.5.5 Consumo ....................................................................................................... 92
3.5.6 Avaliaes ps-consumo .............................................................................. 93
3.5.5 Descarte ........................................................................................................ 95
3.6 Percepo do consumidor ....................................................................................... 96
3.7. Inconsciente cognitivo dos consumidores .............................................................. 97
4. METODOLOGIA ........................................................................................................ 37
99
4.1 Classificao da pesquisa ........................................................................................ 99
4.2 Populao e amostra ............................................................................................... 102
4.3 Mtodo de coleta dos dados .................................................................................... 105
5. APRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS .....................................
108
5.1 Perfil do consumidor ............................................................................................... 108
5.2 Hbitos de compra .................................................................................................. 112
5.3 Deciso de compra .................................................................................................. 116
5.4 Conhecimento de marca .......................................................................................... 118
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................
127
REFERNCIAS ..............................................................................................................
131
APNDICES ....................................................................................................................
155
Apndice A Questionrio ........................................................................................... 156
ANEXOS ..........................................................................................................................
158
Anexo 1 Carta de apresentao .................................................................................. 159
Anexo 2 Cartes da entrevista ................................................................................... 160
18
INTRODUO
Este captulo traz a introduo da dissertao, tendo sido estruturado da seguinte
forma: inicialmente, so apresentados os precedentes do estudo e sua delimitao temtica,
por meio da exposio das principais inferncias realizadas para viabilizar a pesquisa. Aps
esta delimitao, os seis itens seguintes trazem na sequncia, a definio do problema de
pesquisa, os objetivos do trabalho; estes, subdivididos em objetivo geral e objetivos
especficos e os pressupostos. Dando continuidade, feita uma discusso sobre a justificativa
da temtica, a metodologia utilizada e, por fim, comenta-se sobre a estrutura das demais
partes do trabalho.
PRECEDENTES E DELIMITAO TEMTICA
No percurso histrico da evoluo das sociedades, percebe-se um crescimento
exponencial na aplicao das mltiplas relaes mercadolgicas. A duradoura dicotomia da
oferta crescente do produto e a procura intensa pelos mesmos geraram a identificao de
escassas fontes de diferenciao no incio das relaes mercantis. Com o passar do tempo, na
acirrada era globalizada, as organizaes esto em processo de transformao contnua e,
supe-se, esto conscientes de que precisam mudar, acompanhando o mercado.
Nesse contexto, um novo panorama exige das organizaes posicionamento de seus
negcios de maneira competitiva, onde a ordem estabelece a comunicao da marca com o
objetivo de alcanar as inmeras transformaes dos mercados. Dessa forma, cria-se uma
releitura para a dicotomia inicial, na qual, as novas tendncias de oferta e procura de bens so
percebidas pelo marketing, assimilando as potencialidades, necessidades e desejos do
comportamento dos consumidores.
No mundo moderno, diante dessas transformaes, os negcios revelam inmeros
fatores indispensveis, percebidos pelos elevados nveis de consumo, onde o sistema
produtivo de bens tangveis e; por assim dizer os intangveis; torna-se um acontecimento
tpico da tradio crist, por meio da criao de novos produtos e servios para esse pblico,
na busca de suprir as necessidades de consumo, tais como alimentao, vesturio e
entretenimento.
19
Entender o comportamento do consumidor, bem como fatores exteriores que o
influenciam, um tema relevante no mbito organizacional e que se estende para o meio
acadmico. A complexidade do comportamento de compra, bem como a multiplicidade dos
fatores inerentes a tal comportamento, dificulta a tarefa dos pesquisadores vidos por uma
sntese que represente a realidade, havendo, portanto, a necessidade de ajuda de estruturas
simplificadas geralmente chamadas de modelos (KARSAKLIAN, 2000).
Associando-se esse ponto de vista comportamental com o fenmeno da globalizao, o
mesmo tem colaborado para que o capital, a tecnologia, os produtos e as pessoas possam se
interconectar sem fronteiras e de forma mais rpida, aumentando ainda mais a
competitividade entre as empresas. Sobre esse aspecto, percebe-se que o mundo est ficando
cada vez menor com o advento de meios de comunicaes, transportes e fluxos financeiros
mais velozes (KOTLER; KELLER, 2006).
Tal inferncia se faz necessria, para associar-se o exposto em relao marca. Por
meio da construo de marcas fortes, possvel implantar-se estratgia de diferenciao numa
empresa, por exemplo, dando-lhe vantagem competitiva (PRADO, 2007). Deve-se lembrar
que as marcas, numa esfera mais simples, servem para identificar o produto e definir a sua
qualidade, porm a marca tambm pode servir como smbolo de expresso do consumidor
(AAKER, 1996, p. 168), gerando fidelidade e garantindo retorno econmico regular ao longo
de um determinado perodo de tempo.
Nesta perspectiva, busca-se tambm compreender o processo de deciso dos
consumidores (ROBERTSON et al., 1984) de produtos religiosos. Tal tarefa favorece aos
consumidores que podem se tornar mais atinados s organizaes e seus profissionais de
marketing por acrescerem sua probabilidade de conhecer como devem agir em busca de
determinada reao e aos estudiosos do tema (SCHIFFMAN; KANUK, 2000).
Finalizando o aporte terico, apresentam-se os produtos religiosos e sua gama de
possibilidades. Inseridos no universo do marketing religioso, tais produtos auxiliam na
construo do abstrato relativo religio de seus consumidores.
Vive-se hoje num mundo em que a globalizao atravessa as diferentes culturas,
originando um crescente aumento de desafios multinveis. As pessoas que vivem em
sociedades ditas democrticas tomam conscincia das diferentes opes religiosas que lhes
20
so oferecidas, no apenas na sua regio de provenincia, mas tambm confisses religiosas e
espiritualidades de outras partes do globo (ABREU, 2004). Para a autora:
As organizaes religiosas deveriam compreender que as pessoas constroem uma
imagem destas e que comparam o que as diferentes organizaes tm para oferecer.
neste contexto que as organizaes religiosas fazem uso das ferramentas do
marketing, de modo a adequar a sua oferta e a desenhar a sua imagem de maneira a
irem ao encontro dos pblicos pretendidos (ABREU, 2004, p. 1).
Diante dessas necessidades, o presente trabalho trata de uma pesquisa desafiadora que
visa compreender os elos entre quatro amplas esferas: o mercado de produtos religiosos, a
deciso de compra de tais produtos, a influncia da marca e o comportamento do consumidor.
DEFINIO DO PROBLEMA
Nesse sentido, formula-se a seguinte pergunta de pesquisa: De que forma a marca
influencia o comportamento de compra do consumidor de produtos religiosos?
OBJETIVOS
Para responder questo problema, propem-se os seguintes objetivos:
OBJETIVO GERAL
Verificar a influncia da marca na deciso de compra dos consumidores de produtos
religiosos.
OBJETIVOS ESPECFICOS
De forma especfica, procurar-se-: 1) investigar e descrever o processo de compra de
produtos religiosos, 2) descobrir os elementos que influenciam a deciso de compra do
consumidor de produtos religiosos e 3) identificar e descrever os aspectos relevantes para os
consumidores de produtos religiosos na escolha de determinada marca.
PRESSUPOSTO
Para os consumidores de produtos religiosos, a religiosidade ainda a principal
motivao na deciso de compra, no entanto, mesmo com inmeras opes no mercado, o
21
processo de compra de produtos religiosos influenciado pela marca em alguns produtos
especficos.
JUSTIFICATIVA
O comportamento do consumidor evolui ao longo do tempo, j que esses
consumidores adaptam-se a novas condies econmicas, sociais, tecnolgicas e culturais
(IKEDA et al., 2002).
Da mesma forma, o consumo religioso uma dimenso do cotidiano que precisa ser
mais bem investigada, em particular a hiptese de Pierucci (1996) sobre a formao do
consumidor religioso:
No penso propriamente na idia de um sujeito com direitos de reclamao sobre a
eficcia da mensagem religiosa, nem na de um indivduo que tenha sua disposio
inmeras possibilidades de escolha de credo, ou de vrios simultaneamente. A
preocupao com o consumo de uma srie de produtos que atendem s vrias
demandas da f na vida cotidiana, como discos, literatura, programao televisiva,
educao, sade etc. Em resumo, mercadorias, atividades sociais e servios
definidos segundo padres de consumo e estilos de vida, com circuitos particulares e
cujo elemento estruturante a opo religiosa (PIERUCCI, 1996, p. 44).
Para Ximenes (2008), desde o instante em que um produto ou servio ofertado ao
mercado, a relao do consumidor com a marca da empresa e com tudo o que ela busca
representar comea a ser constituda.
Porm, o que uma marca? Tal assertiva simples, no entanto h uma riqueza de
respostas baseada em diversas perspectivas. De imediato, interessante expor a diferena
entre produto e marca, a saber:
O produto e a marca consistiram, portanto, em elementos distintos, j que o primeiro
seria aquilo que a empresa fabrica, e o segundo, aquilo que a empresa vende. A
marca constituiria o principal motor de compra, assentando na percepo que os
consumidores dela formavam, a partir das aes de marketing desenvolvidas pela
empresa. Seriam constructos, muito alm das caractersticas fsicas do produto, pois
fundadas em elementos intangveis, identificados como os nicos capazes de
traduzir a verdadeira unicidade da oferta (RUO, 2000, p. 8).
Em um sentido histrico, Schultz e Barnes (2001) afirmam que o termo marca
originou-se da palavra norueguesa to burn, que significava queimar. Da derivou-se o uso
mais comum, marcar gado, cavalos, ovelhas ou outros bens. O termo original foi
desenvolvido para significar a fonte, o fabricante ou o proprietrio de um produto. medida
que o comrcio se desenvolveu, a marca passou a significar a origem ou a fonte de um
22
produto ou a forma de diferenciar uns dos outros, os que produziam artigos semelhantes, tais
como prateiros, fabricantes de porcelana ou cermicas, de artigos de couro e de espadas. Para
os autores, o papel do consumidor destacado para a validade da marca:
Mais do que propriedade, a marca traz para o mercado significado para o
consumidor. Representa o que o consumidor e o que acredita que a marca oferece
para ajud-lo a reforar seu lugar na sociedade. Assim, a marca mais do que um
nome, um smbolo ou cone um vnculo que somente o consumidor capaz de
criar (SCHULTZ; BARNES, 2001, p. 44).
As organizaes, alm de desenvolverem esforos contnuos de marketing com a
finalidade de posicionar a marca na mente do consumidor, proporcionam algo que ir
sedimentar a marca influenciando o processo decisrio de compra do consumidor. Os
elementos do processo podem ser sintetizados nas seguintes etapas: 1) reconhecimento do
problema; 2) busca de informaes; 3) avaliao de alternativas; 4) deciso de compra; e 5)
comportamento ps-compra (KOTLER; KELLER, 2006; BLACKWELL; MINIARD;
ENGEL, 2005).
Alinhando-se esta perspectiva comportamental com a influncia da marca, infere-se
que ambas esto atreladas deciso de compra do consumidor. Esta, por sua vez,
influenciada pelas avaliaes dos consumidores quanto aos atributos intrnsecos e extrnsecos
de um produto e que esses os levam a formar percepes de qualidade, preo e valor das
diferentes alternativas consideradas para compra (ZEITHMAL, 1988).
Alm disso, para um produto ou oferta ter sucesso, dever proporcionar satisfao ao
comprador-alvo, recebendo benefcios, mas em troca, assumindo custos como, por exemplo:
dinheiro, tempo, esforo fsico e psicolgico (KOTLER; ARMSTRONG, 2007). Caso o
benefcio venha atender ou superar as suas expectativas o consumidor ficar satisfeito (ou
altamente satisfeito), porm se o beneficio do produto ficar aqum, o consumidor ficar
insatisfeito (KOTLER; KELLER, 2006).
Neste trabalho, contudo, a investigao sobre a influncia da marca, foi elaborada em
torno de um pblico-alvo especfico: o consumidor de produtos religiosos catlicos. Essa
opo surgiu, de sobremaneira, por este pblico ainda no possuir um perfil delineado na
literatura acadmica, bem como, pelo fato de que o uso de tcnicas de marketing na religio
ser fenmeno recente (NEVES; MOTA, 2008).
Assim sendo, este trabalho visa compreender, com base em pesquisa bibliogrfica e
em uma pesquisa de campo, como se desenvolve a deciso de compra de consumidores de
23
produtos religiosos, objetivando identificar a influncia da marca nesses clientes.
Considerando-se o universo de religies existentes, a Igreja Catlica Apostlica
Romana (ICAR) foi escolhida tanto pela vivncia do pesquisador insider (HODKINSON,
2005), praticante desta religio, quanto pela convenincia de acesso s pessoas catlicas, j
que, conforme LAKATOS (2001), um tema a ser pesquisado deve levar em considerao as
aptides e inclinaes do pesquisador. Sendo assim, a populao selecionada para a realizao
da pesquisa de campo composta por participantes de comunidades catlicas de Fortaleza que
so consumidores de produtos religiosos.
importante perceber, por meio de um sinttico panorama da populao catlica no
Brasil, que esses consumidores possuem uma representao significativa no somente na
ordem religiosa, mas em especial, no aspecto mercadolgico que o foco deste trabalho.
METODOLOGIA
Justificado pelos estudos anteriormente citados ser detalhado a partir deste ponto a
metodologia que orientou o presente trabalho dissertativo, no que respeita aos seguintes
tpicos: natureza da pesquisa, os fins e os meios, universo, amostra de sujeitos da pesquisa,
tratamento dos dados e limitaes do mtodo. Sendo assim, a metodologia adotada para a
obteno dos objetivos deste trabalho configura-se como sendo uma pesquisa de natureza
bsica e de abordagem combinada (qualitativa e quantitativa).
Quanto aos seus fins, caracteriza-se a pesquisa realizada como: (a) exploratria, pois,
em um levantamento bibliogrfico prvio em artigos, publicaes teses e dissertaes e na
Internet, constatou-se a existncia de abordagens especficas sobre a gesto da marca, o
comportamento do consumidor e os produtos religiosos; e (b) descritiva, pois abrangeu a
narrao de variveis como o processo de compra de produtos religiosos, os elementos que
influenciam a deciso de compra do consumidor de produtos religiosos e os aspectos
relevantes para os consumidores de produtos religiosos na escolha de determinada marca.
Quanto aos meios, a pesquisa se utilizou das seguintes ferramentas metodolgicas: (a)
reviso bibliogrfica para identificao do referencial terico; e (b) realizao de uma
pesquisa de campo nas comunidades catlicas Obra Lumen de Evangelizao, Cano Nova,
Comunidade Shalom, Comunidade Recado, Comunidade Um Novo Caminho e Fundao
Terra, na cidade de Fortaleza.
24
Para a pesquisa de campo foi coletada documentao emprica por meio da aplicao
de questionrio semi-estruturado (perguntas abertas e fechadas). A pesquisa de campo ocorreu
durante o ms de janeiro de 2011. O pblico-alvo participante foi composto por todos os
fortalezenses com idade a partir de 15 anos, que professam o credo catlico, praticantes desta
religio e sejam consumidores de produtos religiosos com finalidade de uso pessoal ou para
presentear.
ESTRUTURA DO TRABALHO
O trabalho est organizado em 5 captulos. A Introduo discorre sobre os precedentes
do estudo, sua delimitao, a definio do problema de pesquisa, os objetivos do trabalho, o
pressuposto, a justificativa do tema, os procedimentos metodolgicos e a estrutura geral do
trabalho.
O captulo 1 trata dos produtos de religiosos, iniciando com consideraes sobre
religio, religiosidade e a f, a trplice relao entre a Igreja Catlica, a comunicao e o
marketing, definies acerca do Marketing Religioso e o Marketing Catlico, um panorama
da lgica de mercado da religio no Brasil e os produtos religiosos em si.
O captulo 2 disserta sobre marca e suas perspectivas de evoluo e conceitos, bem
como os modelos de construo de valor da marca baseados no consumidor, a personalidade
da marca, a relao marca-consumidor e a formao da imagem da marca.
O captulo 3 discorre sobre o comportamento do consumidor, seu contexto histrico, a
evoluo de suas definies mais relevantes e seu relacionamento com a
multidisciplinaridade. Foram abordados os estgios do processo de deciso do consumidor, os
principais fatores que influenciam o comportamento de compra, explicitando as caractersticas
dos mesmos, a percepo do consumidor e o inconsciente cognitivo destes.
O captulo 4 apresenta os procedimentos metodolgicos utilizados quanto
classificao da pesquisa, delimitao da populao e amostra e o mtodo de coleta de dados.
No captulo 5 traz a apresentao e discusso dos resultados da pesquisa, seguido pelas
consideraes finais, limitaes e recomendaes para a realizao de novos estudos. O
trabalho finalizado pelas referncias, classificando os autores e as obras que serviram de
suporte terico e emprico ao presente trabalho de dissertao; bem como apndices e anexos
relativos dissertao.
25
1. PRODUTOS RELIGIOSOS
Em geral os estudos sobre a relao religio e mercado notabilizam-se pelo exame
particular que se faz sobre o assunto. Considerando a situao de nichos de atuao, a
sociedade de consumo contempornea e a necessidade de se estudar o marketing religioso em
Fortaleza, demonstra-se neste captulo uma apreciao crtica que servir para identificar os
produtos religiosos, cujo mote a livre concorrncia e no a misso e o proselitismo.
A fundamentao terica relativa aos produtos religiosos apresenta-se dividida da
seguinte forma: inicialmente sero tratadas as principais consideraes sobre religio,
religiosidade e f, alm da trplice relao entre a Igreja Catlica, comunicao e marketing.
Em seguida sero abordados o marketing religioso e o marketing catlico. Por fim,
consideraes sobre a lgica do mercado na esfera da religio no Brasil e os produtos
religiosos.
1.1 CONSIDERAES SOBRE RELIGIO, RELIGIOSIDADE E F
O assunto religio abordado de forma semelhante ou antonimamente, tendo em vista
sua ampla possibilidade de conceituao. Geertz (2009), procura explicar a religio por meio
da antropologia como sendo um sistema de smbolos que age sobre os homens, estabelecendo
modos e motivaes poderosos e penetrantes sobre as pessoas. Este autor defende que:
A religio nunca apenas metafsica. Em todos os povos as formas, os veculos e os
objetos de culto so rodeados de uma profunda seriedade moral. Em todo lugar, o
sagrado contm em si mesmo um sentido de obrigao intrnseca: ele no apenas
encoraja a devoo como a exige; no apenas induz a aceitao intelectual como
refora o compromisso emocional [...] Dessa forma, os smbolos sagrados
relacionam uma ontologia e uma cosmologia com uma esttica e uma moralidade:
seu poder peculiar provm de sua suposta capacidade de identificar o fato com o
valor no seu nvel mais fundamental, de dar um sentido normativo abrangente quilo
que, de outra forma seria apenas real (GEERTZ, 2009, p. 93).
Sociologicamente, a religio, segundo Durkheim (2000), algo fenomenolgico e
eminentemente social, conforme o que segue:
As representaes religiosas so aspectos coletivos que exprimem realidades
grupais; os ritos so maneiras de agir que nascem no seio dos grupos reunidos e que
so destinados a suscitar, a manter ou refazer certos estados mentais desses grupos.
Mas ento, se as categorias so de origem religiosa, elas devem participar da
natureza comum a todos os fatos religiosos: elas tambm devem ser coisas sociais,
produtos do pensamento coletivo (DURKHEIM, 2000, p. 16).
26
Na teologia, Buber (1999) explica que se a religio uma relao com eventos
psquicos os quais s podem significar eventos da prpria alma, tm-se a implicao de que
no se trata de uma relao com o Ser ou com a Realidade. Por mais plenamente que se possa
de vez em quando descer at a alma humana, sempre se permanece transcendente a ela.
Complementa o autor, afirmando que:
Mais precisamente, no a relao de um Eu com um Tu. Mas esse tipo de relao
, contudo, a maneira pela qual os religiosos inconfundveis de todas as eras
compreenderam sua religio, ainda que ansiassem de maneira sobremodo intensa
por deixar o seu Eu ser misticamente absorvido por esse Tu (BUBER, 1999, p. 105).
Outro constructo necessrio de entendimento a religiosidade. Por meio da
fenomenologia, a religiosidade definida segundo Oliveira (1999, p. 135) como um conjunto
de disposies referentes ao sagrado antes que estas sejam socialmente elaboradas e
socializadas.
No entanto, para Otto (1992), a religiosidade ou a f do indivduo est ligada
experincia social do sagrado. O termo sagrado ou sacro vem do latim: sacrum ou sacer. Tem
como significado o sujeito, o objeto, o tempo, o lugar ou a coisa que permite experimentar o
divino. Essa experincia vivida emocionalmente entre os sentimentos de plos opostos
perceptveis, como por exemplo, os sentimentos flutuantes entre medo, terror e a fascinao.
A essa percepo, o autor chamou de misterium tremendum (OTTO, 1992). Faz-se necessrio
esclarecer tambm, que:
O Sagrado uma categoria de interpretao e de avaliao que, como tal, s existe
sob o domnio religioso e que traz em sua essncia, algo com um significado e
abrangncia maior e mais amplo, transcendente e de natureza divina; o que em sua
obra designou de numinosum (OTTO, 1992, p. 4).
Toda ordem e, inclusive, todo poder portam sacralidade. Segundo Balandier (1995, p.
107), a sociedade associa a ordem que lhe prpria a uma ordem que a ultrapassa,
expandindo-se at ao cosmos no caso das sociedades tradicionais e o poder sacralizado
porque toda a sociedade afirma a sua vontade de eternidade e receia o retorno ao caos como
realizao da prpria morte. Embora, em algumas correntes interpretativas, o sagrado seja
identificado com a religio, ele no se refere apenas ao campo religioso (NOLA, 1987). O
sagrado tambm pode implicar categorias de puro e impuro (AUG, 1994; NOLA, 1987), e
remeter ao mbito do poltico (SILVA, 2009) e do consumo.
27
Segundo Silva (2009), o sagrado domina e impe-se como um poder de ordenao que
classifica. Para a autora:
Conjugando-se no par puro e impuro, divide, separando aquilo que contamina,
excluindo-o do sistema. Como um poder invisvel, o sagrado impe uma ordem,
separando aquilo que lhe parte daquilo que deve ser excludo, segregando a
transgresso ou o desvio. Geralmente concebidos como algo que contamina bem
como algo que relativo ao sujo, todos os desvios e irregularidades so extrados da
comunidade ou exorcizados mediante processos de purificao. O sagrado implica
normatizao. O que sagrado para uma sociedade pode ser profano para outra e
vice-versa. Isso significa que o que sagrado ou profano relativo sociedade, ao
seu tempo e espao, a sua maneira prpria de organizao (SILVA, 2009, p. 5).
Jung (1971) valoriza tanto o papel da religiosidade que chega a propor que os sistemas
religiosos deveriam se ocupar de questes da psique, sendo ento sistemas
psicoteraputicos. Para o autor:
Religio provm do latim religare, uma acurada e conscienciosa observao daquilo
que Rudolf Otto acertadamente chamou de numinosum, isto , uma existncia ou um
efeito dinmico no causado por um ato arbitrrio [...] e independente de sua
vontade (JUNG, 1971, p. 9).
Consideradas as palavras de Otto (1992) e Jung (1971), a religiosidade ser entendida
como uma capacidade intrnseca e extrnseca humana em transcender, significando e/ou re-
significando a sua prpria existncia a despeito de valores dogmticos, doutrinrios,
ritualsticos e teolgicos anteriores ou convencionais (ALMEIDA JUNIOR, 2007).
Sendo assim e, buscando-se um posicionamento diante de tal complexo fenmeno
humano, adotar-se- o sentido significativo de religiosidade, ao invs de religio, nesta
dissertao. Tal escolha deriva do fato de que o termo mais adequado aos objetivos da
presente pesquisa, pois se alinha discusso sobre as diversas apresentaes dos produtos
religiosos e do marketing religioso.
Por fim, a f, assim como a religio e a religiosidade, tambm um termo de mltiplos
entendimentos. Alguns autores se preocuparam em observar e tentar descrever as situaes
ocorrentes de f, por outras abordagens, entre os seres humanos. Um deles foi Fowler (1992),
que sobre o prisma da religiosidade teceu consideraes sobre a f. Admite o autor que:
A f um fenmeno na vida do ser humano e para isso, interpreta-o por um vis
existencial. na existncia real que podemos vislumbrar o transcendente, e assim,
construir um sentido para a vida, gerando conseqncias positivas para o contexto
vivencial de cada um (FOWLER, 1992, p. 27).
28
A f religiosa construda sobre a base humana. Sem f humana, no haveria f
religiosa. Ela pede um salto para o alm da esfera das relaes humanas: entra no campo do
mistrio. A fenomenologia da religio constata como experincia existente em todas as
culturas, exceto na cultura moderna, a realidade numinosa, a f religiosa. O termo numinoso,
do latim numem, exprime a vontade e o poder divinos (LIBNEO, 2004, p. 24).
Libneo (2004) afirma que a f religiosa cresce na sociedade atual por outra razo.
Segundo o autor:
A secularizao, que teve seu apogeu nas dcadas de 1960 e 1970, especialmente no
meio intelectual e sob sua influncia, provocou uma reao contrria. Ao reduzir o
papel e o poder das religies sobre a sociedade e a cultura, a secularizao produziu
uma privatizao das formas religiosas. As pessoas escolhem as formas religiosas
que mais respondem subjetividade, provocando verdadeiro surto religioso. a
outra face da secularizao, que minando as instituies, engendrou uma busca
sedenta de expresses religiosas (LIBNEO, 2004, p. 25).
Dessa forma, conclui-se que os construtos expostos de religio, religiosidade e f
auxiliam no entendimento de que o ser humano pode ter f em pessoas, objetos inanimados,
ideologias, pensamentos filosficos, conjuntos de regras, crenas, dogmas de uma
determinada religio, criando em torno de si instrumentais suficientes que concretizem suas
abstraes.
Alinhando este aspecto ao marketing, o mercado de produtos religiosos vem
transformar esse desejo oriundo do abstrato em algo tangvel, por meio de diversas
simbologias, como por exemplo, as bblias, teros, livros entre outros. Dessa maneira a
prxima seo ater-se- a explicar a relao trade entre a Igreja Catlica, a comunicao e o
marketing e como essa convergncia de perspectivas resultou no que atualmente se considera
Marketing Religioso, suas principais caractersticas e ramificaes, em especial, o Marketing
Catlico.
1.2 A IGREJA CATLICA, A COMUNICAO E O MARKETING
A ao de comunicao da Igreja Catlica Apostlica Romana (ICAR), instituio
tipicamente crist, atravessa os sculos. De fato, ela to antiga quanto prpria instituio
(MARQUES, 2001). Por assim dizer, entende-se que a funo fundamental da igreja de
evangelizar, nada mais do que comunicar. Tal funo tem sido atualmente, a premissa de
29
todas as iniciativas da ICAR, bem como das demais igrejas crists, que envolvem o uso dos
meios de comunicao em massa, de forma proselitista.
Rompendo assim, o fundamento tnico do judasmo do qual nascera, o cristianismo
torna-se uma religio de comunicao e no de segredos (MARIZ, 1998). Para a autora,
uma religio que ao contrrio de religies onde h ordens secretas e mistrios somente
revelados aos iniciados, onde os fiis devem ser discretos, quer pregar, se expandir e
aparecer (MARIZ, 1998, p. 18).
Nenhuma outra religio traduz assim esta conscincia existencial de sua
universalidade, embora seja profundo em muitas o calado humano super-temporal de sua
expresso religiosa e at mesmo a ampla difuso territorial de sua presena (AZEVEDO,
1991).
Por ser uma instituio milenar, a ICAR, por isto mesmo, reagiu com lentido diante
das transformaes tecnolgicas que se aceleraram de forma impressionante no sculo XX
(CAMPOS, 1997). No se pode negar que h preocupao, visvel dentro da igreja, com a
necessidade de se buscar uma comunicao de melhor qualidade com o auditrio universal
(PERELMAN, 1999, p. 15) representado por diferentes povos e diferentes culturas em todo o
mundo.
A ICAR, convicta de estar historicamente cumprindo uma misso a si atribuda e
fundamentada nas palavras de Jesus de ide, pois e ensinai a todas as naes, v-se no dever
de a todos evangelizar, instruir e educar. Objetivando implantar tal misso, aquela instituio
eclesistica lanou mos, no sculo XX, de meios diversificados da cultura tecnolgica, como
a televiso, mdias impressas e, mais recentemente a internet, enquanto veculos de
comunicao social (MEDEIROS, 2006).
O Decreto Inter Mirfica (2003), derivado do Conclio Vaticano II, foi dirigido aos
meios de comunicao social e um dos tantos exemplos de empenho da igreja nessa rea.
Tratou sobre a ampliao dos Meios de Comunicao Social (MCS), destinados formao
religiosa, educacional, moral, tcnica e artstica do ser humano (MEDEIROS, 2006).
Por meio da Encclica Communio et Progressio (2005) a ICAR reafirma sua posio
sobre os MCS:
30
A Igreja considera hoje como uma das tarefas mais importantes prover a que os
leitores ou espectadores recebam uma formao segundo os princpios cristos, o
que tambm um servio comunicao social. O receptor bem formado ser
capaz de participar no dilogo promovido pelos meios de comunicao e saber ser
exigente quanto informao. As escolas e organizaes catlicas no podem
esquecer o dever que tm neste campo, especialmente o de ensinar aos jovens, no
s a comportarem-se como verdadeiros cristos, quando leitores, ouvintes ou
espectadores, mas tambm a saber utilizar as possibilidades de expresso desta
linguagem total que os meios de comunicao pem ao seu alcance. Sendo assim,
os jovens sero verdadeiros cidados desta era das comunicaes sociais, de que ns
conhecemos apenas o incio (COMMUNIO ET PROGRESSIO, 2005, p. 107).
Isso possibilita a compreenso do quo importante uma formao propicia ao
conhecimento na evangelizao da ICAR. Para Venturini (2008) o discernir e selecionar
tornam-se palavras essenciais de um mecanismo que abre espao para uma gama de
contedos disponveis ao povo e de valores fundamentais para quem os escuta.
Alinhando o marketing com essa perspectiva de comunicao, percebe-se a grande
adeso de fiis a algum tipo de crena, em especial na ICAR, criando no mundo uma grande
modificao no que se refere aos princpios, tabus e formas de levar a palavra a seus
seguidores.
O fenmeno religiosidade anteriormente explicado neste captulo, passa a inovar as
aes evangelizadoras nas igrejas, e at mesmo, percebe-se, em algumas crenas, o uso
intenso de mdias como a televiso e a internet para atrair o pblico, associando a doutrina
com o consumo.
A necessidade do uso do marketing e, por assim dizer da aplicao de suas
ferramentas pelas igrejas se explica pela concorrncia gerada pelo anseio cada vez maior do
homem que cr e est voltado para o espiritualismo, a natureza, a energia csmica, um Deus
indefinido e sobrenatural, do homem que deseja viver experincias espetaculares (BARNA,
1992, p.11). Tal discurso relaciona-se com o Quadro 1, no tocante do crescente uso de
instrumentais de comunicao para propagar as mensagens evangelizadoras tpicas dos
cristos.
Quadro 1 Igreja Catlica, comunicao e marketing.
Nmeros Descrio
35 mil visitantes
e 182 expositores
Movimentaram a edio 2010 da ExpoCatlica, que tem como objetivo, promover o
mercado de livros e artigos religiosos. uma vitrine que proporciona aos seus expositores a
divulgao de sua marca e de seus produtos com uma ampla interao com o mercado
consumidor (EXPOCATLICA, 2010).
40 editoras
As seis maiores (Paulus, Paulinas, Ave Maria, Loyola, Vozes e Santurio) tm mais de 15
mil ttulos em catlogo (PAULUS; PAULINAS; LOYOLA; VOZES; SANTURIO; AVE
MARIA, 2010).
31
Nmeros Descrio
13 emissoras de
TVs
Entre as quais o Sistema de Evangelizao Cano Nova, a Rede Vida, TV Aparecida e a
TV Sculo 21 (OLIVEIRA; LOPES JUNIOR, 2009).
10 gravadoras
profissionais
Entre as quais as Edies Paulus, Paulinas-COMEP e CODIMUC, que lanam a cada ano
mais de 500 Cds e DVDs (SERGL; VICENTE, 2008).
97 rdios e 3
geradoras
Entre as quais a Rede Catlica de Rdios RCR e a UNDA/ BR- Unio de Radiodifuso
Catlica, evangelizando todo territrio brasileiro (GOLIN; SALVATTI, 2004).
Fonte: Elaborado pelo autor.
dessa forma que surge o marketing religioso, usado para divulgao de um
determinado produto, converso de membros para a igreja ou outras aplicaes, utilizando
variados meios de comunicao, tais como, mdia falada e escrita, praas pblicas, templos
entre outros, tendo seus representantes como um instrumento eficaz no competitivo mercado
religioso (TRIGO; CIPOLLA, 2008).
1.3 MARKETING RELIGIOSO
Qualquer organizao, seja igreja ou empresa, depende do relacionamento e da
sinergia com o ambiente externo. S se desenvolve a organizao que aperfeioa seu
conhecimento de recursos materiais (inovao tecnolgica) ou simblicos (marketing) para a
criao de mercadorias, servios, idias ou polticas (DRUCKER, 1998).
Segundo Trigo e Cipolla (2008, p. 3), marketing para uma instituio religiosa
constitui a troca de valores simblicos com o ambiente, na medida em que a organizao se
desenvolve. No apenas a incorporao de valores folclricos, mas de adaptaes na
essncia de prticas e doutrinas.
O marketing religioso surge como consequncia do desenvolvimento do marketing,
especialmente no seguimento do marketing social (ABREU, 2004). Kotler e Levy (1990)
iniciaram o desenvolvimento da aplicao do marketing a diferentes atividades sociais e, a
partir de dcada 1980, muitas organizaes pblicas ou privadas com carter no lucrativo,
incluindo as organizaes religiosas, assumem a utilizao das prticas de marketing.
O marketing religioso trata da aplicao da disciplina do marketing s organizaes
religiosas, reconhecidas oficialmente como tal, cuja atividade principal a prtica e difuso
de um credo, tendo como objetivo o desenvolvimento qualitativo e quantitativo dessas
mesmas organizaes (ABREU, 2004). A autora explicita que:
32
Estas organizaes devem o seu aparecimento e consolidao s necessidades
espirituais dos homens e o emprego do marketing religioso reveste-se de utilidade,
uma vez que estas organizaes concentram os esforos nos seus pblicos e
direcionam o trabalho para os objetivos e para o alcance da sua misso. O marketing
religioso tem como objetivo o desenvolvimento qualitativo dessas mesmas
organizaes, gerindo as relaes de troca que uma determinada organizao
religiosa tem com todos os seus constituintes, procurando que estas organizaes
atinjam de maneira eficaz e eficiente a sua misso. O processo de marketing
religioso concretiza-se na anlise dos pblicos de uma organizao, no planejamento
e concretizao de produtos religiosos para satisfazer as necessidades espirituais
desses pblicos, permitindo assim que se alcancem os objetivos da organizao
(ABREU, 2004, p. 4).
No h distino essencial deste marketing religioso para as prticas, por exemplo,
da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). As diferenas em aparncia se referem
comparao natural entre instituies milenares, como o catolicismo e as religies africanas, e
uma denominao pentecostal criada em 1977. Se a IURD inovou com o posicionamento
contra a Umbanda, na arquitetura dos templos e no uso da televiso, a ICAR empregou
estratgias de marketing semelhantes h vrios sculos (OLIVEIRA. 2003).
A IURD e o mercado (KOTLER; ANDREASEN, 1996), mantm relaes que se
expressam num contexto dominado por uma mentalidade calculista e pluralista, resultante de
uma situao de mercado, que substitui a antiga situao de monoplio (BERGER, 1985).
Segundo Campos (1999):
A IURD possui uma refinada perspectiva de marketing, pois procura conhecer o seu
pblico, padronizar os produtos, transformar as pessoas em participantes do
processo de produo, segmentar a audincia, oferecendo-lhes exatamente o que
se pensa precisar e desejar naquele momento. Isto , ela no se contenta em oferecer
um produto genrico, que o principal benefcio esperado pelo consumidor.
Muito pelo contrrio, ela oferece um produto ampliado, o qual desdobrado em
outros produtos como cura, prosperidade, comunidade de apoio e outros mais
(CAMPOS, 1999, p. 362).
Barna (1991) visualiza o marketing e a religio, pelo vis estratgico e administrativo
das igrejas evanglicas de diversas denominaes. O foco desse autor, no entanto, prende-se
s preocupaes operacionais das igrejas, enquanto instituies.
Mesmo os autores preocupados com o comportamento do consumidor, tais como
Blackwell, Engel e Miniard (2005) referem-se ao marketing e religio pelo vis das
mudanas no comportamento dos fiis, sob a tica das instituies e correntes de pensamento
religiosos e no do comrcio varejista de produtos religiosos:
Instituies religiosas judaico-crists historicamente representam um papel
importante na moldagem dos valores das culturas ocidentais. Em anos recentes,
estas instituies mudaram substancialmente. Alguns grupos religiosos crescem
33
necessariamente s custas de outros. Nos Estados Unidos, os catlicos cresceram
dos pequeninos nveis em 1776 para um quarto da populao americana, em grande
parte devido presena europia do incio dos anos 1900 e atual imigrao dos
pases hispnicos. Os batistas substituram os anglicanos (episcopais) como grupo
protestante dominante. Mais recentemente, grupos de crescimento rpido, como os
Santos dos ltimos Dias (mrmons) tornaram-se uma grande influncia em muitos
dos valores de seus membros. Religies no-crists ganharam influncia nos Estados
Unidos, incluindo muitas das religies tradicionais orientais e o movimento Nova
Era (BLACKWELL; ENGEL; MINIARD, 2005, p. 406).
O Quadro 2 traz outras contribuies entre a dicotomia religio e marketing,
demonstrando sua aplicabilidade inclusive em outras religies.
Quadro 2 Alinhamentos tericos entre religio e marketing.
Autores Consideraes
Sung (2010)
Afirmou haver uma razo pela qual o uso da lgica de marketing no est restrito s
igrejas dos Estados Unidos, mas tambm em outros pases como Brasil. H setores das
igrejas crists que acreditam que a soluo para os problemas pastorais e,
especialmente, para fazer a igreja crescer (quantitativamente) est no marketing. Esta
proposta bastante sedutora, pois muitos bispos e lideranas das igrejas esto, com
certa razo, preocupados com o nmero de fiis. E como as teologias tradicionalmente
utilizadas nos seminrios e nas pastorais no esto conseguindo solucionar este
problema, marketing soa como uma inovao salvadora.
Assim, muitas igrejas crists (inclusive a catlica) possuem ou esto criando institutos
de marketing ou algo que parece como departamento de marketing no interior das
igrejas.
Refkalefsky (2005)
Marketing para uma instituio religiosa significa a troca de valores simblicos com o
ambiente, na medida em que a organizao se desenvolve. No se trata apenas de
incorporar valores folclricos, mas de adaptaes na essncia de prticas e doutrinas.
Houtart (2003) Considerou aspectos sobre o papel das religies na economia de mercado na atualidade,
alm de oferecer ponderaes sobre o futuro das religies.
Falco (2002)
Abordou a dinmica comercial e religiosa. Porm, o foco e a preocupao deste autor
foram demonstrar as relaes entre os erveiros e erveiras e os praticantes das religies
afro-brasileiras.
Foram duas as diretrizes adotadas neste estudo por este autor: a primeira foi o do
mercado117 e das ervas, e nos convidou a entender a lgica das relaes pessoais entre
os erveiros e a representao das folhas. A segunda diretriz foi a dos erveiros e erveiras
e a experincia do sagrado, quando nos demonstrou a riqueza simblica das religies
afrobrasileiras, com seus smbolos, os mistrios e os segredos da natureza vivenciados
nas relaes dessas religies.
Pereira (2001)
Afirmou ser importante a continuidade no processo de evangelizao, por meio da
utilizao de estratgias de marketing que possam ajudar aos agentes de pastorais ou
promotores de aes evangelizadoras na Igreja a irem ao encontro das pessoas [...]Usar
o marketing com inteligncia e bom senso para evangelizar , permitir que os agentes
de evangelizao e os fiis sejam beneficiadas pelo anncio da palavra.
Brando (1996)
Aproximou os temas da religiosidade e do marketing, quando anotou, em seus estudo,
observaes sobre alguns dos fatores integrantes do composto mercadolgico (produto,
pontos de vendas e distribuio).
Fonte: Elaborado pelo autor.
Abordagens contemplando a religiosidade e o varejo ainda so mais raras. Autores que
se preocupam em estudar os hbitos e as necessidades de compras do consumidor no mercado
varejista anotam em suas crticas a importncia fundamental que os nichos mercadolgicos
34
ligados aos valores culturais e sub-culturais tm e so merecedores de ateno (ALMEIDA
JUNIOR, 2007). Porm, no se aprofundam em detalhes mais tcnicos:
Os fatores culturais exercem a mais ampla e profunda influncia sobre o
comportamento do consumidor. [...] A cultura a determinante mais fundamental
das necessidades e comportamento de uma pessoa. Enquanto as pessoas mais
simples so largamente governadas pelo instinto, o comportamento humano
amplamente adquirido. A criana em uma sociedade aprende um conjunto de valores
bsicos, percepes, preferncias e comportamentos, por meio do processo de
socializao envolvendo a famlia e outras instituies bsicas (KOTLER;
KELLER, 2006, p. 209).
Grupos religiosos, como os catlicos, mrmons, presbiterianos, e judaicos representam
sub-culturas com preferncias culturais e tabus especficos (KOTLER; KELLER, 2006).
Sobre os grupos religiosos, Vinic, Proena e Aronovich (2006) consideraram apenas o aspecto
aflitivo pessoal, como oportunidade de negcios:
Sabemos que as religies, para suas prticas, demandam grandes somas em
investimentos financeiros a fim de cumprirem suas misses religiosas, com a
montagem material de igrejas, templos, terreiros, entre outros. Aplicaes em caros
veculos de comunicaes e de mdia tambm so facilmente constatveis. Os
financiamentos dessas iniciativas ficam por conta dos fiis e da legislao fiscal, que
no Brasil privilegia essas instituies ou organizaes que desempenham algum
papel religioso, aos olhos dos poderes pblicos e da populao (VINIC; PROENA;
ARONOVICH, 2006, p. 10).
Uma vez que muitos novos consumidores consideram as religies tradicionais
dogmticas demais e, em alguns casos, que no oferecem uma experincia espiritual
autentica, h um interesse crescente em relao ao que muitos telogos consideram
benefcio ou pseudo-f (LEWIS; BRIDGES, 2004).
Sobre o comportamento do consumidor, no tocante s suas crenas, Mowen e Minor
(2003), afirmam que:
As crenas do consumidor provm da aprendizagem cognitiva. Elas representam o
conhecimento e as concluses que um consumidor tem a respeito de objetos, seus
atributos e benefcios. Objetos so produtos, pessoas, empresas e coisas a respeito
das quais as pessoas apresentam opinies e atitudes. Atributos so os aspectos ou
caractersticas dos objetos. Por fim, os benefcios so os resultados positivos que os
objetos proporcionam ao consumidor (MOWEN; MINOR, 2003, p. 141).
A relao entre esses dois ltimos pargrafos d-se pelo fato de que tais consumidores
utilizam as experincias anteriores de consumo para obter benefcios nos processos cognitivos
de compra, buscando tirar o mximo de proveito dos objetos adquiridos, gerando resultados
positivos por meio dessa atitude.
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Lewis e Bridges (2004) demonstram que a espiritualidade se tornou uma definio
para tudo que as pessoas sentem estar faltando em suas vidas, no lugar do que esperam
descobrir. De acordo com Brown (1999), essa busca espiritual :
Um sintoma de incerteza coletiva em uma poca em que as instituies tradicionais
como igreja, famlia e comunidade parecem estar desmoronando. Um sintoma
tambm do crescente desencantamento com os valores do materialismo e de um
desgaste da cincia, que desvendou todo o mistrio da existncia (BROWN, 1999, p.
11).
Para auxiliar numa melhor caracterizao da pesquisa, apresentar-se- o marketing
catlico como uma ramificao do marketing religioso, alm de descrever o que a ICAR tem
feito eficazmente por meio dos instrumentais de marketing a servio da evangelizao.
1.3.1 MARKETING CATLICO
Ao longo da histria, as igrejas tm muito mais a ensinar do que aprender com as
empresas modernas. De acordo com Periscinoto e Telles (1998):
Todos os conceitos de marketing foram criados pela Igreja. Deve ser acrescentado,
como ressalva, o Exrcito, instituio to antiga quanto a religio. Desta maneira,
ambos representam as duas primeiras formas de organizao social, seja com
objetivo de dominar, pela fora, natureza e outros grupos sociais, seja para
entender e cultuar o sagrado e estabelecer a comunho entre os homens
(PERISCINOTO; TELES, 1998, p. 42).
No por acaso que, a religio tem lanado mo de eficazes estratgias de marketing
promocional para conquistar uma significativa parcela de mercado dos seus consumidores
potenciais. Ao contrrio do que se pensa mesmo as marcas lderes no mercado, como o
caso da ICAR, que ostentou por muitos anos o ttulo de nmero 1 aqui no Brasil, como o
maior pas catlico do mundo, tem buscado novos consumidores, ou tem investido
consubstancialmente em marketing para angariar a fidelidade e promover a permanncia dos
seus fiis-clientes (PATRIOTA, 2004).
Conforme Ito (2003), o homem atual, inserido num mundo em constante
transformao um indivduo dinmico, competente, capaz, cercado por toda sorte de meios
de comunicao, ao mesmo tempo, porm, mostra-se um indivduo inseguro, assustado com a
violncia, com o desprezo pela vida, perturbado pela corrupo e pelas drogas. Segundo a
autora:
36
A ICAR para atrair e conquistar o homem de hoje, consciente de que est
concorrendo com outras religies, seitas, valores e ideologias, precisa adaptar-se,
adquirindo uma nova viso e novas estratgias, no somente de dentro para fora,
trabalhando a viso dos intelectuais luz dos dogmas seculares, mas tambm de fora
para dentro, a partir das necessidades de seus prprios fiis e suas expectativas de
mundo. Somente assim ela poder cumprir a sua misso evangelizadora no mundo
atual (ITO, 2003, p. 4).
Sendo assim, o marketing catlico nada mais do que as estratgias de como suscitar
no povo a conscincia doutrinal e religiosa, buscando a aplicao de estratgias capazes de
promover a evangelizao (GALVO, 2001, p. 82).
Segundo Kater Filho (1996, p. 13), a proposta de um marketing catlico se justifica na
prpria razo de ser do marketing: descobrir o que leva o ser humano a sentir-se motivado
por alguma causa, por algum ideal, por algum objetivo, e a lutar por isso.
A expresso h alguns anos atrs, soaria como blasfmia. Soaria, mas no soa mais.
No para um bom nmero de catlicos no mundo, especialmente ligados Renovao
Carismtica Catlica (RCC). No Brasil, a exemplo de outros pases como o Canad, j existe,
inclusive, um instituto de marketing catlico de abrangncia nacional (MARQUES, 2001).
A RCC se apresenta como a reao catlica frente ao avano pentecostal. Traz consigo
a fidelidade instituio combinada com a vibrao pentecostal. Nascida por inspirao
protestante, a RCC no nega certa identidade com os pentecostais. Foi o bispo Edir
Macedo quem nos despertou. Ele nos acendeu, afirmou o padre Marcelo Rossi Revista
Veja (OYAMA; LIMA, 1998). O padre Marcelo considerado uma das estrelas miditicas
do movimento no Brasil juntamente com o padre Fbio de Melo, mais recentemente.
Juanes (1995) deixa claro o papel da RCC quando diz que a grande contribuio da
RCC o redescobrimento da pessoa do Esprito Santo, a nfase e a importncia que d sua
ao entre os seus. De fato, o autor parece confirmar certa identificao dos carismticos
com os pentecostais. Entretanto, para Marques (1995) inegvel a distino entre esses dois
grupos religiosos sob certos aspectos estruturais:
A RCC e a IURD [...] tm pouco a ver uma com a outra. A RCC, por exemplo, alm
de no ser uma Igreja, no pede dinheiro a seus membros, muito menos faz
exorcismo. O que pode haver de semelhante fica por conta da postura imatura de
pessoas que buscam ter com Deus uma relao de comrcio, a ponto de
instrumentaliz-lo (MARQUES, 1995, p. 4).
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Ainda que, nas ltimas dcadas, iniciativas tenham sido tomadas no que diz respeito
ao uso de estratgias de marketing aplicado a instituies catlicas (escolas, congregaes
religiosas, entre outras), foi com a fundao do Instituto Brasileiro de Marketing Catlico
(IBMC), em 1998, que um projeto nessa rea da ICAR no Brasil comeou a se consolidar e
assumir uma amplitude maior (MARQUES, 2007).
H de se considerar aqui que o projeto de marketing aplicado ICAR tem seu
fundamento terico na obra de Kater Filho (1996), Conforme argumenta o prprio autor, este
se baseia no pensamento de Kotler (2007; 2008) aplicado a instituies sem fins lucrativos,
entre as quais, enquadram-se as Igrejas.
Numa perspectiva mais recente, h quem diga que Jesus tenha sido o grande
comunicador da histria das religies. Em reportagem da Revista Isto (RABELO, 2008),
entende-se que:
Em seus discursos, ele (Jesus) se posicionava a favor do vento para que sua voz
ganhasse amplitude. Utilizava a simbologia da palavra pastor para mostrar a
importncia de ser lder das ovelhas desgarradas. A ttica, mesmo que no
intencional, funcionou. Milhes de pessoas se viram e se vem representadas em
suas metforas, arqutipos e alegorias (RABELO, 2008, p. 64).
Sculos mais tarde, tanto a mensagem quanto a forma de linguagem continuam sendo
utilizadas, agora amplificadas pelos meios de comunicao de massa. Atualmente esse o
mtodo mais eficaz de conquistar e manter fiis, conforme se v na reportagem:
A ICAR, o grande pilar do cristianismo no mundo, se manteve distante e arredia dos
recursos da mdia durante muito tempo, mas h alguns anos rendeu-se
definitivamente ao seu poder. No Brasil, depois de engatinhar e perder para os
evanglicos nesse campo, os catlicos do passos seguros em direo
profissionalizao. [...] Tentam com esse recurso ampliar seu rebanho. (RABELO,
2008, p. 65).
Aps perdas considerveis para o pentecostalismo presente no Brasil, que se utiliza de
um marketing agressivo para auferir fiis, a ICAR reagiu a este quadro negativo. Na mesma
reportagem da Revista Isto (RABELO, 2008), infere-se que, com um discurso adaptado aos
novos tempos, o nmero de seguidores no Brasil aumentou de 3,4% para 15% em 50 anos.
Inversamente, os catlicos diminuram de 93% para 73% no mesmo perodo.
Devemos copiar aquilo que deu certo na forma com que os evanglicos utilizam a grande
mdia, reconhece Monsenhor Jonas Abib, fundador da Cano Nova, o maior plo de
comunicao catlica no Brasil. A mudana j produz resultados. A cada ano, aumenta o
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nmero de padres cantores, festivais profissionais de msica, livros, revistas, discos, DVDs,
programas de rdio, tevs, alm de sites, blogs e, at mesmo, feira de produtos e servios
semelhante aos grandes sales de negcios (RABELO, 2008, p. 65).
Segundo Marques (2001), razovel considerar a RCC como um importante
contributo para a revitalizao da comunidade catlica medida que resgata a paixo pelo
cristianismo (historicamente atribuda s primitivas comunidades crists), substituindo a
esterilidade que o catolicismo tradicional deixara como herana para as geraes mais novas.
Para o autor:
Esta apresenta alguns indiscutveis apelos sedutores, o que faz da RCC um dos
principais segmentos em ascenso entre os catlicos romanos e que, como exposto
anteriormente, tornou-se uma das pilastras da concreta reao catlica expanso
evanglica pentecostalista. Ao parecer primar pelo uso das mesmas estratgias dos
concorrentes pentecostais, os carismticos catlicos parecem contradizer, em parte,
seu propsito de no difundir uma cultura massificante, permeada pela
superficialidade que o pouco uso da capacidade crtica e o excesso de emotividade
provocam (MARQUES, 2001, p. 8).
Nesta seo, viu-se que a religio acompanhou na medida do possvel a evoluo das
sociedades e culturas, oferecendo aos seus seguidores, ferramentas que pudessem atender s
suas expectativas e necessidades relativas ao sagrado e ao bem-estar espiritual. Tal
perspectiva alinha-se com o que os tericos mercadolgicos definem como marketing. Viu-se,
tambm, que a trade igreja, comunicao e marketing, se bem harmonizadas, promovem a
ramificao de um novo nicho de estudo: o marketing religioso, aplicvel s particularidades
de diversas religies. No obstante, este originou o marketing catlico e suas estratgias de
comunicao pioneiras, inicialmente no intuito de evangelizar e, contemporaneamente, no
embate com as igrejas concorrentes.
Dessa forma, faz-se necessrio, entender a lgica do mercado religioso no Brasil para
posteriormente, tratar-se devidamente dos produtos religiosos, estes que so o fundamento
desta pesquisa.
1.4 A LGICA DO MERCADO RELIGIOSO NO BRASIL
Usando os pressupostos do paradigma do mercado religioso, que tem em Berger
(1985) Finke (1988), Stark (1992) e Iannaccone (1994), seus principais formuladores,
percebem-se as transformaes que se realizam nos modelos de religiosidade em termos de
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moldagem dos seus discursos e prticas religiosas, a partir de modificaes na constituio
interna da esfera da religio no Brasil, no final do sculo XX.
A lgica mercadolgica sob a qual a esfera da religio opera, produz, entre outras
coisas, o aumento da importncia das necessidades e desejos das pessoas na definio dos
modelos de prticas e discursos religiosos a serem oferecidos no mercado, ao mesmo tempo
em que demanda das organizaes religiosas uma maior flexibilidade em termos de mudana
de seus produtos no sentido de adequ-los da melhor maneira possvel para a satisfao da
demanda religiosa dos indivduos (GUERRA, 2003b).
Berger (1985) menciona na literatura a constituio de um mercado religioso, onde
afirma que:
A situao pluralista , acima de tudo, uma situao de mercado. Nela, as
instituies religiosas tornam-se agncias de mercado e as tradies religiosas
tornam-se bens de consumo. E, de qualquer forma, grande parte da atividade
religiosa nessa situao vem a ser dominada pela lgica da economia de mercado
(BERGER, 1985, p. 149).
Como se v, h uma associao da situao de mercado com o pluralismo religioso,
que, no caso brasileiro, se manifesta pela diminuio do peso da tradio catlica sobre a
escolha religiosa dos indivduos, o que abre espao para a percepo de outras propostas de
religiosidades, o que torna necessrio que o modelo catlico de religiosidade, antes imposto
pela autoridade, tenha que ser colocado no mercado (GUERRA, 2003a). Para o autor:
Alm dessa concorrncia em termos do espao interno do campo religioso, devido
ao avano dos processos de secularizao do mundo j mencionados, as
organizaes religiosas perderam uma posio confortvel, determinada pelos nveis
de plausibilidade da atitude religiosa em geral, e devem enfrentar a competio livre
com outras agncias no religiosas de produo de explicaes do mundo e das
coisas, desta feita sem o poder de uma tradio cultural que lhe confira um
argumento inquestionvel de autoridade (GUERRA, 2003a, p. 8).
Outra formulao terica da abordagem da religio em termos de mercado aquela
elaborada por um grupo de socilogos norte-americanos, liderados por Finke e Stark (1992;
1988), que propem uma anlise mercadolgica das instituies religiosas, definindo-as como
fornecedores de produtos para consumo religioso (1992, p. 32), atuando sob regras
especificas de concorrncia pela preferncia dos indivduos (1988, p. 42). Esse modelo
conhecido na sociologia norte-americana como o Paradigma do Mercado Religioso, ou o
Novo Paradigma:
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Ainda outra vertente de trabalhos nessa direo destaca a anlise dos processos pelos
quais a religio se transforma numa mercadoria e a sua contra face, a sacralizao
das mercadorias (FEATHERSTONE, 1991).
Prandi e Pierucci (1996), analisando a individualizao da religio como uma
conseqncia da secularizao e sua transformao em um item para consumo, consideram
que preciso pensar o fenmeno sob a tica da lgica mercadolgica. Eles afirmam que:
Desde que a religio perdeu para o conhecimento laico-cientfico a prerrogativa de
explicar e justificar a vida nos seus mais variados aspectos, ela passou a interessar
apenas em razo do seu proveito individual. Como a sociedade e a nao no
precisam dela para nada essencial ao seu funcionamento, e a ela recorrem apenas
festivamente, a religio foi passando