Upload
doanphuc
View
213
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
A Influência do Edentulismo no Declínio
das Capacidades Cognitivas Dissertação de Revisão Bibliográfica
Mestrado Integrado em Medicina Dentária
Dissertação de Revisão Bibliográfica apresentada à Faculdade de Medicina Dentária da
Universidade do Porto como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Medicina
Dentária
Catarina Gomes Espinha Ano letivo 2015/2016
II
A Influência do Edentulismo no Declínio das
Capacidades Cognitivas
Autora: Catarina Gomes Espinha
Estudante do Mestrado Integrado em Medicina Dentária da Faculdade
de Medicina Dentária da Universidade do Porto
Orientadora: Maria de Lurdes Ferreira Lobo Pereira
Professora Auxiliar da Faculdade de Medicina Dentária da
Universidade do Porto
Porto, Maio 2016
III
Índice
Resumo.................................................................................................................................1
Abstract................................................................................................................................2
Introdução...........................................................................................................................3
Materiais e Métodos........................................................................................................6
Desenvolvimento.............................................................................................................7
Fatores que influenciam a perda dentária.......................................7 Relação entre perda dentária e perda das capacidades cognitivas...................11 Impacto da medicina dentária na redução da perda das
capacidades cognitivas...... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16 Relevância do tema........................................................................19
Conclusão..........................................................................................................................21
Bibliografia.......................................................................................................................23
Agradecimentos.............................................................................................................28
Anexos................................................................................................................................29
Índice de abreviaturas MMSE -‐ Mini-‐Mental State Examination APOE ε4 -‐ Apoliproteina E tipo 4 IL1 -‐ Interleucina1 IL6 -‐ Interleucina6 TNF-‐ 𝜶 -‐ Fator de Necrose Tumoral 𝛼
IV
Índice de Tabelas Tabela1………………………………………………………………………………………………………………5
Índice de Figuras Figura 1……………………………………………………………………………………………………………23
1
Resumo
Introdução: Atualmente verifica-‐se uma tendência para o envelhecimento
populacional. Ao processo de envelhecimento associam-‐se, frequentemente, duas
consequências, vistas quase como inevitáveis: a perda dentária e a perda de
capacidades cognitivas.
Nos últimos anos tem vindo a ser investigada a associação entre a perda
dentária e a perda de capacidades cognitivas existindo três hipóteses explicativas.
A primeira defende que a inflamação decorrente da doença periodontal
causa inflamação sistémica promotora de alterações na dinâmica cerebral.
A segunda apresenta a perda dentária como capaz de limitar e influenciar as
escolhas alimentares alterando o estado nutricional do individuo.
A terceira hipótese associa a perda dentária a um maior risco de
desenvolvimento de doenças com fisiopatologia comum à demência.
Objetivos Efetuar uma revisão bibliográfica que relacione a perda dentária
com o declínio de capacidades cognitivas. Adicionalmente efetuar uma revisão
bibliográfica sobre a reabilitação oral como fator retardador no aparecimento de
perdas de capacidades cognitivas.
Material e Métodos: Foi feita uma recolha de artigos na base de dados
PubMed®. Depois de aplicados todos os critérios de seleção foram incluídos nesta
revisão 51 artigos.
Desenvolvimento: Existe uma multiplicidade de causas para a perda
dentária, encontrando-‐se essa perda dentária associada a perda de capacidades
cognitivas. De forma a evitar e atenuar a progressão da demência em indivíduos
desdentados torna-‐se importante a reabilitação protética dos pacientes e
manutenção de boa higiene oral.
Conclusão: A perda dentária pode contribuir de facto para um declínio das
capacidades cognitivas. No entanto não só a perda dentária está na génese de perda
de capacidades cognitivas, como estas podem levar a uma maior deterioração da
saúde oral que pode resultar em perda dentária.
Palavras chave : Tooth loss; cognitive function; edentulous patients; cognitive;
dementia; epidemiology; MMSE test
2
Abstract
Introduction: Nowadays there is a tendency for population aging. Two
consequences, such as tooth loss and the loss of cognitive skills are seen frequently
as an inevitability of the process of aging
In the last few years a relationship has been found between tooth loss and
the loss of cognitive skills arising three explanatory hypotheses. The first states
that inflammation resulting from periodontal disease causes systemic
inflammation and leading changes in the brain dynamics.
The second presents tooth loss as able to limit and influence the food
choices by changing the nutritional status of the individual.
Finally, the third hypothesis associates tooth loss with an increased risk of
developing diseases with a common pathophysiology of dementia.
Objectives: This thesis aims to make a review relating tooth loss with the
decline of cognitive functions. Additionally aims to make a review about the
possible reducing effect of the oral rehabilitation on the loss of cognitive skills.
Materials and methods: A literature search was made in the database
PubMed®. After all selection criteria were applied, 51 studies were included in this
review.
Development: There is a multiplicity of causes for tooth loss, being that
tooth loss associated with loss of cognitive abilities. In order to avoid or reduce the
progression of dementia in edentulous individuals becomes important prosthetic
rehabilitation of patients and maintaining good oral hygiene.
Conclusion: Tooth loss seems to be in fact responsible for the loss of
cognitive skills. However not only tooth loss is in the genesis of loss of cognitive
abilities, but also the loss of cognitive skills may lead to a deterioration of the oral
health resulting in tooth loss.
Keywords : Tooth loss; cognitive function; edentulous patients; cognitive; dementia; epidemiology; MMSE test
3
Introdução
Atualmente verifica-‐se uma tendência para o envelhecimento populacional,
com um aumento da esperança média de vida devido a melhores cuidados de
saúde, tanto a nível preventivo como curativo. O idoso com o envelhecimento
psicológico e físico experiencia uma tendência para a fragilidade, dependência,
presença de doenças crónicas, perda de capacidades cognitivas às quais muitas
vezes se associam os efeitos adversos dos medicamentos.(1)
A perda de capacidades cognitivas é um dos sintomas neurológicos mais
comuns em idosos e encontra-‐se em estrita associação com a deterioração da saúde
oral.(2) A diminuição da cognição inclui perda de memória, comportamentos
desadequados, incapacidade de tomar decisões de forma racional, dificuldade na
realização de tarefas do dia a dia, falta de autonomia e dependência.(2-‐4) A perda
de capacidades cognitivas é responsável por uma diminuição da qualidade de vida
do idoso e seus familiares, tornando o idoso funcionalmente incapaz. A
incapacidade funcional surge muitas vezes como consequência da perda de
capacidades cognitivas e limita a autonomia, a independência, a capacidade de
gestão financeira e de interação social destes indivíduos.(3, 4)
Sendo a diminuição das capacidades cognitivas o principal sintoma de
demência, torna-‐se essencial a realização de diagnósticos eficazes e rápidos com
testes validados.(5)
Para a obtenção de um diagnóstico de demência utilizam-‐se dados de
análises do funcionamento cognitivo do paciente e das suas capacidades funcionais,
estando a soma dos valores associada a um diagnóstico e ao nível de gravidade.(6)
De entre os vários testes para averiguar o estado da cognição, o mais
utilizado é o “Mini-‐Mental State Examination” (MMSE), devido à sua rápida
realização, em menos de 10 minutos, alta fiabilidade, e grande consistência intra e
inter observador. O MMSE consiste em 11 itens compostos por testes de
orientação, concentração, atenção, memória verbal, associação e capacidades
visuais e espaciais.
4
Resultados MMSE Diagnóstico
30-‐26 Saudáveis
25-‐21 Demência Leve
20-‐11 Demência Moderada
10-‐0 Demência Grave Tabela 1-‐Resultados possíveis do MMSE e diagnostico associado
A interpretação dos resultados do teste tem em consideração a idade, nível
de educação e língua, uma vez que estes surgem como fatores de confundimento
nos resultados. O MMSE apresenta uma sensibilidade de 87% e uma especificidade
de 82% para a identificação de demências já estabelecidas. Relativamente à
deteção das fases iniciais de demência a taxa de sensibilidade é baixa, sendo
necessário o seguimento do doente para averiguar se de facto a patologia está
presente.(5, 7, 8)
São fatores de risco para a incapacidade funcional a idade avançada, a
hipertensão arterial, asma, diabetes e a perda de capacidades cognitivas, sendo este
último considerado o principal.(3) Existem estudos que apontam a incapacidade
funcional como um fator preditivo de mortalidade em idosos, colocando-‐se a
hipótese que esta possa ter um impacto maior na mortalidade que outras
patologias.(3, 9)
Verifica-‐se que indivíduos com incapacidade funcional apresentam fraca
higiene oral.(10) Sendo a perda das capacidades cognitivas o principal fator de
risco para a incapacidade funcional, observou-‐se que a perda de capacidades
cognitivas é também um fator preditivo de má higiene oral, que poderá ter como
consequência a perda dentária.(2, 11)
Para explicar esta relação surgiram três hipóteses. A primeira hipótese
assume a inflamação resultante de patologia da cavidade oral, nomeadamente
periodontal, como causadora de inflamação sistémica que origina degeneração de
células neuronais e aumenta o risco de perda de cognição.(2, 12)
A segunda hipótese admite que problemas da cavidade oral, como a perda
dentária causa incapacidade mastigatória, o que só por si está implicado na
etiologia de demência, simultaneamente limitando as escolhas alimentares levando
à alteração do estado nutricional do indivíduo.(2, 10)
5
Por fim a terceira hipótese propõe que idosos com grandes perdas dentárias
ou completamente edêntulos apresentam um maior risco de doenças
cardiovasculares, diabetes e outras com componente inflamatório importante,
partilhando uma fisiopatologia comum a algumas demência.(2, 10, 13)
Atualmente admite-‐se que qualquer uma destas vias poderá afetar a
cognição independentemente da faixa etária do indivíduo, assumindo-‐se a
veracidade desta conclusão para a população idosa.(14)
Esta tese teve como objetivo efetuar uma revisão bibliográfica relativamente
à influência que a perda dentária pode ter na génese e progressão de demências e o
impacto da reabilitação oral na redução do risco de desenvolvimento de demências.
6
Materiais e Métodos
Para a elaboração desta trabalho foi utilizada a base de dados da “Pubmed”
utilizando como palavras chave termos relacionados com o tópico a desenvolver.
Para a pesquisa foram utilizadas as palavras chave “toth loss cognitive”,
“edentulous patients cognitive function”, “toth loss dementia”, “tooth loss
epidemiology”, “MMSE test” tendo na pesquisa sido considerados artigos em
português e inglês.
Com o termo “tooth loss cognitive”, nesta pesquisa não foram feitas
restrições nem temporais nem a nível de acesso aos artigos e obtiveram-‐se 73
artigos, tendo-‐se de entre estes selecionado 22 por abordarem assuntos com
relevância para o trabalho a desenvolver.
Com o termo “edentulous patients cognitive function”, nesta pesquisa não
foram feitas restrições relativamente a disponibilidade dos artigos e obtiveram-‐se
9 artigos tendo-‐se de entre estes selecionados 4 uma vez que eram os únicos cujo
assunto tinha relação e relevância para o trabalho a desenvolver.
Com o termo “tooth loss dementia” e restringindo a pesquisa apenas a
artigos disponíveis em full text obtiveram-‐se 57 artigos dos quais 12 abordavam
temas com relevo para o trabalho a desenvolver e como tal tendo sido utilizados.
Com o termo “tooth loss epidemiology” e restringindo a pesquisa aos
últimos 5 anos e apenas a artigos de revisão obtiveram-‐se 31 artigos de entre os
quais apenas 5 fora selecionados por abordarem assuntos relevantes para o
trabalho a desenvolver.
Com o termo “mmse test” e restringindo a pesquisa aos últimos 5 anos e
apenas a artigos de revisão obtiveram-‐se 27 artigos de entre os quais apenas 3
tinham interesse por serem sobre assuntos relevantes para o trabalho a
desenvolver.
7
Desenvolvimento
Fatores que influenciam a perda dentária
A perda dentária é uma limitante à sobrevivência e bem estar, tanto de
animais como de humanos. A sua etiologia surge como consequência de várias
causas por vezes complexas e interrelacionadas. Nos humanos, surge como
resultado de problemas periodontais ou dentários nos quais se podem incluir
processos cariosos, patologia endodôntica, patologia periodontal e fratura das
peças dentárias. Sendo muitas vezes a perda dentária considerada uma
consequência inevitável do envelhecimento.(11, 12, 15-‐19)
Com o tempo, tem sido observada uma diminuição da taxa de edentulismo,
tendo o número de indivíduos edêntulos atingido os seus valores máximos antes do
ano de 1968.(15) Especula-‐se que o motivo da diminuição da população
desdentada desde essa altura, se deva ao progresso da medicina dentária e à
melhoria das condições de vida das populações.(15, 19, 20) Em muitos países
industrializados continua a verificar-‐se um declínio significativo na taxa de
edentulismo em simultâneo com um aumento do número médio de dentes
presentes nas populações idosas, existindo no entanto grupos populacionais nos
quais esta tendência não se verifica. (15, 20)
Fatores genéticos tem sido associados com a perda dentária, destacando-‐se
no âmbito deste tema o alelo para a apoliproteína E tipo 4 (APOE ε4). Este alelo
tem presença frequente em indivíduos com demência.(13) No estudo de John M.
Starr et al verificaram a existência de uma relação entre a presença de APOE ε4 e
uma grande quantidade de fatores de saúde que se encontram em estreita
associação com perda dentária.(15) Tendo este estudo demonstrado a implicação
deste fator genético tanto na perda dentária como na etiologia de demência.(15)
Reconhece-‐se que problemas de saúde sistémica como algumas patologias
cardiovasculares, respiratórias e musculares, défices sensitivos e motores
apresentam um impacto negativo na manutenção da saúde oral.(17, 21)
8
Adicionalmente, fatores sociais, comportamentais e psicológicos podem
também apresentar um impacto significativo tanto na saúde oral como geral. De
entre os fatores sociais destacam-‐se o estrato socioeconómico no qual se inserem
os rendimentos e o nível de educação como sendo os mais relevantes a nível de
impacto na saúde, tanto oral como geral.(15, 22) Relativamente aos fatores
comportamentais é importante referir os hábitos tabágicos, a dieta, a procura de
cuidados médicos e alguns hábitos culturais, como a mastigação de bétel na
Tailândia que, duplica o risco de perda dentária independentemente da idade.(15,
17, 23)
Relativamente aos fatores psicológicos está descrito que indivíduos com
depressão, ansiedade e com altos níveis de stress se encontram mais debilitados
tanto a nível sistémico como oral, consequentemente podendo apresentar maior
risco de perda dentária.(15, 17, 23)
De entre os fatores mencionados, os sociais são tidos como dos com maior
impacto a nível de saúde, reconhecendo-‐se que, quanto menores os rendimentos
maior a prevalência de problemas de saúde. Esta situação surge devido à existência
de um desequilíbrio social. Verificando-‐se nas populações mais desfavorecidas uma
redução na difusão de informação sobre saúde, quando comparada com a existente
nos estratos mais altos e uma carência de investimento em recursos públicos para
utilização por estas populações, acarretando uma baixa de procura de cuidados de
saúde.(22)
No que concerne especificamente à saúde oral sabe-‐se que a perda dentária
é mais prevalente em populações mais desfavorecidas.(20, 24) Uma vez que, de um
modo geral indivíduos em estratos socioeconómicos mais baixos, têm acesso a um
menor grau de educação na juventude, que condiciona o acesso a profissões
geradoras de maiores rendimentos. (20, 24) Nas classes sociais mais baixas existe
também uma maior tendência para o desenvolvimento de patologia oral, como as
cáries, doença periodontal e patologias sistémicas, como diabetes, doença
cardiovascular e obesidade.(22) Associado à propensão destes grupos para a
desvalorização de comportamentos promotores de saúde oral, enraizados nos
hábitos e rotinas destas populações, está um maior estabelecimento e progressão
de cáries e patologia periodontal.(22)
9
Relativamente aos cuidados de saúde oral, indivíduos com dificuldades
financeiras tendem a optar por tratamentos distintos dos indivíduos de classes
mais altas, por se encontrarem monetariamente limitados. Deste modo, encontram-‐
se mais sujeitos a realizarem extrações dentárias, em detrimento de consultas
periódicas de rotina e tratamentos conservadores resultando num menor número
de dentes em boca.(22)
De entre os fatores comportamentais destaca-‐se o tabagismo por ser uma
prática altamente generalizada e embora não exclusiva, surge frequentemente em
níveis socioeconómicos mais baixos. O ter fumado em qualquer momento da vida
está associado com um risco aumentado para a perda dentária, sendo por isso
considerado um facto preditivo de perda dentária.(15, 25)
O tabaco tem impacto tanto a nível periodontal como dentário. As
substâncias inaladas apresentam componentes nocivas para os tecidos de suporte
dentários por causarem disfunção nos fibroblastos gengivais, vasoconstrição com
consequente alteração da microcirculação e uma diminuição da eficácia do sistema
imunitário.(26) A nível dentário o tabaco aumenta a incidência de erosão e abrasão
cervical.(11)
Ainda a nível de fatores comportamentais verifica-‐se que estes afetam de
forma distinta indivíduos nas diferentes faixas etárias, relativamente a causas de
perda dentária. A tendência é que em adolescentes e adultos jovens, a perda
dentária seja maioritariamente causada por cárie, enquanto que em adultos mais
velhos e idosos a perda de dentes passa a ter uma origem predominantemente
periodontal.(24, 27) Verifica-‐se, que nos jovens existe a tendência para uma higiene
oral débil e hábitos alimentares que incluem uma dieta rica em hidratos de carbono
refinados, que associados à presença de uma microbiota rica em bactérias
produtoras de ácido leva à formação de cáries que são o principal fator de perda
dentária neste grupo de indivíduos.(16) A presença de cáries ou outras patologias
orais, influenciam não só a probabilidade de perda dentária como também a
quantidade e frequência com que ela ocorre.(10) Em populações idosas
frequentemente ocorre uma diminuição em quantidade e qualidade da saliva,
muitas vezes associada com a medicação, nomeadamente fármacos
anticolinérgicos, levando a problemas periodontais como o aparecimento de
sangramento gengival e perda de adesão gengival, sendo estes fatores causadores
10
de mobilidade dentária que posteriormente podem ser causa de perda dentária.
(14, 28) A diminuição dos níveis salivares também leva a um aumento da formação
de tártaro, devido à deposição de placa bacteriana, simultaneamente causando uma
maior incidência de cárie, principalmente radicular por comprometimento da
capacidade tampão da saliva e da diminuição da remineralização.(11, 28)
A reabilitação nos idosos utiliza frequentemente próteses dentárias
removíveis. No estudo de Xi Chen et al realizado em 491 indivíduos foi demostrado
que a utilização destas próteses aumenta em 59% a probabilidade de perda
dentária precoce quando comparado com indivíduos com situações orais
semelhantes, mas que não estão reabilitados com dispositivos protéticos
removíveis.(10) Este aumento do risco de perda dentária deve-‐se a um aumento de
acumulação de placa bacteriana na prótese, o que associado a uma higiene oral
deficiente aumenta o risco de cárie nestes pacientes, podendo numa situação
extrema levar a perda da peça dentária. Também a sobrecarga exercida pela
prótese sobre os dentes pilares, devido a desadaptação protética surge como um
fator de risco para a perda dentária, uma vez que forças excessivas sobre os dentes
podem ser causadores de mobilidade que mais tarde pode levar a perda do dente.
Assim, utilizadores de próteses removíveis são 1,5 vezes mais suscetíveis de perder
dentes mais cedo que um indivíduo com os mesmos fatores de risco mas sem
prótese removível.(10)
Outra situação frequente é a colocação de indivíduos idosos em instituições
especializadas no seu cuidado. Estudos demonstram que em indivíduos
institucionalizados regra geral se verifica um decréscimo a nível de saúde oral e
aumento da perda dentária.(10, 20) A causa para essa observação deve-‐se ao facto
de muitas vezes pacientes institucionalizados serem incapazes de realizar, de
forma autónoma e eficaz a sua própria higiene oral, por vezes devido a falta de
capacidades funcionais ou por se apresentarem pouco recetivos a permitir auxílio
de uma fonte externa. Nestes indivíduos também se verificou que esta baixa
recetividade a cuidados de saúde oral se estende à aceitação de tratamentos
médico dentários, limitando tratamentos preventivos e permitindo a progressão de
patologias que poderiam ser tratáveis se diagnosticadas atempadamente.(10, 20)
11
Relação entre perda dentária e perda de capacidades
cognitivas
Vários estudos verificam que perda dentária pode ter como consequência a
perda de capacidades cognitivas, existindo 3 hipóteses que a explicam.(29-‐31)
A primeira hipótese refere a inflamação decorrente de patologia oral como
causadora de inflamação sistémica, que leva à degeneração de células neuronais e
consequentemente aumentando o risco de demência.(2, 12, 13)
A segunda hipótese aponta a perda dentária como causa de alterações na
fisiologia da mastigação, que só por si aumenta o risco de perda de capacidades
cognitivas.(20) Concomitantemente esta hipótese identifica as dificuldades
mastigatórias causadas pela perda dentária como limitantes na escolha alimentar,
potenciando alterações nutricionais que mais uma vez aumentam o risco de
diminuição da cognição e desenvolvimento de demência.(2, 10, 29)
A terceira hipótese, defende que indivíduos com elevadas perdas dentárias
se encontram mais propensos a patologias com uma fisiopatologia comum à da
demência, surgindo então a hipótese de uma possível relação entre a demência e a
perda dentária.(2, 10, 13)
Primeira hipótese-‐ hipótese inflamatória
A doença periodontal é a principal causa de perda dentária em idosos, sendo
responsável por 50% das extrações neste grupo.(29)
Esta patologia divide-‐se em duas categorias, de acordo com o nível de
destruição causada. A gengivite, inflamação gengival induzida ou não por placa
bacteriana e a periodontite, que consiste na inflamação dos tecidos de suporte
dentários por grupos específicos de microrganismos, causando uma destruição
progressiva do ligamento periodontal e do osso alveolar que leva a formação de
bolsas, recessão gengival ou ambas.(32)
A doença periodontal causa inflamação local crónica nos tecidos de suporte
dentários mas verificou-‐se que também é passível de causar inflamação sistémica.
(12, 13, 29, 32, 33) A inflamação sistémica deteta-‐se através do aumento dos níveis
séricos de proteína C reativa.(29) A relação entre doença periodontal e a perda de
12
capacidades cognitivas pode ser aumentada caso estejam presentes fatores de risco
genéticos.(15) A gravidade da doença periodontal é influenciada por polimorfismos
genéticos em citocinas pró-‐inflamatórias como a Interleucina1(IL1), a
Interleucina6(IL6) e o Fator de Necrose Tumoral 𝛼 (TNF-‐ 𝛼 ). Indivíduos que
apresentem homozigotia para o alelo 2 da IL-‐1A e o alelo 2 da IL-‐1B tem maior
risco de desenvolver doença de Alzheimer, tipo mais comum de demência,
juntamente com uma tendência para apresentarem doença periodontal mais
agressiva.(13, 29) No entanto a perda cognitiva não ocorre apenas em situações de
doença periodontal grave; basta haver sangramento gengival e perda de adesão
gengival para se encontrar perda de capacidades cognitivas.(34)
Entre as bactérias envolvidas na colonização da cavidade oral, estão as
bactérias Gram-‐negativas anaeróbias microrganismos invasivos orais específicos
para a doença periodontal.(29) Nos indivíduos portadores desta patologia
especula-‐se que exista uma migração de moléculas pró-‐inflamatórias, de bactérias
e de produtos bacterianos para a corrente sanguínea e para o nervo trigémio e que
através destas vias atinjam o cérebro. A presença das bactérias e das moléculas
inflamatórias origina uma resposta imune alterada ao nível do fluído cérebro
espinal e plasma, causando alterações na dinâmica cerebral capazes de afetar e
incapacitar o funcionamento cerebral, aumentando o risco de desenvolvimento de
perda de capacidades cognitivas.(2, 13, 29, 30, 35)
O declínio cognitivo encontra-‐se diretamente relacionado com a velocidade
de perda dentária, situações nas quais existam pelo menos perda de metade dos
dentes antes dos 35 anos de idade apresentam um aumento significativo do risco
de desenvolvimento de demências nomeadamente demência de Alzheimer.(12, 13,
31, 36) Esta perda dentária, acelerada em adultos, encontra-‐se muitas vezes
associada a doença periodontal grave, reforçando-‐se mais uma vez a estreita
relação entre a doença periodontal e a perda cognitiva.(12, 31)
Segunda hipótese-‐ hipótese da incapacidade mastigatória
A presença de dentes naturais, com oponente e em função, são importantes
na escolha da consistência dos alimentos, e são relevantes para o estado nutricional
do indivíduo.(37) O impacto da perda dentária torna-‐se evidente quando se
observam as consequências ao longo do tempo. Destacam-‐se as alterações nos
13
tecidos moles faciais, perda de osso alveolar, de tecido gengival, do ligamento
periodontal e seus mecanorrecetores, vasos e nervos. Há ainda estiramento do
ligamento temporomandibular e perda de tónus muscular nos músculos da
mastigação, pois quando as estruturas não se utilizam, perdem-‐se.(1)
De entre as estruturas perdidas destacam-‐se as terminações nervosas dos
mecanorrecetores do ligamento periodontal. Em indivíduos dentados os
mecanorrecetores transmitem informação propriocetiva ao cérebro sobre o nível
de carga exercido no dente, mantendo atividade neuronal, e possibilitando a
formação de memória mastigatória, através de um mecanismo de feedback
positivo.(38) Durante o processo de perda cognitiva a presença de dentes
apresenta um efeito protetor, pois a memória criada é mantida pelo mecanismo de
feedback dos mecanorrecetores, possibilitando a manutenção da capacidade
mastigatória durante mais tempo.(29, 37) A uma diminuição do número de
mecanorrecetores está associada a diminuição da capacidade de memória tanto
mastigatória como geral.(13, 29)
Estudos em ratos demonstraram que a diminuição da capacidade de
memória tem como principais causas, a deterioração funcional do sistema
colinérgico neuronal no córtex parietal, a diminuição do número de neurónios
colina acetiltransferase positivos no núcleo da banda diagonal, e uma diminuição
no número de células piramidais no hipocampo.(39)
O mesmo estudo demonstrou alterações na atividade neuronal teta,
relacionada com o processo de aprendizagem. O estímulo para aprender causa um
aumento na atividade neuronal teta ao qual corresponde um incremento no
processo de aprendizagem e na velocidade com que ele se processa. Nos ratos
estudados quando lhes eram extraídos dentes verificava-‐se uma oscilação na
atividade neuronal teta no potencial de ação local, estando suprimida a
sincronização da oscilação teta entre a amígdala basolateral e o córtex cingulado
anterior, o que limitava as capacidades de aprendizagem e memória.( 39)
Num outro estudo também em ratos verificou-‐se que o stress crónico
causado pelo défice mastigatório diminuía a proliferação celular, a sobrevivência
de novas células e a diferenciação celular ao nível do giro dentado do hipocampo.
Levando a uma diminuição das capacidades de aprendizagem e atenção nestes
ratos.(40)
14
Também se coloca outra hipótese explicativa na qual é a perda das
capacidades mastigatórias a verdadeira causa de perda de capacidades cognitivas.
A explicação para esta relação defende o ato mastigatório como tendo uma
influência positiva no fluxo sanguíneo cerebral, aliviando o stress e deste modo
melhorando as capacidades cognitivas.(20, 41)
Associadas às dificuldades mastigatórias, decorrentes da perda dentária,
podem surgir alterações nutricionais, que frequentemente passam despercebidas,
bem como limitação dos movimentos mandibulares muitas vezes para evitar
desajuste de próteses ou dor.(1)
As deficiências nutricionais decorrentes da perda dentária tem uma relação
estreita com o desenvolvimento de demência.(16) Verificando-‐se uma tendência
para que estes indivíduos adotem uma dieta baixa em proteínas, polissacarídeos
não amiláceos, cálcio, vitaminas e fibra, sendo por outro lado essa dieta rica em
gorduras saturadas e colesterol.(1, 16, 20, 37, 42) A explicação óbvia para estas
alterações alimentares encontra-‐se na facilidade mastigatória de alimentos com
estas características nutricionais.(16)
Estas mudanças a nível dietético não passam de uma adaptação a uma
ineficácia mastigatória e podem ter como consequência um aumento do risco
cardiovascular, de subnutrição e demência.(16) As alterações nutricionais
deprimem o estado imunitário, aumentando a suscetibilidade a infeções que por
sua vez levam também a consequências ao nível da dentição.(41)
A uma maior perda dentária encontra-‐se associada a uma maior dificuldade
na realização da alimentação de forma autónoma, tendo-‐se observado que
indivíduos desdentados em fases iniciais de demência se encontravam mais
dependentes para se alimentarem do que indivíduos na mesma fase de demência
mas com quase todos os dentes presentes. Estes dados correlacionam-‐se com os
resultados do MMSE; indivíduos autónomos na alimentação apresentavam
melhores resultados.(37)
Terceira hipótese-‐ hipótese das patologias com fisiopatologia comum
Tem sido referido que elevadas perdas dentárias aumentam a propensão
para o surgimento de patologias com fisiopatologia comum à da demência.(2, 10,
13)
15
Reconhece-‐se que para além da perda dentária existem outros fatores
capazes de causar perda de capacidades cognitivas. Nomeadamente, efeitos
adversos de medicação, lesões cerebrais, infeções, distúrbios metabólicos, doenças
psiquiátricas, enfarte, diabetes e depressão.(43)
Estes problemas de saúde podem ser causados por uma saúde oral
deficiente. Estando a eles associado um risco de morte aumentado, particularmente
em populações especiais.(43)
Na presença de doença cardiovascular é possível encontrar a nível sérico,
um grande número de marcadores inflamatórios, nomeadamente a IL6. A presença
destas citocinas pro-‐inflamatórias leva a um aumento do risco de perda de
capacidades cognitivas e desenvolvimento de demência.(32, 33, 42) Sendo este
modo de atuação semelhante ao da inflamação sistémica causada pela doença
periodontal, no entanto nesta situação a inflamação tem uma causa
predominantemente vascular.(18, 30, 42)
Como já foi referido a perda dentária apresenta um impacto negativo sobre
a condição nutricional do indivíduo, sendo que indivíduos edêntulos podem estar
mais sujeitos a apresentarem estados de subnutrição.(1, 37, 42) Tendo-‐se
averiguado a existência de uma relação direta entre perda dentária e estados de
subnutrição, verificando que por cada 5 dentes perdidos o risco do indivíduo entrar
num estado de subnutrição aumenta 1,42 vezes.(42)
Paralelamente também se verificou uma tendência para a obesidade em
indivíduos com grandes perdas dentárias (menos de 8 dentes naturais), tornando-‐
se ainda mais sujeitos a ficarem obesos indivíduos que não apresentem nenhum
tipo de reabilitação protética.(2, 42)
A evidência científica aponta para a premissa de que indivíduos
desdentados, apresentem um risco superior de má-‐nutrição e obesidade, estando
mais sujeitos a desenvolver Diabetes tipo II. Diabéticos apresentam uma maior
prevalência de inflamações e infeções da cavidade oral quando comparados com
controlos não diabéticos. Existe nestes indivíduos uma propensão para que a
relação perda dentária seguida de patologia se mantenha podendo a sua gravidade
aumentar. Com esse aumento podem surgir outras patologias capazes de contribuir
de forma mais direta na fisiopatologia da perda de capacidades cognitivas.(42)
16
Impacto da medicina dentária na redução da perda das
capacidades cognitivas
Existem muitos fatores de risco para a perda das capacidades cognitivas
associados com saúde oral.(2) Esses fatores podem ser modificáveis ou não, e como
tal a medicina dentária apenas pode intervir ao nível dos primeiros.(10, 13, 15)
Apesar de a nível global o número de desdentados estar a diminuir o
número de indivíduos com falta de dentes continua a ser elevado, podendo estes
indivíduos estar mais sujeitos a desenvolver perda de capacidades cognitivas.(15,
17)
É importante considerar que a perda de capacidades cognitivas e o
desenvolvimento de demência são problemas de saúde cada vez mais prevalentes e
para os quais não existe ainda um tratamento definitivo.(4)
Considerando esta premissa a medicina dentária pode intervir diminuindo o
risco de desenvolvimento ou atrasando a velocidade de progressão da perda de
capacidades cognitivas.(1, 17)
Assim torna-‐se importante a identificação de fatores de risco modificáveis
para a perda de capacidade cognitivas e demência.(4)
Em idosos a perda dentária é reflexo, muitas vezes, para além da cárie, de
uma longa história de doença periodontal, reconhecendo-‐se como fator de risco a
má higiene oral que surge como fator potenciador de infeção crónica em
humanos.(4)
Tendo em conta que a perda dentária e os processos inflamatórios orais são
fatores que interferem no desenvolvimento de perda cognitiva, é evidente que a
aquisição de corretos hábitos de higiene oral associados com uma alimentação
pouco cariogénica, ausência de tabaco e consultas regulares no médico dentista são
fatores que contribuem para uma redução da incidência de patologia oral, que pode
ser causadora de inflamação e perda dentária.(2, 12, 13, 23, 27, 29) Verificando-‐se
que a prevenção da patologia da cavidade pode ter um papel importantíssimo para
a prevenção de estados de demência e perda de capacidades cognitivas.(23, 44, 45)
Em indivíduos já diagnosticados com patologia cognitiva a prevenção toma
ainda um maior destaque uma vez que estes apresentam um risco aumentado para
17
o desenvolvimento de patologia oral, consequência de medicação, alterações
nutricionais, fraca higiene oral e tabagismo. Estes pacientes ainda tem como
agravante a dificuldade de realização de tratamentos médico dentários devido a
falta de motivação, cooperação limitada, dificuldades de comunicação, bem como,
de eventuais problemas financeiros.(44)
É importante o médico dentista sugerir terapêuticas preventivas e
tratamentos reconstrutivos, em detrimento das extrações e motivar os pacientes
para a manutenção de saúde oral como parte integrante da saúde geral.(1, 44)
No entanto a perda de dentes é uma realidade, sendo ela mais prevalente na
população idosa.(1, 10) Após a perda dentária os dentes perdidos devem ser
repostos através de dispositivos protéticos, estando à utilização de próteses
associado um efeito preventivo relativamente ao risco de desenvolver
demência.(42)
A utilização de próteses, removíveis pode não ser a solução ideal para a
perda dentária, devido à acumulação de biofilme, lesões de cárie, falta de
paralelismo dos pilares, má adaptação por perda óssea e em indivíduos com
xerostomia, são ainda causadoras de desconforto.(46) A sua utilização,
nomeadamente na população idosa, é frequente, estando elas associadas
geralmente a indivíduos com um estatuto social mais baixo e com fracos
rendimentos.(46) Cabe ao médico dentista informar sobre as várias opções de
reabilitação protética, no entanto a decisão final sobre o tipo de reabilitação recai
sobre o paciente.(46)
A reabilitação protética visa aumentar eficácia mastigatória, a dimensão
vertical, e criar um aumento do número de contactos oclusais. Desta forma,
recuperando a função de estruturas que de outro modo seriam perdidas.(47)
Considerando estes objetivos há autores que defendem que a utilização de uma
prótese capaz de recuperar a função mastigatória se apresenta como um fator
importante na preservação da cognição.(39, 45, 48)
O estudo de Xiaoxiang Xu et al realizado em ratos averiguou que após
remoção das coroas dos molares, houve uma diminuição da capacidade de
aprendizagem e diminuição da memória nos animais. Esta diminuição das
capacidades cognitivas foi parcialmente recuperada após colocação de coroas fixas
sobre os dentes cuja a coroa natural tinha sido destruída.(39)
18
Outro estudo experimental demonstrou que mastigar com forças elevadas
com um implante aumenta o fluxo sanguíneo cerebral, tal como acontece com a
mastigação com dentes naturais; no entanto mastigar com forças baixas com
implantes não apresenta efeitos relativamente ao fluxo sanguíneo cerebral,
contrariamente ao que acontece com dentes naturais.(48)
Um implante não se encontra envolvido por ligamento periodontal e como
tal não apresenta mecanorrecetores que transmitam informação propriocetiva ao
cérebro. No entanto, verificou-‐se que reconstruções implanto-‐suportadas são
capazes de restaurar alguma da transmissão propriocetiva ao cérebro como
acontece com os dentes naturais.(49)
A estabilidade oclusal obtida pela colocação de prótese leva à ativação da
porção relacionada com a mastigação do córtex pré-‐frontal, levando a melhoras na
função mastigatória e na cognição semântica e somatosensorial, funções que
também são controladas pelo córtex pré-‐frontal.(45)
Verifica-‐se a capacidade de reversão de alguns efeitos funcionais,
psicossociais e psicológicos causados pela perda dentária, através da utilização de
reabilitações implanto-‐suportadas. Deste modo melhorando a qualidade de vida do
indivíduo desdentado até uma idade mais avançada.(1)
Sem dúvida, quando considerando os benefícios referidos bem como, os
efeitos psicossociais das reabilitações com implantes que se apresentam
osteointegradas, pode-‐se concluir que havendo perda dentária esta será a melhor
forma de reabilitação para prevenir ou retardar o desenvolvimento de perda de
capacidades cognitivas e demência.(1, 46, 48) Devendo a reabilitação com
implantes ter como objetivo uma recuperação tanto da função como da estrutura
previamente perdida.(47)
19
Relevância do tema
A importância deste tema prende-‐se com dois fatores, a atualidade do tema
e a cada vez mais consistente relação existente entre a perda dentária e a perda de
capacidades cognitivas.(21, 47)
A perda de capacidades cognitivas tem um impacto significativo na vida do
indivíduo e na dos seus prestadores de cuidados, sendo um fator limitante das suas
capacidades e influenciador da mortalidade. Atualmente verifica-‐se um aumento
rápido do número de idosos ao qual se associa também um aumento do número de
indivíduos com perda de capacidades cognitivas e demência, sendo ainda
expectável um crescimento acelerado de indivíduos com esta patologia.(30)
Num estudo em humanos conduzido por Noriyuki Narita em 2009 verificou
que indivíduos cognitivamente normais apresentavam um número
significativamente maior de dentes que indivíduos com perda de capacidades
cognitivas. Tendo este estudo ainda verificado que a perda dentária não reabilitada
estava associada também a um pior estado de saúde física.(45)
Em gémeos homozigóticos idosos discordantes para o fator demência a
perda de pelo menos metade dos dentes antes dos 35 anos causava um aumento do
risco para o desenvolvimento de Alzheimer e de outras demências. Concluiu-‐se que
para cada dente perdido por década o risco de obtenção de um fraco resultado em
testes cognitivos aumenta entre 9 a 12%. Os participantes no estudo tinham
perdido uma média de 12 ou mais dentes por década, aproximando-‐se o seu risco
para o desenvolvimento de demência próximo dos 100%, paralelamente
apresentavam fracos resultados nos testes de cognição. Relativamente à causa de
perda dentária o estudo especulou que tivesse sido resultante de doença
periodontal severa de modo a explicar a perda dentária rápida sofrida.(31) Num grupo de 438 indivíduos observados ao longo de um período de 3 anos
observou-‐se a existência de uma relação entre a perda dentária e a perda de
capacidades cognitivas. Este estudo verificou também que à perda de capacidades
cognitivas se encontrava associada um pior estado de saúde oral.(4)
Em 2014 Stefano Mummolo et al estudaram um grupo de indivíduos idosos
com e sem demência para verificar de que forma as perdas dentárias nestes
20
indivíduos afetavam as capacidades mastigatórias. Verificou que os indivíduos com
demência apresentavam na sua maioria mais de 20 dentes perdidos, o que não se
verificava no grupo dos indivíduos cognitivamente normais. Uma maior perda
dentária associou-‐se a uma pior capacidade mastigatória traduzindo-‐se num
aumento de perda cognitiva que foi mais significativo entre aqueles indivíduos que
à partida já tinham demência.(23)
Para além destes existem outros estudos em humanos concordantes para a
relação entre perda dentária e perda de capacidades cognitivas.(25, 26, 38, 48, 50)
Atualmente o foco de muitos estudos visa a compreensão de quais os
mecanismos responsáveis por esta relação.(39, 40, 51)
21
Conclusão
Verifica-‐se através da análise de estudos no âmbito desta tese que a perda
dentária surge como um possível fator causal da perda de capacidades cognitivas.
Nesta revisão verificou-‐se que para além da perda dentária poder estar
fortemente associada à de perda de capacidades cognitivas também o inverso se
verifica, deste modo podendo concluir-‐se a existência de uma relação cíclica entre
estes dois acontecimentos, no qual o aumento de um leva ao aumento do outro.
Para a relação verificada foram apresentadas 3 hipóteses interrelacionadas.
Estando duas delas vinculadas por referirem a componente inflamatória como o
responsável pela perda cognitiva. Ainda se encontrou uma outra relação que
aponta o défice nutricional como causa para patologias sistémicas, podendo estas
originar défice imunitário que aumenta a suscetibilidade a processos inflamatórios
e infeciosos. Estas interações podem ser observadas na imagem 1.
Verifica-‐se que a aquisição de hábitos de higiene oral associado com
consultas regulares no médico dentista tem um efeito protetor na manutenção das
peças dentárias. Estando a manutenção dos dentes naturais associada a um efeito
protetor das capacidades cognitivas pode afirmar-‐se que esta prática é passível de
reduzir o risco de perda cognitiva. Em situações nas quais a perda dentária já
ocorreu verifica-‐se a importância de reabilitar as áreas edêntulas com o objetivo de
minorar os efeitos secundários da perda dentária a nível cognitivo, possibilitando a
recuperação de algumas das capacidades perdidas bem como, reduzir a velocidade
de progressão da perda cognitiva.
23
Bibliografia
1. Muller F. Interventions for edentate elders-‐-‐what is the evidence?
Gerodontology. 2014;31 Suppl 1:44-‐51.
2. Batty GD, Li Q, Huxley R, Zoungas S, Taylor BA, Neal B, et al. Oral disease in
relation to future risk of dementia and cognitive decline: prospective cohort study
based on the Action in Diabetes and Vascular Disease: Preterax and Diamicron
Modified-‐Release Controlled Evaluation (ADVANCE) trial. Eur Psychiatry.
2013;28(1):49-‐52.
3. d'Orsi E, Xavier AJ, Ramos LR. Work, social support and leisure protect the
elderly from functional loss: EPIDOSO study. Rev Saude Publica. 2011;45(4):685-‐
92.
4. Park H, Suk S-‐H, Cheong J-‐S, Lee H-‐S, Chang H, Do S-‐Y, et al. Tooth Loss May
Predict Poor Cognitive Function in Community-‐ Dwelling Adults without Dementia
or Stroke: The PRESENT Project. Korean Med Sci 2013;28.
5. Velayudhan L, Ryu SH, Raczek M, Philpot M, Lindesay J, Critchfield M, et al.
Review of brief cognitive tests for patients with suspected dementia. Int
Psychogeriatr. 2014;26(8):1247-‐62.
6. McGrory S, Doherty JM, Austin EJ, Starr JM, Shenkin SD. Item response
theory analysis of cognitive tests in people with dementia: a systematic review.
BMC Psychiatry. 2014;14:47.
7. Arevalo-‐Rodriguez I, Smailagic N, Roque IFM, Ciapponi A, Sanchez-‐Perez E,
Giannakou A, et al. Mini-‐Mental State Examination (MMSE) for the detection of
Alzheimer's disease and other dementias in people with mild cognitive impairment
(MCI). Cochrane Database Syst Rev. 2015;3:CD010783.
8. Hatipoglu MG, Kabay SC, Guven G. The clinical evaluation of the oral status
in Alzheimer-‐type dementia patients. Gerodontology. 2011;28(4):302-‐6.
9. Tsakos G, Watt RG, Rouxel PL, de Oliveira C, Demakakos P. Tooth loss
associated with physical and cognitive decline in older adults. J Am Geriatr Soc.
2015;63(1):91-‐9.
24
10. Chen X, Clark JJ. Multidimensional risk assessment for tooth loss in a
geriatric population with diverse medical and dental backgrounds. J Am Geriatr
Soc. 2011;59(6):1116-‐22.
11. Kisely S, Quek LH, Pais J, Lalloo R, Johnson NW, Lawrence D. Advanced
dental disease in people with severe mental illness: systematic review and meta-‐
analysis. Br J Psychiatry. 2011;199(3):187-‐93.
12. Kaye EK, Valencia A, Baba N, Spiro A, 3rd, Dietrich T, Garcia RI. Tooth loss
and periodontal disease predict poor cognitive function in older men. J Am Geriatr
Soc. 2010;58(4):713-‐8.
13. Okamoto N, Morikawa M, Okamoto K, Habu N, Iwamoto J, Tomioka K, et al.
Relationship of tooth loss to mild memory impairment and cognitive impairment:
findings from the Fujiwara-‐kyo study. Behav Brain Funct. 2010;6:77.
14. Stewart R, Sabbah W, Tsakos G, D'Aiuto F, Watt RG. Oral health and cognitive
function in the Third National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES
III). Psychosom Med. 2008;70(8):936-‐41.
15. Starr JM, Hall R. Predictors and correlates of edentulism in healthy older
people. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2010;13(1):19-‐23.
16. Noble JM, Scarmeas N, Papapanou PN. Poor Oral Health as a Chronic,
Potentially Modifiable Dementia Risk Factor: Review of the Literature. Curr Neurol
Neurosci Rep. 2013;13.
17. Avlund K, Holm-‐Pedersen P, Morse DE, Viitanen M, Winblad B. Tooth loss
and caries prevalence in very old Swedish people: the relationship to cognitive
function and functional ability. Gerodontology 2004;21.
18. Stein PS, Kryscio RJ, Desrosiers M, Donegan SJ, Gibbs MB. Tooth loss,
apolipoprotein E, and decline in delayed word recall. J Dent Res. 2010;89(5):473-‐7.
19. Kassebaum NJ, Bernabe E, Dahiya M, Bhandari B, Murray CJ, Marcenes W.
Global Burden of Severe Tooth Loss: A Systematic Review and Meta-‐analysis. J Dent
Res. 2014;93(7 Suppl):20S-‐8S.
20. Elsig F, Schimmel M, Duvernay E, Giannelli SV, Graf CE, Carlier S, et al. Tooth
loss, chewing efficiency and cognitive impairment in geriatric patients.
Gerodontology. 2015;32(2):149-‐56.
25
21. Weyant RJ, Pandav RS, Plowman JL, Ganguli M. Medical and cognitive
correlates of denture wearing in older community-‐dwelling adults. J Am Geriatr
Soc. 2004;52(4):596-‐600.
22. Seerig LM, Nascimento GG, Peres MA, Horta BL, Demarco FF. Tooth loss in
adults and income: Systematic review and meta-‐analysis. J Dent. 2015;43(9):1051-‐
9.
23. Mummolo S, Ortu E, Necozione S, Monaco A, Marzo G. Relationship between
mastication and cognitive function in elderly in L’Aquila. Int J Clin Exp Med.
2014;7(4).
24. Grabe HJ, Schwahn C, Volzke H, Spitzer C, Freyberger HJ, John U, et al. Tooth
loss and cognitive impairment. J Clin Periodontol. 2009;36(7):550-‐7.
25. Wang T-‐F, Chen Y-‐Y, Liou Y-‐M, Chou C. Investigating tooth loss and
associated factors among older Taiwanese adults. Archives of Gerontology and
Geriatrics. 2014;58.
26. Saito Y, Sugawara N, Yasui-‐Furukori N, Takahashi I, Nakaji S, Kimura H.
Cognitive function and number of teeth in a community-‐dwelling population in
Japan. Ann Gen Psychiatry. 2013;12(1):20.
27. Minn Y-‐K, Suk S-‐H, Park H, Cheong J-‐S, Yang H, Lee S, et al. Tooth Loss Is
Associated with Brain White Matter Change and Silent Infarction among Adults
without Dementia and Stroke. J Korean Med Sci. 2013;23.
28. Murray Thomson W. Epidemiology of oral health conditions in older people.
Gerodontology. 2014;31 Suppl 1:9-‐16.
29. Okamoto N, Morikawa M, Okamoto K, Habu N, Hazaki K, Harano A, et al.
Tooth loss is associated with mild memory impairment in the elderly: The
Fujiwara-‐kyo study. Brain Research. 2010:68-‐75.
30. Luo J, Wu B, Zhao Q, Guo Q, Meng H, Yu L, et al. Association between tooth
loss and cognitive function among 3063 Chinese older adults: a community-‐based
study. PLoS One. 2015;10(3):e0120986.
31. Gatz M. Potentially modifiable risk factors for dementia in identical twins.
Alzheimer’s & Dementia. 2006;2:110–7.
32. Cotti E, Dessi C, Piras A, Mercuro G. Can a chronic dental infection be
considered a cause of cardiovascular disease? A review of the literature. Int J
Cardiol. 2011;148(1):4-‐10.
26
33. Stewart R, Stenman U, Hakeberg M, Hagglin C, Gustafson D, Skoog I.
Associations between oral health and risk of dementia in a 37-‐year follow-‐up study:
the prospective population study of women in Gothenburg. J Am Geriatr Soc.
2015;63(1):100-‐5.
34. Martande SS, Pradeep AR, Singh SP, Kumari M, Suke DK, Raju AP, et al.
Periodontal health condition in patients with Alzheimer's disease. Am J Alzheimers
Dis Other Demen. 2014;29(6):498-‐502.
35. Matthews JC, You Z, Wadley VG, Cushman M, Howard G. The association
between self-‐reported tooth loss and cognitive function in the REasons for
Geographic And Racial Differences in Stroke study: an assessment of potential
pathways. J Am Dent Assoc. 2011;142(4):379-‐90.
36. Naorungroj S, Schoenbach VJ, Wruck L, Mosley TH, Gottesman RF, Alonso A,
et al. Tooth loss, periodontal disease, and cognitive decline in the Atherosclerosis
Risk in Communities (ARIC) study. Community Dent Oral Epidemiol.
2015;43(1):47-‐57.
37. Nordenram G, Ryd-‐Kjellen E, Johansson G, Nordstrom G, Winblad B.
Alzheimer's disease, oral function and nutritional status. Gerodontology.
1996;13(1):9-‐16.
38. Zhu J, Li X, Zhu F, Chen L, Zhang C, McGrath C, et al. Multiple tooth loss is
associated with vascular cognitive impairment in subjects with acute ischemic
stroke. J Periodontal Res. 2015;50(5):683-‐8.
39. Xu X, Cao B, Wang J, Yu T, Li Y. Decision-‐making deficits associated with
disrupted synchronization between basolateral amygdala and anterior cingulate
cortex in rats after tooth loss. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry.
2015;60:26-‐35.
40. Kondo H, Kurahashi M, Mori D, Iinuma M, Tamura Y, Mizutani K, et al.
Hippocampus-‐dependent spatial memory impairment due to molar tooth loss is
ameliorated by an enriched environment. Arch Oral Biol. 2016;61:1-‐7.
41. Savikko N, Saarela RK, Soini H, Muurinen S, Suominen MH, Pitkala KH.
Chewing ability and dementia. J Am Geriatr Soc. 2013;61(5):849-‐51.
42. Felton DA. Complete Edentulism and Comorbid Diseases: An Update. J
Prosthodont. 2016;25(1):5-‐20.
27
43. Chen X, Clark JJ, Naorungroj S. Oral health in nursing home residents with
different cognitive statuses. Gerodontology. 2013;30(1):49-‐60.
44. Zusman SP, Ponizovsky AM, Dekel D, Masarwa AE, Ramon T, Natapov L, et al.
An assessment of the dental health of chronic institutionalized patients with
psychiatric disease in Israel. Spec Care Dentist. 2010;30(1):18-‐22.
45. Narita N, Kamiya K, Yamamura K, Kawasaki S, Matsumoto T, Tanaka N.
Chewing-‐related prefrontal cortex activation while wearing partial denture
prosthesis: pilot study. J Prosthodont Res. 2009;53(3):126-‐35.
46. Hiltunen K, Vehkalahti MM, Mantyla P. Is prosthodontic treatment age-‐
dependent in patients 60 years and older in Public Dental Services? J Oral Rehabil.
2015;42(6):454-‐9.
47. Banu RF, Veeravalli PT, Kumar VA. Comparative Evaluation of Changes in
Brain Activity and Cognitive Function of Edentulous Patients, with Dentures and
Two-‐Implant Supported Mandibular Overdenture-‐Pilot Study. Clin Implant Dent
Relat Res. 2015.
48. Lexomboon D, Trulsson M, Wardh I, Parker MG. Chewing ability and tooth
loss: association with cognitive impairment in an elderly population study. J Am
Geriatr Soc. 2012;60(10):1951-‐6.
49. Hansson P, Sunnegardh-‐Gronberg K, Bergdahl J, Bergdahl M, Nyberg L,
Nilsson LG. Relationship between natural teeth and memory in a healthy elderly
population. Eur J Oral Sci. 2013;121(4):333-‐40.
50. Peres MA, Bastos JL, Watt RG, Xavier AJ, Barbato PR, D'Orsi E. Tooth loss is
associated with severe cognitive impairment among older people: findings from a
population-‐based study in Brazil. Aging Ment Health. 2015;19(10):876-‐84.
51. Onozuka M, Watanabe K, Nagasaki S, Jiang Y, Ozono S, Nishiyama K, et al.
Impairment of spatial memory and changes in astroglial responsiveness following
loss of molar teeth in aged SAMP8 mice. Behav Brain Res. 2000;108(2):145-‐55.
28
Agradecimentos
Quero agradecer à minha orientadora a professora Maria de Lurdes Pereira pela disponibilidade, ajuda, paciência e apoio ao longo da realização desta tese.
Aos meus pais pelo papel imprescindível na realização desta tese e por estarem sempre lá para mim, pelo carinho, pelo incentivo e por sempre me motivarem a dar o meu melhor e ser persistente.
À minha irmã pela amizade e companheirismo.
Ao meu irmão por estar sempre presente quando preciso.
Aos meus colegas Emanuel Gomes, Andreia Carneiro, Vânia Pereira, Catarina Pereira e Ana Freitas por terem realizado este percurso na FMDUP comigo e o terem tornado tão especial e memorável. Também à Ana Catarina Silva por toda a amizade nestes últimos tempos.
À minha binómia Catarina Silva por todos os momentos de aprendizagem juntas ao longo destes anos.
À Margarida, à Marta e à Sílvia por serem tão especiais para mim, por todas as nossas aventuras e por saber que quando preciso posso sempre contar com vocês.