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1 A INFLUÊNCIA DA INCERTEZA SUBJETIVA NA ADOÇÃO DE SISTEMAS DE CONTROLE GERENCIAL EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR Fellipe André Jacomossi Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau FURB Endereço: Rua Antônio da Veiga, 140, Sala D 202, Bairro Victor Konder, CEP 89012- 900, Blumenau/SC Brasil, Fone: (47) 3321-0565, E-mail: [email protected] Márcia Zanievicz da Silva Doutora, Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Regional de Blumenau FURB Endereço: Rua Antônio da Veiga, 140, Sala D 202, Bairro Victor Konder, CEP 89012- 900, Blumenau/SC Brasil, Fone: (47) 3321-0565, E-mail: [email protected] RESUMO O objetivo da pesquisa consistiu em investigar como a percepção dos gestores quanto à incerteza do ambiente influencia a adoção de Sistemas de Controle Gerencial (SGC) em uma Instituição de Ensino Superior (IES). A pesquisa se caracteriza como qualitativa, descritiva, onde realizou-se um estudo de caso em uma IES da Região Sul do Brasil. Buscou-se por meio da triangulação de dados, a obtenção de uma maior confiabilidade as informações evidenciadas, efetuando-se análises documentais, entrevistas e o confronto das concepções teóricas com as narrativas, circunstâncias, acontecimentos e comportamentos identificados durante o estudo de caso. Os resultados demonstram que, na percepção dos gestores, tanto a Incerteza de Estado, de Efeito e de Resposta influenciam na adoção de SGC, no entanto, as características de cada categoria de incerteza causam necessidades distintas na utilização de Técnicas de Controle Gerencial. Dentre as Técnicas de Controle evidenciadas, onze caracterizam-se como Tradicionais e quatro como Contemporâneas. Palavras-chave: Incerteza Ambiental; Sistemas de Controle Gerencial; Instituição de Ensino Superior. Área temática do evento: Controladoria e Contabilidade Gerencial (CCG). 1 INTRODUÇÃO Desde meados dos anos 1960, a investigação da evolução provável do ambiente de negócios tem sido considerada como uma área relevante de pesquisa em âmbito organizacional. Os gestores, de maneira geral, possuem uma visão restrita aos fatores exógenos, ficando sujeitos a possíveis contingentes do ambiente externo (LAWRENCE; LORSCH, 1967; DUNCAN, 1972). Esta condição de incerteza pode afetar as organizações de diversas formas, seja na implantação de novas estratégias, desenvolvimento de projetos e processos de tomada de decisão. Embora diversos mecanismos de controle sejam adotados pelos gestores e implantados nas empresas, os determinantes do ambiente que influenciam estas práticas, assim como sua real efetividade, continuam sendo debatidos no âmbito acadêmico (STARBUCK; MILLIKEN, 1988; OYADOMARI et al., 2011; HAMMAD; JUSOH; GHOZALI, 2013). O que se observa, na atualidade, é que a incerteza ambiental continua a ser um tema amplamente discutido no estudo das organizações e suas estratégias, constituindo-se como uma variável importante para a avaliação e o processo de decisão gerencial (ASHILL; JOBBER, 2010). Nas corporações contemporâneas, é vista como uma questão-chave para que os tomadores de decisão sustentem as vantagens competitivas ao longo do tempo (VECCHIATO,

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A INFLUÊNCIA DA INCERTEZA SUBJETIVA NA ADOÇÃO DE SISTEMAS DE

CONTROLE GERENCIAL EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

Fellipe André Jacomossi

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade

Regional de Blumenau – FURB

Endereço: Rua Antônio da Veiga, 140, Sala D 202, Bairro Victor Konder, CEP 89012-

900, Blumenau/SC – Brasil, Fone: (47) 3321-0565, E-mail: [email protected]

Márcia Zanievicz da Silva

Doutora, Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Regional de Blumenau – FURB

Endereço: Rua Antônio da Veiga, 140, Sala D 202, Bairro Victor Konder, CEP 89012-

900, Blumenau/SC – Brasil, Fone: (47) 3321-0565, E-mail: [email protected]

RESUMO

O objetivo da pesquisa consistiu em investigar como a percepção dos gestores quanto à

incerteza do ambiente influencia a adoção de Sistemas de Controle Gerencial (SGC) em uma

Instituição de Ensino Superior (IES). A pesquisa se caracteriza como qualitativa, descritiva,

onde realizou-se um estudo de caso em uma IES da Região Sul do Brasil. Buscou-se por meio

da triangulação de dados, a obtenção de uma maior confiabilidade as informações evidenciadas,

efetuando-se análises documentais, entrevistas e o confronto das concepções teóricas com as

narrativas, circunstâncias, acontecimentos e comportamentos identificados durante o estudo de

caso. Os resultados demonstram que, na percepção dos gestores, tanto a Incerteza de Estado, de

Efeito e de Resposta influenciam na adoção de SGC, no entanto, as características de cada

categoria de incerteza causam necessidades distintas na utilização de Técnicas de Controle

Gerencial. Dentre as Técnicas de Controle evidenciadas, onze caracterizam-se como

Tradicionais e quatro como Contemporâneas.

Palavras-chave: Incerteza Ambiental; Sistemas de Controle Gerencial; Instituição de Ensino

Superior.

Área temática do evento: Controladoria e Contabilidade Gerencial (CCG).

1 INTRODUÇÃO

Desde meados dos anos 1960, a investigação da evolução provável do ambiente de

negócios tem sido considerada como uma área relevante de pesquisa em âmbito organizacional.

Os gestores, de maneira geral, possuem uma visão restrita aos fatores exógenos, ficando sujeitos

a possíveis contingentes do ambiente externo (LAWRENCE; LORSCH, 1967; DUNCAN,

1972). Esta condição de incerteza pode afetar as organizações de diversas formas, seja na

implantação de novas estratégias, desenvolvimento de projetos e processos de tomada de

decisão. Embora diversos mecanismos de controle sejam adotados pelos gestores e implantados

nas empresas, os determinantes do ambiente que influenciam estas práticas, assim como sua

real efetividade, continuam sendo debatidos no âmbito acadêmico (STARBUCK; MILLIKEN,

1988; OYADOMARI et al., 2011; HAMMAD; JUSOH; GHOZALI, 2013).

O que se observa, na atualidade, é que a incerteza ambiental continua a ser um tema

amplamente discutido no estudo das organizações e suas estratégias, constituindo-se como uma

variável importante para a avaliação e o processo de decisão gerencial (ASHILL; JOBBER,

2010). Nas corporações contemporâneas, é vista como uma questão-chave para que os

tomadores de decisão sustentem as vantagens competitivas ao longo do tempo (VECCHIATO,

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2012). Neste contexto, a utilização dos Sistemas de Controle Gerenciais (SCGs) pode auxiliar

na captação de informações para o monitoramento e controle organizacional. Com metas

traçadas, os resultados podem ser comparados e as variações corrigidas de maneira a minimizar

as ameaças inerentes às incertezas do ambiente (SIMONS, 1995).

Assim como em outros nichos de mercado, as incertezas ambientais são evidenciadas

na literatura e no dia a dia das Instituições de Ensino Superior (IES), haja vista os riscos e

oscilações inerentes ao crescente mercado de ensino na qual encontram-se inseridas (CLARK,

1997). O ambiente das Instituições de Ensino Superior vem sendo caracterizado pela mudança

e turbulência, onde seus administradores têm testemunhado grandes alterações no ambiente

organizacional, estando este cada vez mais competitivo e global. Se não forem desenvolvidas

posturas proativas por parte dos gestores das IES, no sentido de planejar soluções para

dificuldades, tais como a flutuação de matrículas, a distribuição demográfica dos estudantes e

o surgimento de novas instituições, o financiamento destas entidades pode se tornar

inconsistente. Assim, a investigação das incertezas no âmbito do controle gerencial das IES

torna-se relevante frente às constantes mudanças percebidas neste (HINTON, 2012). Nesta

perspectiva, a questão problema que norteia o estudo é: como a incerteza ambiental percebida

pelos gestores influencia a adoção de Sistemas de Controle Gerencial em uma IES? Desta

forma, o objetivo da pesquisa consistiu em investigar como a percepção dos gestores quanto à

incerteza do ambiente influencia a adoção de Sistemas de Controle Gerencial em uma IES.

A realização do estudo justifica-se pelo ambiente cada vez mais competitivo em que as

Instituições de Ensino Superior desenvolvem suas atividades, haja vista o alto crescimento na

demanda de serviços educacionais. Consequentemente, estas entidades devem utilizar sistemas

de controle para se orientarem frente as incertezas ambientais e adquirir vantagens competitivas

frente aos seus concorrentes. Embora as pesquisas no setor industrial tenham encontrado

evidências sobre as percepções de incerteza dos gestores, no âmbito da educacional, diversos

autores reiteram a necessidade de ampliar o entendimento sobre o assunto (CONWAY;

MACKEY; YORK, 1994; SCHECHTER; ASHER, 2012). A pesquisa justifica-se, também, por

contribuir com estudos que focalizam a incerteza ambiental percebida pelos gestores, no

ambiente organizacional, frente aos processos de tomada de decisão. Desta forma, estudos

relacionados às incertezas ambientais têm implicações significativas para o desenvolvimento

das estratégias organizacionais (LEWIS; HARVEY, 2001). Estudos anteriores como Bowen

(2000), Brunnermeier e Levinson (2004), Tarui e Polasky (2005), Rothenberg (2007),

enfatizam o alto nível de incerteza enfrentado pelos gestores quando se confrontam com

questões relacionadas com o ambiente natural, sendo tais aspectos fundamentais no processo

de tomada de decisão estratégica.

2 REFERÊNCIAL TEÓRICO

2.1 Incerteza Ambiental

A incerteza e o risco nunca estiveram propriamente separados. A incerteza possui

particularidades subjetivas, o que está intrinsicamente ligado a processos intuitivos, onde o

tomador de decisão acaba baseando-se em julgamentos próprios e experiências vivenciadas

(KNIGHT, 1921). No mesmo contexto, Luce e Raiffa (1957), definem a incerteza como uma

condição em que não se sabe as chances de determinado resultado se concretizar, visão esta

oposta às situações de risco, onde os possíveis efeitos podem ser mensurados e geridos. Por sua

vez, Power (2007), considera que a incerteza é transformada em risco quando se torna um

objetivo de gestão, mesmo que o grau de informação sobre sua probabilidade de ocorrência seja

baixo. Sendo assim, devido às condições de incerteza, a literatura tem destacado que as

organizações devem adaptar-se continuamente ao seu ambiente (LAWRENCE; LORSCH,

1956; DILL, 1958; DUNCAN, 1972; MILLIKEN, 1987; 1990; MILLER, 1992; 1993).

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Para Duncan (1972) o ambiente organizacional pode ser descrito como a totalidade dos

fatores físicos e sociais que envolvem o comportamento e tomada de decisão dos indivíduos

em uma organização. Desta forma, o ambiente interno é composto pelos fatores físicos e sociais

relevantes dentro dos limites da organização e o ambiente externo é composto pelos fatores

além destes limites. Os componentes do ambiente interno e externo das organizações, segundo

Duncan (1972) são sumarizados no Quadro 1.

Quadro 1 - Fatores e componentes do ambiente interno e externo

Ambiente Interno Ambiente Externo

1- Componente: pessoal 4- Componente: clientes

a) formação educacional e tecnológica;

b) habilidade tecnológica e gerencial anterior;

c) envolvimento e comprometimento individual dos

com as metas a serem alcançadas;

d) estilos de comportamento interpessoal;

e) disponibilidade de recursos humanos para a

utilização dos sistemas.

a) distribuidores de produto ou serviço;

b) usuários reais de produtos ou serviço.

5) Componente: fornecedores

a) novos fornecedores de materiais;

b) fornecedores de equipamentos;

c) fornecedores de componentes de produtos;

d) oferta de trabalho.

2- Componente: funcionalidade organizacional e

unidades de equipes

a) características tecnológicas das unidades

organizacionais;

b) interdependência das unidades organizacionais na

efetivação dos seus objetivos;

c) conflito intra-unidade entre as unidades de equipe

na organização.

d) o conflito inter-unidade entre as unidades de

equipes na organização.

6) Componente: concorrentes

a) concorrentes para fornecedores;

b) concorrentes para clientes.

7) Componente: sócio-político a) controle regulamentar do governo sobre a

indústria;

b) atitude política pública para a indústria e seu

produto em particular;

c) relacionamento com os sindicatos com jurisdição

na organização.

3- Componente: nível organizacional

a) objetivos e metas organizacionais;

b) processo integrativo de indivíduos e grupos na

máxima contribuição para atingir os objetivos

organizacionais;

c) natureza do serviço/produto da organização

8) Componente: tecnológico

a) conhecer novos requerimentos tecnológicos da

própria indústria e indústrias relacionadas na

produção de produtos e serviços;

b) melhoria e desenvolvimento de novos produtos

através da implementação de novos avanços

tecnológicos na indústria. Fonte: Duncan (1972).

Segundo Duncan (1972), o ambiente interno é formado pelos componentes pessoal,

funcionalidade organizacional e unidades de equipe e nível organizacional. Já o ambiente

externo, constitui-se dos componentes clientes, fornecedores, concorrentes, sócio-político e

tecnológico. Assim, a falta de informação por parte dos gestores sobre estes fatores ambientais,

associados às decisões tomadas em determinadas circunstancias, dificultam a compreensão dos

ambientes organizacionais por parte dos tomadores de decisão (DUNCAN, 1972).

No entanto, Milliken (1987), destaca que ocorre uma inadequação conceitual na

literatura relacionada à incerteza ambiental, relatando que autores como Lawrence e Lorsch

(1967), Duncan (1972), Downey e Slocum (1975), Hubber, O’Connel e Cummings (1975), que

objetivaram mensurar os aspectos da incerteza ambiental a fim de ampliar a compressão sobre

o tema, possuem entendimentos distintos quanto a natureza das incertezas. Uma das fontes

causadoras de imprecisão na definição do termo incerteza ambiental, segundo Milliken (1987),

se deve ao fato que a expressão ser utilizada tanto para relatar o estado de incerteza em

ambientes organizacionais, quanto para descrever o estado de incerteza de um indivíduo que

constata a insuficiência de informações críticas a respeito do ambiente.

Para Milliken (1987), a incerteza se inicia na incapacidade do indivíduo em realizar

previsões acerca de circunstâncias inerentes ao ambiente organizacional. Sendo assim, propôs

um aprimoramento nas mensurações realizadas, definindo três categorias de incerteza

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ambiental, cada qual com suas respectivas peculiaridades: incertezas de estado, incertezas de

efeito e incertezas de resposta. A Incerteza de Estado representa basicamente a incapacidade de

prever-se a forma como os componentes do ambiente estão mudando. A Incerteza de Efeito

descreve a incapacidade de prever como alterações no ambiente irão influenciar a entidade. Por

sua vez, a Incerteza de Resposta caracteriza-se pela falta de visão sobre as opções de resposta,

dado um ambiente em constante mudança, ou ainda, a incapacidade de prever as prováveis

consequências de uma tomada de decisão (MILLIKEN, 1987; MILLIKEN, 1990).

As categorias propostas por Milliken (1987) implicam uma distinção conceitual entre

os tipos de incerteza em função da sua natureza. Cada categoria representa diferentes

características da falta de informação, desta forma, cada tipo de incerteza pode ter diferentes

implicações, bem como, produzir comportamentos distintos em cada indivíduo tomador de

decisão (MILLIKEN, 1990; GERLOFF; MUIR; BODENSTEINER, 1991; DOTY et al., 2006).

De acordo com Milliken (1990), pouco se sabe sobre como características

organizacionais influenciam o julgamento específico dos gestores ao interpretarem e

responderem as mudanças particulares de determinado ambiente organizacional. Em seu

estudo, examinou o efeito das categorias incerteza de estado, de efeito e de resposta sobre a

percepção de gestores de universidades e faculdades de Administração nos Estados Unidos,

quanto ao declínio no número de jovens de 18 a 22 anos. Os resultados indicaram que as

características organizacionais influenciam o processo de percepção ambiental. No estudo,

conforme as percepções dos gestores de organizações eficazes refletem mais claramente a

realidade, estes passam a perceber as mudanças ambientais como menos ameaçadoras para a

sobrevivência organizacional, comparativamente aos gestores de organizações ineficazes.

Gerloff, Muir e Bodensteiner (1991), objetivaram analisar a incerteza ambiental

percebida por gestores de projetos em seu processo de tomada de decisão. As percepções foram

analisadas dentro das três categorias idealizadas por Milliken (1987), a partir dos fatores de

Duncan (1972). Os resultados indicaram problemas em vários itens devido à baixa

confiabilidade do Alfa de Cronbach, para escala de incerteza de efeito. Segundo os autores, os

gestores respondem ao ambiente sequencialmente, primeiro com relação à incerteza de estado,

em seguida, preocupando-se com os efeitos da incerteza e como esta afeta a organização, para

então atentarem-se as incertezas de resposta. No entanto, assumem que a percepção da incerteza

não necessariamente se inicia a partir da incerteza de estado, visto que os gestores podem não

perceber tais incertezas até evidenciarem incertezas de efeito. A generalização dos resultados

obtidos foi limitada, em decorrência da amostra investigada.

Doty et al. (2006) buscaram investigar se as divergências observadas nas medidas de

incerteza ambiental obtidas por meio de documentos arquivados pelas organizações e aquelas

obtidas pela percepção dos indivíduos que a constituíram, eram advindas de erros de percepção

ou dos próprios artefatos metodológicos utilizados na medição destas variáveis. Em suas

hipóteses, os autores sugerem que tais divergências podem ser explicadas devido as diferenças

existentes na construção ambiental e nos artefatos de medição, ao invés de erro na percepção

por parte dos informantes, seja em virtude da amplitude, frequência ou previsibilidade de

mudanças em cada ambiente. Os resultados sugerem que a divergência observada entre as

medidas de incerteza ambiental pode refletir erros perceptivos dos gestores, ao invés de

diferenças reais ou atributos exclusivos das organizações. Os autores concluem que, embora

haja diferenças reais entre as medidas já documentadas e arquivadas pela organização e as

medidas informadas pelos gestores, a possibilidade de viés perceptivo não pode ser descartada.

Ashill e Jobber (2010) examinaram as relações entre incerteza de estado, efeito e

resposta em tomadas de decisão gerenciais por meio da percepção de altos executivos de

marketing. A coleta de dados se deu primeiramente através de entrevistas em profundidade, e

em um segundo momento, por questionários enviados via e-mail. Após análise estatística, os

resultados demonstram que embora conceitualmente distintos, as categorias de incerteza estão

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empiricamente relacionadas. As relações estatísticas encontradas seguem a sequência

idealizada por Gerloff, Muir e Bodensteiner (1991), incerteza de estado relaciona-se com

incerteza de efeito, e esta por sua vez, relaciona-se com a incerteza de resposta. Os autores

concluem que a percepção dos gestores quanto ao ambiente é dependente de sua percepção

quanto às incertezas de estado.

O ritmo acelerado das mudanças ambientais tem levado os gestores a adotarem

mecanismos de controle para adaptação organizacional às incertezas, no intuito de garantir a

consecução dos objetivos organizacionais. Tais mecanismos tem função ativa na inspeção,

monitoramento e controle organizacional (OTLEY, 1994), conforme passa-se a discorrer.

2.2 Sistemas de Controle Gerencial

Os Sistemas de Controle Gerenciais (SGCs) são sistemas que reúnem e utilizam

informações na avaliação do desempenho de diferentes recursos organizacionais como os

físicos, financeiros, de pessoal, assim como, a entidade como um todo, levando em

consideração suas estratégias. Desta forma, os SCGs influenciam o comportamento dos

recursos das empresas para implementar estratégias organizacionais (OTLEY, 1999).

Assim, o controle pode ser definido como o conjunto de métodos e instrumentos

utilizados pelos membros de uma organização no intuito de mantê-la em sua trajetória e atingir

seus objetivos. A importância do SCGs, no ambiente de negócios contemporâneo, reside na

necessidade das organizações utilizarem estes sistemas no alcance de vantagens competitivas

sobre os seus concorrentes. O SCGs é o processo pelo qual os gestores almejam garantir que os

recursos sejam obtidos e utilizados de forma eficaz e eficiente no cumprimento dos objetivos

da organização (LANGFIELD-SMITH, 1997).

Durante seu desenvolvimento, os SCGs foram abrangendo uma série de medidas de

desempenho não financeiras e conceitos alternativos de prestação de contas. Desta forma,

passaram a fornecer diversos meios de apoio as orientações estratégicas das organizações,

incentivando os esforços voltados para consecução dos objetivos e metas organizacionais

(MERCHANT; OTLEY, 2006).

Uma das bases conceituais bastante difundida na literatura contábil, com relação aos

SCGs é a idealizada por Simons (1995), e está dividida em quatro sistemas ou alavancas de

controle, os Sistemas de Crenças, Sistemas de Fronteiras, Sistemas de Controle Diagnóstico e

Sistemas de Controle Interativo (SIMONS, 1995, 2000). Os controles relacionados a alavanca

denominada Sistemas de Crenças, são utilizados para definir, comunicar e reforçar os

propósitos e valores básicos da organização, fornecendo inspiração aos indivíduos. A alavanca

de controle, denominada Sistemas de Fronteiras, abrange os controles que buscam estabelecer

limites e regras que devem ser respeitados e mantidos (SIMONS, 1995; 2000). Quanto ao

Sistemas de Controle Diagnóstico, são entendidos como os SCGs que proporcionam um

feedback formal no monitoramento dos resultados organizacionais, possibilitando assim a

correção de diferenças nos planos, no intuito de garantir a realização dos objetivos

organizacionais (SIMONS, 2000; BISBE; OTLEY, 2004).

Por fim, a alavanca de controle relacionada ao Sistema de Controle Interativo, está

voltada para o futuro, caracterizando-se pelo frequente diálogo entre gestores e subordinados,

possibilitando o envolvimento dos indivíduos da alta gestão nas atividades de seus

subordinados. Auxiliando as organizações a posicionarem-se estrategicamente frente ao

mercado dinâmico contemporâneo, voltando à atenção dos gestores para as incertezas

estratégicas (SIMONS, 2000; MARGINSON, 2002; BISBE; OTLEY 2004).

Todavia, a literatura contábil em âmbito gerencial sugere a não existência de um SGC

de aplicação universal, ou seja, que seja igualmente apropriado para o controle de gestão de

organizações atuantes nos mais diversos contextos e ambientes, mas que a escolha dos

procedimentos e técnicas de controle apropriados, decorre das circunstâncias que envolvem

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uma entidade específica (OTLEY, 1999). Neste sentido, as diferentes estruturas estratégicas

organizacionais tendem a originar configurações de SCGs distintos. Uma das opções ao

estabelecer-se uma estrutura de SCGs pode ser a análise de sua relação com o desempenho

organizacional, haja vista que uma estrutura apropria de controle normalmente tende a estar

relacionada a um maior desempenho, sendo tal relação associada as variáveis contingentes

como o ambiente, a tecnologia e a estratégia, por exemplo (AGUIAR; FREZATTI, 2007).

Desta forma, os SCGs podem ser constituídos de diversas técnicas de controle gerencial,

tais como sistemas orçamentários, sistemas de mensuração de desempenho e incentivo,

Balanced Scorecard (BSC), dentre outros. Tais técnicas são tradicionalmente agrupadas pela

literatura contábil em tradicionais e contemporâneas (CHENHALL; LANGFIELD-SMITH,

1998; FERREIRA, OTLEY, 2009) conforme observa no Quadro 2.

Quadro 2 – Classificação das técnicas de controle gerencial

Chenhall e Langfield-Smith (1998) Ferreira e Otley (2009)

Tradicionais Contemporâneas Tradicionais Contemporâneas

- Sistemas

Orçamentários para

Planejamento e

Controle

- Medidas de

Desempenho (ROI)

- Relatórios de Resultado

por Departamento

- Análise Custo-Volume-

Lucro

- Benchmarking

- Técnicas Baseadas em

Atividades (ABC e

ABM)

- Medidas de

Desempenho

Balanceadas

- Medidas de

Desempenho Baseadas

em Equipe

- Medidas Baseadas em

Empregados

- Planejamento

- Planejamento

Estratégico

- Orçamento

- Análise de Variação

Orçamentária

- Técnicas Tradicionais

de Custeio

- Análise de

Lucratividade do

Produto

- Tableau de Bord

- Lucro Residual

- Retorno sobre o

Investimento

- Análise Custo-Volume-

Lucro

- Técnicas de Pesquisa

Operacional

- Balanced Scorecard

- Orçamento Baseado em

Atividades

- Custeio Baseado em

Atividades

- Custeio Alvo

- Análise de

Lucratividade de

Cliente

- Economic Value Added

(EVA)

- Análise do Ciclo de

Vida do Produto

- Benchmarking

Fonte: adaptado de Aguiar e Frezatti (2007), Aguiar, Pace e Frezatti (2009).

Embora Ferreira e Otley (2009) tenham relatado um maior número de técnicas de gestão,

comparativamente a Chenhall e Langfield-Smith (1998), ambos estudos consideram que as

técnicas tradicionais caracterizam-se pelo seu aspecto histórico, onde as medidas financeiras

são agregadas e objetivam basicamente analisar a eficiência da organização, seus resultados e

controlar seus custos. Já as técnicas contemporâneas possuem uma abordagem mais holística

para implementação de técnicas e práticas de controle gerencial, possibilitando assim, o apoio

das prioridades estratégicas da organização, como a diferenciação e foco no cliente. Além disso,

essas medidas muitas vezes possibilitam pesquisas relativas ao clima organizacional, avaliação

da eficácia das inovações estruturais e políticas de gestão de recursos humanos (CHENHALL;

LANGFIELD-SMITH, 1998).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para investigar como a percepção dos gestores quanto a incerteza do ambiente influencia

à adoção de SCGs em uma IES, realizou-se uma pesquisa de caráter qualitativo, buscando-se

analisar e interpretar os aspectos da IES de modo mais aprofundado. Desta forma, a pesquisa

caracteriza-se como um estudo de caso (YIN, 2010; MARTINS; THEÓPHILO, 2009). Quanto

à abordagem de seu objetivo, apresenta-se como descritiva, buscando evidenciar e esclarecer

aspectos comuns e características de determinado fenômeno (RAUPP; BEUREN, 2006).

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A seleção do caso se deu de forma por critérios intencionais e de acessibilidade

(EISENHARDT, 1989). Realizou-se a pesquisa proposta, buscando-se por meio da triangulação

de dados, dar-se maior confiabilidade as informações evidenciadas (YIN, 2010). Neste sentido,

inicialmente analisou-se por meio de pesquisa documental, os dados constantes dos

instrumentos de controle interno formalizados na IES, como código de conduta dos

colaboradores, planos orçamentários, planilhas de controle, planejamento estratégico, dentre

outros memorandos e documentos. Para Pimentel (2001) este tipo de pesquisa, trata-se da busca

de informações e dados por meio de bases documentadas.

Na sequência, realizaram-se 4 entrevistas semiestruturadas (MARCONI; LAKATOS,

2011) com os membros da alta gestão da organização da IES, sendo eles o Reitor, Pró-Reitor

de Administração, Pró-Reitor de Ensino de Graduação e Pró-Reitor de Pós-Graduação,

Pesquisa e Extensão. A seleção dos entrevistados conforme especificado, ocorreu após a análise

do organograma da IES. Os selecionados caracterizam-se como os principais tomadores de

decisão organizacional, sendo a percepção destes indivíduos o foco abordado pela pesquisa.

As entrevistas, realizadas de forma semiestruturada, foram divididas em 4 blocos

denominados, respectivamente: Contextualização do Ambiente da IES; Incertezas de Estado;

Incertezas Efeito; Incertezas de Resposta. Dentro de cada bloco, realizou-se perguntas voltadas

para as referidas temáticas propostas, no entanto, sem divulgar-se estas nomenclaturas e

informações aos entrevistados, evitando-se um possível viés nas respostas.

Conforme Martins e Theóphilo (2009), no estudo de caso, a elaboração e consecução

das entrevistas, bem como, a análise dos dados, devem ser orientadas pelo constructo de

pesquisa. Sendo assim, elaborou-se um constructo, nele evidencie-se o objetivo previamente

traçado, destaca-se as dimensões investigadas e as respectivas categorias de análise. O Quadro

3 sintetiza o constructo da pesquisa. Quadro 3 – Constructo da pesquisa

Objetivo da

pesquisa

Dimensão Categorias Estudos relacionados

Investigar

como a

percepção dos

gestores

quanto à

incerteza do

ambiente

influencia a

adoção de

Sistemas de

Controle

Gerencial em

uma IES.

Incertezas

Ambientais

Ambiente interno e

externo

Duncan (1972)

Incerteza de Estado

Milliken (1987); Milliken (1990); Gerloff, Muir e

Bodensteiner (1991); Doty et al. (2006); Lombardi

e Brito (2010); Ashill e Jobber (2010)

Incerteza de Efeito

Milliken (1987); Milliken (1990); Gerloff, Muir e

Bodensteiner (1991); Doty et al. (2006); Lombardi

e Brito (2010); Ashill e Jobber (2010)

Incerteza de Resposta

Milliken (1987); Milliken (1990); Gerloff, Muir e

Bodensteiner (1991); Doty et al. (2006); Lombardi

e Brito (2010); Ashill e Jobber (2010)

Sistemas de

Controle

Gerencial

Técnicas de Controle

Tradicionais

Chenhall e Langfield-Smith (1998); Aguiar e

Frezatti (2007); Ferreira e Otley (2009); Aguiar,

Pace e Frezatti (2009)

Técnicas de Controle

Contemporâneas

Chenhall e Langfield-Smith (1998); Aguiar e

Frezatti (2007); Ferreira e Otley (2009); Aguiar,

Pace e Frezatti (2009)

Fonte: Dados da pesquisa.

Para atender ao objetivo de estudo são abordadas duas dimensões e suas respectivas

categorias de análise. Sendo assim, a dimensão Incertezas Ambientais, abrange as quatro

categorias de incertezas tratadas na revisão de literatura, Ambiente externo e interno, Incerteza

de Estado, Incerteza de Efeito e Incerteza de Resposta, seguidas pelos estudos relacionados que

envolveram tais categorias em suas análises. Quanto a dimensão Sistemas de Controle

Gerencial, ela é analisada nas categorias relacionadas as Técnicas de Controle Tradicionais e

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Técnicas de Controle Contemporâneas, bem como apresenta-se os principais autores que

serviram de sustentação para a elaboração do constructo e análise dos dados.

Para a análise dos dados emprega-se, conforme Freitas e Janissek (2000) e Gibbs (2009),

a técnica de análise de conteúdo, procedendo-se concomitantemente a triangulação conforme

preconizado por Yin (2010), para comparar-se as concepções teóricas abordadas a luz da

literatura relacionada à temática proposta, com as narrativas, documentos, circunstâncias,

acontecimentos e comportamentos identificados durante o estudo de caso.

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO CASO

A IES na qual o estudo foi realizado, é uma instituição sem fins lucrativos de caráter

comunitário, criada na década de 1970 e localizada na Região Sul do Brasil. Sua área de

abrangência em termos de captação de alunos é cerca de 20 municípios, possuindo atualmente

cerca de 3 mil alunos.

4.1 Contextualização do Ambiente da IES

A IES analisada oferta atualmente 20 cursos de graduação entre bacharelados,

tecnológicos e de licenciatura, 18 cursos de especialização, e ainda, mais de 30 cursos de curta

duração, conforme identificou-se nos documentos analisados.

Ao longo dos anos vem adaptando-se ao novo ambiente mercadológico no âmbito do

ensino, reformulando e implementando novas estratégicas. Neste sentido, encontra-se em obras

para a ampliação de seu campus principal, com a criação de um novo bloco com capacidade

para 16 novas salas, com a possibilidade futura de expansão vertical da estrutura e ainda, 2

novos laboratórios que serão utilizados pelos cursos de Engenharia Civil e Mecânica. Ainda no

que diz respeito a infraestrutura, adquiriu recentemente um terreno fronteiriço com cerca de

100.000 m², prevendo expansões futuras. No que se refere aos planos de desenvolvimento a

nível de ensino, almeja para os próximos 20 anos transformar-se em Universidade, passando a

ofertar Programas de Pós-Graduação stricto sensu.

O ambiente da IES foi identificado basicamente por meio dos fatores e componentes

que compreendem o ambiente interno e externo de uma organização, idealizado por Duncan

(1972), conforme descrito anteriormente no Quadro 1. Com relação ao ambiente interno, mais

especificamente ao componente pessoal, a IES analisada passou por uma reformulação de

pessoal no ano de 2011, data em que os novos membros da Reitoria assumiram seus cargos. De

forma geral, a formação acadêmica e profissional da atual gestão, em termos de titulação, é

superior se comparada a gestão antecessora, a qual havia permanecido na gestão da IES por 12

anos. A disponibilidade de recursos humanos com habilidades tecnológicas para o

gerenciamento das atividades e utilização dos sistemas também é maior atualmente.

A funcionalidade organizacional se dá por meio de três grandes subdivisões no

organograma da IES, todas estas subordinadas a Reitoria Geral, são elas: a Pró-Reitoria de

Administração, Pró-Reitoria de Ensino e Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão. Cada uma gerida

por um Pró-Reitor que é responsável pelo planejamento, execução e cumprimento das metas e

objetivos organizacionais a serem atingidos, dentro de cada setor pertencente a sua subdivisão.

De acordo com o Reitor, a estratégia adotada pela IES para consolidação dos programas

já existentes, assim como o fortalecimento dos programas em desenvolvimento é o foco na

qualidade de ensino, intensificando assim sua declaração de missão, visão, princípios e valores

institucionais, que de maneira sintética visam o desenvolvimento do ser humano e o

comprometimento com a qualidade do ensino-aprendizagem, atuando na produção do

conhecimento para o bem comum.

No intuito de cumprir as metas institucionais, o processo integrativo de indivíduos e

grupos na contribuição para o alcance dos objetivos organizacionais da IES, o Reitor afirma

que “justamente devido à natureza dos serviços prestados, que é o ensino, nossa visão é a de

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desenvolver seres humanos com qualidade de vida”. Desta forma, a IES vem buscando

transmitir esta qualidade por meio da educação e os processos a ela inerentes.

No que se refere aos fatores do ambiente externo da IES, o componente cliente é

constituído, segundo o Reitor, basicamente pelos alunos regulares e não regulares dos cursos

ofertados, sendo estes os principais usuários dos serviços prestados. Os fornecedores por sua

vez, são os provisores de produtos de uso e consumo regulares da IES. Pode-se citar como

principais fornecedores, empresas de geração de energia, telefonia, materiais educacionais,

acervo bibliográfico, softwares e patentes.

Quanto aos concorrentes, estes caracterizam-se, pelas demais IES localizadas nas

proximidades da instituição analisada, no entanto, estas não possuem o mesmo porte em termos

de estrutura, corpo docente e variedade de cursos, segundo o Reitor.

O componente sócio-político é influenciado principalmente pelas avaliações externas

realizadas pelo Ministério da Educação (MEC), como o Exame Nacional de Desempenho de

Estudantes (ENADE), realizado trienalmente, que compõe um dos quesitos geradores do Índice

Geral de Cursos (IGC), indicador criado pelo MEC para avaliar a qualidade das instituições. E

ainda, por tratar-se de uma instituição de ensino comunitária, prestando desta forma serviços

de interesse público, os organismos governamentais e de classe da região também influenciam

no cotidiano da IES, tendo inclusive cargos no Conselho Curador da instituição.

Com relação ao componente tecnológico, devido as constantes mudanças provocadas,

principalmente, pelas tecnologias de comunicação, segundo o relato dos entrevistados, a IES

vem buscando trabalhar a prática consciente da cultura pedagógica digital interativa por meio

de seu Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Constatou-se que a instituição possui

diversos laboratórios de informática, além de laboratórios específicos como os de química,

física e engenharias. A partir de 2011, a instituição vem implementando novos softwares de

gestão, para integrar e socializar as informações entre os diversos setores, buscando otimizar o

processo tomada de decisão. Desde 2005, a instituição conta com uma Incubadora de Base

Tecnológica, instalada com recursos obtidos junto a Fundação de Ciência e Tecnologia de Santa

Catarina (FUNCITEC) e ao Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Santa Catarina

(SEBRAE/SC). O projeto tem como base estimular as iniciativas empreendedoras dos alunos

através de projetos de pesquisa e desenvolvimento de produtos ou serviços.

4.2 Incerteza de Estado

A incerteza de Estado, conforme descrito por Miliken (1987), refere-se a inabilidade ou

incapacidade dos gestores em prever os possíveis eventos futuros, ou seja, como os

componentes do ambiente estão mudando. A fim de minimizar tais incertezas e buscar

informações úteis para a tomada de decisão os gestores adotam SCGs.

Na perspectiva dos entrevistados, a informação necessária para minimizar e tentar

prever-se os possíveis contingentes futuros é de fato obtida por meio dos sistemas e controles

gerenciais, no entanto, por mais minucioso que sejam tais controles, admitem que certas

decisões acabam sendo tomadas devido a experiência e know-hall no ramo de gestão

educacional, haja vista a complexidade de determinadas situações ou até mesmo imprecisão de

certas informações.

Para o Reitor, a minimização de incertezas está diretamente relacionada a um bom

planejamento, sendo um dos principais instrumentos utilizados, para esse fim, pela IES “o Plano

de Desenvolvimento Institucional (PDI) onde o conselho gestor elabora as diretrizes que irão

orientar todas as ações da IES, desde desenvolvimento pedagógico, atividades acadêmicas,

estrutura organizacional, até filosofia de trabalho a qual irá se propor”.

No mesmo sentido, o Pró-Reitor de Administração aduz que o novo planejamento

estratégico elaborado por uma equipe de profissionais no ano de 2013, buscou envolver todos

os eixos da administração superior, abrangendo os objetivos estratégicos, aliados ainda aos

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sistemas financeiro e orçamentário, pontos cruciais para o sucesso de qualquer entidade que

busca antecipar-se no tempo e diminuir incertezas. Dentre as estratégias elencadas no

Planejamento Estratégico desenvolvido, o entrevistado destaca os investimentos em

infraestrutura, Ensino a Distância (EAD), ações e convênios voltados para internacionalização,

sustentabilidade financeira, criação de novos cursos e investimento em talentos humanos.

Todavia, o Pró-Reitor de Administração afirma que muitas informações são sim úteis

na previsão de incertezas ambientais futuras, “a fim de garantir as metas previamente traçadas

pela IES, diversas variáveis de desempenho são utilizadas para motivar os colaboradores no

alcance de seus objetivos específicos por exemplo”. A instituição possuí plano de cargos e

salários formalizado, projetos de educação continuada, pontua os professores por publicação de

artigos em periódicos, participação em eventos técnico-científicos, e ainda, por bons feedbacks

dos acadêmicos nas Avaliações Institucionais que ocorrem semestralmente.

Com relação aos SCGs que são utilizados para definir metas, averiguar o

desenvolvimento e gerir possíveis contingencias, destaca-se o orçamento, sendo este

desenvolvido de forma participativa, onde todos os colaboradores podem fazer sugestões e

reinvindicações por meio de seus chefes setoriais, e estes as fazem perante o Conselho

Administrativo da instituição. O orçamento é votado e aprovado pelo Conselho, sendo este

ainda, submetido à apreciação do Conselho Curador, que é formado por integrantes de diversas

entidades externas, tais como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Conselho Regional de

Contabilidade (CRC), Conselho Regional de Administração (CRA) e Prefeitura Municipal.

O orçamento também é utilizado como forma de controle e restrição a tomadas de

decisão, onde o Pró-Reitor de Administração possui, por meio de atribuições estatutárias,

limites de gastos extra orçamentários de até 6 salários mínimos, valores excedentes devem

obrigatoriamente serem levados a aprovação do Conselho Administrativo. Já contingencias

específicas, como por exemplo, envolvendo obrigações trabalhistas, possuem limite de R$

150.000,00. Valores excedentes devem obedecer os mesmos tramites de submissão e aprovação

pelo Conselho Administrativo, conforme descrito.

Assim como nos estudos de Milliken (1990) e Gerloff, Muir e Bodensteiner (1991), a

percepção e resposta dos gestores frente as Incertezas Ambientais enfrentadas, organizasse

sequencialmente, primeiro analisando-se o estado do ambiente, em seguida os possíveis efeitos

para organização, para assim decidir como responder a tais contingências.

4.3 Incerteza de Efeito

A incerteza de efeito é caracterizada pela falta de informação relacionada a incapacidade

de prever-se os efeitos das mudanças ambientais na própria organização (MILIKEN, 1987).

Com relação as habilidades dos entrevistados em atribuir probabilidades de mudança no

ambiente e monitorar tendências de mercado, o Reitor salienta que os diversos níveis

hierárquicos são envolvidos no processo de construção e desenvolvimento de estratégias, bem

como, no acompanhamento do desempenho destas, sendo que “até mesmo os acadêmicos são

diretamente consultados, semestralmente acontece um evento [...] onde os líderes e vice-líderes

de turmas são convidados a um bate papo informal, onde podem fazer perguntas, sugestões e

críticas a todos os elementos da IES”.

Quanto ao monitoramento de incertezas, o Pró-Reitor de Administração comenta que “o

fluxo de caixa da IES é avaliado normalmente de maneira semanal, no entanto em períodos de

matrícula e rematrícula, este controle chega a ser diário, haja vista que a inadimplência pode

comprometer fortemente o desenvolvimento de nossas atividades e estratégias”.

Já no âmbito de Pesquisa e Extensão Universitária, segundo o Pró-Reitor de Ensino,

Pesquisa e Extensão o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e Plano de Desenvolvimento

Institucional (PDI), são os norteadores principais das ações relativas a este setor na IES.

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Desde junho de 2014 a IES encontra-se em fase de implementação de um sistema

Business Intelligence (BI), onde todos os usuários e colaboradores poderão alimentar o sistema

e usufruir da compilação das informações de acordo com o nível de acesso que estes tiverem

ao sistema. Alguns riscos operacionais foram detectados de acordo com o Reitor da IES:

“quando assumimos a Instituição nós tínhamos várias ilhas, as informações eram

desencontradas de um setor para o outro, o que comprometia a efetividade das tomadas de

decisão”, estes fatores geravam diversas dificuldades na coleta de informações úteis para

tomadas de decisão. Afirma ainda que, antes as informações entre os setores não eram

compatíveis, os dados não conversavam entre si, ou seja, tomavam certas decisões com

informações incompletas. Segundo o Reitor, após diversos ajustes e implementações

tecnológicas, as informações dos setores estão sendo integradas e pretendem abranger a IES em

sua totalidade, ou seja, todos os setores irão compartilhar um banco de dados único, fazendo

com que a tomada de decisão seja pautada por informações fidedignas, aumentando a

possibilidade de êxito e diminuindo a incertezas.

De acordo com o Reitor, o sistema BI conseguirá capturar informações de qualquer

sistema já em utilização na IES, desde que estejam em um banco de dados estruturados,

transportando assim todos os dados para uma interface única. Estes dados após serem

recuperados podem gerar diversas provisões de situações e cenários. Por exemplo, surge a

necessidade de saber-se quantos alunos a IES possuía no ano de 2012, na primeira fase do curso

de Ciências Contábeis. O sistema resgata as informações, gera gráficos comparativos, mostra a

evolução dos índices, monta cenários de perspectivas futuras, facilitando a tomada de decisão

estratégica por parte dos gestores.

De maneira geral os entrevistados demonstraram certa convicção em suas previsões

quanto aos efeitos dos componentes e fatores ambientais antes de suas tomadas de decisão,

normalmente pautadas pelos controles gerenciais. No entanto, os gestores podem não perceber

determinadas Incertezas de Estado até a constatação de seus efeitos, como um novo concorrente

que pode vir a comprometer suas receitas de venda por exemplo, desta maneira, a Incerteza de

Efeito pode ser caracterizada como um dos principais impulsos para mudanças organizacionais,

conforme descrito por Ashill e Jobber (2010).

4.4 Incerteza de Resposta

A falta de visão sobra as opções de resposta, ou ainda, a inabilidade dos gestores em

prever os resultados de suas próprias decisões, descreve a Incerteza de Resposta idealizada por

Miliken (1987). Os entrevistados, de forma geral, afirmam considerar o maior número de

possibilidades de tomada de decisão, para a resolução de contingencias da IES relacionadas as

incertezas ambientais. Todavia, em casos específicos, declaram que avaliar com precisão cada

uma das alternativas à disposição seria impraticável, seja pelo vasto número de possibilidades

como pela necessidade de resposta ágil, os SCGs são adotados justamente para contribuir e

auxiliar o processo de planejamento, análise e tomada de decisão. O Pró-Reitor de Pesquisa e

Extensão, por exemplo, realiza reuniões mensais para avaliar um contexto macro das ações e

estratégias em desenvolvimento, por meio de relatórios desenvolvidos pelo setor, realiza-se o

acompanhamento dos resultados após cada ação. “Também desenvolvemos um método de

coleta de informações para realização de melhorias futuras” - aduz.

Já o Pró-Reitor de Ensino salienta que a IES monitora por meio de reuniões e discussões

com os professores em seus colegiados as estratégias desenvolvidas no âmbito educacional. Os

gestores da IES têm acesso, através dos sistemas informatizados da instituição, a todos os planos

de ensino, ementas, notas, avaliações individuais dos professores, dentre outras informações

que são utilizadas no intuito de manter os colaboradores comprometidos com a estratégia da

IES. O principal instrumento de gestão utilizando neste âmbito é a avaliação institucional, as

informações produzidas no desenvolvimento do processo avaliativo dão origem a diversos

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relatórios que orientam a tomada de decisão e melhorias da qualidade institucional. O processo

de avaliação é sistemático, de todas as instâncias que compõe a IES, visando o aperfeiçoamento

de seus processos e garantia da qualidade de ensino. Comenta ainda que no ano de 2014

formulou-se “o Guia do Coordenador, que funciona como uma espécie de manual onde

encontram-se as diversas atribuições e deveres dos docentes. De certa forma, o instrumento

delimita certas diretrizes, todavia, auxilia os colaboradores no cumprimento de suas atribuições

e aumenta a possibilidade de uma tomada de decisão correta pelos subordinados”.

Ainda na percepção do Pró-Reitor de Administração, de modo geral as crenças

organizacionais também auxiliam e influenciam na diminuição de incertezas de resposta. A

conscientização dos colaboradores, professores e alunos frente aos objetivos institucionais é

fundamental. São realizadas reuniões semanais entre coordenadores, professores e

colaboradores e Comunicados Internos (CIs) são enviados periodicamente. Na visão da Pró-

Reitora de Pesquisa e Extensão a missão é o alicerce para todas as ações da instituição, sendo

o norte para o acompanhamento e cumprimento das metas da IES.

Para o Reitor a partir do momento em que o indivíduo acredita nas crenças

organizacionais, onde são estabelecidos critérios e valores humanos relacionados aos

colaboradores, cada vez mais as crenças passam a delinear as atitudes das pessoas. A IES possui

ainda, código de conduta formalizado, que é utilizado para estabelecer limites no

comportamento de seus colaboradores.

Assim como no estudo de Ashill e Jobber (2010) as categorias de Incerteza de Estado,

Efeito e Resposta embora conceitualmente distintas demonstram-se empiricamente

relacionadas. A interpretação e percepção da incerteza ambiental pelos gestores normalmente

segue o padrão sequencial de categorias, conforme os achados de Gerloff, Muir e Bodensteiner

(1991). Além disso, o viés perceptivo dos gestores pode ser divergente daqueles obtidos por

meio dos artefatos de controle da organização (DOTY et al. 2006), o que pode gerar diferentes

percepções de Incerteza de Resposta.

4.4 Técnicas de Controle Gerencial Tradicionais e Contemporâneas

Todos os entrevistados afirmaram possuir controles formalizados e voltados para suas

incumbências especificas, desde técnicas mais avançadas até mesmo técnicas mais comuns

como relatórios de trabalho e planilhas. De acordo com os entrevistados, as principais Técnicas

de Controle Gerenciais adotadas pelas IES, são as seguintes, conforme Quadro 4.

Quadro 4 – Técnicas de Controle Gerenciais adotadas pela IES

Categorias Técnicas de Controle Gerencial

Tradicionais

Orçamento; Análise de Variação Orçamentária; Técnicas Tradicionais de

Custeio; Análise de Lucratividade; Fluxo de Caixa; Relatórios de Resultado

por Departamento; Planilhas e controles formalizados; Código de ética e

conduta formalizado; Planejamento Estratégico; Projeto Pedagógico

Institucional (PPI); Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI)

Contemporâneas Avaliação Institucional; Guia do Coordenador; Business Intelligence; Missão,

visão e objetivos organizacionais formalmente declarados

Fonte: dados da pesquisa.

Percebe-se que as Técnicas Tradicionais aparecem em maior número, totalizando onze

técnicas citadas. Já com relação as Técnicas Contemporâneas, constatou-se o uso de quatro

delas. Desta forma, pode-se considerar que a administração da IES é pautada fortemente por

procedimentos mais tradicionais, caracterizados pelo aspecto histórico e agregado das medidas

financeiras utilizadas. Todavia, mesmo que em menor escala, nota-se também a utilização de

Técnicas Contemporâneas mais abrangentes, com abordagem voltada para implementação de

procedimentos e estratégias de controle gerencial.

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Após a identificação dos componentes do ambiente interno e externo da IES e frente as

Incertezas Ambientais explanadas pelos gestores, observa-se que as Técnicas Contemporâneas

são pouco utilizadas na entidade estudada se comparadas as Técnicas Tradicionais, apesar da

ênfase dada pelos entrevistados na utilização de técnicas holísticas, de caráter mais flexível e

abrangente. Constata-se que as informações utilizadas pela IES são gerenciadas, em sua maior,

parte por Sistemas de Controle Diagnóstico, enquanto a alavanca de Sistemas de Controles

Interativos é evidenciada em menor escala.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A rapidez e o volume das mudanças no ambiente das organizações resultam em um

menor tempo de resposta, em que os gestores possam analisar e formular estratégias adequadas

as novas tendências do mercado. Além disso, os riscos e as incertezas envolvidos na tomada de

decisão frente as incertezas ambientais tem se intensificado.

Conforme identificado no decorrer da pesquisa, a literatura aduz que assim como as

demais organizações, as mudanças no ambiente das IES também são evidenciadas. Em suma,

a turbulência no ambiente do ensino superior, a crescente demanda de estudantes e a expansão

das IES, desafia a capacidade dos tomadores de decisão em antecipar-se efetivamente as

condições de incerteza. As IES, são percebidas como sistemas sociais que interagem com seus

ambientes, sendo impactadas pelos fatores endógenos e exógenos deste universo.

Os fenômenos relacionados a Incerteza Ambiental no âmbito das IES tem levado os

teóricos organizacionais a um reconhecimento cada vez maior da necessidade da utilização dos

SCGs no que se refere a análise do ambiente e gestão das organizações, bem como, para

desenvolvimento de políticas e estratégicas necessárias para que esta possa adaptar-se as

mudanças e incertezas de seu ambiente interno e externo.

Nesta perspectiva, a pesquisa objetivou investigar como a percepção dos gestores

quanto à incerteza do ambiente influencia a adoção de Sistemas de Controle Gerencial em uma

IES, desta forma, realizou-se um estudo de caso em uma IES da Região Sul do Brasil, a fim de

compreender-se de maneira mais abrangente as características de tal fenômeno.

Os resultados obtidos demonstram que a IES vem passando por diversas mudanças nos

componentes de seu ambiente nos últimos anos. A mudança de gestão ocorrida no exercício de

2011, o desenvolvimento de novo planejamento estratégico, no ano de 2013, visando os

próximos 20 anos da entidade, o foco nos objetivos e princípios organizacionais primando pelo

bem estar social e o desenvolvimento sustentável da comunidade na qual está inserida.

Infere-se que a Incerteza de Estado influência nas decisões dos gestores, haja vista que

estes afirmam não dispor totalmente das informações necessárias para sua tomada de decisão,

bem como que, conforme prevê a literatura, a adoção de SCGs auxilia a atribuição de

probabilidades e provisões na tentativa de prever-se cenários e incertezas futuras e auxiliar as

tomadas de decisão.

A Incerteza de Efeito, assim como sugere a literatura, é percebida justamente na falta

de informação e inabilidade dos gestores em relacionar as mudanças no ambiente da IES, com

os possíveis efeitos colaterais que este irá gerar na entidade. Para minimizar possíveis impactos,

os diversos níveis hierárquicos da instituição são envolvidos no processo de desenvolvimento

de estratégias, principalmente por meio de SCGs como o Planejamento Estratégico, PPI e PDI.

E ainda, atualmente a IES passa por uma nova implementação tecnológica, iniciada com a

aquisição de um novo sistema de Business Inteligence (BI), que, segundo os gestores, auxiliará

a integração da informação entre os setores e otimizará o processo de tomada de decisão.

Com relação à Incerteza de Resposta, na percepção dos entrevistados, as chances de se

determinar os efeitos das decisões tomadas aumentam com a adoção dos SCGs, no entanto,

muitas vezes, devido a vasta possibilidade de respostas possíveis frente a determinadas

contingencias, avaliar com precisão cada uma das possibilidades se torna impraticável. Um

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importante fator considerado para diminuição da Incerteza de Resposta são as crenças

organizacionais, deste modo, reuniões mensais são realizadas com os colaboradores da entidade

para avaliar um contexto macro das ações e estratégias em desenvolvimento.

Apesar dos entrevistados enfatizarem a utilização de técnicas holísticas e flexíveis,

percebeu-se uma maior utilização pela IES de SCGs enquadrados na categoria de Técnicas

Tradicionais. Desta forma, evidenciaram-se onze Técnicas Tradicionais citadas no decorrer do

estudo de caso e somente quatro Técnicas Contemporâneas.

Para pesquisas futuras recomenda-se a utilização destes três níveis de Incertezas

Ambientais para realização de pesquisas survey em IES, objetivando a mensuração da

percepção dos gestores a posterior análise estatística das relações e influencias entre as

categorias de incerteza.

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