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0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO BRASILEIRO CESAR MACHADO matrícula nº 102057583 Orientador:Antonio Luis Licha ABRIL 2011

A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

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Page 1: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO

DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO BRASILEIRO

CESAR MACHADO

matrícula nº 102057583

Orientador:Antonio Luis Licha

ABRIL 2011

Page 2: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO

DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO BRASILEIRO

______________________________________________________

CESAR MACHADO

matrícula nº 102057583

Orientador: Antonio Luis Licha

ABRIL 2011

Page 3: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

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As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor

Page 4: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

3

RESUMO

Este trabalho procura analisar como o crédito Brasileiro está sendo influenciado pela

securitização de recebíveis, permitindo um mercado imobiliário secundário, com mais

liquidez e de risco mais diversificado. Tudo isso surgindo a partir do SFI (Sistema Financeiro

Internacional), que atrelado a um ambiente macroeconômico mais favorável com crescimento

de renda real e queda nos juros, o valor geral de vendas de novas unidades imobiliárias

lançadas aumenta, assim como o volume de financiamentos imobiliários no sistema bancário .

Desta forma, aborda-se todo mecanismo de funcionamento, marco jurídico, história e riscos

da securitização de recebíveis e fundos de Investimento Imobiliário. Por fim mensura algumas

expectativas futuras e pontos ainda a desenvolver no setor.

Page 5: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

4

SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES

SFI Sistema Financeiro Internacional

SFH Sistema Financeiro de Habitação

CRI Certificados de Recebíveis Imobiliários

ABS Assed Backed Securities

SPE Sociedade de Propósito Específico

TILA Título de Investimento com Lastro em Ativos

DTI Debit to Income

LTV Loan to Value

CIBRASEC Companhia Brasileira de Securitização

LCI Letra de Crédito Imobiliário

LH Letra de Hipoteca

BNH Banco Nacional de Habitação

SBPE Sistema Brasileiro de Poupança e empréstimo

SCI Sociedade de Crédito Imobiliário

APE Associação de Poupança e Empréstimo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

FII Fundo de Investimento Imobiliário

CVM Companhia de Valores Mobiliários

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço

Page 6: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

5

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Crédito Imobiliário x PIB – Potencial de Alavancagem..........................9

Gráfico 2 Funcionamento de uma SPE...................................................................14.

Gráfico 3 Funcionamento de uma SPE no caso de Incorporação Imobiliária.........15

Gráfico 4 Exemplo de uma emissão de CRIs com base num fluxo de pagamento de

alugueis............................................................................................................. ..............19.

Gráfico 5 Fundos de renda com um locatário por imóvel........................................22.

Gráfico 6 Fundos de renda com vários locatários....................................................22.

Gráfico 7 Histórico de Fundos Imobiliários no Brasil.............................................28

Gráfico 8 Mecanismos de Recursos SFH................................................................29

Gráfico 9 Evolução Taxa de Juros e Relação Oferta de Crédito e PIB/ Poder de Compra e

taxa de desemprego.........................................................................................................31

Gráfico 11 Evolunção do Funding disponível para Fin. Imobiliário........................33

Page 7: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

6

ÍNDICE

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 08

I - SECURITIZAÇÃO ....................................................................................................... 10

I.1. – Conceito da Securitização ..................................................................................... 10

I.2. – Características necessárias a uma carteira de Recebíveis.....................................11

I.2.1 – Geração de Fluxo de Caixa.............................................................................12

I.2.2 – Qualidade dos recebíveis.................................................................................12

I.2.3 –Diversificação de Portfólios.............................................................................12

I.2.4 –Periodicidade de pagamentos..........................................................................12

I.2.5 –Homogeneidade.................................................................................................12

I.2.6 – Independência em relação ao originador......................................................13

I.3 - Sociedades de Propósito Específico...........................................................................13

I.4 - Etapas do processo de securitização de ativos via SPE ......................................... 14

I.5 - Riscos no Processo de Securitização ...................................................................... 16

I.5.1 - Risco de Crédito ......................................................................................... 16

I.5.2 - Risco de Preço ............................................................................................ 17

I.5.3 - Risco de Descasamento .............................................................................. 17

I.5.4 - Risco de Pré-Pagamento ............................................................................ 17

I.5.5 - Risco de Refinanciamento .......................................................................... 18

I.5.6 - Risco Pais .................................................................................................... 18

I.6 - Certificados de Recebíveis Imobiliários ................................................................. 18

I.7 -Fundos de Investimento Imobiliário ....................................................................... 19

Page 8: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

7

I.7.1 Principais Características ........................................................................... 19

I.7.2 - Fundos de renda de aluguel ....................................................................... 21

I.7.3 - Fundos de Desenvolvimento ...................................................................... 22

I.7.4 - Fundos de Investimento em Títulos Imobiliários ...................................... 23

II - MARCO JURÍDICO .............................................................................................. 25

II.1 - O Estabelecimento da alienação Ficuciária..................................................25

II.2 - A Companhia Securitizadora........................................................................25

II.3 - Certificados de Recebíveis Imobiliários.......................................................25

II.4 – Patrimonio de Afetação.................................................................................26

III O SFH e a emergência do SFI ............................................................................... 29

III.1 Principais Diferenças entre SFI e SFH........................................................30

III.2 - Condições no Cenário Contemporâneo ................................................... 30

CONCLUSÃO ................................................................................................................ 34

Page 9: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

8

INTRODUÇÃO

Observam-se no Brasil, alguns fatores que denunciam a carência de recursos para

investimentos com longo prazo de duração, Porter (2005) cita como exemplo os seguintes

obstáculos para realização e concretização de negócios no Brasil sendo eles: leis ineficientes,

corrupção, burocracia, infraestrutura precária, excessiva carga tributária, crime, políticas

públicas instáveis e restrições impostas por leis trabalhistas. Consequentemente um alto custo

de capital para o país, o que diminui a atratividade de investimentos produtivos e a oferta de

crédito, acarretando em obstáculos para o investimento imobiliário.

Apesar de tais fatos, consta que os brasileiros atribuem grande importância ao

investimento imobiliário, de acordo com a revista The Economist(2002):

“não só pela identificação de parte da independência de cada indivíduo ou família com propriedade da

casa própria, mas também por se mostrar uma alternativa de investimento mais segura e previsível, com

uma rentabilidade satisfatória, possibilitando uma renda para a aposentadoria, com o aluguel do

imóvel”. The Economist (p 20 Tradução Própria)

Assim, com a maior estabilidade econômica alcançada no Brasil nos últimos anos,

temos um mercado imobiliário em considerável expansão. Com contínuo crescimento de

renda real e queda nos juros, o valor geral de vendas de novas unidades imobiliárias lançadas

aumenta, assim como o volume de financiamentos imobiliários no sistema bancário. Esse

crescimento começa, entretanto, a impor dificuldades para a manutenção da evolução do

setor, como a breve escassez das linhas tradicionalmente direcionadas ao crédito imobiliário.

Nesse contexto, as ferramentas provenientes da securitização surgem como alternativa de

captação de recursos para as empresas brasileiras.

Desta forma os investidores acompanharam bem de perto o aumento das opções de

investimentos ligadas ao mercado imobiliário, inclusive de alternativas diferentes do conceito

tradicional desse tipo de investimento, até então caracterizado por vultosos volumes de

recursos aplicados em poucos (ou até em um único) empreendimentos. Quando temos o

investimento direto em imóveis, geralmente isto implica em custos de manutenção,

administração e tributação mais elevados, pouca flexibilidade de diversificação e liquidez

restrita já que poucos são os investidores que possuem recursos suficientes para aplicar

Page 10: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

9

diretamente em empreendimentos dessa natureza – um cenário que começa a mudar a partir

da criação de produtos financeiros lastreados por imóveis e ativos imobiliários (recebíveis,

cessão de aluguéis futuros, etc;) com a maior abrangência do SFI. Sendo este um dos

principais fatores que estimulou o surgimento no mercado do conceito de fundo imobiliário,

regulamentado pela legislação da década de 90 .

Verifica-se a influência da securitização no mercado de crédito imobiliário Brasileiro,

destacando as fontes tradicionais, limitadas e insuficientes como a poupança e o FGTS até o

surgimento de novos instrumentos que suportarão vertiginoso crescimento do mercado

imobiliário. Sendo eles os certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Letras de Crédito

Imobiliário (LCI) e Letra Hipotecária (LH).

Atrelado a isso, é observado que o Brasil passa por um momento favorável, por conta

do ambiente econômico que se encontra estável, capital humano cada vez mais qualificado,

ambiente institucional e regulatório favorável, melhoria na Governança Corporativa atrelado a

um sistema financeiro robusto, assim desencadiando um ambiente de investimento atrativo,

principalmente para o desenvolvimento do crédito. Este com um grande potecial de

alavancagem, como podemos verificar no gráfico abaixo, comparando a proporção do crédito

no PIB, se mostrando insignificante se comparado a outros países.

Gráfico 1 – Crédito Imobiliário x PIB – potencial de alavancagem.

Fonte: Bacen

Desta forma o objetivo central deste trabalho é estudar a securitização, como uma

forma de gerar créditos imobiliários e como está sendo explorada atualmente no mercado de

Brasileiro. Abordando a evolução do sistema de crédito imobiliário no Brasil, do surgimento

do SFH (Sistema Financeiro de Habitação) e posterior SFI , fazendo a comparação entre eles.

Page 11: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

10

E por conclusão final, identificando as qualidades do mercado brasileiro de securitização e

indicando como se pode trabalhar este mercado para sua melhora de liquidez.

I – SECURITIZAÇÃO

I.1. – Conceito da Securitização

De acordo com Lima Júnior (1998), a palavra securitização provém do inglês

securitization, e esta provém da palavra securities, que de acordo com a denominação de

Downes Goodman (1991), seria como uma mitigação de riscos através da ligação de dívidas

geradas por um grupo de ativos e a consequente emissão de títulos lastreados pelos mesmos.

A securitização forma-se por um leque de ativos (que podem ser financeiros ou não),

posteriormente vendidos a investidores. Todo o fluxo-de-caixa, atual ou futuro, pode ser

securitizado, por exemplo os empréstimos hipotecários, recebíveis de cartões de credito

financiamentos de automotivos, entre outros. Segundo Kothari (1999) a securitização, tem o

sentido de conversão de ativos de pouca liquidez em títulos imobiliários de grande liquidez

passíveis de serem absorvidos pelo mercado investidor, assim tendo como lastro os ativos

securitizados, baseadas no fluxo de caixa, geralmente de juros de empréstimos. Citando como

exemplo recebíveis que se originam de operações de venda de imóveis, de veículos, de

aluguel de veículos, cartões de crédito, diárias de hotéis, de companhias de eletricidade e etc..

Ainda segundo o autor, ela permite a liberação do capital de giro por parte dos

originadores, assim facilitando o investimento em novos negócios (empreendimentos). E cita

que em seu mais amplo conceito tem o sentido de “conversão de ativos de pouca liquidez em

ativos de grande liquidez”

Kravitt (1998), entretanto, dá um significado mais vasto à securitização, defendendo

que esta consiste no emprego de uma estrutura para financiar determinados ativos de forma

mais eficiente, baseada não apenas a qualidade do tomador dos recursos, mas sim na

qualidade dos ativos, ou mais designadamente, na qualidade de receitas proveniente de tais

ativos. Assim tendo como objetivo a criação de títulos representativos de um determinado

ativo que podem ser absorvidos pelo mercado de capitais.

Page 12: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

11

Nas economias desenvolvidas, ela exerce um papel fundamental. Como por exemplo,

os Estados Unidos que tem aproximadamente U$$ 5 trilhões de títulos vinculados a ativos

securitizados o que vale a quase 50% do seu Produto Interno Bruto, tendo o mercado

imobiliário americano conhecido como o “mercado americano de hipotecas”. Para os

governos poderem intervir em prol do desenvolvimento do setor imobiliário residencial, é

necessário o reconhecimento de três grupos distintos:

1. Originador: Responsável por gerar um ativo, podendo ser um empréstimo,

leasing, recebível, ou outra forma de fluxo de pagamento;

2. Intermediários: Que viabilizam a venda dos ABS (Asset Backed Securities)

aos investidores

3. Investidores: que compram os títulos, denominados (“ABS”)

Carneiro Goldfajn (2000) destaca o governo dos Estados Unidos que, com a criação

das agências governamentais ou entidades de economia mista, influenciou fortemente o

comportamento dos três grupos, por meio de construção de mecanismos de apoio,

possibilitando garantia para os créditos imobiliários contra os riscos de inadimplência.

Desenvolveu produtos financeiros atrativos tanto aos tomadores de recursos (adquirentes)

quanto aos investidores. Dessa forma criou padrões de originação de créditos imobiliários,

incluindo contratos, documentação e prazos. Proporcionando ainda liquidez ao mercado

secundário, comprando crédito imobiliário e subsidiando construções de moradias específicas

à baixa renda. Se transformando no mais ativo e desenvolvido mercado de securitização de

ativos imobiliários do mundo. Ainda sim destaca o papel das companhias de securitização de

recebíveis, sendo de extrema importância para o desenvolvimento do financiamento

habitacional imobiliário, já que o crescimento está ligado à existência de garantias efetivas de

recursos aplicados e a um mercado de crédito imobiliário capaz de captar recursos de longo

prazo, sobretudo, junto a grandes investidores.

I.2 – Características necessárias a uma carteira de Recebíveis

Segundo Kothari (1999), uma boa operação de securitização de recebíveis deve

possuir algumas características básicas. Desta forma, destacam-se as seguintes:

Page 13: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

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I.2.1 – Geração de Fluxo de Caixa

O fluxo de caixa futuro deverá ser de fácil percepção, com valores esperados vistos de

forma fácil e clara. No caso dos recebíveis imobiliários, a compra de um imóvel deverá dar

uma boa perspectiva de recebimento das parcelas.

I.2.2 – Qualidade dos recebíveis

Credibilidade, em razão de sua liquidez e garantia, são fatores bastante fortes para

mensurar a qualidade de um recebível. É levado em consideração a originação dos créditos (

levando em conta o risco de default e instrumentos jurídicos que garantam a liquidez do

crédito em caso de atraso de pagamento) e principalmente o histórico de pagamentos.

I.2.3 –Diversificação de Portfólios

A diversificação da carteira deverá ocorrer não com tipos diferentes de créditos

(colocar em mesma carteira créditos de cartões de crédito, contas de luz e etc) mas sim

pulverizar em relação a localização geográfica, não concentrar grande volume em um único

crédito e dispersão dos segmentos de mercado que atuam os adquirentes. No México em

1995, portfólios imobiliários sofreram bastante, chegando a perder 50% do seu valor em

virtude de estarem concentrados. Desta forma o autor afirma que nenhum crédito deverá

representar um valor significativo em relação ao volume total do portfólio, evitando assim

concentração de risco em um único crédito.

I.2.4 –Periodicidade de pagamentos

Para um ativo poder transmitir certa previsibilidade de pagamentos, estes devem estar

distribuídos em um fluxo regular de recebíveis. Pois observou-se ao longo da história que

ativos que têm sua amortização total do principal no final do período, requerem o

refinanciamento da dívida, neste caso impedindo a securitização. Os recebíveis imobiliários

têm como característica terem pagamentos regulares e mensais, facilitando a securitização.

I.2.5 –Homogeneidade

Tem a característica de facilitar a análise dos riscos por parte dos investidores e estudo

do desempenho. Assim devem ter características semelhantes quanto ao tipo de imóvel, valor

Page 14: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

13

do imóvel, nível de renda do adquirente e prazo de vencimento dos recebíveis. Sendo

importante ressaltar que isto não se contradiz com o diversificação de portfólio, sendo ambas

características alcançadas em paralelo.

I.2.6 – Independência em relação ao originador

Isto quer dizer que problemas que afetem, por exemplo, o desempenho da empresa

originadora e sua capacidade de pagamento não podem afetar, de forma alguma, a capacidade

de pagamento dos recebíveis.

I.3 - Sociedades de Propósito Específico

As SPEs são sociedades anônimas de capital aberto que emitem debêntures de seus

resultados, desta forma é criada unicamente para consolidar a securitização. Estas debêntures

são denominadas Títulos de Investimento com Lastro em Ativos (“TILA”), e é através de sua

compra que os investidores se tornam credores da SPE.

A SPE se originou para compra de ativos do originador, com os fundos recebidos

através da emissão de ABS (Assed Backed Securities). Este por sua vez, se separa de seus

ativos definitivamente, não havendo condições de recurso dos investidores contra o originador

em caso de falência do mesmo.

No Brasil as secutizações de portfólios, lastreados em ativos reais, através das

Sociedades de Propósito Específico (“SPE”), vem sendo feita desde 1992 criadas para

permitir a diluição destes ativos. A grande garantia dada aos investidores em SPEs está

atrelada a aproximação entre empreendimento e empreendedor, dado que neste tipo de

securitização o empreendedor fica ligado ao empreendimento durante todo o seu ciclo

operacional, desta forma, segundo Lima Júnior (1999):

“Existe a marca do empreendedor, para controlar a SPE, dando qualidade ao ativo e a

sua gestão estratégica, e a marca do gerenciador para dar qualidade a exploração”

Page 15: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

14

Gráfico 2: Funcionamento de uma SPE

Venda Definitiva

$ Empréstimo

$ ABS

Originador

Investidores

SPE

I.4 Etapas do processo de securitização de ativos via SPE:

1. Constitui-se o capital Inicial da SPE

2. Mitigação do ativo objeto da securitização na SPE,

3. Emissão dos Títulos de Investimento com Lastro em Ativos (“TILA”),

lastreados na SPE, que devem ser registrados junto a CVM

4. Captação de recursos através da colocação dos TILA no mercado

a. .A SPE faz caixa e o valor do empreendimento é transferido ao

empreendedor

b. Inicia-se o desenvolvimento do empreendimento

Page 16: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

15

Gráfico 3 Funcionamento de uma SPE no caso de incorporação imobiliária

Investidores

Agente Fiduciário

Auditor

Incorporador

SPE

Ativos

$$$

TILA $$$

Fiscalização

Relatórios

Relatórios

Relatórios

Os títulos conhecidos como TILA, passam para as mãos dos investidores que estão

consolidados na SPE, o que deixa os tipos de alienação dos ativos sob o controle dos

investidores e não dos gestores da SPE. Este processo dá aos investidores, mesmo que

indiretamente, a garantia de que os títulos estão lastreados no ativo objeto da securitização.

Sendo os TILA títulos de renda variável responsável pela transferência da totalidade

do resultado operacional gerado pela SPE para os investidores. Estes podem ser estruturados

diversas maneiras, dado que há versatilidade para se compor modelos de securitização que

melhor se adaptem à realidade de cada negócio. Podendo ocorrer das seguintes formas:

1. Securitização plena, onde o total do resultado operacional alcançado é

distribuído para os possuidores dos títulos. Assim desta forma, os TILA possuirão rendimento

variável, em função do desempenho obtido na exploração do ativo.

2. A SPE pode emitir títulos com remuneração pré-fixada e prazo de resgate

determinado, tendo o empreendedor garantindo padrões de renda mínima para os títulos.

Os TILA podem ser transacionados tanto no mercado de balcão quanto em bolsa de

valores e os mesmos são o registrados na Câmara de Custódia e Lequidação (CETIP). Por ser

um título, a transferência de valor é imediata, não ocorrendo custo adicional de registro ou

emolumentos como nas transações envolvendo a propriedade imobiliária. Não existe o risco

de se entregar o produto e não receber o pagamento (ou seja risco da “não-alienação

fiduciária”) e como podem ter qualquer valor de face, podem atingir diversos níveis de renda

do mercado.

Page 17: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

16

Portanto, os investidores em TILAs devem ter conhecimento do valor real associado

ao lastro dos títulos (ativo-objeto), e em mente que o nível de liquidez dos títulos vai estar

diretamente associado à performance do empreendimento.

Vale ressaltar que segundo Downes Goodman (1991)

“(...) o valor de face deste título é o valor de investimento necessário para aquisição

do mesmo, ou seja, valor principal da obrigação nominal de um determinado título.”

I.5 - Riscos no Processo de Securitização

Carneiro; Goldfajn (2000) destacam os seguintes como principais riscos dentro do

mercado imobiliário: risco de preço, risco de crédito, risco de descasamento e risco de

liquidez

I.5.1 – Risco de Crédito

Caracteriza-se pela possibilidade do tomador poder entrar em Default. Como no Brasil

não existem seguros contra risco deste tipo de crédito, a avaliação desta probabilidade se da

pela análise retroativa de pagamentos do tomador. Podemos ainda enumerar alguns critérios

para esta análise:

1- Debt to Income (DTI) que é a relação entre a prestação do financiamento e a renda

do adquirente. Ou chamado índice de solvência, quanto menor, mais seguro o credor poderá

ficar.

2- Loan to Value (LTV) que é a relação entre a dívida sobre o valor do imóvel, quanto

menor é a relação LTV, mais seguro fica o possuidor de crédito, pois a chance do valor obtido

com a venda do imóvel recuperar a dívida é mais alta

3- Histórico de Pagamento que é o indicador importante qualificando carteira, já que

observando o histórico de pagamentos o gestor poderá trabalhar a expectativa futura de

inadimplência.

Page 18: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

17

I.5.2 - Risco de Preço

De acordo com Carneiro; Goldfajn (2000), o risco intrínseco ao preço estará em

função do seu movimento. Desta forma uma hipoteca move-se em direção oposta a taxa de

juros.

“No caso de ser prefixada, seu preço move em direção oposta à variação nas taxas de

juros nominais. Se for indexada a índices de preços, variará, grosso modo, em direção

oposta à variação da taxa de juros real. Caso seja indexada às taxas de juros “puras” – taxa ANBID, Selic, CDI, etc.. _ o preço não variará. Para as indexadas à TR ou outra

taxa que expurgue a “taxa de juros real” de mercado, o preço variará em função da

magnitude do “redutor”, utilizado pelo Banco Central, vis-à-vis à Taxa de juro real

efetivamente praticada” (p.6)

I.5.3 - Risco de descasamento

O investidor se coloca passivo quanto mercado investidor imobiliário e ativo sobre os

direitos de seus recebíveis. Caso tenhamos valorização de forma diferente, por exemplo, uma

instituição de crédito imobiliário capta a taxa de 7% a.a., via cadernetas de poupança, e faz

empréstimos à taxa anual prefixada de 22% a.a. ou a IGP-M + 10% a.a. Assim temos uma

valorização a favor do investidor porém se há uma inversão, ocorrerá prejuízos para este.

I.5.4 - Risco de pré-pagamento

Este é o risco referente a possível não realização do fluxo de caixa previsto, podendo

ocorrer de forma que o tomador pare de pagar com o credor tendo um default, desta forma o

possuidor assumirá o imóvel colocando a venda. Ou caso haja pagamento antecipado pelo

adquirente do imóvel, de forma parcial ou total, anulando o financiamento e acarretando perda

para o investidor, como cita o autor Kothari (1999), pois dificilmente a SPE ou os investidores

conseguirão opções de reinvestimento que permitam a recomposição total do fluxo de caixa

futuro esperado.

I.5.5 - Risco de Refinanciamento

Este também é relacionado ao risco da antecipação e quitação do fluxo de caixa, pois

com a possibilidade de portabilidade, isto é, a quitação a dívida em uma instituição financeira

e contratando a em outra. Normalmente, este está atrelado à diminuição da taxa de juros,

fazendo com que o adquirente veja uma oportunidade de redução de seus custos de

Page 19: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

18

financiamento, levando a dívida para outra instituição onde conseguirá condições mais

favoráveis.

I.5.6 – Risco Pais

Este risco é medido através de um indicador criado pelo banco JP Morgan em 1992

cujo objetivo é permitir que seus clientes tenham condições de avaliar a capacidade do país

liquidar seus compromissos. Sendo assim, o indicador mais utilizado para esta finalidade é a

comparação entre o rendimento de títulos emitidos pelo Tesouro Americano, que são

considerados ativos livres de risco, com o rendimento de títulos similares emitidos pelo

Tesouro do país. Assim quanto maior o risco, menor a capacidade de o país atrair capital de

fora prejudicando as operações de securitização, que visam atingir os investidores externos.

I.6-Certificados de Recebíveis Imobiliários

[...] O certificado de Recebiveis Imobiliários – “CRI é um título de crédito

nominativo, de livre negociação, lastreado em créditos imobiliários e constitui promessa de

pagamento em dinheiro ”. Art 6 da Lei N 9.514/97. (BRASIL, 1997).

Assim, este é um instrumento de captação de recursos nos mercados financeiro e de

capitais também servindo como opção para a composição das reservas técnicas dos

investidores institucionais, inclusive para operações do SFH (Sistema Financeiro

Habitacional), dos recursos captados via depósitos de poupança pelas instituições integrantes

do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). Desta forma, este instrumento pode

ser colocado no mercado por meio de uma emissão pública (sem destino específico) ou

privada (específica para determinados investidores).

O "Termo de Securitização de Créditos", deverá conter condições da emissão e

características dos títulos, mostrando, entre outras informações, a identificação do devedor e o

valor nominal de cada crédito que sirva de lastro para a emissão, as outras garantias, se

houver, dispondo os adquirentes dos CRI's emitidos e a instituição ou não de regime

fiduciário sobre os créditos imobiliários objeto da cessão .

No caso do regime fiduciário, os créditos imobiliários cedidos constituirão

patrimônios separados, que não se confundirá com os demais bens integrantes do ativo da

Page 20: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

19

companhia securitizadora. Desta forma é nomeado um agente fiduciário que será o

representante e fiscal dos interesses dos adquirentes de CRI's a companhia securitizadora,.

Desta forma, os CRI’s são, de forma geral, títulos emitidos por companhia

securitizadora, lastreados nos fluxos de recebíveis originados por financiamento imobiliário,

constituindo promessa de pagamento em dinheiro. As transações feitas com os CRIs são

sempre registradas na Câmara de Custódia e Liquidação (CETIP).

Gráfico 4 - Exemplo de uma emissão de CRIs com base num fluxo de pagamento

de aluguéis

Locatário

Locador

Agente Fiduciário

Investidores

Securitizadora

$

CRIs

Cessõ de créditos $$$

Aluguel

Contrato de Locação

Serviços

Segundo a Companhia Brasileira de Securitização (CIBRASEC), podemos ter CRIs

lastreados em contratos de financiamento para compra e venda de imóveis com alienação

fiduciária, tendo como lastro o crédito de agentes financeiros; em contratos de financiamento

para compra e venda de imóveis com garantia hipotecária e em contrato de mútuo, originado

por agentes financeiros e garantido por hipoteca ou alienação fiduciária

I.7 - Fundos de Investimento Imobiliário

I.7.1- Principais Características

Os FIIs poderão ser de duração de tempo determinado ou indeterminado. Não

possuem personalidade jurídica, tendo como referência a pessoa jurídica da entidade

administradora.

Page 21: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

20

Os bens e direitos integrantes do patrimônio do Fundo, assim como seus rendimentos,

não se comunicam com o patrimônio da entidade administradora, sendo mantidos sobre a

propriedade fiduciária desta, o que previne os investidores de eventuais perdas relacionadas a

outras atividades da administradora não relacionadas a gestão do Fundo.

O Fundo deve aplicar no mínimo 75% de seus recursos em bens e direitos

imobiliários, podendo aplicar o restante em outros ativos de renda fixa, para cobrir despesas

ordinárias necessárias à manutenção do Fundo, sendo que é vedada a aplicação no exterior de

recursos captados no país. Deverá distribuir a seus quotistas, no mínimo, 95% dos lucros

auferidos, apurados segundo o regime de caixa.

Podem unicamente explorar empreendimentos imobiliários através de locação ou

arrendamento, sendo proibida a exploração comercial dos mesmos. Nestas condições, temos

as principais vantagens para investimento:

1. Diversificação: Através dos FIIs, os investidores conseguem diversificar o

risco por terem exposição a diversos segmentos da economia, tais como shoppings, hotéis,

galerias, empreendimentos industrias, imóveis comerciais e residenciais, a diferentes regiões

brasileiras, com boas oportunidades de crescimento e valorização e a vários locatários. Esse

tipo de diversificação serve como mitigante aos riscos associados ao investimento, como o

risco de inadimplemento do aluguel e de fatores regionais ou setorias que influenciem o valor

dos imóveis, o que dificilmente seria alcançado caso o investidor optasse por investir

diretamente em um imóvel.

2. Terceirização de gestão a equipes especializadas: Dada a complexidade de

análise e seleção de boas oportunidades de investimento no setor imobiliário, a transferência

da gestão a profissionais especializados surge como alternativa mais segura para os

investidores de FIIs, principalmente para aqueles com pouca experiência em avaliação,

manutenção e otimização tributária relacionados a imóveis.

3. Liquidez: Quando se trata de um imóvel específico, a venda do ativo constitui

o único evento de liquidez ou de recuperação do capital investido, o que pode se transformar

em uma tarefa difícil dependendo do preço e da localização da unidade. No caso dos FIIs, as

cotas do fundo podem ser negociadas no mercado secundário da BM&Fbovespa, oferecendo a

possibilidade inclusive de venda parcial do principal investido. Obviamente, é preciso levar

Page 22: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

21

em consideração que o investidor ficará exposto a variações de preços do valor de mercado

das cotas, o que poderá resultar em perdas ou ganhos de capital, de maneira semelhante ao

investimento direto no imóvel físico. O mercado secundário de FIIs ainda é pouco líquido,

mas acreditamos que com o aumento de sua abrangência no mercado, a tendência é um

gradual aumento de liquidez neste mercado.

A indústria de fundos imobiliários no Brasil é bastante concentrada nos fundos de

renda, os quais têm como principal objetivo auferir renda de forma regular com o

empreendimento imobiliário adquirido, como por exemplo, através de um fluxo de aluguéis.

Entretanto, novos tipos de fundos têm surgido no mercado, com características particulares, o

que possibilita a classificação em 3 grupos principais: Fundos de Renda de Aluguel; Fundos

de Desenvolvimento Imobiliário e Fundo de Investimento em Títulos Imobiliários.

I.7.2 - Fundos de renda de aluguel.

Representam atualmente mais de 80% do mercado de fundos imobiliários no Brasil. A

política de investimento desses fundos tem como foco principal a aquisição de imóveis

acabados com o objetivo de explorar a renda proveniente dos aluguéis. Apesar desta ser uma

característica presente em todos os fundos de renda, estes podem apresentar algumas

diferenças quanto à formação de seus portfolios de imóveis, podendo ter carteiras

pulverizadas (sustentada pelo aluguel de muitos imóveis) e não-pulverizadas (sustentada pelo

aluguel de poucos ou até de um único imóvel). Mesmo que o freqüente uso da palavra renda

na nomenclatura destes fundos traga a impressão de que suas características pareçam com as

de um fundo de renda fixa tradicional, é importante perceber que este tipo ainda embute

outros riscos que devem ser considerados. Em primeiro lugar, a taxa de retorno estimada pode

levar em consideração o valor futuro do imóvel, que pode oscilar dependendo do ciclo

econômico, além do próprio valor de aquisição que o imóvel é transferido para o fundo. Além

disso, por se tratar de um fundo com prazo indeterminado, maneira mais imediata de o

investidor receber de volta o seu principal é através da venda de suas cotas no mercado

secundário, ou seja, não há data pré-definida para a amortização do principal investido.

Quando se trata de apenas um locatário, a análise de seu risco passa a ser associada

diretamente ao risco de crédito desse inquilino, considerando que o imóvel já esteja ocupado.

Esse tipo de estrutura é comumente encontrada em fundos destinados à exploração de

armazéns, hospitais, hotéis, bancos e unidades industriais, sendo seus inquilinos representados

Page 23: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

22

por empresas em geral de boa qualidade de crédito, o que é utilizado como mitigante para o

risco de concentração da fonte pagadora

Gráfico 5 – Fundos de renda com um locatário por imóvel

Já os fundos que exploram shoppings e empreendimentos comerciais, por conta da

pulverização de locatários, a análise do risco de inadimplência desses fundos é conduzida

quase que de forma estatística, dado que a análise tradicional de crédito, dependendo do

número de locatários, se torna mais complexa. Nesse caso, o foco do investidor deveria estar

em entender como os inquilinos tendem a se comportar em conjunto, ao invés de

individualmente como na situação anterior

Gráfico 6– Fundos de renda com vários locatários

I.7.3 - - Fundos de Desenvolvimento.

Este tem um propósito de investimento diferente. Ainda fracos no mercado local, esses

fundos têm por objetivo o desenvolvimento de empreendimentos “greenfields” ou

Page 24: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

23

“brownfields”, principalmente residenciais, comerciais e shoppings, ou a aquisição de

participações em SPEs com esse mesmo objetivo. Por estarem envolvidos em todas as fases

de um projeto imobiliário, desde a construção até a eventual venda do empreendimento para

terceiros, estes fundos apresentam um perfil de risco diferente dos títulos de dívida

tradicionais, uma vez que não contam com pagamentos de juros pré-definidos e com datas

definidas para amortização de principal. Por outro lado, os Fundos de Desenvolvimento têm

potencial de entregar retornos mais elevados, uma vez que podem se beneficiar de todo

sucesso e valorização do empreendimento. Devido a essas características, a experiência e o

histórico na execução de projetos por parte dos parceiros estratégicos elegidos pelos gestores

do fundo assumem um papel central no desempenho destes e voltados para o desenvolvimento

de propriedades.

I.7.4- Fundos de Investimento em Títulos Imobiliários

Esses fundos não têm por objetivo investir diretamente em imóveis, mas sim em

títulos imobiliários, tanto os de renda fixa (CRIs, LCIs e LHs e cotas de outros FIIs), como os

de renda variável (ações de empresas do setor), dependendo das condições de risco x retorno

que o fundo deseja atingir.

1. Certificados de recebíveis imobiliários (CRI): São títulos emitidos

exclusivamente por entidades securitizadoras, lastreados em créditos imobiliários de operação

de compra e venda, financiamento imobiliário e locação.

2. Letras de crédito imobiliário (LCI): São títulos lastreados em crédito

imobiliários garantidos por hipotecas ou por alienação fiduciária de imóvel, emitidos por

bancos ou companhias hipotecárias.

3. Letras hipotecárias: São títulos usados como forma de captação por instituições

autorizadas para financiar linhas de empréstimo imobiliário, indexados a TR ou TJLP.

Uma das vantagens do investimento nesse tipo de FII é a pulverização de riscos

através dos vários títulos adquiridos para o portfolio. Outro benefício para o investidor está na

terceirização da tomada de decisão de investimento para equipes de gestão habilitadas para

análise e seleção dos melhores títulos, na gestão dos fluxos financeiros dos ativos do fundo,

bem como negociação dos mesmos no mercado secundário.Vale destacar que os rendimentos

Page 25: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

24

dos FIIs voltados para títulos imobiliários são suportados geralmente por títulos de dívidas

(CRIs, LCIs e LHs), o que tende a proporcionar um perfil menos arriscado para esse tipo de

FII. Os CRIs, como já anteriormente vistos, são títulos lastreados por recebíveis imobiliários

que usualmente contam com reforços de crédito como subordinação de tranches, excesso de

spreads e garantias reais, além de características comuns a títulos de renda fixa como

pagamentos pré-definidos de juros e datas para amortização de principal. As LCIs e LHs são

títulos emitidos por bancos e por companhias hipotecárias, respectivamente, normalmente

instituições com altos ratings de créditos. Em qualquer dos casos, são títulos com volatilidade

de rendimentos menores quando comparados a investimentos em renda variável, o que tende a

proporcionar menores risco e retorno nas estruturas de Fundos

Page 26: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

25

II - MARCO JURÍDICO

A lei 9.514/97 foi a grande responsável pela securitização no Brasil, na qual foi criada

o SFI, garantindo as operações de financiamento imobiliário que antes eram atendidas pelo

sistema financeiro habitacional. O grande realce desta lei se deu pela diminuição do Estado

nos negócios privados, deixando o livre mercado atuar e como aconteceu em diversos países,

funcionou com uma união entre o mercado primário (onde se originou os créditos

imobiliários) e o secundário (mercado investidor). Desta forma houve um grande suporte para

o mercado imobiliário como um todo, incluindo empreendimentos comerciais, financiamento

à construção, tanto nos residências, como comerciais. Segue abaixo algumas inovações

provenientes desta lei.

II.1 – O Estabelecimento da alienação fiduciária.

É uma garantia real onde a propriedade de um determinado bem é transferida

temporariamente do devedor ao credor, como garantia da existência de uma dívida. Esta

medida passou a ser utilizada na prática como garantia padrão a partir de 2001 quando a

Caixa Econômica Federal passou a utilizá-la como garantia padrão para todas as operações de

crédito imobiliário originados.

II.2 – A companhia Securitizadora.

Também estipulada pela lei 9.514/97, permitindo a segregação entre o ativo objeto da

securitização e o originador/emissor. Garantindo a independência entre o desempenho do

portfóio de recebíveis do agente emissor.

[...] As companhias securitizadoras de créditos imobiliários, instituições financeiras constituídas sob a

forma de sociedade por ações, terão por finalidade a aquisição e securitização desses créditos e a

emissão e colocação no mercado financeiro, de Certificados de Recebíveis Imobiliários, podendo emitir

outros títulos de crédito, realizar negócios e prestar serviços compatíveis com as suas atividades. Art 3º

da Lei nº 9.514/97 (BRASIL, 1997)

II.3 – Certificados de Recebíveis Imobiliários

Criados com o objetivo de serem os títulos que transparecem a realidade de um

portfólio de recebíveis imobiliários. Cumprindo o papel de instrumento de securitização

Page 27: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

26

utilizado como meio de investimento pelo mercado secundário e o vínculo entre esse mercado

e os recebíveis imobiliários já originados. Podendo ser de emissão pública ou privada, além

de ser fonte de financiamento, transformar-se em uma nova fonte de ganhos por especulação

de papéis já que é um título de crédito de livre negociação.

[...] O certificado de Recebíveis Imobiliários – CRI é um título de crédito nominativo, de livre

negociação, lastreado em créditos imobiliários e constitui promessa de pagamento em dinheiro Art 6º da

Lei nº 9.514/97(BRASIL, 1997)

II.4 – Patrimônio de Afetação

Teve como principal objetivo garantir o compromisso das incorporadoras, em proteção

a milhares de pessoas ao longo das quebras empresarias do setor. Criado em 04/09/2001 via

MP nº 2.221, assim todas as dívidas de natureza tributária, trabalhista e junto a instituições

financeiras ficam restritas ao empreendimento em construção, não tendo qualquer relação

com as demais compromissos assumidos pela empresa. E com a lei nº 10.391/04 foi criado

um regime especial de tributação (RET). Possibilitando o agrupamento de diversos impostos

em uma única alíquota, incidente sobre as receitas provenientes da atividade de incorporação,

de 7%. Pelas leis antigas, o pagamento obrigatório de Imposto de Renda, Pis/Pasep, Cofins e

contribuição previdenciária chegava a 8,4%

.Os fundos imobiliários surgiram no Brasil o em junho de 1993, com a Lei nº

8.668/1993 e foram regulamentados, pela CVM, em janeiro do ano seguinte, através das

Instruções CVM 205 e 206, ambas de 14 de janeiro de 1994. A Instrução CVM 205 foi

revogada pela Instrução CVM 472, que por sua vez foi alterada recentemente pela Instrução

CVM 478.

A Lei definiu a CVM como órgão responsável pela fiscalização do funcionamento e

administração dos fundos, que no ano seguinte publicou a Instrução no 205, regulamentando

dos FIIs . O Artigo 45 da Instrução CVM 472 estabelece a rela de ativos que podem ser

investidos por um fundo imobiliário:

“Artigo 45 (...)

I – quaisquer direitos reais sobre bens imóveis;

Page 28: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

27

II – desde que a emissão ou negociação tenha sido objeto de registro ou de autorização

pela CVM, ações, debêntures, bônus de subscrição, seus cupons, direitos, recibos de

subscrição e certificados de desdobramentos, certificados de depósito de valores mobiliários,

cédulas de debêntures, cotas de fundos de investimento, notas promissórias, e quaisquer

outros valores mobiliários, desde que se trate de emissores cujas atividades preponderantes

sejam permitidas aos FII;

III – ações ou cotas de sociedades cujo único propósito se enquadre entre as atividades

permitidas aos FII;

IV – cotas de fundos de investimento em participações (FIP) que tenham como

política de investimento, exclusivamente, atividades permitidas aos FII ou de fundos de

investimento em ações que sejam setoriais e que invistam exclusivamente em construção civil

ou no mercado imobiliário;

V – certificados de potencial adicional de construção emitidos com base na Instrução

CVM nº 401, de 29 de dezembro de 2003;

VI – cotas de outros FII;

VII – certificados de recebíveis imobiliários e cotas de fundos de investimento em

direitos creditórios (FIDC) que tenham como política de investimento, exclusivamente,

atividades permitidas aos FII e desde que sua emissão ou negociação tenha sido registrada na

CVM;

VIII – letras hipotecárias; IX – letras de crédito imobiliário.”

A Lei 9.779 (1999) determinou as condições de distribuição dos rendimentos aos

cotistas e algumas questões tributárias. Segundo esta, os fundos devem distribuir

semestralmente, no mínimo 95%, dos rendimentos e ganhos de capital auferidos, apurados

segundo o regime de caixa, com base nos balanços encerrados em 30 de junho e 31 de

dezembro. Ainda com base nesta lei, os rendimentos líquidos obtidos através de aplicações

financeiras em renda fixa e rendas variáveis estariam sujeitos à incidência do imposto de

renda retido na fonte.

Page 29: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

28

Gráfico 7– Histórico dos Fundos Imobiliários no Brasil

Em 2005, o mercado de fundos imobiliários ganhou novo fôlego, com a aprovação da

Lei 11.196, que isentou de imposto de renda os rendimentos distribuídos aos cotistas pessoas

físicas dos FIIs que sejam negociados exclusivamente em bolsa ou balcão organizado e que

tenham no mínimo 50 cotistas pessoas físicas (alterando a Lei 9.779 de 1999). O tratamento

tributário distinto em relação ao investimento direto de pessoas físicas em imóveis (que são

tributados em tabela progressiva de 7.5% a 27.5% como imposto de renda sobre os aluguéis

diretamente recebidos acima de R$1.499,15) passou a ser um importante diferencial dos FIIs e

uma alavanca natural para seu crescimento. Outras medidas regulatórias também exerceram

influência positiva sobre o produto, como a flexibilidade para investimento em títulos

imobiliários (CRIs, LCIs e LHs), com a mesma isenção tributária aplicada às pessoas físicas

Page 30: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

29

III . O SFH E A EMERGÊNCIA DO SFI

Em 1964, com a lei 4.380/64 foi estabelecido que o SFH facilitasse condições para

agenciar e agilizar a construção e alcance da casa própria, principalmente, as pessoas da

classe de menor renda da população. Tendo as cadernetas de poupança e o FGTS sendo as

principais fontes de financiamento. Desta forma atingiu-se um número de mais de 4 milhões

de unidades financiadas até 1982. Algumas instituições promoviam tal financiamento

imobiliário, tendo o Banco Nacional de Habitação (BNH) órgão central, sistema Brasileiro de

poupança e empréstimo (SBPE) composto pelas Caixas Econômicas, Sociedades de Crédito

Imobiliário (SCIs) e pelas associações de poupança e Empréstimo (APEs). O BNH teria uma

segunda função de extrema importância: emprestar, em última instância do SFH, garantinado

a liquidez ao sistema.

Gráfico 8– Mecanismo de Recursos do SFH

Hab. POPULAR

FAMÍLIAS POUPANÇA SBPE

Governo Aporte Orçamento

Empresas FGTS

Com a aceleração da inflação a partir de 1984 o modelo se tornou vulnerável, com a

média anual de financiamento de novos imóveis despencando para menos de 150 mil, levando

a criação em 1997, do sistema de Financiamento Imobiliário SFI. Assim, este se tornou, de

extrema importância para o desenvolvimento do sistema crédito habitacional, pois é muito

mais rápido e maleável que o SFH, com a introdução da alienação fiduciária, securitização e o

regime fiduciário. Criado com base na experiência do sucesso encontrado no mercado de

crédito americano, diferente do SFH, O SFI visava estabelecer uma estrutura que seja

compatível com o busca de recursos fará fundeá-lo. Desta forma, foram criadas varias normas

legais para regular a participação de instituições financeiras e não financeiras, em operações

de financiamento imobiliário.

Page 31: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

30

A maior distinção entre as propostas (SFI e SFH) é que no primeiro, os créditos não

permanecem na carteira dos bancos, sendo assim estes são securitizados. Já no segundo, a

carteira permanece no ativo do banco, sendo a dívida amortizada no prazo contratual. Além

disso, o SFI também retirou muitas restrições quanto a prazos, taxas de juros e limites de

financiamentos ( já que não estabelece limites de financiamento ou taxas de juros cobradas,

nem valores máximos de valor do imóvel). As instituições autorizadas a operar o SFI seriam

as caixas econômicas, os bancos comerciais, bancos de investimento, múltiplos com carteira

de crédito imobiliário, sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e

empréstimo e as companhias hipotecárias.

III.1 - Principais Diferenças entre SFI e SFH

1. Busca de financiamentos junto ao Mercado de Capitais, não sendo restrito

somente a fontes como poupança e FGTS.

2. Fluxo de Crédito servirá como lastro para novos empréstimos, desta forma sem

alterar o nível de empréstimos em épocas de baixa liquidez da poupança, onde

no caso do SFH ficaria bastante reduzido.

3. Taxa de juros flexíveis, possibilitando o equilíbrio entre oferta e demanda, já

que fica impossibilitado com o SFH já que a taxa de juros é fixa.

III.2 –CONDIÇÕES NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO

A estabilidade econômica e financeira alcançada pelo Brasil nos últimos quinze anos,

como resultado da adoção de políticas econômicas bem sucedidas, ajudou a criar bases sólidas

para sustentar o crescimento de diversos setores, com especial influência sobre o segmento

imobiliário.

O controle da inflação no país permitiu trazer as taxas de juros reais para níveis

historicamente baixos, o que aliado ao aumento do nível de investimentos e do número de

empregos, proporcionou uma melhora do poder de compra da população brasileira e uma alta

taxa de mobilidade social, com parte dos indivíduos migrando das classes sociais mais baixas

Page 32: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

31

para classes de renda superiores. Ainda como conseqüência dessas mudanças, o mercado de

crédito brasileiro tem registrado forte crescimento, tanto para o segmento corporativo quanto

para as pessoas físicas. Mesmo assim, o país ainda apresenta um volume de crédito em sua

economia baixo quando comparada a outros países. Segundo o Bacen, a relação entre o

crédito total e o PIB era de 45.7% em junho de 2010, com destaque para o fato da proporção

da oferta de crédito imobiliário em relação ao PIB ser de apenas 3% no país.

Gráfico 9 - Evolução da Tx de Juros Relação entre oferta de crédito e o PIB

Fonte: Bacen

Além da estabilidade econômica e do aumento da oferta de crédito no Brasil, outros

fatores também ajudam a sustentar uma perspectiva de aumento da demanda por ativos

imobiliários. Em primeiro lugar, destaca-se o forte crescimento econômico estimado para os

próximos anos na economia brasileira o que tende a possibilitar a manutenção de níveis de

emprego elevados, o aumento da renda real da população e a conseqüente manutenção de um

alto índice de mobilidade social. As características demográficas no Brasil são favoráveis ao

mercado imobiliário, projeções do IBGE indicam que, até 2030, 35.2 milhões de novas

famílias devem ser formadas, o que corresponde a cerca de 1.5 milhão de novos núcleos

familiares por ano com a fração da população residente na zona urbana deve aumentar dos

atuais 85% para 91%; é expressiva e crescente a população com mais de 30 anos de idade,

com grande potencial de formação de um novo núcleo familiar e aquisição de residência

própria. Todas essas características apontam para uma maior necessidade de residências

disponíveis no país, suprindo assim o déficit habitacional atualmente estimado em cerca de 6

milhões de unidades pela Secretária Nacional de Habitação.

Page 33: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

32

Na medida em que a procura por imóveis tende a continuar aumentando, resta

entender se a oferta de crédito imobiliário deverá ser capaz de atender tanto à população, do

ponto de vista do financiamento das unidades residenciais, como às construtoras e

incorporadoras do setor, do ponto de vista do financiamento do capital de giro necessário para

construção de novas unidades. Atualmente, o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) possui

duas fontes de recursos utilizadas para financiar os construtores e compradores de habitações

recursos direcionados do FGTS e os recursos provenientes do Sistema Brasileiro de Poupança

e Empréstimos (SBPE) – por lei, as instituições bancárias devem destinar 65% do saldo das

cadernetas de poupança para o crédito habitacional (exceção feita ao Banco do Brasil, que tem

sua exigibilidade direcionada ao credito agrícola). Existe a perspectiva, mesmo com o

crescimento da caderneta de poupança, o financiamento imobiliário deve se deparar já em

2013, com uma insuficiência de recursos das fontes tradicionais, levando as instituições

financeiras e as próprias empresas do setor imobiliário a buscarem outras fontes de

financiamento, de modo a garantir a continuidade do crescimento do credito imobiliário.

Em 2007, um grande número de construtor-incorporadoras acessou o mercado de

capitais, capitalizando-se via lançamento de ações e títulos de dívida, como forma de financiar

seus planos de expansão. Com o fechamento do mercado de ações e piora dos mercados de

crédito na sequência da crise econômica mundial, essa fonte se tornou escassa até meados de

2009. Mesmo com a recuperação macroeconômica, as empresas estão à procura de fontes

mais estáveis de financiamento, principalmente com prazos longos adequados ao ciclo de

investimento do setor imobiliário. As instituições financeiras brasileiras encaram desafios

semelhantes: a expansão do crédito imobiliário deve continuar respondendo por parte cada

vez mais relevante do crescimento das carteiras de crédito no futuro, além representar uma

alternativa de fidelização de novos clientes. A obtenção de funding de longo prazo passa a ser

também prioridade para que os bancos do país preservem a oferta de crédito imobiliário ao

longo dos próximos anos.

Page 34: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

33

Gráfico 10: Evolução do Funding disponível para Financiamentos Imobiliários

A alternativa considerada para solucionar os problemas do financiamento às empresas

e aos consumidores tem sido o modelo de securitização de ativos imobiliários, principalmente

através de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs). Desde 2000, cerca de R$ 20

bilhões foram emitidos em CRIs por securitizadoras brasileiras, sendo R$ 5 bilhões lançados

somente no ano de 2009 até mesmo bancos com a Caixa Econômica Federal pretende iniciar a

sua primeira distribuição de CRIs na própria rede de agências, como forma de testar um

importante canal de funding para suportar o cresimento de sua carteira de crédito imobiliário

no futuro. Além dos Fundos Imobiliários (FII), ainda novos mercado local também surge

como opção interessante de financiamento. Através de investidores interessados em

aproveitar, de forma indireta, o grande potencial do mercado imobiliário, tanto no segmento

residencial como comercial (shoppings e escritórios), as construtoras / incorporadoras poderão

encontrar uma nova alternativa de funding de longo prazo para o desenvolvimento de

projetos, transferindo seus imóveis para estruturas segregadas (nesse caso, os próprios FIIs)

com o compromisso de dividir o retorno (e risco) esperado com o investidor.

Page 35: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

34

IV - CONCLUSÃO

O trabalho visou discutir de maneira intensa o modelo estrutural de securitização de

recebíveis imobiliários através de suas diversas formas de aplicação, além da importância de

utilização deste sistema como apoio ao mercado de financiamento imobiliário residencial. Foi

caracterizada, através da análise e estudo da aplicação deste sistema em mercados de países,

além do Brasil, e efetiva utilização da securitização como uma alternativa boa de aporte de

capitais para o mercado de empreendimentos residenciais, fato que identificou os seguintes

fatores como determinantes para o sucesso da implantação de um mercado de securitização.

1- Estabilidade Macroeconômica: Permitindo o efetivo funcionamento de operações de

longo prazo e compatibilização entre as condições de originação dos créditos imobiliários e de

securitização dos títulos vinculados a essas operações;

Carneiro Goldfanjn (2000) afirma que com a estabilidade macroeconômica, os títulos

resultantes do processo de securitização, vêm exercendo um papel relevante na carteira de

instituições financeiras e investidores institucionais. Embora não possua um volume tão

expressivo em relação ao PIB como acontece no Chile, os fundos de pensão brasileiros

acumulam atualmente ativos de ordem de R$ 160 Bilhões, equivalente a aproximadamente

15% do PIB brasileiro. Desse total, em torno de 40% está alocado em investimentos de renda

fixa, o que mostra a tendência desses investidores por preferência deste tipo de aplicação. Os

fundos de pensão, devido suas necessidades atuariais, necessitam de investimentos de longo

prazo que sejam indexados por índices de inflação, da mesma forma o seu passivo atuarial é

corrigido.

2- O mercado investidor: Este responsável por promover a demanda de capitais

necessários, com a possibilidade de ter seus recursos em investimentos de longo prazo, além

de considerarem os títulos securitizados como investimentos efetivamente atrativos e boa

relação risco e remuneração;

3- Os aspectos jurídicos e legais claros: Constituição dos créditos e suas garantias

acessórias. Adicionalmente ao fato das garantias adicionais vinculadas a estruturação da

operação. Deve ser transparente também em relação à execução das garantias, aos aspectos de

segregação patrimonial e à segregação dos riscos vinculados a transação.

Page 36: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

35

A eficiência da securitização não depende apenas do emprego dos modelos e artifícios

apresentados, mas sim da junção dos fatores acima que possam permitir, a partir de então, o

desenvolvimento das diversas técnicas e modelos, formatando operações específicas as

necessidades do mercado consumidor e do mercado investidor.

Os Investidores institucionais no Brasil, embora sem grande tradição de investimentos

de longo prazo, têm alterado seu perfil com recente estabilidade macroeconômica,

apresentando-se como um grande mercado potencial de investimentos nos títulos vinculados a

operações de securitização. A composição de títulos de renda fixa com um bom nível de

classificação de riscos e remuneração compatível pode ser considerada como uma porta de

entrada dos investidores institucionais no mercado de securitização residencial no Brasil

O ambiente macroeconômico encontra-se em completo processo de consolidação,

longe do passado inflacionário, mas ainda mantém altos níveis de taxa de juros, dificultando o

desenvolvimento de um mercado de investimentos e financiamentos de longo prazo. Contudo,

através de possível adoção de mecanismos de incentivos fiscais, já é possível criar um

mercado de originação e securitização de créditos imobiliários que seja economicamente

viável, permitindo que as operações de financiamento imobiliário residencial venham a

remunerar em condições de mercado tanto os investidores como os próprios riscos intrínsecos

às operações.

Concluindo, pode-se afirmar que o Brasil reúne condições para formatação de um

ambiente propício ao desenvolvimento de um sistema de securitização, sendo os modelos e

processos necessários à sua implementação perfeitamente aplicáveis a nossa realidade. Segue

abaixo alguns pontos, além da melhoria da atratividade econômica, para o desenvolvimento

do mercado residencial no Brasil.

1. Maior mitigaço de risco

No critério de maior mitigação de risco, poderiam ser adotadas medidas que

limitassem as parcelas para serem debitadas diretamente em folha, diminuindo a possibilidade

de default, e consequentemente monitorando o risco DTI mais de perto possível. Também

poderia ser adotado a obrigatoriedade de poupança prévia, de por exemplo de 60 meses,

reduzindo a relação LTV e adicionalmente desenvolvendo o hábito de poupar, necessário a

Page 37: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

36

tomadores de empréstimos imobiliários. Diminuindo o risco do credor e melhorando o juros

do tomador do empréstimo.

2. Ações do Estado

Regulamentações mais fortes dos contratos, determinando prazo e taxas poderiam vir

através de nova legislação. É importante a manutenção da alienação fiduciária, com a

transferência temporária do bem para o credor, que será automaticamente transferido para o

devedor quando liquidado. Possibilitando assim dar mais alicerce para o credor. O incentivo

fiscal também poderia ser concedido pelo governo, de forma que haja uma abatimento no

imposto de renda referente aos juros pagos no financiamento imobiliário. Sendo assim, de

conforme Leônidas Zelmanovitz (2000):

“Certamente haverá percalços no caminho: fundos constituídos por pessoas inescrupulosas,

condições adversas de mercado, falta de cultura associativa, interpretações restritivas ou

simplesmente equivocadas da legislação por parte das autoridades. Caso consigamos superar

todos esses obstáculos, estaremos assistindo à consolidação, no mercado de capitais do Brasil,

de um instrumento que permitirá à indústria imobiliária a superação de seu maior gargalo: a

falta de recursos de longo prazo”

Page 38: A INFLUÊNCIA DA SECURITIZAÇÃO NO MERCADO DE CRÉDITO

37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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