A Informação nos Meios de Comunicação.pdf

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  • 2

    Revista Espao Livre

    Espao Livre. Vol. 5, num. 9, jan. - jun./2010.

    Conselho Editorial Edmilson Marques Lucas Maia dos Santos Nildo Viana

    Conselho Consultivo Andr Melo Cleiginaldo Pereira dos Santos Cleito Pereira Edmilson Borges Edmilson Marques Erisvaldo Souza Fernando Lima Neves Flvio Pereira Diniz Jean Isdio Joo Alberto da Costa Pinto Jos Nerivaldo Pimenta Juversino de Jesus Jnior Leonardo Venicius Proto Parreira Lisandro Braga Lucas Maia Santos Maria Anglica Peixoto Nanci Valadares de Carvalho Nildo Viana Ovil Bueno Fernandes Veralcia Pinheiro Uelinton Rodrigues Weder David de Freitas

  • EXPEDIENTE

    A Revista Espao Livre uma publicao do NUPAC - Ncleo de Pesquisa e Ao

    Cultural, cujo objetivo manter um espao para divulgao de ideias e teses que

    possuam um carter crtico e abram espao para a reflexo sobre o mundo

    contemporneo. O nome da revista ESPAO LIVRE oriundo da ideia de um espao

    que no seja comandado por regras formais e exigncias rgidas, onde o contedo

    tenha proeminncia sobre a forma e que esteja aberta a participao ampla e

    inovadora dos participantes, numa perspectiva crtica, libertria. Os artigos

    enviados espontaneamente por no membros do coletivo responsvel por esta

    publicao sero avaliados e podero ou no ser publicados, a partir dos critrios

    de qualidade, adequao linha editorial, conformidade s normas de publicao, e

    no expressam o ponto de vista dos membros do conselho editorial e/ou do

    conselho consultivo. Os artigos devero ter no mnimo uma pgina e no mximo

    dez pginas, fonte Times New Roman, tamanho 12, espao 1/5, margens padro do

    Word. Deve-se utilizar o sistema autor-data (sistema de Chicago), com lista

    bibliogrfica no final ou notas de fim no final do texto. Os textos devem ser

    digitados no programa Word for Windows e entregues via o seguinte e-mail:

    [email protected]

  • Sumrio

    A reproduo da msica mercantil nos programas de covers: uma anlise dos programas Astros (SBT) e dolos (Rede Record)

    05

    Anderson Lucas Novaes

    A Informao nos Meios de Comunicao 14 Edmilson Marques

    Valores e Hegemonia, uma Crtica Desbravadora da Axiologia

    22

    Fabrcio Arruda Santos

    O Ser na Concepo Materialista da Histria 25 Jos Fbio da Silva

    Lugares de Memria: a construo do bandeirante no livro didtico

    29

    Marlon Teixeira de Faria

    Cultura Popular, Mentalidade e Representao no Banco do Capeta em Santa F de Gois

    37

    Wilson de Sousa Gomes

  • A reproduo da msica mercantil nos programas de covers: uma anlise dos programas Astros (SBT) e dolos (Rede Record)

    Anderson Lucas Novaes

    Antes de abordarmos os atuais programas de covers, que reproduzem uma

    obra j composta e divulgada sobre os moldes do oligoplio mercantil da cultura,

    devemos discutir o conceito de Indstria Cultural desenvolvidos por Adorno e

    Horkheimer. Os mesmos autores afirmam em sua dialtica do esclarecimento, que a

    cultura contempornea confere a tudo um ar de semelhana, e que a falsa identidade

    do universal e do particular sob o poder do monoplio, toda cultura de massas

    idntica (ADORNO E HORKHEIMER, 1985, p. 113). Partindo dessas afirmativas,

    que analisaremos os atuais programas televisivos, que julgam estar formando novos

    dolos ou astros, enquanto na verdade esto apenas reproduzindo a insignificncia

    pblica dos homens na sociedade capitalista compensando-os pelo mecanismo da

    identificao e da visibilidade.

    A indstria cultural como afirma Rubim uma indstria oligopolista, ela

    est organizada e funciona dentro dos padres empresariais definidos pelo capitalismo,

    em sua fase oligopolista (RUBIM, 1988, p. 48). Somente entendendo sobre quais

    perspectivas e interesses a indstria cultural est inserida que podemos entender porque

    o artista no sistema capitalista, j no mais possui autonomia sobre a sua criao, pois a

    mesma agora deve estar moldada sobre os ditames mercantis, assim como em uma

    grande indstria:

    A nova dependncia do produtor cultural deriva de que no capitalismo o

    trabalho produtivo aquele que produz mais-valia e esta produtividade s

    alcanada pelo trabalho assalariado. Assim, a tendncia o criador cultural se

    transformar em trabalhador assalariado, tornando a produo cultural um

    produto definido dentro dos padres do modo de produo capitalista de bens

    materiais e estreitando ainda mais a aproximao entre a produo de bens

    materiais e espirituais. (RUBIM, 1988, p. 27).

    A indstria cultural ao tornar a cultura algo padronizado, aps a sua produo

    em srie de obras e artefatos para consumo, necessita da produo de personalidades,

    nas quais o consumidor busca a sua identificao, para essas pessoas, se do nomes

    como: astros, dolos, vedetes, etc.

    Adorno afirma que os astros so aqueles que falam os jarges com facilidade,

    espontaneidade e alegria como se fosse linguagem que ele, no entanto, h muito

  • 6 reduziu ao silncio. Eis a o ideal do natural neste ramo. (ADORNO &

    HORKHEIMER, 1985, p. 120). As vedetes por sua vez no distinguindo muito,

    logicamente, dos astros so personalidades estruturadas (padronizadas) e

    individualizadas, ao mesmo tempo, e assim seu hieratismo resolve, da melhor maneira,

    a contradio fundamental. (MORIN, 1994, p. 258). Nessa perspectiva ento que

    trabalharemos nossos proto-astros, criados diariamente pelos programas de covers

    contemporneos, que ao reproduzir a msica de seu dolo vale salientar que o dolo

    aqui citado, j por sua vez um mero intrprete da msica mercantil almeja chegar a

    tal posio de astro.

    Porm antes de analisarmos a busca do homem comum degradado pela

    sociedade capitalista pela to almejada fama nos programas de covers, deve-se

    analisar dois segmentos que integram a indstria cultural: a msica e a televiso.

    Para entendermos a msica e seu poder de atrao na sociedade

    contempornea, devemos apontar que a burguesia enquanto classe dominante da

    sociedade capitalista possui valores, e que esses valores devem ser repassados para as

    outras classes exploradas, atravs da formulao de bens culturais de consumo. Logo

    ento a msica axiolgica1, sendo um bem de consumo cultural, representa os valores

    da sociedade burguesa que so repassados para as demais classes com intuito de tornar

    universais os valores burgueses. Visto que a classe burguesa no s naturaliza seus

    valores, como tambm lucram ao reproduzi-los, os oligoplios da msica conseguem

    com exatido: lucrar com a produo das msicas sua reproduo e divulgao. Alm

    de propagar os valores burgueses, marginalizando as msicas de cunho crtico

    produzida pelas classes populares. (MARQUES, 2007, p. 72).

    A msica na sociedade capitalista abriga uma preocupao tcnica e esttica

    acentuada pela produo em srie, em contraste a tcnica avanada, abriga a falta de

    criticidade, tendo a msica mercantil entre seus temas ento, a banalizao do amor e do

    cotidiano. Sendo que os artistas que mais bem interpretarem a banalizao da vida

    social e amorosa, ou seja, que mais conquistarem consumidores, recebero uma srie de

    gratificaes, dentre elas, os discos de ouro ou platina. Que segundo Edmilson Marques

    so estratgias comerciais criadas principalmente pelos proprietrios das grandes

    1 Axiologia segundo Nildo Viana (2007), a expresso dos valores dominantes, sendo que a grande

    maioria da produo cultural na sociedade capitalista tem por caracterstica ser axiolgica. Toda obra que

    no paute por reproduzir os valores dominantes, e tenha por finalidade produzir uma expresso da classe

    explorada denominada, por Nildo Viana, como axionmica.

  • 7 gravadoras, que constrangem o pblico a acreditar que natural o sucesso deste ou

    daquele artista (MARQUES, 2007, p. 70). Sendo essas gratificaes tambm uma

    maneira de constranger o pblico ao consumo desse produto, definindo o bom-gosto

    contemporneo mesmo sendo esse bom-gosto metamrfico fazendo desses

    intrpretes os astros a serem imitados:

    Os intrpretes das msicas, massificados pelos meios tecnolgicos de

    comunicao e pelas estampas dos objetos atravs dos quais so distribudas

    as msicas, passam a ser cultuados e idolatrados, chegando a receber um

    tratamento diferenciado dos demais indivduos, como se estivessem acima da

    sociedade (MARQUES, 2007, p. 76).

    Essa produo de personalidades pblicas, voltadas divulgao de produtos,

    que denominamos de astros, gera na sociedade o respeito e admirao, atravs dos

    meios de comunicao, que em um segundo momento, gera para o capitalista um meio

    de lucro, atravs da venda de mercadorias atreladas a um determinado artista. Para

    alguns consumidores mais fervorosos, o resultado a imitao. Que representa para o

    capitalista em mais lucro, pois o imitador no caso: reproduz, divulga e reafirma o

    produto do capitalista. A reproduo musical, no caso a imitao do cover, s realiza o

    enriquecimento do capitalista, pois o artista cover ao reproduzir a msica j

    confeccionada sobre os moldes da indstria mercantil, apenas transferir os valores j

    estabelecidos, no tendo nenhum ganho, a no ser de imagem durante um curto perodo.

    Cabe-nos ento discutir quem e o responsvel pela divulgao da mercadoria.

    Diversos meios de comunicao so responsveis pela divulgao dos produtos a serem

    consumidos, dentre eles esto os jornais impressos, as revistas, o rdio, a internet, etc.

    Porm, no presente texto abordaremos, unicamente a televiso, visto que sua fora

    predominante entre os demais meios atualmente. Sendo importante ressaltar que:

    A televiso, porm no est para a comunicao como o cobre est para o

    calor. Se a considerarmos desse modo seremos inapelavelmente vtimas do

    engodo que ela geralmente costuma suscitar: o de que as imagens televisivas

    transmitem o real, a realidade efetiva e verdadeira, sem nenhum tipo de mediao ou interveno (FRANCO In: Duro, Zuin & Vaz, 2008, p. 112).

    As palavras de Renato Franco, acima citadas, nos so teis por afirmar que a

    televiso, no por si s, a comunicao de fato, e em hiptese alguma o nico meio de

    comunicao, sendo que, constantemente, nem uma comunicao de fato mesma

    realiza, visto que a televiso somente fornece imagens de altssima qualidade e fabrica

    suas imagens em um mundo prprio (FRANA, 2006, p.19). Mundo esse que se

    distingue constantemente do mundo real, vivido e explorado por seus usurios

  • 8 diariamente, que nessa dita comunicao no possui voz, apenas poder de consumo, que

    muitas vezes tambm podem ser negados a eles (os consumidores). Adorno apresenta a

    televiso, como uma sntese entre rdio e cinema, sendo que a mesma, representaria

    para a indstria cultural e a seus produtos, o golpe de misericrdia, o seu triunfo:

    A televiso visa uma sntese do rdio e do cinema, que retardada enquanto

    os interessados no se pem de acordo, mas cujas possibilidades ilimitadas

    prometem aumentar o empobrecimento dos materiais estticos a tal ponto que

    a identidade mal disfarada dos produtos da indstria cultural pode vir a

    triunfar abertamente j amanh (ADORNO & HORKHEIMER, 1985, p. 116).

    A televiso enquanto produto de maior eficcia da indstria cultural, e capaz de

    produzir uma imagem particular do mundo, como se fosse de fato o mundo existente,

    com tamanha dimenso abrangente representa o agravamento da dominao, da classe

    dominante sobre as demais classes pertencentes sociedade capitalista. A dominao

    efetiva-se atravs da transformao do indivduo esgotado e culturalmente atrofiado

    pela truculncia do processo de trabalho em consumidor, podendo almejar, em

    repouso, esquecer as agruras experimentadas no dia-a-dia. (FRANCO, 2008, p.115).

    Porm o mesmo repouso, cio, ou tempo livre2, e diariamente ocupado pelos produtos

    culturais, resultando logo em um no-repouso.

    Alguns exemplos simples definem o no-repouso, dentre eles o simples fato de

    um trabalhador comum estar diante a televiso com sua famlia, assistindo a um

    programa qualquer, onde em seu intervalo, lhe so oferecidas mercadorias, a

    inquietao desse trabalhador em adquirir uma daquelas mercadorias oferecidas,

    resultaria na sua privao de descanso. Passaria ento o trabalhador h ocupar seu

    tempo-livre com preocupaes financeiras para a aquisio do produto, ou at mesmo

    em mais-trabalho para seu patro, oferecendo-lhe horas-extras de trabalho. Podemos

    questionar tambm que em nosso tempo-livre, constantemente estamos consumindo,

    pois o simples telespectador tambm consumidor, como afirma Maria Rita Kehl,

    mesmo quem no consome nenhum dos objetos alardeados pela publicidade como se

    fossem a chave da felicidade, consome a imagem deles [...] consome a identificao

    com o bem, com o ideal de vida que eles supostamente representam (BUCCI &

    KEHL, 2004, p.61). Este consumo que se apresenta sutil, representa cotidianamente o

    agravamento da dominao capitalista, pois o consumo ideolgico das classes menos

    abastadas dos produtos pensados e produzidos, para a manuteno das relaes sociais

    2 Sobre tempo livre ver, ADORNO (2002).

  • 9 vigentes, atinge atualmente uma eficcia surpreendente, a ponto de constranger a grande

    maioria dos cidados, a mera reproduo dos valores axiolgicos, privando a produo

    artstica e intelectual, que no estejam pautadas em suas perspectivas, resultando no

    quase desaparecimento da produo crtica na arte em geral.

    Adorno nos auxilia na discusso da privao do tempo-livre apresentando um

    mecanismo criado pelo sistema capitalista, que faz do tempo-livre uma futilidade

    bsica, onde o cidado dispensa uma energia, seja intelectual, artstica ou fsica sem um

    retorno real, a no ser a aparncia de estar utilizando seu tempo-livre, sem enxergar

    autilidade dessa atividade para sua prpria vida, o hobby:

    Eu no tenho hobby. No que eu seja uma besta de trabalho que no sabe

    fazer consigo nada alm de esforar-se e fazer aquilo que deve fazer. Mas

    aquilo com o que me ocupo fora da minha profisso oficial , para mim, sem

    exceo, to srio que me sentiria chocado com a idia de que se tratasse de

    hobbies, portanto ocupaes nas quais me jogaria absurdamente s para

    matar o tempo, se minha experincia contra todo tipo de manifestaes de

    barbrie que se tomaram como que coisas naturais no me tivesse endurecido. Compor msica, escutar msica, ler concentradamente, so

    momentos integrais da minha existncia, a palavra hobby seria escrnio em

    relao a elas (ADORNO, 2002, p. 105).

    Ento somados a msica axiolgica, a televiso, a criao dos dolos e a

    ocupao do tempo-livre, temos os ingredientes necessrios para a criao dos

    programas de covers, que se compem de msica axiolgica, sendo reafirmada por um

    cidado comum atravs da televiso. A televiso por sua vez, alm de divulgar a msica

    de determinado dolo, ocupa o tempo-livre do cidado comum, que constrangido pela

    sociedade do espetculo acredita que o ser foi superado pelo aparecer, acredita que com

    uma simples apario na televiso, ser tambm um dolo. Ento somado a isso, uma

    estrutura de oramento barato e uma divulgao incisiva, logo teremos os programas de

    covers atuais, que ridicularizam dezenas de cidados diariamente.

    Os atuais programas de covers, especificamente o programa dolos (Rede

    Record) e Astros (SBT), so compostos por uma infindvel comdia, pouca msica e

    uma afronta ao participante. A grande maioria dos participantes que compem os

    programas possui pouco ou quase nenhum conhecimento de teoria musical.

    Vrios fatores poderiam justificar essa ausncia de tcnica, mas aqui

    apontaremos dois deles que consideramos mais importantes. O primeiro o

    encantamento surreal que a mdia televisiva cria na relao espectador/artista. O fetiche

    presente nessa relao reafirmado a todo tempo pelos meios de comunicao. A

    lgica que se impe a partir da imagem fetiche : o que aparece bom; o que bom

  • 10 aparece de tal modo que o reconhecimento social desses indivduos desamparados

    depende inteiramente da visibilidade (BUCCI & KEHL, 2004, p. 49). A relao

    fetichista entre espectador/artista, gera a necessidade de visibilidade a cidados comuns,

    mesmo que essa visibilidade, seja, por demasiado curta e degradante. A visibilidade o

    que garante o existir, para um sujeito diante outro sujeito, logo temos a necessidade da

    aparncia sobre qualquer essncia, sendo possvel ento, que annimos extrados das

    massas de telespectadores, se candidatem e submetam-se a situaes degradantes com o

    nico intuito de ganhar um pouco de visibilidade televisiva (BUCCI & KEHL, 2004,

    p. 143). Sendo ento o primordial para os candidatos, nessa busca pela visibilidade,

    apenas a apario no meio televisivo, sem nenhum conhecimento musical que extrapole

    as barreiras da imitao.

    O outro fator a ser discutido, que no cabe a todos integrantes, obviamente. a

    realidade social e econmica desses participantes, sendo alguns desses participantes,

    trabalhadores inseridos na dinmica do trabalho no sistema capitalista, possuem pouca

    condio estrutural de desenvolver uma habilidade musical, o tempo-livre como

    abordamos anteriormente, e usufrudo por produtos culturais consumidos

    constantemente, sendo que, sobra muito pouco desse tempo para se desenvolver uma

    habilidade artstica, que no seja a cpia, de fato.

    Sendo o aperfeioamento tcnico, um objetivo distante da realidade desses

    participantes, temos as condies bsicas para contradio desses programas, a comdia

    presente nos programas Astros e dolos, se sustenta na contradio da tcnica exigida

    teoricamente por seus jurados, e a carncia da mesma tcnica em seus participantes.

    Esta explcito que o objetivo dos programas de covers atuais, no o de formar novos

    astros ou dolos da msica brasileira, e sim, de conquistar cada vez mais audincia

    atravs da comdia barata, que ridiculariza cidados comuns, que julgados de forma

    contraditria, nunca podero tornar-se celebridades, presentes nas capas de revistas

    sensacionalistas.

    A composio desses programas varia um pouco, porm no se distinguem

    muito, o programa Astros (SBT) composto por milhares de participantes, das mais

    distintas cidades, que so julgados por quatro mal-humorados jurados, o programa que

    possui durao de mais ou menos uma hora, apresenta um misto de pouca qualidade

    musical dos participantes, muita comdia e piadinhas de seus jurados, que

    malhumorados ofendem os participantes, baseando-se simplesmente na esttica e

  • 11 algumas vezes na tcnica, sem notarem que esses participantes no possuem teoria

    musical nenhuma, pois so frutos do fetiche presente na relao dos produtos culturais

    massificados.

    O programa dolos (Rede Record) por sua vez, composto por um jri de trs

    nem sempre educados msicos, que julgam tambm contraditoriamente milhares de

    participantes, o programa em suas primeiras etapas preliminares, como no programa

    Astros, apresenta um show de horror; com participantes desafinados e sem ritmo,

    resumindo, limitadssimo conhecimento musical. A dinmica do programa em suas

    etapas se constitui em apresentar milhares de participantes no aptos a serem dolos, que

    mesmo assim se expem ao ridculo em frente s cmeras. O tempo de programa em

    suas primeiras fases constitudo basicamente dessas exposies, degradantes que

    causam ao espectador o riso. As etapas que se seguem so de classificaes, e escolha

    pelo pblico, de um novo dolo da msica brasileira, porm, mesmo nessas etapas no

    so dispensadas a comdia, atravs da apresentao dos ridculos, ou melhor, dos

    ridicularizados atravs do julgamento puramente esttico.

    O julgamento esttico, sustentado pelo bom-gosto burgus, no se ausenta

    nesses programas, que deveriam julgar somente a capacidade de interpretao musical,

    h um conceito de beleza ocidental, que so reafirmados justamente pelos astros; dolos;

    vedetes; artistas; etc. Que os participantes desses programas so obrigados a se

    adequarem.

    A premiao dos programas de covers aqui apresentados, so um pouco

    distintas, o programa dolos um pouco mais coerente em relao a premiao do

    artista escolhido para ser o novo dolo, aps vencer todas as etapas do programa, o

    concorrente, recebe uma gravao e divulgao de sua obra, porm essa mesma

    divulgao restrita a Rede Recordo, visto que nenhuma outra rede televisiva se

    interessa em divulgar um produto de outra emissora. O programa Astros, possui uma

    premiao nem de perto condizente a carreira artstico-musical dos vencedores, o

    concorrente vencedor do programa da emissora SBT, recebe um carro como prmio

    sendo que o mesmo fruto de um patrocinador.

    Constatamos assim, que os programas de covers aqui apresentados, so

    contraditrios em sua essncia, pois ao invs de produzir novas personalidades

    nacionais, as mesmas produzem em sua grande maioria, apenas comdia, com aqueles

    concorrentes que no obtiveram xito artstico nenhum. Aos concorrentes ganhadores,

  • 12 premiaes que no garantem uma carreira artstica slida, apenas pequenas aparies,

    em um nico meio de divulgao que se d pela emissora contratante.

    Podemos aps o texto apresentado, afirmar que, os programas de covers Astros

    e dolos so estruturados para reproduzir a msica axiolgica, utilizando os mecanismos

    de identificao e visibilidade, para expor os participantes de maneira contraditria,

    criando comdia aps ridicularizar os participantes que consomem o programa dirio e a

    iluso de poderem ser tambm as novas celebridades em meio sociedade do

    espetculo. Sendo que nessa comdia diria, se oculta o que realmente esta se

    apresentando: pessoas em situaes econmicas precrias, despreparadas, a ponto de se

    submeterem a qualquer tipo de atitude extica para conseguir um prmio em dinheiro

    (FRANA, 2006, p. 112.). Salientando para o fato de que toda essa produo do humor;

    toda reproduo das msicas que banalizam o amor e a vida cotidiana e toda a

    reproduo dos valores dominantes, segue a dinmica da indstria cultural, que

    administra as satisfaes autorizadas, ditando as regras e transformando-as, de acordo

    com a necessidade e a lgica da produo capitalista.

    Referncias Bibliogrficas

    ADORNO, Theodor. HORKHEIMER. Max. A dialtica do esclarecimento. Rio de

    Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

    ADORNO, Theodor. Indstria Cultura e Sociedade. So Paulo: Paz e Terra, 2002.

    BUCCI, Eugnio. KEHL, Maria Rita. Videologias: ensaios sobre televiso. So Paulo:

    Boitempo, 2004.

    DEBORD, Guy. A sociedade do espetculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

    DURO, Fbio. ZUIN, Antnio. VAZ, Alexandre (orgs.) A indstria Cultural Hoje.

    So Paulo: Boitempo, 2008.

    FRANA, Vera. Narrativas Televisivas: programas populares na TV. Belo Horizonte:

    Autntica, 2006.

    MARQUES, Edmilson. A Msica na Sociedade Moderna. In: VIANA, Nildo (org)

    Indstria Cultural e Cultura Mercantil. Rio de Janeiro: Corifeu, 2007. 9

    MILLS, C. Wrigth. A Sociedade de Massas. In: FORACCHI, Marialice Mencarini &

    MARTINS, Jos de Souza. Sociologia e Sociedade. Rio de Janeiro: LTC, 1994.

    MORIN, Edgar. A Indstria Cultural. In: FORACCHI, Marialice Mencarini &

  • 13 MARTINS, Jos de Souza. Sociologia e Sociedade. Rio de Janeiro: LTC, 1994.

    RUBIM, Antonio. Comunicao e Capitalismo. Salvador: Centro editorial e didtico da

    UFBA, 1988.

    VIANA, Nildo. Os Valores na Sociedade Moderna. Braslia: Thesaurus, 2007.

    Anderson Lucas Novaes

    Graduando em Histria e integrante do Ncleo

    de Pesquisa Marxista pela Universidade Estadual

    de Gois.

  • A Informao nos Meios de Comunicao

    Edmilson Marques

    Sombra, as testemunhas de tua grandeza

    Esto prontas a falar e a dar as informaes

    Que forem necessrias.

    (Brecht, Traz-se o Friso).

    Uma crena amplamente aceita na sociedade atual a de que a informao

    divulgada pelos meios de comunicao um importante meio para se compreender a

    realidade. Isso pode ser notado nas leituras dirias de jornais, ao respeito pelos

    noticirios das grandes empresas de comunicao televisiva, ateno dirigida s

    principais manchetes de emissoras de rdios, s leituras atentas das revistas mais

    conceituadas, consulta aos sites de noticirios etc. Criou-se uma ideia que a

    informao repassada pelos meios de comunicao indispensvel e fundamental para

    se compreender a vida que levamos na sociedade. Esta ideia, no entanto, acaba sendo

    reproduzida em larga escala sem nenhuma preocupao crtica do contedo de tais

    informaes. Diante desta questo que propomos aqui, analisar a informao divulgada

    pelos meios de comunicao.

    Desde a prensa grfica de Gutenberg, meados do sculo XV, a sociedade

    passou a conviver com informaes divulgadas por intermdio de algum meio de

    comunicao. Da em diante, at os dias atuais, a divulgao das informaes sobre a

    sociedade perpassa pela sua organizao, edio e controle nos bastidores dos meios de

    comunicao. Tratar da questo da informao, no entanto, requer tratar dos meios de

    comunicao. Estes devem ser compreendidos alm do simples meios de comunicao

    (jornais, revistas, rdio, televiso etc). So organizaes dirigidas e de propriedade de

    determinados indivduos que os utilizam para atingir determinados objetivos.

    A maior parte dos proprietrios dos meios de comunicao, por sua vez,

    sobrevivem do investimento de outros setores da sociedade que buscam neste, uma

    forma de divulgao de algo de seu interesse. O maior investimento dos meios de

    comunicao, no entanto, advm de grandes empresas produtoras de mercadorias.

    inquestionvel, contudo, que os proprietrios destas empresas, indstrias ou qualquer

    outra organizao burocratizada tm como finalidade o lucro, mesmo que este seja um

    fim oculto no discurso destes indivduos. Por exemplo, comum ouvir em propagandas

  • 15 que a organizao X foi criada para lhe fazer feliz ou que a mercadoria Y feita pra

    voc. Bom, isso o que declaram, mas, que ocultamente o que esto querendo dizer

    que necessita que a sociedade consuma as mercadorias por elas produzidas para que

    efetivem o lucro. Nesse sentido a informao passa a ser de fundamental importncia,

    pois, so utilizadas como meio de constranger a sociedade ao consumo.

    De um lado ento, a informao ser o meio utilizado por capitalistas para

    divulgar mercadorias com o objetivo de vend-las. Para isso, recebem o apoio de outras

    instituies que vo sendo criadas para trabalhar na elaborao de informaes, cujo

    objetivo o mesmo daqueles, ou seja, o lucro. A diferena entre ambas est na forma

    em que utilizam a informao. Enquanto as empresas que produzem determinadas

    mercadorias utilizam a informao para constranger a sociedade ao consumo, os quais

    cedem parte de seus lucros para o financiamento da divulgao de suas mercadorias, as

    organizaes que elaboram tais informaes utilizam estas como mercadorias e 11

    oferecem servios especializados em produo de propagandas e outros meios para

    lucrarem com o servio prestado aos capitalistas, ou seja, lucram com a informao.

    Assim, a razo de ser primeiramente das informaes produzidas pelos

    proprietrios de grande parte dos meios de comunicao, constranger a sociedade ao

    consumo de determinadas mercadorias, possibilitando assim o lucro dos capitalistas.

    com este objetivo que percebe-se os meios de comunicao apresentar determinados

    noticirios. A seriedade atribuda a estes se torna fundamental para apresentar a

    informao como algo srio o que constrange as pessoas a consider-las como algo

    profcuo. Atravs destes noticirios torna-se mais eficaz a divulgao de uma

    determinada mercadoria. E fazem isso associando a mercadoria a discursos de

    especialistas.

    muito comum perceber esta estratgia com medicamentos. Para vender

    certos medicamentos os proprietrios de meios de comunicao procuram especialistas

    os quais utilizam do discurso para convencer as pessoas a consumir este produto.

    Assim, se o especialista fala que o medicamento X eficaz porque mata realmente os

    vermes, por possuir uma substncia Y desenvolvida com uma alta tecnologia, fruto de

    dezenas de anos de pesquisa, isso acaba convencendo algumas pessoas que esta

    mercadoria seja realmente importante para sua sade. Esta uma forma de efetivar o

    que desejam, ou seja, a venda do produto, logo, o lucro. Esta mesma estratgia utilizada

    em noticirios de rdio e TV mais difcil de ser percebida pois at mesmo algumas

  • 16 tragdias so utilizadas como meios para vender outras mercadorias. Os noticirios de

    TV, por exemplo, conseguiram uma audincia tal, que um grande nmero de pessoas

    assumem tais notcias como sendo fundamentais para a compreenso da vida que nos

    cerca e os tomam como notcias srias, que informam realmente. Contudo, preciso

    perceber que mesmo os noticirios de TV, rdio, etc, podem ter sido adquiridos por

    determinadas empresas com o intuito de divulgar certas mercadorias. Guareschi afirma

    que as notcias divulgadas so amplamente controladas por editores que trabalham na

    sua elaborao. Embora ele no aprofunde nesta questo, mas aponta para a questo que

    estas notcias so elaboradas de forma que atendam aos interesses da classe dominante.

    Segundo ele,

    Milhares de palavras so escritas nas notcias originais. Editores nos bureaux

    das agncias funcionam como fiscais, selecionando e colorindo as notcias, e

    decidindo quais passaro ao prximo fiscal. As notcias passam dessa

    maneira, atravs de todos os preconceitos desses fiscais (preconceitos

    ideolgicos, de educao, de idade, de profisso, de comprometimento

    pblico, de comprometimento econmico etc.) (1987, p. 37).

    O autor ainda enfatiza que grande parte das notcias divulgadas pela maioria

    dos meios de comunicao de todo o mundo sofrem uma ampla influncia de agncias

    norte-americanas. Ele observa que

    Alguns itens so bastante enfatizados e exagerados como, por exemplo, o

    item sobre terrorismo e violncia: somente 13,81% dos itens provindo da

    Amrica Latina, como fonte original, eram relacionados com crime ou

    violncia; mas 47,66% dos itens retransmitidos por Nova Iorque (depois de

    fiscalizados e selecionados de acordo) eram referentes a crime e violncia (Al

    Hester, 1976, p. 27). Percebe-se aqui, de forma clara, o interesse dos

    controlados das notcias em formar opinio (negativa ou positiva, mas

    sempre distorcida) sobre eventuais inimigos ou aliados. Em pases onde

    gerentes de companhias americanas so seqestrados, onde diplomatas, s

    vezes, passam por maus bocados, importante que o povo seja rotulado, para

    o resto do mundo, como violento e desumano (Idem).

    Nesse sentido, a gripe suna que mata milhares de pessoas em todo o mundo

    ser divulgada, e concomitantemente, os medicamentos que so a cura para a mesma.

    Assim, se as pessoas ouvem no noticirio que tem um vrus matando milhares de

    pessoas e que este est se espalhando pelo mundo inclusive utilizam de estatsticas

    para comprovar e dar mais sustentabilidade em suas informaes e que foi

    desenvolvido um medicamento Z para combat-lo, ocorre com isso, primeiramente, a

    reproduo desta crena em larga escala, e em seguida, promove o constrangimento das

    pessoas ao consumo do medicamente para se precaver de tal doena. O capitalista que

    produz o tal remdio, ri encarniadamente vendo o bolso encher em um curto perodo

  • 17 de tempo (esta informao no divulgada pelos meios de comunicao).

    Outra forma de se utilizar da informao para a venda de mercadorias se d na

    esfera artstica. A arte tem se transformado num meio fundamental para divulgar

    informaes para constranger ao consumo, como o caso de telenovelas, programas

    humorsticos de rdio e tv, sites de internet, textos humorsticos de jornais e revistas,

    cinema, quadrinhos, pinturas etc. Inserido no roteiro ou na prpria obra de arte, a

    informao sobre determinada mercadoria, ou da empresa que a produz, acaba sendo

    divulgada, e se isso feito por um artista famoso, a possibilidade do constrangimento ao

    consumo ocorrer de forma massificada se torna ainda maior.

    Neste sentido, percebemos o carter venal dos artistas ou daqueles indivduos

    que so popularizados pelos meios oligopolistas de comunicao, a exemplo de atletas,

    que ao se tornarem famosos, logo so contratados por empresas para divulgarem suas

    mercadorias. Neste contexto que Viana (2007, p. 81) coloca que a ascenso da

    indstria cultural [...] marca um processo de subordinao crescente da produo

    artstica ao processo de produo capitalista.

    Outra utilizao da informao realizada com o objetivo do lucro est na

    divulgao de servios. A mercantilizao e burocratizao das relaes sociais vm

    provocando o crescimento de servios oferecidos, por um lado, por indivduos que

    buscam no mercado o meio de sobrevivncia, e por outro por indivduos que objetivam

    lucrar com o trabalho por ele desenvolvido. Indivduos de classes subalternas, a

    exemplo dos trabalhadores domsticos, em sua grande parte oferecem seu trabalho para

    sobreviver. J outros, provenientes de classes privilegiadas a informao se torna

    fundamental para a sua auto-promoo, e assim, a divulgao do seu servio

    apresentado como algo indispensvel para o bem estar individual e por isso deve ser

    consumido. Neste bojo, aquele que paga mais aos meios de comunicao para sua

    promoo, ou tem mais possibilidade de ampliar a divulgao da informao de seu

    servio, acaba efetivando o que deseja na realidade, o lucro, simultaneamente o seu

    enriquecimento.

    At aqui tratamos da informao ligada diretamente produo de mercadoria,

    e desta como mercadoria, a informao como propaganda. Mas, ainda preciso tratar da

    informao estatal, a qual, mesmo tendo uma ligao direta com a produo de

    mercadorias na sociedade, no propaga a mercadoria em si, mas a ideologia da

    burocracia. A informao recebe uma ateno especial do estado. por isso que se

  • 18 criou um conjunto de leis que obriga todo e qualquer meio de comunicao, a divulgar

    questes referentes ao estado. Contudo, as informaes devem divulgar uma imagem

    positiva do estado, e no contrariar a ordem estabelecida e nem mesmo desqualificar sua

    imagem. Isso acaba provocando o que Marcuse (1973) denominou de pensamento e

    comportamento unidimensional, os quais so voltados para o que ele chamou de estilo

    de vida cujo objetivo daquelas informaes acomodar os indivduos sociedade

    permeada pelos interesses burgueses, do consumo compulsivo de mercadorias.

    Devido a essas exigncias que se v as emissoras de rdio divulgar em rede a

    Hora do Brasil; ou a TV fazer o pronunciamento do presidente e de partidos polticos

    em horrios que grande parte das pessoas se encontram em casa para o descanso; ou

    jornais e revistas de propriedade do prprio estado que divulgam suas aes. Enfim, a

    informao estatal tem como intuito fundamental divulgar a ideologia da representao,

    a ideia que o estado, os partidos polticos e os sindicatos so fundamentais para a vida

    da sociedade. Esta informao desejada pelo estado exclui a possibilidade da

    organizao social realizada pela classe trabalhadora. Pois, se esta informao se

    popularizar, pode-se correr o risco de seu poder ficar em xeque, e a grande parte da

    populao questionar o prprio estado. Por isso, toda a ateno que dirige informao

    na sociedade, controlando, editando, e se possvel, evitando aquelas que lhe agride.

    Vimos anteriormente dois tratamentos dados informao, uma utilizada pelos

    proprietrios de grandes empresas produtoras de mercadorias, a informao

    mercadolgica, e a outra a informao utilizada pelo estado, a informao estatal, ambas

    relacionadas propaganda. Os proprietrios de meios de comunicao, por seu lado,

    acabam elaborando tambm suas prprias informaes e as divulgando. So

    informaes superficiais que dizem respeito a questes do cotidiano, o que Bourdieu

    denominou de notcias de variedades, que para ele, tm por efeito produzir o vazio

    poltico, despolitizar e reduzir a vida do mundo anedota e ao mexerico (p. 73), ou

    melhor, tornar a percepo da realidade superficial, prendendo a ateno da sociedade

    ao superficial, s expresses jurdicas, ocultando o essencial, as relaes de produo,

    que no capitalismo fundamentada numa relao de explorao. Essas informaes so

    voltadas para o aumento de audincia, como o caso de informaes relacionadas ao

    esporte, a acontecimentos dirios da sociedade, meteorologia, etc. Com o aumento de

    audincia, no entanto, cresce o nmero de investidores.

    Esses tipos de informaes tratadas anteriormente, contudo, se convergem a

  • 19 um nico objetivo, o lucro e a manuteno da ordem estabelecida. Como coloca

    Badikian (1993, p. 164) o desejo de manter a ateno de todo mundo para vender-lhes

    os bens anunciados, uma motivao dos operadores [dos meios de comunicao] que

    esto no negcio devido aos lucros. A informao desejada pelos capitalistas

    defendida pelo estado quando este a controla e no permite que seja dito ou divulgada

    qualquer espcie de informao que v alm da ordem estabelecida1. Nesse sentido, a

    informao em grande parte dos meios de comunicao controlada e limitada, e ainda,

    criada por especialistas para educar as pessoas para esta sociedade, para o capitalismo.

    Por outro lado, mesmo o estado promovendo um controle amplo da

    informao, desponta na sociedade informaes que contrariam seus interesses,

    consequentemente, os interesses dos capitalistas, tratando-se das informaes

    contestadoras. Estas surgem do descontentamento de determinados indivduos com esta

    sociedade e utilizam de determinados meios para sua divulgao. Este tipo de

    informao se depara com o controle estatal sobre os meios de comunicao, e devido a

    isso, os indivduos que desejam divulg-la acaba tendo que recorrer a meios

    alternativos.

    Mesmo conseguindo divulgar para um pblico reduzido, grande parte desses

    indivduos convivem com a represso estatal, sendo muitas vezes presos e torturados.

    Um exemplo desta represso estatal divulgao de informaes contestadoras pode ser

    notada no fechamento de meios de comunicao e de agresses aqueles que distribuem

    panfletos, jornais, revistas etc., de contestao.

    Mesmo controlando a informao contestadora o estado no consegue evitar

    que esta aparea aqui ou ali. Embora venha se popularizando uma falsa ideia de uma

    liberdade2

    total de expresso, o controle da informao continua ampliando cada vez

    mais, e, concomitantemente, cresce tambm os meios alternativos de divulgao da

    informao contestadora. Srgio Caparelli (1986, p. 48) expressa que os meios

    alternativos de comunicao um fenmeno mundial, o que demonstra a sua

    1 Pode-se referir tambm s informaes repassadas pela comunicao realizada atravs do telefone.

    comum o estado grampear algumas linhas telefnicas e retirar as informaes para reprimir aqueles que

    lhe agride, ou que, pelo menos, contraria a ordem estabelecida. 2 A liberdade de expresso nos meios de comunicao existe para aqueles que no contrariam a ordem

    estabelecida. Para aqueles que reproduzem o discurso burgus de conformidade com a sociedade

    capitalista. Por outro lado, informaes que contestam a ordem estabelecida so divulgadas at o

    momento em que no os interesses da burguesia e do estado no so atingidos. Quando isso ocorre, o

    revide estatal imediato e brutal.

  • 20 amplitude. Assim, determinados indivduos buscam contestar a ordem estabelecida, a

    opresso social, e denunciar por conta prpria, sem o apoio dos grandes meios

    oligopolistas de comunicao, a explorao que grande parte da sociedade sofrem nos

    locais de trabalho e da misria e contradies inerentes a esta sociedade.

    Esta informao acaba tendo o objetivo de informar o que os capitalistas e o

    estado no desejam e no fazem atravs dos meios de comunicao, ou seja, informar

    que ao invs da felicidade, da harmonia, e da possibilidade de uma vida melhor nesta

    sociedade, o que reina a misria, a explorao, a desumanizao do mundo, as guerras,

    e a luta constante e brutal de uma classe social (a burguesia) sobre outras (as classes

    explorada e oprimidas). Aliado a este objetivo vem surgindo e sendo cada vez mais

    divulgada a informao da possibilidade de uma nova sociedade, onde as pessoas so

    agentes de sua prpria vida, onde so integrantes ativas da organizao social e vivem

    em constante ligao na realidade com a informao existente, j que esta perpassar

    uma realidade sem o interesse vil dos capitalistas que a utilizam como meio de efetivar

    o lucro.

    Este tipo de informao perdurar enquanto existir a sociedade que coloca na

    misria e em estado desumano de vida, milhares de pessoas, pois, mesmo diante da

    mediocridade e do controle, ainda assim, continua a existir e ampliando o nmero de

    pessoas que lutam diariamente contra tudo que lhe aprisiona e lhe provoca o estado

    doentio de vida. Pessoas que buscam contribuir com a destruio das causas da

    explorao, da desigualdade e de todas as formas de informaes que concordam com

    esta vida, perpassada pelos interesses da burguesia; informaes que escondem a

    possibilidade de uma nova sociedade que ser fruto da luta dos prprios trabalhadores,

    que buscam destruir esta forma de informao que no informa quem so os verdadeiros

    causadores e mantenedores desta sociedade que se tornou a sociedade mais vil e cruel

    de toda a histria da humanidade. Mas a mudana possvel e necessria. Por isso, a

    necessidade de se fazer a divulgao da informao que anuncia a possibilidade de uma

    nova sociedade tendo esta como foco e objetivo final para uma transformao social.

    Assim, coloca-se em evidncia a informao que no informa, a informao que reina

    na maioria dos meios de comunicao da sociedade capitalista, a informao que diz

    respeita lgica capitalista.

  • 21 Referncias Bibliogrficas

    BAGDIKIAN, Bem. O Monoplio da Mdia. So Paulo: Pgina Aberta, 1993.

    BOURDIEU, Pierre. Sobre a Televiso. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 1997.

    CAPARELLI, Srgio. Comunicao de Massa Sem Massa. So Paulo: Summus, 1986.

    GUARESCHI, Pedrinho A. Comunicao e Poder: a presena e o papel dos meios de

    comunicao de massa estrangeiros na Amrica Latina. Petrpolis: Vozes, 1987.

    HESTER, Al. International News Agencies. University of Wisconsin, (mimeografado),

    1976.

    MARCUSE, Herbert. A Ideologia da Sociedade Industrial. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,

    1973.

    VIANA, Nildo. A Esfera Artstica. Porto Alegre: Zouk, 2007.

    Edmilson Marques

    Professor da Universidade Estadual de Gois e doutorando em histria pela Universidade

    Federal de Gois.

  • Resenhas

    Valores e Hegemonia,

    uma Crtica Desbravadora da Axiologia

    Fabrcio Arruda Santos

    Um dos mais poderosos sustentculos da sociedade burguesa a cultura. Esta

    o cimento da dominao burguesa, como j dizia Gramsci. A hegemonia burguesa na

    sociedade civil to forte que at os setores oposicionistas so reprodutores dela,

    mesmo quando fazem oposio. Isto est presente na razo instrumental, analisada por

    Horkheimer, no domnio da ideologia dominante, como j apresentado por Marx, mas

    h algo mais a. O que ? Eis a pergunta. A resposta pode ser encontrada em um livro

    recentemente publicado por um dos grandes desbravadores da sociologia brasileira,

    Nildo Viana, a obra Os valores na sociedade Moderna. Nesta obra, Viana desenvolve

    elementos fundamentais para se pensar a reproduo da sociedade moderna, capitalista.

    Uma das bases da ideologia e da razo instrumental a axiologia.

    Por isso a axiologia mais forte e importante para explicar a dominao

    cultural burguesa do que a ideologia e a razo instrumental. No se trata aqui de

    axiologia como "cincia dos valores", "ramo da filosofia" e sim tal como definida e

    analisada por Nildo Viana em sua obra Os Valores na Sociedade Moderna.

    Axiologia significa, neste caso, uma determinada configurao do padro

    dominante de valores. Em outras palavras, so os valores dominantes em uma

    determinada sociedade, que podem assumir vrias formas ou combinaes (uma

    determinada configurao). Tais valores so produzidos socialmente, inculcados nos

    indivduos desde a infncia e o processo de socializao primria, expresso na famlia,

    escola, meios de comunicao, brinquedos, etc. Esse processo social de produo de

    valores est de acordo com as relaes sociais existentes, reproduzindo-as e

    valorandoas.

    Elas expressam os interesses de reproduo das relaes de produo

    capitalistas e se espalham por toda a vida social, engolindo os indivduos. As escolhas,

    decises, atitudes, ideias, dos indivduos so condicionadas por seus valores e por isso a

    base da ideologia dominante e do conservadorismo, mesmo de setores dominados, a

    axiologia.

  • 23 Assim, os valores dominantes formam, nos indivduos, valores fundamentais

    que eles reproduzem e internalizam, tornando-se dificilmente removveis. A busca de

    ascenso social, sucesso, fama, poder, riqueza, ou seja, o mundo da competio est

    entranhado nas pessoas, bem como a importncia da autoridade, dos dirigentes, dos

    governantes, dos diretores, e a mercantilizao de tudo, no qual o ter predomina sobre o

    ser, e tudo vale pelo quanto custa. Estes elementos tpicos das relaes sociais

    burguesas se reproduzem na esfera dos valores. Trata-se da sociabilidade burguesa

    fundada na competio, burocratizao e mercantilizao que produz os valores

    dominantes e estes, por sua vez, reproduz tal sociabilidade.

    Todos os indivduos possuem valores fundamentais e valores derivados e a

    sociedade moderna molda os valores fundamentais, que so os correspondentes aos

    interesses dominantes. Os valores fundamentais so aqueles que ligados valorao

    primria e se torna critrios para a valorao secundria, ligada aos valores derivados,

    ou seja, so meios de escolhas que determinam os demais valores. Isto se revela no

    nosso cotidiano, escola, cincia, arte, mundo dos objetos. Os filmes, as obras de arte, as

    produes intelectuais e cientficas, so, predominantemente, axiolgicos. Os programas

    de TV, brinquedos, objetos em geral (uma pessoa troca de mesa para ter uma mesa

    melhor, no sentido de lhe fornecer mais status e lhe colocar um minsculo degrau acima

    na escala social) so predominantemente axiolgicos.

    A ideologia tem como base a axiologia. A ideologia, no significado marxista,

    uma falsa conscincia sistematizada. Essa falsidade no surge apenas das limitaes

    intelectuais dos indivduos. Ela surge por outro motivo, o no-querer ver, determinada

    pelos valores. Um economista que apela para nmeros para esconder a realidade da

    explorao, da misria, do fracasso da qualidade de vida e do bem estar dos indivduos,

    no est apenas sendo limitado intelectualmente devido a ideologia dominante na

    cincia econmica, mas tambm pelos valores que ele compartilha, a nvel geral

    predominantes em todos os grupos sociais, tal como a competio, e que se reproduz

    entre os economistas que, para realizar o valor do sucesso e ascenso social, precisa

    estar na moda e agradar, para ganhar financiamento, vender livros, etc. e a nvel

    particular como economista e portanto indivduo ressocializado para valorar os

    nmeros, as estatsticas, dos resultados, em detrimento dos seres humanos. Uma das

    principais fontes da ideologia, da falsa conscincia sistematizada, a axiologia.

    Depois de perceber essas questes, vem a pergunta: qual a sada? Ou no h

  • 24 sada? Se existem valores dominantes, existem valores no-dominantes. A existncia da

    dominao s pode ser pensada num processo no qual existam dominantes e dominados.

    A existncia de valores dominantes mostra que existem outros valores, pois caso

    contrrio haveria apenas valores, no seriam dominantes e seriam de todos e para todos.

    por isso que existem valores divergentes, valores autnticos. Eles so

    autnticos por expressarem valores correspondentes natureza humana, ou seja, que

    esto ligados aos princpios do trabalho no alienado ou seja, da criatividade e da

    cooperao asociabilidade entre iguais. Para explicitar estes valores, Viana cunha o

    neologismo axionomia, expresso de determinada configurao de valores autnticos.

    A axionomia existe marginalmente na sociedade moderna, em grupos

    explorados e oprimidos, no proletariado, e outros lugares. Tambm existe em muitos

    indivduos em contradio com outros valores que so portadores. Um indivduo possui

    uma escala de valores e conflitos internos entre valores e por isso h uma luta interna

    dentro do indivduo, assim como h uma luta social em torno dos valores. Uma das

    formas de corroer a hegemonia burguesa, afirma Viana, buscar a transformao dos

    valores, realizar a crtica da axiologia e a defesa da axionomia. E a conscincia tem um

    papel importante nesse processo, pois h uma influncia recproca entre conscincia e

    valores e os conflitos internos dos indivduos podem ter uma resoluo positiva caso

    tenham conscincia que grande parte dos seus valores so produtos sociais e

    axiolgicos.

    Assim, h uma luz no fim do tnel. E no poderia deixar de ser, pois Viana se

    destaca por ser um dos poucos socilogos brasileiros originais e que no se rende ao

    conservadorismo, modismo, colonialismo cultural e que um desbravador, no sentido

    que desbrava, abre novos caminhos, inova. Nada mais normal, portanto, que produza

    mais esta obra desbravadora.

    Referncia bibliogrfica

    VIANA, Nildo. Os Valores na Sociedade Moderna. Braslia: Thesaurus, 2007.

    Fabrcio Arruda Santos

    Graduado em cincia sociais pela UFPE Universidade Federal do Pernambuco.

  • 25 O Ser na Concepo Materialista da Histria

    Jos Fbio da Silva

    O nico absoluto a mudana

    Butterfied

    O homem um ser efetivamente histrico. Relaciona-se com o seu meio

    empreendendo um significado e um objetivo a todas as suas aes, conscientemente ou

    no, em uma relao entre o passado e o futuro. um ser teleolgico influenciado

    diretamente pelo meio social no qual se insere, ou seja, impossvel falar do homem

    separando-o de seu meio social ou de sua historicidade. Tudo que se relaciona com o

    homem enquanto indivduo est ligado diretamente ao seu espao social e s condies

    materiais e interpretaes das mesmas herdadas por ele historicamente.

    As condies histricas e o modo de produo da vida material o que

    condiciona o processo da vida social, ou seja, o lugar que o indivduo ocupa na

    sociedade que determina a sua conscincia. A conscincia nada mais do que o

    reconhecimento do indivduo de sua posio no processo de produo, bem como a

    compreenso que tal posio foi historicamente determinada, e justamente por isso,

    tambm pode ser mudada por meio do prprio processo histrico. Na viso do

    materialismo histrico-dialtico, esse processo histrico se d por meio da luta de

    classes. O processo de conscientizao s se d, entretanto, dentro do processo moderno

    de produo, como afirma Lucks: Com o capitalismo e com a constituio de uma

    sociedade com articulaes puramente econmicas, a conscincia de classe chegou ao

    estgio em que pde se tornar consciente (LUCKS, 2003, p. 156).

    O desenvolvimento da conscincia se d dentro do desenvolvimento do

    movimento histrico real. no desenvolvimento temporal irreversvel que a histria

    atravessa os seres humanos em sua existncia e forma o indivduo como um ser socio-

    histrico onde o ser no se separa da conscincia e o singular no se distingue do

    universal.

    O ser o ser humano histrico-concreto envolvido em relaes sociais que

    garantem a produo e reproduo da vida material e a conscincia s pode

    ser as representaes 'reais' ou 'ilusrias' que ele elabora a respeito de suas

    relaes com a natureza e a sociedade. (VIANA, 2007, p. 29)

    O ser determinado fundamentalmente por sua essncia; a essncia, por sua

  • 26 vez, existe apenas em sua manifestao concreta, em sua existncia. Entretanto, para

    superar a aparncia e reconhecer o ser, para reconhecer a essncia do ser em sua

    historicidade, sem a qual ela no pode ser reconhecida, necessrio compreender que a

    essncia s existe na manifestao de alguma coisa, ou seja, no se reconhece a

    essncia do ser separando-a de sua existncia material ou de sua historicidade.

    Do ponto de vista do materialismo histrico-dialtico, a conscincia do

    indivduo em relao ao seu meio social, poltico, intelectual ou religioso,

    condicionada pelo modo de produo da vida material. Sua viso de mundo formada a

    partir da classe social que o indivduo se insere e no pela ideia que ele venha a

    construir de si mesmo. Segundo Edward Carr, nossa imagem de fatos de nosso meio

    modelada por nossos valores. Os valores penetram nos fatos e so parte essencial deles

    (CARR, 2002, p. 163).

    Os valores prevalentes em uma sociedade so os valores da classe dominante.

    No sistema capitalista, os valores que prevalecem so os valores burgueses, classe

    detentora dos meios de produo a qual busca a reproduo do capital. Independente da

    conscincia que um indivduo faz de si, os seus objetivos, enquanto classe est sempre

    presente nele, a viso que ele faz de si no determina quem ele de fato , mas sim as

    condies materiais e o meio no qual ele est inserido. Os interesses de classe so o

    objetivo e o envolvimento que uma classe social possui originrios de sua posio

    diante das relaes de produo.

    O assalariado produto e produtor de seu meio e apenas percebendo sua

    posio dentro desse processo de explorao pode ento obter foras e vislumbrar

    condies para poder super-lo. Para uma clara compreenso do ser-de-classe do

    proletariado, necessrio, antes de mais nada, uma compreenso clara da oposio que

    h entre o trabalhador assalariado e a propriedade privada. Na perspectiva do

    materialismo histricodialtico, o trabalhador tem na superao de suas condies de

    inferioridade frente ao capitalismo o seu fim e sua ao histrica, e para que isso

    ocorra preciso que se liberte de si mesmo enquanto classe e elimine a propriedade

    privada, principal responsvel por sua condio. O ser-de-classe do proletariado revela-

    se, ento, dentro do processo histrico e de suas condies materiais enquanto fora de

    trabalho assalariado produtora de mais-valia e constantemente contrria ao capital. A

    conscincia de classe do trabalhador no se encontra ento no mbito terico e sim na

    prtica, em suas atividades cotidianas, no dia a dia de sua existncia enquanto ser social.

  • 27 Como afirma Nildo Viana:

    A conscincia uma forma de atividade. O ser humano sempre coloca uma

    finalidade antes de executar uma atividade. A finalidade , portanto,

    expresso do carter ativo da conscincia. Esta finalidade pode ser uma tica,

    um projeto de algo novo, etc (VIANA, 2007, p. 33).

    O antagonismo caracterstico das condies sociais de vida dos indivduos

    sustenta a fora produtiva responsvel pelo desenvolvimento da sociedade capitalista ao

    mesmo tempo em que cria as condies materiais para a soluo desse mesmo

    antagonismo. O indivduo mesmo consciente de seu papel dentro de uma determinada

    sociedade pode, ainda assim, no conseguir enxergar as contradies presentes na

    mesma. medida que o indivduo verdadeiramente consciente se reconhece como parte

    integrante de uma classe social e luta no apenas pelos prprios interesses, mas pelo

    interesse da classe, as contradies dessa sociedade tornam-se mais evidentes, pois na

    intensificao das lutas de classe e das contradies do capitalismo se desenvolve a

    conscincia mais abrangente da realidade.

    O ser no materialismo histrico-dialtico no apenas uma hiptese, o ser

    abandona o seu carter metafsico e passa a se relacionar com um tempo e um lugar,

    dentro da produo e reproduo da vida imediata/existencial que o ser social se

    organiza e se materializa; se concretiza em uma realidade histrico-concreta.

    A ontologia marxista relacional o ser social no uma coisa, e sim relaes histricas determinadas. Ao mesmo tempo que absolutamente

    historicizado, esse ser conservaria um resduo intemporal, presente em todas

    as formulaes sociais e inultrapassvel: a relao insupervel entre homem e

    natureza (REIS, 2006, p. 54-55).

    A perspectiva do materialismo histrico-dialtico no busca a origem do ser

    como faz metafsica, o ser fruto das relaes sociais e do modo de produo que

    fundamenta cada sociedade. Essas relaes mudam e assumem caractersticas diferentes

    conforme lugares e pocas. Mesmo diante de muitas interpretaes o modo de

    produo da vida material que determina as estruturas sociais e as contradies da

    mesma. No h uma verdade do ser separado do processo histrico ou das condies

    materiais que fundamental a sociedade. O homem mais do que um ser universal, um

    ser produzido historicamente, no sendo fadado a aceitar as verdades que a

    sociedade coloca como tal.

    Referncias Bibliogrficas

    ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de Filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2007.

  • 28 CARR, Edward H. Histria como progresso. In: CARR, Edward H. Que histria.

    So Paulo: Paz e terra, 2002. p.143-165.

    FONTANA, Josep. Marx e o materialismo histrico. In: FONTANA, Josep. A

    Histria dos Homens. Baur, SP: EDUSC, 2004.

    KORSCH, Karl. A concepo materialista da histria. In: KOSH, Karl. Marxismo e

    filosofia. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008. p. 123-146.

    LUKCS, Georg. Conscincia de classe. In: LUKCS, Georg. Histria e conscincia

    de classe: Estudos da dialtica marxista. So Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 133-191.

    REIS, Jos Carlos. O Marxismo. In: REIS, Jos Jorge. A Histria, entre a Filosofia e a

    Cincia. Belo Horizonte: Autntica, 2006.

    VIANA, Nildo. A conscincia da Histria. Ensaios sobre o Materialismo Histrio-

    Dialtico. Rio de Janeiro: Achim, 2007.

    ______. Escritos metodolgicos de Marx. Goinia: Alternativa, 2007.

    ______. O Que marxismo? Rio de Janeiro: Elo, 2008.

    Jos Fbio da Silva

    Graduando em Histria pela Universidade

  • 29 Lugares de Memria: a construo do

    bandeirante no livro didtico

    Marlon Teixeira de Faria

    Antes de comearmos a fundamentar nosso artigo, devemos fazer uma breve

    considerao a sua vida do autor de Memria Coletiva, (2006). Maurice Halbwachs,

    nasceu na Frana em 1877 e faleceu em 1945. Segundo uma biografia includa em sua

    obra (2006), era uma criana tranqila, at o momento em que comeou a freqentar o

    Liceu Henri IV, onde comeou a assistir aulas de Henri Brgson, que foi onde ele

    liberou toda sua vontade e gosto pela filosofia.

    Desse momento frente ele lia constantemente obras de Stendhal, Rembrandt,

    Leibniz, entre outros. Durkheim foi uma de suas inspiraes para produo de obras e

    mais, para o prprio desenvolvimento de suas teorias. Sua morte foi devido ao terror

    nazista, nos campos de concentrao.

    Ciente da posio que ocupamos como pesquisadores, e tendo em vista a

    dimenso atingida na sociedade pelo processo educacional, que no se restringe apenas

    ao professor, mas que por outro lado, abarca diversos campos sociais em nossa

    sociedade, Brando (1997), observamos que muitas vezes ficamos cegos perante

    algumas abordagens quais deparamos, j que muitas vezes estamos envolvidos pelo

    senso comum, segundo Dermeval Saviani (2002), que se torna uma postura adotada,

    onde muitas vezes sem percebermos reproduzimos determinadas aes e idias, que por

    sua vez passam por nosso senso crtico. Assim propomos uma anlise do livro didtico e

    seu papel na escola na formao da memria. Propondo a associao da memria com a

    educao, partimos em busca de uma anlise de como a imagem do bandeirante

    captada pelos alunos das sries em questo.

    Compreendendo a dimenso ampla do desenvolvimento e organizao

    educacional, desenvolvemos essa pesquisa com a inteno de entender tal processo

    atravs do livro didtico, que por sua vez, em nossa pesquisa o caracterizamos como um

    lugar de memria, segundo todo o embasamento que conseguimos atravs da leitura da

    obra Entre Memria e Histria: a problemtica dos lugares, de Pierre Nora (1993),

    nossa reflexo direcionada a outro objetivo nosso, relacionar o livro didtico como um

    instrumento de produo de memria, e que podemos perceber ser de grande e constante

  • 30 utilidade nas escolas.

    Dessa forma, segundo Nora, Os lugares de memria nascem e vivem do

    sentimento que no h memria espontnea, que preciso criar arquivos, que preciso

    manter aniversrios, organizar celebraes, pronunciar elogios fnebres, notariar atas,

    por que essas aes no so naturais. (NORA, 1993, p. 13). Ao nosso ver, dentro de

    uma perspectiva sobre o trabalho de Nora percebemos que os Lugares de memria,

    acabam por se tornar pedaos, ou melhor lembranas cristalizadas do passado, que

    surgem com o intuito de no se deixar acabar com toda uma tradio cultural de uma

    determinada nao ou lugar (que tambm percebemos em ABREU, 2005). Para melhor

    completar esse conceito podemos dizer que Lugares de memria so pois aquilo resta:

    um resduo e uma perpetuao. Os testemunhos de um outro tempo, que emprestam

    ritual a uma sociedade desri-tualizada. (ABREU, 2005, p. 217). Assim pensando na

    constituio desses lugares de memria, chegamos a hiptese de que quase que fora de

    questo dissociar o livro didtico dessas caractersticas. Agora dando um toque nosso de

    interpretao, entendemos que este objeto tem essa caracterstica de Lugar de Memria

    devido carregar em seu corpo diversas informaes do passado, e que por sua vez so

    reproduzidas de forma que a critica eliminada de sua abordagem, trazendo apenas uma

    narrativa seqencial, com alguns pingos de lgica.

    Quando discutimos esse tema, antes mesmo temos o dever de refletir sobre

    alguns conceitos desenvolvidos por Maurice Halbwachs, em sua obra A memria

    coletiva, como memria coletiva e histrica, que aqui assumem os pilares para a

    construo deste artigo.

    Comeamos por entender o que seria a memria coletiva, ou melhor, como se

    d esse processo de coletividade da memria. Seguindo o que Halbwachs diz,

    percebemos que ... se pode falar de memria coletiva quando evocamos um fato que

    tivesse um lugar na vida de nosso grupo e que vamos, que vemos agora no momento

    em que o recordamos, do ponto de vista desse grupo. (HALBWACHS, 2006, p. 41).

    Uma vez que, da forma que conseguimos entender, um grupo e um espao esto

    altamente vinculados ao processo da construo da memria de um determinado

    individuo, uma vez que esse herdar diversas caractersticas desse grupo, mas que, no

    entanto o individuo no conseguira evocar todos os acontecimentos de seu grupo com

    todos os detalhes, dessa forma estar sujeito a uma espcie de socializao de sua

    lembrana, que por sua vez estar sendo alvo de complementos de outros indivduos,

  • 31 surgindo assim, de uma forma mais objetiva e direta ao ponto, se pode chamar de

    memria coletiva.

    Assim para uma melhor compreenso da memria coletiva, Halbwachs nos

    oferece uma passagem da qual podemos extrair, no toda, mais uma bela e clara idia

    do que posteriormente e com uma rdua reflexo vem a se constituir esse conceito.

    Dessa forma o autor nos diz que,

    Contudo, se a memria coletiva tira suas foras e sua durao por ter como

    base um conjunto de pessoas, so os indivduos que se lembram, enquanto

    integrantes do grupo. Dessa massa de lembranas comuns, umas apoiadas nas

    outras, no so as mesmas que aparecero com maior intensidade a cada um

    deles. De bom grado, diramos que cada memria individual um ponto de

    vista sobre a memria coletiva [...]. (HALBWACHS, 2006, p. 69)

    Observando o desenvolvimento de tal conceito (memria coletiva), ou seja,

    entendemos que ele, em palavras mais simples, se torna o que temos em comum,

    tratando de uma recordao, ou passagem de nossa vida, ou algum acontecimento que

    estivemos presente, ou at mesmo algo que no presenciamos, mas conhecemos por

    meios de testemunhos ou documentos. Mas sem deixarmos de saber que devemos estar

    dentro de um grupo social, assim assumindo determinadas aes que s esse tem por

    costume, e que dessa forma por tambm fazermos parte temos em comum.

    Passando desse conceito a um outro de fundamental importncia a ns,

    encontramos a memria histrica. Aqui possivelmente podemos nos confundir quando

    pensamos esse termo em relao memria coletiva. Mas o que devemos ter em mente

    nesse momento, que este conceito (memria histrica) ocorre devido apropriao

    dos lugares de memria para colocar na cabea dos indivduos determinadas lembranas

    (e em alguns casos lembranas criadas) das quais a sociedade julga importantes sobre

    sua trajetria. Dessa forma Halbwachs diz que,

    Durante o curso de minha vida, o grupo nacional de que fao parte foi teatro

    de certo numero de acontecimentos a respeito dos quais digo que me lembro,

    mas s conheci atravs de jornais ou pelo testemunho dos que neles estiveram envolvidos diretamente. [...] Trago comigo uma bagagem de

    lembranas histricas, que posso aumentar por meio de conversas ou leituras

    [...] (HALBWACHS, 2006, p. 72).

    Atravs de uma anlise do que diz esse autor percebemos no totalmente, mais

    de forma que nos de uma boa base de discusso cientifica que nos possibilite a realizar

    nossa proposta de forma clara e objetiva. Agora antes de passarmos a uma relao entre

    a memria e o livro didtico, comearemos por refletir sobre algumas pesquisas sobre

    esse ultimo a fim de podermos entender seu papel na sociedade.

  • 32 Dentre alguns autores, entre os quais pesquisamos, Hilton Ferreira Japiassu

    (1977), em uma das paginas de uma de sua obra, dentro de um tpico onde ele discute,

    Saber, Cincia e Epistemologia, ele diz que antes de um saber existe um pr-saber.

    Sendo assim, pensando sua reflexo em algo concreto e que facilmente temos

    acesso como o livro didtico, observamos que ao longo de nosso crescimento temos um

    prsaber, uma espcie de saber a priori, que vem de nossos laos sociais, e vai se

    desenvolvendo medida em que adquirimos certa bagagem intelectual. Assim, nesse

    objeto que estamos discutindo, percebemos que sempre vimos falar de algum assunto

    contido nele, mas sem um maior aprofundamento, dessa forma uma das primeiras fontes

    de conhecimento que temos a mo se torna ele (Livro Didtico), dentro da perspectiva

    de Pierre Nora (1993) ele se torna um lugar de memria (de acordo com a citao feita

    acima), pois a partir de quando o temos como base de aprendizagem, ou de estudo isso

    fica marcado em nossa mente, ou seja, os fatos que neles encontramos se tornam quase

    que pessoais para ns. Assim, atravs de um processo que faz com que algum

    determinado conhecimento se torne coletivo, e posteriormente ganhe seu aspecto

    histrico. (com base em nossa anlise de Halbwachs, 2006).

    Aps isso na escola quando passamos a utilizar o Livro Didtico e agora com

    uma viso nossa, embasada por suporte de alguns autores, vemos que ele serve para

    repassar uma certa forma sistematizada de saber, que faz com que seja criada uma

    memria atravs da exposio de seus contedos, ele ganha uma certa carga de memria

    histrica, pois, diversos, quando no todos, os fatos que nele so narrados no

    conhecemos, mas atravs dele ficamos to ntimos que em alguns momentos falamos

    deles com a propriedade de quem participou desses movimentos.

    Aqui utilizamos duas autoras que realizaram uma pesquisa sobre o Livro

    Didtico, Ana Teresa Marques Gonalves (2009) e Ktia Maria Abud (1994), a primeira

    sobre uma problemtica de seus contedos e a segunda acerca da utilizao para

    conservao dos ideais de uma classe e coeso social. Comearemos por uma anlise da

    primeira autora a fim de observarmos algumas questes acerca dos contedos. Aqui

    sero utilizados exemplos sobre a disciplina de Histria Antiga, mas nossa viso se

    estendera para compreendermos o livro em si. Dessa forma temos a primeira questo

    apontada por Gonalves,

    Sem Sem os especialistas em Histria Antiga, que nem sempre so

    consultados para revisar as informaes postas nos manuais, diversos

    conceitos j revistos, algumas vezes j mesmo ultrapassados e substitudos

    por outros mais adequados ao real vivido, reaparecem com toda fora nos

  • 33 livros didticos. (GONALVES, 2009, p. 03)

    Tendo em vista essa pouca ateno por parte de alguns profissionais para com

    a importncia do contedo presente nos livros didticos, que por sua vez fica ligado aos

    prprios ideais que as altas classes pensam, encontramos uma funo social dele.

    Segundo alguns autores, entre eles Abud (1994), ele assume uma forma de

    manual, ou uma espcie de cartilha onde existem as coisas que devemos aprender e de

    que forma devemos aprender. Assim o Livro Didtico se torna para Abud um

    Instrumento de trabalho indispensvel, pois no h professor que nele no se apie, o livro didtico tem sido um dos mais utilizados canais de transmisso

    e, sobretudo, de manuteno dos mitos e esteritipos que povoam a Histria

    do Brasil. E, ainda, a ele cabe uma parte importante da funo de continuar

    alimentando a concepo de Histria do Brasil... (ABUD, 1994, p. 81)

    Assim percebemos ainda que, de uma forma superficial, a inteno, ou mais

    claramente, o objetivo da seqncia dos contedos existentes nos livros didticos.

    Dentro da viso dessa autora, mas o resultado de nossas anlises, observamos

    que o livro didtico segue um padro que as classes mais influentes no meio social,

    juntamente com suas ideologias, pensam para determinar o caminho do processo

    educacional, que comea tambm pelas escolas, e que no se restringe somente a ela

    segundo Brando (1995).

    Tomando por bases esses exemplos das autoras acima citadas, utilizamos a

    titulo de exemplo de pesquisa trs livros didticos de Histria, um da 6 e dois da 7

    srie, que so, Nova Histria Critica do ano de 1999, de Mario Schimidt, Por Dentro da

    Histria do ano de 2006 de Pedro Santiago e Histria em Documentos de Joelza ster

    Rodrigue, do ano de 2008. A escolha de tais obras no se d aleatoriamente,

    primeiramente escolhemos de editoras, autores e perodos de publicao diferentes, com

    a inteno serem analisados para compreendermos as abordagens trazidas neles.

    Com esses materiais em mos passamos a ler e atentar para os tipos pensados

    acerca da figura do Bandeirante, e mais, ainda percebemos de que forma ele

    construdo na cabea dos alunos do ensino fundamental. Nas duas primeiras obras

    citadas, observamos que esse homem, o Bandeirante, tratado de uma forma neutra, de

    forma que notamos que no da 6 srie existe uma abordagem um pouco mais detalhada

    dando nfase a sua vestimenta e seus confrontos com os ndios, e sem mais detalhes. J

    nos da 7 traz uma viso mais superficial, ao ponto que faz breves referncias as

    caractersticas das viagens, aventuras e perigos por eles passados. A ultima obra que

  • 34 pretendemos analisar, nos deixa confusos ao buscar entender esses Bandeirantes.

    Em determinados momentos nesses livros didticos o Bandeirante tratado

    como um desbravador, no com essa palavra, mas nas entre linhas, da forma que so

    postas suas viagens e conflitos com os ndios ele aos poucos se torna uma imagem de

    um grande homem, e s vezes como um invasor, mas que no temos muitos detalhes,

    apenas algumas passagens que nos fazem pensar nisso.

    Atravs dos livros didticos percebemos que:

    Alm desses acontecimentos, a memria constituda por pessoas,

    personagens. Aqui tambm podemos aplicar o mesmo esquema, falar de personagens realmente encontradas no decorrer da vida, de personagens

    freqentadas por tabela, indiretamente, mas que, por assim dizer, se

    transformaram quase que em conhecidas, e ainda de personagens que no

    pertenceram necessariamente ao espao-tempo da pessoa. (POLLAK, 1992,

    p. 2).

    Atravs dessa passagem de Pollak, observamos a eficincia do livro didtico

    em produzir uma determinada memria, da imagem do bandeirante, que se tornou um

    grande marco a se falar sobre o povoamento dos territrios do interior do Brasil.

    Histria, memria, Nao mantiveram ento, mais do que uma circulao

    natural: uma circularidade complementar, uma simbiose em todos os nveis, cientficos e pedaggico, terico e prtico. A definio nacional do presente

    chamava imperiosamente sua justificativa pela iluminao do passado.

    (NORA, 1993, p. 11).

    Assim inserida na memria histrica a figura de desbravador do bandeirante,

    devemos entender o porqu disso. Vemos de acordo com Santiago, que devido a

    posteriormente So Paulo comear a se desenvolver, a figura do Bandeirante foi posta

    como um representante de um lugar de uma rdua e sofrida luta para crescer, segundo

    Santiago (2006).

    Dessa forma sobre o Bandeirante percebemos que primeiramente a autora faz

    referencias as dificuldades sociais da vila de So Paulo e assim diz que Nas matas,

    buscavam produtos que pudessem render algum dinheiro. Inclusive indgenas.

    (RODRIGUE, 2008, p. 230). Com essa passagem e toda sua narrativa, encontrada no

    livro, observamos um arranjo textual que permite uma interpretao possibilitando um

    entendimento seu enquanto um grande homem, que desbravou na raa e fora esse

    serto supostamente inabitado, e ainda ele mais lembrado medida que tomamos essa

    nossa pesquisa a termos regionais, mais todo esse entendimento pra ns, que

    supostamente temos mais conhecimento e leitura de tais contextos em comparao com

    uma criana da 6 ou 7 srie.

  • 35 Em diversos livros, segundo Santiago, o bandeirante aparece como ... o

    paulista que desbravou os sertes e contribuiu para formar o Brasil. (SANTIAGO,

    2006, p.112). Com essa passagem entendemos que a figura do bandeirante hoje em dia

    no vem sendo discutida com a devida precauo, como vemos acima, nos livros

    didticos que falam deles existem apenas fragmentos de suas imagens e aventuras reais,

    como nesse livro, Por dentro da Histria, da 7 srie, que dedica apenas uma pagina a

    esse assunto, e assim discutido brevemente.

    De forma interessante, encontramos mais contedos em um livro da 6 serie,

    contudo este no o nosso objeto, mas sentimos necessidade de demonstrar isso. S

    para termo noo da diferena das dimenses dessa temtica discutidas nesse livro, com

    relao aos da 7, observamos uma passagem bem interessante, como,

    Os bandeirantes se embrenhavam na floresta tropical fechada, atravessavam montanhas perigosas e rios agitados, indo a lugares muito distantes de

    qualquer cidade colonial. Mas os objetivos deles no eram nada hericos:

    eles eram caadores de ndios... Os bandeirantes atacavam impiedosamente

    as aldeias indgenas. (SCHIMIDT, 1999, p. 266).

    Dessa forma, primeiramente com a inteno de concluirmos, ou melhor, at

    esse momento encerrarmos nossa pesquisa, entendemos que, nos livros didticos que

    utilizamos, a referncia sobre o bandeirante muito fraca. Em nossa anlise foi visto o

    total de 4 (quatro) livros da stima srie, mas devido a falta total de informaes, ou

    mesmo uma figura sobre os bandeirantes, achamos desnecessrios cit-los em nossas

    referncias, utilizando assim apenas 3 (trs) livros, sendo um da 6 srie.

    Finalizando, entendendo essa fraca fundamentao terica dos livros didticos,

    percebemos hoje em dia que, a caracterizao do processo das bandeiras e atitudes dos

    prprios bandeirantes fica, basicamente, a cargo dos professores, ou seja, estes baseados

    em suas formaes, bacharis ou licenciados, proporcionar aos alunos um entendimento

    desse processo, ao passo que ele mesmo possa ter como fazer sua interpretao de tal

    processo.

    Referncias Bibliogrficas

    ABREU, Jos Guilherme. Arte pblica e lugares de memria. Revista da Faculdade de

    Letras

    CINCIAS E TCNICAS DO PATRIMNIO. I Srie vol. IV, Porto: 2005.

    ABUD, Ktia Maria. Ensino de Histria. In: SILVA, Marcos A. da. (org). Repensando

    a Histria. 5 ed. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1994.

  • 36 BRANDO, Carlos Rodrigues. O que Educao. 33 Ed. So Paulo: Brasiliense,

    1997.

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    Brasileiros. Disponvel em: http://www.heladeweb.net. Acesso realizado em 03 de

    novembro de 2009.

    HALBWACHS, Maurice. A memria coletiva. 1 Ed. So Paulo: Centauro, 2006.

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    Francisco Alves, 1977.

    NORA, Pierre. Entre Memria e Histria: a problemtica dos lugares. Projeto Histria:

    Revista do Programa de Estudos Ps-Graduados em Histria e do Departamento de

    Histria da PUC-SP. So Paulo: N 10, 1993.

    POLLAK, Michel. Memria e Identidade Social. Rio de Janeiro: Estudos Histricos,

    vol. 5, n. 10, 1992.

    RODRIGUE, Joelza ster. Histria em Documentos. So Paulo: FTD, 2008.

    SANTIAGO, Pedro. Por Dentro da Histria. 1 ed. So Paulo: Escala Educacional,

    2006.

    SAVIANI, Dermeval. A filosofia na formao do Educador. In: SAVIANI, Dermeval.

    Educao: do senso comum a conscincia filosfica. 14 ed. Campinas, SP: Autores

    Associados, 2002.

    SCHIMIDT, Mrio. Nova Histria Critica. So Paulo: Nova Gerao, 1999.

    Marlon Teixeira de Faria

    Aluno do Curso de Licenciatura Plena em

    Histria, da Universidade Estadual de Gois,

    UnU de Jussara. E-mail:

    [email protected].

  • 37 Cultura Popular, Mentalidade e Representao

    no Banco do Capeta em Santa F de Gois

    Wilson de Sousa Gomes

    Partindo daquilo que Marc Bloch (1972) defende, fazemos histria de tudo que

    o homem tocou, fazemos histria dos homens no tempo e como tal, nosso projeto

    abarca um tema de elevada importncia para a sociedade, pois busca quebrar as relaes

    preconceituosas do homem branco que apesar das transformaes sociais e culturais

    ainda guardou ou guarda, esse elementos; e dentro do mbito acadmico, buscamos de

    forma efetiva, ampliar as discusses historiogrficas e compreender mais aspectos da

    produo cultural humana.

    Com isso, percebemos lutas constantes ao longo da vida. E assim, buscaremos

    construir um debate seguido de uma anlise que oferea esclarecimentos para o meio

    acadmico, sempre partindo do princpio de que no estamos com a verdade absoluta,

    mesmo porque ela no existe, lanaremos algumas anlises e interpretaes passveis de

    crtica e comentrios, embora sabendo que dentro das cincias humanas e sociais, todos

    os enunciados partem do ponto de referncia onde se lana os discursos.

    Com isso, fundamentados em referncias tericas, algumas evidncias

    apresentam a passagem do indgena na regio do municpio de Santa F de Gois, em

    um local denominado de Serra do Tira Pressa, popularmente conhecido como Banco

    do Capeta. De antemo, esclarecemos que nesta anlise e debate no iremos interpretar

    as inscries na rocha, isso porque exigiria um trabalho minucioso e refinado de cunho

    Histrico-antropolgico, analisando e pontuando toda a gama cultural e simblica que

    possui os desenhos na rocha; focaremos nossa ateno no conflito simblico do

    branco para com o indgena (GOMES, 2007, p. 01).

    Assim, as transformaes ocorridas no Brasil tm influncia direta nos estados

    e conseqentemente nos municpios. Na dcada de 1970 a 1980 temos um complexo

    contexto poltico de transformaes ou mutaes da cultura popular dessa poca, mas

    tenhamos em mente que as mudanas no cultural so lentas. Discutindo o que Ernest

    Labrousse apud LE GOFF (1995) nos prope, formulamos o seguinte pensamento: as

    mudanas sociais so lentas perante as econmicas e as mentais so mais lentas que as

    sociais. Apesar das mutaes e do desenvolvimento das relaes capitalistas, de todo

    progresso e de reflexes polticas e intelectuais, a cultura popular ainda conserva a

  • 38 natureza estrutural do mito dentro do imaginrio coletivo, existem traos que a

    mentalidade carrega inconscientemente.

    Dessa forma, o interesse por esse tema surgiu a partir de uma visita realizada

    ao municpio de Santa F de Gois, com o especialista em antropologia visual professor

    Mrio Arruda da Costa, no intuito de coletarmos cermicas de produo indgena para a

    produo de um trabalho na disciplina de Temas da Antropologia, do curso de

    licenciatura plena em histria no ano de 2002. Ao chegarmos ao municpio de Santa F

    de Gois, na Serra do Tira Pressa, onde est situado o popular Banco do Capeta,

    encontramos um contexto bem mais amplo, uma leitura equivocada dos elementos

    inscritos nas rochas, leitura que podemos chamar de preconceituosa, pois se baseia

    numa viso deturpada da realidade humana, onde prticas, aes culturais, so taxadas

    ou interpretadas como um elemento produzido por algo sobrenatural, assim, temos uma

    mistura de misticismo e fico. E aps produzirmos uma monografia para concluso de

    curso no ano de 2005, sob a orientao do professor Rodolfo Belchior F. de Paula,

    conclumos que esse tema deveria ser trabalhado no apenas na graduao, mas sim,

    estendido ao debate histrico social do meio acadmico.

    Assim, deparamo-nos com uma situao em que as pessoas do municpio

    supracitados e regio tm comportamentos diferenciados, no sentido de que um

    elemento produzido por outra cultura, causa-lhes medo, e isso produz um contexto

    conflituoso, a luta do bem e do mal, que afirmada e propagada pelas instituies

    religiosas, que molduraram o comportamento educacional humano. Desse modo, alguns

    dizem que na Serra do Tira Pressa, no local denominado de Banco do Capeta,

    manifestava-se foras sobrenaturais malignas. Ao depararmos com isso, e, buscando

    uma problematizao dessa realidade trazendo para uma leitura acadmica, percebemos

    que havia um problema naquele local. Havia uma relao de conflitos entre a viso

    crist (bem) e o extico (profano), e como historiadores, ao encontrar-nos diante de um

    problema, devemos pesquisar, estudar e buscar compreender esse contexto, pois nisso

    h contexto humano, social, poltico, at mesmo mstico (BRAUDEL, 1978, p. 273),

    que deve ser analisado, interpretado e compreendido. Assim, com essa breve citao,

    percebemos que o historiador, como um homem de seu tempo, tem de entender o

    sentido que as pessoas do aos significados, e que esse por sua vez, tem de importncia

    na sua maneira de pensar e agir, ou seja, qual a influncia que isso tem nas suas vidas?

    Assim, temos em mente que o nosso trabalho est inserido dentro da temtica

    cultura e representao. Pois, ao trabalharmos esse tema estamos analisando a

  • 39 apropriao de discursos que so ordenadores da conscincia de homens que viveram

    nos anos de 1960 e 1980, e isso se encontra dentro de um contexto verbal, gestual e

    simblico, que define as relaes tnicas e de poder, que afirma uma identidade em

    detrimento da outra, ou seja, a passagem do indgena pelos locais gravados e o homem

    branco buscando nesse local a conquista, a afirmao da sua cultura em deturpao da

    outra.

    Como afirmamos acima, na incessante busca cognitiva, nos deparamos com

    fatos curiosos; como historiadores percebemos lutas constantes ao longo da vida, sejam

    elas lutas de classes, lutas regionais, culturais, filosficas e etc. Assim, tentando

    valorizar aquilo que nos norteia, temos que essa discusses vem ampliar o debate

    entorno do conceito de cultura, e para tal feito, recorreremos historiografia, realizando

    um debate indagador, sobre a forma de produo e a relao do homem com a cultura

    que ele prprio criou. E explicar, interpretar e compreender a estrutura mstica da regio

    do Mdio Araguaia e em especial, no municpio de Santa F de Gois, no local

    conhecido como Serra do Tira Pressa e especificadamente no lajedo denominado de

    Banco do Capeta, onde temos um conflito de imagens, gestos e linguagens, que

    traduzem a construo simblica de duas culturas: a crist e outra indgena ampliando a

    nossa concepo e compreenso acerca dos homens no tempo.

    A historiografia nos oferece produes sobre o assunto, no entanto nossa

    discusso focalizada em uma regio especfica e tem por objeto de pesquisa, a

    interpretao da representao e simbolismo que compem a mentalidade crist sobre o

    Banco do Capeta em Santa F de Gois. Nesse sentido h um grande acervo de fontes

    orais e arqueolgicas, que demonstram a passagem do indgena pela regio, ou seja,

    temos os relatos orais dos moradores que nos apresentam dois fatores: primeiro ao

    entrevistarmos temos a tradio oral que representa o testemunho que transmitido de

    gerao para gerao; e segundo as experincias vidas pelos entrevistados que trazem

    evidencias das informaes as quais eles tiveram acesso; alm das fotos do local e das

    inscries na rocha, que ora afirmam o relato dos entrevistados, ora demonstram os

    elementos imaginados pelos mesmos, assim, temos vrios elementos d