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1 A Inserção da Universidade Pública no Processo de Inovação e Desenvolvimento Regional: Um Estudo de Caso Exploratório Autoria: André Ferreira, Marcelo Gonçalves do Amaral, Pítias Teodoro Lacerda RESUMO Este artigo analisa, por meio de estudo de caso, a implantação do Pólo Universitário de Volta Redonda (PUVR-UFF), um campus avançado da Universidade Federal Fluminense (UFF). O foco desta pesquisa é a percepção do corpo acadêmico sobre as possibilidades de interação universidade-empresa e a incorporação deste tema às clássicas missões de ensino e pesquisa da universidade pública brasileira. Para realizar este trabalho, inicialmente é apresentada a evolução da UFF, no sentido de se tornar uma universidade empreendedora e o histórico da implantação e as principais características do PUVR-UFF e de sua região de influência, o Médio Vale do Paraíba Fluminense. Por fim, são apresentados os resultados de uma pesquisa exploratória realizada junto a 80 professores do PUVR-VR, buscando identificar as opiniões sobre as temáticas da interação universidade-empresa consideradas relevantes pela literatura. Dentre os resultados, destaca-se que 47,5% dos pesquisadores do PUVR-UFF já realizaram algum tipo de interação com empresas e 91% dos respondentes concordam que os professores de universidades públicas podem se dedicar a tais atividades. A partir dos dados da pesquisa, conclui-se que ainda não há evidências que possam considerar o PUVR-VR como enquadrado no conceito de universidade empreendedora, mas é possível afirmar que há um potencial para a interação do PUVR-UFF com as empresas de sua região de influência, sendo que o principal instrumento para fomentar esta relação seria a criação de uma infra-estrutura institucional para realizar a gestão da interação. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos tem surgido no Brasil um ambiente propício para o desenvolvimento da interação entre Universidade-Empresa (UE). Como ocorreu em muitos países de desenvolvimento econômico recente, uma das principais causas é a escassez do financiamento público, que tem provocado uma mudança na atitude dos pesquisadores acadêmicos na direção de uma maior colaboração com o setor produtivo, especialmente nas escolas de engenharia e de administração. O governo brasileiro também vem investindo na expansão do ensino superior, principalmente no interior país, ampliando a universidade pública para além das principais capitais do país, com o objetivo de estimular o desenvolvimento econômico regional. Outro fator de estímulo à interação UE é que o paradigma técnico-econômico dominante está fortemente baseado no conhecimento como fator de produção-chave ou como indutor da otimização dos fatores tradicionais, o que abre espaço para a universidade, como lócus de geração do conhecimento técnico e científico, incorporar outras responsabilidades às suas funções clássicas de ensino e pesquisa (DAGNINO, 2004) atuando não apenas como um provedor de recursos humanos, mas também como um fomentador da inovação e do desenvolvimento regional (ETZKOWITZ, 2008). Apesar do ambiente favorável e dos esforços que se tem feito no sentido de ampliar a interação UE no país, um aspecto relevante é que no Brasil a produção de conhecimentos, por meio da ciência e da pesquisa básica, considerando o número de publicações dos pesquisadores brasileiros nas revistas internacionais indexadas, está próxima a países como a Coréia do Sul e Israel, mas no momento de transformar os conhecimentos adquiridos através da pesquisa científica em inovações os resultados não são expressivos (SESSA et al., 2007), ou seja, o Brasil aparece no mapa da ciência mundial, mas é quase inexistente no mapa da tecnologia mundial

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A Inserção da Universidade Pública no Processo de Inovação e Desenvolvimento Regional: Um Estudo de Caso Exploratório

Autoria: André Ferreira, Marcelo Gonçalves do Amaral, Pítias Teodoro Lacerda

RESUMO Este artigo analisa, por meio de estudo de caso, a implantação do Pólo Universitário de Volta Redonda (PUVR-UFF), um campus avançado da Universidade Federal Fluminense (UFF). O foco desta pesquisa é a percepção do corpo acadêmico sobre as possibilidades de interação universidade-empresa e a incorporação deste tema às clássicas missões de ensino e pesquisa da universidade pública brasileira. Para realizar este trabalho, inicialmente é apresentada a evolução da UFF, no sentido de se tornar uma universidade empreendedora e o histórico da implantação e as principais características do PUVR-UFF e de sua região de influência, o Médio Vale do Paraíba Fluminense. Por fim, são apresentados os resultados de uma pesquisa exploratória realizada junto a 80 professores do PUVR-VR, buscando identificar as opiniões sobre as temáticas da interação universidade-empresa consideradas relevantes pela literatura. Dentre os resultados, destaca-se que 47,5% dos pesquisadores do PUVR-UFF já realizaram algum tipo de interação com empresas e 91% dos respondentes concordam que os professores de universidades públicas podem se dedicar a tais atividades. A partir dos dados da pesquisa, conclui-se que ainda não há evidências que possam considerar o PUVR-VR como enquadrado no conceito de universidade empreendedora, mas é possível afirmar que há um potencial para a interação do PUVR-UFF com as empresas de sua região de influência, sendo que o principal instrumento para fomentar esta relação seria a criação de uma infra-estrutura institucional para realizar a gestão da interação. 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos tem surgido no Brasil um ambiente propício para o desenvolvimento da interação entre Universidade-Empresa (UE). Como ocorreu em muitos países de desenvolvimento econômico recente, uma das principais causas é a escassez do financiamento público, que tem provocado uma mudança na atitude dos pesquisadores acadêmicos na direção de uma maior colaboração com o setor produtivo, especialmente nas escolas de engenharia e de administração.

O governo brasileiro também vem investindo na expansão do ensino superior, principalmente no interior país, ampliando a universidade pública para além das principais capitais do país, com o objetivo de estimular o desenvolvimento econômico regional. Outro fator de estímulo à interação UE é que o paradigma técnico-econômico dominante está fortemente baseado no conhecimento como fator de produção-chave ou como indutor da otimização dos fatores tradicionais, o que abre espaço para a universidade, como lócus de geração do conhecimento técnico e científico, incorporar outras responsabilidades às suas funções clássicas de ensino e pesquisa (DAGNINO, 2004) atuando não apenas como um provedor de recursos humanos, mas também como um fomentador da inovação e do desenvolvimento regional (ETZKOWITZ, 2008).

Apesar do ambiente favorável e dos esforços que se tem feito no sentido de ampliar a interação UE no país, um aspecto relevante é que no Brasil a produção de conhecimentos, por meio da ciência e da pesquisa básica, considerando o número de publicações dos pesquisadores brasileiros nas revistas internacionais indexadas, está próxima a países como a Coréia do Sul e Israel, mas no momento de transformar os conhecimentos adquiridos através da pesquisa científica em inovações os resultados não são expressivos (SESSA et al., 2007), ou seja, o Brasil aparece no mapa da ciência mundial, mas é quase inexistente no mapa da tecnologia mundial

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(CRUZ e PACHECO, 2004). Mesmo com uma ampla discussão da validade dos indicadores internacionais (número de papers e de patentes depositadas no escritório americano de propriedade industrial), os resultados deixam bastante a desejar em relação ao tamanho da economia do país e sua importância relativa no mundo.

Neste contexto, em que o papel da universidade é cada vez mais importante para os processos de desenvolvimento social e econômico, este trabalho tem como objetivo realizar um estudo de caso para analisar a implementação do Pólo Universitário de Volta Redonda (PUVR-UFF), um campus regional da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Estado do Rio de Janeiro, e verificar o seu papel, ou potencial de atuação, como indutor do desenvolvimento.

Esta é uma janela de oportunidade para pesquisar o direcionamento estratégico, as áreas de oportunidade e as barreiras na relação universidade-empresa, tendo em vista que em um novo centro universitário, como o PUVR-UFF, a cultura organizacional ainda não está sedimentada, e torna-se possível mapear as expectativas dos atores, bem como encontrar formas que possam viabilizar o direcionamento do relacionamento entre a universidade e a sociedade local, de forma a propiciar o florescimento de parcerias e idéias que possam alavancar o desenvolvimento econômico regional.

Partindo de micro-evidências detectadas em estudo de caso, o que se busca é investigar a expansão do papel da universidade na economia, não apenas como um provedor de recursos humanos, mas também como uma instituição que atue como motor da inovação e do desenvolvimento econômico, conforme Etzkowitz et al. (2005) preconiza quanto conceitua a universidade empreendedora.

O PUVR-UFF possui atualmente mais de 1300 alunos matriculados, sendo constituído por cinco cursos de graduação (Engenharia Metalúrgica, Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia de Agronegócios e Administração de Empresas) e dois cursos de pós-graduação stricto sensu (Mestrado e Doutorado em Engenharia Metalúrgica) e está situado na região do Médio Vale do Paraíba Fluminense, que é estratégica em termos geográficos, pois está localizada entre os dois maiores centros econômicos do Brasil – Rio de Janeiro e São Paulo – comportando indústrias de grande porte como MAN Caminhões (antiga Volkswagen Caminhões), Peugeot Citroën do Brasil, Saint Gobain, Votorantim, Companhia Siderúrgica Nacional - CSN (a maior siderúrgica da América Latina), GEFCO e Galvasud além de um amplo parque de pequenas e médias empresas com forte vocação metal-mecânica e, recentemente, serviços. A região possui 851.982 habitantes (dados de 2006), sendo constituída de 13 municípios. 2. REVISÃO TEÓRICA 2.1 A SEGUNDA REVOLUÇÃO ACADÊMICA NO BRASIL: O SURGIMENTO DA UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA ORIENTADA PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL As universidades brasileiras foram criadas a partir da década de 1920 e até a década de 1960 a sua principal missão era o ensino, tanto de engenheiros para a expansão da produção quanto de administradores para os cargos gerenciais das empresas, predominantemente multinacionais de grande porte. Na década de 1960 começou a ampliar as atividades de pesquisa, juntamente com a implementação de cursos de pós-graduação. A partir da década de 1990, o modelo de desenvolvimento econômico nacional passou a enfatizar a eficiência gerencial e a inovação para o aumento da competitividade das empresas brasileiras, o que pode-se denominar era da qualidade, com isto, um conjunto de atividades de interação UE foi então estabelecido, incluindo o fornecimento de serviços tecnológicos (como testes, consultoria e serviços de informação), serviços educativos, projetos de pesquisa desenvolvidos em conjunto com as

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empresas, projetos realizados por pequenas empresas incubadas e projetos realizados por empresas júnior (MACULAN e MELLO, 2009). Este processo de transição é chamado na literatura de segunda revolução acadêmica, que é a inclusão do papel econômico e social na missão da universidade e que está ocorrendo em diversos países (ETZKOWITZ, 2001; 2004). No Brasil, o processo de incorporação de uma terceira missão tem um componente adicional: as universidades públicas estão sendo utilizadas como uma ferramenta para difundir o conhecimento, pesquisa e desenvolvimento econômico para o interior do país, por meio de uma transformação cultural, com a universidade incorporando um papel importante na emergente sociedade do conhecimento. O argumento da hélice tríplice, desenvolvido por Etkowitz e Leydesdorff (1995) pressupõe que a universidade nos termos da pós-segunda revolução deve ser uma universidade empreendedora com as seguintes características: uma pesquisa de base com potencial comercial; uma tradição em geração de empresas (start-ups); uma cultura empreendedora no campus; políticas definindo regras de apropriação da propriedade intelectual, a divisão de lucros e regulando os conflitos de interesse; e a participação na estratégia de inovação regional (ETZKOWITZ e ZHOU, 2006).

Assim, a universidade empreendedora é a base do desenvolvimento econômico regional, abrangendo ensino, pesquisa e serviços à sociedade, não como um processo linear, mas em uma retroalimentação em espiral de constante acumulação e distribuição de conhecimento. De acordo com Etzkowitz (2008) quando a universidade assume um novo papel na promoção da inovação, suas missões de educação e pesquisa são também transformadas. Quando a universidade expande o seu papel na economia, de provedor de recursos humanos para um gerador da atividade econômica, seu relacionamento com o governo e com as empresas se torna mais complexo, sofisticado e efetivo. Paradoxalmente, quanto mais a universidade torna-se influente na sociedade, mais ela está sujeito à influência da sociedade, o que neste sentido é desejável visto que a universidade pública de pesquisa é financiada pela sociedade para gerar benefícios comuns para esta. Assim, os acadêmicos devem desempenhar um papel importante nas empresas, sendo isso não só compatível com os processos de educação e de pesquisa, como também de fundamental importância para a aquisição, divulgação e criação do conhecimento.

Muitos autores aprofundaram esta abordagem da universidade atuando como líder da inovação e elemento-chave do desenvolvimento regional, analisando os tipos de interação, incentivos, obstáculos e seus resultados (COOKE et al., 2006), (SAXENIAN, 2007; 1996). Esta ideia é também o núcleo do conceito de Hélice Tríplice, mas a sua origem foi no processo de transferência de alta tecnologia (ETZKOWITZ, 2008). No caso brasileiro, a maior parte das ações das universidades no desenvolvimento regional é na organização, decodificação e difusão do conhecimento para modernizar o processo produtivo das pequenas e médias empresas. A experiência brasileira nos últimos dez anos uniu o conceito de universidade empreendedora com a política de desenvolvimento econômico regional (ETZKOWITZ et al, 2005).

A análise que será feita neste artigo é baseada no modelo Hélice Tríplice, que argumenta que a universidade é a líder e/ou indutora no processo de desenvolvimento econômico no âmbito da sociedade do conhecimento. Um segundo comentário sobre a Hélice Tríplice é o seu foco na interação entre os agentes econômicos, modelada pela universidade, indústria e governo, ou setor gerador de conhecimento, setor usuário de conhecimento e setor regulador da atividade econômica. Com base nestes princípios, o foco deste trabalho é diferente de um tradicional sistema de análises inovação. Os autores estão em busca dos sinais de interação entre os atores e não nas tradicionais abordagens de entradas e saídas dos manuais de ciência, tecnologia e inovação, como gastos em Pesquisa & Desenvolvimento ou patentes. Algumas referências são feitas, mas o foco é a dinâmica do processo.

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Outra questão relacionada com a interpretação do modelo Hélice Tríplice é a ausência de análises do papel e do desempenho do governo neste trabalho. Os autores centraram apenas na interação entre universidade e empresa, partindo do princípio de que o governo tem uma posição clara de incentivo à interação, particularmente por explicitar isto nas políticas de expansão das universidades federais e de C&T&I. Isto parece uma configuração diferente do modelo da Tripla Hélice, pois não é o modo I (estática) nem o modo III (ETZKOWITZ e LEYDESDORFF, 1996). É como se fosse um modelo U +g-E+g.

2.2 A UFF COMO UMA UNIVERSIDADE EMPREENDEDORA - A DEFINIÇÃO DE UMA VISÃO INSTITUCIONAL

A Universidade Federal Fluminense (www.uff.br) é uma universidade pública criada em 1960 e seu principal campus é em Niterói, uma cidade próxima ao Rio de Janeiro. A universidade tem atividades em várias cidades, com 161 cursos de graduação, 43 programas de mestrados e 21 programas de doutorados. Em 2007, a UFF possuía quase 24.000 estudantes em cursos de graduação e 3500 alunos nos cursos de mestrado e doutorado.

A partir da década de 1990 muitas iniciativas foram desenvolvidas para transformar a UFF em um ator mais participativo no desenvolvimento econômico regional. Algumas destas ações foram a criação de cursos de graduação em muitas cidades do interior, a criação da incubadora tecnológica, a implantação do escritório de transferência de tecnologia, a criação de empresas juniores e o desenvolvimento de um programa de empreendedorismo e inovação (AMARAL E SILVA, 2008).

A Meta Consultoria, a primeira empresa júnior, foi criada em 1995 por estudantes de engenharia. Em 1997, alguns professores iniciaram a implantação de uma incubadora de empresas de base tecnológica. Um estudo de viabilidade foi feito e, em 1999, a instalação física com capacidade para cinco empresas foi inaugurada no prédio da Física no Campus da Praia Vermelha em Niterói. Em 2001, um escritório de transferência de tecnologia foi criado para gerir os direitos de propriedade industrial e software. Em 2004, uma coordenação de projetos científicos e tecnológicos foi criada no âmbito da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PROPP) com o objetivo de articular o sistema de inovação interno (AMARAL & SILVA, 2008).

No final de 2004, após quatro anos de discussão, o Governo Federal sancionou a Lei de Inovação (Lei no. 10.973) para incentivar a ciência, tecnologia e inovação na indústria, buscando a melhoria das competências tecnológicas e do desenvolvimento industrial no Brasil (BARBOSA, 2006). Esta lei abrange aspectos importantes como a cooperação entre as instituições de ciência e tecnologia e as empresas, a partilha dos laboratórios, incubação de pequenas empresas em institutos públicos de pesquisa, prestação de serviços de P&D para as empresas, a criação de escritórios de transferência de tecnologia (ETTs), bem como a participação dos pesquisadores nos ganhos econômicos gerados pelas invenções e patrocínio de empresas inovadoras (MACULAN e MELLO, 2009). Várias leis estaduais de inovação estão sendo criadas para promover a inovação nos sistemas regionais. O Estado do Rio de Janeiro aprovou a sua regulamentação, em dezembro de 2008, após um ano de discussões (Lei Estadual no. 5361/2008).

No final de 2006, a UFF criou a função de Assessoria de Políticas de Inovação e um grupo de pesquisadores está trabalhando, desde Setembro de 2007, para definir uma estrutura e estratégia de gestão de inovação para a instituição. O objetivo principal é atender os requisitos para a aplicação da Lei de Inovação na UFF, por meio da criação de um órgão para gerir a política institucional. Muitas universidades brasileiras criaram Agências de Inovação, congregando as diversas estruturas internas ligadas à inovação (AMARAL e SILVA, 2008), (AMARAL, 2005).

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Até 2006, a incubadora da UFF foi orientada por um modelo convencional de transferência de tecnologia como parte de um mecanismo de construção para transformar conhecimento acadêmico em tecnologia incorporada em produtos, processos e serviços. Os resultados obtidos não foram satisfatórios. Apenas duas empresas foram graduadas e a incubadora sofreu diversos reveses financeiros e gerenciais que culminaram no seu não reconhecimento pela UFF como um mecanismo prático de interação com as empresas. Em 2004, a incubadora perdeu seu espaço físico e os fundos angariados em projetos não foram suficientes para montar uma estrutura eficaz. Não é possível concluir se a ineficácia foi resultado ou foi causada pela falta de apoio, talvez ambos. Em Janeiro de 2007, havia apenas uma empresa fisicamente instalada em uma casa alugada. Uma nova coordenação acadêmica assumiu a operação e diagnosticou o fracasso do modelo de gestão. O pessoal administrativo foi desligado, um gerente externo foi contratado e uma nova equipe técnica organizada. A incubadora, agora denominada InitiäLab, contratou especialistas em tecnologia de gestão da inovação para reformular a estratégia e os processos operacionais. Sob a influência da Hélice Tríplice e da Inovação Aberta (Open Inovation) os processos foram definidos em uma nova configuração. Como resultado, após 18 meses, um novo conceito de incubadora foi construído com base em uma ampla crítica ao modelo convencional de incubação (AMARAL e SILVA, 2008).

Em 2009, após dois anos de discussão, os pesquisadores envolvidos com atividades inovadoras propuseram a criação da Agência UFF de Inovação (AGIR) para coordenar a política de inovação e as estruturas relacionadas como as incubadoras, empresas juniores, escritórios de transferência de tecnologia e grupos de pesquisa envolvidos com a gestão da inovação. Esta proposta foi aprovada pelo Pró Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa e desde fevereiro de 2009 a antiga Coordenação de Projetos Científicos e Tecnológicos está sendo transformada na Agência, assumindo o papel de Núcleo de Inovação Tecnológica recomendado pela Lei Inovação.

Em suma, a trajetória da UFF nos últimos 15 anos mostra um caminho claro na direção de uma universidade empreendedora envolvida com a difusão da inovação e geração de impactos no desenvolvimento econômico e social. A segunda revolução acadêmica está sendo disseminada a partir dos departamentos e grupos de pesquisa mais dinâmicos. O processo de institucionalização da gestão da inovação é um forte sinal da presente direção. No entanto, muitas escolas e departamentos ainda são reativos a este processo (AMARAL e MECENA, 2008).

2.3 O DESENVOLVIMENTO DO PUVR

O Pólo Universitário de Volta Redonda (PUVR-UFF), criado em maio de 2004, é um campus da UFF situado a 140 km do campus principal em Niterói. O PUVR tem mais de 1300 alunos matriculados e oferece cursos de graduação em Engenharia Metalúrgica, Engenharia Mecânica, Engenharia de Produção, Engenharia de Agronegócios e Administração de Empresas, além de cursos de mestrado e doutorado em Engenharia Metalúrgica. Em 2009, ele contava com uma equipe de 111 professores, sendo que mais de 70% possuem Doutorado. Com o projeto de expansão universitária, prevê-se que este número aumentará para 5000 alunos e 260 professores até ao ano 2012.

O PUVR está estrategicamente situado na região do Médio Vale do Rio Paraíba, no Estado do Rio de Janeiro, que está localizado entre as duas principais conurbações urbanas do país e abriga um pólo de indústrias mecânicas complexas, particularmente no setor automobilístico, configurando um Arranjo e Sistema Produtivo e Inovativo Local, ou seja, com alta relevância para o desenvolvimento econômico e social da região. (CASSIOLATO e LASTRES, 1999).

A estrutura original do PUVR-UFF foi a Escola de Engenharia Industrial e Metalúrgica de Volta Redonda (EEIMVR), criada em 1963 como uma faculdade independente, com o nome de Universidade do Trabalho, que ofereceu um elevado nível de educação e de laboratórios de

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serviços para a CSN. Esta faculdade foi integrada a UFF em 1966 e durante quase 40 anos foi uma importante faculdade regional para formar mão de obra especializada para a indústria local, mas desligada da estratégia geral da UFF.

Em 2003, o Ministério da Educação (MEC) criou um programa para expandir as universidades públicas de pesquisa desconcentrando-as das grandes metrópoles do país em direção as cidades com liderança nas economias regionais. A EEIMVR aproveitou a oportunidade e propôs um projeto de R$ 3,5 milhões para a criação de novos cursos (administração de empresas, gestão pública e direito) e o desenvolvimento de pesquisa tecnológica, além de atuar como um ator no desenvolvimento regional. Com a privatização da CSN em 1994, a EEIMVR perdeu uma importante fonte de financiamento para a infra-estrutura de pesquisa, pois a CSN investiu perto de R$ 3 milhões na década de 1990 para implementar novos laboratórios e uma nova fonte de investimento em infra-estrutura seria muito bem vinda.

Em 2004, após aprovação MEC, o primeiro movimento foi a criação de um novo departamento (Administração e Agronegócio) dentro da EEIMVR para o desenvolvimento de novos cursos. O curso de Administração de Empresas teve início em 2005 em uma parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), localizada em Seropédica, a 60 km de Volta Redonda.

No final de 2006, a Escola de Ciências Humanas e Sociais (ECHS) e o PUVR-UFF foram formalmente criados. Neste período, iniciou-se a construção de novos espaços, e também um processo de aproximação com o poder político local, como Prefeituras e representantes no Congresso Nacional. Nos últimos três anos, muitas pesquisas e projetos de infra-estrutura foram elaborados e aprovados pelas agências de fomento trazendo montante adicional de recursos e responsabilidades. Dois grupos de pesquisas foram criados na ECHS. O primeiro, o Grupo de Pesquisa em Gestão e Desenvolvimento Econômico e Social (GPADES), promove projetos de infra-estrutura, como laboratórios temáticos, pesquisas e incentivo para o desenvolvimento projetos orientados para a interação universidade-empresa-governo a partir da compreensão do estágio do desenvolvimento econômico, social e tecnológico da região Sul Fluminense. Um projeto de diagnóstico da economia regional e a ideia de criar e observatório para monitorar o desenvolvimento econômico, social e tecnológico surgido a partir destas discussões. O segundo grupo de pesquisa é o Triple Helix Research Group - THERG-Brazil, uma filial do movimento internacional de Triple Helix. No termo da interação Universidade-Empresa, a primeira parceria de longo prazo foi assinada com a Peugeot Citroën em 2008. As atividades iniciais são de capacitação de pessoal especializado e, em uma segunda fase, a harmonização de metodologias.

Em 2007, o MEC criou um amplo programa para reestruturar as universidades públicas e expandir a sua ação. Este programa, denominado REUNI, contratou mais de 2000 professores/pesquisadores para os quadros das instituições federais de ensino nos últimos três anos. O PUVR recebeu mais recursos com o compromisso de criar outro novo conjunto de cursos (Pedagogia, Química, Matemática e Estatística).

Neste contexto, o estudo de caso analisa a implantação do PUVR-UFF. Centra-se no processo de construção da sua direção estratégica e na percepção do seu corpo docente sobre as possibilidades de interação com o setor produtivo e as suas principais barreiras. A escolha da temática é motivada pela já comentada discrepância entre a geração de conhecimento científico e tecnológico e o processo de inovação na indústria brasileira. 3. METODOLOGIA

O método de pesquisa é o estudo de caso, tendo em vista que o objeto a ser pesquisado pode ser considerado como um fenômeno contemporâneo, em que o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos, além da necessidade de se utilizar múltiplas fontes de pesquisa,

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buscando linhas convergentes de investigação (YIN, 2005). Esta pesquisa, de natureza qualitativa e exploratória, procurou verificar o pensamento do corpo acadêmico do PUVR-UFF sobre a interação universidade-empresa e a possibilidade de contribuir para o desenvolvimento regional através de ações que se traduzam em inovações.

Inicialmente, foram selecionados os aspectos característicos das abordagens e das definições acerca dos tipos de interação UE, as principais barreiras, incentivos e leis que cercam esse processo. Esses pontos foram sintetizados em um questionário com duas partes. A primeira buscou definir o perfil dos respondentes e a segunda pretendeu apurar a percepção da amostra sobre aspectos ligados ao processo de interação universidade-empresa.

A elaboração das questões teve como referência os seguintes aspectos: (i) a tipologia de interação entre grupos de pesquisa universitária e as empresas (CNPQ), conforme Quadro 1 e (ii) as barreiras na relação universidade-empresa identificadas na revisão bibliográfica, apresentadas no Quadro2.

Quadro 1: Tipo de Interação U-I

1 Consultorias Técnicas

2 Desenvolvimento de protótipos

3 Desenvolvimento de equipamentos

4 Desenvolvimento de sistema ou software

5 Fornecimento de materiais para pesquisa

6 Pesquisa científica aplicada

7 Pesquisa científica de base

8 Transferência de tecnologia

9 Treinamento de Pessoal

Fonte: Adaptado de Rapini (2006)

Quadro 2: Barreiras para relação U-I

1 Diferenças culturais entre universidades e firmas

2 Diferenças dos objetivos entre U-I

3 Falta de estímulos dentro das universidades

4 Trâmites administrativos e burocráticos

5 Falta de experiência dos pesquisadores das universidades no setor produtivo.

6 Estrutura de recompensas

7 Limitação de tempo disponível dos pesquisadores

Fonte: Elaborado pelos autores

A amostra, não-probabilística por conveniência, foi composta por 95 dos 111 professores, dos quais 80 retornaram com as respostas dentro do prazo solicitado. Todos os entrevistados pertencem ao quadro de professores do PUVR-UFF. O levantamento de dados foi realizado entre os meses de março e abril de 2009, após a validação empírica do questionário.

Os dados obtidos foram analisados com o auxílio do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) na geração de estatísticas descritivas.

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3. ANÁLISE DOS RESULTADOS 3.1 A VISÃO DO CORPO ACADÊMICO DO PUVR-UFF

Os participantes da pesquisa possuem média de idade de 42 anos, sendo que 74% dos respondentes possuem menos de 50 anos de idade. O tempo médio de trabalho na UFF é de 6 anos, e no aspecto formação acadêmica, predominam os participantes com Doutorado ou Pós-Doutorado com 73% dos respondentes. Na pesquisa, 76% dos entrevistados são do sexo masculino.

Quando questionados se nos últimos três anos realizaram algum tipo de interação com empresas, 47,5% dos entrevistados responderam positivamente, o que indica que a participação dos professores em projetos de interação universidade-empresa não é expressiva se for considerado que o PUVR-UFF é composto composta por escolas de engenharia e de gestão empresarial, que possuem amplas possibilidades de interação com as organizações empresariais.

Apesar deste número, um ponto relevante é que 91% dos entrevistados consideram que parte da carga horária dos professores de universidades públicas pode ser dedicada a atividades de interação universidade-empresa, conforme Gráfico 1.

Gráfico 1: Possibilidade Dedicação a atividades de interação UE Este dado é muito positivo, porque mostrou uma baixa barreira a interação UE, tanto

ponto de vista cultural quanto ideológico, e indica que, no futuro, a cooperação tem possibilidades concretas de aumentar. Outro ponto relevante é o baixo conhecimento dos respondentes sobre as leis e mecanismos de apoio à inovação e interação UE no Brasil, como a Lei de Propriedade Intelectual, a Lei de Inovação, a Lei do Bem e os Editais de Fundos Setoriais, conforme o Gráfico 2. Se por um lado este dado tem um aspecto negativo, por outro indica uma área de oportunidade ainda não explorada pelo corpo docente do PUVR-UFF, ou seja, demonstra a existência de potencial de desenvolvimento na interação UE. De uma forma geral, 70% dos professores não conhecem ou não sabem como e quando utilizar esses instrumentos. No caso da Lei do Bem, a situação é pior, provavelmente porque é um dos mecanismos mais recentes, criado em 2006. Somente no caso dos Fundos Setoriais, a situação é um pouco melhor. As Universidades aplicam uma série de projetos de infra-estrutura e de investigação para as chamadas baseadas neste conjunto de leis.

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Gráfico 2: Grau de Conhecimento das Leis e Mecanismos de Incentivo a Inovação Com referência ao tipo de relacionamento, a pesquisa demonstra que a interação UE é

baseada na transmissão de conhecimento existente, por meio de treinamentos, consultorias e empresa júnior, com 53% das atividades, conforme demonstrado no Gráfico 3. As atividades de Pesquisa & Desenvolvimento têm menos importância, com apenas 25% das atividades. Este dado não surpreende, quando se analisa a posição histórica do EEIMVR no ambiente regional, pois esta unidade foi criada originalmente para treinar a força de trabalho. Outro fato relevante é que, por ser um campus universitário em expansão, 69% do corpo docente tem menos de 3 anos de atividades no PUVR. Este tempo não é suficiente para desenvolver um alto nível interações UE. Alguns projetos de investigação e linhas de pesquisa têm a necessidade de, pelo menos, cinco anos para criar novos conhecimentos e transferi-los para a indústria ou para amadurecer cooperação em P&D.

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Gráfico 3: Tipos de Interação U-E

Ao verificar quem era o agente responsável pela iniciativa da parceria entre universidade

e empresa conclui-se que somente em dois dos doze tipos de parcerias houve predominância de iniciativa por parte das empresas, conforme Tabela 1. Nas interações onde o objetivo era a transferência de tecnologia as empresas tomaram a iniciativa em dois dos quatro casos identificados e quando o objetivo da interação foram testes laboratoriais a iniciativa das empresas foi em dois dos seis casos identificados.

Tabela 1: Tipos de interação Universidade-Empresa

Iniciativa de Cooperação Tipo de interação Universidade-Empresa (a)

Universidade ou

Professor Equilíbrio Empresa Total

1 Consultoria Técnica/ Gestão 5 33,3% 5 33,3% 5 33,3% 15 2 Ministrar cursos 8 57,1% 4 28,6% 2 14,3% 14 3 Desenvolvimento de produto/processo 2 28,6% 5 71,4% 0 ,0% 7 4 Participação em incubadoras de empresas 1 50,0% 1 50,0% 0 ,0% 2 5 Testes laboratoriais 1 16,7% 3 50,0% 2 33,3% 6 6 Desenvolvimento software 0 ,0% 2 100,0% 0 ,0% 2 8 Orientação de projetos de empresa Junior 4 44,4% 3 33,3% 2 22,2% 9 9 Desenvolvimento de equipamentos 1 100,0% 0 ,0% 0 ,0% 1 10 Transferência de tecnologia para empresa 1 25,0% 1 25,0% 2 50,0% 4 11 Convênio/Projeto de pesquisa conjunto Universidade-Empresa 3 30,0% 6 60,0% 1 10,0% 10

12 Outros: ONG – Tese Doutorado 1 50,0% 1 50,0% 0 ,0% 2 Total 11 16 8 35

Fonte: Elaborado pelos autores

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Esta situação ganha relevo ao demonstrar que, apesar do baixo número de interações

identificadas, bem como o baixo conteúdo tecnológico, há uma movimentação da universidade para aproximar-se do setor privado a partir de parcerias. Essa situação também foi identificada durante o tratamento das informações acerca das barreiras – dificuldades – para intensificar a interação universidade-empresa, onde 53% dos respondentes afirmaram as empresas não conhecem os mecanismos de acesso ao conhecimento desenvolvido e armazenado na universidade.

Quanto às formas de interação, o Gráfico 4 mostra que há uma predominância dos mecanismos formais, com 68% das respostas, isto é, a realização de contratos por meio da fundação de apoio às atividades da universidade e a realização de convênios, contudo, ainda há um número relevante de ações (32%) realizadas de maneira informal, sem instrumento legal ou realizada individualmente ou via consultoria. Estes números indicam a necessidade de criação de mecanismos institucionais mais eficazes, como uma fundação ou agente similar sediada na região para atender ao PUVR-UFF.

Gráfico 4: Formas de Interação

O Gráfico 5 que apresenta a opinião do corpo docente sobre as principais barreiras da

universidade na interação UE. Quase 50% dos entrevistados consideram a ausência de mecanismos de incentivos e infra-estrutura institucional como a principal barreira da universidade para interação UE. Neste sentido há um amplo descolamento da estratégia do PUVR-UFF em relação à UFF como um todo. O movimento de institucionalização da gestão da inovação em curso em Niterói não vem sendo espelhado em Volta Redonda, o que reforça a análise anterior da necessidade de criação de mecanismos institucionais de interação mais eficazes no PUVR-UFF.

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Gráfico 5: Barreiras da Universidade para Interação UE

Com referência às barreiras do corpo acadêmico para realizarem a interação UE, os entrevistados apontam para o baixo nível de conhecimento sobre os mecanismos de interação, conforme apresentado no Gráfico 6. Novamente, é possível explicar esta situação pela falta de um Departamento ou de um projeto claro do PUVR-UFF com relação aos processos de gestão da inovação, diferentemente do campus da UFF, em Niterói, que possui incubadora de empresas, escritório de transferência de tecnologia e uma agência de inovação.

Gráfico 6: Barreiras do Corpo Docente para Interação UE

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Do ponto de vista das empresas, os respondentes da pesquisa consideram que a barreira predominante é o desconhecimento, por parte das empresas, das possibilidades de contribuições do meio universitário às organizações, conforme o gráfico 7. Apesar da distância cultural se constituir, na percepção dos entrevistados, na segunda barreira mais relevante, acredita-se que esta diferença cultural vem se reduzindo, seja pela busca dos profissionais por maior capacitação como pela incorporação pela universidade de profissionais com experiência de mercado.

Gráfico 7: Barreiras da Empresa para Interação UE 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise feita por Etzkowitz et al. (2005) para o movimento de incubadoras no Brasil, também pode ser usado para compreender a expansão das universidades públicas para as cidades que possuem um papel de liderança regional. Encorajando o processo de meta-inovação, ativando áreas da sociedade que têm estado distante da inovação, permite-se que a hélice tríplice aconteça nos países em desenvolvimento quase que de forma normativa. O processo é mais complexo do que uma simples organização e transferência de tecnologia. O mesmo mecanismo pode atuar de forma distinta, dependendo do ator que promove sua introdução e do contexto em que isto é feito. O conceito de incubadora, por exemplo, foi adaptado as circunstâncias brasileiras nas quais outros atores fazem parte do contexto e buscam realizar seus objetivos institucionais.

No caso do desenvolvimento econômico regional, o aumento nos níveis de complexidade da infra-estrutura organizacional ocorreu simultaneamente com a desconcentração do poder do nível nacional e a criação de novas entidades no nível local e regional (MUSTAR E LAREDO, 2002 apud ETZKOWITZ et al, 2005). Exemplos como a desconcentração recente dos sistemas de ensino fundamental e saúde são pertinentes a análise atual da desconcentração do ensino superior e suas ações inerentes de pesquisa e extensão e agora desenvolvimento econômico. Esta transformação inclui esforços para incentivar os atores da interação UE a empreenderem projetos de inovação conjuntos e aumentar a organização dos agrupamentos locais (clusters), incentivando um amplo conjunto de arranjos ou sistemas produtivos e inovativos locais (ASPILs). Este processo como um todo certamente irá tornar mais rico, complexo e interativo os tecidos econômicos e sociais regionais. Habilitando um espaço Hélice Tríplice híbrido e de consenso

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Este trabalho é o primeiro estudo sobre as interações UE no PUVR-UFF. É possível concluir que, neste momento, o PUVR-VR tem baixa influência no desenvolvimento da região do Médio Vale do Rio Paraíba. Não há informações sobre quaisquer patentes, conhecimentos ou tecnologias transferidos para a indústria, ou melhoria de processo e/ou produto, o que é realmente um fato incomum, particularmente em uma Escola de Engenharia com infra-estrutura de pesquisa. Este trabalho também não encontrou qualquer característica do PUVR-UFF que possa suportar uma conclusão que permita argumentar que está em um caminho para ser uma universidade empreendedora. Diferentemente do principal campus da UFF, onde esse processo está ocorrendo, mesmo que lentamente (AMARAL e MECENA, 2008). A expectativa é que com a consolidação dos grupos de pesquisas comprometidos com um espírito empreendedor – as quase-firmas – a segunda revolução chegará ao PUVR-UFF e poderá influenciar o desenvolvimento econômico regional de forma intrínseca e sustentável.

Existem ideias e estratégias promissoras com potencial para alavancar a contribuição do PUVR-UFF para o desenvolvimento regional, não somente com relação aos programas da Universidade, mas também com relação aos modelos de interação UE já testados na UFF e em outras universidades brasileiras.

De acordo com a pesquisa realizada, a cultura acadêmica ou qualquer outra barreira ideológica não afetará este processo, provavelmente pelo fato de que parte do corpo docente possui experiência prévia de trabalho em organizações industriais. A questão principal é em quanto tempo este processo de amadurecimento irá ocorrer. Qualquer descontinuidade nesta trajetória ainda incipiente poderá direcionar o PUVR-UFF para ser somente uma escola voltada para o ensino, com pesquisas irrelevantes e possibilidades de financiamento decrescentes, como consequência do baixo grau de interação com o setor produtivo e a sociedade como um todo. 4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA AMARAL, M. & SILVA, S. J M. An Entrepreneurship University under Open Innovation and

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