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O TEMA DA ATENÇÃO NO DEBATE FILOSÓFICO CONTEMPORÂNEO E SUA IMPORTÂNCIA NA CONSTITUIÇÃO DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO A atenção faz parte de uma temática geralmente esquecida e não valorizada pela filosofia e por sua história na medida em ela mantém laços com os pressupostos fundamentais da filosofia moderna e em que esta “maneira” de fazer filosofia, historicamente datada, é adotada como sendo “a” própria Filosofia, configurando uma agenda filosófica bastante restrita, que na sua ânsia de “certeza” e “clareza” é levada ignorar, passando ao largo de um campo de temas fundamentais para a (auto) compreensão do humano e de maneiras outras de se produzir conhecimento sobre ele. É sabido que a filosofia a partir da modernidade buscou compreender a realidade através da exclusividade de um conhecimento racional, claro e distinto, “purificado” de sua vinculação com o mundo da vida. Fazendo desta um objeto destacado, separado, reforçando o dualismo eminentemente platônico e oferecendo como base a consciência do sujeito que se reconhece como categoria ontológica superior e independente do mundo, capaz de produzir a partir de si um conhecimento objetivo e seguro da realidade. Assim, a atenção como um tema genuinamente filosófico ganhou importância e foi recuperado por estudiosos da filosofia antiga que, numa espécie de “desvio” dos pressupostos modernos, perceberam que a filosofia em sua plenitude não poderia ser considerada apenas como uma produção/exposição de um sistema teórico desligado da experiência que fazemos no mundo, mas que ela deveria ser tomada como “modo de viver” que nos implica profundamente e que é praticado, exercitado, tendo como finalidade uma espécie de autotransformação que possa nos tornar dignos do

A Inserção Do Tema Da Atenção - FACED. 2.0

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Artigo de filosofia da educação sobre o tema da atenção.

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O TEMA DA ATENÇÃO NO DEBATE FILOSÓFICO CONTEMPORÂNEO E SUA IMPORTÂNCIA NA CONSTITUIÇÃO DA RELAÇÃO PROFESSOR-

ALUNO

A atenção faz parte de uma temática geralmente esquecida e não

valorizada pela filosofia e por sua história na medida em ela mantém laços

com os pressupostos fundamentais da filosofia moderna e em que esta

“maneira” de fazer filosofia, historicamente datada, é adotada como sendo “a”

própria Filosofia, configurando uma agenda filosófica bastante restrita, que na

sua ânsia de “certeza” e “clareza” é levada ignorar, passando ao largo de um

campo de temas fundamentais para a (auto) compreensão do humano e de

maneiras outras de se produzir conhecimento sobre ele.

É sabido que a filosofia a partir da modernidade buscou compreender a

realidade através da exclusividade de um conhecimento racional, claro e

distinto, “purificado” de sua vinculação com o mundo da vida. Fazendo desta

um objeto destacado, separado, reforçando o dualismo eminentemente

platônico e oferecendo como base a consciência do sujeito que se reconhece

como categoria ontológica superior e independente do mundo, capaz de

produzir a partir de si um conhecimento objetivo e seguro da realidade.

Assim, a atenção como um tema genuinamente filosófico ganhou

importância e foi recuperado por estudiosos da filosofia antiga que, numa

espécie de “desvio” dos pressupostos modernos, perceberam que a filosofia

em sua plenitude não poderia ser considerada apenas como uma

produção/exposição de um sistema teórico desligado da experiência que

fazemos no mundo, mas que ela deveria ser tomada como “modo de viver” que

nos implica profundamente e que é praticado, exercitado, tendo como

finalidade uma espécie de autotransformação que possa nos tornar dignos do

que nos acontece. A atenção apenas pôde ser considerada como um tema de

importância filosófica a partir deste registro, que busca não tanto informar,

mas antes provocar um efeito de formação, ultrapassando o sentido

epistemológico atribuído ao termo e delineando-se como um tema

eminentemente ético, na medida em que implica uma atitude que procura uma

sintonia e um procedimento mais adequado à situação. Como nova temática

que busca sua inserção no debate filosófico e pedagógico, carece de uma

sistematização, o que buscaremos com este trabalho, na tentativa de

respondermos às seguintes questões: i) Como o tema da atenção surge na

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obra de Pierre Hadot? ii) Qual seu impacto na relação professor-aluno, do

ponto de visto didático e ético?

O presente trabalho se justifica na medida em que o autor, também

professor de filosofia do ensino básico do Brasil contemporâneo, se espanta e

se admira com atitudes que revelam profunda falta de atenção e que se

refletem tanto em uma dimensão especificamente ética, geradora de uma

série de atitudes que revelam esta falta em dois polos opostos: indiferença e

violência, quanto uma dimensão didática, interpretado como: “desinteresse”

em suas múltiplas variáveis, apatia ou “indisciplina”. Para nós uma

possibilidade de fazermos frente às imposições da sociedade da indiferença e

do consumo que impregnam as relações humanas contemporâneas,

especialmente as constituídas no interior das salas de aulas.