A Interpretação Bíblica Na Igreja 2

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    A INTERPRETAO BBLICA NA IGREJA

    INTRODUO

    A interpretao dos textos bblicos continua a suscitar em nossos dias umvivo interesse e provoca importantes discusses. Elas adquiriram dimenses

    novas nestes ltimos anos. Dado importncia fundamental da blia paraa f! crist" para a vida da #$re%a e para as relaes dos cristos com os &!isdas outras reli$ies" a 'ontifcia (omisso blica foi solicitada a sepronunciar a esse respeito.

    A. Problemtica atual

    ) problema da interpretao da blia no ! uma inveno moderna comoal$umas ve*es se quer fa*er crer. A blia mesma atesta que suainterpretao apresenta di&culdades. Ao lado de textos lmpidos" elacomporta passa$ens obscuras. +endo certos or,culos de -eremias" Daniel seinterro$ava lon$amente sobre o sentido deles Dn/"01. 2e$undo os Atos dos

    Ap3stolos" um etope do primeiro s!culo encontrava4se na mesma situaoa prop3sito de uma passa$em do livro de #saas #s 56"7481 e recon9ecia ternecessidade de um int!rprete At8"6:4651. A se$unda carta de 'edrodeclara que ; nen9uma profecia da Escritura resulta de uma interpretaoparticular < 0 Pd="0:1 e ela observa" de outro lado" que as cartas doap3stolo 'aulo cont>m ; al$uns pontos difceis de entender" que osi$norantes e vacilantes torcem" como fa*em com as demais Escrituras" parasua pr3pria perdio < 0 Pd6"=?1.

    ) problema !" portanto" anti$o mas ele se acentuou com o desenrolar dotempo@ doravante" para encontrar os fatos e palavras de que fala a blia" os

    leitores devem voltar a quase vinte ou trinta s!culos atr,s" o que no deixade levantar di&culdades. De outro lado" as questes de interpretaotornaram4se mais complexas nos tempos modernos devido aos pro$ressosfeitos pelas ci>ncias 9umanas. !todos cient&cos foram aperfeioados noestudo do textos da anti$uidade. Em que proporo esses m!todos podemser considerados apropriados interpretao da 2a$rada EscrituraB A estaquesto a prud>ncia pastoral da #$re%a durante muita tempo respondeu demaneira muito reticente" pois muitas ve*es o m!todos" apesar de seuselementos positivos" encontravam4se li$a dos a opes opostas f! crist.as uma evoluo positiva se produ*iu" marcada por uma s!rie dedocumentos pontifcios" desde encclica Providentissimus Deusde +eo C###

    =8 novembro =8/6 at! a encclicaDivino afante Spiritude 'io C## 6:setembro =/61" e ela foi con&rmada pela declarao Sancta MaterEcclesie0= abril =/?1 da 'ontifcia (omisso blica e sobretudo pele(onstituio Do$m,ticaDei Verbumdo (oncilio aticano ## =8 novembro=/?51.

    A ecundidadedesta atitude construtiva manifestou4se de uma maneiraine$,vel. )s estudos bblicos tiveram um pro$resso not,vel na #$re%acat3lica e o valor cient&co deles foi cada ve* mais recon9ecido no mundodos estudiosos e entre os &!is. ) di,lo$o ecum>nico foi consideravelmentefacilitado. A inFu>ncia da blia sobre a teolo$ia se aprofundou e contribuiu

    renovao teol3$ica. ) interesse pela blia aumentou entre os cat3licos efavoreceu o pro$resso da vida crist. Godos aqueles que adquiriram uma

    http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.htmlhttp://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.html
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    formao s!ria nesse campo estimam doravante impossvel retornar a umestado de interpretao pr!4crtica" pois o %ul$am" com ra*o" claramenteinsu&ciente.

    as" ao mesmo tempo em que o m!todo cient&co mais divul$ado H om!todo ; 9ist3rico4crtico < H ! praticado correntemente em exe$ese"inclusive na exe$ese cat3lica" ele mesmo encontra4se em discusso@ de umlado" no pr3prio mundo cient&co" pela apario de outros m!todos eaborda$ens" e" de outro lado" pelas crticas de numerosos cristos que o

    %ul$am de&ciente do ponto de vista da f!. 'articularmente atento" como seunome o indica" evoluo 9ist3rica dos textos ou das tradies atrav!s dotempo H ou diacroniaH o m!todo 9ist3rico4crtico encontra4se atualmenteem concorr>ncia" em al$uns ambientes" com m!todos que insistem nacompreenso sincrnicados textos" tratando4se da ln$ua" da composio"da trama narrativa ou do esforo de persuaso deles. Al!m disso" o cuidadoque os m!todos diacrInicos t>m em reconstituir o passado" para muitos !substitudo pela tend>ncia de interro$ar os textos colocando4os emperspectivas do tempo presente" se%a de ordem &los3&ca" psicanaltica"sociol3$ica" poltica" etc. Esse pluralismo de m!todos e aborda$ens !apreciado por al$uns como um indcio de rique*a" mas a outros ele d, aimpresso de uma $rande confuso.

    Jeal ou aparente" essa confuso tra* novos ar$umentos aos advers,rios daexe$ese cient&ca. ) conFito das interpretaes manifesta" se$undo eles"que no se $an9a nada submetendo os textos bblicos s exi$>ncias dosm!todos cient&cos" mas" ao contr,rio" perde4se bastante. Eles sublin9amque a exe$ese cient&ca obt!m como resultado o provocar perplexidade edvida sobre inumer,veis pontos que" at! ento" eram admitidos

    paci&camenteK que ele fora al$uns exe$etas a tomar posies contr,rias f! da #$re%a sobre questes de $rande importncia" como a concepovir$inal de -esus e seus mila$res" e at! mesmo sua ressurreio e suadivindade.

    esmo quando no &nali*a em tais ne$aes" a exe$ese cient&ca secaracteri*a" se$undo eles" pela sua esterilidade no que concerne opro$resso da vida crist. Ao inv!s de permitir um acesso mais f,cil e maisse$uro s fontes vivas da 'alavra de Deus" ela fa* da blia um livrofec9ado" cu%a interpretao sempre problem,tica exi$e t!cnicas re&nadasfa*endo dela um domnio reservado a al$uns especialistas. A estes" al$uns

    aplicam a frase do Evan$el9o@ ; Gomastes a c9ave da ci>nciaL 3s mesmosno entrastes e impedistes os que queriam entrarL < Lc=="50K cf Mt06"=61.

    Em consequ>ncia" ao paciente labor do exe$eta cient&co estima4senecess,rio substituir aborda$ens mais simples" como uma ou outra pr,ticade leitura sincrInica que se considera como su&ciente" ou mesmo"renunciando a todo estudo" preconi*a4se uma leitura da blia dita ;espiritual

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    . O objetivo deste documento

    N, de se considerar seriamente" portanto" os diversos aspectos da situaoatual em mat!ria de interpretao bblica" de esta atento s crticas" squeixas e s aspiraes que se exprimem a esse respeito" de apreciar aspossibilidades abertas pelos novos m!todos e aborda$ens e de procurar"en&m" precisar a orientao que mel9or corresponde misso do exe$etana #$re%a cat3lica.

    Esta ! a &nalidade deste documento. A 'ontifcia (omisso blica dese%aindicar os camin9os que conv!m tomar para c9e$ar a uma interpretao dablia que se%a to &el quanto possvel a seu car,ter ao mesmo tempo9umano e divino. Ela no pretende tomar aqui posio sobre todas asquestes que so feitas a respeito da blia" como por exemplo" a teolo$iada inspirao. ) que ela quer ! examinar os m!todos suscetveis decontriburem com e&c,cia a valori*ar todas as rique*as contidas nos textosbblicos" a &m de que a 'alavra de Deus possa tornar4se sempre mais o

    alimento espiritual dos membros de seu povo" a fonte para eles de uma vidade f!" de esperana e de amor" assim como uma lu* para toda a9umanidade cf Dei Verbum" 0=1.

    'ara alcanar este &m" o presente documento@

    =. far, uma breve descrio dos diversos m!todos e aborda$ens" =1indicando suas possibilidades e seus limitesK

    0. examinar, al$umas questes de 9ermen>uticaK

    6. propor, uma reFexo sobre as dimenses caractersticas da interpretaocat3lica da blia e sobre suas relaes com as outras disciplinas teol3$icasK

    . considerar," en&m" o lu$ar que ocupa a interpretao da blia na vida da#$re%a.

    I. MTODOS E ABORDAGENS PARA A INTERPRETAO

    A. Mtodo histrico-crtico

    ) m!todo 9ist3rico4crtico ! o m!todo indispens,vel para o estudo cient&codo sentido dos textos anti$os. (omo a 2anta Escritura" enquanto ; 'alavra

    de Deus em lin$ua$em 9umana

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    Gestamento s3 pIde se desenvolver como disciplina cient&ca a partir de=8::" depois que se desli$ou do e!tus receptus" os prim3rdios da crticaliter,ria remontam ao s!culo C##" com a obra de Jic9ard 2imon" quec9amou a ateno sobre as repeties" as diver$>ncias no contedo e asdiferenas de estilo observ,veis no 'entat>uco" constataes di&cilmente

    concili,veis com a atribuio de todo o texto a um autor nico" ois!s. Mos!culo C###" -ean Astruc contentou4se ainda em dar como explicao queois!s tin9a se servido de v,rias fontes sobretudo de duas fontesprincipais1 para compor o +ivro do O>nesis" mas" em se$uida" a crticacontesta cada ve* mais resolutamente a atribuio da composio do'entat>uco a ois!s. A crtica liter,ria identi&cou4se muito tempo com umesforo para discernir diversas fontes nos textos. P assim que sedesenvolveu" no s!culo C#C" a 9ip3tese dos ; documentos ncia da 9ist3ria comparada dasreli$ies" tal como ela se praticava ento" ou partindo de concepes&los3&cas" emitiam contra a blia %ul$amentos ne$ativos.

    Nermann OunSel fe* o m!todo sair do $ueto da crtica liter,ria entendidadesta maneira. 2e bem ten9a continuado a considerar os livros do'entat>uco como compilaes" ele aplicou sua ateno textura particular

    das diferentes partes. Ele procurou de&nir o $>nero de cada uma porexemplo" ; le$enda < ou ; 9ino

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    redao ncia a contribuio pessoalde cada evan$elista e as orientaes teol3$icas que $uiaram o trabal9o deredao deles. (om a utili*ao deste ltimo m!todo" a s!rie das diferentesetapas do m!todo 9ist3rico4crtico tornou4se mais completa@ da crticatextual passa4se a uma crtica liter,ria que decompe pesquisa das fontes1"

    depois a um estudo crtico das formas" en&m a uma an,lise da redao" que! atenta ao texto em sua composio. Desta maneira tornou4se possveluma compreenso mais clara da inteno dos autores e redatores da blia"assim como da mensa$em que eles diri$iram aos primeiros destinat,rios. )m!todo 9ist3rico4crtico adquiriu ento uma importncia de primeiro plano.

    0. Princ"pios

    )s princpios fundamentais do m!todo 9ist3rico4crtico em sua formacl,ssica so os se$uintes@

    E um m!todo #istrico" no s3 porque ele se aplica a textos anti$os H no

    caso" aqueles da blia H e estuda seu alcance 9ist3rico" mas tamb!m esobretudo porque ele procura elucidar os processos 9ist3ricos de produodos textos bblicos" processos diacrInicos al$umas ve*es complicados e delon$a durao. Em suas diferentes etapas de produo" os textos da bliaso diri$idos a diversas cate$orias de ouvintes ou de leitores" que seencontravam em situaes de tempo e de espao diferentes.

    P um m!todo cr"tico" porque ele opera com a a%uda de crit!rios cient&costo ob%etivos quanto possveis em cada uma de suas etapas da crticatextual ao estudo crtico da redao1" de maneira a tornar acessvel ao leitormoderno o sentido dos textos bblicos" muitas ve*es difcil de perceber.

    !todo analtico" ele estuda o texto bblico da mesma maneira que qualqueroutro texto da anti$uidade e o comenta enquanto lin$ua$em 9umana.Entretanto" ele permite ao exe$eta" sobretudo no estudo crtico da redaodos textos" perceber mel9or o contedo da revelao divina.

    6. Descri$%o

    Mo est,$io atual de seu desenvolvimento" o m!todo 9ist3rico4crticopercorre as se$uintes etapas@

    A crtica textual" praticada 9, muito mais tempo" abre a s!rie das operaescient&cas. aseando4se no testemun9o dos mais anti$os e mel9ores

    manuscritos" assim como dos papiros" das tradues anti$as e da patrstica"ela procura" se$undo re$ras determinadas" estabelecer um texto bblico quese%a to pr3ximo quanto possvel ao texto ori$inal.

    ) texto ! em se$uida submetido a uma an,lise lin$ustica morfolo$ia esintaxe1 e semntica" que utili*a os con9ecimentos obtidos $raas aosestudos de &lolo$ia 9ist3rica. A crtica liter,ria esfora4se ento em discerniro incio e o &m das unidades textuais" $randes e pequenas" e em veri&car acoer>ncia interna dos textos. A exist>ncia de repeties" de diver$>nciasinconcili,veis e de outros indcios" manifesta o car,ter comp3sito de certostextos. Estes ento so divididos em pequenas unidades" das quais estuda4se a depend>ncia possvel a diversas fontes. A crtica dos $>neros procuradeterminar os $>neros liter,rios" ambiente de ori$em" traos espec&cos eevoluo desses textos. A crtica das tradies situa os textos em correntes

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    de tradio" das quais ela procura determinar a evoluo no decorrer da9ist3ria. En&m" a crtica da redao estuda as modi&caes que os textossofreram antes de terem um estado &nal &xado" esforando4se em discerniras orientaes que l9es so pr3prias. Enquanto as etapas precedentesprocuraram explicar o texto pela sua $>nese" em uma perspectiva

    diacrInica" esta ltima etapa termina com um estudo sincrInico@ explica4seaqui o texto em si" $raas s relaes mtuas de seus diversos elementos econsiderando4o sob seu aspecto de mensa$em comunicada pelo autor aseus contemporneos. A funo pra$m,tica do texto pode ento ser levadaem considerao.

    Quando os textos estudados pertencem a um $>nero liter,rio 9ist3rico ouesto em relao com acontecimentos da 9ist3ria" a crtica 9ist3ricacompleta a crtica liter,ria para determinar seu alcance 9ist3rico" no sentidomoderno da expresso.

    P desta maneira que so colocadas em evid>ncia as diferentes etapas do

    desenrolar concreto da revelao bblica.

    .Avalia$%o

    Que valor dar ao m!todo 9ist3rico4crtico" em particular no est,$io atual desua evoluoB

    P um m!todo que" utili*ado de maneira ob%etiva" no implica em sinen9um a priori&2e sua utili*ao ! acompan9ada de tais a priori" isto no !devido ao m!todo em si mas a opinies 9ermen>uticas que orientam ainterpretao e podem ser tendenciosas.

    )rientado" em seu incio" como crtica das fontes e da 9ist3ria das reli$ies"o m!todo obteve como resultado a abertura de um novo acesso blia"mostrando que ela ! uma coleo de escritos que" muitas ve*es" sobretudopara o Anti$o Gestamento" no t>m um autor nico" mas tiveram uma lon$apr!49ist3ria inextricavelmente li$ada 9ist3ria de #srael ou quela da #$re%aprimitiva. 'recedentemente" a interpretao %udaica ou crist da blia notin9a uma consci>ncia clara das condies 9ist3ricas concretas e diversasnas quais a 'alavra de Deus se enrai*ou. Ela tin9a disto um con9ecimento$lobal e lon$nquo. ) confronto da exe$ese tradicional com uma aborda$emcient&ca que em seu incio fa*ia conscientemente abstrao da f! eal$umas ve*es mesmo se opun9a a ela" foi se$uramente dolorosaK depois"

    no entanto" ela se revelou salutar@ uma ve* que o m!todo foi liberado dospreconceitos extrnsecos" ele condu*iu a uma compreenso mais exata daverdade da 2anta Escritura cf Dei Verbum" =01. 2e$undo a Divino afanteSpiritu" a procura do sentido literal da Escritura ! uma tarefa essencial daexe$ese e" para cumprir esta tarefa" ! necess,rio determinar o $>neroliter,rio dos textos cf E'(." 5?:1" o que se reali*a com a a%uda do m!todo9ist3rico4crtico.

    (om certe*a o uso cl,ssico do m!todo 9ist3rico4crtico manifesta limites"pois ele se restrin$e procura do sentido do texto bblico nas circunstncias9ist3ricas de sua produo e no se interessa pelas outras potencialidadesde sentido que se manifestaram no decorrer das !pocas posteriores darevelao bblica e da 9ist3ria da #$re%a. Mo entanto" esse m!todo contribuiu produo de obras de exe$ese e de teolo$ia bblica de $rande valor.

    http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.html
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    Jenunciou4se 9, muito tempo a um am,l$ama do m!todo com um sistema&los3&co. Jecentemente uma tend>ncia exe$!tica orientou o m!todoinsistindo predominantemente sobre a forma do texto" com menor atenoao seu contedo" mas esta tend>ncia foi corri$ida $raas contribuio deuma semntica diferenciada semntica das palavras" das frases" do texto1

    e ao estudo do aspecto pra$m,tico dos textos.A respeito da incluso no m!todo" de uma an,lise sincrInica dos textos"deve4se recon9ecer que se trata de uma operao le$tima" pois ! o textoem seu estado &nal" e no uma redao anterior" que ! expresso da'alavra de Deus. as o estudo diacrInico continua indispens,vel para odiscernimento do dinamismo 9ist3rico que anima a 2anta Escritura e paramanifestar sua rica complexidade@ por exemplo" o c3di$o da AlianaE!0="061 reFete um estado poltico" social e reli$ioso da sociedade israelitadiferente daquele que reFetem as outras le$islaes conservadas noDeuteron3mio Dt=0"0?1 e no +evtico c3di$o de santidade" Lv=740?1. Utend>ncia de redu*ir tudo ao aspecto 9ist3rico" que se pIde repreender naanti$a exe$ese 9ist3rico4crtica" seria o caso que no sucedesse o excessoinverso@ o de um esquecimento da 9ist3ria" por parte de uma exe$eseexclusivamente sincrInica.

    Em de&nitivo" o ob%etivo do m!todo 9ist3rico4crtico ! de colocar emevid>ncia" de maneira sobretudo diacrInica" o sentido expresso pelosautores e redatores. (om a a%uda de outros m!todos e aborda$ens" ele abreao leitor moderno o acesso ao si$ni&cado do texto da blia" tal como otemos.

    . Novos mtodos de anlise literria

    Men9um m!todo cient&co para o estudo da blia est, altura decorresponder rique*a total dos textos bblicos. Qualquer que se%a suavalidade" o m!todo 9ist3rico4crtico no pode pretender ser su&ciente atudo. Ele deixa forosamente obscuros numerosos aspectos dos escritos queestuda. Que no se%a surpresa a constatao de que atualmente outrosm!todos e aborda$ens so propostos para aprofundar um ou outro aspectodi$no de ateno.

    Meste par,$rafo apresentaremos al$uns m!todos de an,lise liter,ria quese desenvolveram recentemente. Mos par,$rafos se$uintes (" D" E1examinaremos brevemente diversas aborda$ens" das quais al$umas esto

    em relao com o estudo da tradio" outras com as ; ci>ncias 9umanas

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    Ma realidade" a an,lise ret3rica no ! em si um m!todo novo. ) que ! novo"de um lado" ! sua utili*ao sistem,tica para a interpretao da blia e" deoutro lado" o nascimento e o desenvolvimento de uma ; nova ret3rica s aborda$ens diferentes. Aprimeira se baseia na ret3rica cl,ssica $reco4latinaK a se$unda ! atenta aosprocedimentos semticos de composioK a terceira inspira4se nas pesquisasmodernas que c9amamos ; nova ret3rica s elementos@ o oradorou o autor1" o discurso ou o texto1 e o audit3rio ou os destinat,rios1.A retrica cl)ssica distin$ue" consequentemente" tr>s fatores de persuasoque contribuem qualidade de um discurso@ a autoridade do orador" aar$umentao do discurso e as emoes que ele suscita no audit3rio. Adiversidade de situaes e de audit3rios inFuencia imensamente a maneirade falar. A ret3rica cl,ssica" desde Arist3teles" admite a distino de tr>s$>neros de eloqW>ncia@ o $>nero %udici,rio diante dos tribunais1" odeliberativo nas assembl!ias polticas1" o demonstrativo nas celebraes1.

    (onstatando a enorme inFu>ncia da ret3rica na cultura 9elenstica" umnmero crescente de exe$etas utili*a tratados de ret3rica cl,ssica paramel9or analisar certos aspectos dos escritos bblicos" sobretudo daqueles doMovo Gestamento.

    )utros exe$etas concentram a ateno sobre os traos espec&cosda tradi$%o liter)ria b"blica. Enrai*ada na cultura semtica" ela manifestauma forte prefer>ncia pelas composies sim!tricas" $raas s quais asrelaes so estabelecidas entre os diversos elementos do texto. ) estudodas mltiplas formas de paralelismo e de outros procedimentos semticos decomposio deve permitir um mel9or discernimento da estrutura liter,riados textos e assim c9e$ar a maior compreenso de sua mensa$em.

    Gomando um ponto de vista mais $eral" a ;nova retrica< quer ser al$omais que um invent,rio de &$uras de estilo" de artifcios orat3rios e deesp!cies de discurso. Ela busca o porqu> tal uso espec&co da lin$ua$em !e&ca* e c9e$a a comunicar uma convico. Ela se quer ; realista

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    sobretudo em suas recentes pesquisas. Elas reparam uma ne$li$>ncia quedurou muito tempo e fa*em descobrir ou colocam mais em evid>nciaperspectivas ori$inais. A ; nova ret3rica < tem ra*o de c9amar a atenopara a capacidade persuasiva e convincente da lin$ua$em. A blia no !simplesmente enunciao de verdades. E uma mensa$em dotada de uma

    funo de comunicao em um certo contexto" uma mensa$em quecomporta um dinamismo de ar$umentao e uma estrat!$ia ret3rica.

    As an,lises ret3ricas t>m" contudo" seus limites. Quando elas se contentamem ser descritivas" seus resultados t>m muitas ve*es um interesseunicamente estilstico. Tundamentalmente sincrInicas" elas no podempretender constituir um m!todo independente que se%a autosu&ciente. 2uaaplicao aos textos bblicos levanta mais de uma questo@ os autoresdestes textos pertenciam aos ambientes mais cultosB At! que ponto elesse$uiram as re$ras de ret3rica para compor seus escritosB Qual ret3rica !mais pertinente para a an,lise de tal escrito determinado@ a $reco4latina oua semticaB Mo se arrisca em atribuir a certos textos bblicos uma estruturaret3rica elaborada demaisB Estas questes H e outras H no devemdissuadir o empre$o deste tipo de an,liseK elas convidam a no recorrer aele sem discernimento.

    0.An)lise narrativa

    A exe$ese narrativa prope um m!todo de compreenso e de comunicaoda mensa$em bblica que corresponde forma de relato e de testemun9o"modalidade fundamental da comunicao entre pessoas 9umanas"caracterstica tamb!m da 2anta Escritura. ) Anti$o Gestamento"efetivamente" apresenta uma 9ist3ria da salvao cu%o relato e&ca* torna4se

    substncia da pro&sso de f!" da litur$ia e da catequese cf Sal78"64K E!=0"0407K Dt?"0:405K 0?"54==1. De seu lado" a proclamao doqueri$ma cristo compreende a sequ>ncia narrativa da vida" da morte e daressurreio de -esus (risto" acontecimentos dos quais os Evan$el9os nosoferecem um relato detal9ado. A catequese se apresenta" ela tamb!m" soba forma narrativa cf = *o=="064051.

    A respeito da aborda$em narrativa" conv!m distin$uir m!todos de an,lise ereFexo teol3$ica.

    Mumerosos mtodos de an)liseso atualmente propostos. Al$uns partemdo estudo dos modelos narrativos anti$os. )utros se baseiam sobre um ou

    outro estudo atual da narrativa" que pode ter pontos comuns com asemi3tica. 'articularmente atenta aos elementos do texto que di*emrespeito ao enredo" s caractersticas e ao ponto de vista tomado pelonarrador" a an,lise narrativa estuda o %eito pelo qual a 9ist3ria ! contada demaneira a envolver o leitor no ; mundo do relato < e seu sistema devalores.

    ,rios m!todos introdu*em uma distino entre ; autor real < e ; autorimplcito

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    destinat,rios que leram ou ouviram ler at! os leitores ou ouvintes de 9o%e.'or ; leitor implcito < entende4se aquele que o texto pressupe e produ*"aquele que ! capa* de efetuar as operaes mentais e afetivas exi$idaspara entrar no mundo do relato e assim responder a ele da maneira visadapelo autor real atrav!s do autor implcito.

    Xm texto continua a exercer sua inFu>ncia na medida em que os leitoresreais por exemplo" n3s mesmos no &m do s!culo CC1 podem se identi&carcom o leitor implcito. Xma das maiores tarefas do exe$eta ! facilitar estaidenti&cao.

    U an,lise narrativa li$a4se uma nova maneira de apreciar o alcance dostextos. Enquanto o m!todo 9ist3rico4crtico considera antes de tudo o textocomo uma ; %anela ncia sobre a maneira de ver do leitor e o leva a adotar certos valoresinv!s que outros.

    A este $>nero de estudo" tipicamente liter,rio" associou4se a reFexoteol3$ica" que levando em considerao as consequ>ncias que a nature*ade relato e de testemun9o da 2anta Escritura representa para a adeso def!" dedu* disso uma 9ermen>utica de tipo pr,tico e pastoral. Jea$e4se destamaneira contra a reduo do texto inspirado a uma s!rie de tesesteol3$icas" formuladas muitas ve*es se$undo cate$orias e lin$ua$em noescritursticas. 'ede4se exe$ese narrativa de reabilitar" em contextos

    9ist3ricos novos" os modos de comunicao e de si$ni&cado pr3prios aorelato bblico" a&m de mel9or abrir camin9o sua e&c,cia para a salvao.#nsiste4se na necessidade de ; contar a salvao < aspecto ; informativo s operaes@ a1 a identi&cao ea classi&cao das &$uras" isto !" dos elementos de si$ni&cao de umtexto atores" tempos e lu$ares1K b1 o estabelecimento dos percursos decada &$ura em um texto para determinar a maneira como esse texto outili*aK c1 a procura dos valores tem,ticos das &$uras. Esta ltima operaoconsiste em distin$uir ; em nome do que < Y valor1 as &$uras se$uem"nesse texto determinado" tal percurso.

    - n"vel l,ico.sem/ntico. P o nvel c9amado profundo. Ele ! tamb!m o maisabstrato. Ele procede do postulado que formas l3$icas e si$ni&cantes so

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    sub%acentes s or$ani*aes narrativas e discursivas de todo discurso. Aan,lise a esse nvel consiste Zem precisar a l3$ica que $era as articulaesfundamentais dos percursos narrativos e &$urativos de um texto. 'ara istoum instrumento ! muitas ve*es empre$ado" c9amado de ; quadradosemi3tico

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    (onstatando que o m!todo 9ist3rico4crtico encontra al$umas ve*esdi&culdades em alcanar o nvel teol3$ico em suas concluses" aaborda$em ; canInica uticos foram acionados no decorrer desse processoe o so ainda ap3s a &xao do (nonK eles so muitas ve*es do $>nero doidras9im" servindo para atuali*ar o texto bblico Eles favorecem uma

    constante interao entre a comunidade e sua Escrituras" fa*endo apelo auma interpretao que visa torna contempornea a tradio.

    A aborda$em canInica rea$e com ra*o contra a valori*ao exa$eradadaquilo que ! supostamente ori$inal e primitivo" como se somente issofosse aut>ntico. A Escritura inspirada ! a Escritura tal como a #$re%a arecon9eceu como re$ra de sua f!. 'ode4se insistir a esse respeito" se%asobre a forma &nal na qual se encontra atualmente cada um dos livros" se%asobre o con%unto que eles constituem como (non. Xm livro torna4se bblicosomente lu* do (non inteiro.

    A comunidade dos &!is ! efetivamente o contexto adequado para a

    interpretao dos textos canInicos. A f! e o Esprito 2anto enriquecem aexe$eseK a autoridade eclesial" que se exerce a servio da comunidade"deve velar para que a interpretao permanea &el $rande Gradio queprodu*iu os textos cf Dei Verbum" =:1.

    A aborda$em canInica encontra4se s voltas com mais de um problema"sobretudo quando ela procura de&nir o ; processo canInico utica ; canInica < desde que a repetio das tradies" que se

    efetua levando4se em conta os aspectos novos da situao reli$iosa"cultural" teol3$ica1" mant!m a identidade da mensa$em. as apresenta4se

    http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.htmlhttp://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html
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    uma questo@ o processo de interpretao que condu*iu formao do(non deve ele ser recon9ecido como re$ra de interpretao da Escrituraat! nossos diasB

    De outro lado" as relaes complexas entre o (non %udaico das Escrituras eo (non cristo suscitam numerosos problemas para a interpretao. A#$re%a crist recebeu como ; Anti$o Gestamento < os escritos que tin9amautoridade na comunidade %udaica 9elenstica" mas al$uns deles estoausentes da blia 9ebraica ou se apresentam sob uma forma diferente.) corpus!" ento" diferente. 'or isso a interpretao canInica no pode serid>ntica" pois c" da texto deve ser lido em relao com o con%unto do corpus.a sobretudo" a #$re%a l> o Anti$o Gestamento lu* do acontecimento pascalH morte e ressurreio de (risto -esus H que tra* um radical novidade e d,"com uma autoridade soberana" um sentido decisivo e de&nitivo sEscrituras cf Dei Verbum" 1. Esta nova determinao de sentido fa* parteinte$rante da f! crist. Ela no deve" portanto" tirar toda consist>ncia interpretao canInica anterior" aquela que precedeu a ',scoa crist" pois !preciso respeitar cada etapa da 9ist3ria da salvao. Esva*iar da sussubstncia o Anti$o Gestamento seria privar o Movo Gestamento de sua rai*na 9ist3ria.

    0.Aborda,em com recurso 1s tradi$0es 2udaicas de interpreta$%o

    ) Anti$o Gestamento tomou sua forma &nal no %udasmo dos quatro ou cincoltimos s!culos que precederam a era crist. Esse %udasmo foi tamb!m oambiente de ori$em do Movo Gestamento e da #$re%a nascente. Mumerososestudos de 9ist3ria %udaica anti$a e principalmente as pesquisas suscitadaspelas descobertas de Qumrn colocaram em relevo a complexidade do

    mundo %udeu" em terra de #srael e na di,spora" ao lon$o deste perodo.P neste mundo que comeou a interpretao da Escritura. Xm dos maisanti$os testemun9os de interpretao %udaica da blia ! a traduo $re$ados 2etenta. )s Gar$umim aramaicos constituem um outro testemun9o domesmo esforo" que continuou at! nossos dias" acumulando uma somaprodi$iosa de procedimentos s,bios 'ara a conservao do texto do Anti$o

    Gestamento e para a explicao do sentido dos textos bblicos. Em todos ostempos" os mel9ores exe$etas cristos" desde )r$enes e so -erInimo"procuraram tirar proveito da erudio %udaica para uma mel9or inteli$>nciada Escritura. Mumerosos exe$etas modernos se$uem esse exemplo.

    As tradies %udaicas anti$as permitem particularmente con9ecer mel9or ablia %udaica dos 2etenta" que em se$uida tornou4se a primeira parte dablia crist durante pelo menos os quatro primeiros s!culos da #$re%a" e no)riente at! nossos dias. A literatura %udaica extra4canInica" c9amadaap3crifa ou inter4testament,ria" abundante e diversi&cada" ! uma fonteimportante para a interpretao do Movo Gestamento. )s procedimentosvariados de exe$ese praticados pelo %udasmo das diferentes tend>nciasreencontram4se no pr3prio Anti$o Gestamento" por exemplo nas (rInicas emrelao aos +ivros dos Jeis" e no Movo Gestamento" por exemplo" em certosraciocnios escritursticos de so 'aulo. A diversidade das formas par,bolas"ale$orias" antolo$ia e Foril!$ios" releituras"pes#er" comparaes entre

    textos distantes" salmos e 9inos" vises" revelaes e son9os" composiessapienciais1 ! comum ao Anti$o e ao Movo Gestamento assim como

    http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.htmlhttp://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19651118_dei-verbum_po.html
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    literatura de todos os ambientes %udaicos antes e ap3s o tempo de -esus. )sGar$umim e os idras9im representam a 9omil!tica e a interpretao bblicade $randes setores do %udasmo dos primeiros s!culos.

    Al!m disso" numerosos exe$etas do Anti$o Gestamento pedem aoscomentadores" $ram,ticos e lexic3$rafos %udeus medievais e mais recentes"lu*es para a inteli$>ncia de passa$ens obscuras ou de palavras raras enicas. ais freqWentes que anti$amente" aparecem 9o%e refer>ncias aessas obras %udaicas na discusso exe$!tica.

    A rique*a da erudio %udaica colocada a servio da blia" desde suasori$ens na anti$uidade at! nossos dias" ! uma a%uda muito valiosa para oexe$eta dos dois Gestamentos" condio" no entanto" de empre$,4la comcon9ecimento de causa. ) %udasmo anti$o era de uma $rande diversidade.A forma farisaica" que prevaleceu em se$uida no rabinismo" no era a nica.)s textos %udeus anti$os se escalonam por v,rios s!culosK ! importantesitu,4los cronolo$icamente antes de fa*er comparaes. 2obretudo" o

    quadro $eral das comunidades %udaicas e crists ! fundamentalmentediferente@ do lado %udeu" se$undo formas muito variadas" trata4se de umareli$io que de&ne um povo e uma pr,tica de vida a partir de um escritorevelado e de uma tradio oral" enquanto que do lado cristo ! a f! ao2en9or -esus" morto" ressuscitado e doravante vivo" essias e Til9o de Deus"que rene uma comunidade. Esses dois pontos de partida criam" para ainterpretao das Escrituras" dois contextos que" apesar de muitos contatose semel9anas" so radicalmente diferentes.

    6.Aborda,em atravs da #istria dos eeitos do te!to

    Esta aborda$em ap3ia4se sobre dois princpios@a3um texto torna4se umaobra liter,ria somente se ele encontra leitores que l9e do vidaapropriando4se deleKb3essa apropriao do texto" que pode se efetuar demaneira individual ou comunit,ria e toma forma em diferentes domniosliter,rio" artstico" teol3$ico" asc!tico e mstico1" contribui a fa*ercompreender mel9or o texto em si.

    2em ser totalmente descon9ecida da anti$uidade" esta aborda$em sedesenvolveu entre =/?: e =/7: nos estudos liter,rios" lo$o que a crticainteressou4se pelas relaes entre o texto e seus leitores. A exe$ese bblicas3 podia obter benefcios com esta pesquisa" ainda mais que a9ermen>utica &los3&ca a&rmava por seu lado a necess,ria distncia entre a

    obra e seu autor" assim como entre a obra e seus leitores. Mestaperspectiva" comeou4se a fa*er entrar no trabal9o de interpretao a9ist3ria do efeito provocado por um livro ou uma passa$em da Escritura ;[irSun$s$esc9ic9te

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    obra ou tomar iniciativas que se inspiram diretamente na sua leitura daEscritura.

    )s exemplos de uma tal aborda$em %, so numerosos. A 9ist3ria da leiturado (ntico dos (nticos oferece um excelente testemun9o dissoK ela mostracomo esse livro foi recebido na !poca dos 'adres da #$re%a" no ambientemon,stico latino da #dade !dia ou ainda por um mstico como so -oo da(ru*K assim ele permite mel9or descobrir todas as dimenses do sentidodeste escrito. Da mesma maneira no Movo Gestamento ! possvel e tilesclarecer o sentido de uma pericope por exemplo" aquela do %ovem ricoem Mt=/"=?40?1 mostrando sua fecundidade no curso da 9ist3ria da #$re%a.

    as a 9ist3ria atesta tamb!m a exist>ncia de correntes de interpretaotendenciosas e falsas" com efeitos nefastos" levando" por exemplo" aoantisemitismo ou a outras discriminaes raciais ou ainda a ilusesmilenaristas. >4se por isso que esta aborda$em no pode ser umadisciplina autInoma. Xm discernimento ! necess,rio. Deve4se evitar o

    privil!$io de um ou outro momento da 9ist3ria dos efeitos de um texto parafa*er dele a nica re$ra de sua interpretao.

    D.Abordagens atravs das ci!ncias humanas

    'ara se comunicar" a 'alavra de Deus se enrai*ou na vida de $rupos9umanos cf Ecle0"=01 e ela traou a si mesma um camin9o atrav!s doscondicionamentos psicol3$icos das diversas pessoas que compuseram osescritos bblicos. Jesulta disso que as ci>ncias 9umanas H em particular asociolo$ia" a antropolo$ia e a psicolo$ia H podem contribuir a umacompreenso mel9or de certos aspectos dos textos. (onv!m" no entanto"notar que existem v,rias escolas" com diver$>ncias not,veis sobre a pr3prianature*a dessas ci>ncias. Dito isto" um bom nmero de exe$etas tirourecentemente proveito desse $>nero de pesquisas.

    =.Aborda,em sociol,ica

    )s textos reli$iosos esto unidos por uma conexo de relao recproca comas sociedades nas quais eles nascem. Esta constatao vale evidentementepara os textos bblicos. (onsequentemente" o estudo crtico da blianecessita um con9ecimento to exato quanto possvel dos comportamentossociais que caracteri*am os diversos ambientes nos quais as tradiesbblicas se formaram. Esse $>nero de informao s3cio49ist3rica deve ser

    completado por uma explicao sociol3$ica correta" que interpretecienti&camente" em cada caso" o alcance das condies sociais deexist>ncia.

    Ma 9ist3ria da exe$ese" o ponto de vista sociol3$ico encontrou seu lu$ar 9,muito tempo. A ateno que a ; Torm$esc9ic9te < deu ao ambiente deori$em dos textos ; 2it* im +eben

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    Mumerosas so as questes feitas a esse respeito exe$ese do Anti$oGestamento. Deve4se per$untar" por exemplo" quais so as diversas formasde or$ani*ao social e reli$iosa que #srael con9eceu no decorrer de sua9ist3ria. 'ara o perodo anterior formao de um Estado" o modeloetnol3$ico de uma sociedade ac!fala se$ment,ria forneceu uma base de

    partida su&cienteB (omo se passou de uma li$a de tribos" sem $randecoeso" a um Estado or$ani*ado em monarquia e" de l," a uma comunidadebaseada simplesmente sobre as li$aes reli$iosas e $eneal3$icasB Quaistransformaes econImicas" militares e outras foram provocadas naestrutura da sociedade pelo movimento de centrali*ao poltica e reli$iosaque condu*iu monarquiaB ) estudo das normas de comportamento noAnti$o )riente e em #srael no contribui com mais e&c,cia inteli$>ncia doDec,lo$o do que as tentativas puramente liter,rias de reconstruo de umtexto primitivoB

    'ara a exe$ese do Movo Gestamento" as questes so evidentementediferentes. (itemos al$umas delas@ para explicar o $>nero de vida adotadoantes da ',scoa por -esus e seus discpulos" qual valor pode4se dar teoriade um movimento de carism,ticos itinerantes" vivendo sem domicilio" nemfamlia" nem bensB Toi mantida uma relao de continuidade" baseada sobreo c9amado de -esus a se$ui4lo" entre a atitude de desprendimento radicaladotado por -esus e aquela do movimento cristo ap3s a ',scoa" nos maisdiversos ambientes da cristandade primitivaB ) que sabemos da estruturasocial das comunidades paulinas" levando4se em conta" em cada caso" acultura urbana correspondenteB

    Oeralmente a aborda$em sociol3$ica d, uma abertura maior ao trabal9oexe$!tico e comporta muitos aspectos positivos. ) con9ecimento dos dados

    sociol3$icos que contribuem a fa*er compreender o funcionamentoeconImico" cultural e reli$ioso do mundo bblico ! indispens,vel crtica9ist3rica. A tarefa da exe$ese" de bem compreender o testemun9o de f! da#$re%a apost3lica" no pode ser levada a termo de maneira ri$orosa semuma pesquisa cient&ca que estude os estreitos relacionamentos dos textosdo Movo Gestamento com a viv>ncia social da #$re%a primitiva. A utili*aodos modelos fornecidos pela ci>ncia sociol3$ica asse$ura s pesquisas dos9istoriadores das !pocas bblicas uma not,vel capacidade de renovao"mas ! preciso" naturalmente" que os modelos se%am modi&cados em funoda realidade estudada.

    P o caso aqui de assinalar al$uns riscos que a aborda$em sociol3$ica fa*correr a exe$ese. Efetivamente" se o trabal9o da sociolo$ia consiste emestudar as sociedades vivas" ! previsvel encontrar al$umas di&culdadeslo$o que se quer aplicar seus m!todos a ambientes 9ist3ricos quepertenam a um passado lon$nquo. )s textos bblicos e extra4bblicos nofornecem forosamente uma documentao su&ciente para dar uma visode con%unto da sociedade da !poca. Ali,s" o m!todo sociol3$ico tende a darmais ateno aos aspectos econImicos e institucionais da exist>ncia9umana do que s suas dimenses pessoais e reli$iosas.

    0.Aborda,em atravs da antropolo,ia cultural

    A aborda$em dos textos bblicos que utili*a as pesquisas de antropolo$iacultural est, em li$ao estreita com a aborda$em sociol3$ica. A distino

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    dessas duas aborda$ens situa4se ao mesmo tempo a nvel da sensibilidade"do m!todo e dos aspectos da realidade que ret>m a ateno. Enquanto quea aborda$em sociol3$ica H acabamos de di*>4lo H estuda sobretudo osaspectos econImicos e institucionais" a aborda$em antropol3$ica interessa4se por um vasto con%unto de outros aspectos que se reFetem na lin$ua$em"

    arte" reli$io" mas tamb!m nos vestu,rios" ornamentos" festas" danas"mitos" lendas e tudo o que concerne a etno$ra&a.

    Oeralmente a antropolo$ia cultural procura de&nir as caractersticas dosdiferentes tipos de 9omens no ambiente social deles H como por exemplo"o 9omem mediterrnico H com tudo o que isso implica de estudo doambiente rural ou urbano e de ateno voltada aos valores recon9ecidospela sociedade 9onra e desonra" se$redo" &delidade" tradio" $>nero deeducao e de escolas1" maneira pela qual se exerce o controle social" sid!ias que se tem da famlia" da casa" do parentesco" situao da mul9er"dos binImios institucionais patro4cliente" propriet,rio4locat,rio" benfeitor4bene&ci,rio" 9omem livre4escravo1" sem esquecer a concepo do sa$rado edo profano" os tabus" o ritual de passa$em de uma situao a uma outra" ama$ia" a ori$em dos recursos" do poder" da informao" etc.

    Gendo4se por base esses diversos elementos" constitui4se tipolo$ias e ;modelos < comuns a v,rias culturas.

    Esse $>nero de estudos pode evidentemente ser til para a interpretaodos textos bblicos e ele ! efetivamente utili*ado para o estudo dasconcepes de parentesco no Anti$o Gestamento" a posio da mul9er nasociedade israelita" a inFu>ncia dos ritos a$r,rios" etc. Mos textos querelatam o ensinamento de -esus" por exemplo as par,bolas" muitos detal9es

    podem ser esclarecidos $raas a essa aborda$em. )corre o mesmo para asconcepes fundamentais" como aquela do reino de Deus" ou para amaneira de conceber o tempo na 9ist3ria da salvao" assim como para osprocessos de a$lutinao das comunidades primitivas. Esta aborda$empermite distin$uir mel9or os elementos permanentes da mensa$em bblicacu%o fundamento est, na nature*a 9umana" e as determinaescontin$entes se$undo culturas particulares. Godavia" no mais que outrasaborda$ens particulares" esta no est, em si altura de levar em conta ascontribuies espec&cas da revelao. (onv!m estar ciente disso nomomento de apreciar o alcance de seus resultados.

    6.Aborda,ens psicol,icas e psicanal"ticas

    'sicolo$ia e teolo$ia no cessaram %amais de estar em di,lo$o uma com aoutra. A extenso moderna das pesquisas psicol3$icas ao estudo dasestruturas dinmicas do inconsciente suscitou novas tentativas deinterpretao dos textos anti$os" e assim tamb!m da blia. )bras inteirasforam consa$radas interpretao psicanaltica de textos bblicos. ivasdiscusses se$uiram4nas@ em qual medida e em quais condies aspesquisas psicol3$icas e psicanalticas podem contribuir para umacompreenso mais profunda da 2anta EscrituraB

    )s estudos de psicolo$ia e de psican,lise tra*em exe$ese bblica um

    enriquecimento" pois" $raas a eles os textos da blia podem ser mel9orentendidos enquanto experi>ncias de vida e re$ras de comportamento. A

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    reli$io" sabe4se" ! sempre em uma situao de debate com o inconsciente.Ela participa" em uma lar$a medida" correta orientao das pulses9umanas. As etapas que a crtica 9ist3rica percorre metodicamenteprecisam ser complementadas por um estudo dos diversos nveis darealidade expressa nos textos. A psicolo$ia e a psican,lise esforam4se em

    avanar nesta direo. Elas abrem a via para uma compreensopluridimensional da Escritura" e elas a%udam a decifrar a lin$ua$em 9umanada revelao.

    A psicolo$ia e" de outra maneira" a psican,lise deram particularmente umanova compreenso do smbolo. A lin$ua$em simb3lica permite exprimir*onas da experi>ncia reli$iosa que no so acessveis ao raciocniopuramente conceitual" mas t>m valor para a questo da verdade. P por issoque um estudo interdisciplinar condu*ido em comum por exe$etas epsic3lo$os ou psicanalistas apresenta vanta$ens certas" fundadasob%etivamente e con&rmadas na pastoral.

    Mumerosos exemplos podem ser citados" que mostram a necessidade de umesforo comum dos exe$etas e dos psic3lo$os@ para esclarecer o sentidodos ritos do culto" dos sacrifcios" dos interditos" para explicar a lin$ua$emc9eia de ima$ens da blia" o alcance metaf3rico dos relatos de mila$res" afora dram,tica das vises e audies apocalpticas. Mo se tratasimplesmente de descrever a lin$ua$em simb3lica da blia" mas apreendersua funo de revelao e de interpelao@ a realidade ; luminosa < deDeus entra aqui em contato com o 9omem.

    ) di,lo$o entre exe$ese e psicolo$ia ou psican,lise em vista de umacompreenso mel9or da blia deve evidentemente ser crtico e respeitar as

    fronteiras de cada disciplina. Em todo caso" uma psicolo$ia ou umapsican,lise que fosse at!ia se tornaria incapa* de considerar os dados da f!.\teis para de&nir a extenso da responsabilidade 9umana" psicolo$ia epsican,lise no devem eliminar a realidade do pecado e da salvao. Deve4se" ali,s" evitar de confundir reli$iosidade espontnea e revelao bblica oude pre%udicar o car,ter 9ist3rico da mensa$em da blia" que l9e asse$uraum valor de acontecimento nico.

    Motemos ainda que no se pode falar da ; exe$ese psicanaltica < como se9ouvesse apenas uma. Existe" em realidade" provenientes de diversosdomnios da psicolo$ia e das diversas escolas" uma $rande variedade decon9ecimentos suscetveis de contribuir interpretao 9umana e teol3$icada blia. (onsiderar absoluta uma ou outra posio de uma das escolas nofavorece a fecundidade do esforo comum" ao contr,rio l9e e nocivo.

    As ci>ncias 9umanas no se redu*em sociolo$ia" antropolo$ia cultural e psicolo$ia. )utras disciplinas podem tamb!m ser teis para ainterpretao da blia. Em todos esses domnios ! preciso respeitar ascompet>ncias e recon9ecer que ! pouco freqWente que uma mesma pessoase%a ao mesmo tempo quali&cada em exe$ese e em uma ou outra dasci>ncias 9umanas.

    E.Abordagens conte"tuais

    A interpretao de um texto ! sempre dependente da mentalidade e daspreocupaes de seus leitores. Estes ltimos do uma ateno privile$iada

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    a certos aspectos e" sem mesmo pensar" ne$li$enciam outros. P entoinevit,vel que exe$etas adotem" em seus trabal9os" novos pontos de vistaque correspondam a correntes de pensamento contemporneas que noobtiveram" at! aqui" uma importncia su&ciente. (onv!m que eles o faa mcom discernimento crtico. Atualmente os movimentos de libertao e o

    feminismo ret>m particularmente a ateno.=.Aborda,em da liberta$%o

    A teolo$ia da libertao ! um fenImeno complexo que ! preciso nosimpli&car indevidamente. (omo movimento teol3$ico ele se consolida noincio dos anos 7:. 2eu ponto de partida" al!m das circunstnciaseconImicas" sociais e politicas dos pases da Am!rica +atina" encontra4seem dois $randes acontecimentos eclesiais@ o (oncilio aticano ##" com suavontade declarada dea,,iornamentoe de orientao do trabal9o pastoralda #$re%a em direo s necessidades do mundo atual" e a 0] Assembl!iaplen,ria do (E+A (onsel9o Episcopal +atino4americano1 em edellin em

    =/?8" que aplicou os ensinamentos do (oncilio s necessidades da Am!rica+atina. ) movimento se propa$ou tamb!m em outras partes do mundo^frica" ^sia" populao ne$ra dos Estados Xnidos1.

    P difcil discernir se existe ; uma < teolo$ia da libertao e de&nir seum!todo. P to difcil quanto determinar adequadamente sua maneira de lera blia para indicar em se$uida as contribuies e os limites. 'ode4se di*erque ela no adota um m!todo especial. as" partindo de pontos de vistas3cio4culturais e polticos pr3prios" ela pratica uma leitura bblica orientadaem funo das necessidades do povo" que procura na blia o alimento dasua f! e da sua vida.

    Ao inv!s de se contentar com uma interpretao ob%etivante" que seconcentra sobre aquilo que di* o texto em seu contexto de ori$em" procura4se uma leitura que nasa da situao vivida pelo povo. 2e este ltimo viveem circunstncias de opresso" ! preciso recorrer blia para nela procuraro alimento capa* de sustent,4lo em suas lutas e suas esperanas. Arealidade presente no deve ser i$norada" mas" ao contr,rio" afrontada emvista de ilumin,4la lu* da 'alavra. Desta lu* resultar, a pr,xis cristaut>ntica" tendendo transformao da sociedade por meio da %ustia e doamor. Ma f!" a Escritura se transforma em fator de dinamismo de libertaointe$ral.

    )sprinc"piosso os se$uintes@

    Deus est, presente na 9ist3ria de seu povo para salv,4lo. Ele ! o Deus dospobres" que no pode tolerar a opresso nem a in%ustia.

    P por isso que a exe$ese no pode ser neutra" mas deve tomar partidopelos pobres no se$uimento de Deus" e en$a%ar4se no combate pelalibertao dos oprimidos.

    A participao a esse combate permite" precisamente" de fa*er aparecersentidos que se descobrem somente quando os textos bblicos so lidos emum contexto de solidariedade efetiva com os oprimidos.

    (omo a libertao dos oprimidos ! um processo coletivo" a comunidade dospobres ! a mel9or destinat,ria para receber a blia como palavra de

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    libertao. Al!m disso" os textos bblicos tendo sido escritos paracomunidades" ! a comunidades que em primeiro lu$ar a leitura da blia !con&ada. A 'alavra de Deus ! plenamente atual" $raas sobretudo capacidade que possuem os ; acontecimentos fundadores < a sada doE$ito" a paixo e a ressurreio de -esus1 de suscitar novas reali*aes no

    curso da 9ist3ria.A teolo$ia da libertao compreende elementos cu%o valor ! indubit,vel@ osentido profundo da presena de Deus que salvaK a insist>ncia sobre adimenso comunit,ria da f!K a ur$>ncia de uma pr,xis libertadora enrai*adana %ustia e no amorK uma releitura da blia que procura fa*er da 'alavrade Deus a lu* e o alimento do povo de Deus em meio a suas lutas e suasesperanas. Assim ! sublin9ada a plena atualidade do texto inspirado.

    as a leitura to en$a%ada da blia comporta riscos. (omo ela ! li$ada aum movimento em plena evoluo" as observaes que se$uem no podemque ser provis3rias.

    Essa leitura se concentra sobre textos narrativos e prof!ticos que iluminamsituaes de opresso e que inspiram uma pr,xis tendendo a uma mudanasocial@ aqui ou l, ela pIde ser parcial" no dando tanta ateno a outrostextos da blia. P certo que a exe$ese no pode ser neutra" mas ela devetamb!m evitar de ser unilateral. Ali,s" o en$a%amento social e politico no !a tarefa direta do exe$eta.

    Querendo inserir a mensa$em bblica no contexto s3cio4poltico" te3lo$os eexe$etas foram levados ao recurso de instrumentos de an,lise da realidadesocial. Mesta perspectiva" al$umas correntes da teolo$ia da libertao&*eram uma an,lise inspirada em doutrinas materialistas e ! nesse quadrotamb!m que elas leram a blia" o que no deixou de provocar questes"notadamente no que concerne o princpio marxista da luta de classes.

    2ob a presso de enormes problemas sociais" o acento foi colocadoprincipalmente sobre uma escatolo$ia terrestre" muitas ve*es emdetrimento da dimenso escatol3$ica transcendente da Escritura.

    As mudanas sociais e polticas condu*em esta aborda$em a se propIrnovas questes e a procurar novas orientaes. 'ara seu desenvolvimentoulterior e sua fecundidade na #$re%a" um fator decisivo ser, o esclarecimentode seus pressupostos 9ermen>uticos" de seus m!todos e de sua coer>ncia

    com a f! e a Gradio do con%unto da #$re%a.0.Aborda,em eminista

    A 9ermen>utica bblica feminista nasceu por volta do &m do s!culo C#C nosEstados Xnidos" no contexto s3cio4cultural da luta pelos direitos da mul9er"com o comit> de reviso da blia. Este ltimo produ*iu o ; G9e [omanVsible < em dois volumes Me_ orS =885" =8/81. Esta corrente semanifestou com $rande vi$or e teve um enorme desenvolvimento a partirdos anos V7:" em li$ao com o movimento de libertao da mul9er"sobretudo na Am!rica do Morte. el9or di*endo" deve4se distin$uir v,rias9ermen>uticas bblicas feministas" pois as aborda$ens utili*adas so muito

    diversas. A unidade delas prov!m do tema comum" isto ! a mul9er" e do &m

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    perse$uido@ a libertao da mul9er e a conquista de direitos i$uais aos do9omem.

    Deve4se mencionar aqui tr>s formas principais da 9ermen>utica bblicafeminista@ a forma radical" a forma neo4ortodoxa e a forma crtica.

    A forma radicalrecusa completamente a autoridade da blia" di*endo queela foi produ*ida por 9omens em vista de asse$urar a dominao do 9omemsobre a mul9er androcentrismo1.

    A forma neo.ortodo!aaceita a blia como profecia e suscetvel de servir" namedida em que ela toma partido pelos fracos e assim tamb!m pela mul9erKesta orientao ! adotada como ; cnon no cnon ncia" tendo pro$ressivamente prevalecido o patriarcalismo e oandrocentrismo.

    A 9ermen>utica feminista no elaborou um m!todo novo. Ela se serve dosm!todos correntes em exe$ese" especialmente o m!todo 9ist3rico4crtico.as ela acrescenta dois crit!rios de investi$ao.

    ) primeiro ! o crit!rio feminista" tomado do movimento de libertao damul9er" na lin9a do movimento mais $eral da teolo$ia da libertao. Eleutili*a uma 9ermen>utica da suspeita@ tendo a 9ist3ria sido re$ularmenteescrita pelos vencedores" para encontrar a verdade no se deve con&ar nostextos" mas procurar neles indcios que revelem outra coisa.

    ) se$undo crit!rio ! sociol3$icoK ele se baseia no estudo das sociedades dostempos bblicos" de sua estrati&cao social e da posio que a mul9erocupava.

    Mo que concerne os escritos neo4testament,rios" o ob%eto do estudo" emde&nitivo" no ! a concepo da mul9er expressa no Movo Gestamento" masa reconstruo 9ist3rica de duas situaes diferentes da mul9er no primeiros!culo@ aquela que era 9abitual na sociedade %udaica e $reco4romana e aoutra" inovadora" instituda no movimento de -esus e nas #$re%as paulinas"

    onde teria4se formado ; uma comunidade de discpulos de -esus" todosi$uais

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    interpretaes correntes" que eram tendenciosas e visavam %usti&car adominao do 9omem" sobre a mul9er.

    Mo que concerne o Anti$o Gestamento" v,rios estudos esforaram4se dec9e$ar a uma compreenso mel9or da ima$em de Deus. ) Deus da bliano ! pro%eo de uma mentalidade patriarcal. Ele ! 'ai" mas ele ! tamb!mDeus de ternura e de amor maternais.

    Ma medida em que a exe$ese feminista se fundamenta sobre uma id!iapreconcebida" ela se expe a interpretar os textos bblicos de maneiratendenciosa e portanto contest,vel. 'ara provar suas teses ela deve muitasve*es" na falta de mel9or" recorrer a ar$umentos e! silentio. P sabido queestes so $eralmente duvidososK eles no podem nunca bastar paraestabelecer solidamente uma concluso. De outro lado" a tentativa feitapara reconstituir" $raas a indcios fu$itivos discernidos nos textos" umasituao 9ist3rica que esses mesmos textos pretendem querer esconder"no corresponde mais a um trabal9o de exe$ese propriamente dito" pois ela

    condu* re%eio dos textos inspirados preferindo uma construo9ipot!tica diferente.

    A exe$ese feminista prope muitas ve*es questes de poder na #$re%a queso" sabe4se" ob%eto de discusses e mesmo de confrontos. Messe domnio"a exe$ese feminista s3 poder, ser til #$re%a na medida em que ela nocair nas armadil9as mesmas que denuncia e quando ela no perder de vistao ensinamento evan$!lico sobre o poder como servio" ensinamentoendereado por -esus a todos os seus discpulos" 9omens e mul9eres.01

    T. #eitura $undamentalista

    A leitura fundamentalista parte do princpio de que a blia" sendo 'alavrade Deus inspirada e isenta de erro" deve ser lida e interpretada literalmenteem todos os seus detal9es. as por ; interpretao literal < ela entendeuma interpretao prim,ria" literalista" isto !" excluindo todo esforo decompreenso da blia que leve em conta seu crescimento 9ist3rico e seudesenvolvimento. Ela se ope assim utili*ao do m!todo 9ist3rico4crtico"como de qualquer outro m!todo cient&co" para a interpretao da Escritura.

    A leitura fundamentalista teve sua ori$em na !poca da Jeforma" com umapreocupao de &delidade ao sentido literal da Escritura. Ap3s o s!culo das+u*es" ela se apresentou no protestantismo como uma proteo contra a

    exe$ese liberal. ) termo ; fundamentalista < ! li$ado diretamente ao(on$resso blico Americano reali*ado em Mia$ara" Estado de Me_ `orS" em=8/5. )s exe$etas protestantes conservadores de&niram nele ; cincopontos de fundamentalismo

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    bblicas inclusas nos cinco pontos fundamentais" sua maneira de apresentaressas verdades est, enrai*ada em uma ideolo$ia que no ! bblica" apesardo que di*em seus representantes. Ela exi$e uma forte adeso a atitudesdoutrin,rias r$idas e impe" como fonte nica de ensinamento a respeitoda vida crist e da salvao" uma leitura da blia que recusa todo

    questionamento e toda pesquisa crtica.) problema de base dessa leitura fundamentalista ! que recusando de levarem considerao o car,ter 9ist3rico da revelao bblica" ela se tornaincapa* de aceitar plenamente a verdade da pr3pria Encarnao. )fundamentalismo fo$e da estreita relao do divino e do 9umano norelacionamento com Deus. Ele se recusa em admitir que a 'alavra de Deusinspirada foi expressa em lin$ua$em 9umana e que ela foi redi$ida" sob ainspirao divina" por autores 9umanos cu%as capacidades e recursos eramlimitados. 'or esta ra*o" ele tende a tratar o texto bblico como se eletivesse sido ditado palavra por palavra pelo Esprito e no c9e$a arecon9ecer que a 'alavra de Deus foi formulada em uma lin$ua$em e umafraseolo$ia condicionadas por uma ou outra !poca. Ele no d, nen9umaateno s formas liter,rias e s maneiras 9umanas de pensar presentesnos textos bblicos" muitos dos quais so fruto de uma elaborao que seestendeu por lon$os perodos de tempo e leva a marca de situaes9ist3ricas muito diversas.

    ) fundamentalismo insiste tamb!m de uma maneira indevida sobre ainerrncia dos detal9es nos textos bblicos" especialmente em mat!ria defatos 9ist3ricos ou de pretensas verdades cient&cas. uitas ve*es ele torna9ist3rico aquilo que no tin9a a pretenso de 9istoricidade" pois eleconsidera como 9ist3rico tudo aquilo que ! reportado ou contado com os

    verbos em um tempo passado" sem a necess,ria ateno possibilidade deum sentido simb3lico ou &$urativo.

    ) fundamentalismo tem muitas ve*es tend>ncia a i$norar ou a ne$ar osproblemas que o texto bblico comporta na sua formulao 9ebraica"aramaica ou $re$a. Ele ! muitas ve*es estreitamente li$ado a uma tradiodeterminada" anti$a ou moderna. Ele se omite i$ualmente de considerar as; releituras < de certas passa$ens no interior da pr3pria blia.

    Mo que concerne os Evan$el9os" o fundamentalismo no leva emconsiderao o crescimento da tradio evan$!lica" mas confundein$enuamente o est,$io &nal desta tradio o que os evan$elistasescreveram1 com o est,$io inicial as aes e as palavras do -esus da9ist3ria1. Ele ne$li$encia assim um dado importante@ a maneira com a qualas pr3prias primeiras comunidades crists compreenderam o impactoprodu*ido por -esus de Ma*ar! e sua mensa$em. )ra" aqui est, umtestemun9o da ori$em apost3lica da f! crist e sua expresso direta. )fundamentalismo desnatura assim o apelo lanado pelo pr3prio Evan$el9o.

    ) fundamentalismo tem i$ualmente tend>ncia a uma $rande estreite*a deviso" pois ele considera conforme realidade uma anti$a cosmolo$ia %,ultrapassada" s3 porque encontra4se expressa na bliaK isso impede odi,lo$o com uma concepo mais ampla das relaes entre a cultura e a f!.

    Ele se ap3ia sobre uma leitura no4crtica de certos textos da blia para

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    con&rmar id!ias polticas e atitudes sociais marcadas por preconceitos"racistas" por exemplo" simplesmente contr,rios ao Evan$el9o cristo.

    En&m" em sua adeso ao princpio do ; sola 2criptura 4lo" a uma forma de suicdio do pensamento. Ele coloca na vida umafalsa certe*a" pois ele confunde inconscientemente as limitaes 9umanasda mensa$em bblica com a substancia divina dessa mensa$em.

    II. QUESTES DE HERMENUTICA

    A. %ermen!uticas &los&cas

    A atividade da exe$ese ! c9amada a ser repensada levando4se emconsiderao a 9ermen>utica &los3&ca contempornea" que colocou emevid>ncia a implicao da sub%etividade no con9ecimento" especialmente nocon9ecimento 9ist3rico. A reFexo 9ermen>utica teve nova fora com apublicao dos trabal9os de Triedric9 2c9leiermac9er" [il9elm Dilt9eR e"sobretudo" artin Neide$$er. Ma tril9a destes &l3sofos" mas tamb!mdistanciando4se deles" diversos autores aprofundaram a teoria9ermen>utica contempornea e suas aplicaes Escritura. Entre elesmencionaremos especialmente Judolf ultmann" Nans Oeor$ Oadamer e'aul Jicceur. Mo se pode aqui resumir4l9es o pensamento. 2er, su&cienteindicar al$umas id!ias centrais da &loso&a deles" aquelas que t>m uma

    incid>ncia sobre a interpretao dos textos bblicos.61

    =. Perspetivas modernas

    (onstatando a distncia cultural entre o mundo do primeiro s!culo e aqueledo s!culo CC" e preocupado em obter que a realidade da qual trata aEscritura fale ao 9omem contemporneo" (ultmanninsistiu na pr!4compreenso necess,ria a toda compreenso e elaborou a teoria dainterpretao existencial dos escritos do Movo Gestamento. Apoiando4se nopensamento de Neide$$er" ele a&rma que a exe$ese de um texto bblicono ! possvel sem pressupostos que diri$em a compreenso. A pr!4compreenso ; orverstndnis

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    aprofundar e enriquecer" at! mesmo se modi&car e se corri$ir" por aquilo doqual fala o texto.

    #nterro$ando4se sobre a conceituao %usta que de&nir, o questionamento apartir do qual os textos da Escritura podero ser entendidos pelo 9omem de9o%e" ultmann pretende encontrar a resposta na analtica existencial deNeide$$er. )s existenciais 9eide$$erianos teriam um alcance universal eofereceriam as estruturas e os conceitos mais apropriados para acompreenso da exist>ncia 9umana revelada na mensa$em do Movo

    Gestamento.

    4adamersublin9a i$ualmente a distncia 9ist3rica entre o texto e seuint!rprete. Ele retoma e desenvolve a teoria do crculo 9ermen>utico. Asantecipaes e as pr!4concepes que marcam nossa compreenso prov>mda tradio que nos sustenta. Esta consiste em um con%unto de dados9ist3ricos e culturais" que constituem nosso contexto vital" nosso 9ori*ontede compreenso. ) int!rprete deve entrar em di,lo$o com a realidade

    qual se refere o texto. A compreenso se opera na fuso dos 9ori*ontesdiferentes do texto e de seu leitor ; Nori*ontversc9mel*un$ ncia ; u$e9ri$Seit utica ! um processodial!tico@ a compreenso de um texto ! sempre uma compreenso maisampla de si mesmo.

    Do pensamento 9ermen>utico de Jicoeur ret!m4se primeiramente o relevodado funo de distanciao como condio necess,ria a uma %ustaapropriao do texto. Xma primeira distncia existe entre o texto e seuautor" pois" uma ve* produ*ido" o texto adquire uma certa autonomia em

    relao a seu autorK ele comea uma carreira de sentidos. Xma outradistancia existe entre o texto e seus leitores sucessivosK estes devemrespeitar o mundo do texto em sua alteridade. )s m!todos de an,liseliter,ria e 9ist3rica so assim necess,rios interpretao. Mo entanto" osentido de um texto s3 pode ser dado plenamente se ele ! atuali*ado navida de leitores que se apropriam dele. A partir da pr3pria situao" osleitores so c9amados a realar si$ni&cados novos" na lin9a do sentidofundamental indicado pelo texto. ) con9ecimento bblico no deve se &xars3 na lin$ua$emK ele procura atin$ir a realidade da qual fala o texto. Alin$ua$em reli$iosa da blia ! uma lin$ua$em simb3lica que ; fa* pensar

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    c9amada a ser completada por uma ; 9ermen>utica ncia de umaexcessiva ; demiti*ao ntica interpretao da Escritura !primeiramente acol9ida de um sentido dado nos acontecimentos e" de

    maneira suprema" na pessoa de -esus (risto.Este sentido ! expresso nos textos. 'ara evitar o sub%etivismo" uma boaatuali*ao deve ento ser fundada sobre o estudo do texto e ospressupostos de leitura devem ser constantemente submetidos veri&cao atrav!s do texto.

    A 9ermen>utica bblica" se ela ! da compet>ncia da 9ermen>utica $eral detodo texto liter,rio e 9ist3rico" ! ao mesmo tempo um caso nico dentrodela. 2uas caractersticas espec&cas v>m4l9e de seu ob%eto. )sacontecimentos da salvao e sua reali*ao na pessoa de -esus (risto dosentido a toda a 9ist3ria 9umana. As novas interpretaes 9ist3ricas s3

    podero ser descoberta e desdobramento dessas rique*as de sentido. )relato bblico desses acontecimentos no pode ser plenamente entendido s3

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    pela ra*o. 'ressupostos particulares comandam sua interpretao" como af! vivida na comunidade eclesial e lu* do Esprito. (om o crescimento davida no Esprito cresce" no leitor" a compreenso das realidades das quaisfala o texto bblico.

    . 'entido da (scritura ins)irada

    A contribuio moderna das 9ermen>uticas &los3&cas e osdesenvolvimentos recentes do estudo cient&co das literaturas" permitem exe$ese bblica de aprofundar a compreenso de sua tarefa" cu%acomplexidade tornou4se mais evidente. A exe$ese anti$a" queevidentemente no podia levar em considerao as exi$>ncias cient&casmodernas" atribua a todo texto da Escritura sentidos de v,rios nveis. Adistino mais corrente se fa*ia entre sentido literal e sentido espiritual. Aexe$ese medieval distin$uiu no sentido espiritual tr>s aspectos diferentesque se relacionam" respectivamente" verdade revelada" conduta a sermantida e reali*ao &nal. Da o c!lebre dstico de A$ostin9o da

    Dinamarca s!culo C###1@ ; +ittera $esta docet" quid credas alle$oria" moralisquid a$as" quid speres ana$o$ia ncias da lin$ua$eme das 9ermen>uticas &los3&cas" que a&rmam a polissemia dos textosescritos.

    ) problema no ! simples e ele no se apresenta da mesma maneira paratodos os $>neros de textos@ relatos 9ist3ricos" par,bolas" or,culos" leis"prov!rbios" oraes" 9inos" etc. 'ode4se" entretanto" dar al$uns princpios$erais" levando4se em conta a diversidade das opinies.

    =. Sentido literal

    P no apenas le$timo mas indispens,vel procurar de&nir o sentido precisodos textos tais como foram produ*idos por seus autores" sentido c9amadode ; literal

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    ) sentido literal da Escritura ! aquele que foi expresso diretamente pelosautores 9umanos inspirados. 2endo o fruto da inspirao" este sentido !tamb!m dese%ado por Deus" autor principal. Ele ! discernido $raas a umaan,lise precisa do texto" situado em seu contexto liter,rio e 9ist3rico. Atarefa principal da exe$ese ! de bem condu*ir esta an,lise" utili*ando todas

    as possibilidades das pesquisas liter,rias e 9ist3ricas" em vista de de&nir osentido literal dos textos bblicos com a maior exatido possvel cf. Divinoafante Spiritu@ E. ." 55:1. 'ara esta &nalidade" o estudo dos $>nerosliter,rios anti$os ! particularmente necess,rio ibid. 5?:1.

    ) sentido literal de um texto ! 6nicoB Oeralmente simK mas no se trataaqui de um princpio absoluto" e isso por duas ra*es. De um lado" um autor9umano pode querer se referir ao mesmo tempo a v,rios nveis derealidade. ) caso ! comum em poesia. A inspirao bblica no desden9aesta possibilidade da psicolo$ia e da lin$ua$em 9umanaK o # Evan$el9ofornece numerosos exemplos disto. De outro lado" mesmo quando umaexpresso 9umana parece ter um nico si$ni&cado" a inspirao divina pode$uiar a expresso de maneira a produ*ir urna ambival>ncia. Este ! o casoda palavra de (aif,s em -o =="5:. Ela exprime ao mesmo tempo um c,lculopoltico imoral e uma revelao divina. Estes dois aspectos pertencem um eoutro ao sentido literal" pois eles so" os dois" colocados em evid>ncia pelocontexto. 2e bem que ele se%a extremo" este caso ! si$ni&cativoK ele deveadvertir contra uma concepo muito estrita do sentido literal dos textosinspirados.

    (onv!m particularmente estar atento ao aspecto din/micode muitostextos. ) sentido dos 2almos reais" por exemplo" no deve estar limitadoestritamente s circunstncias 9ist3ricas da produo deles. Talando do rei"

    o salmista evocava ao mesmo tempo uma instituio verdadeira e umaviso ideal da reale*a" conforme ao plano de Deus" de maneira que seutexto ultrapassava a instituio real tal como ela tin9a se manifestado na9ist3ria. A exe$ese 9ist3rico4crtica teve muitas ve*es a tend>ncia de &xar osentido dos textos" li$ando4o exclusivamente a circunstncias 9ist3ricasprecisas. Ela deve antes de tudo procurar determinar a direo dopensamento expresso pelo texto" direo que" ao inv!s de convidar oexe$eta a &xar o sentido" su$ere4l9e" ao contr,rio" de perceber seudesenvolvimento mais ou menos previsvel.

    Xma corrente da 9ermen>utica moderna sublin9ou a diferena de estatuto

    que afeta a palavra 9umana lo$o que ela ! colocada por escrito. Xm textoescrito tem a capacidade de ser colocado em circunstancias novas" que oiluminam de maneiras diferentes" acrescentando ao seu sentido novasdeterminaes. Esta capacidade do texto escrito ! especialmente efetiva nocaso dos textos bblicos" recon9ecidos como 'alavra de Deus. Efetivamente"o que levou a comunidade de &!is a conserv,4los foi a convico que elescontinuariam a ser portadores de lu* e de vida para as $eraes vindouras.) sentido literal !" desde o incio" aberto a desenvolvimentos ulteriores" quese produ*em $raas a ; releituras < em contextos novos.

    Mo se deve concluir que se possa atribuir a um texto bblico qualquer

    sentido" interpretando4o de maneira sub%etiva. E preciso" ao contr,rio"re%eitar como inaut>ntica toda interpretao que se%a 9etero$>nea aosentido expresso pelos autores 9umanos e no texto escrito por eles. Admitir

    http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.html
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    sentidos 9etero$>neos equivaleria a cortar a mensa$em bblica de sua rai*"que ! a 'alavra de Deus comunicada 9istoricamente" e a abrir a porta a umsub%etivismo incontrol,vel.

    0. Sentido espiritual

    Mo ! o caso" no entanto" de tomar ; 9etero$>neo < em um sentido estrito"contr,rio a toda possibilidade de reali*ao superior. ) acontecimentopascal" morte e ressurreio de -esus" deu ori$em a um contexto 9ist3ricoradicalmente novo" que ilumina de maneira nova os textos anti$os e os fa*sofrer uma mutao de sentido. 'articularmente certos textos que nasanti$as circunstancias deveriam ser considerados como 9ip!rboles porexemplo" o or,culo onde Deus" falando de um &l9o de Davi" prometiaa&rmar ;para sempre< seu trono@ 0 Sam7"=04=6K = *ron=7"==4=1"doravante esses textos devem ser tomados ao p! da letra" porque o ;(risto" tendo ressuscitado dentre os mortos" %, no morre < 7om?"/1. )sexe$etas que t>m uma noo limitada" ; 9ist3rica nero" fala4se de ; sentido espiritual ncia doEsprito 2anto no contexto do mist!rio pascal do (risto e da vida nova queresulta dele. Esse contexto existe efetivamente. ) Movo Gestamento

    recon9ece nele a reali*ao das Escrituras. P" assim" normal reler asEscrituras lu* deste novo contexto" que ! aquele da vida no Esprito.

    Da de&nio dada pode4se fa*er v,rias precises teis sobre as relaesentre sentido espiritual e sentido literal@

    Em sentido contr,rio a uma opinio corrente" no 9, necessariamentedistino entre esses dois sentidos. Quando um texto bblico se referediretamente ao mist!rio pascal do (risto ou vida nova que resulta dele"seu sentido literal ! um sentido espiritual. Este ! o caso 9abitual no Movo

    Gestamento. (onclui4se que ! a respeito do Anti$o Gestamento que aexe$ese crist fala muitas ve*es de sentido espiritual. as %, no Anti$o

    Gestamento" os textos t>m em v,rios casos como sentido literal um sentidoreli$ioso e espiritual. A f! crist recon9ece aqui uma relao antecipadacom a vida nova tra*ida pelo (risto.

    Quando 9, distino" o sentido espiritual no pode %amais ser privado derelaes com o sentido literal. Este ltimo permanece a base indispens,vel.De outra maneira no se poderia falar de ; reali*ao < da Escritura. 'araque 9a%a reali*ao efetiva" ! essencial uma relao de continuidade e deconformidade. as ! preciso tamb!m que 9a%a passa$em a um nvelsuperior de realidade.

    ) sentido espiritual no pode ser confundido com as interpretaessub%etivas ditadas pela ima$inao ou a especulao intelectual. Ele resultada relao do texto com dados reais que no l9e so estran9os" como o

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    acontecimento pascal e sua fecundidade ines$ot,vel que constitui o $rausupremo da interveno divina na 9ist3ria de #srael em proveito da9umanidade inteira.

    A leitura espiritual" feita em comunidade ou individualmente" descobre umsentido espiritual aut>ntico somente se ela se mant!m nessas perspectivas.Entram assim em relao tr>s nveis de realidade@ o texto bblico" o mist!riopascal e as circunstncias presentes de vida no Esprito.

    (onvencida de que o mist!rio de (risto d, a c9ave de interpretao a todasas Escrituras" a exe$ese anti$a se esforou de encontrar um sentidoespiritual nos menores detal9es dos textos bblicos H por exemplo" em cadaprescrio das leis rituais H servindo4se de m!todos rabnicos ouinspirando4se no ale$orismo 9elenstico. A exe$ese moderna no pode darum verdadeiro valor de interpretao a esse $>nero de tentativa" qualquerque ten9a sido no passado sua utilidade pastoral cf Divino afanteSpiritu" E' ('" 5561.

    Xm dos aspectos possveis do sentido espiritual ! o aspecto tipol3$ico" doqual se di* 9abitualmente que pertence no Escritura em si mas srealidades expressas por ela@ Ado &$ura de (risto cf7m5"=1" o dilvio&$ura do batismo = Pd6"0:40=1" etc. De fato" a relao de tipolo$ia !ordinariamente baseada sobre a maneira pela qual a Escritura descreve arealidade anti$a cf a vo* de Abel@ 4n"=:K He=="K =0"01 e nosimplesmente sobre esta realidade. (onsequentemente" trata4se de umsentido da Escritura.

    6. Sentido pleno

    Jelativamente recente" a denominao de ; sentido pleno < suscitadiscusses. De&ne4se o sentido pleno como um sentido mais profundo dotexto" dese%ado por Deus" mas no claramente expresso pelo autor 9umano.Descobre4se sua exist>ncia em um texto bblico quando se estuda essetexto lu* de outros textos bblicos que o utili*am ou em sua relao com odesenvolvimento interno da revelao.

    Grata4se" ento" ou do si$ni&cado que um autor bblico atribui a um textobblico que l9e ! anterior" quando ele o retoma em um contexto que l9econfere um sentido literal novo" ou ainda do si$ni&cado que a tradiodoutrinal aut>ntica ou uma de&nio conciliar do a um texto da blia. 'or

    exemplo" o contexto de Mt="06 d, um sentido pleno ao or,culo de 8s7"=sobre a alma9 que conceber," utili*ando a traduo dos 2etentapart#enos1@ ; A vir$em conceber, nero H por um textobblico explicito ou por uma tradio doutrinal aut>ntica H o recurso a umpretenso sentido pleno poderia condu*ir a interpretaes sub%etivasdesprovidas de toda validade.

    Em de&nitivo" poderia4se considerar o ; sentido pleno < como uma outramaneira de desi$nar o sentido espiritual de um texto bblico" no caso onde o

    http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.htmlhttp://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_30091943_divino-afflante-spiritu_po.html
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    sentido espiritual se distin$ue do sentido literal. 2eu fundamento ! o fato deque o Esprito 2anto" autor principal da blia" pode $uiar o autor 9umano naescol9a de suas expresses de tal forma que estas ltimas expressem umaverdade da qual ele no percebe toda a profundidade. Esta ! revelada maiscompletamente no decorrer do tempo" $raas" de um lado" a reali*aes

    divinas ulteriores que manifestem mel9or o alcance dos textos e $raastamb!m" de outro lado" insero dos textos no (non das Escrituras.Assim ! constitudo um novo contexto" que fa* aparecer potencialidades desentido que o contexto primitivo deixava na obscuridade.

    III. DIMENSES CARACTERSTICAS DA INTERPRETAO CATLICA

    A exe$ese cat3lica no procura se diferenciar por um m!todo cient&coparticular. Ela recon9ece que um dos aspectos dos textos bblicos ! o de sera obra de autores 9umanos" que se serviram de suas pr3prias capacidades

    de expresso e meios que a !poca e o ambiente deles colocavam4l9es disposio. (onsequentemente" ela utili*a sem subentendidos todos osm!todos e aborda$ens cient&cos que permitem mel9or apreender o sentidodos textos no contexto lin$ustico" liter,rio" s3cio4cultural" reli$ioso e9ist3rico deles" iluminando4os tamb!m pelo estudo de suas fontes e levandoem conta a personalidade de cada autor cf Divino afante Spiritu" E' ('"5571. Ela contribui ativamente ao desenvolvimento dos m!todos e aopro$resso da pesquisa.

    ) que a caracteri*a ! que ela se situa conscientemente na tradio viva da#$re%a" cu%a primeira preocupao ! a &delidade revelao atestada pelablia. As 9ermen>uticas modernas colocaram em destaque" lembremo4nos"a impossibilidade de interpretar um texto sem partir de uma ; pr!4compreenso < de um $>nero ou de um outro. A exe$ese cat3lica aborda osescritos bblicos com uma pr!4compreenso que une estreitamente a culturamoderna cient&ca e a tradio reli$iosa proveniente de #srael e dacomunidade crist primitiva. 2ua interpretao encontra4se" assim" emcontinuidade com o dinamismo de interpretao que se manifesta nointerior da pr3pria blia e que se prolon$a em se$uida na vida da #$re%a. Elacorresponde exi$>ncia de a&nidade vital entre o int!rprete e seu ob%eto"a&nidade que constitui uma das condies de possibilidade do trabal9oexe$!tico.

    Goda pr!4compreenso comporta" entretanto" seus peri$os. Mo caso daexe$ese cat3lica o risco existe de atribuir a textos bblicos um sentido queeles no exprimem" mas que ! o fruto de um desenvolvimento ulterior datradio. A exe$ese deve evitar este peri$o.

    A.A inter)retao na Tradio bblica

    )s textos da blia so a expresso de tradies reli$iosas que existiamantes deles. A maneira pela qual eles se li$am a essas tradies ! diferentese$undo o caso" a criatividade dos autores manifestando4se em $rausdiversos. Mo decorrer dos tempos" mltiplas tradies conver$iram pouco apouco para formar uma $rande tradio comum. A blia ! urnamanifestao privile$iada desse processo" que ela contribuiu a reali*ar e doqual ela continua a ser re$uladora.

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    ; A interpretao na Gradio bblica < comporta uma $rande variedade deaspectos. 'ode4se entender por esta expresso a maneira com a qual ablia interpreta as experi>ncias 9umanas fundamentais ou osacontecimentos particulares da 9ist3ria de #srael" ou ainda a maneira com aqual os textos bblicos utili*am fontes" escritas ou orais H al$umas das

    quais podem provenir de outras reli$ies ou culturas H reinterpretando4as.as sendo nosso assunto a interpretao da ("blia" n3s no queremos trataraqui destas questes to vastas" mas simplesmente propor al$umasobservaes sobre a interpretao dos textos bblicos no interior da pr3priablia.

    =. 7eleituras

    ) que contribui a dar blia sua unidade interna" nica em seu $>nero" ! ofato de que os escritos bblicos posteriores ap3iam4se muitas ve*es sobre osescritos anteriores. Ta*em aluso a eles" propem ; releituras < quedesenvolvem novos aspectos de sentido" al$umas ve*es muito diferentes do

    sentido primitivo" ou ainda referem4se a eles explicitamente" se%a paraaprofundar4l9es o si$ni&cado" se%a para a&rmar4l9es a reali*ao.

    P assim que a 9erana de uma terra" prometida por Deus a Abra9o para asua descend>ncia 4n=5"7.=81" torna4se a entrada no santu,rio de DeusE!=5"=71" uma participao ao repouso de Deus Sal=60"7481 reservadaaos verdadeiros &!is Sal/5"84==K He6"74"==1 e" &nalmente" a entrada nosantu,rio celeste He?"=0.=840:1" ;9erana eterna < He/"=51.

    ) or,culo do profeta Mat" que promete a Davi uma ; casa

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    citaes explicitas. )s autores do Movo Gestamento recon9ecem no Anti$oum valor de revelao divina. Eles proclamam que esta revelao encontrousua reali*ao na vida" no ensinamento e sobretudo na morte e ressurreiode -esus" fonte de perdo e de vida eterna. ; (risto morreu por nossospecados" se,undo as Escrituras. Toi sepultado" ressuscitou ao terceiro

    dia" se,undo as Escrituras. Apareceu... < = *o=5"6451@ este ! o ncleocentral da pre$ao apost3lica = *o=5"==1.

    (omo sempre" entre as Escrituras e os acontecimentos que as reali*am" asrelaes no so de simples correspond>ncia material" mas de iluminaorecproca e de pro$resso dial!tico@ constata4se ao mesmo tempo que asEscrituras revelam o sentido dos acontecimentos e que os acontecimentosrevelam o sentido das Escrituras" isto !" que eles obri$am a renunciar acertos aspectos da interpretao recebida para adotar uma interpretaonova.

    Desde o tempo de seu minist!rio pblico" -esus tin9a tomado uma posio

    pessoal ori$inal" diferente da interpretao recebida em sua !poca" que eraaquela ; dos escribas e dos fariseus < Mt5"0:1. Mumerosos so ostestemun9os disso@ as antteses do 2ermo da montan9a Mt5"0=481" aliberdade soberana de -esus na observncia do s,bado Mc0" 07408 eparal.1" sua maneira de tornar relativos os preceitos de pure*a ritualMc7"=406 e paral.1" ao contr,rio" sua exi$>ncia radical em outros domniosMt=:"04=0 e paral.K =:"=7407 e paral.1 e sobretudo sua atitude dereceptividade em relao ; aos publicanos e pecadores < Mc0"=54=7 eparal.1. De sua parte no era capric9o de contestador mas" ao contr,rio"&delidade mais profunda vontade de Deus expressa na Escrituracf Mt5"=7K /"=6K Mc7"84=6 e paral.K =:"54/ e paral.1.

    A morte e ressurreio de -esus foraram ao extremo a evoluo comeada"provocando em al$uns pontos um rompimento completo" ao mesmo tempoque uma abertura inesperada. A morte do essias" ; rei dos -udeus m que se alimentar do Anti$o Gestamento como 'alavra de Deus" que l9espermite de mel9or descobrir todas as dimenses do mist!rio pascal do qualeles vivem cf Lc0"05407.45K 7m="=401.

    Mo interior da blia crist as relaes entre Movo e Anti$o Gestamento nodeixam de ser complexas. Quando se trata da utili*ao de textosparticulares" os autores do Movo Gestamento recorrem naturalmente aoscon9ecimentos e aos procedimentos de interpretao da !poca deles. Exi$irque se conformem aos m!todos cient&cos modernos seria um anacronismo.) exe$eta deve antes de tudo adquirir o con9ecimento dos procedimentosanti$os para poder interpretar corretamente o uso que ! feito deles. Pverdade" de outro lado" que ele no deve dar um valor absoluto quilo que !con9ecimento 9umano limitado.

    (onv!m" en&m" acrescentar que no interior do Movo Gestamento" como %, nointerior do Anti$o" observa4se a %ustaposio de perspectivas diferentes eal$umas ve*es em tenso umas com as outras" por exemplo" sobre asituao de -esus 9o8"0/K =?"60 e Mc=5"61 ou sobre o valor da +eimosaica Mt5"=74=/ e 7m?"=1 ou sobre a necessidade das obras para ser

    %usti&cado ,0"0 e 7m6"08K E0"84/1. Xma das caractersticas da blia !precisamente a aus>ncia do esprito de sistema e a presena" ao contr,rio"de tenses dinami*antes. A blia acol9eu v,rias maneiras de interpretar os

    mesmos acontecimentos ou de pensar os mesmos problemas. Assim elaconvida a recusar o simplismo e a estreite*a de esprito.

    6.Al,umas conclus0es

    Disto que foi dito pode4se concluir que a blia cont!m numerosasindicaes e su$estes sobre a arte de interpretar. A blia ! efetivamente"desde o incio" ela mesma uma interpretao. 2eus textos foramrecon9ecidos pelas comunidades da Anti$a Aliana e do tempo apost3licocomo expresso v,lida da f! que elas tin9am. P se$undo a interpretaodas comunidades e em relao quela que foram recon9ecidos como 2antaEscritura assim" por exemplo" o (ntico dos (nticos foi recon9ecido como2anta Escritura enquanto aplicado relao entre Deus e #srael1. Modecorrer da formao da blia" os escritos que a compem foram" emmuitos casos" retrabal9ados e reinterpretados para responderem asituaes novas" descon9ecidas anteriormente.

    A maneira de interpretar os textos que se manifesta na 2anta Escriturasu$ere as se$uintes observaes@

    Dado que a 2anta Escritura nasceu sobre a base de um consenso decomunidades de &!is que recon9eceram em seu texto a expresso da f!revelada" sua pr3pria interpretao deve ser" para a f! viva das

    comunidades eclesiais" fonte de consenso sobre os pontos essenciais.

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    Dado que a expresso da f!" tal como se encontrava recon9ecida por todosna 2anta Escritura" teve que se renovar continuamente para fa*er face asituaes novas H o que explicam as ; releituras < de muitos textos bblicosH a interpretao da blia deve i$ualmente ter um aspecto de criatividadee afrontar as questes novas" para respond>4las partindo da blia.

    Dado que os textos da 2anta Escritura t>m al$umas ve*es relaes detenso entre eles" a interpretao deve necessariamente ser mltipla.Men9uma interpretao particular pode es$otar o sentido do con%unto" que !uma sinfonia a v,rias vo*es. A interpretao de um texto particular deveassim evitar de ser exclusivista.

    A 2anta Escritura est, em di,lo$o com as comunidades dos &!is@ ela saiu desuas tradies de f!. 2eus textos se desenvolveram em relao com essastradies e contriburam" reciprocamente" ao desenvolvimento delas.(onclui4se que a interpretao da Escritura fa*4se no seio da #$re%a" em suapluralidade" em sua unidade e em sua tradio de f!.

    As tradies de f! formavam o ambiente vital no qual inseriu4se a atividadeliter,ria dos autores da 2anta Escritura. Esta insero compreendia tamb!ma participao vida litr$ica e atividade externa das comunidadesK aomundo espiritual" cultura e s perip!cias do destino 9ist3rico delas. Assim"de maneira semel9ante" a interpretao da 2anta Escritura exi$e aparticipao dos exe$etas em toda a vida e em toda a f! da comunidadecrente do tempo deles.

    ) di,lo$o com a 2anta Escritura em seu con%unto" e" assim" com acompreenso da f! pr3pria a !pocas anteriores" ! acompan9adonecessariamente de um di,lo$o com a $erao presente. #sso provoca oestabelecimento de uma relao de continuidade" mas tamb!m aconstatao de diferenas. (onclui4se que a interpretao da Escrituracomporta um trabal9o de veri&cao e de tria$emK ele permanece emcontinuidade com as tradies exe$!ticas anteriores" das quais conserva etoma para si muitos elementos" mas em outros pontos ela se separa delaspara poder pro$redir.

    .A inter)retao na Tradio da *greja

    A #$re%a" povo de Deus" tem consci>ncia de ser a%udada pelo Esprito 2antoem sua compreenso e sua interpretao das Escrituras. )s primeiros

    discpulos de -esus sabiam que no estavam altura de compreenderimediatamente em todos os seus aspectos a totalidade do que tin9amrecebido. Ta*iam a experi>ncia" na vida de comunidade condu*ida comperseverana" de um aprofundamento e de uma explicitao pro$ressiva darevelao recebida. Eles recon9eciam nisso a inF