14

A Interpretação das Escrituras - oestandartedecristo.comoestandartedecristo.com/data/AInterpretaC_CeodasEscrituraseCap.4eA... · Capítulo 4 _____ O pregador deve ser, acima de

Embed Size (px)

Citation preview

A Interpretação

das Escrituras

A. W. Pink

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

2

Traduzido do original em Inglês

Interpretation of the Scriptures

By A. W. Pink

Este e-book consiste apenas no Cap. 4 da obra supracitada.

Via: PBMinistries.org

(Providence Baptist Ministries)

Tradução por Camila Rebeca Almeida

Revisão por William Teixeira

Capa por William Teixeira

1ª Edição: Fevereiro de 2017

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida

permissão do ministério Providence Baptist Ministries, sob a licença Creative Commons Attribution-

NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

3

A Interpretação das Escrituras

Por A. W. Pink

Capítulo 4

________________________________________

O pregador deve ser, acima de tudo, um homem do Livro, bem versado no conteúdo

da Palavra de Deus, alguém que é capaz de extrair de seu tesouro “coisas novas e velhas”

(Mateus 13:52). A Bíblia deve ser o seu único livro-texto e de suas águas vivas ele deve

beber profunda e diariamente. Pessoalmente, não uso nada mais do que a King James

Versão Autorizada Inglesa e a Concordância de Young, com uma referência ocasional à

Interlinear de Grego e a King James Versão Americana Revisada. Consulto os Comentários

apenas após fazer um inicial e exaustivo estudo de uma passagem. Recomendo fortemente

aos jovens pregadores que sejam muito vigilantes para não permitirem que os comentários

se tornem substitutos, em vez de um auxílio, ao seu próprio minucioso e pleno exame e

ponderação das Sagradas Escrituras. Assim como há um meio termo entre imaginar ou que

a Bíblia é tão clara e simples que qualquer um pode entendê-la ou tão difícil e profunda que

seria um desperdício de tempo para a pessoa mediana lê-la, assim também há entre ser

essencialmente dependente das obras dos outros e simplesmente ecoar as suas ideias, e

depreciar totalmente a luz e a ajuda que podem ser obtidas a partir dos antigos servos de

Deus.

É aos pés de Deus que o pregador deve posicionar-se, aprendendo com Ele o

significado de Sua Palavra, na esperança de que Ele desvele os Seus mistérios, buscando

nEle a sua mensagem. Em nenhum lugar, senão nas Escrituras ele pode discernir o que é

agradável ou desagradável ao Senhor. Somente ali são revelados os segredos da

sabedoria divina, sobre a qual o filósofo e o cientista não conhecem nada. Como o grande

Puritano holandês justamente salientou: “Tudo o que não é retirado das mesmas, o que

não é construído sobre elas, o que não está mui exatamente de acordo com elas, embora

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

4

possa recomendar-se pela aparência da mais sublime sabedoria, ou apoiar-se na antiga

tradição e no consenso dos homens eruditos, ou tenha o peso de argumentos plausíveis, é

inútil, fútil e, em suma, uma mentira. ‘À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo

essa palavra, é porque não há luz neles’. Que o teólogo se deleite nos oráculos sagrados;

que ele se exercite neles de dia e de noite, e medite neles, e extraia toda a sua sabedoria

deles. Que ele mantenha todos os seus pensamentos em torno deles, que, no que diz

respeito à religião, ele não aceite nada não possa ser encontrado ali” (Herman Witsius).

1. Tratando agora daqueles princípios que devem orientar o estudante em seus

esforços para interpretar a Palavra de Deus, colocamos em primeiro lugar, a necessidade

de reconhecer a interrelação e interdependência entre o Antigo e o Novo Testamentos.

Fazemos isso porque o erro nesse ponto, inevitavelmente resulta em um mal-entendido

grave e em uma não pequena perversão nas últimas Escrituras. Não propomos introduzir

uma refutação da heresia moderna do “dispensacionalismo”, mas tratar dessa seção de

nosso assunto de forma construtiva. Após uma comparação longa e cuidadosa dos escritos

da escola Dispensacionalista com as Institutas de Calvino, e após observarmos o tipo de

fruto produzido por ambas, é nossa convicção que esse eminente reformador foi muito mais

profundamente ensinado pelo Santo Espírito do que aqueles que reivindicaram receber

uma grande “nova luz sobre a Palavra de Deus” há um século. Queremos, portanto, pedir

que cada pregador que possui as Institutas de Calvino empreguem a sua melhor atenção

aos seus dois capítulos sobre: “A Similaridade o Antigo e o Novo Testamento” e “A

Diferença Entre os Dois Testamentos”.1

A semelhança entre os dois Testamentos é muito maior e mais importante do que a

sua diferença. O mesmo Deus Triuno é revelado em cada um dos Testamentos, o mesmo

caminho da salvação é estabelecido, o mesmo padrão de santidade é anunciado, os

mesmos destinos eternos do justo e do ímpio são evidenciados. O Novo Testamento tem

todas as suas raízes no Antigo, de modo que muito em um torna-se ininteligível à parte do

outro. Não somente um conhecimento da história dos patriarcas e das instituições do

judaísmo são indispensáveis para a compreensão de muitos detalhes nos Evangelhos e

nas Epístolas, mas seus termos e ideias são idênticos. Que é inteiramente insustentável

para nós supormos que a mensagem proclamada pelo Senhor Jesus era algo novo ou

radicalmente diferente das primeiras comunicações de Deus fica evidente a partir de Sua

advertência enfática: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar,

mas cumprir” (Mateus 5:17) — isto é, para vindicá-los e fundamentá-los, para livrá-los das

1 Capítulos X e XI, Livro II – N.T.

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

5

perversões e deturpações humanas, e para fazer o bem que eles exigem e declaram.

Assim, longe de haver qualquer antagonismo entre o ensinamento de Cristo e o ensino dos

mensageiros de Deus que O precederam, quando anunciou a “regra de ouro” Ele afirmou,

“porque esta é a lei e os profetas” (Mateus 7:12).

Certamente não havia conflito entre o testemunho dos apóstolos e o testemunho de

seu Mestre, pois Ele expressamente ordenou-lhes a ensinarem os Seus convertidos “a

guardar todas as coisas que eu tenho mandado [não o que mandarei!]” (Mateus 28:20).

Nem o sistema doutrinário de Paulo difere de algum modo daquele anunciado no Antigo

Testamento. No início da primeira epístola que leva seu nome, ele é específico em nos

informar que o Evangelho, para o que Deus lhe tinha separado, não era outro senão o único

“o qual antes prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras” (Romanos 1:1-2), e

quando ele afirmou que a justiça de Deus foi revelada agora, sem lei, ele teve o cuidado de

acrescentar: “tendo o testemunho da lei e dos profetas” (3:21). Quando ele vindicou a sua

doutrina sobre a justificação pela fé sem as obras da lei, ele fez isso apelando para o caso

de Abraão e o testemunho de Davi (Romanos 4). Quando ele advertiu os Coríntios contra

se acomodarem com uma falsa sensação de segurança por causa dos dons espirituais que

haviam sido concedidos a eles, ele lembrou-lhes os israelitas que tinham sido altamente

favorecidos por Deus, ainda assim isso não os guardou de Seu desagrado quando peca-

ram, ainda que “beberam todos de uma mesma bebida espiritual” (1 Coríntios 10:1-5). E

quando ilustrando importante verdade prática, ele cita a história dos dois filhos de Abraão

(Gálatas 4:22-31).

Em muitos aspectos, o Novo Testamento é uma continuação e um complemento para

o Antigo. A diferença entre a Antiga e Nova Alianças mencionadas em Hebreus é relativa e

não absoluta. O contraste não é realmente entre dois opostos, mas sim entre uma gradação

do mais baixo para o plano mais elevado; um preparando o outro. Embora alguns tenham

errado muito em judaizar o Cristianismo, outros têm entretido uma concepção muito carnal

do judaísmo, deixando de perceber os elementos espirituais nele, e que sob ele Deus tão

verdadeiramente administrou as bênçãos do Pacto Eterno para aqueles que Ele tinha

escolhido em Cristo assim como Ele o faz agora, sim, que Ele fez isso de Abel em diante.

Justamente, então, Calvino repreendeu a loucura dos nossos Dispensacionalistas moder-

nos — quando reprovando aqueles de seus precursores que apareceram em seus dias —

ao dizer: “Agora, o que seria mais absurdo do que Abraão ser o pai de todos os fiéis, e

ainda assim não possuir sequer o lugar mais baixo entre eles? Antes ele não pode ser

excluído do número, nem mesmo da posição mais nobre, sem a destruição da Igreja”.

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

6

Quando Cristo ou um dos Seus apóstolos falaram, em quase todos os pontos vitais

eles fundamentaram o seu argumento apelando às Escrituras do Antigo Testamento, a

partir do qual são encontrados textos-prova em quase todas as páginas do Novo. Inúmeros

exemplos podem ser apresentados para mostrar que ambas as ideias e a linguagem do

Antigo deram a sua impressão no Novo Testamento; mais de seis centenas de expressões

de um são repetidas no outro. Cada cláusula do “Magnificat” (Lucas 1:46-55) e até mesmo

da Oração da Família (Mateus 6:9-13) é extraída do Antigo Testamento. Por conseguinte,

cabe ao estudante dar igual atenção as duas principais as divisões da Bíblia, não somente

para familiarizar-se completamente com a última, mas esforçando-se para beber

profundamente do espírito da primeira, a fim de capacitar-se para compreender o Novo

Testamento. A menos que ele faça isso, será impossível para ele apreender o corretamente

o verdadeiro significado tanto dos Evangelhos quantos das Epístolas. Não basta somente

ter um conhecimento dos tipos para compreender os antítipos, pois o que significaria que

“Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós”, a um ignorante de Êxodo 12 (1 Coríntios

5:7); e quanto de Hebreus 9 e 10 é inteligível à parte de Levítico 16? Porém, muitas palavras

importantes do Novo Testamento podem ser corretamente definidas apenas referindo-se à

sua utilização no Antigo Testamento, como “primogênito, resgate, propiciação”, etc.

Que deve haver uma harmonia fundamental entre o Judaísmo e o Cristianismo fica

evidente pelo fato de que o mesmo Deus é o autor de ambos, e é imutável em Suas

perfeições e nos princípios de Seu governo. O primeiro foi de fato dirigido mais ao homem

exterior, foi transacionado sob formas e relações visíveis, e dizia respeito principalmente a

um santuário e herança terrena; no entanto, todos eles foram uma “sombra das coisas

celestiais” (Hebreus 8:5, 10:1). “No Novo Testamento, temos uma maior, porém muito

intimamente relacionada exposição da verdade e do dever do que no Antigo, que envolve

tanto as similaridades quando as diferenças dos dois pactos. As similaridades são mais

profundas e relacionam-se aos elementos mais essenciais das duas economias; as

diferenças são de natureza mais circunstancial e formal” (Patrick Fairbairn). Pessoalmente,

gostaria de dizer que as principais variações aparecem quando observamos que em um,

nós temos a promessa e a previsão, no outro, a realização e o cumprimento; no primeiro

temos os tipos e sombras (a “lâmina”), depois a realidade e substância ou o “grão cheio na

espiga”. A dispensação Cristã supera a Mosaica por sua mais completa e mais clara

manifestação das perfeições de Deus (1 João 2:8), em um derramamento mais abundante

do Espírito (João 7:39; Atos 2:3), em seu mais amplo alcance (Mateus 28:19-20), e em

maior medida de liberdade (Romanos 8:15; Gálatas 4:2-7).

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

7

2. O segundo princípio que o expositor deve estudar muito cuidadosamente é o da

citação bíblica. É de não pequena ajuda afirmar que as leis da correta interpretação podem

ser obtidas a partir da observação diligência da maneira como e o propósito para o qual o

Antigo Testamento é citado no Novo. Deve haver pouca margem para dúvidas de que o

registro que o Espírito Santo forneceu a respeito da maneira que o nosso Senhor e os Seus

apóstolos entenderam e aplicaram do Antigo Testamento foi grandemente designada para

lançar luz acerca de como, geralmente, o Antigo Testamento deve ser usado por nós, bem

como fornecer instruções sobre os pontos específicos por meio daquelas passagens na Lei

ou nos profetas que eram mais imediatamente citadas. Ao examinar atentamente as

palavras mencionadas e o sentido dado a elas no Novo Testamento, não somente seremos

libertos de um literalismo servil, mas também seremos melhor habilitados para perceber a

plenitude da Palavra de Deus e a aplicação variada que pode ser legitimamente feita dela.

Um campo amplo, mas geralmente negligenciado, está aberto para a exploração, mas em

vez de nos esforçarmos aqui para fazer um exame profundo do mesmo, vamos simples-

mente fornecer algumas ilustrações.

Em Mateus 8:16, somos informados de que em certa ocasião Cristo “curou todos os

que estavam enfermos”, e, em seguida, sob a orientação do Espírito Santo, o evangelista

adicionou: “para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías [a saber, em 53:4],

dizendo: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e levou as nossas enfermidades”.

Este uso daquela predição messiânica é muito esclarecedor, sugerindo que ela tinha um

significado mais amplo do que fazer expiação pelos pecados de Seu povo; ou seja, durante

os dias de Seu ministério público, Cristo compadeceu-se da condição dos doentes, e tomou

sobre Seu espírito os sofrimentos e as dores daqueles a quem Ele ministrou, de modo que

os Seus milagres de cura exigiram muito de Sua compaixão e resistência. Ele foi pessoal-

mente atingido pelas aflições deles. Cristo começou a Sua obra mediadora de remover o

mal que o pecado tinha trazido ao mundo por curar aquelas doenças corporais, as quais

eram os frutos do pecado, e assim fazendo, prefigurou a maior obra que Ele realizaria na

cruz. A conexão entre o um e o outro foi mais claramente indicada quando Ele respecti-

vamente disse ao paralítico: “Os teus pecados estão perdoados” e “levanta-te, toma o teu

leito e vai para tua casa” (Mateus 9:2,6).

Considere a seguir, como Cristo usou o Antigo Testamento para refutar os matéria-

listas dos seus dias. Os saduceus sustentavam a noção de que a alma e o corpo estão tão

estreitamente unidos que se um morrer o outro morrerá também (Atos 23:8). Eles viam o

corpo morrer, e daí concluíram que a alma também morria. Muito notável, na verdade, é ver

a sabedoria encarnada arrazoando com eles em seu próprio terreno. Isso Ele fez citando

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

8

Êxodo 3, em que o SENHOR disse a Moisés: “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque

e o Deus de Jacó”. Mas em que essas palavras correspondem à questão? O que havia

nelas que expôs o erro dos saduceus? Nada explicitamente, mas muito implicitamente. A

partir delas, Cristo chegou à conclusão de que “Deus não é o Deus dos mortos, mas dos

vivos” (Mateus 22:32). Não é que Ele foi o Deus deles, mas que Ele permanecia sendo

assim: “Eu sou o Deus deles”, portanto eles permanecem vivos. Havendo sido provado que

os seus espíritos e almas ainda viviam, seus corpos seriam ressuscitados no momento

oportuno, pois, por ser o “Deus” deles, isso garantia que Ele seria para eles e por eles tudo

o que essa relação implica, e não deixaria parte de sua natureza ser detida pela corrupção.

É nisso que Cristo estabeleceu o importante princípio da interpretação de que podemos

tirar alguma inferência clara e necessária a partir de uma passagem, desde que não ela

não se oponha a qualquer declaração definitiva das Sagradas Escrituras.

Em Romanos 4:11-18, temos um exemplo notável de raciocínio apostólico de duas

curtas passagens de Gênesis, onde Deus fez a promessa a Abraão que ele seria o pai de

muitas nações (17:5) e que, em sua descendência seriam benditas todas as nações da

Terra (22:18). Uma vez que essas garantias foram dadas ao patriarca simplesmente como

um crente, antes da nomeação divina da circuncisão, Paulo fez a conclusão lógica de que

elas pertenciam a judeus e gentios igualmente, desde que cressem como Abraão e, assim,

teriam imputada a eles a justiça de Cristo, de modo que o bem dessas promessas pertencia

a todos os que “andam nas pisadas da sua fé”. É aí que somos claramente ensinados que

a “semente” da bênção mencionada nessas antigas profecias era essencialmente de

natureza espiritual (cf. Gálatas 3:7-9, 14:29), incluindo todos os membros da família da fé,

onde quer que sejam encontrados. Como Stifler pertinentemente observou: “Abraão é

chamado o pai não em um sentido físico, nem em sentido espiritual: ele é pai por ser o

chefe do clã da fé, e assim o modelo da mesma”. Em Romanos 9:6-13, o apóstolo foi

igualmente expresso em excluir dos benefícios dessas promessas os descendentes

meramente naturais de Abraão.

Romanos 10:5-9, fornece uma ilustração impressionante deste princípio na maneira

em que o apóstolo “abriu” Deuteronômio 30:11-14. Seu propósito era retirar dos judeus a

noção de obediência à lei como necessária para a justificação (Romanos 10:2-3). Ele fez

isso através de argumentar a partir dos escritos de Moisés, e, então, estabeleceu uma

distinção entre a justiça da Lei e a justiça da fé. Os judeus haviam rejeitado a Cristo porque

Ele não veio até eles de uma forma que atendesse as suas expectativas carnais, e,

portanto, eles recusaram a graça oferecida por Ele. Eles consideravam que o Messias

estava longe, quando na verdade Ele estava “perto” deles. Não havia necessidade, então,

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

9

que eles subissem ao Céu, pois Cristo tinha descido dali; nem descessem ao abismo, pois

Ele havia ressuscitado dos mortos. O apóstolo não estava apenas acomodando o seu

propósito à linguagem de Deuteronômio 30, mas mostrando o seu significado Evangélico.

Como disse Thomas Manton: “Todo esse capítulo é um sermão sobre arrependimento

evangélico” (veja vv. 1-2). Obviamente, a passagem em questão apontava para um

momento após a ascensão de Cristo, quando Israel seria disperso entre as nações, de

modo que as palavras de Moisés não eram estritamente aplicáveis a essa dispensação do

Evangelho. A substância dos versos 11 a 14 é que o conhecimento da vontade de Deus é

livremente acessível, de modo que ninguém é obrigado a fazer o impossível para obtê-lo.

Em Romanos 10:18, é dado mais do que uma indicação das profundezas insondáveis

da Palavra de Deus e da grande amplitude de sua aplicação. “Quem creu na nossa

pregação? [Do Evangelho, pois eles não o obedeceram, v. 16]. “Mas digo: Porventura não

ouviram? Sim, por certo, pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos

confins do mundo”, citado a partir do Salmo 19:4. O anúncio do Evangelho não era restrito

(Colossenses 1:5-6), mas era tão geral e livre quanto as declarações divinas desde os céus

(Salmos 19:1). “A revelação universal de Deus na natureza era uma predição providencial

da proclamação universal do Evangelho. Se a primeira não fosse gratuita, ainda que

baseada na natureza de Deus, assim seria a última. A manifestação de Deus na natureza

é para todas as Suas criaturas a quem é feita, em sinal de sua participação nas revelações

mais claras e mais elevadas” (Hengstenberg). Não somente a profecia do Antigo

Testamento anuncia que o Evangelho deve ser dado a todo o mundo, mas o céu

misticamente declarou a mesma coisa. Os céus não falam a apenas uma nação, mas a

toda a raça humana! Se os homens não creram não foi porque não ouviram. Outro exemplo

da significação mística de certas Escrituras é encontrado em 1 Coríntios 9:9-10.

Em Gálatas 4:24, a pena inspirada de Paulo nos informa que certos acontecimentos

domésticos na casa de Abraão “são uma alegoria”, de forma que Agar e Sara representa-

vam “os dois pactos”, e que seus filhos prefiguravam os adoradores que esses pactos eram

adequados para produzir. Assim, por meio dessa revelação divina por meio e através do

apóstolo, nós soubemos Deus havia escondido um mistério profético nesses fatos da

história; que essas ocorrências domésticas profeticamente prefiguravam transações de

importância vital para o futuro; e que elas ilustravam grandes verdades doutrinárias e

exemplificavam a diferença na conduta de homens espiritualmente escravos e homens

espiritualmente livres. Esse foi o caso, segundo o que nos mostrou o apóstolo, ao decla-

rarmos o sentido oculto desses eventos. Eles eram uma parábola em ação: Deus moldou

de tal forma as questões da família de Abraão a ponto de levar essas a tipificaram coisas

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

10

de grande magnitude. Os dois filhos foram ordenados a prenunciar aqueles que seriam

nascidos do alto e aqueles que nasceram da carne; que mesmo os descendentes naturais

de Abraão, eram apenas ismaelitas em espírito, mas estranhos à promessa. Embora o

exemplo de Paulo aqui certamente não abra nenhum precedente para o expositor dar livre

curso à sua imaginação e distorcer acontecimentos do Antigo Testamento levando-os a

ensinarem algo que lhe agrada; o apóstolo indica que Deus ordenou de tal modo as vidas

dos patriarcas tendo em vista conceder-nos lições de grande valor espiritual.

Acima, nós propositalmente selecionamos uma variedade de exemplos, e a partir

deles, o estudante aplicado (mas não o leitor apressado) descobrirá algumas valiosas indi-

cações e auxílios divinos sobre como as Escrituras devem ser entendidas, e os princípios

pelos quais elas devem ser interpretadas. Que os exemplos sejam relidos e cuidadosa-

mente ponderados.

3. É necessário ser diligentemente e constante ao cuidar para que estritamente confor-

memos todas as nossas interpretações à analogia da fé, ou como Romanos 12:6 expressa:

“profetizamos de acordo com a proporção da fé”. Charles Hodge — que por solidez doutri-

nária, erudição espiritual e capacidade crítica, é insuperável — afirma que o significado

original e próprio da palavra “profeta” é intérprete, aquele que declara a vontade de Deus,

que explica a Sua mente aos outros. Ele também diz que a palavra citada, “proporção”,

pode significar tanto proporção quanto medida, regra e padrão. Desde que a “fé” nesse

verso deve ser considerada objetivamente (pois, havia “profetas” como Balaão e Caifás que

estavam desprovidos de qualquer fé interior ou salvífica), então essa importante expressão

significa que o intérprete da mente de Deus deve ser mais específico e escrupuloso em

cuidar para que ele sempre o faça segundo o padrão revelado que Deus nos deu. Assim,

“fé” aqui é usada no mesmo sentido de passagens como “fé” em Gálatas 1:23; 1 Timóteo

4:1, etc.; ou seja — “uma só fé” de Efésios 4:5; “a fé que uma vez foi entregue aos santos”

(Judas 3) — a Palavra de Deus escrita.

A exposição feita de qualquer verso nas Sagradas Escrituras deve ser inteiramente

de acordo com a analogia da fé, ou, em outras palavras, aquele sistema da verdade que

Deus deu a conhecer ao Seu povo. Isso, é claro, exige um conhecimento abrangente do

conteúdo da Bíblia, esta é uma prova segura de que nenhum neófito é qualificado para

pregar ou tentar ensinar aos outros. Tal conhecimento abrangente só pode ser obtido por

uma leitura sistemática e constante da própria Palavra, e somente então qualquer homem

é capacitado para avaliar os escritos de outras pessoas! Visto que toda a Escritura é

inspirada por Deus, não há contradições na mesma; portanto, obviamente, segue-se que

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

11

qualquer explicação dada de uma passagem que se choca com o claro ensino de outros

versos é manifestamente errada. Para que qualquer interpretação seja válida, ela deve

estar em perfeita harmonia com o esquema total da Verdade divina. Uma parte da Verdade

é mutuamente relacionada e dependente das outras, e, portanto, há pleno acordo entre

elas. Como Bengel disse a respeito dos livros da Escritura: “Eles formam juntos um belo,

harmonioso e gloriosamente conectado sistema da Verdade”.

Sola Scriptura! Sola Gratia! Sola Fide!

Solus Christus! Soli Deo Gloria!

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

12

10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS Baixe estes e outros e-books gratuitamente no site oEstandarteDeCristo.com.

— Sola Scriptura • Sola Fide • Sola Gratia • Solus Christus • Soli Deo Gloria —

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

Facebook.com/ArthurWalkingtonPink

OEstandarteDeCristo.com

Issuu.com/oEstandarteDeCristo

13

2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.