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A LEI MARIA DA PENHA SEGUNDO A INTERPRETAÇÃO DO STJ1
ÍNDICE:
1- Ação Penal nos Crimes de Lesão Corporal Leve .............................................................................02
2- Suspensão Condicional do Processo...................................................................................................04
3- Audiência Prevista no Artigo 16.........................................................................................................10
4- Namorados e Ex Namorados..............................................................................................................14
5- Formalidades da Representação........................................................................................................24
6- Prisões Provisórias...............................................................................................................................26
7- Irretroatividade da Lei 11.340/2006...................................................................................................36
8- Conflito de Competência............................. .....................................................................................38
9- Autores e Vítimas de Violência Doméstica........................................................................................44
10- Medidas Protetivas............................................................................................................................46
11- Crimes Dolosos Contra a Vida.........................................................................................................47
1 Julgados compilados e organizados por Lindinalva Rodrigues Dalla Costa, Promotora de Justiça do MPMT, no mês de
Outubro de 2010.
2
1- Ação Penal nos Crimes de Lesão Corporal Leve
“EMENTA: PROCESSUAL PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. LESÃO CORPORAL LEVE.
NECESSIDADE DE REPRESENTAÇÃO. POSSIBILIDADE DE RETRATAÇÃO.
JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA. DESPROVIMENTO.1. Esta Corte tem o pacífico entendimento de
que o crime de lesão corporal leve cometido com violência doméstica contra a mulher tem a
representação como condição de procedibilidade. A regra (art. 41 da Lei 11.340/06) segundo a qual não
se aplicam as disposições da Lei de Juizados Especiais aos crimes como o investigado nestes autos
afasta apenas a incidência dos institutos despenalizantes desta lei, mas não exclui a exigibilidade de
representação ou a possibilidade de retratação. 2. Se o acórdão impugnado está em consonância com a
jurisprudência desta Corte sobre a questão federal discutida, inafastável a incidência da Súmula 83/STJ e
a inviabilidade do processamento do Apelo Raro.3. Agravo Regimental desprovido”.2
“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL LEVE. LEI MARIA DA
PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DA OFENDIDA.
APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.099/95. RESTRIÇÃO. INSTITUTOS DESPENALIZADORES. I - A
intenção do legislador ao afastar a aplicação da Lei n.º 9.099/95, por intermédio do art. 41 da Lei Maria
Penha, restringiu-se, tão somente, à aplicação de seus institutos específicos despenalizadores - acordo
civil, transação penal e suspensão condicional do processo. II - A ação penal, no crime de lesão
corporal leve, ainda que praticado contra a mulher, no âmbito doméstico e familiar, continua
sujeita à representação da ofendida, que poderá se retratar nos termos e condições estabelecidos
no art. 16 da Lei n.º 11.340/06 (Precedentes). III - O art. 16 da Lei n.º 11.340/06 autoriza ao magistrado
aferir, diante do caso concreto, acerca da real espontaneidade do ato de retratação da vítima, sendo que,
em se constatando razões outras a motivar o desinteresse da ofendida no prosseguimento da ação penal,
poderá desconsiderar sua manifestação de vontade, e, por conseguinte, determinar o prosseguimento da
ação penal, desde que, demonstrado, nos autos, que agiu privada de sua liberdade de escolha, por
ingerência ou coação do agressor. Ordem concedida”. 3
“EMENTA:AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. LESÃO CORPORAL
LEVE. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA. RETRATAÇÃO DA REPRESENTAÇÃO EM JUÍZO. MOMENTO ANTERIOR AO RECEBIMENTO
DA DENÚNCIA. INICIAL ACUSATÓRIA REJEITADA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A Terceira
Seção desta Corte firmou entendimento no sentido da necessidade de representação da vítima no crime
2 Acórdão. Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de
Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao Agravo
Regimental.Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Felix
Fischer e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília/DF, 19 de agosto de 2010 (Data do Julgamento).
AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL; AGRAVADO: PAULO IBANOR SCHUMANN.
3 REsp. 1.051.314/DF, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 14.12.09
3
de lesão corporal leve, praticado no âmbito doméstico, uma vez que a ação penal, nesse caso, possuiria
natureza pública condicionada. 2. Hipótese em que, diante do Magistrado Singular e antes do
recebimento da denúncia, a Vítima retratou da representação oferecida perante a autoridade policial.3.
Na ausência de argumento relevante que infirme as razões consideradas no julgado ora agravado, deve
ser mantida a decisão por seus próprios fundamentos. 4. Agravo regimental desprovido.4
“A Seção, ao julgar recurso sob o regime do art. 543-C do CPC c/c a Res. n. 8/2008-STJ, firmou, por
maioria, o entendimento de que, para propositura da ação penal pelo Ministério Público, é
necessária a representação da vítima de violência doméstica nos casos de lesões corporais leves
(Lei n. 11.340/2006 – Lei Maria da Penha), pois se cuida de uma ação pública condicionada.
Observou-se, que entender a ação como incondicionada resultaria subtrair da mulher ofendida o direito e
o anseio de livremente se relacionar com quem quer que seja escolhido como parceiro, o que significaria
negar-lhe o direito à liberdade de se relacionar, direito de que é titular, para tratá-la como se fosse
submetida à vontade dos agentes do Estado. Argumentou-se, citando a doutrina, que não há como
prosseguir uma ação penal depois de o juiz ter obtido a reconciliação do casal ou ter homologado a
separação com a definição de alimentos, partilha de bens, guarda e visitas. Assim, a possibilidade de
trancamento de inquérito policial em muito facilitaria a composição dos conflitos envolvendo as
questões de Direito de Família, mais relevantes do que a imposição de pena criminal ao agressor. Para
os votos vencidos, a Lei n. 11.340/2006 afastou expressamente, no art. 41, a incidência da Lei n.
9.099/1995 nos casos de crimes de violência doméstica e familiares praticados contra a mulher. Com
respaldo no art. 100 do CP, entendiam ser de ação pública incondicionada o referido crime sujeito à Lei
Maria da Penha. Entendiam, também, que a citada lei pretendeu punir com maior rigor a violência
doméstica, criando uma qualificadora ao crime de lesão corporal (art. 129, § 9º, do CP). Nesse contexto,
defendiam não se poder exigir representação como condição da ação penal e deixar ao encargo da vítima
a deflagração da persecução penal”.5
EMENTA: “AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
LESÕES CORPORAIS LEVES. REPRESENTAÇÃO. RETRATAÇÃO DA VÍTIMA. LEI
MARIA DA PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA. EXTINÇÃO DA
PUNIBILIDADE. 1. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do recurso
repetitivo no REsp nº 1.097.042/DF, ocorrido em 24 de fevereiro do corrente ano, firmou a compreensão
de que, para propositura da ação penal pelo Ministério Público, é necessária a representação da vítima de
violência doméstica nos casos de lesões corporais leves, pois se cuida de uma ação pública
condicionada. 2. Agravo regimental a que se nega provimento”.6
4 QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por
unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Felix
Fischer votaram com a Sra. Ministra Relatora. LAURITA VAZ Brasília (DF), 05 de agosto de 2010 (Data do Julgamento)
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.111.032 - SC (2009/0008828-5)
5 REsp 1.097.042-DF, Rel. originário Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. para acórdão Min. Jorge Mussi, julgado em
24/2/2010.
6 Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. A Sra. Ministra
Maria Thereza de Assis Moura e os Srs. Ministros Og Fernandes e Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP).
Brasília (DF), 03 de agosto de 2010 (data do julgamento).
4
2- Suspensão Condicional do Processo
“EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL LEVE. LEI MARIA
DA PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DA OFENDIDA.
APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.099/95. RESTRIÇÃO. INSTITUTOS DESPENALIZADORES. I - A
intenção do legislador ao afastar a aplicação da Lei n.º 9.099/95, por intermédio do art. 41 da Lei
Maria Penha, restringiu-se, tão somente, à aplicação de seus institutos específicos
despenalizadores - acordo civil, transação penal e suspensão condicional do processo. II - A ação
penal, no crime de lesão corporal leve, ainda que praticado contra a mulher, no âmbito doméstico e
familiar, continua sujeita à representação da ofendida, que poderá se retratar nos termos e condições
estabelecidos no art. 16 da Lei n.º 11.340/06 (Precedentes). III - O art. 16 da Lei n.º 11.340/06 autoriza
ao magistrado aferir, diante do caso concreto, acerca da real espontaneidade do ato de retratação da
vítima, sendo que, em se constatando razões outras a motivar o desinteresse da ofendida no
prosseguimento da ação penal, poderá desconsiderar sua manifestação de vontade, e, por conseguinte,
determinar o prosseguimento da ação penal, desde que, demonstrado, nos autos, que agiu privada de sua
liberdade de escolha, por ingerência ou coação do agressor. Ordem concedida”. 7
"HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. LESÃO CORPORAL LEVE PRATICADA COM
VIOLÊNCIA FAMILIAR CONTRA A MULHER. INAPLICABILIDADE DA LEI 9.099/95 E,
COM ISSO, DE SEU ART. 89, QUE DISPÕE SOBRE A SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO. PARECER MINISTERIAL PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA. 1.
O art. 41 da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) afastou a incidência da Lei 9.099/95 quanto aos
crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
pena prevista, o que acarreta a impossibilidade de aplicação dos institutos despenalizadores nela
previstos, como a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95). 2. Ademais, a
suspensão condicional do processo, no caso, resta obstada pela superveniência da sentença penal
condenatória. Precedentes do STF.3. Parecer ministerial pela denegação do writ. 4. Ordem denegada.8 "
"HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE.
ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO. TESE DE FALTA DE CONDIÇÃO DE
PROCEDIBILIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. INEQUÍVOCA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DA
VÍTIMA. OFERECIMENTO DE NOTITIA CRIMINIS PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL.
VALIDADE COMO EXERCÍCIO DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO. INEXIGIBILIDADE DE
RIGORES FORMAIS. PRECEDENTES. PLEITO DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DO SURSIS
PROCESSUAL. IMPOSSIBILIDADE. NÃO-INCIDÊNCIA DA LEI N.º9.099/95.1. A
7 REsp. 1.051.314/DF, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 14.12.09
8 HC 142.017/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJ de 01/02/2010.
5
representação, condição de procedibilidade exigida nos crimes de ação penal pública condicionada,
prescinde de rigores formais, bastando a inequívoca manifestação de vontade da vítima ou de seu
representante legal no sentido de que se promova a responsabilidade penal do agente, como evidenciado,
in casu, com a notitia criminis levada à autoridade policial, materializada no boletim de ocorrência. 2.
Por força do disposto no art. 41 da Lei n.º 11.340/06, resta inaplicável, em toda sua extensão, a Lei
n.º 9.099/95.3. Ordem denegada.”9
EMENTA: HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL LEVE. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. INAPLICABILIDADE DA LEI N.º 9.099/95.
ORDEM DENEGADA. 1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça foi firmada no sentido da
inaplicabilidade da Lei n.º 9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica ou familiar, em
razão do disposto no art. 41 da Lei n.º 11.340/2006. 2. Ordem denegada. RELATÓRIO: Trata-se de
habeas corpus , com pedido liminar, impetrado em favor de MÁRCIO BORGES SAAD, denunciado
pela suposta prática do delito previsto no art. 129, § 9º, do Código Penal, em face de acórdão do
Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul,assim ementado:"EMENTA - APELAÇÃO
CRIMINAL - LESÃO CORPORAL - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - PEDIDO DE SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO - INAPLICABILIDADE DA LEI DOS JUIZADOS JÁ
RECONHECIDA PELO PLENÁRIO DESSA CORTE - VINCULAÇÃO DO ÓRGÃO
FRACIONÁRIO A ESSA DECISÃO - IMPROVIDO.A existência de julgamento anterior, em que o
Órgão Especial desta Corte considerou constitucional todos os dispositivos da Lei n. 11.340/06 (Lei
Maria da Penha), sobretudo aqueles que impossibilitam a aplicação dos institutos da Lei n. 9.099/95,
torna inócua a discussão sobre a aplicação dessas benesses, conforme art. 481, parágrafo único, CPC.
Alega o Impetrante, em suma, ser cabível a proposta de suspensão condicional do processo, nos termos
da Lei n.º 9.099/95, ao denunciado pela prática de lesão corporal leve, no âmbito doméstico. Pede seja
reconhecido ao Paciente o direito à suspensão condicional do processo...O Ministério Público Federal
opina pela denegação da ordem .VOTO10
: A ordem não comporta concessão. Com efeito, a
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça foi firmada no sentido da inaplicabilidade da Lei
n.º 9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica ou familiar,em razão do disposto no
art. 41 da Lei n.º 11.340/2006...Ante o exposto, DENEGO a ordem.”11
EMENTA : PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS . VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. CRIME DE
AMEAÇA PRATICADA CONTRA MULHER NO ÂMBITO DOMÉSTICO. PROTEÇÃO DA
FAMÍLIA. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. MEDIDA DESPENALIZADORA.
PROIBIÇÃO DE APLICAÇÃO DA LEI 9.099/1995. ORDEM DENEGADA. 1. A família é a base da
sociedade e tem a especial proteção do Estado; a assistência à família será feita na pessoa de cada um
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. (Inteligência
9 HC 130.000/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ, DJ de 08/09/2009
10SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA)
11 Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da HABEAS CORPUS Nº 164.481 - MS (2010/0040440-
7). QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por
unanimidade, denegar a ordem. Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a
Sra. Ministra Relatora LAURITA VAZ. Brasília (DF), 03 de agosto de 2010 (Data do Julgamento)
6
do artigo 226 da Constituição da República). 2. As famílias que se erigem em meio à violência não
possuem condições de ser base de apoio e desenvolvimento para os seus membros, os filhos daí
advindos dificilmente terão condições de conviver sadiamente em sociedade, daí a preocupação do
Estado em proteger especialmente essa instituição, criando mecanismos, como a Lei Maria da Penha,
para tal desiderato. 3. Não se aplica aos crimes praticados contra a mulher, no âmbito doméstico e
familiar, a Lei 9.099/1995. (Artigo 41 da Lei 11.340/2006). 4. A suspensão condicional do processo
é medida de caráter despenalizador criado pela Lei 9.099/1995 e vai de encontro aos escopos
criados pela Lei Maria da Penha para a proteção do gênero feminino. 5. Ordem denegada. Analisei
atentamente as razões da impetração, as informações prestadas, a documentação acostada, o parecer do
Ministério Público Federal e entendo que a ordem deve ser denegada pelos motivos que passo a expor:
Consta dos autos que o paciente ameaçou sua ex-esposa de morte fazendo uso de uma faca,
quando já não coabitavam por um ano. O Ministério Público ofertou denúncia por crime de
ameaça sem oferecer a suspensão condicional do processo ao paciente. O Juízo de Direito enviou o
feito à Procuradoria de Justiça, por analogia ao artigo 28 do Código de Processo Penal,
oportunidade em que o Procurador de Justiça entendeu pela impossibilidade de oferecimento da
suspensão condicional do processo em crimes praticados no âmbito doméstico contra a mulher,
remetendo os autos ao Juízo, que recebeu a denúncia. A Defesa, inconformada, impetrou habeas
corpus no Tribunal de Justiça do Espírito Santo, o qual denegou a ordem sob a seguinte ementa, f. 131:
HABEAS CORPUS – AMEAÇA – LEI MARIA DA PENHA – PRISÃO PROVISÓRIA – DELITO
PUNIDO COM DETENÇÃO – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA FAMILIAR CONTRA MULHER –
POSSIBILIDADE DA PRISÃO PROVISÓRIA – SUSPENSÃO CONDICONAL DO PROCESSO –
PROPOSITURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – OFERECIMENTO DO BENEFÍCIO DA
SUSPENSÃO CONDICONAL DO PROCESSO – VEDAÇAÕ EXPRESSA DO ART. 41 DA LEI
11.340/06 – CONSTITUCIONALIDADE – ISONOMIA – ORDEM DENEGADA. 1. Já está
pacificado nos Tribunais Superiores que a prisão provisória é admitida nos crimes punidos com
detenção, quando o delito em apuração envolver violência doméstica familiar contra a mulher,
como forma de garantir a execução das medidas protetivas de urgência. 2. A proposta de suspensão
condicional do processo é prerrogativa do Ministério Público, sendo vedado ao magistrado oferecê-la de
ofício. Por conter requisitos de natureza axiológica a suspensão condicional do processo não é
direito subjetivo do réu.3. A Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) através de seu art. 41 é cristalina
quanto à proibição de aplicação dos institutos previstos na Lei 9.099/95, dentre eles a almejada
suspensão condicional do processo, nos casos de crimes praticados com violência doméstica contra
a mulher, o qual ocorre no caso em tela.4. Distante de ofender preceitos constitucionais, tal
dispositivo de lei, ao contrário, realiza a confirmação dos princípios da igualdade e da
proporcionalidade, ao passo que confere tratamento diferenciado a indivíduos que se encontram em
situação de desigualdade. ..Não disse a novel legislação que não se aplicam aos crimes praticados
com violência doméstica apenas alguns mecanismos despenalizadores da lei dos juizados. Acaso o
quisesse,o legislador assim teria procedido. Não. Na “Lei Maria da Penha” resta claro que a Lei
9.099/1995 não se aplica por inteiro, isso porque, o escopo de uma e de outra legislação são
totalmente opostos. Enquanto a Lei dos Juizados procura evitar o início do processo penal, que
poderá culminar com a imposição de uma sanção ao agente do crime, a “Lei Maria da Penha”
procura punir com maior rigor o agressor que age às escondidas nos lares, pondo em risco a saúde
de sua própria família.Assim entendo porque a família é a instituição mais importante do Estado, é ela
que lhe dá base e sustentáculo. Uma família desestruturada conduz, fatalmente, a um Estado
desarticulado e frágil, tornando-o incapaz de resguardar a esfera pública e de assegurar aos indivíduos
7
seus direitos constitucionalizados. A Constituição da República em seu artigo 226 estabelece que a
família é a base da sociedade e tem a especial proteção do Estado; o parágrafo 8º desse dispositivo
assegura que a assistência à família será feita na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. Também não descuida a Constituição,
artigo 227, de atribuir à família, à sociedade e ao Estado a responsabilidade pelas crianças e
adolescentes, com absoluta prioridade, assegurando-lhes: o direito á vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los à salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência,crueldade e opressão. Por tais razões, não se pode cogitar de um mecanismo
despenalizador como asuspensão condicional do processo quando a prática delitiva atinge a
mulher, em casos de violência doméstica, familiar ou íntima. O interesse maior é da sociedade; é a
proteção de mulheres que ficam subjugadas pelo “poder” econômico do parceiro, de idosas e,
sobretudo, das menores que, via de regra, são vítimas, ainda que de violência mental, desse tipo de
situação. Por tal razão, praticado o ilícito, o procedimento penal deve ter início, deixando de lado
mecanismos despenalizadores utilizados no passado que se mostraram inócuos em casos de
violência doméstica, servindo apenas para estimular o agressor que atua no lar. Têm esse
posicionamento os seguintes juristas: Crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher não são de menor potencial ofensivo, pouco importando o quantum da pena, motivo pelo
qual não se submetem ao disposto na Lei 9.099/95, afastando, inclusive, o benefício da suspensão
condicional do processo, previsto no art. 89 da referida Lei do JECRIM. Embora severa, a disposição
do art. 41, em comento, é constitucional. (NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais
penais comentadas . 3.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 1147). Não se aplicam, portanto, os
institutos despenalizadores da Lei nº 9.099/95 em caso de violência doméstica e familiar contra a
mulher. Deste modo, em se configurando a violência doméstica e familiar contra a mulher,
qualquer que seja o crime e sua pena, não cabe transação penal nem suspensão condicional do
processo nem composição civil dos danos extintiva de punibilidade, não se lavra termo
circunstanciado (em caso de prisão em flagrante, deve ser lavrado auto de prisão em flagrante e, se for o
caso, arbitrada fiança), deve ser instaurado inquérito policial (com a medida paralela prevista no art. 12,
III, e §§ 1º e 2º da Lei nº 11.340/06), a denúncia deverá vir por escrito, o procedimento será o previsto
no Código de Processo Penal. (BASTOS, Marcelo Lessa. Artigo publicado no sítio eletrônico
www.jusnavigandi.com.br). (Grifamos). ...Dessa forma, entendo que em nome da proteção à família,
preconizada como essencial pela Constituição da República e, frente ao dispositivo da Lei 11.340/2006
que afasta expressamente a Lei 9.099/1995, os institutos despenalizadores e as medidas mais benéficas
dessa última, não se aplicam à violência doméstica. A doutrina tem criticado a ingerência legislativa
indevida de alguns ao criarem meios de burlar o dispositivo expresso da Lei Maria da Penha,
artigo 41, para que os benefícios da Lei 9.00/1995 continuem a ser aplicados em casos de violência
doméstica praticada contra a mulher ...No sentido de ser indevida a suspensão condicional do
processo para crimes praticados com violência doméstica contra o gênero feminino, já se manifestou,
por unanimidade, a 5ª Turma desse Superior Tribunal de Justiça no julgamento do HC 84831/RJ sob a
relatoria do Ministro Felix Fischer:...EMENTA. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS
SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. ART. 129, § 9º, DO CÓDIGO PENAL. VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. LEI MARIA DA PENHA. LEI Nº 9.099/95.
INAPLICABILIDADE. A Lei nº 11.340/06 é clara quanto a não-aplicabilidade dos institutos da Lei dos
Juizados Especiais aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. Ordem
denegada...a intenção do legislador foi afastar dos casos de violência doméstica contra a mulher as
8
medidas despenalizadoras da Lei dos Juizados Especiais Criminais, como a transação penal e a
suspensão condicional do processo.Sobre o assunto preleciona Pedro Rui da Fontoura Porto: "Desde a
entrada em vigor da Lei 9.099/95, que, mormente no relativo ao regramento dos Juizados Especiais
Criminais, estabeleceu os princípios norteadores da informalidade, celeridade, oralidade e economia
processual (art. 62 da Lei 9.99/95), sempre houve uma preocupação do movimento feminista acerca de,
até que ponto, a nova tendência para um direito penal conciliador e mais flexível, baseado na vontade do
ofendido, não colocava em risco as fragilizadas vítimas da violência doméstica. Com efeito, embora não
crie novos tipos penais, a Lei 11.340/06 certamente opera como complemento de tipos penais
precedentes,sendo conveniente uma reflexão acerca dos limites desta influência, isto porque, ao se
configurar qualquer crime como praticado em situação de violência doméstica ou familiar contra a
mulher nos termos da lei em questão, uma conseqüência importante se sobressai: a regra do art. 41 que
determina a não aplicação da Lei 9.099/95."("Violência doméstica e familiar contra a mulher, Lei
11.340/06 -análise crítica e sistêmica", 2007, Livraria do Advogado Editora, págs. 38/39). Transcrevo
parte do parecer da douta Subprocuradoria-Geral da República, que elucida bem a questão discutida nos
autos: "A Constituição Federal prevê, em seu art. 98, a criação de Juizados Especiais Criminais
competentes para o julgamento de infrações penais de menor potencial ofensivo, deferindo à norma
infraconstitucional a definição dessas infrações. A Lei n.° 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados
Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da justiça comum estadual e distrital, considera, em seu art. 61,
alterado pela Lei n.° 11.313/2006, infrações de menor potencial ofensivo os crimes e as contravenções
penais com pena máxima inferior a 2 (dois) anos.Com o advento da Lei n.° 11.340/2006, que cria
mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, foram alteradas
algumas disposições do Código Penal, havendo agravamento de algumas de suas penas. O legislador
procurou tratar de forma mais severa aquele que pratica infrações no âmbito familiar, em
especial contra a mulher, justamente pelo fato de os institutos despenalizadores previstos na Lei n.°
9.099/95 não terem se mostrado eficazes o suficiente no combate aos crimes desta natureza. Desde
então, a lesão corporal praticada no âmbito doméstico, crime atribuído ao paciente na denúncia, passou a
ter pena máxima de 3 (três) anos. Portanto, o quantum máximo da pena em abstrato previsto para o
delito em questão já é suficientemente alto para afastá-lo do âmbito das infrações penais de menor
potencial ofensivo.Não bastasse isso, a chamada Lei Maria da Penha, em seu art. 41,vedou, de
forma expressa, a incidência da Lei n.° 9.099/95, independentemente da pena cominada. Logo, por
essas razões, não devem ser empregados os institutos despenalizadores previstos na Lei dos
Juizados Especiais ao presente caso.É incabível, ainda, a concessão da suspensão condicional do
processo nos termos do art. 89 da Lei n.° 9.099/95, pelo motivo acima já exposto, qual seja,
inaplicabilidade dos institutos previstos na Lei n.° 9.099/95 aos crimes praticados com violência
doméstica e familiar contra a mulher....Ante o exposto, denego a ordem.12
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. LESÃO CORPORAL LEVE PRATICADA
COM VIOLÊNCIA FAMILIAR CONTRA A MULHER. INAPLICABILIDADE DA LEI
9.099/95 E, COM ISSO, DE SEU ART. 89, QUE DISPÕE SOBRE A SUSPENSÃO
CONDICIONAL DO PROCESSO. PARECER MINISTERIAL PELA DENEGAÇÃO DO WRIT.
ORDEM DENEGADA. 1. Trata-se de Habeas Corpus em que se discute a possibilidade de aplicação do
instituto da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95) ao paciente, condenado pela
12
Superior Tribunal de Justiça. SEXTA TURMA . Número Registro: 2008/0139036-5 HC 109547 / ES. JULGADO:
10/11/2009 Relatora Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG)
9
prática do crime previsto no art. 129, § 9o. do CPB (lesão corporal leve praticada no âmbito familiar). 2.
Em que pese a argumentação trazida no presente writ, o entendimento que prevalece é no sentido da
inaplicabilidade da Lei 9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher. 3. Com efeito, o art. 41 da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) afastou a incidência da Lei
9.099/95 quanto aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, o que acarreta a impossibilidade de aplicação dos institutos
despenalizadores nela previstos, como a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei
9.099/95). Nesse sentido: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE
RECURSO ORDINÁRIO. ART. 129, § 9º, DO CÓDIGO PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
CONTRA A MULHER. LEI MARIA DA PENHA. LEI 9.099/95.INAPLICABILIDADE.A Lei
11.340/06 é clara quanto a não-aplicabilidade dos institutos da Lei dos Juizados Especiais aos
crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. Ordem denegada (HC
84.831/RJ, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJe 05.05.08). 13
EMENTA. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO
ORDINÁRIO. ART. 129, § 9º, DO CÓDIGO PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A
MULHER. LEI MARIA DA PENHA. LEI Nº 9.099/95. INAPLICABILIDADE. A Lei nº 11.340/06
é clara quanto a não-aplicabilidade dos institutos da Lei dos Juizados Especiais aos crimes
praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher. Ordem denegada. A douta
Subprocuradoria-Geral da República, às fls. 56/59, manifestou-se pela denegação da ordem, em
parecer assim ementado:"HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
LEI MARIA DA PENHA. PENA MÁXIMA DE 3 ANOS. EXCLUSÃO DA ESFERA DE
INFRAÇÕES DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO. INCIDÊNCIA DA LEI N.° 9.099/95
AFASTADA POR FORÇA DO ART. 41 DA LEI N.° 11.340/06. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO
PROCESSO. INJUSTIFICÁVEL. INEXISTÊNCIA DE INCONSTITUCIONALIDADE NA
VEDAÇÃO. RESERVA LEGAL SOBRE A DEFINIÇÃO DAS INFRAÇÕES DE MENOR
POTENCIAL OFENSIVO. ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL EM VIRTUDE DE
SUPRESSÃO DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA. DENEGAÇÃO DA
ORDEM. 1. A Lei n.°11.340/06 - Lei Maria da Penha - alterou a redação do art. 129, § 9.° do CP -
lesão corporal com violência doméstica – elevando a pena máxima para 3 anos. O delito não se insere,
por isso, no âmbito das infrações de menor potencial ofensivo, que têm pena máxima de 2 anos. 2. A Lei
Maria da Penha, em seu art. 41, vedou, de forma expressa, a incidência da Lei n.° 9.099/95 nos casos
de violência contra a mulher. Não há falar, por conseqüência, em suspensão condicional do processo
neste caso. 3. Não há inconstitucionalidade na vedação, pois a Lei n.° 11.340/06, ao optar por afastar a
aplicação da Lei n.° 9.099/95, dispõe que tais infrações não podem ser consideradas como de menor
potencial ofensivo, o que atende ao disposto no art. 98 da Carta da República. 4. A Lei dos Juizados
Especiais, em seu art. 88, passou a estabelecer que a ação penal, nos casos de infração de lesão
corporal leve, inicia-se por representação. Entretanto, com o afastamento da aplicação da Lei n.°
9.099/95, nos casos de lesão corporal, com violência doméstica, a ação penal passa a ser pública
incondicionada, consoante disposto no próprio Código Penal. 5. Parecer por que seja denegada a
ordem" (fl. 56). É o relatório(...) a chamada Lei Maria da Penha, em seu art. 41,³ vedou, de forma
13 Superior Tribunal de Justiça. HABEAS CORPUS Nº 142.017 - MG (2009/0137397-6).RELATOR : MINISTRO
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. JULGADO EM: 19/11/2009
10
expressa, a incidência da Lei n.° 9.099/95, independentemente da pena cominada. Logo, por essas
razões, não devem ser empregados os institutos despenalizadores previstos na Lei dos Juizados
Especiais ao presente caso. É incabível, ainda, a concessão da suspensão condicional do processo nos
termos do art. 89 da Lei n.° 9.099/95, pelo motivo acima já exposto, qual seja, inaplicabilidade dos
institutos previstos na Lei n.° 9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher. Tampouco há falar em inconstitucionalidade do art. 41 da Lei n.° 11.340/06, haja
vista o fato de que a Constituição deferiu ao legislador ordinário definir as infrações de menor
potencial ofensivo. Portanto, se na Lei Maria da Penha se optou por afastar a aplicação da Lei n.°
9.099/95, é porque se entendeu que tais infrações penais não podem ser consideradas como de menor
potencial ofensivo, o que atende ao disposto no art. 98, 1 da Carta da República.14
3- Audiência Prevista no Artigo 16
“EMBARGOS INFRINGENTES. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER.
RENÚNCIA À REPRESENTAÇÃO.POSSIBILIDADE, MESMO NAS LESÕES CORPORAIS
LEVES,DESDE QUE FEITA ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.Conforme dispõe o
art. 16 da Lei 11.340/06 (Lei Maria daPenha), nas ações penais públicas condicionadas à
representação de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz,
em audiência especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimeto da denúncia e
ouvido o Ministério Público. Na hipótese, antes do recebimento da denúncia, a vítima em audiência, na
presença do juiz a quo, renunciou expressamente à representação. Assim, obrou bem o magistrado ao
rejeitar a denúncia, pois fez exatamente o que prevê a lei...Em momento algum houve o propósito, por
parte do legislador pátrio, de retirar da esfera de disponibilidade da mulher lesionada levemente o direito
de impulsionar ou não o início da ação penal. Tanto que o art. 16 da Lei Maria da Penha confere à
possibilidade de renúncia à representação, desde que feita antes do recebimento da denúncia.
Nesse sentido, confiram-se precedentes: (...) A garantia de livre e espontânea manifestação conferida à
mulher pelo art. 16, na hipótese de renúncia à representação, que deve ocorrer perante o Magistrado em
audiência especialmente designada para esse fim, justifica uma interpretação restritiva do art. 41 da Lei
11.340/06...5. Ordem concedida para determinar o trancamento da Ação Penal 2006.01.1.119499-3, em
curso no Juizado da Violência Doméstica Familiar contra a Mulher do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios (HC 95.261/DF, Rel. para o acórdão Min. ARNALDO ESTEVES LIMA, DJU
08.03.10”. 15
14 Superior Tribunal de Justiça. HABEAS CORPUS Nº 84.831 - RJ (2007/0135839-3). Relator:MINISTRO FELIX
FISCHER:
15 Acórdão. Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de
Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao Agravo
Regimental.Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Honildo Amaral de Mello Castro (Desembargador convocado do TJ/AP), Felix
11
“EMENTA: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL LEVE. LEI MARIA
DA PENHA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DA OFENDIDA.
APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.099/95. RESTRIÇÃO. INSTITUTOS DESPENALIZADORES. I - A
intenção do legislador ao afastar a aplicação da Lei n.º 9.099/95, por intermédio do art. 41 da Lei Maria
Penha, restringiu-se, tão somente, à aplicação de seus institutos específicos despenalizadores - acordo
civil, transação penal e suspensão condicional do processo. II - A ação penal, no crime de lesão corporal
leve, ainda que praticado contra a mulher, no âmbito doméstico e familiar, continua sujeita à
representação da ofendida, que poderá se retratar nos termos e condições estabelecidos no art. 16 da Lei
n.º 11.340/06 (Precedentes). III - O art. 16 da Lei n.º 11.340/06 autoriza ao magistrado aferir, diante
do caso concreto, acerca da real espontaneidade do ato de retratação da vítima, sendo que, em se
constatando razões outras a motivar o desinteresse da ofendida no prosseguimento da ação penal,
poderá desconsiderar sua manifestação de vontade, e, por conseguinte, determinar o
prosseguimento da ação penal, desde que, demonstrado, nos autos, que agiu privada de sua
liberdade de escolha, por ingerência ou coação do agressor. Ordem concedida”. 16
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL LEVE
PERPETRADA NO ÂMBITO DE RELAÇÃO DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA
MULHER. COMPETÊNCIA DA VARA CRIMINAL NOS TERMOS DO ART. 33 DA LEI Nº
11.340/06. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.099/95. PEÇA INAUGURAL QUE
ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS. AMPLA DEFESA GARANTIDA. INÉPCIA
NÃO EVIDENCIADA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. JUSTA CAUSA. VIA
INADEQUADA. INEXISTÊNCIA DE COAÇÃO ILEGAL A SER SANADA NA OPORTUNIDADE.
INEFICÁCIA DA RENÚNCIA À REPRESENTAÇÃO APÓS O RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA. RECURSO IMPROVIDO...Nos termos do art. 16 da Lei nº 11.340/06, "nas ações
penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a
renúncia à representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade,
antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público", o que não ocorreu no caso em
apreço, tendo em vista que quando feita a renúncia pela vítima (28-3-2007), a exordial acusatória
já havia sido recebida em 7-2-2007 pelo Juízo Sentenciante, motivo pelo qual se vislumbra a
extemporaneidade de sua manifestação, não ensejando, portanto, manifesta ausência de justa
causa apta a obstar a continuidade do feito. 7. Recurso improvido.17
“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PENAL. LESÃO CORPORAL
LEVE. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA. RETRATAÇÃO
DA REPRESENTAÇÃO EM JUÍZO. MOMENTO ANTERIOR AO RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA. INICIAL ACUSATÓRIA REJEITADA. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A Terceira Seção
Fischer e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília/DF, 19 de agosto de 2010 (Data do Julgamento).
AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL; AGRAVADO: PAULO IBANOR SCHUMANN.
16 REsp. 1.051.314/DF, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 14.12.09
17Superior Tribunal de Justiça. RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 23.047 - GO (2008/0024886-7) MINISTRO JORGE
MUSSI (Relator)
12
desta Corte firmou entendimento no sentido da necessidade de representação da vítima no crime de
lesão corporal leve, praticado no âmbito doméstico, uma vez que a ação penal, nesse caso, possuiria
natureza pública condicionada. 2. Hipótese em que, diante do Magistrado Singular e antes do
recebimento da denúncia, a Vítima retratou da representação oferecida perante a autoridade
policial.3. Na ausência de argumento relevante que infirme as razões consideradas no julgado ora
agravado, deve ser mantida a decisão por seus próprios fundamentos. 4. Agravo regimental
desprovido.18
EMENTA: HABEAS CORPUS PREVENTIVO. LESÃO CORPORAL LEVE PRATICADA NO
ÂMBITO FAMILIAR CONTRA A MULHER. INSTAURAÇÃO DA AÇÃO PENAL
CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. PRECEDENTE DA 3A. SEÇÃO DESTA
CORTE. RESSALVA DO PONTO DE VISTA DO RELATOR. PRETENSÃO PERSECUTÓRIA
MANIFESTADA PELA VÍTIMA COM O REGISTRO DA OCORRÊNCIA EM DELEGACIA E
SUBMISSÃO A EXAME PERICIAL. DESNECESSIDADE DE MAIORES FORMALIDADES.
RETRATAÇÃO QUE SOMENTE PODE OCORRER EM JUÍZO. INDISPENSABILIDADE,
PORTANTO, DA AUDIÊNCIA DO ART. 16 DA LEI 11.340/06. PARECER DO MPF PELA
DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA PARA ANULAR O
PROCESSO DESDE O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, PARA QUE SEJA
OPORTUNIZADA A REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DO ART. 16 DA LEI 11.340/06...Todavia,
pacífico o entendimento de que o oferecimento da representação prescinde de maiores formalidades,
bastando que a ofendida demonstre o interesse na apuração do fato delituoso, o que é evidenciado, no
caso dos autos, pelo registro da ocorrência na Delegacia de Polícia e a submissão a exame para apurar as
lesões ocasionadas. Precedentes. 3. Admitida a representação, é indispensável a designação da
audiência do art. 16 da Lei 11.340/06, porquanto eventual retratação somente pode ocorrer
perante o Juiz. 4. Ordem parcialmente concedida para anular o processo desde o recebimento da
denúncia, para que seja designada a audiência prevista no art. 16 da Lei 11.340/06. ... Dessa forma,
admitida, no caso, a existência de efetiva manifestação de vontade da ofendida, que registrou Boletim de
Ocorrência e submeteu-se a exame pericial, não há como deixar de reconhecer a indispensabilidade
da designação da audiência prevista no art. 16 da Lei 11.340/06, em que poderá haver renúncia à
representação, cabendo ao Juiz apreciar os motivos da ofendida, ouvido o MPF, e decidir sobre o
pedido. 6. Ante o exposto, em que pese o parecer ministerial em sentido contrário, concede-se
parcialmente a ordem, para anular o processo desde o recebimento da denúncia, oportunizando-se
a designação da audiência prevista no art. 16 da Lei 11.340/06.19
EMENTA: PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL LEVE PRATICADA
COM VIOLÊNCIA FAMILIAR CONTRA A MULHER. PLEITO DE ANULAÇÃO DO DECISUM
18 QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por
unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Jorge Mussi e Felix
Fischer votaram com a Sra. Ministra Relatora. LAURITA VAZ Brasília (DF), 05 de agosto de 2010 (Data do Julgamento)
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.111.032 - SC (2009/0008828-5)
19 HABEAS CORPUS Nº 134.866 - ES (2009/0078676-4). RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO.
IMPETRANTE : ELISIO DE OLIVEIRA LOPES - DEFENSOR PÚBLICO .IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. PACIENTE : FÁBIO JÚLIO BARBOSA BARBEITO
13
PROLATADO PELO TRIBUNAL DE ORIGEM, QUE DESCONSIDEROU A RETRATAÇÃO
DA REPRESENTAÇÃO APRESENTADA PELA VÍTIMA EM AUDIÊNCIA MARCADA EX
OFFICIO PELO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU, NOS MOLDES DO ART. 16 DA LEI 11.340/06.
RETRATAÇÃO QUE NÃO SE MOSTROU ESPONTÂNEA OU ISENTA, MAS MOTIVADA
POR EVIDENTE COAÇÃO. VÍTIMA SUBJUGADA PELO SUPOSTO AGRESSOR. CONCLUSÃO CUJA REVISÃO DEMANDARIA APROFUNDADA DILAÇÃO PROBATÓRIA,
INVIÁVEL NESTA AÇÃO MANDAMENTAL. PARECER MINISTERIAL PELA DENEGAÇÃO
DO WRIT. ORDEM DENEGADA. 1. Na hipótese, é despicienda a discussão a respeito da necessidade
de representação para crime de lesão corporal leve em que a ofendida está sob o amparo da Lei Maria
da Penha; isso porque, denegou-se a ordem pleiteada no writ originário ao fundamento de que
inaceitável a retratação da representação apresentada em audiência marcada ex officio pelo Juízo
processante, nos moldes do art. 16 da Lei 11.340/06, quando a vítima, subjugada pelo habitual
proceder violento de seu consorte, não se manifestou com isenção suficiente a imprimir veracidade
ao recuo que pronuncia. 2. Ainda que se decida pela imprescindibilidade da representação para
fins de procedibilidade da Ação Penal no caso de lesão corporal leve praticada no âmbito familiar,
a retratação daquela antes ofertada deve ser feita na forma preconizada no art. 16 da Lei
11.340/06, isto é, perante o Juiz, em audiência especialmente designada para tal finalidade, antes
do recebimento da denúncia e com a ouvida do Ministério Público, podendo o Magistrado recusá-
la quando verificar que o recuo da ofendida não é espontâneo, mas motivado por coação, como no
caso concreto...3. Assim, recusada a retratação pelo Tribunal Estadual, que frisou a ausência de
isenção suficiente na postura da vítima ... O claro objetivo é que o Ministério Público e o juiz
fiscalizem a retratação da representação, para evitar que ela ocorra por ingerência e força do
agressor.Esse o ponto nodal da questão. Atentou a nova lei, precisamente, para que pode a mulher,
vítima da lesão corporal, “desistir” do prosseguimento da ação contra seu marido ou companheiro, em
face de coação ou violência deste. Daí a necessidade da audiência. Manifestada a retratação antes do
recebimento da denúncia, deve designar o juiz audiência para, ouvido o Ministério Público, admiti-la,
se o caso. Não se trata aqui de mera homologação da retratação. O objetivo da lei, dever do Ministério
Público e do juiz, é perquirir, efetivamente, por todos os meios, a motivação do pedido da vítima.
Ouvido o Ministério Público e convencido o juiz de que a retratação é espontânea, tendo por fim a
efetiva reconciliação do casal, a real preservação dos laços familiares, e havendo condições a tanto
favoráveis,deve admitir o pedido, pondo fim ao processo. Caso contrário, não. Na dúvida, é de recusar-
se a retratação, pelo relevo que merece a proteção à vítima da violência doméstica e familiar.
Reiteração da violência doméstica e familiar, maus antecedentes criminais do agressor, seriedade e
gravidade das circunstâncias de que resultantes as lesões, apesar de leves, tudo isso milita contra a
aceitação da retratação. Imprescindível, portanto, o exame de cada caso concreto. No caso, é
inaceitável.20
20 QUINTA TURMA. Número Registro: 2009/0103329-5 HC 137622 / DF. MATÉRIA CRIMINAL . Números Origem:
1725362006 20060910172536. JULGADO: 23/03/2010 .Relator : Exmo. Sr. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
14
4- Namorados e Ex namorados
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. LEI MARIA DA PENHA. VIOLÊNCIA PRATICADA
EM DESFAVOR DE EX-NAMORADA. CONDUTA CRIMINOSA VINCULADA A RELAÇÃO
ÍNTIMA DE AFETO. CARACTERIZAÇÃO DE ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI N.º
11.340/2006. APLICAÇÃO. "1. A Lei n.º 11.340/2006, denominada Lei Maria da Penha, em seu art. 5.º,
inc. III, caracteriza como violência doméstica aquela em que o agressor conviva ou tenha convivido com
a ofendida, independentemente de coabitação. Contudo, necessário se faz salientar que a
aplicabilidade da mencionada legislação a relações íntimas de afeto como o namoro deve ser
analisada em face do caso concreto. Não se pode ampliar o termo - relação íntima de afeto - para
abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. "2. In casu, verifica-se nexo de
causalidade entre a conduta criminosa e a relação de intimidade existente entre agressor e vítima, que
estaria sendo ameaçada de morte após romper namoro de quase dois anos, situação apta a atrair a
incidência da Lei n.º 11.340/2006. "3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de
Direito da 1.ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete/MG.21
EMENTA. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER (LEI 11.340/06). AGRESSÃO DE EX-COMPANHEIRO
APARENTEMENTE VINCULADA À RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO DO AGRESSOR COM
A VÍTIMA. LESÃO CORPORAL, INJÚRIA E AMEAÇA. JUIZADO ESPECIAL E VARA
CRIMINAL. PREVISÃO EXPRESSA DE AFASTAMENTO DA LEI DOS JUIZADOS
ESPECIAIS (LEI 9.099/95). ARTS. 33 E 41 DA LEI 11.340/06. PARECER DO MPF PELA
COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO. CONFLITO CONHECIDO, PARA DECLARAR A
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA VARA CRIMINAL E EXECUÇÃO PENAL DE SÃO
SEBASTIÃO DO PARAÍSO/MG, O SUSCITADO.1. A Lei 11.340/06 buscou proteger não só a
vítima que coabita com o agressor, mas também aquela que, no passado, já tenha convivido no
mesmo domicílio, contanto que haja nexo entre a agressão e a relação íntima de afeto que já
existiu entre os dois.2. A conduta atribuída ao ex-companheiro da vítima amolda-se, em tese, ao
disposto no art. 7o., inciso I da Lei 11.340/06, que visa a coibir a violência física, entendida como
qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal da mulher, a violência psicológica e a
violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. 3. Ao
cuidar da competência, o art. 41 da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) estabelece que, aos crimes
praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não
se aplica a Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Criminais). O art. 33 da citada Lei, por sua vez,
dispõe que enquanto não estiverem estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, as Varas Criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as
causas decorrentes de violência doméstica. 4. Afastou-se, assim, em razão da necessidade de uma
resposta mais eficaz e eficiente para os delitos dessa natureza, a conceituação de crimes de menor
potencial ofensivo, punindo-se mais severamente aquele que agride a mulher no âmbito doméstico ou
familiar. 5. A definição ou a conceituação de crimes de menor potencial ofensivo é da competência do
legislador ordinário, que, por isso, pode excluir alguns tipos penais que em tese se amoldariam ao
21
CC 100.654/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe 13/05/2009, grifou-se
15
procedimento da Lei 9.099/95, em razão do quantum da pena imposta, como é o caso de alguns delitos
que se enquadram na Lei 11.340/06, por entender que a real ofensividade e o bem jurídico tutelado
reclamam punição mais severa. 6. Conflito conhecido, para declarar a competência do Juízo de Direito
da Vara Criminal e Execução Penal de São Sebastião do Paraíso/MG, o suscitado, em conformidade
com o parecer ministerial.22
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. RELAÇÃO DE
NAMORO. DECISÃO DA 3ª SEÇÃO DO STJ. AFETO E CONVIVÊNCIA INDEPENDENTE
DE COABITAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI
Nº11. 340/2006. APLICAÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL.
1. Caracteriza violência doméstica, para os efeitos da Lei 11.340/2006, quaisquer agressões físicas,
sexuais ou psicológicas causadas por homem em uma mulher com quem tenha convivido em qualquer
relação íntima de afeto, independente de coabitação. 2. O namoro é uma relação íntima de afeto que
independe de coabitação; portanto, a agressão do namorado contra a namorada, ainda que tenha
cessado o relacionamento, mas que ocorra em decorrência dele caracteriza violência doméstica. 3.
A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao decidir os conflitos nºs. 91980 e 94447, não se
posicionou no sentido de que o namoro não foi alcançado pela Lei Maria da Penha, ela decidiu,por
maioria, que naqueles casos concretos, a agressão não decorria do namoro.4. A Lei Maria da Penha é um
exemplo de implementação para a tutela do gênero feminino, devendo ser aplicada aos casos em que se
encontram as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar.5. Conflito conhecido para declarar a
competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG"23
EMENTA - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. EX-
NAMORADOS. VIOLÊNCIA COMETIDA EM RAZÃO DO INCONFORMISMO DO
AGRESSOR COM O FIM DO RELACIONAMENTO. CONFIGURAÇÃO DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. APLICAÇÃO DA LEI 11.340/2006. COMPETÊNCIA DO
SUSCITADO. 1. Configura violência contra a mulher, ensejando a aplicação da Lei nº
11.340/2006, a agressão cometida por ex-namorado que não se conformou com o fim de relação de
namoro, restando demonstrado nos autos o nexo causal entre a conduta agressiva do agente e a
relação de intimidade que existia com a vítima. 2. In casu, a hipótese se amolda perfeitamente ao
previsto no art. 5º, inciso III, da Lei nº 11.343/2006, já que caracterizada a relação íntima de afeto,
em que o agressor conviveu com a ofendida por vinte e quatro anos, ainda que apenas como
namorados, pois aludido dispositivo legal não exige a coabitação para a configuração da violência
doméstica contra a mulher. 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da
1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG, o suscitado.Nesse sentido também foram proferidas
22 Superior Tribunal de Justiça. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 102.832 - MG (2009/0016941-4). RELATOR :
MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. JULGADO EM: 25/03/2009. TERCEIRA SEÇÃO
23 STJ.CC nº 96.532/MG, Rel. Min. Jane Silva (Desmbargadora Convocada no TJ/MG, Terceira Seção, publicado em
19/12/2008), com destaques
16
decisões monocráticas nos Conflitos de Competência nºs. 104.758/MG, 88.952/MG e 90.603/MG,
publicadas, respectivamente, no DJe de 27-5-2009, DJ de 4-3-2008 e DJ de 1º-2-2008.24
EMENTA. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. RELAÇÃO DE
NAMORO. DECISÃO DA 3ª SEÇÃO DO STJ. AFETO E CONVIVÊNCIA INDEPENDENTE DE
COABITAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI Nº11.
340/2006. APLICAÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL.1.
Caracteriza violência doméstica, para os efeitos da Lei 11.340/2006, quaisquer agressões físicas,
sexuais ou psicológicas causadas por homem em uma mulher com quem tenha convivido em
qualquer relação íntima de afeto, independente de coabitação. 2. O namoro é uma relação íntima
de afeto que independe de coabitação; portanto, a agressão do namorado contra a namorada,
ainda que tenha cessado o relacionamento, mas que ocorra em decorrência dele, caracteriza
violência doméstica. 3. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao decidir os conflitos nºs.
91980 e 94447, não se posicionou no sentido de que o namoro4. A Lei Maria da Penha é um exemplo de
implementação para a tutela do gênero feminino, devendo ser aplicada aos casos em que se encontram
as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar.5. Conflito conhecido para declarar a competência
do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG.25
EMENTA. PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. LESÃO CORPORAL
CARACTERIZADA PELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. RELAÇÃO ÍNTIMA ENTRE O
AGRESSOR E A VÍTIMA EVIDENCIADA. APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA. Se as
lesões corporais foram causadas por agressor que mantinha com a vítima íntima relação de afeto,
e em razão dela, incide a conduta, em princípio, no art. 129, §9º, do CP, o que atrai a competência
da Justiça Comum. Conflito conhecido e declarada a competência do Juízo de Direito da 1ª vara
Criminal de Conselheiro Lafaiete/MG. VOTO DO EXMO. SR. MINISTRO FELIX
FISCHER:(...)Da atenta leitura dos autos, em especial do depoimento prestado pela vítima na DEPOL,
observa-se que esta menciona expressamente que o agente seria seu "ex-namorado", sendo oportuno
relatar que os fatos ocorreram em 10/10/2007, quando a Lei n° 11.340/2006 já estava em vigor. Ora, o
art. 5°, caput, da Lei nº 11.340/2006, dispõe expressamente que "para os efeitos desta Lei, configura
violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial' (grifei).Lado
outro, o inciso III, do mesmo artigo de lei dispõe que a referida Lei tem aplicação "em qualquer
relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação " (grifei). Da leitura do referido dispositivo legal conclui-se, pois,
que a Lei nº 11.340/2006 tem efetiva aplicação nos casos de relacionamentos amorosos já findos,
24
STJ.CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 103.813 - MG (2009/0038310-8).EM MESA JULGADO: 24/06/2009.Relator
Exmo. Sr. Ministro JORGE MUSSI
25 CC 90767/MG, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 05/12/2008, DJe 19/12/2008)
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como é o do presente caso, que versa sobre ex-namorados, uma vez que a lei não exige a coabitação.
Esse, inclusive, o magistério de Fabrício da Mota Alves, em artigo publicado a respeito do tema, no
sítio Consultor Jurídico (www.consultorjuridico.com.br ). ficando ali consignado que "esse conceito, a
princípio, trouxe reivindicação das vítimas em relação a agressores com quem tiveram
relacionamento familiar, como ex-maridos ou ex-companheiros. O malfadado sentimento de posse
entre casais nem sempre se dissolve com o rompimento dos laços matrimoniais. Daí a necessidade de
proteção especial às mulheres contra seus ex-parceiros. Por isso, a convivência presente e passada
são consideradas igualmente para aplicação do PLC 37/06"...Destaco, ainda, que a vítima está grávida,
sendo o suposto pai o agressor, o que torna evidente a relação íntima entre os dois, atraindo, desta forma,
a aplicação da Lei 11.340/06. Diante do exposto, conheço do conflito e declaro a competência do Juízo
Suscitado.(...) VOTO-VISTA O EXMO. SR. MINISTRO NILSON NAVES: No CC-91.980, votei da
seguinte forma: "Em casos assemelhados, vejam bem, assemelhados ao constante destes autos, temos
tido decisões num e noutro sentido. Refiro-me a dois, embora pudesse, quem sabe, referir-me a outros:
CC-85.245, de 2007, no qual, unipessoalmente, não tive por configurada violência doméstica e/ou
familiar, e CC-88.952, de 2008, no qual o Ministro Napoleão Maia, unipessoalmente, teve por
configurada tal violência. No caso de que estamos cuidando, bem semelhante, aliás, ao do CC-
88.952, trata-se de relação, di-lo o suscitante, entre ex-namorados, inclusive, há informações de
que a vítima, ex-namorada do agressor, 'estava em companhia de outro rapaz quando dos
acontecimentos'. Não creio, portanto, tenha o caso enquadramento no aludido inciso III do art. 5º
da Lei nº 11.340, de 2006. Impõe-se, ao que cuido, interpretação não-abrangente desse inciso – nele não
se faz referência a toda e qualquer relação, diz a lei: 'relação íntima de afeto' –, e tal se impõe porque se
não justifica que as conseqüências de namoro acabado,quando ruins, venham desaguar na Lei nº 11.340.
Já que estes autos cuidam de relacionamento que ficou apenas na fase de namoro – relacionamento
que, sabe-se, é fugaz muitas das vezes –, não se há de adentrar a mencionada disciplina legal,
principalmente em se tratando, repita-se, como aqui se trata, de ex-namorados. Não foi para isso
que se fez a Lei nº 11.340! Em casos dessa ordem, prefiro a interpretação estrita, de modo que tanta
sede não leve mesmo a se quebrar o pote, ou tamanha curiosidade, despertada pela lei nova, não
conduza, como conduzido foi o poleá machadiano, à perda da mosca azul. Há, a tal propósito, muito que
pensar e escrever. Não gostaria, entretanto, de minha parte, é verdade, dar à disposição em comento
interpretação outra que não a que ora lhe estou dando. Por fim, sobre o art. 41, remeto-me ao voto que,
recentemente, escrevi para o HC-96.992, relatado pela Desembargadora convocada Jane Silva.
Conhecendo do conflito, declaro competente o suscitado – o Juízo de Direito do Juizado Especial
Criminal de Conselheiro Lafaiete." Peço então vênia ao Relator para também aqui declarar competente o
suscitante – o Juízo de Direito do Juizado Especial Criminal de Conselheiro Lafaiete. VOTO A EXMª.
SRª. MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG): Sra.
Presidente, acompanho o voto do Sr. Ministro Relator. Hoje, estou trazendo dois outros processos de
Conselheiro Lafaiete. Penso que aqui, na Seção, segundo o meu entendimento, aquela decisão não
foi no sentido de afirmar de forma genérica que, no caso de namoro, não haveria a aplicação da
Lei Penal.Parece-me que, naquela hipótese, realmente, era um relacionamento ligeiro, e a prova
não era bem feita, mas entendo que qualquer relação de namoro deve julgada pela Lei Maria da
Penha. Acompanho o voto do Sr. Ministro Relator, entendendo que a competência é do Juízo suscitado,
ou seja, do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete - MG.26
26 Superior Tribunal de Justiça. 05 de dezembro de 2008(Data do Julgamento). MINISTRO FELIX FISCHER Relator.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 92.591 - MG (2007/0298914-6)
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EMENTA . CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. EX-
NAMORADOS. NÃO APLICAÇÃO DA LEI 11.340/2006. COMPETÊNCIA DO JUIZADO
ESPECIAL CRIMINAL. 1. Apesar de ser desnecessária à configuração da relação íntima de afeto
a coabitação entre agente e vítima, verifica-se que a intenção do legislador, ao editar a Lei Maria
da Penha, foi de dar proteção à mulher que tenha sofrido agressão decorrente de relacionamento
amoroso, e não de ligações transitórias, passageiras. 2. In casu, a conduta descrita no Termo
Circunstanciado de Ocorrência não se subsume ao conceito de violência doméstica previsto no art. 5º,
inciso III, da Lei 11.340/2006, pois apesar de constar nos autos informação acerca da duração do
namoro (onze meses), dessume-se das declarações da genitora da vítima e do suposto autor do fato
que este teria apenas efetuado ligações telefônicas para a ex-namorada, bem como ido à sua casa, à
noite, algumas vezes, para encontrá-la, inexistindo relato de ofensa ou outro tipo de
constrangimento contra aquela. 3. Conflito conhecido para declarar-se competente o Juízo de Direito
do Juizado Especial Criminal de Conselheiro Lafaiete/MG, o suscitado.(...)VOTO-VENCIDO O
EXMO. SR. MINISTRO JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG): Sr.
Presidente, entendo que, no caso, se trata da aplicação da Lei nº 11.340, de 2006. Conheço do conflito,
mas, data venia, declaro competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -
MG, o suscitante. VOTO VENCIDO (Em Parte) (MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO) 1.
Senhor Presidente, entendo que, no caso, se trata da aplicação da Lei nº 11.340, de 2006. 2. Conheço do
conflito, mas, data venia, declaro competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro
Lafaiete - MG, o suscitante.27
EMENTA. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E JUIZ
DE DIREITO. CRIME COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER.
AGRESSÕES MÚTUAS ENTRE NAMORADOS SEM CARACTERIZAÇÃO DE SITUAÇÃO
DE VULNERABILIDADE DA MULHER. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 11.340/06. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. 1. Delito de lesões corporais envolvendo
agressões mútuas entre namorados não configura hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06, que
tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou
vulnerabilidade. 2. Sujeito passivo da violência doméstica objeto da referida lei é a mulher. Sujeito
ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação
doméstica, familiar ou de afetividade, além da convivência, com ou sem coabitação. 2. No caso,
não fica evidenciado que as agressões sofridas tenham como motivação a opressão à mulher, que é
o fundamento de aplicação da Lei Maria da Penha. Sendo o motivo que deu origem às agressões
mútuas o ciúmes da namorada, não há qualquer motivação de gênero ou situação de
vulnerabilidade que caracterize hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06. 3. Conflito conhecido
para declarar competente o Juízo de Direito do Juizado Especial Criminal de Conselheiro Lafaiete/MG.
Superior Tribunal de Justiça. VOTO DO RELATOR: A nova lei refere-se a crimes praticados com
violência familiar contra a mulher, deixando de prever delitos da mesma natureza praticados contra
homem ou contra qualquer outro tipo de pessoa. Infere-se, desta forma, que o legislador tem em
conta a mulher, numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou inferioridade física e
econômica em relações patriarcais. O escopo da lei é a proteção da mulher em situação de fragilidade
27
Superior Tribunal de Justiça. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 95.057 - MG (2008/0075131-5). JULGADO:
29/10/2008. RELATOR : MINISTRO JORGE MUSSI
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diante do homem (ou mulher) em decorrência de qualquer relação íntima, com ou sem coabitação, em
que possa ocorrer atos de violência contra esta mulher. O sujeito ativo da violência doméstica tanto
pode ser o homem quanto a mulher, em virtude do parágrafo único do art. 5º estabelecer que as
relações pessoais independem de orientação sexual. Segundo a corrente defendida por vários juristas,
dentre eles Sergio Ricardo de Souza (SOUZA, Sergio Ricardo de. Comentários à Lei de Combate à
Violência Contra a Mulher, 2ª Edição, Juruá Editora, Curitiba, 2008), a ênfase principal da lei não é a
questão de gênero, tendo o legislador dado prioridade à criação de mecanismos que coíbam e previnam a
violência doméstica e familiar contra a mulher, sem importar o gênero do agressor que tanto pode ser
homem quanto mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de
afetividade. Para Luiz Flavio Gomes: Sujeito ativo da violência pode ser qualquer pessoa vinculada
com a vítima (pessoa de qualquer orientação sexual, conforme o art. 5º, parágrafo único): do sexo
masculino, feminino ou que tenha qualquer outra orientação sexual. Ou seja: qualquer pessoa pode ser
sujeito ativo da violência; basta estar coligada a uma mulher por vínculo afetivo, familiar ou
doméstico: todas se sujeitam à nova lei. Mulher que agride outra mulher com que tenha relação íntima:
aplica a nova lei. A essa mesma conclusão se chega: na agressão de filho contra mãe, de marido contra
mulher, de neto contra avó, de travesti contra mulher, empregador ou empregadora que agride
empregada doméstica, de companheiro contra companheira, de quem esta em união estável contra a
mulher etc." (GOMES, Luiz Flavio; BIANCHINI, Aline. Competência Criminal da Lei de Violência
contra a Mulher II. Disponível no sítio<www.lfg.com.br>). O sujeito passivo é a mulher, uma vez
que a violência baseada perpetrada pressupõe uma relação caracterizada pelo poder e submissão
sobre a mulher. Resguarda-se a primazia da mulher apenas enquanto vítima, uma vez que seria
inaceitável que, no mesmo ambiente doméstico ou familiar, o neto que agrida a avó esteja sujeito às
regras da referida lei, enquanto que a neta que pratique os mesmos atos, não se submeta às mesmas
regras. Acerca deste tema, assim me manifestei ao proferir o Voto-Vista no CC nº 91.980/MG: A
interpretação da lei não será tal qual aquilo que eventualmente a mens legis estabeleceu; e, se é assim,
tenho um pensamento a respeito desse inciso III do art. 5º da Lei Maria da Penha. Em primeiro lugar,
não é qualquer agressão que estabelece a hipótese de incidência ora discutida. São necessários
alguns elementos. O primeiro, efetivamente, é a violência. O segundo elemento é a relação de
intimidade afetiva entre vítima e sujeito ativo da ação. E há outro elemento importante: uma relação
de convivência, com ou sem coabitação é o que fala essa hipótese do inciso III do art. 5º. Ora, sendo
assim, a meu ver, não é qualquer relação afetiva que implica dizer incide nessas hipóteses. É preciso
que estejam previstos todos esses elementos integrantes do tipo. E, se assim o é, é preciso examinar,
no caso concreto, para verificar se todos esses elementos integrantes da hipótese típica estão presentes
na situação trazida a julgamento. No caso dos autos, estão presentes os elementos da violência, a
relação de intimidade afetiva entre o casal e a convivência, tendo havido ou não coabitação. Entretanto,
resta dimensionar que tipo de situação desencadeou a situação de violência. Ambas as partes afirmam e
concordam (fls. 2 e 6) que a agressão teve origem por motivo de ciúmes da namorada com relação à
descoberta de uma ligação feita pelo namorado por meio de seu celular. Depreende-se dos autos que as
agressões foram mútuas e o que as motivou não foi um caso de opressão à mulher, que é o
fundamento da aplicação da Lei Maria da Penha. Não fica evidenciado, no caso, que as agressões
ocorreram por causa da condição de fragilidade e hipossuficiência da mulher em relação ao seu
namorado.Além disso, não se pode afirmar pelos elementos dos autos, que teria realmente havido uma
relação de convivência doméstica entre o casal. A esse respeito se manifestou a ilustre Ministra Laurita
Vaz no CC nº 88.029/MG: Contudo, é necessário frisar que as relações íntimas de afeto como namoro,
o noivado ou outros relacionamentos devem ser analisados em face do caso concreto para se verificar a
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aplicação da Lei Maria da Penha. Por exemplo, não se pode ampliar o termo relação íntima de afeto
para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. A análise do caso mostra que o
delito supostamente praticado não encerra motivação de gênero, tendo havido mútuas agressões entre
duas namorados. Diante de tais considerações, conheço do conflito de competência e declaro
competente para processamento e julgamento do feito o Juízo de Direito do Juizado Especial Criminal
de Conselheiro Lafaiete/MG, ora suscitado. VOTO VENCIDO (MINISTRO NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO) 1. Senhora Presidente, peço vênia ao eminente Ministro Relator para entender que a
mulher, sendo agredida, ainda que ela repila a agressão até com mais eficácia, até que ela
prepondere, o que é pouco usual, a sua força na briga ou no embate, penso que isso deve, em
princípio, ficar na Vara competente para processar os crimes de violência contra a mulher. Quanto
ao mérito, o juiz verá se não houve realmente agressão à mulher, se a agressão foi leve ou se a repulsa à
agressão foi excessiva etc.2. Peço vênia, Sr. Ministro Og Fernandes - V. Exa. Está corretíssimo - mas
penso que devemos prestigiar, especialmente nessa fase de implantação, a tendência de se
privilegiar o foro privativo da mulher - digamos assim -, o foro especial da mulher para os casos
em que ela for agredida. Creio razoável, a meu ver; se ela foi agredida, para garantir o seu foro,
seria melhor apanhar passivamente. Sendo assim, não seria razoável esperar isso de mulher nenhuma,
especialmente das mulheres de Minas Gerais. 3. Divirjo do voto do Sr. Ministro Relator. VOTO-
VENCIDO. A EXMª. SRª. MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO
TJ/MG): Sra. Presidente, acompanho o voto do Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. S. Exa. me
convenceu. Penso que a questão há de ser apurada lá na prova e tem que começar pelo juizado.28
EMENTA. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. LEI MARIA DA PENHA. RELAÇÃO
DE NAMORO. DECISÃO DA 3ª SEÇÃO DO STJ. AFETO E CONVIVÊNCIA
INDEPENDENTE DE COABITAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE ÂMBITO DOMÉSTICO E
FAMILIAR. LEI Nº 11.340/2006. APLICAÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª
VARA CRIMINAL.1. Caracteriza violência doméstica, para os efeitos da Lei 11.340/2006, quaisquer
agressões físicas, sexuais ou psicológicas causadas por homem em uma mulher com quem tenha
convivido em qualquer relação íntima de afeto, independente de coabitação. 2. O namoro é uma relação
íntima de afeto que independe de coabitação; portanto, a agressão do namorado contra a namorada,
ainda que tenha cessado o relacionamento, mas que ocorra em decorrência dele, caracteriza violência
doméstica. 3. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, ao decidir os conflitos nºs. 91980 e
94447, não se posicionou no sentido de que o namoro não foi alcançado pela Lei Maria da Penha,
ela decidiu, por maioria, que naqueles casos concretos, a agressão não decorria do namoro. 4. A
Lei Maria da Penha é um exemplo de implementação para a tutela do gênero feminino, devendo ser
aplicada aos casos em que se encontram as mulheres vítimas da violência doméstica e familiar. 5.
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro
Lafaiete -MG.VOTO DA MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO
TJ/MG) (Relatora): Após examinar cuidadosamente os autos, entendo que a competência para
processar o feito é do Juízo de Direito da 1ªVara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG. Consta dos
autos que os envolvidos mantiveram relacionamento amoroso durante mais de um ano e que após o
término da relação o réu não aceitava tal fato, passando então a perseguir a vítima pela rua, fazer
ameaças por telefone, agredi-la fisicamente e proferindo ofensas morais contra sua pessoa. Ao contrário
do que entenderam os Juízos tido por suscitados, conforme já manifestado em outros julgamentos,
28
CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 96.533 - MG (2008/0127028-7). RELATOR: MINISTRO OG FERNANDES
21
reafirmo meu posicionamento no sentido de considerar que o namoro configura, para os efeitos da Lei
Maria da Penha, relação doméstica ou familiar, simplesmente porque essa relação é de afeto.
Ressaltamos que mantemos esse entendimento porque a 3ª Seção desse Superior Tribunal de Justiça, ao
apreciar os conflitos de competência nº 91980 e 94447, embora tenha decidido, por maioria, por remeter
a causa a julgamento pelo Juízo de Direito do Juizado Especial e não para o Juízo de Direito da Vara
Criminal, o fez por entender que, naqueles casos específicos sob julgamento, a violência praticada
contra a mulher não decorria da relação de namoro. A 3ª Seção não decidiu na oportunidade do
julgamento dos conflitos que a relação de namoro não é alcançada pela Lei Maria da Penha. As
disposições preliminares da Lei Maria da Penha dispõem em seu artigo 4º que a lei deverá ser
interpretada tendo por escopo os fins sociais a que ela se destina, considerando-se, especialmente,
as mulheres nas suas condições peculiares em situação de violência doméstica.Cito artigo 4º da Lei
11.340/2006: Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e,
especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Depois de o legislador chamar a atenção para a interpretação correta, dispõe em seguida o que configura
violência doméstica para os efeitos da lei. Preceitua que a unidade doméstica refere-se a todo e qualquer
espaço de convívio, ainda que esporádico, que a família é considerada a união de pessoas, dentre outras,
por vontade expressa e que o âmbito doméstico e familiar é caracterizado por qualquer relação íntima de
afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação. Transcrevo o artigo 5º da Lei 11.340/2006: Para efeitos desta Lei, configura violência
doméstica e familiar contra a mulher ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimentos físicos, sexuais ou psicológicos e dano moral ou patrimonial: I. No âmbito da unidade
doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo
familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II. No âmbito da família, compreendida como a
unidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por
afinidade ou por vontade expressa; III. Em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor
conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As
relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. (Grifo nosso). Não se trata
de saber se a relação do casal caracterizou união estável ou não, se o relacionamento já cessou ou não,
basta que os elementos apontem para a direção de que ambos, em determinado momento, por vontade
própria, ainda que esporadicamente, tenham tido relação de afeto, independente de coabitação. A lei não
exige esforço de interpretação para essa conclusão, pelo contrário, ela é expressa, não deixa margem de
dúvidas. Isso porque, seu escopo de proteção às mulheres, constantemente vítimas de agressões em suas
relações domésticas e familiares, gira em torno de algo maior do que o casamento ou uma possível união
estável, ele gira em torno da necessidade de resguardo daquela que é colocada em situação de
fragilidade frente ao homem em decorrência de qualquer relação íntima que do convívio resulta. Aquele
que namorou por vontade própria expressa, independentemente do tempo, manteve, por óbvio,
vínculo íntimo de afeto com a namorada, ainda que com ela não tenha coabitado ou que da
relação não tenha resultado união estável. Penso que o intuito da legislação compromete-se com a
realidade em que vivemos. Realidade que nos assalta todos os dias pelo noticiário com a violência
de todo tipo, mas, especialmente nos últimos tempos, com aquela dirigida à mulher, em muitos
casos, contra a mulher que manteve relação íntima com seu agressor “tão-somente” no âmbito do
namoro. Afastar o namoro do âmbito de proteção da Lei Maria da Penha é corroborar com o
estado de coisas que nos apresenta diuturnamente os telejornais. Por oportuno, há de se ressaltar que
um dos princípios comezinhos de direito, no que tange à interpretação da norma, preconiza que ela não
utiliza palavras inúteis e, nesse caso, ela é clara ao dizer que qualquer relação íntima de afeto, ainda que
22
os envolvidos não tenham morado sob o mesmo teto, caracteriza âmbito doméstico para a Lei
11.340/2006, abarcando, por corolário, também o namoro. Dessa forma, configurada hipótese de
aplicação da Lei nº 11.340/2006, o Juizado Especial Criminal resta absolutamente incompetente para
processar o feito nos termos do artigo 41 da lei em comento, ao dispor que aos crimes praticados com
violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a
Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995. De outra ponta, verifica-se que o Tribunal de Justiça do Estado de
Minas Gerais, por intermédio da Resolução 529/2007, fixou, até a implantação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher previstos no art. 14 da Lei 11.340/2006, a competência
do Juiz da 1ª Vara Criminal para processar e julgar as causas decorrentes da prática de violência
doméstica. Portanto, a competência para processar o feito é do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de
Conselheiro Lafaiete - MG. Confira-se no mesmo sentido as seguintes decisões monocráticas: CC
88952/MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho; DJU 04/03/2008; e CC 90.603/MG, Rel. Min. Felix
Fischer; DJU 01/02/2008. Ante o exposto, com fundamento no artigo 120, parágrafo único do Código de
Processo Civil, c/c artigo 3º do Código de Processo Penal, conheço do conflito, para declarar
competente o Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete -MG. É como voto.29
EMENTA. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E
VARA CRIMINAL. NAMORADOS. RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO. INEXIGÊNCIA DE
COABITAÇÃO. NECESSIDADE DE COMPROVAÇÃO DE CONVIVÊNCIA. ELEMENTOS
PROBATÓRIOS INSUFICIENTES. NÃO ABRANGÊNCIA PELA LEI Nº 11.340/2006 – LEI MARIA
DA PENHA. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. 1. Agressões recíprocas entre
namorados. Inexistência de elementos nos autos necessários à comprovação da existência de
convivência necessária à caracterização de relação íntima de afeto abrangida pela Lei nº
11.340/2006. 2. Conflito conhecido para declarar competente Juízo de Direito do Juizado Especial
Criminal da Comarca de Conselheiro Lafaiete/MG, o suscitado...O Ministério Público Federal
manifestou-se às fls. 38/42, em parecer assim ementado: “CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE
JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E JUÍZO ORDINÁRIO DA JUSTIÇA ESTADUAL. CRIME DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER E INFRAÇÃO PENAL DE VIAS DE FATO
PRATICADOS RECIPROCAMENTE. Agressões recíprocas entre namorados. Possível crime de
violência doméstica contra mulher praticado pelo varão e contravenção penal de vias de fato praticada
pela mulher. Art. 5º da Lei nº 11.340/2006. Exclusão do Juizado Especial Criminal para hipóteses de
violência doméstica contra a mulher. Conexão com a contravenção atribuída à mulher, de outro modo
sujeita à jurisdição do juizado especial. Falta de amparo legal para separação facultativa ou obrigatória
de processo e julgamento. Parecer pelo conhecimento do conflito sua improcedência, a fim de se
declarar a competência do Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Conselheiro Lafaiete, suscitante, para
o processo e julgamento de ambas as infrações penais. A discussão submete-se ao julgamento desta
Corte, tendo em vista a previsão” ... Assim, a questão central deste conflito é definir se o disposto na Lei
nº 11.340/2006 é aplicável às relações entre namorados. O art. 5º da Lei nº 11.340/2006 fixa o seu
âmbito de incidência, in verbis : Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e
familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão,
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (...) III - em qualquer relação
íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
29
Superior Tribunal de Justiça. CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 96.532 - MG (2008/0127004-8). RELATORA:
MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG)
23
independentemente de coabitação. De uma análise do dispositivo transcrito, constata-se que a
denominada "violência doméstica" abrange qualquer relação íntima de afeto, dispensada a coabitação.
Entendo que, diante da exigência do legislador ordinário de existência de relação íntima de afeto,
independente de coabitação, a relação entre namorados, para fins de aplicação da Lei nº
11.340/2006, demanda uma análise cuidadosa, que deve ser realizada caso a caso, a fim de que se
comprove uma relação com convivência duradoura entre as partes envolvidas no suposto fato
delituoso, da qual este seja causa, não incidindo sobre relações de namoros eventuais,
efêmeros...De uma análise dos elementos probatórios existentes nestes autos, constata-se que não
há qualquer comprovação de que a agressão narrada estaria relacionada à condição da vítima de
mulher inserida em um contexto familiar. Não se pode afirmar, pois, que entre a vítima e o
agressor existem laços familiares, de maneira que o fato pode-se apresentar como algo isolado e
não decorrente de uma relação de vínculo, como exige a Lei nº 11.340/06. Assim sendo, verifica-se
que o delito praticado não se amolda aos requisitos exigidos pela Lei nº 11.340/06, motivo pelo qual
deve ser declarada a competência do Juizado Especial para o julgamento do feito. Neste sentido, confira-
se CC nº 85.425/MG.30
EMENTA. PENAL – PROCESSUAL PENAL – LEI MARIA DA PENHA – HABEAS CORPUS –
LESÕES CORPORAIS – ADITAMENTO DA DENÚNCIA PARA HOMICÍDIO SIMPLES
TENTADO – PRISÃO PREVENTIVA – MEDIDA CAUTELAR REVOGADA PELO MAGISTRADO
DE 1º GRAU – PEDIDO PREJUDICADO – NULIDADE DO ADITAMENTO – ATO QUE
DECORREU DE NOVAS DECLARAÇÕES PRESTADAS PELA VÍTIMA – EXISTÊNCIA DE
PRETÉRITAS AMEAÇAS DE MORTE ADVINDAS DO ACUSADO – INDÍCIOS DE
ATUAÇÃO MEDIANTE ANIMUS NECANDI – SUFICIÊNCIA PARA O RECEBIMENTO DO
ADITAMENTO – PROVA CABAL EXIGÍVEL APENAS PARA EVENTUAL CONDENAÇÃO –
FALTA DE ABERTURA DE VISTA À DEFESA PARA SE MANIFESTAR SOBRE O
ADITAMENTO – INTERROGATÓRIO DO ACUSADO (PRIMEIRO ATO DA INSTRUÇÃO
ANTES DAS REFORMAS) QUE JÁ SE DEU NO MOMENTO EM QUE O ADITAMENTO JÁ
HAVIA SIDO APRESENTADO – CONFUSÃO COM A MUTATIO LIBELLI QUE DEVE SER
AFASTADA – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – AUSÊNCIA DE COABITAÇÃO – IRRELEVÂNCIA
– VIOLÊNCIA QUE DECORREU, EM TESE, DO RELACIONAMENTO AMOROSO ENTÃO
EXISTENTE ENTRE AUTOR E VÍTIMA – PEDIDO PARCIALMENTE PREJUDICADO –
ORDEM DENEGADA. .... Sobrevinda a notícia de que o acusado, então denunciado por lesões
corporais, vinha ameaçando a ofendida de morte antes dos fatos, mostra-se viável o aditamento da
denúncia a fim de alterar a capitulação de sua conduta para aquela prevista no artigo 121 do Código
Penal. 3. A existência de indícios mínimos sobre a suposta atuação mediante animus necandi do acusado
é suficiente para autorizar o recebimento do aditamento, sendo que sua prova cabal somente se mostra
necessária para eventual condenação. 4. A hipótese prevista no artigo 384 do Código de Processo Penal
(em sua redação original, vigente na época do aditamento da denúncia) é de mutatio libelli, isto é, se
aplica apenas caso a possibilidade de nova definição jurídica do fato decorra de evidências colhidas
durante a instrução. 5. In casu, o aditamento ocorreu antes que qualquer ato instrutório fosse realizado,
motivo pelo qual mostrava-se despicienda a abertura de vista à defesa para se pronunciar a seu respeito,
mas tão-somente sua intimação. 6. Para a configuração de violência doméstica, basta que estejam
30
Superior Tribunal de Justiça. TERCEIRA SEÇÃO. Número Registro: 2007/0275986-1 CC 91979 / MG. JULGADO EM:
16/02/2009. Relatora Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
24
presentes as hipóteses previstas no artigo 5º da Lei 11.343/2006 (Lei Maria da Penha), dentre as quais
não se encontra a necessidade de coabitação entre autor e vítima. 7. Pedido parcialmente prejudicado.
Ordem denegada.31
5- Formalidades da Representação
"HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA. CRIME DE LESÃO CORPORAL LEVE.
ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE REPRESENTAÇÃO. TESE DE FALTA DE CONDIÇÃO DE
PROCEDIBILIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. INEQUÍVOCA MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DA
VÍTIMA. OFERECIMENTO DE NOTITIA CRIMINIS PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL.
VALIDADE COMO EXERCÍCIO DO DIREITO DE REPRESENTAÇÃO. INEXIGIBILIDADE DE
RIGORES FORMAIS. PRECEDENTES. PLEITO DE CONCESSÃO DO BENEFÍCIO DO SURSIS
PROCESSUAL. IMPOSSIBILIDADE. NÃO-NCIDÊNCIA DA LEI N.º9.099/95.1. A representação,
condição de procedibilidade exigida nos crimes de ação penal pública condicionada, prescinde de
rigores formais, bastando a inequívoca manifestação de vontade da vítima ou de seu representante
legal no sentido de que se promova a responsabilidade penal do agente, como evidenciado, in casu,
com a notitia criminis levada à autoridade policial, materializada no boletim de ocorrência. 2. Por
força do disposto no art. 41 da Lei n.º 11.340/06, resta inaplicável, em toda sua extensão, a Lei n.º
9.099/95.3. Ordem denegada”.32
EMENTA: HABEAS CORPUS PREVENTIVO. LESÃO CORPORAL LEVE PRATICADA NO
ÂMBITO FAMILIAR CONTRA A MULHER. INSTAURAÇÃO DA AÇÃO PENAL
CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO DA VÍTIMA. PRECEDENTE DA 3A. SEÇÃO DESTA
CORTE. RESSALVA DO PONTO DE VISTA DO RELATOR. PRETENSÃO PERSECUTÓRIA
MANIFESTADA PELA VÍTIMA COM O REGISTRO DA OCORRÊNCIA EM DELEGACIA E
SUBMISSÃO A EXAME PERICIAL. DESNECESSIDADE DE MAIORES FORMALIDADES. RETRATAÇÃO QUE SOMENTE PODE OCORRER EM JUÍZO. INDISPENSABILIDADE,
PORTANTO, DA AUDIÊNCIA DO ART. 16 DA LEI 11.340/06. PARECER DO MPF PELA
DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA PARA ANULAR O
PROCESSO DESDE O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA, PARA QUE SEJA OPORTUNIZADA A
REALIZAÇÃO DA AUDIÊNCIA DO ART. 16 DA LEI 11.340/06... Pacífico o entendimento de que
o oferecimento da representação prescinde de maiores formalidades, bastando que a ofendida
demonstre o interesse na apuração do fato delituoso, o que é evidenciado, no caso dos autos, pelo
registro da ocorrência na Delegacia de Polícia e a submissão a exame para apurar as lesões
ocasionadas. ... Admitida a representação, é indispensável a designação da audiência do art. 16 da Lei
31 Superior Tribunal de Justiça. SEXTA TURMA. Número Registro: 2008/0206191-4 HC 115857 / MG. JULGADO EM:
16/12/2008
32 HC 130.000/SP, Rel. Min. LAURITA VAZ, DJ de 08/09/2009
25
11.340/06, porquanto eventual retratação somente pode ocorrer perante o Juiz. Precedentes:
CRIMINAL. HC. TRANCAMENTO DE AÇÃO PENAL. NULIDADE DO INQUÉRITO. DELITO
DE TRÂNSITO. AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA. MANIFESTAÇÃO DE VONTADE DOS
OFENDIDOS. DECLARAÇÕES PERANTE A AUTORIDADE POLICIAL. RECURSO
DESPROVIDO. 1. Não há forma rígida para a representação, bastando a manifestação de vontade do
ofendido para que seja apurada a responsabilidade criminal do paciente, em delito de lesão corporal
culposa praticada na direção de veículo automotor. Precedentes. 2. Devem ser consideradas válidas as
declarações das vítimas perante a Autoridade Policial. 3. Recurso desprovido (RHC 12.972/RS, Rel.
Min. GILSON DIPP, DJU 25.08.03).5. Dessa forma, admitida, no caso, a existência de efetiva
manifestação de vontade da ofendida, que registrou Boletim de Ocorrência e submeteu-se a exame
pericial, não há como deixar de reconhecer a indispensabilidade da designação da audiência prevista no
art. 16 da Lei 11.340/06, em que poderá haver renúncia à representação, cabendo ao Juiz apreciar os
motivos da ofendida, ouvido o MPF, e decidir sobre o pedido. 6. Ante o exposto, em que pese o parecer
ministerial em sentido contrário, concede-se parcialmente a ordem, para anular o processo desde o
recebimento da denúncia, oportunizando-se a designação da audiência prevista no art. 16 da Lei
11.340/06.33
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LESÕES
CORPORAIS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. AÇÃO PENAL. NATUREZA. REPRESENTAÇÃO.
ALEGADA AUSÊNCIA DE CONDIÇÃO DE PROCEDIBILIDADE. INTERESSE DA VÍTIMA
INCAPAZ CONFLITANTE COM O DE SUA REPRESENTANTE LEGAL (PRESUNÇÃO).
INVALIDADE DA RETRATAÇÃO. NECESSIDADE DE CURADOR ESPECIAL. ART. 33 DO
CPP.I - A ação penal, no crime de lesão corporal leve, ainda que praticado contra a mulher, no âmbito
doméstico e familiar, continua sujeita à representação da ofendida, que poderá se retratar nos termos e
condições estabelecidos no art. 16 da Lei 11.340/06. II - Desse modo, é válida a retratação operada pela
vítima - companheira do recorrente - na audiência específica a que se refere o aludido art. 16 da referida
Lei. Não obstante, em relação à outra ofendida - criança recém-nascida, portanto absolutamente
incapaz - deve-se afastar, na hipótese, a regra geral inserta no CPP que determina que o poder de
representação bem como o de retratação seja exercitado pela representante legal da menor
impúbere. III - Dessarte, constatada a presunção inafastável de conflito entre os interesses da
vítima e de sua representante legal, é inválida a retratação ofertada pela última, por ausência de
legitimidade, devendo a autoridade judicial nomear, como se deu na espécie, curador especial,
conforme a inteligência do art. 33, do Código de Processo ...Portanto, constatado que em relação à
companheira do recorrente houve a representação e, posteriormente a retratação, nos termos da lei em
comento, não se discute a ausência de condição de procedibilidade, neste ponto, para a ação penal.
Contudo, no que tange à outra vítima - criança de tenra idade, filha do recorrente e da vítima - nota-se
que a retratação formulada por sua representante legal não poderia produzir qualquer efeito por faltar à
sua genitora legitimidade para o ato. Dispõe o art. 13 da denominada Lei Maria da Penha: "Ao processo,
ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica
e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e
da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com esta
33
HABEAS CORPUS Nº 134.866 - ES (2009/0078676-4). RELATOR : MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO.
IMPETRANTE : ELISIO DE OLIVEIRA LOPES - DEFENSOR PÚBLICO .IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. PACIENTE : FÁBIO JÚLIO BARBOSA BARBEITO
26
Lei." Pois bem, a Lei nº 11.340/2006, à exceção da regra inserta no art. 16, não dispensou tratamento à
questão referente ao exercício do poder de representação e retratação, notadamente quando relacionados
aos absolutamente incapazes, remetendo a regulamentação do tema, a toda evidência, para as regras
gerais do CPP e a outras leis que porventura tratem da quaestio. Neste contexto, faz-se indispensável
transcrever o art.33 do CPP, verbis:"Art. 33. Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente
enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou colidirem os interesses deste com os
daquele , o direito de queixa poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou a
requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para o processo penal." Tenho para mim,
em observância aos dispositivos legais analisados, que há uma presunção inafastável de colidência
entre os interesses da vítima do suposto delito, menor impúbere, e de sua representante legal, sua mãe e
companheira do ofensor, apta a justificar a nomeação de curador especial. Isso porque é inegável que a
retomada do relacionamento afetivo com o agressor, inclusive a coabitação, motivou a retratação e,
assim, fosse interrompido o prosseguimento da ação penal. Tal disposição, advirta-se, é, em relação à
vítima maior e capaz, plenamente admissível. No entanto, no que tange à sua filha recém-nascida, não
se pode pretender seguir a mesma sorte, pois, desse modo, estar-se-ia autorizando renegar
proteção aos mais básicos direitos conferidos a qualquer pessoa, máxime de uma infante. Dito
de outro modo, a reconciliação do casal - que envolve complexas questões emocionais – não pode
impedir a apuração de grave atentado à incolumidade física de menor no âmbito de seu próprio lar.
Não foi por outra razão que esta Corte sublinhou que: "O evidente conflito entre o interesse da menor
incapaz e a disposição contrária de seu representante legal implica a nomeação de curador especial,
nos termos do art. 33 do Código de Processo Penal e 142, parágrafo único, da Lei nº 8.069/90 ." (HC
52.089/SP, 6ª Turma, Rel. Min. Og Fernandes, DJe de 19/12/2008). Ante o exposto, nego provimento ao
recurso.34
6- Prisões Provisórias
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
CONTRA A MULHER (LEI MARIA DA PENHA). PRISÃO PREVENTIVA. CONSTANTES
AMEAÇAS DIRECIONADAS A VÍTIMA. PERICULOSIDADE DO PACIENTE. REITERAÇÃO
DELITIVA. RISCO CONCRETO. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. NECESSIDADE.
DESCUMPRIMENTO DAS MEDIDAS PROTETIVAS IMPOSTAS. HIPÓTESES
AUTORIZADORAS DA SEGREGAÇÃO ANTECIPADA. PRESENÇA. CUSTÓDIA
JUSTIFICADA E NECESSÁRIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO DEMONSTRADO.
RECLAMO IMPROVIDO. 1. Nos termos do inciso IV do art. 313 do CPP, com a redação dada pela
Lei n.º 11.340/06, a prisão preventiva do acusado poderá ser decretada "se o crime envolver
violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a execução
das medidas protetivas de urgência". 2. Evidenciado que o recorrente, mesmo após cientificado das
medidas protetivas de urgência impostas, ainda assim voltou a ameaçar a vítima, demonstrada
34 Superior Tribunal de Justiça. QUINTA TURMA. Número Registro: 2009/0089643-0 RHC 26077 / DF. JULGADO:
09/02/2010. Relator Ministro FELIX FISCHER
27
está a imprescindibilidade da sua custódia cautelar, especialmente a bem da garantia da ordem
pública, dada a necessidade de resguardar-se a integridade física e psíquica da ofendida e dos seus
dois filhos, fazendo cessar a reiteração delitiva, que no caso não é mera presunção, mas risco concreto, e
também para assegurar o cumprimento das medidas protetivas de urgência deferidas. 3. Recurso
ordinário em habeas corpus a que se nega provimento.[...] não há que se falar em
desproporcionalidade da prisão preventiva com a pena a ser aplicada ao ora paciente, uma vez que o
artigo 313 do Código de Processo Penal é claro ao permitir a custódia cautelar a fim de garantir a
aplicabilidade das medidas protetivas de urgência...Assim, demonstrada, com base em elementos
concretos dos autos, a presença do periculum libertatis , justificada está a manutenção do decreto
constritivo imposto ao recorrente, especialmente a bem da garantia da ordem pública, dada a
necessidade de resguardar-se a integridade física e psíquica da vítima, bem como de seus dois filhos,
fazendo cessar a reiteração delitiva, e também para assegurar o cumprimento das medidas protetivas de
urgência deferidas pelo juiz singular, como orienta esta Corte Superior... Diante do exposto, nega-se
provimento ao presente recurso ordinário em habeas corpus.35
“III - A Lei 11.340/06, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, introduziu, na sistemática processual penal relativa às prisões cautelares, mais uma hipótese
autorizadora da prisão preventiva, ao estabelecer, no artigo 313, inciso IV, do CPP, a possibilidade
desta segregação cautelar para garantir a eficácia das medidas protetivas de urgência.IV - Na espécie,
diante da notícia de que o paciente, mesmo após cientificado da medida protetiva imposta, consistente
na determinação de não se aproximar da vítima, bem como de seus familiares, continuou a rondar a
residência daquela, causando-lhe temor, acertada a decretação da prisão preventiva do acusado. De
fato, está devidamente fundamentada a segregação cautelar do paciente não somente na garantia da
instrução criminal, mas também na garantia da ordem pública, ante a necessidade de preservação da
integridade física e psicológica da vítima, bem como de sua família. V - De outro lado, consignado
tanto em primeiro, quanto em segundo grau, o descumprimento da medida protetiva pelo paciente, a
averiguação de tal circunstância revela-se inviável na via estreita do writ, haja vista que, no caso,
reclama o acurado exame do conjunto fático-probatório dos autos. [...] Ordem denegada." 36
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER.
PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ACAUTELAMENTO DA
INTEGRIDADE FÍSICA DAS VÍTIMAS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO EVIDENCIADO.
CRIME APENADO COM DETENÇÃO. POSSIBILIDADE DE DECRETAÇÃO DA CUSTÓDIA.
INTELIGÊNCIA DO ART. 313, INCISO IV, DO CPP. 1. É legal o decreto de prisão preventiva que,
partindo da singularidade do caso concreto, assevera a necessidade de acautelamento da integridade,
sobretudo física, das vítimas, as quais, ao que consta dos autos, correm risco de sofrerem novas ofensas
físicas, em se considerando o histórico do Paciente. 2. A despeito de os crimes pelos quais responde o
35 RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 27.518 - DF (2010/0006495-9).Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na
conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Os Srs. Ministros
Felix Fischer, Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima e Napoleão Nunes Maia Filho votaram com o Sr. Ministro Relator JORGE
MUSSI. Brasília (DF), 17 de junho de 2010. (Data do Julgamento).
36 HC n.º 123.804/MG, QUINTA TURMA, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 17-3-2009, DJe 27-4-2009
28
Paciente serem punidos com detenção, o próprio ordenamento jurídico – art. 313, inciso IV, do Código
de Processo Penal, com a redação dada pela Lei n.º 11.340/2006 – prevê a possibilidade de decretação
de prisão preventiva nessas hipóteses, em circunstâncias especiais, com vistas a garantir a execução de
medidas protetivas de urgência. 2. Ordem denegada. 37
EMENTA. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS . AMEAÇA. CRIME PRATICADO
CONTRA MULHER NO ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI MARIA DA PENHA.
PRISÃO EM FLAGRANTE REGULAR. MEDIDA PROTETIVA DESCUMPRIDA. REITERAÇÃO DAS AMEAÇAS. PERIGO PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL DA VÍTIMA.
PRISÃO PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA. PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Aquele que é pego por policiais em frente à casa da
vítima, após a notícia de que transitava no local proferindo ameaças de morte, encontra-se em estado de
flagrância. (Inteligência do artigo 302 do CPP). 2. Antes que a condenação transite em julgado, a medida
protetiva derivada da Lei Maria da Penha, imposta para a proteção da vítima por decisão judicial, vige e,
obrigatoriamente, deve ser cumprida. 3. A ameaça de morte à ex-esposa, depois de ter respondido a
processo criminal pelo mesmo motivo, constitui reiteração criminosa e caracteriza a necessidade de
garantir a instrução criminal com suporte em dados concretos dos autos. 4. A possibilidade real de o
paciente cumprir as ameaças de morte dispensadas a sua ex-esposa basta como fundamento para a sua
segregação, sobretudo ante a disciplina protetiva da Lei Maria da Penha, que visa a proteção da saúde
mental e física da mulher. 5. À luz do princípio da razoabilidade, o excesso de prazo no término da
instrução probatória é justificável em um procedimento complexo, o que impõe o alargamento dos
prazos. 6. Ordem denegada.38
EMENTA: HABEAS CORPUS . LEI MARIA DA PENHA. AMEAÇAS E LESÃO CORPORAL.
CRIMES PUNIDOS COM DETENÇÃO. LIBERDADE PROVISÓRIA DEFERIDA PELO
MAGISTRADO. APLICAÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS. CUSTÓDIA CAUTELAR
RESTABELECIDA PELA CORTE ESTADUAL. FALTA DE FUNDAMENTAÇÃO. AUSÊNCIA
DOS REQUISITOS PREVISTOS NO ART. 313 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.1.
Conforme reiterada jurisprudência desta Corte Superior de Justiça, toda custódia imposta antes do
trânsito em julgado de sentença penal condenatória exige concreta fundamentação, nos termos do
disposto no art. 312 do Código de Processo Penal. 2. Não se justifica a prisão provisória do paciente
se não se logrou demonstrar, de forma concreta, que sua liberdade oferece risco à ordem pública.
O próprio magistrado a quo entendeu desnecessária a segregação, fixando medidas protetivas que
se revelam suficientes para garantir a segurança da vítima. Ademais, o paciente já está em
liberdade há mais de um ano e não há qualquer notícia de que tenha descumprido tais
determinações. 3. Tratando-se de crimes punidos com detenção, não sendo o paciente vadio e
inexistindo dúvida sobre sua identidade, condenação anterior ou descumprimento de medidas protetivas,
mostram-se ausentes os requisitos que autorizam a custódia cautelar, nos termos do art. 313 do Código
37
HC n.º 132.379/BA, QUINTA TURMA, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 26-5-2009, DJe 15-6-2009
38 Superior Tribunal de Justiça HABEAS CORPUS Nº 101.377 - PR (2008/0048011-8) RELATORA : MINISTRA JANE
SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG).
29
de Processo Penal. 4. Ordem concedida para, cassando o acórdão atacado, restabelecer a decisão que
deferiu ao paciente a liberdade provisória, condicionada à observância das medidas protetivas fixadas
pelo magistrado...Quanto aos predicados atribuídos ao recorrido, firme é a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, assim como a do Superior Tribunal de Justiça, no sentido de que as
condições pessoais favoráveis, acaso existentes, não impedem a decretação da prisão preventiva ou
manutenção da prisão cautelar do paciente, quando presentes os requisitos autorizadores.39
EMENTA. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. TENTATIVA. LEI Nº 11.340/2006
(LEI MARIA DA PENHA). PRISÃO PREVENTIVA. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA
PROTETIVA DE URGÊNCIA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. RISCO À INTEGRIDADE
FÍSICA DA VÍTIMA. COMPROVAÇÃO DO DESCUMPRIMENTO DA MEDIDA ... A Lei
11.340/06, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, introduziu,
na sistemática processual penal relativa às prisões cautelares, mais uma hipótese autorizadora da prisão
preventiva, ao estabelecer, no artigo 313, inciso IV, do CPP, a possibilidade desta segregação cautelar
para garantir a eficácia das medidas protetivas de urgência. IV - Na espécie, diante da notícia de que o
paciente, mesmo após cientificado da medida protetiva imposta, consistente na determinação de não se
aproximar da vítima, bem como de seus familiares, continuou a rondar a residência daquela, causando-
lhe temor, acertada a decretação da prisão preventiva do acusado. De fato, está devidamente
fundamentada a segregação cautelar do paciente não somente na garantia da instrução criminal, mas
também na garantia da ordem pública, ante a necessidade de preservação da integridade física e
psicológica da vítima, bem como de sua família.V - De outro lado, consignado tanto em primeiro,
quanto em segundo grau, o descumprimento da medida protetiva pelo paciente, a averiguação de tal
circunstância revela-se inviável na via estreita do writ, haja vista que, no caso, reclama o acurado exame
do conjunto fático-probatório dos autos. VI - Outrossim, condições pessoais favoráveis como
primariedade, bons antecedentes e residência fixa no distrito da culpa, não têm o condão de, por si só,
garantirem a revogação da prisão preventiva, se há nos autos, elementos hábeis a recomendar a
manutenção da custódia cautelar .Ordem denegada. Superior Tribunal de Justiça.40
EMENTA . RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA (LEI
11.340/06). POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO, EM UNIDADES MÉTRICAS, DA DISTÂNCIA A
SER MANTIDA PELO AGRESSOR DA VÍTIMA. EXPRESSA PREVISÃO LEGAL (ART. 22,
III DA LEI 11.340/06). VIOLAÇÃO LEGALMENTE AUTORIZADA AO DIREITO DE
LOCOMOÇÃO DO SUPOSTO AGRESSOR. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO. 1.
Conforme anotado no parecer ministerial, nos termos da do art. 22, III da Lei 11.340/06, conhecida por
Lei Maria da Penha, poderá o Magistrado fixar, em metros, a distância a ser mantida pelo agressor
da vítima - tal como efetivamente fez o Juiz processante da causa -, sendo, pois, desnecessário nominar
quais os lugares a serem evitados, uma vez que, se assim fosse, lhe resultaria burlar essa proibição e
39 Número Registro: 2009/0205871-6 HC 151174 / MG . MATÉRIA CRIMINAL . Números Origem: 10145095086669
1145095086669 . JULGADO: 20/04/2010 . Relatora: Exma. Sra. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA
40 QUINTA TURMA. Número Registro: 2008/0276709-4 HC 123804 / MG. JULGADO EM: 17/03/2009. Relator : Ministro
FELIX FISCHER
30
assediar a vítima em locais que não constam da lista de lugares previamente identificados...2. Tal
proibição de aproximação, prossegue a ilustre representante ministerial: (...) não infringe o direito de ir
e vir, consagrado no art. 5o., XV da Constituição Federal. A liberdade de locomoção do ora
paciente encontra limite no direito da vítima de preservação de sua vida e integridade física. Na
análise do direito à vida e à liberdade, há que se limitar esta para assegurar aquela...4. Isso posto,
em consonância com o parecer ministerial, nega-se provimento ao Recurso Ordinário.41
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. AMEAÇA. CRIME PRATICADO CONTRA
MULHER NO ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI MARIA DA PENHA. PRISÃO EM
FLAGRANTE REGULAR. MEDIDA PROTETIVA DESCUMPRIDA. REITERAÇÃO DAS
AMEAÇAS. PERIGO PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL DA VÍTIMA. PRISÃO
PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA. PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Aquele que é pego por policiais em frente à casa da
vítima, após a notícia de que transitava no local proferindo ameaças de morte, encontra-se em estado de
flagrância. (Inteligência do artigo 302 do CPP). 2. Antes que a condenação transite em julgado, a medida
protetiva derivada da Lei Maria da Penha, imposta para a proteção da vítima por decisão judicial, vige e,
obrigatoriamente, deve ser cumprida. 3. A ameaça de morte à ex-esposa, depois de ter respondido a
processo criminal pelo mesmo motivo, constitui reiteração criminosa e caracteriza a necessidade de
garantir a instrução criminal com suporte em dados concretos dos autos. 4. A possibilidade real de o
paciente cumprir as ameaças de morte dispensadas a sua ex-esposa basta como fundamento para a sua
segregação, sobretudo ante a disciplina protetiva da Lei Maria da Penha, que visa a proteção da saúde
mental e física da mulher. 5. À luz do princípio da razoabilidade, o excesso de prazo no término da
instrução probatória é justificável em um procedimento complexo, o que impõe o alargamento dos
prazos. 6. Ordem denegada.42
HABEAS CORPUS . LESÃO CORPORAL E AMEAÇA. CRIMES ABRANGIDOS PELA LEI Nº
11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA). PRISÃO PREVENTIVA. DESCUMPRIMENTO DE
MEDIDA PROTETIVA DE URGÊNCIA. FUNDAMENTO INSUFICIENTE. NECESSIDADE
DE DEMONSTRAÇÃO DOS REQUISITOS QUE AUTORIZAM A CUSTÓDIA CAUTELAR.
ART. 312 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ORDEM CONCEDIDA. 1. Muito embora o art.
313, IV, do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei nº 11.340/2006, admita a decretação
da prisão preventiva nos crimes dolosos que envolvam violência doméstica e familiar contra a mulher,
para garantir a execução de medidas protetivas de urgência, a adoção dessa providência é condicionada
ao preenchimento dos requisitos previstos no art. 312 daquele diploma. 2. É imprescindível que se
demonstre, com explícita e concreta fundamentação, a necessidade da imposição da custódia para
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para
assegurar a aplicação da lei penal, sem o que não se mostra razoável a privação da liberdade, ainda
41 Superior Tribunal de Justiça. QUINTA TURMA. Número Registro: 2008/0108271-0 RHC 23654 / AP . JULGADO EM:
03/02/2009. Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO.
42 HC 101.377/PR, 6ª Turma, Rel. Min. Jane Silva,Desembargadora Convocada do TJ/MG, DJU de 18/08/2008
31
que haja descumprimento de medida protetiva de urgência, notadamente em se tratando de
delitos punidos com pena de detenção. 3. Ordem concedida.43
EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A
MULHER. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. ACAUTELAMENTO DA
INTEGRIDADE FÍSICA DAS VÍTIMAS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO
EVIDENCIADO. CRIME APENADO COM DETENÇÃO. POSSIBILIDADE DE
DECRETAÇÃO DA CUSTÓDIA. INTELIGÊNCIA DO ART. 313, INCISO IV, DO CPP. 1. É legal o
decreto de prisão preventiva que, partindo da singularidade do caso concreto, assevera a necessidade de
acautelamento da integridade, sobretudo física, das vítimas, as quais, ao que consta dos autos, correm
risco de sofrerem novas ofensas físicas, em se considerando o histórico do Paciente. 2. A despeito de os
crimes pelos quais responde o Paciente serem punidos com detenção, o próprio ordenamento jurídico –
art. 313, inciso IV, do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei n.º 11.340/2006 – prevê a
possibilidade de decretação de prisão preventiva nessas hipóteses, em circunstâncias especiais, com
vistas a garantir a execução de medidas protetivas de urgência. 2. Ordem denegada...Não se perca de
vista que o próprio ordenamento jurídico – art. 313, inciso IV, do Código de Processo Penal, com a
redação dada pela Lei n.º 11.340/2006 – prevê a possibilidade de decretação de prisão preventiva mesmo
diante de crimes apenados com detenção, em circunstâncias especiais, tais como a hipótese ora em
apreço, com vistas a garantir a execução de medidas protetivas de urgência.Nesse sentido:
"CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. PRISÃO
PREVENTIVA. ARTIGO 129, §9°, DO CP, COM AS IMPLICAÇÕES DA LEI 11.340/06 (LEI
MARIA DA PENHA). ALEGAÇÃO DE DESFUNDAMENTAÇÃO DO DECRETO PRISIONAL.
INOCORRÊNCIA.DECISÃO QUE ENFRENTOU TODAS AS NUANCES DO CASO CONCRETO.
ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE NECESSIDADE DE MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA. PRISÃO
FUNDAMENTADA NANECESSIDADE DE GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA, ANTE A
PERICULOSIDADE DO AGENTE E AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO, E DA
INTEGRIDADE FÍSICA DA VÍTIMA. CIRCUNSTÂNCIAS AINDA PRESENTES, QUE IMPÕEM A
CONTINUIDADE DA CUSTÓDIA. CRIME PUNIDO COM DETENÇÃO. POSSIBILIDADE DE
DECRETAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA EM CIRCUNSTÂNCIAS ESPECÍFICAS QUE
ABARCAM O CASO CONCRETO. AUSÊNCIA DE DIREITO SUBJETIVO DO RÉU À
EXECUÇÃO DA PRISÃO INICIALMENTE EM REGIME ABERTO. ALEGAÇÃO DE EXCESSO
DE PRAZO. INSTRUÇÃO CRIMINAL CONCLUÍDA. ANDAMENTO DO PROCESSO DENTRO
DE PADRÕES RAZOÁVEIS. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. DENEGAÇÃO DA
ORDEM. DECISÃO UNÂNIME...IV - Conforme é sabido, o próprio ordenamento processual penal
prevê a possibilidade de decretação de prisão preventiva nos casos de crimes apenados com
detenção, em circunstâncias específicas que abarcam o caso dos autos. Ademais, forma de fixação
do regime inicial de cumprimento de pena não atende a pressupostos meramente aritméticos, devendo o
magistrado analisar as circunstâncias do processo para determiná-lo, não sendo direito subjetivo do réu a
execução da prisão em regime aberto.44
43 HC 100.512/MT, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, SEXTA TURMA, julgado em 03/06/2008, DJe 23/06/2008
44 Superior Tribunal de Justiça.QUINTA TURMA. Número Registro: 2009/0056969-6 HC 132379 / BA. EM MESA
JULGADO: 26/05/2009. Relatora Ministra LAURITA VAZ
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EMENTA HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. TENTATIVA DE HOMICÍDIO (ART. 121, § 2o., I
C/C ART. 14, II, AMBOS DO CPB). VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A
MULHER (LEI 11.340/06). PRISÃO PREVENTIVA EM 08.02.2008. INSTRUÇÃO
DEFICIENTE. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA NÃO
JUNTADO AOS AUTOS. EXCESSO DE PRAZO SUPERADO. INSTRUÇÃO CRIMINAL
ENCERRADA. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DO WRIT. ORDEM DENEGADA...
Discute-se a legalidade do encarceramento do paciente, preso em 08.02.2008 e denunciado por tentativa
de homicídio e violência doméstica e familiar contra a sua namorada (art. 121, § 2o., I c/c art. 14, II,
ambos do CPB c/c a Lei 11.340/06), alegando-se, em síntese, (a) falta de fundamentação idônea do
decreto de prisão preventiva e (b) excesso de prazo para a finalização da instrução criminal.Encerrada a
instrução criminal, resta afastado o argumento da impetração relativo ao excesso de prazo,
aplicando-se, na espécie, a Súmula 52 desta Corte, segundo a qual, finda a instrução criminal, fica
superada a alegação do constrangimento ilegal da prisão por excesso de prazo para formação da
culpa..45
HABEAS CORPUS – CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA PROCESSADO PELO JUIZADO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – NULIDADE – NÃO
OCORRÊNCIA – LIBERDADE PROVISÓRIA – CRIME HEDIONDO – IMPOSSIBILIDADE –
ORDEM DENEGADA. - Ressalvada a competência do Júri para julgamento do crime doloso contra a
vida, seu processamento, até a fase de pronúncia, poderá ser pelo Juizado de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher, em atenção à Lei 11.340/06. - Não há possibilidade de concessão da
liberdade provisória, em crimes hediondos, apesar da modificação da Lei 8.072/90, pois a
proibição deriva da inafiançabilidade dos delitos desta natureza, trazida pelo artigo 5º, XLIII, da
Constituição Federal. - Tratando-se de paciente preso em flagrante, pela prática, em tese, de crime
hediondo, mostra-se despicienda a fundamentação do decisum que manteve a medida constritiva
de liberdade nos termos exigidos para a prisão preventiva propriamente dita, não havendo que ser
considerada a presença de circunstâncias pessoais supostamente favoráveis ao paciente, ou
analisada a adequação da hipótese à inteligência do art. 312 do CPP. - Denegaram a ordem,
ressalvado o posicionamento da Relatora. 46
EMENTA: RECURSO EM HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. LESÃO CORPORAL E
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. LEI MARIA DA PENHA.
PRISÃO EM FLAGRANTE DELITO EM 24.12.08. INDEFERIMENTO DO PEDIDO DE
LIBERDADE PROVISÓRIA. MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR
FUNDAMENTADA. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. NOTÍCIA DE AGRESSÕES
ANTERIORES. RISCO CONCRETO DE REITERAÇÃO CRIMINOSA. PROTEÇÃO DA VÍTIMA.
PARECER MINISTERIAL PELO DESPROVIMENTO DO RECURSO. RECURSO DESPROVIDO.
45 Superior Tribunal de Justiça. QUINTA TURMA. Número Registro: 2009/0032558-9 HC 129467 / MT. JULGADO EM:
04/02/2010
46 HC 73.161/SC, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), QUINTA TURMA,
julgado em 29/08/2007, DJ 17/09/2007 p. 317
33
1. Sendo induvidosa a ocorrência do crime e presentes suficientes indícios de autoria, não há ilegalidade
na decisão que mantém a custódia cautelar do paciente, se presentes os temores receados pelo art. 312
do CPP. 2. In casu, além de comprovada a materialidade do delito e de indícios suficientes de autoria, a
prisão cautelar foi decretada para garantia da ordem pública, havendo fundado risco de reiteração
criminosa, uma vez que há notícia nos autos de que o recorrente teria agredido a vítima por, pelo menos,
duas outras vezes e demonstrou comportamento agressivo quando da sua prisão em flagrante.3. A
preservação da ordem pública não se restringe às medidas preventivas da irrupção de conflitos e
tumultos, mas abrange também a promoção daquelas providências de resguardo à integridade das
instituições, à sua credibilidade social e ao aumento da confiança da população nos mecanismos oficiais
de repressão às diversas formas de delinqüência. 4. Recurso Ordinário desprovido, em conformidade
com o parecer ministerial.47
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. AMEAÇA. CRIME PRATICADO CONTRA
MULHER NO ÂMBITO DOMÉSTICO E FAMILIAR. LEI MARIA DA PENHA. PRISÃO EM
FLAGRANTE REGULAR. MEDIDA PROTETIVA DESCUMPRIDA. REITERAÇÃO DAS
AMEAÇAS. PERIGO PARA A SAÚDE FÍSICA E MENTAL DA VÍTIMA. PRISÃO
PREVENTIVA. EXCESSO DE PRAZO NA FORMAÇÃO DA CULPA. PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE. ORDEM DENEGADA. 1. Aquele que é pego por policiais em frente à casa da
vítima, após a notícia de que transitava no local proferindo ameaças de morte, encontra-se em estado de
flagrância. (Inteligência do artigo 302 do CPP).2. Antes que a condenação transite em julgado, a medida
protetiva derivada da Lei Maria da Penha, imposta para a proteção da vítima por decisão judicial, vige e,
obrigatoriamente, deve ser cumprida. 3. A ameaça de morte à ex-esposa, depois de ter respondido a
processo criminal pelo mesmo motivo, constitui reiteração criminosa e caracteriza a necessidade de
garantir a instrução criminal com suporte em dados concretos dos autos. 4. A possibilidade real de o
paciente cumprir as ameaças de morte dispensadas a sua ex-esposa basta como fundamento para a sua
segregação, sobretudo ante a disciplina protetiva da Lei Maria da Penha, que visa a proteção da saúde
mental e física da mulher. 5. À luz do princípio da razoabilidade, o excesso de prazo no término da
instrução probatória é justificável em um procedimento complexo, o que impõe o alargamento dos
prazos. 6. Ordem denegada. 48
EMENTA. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. AMEAÇA. LEI MARIA DA PENHA.
MEDIDA PROTETIVA. PRISÃO PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. 1. A
prisão cautelar, assim entendida aquela que antecede a condenação transitada em julgado, só pode ser
imposta se evidenciada a necessidade da rigorosa providência. 2. Na hipótese, a decisão que decretou a
custódia do paciente se justifica não apenas pelo descumprimento da medida protetiva anteriormente
imposta, mas também porque baseada na possibilidade concreta de ofensa física à vítima. 3. Diante da
47 QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, Brasília/DF, 08 de setembro de 2009 (Data do Julgamento).
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, MINISTRO RELATOR.RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 26.308 - DF
(2009/0119512-8)
48 HC 101.377/PR, Relatora a Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO
TJ/MG), DJe 18.8.2008.
34
presença dos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal e, em especial, da necessidade de
assegurar a aplicação das medidas protetivas elencadas pela Lei Maria da Penha, a prisão cautelar do
agressor é medida que se impõe. 4. Ordem denegada. Trata-se de habeas corpus , substitutivo de recurso
ordinário, com pedido de liminar, impetrado em favor de Edinaldo José da Silva, contra acórdão
proferido pela Primeira Câmara do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso, que restou assim
ementado: HABEAS CORPUS - AMEAÇA - VIOLÊNCIA NO ÂMBITO DOMÉSTICO OU FAMILIAR
(LEI Nº 11.340/06) – MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA IMPOSTAS - DESCUMPRIMENTO -
PRISÃO PREVENTIVA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA - NECESSIDADE DE GARANTIR A
ORDEM PUBLICA E A INSTRUÇÃO CRIMINAL - ARTS. 312 E 313, INCISO IV DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL - CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE - ORDEM DENEGADA. A
personalidade violenta do agente evidenciada pela reiteração no cometimento dos delitos de ameaça e
lesão corporal contra sua ex-amásia, não obstante já tenha sido cientificado das medidas protetivas de
urgência impostas em seu desfavor, justifica a prisão cautelar, nos termos dos arts. 312 e 313, inciso IV
do Código de Processo Penal. (fl. 102). A prisão cautelar, assim entendida aquela que antecede a
condenação transitada em julgado, só pode ser imposta se evidenciada a necessidade da rigorosa
providência. No caso dos autos, colhe-se o inteiro teor do acórdão recorrido, que manteve a custódia
com a seguinte fundamentação: "(...) Ao que consta dos autos o Paciente responde a outras duas ações
de mesma natureza no Juízo a quo, além da que deu origem a estes habeas corpus (41/2008), tanto pelo
crime de ameaça quanto de lesão corporal (nº 38/2008 e nº 39/2008), tendo como vítima Jossara Joana
de Oliveira, ex-amásia e mãe de um filho do Paciente, circunstância que rechaça, de plano, a alegação
de que não incide in casu as disposições da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). (...) Ao decidir
pela manutenção da prisão preventiva o douto magistrado, ainda que sucintamente, apresentou
fundamentos concretos a justificá-la nos termos do art. 312 e 313, inciso IV do Código de Processo
Penal, ao expor: “(...) Em que pese a pequena ofensividade do delito de ameaça, o fato é que, no
presente caso, o réu tem feito da vida da vítima um verdadeiro inferno, chegando ao cúmulo do que se
viu nesses autos, ou seja, a vítima fazer uma declaração retratando-se do pedido de medidas protetivas,
somente por medo do acusado, que, na verdade, continuava a ameaçá-la, até mesmo do interior da
cadeia pública onde estava preso, conforme relatado no termo de declarações colhido perante a
Promotoria de Justiça (...) Dessa forma, o que se pode constatar é que, sendo o delito de ameaça um
meio-termo para a ocorrência de crimes mais graves, como lesões corporais e até homicídio, tem-se,
pelo nível das ameaças do réu, que ele de fato está resolvido a cometer os crimes que promete praticar.
Dessa forma, sua prisão se justifica com vistas à garantia da ordem pública, conceito que visa
exatamente o acautelamento da sociedade, mediante o recolhimento de indivíduos considerados
perigosos ao convívio social, já que, se colocados em liberdade, existe uma grande possibilidade de que
venham a cometer novos delitos”. Logicamente, a prisão preventiva também se justifica com a
finalidade de garantir a execução das medidas protetivas concedidas à vítima, já que o réu, mesmo
intimado de tais medidas, simplesmente ignorou solenemente a determinação judicial, continuando, e
ainda com mais agressividade, a praticar o crime pelo qual foi denunciado.” (feito nº fls. 06-07, via fac-
símile; fls. 25-26, via original). Ressalta-se que o artigo 22 da Lei nº 11.340/2006, prevê medidas
alternativas à prisão, de modo que nas hipóteses de incidência da Lei Maria da Penha a custódia tem
como pressuposto legal o descumprimento das medidas protetivas de urgência, a teor do disposto no
artigo 313, inciso IV do Código de Processo Penal.Como se vê, a decretação da prisão preventiva com
apoio na Lei nº 11.340/2006, é necessária para assegurar os direitos da ofendida, ou quando o
agressor descumpre medidas protetivas lhe impostas, ainda mais se evidenciado a necessidade de
garantir a ordem pública e assegurar instrução criminal, como é o caso dos autos.(...) Assim sendo, ao
35
contrário do que sustentam os Impetrantes, estão plenamente demonstrados e caracterizados os motivos
ensejadores da manutenção da prisão preventiva (art. 312 e 313, inciso IV do Código de Processo
Penal)." (fls. 104/107, grifei). Verifica-se que a custódia cautelar foi suficientemente fundamentada na
necessidade de garantia da ordem pública e por conveniência da instrução criminal. Diante da notícia de
que o acusado, mesmo após cientificado das medidas protetivas concedidas à vítima, continuou a
ameaçar esta e seu amásio, resta evidenciada sua periculosidade social. Não bastasse isso, a decisão que
decretou a prisão do paciente se justifica não apenas pelo descumprimento da medida protetiva
anteriormente imposta, mas também porque baseada na possibilidade concreta de ofensa física à vítima,
in verbis : "Por outro lado, verifica-se dos autos que o réu, mesmo cientificado das conseqüências do
descumprimento das medidas protetivas impostas a ele, continuou a ameaçar a sua ex-amásia e o atual
namorado dela, que,inclusive, compareceram na Promotoria de Justiça para mostrar mensagens
ameaçadoras que o réu havia lhes mandado, por celular. (...) Não bastasse isso, também colhe-se dos
autos que o réu denota ser pessoa violenta e agressiva, pois, mesmo diante de uma ordem judicial,
continua a praticar ameaças contra as vítimas, as quais poderão se concretizar a qualquer momento,
bem como, se estender a eventuais testemunhas, se não houver uma intervenção da Justiça." (fl. 66).
Diante da presença dos requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal e, em especial, da
necessidade de assegurar a aplicação das medidas protetivas elencadas pela Lei Maria da Penha, a
prisão cautelar do agressor é medida que se impõe.(...) À vista do exposto, denego a ordem.49
HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL. AMEAÇA E CÁRCERE PRIVADO. LEI MARIA DA
PENHA. PRISÃO PREVENTIVA. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO.
GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. PERICULOSIDADE DO AGENTE. MODUS OPERANDI
DAS CONDUTAS CRIMINOSAS. EMPREGO DE DESMEDIDA VIOLÊNCIA.1. Observa-se que o
decreto prisional encontra-se arrimado na periculosidade do paciente, evidenciada pelo modus operandi
dos delitos, praticados de forma cruel e violenta, pois, segundo consta, ele, que é professor de lutas
marciais, agrediu sua ex-namorada com socos, pontapés, apertões no pescoço e coronhadas de revólver,
lançando-lhe, ainda, um banco de madeira e uma escada de ferro. E, ainda, ameaçou a ofendida
mediante o emprego de arma de fogo, por, aproximadamente, três horas, mantendo-a em cárcere
privado. 2. O decreto objetiva, sobretudo, resguardar a ordem pública, retirando do convívio social
aquele que, diante dos meios de execução utilizados nas práticas delituosas, demonstra ser dotado de alta
periculosidade. 3. De outra parte, eventuais condições favoráveis, tais como primariedade, bons
antecedentes, residência fixa e emprego lícito, não impedem a segregação cautelar, quando decretada
com observância do disposto no art. 312 do Código de Processo Penal. 4. Ordem denegada.50
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. PRONÚNCIA.
MANUTENÇÃO. ALEGADA AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO DO DECRETO
PRISIONAL. IMPROCEDÊNCIA. FUGA DO PACIENTE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
INEXISTENTE. ORDEM DENEGADA. Não há falar-se em constrangimento ilegal consubstanciado
na falta de fundamentação do decreto de prisão quando há motivação satisfatória, com elementos
concretos do processo, de modo a demonstrar a necessidade da medida para a aplicação da lei penal. A
49
Superior Tribunal de Justiça . HABEAS CORPUS Nº 109.674 - MT (2008/0140371-5). RELATOR: MINISTRO
OG FERNANDES
50 STJ.HC 115.607/RJ, Rel. Min. OG FERNANDES,DJe 08.06.09
36
fuga da paciente do distrito da culpa demonstra a sua vontade de se furtar da aplicação da lei
penal e obstruir o regular andamento da instrução criminal. A alegação de que o paciente possui
residência fixa e emprego regular não é suficiente para afastar a necessidade da prisão processual, tendo
em vista a existência de elementos outros aptos a autorizar a segregação. Ordem denegada.51
PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 121, § 2º, I e IV DO CP. PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO. I - Tendo o paciente demonstrado inequívoca vontade de se furtar à
aplicação da lei penal, é de ser mantida a sua constrição cautelar. (Precedentes desta Corte e do
Pretório Excelso).II - Condições pessoais favoráveis não têm o condão de, por si só, garantirem ao
paciente a liberdade provisória, se há nos autos outros fundamentos que recomendam a manutenção de
sua custódia cautelar. (Precedentes). Writ denegado.52
EMENTA PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. CRIMES DA LEI MARIA DA PENHA.
CUSTÓDIA CAUTELAR. REQUISITOS DO ART. 312 DO CPP. ORDEM PÚBLICA. ORDEM
DENEGADA. 1. Inexiste constrangimento ilegal quando devidamente fundamentada a custódia
cautelar no art. 312 do CPP, reconhecidos os pressupostos autorizadores, tais como inequívoco
propósito de se ocultar, reiteração da conduta delituosa e histórico de agressões e violências
desferidas contra a companheira. 2. Ordem denegada. Vê-se deste histórico que o requerido é pessoa
violenta e que está a ameaçar a companheira de morte, inclusive com tentativa nesse sentido, o que
está a exigir uma pronta resposta do Poder Público, pena de permitir-se que ele concretize o ato.
Há (sic) aplicação de medida extrema se mostra necessária para garantia da integridade da vítima e seus
filhos menores. Na forma do art. 20 da Lei n.º 11.340/2006, a prisão pode ser decretada como
forma de impedir que algo mais grave aconteça à companheira. Assim, a custódia cautelar,
fundamentada em elementos concretos, foi decretada para garantia da ordem pública, tendo em vista o
histórico de agressões e violências desferidas contra a companheira e filhos, expostos a perigo se posto
em liberdade o paciente.53
7- Irretroatividade da Lei 11.340/2006
EMENTA: A LEI MARIA DE PENHA CONTÉM DISPOSIÇÕES DE DIREITO PENAL E DE
DIREITO PROCESSUAL PENAL. É MAIS GRAVOSA DO QUE A LEI N° 9.099/95, POR
IMPEDIR A CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS AO RÉU, PECULIARES AOS CRIMES DE
MENOR POTENCIAL OFENSIVO, PELO QUE NÃO PODE RETROAGIR. JUIZADO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER CRIADO POR LEI POSTERIOR
51 STJ.HC 37.361/SP, Rel. Min. PAULO MEDINA, Sexta Turma, DJ de 10/10/05
52 HC 36.593/RJ, Rel. Min. FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJ de 4/10/04
53 Superior Tribunal de Justiça. QUINTA TURMA. Número Registro: 2008/0182442-2 HC 113771 / RS. JULGADO
EM: 17/11/2009. Relator: Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA
37
AOS FATOS CRIMINOSOS. INCOMPETÊNCIA DESSE JUIZADO POR VIOLAR O PRINCÍPIO
DO JUÍZO NATURAL. MATÉRIA DE DECADÊNCIA NÃO ARGUIDA EM NENHUM MOMENTO
NÃO MERECE CONHECIMENTO. ORDEM DENEGADA. VOTO DO EXMO. SR. MINISTRO
CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/SP) (Relator): Não há, em meu
modo de sentir, nenhuma dúvida de que a Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340, de 2006) é mais
gravosa do que a Lei n° 9.099/95, porque seu artigo 41 impede, de modo expresso, a incidência da
Lei dos Juizados Especiais e, com isso, não admite a concessão de benefícios peculiares aos crimes
de menor potencial ofensivo. Ora, se os fatos tidos como criminosos datam de antes da edição da Lei
Maria da Penha e, pois, antes da instalação do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, no Recife, e sobre esse tema não existe controvérsia, realmente a ordem não pode ser
concedida, por violar o princípio do juiz natural: cometido um delito, já há um juiz competente para
processar e julgar a respectiva ação penal. Não se pode criar, depois do cometimento de um crime, um
juízo ou um tribunal para julgá-lo. Essa hipótese caracterizaria um juízo ou tribunal de exceção. A esse
respeito, confira-se José Frederico Marques, quando comentava o art.141, § 27, da Constituição Federal
de 1945, hoje reproduzido no art. 5º, inciso LIII, da Constituição Federal de 1988: No art. 141, § 27,
vem consubstanciado o princípio do juiz natural conjugado ao princípio do devido processo legal. Nele
se lê que ninguém 'será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente e na forma de
lei anterior'. Como o jus puniendi do Estado é um direito de coação indireta, não garante a
Constituição apenas o controle jurisdicional do direito de liberdade, o que estaria contido no art. 141, §
4º. A regra contida no § 27 visa assegurar, também o controle prévio da jurisdição penal:nula poena
sine judicio. Cf. "Elementos de Direito Processual Penal, vol. I, pág. 224, Ed. Millennium, 2a. edição,
2000, Campinas. Significa tal princípio que a Constituição Federal prevê, com anterioridade ao
fato criminoso, o juízo que deverá julgar o acusado. Não é, de tal arte, cabível criar um juízo para
julgar crime pretérito. Dizem os ilustres impetrantes que se trata de competência superveniente do
Juizado de Violência Doméstica, para o qual deveria a queixa-crime ser remetida. Mas, como já
ressaltado, tal procedimento implicaria na retroatividade de lei penal mais gravosa, o que é
expressamente vedado pela Constituição Federal, art. 5°, inciso, XL, nos seguintes termos: "a lei penal
não retroagirá, salvo para beneficiar o réu". Os fatos, envio de e-mails à empresa para a qual a vítima
trabalha e pelos quais eram ofendidos a dignidade e o decoro da ofendida, datam de 19/7/2006 e de
21/7/06, antes da edição da própria Lei Maria da Penha. Pela mencionada lição de Frederico Marques, se
se admitisse como competente juízo criado após a prática dos fatos criminosos, caracterizado estaria
exemplo clássico de violação ao princípio do juiz natural. Assim, os feitos em tramitação e as infrações
penais praticadas com violência doméstica e familiar contra a mulher ocorridas até o dia 21 de setembro
serão processados e julgados nos Juizados Especiais, em face da irretroatividade da lei penal nesses
casos, aplicando-se as medidas protetivas de urgência previstas na Lei nº 11.340/2006. Os artigos
13 e 41 da Lei nº 11.340/2006 vedam a aplicação da Lei nº 9.099/1995 às infrações penais
cometidas com violência doméstica e familiar contra a mulher. Desse modo, não se aplica mais o
modelo de justiça consensuada nos crimes baseados no gênero. Ou seja, não cabem transação
penal ou processual e composição civil extintiva da punibilidade. Bem por isso é que, nesse capítulo,
merece acolhida o parecer do Ministério Público Federal, especialmente porque a Lei Maria da Penha
traz normas de conteúdo penal e processual penal. Em rigor, as normas processuais penais se aplicam
imediatamente, ainda que mais rigorosas,apanhando a ação penal na fase em que se encontra. Como,
38
porém, referida lei também traz normas de conteúdo penal, incabível sua retroatividade...Em face do
exposto, denego a ordem.54
8- Conflito de Competência
EMENTA: CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE TRIBUNAL DE JUSTIÇA E
TURMA RECURSAL DO MESMO ESTADO. HIPÓTESE DE NÃO CONHECIMENTO.
CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE JUIZADOS ESPECIAIS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA MULHER DO MESMO TRIBUNAL. COMPETÊNCIA DO RESPECTIVO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA SUA APRECIAÇÃO. DECISÃO DO TRIBUNAL QUE
AFASTA A SUA COMPETÊNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. 1. Inexiste
conflito de competência entre Tribunal de Justiça e Turma Recursal de Juizado Especial Criminal no
âmbito do mesmo Estado, tendo em vista que este não se qualifica como Tribunal. 2. No caso,
conquanto não haja conflito, configura-se constrangimento ilegal a decisão do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro que declina de sua competência para processar e julgar conflito de
competência instaurado entre Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, do mesmo
Estado, determinando a remessa à Turma Recursal. 3. Conflito de competência não conhecido. Habeas
corpus concedido de ofício para determinar que o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aprecie o
conflito negativo de competência instaurado entre o Primeiro e o Terceiro Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher. VOTO DO SR. MINISTRO OG FERNANDES (RELATOR):
O Supremo Tribunal Federal, por ocasião do julgamento do RE 590.409/RJ, em 26/8/09, cuja relatoria
coube ao Ministro Ricardo Lewandowski, entendeu que compete ao Tribunal Regional Federal o
julgamento de conflito de competência estabelecido entre Juizado Especial Federal e Juiz de primeiro
grau da Justiça Federal da mesma Seção Judiciária. O aresto foi assim ementado: CONFLITO
NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL E JUÍZO FEDERAL DE PRIMEIRA
INSTÂNCIA, PERTENCENTES À MESMA SEÇÃO JUDICIÁRIA. JULGAMENTO AFETO AO
RESPECTIVO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL. JULGAMENTO PELO STJ. INADMISSIBILIDADE.
RE CONHECIDO E PROVIDO. I. A questão central do presente recurso extraordinário consiste em
saber a que órgão jurisdicional cabe dirimir conflitos de competência entre um Juizado Especial e um
Juízo de primeiro grau, se ao respectivo Tribunal Regional Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça.
II - A competência STJ para julgar conflitos dessa natureza circunscreve-se àqueles em que estão
envolvidos tribunais distintos ou juízes vinculados a tribunais diversos (art. 105, I, d, da CF). III - Os
juízes de primeira instância, tal como aqueles que integram os Juizados Especiais estão vinculados ao
respectivo Tribunal Regional Federal, ao qual cabe dirimir os conflitos de competência que surjam
54 HABEAS CORPUS Nº 152.465 - PE (2009/0216066-2). A Egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe
na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "Após o voto do Sr. Ministro Relator denegando a ordem, pediu
vista o Sr. Ministro Haroldo Rodrigues (Desembargador convocado do TJ/CE). Aguardam os Srs. Ministros Nilson Naves,
Maria Thereza de Assis Moura e Og Fernandes."Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Nilson Naves. Brasília, 02 de março de
2010.
39
entre eles. IV - Recurso extraordinário conhecido e provido. Do voto condutor do acórdão, colhe-se as
seguintes passagens: Observo, ainda, por oportuno, que a Constituição não arrola as Turmas Recusais
dentre os órgãos do Poder Judiciário, os quais são por ela discriminados, em numerus clausus, no
art. 92. Apenas lhes outorga, no art. 98, I, a incumbência de julgar os recursos provenientes dos
Juizados Especiais Vê-se, assim, que a Carta Magna não conferiu às Turmas Recursais, sabidamente
integradas por juízes de primeiro grau, a natureza de órgãos autárquicos do Poder Judiciário, e nem
tampouco a qualidade de tribunais , como também não lhes outorgou qualquer autonomia com
relação aos Tribunais Regionais Federais. É por essa razão que, contra suas decisões, não cabe
recurso especial ao Superior Tribunal de Justiça, a teor da Súmula 203 daquela Corte, mas tão somente
recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal, nos temos de sua Súmula 640. Isso ocorre,
insisto, porque elas constituem órgãos recursais ordinários de última instância relativamente às
decisões dos Juizados Especiais, mas não tribunais, requisito essencial para que se instaure a
competência especial do STJ...Por tais argumentos, concluo que não cabe ao Superior Tribunal de
Justiça julgar conflitos de competência entre Juizados Especiais e juízes de primeiro grau da Justiça
Federal de uma mesma Seção Judiciária (destaquei). Tal entendimento acabou por se refletir no
julgamento do Conflito de Competência nº 107.635/PR, de relatoria do Ministro Luiz Fux que, na
assentada no dia 17/3/10, deliberou pelo cancelamento da Súmula 348 desta Corte. Tenho comigo que o
mesmo raciocínio deve ser feito em relação a eventual conflito que venha a ser suscitado entre Tribunal
de Justiça e Turma Recursal Criminal do mesmo Estado, como no caso vertente. Aliás, nesse sentido
foi o entendimento da Terceira Seção, quando do julgamento do Conflito de Competência nº 90.072/SP,
de relatoria do Ministro Arnaldo Esteves Lima (DJe de 30/4/10) que recebeu esta ementa:
PROCESSUAL PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA ENTRE TRIBUNAL DE
JUSTIÇA E TURMA RECURSAL DO MESMO ESTADO . CONFLITO NÃO CONHECIDO.
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO INTERPOSTO CONTRA DECISÃO DE JUÍZO DE 1º GRAU DA
JUSTIÇA COMUM. COMPETÊNCIA DO RESPECTIVO TRIBUNAL DE JUSTIÇA PARA SUA
APRECIAÇÃO. DECISÃO DO TRIBUNAL QUE AFASTA A SUA COMPETÊNCIA.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE OFÍCIO .
1. Não compete a esta Corte Superior conhecer do conflito de competência instaurado entre Tribunal
de Justiça e Colégio Recursal de Juizado Especial Criminal no âmbito do mesmo Estado, tendo em
vista que este não se qualifica como Tribuna l. (RE 590.409/RJ, Min. Rel. RICARDO
LEWANDOWSKI). 2. O entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo é no sentido de
ser competente o Colégio Recursal para processar e julgar Recurso em Sentido Estrito interposto
contra decisão proferida por autoridade judiciária investida de competência comum ordinária, tendo
em vista que o processo principal versa sobre delito de menor potencial ofensivo. 3. Sendo o réu
processado por Juízo de 1º Grau da Justiça Comum, ainda que se trata de delito de menor potencial
ofensivo, cabe ao respectivo Tribunal de Justiça analisar os recursos eventualmente interpostos. 4.
Configura constrangimento ilegal a decisão do Tribunal de Justiça que afirma a competência da Turma
Recursal para apreciar Recurso em Sentido Estrito contra decisão de Juízo de 1º Grau da Justiça
Comum.5. Conflito de competência não conhecido. Habeas corpus concedido, de ofício, para anular o
acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e determinar que aprecie o Recurso em Sentido
Estrito interposto perante ele. Diante do exposto, não há conflito de competência a ser dirimido,
tendo em vista que a Turma Recursal Criminal não possui qualidade de Tribunal, sendo instituído
pelo respectivo Tribunal de Justiça e estando a ele subordinado administrativamente. Entretanto,
observo que a Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha) afastou a competência da Turma Recursal ao
determinar a não aplicação da Lei nº 9.099/95, criando mecanismos para coibir a violência
40
doméstica com o objetivo de dar maior proteção da mulher no âmbito de suas relações. Dessa
forma, compete ao Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro decidir acerca das questões
relativas à violência doméstica contra a mulher.Ante o exposto, não conheço do conflito de
competência, porém concedo habeas corpus de ofício a fim de determinar que o Tribunal de Justiça do
Estado do Rio de Janeiro aprecie o conflito negativo de competência instaurado entre o Primeiro e o
Terceiro Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.55
PROCESSO PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. PRÉVIO
CONFLITO ENTRE JECRIM E JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. COMPETÊNCIA
DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 1. Compete ao Tribunal de Justiça, e não à Turma Recursal, dirimir
conflito de competência entre juizado especial criminal e juizado de violência doméstica e familiar
contra a mulher. 2. Conflito conhecido para declarar competente o TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO, o suscitado.56
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LESÃO CORPORAL LEVE
PERPETRADA NO ÂMBITO DE RELAÇÃO DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA
MULHER. COMPETÊNCIA DA VARA CRIMINAL NOS TERMOS DO ART. 33 DA LEI Nº
11.340/06. IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.099/95. PEÇA INAUGURAL QUE
ATENDE AOS REQUISITOS LEGAIS EXIGIDOS. AMPLA DEFESA GARANTIDA. INÉPCIA
NÃO EVIDENCIADA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. JUSTA CAUSA. VIA
INADEQUADA. INEXISTÊNCIA DE COAÇÃO ILEGAL A SER SANADA NA OPORTUNIDADE.
INEFICÁCIA DA RENÚNCIA À REPRESENTAÇÃO APÓS O RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
RECURSO IMPROVIDO. 1. A apreciação e julgamento de toda infração doméstica e familiar
contra a mulher é da competência da Vara Criminal até que sejam criados os Juizados de
Violência Doméstica e Familiar, como ocorre na hipótese em apreço, em que a ação penal a qual
responde o recorrente tramita perante a 12ª Vara Criminal da comarca de Goiânia/GO, não se
podendo falar em competência do Juizado Especial Criminal para apreciar os feitos dessa
natureza em razão da vedação expressa trazida pela Lei Maria da Penha em seu art. 41. Recurso
improvido... o art. 14 da Lei nº 11.340/06 dispõe que "Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados
pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a
execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher". Já o
art. 33 determina que: Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para
conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,
55 CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 110.530 - RJ (2010/0024258-2), acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do conflito, e conceder habeas corpus de ofício, para determinar que o
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro aprecie o conflito negativo de competência instaurado entre o Primeiro e o Terceiro
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Votaram com o
Relator os Srs. Ministros Celso Limongi (Desembargador convocado do TJ/SP), Haroldo Rodrigues (Desembargador
convocado do TJ/CE), Felix Fischer, Arnaldo Esteves Lima, Maria Thereza de Assis Moura, Napoleão Nunes Maia Filho e
Jorge Mussi. Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Laurita Vaz.
56 CC 110.609/RJ, Rel. Min. Maria Thereza Assis Moura, DJ 28/4/10
41
observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.
Interpretando-se sistematicamente os mencionados dispositivos, verifica-se que a Lei Maria da Penha
fixou a competência das Varas Criminais para apreciar e julgar as causas decorrentes da prática
de violência ocorrida no âmbito doméstico contra a mulher, enquanto não estruturados os
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Ademais, o art. 41 da citada norma
dispôs que "aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995", isto é, o
mencionado dispositivo deve ser interpretado de acordo com a intenção do legislador de punir, de forma
mais dura, a conduta de quem comete violência doméstica contra a mulher, afastando de forma expressa
a aplicação da Lei dos Juizados Especiais. Portanto, conclui-se que a apreciação e julgamento de toda
infração doméstica e familiar contra a mulher é da competência da Vara Criminal até que sejam criados
os Juizados de Violência Doméstica e Familiar, como ocorre na hipótese em apreço, em que a ação
penal a qual responde o recorrente tramita perante a 12ª Vara Criminal da comarca de Goiânia/GO, não
se podendo falar em competência do Juizado Especial Criminal para apreciar os feitos dessa natureza,
em razão da vedação expressa trazida pela Lei Maria da Penha. Acerca do tema, leciona o doutrinador
Guilherme de Souza Nucci, in verbis: "os crimes praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher não são de menor potencial ofensivo, pouco importando o quantum da pena, motivo
pelo qual não se submetem ao disposto na Lei 9099/95. Embora severa, a disposição do art. 41, é
constitucional. Em primeiro plano, porque o art. 98, I, da Constituição Federal, delegou a Lei a
conceituação de infração de menor potencial ofensivo e as hipóteses em que se admite a transação.
Em segundo lugar, pelo fato de se valer do princípio da isonomia e na da igualdade literal, ou seja,
deve-se tratar desigualmente os desiguais. Em terceiro prisma, esse é o resultado, em nosso ponto de
vista, da má utilização pelo Judiciário, ao longo do tempo, de benefício criado pelo legislador. Em
outros termos, tantas foram as transações feitas, fixando, como obrigação para os maridos ou
companheiros agressores de mulheres no lar, a doação de cestas básicas (pena inexistente na
legislação brasileira), que a edição da Lei 11340/2006 tentou, por todas as formas, coibir tal abuso de
brandura, vedando a 'pena de cesta básica', além de outros benefícios (art. 17 desta Lei), bem como
impondo a inaplicabilidade da Lei 9.099/95" (Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 1147).57
"CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E
FAMILIAR CONTRA A MULHER (LEI 11.340/06). VIAS DE FATO. JUIZADO ESPECIAL E
VARA CRIMINAL. PREVISÃO EXPRESSA DE AFASTAMENTO DA LEI DOS JUIZADOS
ESPECIAIS (LEI 9.099/95). ARTS. 33 E 41 DA LEI 11.340/06. PARECER DO MPF PELA
COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE. CONFLITO CONHECIDO, PARA DECLARAR A
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA INFÂNCIA E JUVENTUDE
DE ITAJUBÁ/MG, O SUSCITANTE. "1. A conduta atribuída ao companheiro da vítima amolda-
se, emtese, ao disposto no art. 7º., inciso I da Lei 11.340/06, que visa a coibir a violência física,
entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou a saúde corporal da mulher. "2.
Ao cuidar da competência, o art. 41 da Lei 11.340/06 (Lei Maria da Penha) estabelece que, aos
crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
57
Superior Tribunal de Justiça RECURSO EM HABEAS CORPUS Nº 23.047 - GO (2008/0024886-7) MINISTRO JORGE
MUSSI (Relator)
42
pena prevista, não se aplica a Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados Especiais Criminais). O art. 33 da
citada Lei, por sua vez, dispõe que enquanto não estiverem estruturados os Juizados de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, as Varas Criminais acumularão as competências cível e
criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes de violência doméstica. "3. Afastou-se,
assim, em razão da necessidade de uma resposta mais eficaz e eficiente para os delitos dessa
natureza, a conceituação de crimes de menor potencial ofensivo, punindo-se mais severamente
aquele que agride a mulher no âmbito doméstico ou familiar. "4. A definição ou a conceituação de
crimes de menor potencial ofensivo é da competência do legislador ordinário, que, por isso, pode excluir
alguns tipos penais que em tese se amoldariam ao procedimento da Lei 9.099/95, em razão do quantum
da pena imposta, como é o caso de alguns delitos que se enquadram na Lei 11.340/06, por entender que
a real ofensividade e o bem jurídico tutelado reclamam punição mais severa. "5. Parecer do MPF pelo
conhecimento e declaração da competência do Juízo suscitante. "6. Conflito conhecido, para declarar a
competência do Juízo de Direito da Vara Criminal da Infância e Juventude de Itajubá/MG, o
suscitante”58
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
CONTRAVENÇÃO PENAL (VIAS DE FATO). ARTS. 33 E 41 DA LEI MARIA DA PENHA.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DA VARA CRIMINAL. 1. Apesar do art. 41 da Lei 11.340/2006
dispor que "aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995", a
expressão "aos crimes" deve ser interpretada de forma a não afastar a intenção do legislador de
punir, de forma mais dura, a conduta de quem comete violência doméstica contra a mulher,
afastando de forma expressa a aplicação da Lei dos Juizados Especiais. 2. Configurada a conduta
praticada como violência doméstica contra a mulher, independentemente de sua classificação
como crime ou contravenção, deve ser fixada a competência da Vara Criminal para apreciar e
julgar o feito, enquanto não forem estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher, consoante o disposto nos arts. 33 e 41 da Lei Maria da Penha.3. Conflito
conhecido para declarar-se competente o Juízo de Direito da Vara Criminal de Vespasiano-MG, o
suscitado...Primeiramente, necessário ressaltar-se que a conduta em tese praticada pelo autor do fato
contra a vítima (contravenção de vias de fato no âmbito de relação familiar), subsume-se perfeitamente
ao disposto no art. 7º, inciso I, da Lei nº 11.340/2006, o qual transcreve-se, in verbis : "Art. 7º São
formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: I - a violência física, entendida
como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal".Fixada tal premissa, passa-se à
análise da controvérsia estabelecida no presente conflito: se as contravenções penais estão ou não
incluídas na competência das Varas Criminais, fixada pela Lei Maria da Penha em seu art. 33. O art. 14
da citada lei dispõe que "Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da
Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito
Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher”. Já o art. 33 determina que:
Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as
varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do
58 CC 96522/MG, rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Terceira Seção, p. no DJe de 19-12-2008.
43
Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Interpretando-se
sistematicamente os mencionados dispositivos, verifica-se que Lei não diferenciou as causas de
natureza cível das criminais, de menor potencial ofensivo ou não, de crime ou contravenção,
fixando a competência das Varas Criminais para apreciar e julgar mencionados feitos, enquanto
não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.Assim, apesar do
art. 41 da citada norma dispor que "aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995",
a expressão "aos crimes" deve ser interpretada de forma a não afastar a intenção do legislador de punir,
de forma mais dura, a conduta de quem comete violência doméstica contra a mulher, afastando de forma
expressa a aplicação da Lei dos Juizados Especiais. Portanto, conclui-se que a apreciação e julgamento
de toda infração doméstica e familiar contra a mulher, seja tipificada como crime ou contravenção penal,
é da competência da Vara Criminal até que sejam criados os Juizados de Violência Doméstica e
Familiar.59
EMENTA. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL E JUIZ DE
DIREITO. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LESÕES CORPORAIS LEVES PRATICADAS
CONTRA DESCENDENTE. ART. 129, § 9o. DO CPB, COM A REDAÇÃO DADA PELA LEI
11.340/06. PENA MÁXIMA SUPERIOR A 2 ANOS. PERDA DO CARÁTER DE CRIME DE
MENOR POTENCIAL OFENSIVO. PARECER DO MPF PELA COMPETÊNCIA DO JUIZ DE
DIREITO. CONFLITO CONHECIDO, PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO DE DIREITO
DA 1A. VARA CRIMINAL DE PONTA GROSSA/PR, O SUSCITADO. 1. A Lei 11.340/06 (Lei
Maria da Penha), por seu art. 44, aumentou para três anos de detenção a pena máxima referente ao crime
de lesão corporal qualificada, prevista no parágrafo 9o. do artigo 129 do Código Penal. 2. Assim,
retirou-se a possibilidade de o crime em questão ser julgado pelo Juizado Especial Criminal, ainda que
se trate de lesão leve ou culposa (porquanto não há qualquer ressalva nesse sentido no dispositivo
supracitado, em face do disposto no art. 61 da Lei 9.099/90, que define como de menor potencial
ofensivo apenas os crimes e as contravenções penais a que a lei comine pena máxima não superior a 2
(dois) anos, cumulada ou não com multa. 3. Parecer do MPF pela competência do Juízo suscitado. 4.
Conflito conhecido, declarando-se competente o Juízo da 1a. Vara Criminal da Comarca de Ponta
Grossa/PR, o suscitado.60
59
Superior Tribunal de Justiça. 13 de maio de 2009. (Data do Julgamento). MINISTRO JORGE MUSSI Relator. CONFLITO
DE COMPETÊNCIA Nº 102.571 - MG (2009/0010292-0)
60 Superior Tribunal de Justiça. TERCEIRA SEÇÃO. Número Registro: 2008/0261936-5 CC 101272 / PR. JULGADO EM:
16/02/2009. Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
44
9- Autores e vítimas de violência doméstica
EMENTA. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E JUIZ
DE DIREITO. CRIME COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER.
AGRESSÕES MÚTUAS ENTRE NAMORADOS SEM CARACTERIZAÇÃO DE SITUAÇÃO
DE VULNERABILIDADE DA MULHER. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 11.340/06. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL. 1. Delito de lesões corporais envolvendo
agressões mútuas entre namorados não configura hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06, que
tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou
vulnerabilidade. 2. Sujeito passivo da violência doméstica objeto da referida lei é a mulher. Sujeito
ativo pode ser tanto o homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação
doméstica, familiar ou de afetividade, além da convivência, com ou sem coabitação. 2. No caso,
não fica evidenciado que as agressões sofridas tenham como motivação a opressão à mulher, que é
o fundamento de aplicação da Lei Maria da Penha. Sendo o motivo que deu origem às agressões
mútuas o ciúmes da namorada, não há qualquer motivação de gênero ou situação de
vulnerabilidade que caracterize hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06. 3. Conflito conhecido
para declarar competente o Juízo de Direito do Juizado Especial Criminal de Conselheiro Lafaiete/MG.
Superior Tribunal de Justiça. VOTO DO RELATOR: A nova lei refere-se a crimes praticados com
violência familiar contra a mulher, deixando de prever delitos da mesma natureza praticados contra
homem ou contra qualquer outro tipo de pessoa. Infere-se, desta forma, que o legislador tem em
conta a mulher, numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou inferioridade física e
econômica em relações patriarcais. O escopo da lei é a proteção da mulher em situação de fragilidade
diante do homem (ou mulher) em decorrência de qualquer relação íntima, com ou sem coabitação, em
que possa ocorrer atos de violência contra esta mulher. O sujeito ativo da violência doméstica tanto
pode ser o homem quanto a mulher, em virtude do parágrafo único do art. 5º estabelecer que as
relações pessoais independem de orientação sexual. Segundo a corrente defendida por vários juristas,
dentre eles Sergio Ricardo de Souza (SOUZA, Sergio Ricardo de. Comentários à Lei de Combate à
Violência Contra a Mulher, 2ª Edição, Juruá Editora, Curitiba, 2008), a ênfase principal da lei não é a
questão de gênero, tendo o legislador dado prioridade à criação de mecanismos que coíbam e previnam a
violência doméstica e familiar contra a mulher, sem importar o gênero do agressor que tanto pode ser
homem quanto mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de
afetividade. Para Luiz Flavio Gomes: Sujeito ativo da violência pode ser qualquer pessoa vinculada
com a vítima (pessoa de qualquer orientação sexual, conforme o art. 5º, parágrafo único): do sexo
masculino, feminino ou que tenha qualquer outra orientação sexual. Ou seja: qualquer pessoa pode ser
sujeito ativo da violência; basta estar coligada a uma mulher por vínculo afetivo, familiar ou
doméstico: todas se sujeitam à nova lei. Mulher que agride outra mulher com que tenha relação íntima:
aplica a nova lei. A essa mesma conclusão se chega: na agressão de filho contra mãe, de marido contra
mulher, de neto contra avó, de travesti contra mulher, empregador ou empregadora que agride
empregada doméstica, de companheiro contra companheira, de quem esta em união estável contra a
mulher etc." (GOMES, Luiz Flavio; BIANCHINI, Aline. Competência Criminal da Lei de Violência
contra a Mulher II. Disponível no sítio<www.lfg.com.br>). O sujeito passivo é a mulher, uma vez
que a violência baseada perpetrada pressupõe uma relação caracterizada pelo poder e submissão
sobre a mulher. Resguarda-se a primazia da mulher apenas enquanto vítima, uma vez que seria
45
inaceitável que, no mesmo ambiente doméstico ou familiar, o neto que agrida a avó esteja sujeito às
regras da referida lei, enquanto que a neta que pratique os mesmos atos, não se submeta às mesmas
regras. Acerca deste tema, assim me manifestei ao proferir o Voto-Vista no CC nº 91.980/MG: A
interpretação da lei não será tal qual aquilo que eventualmente a mens legis estabeleceu; e, se é assim,
tenho um pensamento a respeito desse inciso III do art. 5º da Lei Maria da Penha. Em primeiro lugar,
não é qualquer agressão que estabelece a hipótese de incidência ora discutida. São necessários
alguns elementos. O primeiro, efetivamente, é a violência. O segundo elemento é a relação de
intimidade afetiva entre vítima e sujeito ativo da ação. E há outro elemento importante: uma relação
de convivência, com ou sem coabitação é o que fala essa hipótese do inciso III do art. 5º. Ora, sendo
assim, a meu ver, não é qualquer relação afetiva que implica dizer incide nessas hipóteses. É preciso
que estejam previstos todos esses elementos integrantes do tipo. E, se assim o é, é preciso examinar,
no caso concreto, para verificar se todos esses elementos integrantes da hipótese típica estão presentes
na situação trazida a julgamento. No caso dos autos, estão presentes os elementos da violência, a
relação de intimidade afetiva entre o casal e a convivência, tendo havido ou não coabitação. Entretanto,
resta dimensionar que tipo de situação desencadeou a situação de violência. Ambas as partes afirmam e
concordam (fls. 2 e 6) que a agressão teve origem por motivo de ciúmes da namorada com relação à
descoberta de uma ligação feita pelo namorado por meio de seu celular. Depreende-se dos autos que as
agressões foram mútuas e o que as motivou não foi um caso de opressão à mulher, que é o
fundamento da aplicação da Lei Maria da Penha. Não fica evidenciado, no caso, que as agressões
ocorreram por causa da condição de fragilidade e hipossuficiência da mulher em relação ao seu
namorado.Além disso, não se pode afirmar pelos elementos dos autos, que teria realmente havido uma
relação de convivência doméstica entre o casal. A esse respeito se manifestou a ilustre Ministra Laurita
Vaz no CC nº 88.029/MG: Contudo, é necessário frisar que as relações íntimas de afeto como namoro,
o noivado ou outros relacionamentos devem ser analisados em face do caso concreto para se verificar a
aplicação da Lei Maria da Penha. Por exemplo, não se pode ampliar o termo relação íntima de afeto
para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. A análise do caso mostra que o
delito supostamente praticado não encerra motivação de gênero, tendo havido mútuas agressões entre
duas namorados. Diante de tais considerações, conheço do conflito de competência e declaro
competente para processamento e julgamento do feito o Juízo de Direito do Juizado Especial Criminal
de Conselheiro Lafaiete/MG, ora suscitado. VOTO VENCIDO (MINISTRO NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO) 1. Senhora Presidente, peço vênia ao eminente Ministro Relator para entender que a
mulher, sendo agredida, ainda que ela repila a agressão até com mais eficácia, até que ela
prepondere, o que é pouco usual, a sua força na briga ou no embate, penso que isso deve, em
princípio, ficar na Vara competente para processar os crimes de violência contra a mulher. Quanto
ao mérito, o juiz verá se não houve realmente agressão à mulher, se a agressão foi leve ou se a repulsa à
agressão foi excessiva etc.2. Peço vênia, Sr. Ministro Og Fernandes - V. Exa. Está corretíssimo - mas
penso que devemos prestigiar, especialmente nessa fase de implantação, a tendência de se
privilegiar o foro privativo da mulher - digamos assim -, o foro especial da mulher para os casos
em que ela for agredida. Creio razoável, a meu ver; se ela foi agredida, para garantir o seu foro,
seria melhor apanhar passivamente. Sendo assim, não seria razoável esperar isso de mulher nenhuma,
especialmente das mulheres de Minas Gerais. 3. Divirjo do voto do Sr. Ministro Relator. VOTO-
VENCIDO. A EXMª. SRª. MINISTRA JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO
46
TJ/MG): Sra. Presidente, acompanho o voto do Sr. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho. S. Exa. me
convenceu. Penso que a questão há de ser apurada lá na prova e tem que começar pelo juizado.61
10- Medidas Protetivas
EMENTA. Violência doméstica (caso). Afastamento do lar (filhos). Procedimento criminal
(arquivamento). Direito de locomoção. (restrição). Coação (ilegalidade). Habeas corpus
(cabimento). 1. Porque não oferecida representação nem contra o paciente nem contra a sua irmã
e porque não são ambos parte em processo criminal instaurado contra outro irmão – por sinal,
arquivado na origem –, inadmissível, portanto, a aplicação de medida protetiva. 2. Não há como
impor, sem a devida fundamentação, o afastamento do lar àqueles que não figuraram na relação litigiosa,
implicando tal, no caso, restrição ao direito de locomoção e, por conseguinte, constrangimento ilegal. 3.
Caso em que se admite o emprego do habeas corpus – determina a norma (constitucional e
infraconstitucional) que se conceda habeas corpus sempre que alguém esteja sofrendo ou se ache
ameaçado de sofrer violência ou coação; trata-se de dar proteção à liberdade de ir, ficar e vir,
liberdade induvidosamente possível em todo o seu alcance. 4. Habeas corpus deferido de ofício, para
que cessem os efeitos da decisão que impôs restrição ao direito de locomoção do paciente (...)em razão
de não ter sido imputada ao paciente conduta típica, nem contra ele instaurada ação penal,
inadmissível é a aplicação de medida protetiva, como foi determinado pela juíza de primeiro grau,
sendo cabível, assim, a concessão de ordem de habeas corpus de ofício para fazer cessar os efeitos
da decisão abusiva proferida em seu desfavor(...)Por sua vez, ao julgar o habeas corpus impetrado
contra a decisão acima referida, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios não admitiu a
ordem, assim afirmando: 'É certo que houve imposição de medidas protetivas, mas todas de natureza
cível, a desafiar os recursos cabíveis na seara competente. O afastamento do paciente da residência dos
pais, aparentemente, poderia importar em restrição à liberdade de ficar e de ir e vir. Mas o argumento
não é suficiente para transformar em criminal a natureza cível da decisão.' (fl.186) . Não assiste razão à
Corte de origem, sendo plenamente possível, na hipótese, a impetração de habeas corpus , pois o
afastamento do lar importa restrição ao direito de locomoção dos indivíduos. In casu, o fato de a
decisão fazer referências quanto à venda de imóvel e outras questões patrimoniais é irrelevante diante da
evidente limitação imposta ao direito de ir e vir dos filhos. Ademais, como, em tese, é possível a
decretação da prisão preventiva em caso de descumprimento injustificado da medida protetiva,
perfeitamente cabível a utilização do habeas corpus para combater uma decisão que a aplicou, já
que tal remédio se presta à tutela daquele que, nos termos do art. 5º, LXVIII, sofre ou se acha
ameaçado de sofrer coação ilegal ou abusiva em sua liberdade de locomoção. 62
61
CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 96.533 - MG (2008/0127028-7). RELATOR: MINISTRO OG FERNANDES
62 Superior Tribunal de Justiça. HABEAS CORPUS Nº 108.437 - DF (2008/0128578-0). MINISTRO NILSON NAVES
(RELATOR)
47
EMENTA . RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LEI MARIA DA PENHA (LEI
11.340/06). POSSIBILIDADE DE FIXAÇÃO, EM UNIDADES MÉTRICAS, DA DISTÂNCIA A
SER MANTIDA PELO AGRESSOR DA VÍTIMA. EXPRESSA PREVISÃO LEGAL (ART. 22,
III DA LEI 11.340/06). VIOLAÇÃO LEGALMENTE AUTORIZADA AO DIREITO DE
LOCOMOÇÃO DO SUPOSTO AGRESSOR. RECURSO ORDINÁRIO DESPROVIDO. 1.
Conforme anotado no parecer ministerial, nos termos da do art. 22, III da Lei 11.340/06, conhecida por
Lei Maria da Penha, poderá o Magistrado fixar, em metros, a distância a ser mantida pelo agressor
da vítima - tal como efetivamente fez o Juiz processante da causa -, sendo, pois, desnecessário nominar
quais os lugares a serem evitados, uma vez que, se assim fosse, lhe resultaria burlar essa proibição e
assediar a vítima em locais que não constam da lista de lugares previamente identificados...2. Tal
proibição de aproximação, prossegue a ilustre representante ministerial: (...) não infringe o direito de ir
e vir, consagrado no art. 5o., XV da Constituição Federal. A liberdade de locomoção do ora
paciente encontra limite no direito da vítima de preservação de sua vida e integridade física. Na
análise do direito à vida e à liberdade, há que se limitar esta para assegurar aquela...4. Isso posto,
em consonância com o parecer ministerial, nega-se provimento ao Recurso Ordinário.63
11- Crimes Dolosos Contra a Vida
HABEAS CORPUS – CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA PROCESSADO PELO JUIZADO DE
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – NULIDADE – NÃO
OCORRÊNCIA – LIBERDADE PROVISÓRIA – CRIME HEDIONDO – IMPOSSIBILIDADE –
ORDEM DENEGADA. - Ressalvada a competência do Júri para julgamento do crime doloso
contra a vida, seu processamento, até a fase de pronúncia, poderá ser pelo Juizado de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher, em atenção à Lei 11.340/06. - Não há possibilidade de
concessão da liberdade provisória, em crimes hediondos, apesar da modificação da Lei 8.072/90, pois a
proibição deriva da inafiançabilidade dos delitos desta natureza, trazida pelo artigo 5º, XLIII, da
Constituição Federal. - Tratando-se de paciente preso em flagrante, pela prática, em tese, de crime
hediondo, mostra-se despicienda a fundamentação do decisum que manteve a medida constritiva de
liberdade nos termos exigidos para a prisão preventiva propriamente dita, não havendo que ser
considerada a presença de circunstâncias pessoais supostamente favoráveis ao paciente, ou analisada a
adequação da hipótese à inteligência do art. 312 do CPP. - Denegaram a ordem, ressalvado o
posicionamento da Relatora. 64
EMENTA. PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS . HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO.
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. JUIZADO ESPECIAL. COMPETÊNCIA. CONSTRANGIMENTO.
63 Superior Tribunal de Justiça. QUINTA TURMA. Número Registro: 2008/0108271-0 RHC 23654 / AP . JULGADO EM:
03/02/2009. Relator: Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO.
64 HC 73.161/SC, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), QUINTA TURMA,
julgado em 29/08/2007, DJ 17/09/2007 p. 317
48
RECONHECIMENTO. 1. Estabelecendo a Lei de Organização Judiciária local que cabe ao Juiz-
Presidente do Tribunal do Júri processar os feitos de sua competência, mesmo antes do
ajuizamento da ação penal, é nulo o processo, por crime doloso contra a vida - mesmo que em
contexto de violência doméstica – que corre perante o Juizado Especial Criminal. 2. Ordem
concedida para anular o processo a partir do recebimento da denúncia, encaminhando-se os autos para o
1º Tribunal do Júri de Ceilândia/DF, foro competente para processar e julgar o feito...O objeto desta
impetração cinge-se à verificação da correção do estabelecimento da competência do Juizado Especial
Criminal para promover o sumário de culpa de crime doloso contra a vida, praticado com violência
doméstica...O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios editou resolução, por meio da qual
ampliou a competência dos Juizados Especiais Criminais e dos Juizados Especiais de Competência
Geral, com exceção da Circunscrição Especial de Brasília, a fim de abranger o processo, o julgamento e
a execução das causas decorrentes de prática de violência doméstica e familiar contra a mulher. A
impetração salienta que "diversamente do caso catarinense, no Distrito Federal a LOJDF prevê,
expressamente, que todo o processamento dos feitos que envolvam crimes dolosos contra a vida se dê
perante as Varas do Tribunal de Júri. Diz, no quanto interessa da Lei de Organização Judiciária do
Distrito Federal (Lei nº 8.185/91, com a redação da Lei 9.699/98): 'Art. 19. Compete ao Juiz-Presidente
do Tribunal do Júri: I - processar os feitos da competência do Tribunal do Júri, ainda que anteriores à
propositura da ação penal, até julgamento final”. De acordo com o meu juízo, assiste razão ao
impetrante. Os regramentos sobre a competência do Tribunal do Júri possuem recorte constitucional e,
portanto, devem ser respeitados pelos comandos de hierarquia inferior...Inicialmente o aludido feito foi
distribuído à Vara do Tribunal do Júri de Ceilândia/DF. Contudo, conforme decisão de fls. 11/14, o
pedido foi remetido a uma das Varas dos Juizados Especiais Criminais de Ceilândia. Distribuído o feito,
o d. magistrado suscitou o presente conflito negativo de competência,por entender que os Juizados
Especiais carecem de competência para aplicar medida protetiva vinculada a um crime doloso contra a
vida...O processamento do feito até a fase da pronúncia pode ser feito em qualquer outro juízo que
detenha competência para tanto, de acordo com as leis de organização judiciária...Todavia, como
já transcrito, a Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal é explícita ao estatuir caber ao
Juiz-Presidente do Tribunal do Júri processar os feitos de sua competência, mesmo antes do
ajuizamento da ação penal. Logo, a teor do que determina a lei de organização judiciária local,
reconhece-se a incompetência ratione materiae do Juizado Especial Criminal. Ante o exposto,
concedo a ordem para anular o processo a partir do recebimento da denúncia, encaminhando-se os autos
para o 1º Tribunal do Júri de Ceilândia/DF, foro competente para processar e julgar o feito.65
65
Superior Tribunal de Justiça. SEXTA TURMA HABEAS CORPUS Nº 121.214 - DF (2008/0255936-8). RELATORA :
MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA. JULGADO: 10/02/2009