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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL KÁTIA GOMES GAIVOTO A LINGUAGEM COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA ATIVIDADE DE FORMAÇÃO SINDICAL Belo Horizonte 2018

A LINGUAGEM COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA … · LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro I: Algumas das pesquisas realizadas no Brasil de interesse para o estudo e o debate sobre formação

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Page 1: A LINGUAGEM COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA … · LISTA DE QUADROS E TABELAS Quadro I: Algumas das pesquisas realizadas no Brasil de interesse para o estudo e o debate sobre formação

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

KÁTIA GOMES GAIVOTO

A LINGUAGEM COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA ATIVIDADE DE

FORMAÇÃO SINDICAL

Belo Horizonte 2018

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KÁTIA GOMES GAIVOTO

A LINGUAGEM COMO MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NA ATIVIDADE DE

FORMAÇÃO SINDICAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local – Mestrado Profissional. Área de concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local. Linha de Pesquisa: Educação e Desenvolvimento Local. Orientadora: Profa. Dra. Lucília Machado

Belo Horizonte 2018

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Ficha catalográfica desenvolvida pela Biblioteca UNA campus Guajajaras –

Bibliotecário Júlio Ferreira Gomes – CRB 6 – 3227.

G144l Gaivoto, Kátia Gomes

A linguagem como mediação pedagógica na atividade de formação sindical /

Kátia Gomes Gaivoto. – 2018.

122 f.: il.

Orientadora: Profa. Dra. Lucília Regina de Souza Machado.

Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário UNA, 2018. Programa de

Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.

Inclui bibliografia.

1. Linguagem. 2.Sindicatos - Prática de ensino. 3. Desenvolvimento social. I.

Machado, Lucília Regina de Souza. II. Centro Universitário UNA. III. Título.

CDU: 658.114.8

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A gente principia as coisas, no não saber porque, e desde aí perde o poder de continuação – porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada.

Guimarães Rosa, Grande Sertão Veredas.

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AGRADECIMENTOS

Minha eterna gratidão à minha querida orientadora, Profa. Dra. Lucília

Machado, pelo tanto que aprendi com ela ao longo da jornada de rico aprendizado,

que vivi no mestrado.

Agradeço de forma muito carinhosa aos professores Dra. Áurea Regina

Guimarães Tomasi e Dr. Antônio de Pádua Tomasi, pelas grandes contribuições

durante o exame de qualificação e, certamente, na defesa desta dissertação.

A todos os professores do corpo docente do Programa de Pós-Graduação em

Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, meu muito obrigada!

Aos meus colegas de Mestrado, que tanto me ensinaram ao longo desses dois

anos e meio. Convivendo com vocês aprendi na prática o significado do conceito de

interdisciplinaridade, de interculturalidade, de interprofissionalidade e o quanto me fez

crescer a convivência com pessoas de formações, profissões e culturas tão

diferenciadas.

Aos meus amores Vilson Luiz da Silva e Luiz Che Gaivoto, e a toda a família

Gaivoto, obrigada pela paciência e compreensão de minhas ausências em atividades

familiares.

Aos meus companheiros de militância política, meu muito obrigada! Saibam

que tem muito das contribuições de vocês nesta pesquisa.

Aos trabalhadores e trabalhadoras rurais de Minas Gerais, por meio de sua

entidade de classe Fetaemg, obrigada por tudo! Sou imensamente grata por tanto

aprendizado e carinho. O resultado desta pesquisa é de vocês!

Mas a realização deste mestrado, quero dedicar a ela! Mulher guerreira e

nordestina, que nunca teve a oportunidade de estudar, mas que internalizou os

principais conceitos que sintetiza o que sou hoje: ter caráter, ser honesta com tudo

que se faz, sempre buscar mais conhecimentos e, sobretudo, ser forte em quaisquer

situações. À minha mãe, Germina Gomes Gaivoto: PRESENTE!

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Fetaemg – Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado

de Minas Gerais

Contag – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

MSTTR – Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

STTR – Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

CES – Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho

Dieese - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos

CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil

CUT – Central Única dos Trabalhadores

Proeja – Programa Nacional de Integração da Educação Básica com a Educação

Profissional na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos

Conclat – Conferência Nacional da Classe Trabalhadora

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro I: Algumas das pesquisas realizadas no Brasil de interesse para o estudo e o

debate sobre formação sindical..................................................................................12

Quadro II: Perfil sociocultural dos participantes do projeto de formação desenvolvido

pelo CES e a Fetaemg................................................................................................57

Quadro III: Matriz curricular do curso de formação desenvolvido pelo convênio CES –

Fetaemg em 2015.......................................................................................................58

Quadro IV: Palavras que aparecem com maior frequência, e os contextos em que

ocorre.........................................................................................................................66

Quadro V: Estratégias didáticas dos formadores sindicais com respeito aos desafios

postos no campo da linguagem..................................................................................76

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RESUMO

Esta dissertação tomou como objeto de estudo o instrumento da linguagem, na sua forma oral e escrita, como mediação na atividade de formação sindical, considerando sua importância para a comunicação e a formação do pensamento. A perspectiva adotada na formulação para seu desenvolvimento se apóia na teoria histórico-cultural de Vigotski e colaboradores. Trata-se de aporte teórico que representa um desdobramento das contribuições de Marx e Engels sobre a constituição ontológica do homem por meio do trabalho. Processo que não se dá unilateralmente, pois o homem também se modifica ao transformar a natureza, nem tão pouco ocorre de forma imediata, mas por mediações. Os instrumentos técnicos e os sistemas de signos, como construções históricas e culturais, promovem a mediação dos homens entre si e deles com a natureza. A linguagem é um desses instrumentos de mediação no contexto da atividade humana de formação política sindical. No desenvolvimento dessa formação, a linguagem exerce o papel de mediação pedagógica. Entretanto, a linguagem praticada no âmbito do movimento sindical pode, dialeticamente, aproximar ou afastar o trabalhador. Iniciou-se esta investigação por uma revisão teórica conceitual com foco nos conceitos de mediação, mediação simbólica e mediação pedagógica. A seguir, passou-se à recolha de dados, para a qual foi utilizada, em primeiro lugar, a análise de documentos, especialmente de materiais elaborados pelo Departamento de Formação e Organização Sindical da Federação Estadual dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais – Fetaemg, instituição que constitui o contexto desta pesquisa. Fez-se, também, da técnica do grupo focal (GF). Para tanto, foram convidados oito formadores / educadores da Fetaemg. Concluída a revisão teórica, a análise dos documentos e dos dados obtidos com o grupo focal, buscou-se produzir uma proposta de intervenção com base nos resultados obtidos. Essa consistiu de elementos referenciados na teoria histórico cultural para ser incorporados ao projeto político-pedagógico de formação continuada dos formadores sindicais da Fetaemg. Esta dissertação se oferece à contribuição do desenvolvimento local, entendendo este local como o espaço histórico-cultural onde o sujeito, como ser social, é constituído e por ele é, também, construído. Palavras-chave: atividade, mediação, linguagem, formação sindical, desenvolvimento local.

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ABSTRACT

The present research project takes as study object the language, specifically from spoken and written words, as mediation in union formation, considering its importance to the communication and the thoughts formation. The perspective assumed in this project formulation and to its development rests on the historic-cultural theory of Vigotski and his contributors. It’s a theoretical contribution which represents the unfolding contributions of Marx and Engels about the ontological constitution of man trough the work. This process doesn’t work unilaterally, because the man modify himself as also transform the nature, and this doesn’t happen immediately, but through mediations. The technical instruments and the sign systems, as historical and cultural constructions, promote the mediation between the men and themselves and between them and the nature. The language is one of the instruments of mediation. The research context proposed by this project is the one of human activity of union formation. In development of this formation, the language exercise the role of pedagogical mediation. However, the language practiced in union movement scope can, dialectally, approach or expel the worker. This research was initiated by a theoretical conceptual revision focusing on the concepts of mediation, symbolic mediation and pedagogical mediation. Next, the data was collected, which was used, firstly, the analysis of documents, especially materials prepared by the Department of Training and Trade Union Organization of the State Federation of Agricultural Workers in the State of Minas Gerais - Fetaemg, institution that constitutes the context of this research. It was also done by the focal group technique (GF). For this purpose, eight educators from Fetaemg were invited. After completing the theoretical review, the analysis of the documents and the data obtained with the focus group, we tried to produce a proposal of intervention based on the results obtained. This consisted of elements referenced in cultural historical theory to be incorporated into the political-pedagogical project of continuous formation of the union trainers of Fetaemg. This dissertation offers the contribution of local development, understanding this local as the historical-cultural space where the subject, as a social being, is constituted and by it is also constructed. Keywords: activity, mediation, language, union formation, local development.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 13

2. A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO NA TEORIA

HISTÓRICO-CULTURAL .......................................................................................... 31

2.1. Introdução ................................................................................................................. 32

2.2. Um breve apontamento do contexto em que nasce Vigotski e a Teoria Histórico-Cultural ............................................................................................................... 33

2.3. O papel da mediação no processo de desenvolvimento das funções psicológicas superiores ..................................................................................................... 38

2.4. Linguagem como intercâmbio social e instrumento de desenvolvimento do pensamento ........................................................................................................................ 45

2.5. Considerações finais .............................................................................................. 49

3. A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA DA LINGUAGEM NA FORMAÇÃO POLÍTICA

SINDICAL NA PERSPECTIVA DOS FORMADORES ............................................. 54

3.1. Introdução ................................................................................................................. 55

3.2. O contexto da pesquisa ......................................................................................... 56

3.3. Metodologia .............................................................................................................. 63

3.4. O que se encontrou com a análise documental ................................................. 67

3.4.1 Elementos de linguagens utilizados ................................................................ 67

3.4.2 Contexto e frequência com que aparecem as palavras ............................... 68

3.4.3. Variações dos significados atribuídos às palavras ...................................... 69

3.4.4 Enfoque dado à linguagem na mediação sindical ......................................... 70

3.5. Discussão e análise de dados do que disseram os formadores sindicais..... 71

3.5.1 Identidade histórico-cultural dos formadores sindicais participantes do grupo focal ...................................................................................................................... 71

3.5.2. A linguagem do movimento sindical .............................................................. 73

3.5.3 Abordagens pedagógicas em face dos desafios referentes ao uso da linguagem ........................................................................................................................ 76

3.5.4. A linguagem como instrumento de internalização de conceitos ............... 79

3.6. Considerações finais .............................................................................................. 82

4. MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA DA LINGUAGEM: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA

HISTÓRICO-CULTURAL PARA O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO DE

FORMAÇÃO CONTINUADA DOS FORMADORES SINDICAIS DA FETAEMG ..... 86

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4.1. Introdução ................................................................................................................. 87

4.2. Pressupostos teóricos – princípios fundantes do projeto político-pedagógico de formação continuada dos formadores sindicais da Fetaemg ............................... 90

4.3. Formação política sindical e desenvolvimento do pensamento crítico de dirigentes, assessores e lideranças sindicais ............................................................... 95

4.4. Missão, visão, objetivos e conteúdos programáticos do projeto de formação política sindical da Fetaemg ............................................................................................. 96

4.5. Bases metodológicas do projeto político-pedagógico ..................................... 986

4.6. Considerações finais .............................................................................................. 99

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 1031

6. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 106

APÊNDICE I - ROTEIRO PARA FICHAMENTO DE LEITURAS PARA A REVISÃO

TEÓRICA CONCEITUAL ...................................................................................... 1108

APÊNDICE II - FICHA PARA ANÁLISE DOCUMENTAL................................... 11109

APÊNDICE III – ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL ....................................... 11110

APÊNDICE IV – TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA

RESOLUÇÃO 466/2012 ....................................................................................... 1153

APÊNDICE V – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DA FETAEMG .............................. 1164

APÊNDICE VI - TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE ÁUDIOS, IMAGEM E

DEPOIMENTOS .................................................................................................... 1175

APÊNDICE VII - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ...... 1186

ANEXO I – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ......................... 1219

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1. INTRODUÇÃO

Esta dissertação foi desenvolvida com a intenção de contribuir com o

debate sobre a formação política sindical no Brasil. Para tanto, toma, como referência,

as contribuições da teoria histórico-cultural, que compreende a relação entre o homem

e o mundo como nexos mediados por sistemas simbólicos. Dentre esses, a língua se

destaca pela sua importância ao lado de outros complexos formados pelos mitos, arte,

religião, códigos jurídicos e a ciência.

Por formação sindical compreendem-se, nesta dissertação, as atividades

realizadas por ou a serviço de sindicatos e/ou suas federações, confederações e

centrais sindicais, destinadas ao desenvolvimento de saberes e conhecimentos e à

preparação, estruturada ou não, de militantes e dirigentes sindicais tendo em vista a

compreensão da dimensão educativa do trabalho, considerando o trabalho como

atividade vital na constituição humana; do resgate histórico dos embates sindicais na

relação capital x trabalho; das mudanças no mundo do trabalho e suas implicações e

dos desafios do movimento sindical passados, presentes e futuros. Faz parte,

também, dos objetivos da formação sindical: desenvolver e/ou reforçar habilidades

individuais e coletivas de coordenação, persuasão e atuação na defesa dos interesses

dos trabalhadores; favorecer a coesão da cultura sindical; fomentar a eficácia e a

efetividade da organização e gestão sindical; instruir sobre estratégias de negociação

sindical e, por fim, gerar e/ou dar maior substância a uma linguagem comum, que

facilite o diálogo com a classe trabalhadora.

Portanto, a atividade humana, que se constitui como contexto de

investigação desta dissertação é a da formação política sindical. Trata-se de uma

importante e estratégica atividade do movimento sindical. Ela pressupõe a dimensão

da luta de classe, conhecimentos e habilidades do formador, observações e

criatividade para criar situações de aprendizagem e o uso adequado de instrumentos

pedagógicos, dentre os quais se encontram o sistema simbólico da língua.

Esta dissertação selecionou, assim, como objeto de estudo, dentre outros

recortes importantes relativos ao estudo da formação sindical, o recurso da linguagem

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como instrumento de mediação pedagógica. No caso, a linguagem na sua expressão

verbal e escrita, como palavra.

Com o propósito de conhecer um pouco mais sobre as experiências de

formação sindical brasileira, bem como, identificar se a questão que move a presente

pesquisa já foi estudada no Brasil e, em caso positivo, quais são as contribuições

oferecidas ou o que carece de maior compreensão, foi realizado um levantamento

bibliográfico inicial no site acadêmico Scielo Brasil e no Portal de Periódicos da

CAPES. Tem-se, a seguir, o registro de alguns dos estudos já realizados nesse

campo:

Quadro I - Algumas das pesquisas realizadas no Brasil de interesse

para o estudo e debate sobre formação sindical

Ano Autor Instituição Tipo de trabalho

Título

1 1988 Miguel Wady Chaia

PUC-SP Tese de doutorado

Conhecimento e organização sindical, a trajetória do Dieese.

2 1989

Miguel Wady Chaia

PUC-SP Artigo - Lua Nova: Revista de cultura e política

Dieese: saber intelectual e prática sindical.

3 1990

Laélia Gurgel Portela

FGV-RJ Dissertação de mestrado

A formação sindical no Brasil nos anos 80: concepções e práticas.

4 1999

Kátia Rodrigues Paranhos

UFU - Uberlândia

Artigo - Revista de Sociologia e Política

Educação sindical em São Bernardo nos anos de setenta e oitenta.

5 1999

Roberto Veras

Escola da CUT- SP

Artigo - Revista Quaestio

Sindicalismo e formação sindical: novos cenários, novas exigências.

6 2004

Meyke Vilas Boas Pinto

UFMG Dissertação de mestrado

Práticas informacionais para a construção da cidadania: um estudo de caso sobre os atores sindicais da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte.

7 2005

Kátia Rodrigues Paranhos

UFU - Uberlândia

Artigo - Revista Educação &

Formação operária: Arte de ligar política e cultura.

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Sociedade

8 2007

Wilson Aparecido Costa de Amorim

USP Tese de doutorado

Evolução das organizações de apoio às entidades sindicais brasileiras: um estudo sob a lente da aprendizagem organizacional.

9 2009

Maria Clara Bueno Fischer; Ana Cláudia F. Godinho

Universida-de do Vale do Rio dos Sinos

Revista e-curriculum

Experiência e Projetos de educação do Trabalhador no Brasil: Balanço da Produção Discente sobre a Ação Sindical.

10 2009

João Guilherme de Souza Corrêa

UFSC Dissertação de mestrado

Formação de Trabalhadores e Movimento Sindical: Desenvolvimento e Consolidação da Prática Nacional de Formação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) na última década (1998-2008).

11 2010

Fernanda Zorzi; Naiara Franzoi

UFRGS Artigo – Revista Trabalho & Educação

Saberes do trabalho e do trabalhador: reflexão no contexto do PROEJA.

12 2010

Camile Pegoraro

UFRGS TCC - Curso de Licenciatura em Pedagogia

O Movimento Sindical como Espaço Educativo: formação política do trabalhador.

13 2011

Marcos Francisco Martins

UFSCar - Campus Sorocaba

Artigo - Revista Avaliação

Práxis e “Catarsis” como referências avaliativas das ações educacionais das ONG’s, dos sindicatos e dos partidos políticos.

14 2011

Cláudio Félix dos Santos

UFBA Artigo - Revista Práxis Educacional

Praticismo e conhecimento na educação popular.

15 2011

Leonides José Voitack

UFSM TCC - Curso de Comunicação Social

Comunicação e Formação Sindical Rural: uma análise do conteúdo sindical impresso.

16 2012

Vânia M. Pinto; Tatiana R. Velloso

Univ. Recôncavo da Bahia

Artigo – Revista Entrelaçando

Educação e Formação no Movimento Sindical: as práticas formativas da Contag e a escola de formação sindical.

17 2013

Sílvia Gaban

FFLCH - USP

Dissertação de mestrado

A Experiência da Formação Sindical no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista: Educação, Ação Sindical e Cidadania (1999-2009).

18 2013

Dalgiza Andrade Oliveira;

UFMG Artigo – Revista Informação &

Práticas informacionais dos dirigentes do sindicato dos bancários de BH e Região.

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Maria Aparecida Moura

Informação

19 2014

Everton Lazzaretti Picolotto

UFSM-RS Artigo - Revista Sociologias

A formação de um sindicalismo de agricultores familiares no Sul do Brasil.

20 2014

Célia Regina Vendramini

UFSC Artigo - Revista História & Perspectivas

Cursos Universitários para Jovens Trabalhadores e Militantes: uma análise com base na crítica de Thompson à oposição entre educação e experiência.

Fonte: elaboração própria.

A leitura realizada desses textos permitiu observar que há um significativo

número de pesquisas relacionadas ao movimento sindical brasileiro e importantes

contribuições de diversos autores, que se dedicaram ao estudo de experiências de

formação sindical e como o processo de educação sindical contribui para dar

sustentação à organização dos trabalhadores.

Dentre essas pesquisas, vale destacar alguns apontamentos convergentes

com a afirmação de Marx e Engels no Manifesto do Partido Comunista, de 1848, de

que “[...] a história de todas as sociedades até hoje existentes é a história da luta de

classes” (MARX; ENGELS, 2001, p.23).

A historiadora Paranhos ressalta a forte influência das contradições da

relação dialética entre capital e trabalho sobre a formação do trabalhador, cujo bem

fundamental é a sua própria força de trabalho.

A fábrica capitalista é lugar de qualificação e desqualificação. O indivíduo educa-se, faz-se homem, na produção e nas relações de produção, por meio de um processo contraditório em que estão sempre presentes, e em confronto, momentos de educação e de deseducação e, portanto, de humanização e de desumanização. (PARANHOS, 2005, p.268).

Nessa condição, na sociedade capitalista, para garantir a manutenção do

seu poder, o capital transforma todo o tempo livre do trabalhador em tempo de

trabalho, os processos de conhecimento em proveito da acumulação capitalista e os

amarram às atividades de produção. A autora entende que, “[...] por isso, a aquisição

do saber sobre o trabalho capitalista é um passo importante rumo à sua superação”

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(PARANHOS, 2005, p.268), cabendo à formação desvendar com os trabalhadores o

que o capital esconde.

Segundo a autora, quando organizados como classe social, a necessidade

da formação é constatada pelos trabalhadores. Ela informa que as primeiras

experiências de educação e/ou formação sindical surgiram no século XVIII na Europa

e tinham por foco a preparação profissional dos trabalhadores, como se observa na

escola para adultos na Inglaterra: “[...] Nottingham foi inaugurada em 1798 – com a

preocupação prática de ensinar as pessoas a ler e de ensinar-lhes, depois, o que eles

teriam necessidade de saber para a própria profissão e promoção” (PARANHOS,

2005, p.269). Isso ocorreu, em alguns casos, com a interferência direta do Estado; em

outros, com a parceria entre a organização sindical e universidades.

Na França, desde 1865, foram organizados cursos noturnos. Em 1919, a Lei Astier determina que todos os jovens em fase de aprendizagem nas empresas devem receber cursos profissionais de ensino técnico. Em abril de 1928, tem-se a criação de uma escola de aperfeiçoamento em administração de empresas. Em 1930, é fundado o primeiro instituto de promoção e de formação de adultos, o Centre de Perfectionnement dans I’Administration des Affaires. Em 1936, o governo organiza a promoção social – tanto profissional como sindical e operária, por meio dos Collèges du Travail (Colégios do Trabalho) e das Écoles Normales Ouvrières (Escolas Normais Operárias). Em abril de 1946, o Estado cria uma Direção-Geral da Educação Popular e dos Esportes. (PARANHOS, 2005, p.271).

A partir da metade do século XIX, duas correntes ideológicas passam a

existir na organização de classe, na compreensão do papel que cabe à formação dos

trabalhadores, como aponta Paranhos:

A primeira, de ideologia socialista, persevera na sua meta de educação do povo, o que resultará no movimento chamado “universités populaires” [...] A segunda corrente desenvolveu-se separadamente e centralizou-se nas chamadas necessidades da formação de adultos e da promoção profissional. E tanto os sindicatos como os governos tentaram organizar instituições de formação. (PARANHOS, 2005, p. 270).

Analisando experiências no Brasil, Paranhos (2005) destaca a influência

dos libertários, anarco-sindicalistas, socialistas e comunistas. Uma delas foi “[...] a

experiência curta da Universidade Popular, fundada em 20 de março de 1904 no Rio

de Janeiro” (p.279), para a qual a formação dos operários deveria se estruturar em

cima de três pressupostos: educação político sindical; educação escolar e práticas

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culturais de massa. Para Paranhos, o ambiente formativo:

Torna-se um espaço em que os agentes do movimento sindical vão pensar a sua prática, vão repensar as “teorias” do próprio movimento e vão difundir as novas descobertas. [...] Neste sentido, a formação sindical é um importante meio de organizar a classe trabalhadora, assim como de incentivar a “educação dos sentidos” dos trabalhadores. (PARANHOS, 2005, p.284).

Esse resgate histórico das origens das formulações e experiências de

educação/formação operária feito por Paranhos é de grande contribuição para a

reflexão sobre a formação sindical no Brasil, pois as percepções do mundo, da

organização sindical e do papel da formação influenciaram e influenciam fortemente

as atividades formativas no Brasil.

Nos apanhados sobre essas experiências, podem-se observar diferentes

concepções programáticas: há os que postulam a formação a serviço da qualificação

técnica e produção; a formação a serviço da educação, emancipação e sustentação

da organização sindical, bem como, a formação a serviço de concepções políticas que

acreditam na humanização do capital, na possibilidade da superação harmoniosa da

contradição entre capital e trabalho, conforme podem ser verificadas nas análises a

seguir.

Chaia (1988), ao analisar as bases teóricas da criação do Departamento

Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos - Dieese, informa que:

O Dieese faz parte da estratégia do processo de racionalização experimentado pelos sindicatos a partir da década de 50, que procurou dar cunho técnico à política sindical, a fim de garantir suas ações frente aos empregadores ou o Estado. Um dos momentos decisivos para originar o Dieese foi a greve decretada pelo Sindicato dos Bancários em São Paulo, em 1951, quando os trabalhadores defrontaram-se e ganharam com uma guerra de números e de índices.

A Greve de 1951 reacendeu a certeza da manipulação dos índices para o reajuste salarial, permitiu a discussão da defasagem salarial acumulada durante os anos anteriores e mostrou a necessidade de estudo e cálculo do aumento do custo de vida para avaliar a situação dos bancários. Dessa forma, ficou claramente marcada a necessidade de argumentos racionais que se opusessem aos argumentos patronais e oficiais. (CHAIA, 1988, p.142-143).

Segundo esse autor (1988), as organizações dos trabalhadores

perceberam que era necessário o apoio do campo da pesquisa acadêmica para a luta

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de classe. Na medida em que os sindicatos se politizam, eles começaram a ver a

necessidade de conhecer com maior nível de detalhe os aspectos econômicos, sociais

e políticos da realidade. O Dieese surgiu, então, com o objetivo de produzir

conhecimentos de interesse dos trabalhadores e tem seu funcionamento sustentado

pela prestação de serviços de pesquisa e assessoria a sindicatos e centrais sindicais.

Gaban (2013), por sua vez, traz a experiência de formação dos

metalúrgicos do ABC Paulista, uma categoria que vem desde algumas décadas

sofrendo com as investidas do capital no seu afã de acumular mais riquezas. Aqui, a

formação é usada estrategicamente para dar conta de entender e superar as ameaças

sofridas pela classe trabalhadora, em razão das várias transformações do mundo do

trabalho, frutos da reestruturação do capitalismo.

A literatura sobre as transformações do capitalismo e no mundo do trabalho, nas últimas quatro décadas, explicita um cenário que, debilmente, pode ser resumido em análises que simplifiquem ou absolutizem a realidade social, uma vez que vários são os elementos que a influenciam, como também suas relações sociais. Essas mudanças alteram relações de poder locais, nacionais e internacionais, tornando complexo o entendimento dos desafios para a ação sindical. Novas realidades na economia e na política, valores que modificaram subjetividades dos indivíduos e novas percepções desse cenário estão presentes no cotidiano do trabalho e promovem constantemente uma inquietação na ação sindical; entre outras razões, porque se instabilizam com as mudanças implementadas pelo capital para manter seus negócios competitivos nesse cenário. (GABAN, 2013, p.14).

Diante dessa complexidade de cenários enfrentada pelos Metalúrgicos do

ABC Paulista, que inclui a flexibilização1, a terceirização2, a pressão do capital e a

insegurança dos trabalhadores, o sindicato buscou preparar seus dirigentes para que

o movimento sindical pudesse fazer a contrapartida. O processo formativo analisado

por Gaban objetivava um diálogo maior com a categoria, como também, um

mapeamento da realidade desses trabalhadores, que para o movimento sindical é

1 “Do pondo de vista de seu impacto nas relações de trabalho, a flexibilização se expressa na

diminuição drástica das fronteiras entre atividade laboral e espaço da vida privada, no desmonte da legislação trabalhista, nas diferentes formas de contratação da força de trabalho e em sua expressão negada, o desemprego estrutural.” (ANTUNES, 2015, p. 412). 2 “Mecanismo de contratação, entre outros aspectos, deve-se ao fato de, ao dissimular as relações sociais estabelecidas entre capital e trabalho, convertendo-as em relações interempresas, viabiliza maior flexibilidade das relações de trabalho, impondo aos trabalhadores contratos por tempo determinado, de acordo com os ritmos produtivos das empresas contratantes, auxiliando também, de forma importante, na desestruturação da classe trabalhadora.” (ANTUNES, 2015, p.420).

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imprescindível.

Os relatórios das atividades do departamento demonstram uma infinidade de atividades que são exercidas pela equipe, como seminário de planejamento, oficinas, apoio aos congressos, aos coletivos do sindicato, coletivos de formadores, ciclos de palestras, atividades essas que resultam, muitas vezes, em materiais e textos de reflexão. [...] Essas atividades resultaram em um número relevante de mais de 800 militantes e dirigentes que passaram pela formação no período, aliado à perspectiva de atuar com profundidade no trabalho formativo, que se estabelecia em muitas horas de trabalho presenciais, de estudo em grupo e individual.

Esses conteúdos têm uma origem nos problemas trazidos pela categoria, mas não se limitam a isso, porque, na verdade, há uma leitura que passa pela academia sobre as transformações no mundo do trabalho, reflexões sobre história e valores do movimento operário, experiências em outros países, documentos recentes que atualizam o debate e tudo isso, em conjunto, proporciona um trabalho que se amarra desde a concepção à prática, com essa troca de conhecimento. (GABAN, 2013, p.24-25).

Gaban (2013) conclui sua pesquisa ressaltando a importância de ações

formativas, tendo em vista a realidade em constante transmutação do mundo do

trabalho e as consequências desse processo sobre o movimento sindical, fazendo-se

necessário, cada vez mais, organizar e dialogar com os trabalhadores. Ela sinaliza

que a experiência realizada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC Paulista foi

exitosa:

Os números apontados pela pesquisa com relação à sua abrangência de público-alvo, como também da quantificação de horas de trabalho, associadas às descrições das memórias e das entrevistas sobre a natureza dessas atividades, demonstram um trabalho regular, planejado e com foco preciso na atuação sindical. [...] A preparação para a atuação nos eixos do Sindicato da Fábrica e Sindicato e Sociedade, sem dúvida, criou um marco no sentido de capacitar dirigentes sistematicamente e com projeto de longa duração que permitiram, aos participantes, associar esse conhecimento à sua experiência no chão da fábrica, ampliar a qualidade de sua intervenção. (GABAN, 2013, p.28).

Já Picolotto (2014), ao examinar a formação de um sindicalismo de

agricultores familiares no Sul do Brasil, identificou a existência de um projeto de ensino

fundamental vinculado à questão da agricultura familiar, denominado Projeto Terra

Solidária com viés profissionalizante e uma visão tática de aposta na formação

sindical. Tal projeto de formação contribuiu, segundo o autor, para a construção da

Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul – Fetraf/SUL,

uma entidade sindical paralela à Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio

Grande do Sul – Fetag/RS. Essa tática, adotada pela Central Única dos Trabalhadores

– CUT deu-se em razão do insucesso na filiação da Fetag/RS à referida central. Como

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se observa:

O processo de fortalecimento da dinâmica organizativa e da identidade da agricultura familiar na região Sul, aliado com o sentimento de falta de perspectiva de mudança na correlação de forças nas FETAGs na região e na CONTAG, recolocava o debate sobre a possibilidade de formar uma estrutura sindical específica dos agricultores familiares na região. [...] Com o intercruzamento dos debates sobre a agricultura familiar na região e a proposta de criar uma nova organização sindical da agricultura familiar, o Projeto Terra Solidária passou a ser um espaço privilegiado de reflexão e de mobilização para o sindicalismo cutista.

Em função da importância dos debates sobre a agricultura familiar e sobre as novas perspectivas de organização sindical realizados no Projeto Terra Solidária, o Congresso de fundação da FETRAF-Sul foi escolhido como o momento de diplomação de 1600 participantes do projeto, construindo-se em um momento de forte simbolismo. (PICOLOTTO, 2014, p.215-216).

O Programa Nacional de Integração da Educação Básica com a Educação

Profissional na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Proeja (Ensino Médio)

foi objeto da análise de Zorzi e Franzoi (2010). As autoras buscaram elucidar “[...] as

relações existentes entre os saberes e o processo de formação acadêmica dos

estudantes/trabalhadores do Curso Técnico em Comércio” (2010, p.115). Esse

Programa oferece oportunidade de conclusão dos estudos a trabalhadores que não

conseguem fazê-lo na idade considerada apropriada pela Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional, com respeito ao direito à educação e ao dever de educar:

Art.4° O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: I - Educação básica obrigatória dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte forma:

a) pré-escola; b) ensino fundamental; c) ensino médio (BRASIL, 1996).

A proposta pedagógica de elevação da escolaridade dos trabalhadores que

estão fora dos requisitos desse artigo 4°, segundo Zorzi e Fanzoi (2010), é alicerçada

na perspectiva do conhecimento dialogado, buscando superar o distanciamento entre

os saberes práticos dos estudantes obtidos no dia a dia e o saber escolar.

Nesse sentido, pensar no trabalho como princípio educativo implica em considerar as experiências de trabalho vividas pelos trabalhadores, dentro e fora do espaço escolar, sem deixar de considerar a contribuição singular dos atores envolvidos nas situações de trabalho. Interessa-nos, ao considerar o ‘educativo’, desvelar o processo da construção dos saberes que circulam no espaço de trabalho e potencializam os saberes que até então, aparentemente pertenceriam somente ao espaço escolar (ZORZI; FRANZOI, 2010, p.117).

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Considerando esse olhar de valorização dos saberes dos sujeitos não

circunscrito apenas à escolarização, o Proeja se dirige à demanda do mundo do

trabalho, pois prepara os trabalhadores para a produção. Entretanto, dialeticamente,

contribui, segundo as autoras, para a valorização e auto-estima dos trabalhadores

envolvidos, fazendo-os ganhar o entendimento sobre a dimensão e a importância do

seu fazer diário, da sua atividade laboral, o que segundo elas, os aproximava, pois ao

aprenderem também ensinavam.

A experiência de voltar para o espaço escolar promove para esses estudantes/trabalhadores a descoberta do saber que está em constante processo de construção e a experiência da escolarização, constitui novas relações sociais, que forjam relações diferenciadas em seus processos de subjetivação, no nível pessoal, familiar, social, além das modificações que ocorrem no ambiente do trabalho. (ZORZI; FRANZOI, 2010, p.117).

Como assevera Marx, “[...] é na práxis que o ser humano tem de comprovar

a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno do seu pensamento” (MARX

[1845], 1982, s/p – Tese II). O processo educativo do Proeja se configura, assim, como

uma atividade que interliga o conhecimento e a principal atividade humana, o trabalho.

Oliveira e Moura (2013) e Voitack (2011) trouxeram reflexões sobre a

comunicação como uma ferramenta para a formação da classe trabalhadora.

Buscaram compreender questões relevantes à informação/comunicação como

fenômeno social, na medida em “[...] que os sujeitos sociais inseridos num

determinado contexto sócio-histórico e, a partir de uma determinada situação,

atribuem sentido a ela”. (OLIVEIRA; MOURA, 2013, p.130). As autoras oferecem

importante contribuição sobre como a informação e a comunicação contribuem para

os processos formativos.

Na sua relação com a prática sindical e o trabalho, a prática informacional evidencia uma disputa que se dá entre o capital x trabalho, empregador x trabalho, dirigente sindical x empregador nas suas relações. Ao evidenciar tais antagonismos, os dirigentes sindicais bancários se viram na contingência de aprimorar e qualificar a ação sindical por meio do uso estratégico da informação. (OLIVEIRA; MOURA, 2013, p.129).

Os sindicatos são instâncias de grande poder de difusão de informação e

de potencial credibilidade desde que sejam capazes de exercer sua influência e

autoridade com a virtude democrática, propriedade, legitimidade e reconhecimento

dos representados. Para tanto, faz-se necessário um perene diálogo com os

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trabalhadores, buscar informações, submetê-las ao crivo da análise de sua

confiabilidade, saber transmiti-las e comentá-las. Em síntese, trata-se da habilidade

que “[...] faz da comunicação uma ferramenta de luta para a defesa de pautas

construídas pelo movimento sindical [...]” (VOITACK, 2011, p.1).

Segundo Oliveira e Moura (2013, p.137),

A informação para o sindicalista é relevante inclusive no que se refere à forma como organiza e orienta sua prática sindical. Esta situação se apresenta, por exemplo, nos fóruns deliberativos da categoria quando decisões importantes são encaminhadas. [...] Pode-se inferir que a informação tem valor estratégico para os dirigentes que se municiam e se nutrem dela para a sua ação sindical. Desta forma, observa-se que estes dirigentes podem ser reconhecidos pela categoria como lideranças informacionais.

Oliveira e Moura (2013, p.137) ainda constatam que:

A partir das questões que envolvem o conhecimento dos entrevistados sobre os recursos informacionais disponíveis no Sindicato, pôde-se contatar que o fato da entidade dispor de um Serviço de Informação Especializado contribuiu para a preparação política e informacional dos dirigentes. Desta forma, com programas de treinamento permanente, é possível possibilitar a esses sindicalistas manuseio e facilidade de acesso às fontes disponíveis.

A análise da bibliografia recolhida fez também emergir um conceito

relevante para a discussão sobre a formação sindical: o praticismo, conceituado “[...]

como a ação prático-utilitária visando a fins imediatos sem as mediações de análises

teóricas de caráter histórico-social nos processos de intervenção social e política”.

(SANTOS, 2011, p.157).

O autor considera que esse tipo de orientação influenciou a formação

sindical no Brasil a partir da década de 1960 e que o pensamento pedagógico de

Paulo Freire teria contribuído para sua vigência na educação popular, na formação

dos dirigentes sindicais. Tal concepção teria relações com as “[...] transformações do

pensamento de esquerda na Europa nos anos 1960 e sua influência da formação de

militantes.” (SANTOS, 2011, p.157). Assim,

Este foi um período de prosperidade para os países capitalistas centrais cujas bases se encontram na política econômica keynesiana que, na sua versão europeia, tornou-se o welfare state ou Estado de Bem-Estar Social, cujas premissas estavam: a) no fortalecimento da economia por meio da

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intervenção estatal que estimulava a produção e o consumo em massa; b) no recrudescimento da democracia representativa nos principais países capitalistas; c) na cooptação de sindicatos e sua colaboração com as empresas; d) no estabelecimento de uma força de trabalho bem remunerada nos países centrais.

Tais prosperidades ocultavam problemas sociais graves tanto nos países desenvolvidos quanto nos periféricos. Contudo, a convicção de que a prosperidade veio para ficar influenciou sobremaneira uma grande parcela de intelectuais ligados às lutas dos trabalhadores dos anos de 1950 e 1960. (SANTOS, 2011, p.158).

Santos (2011) contribui com sua análise para a compreensão do contexto

acima caracterizado e do que se acentuou com a organização dos sindicatos dos

trabalhadores rurais no Brasil e nos países do Cone Sul:

Na América Latina, as décadas de 1950 e 1960 foram bastante ricas em termos de organização da classe trabalhadora. No Brasil, por exemplo, as Ligas Camponesas no nordeste, os Movimentos de Cultura Popular, a organização dos sindicatos (embora divergentes na tática e nos objetivos) são expressões deste momento histórico.

Neste contexto, emerge o pensamento de Paulo Freire o qual, indubitavelmente, trouxe importantes contribuições para a educação ao formular uma teoria pedagógica progressista e dotada de elementos críticos sob a influência dos acontecimentos práticos e teóricos da década de 1960. (SANTOS, 2011, p. 159).

Diz, ainda, o autor: “Assumindo a postura de uma determinada corrente da

Igreja Católica, Freire desenvolverá os melhores de seus esforços para produzir uma

Pedagogia da Libertação” (SANTOS, 2011, p.161) e que esse contexto idealista

subsidiará sua obra. As visões praticista e imediatista, presentes na educação popular

de corte freiriano se fundamentam epistemológica e pedagogicamente no

subjetivismo.

Martins (2011), por sua vez, resgata outro conceito muito utilizado nos

processos de formação sindical, o de práxis, mas que, no seu entendimento, tem sido

usado por muitos autores de forma equivocada. De origem aristotélica, esse conceito

teria sido resgatado por Marx, que o enriqueceu, pois “[...] concebe a práxis como um

processo teórico-prático por meio do qual o homem torna-se capaz de superar a

especulação” (MARTINS, 2011, p.536). Ao fazer essa distinção, Martins (2011)

recupera uma conceituação de práxis, importante para se pensar a formação sindical.

Trata-se da “[...] ação teórico-prática do homem, que transforma historicamente a

realidade segundo suas necessidades de sobrevivência e as exigências de sua

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existência, delimitadas pelo contexto societário vivido.” (MARTINS, 2011, p.552).

Conforme se observou nos registros de leituras de algumas produções

bibliográficas, há reflexões importantes sobre a formação sindical de modo geral e

referentes ao histórico do movimento sindical brasileiro. Algumas das experiências

analisadas colocaram ou colocam o foco dessa intervenção na qualificação

profissional, outras no diálogo com a base sindical, outras a utilizam como ferramenta

para a construção da entidade sindical paralela. Há experiências que levam em

consideração o saber que o trabalho produz e a importância de se aproximar esse

saber ao produzido pela academia. Outras buscaram estabelecer laços com a

academia para a obtenção de conhecimentos por ela produzidos de forma a subsidiar

o enfrentamento da luta de classes.

Porém, percebeu-se que a questão que motivou a presente dissertação não

foi abordada nos textos analisados e se o foi isso ocorreu de forma periférica ou

assessória. Ela diz respeito ao pressuposto de que o instrumento da linguagem é

extremamente importante no desenvolvimento da atividade de formação do

movimento sindical e para o exercício da própria atividade sindical. Refere-se,

também, à necessidade do resgate das contribuições de Vigotski3 e colaboradores

sobre a linguagem e seus nexos com o desenvolvimento das interações sociais e a

formação do pensamento.

Vigotski buscou mostrar que a linguagem cumpre, dialeticamente, um

importante papel de mediação na relação do homem em sociedade, ao compreender

que ela é instrumento da interação social, pois “[...] a função primordial da fala é a

comunicação, o intercâmbio social.” (VIGOTSKI, 2008, p.6). Além disso, segundo o

autor, a linguagem é, também, um instrumento imprescindível para o desenvolvimento

do pensamento.

Qualquer que seja a solução do complexo e controverso problema teórico da relação entre pensamento e linguagem, não se pode deixar de reconhecer a importância decisiva e exclusiva dos processos de linguagem interior para o desenvolvimento do pensamento (VIGOTSKI, 2010, p.133).

Assim, as reflexões de Vigotski (2000, 2007, 2008, 2010) sobre as relações

3 O nome do autor tem sido escrito de várias formas (Vygotsky, Vygotski, Vigotski). Nesta pesquisa, será considerada a grafia Vigotski.

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entre linguagem, desenvolvimento e aprendizagem se configuram como a base

teórica do desenvolvimento desta dissertação, que busca respostas para uma questão

candente do processo pedagógico da formação sindical: a utilização de instrumentos

necessários para o desenvolvimento dessa atividade humana específica de forma a

possibilitar o desenvolvimento de conceitos importantes da práxis sindical, a beneficiar

seus processos de interação e comunicação e a fortalecer a capacidade de pensar e

agir dos seus militantes e dirigentes.

Mencionam-se, aqui, as dificuldades que o movimento sindical enfrenta no

diálogo com a classe trabalhadora, mobilização dos filiados ou não à participação de

assembleias, reuniões e manifestações, mesmo com todo o aparato tecnológico dos

atuais meios de comunicação.

A diversidade histórico-cultural constitutiva da estrutura social multiétnica

da sociedade brasileira se reflete no mundo do trabalho e, por extensão, no movimento

sindical brasileiro, característica que tem implicações importantes com respeito aos

usos de linguagens, aos processos de comunicação e às representações simbólicas.

Pochmann (1999, 2001, 2003), economista político, autor de diversas

publicações que retratam o mundo do trabalho e suas organizações de classe, afirma

que a grande imprensa pertence ao movimento sindical, a julgar pelo número de

panfletos que os sindicatos fazem por semana, de jornalistas e de sites que possui.

Entretanto, essa imprensa sindical pode não estar efetivamente se comunicando bem

e os trabalhadores podem não estar sendo capazes de entender as linguagens que

ela utiliza. Com a entrada em cena das mídias digitais, surgiram também mudanças

na forma de se comunicar fazendo com que a linguagem se torne mais rápida, sucinta

e direta.

Hoje, grande parte da classe trabalhadora, inclusive dos trabalhadores

rurais, tem acesso à internet, às redes sociais, à informação. A grande maioria dos

sindicatos possui computador com acesso à Web, telefone, correio eletrônico. Apesar

disso, sobram dificuldades para organizar o movimento sindical e mobilizar a classe

para a luta política.

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Obviamente que fatores estruturais e conjunturais contribuem para essa

realidade. Malgrado isso, o movimento sindical tem buscado ser uma ferramenta de

luta dos trabalhadores nos enfrentamentos necessários voltados a minimizar a

exploração do trabalhador. E, nesse embate, a correlação não é de igualdade, pois a

classe dominante construiu e constrói cotidianamente elementos teóricos para garantir

sua hegemonia na sociedade. Seus intelectuais orgânicos têm a função de legitimar

seus interesses, afinados com sua leitura de mundo e sua concepção de dominação,

tal como observou Gramsci:

Cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica, cria para si, ao mesmo tempo, de um modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político: O empresário capitalista cria consigo o técnico da indústria, o cientista da economia política, o organizador de uma nova cultura, [...]. Deve-se anotar o fato de que o empresário representa uma elaboração social superior, já caracterizada por uma capacidade dirigente (isto é, intelectual): ele deve possuir uma certa capacidade técnica, não somente na esfera restrita de sua atividade e de sua iniciativa, mas ainda em outras esferas, pelo menos nas mais próximas da produção econômica deve ser um organizador de massa de homens: deve ser um organizador da “confiança” dos que investem em sua fábrica, dos compradores de sua mercadoria etc... (GRAMSCI, 1982, p.3-4).

Mas, é também importante considerar que o movimento sindical, a partir de

suas práxis e com base na contribuição de seus intelectuais orgânicos, desenvolve

linguagens, que lhes são próprias e que possuem significados para ele. Porém, tais

conteúdos e mensagens expressas por jornais, entrevistas ou discursos sindicais

podem não ter sentido pessoal para os trabalhadores.

Considerou-se, assim, a necessidade de estudos sobre o processo de

mediação exercido pela linguagem na formação sindical e suas contribuições no

sentido de favorecer as interações dos dirigentes e os trabalhadores da base sindical

bem como suas capacidades de refletir e formar conceitos.

Logo, a questão central que serve de eixo estruturante desta dissertação é

a seguinte: Entendida a linguagem como instrumento de mediação pedagógica tal

como propõe a teoria histórico-cultural, que implicações isso traz para as atividades

de formação política sindical?

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Em busca de respostas para essa indagação, esta dissertação teve como

objetivo geral analisar o que resulta do entendimento do uso da linguagem, seja como

expressão oral, escrita ou gestual, enquanto mediação pedagógica ao se ter em

mente a promoção de avanços na formação sindical na perspectiva da inovação social

e do desenvolvimento local.

Para tanto, foram definidos dois objetivos específicos. O primeiro se refere

à análise das contribuições da teoria histórico-cultural para essa compreensão da

linguagem no processo de mediação pedagógica. Esse estudo foi realizado com base

em revisão teórico-conceitual. O segundo concerne percepções de formadores

sindicais sobre essa questão a partir das suas vivências e experiências de formação

política sindical. Esse implicou, por sua vez, a realização de uma pesquisa empírica

de natureza qualitativa e caráter exploratório e descritivo.

Com base nos resultados obtidos com a revisão teórica conceitual e com a

pesquisa junto aos formadores sindicais, foi produzido um documento que traz

elementos a serem considerados no projeto político pedagógico de formação sindical

da Fetaemg. Trata-se de subsídios referentes ao uso da linguagem como instrumento

de mediação pedagógica na atividade de formação política sindical comprometida

com avanços na formação sindical e com as inovações sociais incursas em processos

de desenvolvimento local.

É importante dizer que não se considera, aqui, inovação social como

sinônimo de modernização ou a mudança pela mudança tal como se observa nos

discursos pós-modernos. Entende-se por inovação as contribuições apontadas por

Carbonell quando diz que tal conceito está necessariamente ligado à necessidade de

aprofundamento das mudanças nas concepções e nas estruturas centradas “[...] mais

no processo que no produto; mas no caminho que no ponto de chegada”

(CARBONELL, 2002, p.25).

Já sobre o desenvolvimento local, é importante trazer a definição de

Fragoso de que se trata “[...] da possibilidade das populações poderem expressar uma

ideia de futuro num território visto de forma aberta e flexível, onde esteja ausente a

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noção de espaço como fronteira, concretizando ações que possam ajudar à (re)

construção desse futuro.” (FRAGOSO, 2005, p.64).

Esta dissertação foi, portanto, desenvolvida com a finalidade de produzir

conhecimentos sobre formação, mediação e linguagem de forma a oferecer subsídios

a novas pesquisas e a intervenções educativas, que tenham o propósito de promover,

de forma inovadora, o desenvolvimento local na dimensão pessoal, social e política

dos sujeitos e dos espaços em que atuam.

Ela também respondeu à necessidade da pesquisadora principal de

aprimorar sua forma de pensar e de realizar a formação política sindical. Os resultados

alcançados têm lhe permitido contextualizar melhor suas intervenções pedagógicas,

aprimorar seus métodos e práticas e contribuir para que a atividade educativa e a

gestão social no movimento sindical sejam mais dialogadas e participativas.

Esta dissertação se compõe desta Introdução, que traz digressões sobre

resultados de estudos sobre o tema bem como as motivações da investigação

realizada, seus objetivos - geral e específicos, marcos conceituais de base e o plano

da exposição. Em continuação, oferece os seguintes capítulos:

O primeiro, que expõe os resultados da revisão conceitual temática sobre

a teoria histórico-cultural e suas contribuições para a compreensão da linguagem

como instrumento de mediação pedagógica. Essa revisão se serviu, basicamente, de

leituras de textos de Marx, Engels, Vigotski, Luria e Leontiev. Seu eixo central está na

compreensão do processo de constituição humana, de como ela se dá a partir da

relação do indivíduo com o mundo exterior mediada por um conjunto de sistemas

simbólicos.

O segundo capítulo relata a pesquisa realizada com formadores sindicais

da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais –

Fetaemg, por meio da qual se buscou identificar e analisar suas percepções sobre o

significado e implicações do instrumento da linguagem para a formação política

sindical, tendo como base, principalmente, suas vivências e experiências de

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formadores.

O terceiro capítulo apresenta as motivações, objetivos, finalidades,

metodologia e resultados do desenvolvimento de um produto técnico acerca do uso

da linguagem como instrumento de mediação pedagógica e das especificidades dessa

matéria no contexto da formação sindical.

Nos arremates da dissertação, encontram-se as considerações finais, as

referências, os apêndices e anexo.

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2. A LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO NA

TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL

Kátia Gaivoto

Lucília Machado

Resumo Este capítulo traz resultados da revisão teórica conceitual sobre as contribuições da teoria histórico-cultural para a compreensão da linguagem como instrumento de mediação simbólica. Constitui-se como passo do processo de construção desta dissertação e de seu propósito de subsidiar estudos sobre aperfeiçoamentos de atividades de formação política sindical. Buscou-se abranger o contexto do nascimento dessa importante teoria, seu entendimento sobre o processo da constituição do ser humano, a relação entre mediação e o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, o conceito de internalização, a relação entre aprendizagem e desenvolvimento, a linguagem como intercâmbio social e instrumento de desenvolvimento do pensamento. Palavras-chave: mediação, internalização, sentidos, significados sociais, linguagem.

Abstract This chapter carries results from the conceptual theoretical review about the historical and cultural theory contributions to the understanding of the language as an instrument of pedagogical mediation. This review’s research was fulfilled as part of a master’s dissertation, developed with the purpose to subsidize activities of political and labor union formation. It was sought to include the creation context of this important theory, its understanding about the process of human constitution, the role of mediation in the process of superior psychological functions’ development, the concept of internalization, the link between learning and growth, the language as social exchange and instrument of thinking development. Keywords: mediation, internalization, senses, social meanings, language.

Kátia Gomes Gaivoto - Licenciada em História, Mestrando em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local – UNA, diretora e formadora do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho - CES. E-mail: [email protected] Lucília Regina de Souza Machado – Socióloga, mestre e doutora em Educação, pós-doutora em Sociologia do Trabalho e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]

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2.1. Introdução

A teoria histórico-cultural tem a concepção materialista e dialética da

história e os aportes de Marx e Engels como esteios e traz elementos fundamentais

para a compreensão da linguagem como instrumento de mediação simbólica. Nesta

dissertação, busca-se recuperar nos textos de Vigotski, Leontiev e Luria, autores

pioneiros dessa teoria, contribuições para a discussão dessa temática. Os textos

utilizados são, em sua maioria, traduções do russo nem sempre diretas, por isso,

podem apresentar dissonância com os originais.

Na perspectiva dessa teoria, o homem é um ser histórico-cultural, fruto da

sua atividade por meio da qual realiza relações com a natureza e com outros homens,

processo que requer e engendra suas capacidades de se comunicar e pensar. Para

tanto, produz e usa linguagens (sinais, símbolos, sons e gestos), mediações

simbólicas fundamentais às interações sociais e à formação do pensamento, das

generalizações, dos conceitos mediante os quais representa seus conhecimentos,

valores e emoções. Diversas áreas do conhecimento encontram nessa teoria

contribuições para compreender os nexos históricos e dialéticos estabelecidos entre

os fatores biológicos e sociais da constituição do ser humano.

Esta revisão teórica centra-se no papel mediador da linguagem,

compreendida como um processo interativo e dialógico, específico do gênero humano.

A palavra, oral e escrita, é considerada pela teoria histórico-cultural como o signo

principal do sistema simbólico. A linguagem como mediação simbólica tem sido

também considerada na sua expressão de mediação pedagógica.

A metodologia adotada para esta revisão teórica e conceitual buscou dar

atenção às comparações, interpretações e proposições envolvidas na discussão

sobre a função mediadora da linguagem, o que exigiu a definição de algumas

categorias de análise, que serão abordadas em tópicos específicos.

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2.2. Um breve apontamento do contexto em que nasce Vigotski e a Teoria

Histórico-Cultural

Lev Semionovich Vigotski nasceu na Bielorússia, em 1896, descendente

de família judaica, pai bancário e mãe professora, incentivadores na busca por

conhecimento. Dedicado aos estudos, em especial sobre arte e literatura, formou-se

em direito, filosofia e história em Moscou e adquiriu profundos conhecimentos em

língua e linguística, estética e literatura. Iniciou sua carreira como psicólogo depois da

Revolução Russa, de 1917. Aos 19 anos de idade, a tuberculose se manifestou e foi

a causadora de sua morte precoce aos 38 anos em 1934. Mesmo com a doença,

Vigotski não deixou de pesquisar. Muitas e marcáveis foram suas produções, que se

prolongaram nos trabalhos de seus colaboradores, tal como informa Leontiev:

O Método Instrumental em Pedologia (1928), O Problema do Desenvolvimento Cultural da Criança (1928), As Raízes Genéticas do Pensamento e Linguagem (1929), Esboço de um Desenvolvimento Cultural da Criança Normal (1929), O Método Instrumental em Psicologia (1930), Instrumento e Símbolo no Desenvolvimento da Criança (1930), Estudos Sobre a História do Comportamento (1930, juntamente com Luria), A História do Desenvolvimento das Funções Mentais Superiores (1930-1931). [...] Para além destes, importantes para o entendimento da teoria histórico-cultural são os trabalhos de seus colaboradores: Sobre os Métodos de Investigação dos Conceitos, por L. S. Sakharov (1927), O Desenvolvimento da Memória por A. N. Leontiev (1931), O Desenvolvimento dos Conceitos Cotidianos e Conceitos Científicos, por Zh. I. Shif (1931). (LEONTIEV, 1989, p.10).

A partir de 1924, no Instituto de Psicologia de Moscou, Vigotski deu início

ao seu trabalho sistemático de investigação em psicologia, juntamente com o

neuropsicólogo Alexander Romanovich Luria (1902-1977) e o filósofo e cientista social

Alexis Nikolaevich Leontiev (1904-1979) seus grandes parceiros de pesquisas. Nesse

Instituto, Vigotski desenvolveu as bases da teoria histórico-cultural, cujo ponto de

partida decorre do entendimento de que o desenvolvimento do indivíduo é resultado

da sua relação histórica e social. Luria ressalta o brilhantismo de Vigotski:

Não é exagero dizer que Vygotsky era um gênio. Ao longo de mais de cinco décadas de trabalho no meio científico, nunca mais encontrei qualquer pessoa cujas qualidades se aproximassem das de Vygotsky: sua clareza mental, sua habilidade na identificação da estrutura essencial de problemas complexos, a extensão de seu conhecimento em vários campos, e a capacidade que tinha de antever o desenvolvimento futuro de sua ciência (LURIA, 1992, p.43).

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Vigotski pesquisa em meio a uma crise sistêmica decorrente da

inauguração de um novo regime político, nascente com a Revolução de 1917, que

marca o fim da era tzarista.

Com a instalação do poder sovietes, o primeiro país socialista estava diante de muitos desafios políticos, econômicos, culturais e sociais. A prioridade era a educação, que deveria deixar de ser um privilégio para poucos para se transformar em um dos direitos de qualquer cidadão, criando-se, para isso, um novo sistema de instrução. [...] Muitos cientistas, pesquisadores e especialistas decidiram permanecer no país e colaborar com o novo regime, mas muitos também imigraram. Aos que ficaram, a Rússia socialista apresentou a tarefa de criar os fundamentos da psicologia e da pedagogia soviéticas, que tinham por objetivo a formação do homem novo, o que criava a demanda de novos modos de pensar a ciência. (PRESTES, 2012, p.28).

Com respeito à psicologia, segundo Leontiev “[...] a principal deficiência

dela era a simplificação dos fenômenos mentais, a tendência ao reducionismo

fisiológico, a descrição inadequada da manifestação superior da mente – consciência

humana.” (LEONTIEV, 1989, p.6).

Vigotski, contrapondo-se às formulações existentes à época, argumentou

que “[...] o verdadeiro curso do desenvolvimento do pensamento não vai do indivíduo

para o socializado, mas do social para o individual.” (VIGOTSKI, 2008, p.24). Além

disso, contraditou as duas correntes existentes que permeavam as pesquisas em

Psicologia: a subjetivista, para a qual o homem não sofre influência do mundo exterior,

e a objetivista, que considera que esse é apenas um reflexo das influências externas.

Reivindicou, assim, considerar os princípios do materialismo dialético na relação entre

objetividade e subjetividade. Seu plano de trabalho incluía:

Caracterizar os aspectos tipicamente humanos do comportamento e elaborar hipóteses de como essas características se formaram ao longo da história humana e como se desenvolvem durante a vida de um indivíduo. Essa análise se preocupará com três aspectos fundamentais: (1) Qual a relação entre os seres humanos e o seu ambiente físico e social?; (2) Quais as formas novas de atividade que fizeram com que o trabalho fosse o meio fundamental de relacionamento entre o homem e a natureza e quais as consequências psicológicas dessas formas de atividade; (3) Qual a natureza das relações entre o uso de instrumentos e o desenvolvimento da linguagem? (VIGOTSKI, 2007, p.3).

Vigotski iniciou suas pesquisas considerando o homem como um todo e a

partir da sua realidade objetiva, para, então, construir uma psicologia que, de fato,

pudesse ser reconhecida como uma psicologia materialista dialética.

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Vigotski escreveu. [...] que a psicologia é, naturalmente, uma ciência concreta. Cada teoria psicológica tem sua base filosófica. Algumas vezes se manifesta, outras vezes está escondida. E em cada caso essa teoria é determinada por suas bases filosóficas. É por isso que não devemos tomar os resultados prontos da psicologia e combiná-los com as teses do materialismo dialético sem primeiro ter reformado suas bases. Devemos realmente construir uma psicologia marxista, devemos começar com suas bases filosóficas. (LEONTIEV, 1989, p.8).

Marx e Engels questionaram o subjetivismo, para quem a realidade

compreende somente a experiência particular de cada um, não indo além das

interpretações, percepções e sentimentos, que o indivíduo tem com respeito ao

mundo. Diferentemente, ambos tratam de indivíduos reais, da sua atividade e

condições materiais de existência, pois “A primeira condição de toda a história humana

é evidentemente a existência de seres humanos vivos.” (MARX; ENGELS, 1999,

p.10).

Com essa premissa, Marx e Engels questionaram a tese idealista de Hegel

de defesa da primacial contemplação ao invés de se voltar e partir do “[...] mundo

sensível” (MARX; ENGELS, 1999, p.25). Para eles, não se trata de substituir o mundo

material pela reflexão profunda, pela meditação, pelo pensamento, pelo mundo do

espírito, mas de partir da realidade concreta do mundo sensível, do mundo real em

que o homem vive. Essa crítica também foi feita por eles a Feuerbach, que não teria

superado o idealismo. Com isso, afirmam que:

A forma como os indivíduos manifestam sua vida reflete muito exatamente aquilo que são. O que são coincide, portanto, com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como o produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto das condições materiais da sua produção. (MARX; ENGELS,1999, p.12).

Isto é, “[...] não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que

determina a consciência’’, considerando que “[...] é, na vida real, que começa a ciência

real, positiva, a expressão da atividade prática, do processo de desenvolvimento

prático dos homens.” (MARX; ENGELS, 1999, p.22).

A partir de tais premissas, Vigotski sustenta que a linguagem se origina na

e pela atividade humana como instrumento do pensamento e meio para e de

comunicação. Leontiev (2004) reforça que a aquisição da linguagem é o processo de

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apropriação das operações de palavras que são fixadas historicamente nas suas

significações.

O que está posto, portanto, pela teoria histórico-cultural é o entendimento

de que a construção histórica do homem se dá na e pela sua atividade em sociedade

ao longo de toda sua existência e, que, como decorrência da sua intervenção sobre a

natureza e da relação com outros homens, ele desenvolve seu modo de produzir, a

cultura, a política, seu modo de ser e dizer.

Na sua atividade, o homem modifica a natureza em seu proveito, mas

também se transmuda ao se constituir ontologicamente:

Antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Defronta-se com a natureza como uma de suas forças. Põe em movimento as forças naturais de seu corpo, braços e pernas, cabeça e mãos, a fim de apropriar-se dos recursos da natureza, imprimindo-lhes forma útil à vida humana. Atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mesmo tempo modifica sua própria natureza. Desenvolve as potencialidades nela adormecidas e submete ao seu domínio o jogo das forças naturais. (MARX, 1971, p.202).

Leontiev (2014) lembra, que o homem não se resignou à condição de ser

um mero coletor ou receptor de bens proporcionados pela natureza ou de influências

do meio. Ele é um ser ativo e da mesma forma que acolhe, herda ou se apropria

desses bens e influências também os remodela, converte e transforma a partir de sua

atividade e, ao fazê-lo, também altera sua forma de ser.

É em atividade que a transição ou “tradução” do objeto refletido em imagem subjetiva, em ideal, ocorre; ao mesmo tempo, [...] em resultados objetivos da atividade, seus produtos, em material. Considerada deste ângulo, atividade é um processo de inter-tráfico entre opostos, sujeito e objeto. (LEONTIEV, 2014, p.2).

Assim, a atividade humana, como um movimento de dupla determinação

ou ação recíproca entre sujeito e objeto, se constitui como o fazer, o exercer, o

realizar, o produzir do homem em vista da satisfação ou consumação de suas

necessidades, carências e utilidades fundamentais à continuidade da sua existência,

à manutenção da sua vida e ao seu enriquecimento como gênero humano. A atividade

põe em funcionamento ações em direção a e sobre objetos, cada qual norteada por

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objetivo ou meta.

Nessa perspectiva, o trabalho é a atividade principal, por meio da qual o

sujeito se constitui como ser social, pois pressupõe sua relação com os outros

homens. Engels estudou as implicações da relação metabólica do homem com a

natureza e as mudanças estruturais no antropoide, primata que, filogeneticamente e

como espécie, guarda maior proximidade com a espécie humana, e afirmou que, “[...]

o trabalho criou o próprio homem.” (ENGELS, 1999, p.4).

Dentre as transformações filogenéticas, correspondentes à evolução da

espécie humana, Engels menciona a passagem ao posicionamento em forma ereta e

ao aprimoramento das mãos, que o manuseio dos alimentos e a busca deles em topos

de árvores permitiram aprimorar:

Mas havia sido dado o passo decisivo; a mão era livre e podia agora adquirir cada vez destreza e habilidade; e essa maior flexibilidade adquirida transmitia-se por herança e aumentava de geração em geração. Vemos, pois, que a mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela adaptação a novas e novas funções, pela transmissão hereditária do aperfeiçoamento especial assim adquirido, pelos músculos e ligamentos e, num período mais amplo, também pelos ossos; unicamente pela aplicação sempre renovada dessas habilidades transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas foi que a mão do homem atingiu esse grau de perfeição que pôde dar vida, como por artes de magia, aos quadros de Rafael, às estátuas de Thorwaldsen e à música de Paganini. (ENGELS, 1999, p.7-8).

No desenvolvimento filogenético do homem em resposta à necessidade de

garantir sua existência e, com isso, realizar o aprimoramento de sua atividade, ocorre

também o advento e a expansão da fala hábil e inteligente. Engels explica:

A necessidade criou o órgão: a laringe pouco desenvolvida do macaco foi-se transformando, lenta mas firmemente mediante modulações que produziam por sua vez modulações mais perfeitas, enquanto os órgãos da boca aprendiam pouco a pouco a pronunciar um som articulado após outro. (ENGELS, 1999, p.10).

Vigotski apoia-se nessas formulações para discutir o instrumento da

linguagem com mediação simbólica das relações sociais e do desenvolvimento do

pensamento. Assim o faz considerando categorias de conhecimento e suas inter-

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relações, e os nexos entre fatores biológicos e sociais no desenvolvimento psicológico

do homem.

2.3. O papel da mediação no processo de desenvolvimento das funções

psicológicas superiores

Por tanto, em conformidade com as formulações marxistas e engelsianas,

a teoria histórico-cultural considera que

O homem é um ser de natureza social, tudo o que tem de humano nele provém da sua vida em sociedade, no seio da cultura criada pela humanidade. [...] As aptidões e caracteres especificamente humanos não se transmitem de modo algum por hereditariedade biológica, mas adquirem-se no decurso da vida por um processo de apropriação da cultura criada pelas gerações precedentes. [...] Podemos dizer que cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não lhe basta para viver em sociedade. É-lhe ainda preciso adquirir o que foi alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana. (LEONTIEV, 2004, 279-285).

Assim entendida, componentes de ordem natural também estão presentes

na formação do ser humano, que requer a constituição e aperfeiçoamento de

faculdades tais como as sensações, a atenção, a percepção, a memória, a emoção,

a linguagem emotiva, o que Vigotski chamou de processo primário do

desenvolvimento, o qual depende, conforme o autor, das condições do ambiente

externo e das vivências sócio-culturais historicamente determinadas. Isso ocorre no

plano ontogenético do gênero humano com o desenvolvimento do que Vigotski

chamou de funções psicológicas superiores especiais:

El concepto de "desarrollo de las funciones psíquicas superiores" y el objeto de nuestro estudio abarcan dos grupos de fenómenos que, a primera vista, parecen completamente heterogéneos, pero que, de hecho, son dos brazos fundamentales, dos causas de desarrollo de las formas superiores de conductas, que jamás se funden entre sí, aunque estén indisolublemente unidas. Se trata, en primer lugar, de procesos de dominio de los medios externos del desarrollo cultural y del pensamiento: el lenguaje, la escritura, el cálculo, el diseño; y, en un segundo momento, de los procesos de desarrollo de las funciones psíquicas superiores especiales, no limitadas ni determinadas con exactitud, que, en la psicología tradicional, se denominan atención voluntaria, memoria lógica, formación de conceptos etc. (VIGOTSKY, 1995, p.15.).4

4 O conceito de “desenvolvimento das funções psicológicas superiores” e o objeto de nosso estudo

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Portanto, a estruturação do humano se faz, segundo a teoria histórico-

cultural, na vida concreta, por meio da qual o homem produz e se produz na interação

com a natureza, com os outros homens, bases materiais do seu processo histórico.

Segundo Leontiev (2004, p.186), a atividade “[...] é um sistema que

obedece ao sistema de relações da sociedade. Fora destas relações, a atividade

humana não existe.” São os processos que os homens realizam em suas vidas

verdadeiras, que cercam seu ser social em todas suas formas históricas. Logo, a

atividade, qualquer que seja, estará condicionada pela posição ou lugar do indivíduo

nesse sistema de relações sociais. Porém, o autor adverte que:

Isso não quer dizer, naturalmente, que a atividade do indivíduo meramente copia e personifica os relacionamentos da sociedade e sua cultura. Existem algumas ligações cruzadas muito complexas que excluem qualquer redução estrita de um ou de outro lugar. (LEONTIEV, 2014, p.187).

A atividade pressupõe um objeto sobre o qual o sujeito intervém e que o

norteará. Trata-se de uma necessidade, algo que se impõe, que não se pode

dispensar, que corresponde a uma carência, conveniência ou dever, mais ou menos

urgentes, mas sempre sujeitos à determinação social e histórica. É a necessidade ou

motivo a/o responsável por orientar e regular a atividade. Trata-se da força motriz, do

elo com o objeto, que faz existir a atividade e que provoca a formação das imagens

mentais e das representações.

O que exatamente temos em mente quando falamos de atividade? Vamos considerar o processo mais simples, o processo de perceber a resiliência de um objeto. Este é um processo aferente ou externo-motor, que pode buscar, ao realizar uma tarefa prática, por exemplo, a deformação do objeto. A imagem que surge ao longo do processo é, naturalmente, uma imagem mental, e é, por conseguinte, indubitavelmente qualificada para o processo que a gera, e no caso dado este é um processo externo e prático. (LEONTIEV, 2014, p.187-188).

abarcam dois grupos de fenômenos que, à primeira vista, parecem completamente heterogêneos, mas que, de fato, são dois braços fundamentais, duas causas de desenvolvimento das formas superiores de conduta, que jamais se fundem entre si, ainda que estejam indissoluvelmente unidas. Trata-se, em primeiro lugar, de processos de domínio dos meios externos do desenvolvimento cultural e do pensamento: a linguagem, a escrita, o cálculo, o desenho; e, num segundo momento, dos processos de desenvolvimento das funções psíquicas superiores especiais, não limitadas nem determinadas com exatidão, que, na psicologia tradicional, denomina-se atenção voluntária, memória lógica, formação de conceitos etc. (VIGOTSKI, 1995, p.15). Tradução nossa.

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Assim, o que especifica e diferencia uma atividade por comparação como

outras é o seu objeto, o qual está orientado pela necessidade, pelo motivo. Logo,

segundo Leontiev (2014), toda atividade existe porque há um motivo subjacente a ela,

que a move, lhe dá a direção e a regula. Segundo esse autor,

Pela sua atividade, os homens não fazem senão adaptar-se à natureza. Eles modificam-na em função do desenvolvimento de suas necessidades. Criam os objetos que devem satisfazer as suas necessidades e igualmente os meios de produção desses objetos, dos instrumentos às máquinas mais complexas. (LEONTIEV, 2004, p.284).

Por dar existência real a produtos que respondem a necessidades

humanas, a atividade humana é essencialmente objetivadora. Por meio dela, na

relação com o outro e com o ambiente em que vive socialmente, o sujeito produz, e

ao produzir ele altera o ambiente, e ao fazê-lo também se modifica. Ela é,

intrinsecamente, social e cultural. Social, pois se processa na relação social, na

dependência de outros e em comunicação com outros. Cultural, por se fazer mediante

apropriações, reproduções e produções de saberes, conhecimentos, costumes e

valores. Conforme Marx:

Mas a existência [...] de cada elemento da riqueza material não existe na natureza, sempre teve de ser mediada por uma atividade especial produtiva, adequada ao seu fim, que assimila elementos específicos da natureza a necessidades humanas específicas. Como criador de valores de uso, como trabalho útil, é o trabalho, por isso, uma condição de existência do homem, independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre o homem e a natureza e, portanto, da vida humana. (MARX, 1971, p. 172).

Esse processo que origina a vida material do homem e a constituição do

próprio homem não se dá, porém, de forma direta, mas de forma mediada. Isso

significa que a atividade de mediação ocorre graças à interposição e ao auxílio de

meios que provocam transformações que impulsionam o desenvolvimento. Para

Vigotski, esses são os instrumentos ou ferramentas (meios externos à ação sobre os

objetos) e os signos ou símbolos (meios internos que agem sobre o psiquismo). Cada

qual tem seu emprego, mas todos têm a incumbência de mediar:

Como ya hemos dicho, la similitude entre el signo y la herramienta se basa en su función mediadora común em ambos. Por ello, y desde un punto de vista psicológico, pueden incluirse ambos en una misma categoría. [...] desde el punto de vista lógico, tanto lo uno como lo outro pueden considerarse como

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conceptos subordinados de un concepto más general: la actividad mediadora. (VIGOTSKI, 1995, p. 93).5

O instrumento, segundo Vigotski (2007, p.55), tem “[...] a função de servir

como um condutor da influência humana sobre o objeto da atividade; ele é orientado

externamente; deve necessariamente levar a mudanças nos objetos”. Sem a

utilização deles, a atividade se torna inviável. Por exemplo, um agricultor familiar, em

sua atividade laboral, que para limpar determinada parte de sua propriedade para

plantar feijão, se utiliza de instrumentos como a foice, roçadeira, enxada para executar

sua atividade.

Já os signos, eles têm a função de representar coisas, constituem a

linguagem, um sistema simbólico articulado e organizado por regras, que permite dar

nomes e classificar as coisas, generalizar e conceituar. A mediação exercida pelos

símbolos atraiu especial atenção de Vigotski:

Llamamos signos a los estímulos-medios artificiales introducidos por el hombre en la situación psicológica que cumplen la función de autoestimulación; adjudicando a este término un sentido más amplio y, al mismo tempo, más exacto del que se da habitualmente a esa palabra. De acuerdo con nuestra definición, todo estímulo condicional creado por el hombre artificialmente y que se utiliza como medio para dominar la conducta – propia o ajena – es un signo. [...] En el proceso de la vida social, el hombre creó y desarrolló sistemas complejísimos de relación psicológica, sin los cuales se dan imposibles la actividad laboral y toda la vida social. Los medios de la conexión psicológica son, por su propia naturaleza función, signos, es decir, estímulos artificialmente creados, destinados a influir en la conducta y a formar nuevas conexiones condicionadas en el cerebro humano. (VIGOTSKI, 1995, p.83-85).6

Segundo Vigotski (2007), os signos são um meio específico da atividade

5 Como já temos dito, a similaridade entre signos e a ferramenta se baseia em sua função mediadora comum em ambos. Portanto, e desse ponto de vista psicológico, podemos incluí-los em uma mesma categoria. [...] deste ponto de vista lógico, tanto um como o outro podem considerar-se como conceitos subordinados de um conceito mais geral: a atividade mediadora. (VIGOTSKI, 1995, p. 93). Tradução nossa. 6 Chamamos signos aos estímulos-meio artificiais introduzidos pelo homem na situação psicológica, que cumprem a função de auto-estimulação; adjudicando a esse termo um sentido mais amplo e, ao mesmo tempo, mais exato do que se dá habitualmente a essa palavra. De acordo com nossa definição, todo estímulo condicional criado artificialmente pelo homem e que utiliza como meio para dominar a conduta – própria ou alheia – é um signo. [...] No processo da vida social, o homem criou e desenvolveu sistemas muito complexo de relação psicológica, sem os quais seria impossível a atividade laboral e toda a vida social. Os meios das conexões psicológicas são, por sua própria natureza e função, signos, isto é, estímulos artificialmente criados, destinados a influir na conduta e a formar novas conexões condicionadas no cérebro humano..(VIGOTSKI, 1995, p.83-85). Tradução nossa.

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interna do sujeito e por ele são controlados, de tal sorte que:

A invenção e o uso de signos como meios auxiliares para solucionar um dado problema psicológico (lembrar, comparar coisas, relatar, escolher etc.) são análogos à invenção e ao uso de instrumentos, só que agora no campo psicológico de maneira análoga ao papel de um instrumento no trabalho. [...] a analogia básica entre signos e instrumento repousa na função mediadora que os caracteriza. (VIGOTSKI, 2007, p.52-53).

Portanto, a mediação é um elemento primordial do processo de constituição

do ser social, se realiza por meio de instrumentos necessários às ações diretas sobre

os objetos e de signos, ferramentas importantíssimas para o desenvolvimento das

funções psicológicas superiores. Essas se formam e se desenvolvem por meio da

internalização, que tem uma dimensão interpessoal por estar determinada pelas

relações sociais e culturais vividas pelo sujeito e outra dimensão, a intrapessoal,

responsável pela conversão da atividade externa em atividade interna, mental. Trata-

se, para Vigotski, conforme Leontiev (1989, p.26), da “[...] lei fundamental do

desenvolvimento das funções mentais superiores na ontogênese e filogênese”. Assim,

“[...] o uso de signos conduz os seres humanos a uma estrutura específica de

comportamento, que se destaca do desenvolvimento biológico e cria novas formas de

processos psicológicos enraizados na cultura.” (VIGOTSKI, 2007, p.34).

Por cultura se entende, aqui, todas as produções da atividade dos

indivíduos em sociedade, que expressam o desenvolvimento humano, que integram

a natureza de cada pessoa, de sorte que “[...] o mecanismo de mudança individual ao

longo do desenvolvimento tem sua raiz na sociedade e na cultura.” (VIGOTSKI, 2007,

p. XXVI). Ela cumpre um papel importante na orientação dos processos psíquicos.

[...] en el sentido más amplio significa que todo lo cultural es social. Justamente la cultura es un producto de la vida social y de la actividad social del ser humano; por ello, el propio planteamiento del problema del desarrollo cultural de la conducta nos lleva directamente al plan social del desarrollo. (VIGOTSKI, 1995, p.103-104).7

Para que ocorra a apropriação cultural, o homem precisa herdar e ao

7 [...] no sentido mais amplo significa que todo cultural é social. Justamente a cultura é um produto da vida social e da atividade social do ser humano, por isso, a própria abordagem do problema do desenvolvimento cultural da conduta nos leva diretamente ao plano social do desenvolvimento. (VIGOTSKI, 1995, p.103/104). Tradução nossa.

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mesmo tempo construir ferramentas de mediação cultural, os artefatos culturais,

materiais e simbólicos. Esses últimos são elementos essenciais como mediadores da

atividade cognitiva e se constituem dos pensamentos internalizados e codificados

historicamente pelo homem. O desenvolvimento humano advém, assim, da

apropriação e internalização dos conteúdos culturais como condição e na realização

das atividades humanas. Leontiev explica a contribuição de Vigotski para essa

compreensão:

As funções mentais elementares, inferiores, ele conectou com o estágio dos processos mentais naturais e os superiores com o estágio dos processos mediados, “culturais”. Tal abordagem explicou tanto as diferenças qualitativas, entre as funções superiores e elementares (consistia na mediação de funções mentais superiores por “instrumentos”) quanto a conexão entre elas (as funções superiores se desenvolveram com base nas funções inferiores). (LEONTIEV, 1989, p.13).

Desenvolvidos de forma social e historicamente, os artefatos culturais são

um recurso importante no processo de mediação da atividade e contribuem no

processamento de interiorização dos objetos e conceitos que foram estruturados

historicamente nas relações sociais.

[...] a internalização dos sistemas de signos produzidos culturalmente provoca transformações comportamentais e estabelece um elo de ligação entre as formas iniciais e as tardias do desenvolvimento individual. (VIGOTSKI, 2007, p. XXVI).

Conforme explica Vigotski, o processo de internalização é longo e não se

dá por simples assimilação dos elementos de uma determinada cultura, pois é fruto

do que é produzido pelo homem em sua relação social no contexto histórico em que

vive.

a) Uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente. É de particular importância para o desenvolvimento dos processos mentais superiores a transformação da atividade que utiliza signos, cuja história e características são ilustradas pelo desenvolvimento da inteligência prática, da atenção voluntária e da memória. b) Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro no nível social, e, depois, no interior da criança (intrapsicológica). Isso se aplica igualmente para a atenção voluntária, para a memória lógica e para a formação de conceitos. Todas as funções superiores originam-se das relações reais entre os indivíduos humanos. c) A transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos ocorridos ao longo do desenvolvimento. O processo, sendo transformado, continua a existir e a mudar como uma forma externa de atividade por um longo período de tempo, antes de internaliza-se definitivamente. [...] Sua transferência para dentro

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está ligada a mudança nas leis que governam sua atividade; elas são incorporadas em um novo sistema com suas próprias leis. (VIGOTSKI, 2007, p.57-58). (Itálicos conforme no original).

A aprendizagem e o desenvolvimento humano resultam dessa dinâmica de

apropriação e internalização. Porém, segundo Vigotski, embora esses processos que

guardam unidade, cada qual tem características próprias, pois o desenvolvimento

decorre da aprendizagem. Ele, por sua vez, se desdobra em desenvolvimento real e

em desenvolvimento potencial. O conceito de Zona de Desenvolvimento Iminente ou

Proximal8 foi formulado por ele para designar a capacidade potencial de

desenvolvimento.

Ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. [...] A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. (VIGOTSKI, 2007, p.97-98).

Considerando o desenvolvimento de uma criança, Vigotski apontou para,

pelo menos, dois processos importantes. O primeiro se refere ao conhecimento prévio

que a criança possui ao chegar à escola, oriundo da relação com sua família e amigos.

Nesse estágio de aprendizado, ela consegue resolver algumas situações com

autonomia. Vigotski chamou esse conhecimento prévio de nível de desenvolvimento

real. A criança já tem internalizada a capacidade de realizar sozinha determinada

atividade. O segundo processo diz respeito ao nível de desenvolvimento potencial,

proximal ou eminente, que corresponde ao estágio em que o indivíduo possui algumas

habilidades, mas algumas outras se encontram com potencial de desenvolvimento.

Mesmo que, a princípio, tal indivíduo só esteja reproduzindo o que o outro faz, dado o

momento do desenvolvimento, chegará a hora em que passará a executar sozinho a

tarefa.

[...] ou seja, o aprendizado desperta vários processos internos de desenvolvimento, que são capazes de operar somente quando a criança

8 Segundo Prestes (2012, p.173), “A tradução que mais se aproxima do termo zona blijaichego razvitia é zona de desenvolvimento iminente, pois sua característica essencial é a das possibilidades, mais do que do imediatismo e da obrigatoriedade de ocorrência, pois se a criança não tiver a possibilidade de contar com a colaboração de outra pessoa em determinados períodos de sua vida, poderá não amadurecer certas funções intelectuais e, mesmo tendo essa pessoa, isso não garante, por si só, o seu amadurecimento.”

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interage com pessoas em seu ambiente e quando em cooperação com companheiros. Uma vez internalizados, esses processos tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento da criança. (VIGOTSKI, 2007, p.103).

Dessa forma, “[...] a formação de conceitos é o resultado de uma atividade

complexa, em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte” (VIGOTSKI,

2008, p.72-73), e não apenas a definição verbal de conteúdo. Ao longo de seu

processo de desenvolvimento, o indivíduo internaliza conceitos adquiridos

culturalmente e a partir de suas experiências cotidianas. Por exemplo:

Uma criança aprende a palavra flor e pouco depois a palavra rosa; durante um longo período de tempo não se pode dizer que o conceito “flor”, embora de aplicação mais ampla do que a palavra “rosa”, seja para a criança mais geral. Não inclui nem subordina a sim a palavra “rosa”- os dois conceitos são inter-permutáveis e justapostos. Quando “flor” se generaliza, a relação entre “flor” e “rosa”, assim como entre flor e outros conceitos subordinados, também se transforma no cérebro da criança. Um sistema vai ganhando forma. (VIGOTSKI, 2008, p.116).

Vigotski distingue conceito espontâneo e conceito científico. No exemplo

acima citado, a criança tinha sobre “flor” e sobre “rosa”, a princípio, conceitos

espontâneos que a partir de um dado momento sofrem alterações no seu

pensamento.

Isso ocorre das diferentes formas pelas quais os dois tipos de conceitos surgem. Pode-se remontar à origem de um conceito espontâneo, a um confronto com uma situação concreta, ao passo que um conceito científico envolve, desde o início, uma atitude “mediada” em relação a seu objeto. (VIGOTSKI, 2008, p.135).

Tanto o conceito espontâneo quanto o científico são resultados de

processos que ocorrem em sociedade, sendo os signos linguísticos partes integrantes

do desenvolvimento deles.

2.4. Linguagem como intercâmbio social e instrumento de desenvolvimento

do pensamento

Considerada por Vigotski como o signo dos signos, a linguagem se constitui

como mediação de toda e qualquer atividade humana. Ela cumpre dois importantes

papeis no desenvolvimento humano: o da comunicação no intercâmbio social e o de

formação do pensamento. “A linguagem surge inicialmente como um meio de

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comunicação entre as pessoas e o ambiente. Somente, depois, quando da conversa

em fala interior, ela vem a organizar o pensamento.” (VIGOTSKI, 2007, p.102).

Diferentemente das abordagens de sua época sobre o pensamento e a

linguagem, que o tratam como categorias isoladas uma em relação à outra, Vigotski

buscou entender suas relações, especialmente como e em que momento ocorre esse

encontro.

De esse modo hay dos tesis. Por una parte, el desarrolho del lenguaje transcurre al principio independientemente del desarrollo del pensamiento, con la particularidad de que en sus primeras etapas se desarrolla de un modo más o menos igual tanto en los niños normales como en los profundamente atrasados. El própio carácter del desarrollo del lenguaje en ese primer período confirma por entero el ya conocido cuadro de formación del reflejo condicionado con todos sus fines correspondientes. Así pues, las primeras formas del lenguaje se manifiestan independientemente del pensamiento. Por otra parte, en el niño de 9-12 meses aparece el empleo más simple de herramientas que surge aún antes de que se forme su lenguaje. Puede parecer que el pensamiento se desarrolla por un camiño y el lenguaje por otro. Esta es la tesis más importante que cabe formular respecto al desarrollo del lenguaje en la edad temprana. En un cierto momento, estas líneas – el desarrollo del lenguaje y el desarrollo del pensamiento que han seguido diferentes camiños, parece que se encuentran, se cruzan y es entonces cuando se interceptan mutuamente. El lenguaje se intelectualiza, se une al pensamiento y el pensamiento se verbaliza, se une al lenguaje. (VIGOTSKI, 1995, p.171-172).9

O autor percebeu que, mesmo tendo raízes genéticas absolutamente

diferentes, o pensamento e a linguagem percorrem um desenvolvimento dialético, de

relação recíproca: seguem sincronicamente seu próprio traço de desenvolvimento até

que em dado momento “[...] ambas linhas se cruzam, após o que o pensamento se

torna verbal e a fala se torna intelectual.” (VIGOTSKI, 2010, p.133). Esse caminho de

9 Deste modo a duas teses. Por um lado, o desenvolvimento da linguagem transcorre a princípio independente do desenvolvimento do pensamento, com a particularidade de que suas primeiras etapas de desenvolvem de um modo mais ou menos igual tanto nas crianças normais como nos profundamente atrasados. O próprio caráter de desenvolvimento da linguagem nesse primeiro período confirma por inteiro o já conhecido quadro de formação do reflexo condicionado com todas suas fases correspondentes. Assim, as primeiras formas de linguagem se manifestam independente do pensamento. Por outro lado, na criança de 9-12 meses aparece o emprego mais simples de ferramentas que surgem ainda antes que forma sua linguagem. Pode parecer que o pensamento se desenvolve por um caminho e a linguagem por outro. Esta é a tese mais importante que cabe formular a respeito do desenvolvimento da linguagem na primeira infância. Em certo momento, estas linhas – o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento do pensamento - que têm seguido diferentes caminhos, parece que se encontram, se cruzam e é então quando se interceptam mutualmente. A linguagem se intelectualiza, une-se ao pensamento e o pensamento se verbaliza, se une a linguagem. (VIGOTSKI, 1995, p.172-172). Tradução nossa.

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encontros e desencontros entre o pensamento e a linguagem é complexo, mas é um

pressuposto fundamental para a comunicação social, como também, para o

desenvolvimento do pensamento.

Para o autor, esse processo de desenvolvimento da linguagem se inicia

com a etapa pré-verbal que se observa no choro, balbucio, expressões faciais da

criança, que advém de uma necessidade ou insatisfação de ordem emocional.

Posteriormente, tais manifestações de linguagem se desenvolvem rapidamente para

uma linguagem de ordem e função de contato social. A esse processo Vigotski associa

o papel dos signos e passa, segundo ele, por quatro estágios básicos de

desenvolvimento:

Primeiro, é o estágio natural ou primitivo, que corresponde à linguagem pré-intelectual e ao pensamento pré-verbal, quando essas operações aparecem em sua forma original, tal como evoluíram na fase primitiva do comportamento. Segundo, é o estágio que podemos chamar de “psicologia ingênua” por analogia com a chamada “física ingênua”- a experiência da criança com as propriedades físicas do seu próprio corpo e dos objetos à sua volta, e a aplicação dessa experiência ao uso de instrumentos: [...]. O terceiro estágio, que se caracteriza por signos exteriores, operações externas que são usadas como auxiliares na solução de problemas internos. [...] Corresponde-lhe a linguagem egocêntrica. O quarto estágio nós denominamos metaforicamente de estágio de crescimento para dentro. As operações externas se interiorizam e passam por uma profunda mudança. [...] isto corresponde à linguagem interior ou silenciosa. (VIGOTSKI, 2010, p.137-138). (Itálicos no original).

Pode-se compreender a partir dos apontamentos de Vigotski que a função

inicial da linguagem é a de comunicação: o ser humano ao longo de seu

desenvolvimento desenvolve esse sistema simbólico, fundamental ao intercâmbio

social, pois estabelece a relação de um sujeito com outro ou outros. Como mecanismo

do desenvolvimento do pensamento, a linguagem é um sistema de signos responsável

pela mediação entre o mundo concreto e a internalização desse mundo pelo sujeito.

Trata-se de um sistema psicológico superior, que decorre de processos sociais vividos

objetivamente. Ele cumpre a tarefa central de regulação de comportamentos, de

formação de conceitos fundamentais ao desenvolvimento intelectual do indivíduo. A

fala e o pensamento se unem no significado de cada palavra, o que faz com que o

uso da palavra adquira uma nova significância para o sujeito, dando origem à

formação de conceitos, se constituindo como “[...] causa psicológica imediata da

transformação.” (VIGOTSKI, 2008, p.73). E sobre essa relação o autor acrescenta:

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A relação entre o pensamento e a palavra não é uma coisa, mas um processo, um movimento contínuo de vai e vem entre palavra e o pensamento, nesse processo a relação entre o pensamento e a palavra sofre alterações que, também elas, podem ser consideradas como um desenvolvimento no sentido funcional. As palavras não se limitam a exprimir o pensamento: é por elas que este acede à existência. Todos os pensamentos tendem a relacionar determinada coisa com outra, todos os pensamentos tendem a estabelecer uma relação entre coisas, todos os pensamentos se movem, amadurecem, se desenvolvem, preenchem uma função, resolvem um problema. (VIGOTSKI, 2008, p.156).

O sentido é um conceito-chave para compreender essa conexão entre

pensamento e linguagem preponderante no desenvolvimento do pensamento. Para

Vigotski, o que enriquece a palavra é o sentido que atribuímos a ela, pois:

O sentido de uma palavra é a soma de todos os fatos psicológicos que ela desperta em nossa consciência. Assim, o sentido é sempre uma formação dinâmica, fluida, complexa, que tem várias zonas de estabilidade variada. O significado é apenas uma dessas zonas do sentido que a palavra adquire no contexto de algum discurso e, ademais, uma zona mais estável, uniforme e exata. Como se sabe, em contextos diferentes a palavra muda facilmente de sentido. (VIGOTSKI, 2010, p.465).

O significado é a natureza de uma palavra, é onde ocorre o encontro entre

o pensamento e a linguagem, é nesse momento, da significância que a fala se unem

em pensamento verbal, possibilitando a comunicação, estabelecendo o modo de

organizar o mundo real.

[...] ao mesmo tempo, um fenômeno de discurso e intelectual, mas isto não significa a sua filiação puramente externa a dois diferentes campos da vida psíquica. O significado da palavra só é um fenômeno de pensamento na medida em que o pensamento está relacionado à palavra e nela materializado, e vice-versa: é um fenômeno de discurso apenas na medida em que o discurso está vinculado ao pensamento e focalizado por sua luz. É um fenômeno do pensamento discursivo ou da palavra consciente, é unidade da palavra com o pensamento. (VIGOTSKI, 2010, p.398).

Vigotski (2007) observa que, cumulativamente, a atividade humana passa

a alcançar formas novas e superiores graças às funções cognitivas e comunicativas

da linguagem, pois:

A relação entre o uso do instrumento e a fala afeta várias funções psicológicas, em particular a percepção, as operações sensório-motoras e a atenção, cada uma das quais é parte de um sistema dinâmico de comportamento. [...] Um aspecto especial da percepção humana – que surge em idade muito precoce – é a percepção de objetos reais. [...] Por esse termo eu entendo que o mundo não é visto simplesmente em cor e forma, mas também como um mundo com sentido e significado. (VIGOTSKI, 2007, p.21-24).

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Para Leontiev a significação da palavra é resultante da maneira a qual o

homem compreende as experiências disseminadas e refletidas pela humanidade em

sua realidade concreta, ou seja, na vida real das relações sociais: “A significação

mediatiza o reflexo do mundo pelo homem na medida em que ele tem consciência

deste, isto é, na medida em que o seu reflexo do mundo se apoia na experiência social

e a integra.” (LEONTIEV, 2004, p.102). E segue o autor: “O homem encontra um

sistema de significações pronto, elaborado historicamente, e apropria-se dele tal como

se apropria de um instrumento.” (LEONTIEV, 2004, p.102).

A linguagem cumpre uma importante tarefa no desenvolvimento humano,

sendo ela, “[...] um instrumento psicológico que age de forma mediada no estágio

precoce do pensamento [...] como resultado desse caráter mediado se forma o

pensamento verbal.” (LEONTIEV, 2004, p.456). Por tanto, é significativo o papel que

a linguagem realiza no processo de atenção ativa, no desenvolvimento da memória,

nos processos de desenvolvimentos mentais.

2.5. Considerações finais

Com esta revisão teórica conceitual buscou-se analisar os elementos

constitutivos da teoria histórico-cultural para a compreensão da linguagem como

instrumento de mediação simbólica. Para isso, realizou-se consulta às principais obras

de Vigotski, Luria e Leontiev, os formuladores pioneiros dessa teoria, que resultou de

uma busca pela sistematização de uma psicologia que fosse materialista, histórica e

dialética, tendo por esteio as contribuições de Marx e Engels.

Procurou-se abranger o contexto do nascimento dessa importante teoria, seu

entendimento sobre o processo da constituição do ser humano, a relação entre

mediação e o desenvolvimento das funções psicológicas superiores, o conceito de

internalização, a relação entre aprendizagem e desenvolvimento, a linguagem como

intercâmbio social e instrumento de desenvolvimento do pensamento.

Os conceitos constitutivos da teoria histórico-cultural partem do pressuposto de

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que o homem é um ser sócio-histórico, que se faz na atividade de busca da realização

de suas necessidades concretas, processo mediante o qual constitui sua história e a

si mesmo, no contexto do qual a linguagem desempenha um importante papel de

mediação.

Por meio da atividade, dada pela possibilidade que o ser humano possui de agir

sobre a natureza orientada por motivo, há a transformação do ambiente e também do

próprio homem. Isso, porém, não ocorre de forma direta e sem mediações. Essas se

constituem de interposições, processo especialmente humano, que fazem a ligação

entre o sujeito e o objeto na realização de determinada atividade.

A mediação pode ocorrer por meio de instrumentos materiais ou de signos. Os

primeiros agem sobre o objeto e de forma externa ao sujeito. Os segundos,

internamente, e são responsáveis por operar e articular funções psicológicas

superiores, contribuindo ambos para o processo de humanização.

A internalização é um processo de significação decorrente da transformação

da atividade externa sobre o objeto em atividade interna, caracterizada pelas funções

mentais e se consagra por ser o momento em que o aprendizado se completa. Para

tanto, é preciso o percurso dos sentidos e significados, pois são eles que movem o

que se internaliza, que animam a consciência de forma individualizada. Uma palavra

pode ter um significado social relativamente estável, mas seu sentido pode variar

subjetivamente.

Significados e sentidos contribuem para conduzir as formas de se comunicar,

de pensar e de agir. Para o desenvolvimento de qualquer ação num determinado

sistema de atividade em que o indivíduo se acha envolvido é preciso que essa ação

tenha ou dê sentido a ele. A linguagem coroa esse processo, pois, como fenômeno

histórico-cultural constituinte do sujeito, ela é imprescindível à função social da

comunicação e exerce a atribuição de desenvolver, organizar e planejar o

pensamento.

No próximo capítulo, serão apresentados os resultados da pesquisa empírica,

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de natureza qualitativa e caráter exploratório e descritivo, junto a formadores sindicais

que teve por objetivo buscar elementos da vivência e experiência pessoal e coletiva

relativamente ao uso da linguagem no contexto das iniciativas formativas

implementadas pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas

Gerais - Fetaemg.

Inicialmente, serão apresentados os resultados da análise de documentos,

mais precisamente: do relatório do planejamento estratégico dos formadores; de

algumas apostilas e de um vídeo desenvolvidos pelo Departamento de Formação e

Organização Sindical da Federação. Nesses documentos, buscou-se identificar

elementos da linguagem utilizada, abordagens, frequências com que certas palavras

aparecem, contextos em que aparecem, significados dados a elas.

Em seguida, serão analisados os resultados obtidos com a realização do grupo

focal, que contou com a participação de oito formadores sindicais da Fetaemg.

Buscou-se compreender como questões referentes ao uso da linguagem na mediação

pedagógica têm se colocado nas suas atividades formativas.

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3. A MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA DA LINGUAGEM NA FORMAÇÃO

POLÍTICA SINDICAL NA PERSPECTIVA DOS FORMADORES

Kátia Gaivoto

Lucília Machado

Resumo

O presente capítulo descreve a pesquisa realizada junto a formadores sindicais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais – Fetaemg. Buscou-se compreender como os formadores consultados abordam e procedem com respeito à linguagem como instrumento de mediação pedagógica das atividades de formação. Foram realizadas sessões de grupo focal com a participação de oito formadores sindicais e análise documental de materiais elaborados pelo departamento de formação e organização sindical da entidade, tais como: cartilhas, vídeo de atividade formativa, relatório do planejamento estratégico situacional da formação. Os dados obtidos foram organizados por categorias de análise e sua interpretação se norteou pelas contribuições da teoria histórico-cultural, especialmente sobre a linguagem como instrumento de mediação pedagógica imprescindível à interação social e ao desenvolvimento do pensamento. Os resultados obtidos trazem contribuições para processos de formação política sindical e investigações sobre a importância da linguagem como mediação pedagógica.

Palavras-chave: linguagem, internalização, instrumentos pedagógicos, formação sindical.

Abstract

This chapter describes the research carried out with union formators of the Federation of Agricultural Workers of the State of Minas Gerais - Fetaemg. It was sought to understand how the formators consulted approach and proceed with respect to language as an instrument of pedagogical mediation of the training activities. Focal group sessions were held with the participation of eight union trainers and documentary analysis of materials elaborated by the training and union organization of the research entity, such as: booklets, video of formative activity, strategic situation planning report of the training. The data obtained were organized by categories of analysis and its interpretation was guided by the contributions of historical-cultural

Kátia Gomes Gaivoto - Licenciada em História, diretora e formadora do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho. E-mail: [email protected] Lucília Regina de Souza Machado – Socióloga, mestre e doutora em Educação, pós-doutora em Sociologia do Trabalho e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]

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theory, especially on language as an instrument of pedagogical mediation essential to social interaction and the development of thought. The results obtained contribute to the processes of political formation of trade unions and investigations about the importance of language as pedagogical mediation.

Keywords: language, internalization, pedagogical instruments, union formation.

3.1. Introdução

Este capítulo relata a pesquisa de natureza qualitativa e caráter exploratório e

descritivo, realizada na Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de

Minas Gerais – Fetaemg, por meio da qual se buscou identificar e analisar documentos

desenvolvidos pelos formadores da entidade e as percepções desses formadores

sindicais sobre o significado e implicações do instrumento da linguagem como

mediação pedagógica para a atividade de formação política sindical, tendo como

base, principalmente, suas as vivências e experiências e as do movimento onde

atuam, a organização sindical dos trabalhadores rurais.

A atividade de formação desenvolvida no e pelo movimento sindical se constitui

como uma intervenção de grande importância para o aperfeiçoamento dos processos

de comunicação sindical bem como para a elevação dos conceitos espontâneos e

cotidianos praticados pelos integrantes desse movimento aos conceitos adquiridos de

modo sistemático pelo pensamento elaborado, a fim de fortalecer suas práticas

sindicais.

Com essa pesquisa empírica, espera-se contribuir com a discussão sobre a

formação sindical à luz da teoria histórico-cultural e dessa resgatar elementos para o

desenvolvimento metodológico dos processos de formação política sindical da

Fetaemg. Subsidiar, assim, o fortalecimento dos processos formativos desenvolvidos

por essa entidade e do próprio movimento sindical para que esse, diante das

dificuldades postas pela conjuntura política estabelecida no país, pós golpe de 2016,

possa resistir e persistir, com êxito, na organização da classe trabalhadora.

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3.2. O contexto da pesquisa

Partindo-se das contribuições da teoria histórico-cultural, especialmente de

seus principais expoentes - Vigotski (1995, 2000, 2007, 2008, 2010), Leontiev (1989,

2004, 2014) e Luria (1985, 1986, 1992), considerou-se pertinente investigar a questão

da linguagem como instrumento de mediação da formação humana no projeto de

formação política sindical, desenvolvido pela Federação dos Trabalhadores na

Agricultura do Estado de Minas Gerais.

A escolha da referida organização de classe como contexto de pesquisa se deu

em razão da necessidade que ela apresenta de fortalecer o processo de formação

política sindical que vem desenvolvendo.

Entidade com 50 anos de luta e resistência, a Fetaemg foi fundada em 27 de

abril de 1968 por iniciativa dos trabalhadores e trabalhadoras rurais de cinco

Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – STTR regulares na época,

sendo eles: STTR do município de Poté; STTR de Araçuaí; STTR de Esmeraldas,

STTR de Brumadinho e STTR de Três Pontas. Portanto, a Fetaemg é uma entidade

de classe, que representa, em Minas Gerais, os trabalhadores e trabalhadoras na

agricultura familiar, meeiros, arrendatários, assalariados rurais, acampados e

assentados da reforma agrária e que, hoje, se organiza por meio da aglutinação de

mais de cinco centenas de sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras. Conforme seu

Estatuto,

ARTIGO 1°. A FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA DO ESTADO DE MINAS GERAIS – FETAEMG, entidade sindical de segundo grau, agrupada no Plano da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, com sede e foro na cidade de Belo Horizonte/MG, é constituída para fins de estudo, coordenação, representação, integração e defesa dos direitos e interesses coletivos e individuais da categoria “trabalhadores (as), empregados (as) rurais e agricultores familiares”, ativos (as) e aposentados (as), tendo como representação o somatório das categorias e bases territoriais dos Sindicatos a ela filiados com abrangência estadual e base territorial no estado de Minas Gerais. (FETAEMG, 2013, p.3).

Para o acompanhamento dos sindicatos associados e sua atuação política, a

Federação se estrutura regionalmente por meio de doze polos distribuídos no estado,

todos com diretores liberados para o exercício da atividade sindical, assessorias

especializadas, veículos e estrutura física, muitas das quais comportando auditório e

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alojamentos. Os trabalhadores, que constituem a base dos sindicatos, se caracterizam

por múltiplas diversidades culturais com respeito a: vínculo de trabalho; situação

econômica; grau de escolaridade; identidades étnica, de gênero, etária e religiosa;

valores, costumes e tradições.

Em maio de 2014, durante a realização do seu 9° Congresso Estadual de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Minas Gerais (CETTR), foi aprovada, como

uma das diretrizes para a gestão da Fetaemg nele eleita (2014-2018), a construção

de um projeto próprio de formação política sindical, que considerasse as

especificidades de sua ampla representação, haja vista a dimensão territorial e a gama

das diversidades dos seus associados. O debate que norteou essa proposta teve a

intenção de estimular seus quadros de dirigentes sindicais, funcionários e assessores

à busca do aprimoramento de seus conhecimentos, entendimentos e prática sindical.

Nos Anais desse 9º Congresso, constam como proposta aprovada:

PROPOSTAS: 1- Que a Fetaemg construa seu próprio Projeto de Formação Política Sindical, que contemple todas as demandas e especificidades das regiões, e ainda alcance as questões de jovens, mulheres e igualdade racial. 2- Intensificar o processo de formação de lideranças, dirigentes e funcionários, com representação das doze regionais do estado, visando criar uma rede para contribuir no processo de formação local, objetivando melhor compreensão de dirigentes e funcionários do MSTTR sobre o novo contexto da ação sindical, gestão e organização sindical e auto-sustentação. (FETAEMG, 2014, p.43).

No ano seguinte, 2015, a Fetaemg estabeleceu um convênio com o Centro

Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho – CES10, com o objetivo de constituir uma

equipe exclusiva de formadores, para desenvolver sua política de formação destinada

às diferentes regiões de sua atuação, que constituem sua base de representação. A

entidade conveniada, CES, há mais de três décadas, vem atuando em processos de

formação política e sindical de trabalhadores e trabalhadoras.

Elevar o nível de consciência política e sindical dos trabalhadores e das trabalhadoras não se coadunava com a ditadura militar implantada no Brasil a partir de 1964. O que a ditadura quis foi, ao contrário, impedir que a classe trabalhadora desenvolvesse sua capacidade crítica, que continuasse sendo

10 Para mais informações: www.cesforma.org.br

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classe em si e não se transformasse em classe para si. O Centro de Estudos Sindicais – hoje Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho (CES) – nasceu em 1985, no mesmo ano que findava o ciclo de 21 anos de terror que se abateu sobre o povo brasileiro. [...] Cursos de Formação Política e Sindical começaram a ser realizados, primeiramente em São Paulo e depois estendidos para as várias capitais dos estados. [...]. Mais recentemente, o CES passou a realizar nas entidades Planejamentos Estratégicos Situacionais e Cursos de Gestão Sindical. Essa necessidade surgiu em decorrência do entendimento da Coordenação do CES e dos próprios sindicalistas, de que o acúmulo de conhecimentos que o movimento sindical adquiriu relativamente à administração sindical, após mais de dois séculos de existência, precisa ser considerado na prática. (PETTA, 2013, p.13-14).

O CES e a Fetaemg desenvolveram, então, ao longo de 2015, o Curso de

Formação de Formadores com 224 horas de duração, para um grupo de 50

participantes, sendo eles, dirigentes sindicais, assessores e funcionários, cuja

composição buscou refletir aspectos de representação política dessa Federação, as

diferenças regionais, culturais, geracionais, de gênero. Tal iniciativa teve o propósito

de constituir uma rede e/ou grupo de formadores/educadores sindicais da Fetaemg,

preparados para a atuação na formação política sindical, contribuindo assim, na

formação dos dirigentes sindicais dos sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras

rurais, filiados a essa Federação, buscando cumprir os encaminhamentos apontados

em seu 9° congresso:

A necessidade de formação e atualização constante e continuada vem ao encontro da necessidade de acompanhar o dinamismo das relações sociais, políticas e técnicas que afetam a nossa organização e que fomentam os debates sobre a estrutura sindical. (FETAEMG, 2014, p.41).

Para pensar uma matriz curricular que atendesse a perspectiva da entidade

investigada, o CES aplicou uma pesquisa aos participantes do grupo de formação,

denominada pelo CES de “diagnóstico”, tendo seus principais dados compilados no

quadro a seguir:

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59

Quadro II - Perfil sociocultural dos participantes do projeto de formação

desenvolvido pelo CES e Fetaemg

Gênero: Masculino: Feminino:

53,65% 46,34%

Cor (auto-declarada): Negra: Parda: Morena:

17,07% 34,15% 7,32%

Idade: De 18 a 30: De 31 a 40: De 41 a 50:

19,51% 31,71% 21,96%

Estado Civil: Casado (a): C/Companheiro (a): Solteiro (a):

63,41% 4,88% 31,71%

Grau de Instrução: Ens. Fund. Incomp: Ens.Médio Incomp. Ens.Sup.Incomp.

7,32% 9,76% 17,07%

Ens.Fund.Completo: Ens.Médio Comp. Ens.Sup.Comp.

7,32% 26,83% 9,76%

Lê livros: Não: Sim: Não respondeu:

17,07% 75,61% 7,32%

Lê jornais: Diariamente: Só fim de senama: Só qdo interesse específico

43,90% 9,76% 43,90%

Lê Revista: Regularmente: Raramente: Não Lê Revista:

12,20% 75,61% 4,88%

Ouve Rádio: Rádio AM: Rádio FM: Rádio AM e FM:

2.44% 34,15% 51,22%

O que ouve no Rádio: Notícias: Músicas: Policial: Religiosos: Esportes:

41,18% 35,29% 4,41% 8,82% 10,29%

Assiste TV: Até 2h/dia: Até 4h/dia: Raramente:

68,29% 21,95% 9,76%

TV por assinatura: Sim: Não:

46,34% 53,66%

O que vê na TV: Esportes: Notícias: Novelas: Filmes: Entrevistas:

10,42% 34,38% 13,54% 19,79% 21,88%

Constuma ir ao Cinema: Não: Sim:

39,02% 60,98%

Contuma ir ao Teatro: Não: Sim:

85,37% 14,63%

Constuma Escrever: Não: Sim:

24,39% 75,61%

O que escrevem: Artigos/Ensaios: Crônicas/Poesias: Musicas:

14,64% 4,88% 4,88%

Ativ. na Entidade Sindical: Dirigente:

53,66%

Sim:

97,56%

Sim:

48,34%

Sim:

41,46%

Constumam ministrar

aulas de formação:

Já partcipou de outros

processos de Formação:

Liberação p/ atividade

sindical:

Mestiço:

2,44%

Não Lê Jornais:

2,44%

Não ouve Rário:

9,76%

De 51 a 65:

21,96%

Relatórios Técn.:

63,41%

Pós-Graduação:

19,51%

Não:

46,34%

Não:

58,54%

Delegado de Base:

4,88%

Não:

2,44%

Assessor/Funcionários:

0,4146

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa de diagnóstico desenvolvida pelo CES.

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A partir do mapeamento do perfil sociocultural dos componentes do grupo

participante do projeto de formação sindical desenvolvido pela Fetaemg e CES, esse

juntamente com o departamento de formação sindical dessa entidade construiu uma

matriz curricular composta por temáticas que favorecessem a compreensão da

realidade e os desafios da luta sindical e que levassem em conta o acúmulo construído

pelo movimento sindical brasileiro na relação histórica de embates entre o capital e o

trabalho. O curso se estendeu pelo ano de 2015, dividido em cinco módulos de

aproximadamente 45 horas por semana, totalizando uma carga horária de 224 horas.

Quadro III – Matriz curricular do curso de formação de formadores desenvolvido

pelo convênio CES-Fetaemg em 2015

Módulo Data Conteúdos Atividades extraclasses

I

27 a 30 de Abril

Análise de conjuntura. Trabalho e educação. O formador sindical: um formador de consciência de classe. Comunicação sindical. Direitos trabalhistas. Oratória I.

Filme:

O dia que durou 21 anos.

Textos para leitura:

Introdução ao Prefácio à Crítica à Economia Política (Karl Marx).

II

8 a 12 de junho

A Pedagogia Histórico-Crítica e o papel de transformação da educação. Análise de conjuntura: como fazer? Didática da Pedagogia Histórico-Crítica e o papel de transformação da educação. Materialismo histórico e dialético. Negociação coletiva.

Filme:

A classe operária vai ao paraíso.

Visita técnica:

Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte.

Textos para leitura:

O que é Ideologia? (Marilena Chauí); Aparelhos ideológicos do estado (Louis Althusser).

III

14 a 18 de agosto

Saúde do trabalhador. Uma didática para a Pedagogia Histórico-Crítica. História do Brasil: uma interpretação. História do movimento sindical urbano e rural. Preparação de aula e intercâmbio de grupos.

Filme:

As vinhas da Ira.

Textos para leitura:

O sentido da colonização (Caio Prado Júnior). Dez teses e uma hipótese sobre o presente e o futuro do trabalho (Ricardo Antunes).

IV

19 a 23 de outubro

Estado, direitos e democracia. A previdência social e os trabalhadores e trabalhadoras. Formador sindical, um formador de consciência de classe. Transformações no mundo do trabalho. História da Fetaemg.

Filme:

Cabra marcado para morrer.

Visita técnica:

Complexo arquitetônico da Pampulha.

Texto para leitura:

A democracia como valor universal (Carlos Nelson Coutinho).

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V

9 a 11 de dezembro

Estrutura e dinâmica agrária no Brasil; O uso de didática de grupos como recurso didático. Gênero e geração. Agroecologia. Ideologia e intervenção sindical. Materiais didáticos e sua aplicação nas atividades de formação sindical.

Filme:

Linha de corte e nuvens de veneno.

Texto para leitura:

O caso dos exploradores de caverna.

Fonte: Elaboração própria a partir da consulta a documentos.11

Partiu-se do pressuposto de que a formação de formadores é um processo

complexo e de grande importância para o fortalecimento de lideranças e o

desenvolvimento da formação sindical de base, pois implica fazer o contraponto às

ideias dominantes, considerando-se que, segundo Marx:

As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. [...] As ideias dominantes não são mais do que a expressão das relações materiais dominantes. (MARX, 2007, p.47).

Nesse mesmo ano de 2015, a política de formação da Fetaemg foi objeto de

um Planejamento Estratégico Situacional – PES, assim compreendido:

O Planejamento Estratégico e Situacional (PES) é fundamental para as organizações. A metodologia aplicada pelo Centro de Estudos Sindicais (CES) leva em conta que quem deve planejar é quem vai executar. Neste sentido, o corpo de Formadores “Multiplicadores” da FETAEMG esteve reunido nos dias 26 e 27 de agosto de 2015, no Centro de Estudos Sindicais da Fetaemg – Belo Horizonte / MG, para construir seu planejamento para o ano de 2015 - 2016 e este relatório é resultado do conjunto de considerações dos participantes nestes dias. O Seminário constou de quatro momentos: Explicativo – Seleção e explicação de problemas; Normativo – Normatizar ações e operações; Estratégico – Viabilidade política do plano; Tático-operacional – Gerenciamento da execução do plano. (FETAEMG, 2015, p.1).

Com o Planejamento Estratégico Situacional, buscou-se conhecer a realidade

de atuação da Fetaemg, identificar os problemas inerentes à prática de formação

política do movimento sindical de trabalhadores e trabalhadoras rurais do estado de

Minas Gerais e traçar ações que possibilitassem realizar avanços no processo

formativo nas regiões (FETAEMG, 2015).

11 Matriz curricular do curso realizado pelo CES/Fetaemg – referentes aos conteúdos trabalhados durante o ano de 2015 – Convênio firmado entre CES e Fetaemg no referente ano.

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62

Tendo o PES como referência, no decorrer de 2016, a Federação colocou em

prática atividades de formação sindical de âmbito regional sob a coordenação e

realização do seu Departamento de Formação Sindical com a colaboração do CES.

Os formadores e formadoras da Fetaemg receberam, então, a responsabilidade de

fazer multiplicar o que aprenderam, tendo o desenvolvimento dos dirigentes e

funcionários de sindicatos de regiões de atuação da Federação como motivo.

Nas etapas regionais, o Departamento de Formação da Fetaemg contabilizou

cerca de mil participantes ao longo de 2016-2018. Esse projeto está em curso12 e sua

finalidade principal é de contribuir para que na atividade sindical, os dirigentes

trabalhadores e trabalhadoras rurais tenham uma maior interação com a base dos

seus sindicatos.

Entretanto, se fazem necessárias uma grande atenção política/pedagógica

para quaisquer projetos de formação de sujeitos e a compreensão da importância que

exerce a linguagem, seja no âmbito da comunicação ou para o processo de

desenvolvimento do pensamento. Nessa perspectiva, a pesquisa realizada buscou

compreender os significados e aplicações do instrumento mediador da linguagem para

a atividade de formação política sindical.

Considerou-se que é inerente ao movimento sindical o desenvolvimento de

suas próprias linguagens e que essas, com seus signos, símbolos, sons e gestos,

realizam importantes funções de comunicação, aproximação, junção, harmonização e

união, bem como de constituição, instrução e alinhamento de entendimentos,

representações, interpretações, reputações e expressões.

Buscou-se, assim, identificar o que as reflexões da teoria histórico-cultural

sobre a linguagem como instrumento de mediação pedagógica trazem de contribuição

para a atividade de formação sindical realizada pelos formadores, considerando-se as

necessidades de estimular o desenvolvimento do pensamento dos dirigentes sindicais

e a comunicação desses com os trabalhadores que representam.

12 Essa observação refere-se ao ano de 2018.

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63

3.3. Metodologia

Tendo como pressuposto as contribuições da teoria histórico-cultural, segundo

a qual o sujeito se constitui nas suas relações sociais e na atividade que exerce

mediada pelos instrumentos físicos e pela linguagem, que ele, como ser cultural,

histórico e social, também se transforma ao transformar a natureza, a pesquisa, de

natureza qualitativa e caráter exploratório e descritivo, teve sua abordagem

metodológica centrada nas relações sociais estabelecidas pelos sujeitos pesquisados

e em suas vidas como seres que objetivam, produzem. Conforme Vigotski, “[...] toda

pesquisa tem por objeto explorar algumas esferas da realidade” (2007, p.104) e,

observando-se esses propósitos, foram feitas escolhas.

Buscou-se, primeiramente, cernir a prática de formação desenvolvida pela

Fetaemg por meio de análise documental de alguns materiais desenvolvidos pelos

seus formadores. Na sequência, foram realizadas sessões de grupo focal com a

participação de oito formadores sindicais, organizadas com a perspectiva de buscar

elementos para a compreensão de como percebem e procedem tendo a linguagem

como mediação pedagógica.

A análise documental focalizou elementos da linguagem verbal e escrita

encontrados em materiais desenvolvidos pela equipe de formação de formadores da

Fetaemg: cartilhas formativas, vídeo para atividades formativas, relatório de

planejamento da formação. Observou-se a recomendação de Lüdke e André (1986,

p.38), segundo a qual “[...] a análise documental busca identificar informações factuais

nos documentos a partir de questões e hipóteses de interesse”. Nesse sentido, a

atenção se voltou para os elementos da linguagem utilizada e formas de abordagem

observando-se, inclusive, a frequência com que certas palavras aparecem no texto e

os significados dados a elas. Os resultados obtidos foram organizados por categorias

e submetidos à sistematização.

A opção pelo grupo focal como procedimento de aproximação empírica com os

pesquisados se deu por entender ser esse um instrumento metodológico, que

presume e considera a reflexão sobre a linguagem e que pressupõe outro elemento

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caro à teoria histórico-cultural, que é a interação social, no caso entre os sujeitos

participantes. Nessa perspectiva também se inclui a própria interação deles, os

formadores sindicais, com a pesquisadora principal. Atenção foi dada às advertências

e recomendações de Barbour:

Um dos principais desafios envolvidos na análise de dados dos grupos focais é da reflexão e do uso da interação entre os participantes, levando em conta as dinâmicas do grupo. Dados de grupos focais são inerentemente complexos, com discussões muitas vezes ocorrendo em mais de um nível e servindo a múltiplas funções para os vários participantes envolvidos na construção de uma resposta. Ao agirem como fóruns pelos quais os indivíduos “mergulham” em uma questão específica ou conjunto de problemas, os grupos focais podem ajudá-los a formular potenciais soluções. Mesmo quando esse não é o principal propósito de se fazer sessões de grupo focal, isso ilustra uma outra forma em que o “todo” das discussões de grupo focal pode ser “maior que a soma das partes”. (BARBOUR, 2009, p.179). (aspas constantes do original)

Ciente desses desafios, o grupo focal foi conduzido para o objetivo de discutir

o que eles, formadores sindicais, pensam e têm feito na sua atividade de formação

política sindical com respeito à utilização do instrumento da linguagem no interesse

da melhoria das interações sindicais e da formação de um pensamento mais

elaborado.

A escolha dos sujeitos formadores para a participação desta pesquisa levou em

conta alguns critérios: vivência prática do movimento sindical, formação teórica

pertinente a esse campo da prática social, ser dirigente sindical ou assessor da

Fetaemg, ter participado de processos de formação sindical, mais precisamente, da

formação propiciada por essa Federação.

Na composição do grupo de oito participantes levou-se em conta, ainda, a

paridade de gênero (critério da prática política dessa entidade); a representação

territorial (para possibilitar um olhar mais abrangente das experiências formativas e

das especificidades); a mescla de dirigentes sindicais e assessores sindicais; a

composição com respeito à escolaridade (do ensino fundamental ao superior) e as

variações segundo o tempo de atuação no movimento sindical. Portanto, o perfil do

grupo focal ficou assim constituído:

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A. Dirigentes sindicais:

1. Formadora da Região da Grande Belo Horizonte – gênero feminino, 54 anos,

agricultora familiar, ensino médio em técnico agrícola, licenciatura em educação no

campo incompleta, diretora do sindicato dos trabalhadores rurais de Barbacena e

diretora de políticas para as mulheres da Fetaemg, 20 anos de participação no

movimento sindical. Será identificada como D1.

2. Formador da Região do Vale do Jequitinhonha – gênero masculino, 34 anos,

agricultor familiar, formado em licenciatura do campo, diretor do sindicato dos

trabalhadores rurais de Jordânia e diretor de política agrícola e cooperativismo da

Fetaemg, 16 anos de participação no movimento sindical. Será identificado como D2.

3. Formadora da Região do Norte de Minas – gênero feminino, 35 anos, agricultora

familiar, curso de ciências sociais incompleto, diretora do sindicato dos trabalhadores

rurais de Capitão Enéas e diretora de políticas para jovens da Fetaemg, 10 anos de

participação no movimento sindical. Será identificada como D3.

4. Formador da Região do Sul de Minas – gênero masculino, 61 anos, ensino

fundamental completo, diretor da Fataemg para assuntos relacionados a assalariados

agrícolas, 31 anos de participação no movimento sindical. Será identificado como D4.

B. Assessores sindicais:

1. Formadora da Região da Zona da Mata – gênero feminino, 31 anos, engenheira

agrônoma, com pós-graduações em análise e gestão ambiental e saúde e segurança

do trabalho, assessora do polo regional da Fetaemg, 6 anos de participação no

movimento sindical. Será identificada como A1.

2. Formador da Região Sul de Minas – gênero masculino, 66 anos, agricultor familiar,

licenciatura plena em matemática, técnico em contabilidade, assessor do polo regional

da Fetaemg, 37 anos de participação no movimento sindical. Será identificado como

A2.

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3. Formador da Região da Grande Belo Horizonte – gênero masculino, 62 anos,

ensino médio completo, assessor de organização da Fetaemg, 42 anos de

participação no movimento sindical. Será identificada como A3.

4. Formadora da Região do Noroeste de Minas – gênero feminino, 36 anos, advogada,

pós-graduada em direito material e processual do trabalho, assessora jurídica do polo

regional da Fetaemg, 5 anos de participação no movimento sindical. Será identificada

como A4.

A coordenação do grupo focal coube à pesquisadora principal, cuja função

primordial foi a de propor e estimular a discussão sobre a utilização, no processo de

formação política sindical, do instrumento de mediação pedagógica da linguagem,

levando-se em conta as necessidades de internalização de conceitos da prática

sindical (inclusive os concernentes às atividades da Fetaemg), do desenvolvimento

do pensamento dos participantes (dirigentes e assessores sindicais) e da

comunicação sindical (especialmente a que envolve a base formada por trabalhadores

rurais).

Foram realizadas duas sessões de grupo focal, cada qual com a duração de

três horas, planejadas para efetivar o esperado e possibilitar o máximo de dados

necessários ao entendimento e manifestação dos formadores participantes sobre as

questões discutidas.

As sessões de grupo focal foram gravadas com a prévia autorização dos

integrantes do grupo13 e, posteriormente, transcritas e sistematizadas. Para a

sistematização foram considerados aspectos relativos à formação sindical e ao uso

da linguagem. A segunda sessão contou com ajustes identificados como necessários

a partir da avaliação da experiência propiciada pela realização da primeira e tendo em

vista um melhor aproveitamento da dinâmica dos trabalhos. Além das gravações,

13 Foram utilizados os termos da Resolução 466/2012, pelos quais a pesquisadora principal e sua orientadora se comprometeram a utilizar imagens e depoimentos após autorização dos sujeitos envolvidos, a obter o Consentimento de Livre e Esclarecido (TCLE) de cada participante da pesquisa, como também, a obter a autorização da Fetaemg para a realização da coleta de dados.

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foram feitos apontamentos e registros sobre questões da linguagem utilizada pelos

formadores sindicais.

Toda a pesquisa de campo foi realizada na sede da Federação dos

Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Os

instrumentos utilizados para a análise documental e para a realização do grupo focal

encontram-se na sessão de apêndices desta dissertação. A pesquisa de campo e as

análises de dados ocorreram somente após a aprovação do projeto por um Comitê de

Ética em Pesquisa.14

3.4. O que se encontrou com a análise documental

Para essa análise, foram verificados materiais produzidos pelo Departamento

de Formação e Organização Sindical da Fetaemg: cartilhas formativas, um vídeo com

atividades de formação e um relatório de planejamento de ações a serem

desenvolvidas pela Fetaemg, realizado no ano de 2015. A atenção de voltou para

elementos de linguagem recorrentes nesses documentos, os quais foram organizados

por categorias para fins de sistematização.

Os passos metodológicos para a realização dessa análise foram os seguintes:

1) reconhecimento de elementos de linguagem utilizados; 2) inventário das

frequências com que aparecem essas palavras e identificação dos contextos em que

isso ocorre; 3) observação das variações dos significados atribuídos a elas; 4)

verificação de enfoques dados à linguagem na mediação sindical.

3.4.1 Elementos de linguagens utilizados

Observa-se que os documentos trazem especificidades de linguagem própria,

provavelmente fruto de um longo processo de internalização decorrente das lidas da

14 Projeto recebido no dia 21 de setembro de 2017 e aprovado em 7 de outubro de 2017 por Comitê de

Ética em Pesquisa.

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68

organização sindical. De modo geral, percebe-se empenho em corresponder à

preocupação de ordenar, estruturar e sistematizar. Porém, a linguagem varia muito de

um material mais antigo para os mais recentes. É o caso das cartilhas, as mais antigas

apresentam uma linguagem mais simples, mais acessível, mais próxima à cotidiana e

corrente. Valem-se, também, de muitas imagens. Já, nos materiais mais recentes e

atuais, é possível verificar propósitos de abordar os conceitos com maior

aprofundamento, sobretudo os que se mostram mais relacionados a interpretações

marcadas pelo viés de classe social. É admissível concluir, também, que eles

ostentam uma linguagem mais retocada, mais acurada. Duas explicações se mostram

plausíveis para entender essas transformações na linguagem dos materiais

analisados. A primeira teria a ver com a preocupação teórica e metodológica de

atender à necessidade de compreender a nova realidade sindical caracterizada por

maior complexidade. A segunda com as demandas provenientes do próprio

desenvolvimento cognitivo dos dirigentes, para o qual o processo de formação sindical

pode estar contribuindo.

3.4.2 Contexto e frequência com que aparecem as palavras

Muitas são as palavras reveladas ou apropriadas pelo mundo sindical. No

quadro abaixo, encontram-se as circunstâncias em que apareceram as que se

destacaram pela sua regularidade nos documentos analisados:

Quadro IV– Palavras que aparecem com maior frequência e os contextos em que

isso ocorre

Palavras Contextos ou circunstâncias

Direitos Das reivindicações e conquistas do movimento sindical

Política pública Da defesa da dignidade do campo e das possibilidades de

nele permanecer.

Agricultura

familiar

Da atividade que justifica a necessidade de se organizar

coletivamente.

Luta Dos esforços para superar dificuldades, dos confrontos e

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defesas em favor das bandeiras da classe.

Trabalhadores Do segmento social que cabe o movimento sindical

representar e defender.

Assembleias Dos encontros para dialogar, debater, confabular e tomar

decisões coletivas.

Participação Dos apelos à importância da presença, atuação e

cooperação para fortalecer o movimento sindical.

Base Da estrutura e vínculos com os sindicatos filiados que

servem de apoio ou dão sustentação à entidade.

Compromisso Das advertências aos trabalhadores para a necessidade do

engajamento pessoal e de não acomodação à delegação de

suas responsabilidades aos representantes sindicais.

Formação Da busca por transformação, mudança, melhora na atuação

sindical

Crítica Da avaliação de fatos, opiniões, posicionamentos pelo

trabalhador consciente da política, de seus direitos e

deveres.

Diálogo Da necessidade de aproximação do sindicato com sua base

de trabalhadores representados.

Transformação Das mudanças nas pessoas e ações que a atividade de

formação sindical pode propiciar.

Fortalecimento Das necessidades e ações que possam contribuir para

fortificar, proteger e consolidar a união dos trabalhadores.

Fonte: elaboração própria.

3.4.3. Variações dos significados atribuídos às palavras

Quanto à variação de significados atribuídos, a palavra metodologia chamou a

atenção. De modo geral, ela é empregada para compreender as várias formas de

fazer a formação sindical. Essa, por sua vez, é entendida como um processo que

objetiva contribuir para a formação cidadã dos representantes dos trabalhadores,

possibilitando-lhes maior clareza na organização da classe e em sua atividade política

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à frente do movimento sindical.

Viu-se, entretanto, que ao se atribuir aos sindicalistas participantes dos

processos de formação de formadores a tarefa de planejar uma atividade formativa

contemplando conteúdo e metodologia para tal atividade, o significado dado à palavra

metodologia passou por variações. Eles, em sua maioria, se limitaram a encenar suas

realidades cotidianas do movimento sindical. Por exemplo, reproduziram assembleias

de trabalhadores considerando contextos diferentes (com vitórias ou derrotas para a

classe trabalhadora), mesas de negociação entre patrões e empregados,

atendimentos no sindicato etc.

3.4.4 Enfoque dado à linguagem na mediação sindical

Observou-se, nos documentos, a preocupação quanto à linguagem utilizada,

porém, apenas como condição para a interação social. Neles, é perceptível a

precaução quanto à melhor forma de transmitir uma determinada ideia ou atividade

realizada. A linguagem mais informal, explicativa, simples e direta se faz presente na

maioria do material analisado, como se observa: “Os pequenos produtores produzem

para a família sobreviver. Mesmo quando é vendido, é para a sobrevivência. Os

grandes produzem para ter lucro.” (FETAEMG, 1989, s/p). Ou ainda:

Na terra dos pequenos produtores quem trabalha é o agricultor familiar. Na terra dos médios produtores quem trabalha são os assalariados. Na terra dos grandes proprietários quem trabalha são os assalariados. Portanto, os pequenos produtores são trabalhadores, não são patrões. (FETAEMG, 1989, s/p).

Conforme se depreende das contribuições da teoria histórico-cultural, é

importante considerar a finalidade da linguagem para viabilizar a interação social, mas

também como instrumento de mediação pedagógica fundamental ao desenvolvimento

do pensamento. Sobre tais desafios, buscou-se encontrar elementos nas discussões

do grupo focal, conforme vem a seguir.

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3.5. Discussão e análise de dados do que disseram os formadores sindicais

Conforme já informado, foram realizadas duas sessões de grupo focal, tendo em

média três horas de duração ininterruptas cada uma. Na primeira, foram feitos

inicialmente os esclarecimentos sobre do que se trata a pesquisa, suas intenções e

as razões pelas quais seria preciso gravar as discussões. Em seguida, foi feito o

recolhimento dos documentos assinados que atestam as autorizações de cada um

com respeito ao trabalho proposto à realização. Também foi esclarecida a dinâmica

de discussão de grupos focais e as razões para a escolha dessa técnica de pesquisa,

salientando-se que não há respostas certas ou erradas em tal atividade, sendo de

igual importância a contribuição de cada participante.

Todos os integrantes do grupo focal tiveram oportunidade para se expressarem,

iniciando-se com a apresentação de cada um aos integrantes do grupo. Por inteiro, o

processo foi dirigido com base num roteiro norteador de discussão apresentado pela

pesquisadora principal.15

Os dados coletados foram sistematizados em conformidade com quatro

categorias de análise: I) a identidade histórico-cultural dos formadores sindicais; II) a

linguagem do movimento sindical; III) abordagens pedagógicas em face dos desafios

referentes ao uso da linguagem; IV) a linguagem como instrumento de internalização

de conceitos.

A seguir serão apresentados trechos de falas, cujos autores serão referidos por

meio do código acima mencionado, iniciado pela letra D quando se tratar de dirigente

sindical e pela letra A quando se referir a assessor sindical.

3.5.1 Identidade histórico-cultural dos formadores sindicais participantes do

grupo focal

Na perspectiva da teoria histórico-cultural, o homem se constitui originalmente

15 Apêndice III – Roteiro para o Grupo Focal (em anexo).

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por fatores biológicos, mas para se constituir como ser humano isso é insuficiente,

pois requer que ele faça apropriações da cultura humana. Segundo Leontiev (2004),

a maneira pelo qual o homem se apropria do mundo dos objetos e dos fenômenos

criados pelos homens ao longo de seu desenvolvimento histórico e social é o processo

que se realiza no desenvolvimento de relações reais do sujeito com o mundo à sua

volta. “É um processo de apropriação da experiência acumulada pela humanidade ao

longo da sua história social.” (LEONTIEV, 2004, p.340).

Portanto, compreender como formadores sindicais assim se tornam no convívio

da prática no movimento sindical, se apropriando de seus elementos constitutivos e,

ao mesmo tempo, contribuindo para objetivá-lo, é muito importante.

Os formadores, que compuseram o grupo focal, apresentavam idade entre 31

e 66 anos, 50% com nível superior completo de escolaridade, 25% com superior

incompleto, 25% entre ensino fundamental e médio. 75% se identificavam como

oriundos da roça, desses 83,3% de pequenos agricultores familiares ainda em

atividade. Acumulavam, em média, 20 anos de atividade no movimento sindical, seja

como funcionário/a ou como diretor/a sindical.

A identidade histórico-cultural desses formadores possibilitou um profundo

debate a respeito da realidade do campo, de trajetórias caracterizadas por muita

resistência, como se observa nesses relatos:

Formador A3 - Trabalhei na roça até meus 23 anos de idade. Numa dificuldade muito grande, porque antigamente não existia dinheiro na roça. Vocês são mais jovens, talvez não tiveram o prazer de participar disso. Porque isso acaba nos ensinando muito. Eu tive a oportunidade de colocar o primeiro par de sapatos no pé quando eu já tinha mais de 13 anos de idade. Então, a dificuldade era realmente imensa. E trabalhei na roça desde criança, porque a gente começa muito cedo. Tinha a obrigação de trabalhar e tinha a obrigação de estudar. O pai da gente não tinha condição de dar uma vida melhor. E eu passei por essa fase difícil da roça. Hoje as coisas estão diferentes, mais avançadas. Resolvemos muita coisa por telefone, através de e-mail. Mas, antigamente, a gente tinha que pegar ônibus e ir até o local, se quisesse levar uma informação. Formador D4 – Uma coisa é quando você fala do contexto social do passado. Outra coisa é quando você vai falar de você, da sua realidade, você vai lá revisitar a tua vida toda, teu pai, sua mãe. Porque eu fui revisitar um punhado de coisa. Não ter pão, não ter mesa, ter um ovo dividido no meio. Revivi um monte de coisa. Se brincar você se emociona.

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Para a teoria histórico-cultural, o homem a partir da sua relação com a natureza

constrói suas condições de existência material e, nesse processo no contexto do qual

se relaciona com os outros homens, se apropria de experiências, conhecimentos e

passa por vivências culturais, que também compartilha com as próximas gerações.

Esses aprendizados não são dados pela natureza e sim construídos, historicamente,

pela cultura, pelo homem e a partir de suas necessidades também históricas e sociais.

As falas no grupo focal evidenciaram que a construção do sujeito trabalhador

rural é permeada por muita determinação, pois a realidade objetiva se caracteriza por

muitas dificuldades, principalmente com relação aos estudos. Lembra o Formador A3

o que era estabelecido como regra: “[...] muitas mulheres bastavam saber assinar o

nome e tinham que aprender os serviços domésticos. E os homens tinham que fazer,

pelo menos, o quarto ano primário, que era o máximo possível naquela época”.

3.5.2. A linguagem do movimento sindical

A consciência humana é um produto construído socialmente e à medida que o

ser humano desenvolve atividades visando a concretizar finalidades objetivas, o que

faz do trabalho ser a atividade central do processo de constituição humana e social,

como afirmam Marx e Engels (1999). O surgimento e aperfeiçoamento da linguagem

encontram seus alicerces nas atividades desenvolvidas pelos homens, pois essas

requerem a intercomunicação, o estabelecimento de ligações entre coisas e fatos, a

transferência de informações, a condução de demandas, a expressão de valores e

desejos, o diálogo direto ou indireto entre pares. As comunidades de práticas acabam

constituindo linguajares próprios. É o que se observa num discurso médico ou num

despacho de um juiz, num falar de um historiador diante de um prédio histórico ou nas

descrições de um agricultor diante da terra arada.

Para Vigotski, “[…] el desarrollo del lenguaje es, ante todo, la historia de la

formación de una de las funciones más importantes del comportamiento cultural, que

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subyace en la acumulación de su experiencia cultural.” (VIGOTSKI, 1995, p.117).16

Assim, o movimento sindical também desenvolveu ao longo de sua constituição e

organização, seus símbolos, signos e gestos, suas linguagens, a partir de sua

necessidade de definir suas pautas de luta, de dialogar com a classe trabalhadora, de

desenvolver um sistema simbólico de representação e comunicação. Nas

manifestações dos formadores sindicais participantes do grupo focal, foram inúmeras

as formas de expressar essa dinâmica:

Formadora A4 - O que eu percebia era esse sentimento, que talvez a palavra certa não seja esquerdista. Tipo: de indagadores, de questionadores, sabe. De pessoas que buscam o mesmo ideal, dentro da condição de trabalhador. Existe muito mais um sentimento de pessoa, um sentimento de resistência em relação ao que eu penso sobre a vida, do que simplesmente estar participando do movimento sindical. Eu acho que o que se espera de um sindicalista é aquela pessoa que tem o que dizer, que tem uma bandeira, que tem um lado e que tem uma razão de estar ali. Formador A3 – Eu posso colocar a melhor roupa, o melhor traje, e em qualquer lugar, se eu chegar, se tiver pessoas que não são do movimento sindical, eles vão perceber. Primeiro, que eu sou da roça. Segundo, se eu começar a conversar vão perceber que eu sou sindicalista. Eu uso muito o termo companheiro, companheira, aí já me perguntam se eu sou de partido de esquerda. Formador A1 – O movimento sindical tem uma linguagem própria. Óbvio que tem. Depois que eu cheguei no movimento sindical, estou hoje mais entrosada, mais dentro dele. Não só como uma assessora, mas como formadora. Agora, também e principalmente como crítica do movimento sindical, porque eu acho que todos nós temos que também dizer coisas de críticas do movimento.

Assim, segundo os formadores participantes do grupo focal, essa linguagem

inerente ao movimento sindical também tem seus problemas, tem suas limitações. É

o que revelam as seguintes apreciações:

Formador D4 – A exemplo da Conclat17, que reúne trabalhadores de diversas categorias. Ali você vê uma linguagem política, ali você vai identificar muito claro uma linguagem, vamos dizer assim, sindical. Mais aí o que acontece? Depois nós vamos embora. Eu não lembro nem quem estava na Conclat. Eu não dialogo com aquilo. Nós não dialogamos sobre o problema da classe trabalhadora. Pois cada um vai embora, aí os rurais não dialogam mais com portuários, não como estão os metalúrgicos. Quando não fico sabendo, fico alheio às suas realidades. Então, sei que tem uma identidade de comunicação própria do movimento sindical. Mas, não sei se o termo é esse,

16 “O desenvolvimento da linguagem é, antes de tudo, a história da formação de uma das funções mais

importantes do comportamento cultural, que é fundamental na acumulação de sua experiência cultural.” (VIGOTSKI, 1995, p.117). Tradução nossa. 17 Conclat – Conferência Nacional da Classe Trabalhadora.

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tem também uma deficiência de comunicação. Formadora A1 – Quando eu chego dentro da estrutura da Federação, num polo, eu vejo que a linguagem nossa, de movimento sindical, ela tem diversas formas e diversos pontos de entrada. Diversas formas de linguagem. Por exemplo: se um polo tem três microrregiões, cada uma tem uma linguagem. Os sindicatos não conseguem conversar entre eles, e entre eles e a federação, porque tem um entendimento e uma linguagem diferente. Mas não é uma linguagem somente política, é uma linguagem de entendimento das coisas mesmo. Nós não conseguimos levar essa linguagem para outros lugares, para dentro das casas. A gente não consegue conversar com os trabalhadores de fato. Será que de fato a nossa base está compreendendo a linguagem que a gente está querendo passar? Comecei a trabalhar essas diferenças de linguagem pra poder chegar no sindicato. E até reaproximar sindicatos que estavam distantes por causa disso.

Formadora D1 – Nós temos uma linguagem de sindicalista e que nós falamos diariamente, mas o nosso movimento, ele tem mania de sigla. Muita sigla. Quando vamos conversa com outra categoria, ou com os trabalhadores, a gente fala assim: o sindicato dos trabalhadores emite DAP18. Fala CNIS19, INSS20, FETAEMG21, MSTTRs22 e por aí vai. Aí, o trabalhador pega nosso jornalzinho lá na ponta, ele vai assim, cheio de siglas, como se o trabalhador fosse obrigado a saber. Isso dificulta o entendimento das coisas. Formadora A4 – Se a gente não sabe como tocar essas pessoas, como fazer elas se sentirem acolhidas naquilo que a gente prega, então, não adianta de nada a gente ter linguagem própria do movimento. Precisamos rever isso.

O grupo focal, portanto, discutiu questões tais como: A linguagem pertencente

ao movimento sindical vem permitindo dialogar com quem e para quem? Será que o

movimento sindical está conseguindo dialogar com a sociedade ou só com ele

mesmo? Será que os conceitos que estão sendo produzidos e internalizados pelo

movimento sindical têm possibilitado, de fato, representar a realidade do mundo do

trabalho do campo?

Essas questões ficaram em aberto, carentes de novas reflexões em razão da

complexidade e multiplicidade de aspectos a serem considerados. Nas discussões

que ali se fizeram e em conformidade com as experiências dos formadores sindicais

18 No campo, a Declaração de Aptidão (DAP) ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) funciona como a identidade do agricultor familiar. 19 Cadastro Nacional de Informações Sociais. 20 Instituto Nacional de Seguro Social. 21 Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais.

22 Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.

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participantes do grupo focal, algumas palavras foram destacadas com potencial de

dificuldade de comunicação nos processos formativos. Dentre as pertencentes à

linguagem sindical, que causam estranheza ao serem faladas encontrariam as

seguintes: amarras do capital; consciência de classe; consciência política; base; estou

diretor; luta; concepção; formação; feminismo; dirigente sindical; transversalidade;

empoderamento; desconstruir; neoliberalismo; reforma agrária; pertencimento; luta de

classe; sexismo; paridade; perpassar.

Tais palavras seriam muito presentes no movimento sindical e se não são

evidenciadas no contexto da realidade da luta de classe, chegariam aos trabalhadores

com significados completamente diferentes aos que se propõem. É o que dizem, por

exemplo, esses formadores:

Formador D4 – A palavra desconstruir, a gente usa muito esse termo. Mas, como o trabalhador escuta essa palavra? Se construir é erguer uma casa, descontruir seria eu derrubar, eu passar uma máquina por cima? Porque a desconstrução para o trabalhador que está lá no campo, pode ser isso. Passei a máquina, agora vou construir de novo. Formadora D1 – Eu acho que a própria palavra luta dos trabalhadores. Quando você fala luta, a impressão que dá é que é guerra. Pegar em armas. Formadora A1 – Reforma agrária, os trabalhadores já entendem como invasão de terra dos outros. Desconhecem que é uma luta pelo direito à divisão justa da terra. Formadora A4 – Quando nós falamos consciência de classe, muitos confundem, por exemplo, com classe A, classe média.

Os formadores participantes do grupo focal compreendem que é esperável que

o movimento sindical tenha uma linguagem que lhe seja característica, que isso faz

parte da sua identidade histórico-cultural. Porém, não seria o caso de falar em

linguagens? E até que ponto forjar essa identidade compromete o diálogo com os

trabalhadores? Tais indagações permearam todo o debate realizado pelo grupo focal.

3.5.3 Abordagens pedagógicas em face dos desafios referentes ao uso da

linguagem

A linguagem humana pode ser entendida como um complexo sistema de

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símbolos, signos e gestos, constituído nas relações sociais, “[...] que designam

objetos, características, ações ou relações; códigos que possuem a função de

codificar e transmitir a informação.” (LÚRIA, 1986, p. 25). Quais abordagens

pedagógicas seriam utilizadas pelos formadores sindicais considerando os desafios

referentes ao uso da linguagem nos processos formativos? Esta foi uma questão que

se procurou identificar junto aos participantes do grupo focal.

De imediato, foram consideradas as condições desafiantes que caracterizam o

contexto próprio da formação sindical. No caso da entidade focalizada, os cursos são

desenvolvidos num mesmo espaço e eles são ministrados para conjuntos

heterogêneos de trabalhadores com respeito ao nível de escolaridade; há os que

possuem curso superior e os com alfabetização precária. Os formadores participantes

do grupo focal entendem que esses últimos são capazes de se formarem

sindicalmente, mas que isso requer estratégias metodológicas de inclusão.

Formador D4 - Eu estava na área de formação, aí chega um senhor que não sabia ler e escrever. Aí ele queria ir embora. Combinei com a turma toda para gente dizer pra ele coletivamente que a gente precisava dele no curso de formação. Que o não saber ler e escrever não atrapalharia de forma alguma, aí ele foi até o final do curso. Chorou na hora de receber o certificado. Como é que eu cobro dele uma escrita? Olha pra você ver. Como é que eu quero me comunicar com alguém que não sabe escrever? Como é que eu tenho essa sensibilidade com o grupo de pessoas que eu estou trabalhando. Porque se eu falar para escreverem, eu estarei excluindo alguém. São coisas que a gente precisa olhar nesse espaço de formação que atuamos. Precisamos olhar para aquele sujeito. A obrigação de dar conta é do formador, é nossa e não dele, não é do grupo, é minha.

A reflexão desse formador traz questões desse ambiente de formação que se

reportam a dimensões evocadas pela teoria histórico-cultural, o pressuposto de que o

homem deve ser entendido como um todo, com sua história, sua cultura e, como tal,

possui saberes construídos nas suas vivências e experiências, que se acumularam e

se manifestam em suas atividades.

No quadro abaixo, encontram-se os modos mediante os quais os formadores

sindicais participantes do grupo focal buscam lidar pedagogicamente com os desafios

postos no campo da linguagem.

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Quadro V – Estratégias didáticas dos formadores sindicais com respeito aos

desafios postos no campo da linguagem

Classificação por nº de

evocações

Abordagem pedagógica

Justificativa apresentada pelo formador sindical

Uso de um vocabulário que possam compreender.

Formadora A4 - O objetivo é fazer com que a pessoa compreenda de forma mais simples e natural possível a ideia que você se propôs a transmitir naquela situação, naquela atividade formativa.

Criação de oportunidades para que os participantes perguntem durante a atividade formativa.

Formadora D1 – As pessoas têm que perguntar, tem que interagir. Não se faz ação sindical, se não tiver uma interação. As pessoas têm que entender e compreender como que isso funciona.

Criação de oportunidades para que cada um/a se expresse.

Formador D2 – É preciso propiciar um ambiente para você conhecer a realidade do grupo que se vai trabalhar. Dar, primeiro, a vez de eles falarem da realidade local para, em seguida, entrarmos com a nossa abordagem.

Promover a geração de ideias.

Formador D4 – Precisamos promover a geração de ideias, mas acima de tudo, valorizar as ideias que o grupo trouxer.

Envolver cada participante no seu processo pessoal de desenvolvimento da linguagem.

Formadora D3 – Para mim, isso foi importante quando participei dos processos formativos porque é preciso gerar esse processo de ter segurança, de você se sentir de fato um formador, de você desenvolver ali o que vai ajudar você a tocar essa atividade.

Promover a desinibição para falar em público.

Formador A2 – Isso é fundamental em se tratando do desenvolvimento da linguagem, pois se a pessoa ficar inibida, ela não conseguirá pensar, analisar, desenvolver sua participação.

Estruturar de forma lógica e sequencial os conteúdos e atividades de aprendizagem.

Formadora A1 – É preciso evitar misturar os assuntos, pois atrapalha aquele que está ali participando no acompanhamento dos temas.

Oferecer aos participantes momentos de autoavaliação no que diz respeito à linguagem.

Formador D4 – É importante que o sujeito, na atividade de formação, compreenda seu processo, se autoavalie e perceba os seus equívocos, sem necessariamente apontarmos o dedo para ele. Porque a grande mudança só ocorre quando eu percebo em mim meus erros e decido que é hora de mudar.

Promover o trabalho coletivo, em grupo.

Formador A2 – Isso é importante para que todos tenham oportunidade de falar.

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Discutir sobre o que se deve fazer para interpretar e analisar.

Formadora A4 – Para conseguir sedimentar, fixar e garantir que se internalizem os conteúdos, é preciso propiciar os meios para que as pessoas interpretem e façam análises.

Fonte: Elaboração própria - Dados da pesquisa

Como se observa, para os formadores sindicais integrantes do grupo focal é

importante planificar e desenvolver a atividade formativa tendo a preocupação de

propiciar um contexto de linguagem em que todos possam compreender os conteúdos

abordados e que propicie a maior participação possível dos participantes. Com isso,

mostram consideração pelo papel importante da linguagem no processo da interação

humana.

3.5.4. A linguagem como instrumento de internalização de conceitos

Um dos conceitos centrais na teoria histórico-cultural é o de internalização, que

diz respeito à apropriação da realidade objetiva e da cultura pelos sujeitos, o qual se

dá mediante a reconstrução interna de operações externas, fundamental na formação

do pensamento abstrato. Para essa teoria, a internalização é o processo que

possibilita o acesso do sujeito ao sistema simbólico construído culturalmente na

atividade humana, viabilizando assim, a regulação da ação do indivíduo. Segundo

Vigotski (2007, p.58), é um “[...] aspecto característico da psicologia humana”.

Assim, também no contexto do desenvolvimento do processo de formação

política sindical, faz-se necessário construir mecanismos para que os sujeitos

participantes internalizem conceitos sobre a realidade objetiva e produzidos pela

cultura. Os signos constituem um instrumento fundamental como mediadores desse

processo de internalização. Nesse sentido, a partir dos conceitos cotidianos da prática

sindical pode-se chegar aos conceitos científicos, sendo eles mais elaborados,

pertinentes ao processo de emancipação do trabalhador na relação com o Capital e

imprescindíveis para a formação da consciência. A formação de conceito, segundo

Vigotski, é

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[...] resultado de uma atividade complexa em que todas as funções intelectuais básicas tomam parte. No entanto, o processo não pode ser reduzido à associação, à atenção, à formação de imagens, à inferência ou às tendências determinantes. Todas são indispensáveis, porém insuficientes sem o uso do signo, ou palavra, como meio pelo qual conduzimos as nossas operações mentais, controlamos o seu curso e as canalizamos em direção à solução dos problemas que enfrentamos. (VYGOTSKY, 2008, p.72-73).

Para os formadores participantes do grupo focal, há conceitos dos quais a

formação sindical não pode prescindir. Dentre esses, citaram os de Estado,

Sociedade, Poder, Democracia, Organização sindical, Cooperativismo, Agroindústria,

Agroecologia, Empoderamento, Agricultura familiar, Luta de classe, Paridade.

Dos conceitos citados pelos formadores, o de agricultura familiar foi o mais

debatido. Várias indagações foram trazidas pelos formadores. Todas em razão dos

diferentes entendimentos que ele comporta. No nível da conceituação cotidiana,

espontânea, os formadores citaram a forma depreciativa mediante a qual, às vezes,

esse conceito é tratado. Conforme relata a Formadora A1, “[...] já vi eles falarem que

são pedreiros, que são diversas coisas, pois eles têm vergonha de falar que é

agricultor familiar; muitos se envergonham”.

Porém, a passagem do conceito cotidiano e espontâneo para o conceito

científico de agricultura familiar não seria um processo simples. Segundo os

formadores sindicais participantes do grupo focal, há diversidade de entendimentos

desse conceito quando se busca situá-lo no sistema organizado do pensamento.

Mencionaram haver, pelo menos, três conceituações distintas. A primeira se refere ao

entendimento de agricultor familiar por parte da Previdência Social, que compreende

quem trabalha em regime de economia familiar, sem empregados. A segunda diz

respeito ao enquadramento sindical no Ministério do Trabalho e Emprego, que se

baseia na Lei 1.166/1971, a qual considera como agricultor familiar aquele que

trabalhando individualmente ou em regime de economia familiar pode também

envolver a participação de terceiros (BRASIL, 1971). Já o extinto Ministério do

Desenvolvimento Agrário (fechado pelo governo de Michel Temer em 2016) se

referenciou na Lei 11.326/2006, que conceitua agricultor familiar quem: “I - não

detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais; II - utilize

predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do

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seu estabelecimento ou empreendimento” (BRASIL, 2006). Portanto, vê-se a

necessidade da intervenção do formador para trabalhar a linguagem como

instrumento de mediação pedagógica na formação do pensamento. Nesse sentido,

indaga o Formador D2: “O que é agricultura familiar de fato? Precisamos debater isso.

A maioria dos associados de nossa base sindical são agricultores familiares”.

Mas, as questões que permeiam as análises a respeito do conceito de

agricultura familiar apresentam facetas adicionais a essas. Os formadores discutiram,

também, como relacionar tal conceito ao de trabalhadores, de classe social quando

se admite que os agricultores familiares são também empregadores. Fizeram o

caminho do movimento descendente do conceito na discussão das suas implicações

para a relação Capital x Trabalho, indo ao contexto concreto da atividade, tal como se

vê a seguir:

Formador D2 - Por exemplo, você tem um empregador que está lá na sede da propriedade e manda os caras fazer o serviço. E você tem o agricultor familiar que emprega, mas ele vai para o curral junto com o empregado. Então ele está tirando o leite junto, um está soltando o bezerro, está junto. Ele vai pra roça. Os dois estão junto ali. É diferente essa relação. Formador D4 – Vocês já observaram, por exemplo, como é que é o gado de leite e o gado de corte? O gado de leite, todas as vacas têm nome. Elas são chamadas pelos nomes. No gado de corte não existe nome. Então mostra a relação. O que eu estou querendo dizer com isso é que no mesmo espaço, vamos dizer assim, na mesma relação homem/animal bovino, eles são completamente diferentes. Gado de corte eu lido de um jeito, gado de leite eu lido de outro.

O debate realizado pelos formadores sindicais participantes do grupo focal foi

importante para compreender a linguagem como um importante instrumento para a

internalização da realidade objetiva, da cultura do universo do trabalho do campo. O

caminho do abstrato ao concreto se mostrou necessário para a discussão da

complexidade e riqueza do conceito de agricultura familiar.

E é servindo-se da linguagem, como instrumento de mediação da relação entre

o trabalhador e o dirigente sindical, que o conceito cotidiano e espontâneo de

agricultura familiar pode passar para o nível mais elaborado e intricado, pertencente

ao mundo da organização de classe.

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Assim, a atividade de formação pode contribuir para que na comunicação, na

interação social, a linguagem de um dirigente sindical se apresente como reflexo da

atividade prática do trabalhador e possa favorecer o trânsito necessário ao processo

de desenvolvimento do pensamento reflexivo e crítico.

O rico debate do grupo focal, também apontou para a necessidade da

continuidade da formação continuada, para que os formadores sindicais, mesmo em

meio à crescente demanda da atividade da organização sindical, possam dar conta

de aprofundar seus conhecimentos.

Formadora D2 – quando a gente fala de estudar. Eu não sei se isso é só comigo, mas às vezes também a gente que lê ou estuda, você tem uma necessidade de ter algum espaço que se possa expressar. Quando se tem um grupo de estudo e nesse grupo você compartilha isso, então cria uma expectativa. Você cria uma vontade de você ter aquele conhecimento para poder compartilhar no grupo. Formador D4 – Não precisa ser com o grupo todo, mas com parte. Mas acho importante que haja a possibilidade, que se possa ter a oportunidade de apresentarmos nossos slides, o que montamos para a apresentação entre os formadores antes de darmos o curso em si. Para que possamos com a ajuda dos colegas, ajustar o conteúdo. Isso vai me dá mais segurança para realizar minha tarefa na atividade de formação sindical.

Portanto, observou-se, que os formadores também compreendem a

importância da linguagem para a formação do pensamento, mas percebem ter

dificuldades para realizarem procedimentos que possibilitem essa mediação

pedagógica.

3.6. Considerações finais

Na realização desta pesquisa buscou-se obter de documentos e de formadores

sindicais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais

– Fetaemg elementos para a compreensão da linguagem como instrumento de

mediação pedagógica das atividades de formação sindical.

Com esse propósito, buscou-se identificar elementos da linguagem utilizados

pelo movimento sindical e pelos sujeitos participantes dos processos formativos da

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Fetaemg; compreender se e como seus formadores sindicais consideram a linguagem

como instrumento de mediação pedagógica; identificar as estratégias que utilizam

para lidar com os desafios referentes a essa mediação; analisar como percebem o

papel da linguagem no desenvolvimento das interações sociais e com respeito à

formação do pensamento conceitual e elaborado.

Foram realizadas sessões de grupo focal com a participação de oito formadores

sindicais e análise documental de materiais elaborados pelo departamento de

formação e organização sindical da entidade pesquisada, tais como: cartilhas, vídeo

de atividade formativa, relatório do planejamento estratégico situacional da formação.

Os dados obtidos foram organizados por categorias de análise e sua

interpretação se norteou pelas contribuições da teoria histórico-cultural. Os resultados

obtidos trazem contribuições para processos de formação política sindical e

investigações sobre a importância da linguagem como mediação pedagógica.

Observou-se que a atividade desenvolvida pelos formadores sindicais cumpre

um importante papel no processo de desenvolvimento político sindical dos que dela

participam. Viu-se que o movimento sindical constrói seus sistemas simbólicos

inerentes à sua atividade e que esses, para terem sentido para os trabalhadores,

precisam ser por eles internalizados, o que reforça a necessidade da compreensão

da importância de se investir na qualidade da formação sindical.

Os formadores sindicais participantes da pesquisa disseram-se preocupados

com o emprego de abordagens pedagógicas que possibilitem o uso da linguagem que

todos possam ser compreendidos, mas isso nem sempre é de fácil concretização.

Exprimiram a expectativa de poder promover a geração de ideias num contexto em

todos possam se expressar, o que coloca para a formação sindical a necessidade de

propiciar o desenvolvimento do pensamento conceitual, reflexivo e crítico.

Os resultados obtidos estimulam a continuidade dos estudos sobre o tema

abordado no sentido de maior aprofundamento teórico e metodológico. Nesse sentido,

o Capítulo a seguir apresentará elementos para a construção de um Projeto Político-

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Pedagógico de formação continuada de formadores sindicais relativos aos desafios

sobre o uso da linguagem como instrumento de mediação pedagógica e/ou simbólica.

Busca-se, assim, contribuir para que a entidade, que serviu de contexto para esta

pesquisa, a Fetaemg, possa fortalecer seus processos de formação política e sindical.

Referências

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4. MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA DA LINGUAGEM: CONTRIBUIÇÕES

DA TEORIA HISTÓRICO-CULTURAL PARA O PROJETO

POLÍTICO-PEDAGÓGICO DE FORMAÇÃO CONTINUADA DOS

FORMADORES SINDICAIS DA FETAEMG

Kátia Gaivoto

Lucília Machado

Resumo O presente capítulo traz elementos técnicos destinados a contribuir com as discussões que envolvem a busca de aperfeiçoamento do projeto político pedagógico de formação sindical da Federação dos Trabalhadores Rurais do Estado de Minas Gerais – Fetaemg. Trata-se de um apanhado sintético de resultados de uma pesquisa realizada para fins de conclusão de um mestrado. Tal investigação buscou analisar e discutir, à luz da teoria histórico cultural, a questão da linguagem como mediação pedagógica em processos educativos, em especial os referidos à formação sindical. Palavras-chave: linguagem, internalização de conceitos, projeto político pedagógico, formação sindical.

Abstract

This chapter presents technical elements aiming to contribute to the discussions involving the search for the improvement of the political-pedagogical union formation project from the Federation of Farm Workers of the State of Minas Gerais – FETAEMG. It consists of a synthetic summary of results from a survey conducted with the purpose of conclude a Master’s degree. This research sought to analyze and discuss, in the light of cultural historical theory, the question of language as pedagogical mediation in educational processes, especially those related to union formation.

Keywords: language; concepts internalization; political-pedagogical project; union

formation.

Kátia Gomes Gaivoto - Licenciada em História, Mestranda em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local – UNA, diretora e formadora do Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho - CES. E-mail: [email protected] Lucília Regina de Souza Machado – Socióloga, mestre e doutora em Educação, pós-doutorada em Sociologia do Trabalho e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E-mail: [email protected]

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4.1. Introdução

Este capítulo responde à necessidade de apresentar um produto técnico como

parte do trabalho final do mestrado realizado no contexto do Programa de Pós-

Graduação em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro

Universitário Una.

Busca, também, retribuir a contribuição de todos os companheiros da

Federação de Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais - Fetaemg,

que incentivaram e possibilitaram a realização deste mestrado e da investigação para

fins de elaboração da dissertação, seja pelo fornecimento dos materiais destinados à

análise documental quanto pelos préstimos que permitiram o cumprimento das tarefas

de pesquisa de campo.

A questão norteadora desses estudos veio da necessidade de compreender a

linguagem como instrumento de mediação pedagógica nos processos de formação

sindical, tendo como pressuposto teórico a concepção da teoria histórico-cultural,

especialmente as contribuições de Vigotski.

A justificativa fundamental para tanto foi o interesse pelo fortalecimento do

processo de formação política sindical desenvolvido no âmbito desta Federação,

considerando seu compromisso com o desenvolvimento local, entendendo o local na

perspectiva trazida por Fragoso, para quem “[...] o local significa também um conjunto

inter-relacionado de redes sociais e culturais que, a determinados níveis, têm

especificidades bem visíveis.” (2005, p.64). No caso desta investigação, as facetas e

particularidades do movimento sindical do campo.

Nessa perspectiva, considerando o local e suas determinações pelas relações

sociais e suas produções culturais, este produto técnico busca priorizar o

fortalecimento desse movimento. Trata-se da indicação de alguns elementos para o

aprofundamento e aperfeiçoamento do Projeto Político-Pedagógico de formação

continuada de formadores sindicais da Fetaemg. A perspectiva adotada é, portanto, a

da teoria histórico-cultural e se volta, especificamente, para a questão do uso da

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linguagem como mediação pedagógica, seja como instrumento para a interação e

comunicação social ou do desenvolvimento do pensamento.

A pesquisa, em seu primeiro momento, buscou na revisão teórico-conceitual

analisar essas contribuições da teoria histórico-cultural. Para tanto, analisou as

formulações de Vigotski (1995, 2000, 2007, 2008, 2010); Leontiev (1989, 2004, 2014)

e Luria (1985, 1986, 1992), seus aportes norteadores para a compreensão da

constituição humana centrada nas relações sócio-históricas.

Em um segundo momento, com a anuência de um Comitê de Ética e Pesquisa,

da Fetaemg e de formadores convidados para sessões de grupo focal, buscou

elementos empíricos para compreender percepções sobre a questão investigada,

tomando-se como referência formulações, vivências e experiências na formação

política sindical.

A realização desta pesquisa empírica, de natureza qualitativa e caráter

exploratório e descritivo, contou com a colaboração de oito formadores sindicais. Ela

também se referenciou na análise de alguns materiais produzidos pelo departamento

de formação e organização sindical da Fetaemg.

A presente contribuição foi elaborada a partir do conjunto de informações obtido

nesses dois momentos e deve ser considerada nos seus limites, pois o debate

desenvolvido no grupo focal indicou, também, outras necessidades de apoio à

formação político-pedagógica, o que requer desdobramentos adicionais e

investimentos futuros. Nesses termos, a contribuição aqui apresentada se refere,

fundamentalmente, ao uso da linguagem como mediação na formação e estruturação

do pensamento.

Parte-se do pressuposto de que a construção de um projeto político-

pedagógico não é atribuição exclusiva de uma pessoa singular e de instituições

educacionais formais, escolas regulares. Além disso, segundo Vasconcellos (2004),

um projeto político-pedagógico não é um planejamento fechado e acabado, e sua

riqueza está no constante processo de desenvolvimento e ajustes a partir de uma

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realidade concreta.

É o plano global da instituição. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de planejamento participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico – metodológico para a intervenção e mudança da realidade. É um elemento de organização e integração da atividade prática da instituição neste processo de transformação. (VASCONCELlOS, 2004, p.169).

Nesse sentido, a presente proposta visa apresentar à Fetaemg elementos a

partir dos quais possa dar seguimento e fazer florescer seu projeto de formação

sindical com base no aprofundamento do debate com suas bases e com os

formadores sindicais que nela atuam.

As sessões de grupo focal realizadas e a análise documental, especialmente

do relatório do planejamento estratégico situacional da formação da Fetaemg,

apontaram a necessidade desse movimento de aprofundamento na construção do

projeto político-pedagógico da formação da Fetaemg. Isso porque, conforme consta

dos anais de seu 9° congresso,

A expectativa é que a formação possa contribuir para uma ação transformadora, visando a mudança de atitude e de comportamento com ênfase na troca de conhecimento acumulado pelos dirigentes e lideranças, que atuam no cotidiano na luta sindical (FETAEMG, 2014, p.41).

Portanto, é preocupação da referida entidade preparar os trabalhadores rurais

e realizar sua atualização constante de modo que possam acompanhar o dinamismo

das relações sociais e políticas, que afetam a classe trabalhadora. Caberia, assim,

aos trabalhadores buscar nessas atualizações aqueles subsídios que escapam,

inclusive aos processos educacionais tradicionais, que não dão conta de garantir a

formação que a especificidade da organização da classe requer.

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4.2. Pressupostos teóricos – princípios fundantes do projeto político-

pedagógico de formação continuada dos formadores sindicais da

Fetaemg

Parte-se do pressuposto de que o Projeto Político-Pedagógico da Fetaemg

demanda ser orientado pela perspectiva materialista histórico dialético, dada a

importância dessa matriz na elucidação das contradições inerentes às relações entre

capital e trabalho. As obras escritas por Marx e Engels no século XIX são

imprescindíveis para a compreensão do cenário político atual. O historiador Eric

Hobsbawm é categórico na defesa desse legado:

Quanto ao futuro previsível, teremos que defender Marx e o marxismo dentro e fora da história, contra aqueles que os atacam no terreno político e ideológico. Ao fazer isso, também estaremos defendendo a história e a capacidade do homem de compreender como o mundo veio a ser o que é hoje, e como a humanidade pode avançar para um futuro melhor. (HOBSBAWM, 2013, p.184).

É nessa relação histórica e contraditória entre capital e trabalho, que os

processos de formação política sindical encontram sua centralidade, pois implica o

substrato da dominação material e intelectual para a qual Marx e Engels (1999, p.29)

alertaram: “[...] os pensamentos dominantes são apenas expressão das relações

materiais dominantes concebidas sob a forma de ideias e, portanto, a expressão das

relações que fazem de uma classe a classe dominante. Por outro lado, é preciso

recuperar o trabalho não no sentido de emprego, mas como constitutivo da ontologia

do ser social, como princípio educativo, atividade mediante a qual o animal homem se

torna humano, se humaniza.

Considerando a importância dessa abordagem, buscou-se ao longo da

pesquisa realizada, trazer os aportes teóricos de Marx e Engels e os da teoria

histórico-cultural de Vigotski e colaboradores para o entendimento do processo da

formação da consciência e da importância da linguagem, na sua expressão oral,

escrita e gestual, como importante instrumento de mediação pedagógica para a

interação social e a internalização de conceitos e o desenvolvimento do pensamento.

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A teoria histórico-cultural traz elementos significativos no tocante à

constituição do ser humano, lembrando que “[...] no decurso da atividade dos homens,

as suas aptidões, os seus conhecimentos e o seu saber-fazer cristalizam-se de certa

maneira nos seus produtos (materiais, intelectuais, ideais)”. (LEONTIEV, 2004, p.265).

A centralidade do trabalho, entendido como atividade criadora e produtiva do

homem, propicia a realização do metabolismo deste com a natureza em resposta às

suas necessidades humanas e sociais. Ao realizá-lo, ele desenvolve suas habilidades

tipicamente humanas. O mesmo ocorre com respeito à aquisição do saber e com o

desenvolvimento do pensamento levando à constituição da cultura. Com isso, “[...] o

mesmo pensamento e o saber de uma geração formam-se a partir da apropriação dos

resultados da atividade cognitiva das gerações precedentes.” (LEONTIEV, 2004,

p.266).

Nessa perspectiva, na interação e comunicação social, ocorre a apropriação

das palavras, que segundo Leontiev, “[...] são fixadas historicamente nas suas

significações.” (2004, p.269).

Dois componentes se mostram indispensáveis para que a palavra se

transforme em instrumento da comunicação social e da formação do pensamento:

O primeiro, denominado referência objetal, é compreendido como a função da palavra que consiste em designar o objeto, o traço, a ação ou a relação. O segundo componente fundamental da palavra é seu significado, compreendido por nós como a função de separação de determinados traços no objeto, sua generalização e a introdução do objeto em um determinado sistema de categorias. Desta forma, a palavra cumpre o enorme trabalho realizado na história social da linguagem. (LÚRIA, 1986, p.43). (os itálicos constam do original).

Ao ligar o desenvolvimento da palavra com o desenvolvimento da consciência,

Vigotski faz uma grande descoberta. Conforme Luria (1986), ele vê na palavra um

aparelho capaz de refletir o mundo externo e as relações que o constituem. Logo,

tanto a palavra quanto a consciência estão em constante processo de

desenvolvimento, mas podem se apresentar invariável a depender da realidade

objetiva na qual se encontra o sujeito e da formas com que ele internaliza seus

significados e lhe confere sentido.

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Significados e sentidos são compreendidos por Vigotski (2008) como

procedimentos de estruturação do real. E, também, do sujeito. Isso porque a

objetividade e a subjetividade estão atribuídas no mesmo processo de constituição

humana quanto do mundo. Portanto, as palavras se constituem de significações

oriundas de relações sócio-históricas em que o sujeito objetivamente se encontra.

Para Luria (1986), o significado está ligado às generalizações das palavras,

podendo ele ser compartilhado por todas as pessoas. Já o sentido varia, pois é

compreendido pela forma com que cada indivíduo compreende determinada palavra,

necessariamente interligada a uma situação subjetiva concreta. Luria (1986)

exemplifica:

A palavra “carvão” possui um significado objetivo determinado. É um objeto preto, na maioria das vezes de origem vegetal, resultado da calcinação de árvores, com uma determinada composição química em suja base está o elemento C (Carbono). No entanto, o sentido da palavra “carvão” designa algo completamente diferente de pessoa para pessoa e em circunstâncias diversas. Para a dona de casa, a palavra “carvão” designa algo com o qual acende o samovar e do qual precisa para acender a estufa. Para o cientista, o carvão é um objeto de estudo, ele separa a parte do significado desta palavra que lhe interessa – a estrutura do carvão, suas propriedades. Para o pintor, é instrumento com o qual pode fazer um esboço provisório do quadro. E, para a menina que sujou seu vestido branco com carvão, esta palavra tem um sentido desagradável, por causa do qual sofre. (LURIA, 1986, p.45).

A linguagem não é só ferramenta de conhecimento refletindo o mundo externo,

ela também cumpre um papel de regulação dos processos psíquicos superiores,

adquiridos ao longo da história social do homem, pois a fala organiza o funcionamento

complexo da atividade, permitindo que os seres humanos operem na consciência a

representação da realidade objetiva.

Dessa forma, um determinado complexo de significações é internalizado,

processo que leva à criação de categorias conceituais, que possibilita o

desenvolvimento das abstrações e generalizações, que são repassadas culturalmente

de geração a geração.

As palavras, portanto, como signos mediadores na relação do homem com o mundo são, em si, generalizações: cada palavra refere-se a uma classe de objetos, consistindo num signo, numa forma de representação dessa categoria de objetos, desse conceito. (LA TAILLE; OLIVEIRA; DANTAS, 1992, p.28).

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Ao nascer, cada indivíduo encontra um conjunto de conceitos constituído, que

servem para orientar as ações dos indivíduos, mas que, dialeticamente, também pode

sofrer mudanças dependendo do jogo das relações sociais. O conceito é formado pela

ação efetiva e complexa do pensamento, não podendo “[...] ser ensinado por meio de

treinamento [...], pois pressupõe o desenvolvimento de muitas funções intelectuais:

atenção, memória, lógica, abstração, capacidade para comparar e diferenciar.”

(VIGOTSKI, 2008, p.104).

Vigotski (2008) sustenta que os conceitos estão correlacionados às

estruturações mentais, conexão que se dá entre o universo de signos e o universo

mental, possibilitando a atribuição do significado à atividade. Para esse autor, existem

dois tipos de conceitos, que pressupõem a necessária interação entre eles.

Trata-se, do conceito espontâneo e do conceito científico. O primeiro se

estrutura na vida real do indivíduo, nas suas vivências e conhecimentos obtidos nas

suas relações de trabalho e no seu universo simbólico característico de sua atividade.

Já o conceito científico, esse se estrutura com base num conhecimento mais

elaborado, sistematizado, relativo a um ambiente escolástico. Vigotski esclarece a

importância dos conceitos espontâneos e científicos no desenvolvimento da

consciência:

Acreditamos que os dois processos – o desenvolvimento dos conceitos espontâneos e dos conceitos não espontâneos – se relacionam e se influenciam constantemente. Fazem parte de um único processo: o desenvolvimento de conceitos, que é essencialmente um processo unitário, e não um conflito entre a forma de intelecção antagônica e mutualmente exclusiva. O aprendizado é uma das principais fontes de conceitos [...] e é também uma poderosa força que direciona o seu desenvolvimento, determinando o destino de todo o seu desenvolvimento mental. (VIGOTSKI, 2008, p.107).

A linguagem, nesse processo, permite realizar as abstrações, as

generalizações mediante a análise dos objetos da realidade concreta, e, com isso,

concorre para a producão da consciência. Conforme Vigotski (2010), o mundo é

internalizado pelo sujeito por meio de um conjunto de conceitos determinados pelas

circunstâncias históricas, produzidos nas relações sociais entre os homens.

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Ao contribuir para a internalização dos conceitos, a linguagem também se

transforma pela apropriação desses, o que faz com que se passe da palavra a um ato

do pensamento. Assim, “[...] a palavra influi [...], enriquecendo e aprofundando

imensamente a sua percepção direta e conformando a sua consciência (do sujeito).”

(LURIA, 1985, p.13). Nessa perspectiva, Marx sinalizou que, “[...] a consciência nunca

pode ser mais do que o ser consciente e o ser dos homens é o seu processo da vida

real.” (MARX; ENGELS, 1999, p.20).

Se os conceitos são determinados pelas circunstâncias históricas de uma

sociedade, logo, numa sociedade de classes antagônicas, como é a sociedade

capitalista, a classe dominante, tratará de fazer internalizar seus conceitos visando à

reprodução das relações sociais de dominação, das ideias, valores, normais e regras

do pensamento naturalizado. Chauí (2008) caracteriza, assim, o que é a ideologia:

A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças como as de classes e fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado. (CHAUÍ, 2008, p.108-109).

Os conceitos, portanto, são elementos de grande importância na estruturação

e no desenvolvimento do pensamento, questão crucial do processo de formação

humana a ser considerada como estratégica pelo projeto político pedagógico do

movimento sindical e suas práticas formativas.

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4.3. Formação política sindical e desenvolvimento do pensamento crítico de

dirigentes, assessores e lideranças sindicais

As preocupações do movimento sindical pertinentes à formação política da

classe trabalhadora se justificam quando se compreende a necessidade política de

elucidar as contradições da sociedade capitalista, de como se dá o processo de

produção material e do que é gerado por ela.

Marx e Engels foram claros ao dizerem que a classe que detém os meios de

produção material “[...] dispõe igualmente dos meios de produção intelectual, de tal

modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção

intelectual está submetido igualmente à classe dominante.” (MARX; ENGELS, 1999,

p.29).

De acordo com Paranhos (1999), desde as primeiras organizações sindicais,

sempre existiu a preocupação com a formação dos trabalhadores, seja a voltada à

elevação do seu nível educacional, seja a destinada à difusão cultural, seja a de

caráter sindical. As organizações da classe trabalhadora reconhecem a importância

da obtenção de conhecimentos, que a auxiliem na defesa dos seus interesses de

classe.

No Brasil, a preocupação educacional no movimento operário-sindical inicia-se com as propostas educativas dos libertários, principalmente dos grupos anarco-sindicalistas, englobando os anos 1902/1920. O projeto educativo dos libertários tinha três dimensões que se ligavam entre si: a educação política-sindical, a educação escolar e as práticas culturais de massa. (PARANHOS, 1999, p.155).

Análise dos estudos sobre tais iniciativa permite verificar que houve um

momento de auge desses processos formativos nas décadas de 1970 e 1980, quando

muitos sindicatos realizaram de forma muito intensificada seus processos de formação

política sindical, com experiências exitosas.

Essa percepção se torna clara quando se avalia que as entidades que

realizavam a formação sindical eram as mesmas com atuações ativas na condução

do movimento sindical, tal como as de representação dos metalúrgicos, dos químicos,

dos bancários, dos petroleiros e dos trabalhadores rurais.

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Segundo Paranhos (1999), as referidas categorias de trabalhadores investiam

em processos de formação passando à organização de seus departamentos de

educação e cultura, ao desenvolvimento de programas e experiências bem articuladas

de formação sindical. Dentre as experiências citadas pela autora em questão, a

Fetaemg é citada como referência com respeito às atividades de formação desse

período, como se observa:

Cabe salientar as experiências levadas a efeito nesse período nos seguintes sindicatos: Metalúrgicos de São Paulo, Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Metalúrgicos da Baixada Santista, Metalúrgico de Monlevade (Minas Gerais), Bancários de São Paulo, Telefônicos de Minas Gerais, Químicos de São Paulo e do ABC, Sapateiros (Franca/SP); entre as federações destacam-se as dos trabalhadores rurais de Minas Gerais (Fetaemg), Pernambuco (Fetape) e a Federação da alimentação do Rio Grande do Sul. Entre as Confederações, há que se evidenciar a importância dos trabalhos desenvolvidos pela Contag. (PARANHOS, 1999, p.156).

Como se observa, a preocupação da Fetaemg com a formação política de seus

quadros não é recente. Ao buscar avanços no seu projeto político pedagógico, essa

Federação visa consolidar a sua rede estadual de formadores sindicais de forma que

sejam capazes de desenvolver processos formativos, que contribuam, de fato, para o

fortalecimento do pensamento de classe, para a classe e com a classe.

4.4. Missão, visão, objetivos e conteúdos programáticos do projeto de

formação política sindical da Fetaemg

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais tem

como missão:

Implementar o Projeto de Desenvolvimento Rural sustentável, preservar o meio ambiente, construir parcerias, organizar a produção e contribuir na formação de nossas lideranças com o objetivo de promover o bem-estar social dos trabalhadores (as) rurais, assentados, assalariados e agricultores familiares. (FETAEMG, 2015, p.4).

Seus esforços nesse sentido se guiam pela visão de que se faz necessária a

“[...] emancipação dos trabalhadores na perspectiva de uma sociedade mais justa,

humana e igualitária.” (FETAEMG, 2015, p.4).

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Para tanto, considera ser o objetivo geral do projeto político pedagógico da

Fetaemg o desenvolvimento de um pensamento menos espontâneo e mais científico

no que diz respeito ao pertencimento de classe, a começar o que concerne seus

formadores sindicais.

Justifica-se tal objetivo geral pela necessidade de preparar sua rede de

formadores sindicais à altura dos desafios que precisam ser enfrentados com respeito

a preservar a dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do Estado de Minas

Gerais e de municiar seus formadores sindicais com os recursos teóricos e

metodológicos necessários ao desenvolvimento e aperfeiçoamento do seu trabalho

de formação política sindical na base.

A viabilização desse objetivo geral passa pela construção programática

composta por dois conjuntos de conteúdos e atividades.

O primeiro deles se refere à necessidade de trabalhar contextos e seus

significados sociais e engloba itens como: mundos do trabalho; concepções sindicais

existentes; sistema confederativo do movimento sindical dos trabalhadores e

trabalhadoras rurais; a Fetaemg e os sindicatos a ela filiados: suas histórias, atuações

e desafios.

O segundo abrange elementos da pedagogia do trabalho de formação sindical:

materialismo histórico dialético; teoria histórico-cultural e processos de ensino-

aprendizagem; mediação pedagógica; processos de internalização; zona de

desenvolvimento proximal; a linguagem como instrumento de intercâmbio social; a

linguagem como instrumento do desenvolvimento do pensamento; conceitos

espontâneos e conceitos científicos; o desenvolvimento das atividades de formação e

suas metodologias.

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4.5. Bases metodológicas do projeto político-pedagógico

Na perspectiva da teoria que orienta a proposta para o projeto político-

pedagógico da Fetaemg, a consciência se forma na atividade prática do homem.

Considera que toda atividade é orientada por um motivo e que esse, por sua vez,

impulsiona o indivíduo a executar tal atividade. Conforme Leontiev (1978, p.13), “[...]

chamamos de atividade um processo que é eliciado e dirigido por um motivo – aquele

no qual uma ou outra necessidade é objetivada. Em outras palavras: por trás da

relação entre atividades, há uma relação entre motivos.” Nesse sentido, em qualquer

processo de ordem metodológica, portanto operacional, se faz necessário considerar

os elementos estruturantes da atividade e suas articulações: a necessidade ou motivo,

a ação que esses demandam e, por fim, a operação ou condições para a realização

da ação.

Para a teoria histórico-cultural, o conhecimento depende advém da atividade

que se exerce no contexto das relações sociais. Por meio da cultura e da linguagem

o indivíduo desenvolve as representações mentais do mundo, sendo que essa última

se constitui como o grande instrumento de mediação simbólica, o signo dos signos

para Vigotski (2008). Ela intervém na internalização da cultura e dos conceitos pelos

indivíduos, se constituindo como um instrumento psicológico importantíssimo no

desenvolvimento cognitivo. É, segundo Luria (1986, p.44) um “[...] aparelho que reflete

o mundo externo em seus enlaces e relações”. Contudo, adverte Vigotski que:

O pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico-cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais de pensamento e fala. (VIGOTSKI, 2008, p.63).

Fundamentados nessa concepção teórica, as bases metodológicas de

organização das práticas de ensino-aprendizagem da formação sindical pressupõem

considerar que a natureza constitutiva do homem decorre de suas interações sociais,

tendo no trabalho seu princípio educativo.

Nesse sentido é importante que nos processos metodológicos se levem em

conta: a existência da intencionalidade pedagógica; a busca diagnóstica no ambiente

formativo de situações que possam estimular o processo de aprendizado; ter sempre

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em pauta um conceito a ser trabalhado em uma determinada atividade formativa; ter

a mediação como circunstância indispensável ao desenvolvimento da atividade de

formação sindical; o trabalho coletivo como ponto de partida.

Com respeito aos instrumentos pedagógicos a serem utilizados na formação

política sindical, é importante lembrar que, na perspectiva vigotskiana, os instrumentos

de uma maneira geral são os responsáveis pela mediação do indivíduo com o mundo

em que ele vive. Destaque importante deve ser dado à linguagem entendida como um

fundamental instrumento de mediação simbólica na comunicação social e no

desenvolvimento do pensamento, ambos os processos indispensáveis à formação

política sindical orientada à emancipação dos trabalhadores.

Cabe lembrar que como realizadoras de intercâmbio social, as linguagens

inerentes ao movimento sindical nem sempre são claras para os trabalhadores. Outro

aspecto que precisa ser também recordado é que como vetor do desenvolvimento do

pensamento, segundo Vigotski (2008), é preciso considerar que a ligação entre a

linguagem e o pensamento não se dá de forma imediata inicialmente. É no decorrer

de ambos, no seu entrecruzamento, no seu desenvolvimento lado a lado que a

linguagem passa para um estágio intelectual e o pensamento se verbaliza.

4.6. Considerações finais

A construção deste produto técnico se apóia em resultados obtidos mediante

revisão teórica conceitual, análise de documentos e pesquisa empírica constituída por

sessões de grupo focal das quais participaram oito formadores sindicais da Federação

dos Trabalhadores em Agricultura do Estado de Minas Gerais.

Buscou-se, para tanto, trazer uma síntese dos principais elementos

encontrados nesses processos investigativos que pudessem se colocar como

contribuições da teoria histórico-cultural para o projeto político-pedagógico de

formação continuada dos formadores sindicais da Fetaemg. Nesse sentido, a atenção

se voltou especificamente para a questão da mediação pedagógica realizada pela

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linguagem.

Tem-se em conta que a tarefa de pensar o projeto político-pedagógico de

formação continuada dos formadores sindicais da Fetaemg é coletiva. Por isso, este

texto deve ser visto como uma expressão da vontade de contribuir com o debate a ser

mais aprofundado com a participação mais ampla de todos os que se interessam pela

formação política sindical dessa entidade e/ou nela investem seus conhecimentos e

esperanças. Pensar essa formação de forma mais sistemática é um desafio

fundamental em razão do seu importante papel na consolidação da cidadania ativa de

trabalhadores e trabalhadoras, que de forma corajosa assumem o posto de dirigentes

sindicais.

A decisão de trazer os pressupostos e contribuições da teoria histórico-cultural

para a reflexão sobre os processos de formação sindical possibilitou recuperar

pesquisas já realizadas sobre a formação sindical no Brasil. Porém, viu-se, também,

que essa abordagem precisa ser melhor conhecida pelo movimento sindical e mais

explorada praticamente para além da presente pesquisa.

REFERÊNCIAS

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta dissertação buscou contribuir com o debate sobre a formação política

sindical no Brasil. Para tanto, foi desenvolvida com a finalidade específica de produzir

conhecimentos sobre a relação entre formação, mediação pedagógica e linguagem

de forma a orientar intervenções concretas e aperfeiçoar o projeto político pedagógico

de uma entidade sindical, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas

Gerais – Fetaemg.

Foi, também, sua intenção oferecer subsídios a novas pesquisas e a

intervenções educativas de modo geral, que tenham o propósito de promover, de

forma inovadora, o desenvolvimento local na dimensão pessoal, social e política dos

sujeitos e dos espaços em que atuam.

Ela se referenciou nas contribuições da teoria histórico cultural. Assim, as

reflexões de Vigotski (2000, 2007, 2008, 2010) sobre as relações entre linguagem,

desenvolvimento e aprendizagem se configuraram como uma importante base teórica

para seu desenvolvimento.

Foram buscadas respostas para uma questão candente do processo

pedagógico da formação sindical: a utilização de instrumentos necessários para o

desenvolvimento dessa atividade humana específica, de forma a possibilitar a

apropriação crítica e consistente de conceitos importantes da práxis sindical, a

beneficiar seus processos de interação e comunicação e a fortalecer a capacidade de

pensar e agir dos militantes e dirigentes do movimento sindical.

Na perspectiva da teoria aqui tratada, o homem é um ser histórico-cultural,

fruto da sua atividade por meio da qual realiza relações com a natureza e com outros

homens, processo que requer e engendra suas capacidades de se comunicar e

pensar. Para tanto, produz e usa linguagens (sinais, símbolos, sons e gestos),

mediações simbólicas fundamentais às interações sociais e à formação do

pensamento, das generalizações, dos conceitos mediante os quais representa seus

conhecimentos, valores e emoções. Portanto, a mediação é um elemento primordial

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do processo de constituição do ser social, essas se formam e se desenvolvem por

meio da internalização. O processo de internalização é longo e não se dá por simples

assimilação dos elementos de uma determinada cultura, pois é fruto do que é

produzido pelo homem em sua relação social no contexto histórico em que vive.

A atividade de formação desenvolvida no e pelo movimento sindical se

constitui como uma intervenção de grande importância para o aperfeiçoamento dos

processos de comunicação sindical, bem como, para a elevação dos conceitos

espontâneos e cotidianos praticados pelos integrantes desse movimento aos

conceitos adquiridos de modo sistemático pelo pensamento elaborado, a fim de

fortalecer suas práticas sindicais.

Assim, a atividade de formação pode contribuir para que na comunicação,

na interação social, a linguagem de um dirigente sindical se apresente como reflexo

da atividade prática do trabalhador e possa favorecer o trânsito necessário ao

processo de desenvolvimento do pensamento reflexivo e crítico.

Como metodologia de pesquisa, buscou-se, primeiramente, fazer uma

revisão teórica conceitual. Em seguida, cernir a prática de formação desenvolvida pela

Fetaemg por meio de análise documental de alguns materiais desenvolvidos pelos

seus formadores. Na sequência, foram realizadas duas sessões de grupo focal com a

participação de oito formadores sindicais, organizadas com a perspectiva de investigar

elementos para a compreensão de como percebem a linguagem como mediação

pedagógica, e se os formadores sindicais a consideram como tal.

Os dados obtidos foram organizados por categorias de análise e sua

interpretação se norteou pelas contribuições da teoria histórico-cultural. Os resultados

obtidos trazem contribuições para processos de formação política sindical e

investigações sobre a importância da linguagem como mediação pedagógica.

Observou-se que a atividade desenvolvida pelos formadores sindicais

cumpre um importante papel no processo de desenvolvimento político sindical dos

que dela participam. Viu-se que o movimento sindical constrói seus sistemas

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simbólicos inerentes à sua atividade e que esses, para terem sentido para os

trabalhadores, precisam ser por eles internalizados, o que reforça a necessidade da

compreensão da importância de se investir na qualidade da formação sindical.

Os resultados obtidos estimulam a continuidade dos estudos sobre o tema

abordado no sentido de maior aprofundamento teórico e metodológico. Nesse sentido,

como contribuição técnica, foram oferecidos elementos para a discussão sobre o

projeto político-pedagógico de formação continuada dos formadores sindicais da

Fetaemg, na perspectiva da teoria histórico-cultural, tendo a centralidade na

linguagem como instrumento de mediação pedagógica e/ou simbólica.

Buscou-se, portanto, contribuir para que a entidade, que serviu de contexto

para esta pesquisa, a Fetaemg, possa preparar sua rede de formadores sindicais e

municiá-los como fundamentos teóricos e metodológicos que garantam o

desenvolvimento e aperfeiçoamento de seu trabalho de formação política sindical na

base, um melhor enfrentamento político, necessário para dar dignidade aos

trabalhadores e trabalhadoras rurais do Estado de Minas Gerais.

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6. REFERÊNCIAS

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APÊNDICE I - ROTEIRO PARA FICHAMENTO DE LEITURAS PARA A REVISÃO

TEÓRICA CONCEITUAL

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

Pesquisa: A linguagem como mediação pedagógica na atividade de formação

sindical

1. Título, autoria e ano, conforme as normas da ABNT.

2. Tema.

3. Questão central colocada pelo autor(a) da obra.

4. Objetivo ou objetivos que levou(aram) o(a) autor(a) a escrever a obra.

5. Fundamentos teóricos / conceitos abordados.

6. Argumentações / contribuições do autor (a)

7. Relação da obra com o tema, problema e objetivos da dissertação.

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APÊNDICE II - FICHA PARA ANÁLISE DOCUMENTAL

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

Pesquisa: A linguagem como mediação pedagógica na atividade de formação

sindical

1. Referenciar o documento analisado de acordo com as normas da ABNT.

2. Registros:

- Temas abordados.

- Frequência com que certas palavras aparecem.

- Contextos em que aparecem as palavras.

- Variações dos significados atribuídos a elas.

3. Enfoque dado à linguagem na mediação sindical.

4. Enfoque dado à linguagem na mediação pedagógica.

5. Pertinência e relevância do documento para a compreensão da problemática eleita

para estudo.

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APÊNDICE III - ROTEIRO PARA O GRUPO FOCAL

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

Pesquisa: A linguagem como mediação pedagógica na atividade de formação

sindical

Introdução:

Esclarecimento sobre o que trata a pesquisa, as intenções do trabalho e as

razões pelas quais é preciso gravar as discussões;

Apresentação dos integrantes do grupo focal;

Esclarecimentos sobre como será a dinâmica de trabalho do grupo focal, que

não há respostas certas ou erradas.

Questões para discussão:

1. Qual sua identidade sócio-histórico? Como você chega ao movimento sindical?

No seu entendimento como formador ou formadora sindical:

2. Para você, o Movimento Sindical possui uma linguagem própria? Produz uma

linguagem inerente ao movimento?

3. A partir de sua experiência de formador ou formadora sindical, quais são as palavras

que tem causado maior dificuldades de comunicação entre os participantes. E entre

eles e você?

4. Com respeito à forma individual de ser, estar e atuar no mundo dos formandos/as

e de uso da linguagem, fale sobre o que deve ser considerado por você formador/a

com respeito:

a) às características culturais e de história individual;

b) às experiências e vivências pessoais;

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c) às atitudes e interesses;

d) às necessidades e expectativas;

e) ao modo de se relacionar com os outros;

f) ao nível de escolaridade;

g) às dificuldades de aprendizagem.

5. Na sua atividade de formador/a, com respeito ao uso da linguagem por você, o que

você aprendeu de seus acertos e erros?

6. Quando você planifica as aulas para sua atividade de formação sindical, o que você

determina e organiza a respeito do uso da linguagem que você utiliza?

7. Quando você planifica as aulas para sua atividade de formação sindical, o que você

determina e organiza a respeito do uso da linguagem pelos/as formandos/as?

8. Para construir e avançar a aprendizagem e o desenvolvimento dos/as formandos/as

com respeito à linguagem, fale o que você como formador/a considera sobre a eficácia

das seguintes respostas pedagógicas:

a) Promover o trabalho coletivo, em grupo;

b) Usar vocabulário que todos possam compreender;

c) Promover a desinibição para falar;

d) Discutir sobre o que se deve fazer para interpretar e analisar;

e) Promover a crítica construtiva em grupo, do grupo e de cada participante;

f) Criar oportunidades para que cada um/a se expresse;

g) Promover a geração de ideias;

h) Usar técnicas e meios que favoreçam a comunicação entre os/as participantes;

i) Criar ocasiões para que os participantes perguntem durante as aulas;

j) Estruturar de forma lógica e sequencial os conteúdos e atividades de

aprendizagem;

k) Oferecer aos participantes práticas que lhes permitam auto avaliação e corrigir

suas deficiências com respeito à linguagem;

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l) Envolver cada participante no seu processo pessoal de desenvolvimento da

linguagem.

9. Quais são as estratégias metodológicas citadas a cima, que você considera que

são as mais eficazes no desenvolvimento da linguagem dos participantes a

desenvolverem suas linguagens?

10. De que forma você, como formador/a, realiza o controle e a avaliação dos

resultados dos/as formandos/as com respeito à linguagem?

11. Com respeito à linguagem, o que você, como formador/a, precisa conhecer mais

para estar mais em acordo com a realidade do movimento sindical?

12. O que você, como formador/a, precisa conhecer além do que conhece para estar

mais em acordo com a necessidade do movimento sindical com respeito ao

desenvolvimento e uso da linguagem?

13. Que conceitos você considera importantes para a constituição do pensamento

sindical em geral e, em particular, do pensamento sindical relativo às lutas dos

trabalhadores e trabalhadoras na agricultura?

14. O que não foi perguntado, mas que precisa ser discutido quando se trata da

mediação da linguagem no processo de formação sindical?

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APÊNDICE IV – TERMO DE COMPROMISSO DE CUMPRIMENTO DA

RESOLUÇÃO 466/2012

Nós, Kátia Gomes Gaivoto, brasileira, professora, inscrita no CPF sob o número 093446707-

22, portadora do documento de identidade n°. 13176346-8 SSP/RJ e, Lucília Regina Souza

Machado, brasileira, professora, inscrita no CPF sob o número 176818206-04 e portadora do

documento de identidade n°. MG 821.809, responsáveis pela pesquisa intitulada “A

linguagem como mediação pedagógica na atividade de formação sindical”:

● Assumimos o compromisso de zelar pela privacidade e pelo sigilo das informações que

serão obtidas e utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa;

● Os materiais e as informações obtidas no desenvolvimento deste trabalho serão utilizados

para se atingir o(s) objetivo(s) previsto(s) na pesquisa;

● O material e os dados obtidos ao final da pesquisa serão arquivados sob a nossa

responsabilidade;

● Os resultados da pesquisa serão tornados públicos em periódicos científicos e/ou em

encontros, quer sejam favoráveis ou não, respeitando-se sempre a privacidade e os

direitos individuais dos sujeitos da pesquisa, não havendo qualquer acordo restritivo à

divulgação;

● Assumimos o compromisso de suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum

risco ou dano, consequente à mesma, a qualquer um dos sujeitos participantes, que não

tenha sido previsto no termo de consentimento.

● O CEP do Centro Universitário UNA será comunicado da suspensão ou do encerramento

da pesquisa, por meio de relatório apresentado anualmente ou na ocasião da interrupção

da pesquisa;

● As normas da Resolução 466/2012 serão obedecidas em todas as fases da pesquisa.

Belo Horizonte, ________ de 2017

Lucília Regina de Souza Machado Kátia Gomes Gaivoto

CPF 176818206-04 CPF 093446707-22

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APÊNDICE V – TERMO DE AUTORIZAÇÃO DA FETAEMG

AUTORIZAÇÃO PARA COLETA DE DADOS

Eu,___________________________________________, ocupante do cargo

de__________________ do(a) _____________________, AUTORIZO a coleta de

dados para o projeto “A linguagem como mediação pedagógica na atividade de

formação sindical” da pesquisadoras KÁTIA GOMES GAIVOTO, sob a orientação

da pesquisadora Dra. LUCÍLIA REGINA DE SOUZA MACHADO, nas instalações

físicas da FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA DO ESTADO

DE MINAS GERAIS, após a aprovação do referido projeto pelo CEP do Centro

Universitário UNA.

Belo Horizonte, ___ de_________ de 2018

ASSINATURA: ____________________________________________

CARIMBO:

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APÊNDICE VI - TERMO DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE ÁUDIOS, IMAGEM E

DEPOIMENTOS

Eu, ____________________________________________________________,

CPF_______________________, RG__________________, depois de conhecer e

entender os objetivos, procedimentos metodológicos, riscos e benefícios da pesquisa,

bem como de estar ciente da necessidade do uso do meu depoimento, especificados

no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), AUTORIZO, através do

presente termo, as pesquisadoras KÁTIA GOMES GAIVOTO e LUCÍLIA REGINA DE

SOUZA MACHADO do projeto de pesquisa intitulado “A linguagem como mediação

pedagógica na atividade de formação sindical” a realizar as gravações em áudio

ou vídeos, que se façam necessárias e/ou a colher meu depoimento sem quaisquer

ônus financeiros a nenhuma das partes.

Ao mesmo tempo, libero a utilização dessas fotos e/ou vídeos e/ou depoimentos para

fins científicos e de estudos (livros, artigos, slides e transparências), em favor das

pesquisadoras da pesquisa, acima especificadas, obedecendo ao que está previsto

nas Leis que resguardam os direitos das crianças e adolescentes (Estatuto da Criança

e do Adolescente – ECA, Lei N.º 8.069/ 1990), dos idosos (Estatuto do Idoso, Lei N.°

10.741/2003) e das pessoas com deficiência (Decreto Nº 3.298/1999, alterado pelo

Decreto Nº 5.296/2004).

Belo Horizonte, 27 de fevereiro de 2018.

________________________ ______________________________

Participante da pesquisa Pesquisador responsável pelo projeto

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APÊNDICE VII - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Título da Pesquisa: A linguagem como mediação pedagógica na atividade de

formação sindical

Nome da pesquisadora: Kátia Gomes Gaivoto, sob a orientação da Professora Dra.

Lucília Regina de Souza Machado

Natureza da pesquisa: a sra (sr.) está sendo convidada (o) a participar desta

pesquisa, que tem como finalidade analisar as contribuições das reflexões sobre a

mediação pedagógica da linguagem para a atividade de formação política sindical

motivada pela busca de melhoria da interação entre dirigentes e base sindical tendo

em vista o desenvolvimento de contribuição técnica com caráter de inovação social e

de fomento do desenvolvimento local.

Participantes da pesquisa: formadores e formadoras sindicais da Fetaemg.

1. Envolvimento na pesquisa: ao participar deste estudo a sra (sr) permitirá que a

pesquisadora Kátia Gomes Gaivoto utilize na pesquisa as informações prestadas

durante a entrevista e grupo focal. A sra. (sr.) tem liberdade de se recusar a

participar e ainda se recusar a continuar participando em qualquer fase da

pesquisa, sem qualquer prejuízo para a sra. (sr.). Sempre que quiser poderá pedir

mais informações sobre a pesquisa por meio do telefone ou e-mail da

pesquisadora do projeto e, se necessário por meio do telefone do Comitê de Ética

em Pesquisa.

2. Sobre o grupo focal: A pesquisa empírica será feita, presencialmente, por meio

de duas sessões de grupo focal, agendadas com antecedência em data e horário

da preferência dos(as) participantes.

3. Riscos e desconforto: a participação nesta pesquisa não traz complicações

legais. Durante a entrevista e grupo focal os riscos e/ou desconfortos potenciais

identificados são o constrangimento e a preocupação de cunho institucional

sobre as informações prestadas. Os procedimentos adotados nesta pesquisa

obedecem aos Critérios da Ética em Pesquisa com Seres Humanos conforme

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Resolução nº. 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Nenhum dos

procedimentos usados oferece riscos à sua dignidade.

4. Confidencialidade: todas as informações coletadas neste estudo são

estritamente confidenciais. Somente a pesquisadora e a orientadora terão

conhecimento dos dados.

5. Forma de Acompanhamento e Assistência: em caso de constrangimento e

preocupação de cunho institucional, a entrevista e grupo focal serão suspensos

até que possam ser continuados com a anuência dos participantes.

6. Benefícios: ao participar desta pesquisa a sra. (sr.) não terá nenhum benefício

direto. Entretanto, esperamos que este estudo traga informações importantes

sobre o significados sociais e sentidos pessoais dos instrumentos de trabalho

utilizados por formadores sindicais para realizar a mediação da aprendizagem.

É importante dizer que a pesquisadora se compromete a divulgar os resultados

obtidos.

7. Pagamento: a(o) sra. (sr.) não terá nenhum tipo de despesa para participar

desta pesquisa, bem como nada será pago por sua participação.

Após estes esclarecimentos, solicitamos o seu livre consentimento para participar

desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem.

Obs: Não assine esse termo se ainda tiver dúvida a respeito.

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Consentimento Livre e Esclarecido

Tendo em vista os itens acima apresentados, eu, de forma livre e esclarecida,

manifesto meu consentimento em participar da pesquisa. Declaro que recebi cópia

deste termo de consentimento, e autorizo a realização da pesquisa e a divulgação dos

dados obtidos neste estudo.

Nome do participante da pesquisa:

_______________________________________________________________

Assinatura do participante da pesquisa:

_______________________________________________________________

Pesquisadora - Kátia Gomes Gaivoto

_______________________________________________________________

Orientadora - Lucília Regina de Souza Machado

Pesquisadora principal: Kátia Gomes Gaivoto

Telefone de Contato: (11) 99984-8017 / E-mail: [email protected]

Demais pesquisadores: Lucília Regina de Souza Machado

Telefone de Contato: (31) 9 9985-4181 / E-mail: [email protected]

Comitê de Ética em Pesquisa: Rua Guajajaras, 175, 4º andar – Belo Horizonte/MG

/ Telefone do Comitê: (31) 3508-9110

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ANEXO I – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

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