A Linguagem de Deus - Eugene H Peterson - MC

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  • 7/26/2019 A Linguagem de Deus - Eugene H Peterson - MC

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    A LINGUAGEM DE DEUS

    Traduzido por FABIANO MEDEIROS

    EUGENE H. PETERSON

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    Jesus em suas histrias

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    captulo 1

    Jesus em Samaria

    Lucas 9:5119:27

    uma tremenda ironia que Jesus, cujas palavras criam e formam nossa vida,jamais tenha escrito uma palavra, pelo menos no uma palavra que jamaistenha sido preservada. Aquelas palavras que ele escreveu na areia em Jerusa-lm, usando o dedo como lpis, desapareceram no aguaceiro seguinte. Noobstante, conhecemos a Jesus como homem das palavras. Ele , afinal decontas, a Palavra tornada carne.

    Mas ele no deixou nada escrito. Ele falou. Jamais teve um editor, jamaisdeu uma noite de autgrafos, jamais mergulhou a pena num frasco de tinta.

    A linguagem para Jesus resumia-se exclusivamente a sua voz: falou, e tudose fez (Sl 33:9).

    Mas sem dvida alguma suas palavras foram, naturalmente, escritas epublicadas. Talvez as palavras de nenhuma pessoa foram reproduzidas emforma impressa em tantos manuscritos e livros impressos quanto as palavrasde Jesus. Ainda assim, importante manter em mente essa qualidade oraloriginal, essa voz viva de Jesus, aspalavrasfaladasque saram de sua bocae entraram na vida de homens e mulheres por meio de ouvidos abertos ecoraes cheios de f. As palavras escritas, por mais importantes que sejam,so um passo gigantesco para longe da voz que fala. Deve-se fazer um esforo

    resoluto para ouvir a voz que fala e para escut-la, no apenas olhar para elae estudar a palavra escrita.1

    * * *

    A lngua antes de mais nada um meio de revelao, tanto para Deus quanto

    para ns. Usando palavras, Deus revela-se a ns. Usando palavras, ns nos

    revelamos a Deus e uns aos outros. Por meio da linguagem, todo o ciclo de

    falar e escutar, tanto Deus quanto seus homens e mulheres criados pela Palavra

    so capazes de revelar vastos interiores antes inacessveis a ns.

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    Temos a algo importante. Importante para nossa reflexo, uma vez que

    no bvio. E importante para reconsiderarmos continuamente, uma vez

    que nossa vasta indstria da comunicao trata a linguagem acima de tudocomo informao ou estmulo, no como revelao. Muitas vezes, quando

    a palavra Deus usada em nossa sociedade, reduzida a uma informao,

    impessoalizada em mera referncia ou rebaixada a blasfmia. George Steiner,

    um de nossos autores mais perceptivos dentre os que escreveram sobre a lin-

    guagem, sustenta, de forma poderosa, que transmitir informao no passa de

    uma funo marginal e altamente especializada da linguagem.2Mas a lingua-

    gem que aprendemos na companhia de pais, irmos e amigos tem sua origemno Deus revelador. Tudo o que falamos e escutamos ocorre num mundo de

    linguagem que formado e sustentado pelo falar e pelo escutar de Deus. As

    palavras que Deus usa para criar, dar nomes, abenoar e ordenar em Gnesis

    so as mesmas palavras que ouvimos Jesus usando para criar, dar nomes, curar,

    abenoar e ordenar nos Evangelhos. Jesus fala, e ouvimos Deus falar.

    O JESUS QUE CONVERSAA linguagem de Jesus, conforme relatada a ns pelos evangelistas Mateus,

    Marcos, Lucas e Joo, suas testemunhas, s vezes denominada pregao e,

    em outras ocasies, ensino. Mesmo assim, boa parte do tempo encontramos

    Jesus falando de maneiras que no so nem pregao, nem ensino. Ns o en-

    contramos falando informalmente num intercmbio conversacional enquanto

    faz suas refeies na casa de algum ou com amigos, percorrendo campos ou

    s margens de um lago, ou respondendo a vrias interrupes e perguntas en-quanto vai a um lugar ou outro. esse terceiro uso da linguagem, o informal

    e espontneo, que me interessa neste contexto.

    * * *

    A pregao vem em primeiro lugar. o tipo de linguagem que define, tanto

    no significado quanto no tom, aquilo de que Jesus se ocupa. As primeiras

    palavras sadas da boca de Jesus, conforme relata Marcos (que foi o primeiro

    a escrever um evangelho), foram em forma de pregao: Jesus foi para a

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    JESUS EM SAMARIA 19

    Galileia, proclamando as boas-novas de Deus. O tempo chegado, dizia ele.

    O Reino de Deus est prximo. Arrependam-se e creiam nas boas-novas!

    (Mc 1:14-15). Ele concluiu seu sermo com um apelo que foi atendido porquatro pescadores. Estava a caminho.

    Pregao proclamao. A pregao anuncia o que Deus est realizando

    aqui e agora, neste momento e neste lugar. Tambm convoca os ouvintes a

    corresponder a contento. Pregao a notcia, as boas notcias, de que Deus

    est vivo, presente e agindo: Talvez voc no soubesse, mas o Deus vivo est

    aqui, bem aqui nesta rua, neste santurio, nesta vizinhana. E est agindo

    agora. Est falando agora neste exato momento. Se souber o que bompara voc, desejar engajar-se nisso.

    Todos os escritores do Evangelho do-nos uma orientao completa sobre

    a pregao de Jesus, mas Marcos destaca-se como um primeiro entre iguais:

    sua linguagem vigorosa, urgente, consegue com grande destreza manter diante

    de ns o aqui, o agora e o pessoal.

    A pregao uma linguagem que nos envolve pessoalmente com a ao

    de Deus no presente. Chama ateno na pregao o fato de que ela conseguetransmitir o pessoal e o presente. No se permite ao ouvinte supor que as

    palavras pregadas sejam para qualquer outra pessoa que no ele mesmo. O

    ouvinte no pode tentar se safar supondo que as palavras pregadas sejam sobre

    algo que aconteceu h muito tempo ou mesmo ontem, ou que sejam sobre

    o que acontecer no futuro, quer prximo, quer distante. A pregao revela

    Deus em ao aqui e agora por mim. Qualquer insipidez que ouvimos de

    pregadores e de seus imitadores, podemos ter certeza de que no se originouem Jesus.

    Aquele dia, em que Jesus inaugurou seu ministrio pblico na Galileia

    por meio da pregao, foi o ltimo em uma longa tradio, de mais de mil

    anos, de grande pregaes que tinham acabado de ser resgatadas pelo primo

    de Jesus, Joo Batista. Depois de Jesus, a tradio continuou em Pedro e

    Paulo, em Crisstomo e Cipriano, em Ambrsio e Agostinho, em Francisco

    e Dominique, em Lutero e Calvino, em Wesley e Whitefield, em Edwards e

    Finney, em Newman e Spurgeon. A pregao continua a ser a linguagem mais

    fundamental para transmitir a revelao de Deus em Cristo Jesus, proferidas

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    a partir de esquinas e plpitos por todo o mundo: Deus vivo, em operao e

    falando, aqui e agora, a voc e a mim.

    Jesus tambm usou a linguagem para ensinar. Ao contrrio do ensino comque estamos habituados em nossas escolas, palestras projetadas para pensar

    em nosso lugar, o ensino de Jesus reluzia com aforismos cintilantes. Mais do

    que transmitir informao, ele estava remodelando nossas imaginaes com

    metforas, de modo que pudssemos interiorizar a verdade viva e multidimen-

    sionada que Jesus. Todos os evangelistas incluem em seu evangelho o ensino

    de Jesus, instruindo-nos detalhadamente sobre o que significa viver neste reino

    de Deus. Mas Mateus o evangelista que nos fornece o maior testemunhosobre o ensino de Jesus. Ele agrupa os ensinamentos de Jesus em cinco grandes

    discursos (talvez numa lembrana dos cinco livros de Moiss?): O Sermo do

    Monte (Mt 57), Instrues aos Doze Discpulos (Mt 10), Instrues para a

    Comunidade (Mt 18), Advertncia contra a Hipocrisia (Mt 23), Ensino sobre

    as ltimas Coisas (Mt 24 e 25).

    Viver dia a dia neste mundo, no qual Deus est presente e ativo a nosso

    favor e para a nossa salvao, implica cultivar uma percepo minuciosa do queest em jogo em cada aspecto da nossa vida. Muitas vezes dicotomizamos nossa

    vida em pblica e confidencial, espiritual e secular, retalhando-a em partes

    separadas, e depois guardamos cada parte em escaninhos etiquetados de fcil

    acesso, para quando sentimos vontade de tratar de cada setor. O ensino rene

    as partes, estabelece conexes, demonstra relaes liga o pontilhado, como

    dizemos. Assim, Jesus nos ensina, esmia os detalhes de tudo aquilo contra o

    que estamos posicionados, das decises e dos discernimentos que precisamosfazer, dos meios e mtodos adequados para vivermos esta vida do reino, na qual

    Jesus rei. O ensino de Jesus, tanto na Galileia e em Jerusalm quanto agora

    da forma em que reproduzido por nossos professores e mestres, geralmente

    se d na companhia de outros, alguns que so irmos e irms em obedincia e

    outros que acabam se mostrando indiferentes ou mesmo hostis.

    Em seu ensino, assim como em sua pregao, Jesus vive a partir de uma

    longa tradio: os livros de Moiss, que tm por pice Deuteronmio, depois

    Provrbios e Eclesiastes, e depois o conselho e a sabedoria tecidos na malha

    magnfica do cuidado pastoral que encontramos nos profetas e nos sacerdotes

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    de Israel. Esse ensino tambm continua na vida da igreja medida que nossos

    pastores e telogos nos treinam no cultivo de uma obedincia inteligente e fiel

    enquanto lidamos com poltica, negcios, assuntos de famlia, fracassos esofrimentos, levando vida ntegra e integrada. O ensino faz ressurgir palavras

    mortas para que vivam outra vez. Ocupa um grande espao na forma em que

    usamos a linguagem nesta nossa vida como seguidores de Jesus.

    A pregao e o ensino so usos destacados da linguagem entre as pessoas

    que falam e testificam, que oram e do orientao na comunidade crist.

    Normalmente separamos homens e mulheres e os treinamos em escolas e

    igrejas para serem pregadores e professores. H muito que aprender. H muitode que se resguardar. Precisamos de pregadores e mestres que nos mante-

    nham focados em Deus por meio de Cristo e nos alertem para as idolatrias

    sedutoras que nos rodeiam. Na maioria dos casos, estamos bem servidos de

    pregadores e mestres que compreendem o que est acontecendo no reino,

    que no se desviaro facilmente daquela nica coisa necessria e que se

    aplicam fidelidade e renovao de nossa mente. A pregao e o ensino so

    bastante bem definidos quanto ao modo e contedo e ocorrem em geral emcontextos pblicos.

    Mas h um terceiro tipo de linguagem da qual todos participamos, inde-

    pendentemente de nosso papel na comunidade, quaisquer que sejam nossas

    aptides e capacidades. J defini essa linguagem acima como intercmbio

    conversacional [informal que se d] enquanto faz suas refeies na casa de

    algum ou com amigos, percorrendo campos ou as margens de um lago ou

    respondendo a vrias interrupes e perguntas enquanto vai a um lugar ououtro. Em qualquer contagem semanal de nosso uso da linguagem, esse tipo

    de discurso excede de longe qualquer coisa que falemos ou escutemos que

    pudesse ser designada pregao ou ensino. Quando Jesus no estava pregando e

    quando no estava ensinando, ele falava com homens e mulheres com os quais

    convivia a respeito do que estava acontecendo naquele momento pessoas,

    acontecimentos, perguntas, o que quer que fosse usando as circunstncias

    da vida deles como seu texto. Muito semelhana de como fazemos. A pre-

    gao inicia-se com Deus: A palavra de Deus, a ao de Deus, a presena

    de Deus. O ensino amplia o que est sendo proclamado, instruindo-nos nas

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    implicaes do texto, nas verberaes da verdade ocorridas no mundo, nas

    formas especficas em que a Palavra de Deus modela com detalhe nosso

    modo de viver entre o nascimento e a morte. Mas as conversas informais, noestruturadas, brotam de episdios e encontros de uns com os outros que se

    do no curso normal da vida com nossa famlia e nos locais de trabalho, em

    parques e nas compras de supermercado, em aeroportos espera de um voo

    e andando com amigos de binculos na mo, divisando pssaros. Muitas das

    palavras que Jesus falou so dessa natureza. No somos, na maioria, pregado-

    res ou professores, ou ao menos no somos designados como tais. As palavras

    que falamos so comumente proferidas em contextos do cotidiano, quandocomemos e bebemos, quando compramos ou viajamos, fazendo o que s vezes

    minimizamos como conversa banal.

    Todos os evangelistas atuais mostram Jesus usando esse tipo de linguagem,

    mas a revelao mais prolongada de Jesus usando essa linguagem informal e no

    estruturada acha-se no evangelho de Lucas. O que Marcos faz pela pregao

    e Mateus faz pelo ensino, Lucas faz pelo intercmbio informal de linguagem

    que ocorre nas idas e vindas de nossa linguagem comum.

    A NARRATIVA DA VIAGEM, DE LUCAS

    No centro do evangelho de Lucas (Lc 9:5119:44), h uma insero de dez

    captulos que pem em destaque exatamente esse tipo de linguagem informal

    entre Jesus, seus seguidores e outros homens e mulheres que ele encontra

    ao longo do caminho. A seo emoldurada por referncias a uma sada da

    Galileia (9:51) e depois a uma chegada a Jerusalm (19:11,28,41). Por causadessas referncias que servem como uma espcie de moldura, essa passagem

    normalmente designada a Narrativa da Viagem. A maior parte do material

    contido nesses dez captulos encontrada somente em Lucas.

    Nossos trs primeiros evangelhos seguem um esboo semelhante, com

    muita similaridade no contedo e na disposio. No exatamente copiam um

    ao outro, pois cada evangelista tem uma maneira prpria de contar a histria,

    salientando aspectos que de outra forma ficariam despercebidos. Em linhas

    gerais, Marcos se detm nas qualidades pregadas e querigmticas da linguagem

    de Jesus, e Mateus reala as qualidades do ensino, didticas. Mas Lucas tem

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    JESUS EM SAMARIA 23

    um interesse particular em nos imergir nos aspectos conversacionais da lin-

    guagem de Jesus. Por isso Lucas interrompe o enredo apresentado por aqueles

    que vieram antes dele na composio dos Evangelhos, Mateus e Marcos, einterpe essa longa seo, que se constitui na maior parte de material origi-

    nal, no centro de seu evangelho. Os primeiros nove captulos do evangelho

    de Lucas contam a histria do ministrio galileu de Jesus, seguindo o padro

    estabelecido por Mateus e Marcos. A histria galileia assenta os alicerces da

    nossa vida em Cristo. Os cinco ltimos captulos contam a histria da semana

    final do ministrio de Jesus em Jerusalm Jesus rejeitado, crucificado e

    ressurreto para uma nova vida e tambm seguem Mateus e Marcos. A his-tria de Jerusalm consuma a nossa vida em Cristo: crucificao, ressurreio.

    O que Jesus disse e fez nos primeiros anos na Galileia est vinculado com

    o que aconteceu nessa ltima semana em Jerusalm. A transio entre os

    dois lugares narrada como uma viagem por Samaria, a regio que separava

    a Galileia de Jerusalm. Se no um territrio inimigo exatamente, Samaria

    era ao menos, sem dvida, territrio hostil. Samaritanos e judeus tinham tido

    vrias centenas de anos de inimizade entre si. No se gostavam nem confiavamuns aos outros. Houve casos de violncia aqui e ali, e at mesmo encontros

    sangrentos. Josefo conta a histria de um episdio em que os samaritanos as-

    sassinaram alguns peregrinos galileus que estavam atravessando Samaria em sua

    trajetria para uma festa em Jerusalm. Guerrilheiros judeus ento atacaram

    aldeias samaritanas por vingana.3Deslocar-se da Galileia para Jerusalm era

    uma viagem perigosa de aproximadamente 100 a 110 quilmetros uma

    viagem de uns trs a cinco dias num jumento ou a p. ao viajar por Samaria, indo da Galileia para Jerusalm, que Jesus separa

    um tempo para contar histrias que preparam seus seguidores a trazer o co-

    mum da vida a uma percepo consciente e a uma participao nessa vida do

    reino. Jesus anuncia a seus discpulos que est indo para Jerusalm para ser

    crucificado, e os chama para acompanh-los. Andando juntos todos aqueles

    dias, ele os prepara para a vida que tero aps a crucificao e a ressurreio

    dele. Alguns acontecimentos bem marcantes esto se aproximando. A vida

    deles ser mudada de dentro para fora. Mas ao mesmo tempo vo lidar com

    as mesmas pessoas, com as mesmas rotinas, com as mesmas tentaes, com

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    a mesma cultura romana, grega e hebraica, com os mesmos filhos e com os

    mesmos pais, com a mesma espera s vezes interminvel, enfrentando a indife-

    rena de tantos em relao a eles, lidando com as hipocrisias enlouquecedorasdos cheios de justia prpria, com a estupidez da guerra, com os absurdos do

    consumo inegvel e com as mentiras dos governadores arrogantes. Tudo ter

    mudado e, no entanto, nada ter mudado. Jesus os est preparando para viver

    num mundo que no conhece nem quer conhecer Jesus. Jesus os est prepa-

    rando (a ns tambm!) para levarem uma vida de crucificao e ressurreio,

    com pacincia e sem alardes, de forma obediente e sem reconhecimento. Ele

    os prepara nessas conversas samaritanas para fazer tudo isso calma e corajosa-mente num vnculo com a maneira em que Jesus o fez e com a maneira em que

    Jesus falou a respeito. Ele deixa claro que logo, quando ele no estiver mais

    fisicamente com eles, sem dvida alguma no estaro sozinhos para realizar a

    obra da maneira que julgarem melhor. Como ele a est realizando, o caminho

    da cruz, deve continuar. Mas interessante e significativo que Jesus no usa

    a linguagem da crise. Ela fala numa conversa, mal erguendo a voz. Na maior

    parte do tempo, ele conta histrias. Alguns de seus seguidores (embora notodos) jamais esquecero essas histrias.

    H um tipo de intimidade que se desenvolve naturalmente quando homens

    e mulheres andam juntos e conversam, sem prioridades imediatas ou tarefas

    atribudas, a no ser chegarem por fim ao seu destino e usando o tempo que

    for necessrio para tanto. Mateus e Marcos no desperdiam nenhum tempo

    para nos levar da Galileia a Jerusalm. Lucas nos faz diminuir o ritmo, e usa

    todo o tempo necessrio. Lucas aproveita a oportunidade de usar essa cenade uma viagem sossegada e a p por estradas, para ampliar e desenvolver a

    espontaneidade de conversas no estruturadas, enquanto Jesus e seus disc-

    pulos viajam da Galileia a Jerusalm Jesus respondendo a perguntas, Jesus

    conversando em torno da mesa da ceia, Jesus falando sobre vrias coisas com

    seus amigos, Jesus contando histrias. O que Mateus e Marcos buscam cada

    um cobrir em dois captulos, Lucas estende em dez. Ele nos faz mergulhar no

    modo em que Jesus usa a linguagem medida que ele lida com o comum e

    o espordico. Jesus no tem pressa podendo sempre ser interrompido.

    assim que Jesus usa a linguagem quando no est pregando nem ensinando.