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A Macroeconomia Estruturalista do Desenvolvimento e o Novo- Desenvolvimentistmo José Luís Oreiro Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro Pesquisador Nível IB do CNPq Presidente da Associação Keynesiana Brasileira

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A Macroeconomia

Estruturalista do

Desenvolvimento e o Novo-

Desenvolvimentistmo

José Luís Oreiro

Professor do Instituto de Economia da Universidade

Federal do Rio de Janeiro

Pesquisador Nível IB do CNPq

Presidente da Associação Keynesiana Brasileira

É a teoria macroeconômica resultante da junção do pensamento

Keynesiano com o Estruturalismo Latino-Americano, a qual tem

como postulado fundamental a tese de que o crescimento de longo-

prazo das economias capitalistas é determinado pelo ritmo de

expansão da demanda agregada que é sustentável do ponto de

vista do equilíbrio do balanço de pagamentos, principalmente nos

países em desenvolvimento, os quais não possuem moeda

conversível.

A estrutura produtiva da economia, notadamente a participação da

indústria no PIB e no emprego total do país, é um determinante

fundamental do ritmo de expansão da demanda agregada que é

compatível com o equilíbrio de balanço de pagamentos. Dessa

forma, o crescimento de longo-prazo é condicionado pela estrutura

produtiva da economia, sendo setor-específico.

Macroeconomia Estruturalista do

Desenvolvimento

Na teoria econômica convencional o crescimento de longo prazo é

tido como independente da política macroeconômica, uma vez que

a mesma tem por objetivo fundamental a administração do nível de

demanda agregada, ao passo que o crescimento é visto como

limitado pelo lado da oferta da economia.

Nesse contexto, não haveria nenhuma relação entre o crescimento

de longo prazo e o assim chamado “regime de política

macroeconômica”, ou seja, o conjunto de objetivos, metas e

instrumentos de política macroeconômica assim como o arcabouço

institucional no qual essas políticas são executadas.

Dessa forma, o papel da política macroeconômica se reduz a

suavização das flutuações cíclicas do nível de renda e de produção

em torno da tendência de crescimento de longo-prazo, determinada

pelas condições de oferta da economia, bem como a obtenção de

uma taxa de inflação baixa e estável.

Macroeconomia Estruturalista do

Desenvolvimento

A abordagem convencional, no entanto, apresenta diversos problemas de natureza empírica. Mais especificamente, os desenvolvimentos recentes da econometria das séries temporais tem mostrado que é incorreta a decomposição do comportamento do produto real em “tendência” e “ciclo”. Isso porque as séries de tempo para o produto interno bruto, tanto dos países desenvolvidos como para os países em desenvolvimento, apresentam “raiz unitária”, de forma que choques temporários – seja de demanda ou de oferta – têm efeitos permanentes sobre o produto real.

Sendo assim, o componente cíclico da atividade econômica, tradicionalmente associado às variações da demanda agregada no curto-prazo, afeta a tendência de crescimento das economias capitalistas no longo-prazo. Em outras palavras, as baixas taxas de crescimento nas crises não são compensadas por altas taxas nas expansões; afinal o crescimento no médio prazo é apenas a soma dos curtos prazos. Nesse contexto, a tendência de crescimento passa a ser dependente da trajetória que as economias capitalistas efetivamente descreveram ao longo do tempo. Esse fenômeno é conhecido na literatura como “dependência de trajetória”

Macroeconomia Estruturalista do

Desenvolvimento

Para a “macroeconomia estruturalista do desenvolvimento”, o grande entrave ao crescimento das economias de renda média não vem do lado da oferta da economia, mas da sobre-valorização cambial a qual limita as oportunidades lucrativas de investimento ao alcance das empresas.

Lei de Thirwall (1979)

𝑔 =

𝜀

𝜋𝑧 →

𝑔

𝑍> 1 ↔

𝜀

𝜋> 1

A taxa de crescimento da economia doméstica só será maior do que a taxa de crescimento da economia do resto do mundo se e somente se a elasticidade renda das exportações for maior do que a elasticidade renda das importações.

Taxa garantida de crescimento

𝑔∗∗∗∗ =∆𝑄

𝑄= 𝑣 𝑢𝑛

𝐼

𝑄−

𝛿

𝑣 (15)

Taxa de lucro

𝑅 =𝑃

𝐾=

𝑃

𝑄

𝑄

𝑄

𝑄

𝐾= 𝑚𝑢𝑣 (16)

Mark-up

𝑝 = 1 + 𝑧 𝑤 𝑎1 + 𝑒 𝑝∗𝑎0 (17)

𝑧 = 𝑧0 + 𝑧1𝜃 (18)

Participação dos lucros na renda

𝑚 =𝑧

1+𝑧=

𝑧0+𝑧1𝜃

1+𝑧0+𝑧1𝜃 (20)

Função investimento

𝐼

𝑄= 𝜗 𝜃, 𝑅(𝜃) − 𝑟 (21)

A restrição de capacidade

Figura 2

= ( , ( ) − ) −

g

Figura 3

= ( , ( ) − ) −

g

*

Para que a relação entre a elasticidade renda das exportações e a elasticidade renda das importações seja maior do que um é necessário que a estrutura produtiva da economia seja diversificada e razoavelmente próxima da fronteira tecnológica.

Isso requer uma economia industrializada com uma matriz produtiva bastante diversificada.

Determinantes das Elasticidades

A existência de uma estrutura produtiva diversificada e razoavelmente próxima da fronteira tecnológica exige que a taxa real de câmbio opere no nível do equilíbrio industrial.

Quando o país é rico em recursos naturais (ou mão de obra barata), as rendas ricardianas oriundas dos mesmos fazem com que a taxa de câmbio que garante o equilíbrio em conta-corrente seja menor do que a taxa de câmbio de equilíbrio industrial. Tendência a sobre-valorização da taxa de câmbio.

Redução do investimento em capital fixo Desindustrialização: redução da elasticidade renda das exportações e aumento da

elasticidade renda das importações.

𝜕𝜀

𝜋

𝜕𝑡= 𝛽 𝜃 − 𝜃𝑖𝑛𝑑

Redução da taxa de crescimento que é compatível com o equilíbrio no balanço de pagamentos.

𝑔 = 𝛽 𝜃 − 𝜃𝑖𝑛𝑑

Falling-behind

Figura 7

∗ − ( ∗ − )

= ( , ( ) − ) −

g

A sobrevalorização cambial resultante da doença holandesa pode ser agravada pelas entradas de capitais externos.

A existência de um grande diferencial entre juros internos e externos e o baixo nível dos controles de capitais podem atrair grandes fluxos de capitais especulativos, os quais fazem com que a taxa real de câmbio se aprecie com respeito ao nível que garantiria o equilíbrio em transações correntes do balanço de pagamentos.

Déficit em conta corrente crescente

Acumulação de dívida externa.

Crise de balanço de pagamentos.

Figura 5: Doença holandesa e fluxos excessivos de capitais

g

= ( , ( ) − ) −

Doença

holande

sa

Entradas

excessiv

as de

capital

O novo-desenvolvimentismo, conceito desenvolvido no Brasil a

partir dos trabalhos de Bresser-Pereira (2006, 2007, 2009), é

definido como um conjunto de propostas de reformas institucionais

e de políticas econômicas, por meio das quais as nações de

desenvolvimento médio buscam alcançar o nível de renda per-

capita dos países desenvolvidos.

Essa estratégia de “alcançamento” baseia-se explicitamente na

adoção de um regime de crescimento do tipo export-led, no qual a

promoção de exportações de produtos manufaturados induz a

aceleração do ritmo de acumulação de capital e de introdução de

progresso tecnológico na economia.

Novo-Desenvolvimentismo

O Novo-Desenvolvimentismo

Crise do desenvolvimentismo: Hegemonia neo-liberal a partir das anos 1970.

Crítica da teoria da dependência.

Crise da dívida externa latino-americana.

Em função da crise da dívida externa os países da América Latina ficaram vulneráveis a nova hegemonia conservadora e a sua proposta de reforma institucional e de políticas econômicas: o consenso de Washington.

O Novo-Desenvolvimentismo Fracasso do Consenso de Washington na

América Latina: México (1994)

Brasil (1998)

Argentina (2001).

Frente ao fracasso da macroeconomia neoclássica e do consenso de Washington era necessário repensar a atualizar a teoria estruturalista latino-americana e a sua estratégia de desenvolvimento para dar conta das novas realidades.

O Novo -Desenvolvimentismo

Os países mais ricos da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, México e Uruguai) são hoje em dia países capitalistas democráticos que produzem bens manufaturados ou serviços que utilizam tecnologia sofisticada e competem no quadro da globalização. Os países mudaram e mudou o quadro econômico

internacional no qual eles devem competir para crescer.

Faz-se necessário uma atualização das idéias para torná-las aderentes a nova realidade histórica.

O Novo-Desenvolvimentismo

Fato estilizado: A América Latina se desenvolveu e industrializou entre 1930 e 1980, mas recentemente ficou para trás dos países asiáticos dinâmicos.

Pressuposto: No quadro de globalização, a competição entre os Estados-Nação aumentou de forma que o desenvolvimento econômico e o catching-up dependem da adoção de estratégias nacionais de desenvolvimento baseadas em modelos econômicos com o necessário poder de explicação e previsão.

Teses da Teoria Estruturalista

Latino-Americana Tendência a deterioração dos termos de troca.

Papel central do Estado na promoção do desenvolvimento econômico.

Caráter estrutural do desenvolvimento, o qual não ocorre com qualquer combinação de setores, mas a partir da transferência de mão-de-obra para setores com valor adicionado mais elevado.

Entendimento do sub-desenvolvimento não como um estágio atrasado de desenvolvimento mas como resultado da subordinação da periferia aos países que originalmente se industrializaram.

Oferta ilimitada de mão-de-obra, a qual reprime os salários e causa insuficiência de demanda.

Tese da indústria infante que justificava a proteção tarifária a indústria manufatureira e o modelo de industrialização substitutivo de importações.

Crença de que a estabilidade da inflação no mesmo patamar dos países ricos era improvável devido às imperfeições de mercado, principalmente à resposta lenta da oferta de alimentos aos aumentos da demanda.

Crença de que os países latino-americanos não dispunham da poupança necessária para financiar o desenvolvimento.

O papel central da industrialização no

desenvolvimento

A indústria é o carro-chefe do desenvolvimento econômico para os países que possuem excesso estrutural de força de trabalho. Como há excesso de trabalhadores nos setores

tradicionais e de baixa produtividade, a transferência de trabalhadores para os setores mais modernos tem pouco ou nenhum impacto no nível de produção dos setores tradicionais.

As atividades manufatureiras possuem economias estáticas e dinâmicas de escala.

Teses Ultrapassadas

A tese da indústria nascente não mais se sustenta nos países de renda média.

A transformação capitalista ocorrida na agricultura dos países da América Latina eliminou o estrangulamento na produção de alimentos.

A escassez de poupanças dos países da América Latina é causada pela tendência a apreciação da taxa de câmbio de forma que a eliminação desta implica num aumento da taxa de poupança doméstica.

Cinco Teses Adicionais

Câmbio e desenvolvimento econômico. Uma taxa de câmbio competitiva é fundamental para o

desenvolvimento econômico porque estimula o investimento voltado para a exportação (setores mais dinâmicos e de maior produtividade na economia) e o aumento da poupança interna.

Tendência a sobre-valorização da taxa de câmbio. Dois efeitos estruturais:

Doença holandesa: rendas ricardianas derivadas da abundância de recursos naturais permitem a produção lucrativa de bens intensivos nesses recursos mesmo a uma taxa de câmbio apreciada.

Efeito atração dos capitais externos pelo fato das taxas de lucro e de juros dos países em desenvolvimento serem mais altas.

Cinco Teses Adicionais

Doença Holandesa É uma falha de mercado que sobreaprecia de forma permanente a taxa

de câmbio, mas é consistente com o equilíbrio inter-temporal da conta-corrente.

A doença holandesa é uma falha de mercado que, ao inviabilizar setores econômicos de bens comercializáveis eficientes e sofisticados, impede a mudança estrutural – a diversificação industrial do país – que caracteriza o desenvolvimento econômico. A taxa de câmbio que garante o equilíbrio em conta-corrente é mais

apreciada do que a taxa de câmbio que garante o equilíbrio industrial.

Sintomas da doença: Sobre-apreciação cambial

Baixo crescimento do setor manufatureiro

Rápido crescimento do setor de serviços

Salários médios elevados com respeito ao nível de desenvolvimento do país.

Desemprego.

Cinco Teses Adicionais

Crescimento com poupança externa A política de crescimento com poupança externa causa a sobre-

apreciação da taxa de câmbio e a substituição da poupança interna pela externa.

Os policy-makers usam a política de juros altos para atrair capitais externos e assim apreciam a taxa de câmbio.

A apreciação cambial aumenta o salário real e reduz a participação dos lucros na renda nacional.

Essa redistribuição de renda entre salários e lucros reduz a poupança doméstica, de forma que ocorre uma substituição de poupança interna por poupança externa.

Cinco teses adicionais

Responsabilidade fiscal

O déficit público enfraquece o Estado e causa

inflação, devendo ser evitado a não ser em

momentos de recessão.

Velho e Novo-Desenvolvimentismo

O novo-desenvolvimentismo considera o modelo substituidor de importações superado e defende o modelo exportador.

Os países em desenvolvimento tem a possibilidade de usar duas grandes vantagens no caso do modelo exportador: Mão de obra barata

Possibilidade de comprar ou copiar a tecnologia disponível.

Nesse contexto a política industrial passa a ter um claro critério de eficiência: só as empresas eficientes o bastante para exportar serão beneficiadas pela política industrial.

Velho e Novo-Desenvolvimentismo

No novo-desenvolvimentismo o papel do Estado diminui e o do mercado aumenta.

Se para o velho-desenvolvimentismo a política industrial era central, no novo-desenvolvimentismo ela é subsidiária mas estratégica, focando em setores específicos e empresas com capacidade de competição internacional.

O novo-desenvolvimentismo não é protecionista mas enfatiza a necessidade de uma taxa de câmbio competitiva Os países de renda média já ultrapassaram o estágio da

indústria infante.