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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A MATERIALIZAÇÃO DE MASCULINIDADES GAYS NO DESIGN DE INTERIORES: UM ESTUDO SOBRE A MOSTRA CASA COR Cláudia R. H. Zacar 1 Marinês Ribeiro dos Santos 2 Resumo: Neste trabalho visamos discutir como as masculinidades gays têm sido idealizadas em ambientes expostos na Casa Cor. Essa mostra de design de interiores teve sua primeira edição em São Paulo, em 1987, e hoje está presente em diversas cidades, tendo recebido em 2016 cerca de 500 mil visitantes. De forma geral, a Casa Cor tem apresentado um padrão de moradia marcado pela alta especialização e individualização dos espaços, privilegiando um modelo de família nuclear heterossexual. Nesse contexto, os ambientes idealizados para gays são raros. Dentre as exceções, analisamos imagens e textos referentes a dois espaços explicitamente projetados tendo em vista esse público, expostos na Casa Cor Brasília de 2011 e na Casa Cor São Paulo de 2014. Para embasar nossas análises, recorremos a autores/as ligados/as aos estudos sobre a imagem e aos aportes da Teoria da Cultura Material e dos Estudos de Gênero, utilizando o conceito de “objetificação” de Daniel Miller (1987), a noção de “performatividade” de Judith Butler (2013) e o conceito de “masculinidade hegemônica” de Robert Connell e James Messerschmidt (2013). A partir dessas referências, procuramos evidenciar o caráter contingente e construído das normas de gênero, reforçando que não existe uma única masculinidade fixa e homogênea. Entendemos que o processo de constituição performativa de masculinidades não normativas ocorre sempre em relação aos padrões convencionais, tendo as materialidades um papel fundamental na sua (re)produção. Palavras-chave: Design. Interiores Domésticos. Masculinidades. Introdução A Casa Cor é apresentada como “A maior e mais completa mostra de arquitetura, design de interiores e paisagismo das Américas” (GRUPO ABRIL, 2017). Teve início na cidade de São Paulo, em 1987, com o intuito de aproximar o público consumidor de ambientes projetados por profissionais especializados/as (CASA COR, 2006). Desde a sua primeira edição, a Casa Cor cresceu de forma expressiva. Atualmente faz parte do Grupo Abril, uma das maiores empresas de Comunicação, Educação e Logística da América Latina, e realiza eventos em vinte cidades brasileiras e em cinco localidades de outros países da América do Sul 3 . No ano de 2016 a Casa Cor recebeu cerca de 500 mil visitantes em suas várias praças. Além do considerável número de visitantes, os eventos têm sido divulgados por meio de diferentes 1 Docente no Departamento de Design da Universidade Federal do Paraná e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil. 2 Docente no Departamento de Desenho Industrial e do Programa de Pós-graduação em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil. 3 No Brasil, está presente nas capitais dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso Do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e do Distrito Federal. Além disso, há edições em Campinas e Franca. Na América Latina há mostras nos países Bolívia, Equador, Chile, Paraguai e Peru (GRUPO ABRIL, 2017).

A MATERIALIZAÇÃO DE MASCULINIDADES GAYS NO DESIGN DE … · 2018-01-17 · 1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis,

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A MATERIALIZAÇÃO DE MASCULINIDADES GAYS NO DESIGN DE

INTERIORES: UM ESTUDO SOBRE A MOSTRA CASA COR

Cláudia R. H. Zacar1

Marinês Ribeiro dos Santos2

Resumo: Neste trabalho visamos discutir como as masculinidades gays têm sido idealizadas em

ambientes expostos na Casa Cor. Essa mostra de design de interiores teve sua primeira edição em

São Paulo, em 1987, e hoje está presente em diversas cidades, tendo recebido em 2016 cerca de 500

mil visitantes. De forma geral, a Casa Cor tem apresentado um padrão de moradia marcado pela

alta especialização e individualização dos espaços, privilegiando um modelo de família nuclear

heterossexual. Nesse contexto, os ambientes idealizados para gays são raros. Dentre as exceções,

analisamos imagens e textos referentes a dois espaços explicitamente projetados tendo em vista esse

público, expostos na Casa Cor Brasília de 2011 e na Casa Cor São Paulo de 2014. Para embasar

nossas análises, recorremos a autores/as ligados/as aos estudos sobre a imagem e aos aportes da

Teoria da Cultura Material e dos Estudos de Gênero, utilizando o conceito de “objetificação” de

Daniel Miller (1987), a noção de “performatividade” de Judith Butler (2013) e o conceito de

“masculinidade hegemônica” de Robert Connell e James Messerschmidt (2013). A partir dessas

referências, procuramos evidenciar o caráter contingente e construído das normas de gênero,

reforçando que não existe uma única masculinidade fixa e homogênea. Entendemos que o processo

de constituição performativa de masculinidades não normativas ocorre sempre em relação aos

padrões convencionais, tendo as materialidades um papel fundamental na sua (re)produção.

Palavras-chave: Design. Interiores Domésticos. Masculinidades.

Introdução

A Casa Cor é apresentada como “A maior e mais completa mostra de arquitetura, design de

interiores e paisagismo das Américas” (GRUPO ABRIL, 2017). Teve início na cidade de São

Paulo, em 1987, com o intuito de aproximar o público consumidor de ambientes projetados por

profissionais especializados/as (CASA COR, 2006). Desde a sua primeira edição, a Casa Cor

cresceu de forma expressiva. Atualmente faz parte do Grupo Abril, uma das maiores empresas de

Comunicação, Educação e Logística da América Latina, e realiza eventos em vinte cidades

brasileiras e em cinco localidades de outros países da América do Sul3.

No ano de 2016 a Casa Cor recebeu cerca de 500 mil visitantes em suas várias praças. Além

do considerável número de visitantes, os eventos têm sido divulgados por meio de diferentes

1 Docente no Departamento de Design da Universidade Federal do Paraná e doutoranda no Programa de Pós-graduação

em Tecnologia e Sociedade da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil. 2 Docente no Departamento de Desenho Industrial e do Programa de Pós-graduação em Tecnologia e Sociedade da

Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil. 3 No Brasil, está presente nas capitais dos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato

Grosso Do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do

Sul, Santa Catarina, São Paulo e do Distrito Federal. Além disso, há edições em Campinas e Franca. Na América Latina

há mostras nos países Bolívia, Equador, Chile, Paraguai e Peru (GRUPO ABRIL, 2017).

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mídias. Anualmente são editadas revistas por todas as franquias da Casa Cor, o grupo4 possui um

website e tem também presença nas redes sociais, tais como Facebook, Instagram e Twitter. As

mostras recebem ainda cobertura de periódicos especializados, como a Casa Claudia, bem como de

diferentes portais e blogs relacionados à decoração de interiores. O retorno em mídia espontânea,

levando em conta todas as edições da mostra, gira atualmente em torno dos 80 milhões de reais ao

ano (GRUPO ABRIL, 2017). Esse expressivo montante revela o potencial de difusão da marca e

dos ambientes expostos, decorrente da presença de muitos/as jornalistas, para quem são feitas

apresentações especiais antes da abertura dos eventos para o público em geral.

Todos os anos, profissionais de cada localidade expõem nas mostras Casa Cor diversas

propostas de design de interiores para ambientes domésticos e comerciais. Por meio desses

ambientes, têm sido construídos e divulgados padrões de configuração doméstica e de relações de

gênero. Observamos que esses padrões têm sido, em geral, idealizados com base em um modelo de

família nuclear, branca e de classe média alta, formada a partir de um casal heterossexual.

Nesse contexto, o “Quarto do Casal Gay”, projetado pela arquiteta Renata Dutra para a Casa

Cor Brasília do ano de 2011, e o “Loft dos Colecionadores”, apresentado pelo designer Oscar

Mikail na Casa Cor São Paulo de 2014, são alguns dos raros ambientes explicitamente projetados

para usuários idealizados como homens gays. Neste artigo analisamos imagens e textos referentes a

esses dois espaços, visando discorrer sobre as estratégias de materialização de masculinidades gays

por meio do design de interiores em exibição na Casa Cor. Com isso, procuramos salientar a

importância da cultura material para os processos de constituição das relações de gênero, dando

ênfase às assimetrias decorrentes da (re)produção de padrões heteronormativos.

Referencial teórico

Partimos da teoria da Cultura Material desenvolvida pelo antropólogo britânico Daniel

Miller (1987), que utiliza o termo “objetificação” (objetification)5 para descrever e analisar o

processo de mútua constituição entre sujeito e objeto como uma sequência de externalização

(criação de uma forma cultural específica) e incorporação da forma externalizada, por meio da qual

4 Disponível em: <http://casacor.abril.com.br/>. 5 Cabe ressaltar que o conceito de objetificação de Miller (1987) difere, portanto, do uso corrente desse termo em

estudos sobre as relações de gênero, especialmente aqueles que analisam representações femininas. Nesses estudos, é

comum o uso da palavra objetificação como sinônimo de “transformar em objeto”, designando o processo de anular as

dimensões afetivas e psicológicas do ser, alijando-o de sua posição de sujeito.

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o sujeito se constitui e se desenvolve. Desta forma, o autor ressalta a importância da cultura material

para a construção de corpos e subjetividades.

Ao optar por estudar estratégias de objetificação de masculinidades e feminilidades,

aderimos também aos Estudos de Gênero. A partir da perspectiva da filósofa Judith Butler (2014),

entendemos que gênero diz respeito a um conjunto de normas socialmente estabelecidas que, ao

serem constantemente citadas e reiteradas nas mais diversas instâncias - tais como os discursos

científico e religioso, a escola, a família - são inscritas no corpo. Esse processo de incorporação das

normas por meio de sua constante repetição é o que Butler designa de performatividade de gênero.

Segundo a autora, algumas realizações performativas reivindicam o lugar de natureza, ocultando as

formas pelas quais são estabelecidas. Essas construções naturalizadas, baseadas em estruturas

binárias, definem padrões normativos de feminilidades e masculinidades (BUTLER, 2004).

No que tange às construções normativas relativas às masculinidades, Raewyn Connell e

James W. Messerschmidt (2013) utilizam o conceito de masculinidade hegemônica para designar a

posição de centralidade que um dado grupo, particularmente homens heterossexuais, mantém nas

relações de gênero. A masculinidade hegemônica consiste em um modelo inatingível, que ainda

assim exerce um efeito controlador sobre homens e mulheres e garante vantagens àqueles homens

que o adotam, ainda que parcialmente. Trata-se um “consenso vivido” (VALE DE ALMEIDA,

1996) que incorpora ideias sobre a forma mais honrada de ser homem, e é associada, no contexto

das sociedades ocidentais contemporâneas, a aspectos como: “autoridade, trabalho remunerado,

força e dureza física” (DARDE, 2012, p. 20).

A masculinidade hegemônica se configura em oposição às feminilidades, legitimando

ideologicamente a subordinação das mulheres aos homens. Além disso, exige que todos os outros

homens se posicionem em relação a ela, e marca sua distinção em relação às masculinidades

subordinadas, tais como as masculinidades gays (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013). Ao se

aproximar de atributos tidos como femininos – tais como: “passividade, submissão, penetração das

fronteiras do corpo” (VALE DE ALMEIDA, 1996), essas masculinidades são estigmatizadas e

subalternizadas.

A partir desse aporte teórico, entendemos que nos espaços expostos na Casa Cor são

materializadas noções sobre o corpo e posições de sujeito que podem ser assumidas (ainda que

parcialmente e provisoriamente), negadas ou negociadas pelas pessoas que visitam as mostras e

pelo público que consome as imagens dos ambientes, conforme postas em circulação por meio de

diferentes veículos de comunicação. Ao enfocar ambientes voltados ao público gay, buscamos

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ampliar a discussão sobre os processos de constituição de masculinidades subordinadas, analisando

como elas são construídas na mostra em relação aos padrões hegemônicos.

Abordagem metodológica

Neste texto, as imagens analisadas foram extraídas de websites que tratam de temas

variados, veiculando também alguns artigos sobre design de interiores. Optamos por utilizar artigos

online como fontes pelo fato de apresentarem, além das imagens, trechos de entrevistas realizadas

com Oscar Mikail e Renata Dutra, projetistas responsáveis pelos ambientes selecionados.

Buscamos, com isso, enriquecer nossas análises tecendo relações entre os discursos textuais e

imagéticos. Para tanto, adotamos a abordagem dos Estudos Culturais, dando ênfase ao contexto

histórico de produção das imagens e textos e considerando questões políticas que atravessam os

processos de construção e circulação de significados a eles associados.

Para guiar a análise das imagens utilizamos um roteiro, organizado a partir do confronto

com o material empírico e com base em estudos sobre a imagem. Foram utilizadas como referência

as obras da pesquisadora britânica Gillian Rose (2007), da historiadora Ana Maria Mauad (2005) e

de Laurent Gervereau (2004), autor ligado à História Visual. Tomamos também como base

categorias utilizadas por Vânia Carneiro de Carvalho (2008) e Marinês Ribeiro dos Santos (2015),

autoras que discorrem sobre a configuração de interiores domésticos no Brasil articulando os

estudos de gênero com teorias da cultura material.

O roteiro foi organizado em duas partes, denominadas “Descrever” e “Relacionar”. A

primeira delas é voltada para a descrição detalhada dos elementos presentes na imagem, abrangendo

as características do espaço e dos artefatos representados (cores, formas e volumes). Inclui também

um campo para a descrição das ações sugeridas, possibilitadas e/ou inibidas pelas materialidades

representadas – considerando suas relações com o corpo, as funções práticas dos artefatos, o espaço

disponível e o arranjo de artefatos no espaço. A segunda parte do roteiro destina-se facilitar a

construção de significados possíveis para a imagem, a partir do estabelecimento de relações de

intertextualidade com as outras imagens do recorte definido, com os textos que as acompanham e

com o seu contexto de produção e circulação.

Masculinidades gays em ambientes da Casa Cor

Conforme citamos na introdução deste trabalho, de forma geral a Casa Cor tem privilegiado

um modelo de família nuclear heterossexual, apresentado ambientes direcionados a casais formados

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por uma mulher e um homem, acompanhados de filhos/as. As mostras do grupo aderem, assim, ao

padrão que permanece no imaginário de muitos setores da sociedade brasileira como sendo o ideal,

o desejável, ou mesmo o “natural”6 (MANDELBAUM, 2009).

O primeiro registro que encontramos de um ambiente criado para usuários imaginados como

homossexuais exposto na Casa Cor foi o “Quarto do Casal Gay”, criado por Renata Dutra para a

Casa Cor Brasília de 2011. Neste caso, cabe notar a necessidade de marcar, no nome do ambiente,

o fato de o casal idealizado ser homossexual. Os ambientes para casais apresentados na Casa Cor,

via de regra, não recebem designação específica. Isso porque se adéquam aos padrões normativos –

o “casal” é assumido como sendo heterossexual, pois é essa a convenção social vigente para o

matrimônio.

Se por um lado há necessidade de marcar a diferença, por outro notamos uma intenção de

normalização do casal gay imaginado para habitar o dormitório. Ao definir um tipo de

relacionamento monogâmico similar, neste sentido, ao dos casais heterossexuais frequentemente

representados na mostra, a Casa Cor se mantém no registro da heteronormatividade. Esse termo

designa um conjunto de prescrições fundadas no pressuposto de que a heterossexualidade é

“natural”, e que procura estabelecer uma coerência entre gênero, sexo, desejo e prática sexual

(BUTLER, 2014). Trata-se de um dispositivo histórico que regula corpos, experiências e relações

amorosas e sexuais tanto de sujeitos “legítimos e normalizados”, quanto daqueles considerados

desviantes (MISKOLCI, 2009, p. 157).

Ao direcionar pessoas homo orientadas a aderir a normas estabelecidas no âmbito da matriz

heteronormativa, estabelece-se um modelo “adequado” e “aceitável” de ser gay. Assim, viabiliza-se

a assimilação social “daqueles que são monogâmicos, daqueles que mantém uniões estáveis,

daqueles que revelam possuir boa condição econômica, enfim, dos que se esforçam para parecer

normais e são bem-comportados” (SEFFNER, 2006, p. 30). Com isso, persiste a marginalização de

outros modos de ser e de viver construídos por pessoas LGBT ao longo de suas trajetórias de vida,

incluindo diferentes conjugalidades e estruturas familiares (COLLING, 2011, p. 13).

A intenção de normalização se revela também no discurso da arquiteta responsável pelo

projeto, Renata Dutra, que alegou em entrevista a Roberto Acha ter procurado criar um espaço que

pudesse ser habitado por qualquer tipo de casal, valorizando aspectos considerados “independente

6 Como exemplo da permanência da visão de que esse padrão familiar é o ideal, citamos a aprovação do texto do

Estatuto da Família, por parte da Câmara dos Deputados em 2015. Neste texto, a família é definida como “núcleo

formado a partir da união entre homem e mulher”. Em uma enquete realizada pelo site da Câmara sobre essa definição,

5,3 milhões de votos foram registrados como contrários à proposta, 51,6% do total. Ainda assim, computaram-se 4,9

milhões de votos em apoio a essa restritiva definição de família (PRAZERES, 2015).

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de gênero”, tais como o uso simultâneo, a funcionalidade, a privacidade e a individualidade

(ACHA, 2011). Se por um lado essa estratégia potencialmente evita a reprodução de estereótipos

ligados aos homossexuais, por outro, ao legitimar um tipo específico de relacionamento, reforça o

padrão heteronormativo.

O “Quarto do Casal Gay” (Figura 1), além de aderir a um padrão de relação monogâmica,

também corrobora, por meio de suas materialidades, outros aspectos ligados à masculinidade

hegemônica.

Figura 1: Quarto do Casal Gay, projeto de Renata Dutra para a Casa Cor Brasília 2011

Fonte: ACHA, 2011

Fotografia de Haruo Mikami

Ambientes tidos como masculinos têm sido historicamente construídos utilizando elementos

como linhas retas, cores escuras, texturas mais ásperas e rugosas (MANCUSO, 2002; GURGEL,

2013). Nesse dormitório predominam as linhas retas horizontais e verticais, que conferem um senso

de estabilidade. Os móveis baixos e o enquadramento da fotografia enfatizam a horizontalidade, que

é quebrada pela verticalidade das cortinas, ao fundo, e pela base enviesada da luminária, em

primeiro plano e à direita da imagem.

Um artefato que ganha destaque no terço inferior da foto é uma mala de viagem. Esse tipo

de objeto aparece com certa frequência nos ambientes voltados ao público masculino exibidos na

Casa Cor. A mala remete às viagens, ao mundo exterior, à esfera pública – arenas convencionadas

como masculinas.

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O cômodo é, ao mesmo tempo, despojado e árido. A informalidade se revela no uso de

poucos móveis e objetos decorativos, no uso do chão como suporte para o quadro que, sem

moldura, repousa ao lado da cama, e no fio elétrico alaranjado que pende de forma displicente da

luminária. A sensação de aridez é conferida pelo jardim de cactos, pela predominância de beges e

cores frias (como os diferentes tons de azul e de cinza) e pelo uso de materiais em seu estado

“bruto” – a parede de pedra é irregular, o piso é de cimento queimado e a madeira da cúpula da

luminária revela-se sem revestimentos.

A arquiteta que projetou o espaço afirmou em entrevista que “Os ambientes, assim como as

pessoas, são mais interessantes quando se mostram quem são de verdade” (ACHA, 2011). Essa fala

nos permite entender o tratamento dado aos materiais, além de remeter à questão do “sair do

armário” - o casal imaginado mostra quem é “de verdade” ao se assumir gay.

No caso do “Loft dos Colecionadores”, apresentado por Oscar Mikail na Casa Cor São

Paulo de 2014, a intenção de projetar a partir da idealização de um casal gay não é à primeira vista

tão evidente, uma vez que seu nome não explicita esse direcionamento. Ainda assim, esse dado foi

amplamente divulgado em notícias e materiais de apresentação ligados à mostra.

Esse projeto teve certo destaque na mídia, que deu ênfase para sua ousadia, já que foi o

primeiro espaço direcionado ao público gay exposto na Casa Cor São Paulo, em sua 28ª edição. O

designer responsável pelo projeto, em entrevista divulgada por Gabriel Machado, disse que se

tratava de um “marco para a história do evento”, explicitando que “Estava mais que na hora da Casa

Cor dedicar ambientes para casais gays” (MACHADO, 2014).

De fato, parece contraditório que o primeiro cômodo com esse direcionamento só tenha

aparecido em 2014, dado que Pedro Ariel, curador da 29ª edição da Casa Cor São Paulo, afirmou

em entrevista que “as mulheres e os gays têm interesse especial por decoração, design de interiores

e arte” (TRIGO, 2015). Nessa perspectiva, gays seriam público importante para a mostra, e sua

exclusão como usuários imaginados para os espaços expostos parece contraproducente. Cabe notar

que a afirmação do curador também pode ser baseada no senso comum que aproxima as

masculinidades gays de características tidas como femininas, como o interesse por decoração.

É preciso considerar também que nas últimas décadas houve uma crescente valorização dos

gays como um promissor nicho de mercado, tendo se multiplicado as revistas, jornais, agências de

turismo, bares, etc., direcionados a esse público (SIMÕES; FRANÇA, 2005, p. 5). Vale ressaltar

que esse interesse do mercado não abrange a todos de forma similar. Em relação à Casa Cor, o

recorte de classe é bastante evidente. A mostra é direcionada ao público de alto poder aquisitivo –

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segundo o Grupo Abril (2017), a maior parte das pessoas que os frequentam pertence às classes

econômicas A e B (59% e 38%, respectivamente) e tem renda familiar mensal acima de 15 mil reais

(40%).

O casal de moradores imaginado para o “Loft dos Colecionadores” (Figura 2) foi

caracterizado como “empresários, homens bem-sucedidos em suas áreas de atuação” (MACHADO,

2014). Além disso, Mikail afirmou em entrevista que projetou o loft tendo em mente um casal que

“curte e entende de arte”, por eles “garimpada ao longo da vida em viagens, leilões e galerias”.

Assim, é reforçada a marcação de classe e legitimada a presença do casal de usuários imaginado

como gay, enfatizando seu sucesso profissional, capital cultural e estilo de vida glamoroso.

Figura 2: Loft dos Colecionadores, projeto de Oscar Mikail para a Casa Cor São Paulo 2014

Fonte: MACHADO, 2014

Fotografia de Celina Germer e João Ribeiro

Como esperado, na sala do loft destaca-se a presença de obras de arte – quadros na parede,

esculturas sobre o aparador e sobre a mesa de centro. A iluminação é intimista e distribuída de

forma a valorizar a parede repleta quadros, ao fundo na imagem. A forma de disposição das

molduras é assimétrica e irregular, o que confere certo despojamento.

A iluminação também valoriza a cortina de voil escuro, que reveste a grande janela. A

translucidez do tecido permite vislumbrar o exterior, que simula um panorama de uma metrópole.

Além de vincular o loft ao seu cenário preferencial – os grandes centros urbanos – a porosidade do

tecido dilui as fronteiras entre o privado e o público, trazendo para a esfera doméstica as luzes e o

movimento da cidade. Isso ajuda a construir a ideia de um estilo de vida agitado e cosmopolita. O

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relativamente amplo espaço de circulação conferido pela disposição dos móveis e a presença de

vários assentos permitem pensar nesse ambiente como um local apropriado para receber

convidados/as e promover festas.

De forma similar ao que observamos no “Quarto do casal gay”, a paleta de cores privilegia

cores frias – em especial, diferentes tons de cinza. Novamente, predominam as linhas retas,

evidenciadas pelos móveis e pela luminária de chão, cuja cúpula amarela contrasta com a parede.

O reforço aos estereótipos de gênero se evidencia na fala do designer de interiores

responsável pelo projeto que, na entrevista publicada Machado, procura explicitar as diferenças

entre aquilo que ele concebe como características masculinas e femininas na decoração:

O uso de um espaço gourmet no living, por exemplo, não incomoda tanto o homem quanto

incomodaria uma mulher, com a questão da gordura e sujeira. A opção das cores mais

sóbrias e neutras também é uma característica masculina. Se fosse um casal homoafetivo

feminino, com certeza teria mais estampas florais, bibelôs e renda (MACHADO, 2014).

O designer disse ainda que “por se tratar de um espaço onde dois homens vivem, a

decoração é muito mais prática e objetiva, ao contrário da mulher, que é mais feminina nos detalhes

e usa mais ‘frus frus’. O homem, mesmo sendo detalhista, quer que tudo seja prático para a sua

rotina”. Mikail também afirmou que gosta de trabalhar para casais gays pois “Eles sabem o que

querem e como querem” (MACHADO, 2014).

Assim, no discurso do designer a masculinidade gay que ele procurou materializar é

justaposta aos padrões hegemônicos, reforçando as supostas objetividade, praticidade e

racionalidade masculinas. Conforme argumentam Luiz Felipe Zago e Fernando Seffner (2008, p.3),

se a sexualidade é o âmbito da produção de diferenças entre homens heterossexuais e homens gays,

é “no sexo (corpo) e no gênero (masculinidades) que os homens gays vão investir para requisitar

sua ‘igualdade’ com os demais”. Assim, estabelece-se uma hierarquia interna às masculinidades

gays, na qual serão mais valorizados aqueles que se aproximam da masculinidade hegemônica

sendo “discretos” e “machos”, ou seja, não afeminados (ZAGO; SEFFNER, 2008, p.5). Essa

assimetria é caracterizada por Seffner (2011, p. 76) como “uma hegemonia intra-movimento gay”

que, para o autor, precisa ser quebrada de forma a garantir a existência de “gays afeminados,

pintosas, e travestis”, que são quem mais sofre com a homofobia (SEFFNER, 2011, p. 75).

Considerações finais

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Neste trabalho procuramos analisar discursos textuais e imagéticos referentes a dois

ambientes expostos pela Casa Cor e direcionados a casais gays. Com nossas análises, observamos

que, apesar de as uniões homoafetivas representarem um deslocamento em relação aos padrões

normativos, a estratégia de objetificação desses casais na mostra se adequaram, nos casos citados, a

padrões heteronormativos e a características associadas à masculinidade hegemônica. Os dois casais

idealizados são monogâmicos e de classe média alta. Nos ambientes a eles direcionados

predominam as cores sóbrias e frias, as linhas retas e a intenção de construir ambientes simples e

práticos, em contraposição à decoração cheia de “fru frus” associada às feminilidades.

Gostaríamos de destacar que, no nosso entendimento, os projetos da arquiteta e do designer

responsáveis pelos ambientes enfocados neste artigo não apenas refletem uma realidade dada, mas

participam da construção de masculinidades gays em diálogo com valores e significados

socialmente constituídos associados a essas posições de sujeito.

O material empírico selecionado permite discutir assimetrias constituídas entre as

masculinidades a partir do binômio heterossexual/homossexual, mas também entre as

masculinidades gays. Assim, seguindo Connell (1995, p. 190), entendemos a construção das

masculinidades como um projeto que revela interesses políticos específicos, no qual se envolvem

diferentes instituições, discursos e materialidades que se inter-relacionam e se transformam ao

longo do tempo. Desta forma, queremos enfatizar que não existe uma única masculinidade fixa e

homogênea encarnada no corpo ou no comportamento dos indivíduos. As masculinidades são

configurações de práticas que são realizadas na ação social e, dessa forma, podem se diferenciar de

acordo com as relações de gênero em um cenário social particular (CONNELL;

MESSERSCHMIDT, 2013, p. 250).

Por fim, ressaltamos que, apesar de poder ser considerado um “avanço” o fato de casais gays

começarem a ser representados nas mostras, essa presença ainda é mínima e pouco plural. Além

disso, ainda não foram apresentados na Casa Cor ambientes direcionados a lésbicas, travestis ou

pessoas trans. Assim, as identidades homossexuais masculinas se fazem privilegiadas perante essas

outras, ainda que precisem ser legitimadas por outros marcadores que as aproximem da centralidade

dada ao homem heterossexual, branco e de classe média-alta.

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The materialization of gay masculinities in interior design: a study about the exhibit Casa Cor

Abstract: In this work, we aim to discuss how gay masculinities have been idealized in

environments in display at Casa Cor. This interior design exhibition had its first edition in São

Paulo in 1987, and today it is present in several cities, having received in 2016 about 500 thousand

visitors. In general, Casa Cor has presented a pattern of housing characterized by high

specialization and individualization of spaces, favoring a heterosexual nuclear family model. In this

context, environments idealized for gays are rare. Among the exceptions, we analyzed images and

texts referring to two spaces explicitly designed for this public, exhibited at Casa Cor Brasília in

2011 and at Casa Cor São Paulo in 2014. In order to base our analysis, we have resorted to authors

related to Image Studies and contributions from Material Culture Theory and Gender Studies, using

Daniel Miller’s (1987) concept of “objectification”, Judith Butler's (2013) notion of

"performativity", and Robert Connell and James Messerschmidt’s (2013) concept of "hegemonic

masculinity". From these references, we try to show the contingent and constructed nature of gender

norms, reinforcing that there is no single fixed and homogeneous masculinity. We understand that

the process of performative constitution of non-normative masculinities always occurs in relation to

conventional standards, and that the materialities play a fundamental role in their (re)production.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

Keywords: Design. Domestic Interiors. Masculinities.