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1 À memória da minha querida amiga Eugénia Mota. Aos meus filhos: Anaïs e Bernardo.

À memória da minha querida amiga Eugénia Mota. Aos meus ...repositorio.ul.pt/bitstream/10451/2256/33/ulfl078314_tm_vol_1.pdf · De sde m ui to ced o, no en tan to, que se en te

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  • 1

    memria daminha querida amigaEugniaMota.

    Aosmeusfilhos:AnaseBernardo.

  • 2

    NDICE

    Dedicatria.....................................................................................................1

    ndice................................................................................................................2

    Introduo.......................................................................................................4

    I.DagnesedoconceitosuaintroduoemPortugal..........................13

    I.1.HistriaaoVivoemqueconsiste........................................................17

    I.2.Asorigensdoconceito:ondesurgiu,emquecircunstncias,comque

    motivaes......................................................................................................21

    I.3.Comochegaatnsem1986...............................................................34

    II. Primeiras intervenes de Histria Viva em Portugal: A aco da

    APOM e de outras instituies precursoras na realizao de aces

    baseadasnoconceitodeHistriaaoVivo.................................................41

    III. A aco doGrupo deTrabalho doMinistrio da Educaopara as

    ComemoraesdosDescobrimentosPortugueses..................................60

    IV.Consolidaodeumaprticapedaggica.AHistriaVivaevoluo

    doconceito....................................................................................................69

    IV.1. Estratgias de Educao Patrimonial: A Histria Viva A Recriao

    HistricaVisitascomOficina.........................................................................75

    IV.2.OtrabalhodesenvolvidonoMuseudaCidadedeLisboa...................78

    V.HistriaViva.Acriaodeumaindstria..............................................89

  • 3

    V.1. Exemplo de uma empresa de animao cultural: A Cmara dos

    Ofcios.............................................................................................................91

    V.2. Companhia de Teatro Vivarte: actividades de reconstituio

    histrica...........................................................................................................96

    VI.Ofuturodoconceito:AHistriaViva....................................................98

    VII.CasoemEstudo:HistriabrevedosServiosEducativosdoPalcio

    NacionaldeQueluz:desdeosprimrdiosactualidade.......................122

    VII.1.DuaspropostasdeprojectoscomrecursoHistriaVivaarealizarno

    PalcioNacionaldeQueluz..........................................................................140

    VII.1.1.DescobertadeumTema:AConchaRocaille............................140

    VII.1.2. Representao do Quotidiano do Sculo XVIII nos Painis de

    AzulejosdoCanaldeQueluz........................................................................143

    Concluso...................................................................................................146

    Bibliografia..................................................................................................150

  • 4

    Introduo

    O passado um imenso pedregal quemuitos gostariam de percorrer como se deuma autoestrada se tratasse, enquantooutros, pacientemente, vo de pedra empedra, e as levantam, porque precisam desaberoquehporbaixodelas.1

    O presente trabalho centrase no estudo do conceito de Histria Viva:

    origens, sua introduo em Portugal, primeiras intervenes, evoluo,

    prticasactuaiseprojeces futuras,epor fimoestudodeumcaso:breve

    histriadosServiosEducativosdoPalcioNacionaldeQueluz.

    Tentaremos, no decorrer da dissertao, dar uma viso do percurso da

    Histria ao Vivo em Portugal, desde a sua introduo, sob a aco da

    AssociaoPortuguesadeMuseologiaem1986,at2009,anoemquenos

    propomos concluir este trabalho de reflexo e de reunio da informao

    existente sobre esta prtica. Apercebemonos que a documentao sobre

    este tema, em Portugal, se observa escassa e muito dispersa e muitos

    materiaisestodifceisdelocalizar,empartepornoteremsidopublicados,

    ouporqueosqueforameditadosforamdistribudosemcontextosrestritos.

    Atravs da realizao deste trabalho pretendemos sistematizar toda a

    informao encontrada de forma a redigir um documento onde esta se

    congregue, proporcionando um melhor conhecimento de um todo, a

    possibilidade de reflexo sobre o temae seus fundamentos essenciais e o

    renovardassuasprticas.

    tambm nosso objectivo defender a importncia desta tcnica como

    estratgiaadesenvolverpelasentidadesvocacionadasparaoensinoepara

    adivulgaodopatrimniohistricoecultural:umdosmeiosaoalcancedos

    serviosdeacoeducativa,entreoutrosrecursosdestinadosaospblicos

    1SARAMAGO,Jos,AViagemdoElefante,Ed.Caminho,2008,p.35.

  • 5

    dos museus, dos monumentos, das autarquias, incumbidos de divulgar

    lugaresdememriapromovendoaculturadeumpascomoitodcadasde

    Histria, com a dupla responsabilidade de a manter viva e ao alcance de

    todossegundoospreceitoseorigorquelhesointrnsecas.

    Aescolhadestetemafoibaseadaessencialmenteemduascircunstncias

    precisas: o facto de termos trabalhado durante mais de dez anos nos

    Servios de Educao e Extenso cultural do Palcio Nacional deQueluz,

    onde desde 1989 foram postos em prtica projectos de animao cultural

    baseados, inicialmente, no conceito de Histria ao Vivo sob motivao da

    directora,Dra.SimonetaLuzAfonso.

    Tendo trabalhado neste Servio entre 1991 e 2007 e feito parte da sua

    coordenaodurantenoveanos,mantivemosumarelaodirectacomtodos

    ospassosdesteedeoutrosmodosdetransmitiraHistria,desdequesurge

    uma ideia, a partir de um determinado legado patrimonial ou de um facto

    histrico que se pretende dar a conhecer, at avaliao e

    consciencializaodasvalnciasdestemtododidctico.

    Por outro lado, foi determinante para a nossa escolha o facto de termos

    recebido,dasmosdaDra.ManuelaMota2,todooarquivoquetinhaemsua

    posse sobre esta matria da introduo do conceito em Portugal, at ao

    momento em que, difundida a tcnica da Living History aos muselogosportugueses e realizados muitos e diversos projectos nela baseados, se

    considerou que estaramos em posse desta valiosa ferramenta de trabalho

    para o ensino da Histria e divulgao do patrimnio histrico, cultural e

    artstico.

    Pretendemos, com o estudo a que nos propomos, sistematizar de forma

    lineartodaainformaoquepossumoseaquelaondeestanoslevarda

    gnese em Portugal evoluo do conceito, passando pela recolha e

    organizao cronolgica das principais intervenes de Histria ao Vivo

    realizadas sob orientao da APOM nos anos subsequentes ao da sua

    introduo emPortugal terminando numa reflexo assente nos projectos

    hoje realizadosemtornode lugareshistricos:osriscoseosbenefciosda

    origem de uma indstria de lazer o trabalho de pesquisa histrica com os

    2PresidentedaAssociaoPortuguesadeMuseologiaAPOM(entre1975e1991)eConservadoraPrincipaldoMuseuCalousteGulbenkian(entre1959e1991).

  • 6

    museus e bibliotecase a defesadesta ideia enquanto actividade cientfica

    terminandocomumareflexosobreohojeeofuturodaHistriaaoVivono

    nossopas.

    Propomonosassim,numprimeiromomento,reunirainformaoessencial

    quetraaopercursodestatcnica,desdeassuasorigensemInglaterraat

    sua introduo em Portugal: tendo como ponto de partida o Colquio

    APOM/86 onde referida pela primeira vez em pblico a existncia da

    tcnica de Histria ao Vivo seguindose o Colquio APOM/87 onde o

    conceito divulgado a uma audincia mais alargada incluindo professores

    queviriamautilizarcomdinmicaesta ferramentade trabalhoaexposioHistriaaoVivo:PropostasdeAnimaoCulturalsegundoaTcnicaLivingHistory, organizada pela APOM, de onde partiram uma srie de anteprojectos que viriam a realizarse primeira aco de Histria ao Vivo

    realizadapelaAPOM:UmDiadePrimaverade1537naRibeiradasNaus,

    realizadoem1988eporfim,comomeiodesistematizareregularasprticas

    ataqui realizadas,acomunicaodeMariaManuelaMota:OMuseueo

    Ensino da Histria3, que firmou esta tcnica de como ferramenta til na

    divulgao do patrimnio ao servio de escolas, museus, autarquias e do

    turismocultural.

    AHistriaaoVivoummtododidcticocomumacomponenteldicaque

    torna mais atractiva a assimilao dos conhecimentos que se pretende

    comunicar.

    Podemosconsiderarqueestatcnicadereconstituiodefactoshistricos

    queconciliaoldicoeodidcticonoumaestratgianovanosentidoem

    que foisendoutilizadaaolongodos temposcomfinsdistintos.Apreciemos,

    por exemplo, certas festividades religiosas (que perduraram atravs dos

    sculos), como a do Corpus Christi, que eram animadas com fingimentos,recorrendoafigurasquerepresentavamepisdiosbblicosquando,emcertos

    momentos,erampostasemaco tambmfigurasmitolgicasealegricas,

    onde o sagrado e o profano se confundiam. Estas personagens eram

    3MOTA,MariaManuela,OMuseueoEnsinodaHistria,IXEncontrodeProfessoresdeHistria (CaldasdaRainha,15,16e17deMaiode1991):Comunicaes,Produzidopor:PatrimnioHistricoGrupodeEstudos,GrficadaPonte,CaldasdaRainha,1995,pp.99109.

  • 7

    representadasporclrigosepelopovo:Desdemuitocedo,noentanto,queseentendeuestamanifestaoreligiosacomoumrepresentaoteatral,cujotemaseriaoTriunfodaFEucarsticasobreaheresia,ondetodososcrentespoderiam participar. Este facto foi muito bem aproveitado pelas massaspopulares catlicas que a transformaram no momento mais exuberante eextravagantedetodoocicloanualdasfestaslitrgicas.Aoparticiparnela,opovoaproximavasedirectamentedadivindade.Conviviamcomeladeformainteligvel, pois os ritos latinos das principais celebraes litrgicasprovocavamumcerto distanciamento entreDeus e os seus crentes.4 Noestar,tambmnestescasos,arecriaodeepisdiosbblicosaserutilizada

    como mtodo pedaggico recorrendo a uma vertente ldica para melhor

    entendimentoeproximidadecomessarealidadedosqueavivenciam?Posta

    aoserviodaigrejaaolongodesculos,empocasemqueoanalfabetismo

    no permitia ao grosso da populao ter conhecimento dos factos bblicos

    seno atravs da oralidade, das artes plsticas e deste tipo de

    representaesparateatrais,estatcnicadereconstituiodefactosmaisou

    menos ficcionados, foi um mtodo eficaz para a propaganda e ensino da

    religio catlica: A procisso, mais do que um momento de reflexo,assumiase, desde tempos remotos, como uma atraco, como umespectculo.(...)ParticipavamnelaaCmara,cidados,mesteresdacidade,membrosdocleroregularesecular,etc.,nofaltandoasdanas,invenes,autos,momices,truaniceseoutrasrepresentaes.5.Estas festas pblicas, cujas despesas eram suportadas em grande parte

    pelos concelhos, eram orientadas pelas autoridades eclesisticas, pelos

    representantesdosmesteres,pelosprincipaismembrosdosconcelhos,pelos

    poder poltico e associaes particulares. Toda a cidade semobilizava em

    funodeumespectculocujopalcoeraaprpriaruaeondeparticipavam

    todosospoderesdanao.

    MrioMartins nos seusEstudos deCulturaMedieval faz referncia a ummanuscritogtico,deautorannimo,datadode1435ondeseencontrauma

    4Tedim,JosManuel,ArteEfmeraemPortugal,Lisboa,FundaoCalousteGulbenkian,2000,p.218.

    5 Idem,p.217.

  • 8

    descrio dos aprestos para a festa do Corpus Christi em Alcobaaobservandoseapreocupaocomos trajeseadereosautilizardurantea

    cerimnia que passaremos a citar pela similaridade com os preparativos

    usuaisnumaactividadedeHistriaViva:Em1435,oabadedeAlcobaa,D.Estvo deAguiar, ordenou quea festa doCorpusChristi fosse celebradanum domingo e no numa quintafeira. Mandou comprar a Leiria todos osjogosdestinadosprocisso (...):quatrocarasdeanjos,diademaseasastrs caras de patriarcas, diademase cruzespara osmesmosuma crocha,barba e chave para S. Pedro onze cabeleiras de apstolos, barbas ediademas para eles, alm dos instrumentos do seu martrio uma cara dediabo,vestidosparaele,botaseumacadeiadeferroumasayaebotasdeoutrodiabopequenoumaserpente,etc.6,seguindoseadescriodafestaedaspersonagens:Naprocisso,viamseanjosvestidosdealvas,cintos,amitos e dalmticas, com as suas caras e diademas. Nas mos tinhamalades.Ospatriarcasiamcomalvasecintaseamitosemanpulos,levandoasestolaslanadaspersobraodirecto.S.Pedro,dechavenamoecomasbarbas,hir revistidode todo, comoquandoquerdizeramissa.Quantoaosmais apstolos, de alva, cinto e amito, lanavam omanto por sobre oladoesquerdo,deixandoadescobertoobraodireito.Ev todoscomseusmarteirosebarbasediademas.S.Pauloempunhavaaespada,(...)esteheoregimentodadictafesta,emaisoutrosjogosmuitosquehih,quenonsomaqui scriptos porque se mudam cada huum anno.7. Observamos que jexisteaquiumembriodeproduo,feitapeloabadedeAlcobaa,porque

    arecriaodecenasbblicas,ou,pelomenosdepersonagensdabblia,no

    acontecedeformaimprovisada.Constataseapreocupaoemencomendar

    os adereos que cada figura usar. Observase tambm que existe uma

    indstriaqueosfornece,emLeiria,eocuidadoeminovaraapresentaode

    muitosjogosdeanoparaano.

    6 Martins, Mrio, O teatro litrgico na Idade Mdia peninsular, Estudos de CulturaMedieval, Lisboa, Verbo, 1969, p. 24, (excerto retirado de PEREIRA, Gabriel, TrechosPortuguesesdossculosXIVeXV,BoletimdaSegundaClassedaAcademiadasCinciasdeLisboa,t.5(Coimbra,1912),pp.330332).

    7 Idem,p.2425.

  • 9

    Osprocedimentosparaaorganizaodestetipodeiniciativasapresentam

    se anlogas ao que nos nossos dias encontramos na preparao de uma

    recriao histrica, participada pela comunidade de uma determinada

    localidade.Tambmosobjectivosaquesepropemambasasiniciativasse

    cruzamnosentidoemquerecorremaformasldicascomfimdidctico.So

    umapelo e umamotivao ao conhecimento deumadeterminadamatria,

    atravsdeimagensvivas,atractivasequefacilmenteperduramnamemria

    dosqueasviveram.

    Consideramosqueorecursoaestatcnica,quedvidaafactospassados

    traduzidos numa apresentao a que podemos chamar recriao ou

    reconstituio dosmesmos, um recurso que ao longo de centenares de

    anostemvindoaserviranecessidadedeensinaredecomunicarfactos.

    Temos observado que, tambm em cinema documental, em certos

    programasde televisoaqueassistimos,porexemplodoCanalHistria,

    se recorre a uma prtica similar: a recriao de determinados momentos

    chaverepresentadosporactoresparailustrarfracesdopassadocomofim

    deostornarmaisacessveisaosespectadores.

    Estemeioaudiovisualtambmutilizadoemmuseus,monumentosestios

    museolgicos para ilustrar de forma permanente acontecimentos a eles

    associados,comoacontecenaFundaoBatalhadeAljubarrota,emque

    apresentadoumfilmeondeseobservaareconstituiodabatalhaem1385.

    Sabemos que este conceito se consolidou, tambm em outros pases do

    mundo, nomeadamente em Inglaterra, tendose desenvolvido e tomado

    diversas direces a partir da ideia inicial: servindo outras indstrias com

    objectivos ldicodidcticos como exemplo a venda, em lojas demuseus

    ingleses,franceseseitalianos,dejogos,rplicasdetrajesedeobjectosdas

    pocasqueasexposiesfocam,proporcionandoscrianasqueosvisitam

    a possibilidade de prolongareme de viveremem suas casas a informao

    colhidaduranteasuavisitaaomuseuoumonumento.

    A tcnica Living History um mtodo didctico para a divulgao eaprendizagem da Histria, da cultura, da memria de determinada poca

    numdadocontexto,comrecursoexpressodramtica,sem,noentanto,se

    tratardeteatroporquenosedefinemfalasrigorosas,emboraserecorraao

    usodoguioqueservedeorientaoaoimprovisodosactores/animadores

  • 10

    que encarnampersonagensdeumapocada formamais naturalpossvel,

    comosenelavivessem.

    Para a realizao de um projecto de Histria ao Vivo, necessrio, em

    primeirolugar,aescolhadeumtemacombasenumtestemunhodopassado:

    umapocahistrica,ummonumento,umapeadeummuseu,etc.,quese

    pretende dar a conhecer, dandolhe vida. Tal implica um longo perodo de

    investigao sobre o objecto a focar, demodoa animlo seguindo o rigor

    histricodequeestimbudo.

    Sepretendemosfocarumadeterminadapocahistrica,hqueescolhero

    localapropriadoaoperodoarecriar.Esselocaldeverser,omaispossvel,

    umcenriohistricoqueespelheessamesmapoca.

    Apsaescolhadotemaedolocalondeserealizaraaco,necessrio

    escolherapopulaoalvoaqueestasedestina.Definidosesteselementos

    primordiais,dseincioaummomentofundamentaldoprojecto:apesquisa

    histrica sobre a poca, o local, factos marcantes, costumes, figuras

    histricas,linguagem,vesturio,literatura,msica,jogos,objectos,materiais,

    alimentao tudo o que vir a servir para retratar com rigor a realidade

    dessetempo,numdeterminadolocaldeacordocomotemaadesenvolver.

    Realizadaa investigao inerenteaoprojecto seguesea organizaodo

    dossierqueservirdesuporteatodososparticipantes:actores,professores,

    alunos,etc.Essedocumentoescritopoderservirdebaseparaacriaode

    um catlogo que informe, documente e ilustre o que a aco pretende

    comunicar,paraqueosvisitantespossamtiraromaiorproveitodaquiloque

    consideramossersimilaraumaexposio temporria.Um instrumentoque

    conduzaopblicoequeperdureparautilizaesfuturas.

    Tratandose de trabalhos realizados para escolas, esta documentao,

    depois de organizada e adequada aos nveis de ensino que se pretende

    abranger,deverserentregueaosprofessoresenvolvidosparaquepossam

    preparar, na escola, os alunos que nela iro participar. Contudo, ser

    proveitosocriar tambmcadernosatractivoscom textos, jogose imagensa

    distribuirpelosalunos,empapelousuportedigital.

    Oobjectivo fazercomque todososparticipantes imirjamnoespritoda

    poca e do tema a explorar e se entusiasmem com o conhecimento dos

    mesmos.

  • 11

    Eisumbreveresumodumaprticaquevai,comoveremos,paraalmdo

    ensinodaHistria.aprendera revernascoisasanossa identidade, criar

    laos, sentir que nospertencemprovocandoo desejo deestar prximo, de

    nos envolvermos com elas e de as protegermos: A educao comoaprendizagempermanente,apartirdatransmissodossaberes,doexemploe da experincia, tem, por isso, um papel crescente e fundamental nocombatepelasociedadedecultura,pelaculturadapazepeladefesaesalvaguarda de um Patrimnio comum, da humanidade, dos povos e daspessoas. Seguindo o ensinamento de John Dewey, que o nosso AntnioSrgio cultivou, tratase de entender a formao cvica no como umaantecmaraparaavida,mascomoumavivnciaquotidianada liberdadeedaresponsabilidade,edalenta,gradualepermanenteconstruoeducativa(...).8 este desejo de salvaguarda de um patrimnio comum, que tambm o ensinoda cidadania baseada no conhecimento daHistria e da

    tradio, que se pretende estender atravs de laos de afecto, vivendoo,

    sentindooecompreendendoo.

    Odesenvolvimentodapresentedissertaono teriasidopossvelsemo

    contributopreciosodealgumaspessoasaquemmanifestamosdesdejtoda

    agratido:

    Aomeuorientador,ProfessorDoutorFernandoGrilo,pelosensinamentos,

    peloestmulo,motivaoeapoionaexploraodestetema

    Dra.MariaManuelaMotaque nosofereceuo seuarquivo de longose

    copiososanosde trabalho,sabedoriaededicaomuseologiaeprtica

    daHistriaaoVivo,epeloapoiogentileesclarecidoduranteasconversas

    quecomplementaramasdvidasentretantosurgidas

    Dra.PaulaBrciaquenoscedeuumconjuntopreciosodedocumentos

    editados e inditos, bem como longos momentos de conversa onde,

    generosamente, partilhou com detalhe o seu conhecimento profundo e as

    mltiplasexperinciasvividasatravsdoGrupodeTrabalhodoMinistrioda

    EducaoparaaComissodosDescobrimentosPortugueses

    8MARTINS,GuilhermedOliveira,Patrimnio,HeranaeMemriaAculturacomocriao,Gradiva,Lisboa,2009,p.17.

  • 12

    Dra. Edite Alberto que gentilmente nos concedeu uma entrevista e

    matriasescritassobreasuaexperinciade20anos,desdeque fundouo

    ServiodeAnimaoePedagogiadoMuseudaCidadeataopresente

    Ao Dr. Joo Neto que nos acolheu e transmitiu com entusiasmo

    experincias, conhecimentos e prticas desenvolvidas no Museu de

    Farmcia, pelo qual responsvel, para a comunicao com os diversos

    pblicos,quealiserealizaatravsdemtodosdiversoseoriginais

    AoCarlosCoxo,pelashorasdeconversaquenosconcedeusobreasua

    experincia desde que comeou a trabalhar como animador cultural no

    Palcio Nacional de Queluz, at formao e desenvolvimento da sua

    empresa Cmara dos Ofcios, j com um vasto curriculum em recriaohistrica

    A todos os amigos que ao longo destes trs anos de trabalho por ele

    indagarameseinteressaram,contribuindocomasuatopreciosaamizade

    A toda aminha famlia, comdestaque para osmeus pais, para aminha

    irm,paraoPaulo,eparaosmeusfilhos,AnaseBernardo,pelashorasem

    que estive ausente, pela pacincia, dedicao e afecto, sem os quais no

    teriasidopossvelaconcretizaodestetrabalho.

    Atodososmeusagradecimentossinceros.

    Por uma questo de espao e de clareza de apresentao, decidimos

    estruturaropresenteestudoemdoisvolumes, sendooprimeiroconstitudo

    pelo texto crtico e o segundo formado pelos Apndices Documental e

    Fotogrfico.

    O Apndice Documental engloba 32 documentos sendo o ltimo em

    suporteaudiovisual.Todoselesserelacionameilustramostemasexpostos

    no texto crtico o Apndice Fotogrfico apresenta 29 figuras ordenadas e

    numeradas sequencialmente, cada um delas ilustrando um determinado

    aspectodescrito.

  • 13

    I. DagnesedoconceitosuaintroduoemPortugal

    Durante o tempo de pesquisa para a realizao do presente trabalho

    constatmosquetantoemPortugalcomoemInglaterraeAmricadoNorte,

    a informao sobre esta matria se encontrava muito dispersa e de difcil

    acesso nos primeiros anos em que se comearam a praticar aces de

    recriaohistrica.Apartirdosanos90dosculoXX,tantonoReinoUnido

    comnosEstadosUnidosa tcnicadeLivingHistoryencontrouumlugarnomeiomuseolgicoealiceraresfirmesparaaconsolidaodoconceito.

    Senoinciomuitasdaspublicaesexistenteseramdistribudasemmeios

    privados ou editadas por pequenas editoras que faziam uma distribuio

    restrita dos poucos exemplares impressos, hoje em dia o acesso

    bibliografia sobre o tema, fora de Portugal, facilmente alcanvel

    inclusivamenteatravsdesitescomoodoEnglishHeritage9 quesededicaintensamente a esta matria. Desde livros muito especficos sobre

    alimentao e receitas, passando por publicaes sobre stios histricos

    como castelos, palcios e legados arqueolgicos de Inglaterra, at vida

    comum em diferentes pocas, encontramse com facilidade textos escritos

    por investigadoresehistoriadores ingleses,acessveis tantoparaa infncia

    como para leitores adultos, existindo tambm uma oferta diversificada de

    publicaesparaodesenvolvimentodeprojectosderecriaohistrica.

    Em Portugal no se observa o mesmo desenvolvimento em termos de

    materiaiseditados.

    Houve, durante os primeiros dez anos de Histria ao Vivo em Portugal,

    algumas edies resultantes depesquisasmuito completas e inovadoras10,

    9Cf. http://www.englishheritage.org.uk/

    10SoexemplodepublicaespeloGrupodeTrabalhodoMinistriodaEducaoparaasComemoraes dos Descobrimentos Portugueses as que passamos amencionar: AA.VV.(Coord.PROENA,MariaCndida,PINTO,MariaJos),AEscolaeosDescobrimentosHistria Local, Grupo de Trabalho Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,1991.BRCIA,Paula,BasPedaggicos:UtilizaoeContedo, Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentos Portugueses, Editorial do Ministrio da Educao, s.d. BRCIA, Paula,ManualdeHistriaaoVivo,MinistriodaEducao,Lisboa,1990.BRCIA,Paula,MOTA,MariaManuela,VIANA,Teresa,APropsitodoSculoXVI,GrupodeTrabalhodoMinistrioda Educao para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1989.BRCIA, Paula, Brites e Joane vo de Aventura na Corte de D. Manuel, Editorial Vega,1991.BRCIA,Paula,BriteseJoanevodeAventuraemS.Tom,GrupodeTrabalhodo

    http://www.english-heritage.org.uk/

  • 14

    sobretudo sob a alada do Grupo de Trabalho doMinistrio da Educao

    paraasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses11,emboraoutros

    MinistriodaEducaoparaasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,1996.BRCIA,Paula,BriteseJoanevodeAventuraemMacau,GrupodeTrabalhodoMinistriodaEducaoparaasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,2000. BRCIA, Paula, Histria ao Vivo, Forma: Sobre os DescobrimentosPortugueses,n36,DirecoGeraldeExtensoEducativaPublicaoparaformadoreseanimadores/monitores,EditorialdoMinistriodaEducao,Algueiro,Marode1990,pp.27,28. BRCIA, Paula, Lisboa BeiraRio Quatro Percursos para Descobrir a Lisboa doPassado, Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentos Portugueses, Lisboa, 1998. BRCIA, Paula,Manual de Histria ao Vivo,Terramar e Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,1990.BRCIA,Paula,COELHO,Paula,MOTA,MariaManuela, (Reviso cientfica:CRUZ,MariaAugustaLima),APropsito daEmbaixada dosMeninos Japoneses Europa e da sua Passagem Por Portugal (Seleco de Textos) DocumentaodeApoioaoProjectodeHistriaaoVivorealizadonoPalcioNacionaldaVila,emSintra,emMaio/Junhode1993,GrupodeTrabalhodoMinistriodaEducaoparaasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,1993.GrupodeTrabalhodoMinistrio da Educao para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, AEscola e os Descobrimentos, Dossiers, Publimdia, Suplemento para distribuio com oExpresso,Lisboa,11deJaneirode1992.

    11 O Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentos Portugueses foi institucionalizado atravs do despacho conjunto n.15/ME/MAJ/89,de17deFevereirode1989noseguimentodaformaodeumacomissoquehaviasido institudaem14deJaneirode1988parapromoverascomemoraesdosdescobrimentos portugueses nos ensinos bsico e secundrio:Comisso doMinistrio daEducaoparaasComemoraesdosDescobrimentosPortugueses.RelativamenteaestaComisso, com a formao doGrupo de Trabalho registaramse alteraes significativas:(...)Primeiro, amudana oficial do nome segundo, nos considerandos estabelecese, deformaclara,queaespecificidadeeaimportnciadosectordaeducaoedasactividadesa desenvolver no mbito das Comemoraes dos 500 Anos dos DescobrimentosPortuguesesjustificamaexistnciadeumaestruturaautnoma(...).OGrupodeTrabalhocontinuaafuncionarnasinstalaesdaDirecoGeraldoEnsinoBsicoeSecundrioeadependerem termos logsticose financeirosda estruturadesteorganismo.MasdespachadirectamentecomoSecretriodeEstadodaReformaEducativa.AcomposiodoGrupodeTrabalhoalterada(...),ficandoassimconstitudo:LusAlbuquerque(presidente)ArturTeodorodeMatos(vicepresidente)MariadeFtimaBorges(secretriaexecutiva)AntnioAlvesFerronhaIsabelAladaMariaAugustaLimaCruzMariaCndidaProenaMariaJosPintoRuiLoureiroMariaAdliaGomesRibeiroExceptoasecretriaexecutiva,todososmembrosdoGrupodeTrabalhodesempenhamo

    cargoemacumulaocomassuasactividadesprofissionaiseemtempoparcial.Foicriadoumsecretariado,comprofessoresdestacadosefuncionriosdaadministrao,paraapoiararealizao de projectos (...), In:AA.VV. (Coord.CRUZ,MariaAugusta Lima, JOO,MariaIsabel), A Escola e os Descobrimentos Sntese e Balano das Comemoraes (19882000), Grupo de Trabalho do Ministrio da Educao para as Comemoraes dosDescobrimentosPortugueses,Lisboa,2001,p.21.Conforme anunciado na Nota de Abertura da referida obra (Idem,p.11), o Grupo de

    Trabalhocessouassuasfunesem31deAgostode2001.

  • 15

    deigualvalornotenhamsidopublicadosmasapenasdistribudosemmeios

    privados.ExistemtambmpublicaesdaAPOM,nomeadamentenombito

    de colquios e conferncias realizados (Dra. Manuela Mota), onde ficaram

    registadososprincpiostericosdatcnicadeHistriaaoVivo12.

    Passada essa fase inicial, de dez anos sensivelmente, a matria terica

    sobre o tema deixou de existir, ou se existe alguma, foi mais uma vez

    distribudaemmeiosmuitorestritosaosquaisnotivemosacesso.

    Paraarealizaodestetrabalho,noqueserefereaPortugal,basemonos

    emdocumentosoriginaisdosarquivospessoaisdeMariaManuelaMotaede

    PaulaBrcia,livrosnoeditados,dossiersdocumentais,filmesemvdeoque

    nosforamgentilmentecedidospelasprincipaismentorasdaHistriaaoVivo

    emPortugalDra.ManuelaMotaeDra.PaulaBrcia,ementrevistasque

    nos concederam, na escassa documentao impressa existente, na nossa

    experinciadecercadedezoitoanosatrabalharnestarea(tantonoPalcio

    NacionaldeQueluzcomoparaoutrasentidadesmuseolgicaseautarquias)

    eeminformaorecolhidaatravsdeentrevistasrealizadasadinamizadores

    de aces de recriao histrica e de muselogos que tm ou tiveram

    contactocomoconceitoesuaevoluo.Recorremostambminformao

    disponvelnaInternet.

    12 Quanto ao trabalho desenvolvido pela APOM, enunciamos as principais publicaes:AssociaoPortuguesa deMuseologia, Actas doColquioAPOM/86 Viver oPassado:MuseuseMonumentosaoserviodaComunidade,Faro,14deMaio1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril 3deMaio1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,Catlogo da Exposio: Histria ao Vivo: Propostas de Animao Cultural Segundo aTcnica Living History, 8 vols., APOM, Lisboa, 1987 Associao Portuguesa deMuseologia, Catlogo da Exposio: O Palcio de Esti: Vspera da Inaugurao dosJardins do Palcio 30 de Abril 1909, APOM, Lisboa, 1987 Associao Portuguesa deMuseologia,CatlogodaExposio:UmaPovoaoRural:CelebraodoMaioemSantaBrbaradeNexe,APOM,Lisboa,1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,Catlogoda Exposio: Ns e os Romanos: Um Dia na Vila Romana de Milreu, Esti, Algarve,APOM,Lisboa,1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,CatlogodaExposio:Faro1573:OPovoRecebeoRei,APOM,Lisboa,1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,Catlogo da Exposio: OCastelo de S. Filipe Depois da Reconquista, 1640, Setbal,APOM, Lisboa, 1987 Associao Portuguesa de Museologia, Catlogo da Exposio:AcordarHistriaAdormecida:MuseudaFundaoRicardoEspritoSantoeSilva,APOM,Lisboa,1987AssociaoPortuguesadeMuseologia,CatlogodaExposio:UmAtaquedeCorsriosaoFunchal,APOM,Lisboa,1987.tambmdesalientaracomunicaodeMariaManuelaMotaondesoenunciadosos

    traosbasilaresparaofuncionamentoedilogoprofcuosentreoMuseueaEscola:MOTA,MariaManuela,OMuseueoEnsinodaHistria,IXEncontrodeProfessoresdeHistria(CaldasdaRainha,15,16e17deMaiode1991):Comunicaes,Produzidopor:PatrimnioHistricoGrupodeEstudos,GrficadaPonte,CaldasdaRainha,1995,pp.99109.

  • 16

    NorespeitanterealidadesobreestaprticaforadePortugalexiste,como

    j referimos, muita bibliografia editada sobre os diversos temas que o

    conceitoengloba,comfinstericoseprticos.

    Para o desenvolvimento deste primeiro ponto do trabalho foinos

    fundamental o apoio da Historical Management Associates, Ltd., que nos

    envioude Inglaterrao livro20YearsofLivingHistory inBritain13,esgotadonospostosdevenda,equenoscomunicaramporescritototaldisponibilidade

    paranosdartodasasinformaes,passadaserecentes,sobreotema.

    Atravsdesta obra pudemos ler depoimentos de vrios especialistas que

    estiveram envolvidos na introduo e consolidao da Living History comoprticamuseolgicanoReinoUnido.Paracomplementarestainformaode

    base, consultmos outras edies inglesas, nomeadamente do English

    Heritage, como Living History Reconstructing the PastWith Children14 eumasriedesitesdainternetondenospodemosinteirardodesenvolvimentoedasprticasactuaisemtornodestamatria.

    Assim pudemos recolher informao sobre Living History em Inglaterra,ondesurgiuoconceito,eemPortugal,nossoobjectodeestudocomofimde

    reunir e sistematizar o percurso aqui realizado. No decorrer do trabalho

    sentimos a necessidade de nos aproximarmos das prticas e orientaes

    seguidasnosEstadosUnidosdaAmrica,umavezqueabibliografiainglesa

    remetemuitasvezesparaodesenvolvimentodestatcnicaalipraticada.

    No nos alargmos por outros territrios do mundo para no nos

    dispersarmos em relao ao nosso tema central: a Histria ao Vivo e a

    Recriao Histrica em Portugal, mas ficmos cientes de que esta prtica

    est presente um pouco por toda a Europa, continente americano,

    nomeadamente, com grande desenvolvimento, no Canad e tambm na

    Austrlia.

    13 PEACHEY, Stuart, 20 Years of Living History in Britain, Stuart Press HistoricalManagementAssociates,Ltd.,Bristol,1997.

    14 FAIRCLOUGH, John, REDSELL, Patrick, Living History Reconstructing the Past withChildren,EnglishHeritage,HistoricBuildings&MonumentsCommissionforEngland,1985.

  • 17

    I.1.HistriaaoVivoemqueconsiste

    AHistriaVivarecorreaotrabalhodeactores/animadoresformadosparao

    efeitoobrigadosaoestudodospersonagensqueirodesempenhar,atravs

    dolivrooudossierquerenetodaainformaorecolhidaduranteafasede

    pesquisa, mas tambm assente num guio, em que no se definem falas

    rigorosas, pois no se trata de representar mas sim de improvisar

    encarnando personagens de uma poca da forma mais natural possvel.

    Assim, este guio menciona horrios de tarefas caractersticas das

    personagens,hbitosealinguagemdotempoaretratar.

    Consoante as figuras que se pretende recriar, haver lugar a uma

    distribuio de papis pelos actores. A entidade organizadora dever

    colaborarnaconstruodospersonagenseverificarainterpretaodecada

    actordemodoaqueoseudesempenhocorrespondaomaispossvelfigura

    que representar.Porse tratardeum trabalhode improvisao,osactores

    tmdeestarmuitobemdocumentadosecapazesderepresentarumapoca

    cujos costumes, linguagem, gestos, somuito prprios e diversos daquela

    emquevivem.

    NosprimeirosanosdasuaintroduoemPortugal,defendiasequenuma

    aco de Histria ao Vivo no existia pblico por no se tratar de um

    espectculoquemassistiateriadesevestireencarnarumpersonagemda

    pocaretratada.Passadosmaisdevinteanos,tendotrabalhadoestatcnica

    com diversos tipos de populao alvo, consideramos que uma aco de

    HistriaVivaouderecriaopodeatingirosresultadospretendidostantono

    casodesedestinaraumdeterminadopblicoqueassistecomonocasode

    todos os participantes terem de entrar na poca reproduzida, encarnando

    umafigura.

    Imaginemos que numa visita guiada aoMuseu da Cidade, um grupo de

    alunos,aopassarpelacozinhasurpreendidocomumaconversadecriados

    (do sculo XVIII) que ilustra e acrescenta informao do guia que os

    conduz pelos espaos. Ou que numa das salas representativas do sculo

    XVI, se encontra umgrupo demsicos, vestidos poca, que interpreta a

    obraPuestosEstanFrenteaFrente,ououtramsicadessetempo.

  • 18

    Consideramos que estes pequenos apontamentos de animao tambm

    soumaformadeHistriaViva,aqueopblicopodeteracessodemodoa

    que lhe sejam transmitidos conhecimentos sobre o vesturio, linguagem,

    gestos, msica, etc., sem que participem activamente na aco. Estando

    essesquadrosanimadosbemintegradosnoespaoenodiscursodoguiado

    museu, so uma espcie de miragem, ou sonho que ali se concretiza de

    modo a dar vida a um determinado momento ou dado histrico. Esta

    ilustraovivavem,semdvida,firmarnamemriadessepblico,atravsde

    imagens, os conhecimentos transmitidos pelo monitor do museu ou pelos

    textosdomanualescolar.Este tipodeanimaocombasenaHistria,no

    deixadeserenriquecedoraparaosvisitantesdaexposio,apesardenoa

    integrarem como personagens, e tornasemais vivel para as escolas por

    noexigirumapreparaoprviatocomplexacomoacontecianasaces

    de Histria ao Vivo (segundo os preceitos originais) em que cada aluno

    encarnavaumpersonagem.

    Tendo conhecimento das dificuldades em financiar aces de grande

    envergadura comoas realizadas pelaAPOMe peloGrupo deTrabalhodo

    Ministrio da Educao para as Comemoraes dos Descobrimentos

    Portugueses, em que necessrio pagar a animadores (actores, msicos,

    bailarinos,etc.)construiradereoseoutroselementoscenogrficos,guarda

    roupa,consideramos,actualmente,maisexequvelparaummuseupromover

    actividades comquadros vivos15 que envolvam poucos recursos humanos.

    15 Empregamos,nodecorrerdeste trabalho,adesignao quadrosvivos referindonosrecriaodecenashistricascomrecursodramatizao,combaseempesquisarealizadaapartirdetextosepinturasdapocaarecriar.Oconceitode tableauxvivants,muitocomumnossculosXVIIIeXIX, teveorigemna

    prticadereconstituiocomrecursoaodrama,emqueumaoumaispessoasimitavamosgestos e modos de vestir de forma a reproduzir determinadas cenas ou personagenshistricas,literriasoupictricas,mantendoseestticasdurantealgunssegundos.EmfinaisdosculoXVIII,nopalciorealdeVersalhes,MadamedeGenlis(gouverneurdosfilhosdoDuquedeOrlees),encenoualgunstableauxvivantsapartirdepinturasdeJacquesLouisDavid. O objectivo destas dramatizaes no se resumia ao divertimento mas serviasobretudoaeducareinformar.O recurso tcnica dos tableauxvivantsmantmse activa nos nossos dias. Ludovica

    Rambeli,em2008,levoucenanoMalatheatre,emNpoles,umespectculocomduraode 40 minutos intitulado Caravaggio XXI, em que um grupo de actores reproduziu 21quadrosvivosapartirde21pinturasdeMichelangeloMerisidaCaravaggio:Ashowoflargevisual impact, that puts on the stage a lot Caravaggio paints, with the tableaux vivantstechnology.TheMalatheatrecompany,betweenlightanddarkness,giveslifetothemodelsofroadandtothesubjectsofthedamnedgenius.ThemostattractiveworksofMichelangeloMerisifromCaravaggiorealizedundertheeyesoftheonlookers,usingthetableauxvivants

  • 19

    Noentantonodeixamosdeconsiderarasrecriaesdegrandesdimenses

    muitovaliosasepraticveis,tendoemcontaquesepodempromovercoma

    colaboraodevriasentidades,numacooperaoentremuseus,Cmaras

    Municipais, Juntas de Freguesia, escolas e comunidade local, recorrendo

    tambm a patrocinadores, uma vez que estas aces requerem um longo

    perododepreparaoincluindotodooprocessodesensibilizaojuntodas

    diversas entidades envolvidas, investigao e elaborao de dossiers

    documentais,construodeguardaroupa,etc.,oquesetraduznumelevado

    investimentotemporalematerial.

    Temos,hojeemdia,outrasvertentesdeanimaohistricadecorrentesda

    introduo da tcnica de Histria ao Vivo em Portugal. Referimonos por

    exemplosconhecidasFeirasMedievais,queobrigamaumamobilizaode

    todaacomunidadedacidadeondeserealizam,eemqueoprocessodesde

    aideiainicialataodiadaacofinal,podeocuparvriosmesesdeumano,

    nasuapreparao.

    Hoje em dia, ao contrrio do que se fazia nos primeiros anos em que o

    conceito foraintroduzidoemPortugal,existepblicoqueassistesemterde

    encarnarumafiguradepocaparapoderparticiparnaaco,comoacontece

    navisitaaumaexposio.Deummodogeralacidade,praa,monumento

    ououtroespaoondeserealizeaaco,estabertoatodososquequeiram

    conhecerumpoucomaissobreapocaemqueaquelelegadohistricofora

    construdoevividonasuaorigem.

    Todavia, como meio de transmisso e de comunicao da Histria

    destinada ao pblico escolar, a Histria ao Vivo utilizada em projectos de

    grandes dimenses como a recriao de feiras de poca, leva a um

    technology.With littlematerialsandsimpleobjects, theactorsof theMalatheatrecompany,under thedirectionofLudovicaRambelli, give life to themodelsof roadand to thesacredsubjects and profanes immortalized from the large genius damned of the art. Betweenatmospheresof lightsandmusic, theproductionof themodels inposeculminateswith thecreative instantof the lastaccomplishmentofeverypainting, it iscomposedunder the lookkidnapped of the onlookers, that participate to the event andwork in the space, choosingwhateverpointof viewallow themtopick themetamorphosisof theplots caravaggeschefrompainttopaint.,In:http://.metacafe.com/watch/2309000/caravaggio_xxi_21_tableaux_vivants_from_paintings_of_michelangelo_merisi_da_caravaggio/(cf.:http://www.malatheatre.com/).Adefinio(hist.)doOxfordEnglishDictionaryparatableauxvivantsaseguinte:figuresposed,silentandimmobile,fortwentyandthirtyseconds,inimitationofwellknownWorksofartordramaticscenesfromhistoryandliterature..

    http://.metacafe.com/watch/2309000/caravaggio_xxi_21_tableaux_vivants_from_paintings_of_michelangelo_merisi_da_caravaggio/http://www.malatheatre.com/

  • 20

    conhecimentomaisaprofundadoquandoosestudantesso levadosaviver

    essa poca como participantes na mesma, sendo o espao onde esta se

    realiza, vedado aos que no encarnem personagens do tempo retratado,

    comoaconteceuporexemplonumdosgrandesprojectosdeHistriaaoVivo

    promovido pela APOM: ...e outra vez conquistemos a distncia, que

    assentousobreotemadosdescobrimentoscomarecriaodasvsperasda

    partida de uma armada para a ndia, realizado na Ribeira das Naus, que

    iremosdescreveradiante.

    MasaHistriaViva,hojeemdia,nosedestinaapenasaopblicoescolar,

    tambm uma forma eficaz de promover o turismo cultural de uma

    determinada regio. E nestes casos tornase muito difcil fazer com que o

    pblicoparticipesemserapenasvisitanteobservador.

    Sobo nossoponto de vista, ao longo dosanos quedecorreramdesdea

    introduo desta tcnica de divulgao dopatrimnio at hoje, houve uma

    evoluoecriaramsenovospblicosinteressadosneste tipodeproduto.O

    quenoimplicaque,nestanovaformaderecriareviveraHistria,seesteja

    a corromper o conceito inicialmente defendido. O que se mantm

    fundamental o rigor histrico que tem de ser respeitado na realizao e

    concretizaodosprojectos.Comefeito,estatcnicadetrabalharaHistria

    foi, desde o incio, bem sucedida, tendo vindo a ser solicitada para um

    nmerodesituaescadavezmaisamplo,demodoaterdeseadaptars

    necessidadesdaquelesqueapromovemequedelausufruem.

    Comesta prticamantemosViva aHistria e oPatrimnio, tantas vezes

    ignoradoseolvidados.Eladadaaconhecerde forma ldicaeaoalcance

    dosmaisdiversospblicosindependentementedograudeconhecimentoou

    nvel cultural dos que dela usufruem ou que com ela aprendem a amar e

    respeitaramemriaculturaletradiesdeumpovooudeumaregio,oude

    umstiohistricoquaseesquecido.

    AHistriaaoVivo,a recriaohistrica,aanimaohistrica,so formas

    de traduode factosde tempospassados, tornandoosacessveisa todos

    ostiposdepblicos,mesmoaosquedizemnogostardeHistria.

  • 21

    I.2.As origensdo conceito:ondesurgiu, emquecircunstncias, com

    quemotivaes

    IntheearlydaysofhistoricalreenactmentandLivingHistory inBritainaGreatdealofresearchwasundertakenbymanyintelligentpeople. A considerable number moved onafterafewyearstootherinterestsandtheirknowledgewaslostwiththem.16

    Antes de passarmos ao desenvolvimento do tema proposto neste ponto,

    sentimosanecessidadedefazeralgumasconsideraessobreovocabulrio

    especficoutilizadopelosinglesesenorteamericanos,cujatransposiopara

    o portugus pode gerar dificuldades por no se encontrar uma traduo

    exactaparaalgumasdasdesignaes.

    Na bibliografia tanto proveniente de Inglaterra como dos Estados Unidos

    so usados termos como reenactor, reenactment, firstpersonhistoricalinterpretation,roleplay,quesurgemrecorrentementeassociadosLivingHistory.Otermoreenactorusadoparareferiroactor/animadorqueinterpreta

    aces passadas durante acontecimentos reais, ou que encarna no tempo

    presenteavidadealgumdeoutrapoca,comoseestivesseavivernessa

    mesmapoca. Reenactment o acto deencarnar umapersonagemdopassado,vivendoo.

    Quando se fala emfirstperson interpretation ou firstperson historicalinterpretation estse a designar a aco no sentido teatral em que oactor/animador vive um tempo passado como se da sua vida se tratasse,

    falando na primeira pessoa. Este intrprete da histria tem como objectivo

    primeiroode informaropblicoacercadavidanoutraspocas,atravsda

    demonstrao e daexposio, encarnandoumpersonagemdomodomais

    autnticopossvel.Estadesignaoestdirectamenteligadacomumaoutra:

    thirdpersoninterpretation,igualmenteutilizadaparacomunicaropassado

    16PeacheyStuart,20YearsofLivingHistoryinBritain,StuartPressHistoricalManagementAssociates,Ltd.,Bristol,1997,p.19.

  • 22

    em aces de reconstituio histrica: The twomajor types of interactiveliving history interpretation are firstperson and thirdperson. Thirdpersoninterpretationisthemostcommonformofinterpretervisitorinteraction.Usingthis method, interpreters, often dressed in period attire, describe,demonstrate, illustrate, and compare their subject in ways that effectivelycommunicate its meaning to visitors. Interpreters refer to the past as thepast..17

    Roleplay referese aco dos que praticam a recriao histricaencarnando personagens: In the prototypical form of interactive historicalroleplay, interpreters recreate the daily activities, thoughts, and behavior ofreal (or composite) historical people.Presentationsmay be spontaneous orbuiltaroundscenarios,themes,orspecificevents..18

    Comosepodeobservartodosestestermossecruzamparadefiniraaco

    de reproduzir personagens e circunstncias passadas, em que os

    actores/animadoresassumemumaoutravidaduranteo tempodarecriao

    histrica deuma forma to real quanto nos permitido recriar atravsdas

    fontes e estudos da Histria, sendo alguns deles sinnimos: Themethodfeaturedinthisbookisrecognizedbyseveralnamesamonginterpreters:firstperson interpretation, roleplaying, and character interpretation. All referinterchangeably to the same style. Interactive historical characterinterpretation and Interactive historical roleplay (or roleplaying) areadditional synonyms, personally concocted but descriptively literal.Incidentally, these termsarevirtuallyunknown to thepressandpublic,whofrequently refer to character interpreters as actors, actorhistorians, orguides..19

    Nalnguaportuguesanotemospalavrasouexpressesquetraduzamdo

    ingls directamente estas designaes. Assim, optmos por usar as

    expresses actor/animador para nos referirmos a reenactor, ao longo

    17 ROTH, Stacy F., Past into Present Effective Techniques for FirstPerson HistoricalInterpretation,TheUniversityofNorthCarolinaPress,ChapelHill&London,USA,1998.pp.1113.

    18 Idem,p.13.

    19 Ibidem.

  • 23

    deste captuloonde descritaa origemda tcnica e do conceitodaLivingHistory.ArecriaohistricaemInglaterracomeouacidentalmentenosanos60do

    sculoXX,comacriaodeumapeapublicitriaparaolanamentodeum

    livro de Peter Young sobre a guerra civil inglesa. Partindo desta ideia, a

    RoundheadAssociationeaKingsArmyintheWestficarammotivadaspelo

    desejo de recriar, comexactido, eventos histricos recorrendo actuao

    de personagens vestidas com trajes de poca, incidindo, inicialmente,

    sobretudonossculosXVIeXVII.

    OelementoprincipaldaRoundheadAssociation,queincentivouoarranque

    destaprticafoioDr.CharlesKightlyque,em1976,desafiouosproprietrios

    deDonningtonHall,emLinclnshireacederemasuamansoparaarecriao

    deumabatalha.Nodecorrerdeumaprimeirareuniohouveosentimentode

    que retratar uma batalha se tornava um tema um pouco limitado e, pelo

    desejoderealizaremumtrabalhocomumnvelaprofundadodeinvestigao,

    resolveram reconstituir o quotidiano de uma dada poca (sculo XVII)

    naquela herdade, onde entrariam todos os membros da famlia da casa

    senhorialnasuaorigem.Assim,aideiainicialdereconstituirumabatalhafoi

    postadelado.

    Durante o desenrolar do processo foi necessrio criar uma organizao

    onde fossem centradas todas as questes prticas exigidas para

    concretizaodoprojecto,nomeadamenteaaberturadeumacontabancria,

    oqueconduziuformaodaThePracticalHistorySociety.

    Foram construdas rplicas de engenhos e materiais com base numa

    cuidada pesquisa baseada emmanuais de agricultura para a reconstruo

    dospostosondeserecuperaramequipamentosruraiscomoofornodopo.

    Este grupo tinha umconhecimento vago deque j se tinha feito algo do

    gneroemWilliamsburg,nosEstadosUnidos,contudooconceito inicialdeLivingHistory teveasuaorigemem Inglaterra,em1977e1978quandoosJarvises disponibilizaram a sua casa senhorial e toda a propriedade em

    redor.

    Aprimeiraacodecorreuduranteumasemanaeestevedisponvelpara

    escolasnosdiasteiseparaopblicoemgeralduranteo fimdesemana.

    Participaram cerca de 500 a 600 crianas por dia, entrando divididos em

  • 24

    grupos de 20/30 participantes. Estes pequenos grupos eram recebidos

    entrada por um actor/animador (reenactor) que encarnava o papel de um

    dosmembrosda famlia (interpretaonaprimeirapessoa).Nestaalturaos

    alunos ainda no tinham acesso ao que se passava no interior murado,

    sendoento conduzidospor umguia que os fazia recuar no tempoat ao

    ambiente do sculo XVII, e que os levava a seguir um percurso onde se

    encontravam15postosdinamizadospor80actores/animadores.Estaaco

    foiconseguidacomsucessopelaRoundheadAssociationtendosecumprido

    o objectivo de comunicar aos visitantes a vida humilde dos agricultores e

    camponesesdesetecentosnaquelaregio.

    O pblico do fimdesemana entrava livremente no recinto, sem visita

    guiada.Osmentoresdoprojecto fizeramestaopoconsiderandoqueno

    haveria muita afluncia de visitantes num lugar remoto e pouco povoado

    comoLincolnshire.Mas, ao contrrio doesperado,motivados pelos relatos

    entusiastasdascrianasquetinhampercorridooespaoduranteasemana,

    vieramcercade4000visitantesaolocal.

    Em 1978 repetiuse a experincia emDonnington, seguida de uma outra

    emKentwellHall,emSuffolk,ondeparticiparam150performers.Partidodestesprojectospioneiros,diversas ideiassurgiramnosentidode

    secomprarerestaurarumaquintaabandonadaemLincolnshire,adaptando

    aparaa recriaodeoutrosperodosdahistria, contudoestas ideiasno

    foramavanteporfaltadeapoiodogoverno.Smaistardealgunsdelesforam

    postosemprticapororganizaesqueseforamconstituindonosentidode

    implementaroconceitodeLivingHistory.Em 1980 realizouse uma outra aco na propriedade de Littlecote, em

    Wiltshire, recriando a vida rural de setecentos. O evento teve um enorme

    sucessoerepetiusenosdoisanosqueseseguiram.

    Em 1985, pelas comemoraes do 300 aniversrio da rebelio de

    Monmouth, foramconstrudosumaaldeiaeumacampamentonas terrasde

    Royal Bath para a reconstituio do facto histrico tanto na sua vertente

    blicacomodavidadopovoaotempodarebelio.Duranteos5diasemque

    decorreuaaco,passarampelaaldeia20000visitantes.

    Outros eventos comemorativos se seguiram, assentes no novo conceito,

    incluindo as celebraes da Armada em Littlecote e Basing, tendose

  • 25

    integrado aqui as comemoraes dos300 anos daGloriousRevolution em

    GuildhallSquare,emLondres.

    A partir desta altura realizaramse inmeros eventos por todo o pas, em

    propriedadesdoEnglishHeritage,comoaindahojeacontece.

    Algunsdoselementosqueparticiparamnosprimeirosprojectospostosem

    prtica consideram que em certos casos as aces de Living Historydegeneraramparaumentretenimentosobreumtemahistrico.Masaindah

    entidadescapazesdeosexecutarcomorigordesejado.

    Em1984,emGosport,numvalecomumbosquedeantigoscarvalhos,foi

    construda uma aldeola efmera propositadamente para se accionarem

    projectos de recriao histrica durante dois anos. Para estas aces, os

    voluntrioslocaisreceberamformaonosentidodenelasparticiparemede,

    posteriormente,daremcontinuidadeaactividadesdestegnero.

    Este conceito foi continuado noutras localidades rurais, onde se foram

    realizando aces inspiradas nestas primeiras, abordando a vida rural dos

    sculosXVIeXVII.

    Osgruposescolares,aolongodopercursodelineadoemcadaumadelas,

    visitavameparticipavamnastarefasdosdiversosncleosqueabordavamos

    vriosaspectosdavidaruralnessaspocas:osofcios,ocultivodeplantas,

    o tratamento dos animais e a confeco de trs refeies que eram

    preparadasedistribudasaolongodecadadia.

    MuitosdestesprojectospostosemprticanosprimrdiosdaLivingHistoryem Inglaterra eram dinamizados por voluntrios que recebiam formao

    atravsdeseminriossobreasmaisdiversasreasadesenvolver:desdeos

    hbitos da poca at confeco de guardaroupa e calado para os

    eventos. Os seusmentores eram habitualmente historiadores empenhados

    emrevitalizarointeressepeloconhecimentoeestudodaHistria,bemcomo

    portradieseaspectosculturaisextintos.Maistarde,comeouseasolicitar

    a prestao de actores/animadores profissionais para encarnar os

    personagensnestasaces.

    Foramfeitasexperinciasemqueopblicoentravalivrementenosrecintos

    eoutrasemqueeramconduzidosporguias,masficouclaroqueasegunda

    versoeramais vivel porque, se algunselementos dopblicomantinham

    longas conversas comos actores que encarnavampersonagens, amaioria

  • 26

    inibiase emal entrava nos espaos em exposio, no retirando o devido

    proveitodavisita.Poroutrolado,ofluxoconstantedevisitantes,dificultavaa

    realizao da introduo sobre o tema exposto e a vertente educacional

    perdiavalor.Umoutrofactornegativoemvisitasnoguiadaseraofactode,

    muitas vezes, o actor ficar rodeado de pblico que ocultava o seu

    desempenho,perdendoseoimpactevisualdesejado.

    Algunsdoselementosque jhaviamcriadoprojectosdeHistriaaoVivo

    reuniramse no sentido de pedirem apoio ao posto de turismo de Greyhill

    paraaobtenodeumespaoondepudessemcontinuara trabalharnesta

    matria. Isto foi conseguido e construdas as habitaes idealizadas pelo

    grupo segundo uma investigao rigorosa, restaurando runas com pedras

    originais.Otrabalhoficouconcludoem1988.

    OnmerodepessoasquehaviamparticipadonosprimeirosprojectosdeLivingHistoryrealizadosentrefinaisde70einciosde80(dosculoXX)jera razovel, entre performers, responsveis de conservao e outrosparticipantes.Por todoomundoo conceitohaviasidodisseminadoatravs

    da Forest School Camps, da International Voluntary Service, da Bath

    University Archaeological Club, da Bristol Conservation Volunteers e

    Manchester Wildlife Trust. Todas estas entidades estiveram ligadas s

    primeirasacesdeLivingHistory.OutroexemplodesucessofoiarecriaodeKentwellHallemSuffolk,onde

    foramrealizadasacesdeHistriaaoVivodesde1979,dentrodosmoldes

    atrs descritos. Em 1985 o evento englobava a participao de 150

    actores/animadoreseavisitaduravatrshorasemeia,percorrendoseentre

    20a25postosdeactividades.

    At finais dos anos 80 Kentwell foi um enorme sucesso em termos

    didcticoseemnmerodevisitantes,tantoparaescolascomoparaopblico

    em geral. A partir dos anos 90, com o impulso da heritage industry, pdeassistirsea inmeroseventosderecriaohistricaespalhadospormuitos

    lugareshistricos,algunsdelesmontadosemdimensesmaisreduzidasdo

    queosprimeirosecomrecursoaactoresprofissionais.

    Actualmente existem produes televisivas muito sofisticadas e

    informativas.Contudo,oqueacrescenaHistriaaoVivoemrelaoasestas

  • 27

    a possibilidade de interaco entre as personagens e o pblico,

    estimulandoasemoes.

    As exibies constantes da heritage interpretation, como lhe chamam

    tambm os ingleses, provocou no pblico um nvel de exigncia cada vez

    maior no que respeita sofisticao dos eventos e aumentou o grau de

    expectativaporpartedosvisitantes,quenosprimrdiosdaLivingHistorynoexistiam.Todaviaasescolascontinuamaprocuraresteseventose,paraos

    professores,tornouseumhbitoilustrarempartesdosprogramasescolares

    com estas visitas.Os alunos revelam hoje uma preparao superior que

    tinhamanteriormente,masnovivemasacescomoentusiasmoquese

    observavanoincio.

    Como j foi referido, os primeiros projectos de Histria ao Vivo eram

    dinamizadas por actores/animadores que representavam cenas histricas,

    vestidoscomtrajesdapocaretratadaereproduzindoomododavidacivil.

    Houvetambmareproduodedanas,msicaealgumasbatalhas,desde

    oincio.

    Asbatalhas,apartirdeumdadomomento,passaramatermuitaadeso,

    sendohojeumaprticacomum.

    AtcnicadeLivingHistorytemsidoempregueemmuitoslocaisdiferentes:museus,runaselugaresdesabitados,algunsdelesreconstrudosdeacordo

    comaspesquisas feitas,sobretudodossculosXVIeXVII,montadoscom

    fortificaes ou residncias rurais. Formaramse tambm pequenos grupos

    quesedeslocamsescolasexibindoacesdeLivingHistory,oschamadosroadshows.

    Umoutro passo importante nahistria daLivingHistory em Inglaterra foiorganizao,em1985deumaGuerraCivilInglesaemLincoln,porumgrupo

    de amigos entusiasmados com esta tcnica que formaram a History Re

    enactment Workshop20. O evento envolveu cerca de 100 participantes,

    incluindoactoresdeanimaohistricaefoiconsideradoumsucesso.ABBC

    filmouaacoparaoprogramaDistractedTimes.

    Nasequnciadesteprojecto,foiorganizadoumencontronoNationalArmy

    Museum, emLondres, onde se avanou com ideias para umanova aco.

    20http://www.historyreenactment.org.uk/

    http://www.historyreenactment.org.uk/

  • 28

    Durante o encontro a Napoleonic Association e a Ermine Guard fizeram

    apresentaesdosseusmtodos,oqueprovocouodesejodeseencontrar

    um novo conceito de recriao histrica, talvez inspirado nos mtodos

    usados em Plimoth Plantation21 e em outros eventos de histria ao vivo

    postos em prtica nos Estados Unidos e no Canad. Essencialmente

    introduziuse o conceito de firstperson interpretation, emque o interprete

    (actorouvoluntrio formadoparaoefeito)sevesteeencarnaosgestosdo

    seu antepassado histrico, combinando o mais possvel o padro da

    ocorrnciahistricacomumaformadeapresentaoomaisrealistaquese

    consiga.

    Oseventoscentraramsetantoquantopossvelnoslocaisoriginais,como

    intuito demostrar como vivia a gente vulgar e, atravs do fazer devolver

    vidaaumacasaoumonumentohistrico.

    Esta prtica deparouse com algumas dificuldades no incio, mas com o

    decorrer do tempo realizaramse eventos de grande prestgio pelo History

    ReenactmentWorkshop.Em1986estegrupotomoupartenumeventopara

    aSemanadosMuseus,inseridonoRoyalFestivalHall.Emquesepesquisou

    e preparou uma recriao baseada em Southwork no ano de 1672. Esta

    aco foi reconhecida pelo ArtsMinister e peloDirector do ArmyMuseum,

    queconvidouogrupopararealizarumlongoestgiode14semanas,entre

    1988 e 1989, a apresentar no museu. A publicidade generalizada a partir

    destes eventosmilitares gerou uma srie de convites para a realizao de

    acesassentesnahistriasocialpostosemprticaemcasashistricaspor

    todoopas.

    QuandooHistoryReenactmentWorkshopseformouem1985,fixouseum

    perodoparaarecriaohistricadecemanos:entre1585e1685,mascom

    o desenvolver dos trabalhos alargaram o perodo de pesquisa e recriao

    paraosculoXVIII.

    Osparticipantesnasacesorganizadaspelogrupofrequentam workshopsondetreinamainterpretaoaovivocomprticasregulareseondesefixam

    os critrios de apresentao. Estas aces incluem formao em histria,

    com o estudo de textos dos mais proeminentes historiadores. Estes

    21http://www.plimoth.org/

  • 29

    workshops no se destinam ao pblico em geral, mas frequente haverelementosexterioresaogrupoqueospresenciamporpartilharemointeresse

    pelosperodoshistricosemfoco.

    A History ReenactmentWorkshop criou os Red Tee Shirters que do

    apoio durante as recriaes histricas.Vestidos com roupas actuais, esto

    incumbidosdepassarinformaogeralehistrica,oudeconduzirosgrupos

    pelospercursosdevisita,servindotambmparaencorajarainteracoentre

    osactoreseopblico.

    Entre 1985 e 1997 a HistoryReenactmentWorkshop organizou eventos

    nosmaisdiversoslugareshistricosentrepropriedadesdoperodoTudore

    palciosreais,comoobjectivodeapresentarumavisodavidapassadade

    gentevulgarenoapenasfocadaemfigurasreais,oquetornaasrecriaes

    mais realistas provocando no pblico a reaco de compararem as suas

    prpriasvidascomasdosseusantepassados.

    Relacionadocomo trabalhode recriaohistricadesenvolvidoao longo

    destes primeiros anos, surge, na Amrica do Norte, o conceito de Living

    History Museums. Esta designao usada para descrever um stio

    histrico restaurado ou reconstitudo onde se pratica a firstperson

    interpretation parapossibilitar aos visitantes umcontacto intenso comuma

    determinada poca, participando na vida quotidiana encarnada pelos

    actores/animadores. Em Inglaterra dse preferncia aos nomes open air

    museum, folkmuseum ou workingmuseum para designar stios com

    estascaractersticas.

    O criador deste conceito museolgico foi o etngrafo Artur Hazelius que

    fundou Skansen22 (cf. Apndice Documental Documento 1), o primeiro

    openair folkmuseumdomundo,emEstocolmo,abertoaopblicodesde

    1891. A sua ideia partiu da destruioprovocada pela industrializao dos

    anos80dosculoXIX,queapagouumagrandepartedavidarural.Skansen

    tornouseoveculodepreservaodeelementosmateriaiseculturaisdeste

    patrimnio em extino. Por toda a Europa e Amrica as pessoas

    reconheceram perdas similares e tentaram captar a ideia de Hazelius

    recriando o passado usando variaes sobre o conceito de Skansen,

    22http://www.skansen.se/

  • 30

    inserindo,emalgunscasosainterpretaonaprimeirapessoacomomeiode

    comunicao com o pblico. O recurso a actores/animadores era parte

    integrante dos primeiros museus Norte Americanos inspirados neste

    conceito, fundadosdesdeosprimrdiosdosculoXX:OldSalemem1913

    Greenfieldem1929ColonialWilliamsburgem1932, soalgunsexemplos.

    NaEuropadestetempo,oconceitodeopenairmuseumnofoilogobem

    acolhido, considerandose que poderia degenerar numa banalizao da

    Histria.OWelshFolkMuseum,emInglaterra,abriuaopblicoem1948com

    um torneiro residente especialista em madeira, o que foi, nos anos 80,

    consideradoimportanteparaodesenvolvimentodanovamuseologiainglesa.

    TalcomoHazeliuscompreendeuanecessidadedepreservarummodode

    vidae tradiesdestrudospelaindustrializao,noReinoUnido,cemanos

    depois, reconheceuse a importncia deste patrimnio perdido e uma nova

    vaga de museus iniciou uma reflexo sobre este assunto que resultou na

    criaodemuseusaoarlivreportodoopas,dinamizadoscomatcnicada

    HistriaViva.

    Osucessodestanovatcnicamuseolgicaprovocouanecessidadedese

    escrevereeditartextosparaasuadivulgao,promooedesenvolvimento.

    Em incios dos anos 80 do sculo XX foi fundado o The Living History

    Research Group. O objectivo principal era encorajar a investigao e

    disseminaodainformaorelevantesobreosculoXVIIatravsdatcnica

    da Living History. Os elementos que fundaram este grupo vinhamessencialmente da Roundhead Association, da Kings Army e da Kirstie

    Buckland.Asuaprincipalactividadefoiaelaboraodeumsimposium anual,

    sustentado primeiro pela universidade de Bristol e mais tarde pela Trent

    Polytechnic. Cada simposium continha o resultado de discusses que

    aconteciam durante dois dias de encontro entre membros do grupo, reenactors eespecialistas convidados.Tratavase asmais diversasmatrias,desde cermica, culinria, medicina at descrio de performancesmemorveis que eram publicadas juntamente com dissertaes resultantes

    de pesquisas consideradas interessantes. Alguns destes elementos de

    investigao eram publicados em forma de livro, por via privada ou por

  • 31

    pequenas editoras como a Stuart Press da Historical Management

    Associates,Ltd.23

    ALivingHistoryprovocouemvrioseditoresodesejodepublicaremsobretemas relacionadossobreestamatria,abordando temasmuitoespecficos

    comoaalimentao,ovesturio,usosecostumes,assuntosmilitares,ofcios

    depocaspassadas,etc.

    A Stuart Press foi fundada em 1992 com a poltica original de publicar

    apenas sobre temas no militares uma vez que este era o assunto mais

    fomentado por outras editoras. Um dos seus fundamentos era encorajar

    novos escritores a publicarem textos sobre temas relacionados ou

    interessantesparaaprticadaHistriaaoVivo.

    Em 1979 surgiu a Living History Register Newsletter, uma revista

    internacionaldestinadaatodososactoreseentusiastasdaHistriaaoVivo,

    fossem eles participantes ou espectadores interessados. A revista

    distribuda gratuitamente e enviada anualmente para todos os registados.

    ComeouporpublicarapenassobreosculoXVII,mastevenecessidadede

    alargar a informao a outros perodos que entretanto foram sendo

    abordados em recriaes histricas. Surgiram muitos grupos a

    desenvolveremacessobreoperodoromano,sobreaidademdia,sobre

    a2guerramundialeasociedadedosanos40,earevistaviuseobrigadaa

    corresponder aos interesses de todos estas pocas recriadas. O editor,

    Roger Emmerson, definiu Living History como an attempt to recreate the

    23 Historical Management Associates Ltd was formed in 1987 to utilise many years ofhistoricalacademic researchandhandsonexperienceof livinghistoryand replicabuildingconstruction.Theinitialaimwastoprovideahistoricalconsultancyandprojectmanagementservicetomuseumsandhistoricalinterpretationsites.AtthesametimeworkstartedontherestorationofanentirehistoricallandscapeattheGrayhillHistoricalFarm.()Thecompanyhas travelled theworld todevelopsources forawide rangeofhistorical styleartefactsstillbeingmanufacturedbycraftsmenaroundtheworld,fromcooperedjugstoaxeheads,skinstoaromaticspices,horseharness tohandcarvedspoons.These itemsarenot replicasbutworking objects made to be used by local populations which correspond to those usedhistoricallyinEngland.AfterwritingbooksforPartizanPressintheearlyyearsthecompanystarted its own publishing arm, Stuart Press in 1992 which now publishes around 250volumesofhistoricalmaterial.Ourprinciple is towrite thebooksweneedandnobodyelsehasproduced,concentratingoncontentratherthangloss.,In:http://www.stuarthmaltd.com/

    http://www.stuart-hmaltd.com/green_valley_farm.phphttp://www.stuart-hmaltd.com/artefacts.phphttp://www.stuart-hmaltd.com/stuart_press.php

  • 32

    ordinary life of another period in history in real time, at un accessible level,withaviewtoeducationandrevelation24.Arevistacobretodootipodeeventosderecriaohistricaeeraanica,

    em 1997, que promovia o contacto com um alargado nmero de

    historiadoresaovivofomentandoatrocadeartigossobreasmaisdiversas

    pocas, levando necessidade de edio de dois nmeros anuais um

    primeiro que cobria todos os eventos de Histria ao Vivo e os artigos

    resultantesdainvestigaofeitaparacadaumdeleseumsegundonmero

    contendoinformaosobrereenactmenteLivingHistory,outrosmateriaisdeinvestigao histrica para trabalhos futuros e um dirio sobre as

    oportunidadesdestinadaseducaoeinvestigao.

    O conceito de Living History tornouse parte integrante da interpretaohistricaeficouinstitucionalizadoemInglaterraemfinaisdosanos90.Muitos

    stios histricos e museus oferecem agora esta oportunidade didctica s

    escolas e a outros visitantes, cuja prtica proporciona um mximo de

    benefciosatravsdestemultisensorialmeiodecomunicao.

    Consultmos os meios disponveis na internet, onde nos aparecem

    inmeros sites revelando uma vasta lista de programas dinamizadosanualmente nos museus ingleses. Entre estes destacamos o do Royal

    GunpowderMills25queapresentainformaosobreassociaesegruposde

    histriaaovivoedieslinksprogramaseprojectosacessveisaopblico,

    museus e edies diversas relacionadas sobre o tema. (cf. Apndice

    DocumentalDocumento2).

    Hoje so muitas vezes actores formados nesta rea que substituem os

    historiadoresnacriaodeprojectosquesevorepetindoaolongodoano.

    Houveumagrandemudananaatitudedereflexoeoreconhecimentona

    profisso de muselogo sobre a qualidade e o valor desta tcnica de

    comunicaopatrimonial.Contudo,porvezesosmuseusinglesestendema

    uslacomoummeiodeatrairummaiornmerodevisitantes,descurandoo

    seuaspectoprimordial:aeducao.

    24PeacheyStuart,20YearsofLivingHistoryinBritain,StuartPressHistoricalManagementAssociates,Ltd.,Bristol,1997,p.21.

    25http://www.royalgunpowdermills.com/

    http://www.royalgunpowdermills.com/

  • 33

    O English Heritage26 tem sido a instituio que mais tem dinamizado

    projectosdehistriaaovivoeediescomelarelacionadas.

    Hojeemdiaapresentaumavastaprogramaodeeventoshistricos,entre

    os quais o Festival of History que acontece anualmente noms de Julho,

    envolvendomais de 1000 actores/animadores em 50 espectculos dirios.

    (cf.ApndiceDocumentalDocumento3).

    Desenvolve tambmuma largaactividadedepesquisa e conservao do

    patrimnio histrico e arquitectnico e dispe de uma srie de recursos

    destinados ao ensino e educao, desde programas para escolas, a

    publicaes: An extensive array of books for everyone, ranging fromspecialist titles on Conservation and Archaeology to Guidebooks for allEnglishHeritagepropertiesandsites,27 einformaoacessvelatravsdainternet: We hold many databases of information online which you cansearch from thecomfort of your ownhome.Aswell as lotsof photographicdatabaseswhichcanbe found inPhotoCollections.OurPastscapewebsitehousesaninventoryofarchaeologicalsitesandhistoricbuildingsinEngland.YoucanalsovisitourpublicsearchroomattheNationalMonumentsRecord(NMR)inSwindon..28

    Foi atravsdaaco deEnglishHeritageque, desde 1986, se deramos

    primeirospassoseacompanhamentoporpartedemembrosdestainstituio

    paraaintroduodatcnicaLivingHistoryemPortugal.

    26 OTheHistoricBuildings andMonumentsCommission for England,mais conhecido porEnglish Heritage uma instituio nogovernamental fundada em 1984, responsvel porcercade400monumentosestioshistricosdopatrimnioinglsabrangendoumperododepresenahumanade5500anos.DesdeWindmillHillinWiltshire(c.4000a.C.),incluialgunsdosmais famosos stios histricos ingleses desde a prhistria, passando pelos perodosromanoemedieval,TudoreVitoriano,atsmansesdosculoXIX.Aintenoprimeiradestainstituiofoiaderestauraredarvidaastiosemonumentos

    que,nosendodeprimeiroplano,estavamumpoucoesquecidospelopodercentral,assimcomoastradiesquearapidezeodesenraizamentodavidamodernatinhamfeitoquaseesquecer., In BRCIA, Paula, Histria ao Vivo, Forma: Sobre os DescobrimentosPortugueses,n36,DirecoGeraldeExtensoEducativaPublicaoparaformadoreseanimadores/monitores,EditorialdoMinistriodaEducao,Algueiro,Marode1990,pp.27,28.

    27http://www.englishheritage.org.uk/

    28 Idem.

    http://www.english-heritage.org.uk/server/show/nav.1506http://www.pastscape.org/homepage/http://www.english-heritage.org.uk/server/show/nav.1530http://www.english-heritage.org.uk/

  • 34

    I.3.Comochegaatnsem1986

    MinhaEx.maequeridaAmigaGraves coisas me pede na sua carta e delas sou cada vez mais

    incapaz.Umaade prepararoume lembrar doquedigoquandomelevam a falar em alguma reunio: o que no fao de improviso mepareceabsurdo.O resultado que, depois, nem recordo o que disse.Mas acho que

    podemosprcomobreveresumoqueadvogueiafusodaescolaedoMuseu, para que ambos deixassem de ser coisas mortas e a todos,desdecrianasavelhos,desdeignorantes(quemo)asbios(quemo)servissemdeestmuloparaamaremavida(...).DeopiniofinaldoColquiodireioseguinte:Foioprimeiroqueviemqueo objectivoessencialnoeracadaum

    brilharfoiumpassolargodecisivodeumparatrsadormecidoaumdesperto futuro lanouse a Histria Viva e se lhe derem ps paracaminharseoquisermosningumsealeijar.Equeremos.(...).29

    AAssociaoPortuguesadeMuseologiateveumprimeirocontactocomo

    conceitodeLivingHistory,emfinaisde1985,atravsdeumdosmembrosdadireco, Doutor Fernando Antnio Baptista Pereira que, tendo participado

    numestgiosobremuseologiaemLondres,trouxeanovidadeparaaAPOM

    eparaomuseuemSetbal,porqueestavaresponsvel.

    Esta tcnica despertou, desde logo,o interessedealgunsmembros da

    APOM, nomeadamente o de Maria Manuela Mota, que era na altura

    presidentedaAssociaoequeseempenhounasuaintroduo,divulgao

    edesenvolvimentoem Portugal.

    EmMaiode1986,soborientaodeMariaManuelaMota,foiorganizadoo

    ColquioAPOM/8630,comofimdedaraconhecernonossopasoconceito

    deLivingHistory.Com o apoio do British Council,MichaelCorbishley e PatrickRedsell do

    EnglishHeritageparticiparamnoAPOM/86 como fimdenoscomunicarem

    29CartaenviadapeloProfessorAgostinhodaSilvapresidentedaAssociaoPortuguesadeMuseologia (Dra.ManuelaMota)em4/8/87, In:AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril3deMaio1987,p.35.

    30AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/86ViveroPassado:MuseuseMonumentosaoserviodaComunidade,Faro,14deMaio1987.

  • 35

    asbasesdequepartiramparaaprticadestatcnicadeensinodaHistria,

    os programas ento a decorrer, e a anlise dos resultados obtidos em

    Inglaterra.

    Do Brasil veio a museloga Maria de Lurdes Barreto que lanara uma

    experinciapilotonoseupas, comoapoiodos tcnicos ingleses,partilhar

    com conservadores de museus e monitores de Servios os resultados da

    iniciativa.

    Aotodoreuniramse120participantes:directores,conservadoresepessoal

    tcnicosuperiordemuseusdocontinenteeilhasdirectoreseconservadores

    demuseusdoBrasilpresidentesdasAssociaesBrasileiradeMuseologia

    edeMuselogosdaBahiarepresentantesdoEnglishHeritage.

    A iniciativa teveosapoiosdaSecretariadeEstadodaCulturaatravsdo

    seu Delegado na Regio Sul e do Gabinete de Relaes Culturais

    InternacionaisInstitutoBritnicoemPortugalRegiodeTurismodoAlgarve

    CmaraMunicipaldeFaro,comaparticipaoassduadoseuVereadordos

    MuseusArquivoDistritaldeFaroMuseuAlmiranteRamalhoOrtigoMuseu

    Arqueolgico e Lapidar Infante D. Henrique Universidade do Algarve

    InstitutodeEstudosIslmicosdoAlgarveeoCoralOssnoba.

    O Colquio APOM/86 Colquio de Museologia em Faro, que se

    desenrolou no Museu Arqueolgico e Lapidar Infante D. Henrique, visou

    promover a intensa colaborao entre os museus e as escolas,

    proporcionando pistas para projectos culturais adaptados aos curriculaescolares, segundo uma tcnica inovadora e atractiva para o estudo da

    Histria, sob uma planificao bem definida dos projectos criados em

    parceriaentreconservadoresdemuseuseprofessores,comoenvolvimento

    dascomunidadeslocais.

    ComointuitodedaraconheceraHistriavivendoa,estatcnicarecorre

    animao cultural e ao trabalho de actores que monitorizam os diversos

    ncleos de animao onde as crianas so integradas representando,

    tambmelas,personagensdotempoarecriar.Acrianaaprendebrincando

    atravs da dramatizao de uma dada circunstncia histrica numa

    encenao to prxima quanto possvel da realidade: vivendo e

  • 36

    compreendendo como era e terse operado o salto para dentro daHistria.Elapassaasaberporqueparticipou.31.A tcnica deHistria aoVivo pretendiapromover a aberturadoMuseu

    comunidade, tornandoo umponto deencontro cultural dinmico, vivo: Os

    nossos Museus teem de se tornar cada vezmais um centro de animao

    onde a comunidade se encontre para aprender e ensinar atravs do

    testemunhomaterial32,criandonosnossos jovensogostoeinteressepelo

    conhecimentodaHistria.

    No ltimo dia do Colquio, nove grupos de trabalho apresentaram

    anteprojectos,todoselesbaseadosnopatrimnioetradioalgarvios:1) Arqueologia Romana: reconstituio de um dia na vida dos Senhores da Villa

    romana de Milreu, com uma manh nas termas, a vida dentro e fora da casa,

    finalizandocomumarefeioservidaaocasal,maneiraclssica

    2) FortalezasCosteiras:recriaodoataquedoscorsriosinglesesfortalezadeFaro(finaisdosculoXVI):ambientedeumapraaforteemvsperadeataque

    3) OAlgarveeaExpanso:Trabalhosarealizarcomescolas:estudoeelaboraodemapas histricos construo de uma rplica de caravela preparativos de uma

    viagemeestudodastcnicasdenavegaovisitaaumbarcomodernocomotermo

    decomparaocomosdosculoXVI.

    4) OPalciodeEstoi:ReviveroambientefestivodainauguraodosjardinsdopalcioemMaiode1903,comaparticipaodosgruposlocaisdramtico,coral,musical,e

    outros

    5) UmaPovoaoRural SantaBrbara deNexe:Combase nas culturas locais osalunosde5e6anos,sobotemaAJorna,participamactivamentenavidarural:

    apanha de frurtos o seu tratamento a Festa das Almas: confeccionando e

    vendendodoces regionais:Destinadoaos alunosentre16e18anos,oestudoda

    arquitectura,artesanato,folclorelocais.

    6) ARiaFormosa:Estudodageografia,caractersticasfsicas,meiohumano,faunaeperigosqueameaamesteecosistema,atravsdeesquemasdevisitas,passeiosa

    p,levantamentosdepropostasdesalvaguardaaseremfeitaspelosalunos

    7) OConventodasClarissas:(MuseuArqueolgicoInfanteD.Henrique):RecriaodavisitadeD.Sebastioaoconventoem1573,comduasacessimultneas:opovo,

    no exterior do convento, engalanando a praa para avisita rgia e a entrega das

    chavesaomonarcanointeriorodesenrolardavidamonstica,apenasperturbada

    pelavisitadomonarca.Terminariacomfestejospopularesemhonradorei.

    31 Idem,p.1.

    32 Idem,p.2.

  • 37

    8) ACidade deFaro:Reconstituio de dois correiosdiferentes no incio do sculoXVIII, salientando as difceis comunicaes comoAlgarve nessa poca: o correio

    expresso,vindoporterra,comarespostaaumapetiodoReinodosAlgarveseum

    correio normal por via martima e a orientao de um forasteiro que pretende

    alcanar o terreiro da feira de Santa Iria. Estudo damalha urbana de Faro nesta

    poca.

    9) AGastronomiaAlgarvia:Estudodagastronomiaemdiferentes fasesdahistriadoAlgarve:pocaromana islmicasculosXVI,XVII,XVIII,XIXe1986.Preparao

    dosalimentosediferentesformasdeosapresentar,servirecomer.

    Nofinaldocolquiodeterminousequesecontinuariaadesenvolverotema

    daHistriaaoVivo,comonovaformadeensino,noColquioAPOM/87.

    Este realizouse entre 30 de Abril e 3 deMaio, no PalcioGalveias, em

    Lisboa,sobottuloAEscolavaiaoMuseu.

    Neleparticiparam:Arqt.o VictorReis,VereadordoPelourodaCulturadaCmaraMunicipaldeLisboaDr.BairroOleiroVicePresidentedoInstitutoPortugusdoPatrimnioCulturalDr.aNatliaCorreiaGuedesPresidentedoICOM.Representantesdos:InstitutoBritnicoFundaoLusoAmericana

    JuventudeePatrimnioDirectores de Museus, Adidos Culturais das Embaixadas acreditadas emLisboa, (...)33 e professores, onde se inclua Paula Brcia que viria a serumadasprincipaisdinamizadorasdestatcnicaemPortugal.

    Este10colquiodaAPOM teveaparticularidadede,pelaprimeiravez,

    ser aberto aos professores dos diferentes graus de ensino (educadores e

    professores do ensino prprimrio, primrio, unificado, secundrio e

    universitrio):CientedoimportantepapelquecabeaosMuseusnaculturaeeducao da sociedade nomeadamente ao nvel escolar, a Direco daAPOM desenvolveu intensa actividade para proporcionar o encontro entreProfessoreseMuselogosafimdequeseoiam,seconheameprocuremcolaboraremnovosmtodosdeensinoededifusocultural.34

    33 AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril3deMaio1987,p.9.

    34 Idem,p.10.

  • 38

    Combasenocolquiorealizadonoanoanterior(1986)paraassociadosda

    APOM, onde se formaram 9 grupos de trabalho que, partindo do acervocultural,monumentaleartsticodeFaroearredores,esboaramoutrastantaspropostas de animao pela tcnica deHistria aoVivo (...),35 surgiu aideiadeseorganizarumaexposioondeseapresentassemaspropostasj

    formuladas.Aexposio,intitulada:HistriaaoVivo:PropostasdeAnimaoCulturalsegundoaTcnicaLivingHistory,esteveabertaaopblicoentre30deAbrile23deMaio,tendosidofeitoumcatlogodivididoem8volumesem

    queacapadecadaumdelesumapeadeumpuzzlequerevela,quandomontado,ummsicodeumapocapassadatocandopercusso.

    Cada um dos volumes corresponde a um projecto apresentado na

    exposio: NS E OS ROMANOS: um dia na Vila Romana de Milreu O

    PALCIO DE ESTOI: vspera da inaugurao dos jardins do Palcio, em

    1903UMAPOVOAORURAL:CelebraodaPrimaveranodia1deMaio

    em Sta. Brbara de Nexe FARO, 1573: sobre a visita histrica de D.

    SebastioaoConventodas IrmsClarissasAGASTRONOMIAALGARVIA

    na poca romana, islmica medieval, no sc. XVI e na actualidade UM

    ATAQUEDECORSRIOSAO FUNCHAL, sobre um ataque de ingleses

    fortaleza de S. Tiago, no sculo XVI ACORDAR A HISTRIA

    ADORMECIDA: No Museu da Fundao Ricardo Esprito Santo e Silva, a

    recriao da vida lisboeta em finais de setecentos O CASTELO DE S.

    FILIPE DEPOIS DA RECONQUISTA, sobre a sua reorganizao aps a

    expulsodoexercitoespanhol,em1640.36

    Um dos volumes do catlogo destinase apresentao da tcnica de

    HistriaaoVivoporManuelaMota,PatrikRedselleJohnFaircloughquede

    novo estiveram em Portugal para partilharem os seus conhecimentos e

    experincias realizadas em Inglaterra eMaria deLourdesP.H.Barreto do

    Brasil.

    Ao longo de vrios anos a APOM esteve empenhada em promover,

    divulgar e pr em prtica o novo conceito atravs de colquios, edies,

    35 Idem,p.12.

    36 InformaesretiradasdoCatlogodaexposioHistriaaoVivo:PropostasdeAnimaoCulturalsegundoaTcnicaLivingHistory.

  • 39

    acesdesensibilizaoearealizaodediversosprojectosdeHistriaao

    Vivo,algunsdosquaisdescreveremosnopontoIIdestetrabalho.

    A designao Living History foi traduzida para o portugus comoHistriaaoVivo,segundosugestodeFernandoAntnioBaptistaPereira37

    eficouregistadacomoumaprticacomregrasbemdefinidas:AdesignaoHistria ao Vivo foi adoptada pela Direco da APOM para indicar estatcnica de animao e s poder ser utilizada mediante autorizao daAssociao..38Destinavasesobretudo,equaseexclusivamente,acrianascom idades compreendidas entre os 9 e os 12 anos de idade que,

    acompanhadas pelos seus professores, participavam nestas aces,

    encarnandopersonagensdapocaestudada,dividasempequenosgrupos,

    orientadaspormonitoresquedesempenhavamospersonagensprincipais.

    De um modo geral, as aces de Histria ao Vivo abraavam grandes

    projectos, desenrolandose em vrios meses, sendo os dias finais durante

    uma ou duas semanas, e abarcando um nmero vasto de crianas que

    viveriam um dia no passado. Por princpio, os espaos eram vedados ao

    pbliconoparticipante,oquesignificaquequem tinhaacessoao localda

    recriaoteriadeestarvestidopocaeencarnarumpersonagemquelhe

    tinhasidodestinadosegundoum guio.

    Muitos foram os temas abordados pelo pas fora em projectos

    desenvolvidoscomoapoiodaAPOM,qualmuitasentidadessevierama

    juntarcomgrandedinamismo,entreelasaCmaraMunicipaldeLisboaeo

    GrupodeTrabalhodoMinistriodaEducaoparaasComemoraesdos

    Descobrimentos Portugueses, como viremos a demonstrar no seguimento

    destetrabalho.

    SegundoJooNeto39,actualpresidentedaAPOMedirectordoMuseuda

    Farmcia,estaassociaoviveu,entreosanosde1980e inciosdosanos

    37 InformaocedidaporMariaManuelaMotaduranteumadasentrevistasquegentilmentenosconcedeu.

    38 AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril3deMaio1987,p.26.

    39TivemosoprivilgiodeconversarcomoDr.JooNetoquenosconcedeugentilmenteumaesclarecedora entrevista no s sobre a Associao Portuguesa de Museologia, a qualpreside,comosobreoMuseudaFarmciaeasactividadesdoServioEducativo,squaisfaremosreferncia,oportunamente,nodecorrerdestetrabalho.

  • 40

    90 do sculo XX, um momento relevante da sua existncia, tanto pelos

    elementos que dela faziam parte, como pela imperativa necessidade de

    renovar o papel doMuseu em Portugal, aco que coube APOM nessa

    altura.

    Actualmente, a associao est numa fase de procura de um lugar e de

    umaviaparaagir.Dasactividadesquepromove,asquemaissedestacam

    so as entregas dos Prmios Anuais de Museologia: O Melhor Museu

    Portugus A melhor Exposio O Melhor Catlogo O Melhor Servio de

    ExtensoCulturalaMelhorPeaJornalsticasobreaactividademuseolgica

    emPortugal.

  • 41

    II. Primeiras intervenes de Histria Viva em Portugal: A aco da

    APOM e de outras instituies precursoras na realizao de aces

    baseadasnoconceitodeHistriaaoVivo

    UmadasfinalidadesdocolquioAPOM/87,mencionadonopontoanterior,

    foi a de levar cada participante a reflectir sobre o conceito de Educao

    Patrimonial, (traduo do ingls Heritage Education), ali apresentado, demodoaseremdesenvolvidas,emcadareadeaco,actividadessimilares,

    procurando uma participao pluridisciplinar frutuosa entre o Museu e a

    Escola para uma nova forma de ensino e motivar principalmente os

    MinistriosdaEducaoedaCultura,assimcomoasCmarasMunicipaise

    outras entidades com o intuito de se gerar uma maior dinmica da aco

    culturalemMuseuseMonumentosaoserviodaeducao.

    Desde essa data eclodiram ideias e foram postos em prtica diversas

    aces educativas assentes neste conceito com o fim de se amplificar a

    utilizao de Museus e Monumentos na Educao: Os monumentos eobjectos do Patrimnio cultural possibilitam uma experincia concreta, noverbal,directa.Oobjectonoum recurso,masuma realidade,porvezesnicafontesobreviventedosignificado.Acresce que uma experincia vivida, participada, uma fonte de

    conhecimentos indelveis os objectos tornamse inteligveis, teis,transmitem uma mensagem maior quando deixam de ser simplesinformaesesetornamvivnciaconcreta(...).A tcnica de Living History um estmulo para que os Professores

    procurem utilizar o Patrimnio da sua rea em conjunto com osConservadores dos Museus, recorrendo participao da comunidade(...)40.OscolquiosdaAPOMlanaramoconceitoeaHistriaVivaemPortugal

    comeoua tomar lugar,peloentusiasmodeprofessoresemuselogosque

    desde logo aderiram ideia, a tornarse prtica em certos ncleos

    40AssociaoPortuguesadeMuseologia,CatlogodaExposio:HistriaaoVivo:PropostasdeAnimaoCulturalsegundoaTcnicaLivingHistory,8vols.,APOM,Lisboa,1987.p.6.

  • 42

    museolgicoseafinsconvertendosenumaferramentadetrabalhoaodispor

    dasescolas.

    AresponsvelpeloServioEducativodaFundaoRicardoEspritoSantoe

    Silva(F.R.E.S.S.)MargaridadeLancastre41,sobpropostadeManuelaMota

    levou a cabo, em Maio de 1987, a actividade cultural e educativa nas

    instalaesdopalcio:UmdianoPalcioAzurara,apresentadanaexposioHistriaaoVivo,noPalcioGalveias:Nansiadepoderdemonstraraosparticipantes do Colquio APOM 87, um projecto de Histria ao Vivo emfuncionamento, contactei em Dezembro ltimo o Servio Educativo daFundao Ricardo Esprito Santo Silva a fim de tentar a sua adeso aoprojecto.O entusiasmo e a adeso foram espontneos e totais em todo oMuseuenaAdministrao.Aboladenevecomeouarolar,possodizerquesetemmexidocuseterramasoprojectoavanae,senopossvelnempedagogicamenteaconselhvelqueparticipantesdoColquioassistamaodesenrolar da aco feita com as crianas, iremos no entanto ao MuseudaquelaFundaoaprendercomose faz ouvindoaSr.D.MargaridadeLencastrerelatarnososaltoseosbaixosdestaaventuraemAlfama.42

    Entre25e29deMaiodeusevidaaalgunsespaosinterioreseexteriores

    do palcio das Portas do Sol, reconstituindo a vida quotidiana de finais do

    sculoXVIII,dandoaconhecerscrianasdasescolas locais,com idades

    compreendidasentreos9eos13anos,avidadeh200anosatrs,atravs

    da sua participao como personagens desse tempo, vivendo um dia em

    finais de setecentos. Encarnaram cozinheiros, criados, marceneiros,

    jardineiros, cocheiros, etc., acompanhadas por monitores adultos

    encarregues de orientar as actividades de cada grupo. (cf. Apndice

    FotogrficoFiguras1,2e3).

    41CoordenadoradoServioEducativodaFRESSe,posteriormente,PresidentedoConselhoDirectivo da Associao Acordar Histria Adormecida, instituio sem fins lucrativos que,partindo da ideia de Histria ao Vivo, levou a cabo projectos destinados infnciadesenvolvendo pequenas histrias a partir da Histria. Esta associao foi constitudaformalmenteem1989dando,maistardeorigemcriaodoMuseudasCrianas,peloqualMargaridadeLancastreresponsvel.

    42 AssociaoPortuguesadeMuseologia,ActasdoColquioAPOM/87AEscolavaiaoMuseu,LisboaPalcioGalveias,30deAbril3deMaio1987,p.12.

  • 43

    A actividade foi noticiada pela imprensa escrita: Dirio de Notcias O

    SculoCorreiodaManheDirioPopulardivulgaramepresenciaramcom

    entusiasmo esta aco de Histria ao Vivo. (cf. Apndice Documental

    Documento4)

    Tambmem1987,oServioEducativodosMuseusMunicipaisdoPorto,

    aderem ao projecto Histria ao Vivo, com o apoio da APOM, recriando a

    chegadadoreiD.JooIaoPorto,em1387,aquandodoseucasamentocom

    D.FilipadeLencastre.

    Durante uma semana, estevemontada umaOficinaMedieval comsala

    debanquete,copaecozinha,ondeseencenouobanquete.

    AanimaoteveinciocomocortejoemqueoreifoirecebidopeloBispo

    D. Joo no Pao Episcopal. Neste cortejo, dirigido pelo capeloda rainha,

    participaramreis,fidalgos,pagens,escudeiros,conduzidosporumjogralque

    tocavaadufe.

    Na cozinha, guarnecida de presuntos, salpices e ramos de loureiro, os

    participantes(criados,escudeiroseromeiros)puderamfabricaropo,asopa

    eoqueijo, fazer lume, lavara loiaemgrandesselhas,comerasopasem

    talheres,tendodeusaropoparalevaremoslegumesboca.

    Ocasal realeos fidalgosqueosacompanhavam tomaramo repastoem

    mesas corridas. Participaram 40 personagens crianas de escolas

    preparatriasdoPortoquetiveramoportunidadedevivenciaronotvelfacto

    histrico que se passara hprecisamente seiscentos anos, aco