A Mensagem 1

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    A Mensagem

    Mensagem a epopeia lrica

    A Mensagem, cujas poesias componentes foram escritas entre 1913 e 1934 data da sua

    publicao, sem dvida a obra-prima onde pessoa lapidarmente imprimiu o seu ideal patritico,

    sebastianista e regenerador. um poema nacional, uma verso moderna, espiritualista e proftica

    de Os Lusadas.

    A Mensagem poder ser vista com uma epopeia. Porque parte dum ncleo histrico, mas a sua

    formulao sendo simblica e mtica, do relato histrico, no possuir a continuidade. Aqui, a aco

    dos heris, s adquire pleno significado dentro duma referncia mitolgica. Aqui sero s eleitos,

    tero s direito imortalidade, aqueles homens e feitos que manifestam em si esses mitos

    significativos. Assim, sua estrutura ser dada pelo que, noutra ideias/foras desse povo: regresso

    do paraso, realizao do impossvel, espera do messias razes do desenvolvimento dessa entidade

    colectiva.

    Os antepassados, os fundadores, que pela sua aco criaram a ptria, e ergueram a personalidade,

    separada, ou plasmaram na sua altura prpria; mas Mes, as que esto na origem das suas

    dinastias, cantadas como Antigo seio vigilante, ou humano ventre do imprio; os heris

    navegantes, aqueles que percorreram o mar em busco do caminho da imortalidade, cumprindo um

    dever individual e ptrio (realizao terrestre duma misso transcendente); e, finalmente, depoisdessa misso cumprida, dessa realizao. Na era crepuscular de fim de vida, os profetas, as vozes

    que anunciam j aquele que viria regenerar essa ptria moribunda, abrindo-lhe novo ciclo de vida,

    uma nova era o Encoberto.

    A estrutura da obra

    Assim, a estrutura da Mensagem, sendo a dum mito numa teoria cclica, a das Idades, transfigura e

    repete a histria duma ptria como o mito dum nascimento, vida e morte dum mundo; morte queser seguida dum renascimento. Desenvolvendo-a como uma ideia completa, de sentido csmico, e

    dando-lhe a forma simblica tripartida Braso, Mar Portugus, O Encoberto. Que se poder

    traduzir como: os fundadores, ou o nascimento; a realizao, ou a vida; o fim das energias

    latentes, ou a morte; essa conter j em si, como grmen, a prxima ressurreio, o novo ciclo que

    se anuncia o Quinto Imprio. Assim, a terceira parte, toda ela cheia de avisos, preenche de

    pressentimentos, de foras latentes prestes a virem luz: depois da Noite e Tormenta, vem a

    Calma e a Antemanh: estes so os Tempos. E a sempre perpassaro, com um repetido fulgor,

    sempre a mesma mas em modelaes diversas, a nota da esperana: D. Sebastio, O Desejado, OEncoberto

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    dessa forma, o mtico caos, a noite, o abismo, donde surgir o novo mundo, Que jaz no abismo

    sob o mar que se segue.

    Mensagem

    Carcter pico-lrico

    A Mensagem uma obra pico-lrica, pois, como uma epopeia, parte de um ncleo histrico

    (heris e acontecimentos da Histria de Portugal), mas apresenta uma dimenso subjectiva

    introspectiva, de contemplao interior, caracterstica prpria do lirismo.

    O mito

    As figuras e os acontecimentos histricos so convertidos em smbolos, em mitos, que o poeta

    exprime liricamente. O mito o nada que tudo, verso do poema Ulisses, o paradoxoque melhor define essa definio simblica da matria histrica da Mensagem.

    Sebastianismo

    A Mensagem apresenta um carcter proftico, visionrio, pois antev um imprio futuro, no

    terreno, e ansiar por ele perseguir o sonho, a quimera, a febre de alm, a sede de Absoluto,

    a nsia do impossvel, a loucura. D. Sebastio o mais importante smbolo da obra que, no

    conjunto dos seus poemas, se alicera, pois, num sebastianismo messinico e proftico.

    Quinto Imprio: imprio espiritual

    esta a mensagem de Pessoa: a Portugal, nao construtora do Imprio no passado, cabe

    construir o Imprio do futuro, o Quinto Imprio. E enquanto o Imprio Portugus, edificado

    pelos heris da Fundao da nacionalidade e dos Descobrimentos termo, territorial, material,

    o Quinto Imprio, anunciado na Mensagem, um espiritual. E a nossa grande raa partir em

    busca de uma ndia nova, que no existe no espao, em naus que so construdas daquilo que

    os sonhos so feitos A Mensagem contm, pois, um apelo futuro.

    A estrutura

    A Mensagem est dividida em trs partes. Esta tripartio corresponde a trs momentos do

    Imprio Portugus: nascimento, realizao e morte. Mas essa morte no definitiva, pois

    pressupe um renascimento que ser o novo imprio, futuro e espiritual.

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    Mensagem (Resumido)

    1. Nascimento 1 Parte Braso

    Fundao da nacionalidade, desfile de heris lendrios ou histricos, desde Ulisses a D. Afonso

    Henriques, D. Dinis ou D. Sebastiao.

    2. Realizao 2 Parte Mar Portugus

    Poemas inspirados na nsia do Desconhecido e no esforo herico da luta com o mar. Apogeu

    da aco portuguesa dos Descobrimentos, em poemas como O Infante, O Mostrengo, Mar

    Portugus.

    3. Morte 3 Parte O Encoberto

    Morte das energias de Portugal simbolizada no nevoeiro; afirmao do sebastianismo

    representado na figura do Encoberto; apelo e nsia messinica da construo do QuintoImprio.

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    A Mensagem

    Anlise do Poema "O dos Castelos"

    A Europa jaz, posta nos cotovelos:

    De Oriente a Ocidente jaz, fitando,

    E toldam-lhe romnticos cabelos

    Olhos gregos, lembrando.

    O cotovelo esquerdo recuado;

    O direito em ngulo disposto.

    Aquele diz Itlia onde pousado;Este diz Inglaterra onde, afastado,

    A mo sustenta, em que se apoia o rosto.

    Fita, com olhar esfngico e fatal,

    O Ocidente, futuro do passado.

    O rosto com que fita Portugal.

    Reflexo:

    Tal como neste poema da Mensagem, a estrofe de Os Lusadas indica Portugal como cabea da

    Europa toda atribuindo-lhe uma misso predestinada. Mas nOs Lusadas essa misso ditada

    pelo Cu que quis que Portugal vencesse na luta contra os mouros enquanto que na Mensagem

    a misso de Portugal ser mais abrangente.

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    A Mensagem

    Anlise do Poema "Ulisses"

    O mito o nada que tudo.

    O mesmo sol que abre os cus

    um mito brilhante e mudo --

    O corpo morto de Deus,

    Vivo e desnudo.

    Este, que aqui aportou,

    Foi por no ser existindo.Sem existir nos bastou.

    Por no ter vindo foi vindo

    E nos criou.

    Assim a lenda se escorre

    A entrar na realidade,

    E a fecund-la decorre.

    Em baixo, a vida, metade

    De nada, morre.

    Reflexo:

    Ulisses, o heri da guerra de Tria e protagonista da obra odisseia de Hmero, um dos grandes

    mitos da civilizao grega, e segundo a lenda, ter fundado Lisboa. Ao recuperar esta lenda e

    elege-lo como um dos primeiros poemas da Mensagem, Fernando pessoa tem precisamente a

    inteno de atribuir a Portugal uma origem mtica, que mais valiosa de que qualquer origem

    histrica (os heris desta obra so localizadas sobretudo no seu lado mtico).

    Tal como na Mensagem, Cames recupera nos Lusadas a lenda de que Ulisses ter fundando

    Lisboa.

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    A Mensagem

    Anlise do Poema "D. Afonso Henriques"

    Pai, foste cavaleiro.

    Hoje a viglia nossa.

    D-nos o exemplo inteiro

    E a tua inteira fora!

    D, contra a hora em que, errada,

    Novos infiis venam,

    A bno como espada,A espada como bno!

    Reflexo:

    Este poema apresenta-se como uma prece dirigida a D. Afonso Henriques, Pai de uma gerao

    que lendariamente recebeu a fora e a misso de Deus. O sujeito potico, assumindo-se como voz

    do colectivo portugus, pede ao Rei-Rei que d ao seu povo o exemplo, a fora e a bno, porque

    Hoje a viglia nossa, somos ns que temos que ser cavaleiros contra novos infiis, fantasmasdo adormecimento colectivo.

    Implicitamente, este poema recupera a lenda da Batalha de Ourique, que atribuiu uma dimenso

    sagrada fundao de Portugal, tal como nos apresentando no episdio Batalha de Ourique de

    Os Lusadas.

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    A Mensagem

    Anlise do Poema "D. Sebastio Rei de Portugal"

    Louco, sim, louco, porque quis grandeza

    Qual a Sorte a no d.

    No coube em mim minha certeza;

    Por isso onde o areal est

    Ficou meu ser que houve, no o que h.

    Minha loucura, outros que me a tomem

    Com o que nela ia.

    Sem a loucura que o homemMais que a besta sadia,

    Cadver adiado que procria?

    Reflexo:

    Comparao Os Lusadas/ Mensagem, a D. Sebastio que Cames dedica Os Lusadas e a

    este Rei que o poeta dirige o apelo no sentido de continuar a tradio dos antigos heris

    portugueses, para fazer ressurgir a ptria da apagada e vil tristeza do presente.

    Na Mensagem, D. Sebastio (e o sebastianismo) o mito organizador de toda a obra, no sentido

    de que o rei representa o sonho que ressurgir do nevoeiro em que o Portugal presente est

    mergulhado, impulsionado a construo do Futuro

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    Anlise do Poema "Asceno de Vasco da Gama"

    Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra

    Suspendem de repente o dio da sua guerra

    E pasmam. Pelo vale onde se ascende aos cus

    Surge um silncio, e vai, da nvoa ondeando os vus,

    Primeiro um movimento e depois um assombro.

    Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,

    E ao longe o rastro ruge em nuvens e clares.

    Em baixo, onde a terra , o pastor gela, e a flautaCai-lhe, e em xtase v, luz de mil troves,

    O cu abrir o abismo alma do Argonauta.

    Reflexo:

    A figura de Vasco da Gama engrandecida neste poema por vrios aspectos:

    1. Pela situao de elevao aos cus num plano superior ao da simples condio humana

    libertando-se do corpo, torna-se alma e imortaliza-se;

    2. Pelos efeitos provocados por esta situao: o pasmo dos Deuses e dos Gigantes, o silncio e

    assombro da natureza e a admirao dos homens;

    3. Pelo nome de Argonauta dado a Gama, identificando-o com os heris mticos da Grcia

    antiga, que procuravam desvendar o desconhecimento, buscando o inacessvel e o impossvel.

    de salientar que este poema se associa representao que conferida a Vasco da Gama

    nOs Lusadas obra em que o heri tambm elevado no plano dos Deuses nomeadamente

    no episdio Ilha dos Amores.

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    Anlise do Poema "O Monstrengo"

    O mostrengo que est no fim do mar

    Na noite de breu ergueu-se a voar;

    A roda da nau voou trs vezes,

    Voou trs vezes a chiar,

    E disse: Quem que ousou entrar

    Nas minhas cavernas que no desvendo,

    Meus tetos negros do fim do mundo?

    E o homem do leme disse, tremendo:

    El-Rei D. Joo Segundo!

    De quem so as velas onde me roo?

    De quem as quilhas que vejo e ouo?

    Disse o mostrengo, e rodou trs vezes,

    Trs vezes rodou imundo e grosso.

    Quem vem poder o que s eu posso,

    Que moro onde nunca ningum me visse

    E escorro os medos do mar sem fundo?

    E o homem do leme tremeu, e disse:

    El-Rei D. Joo Segundo!

    Trs vezes do leme as mos ergueu,

    Trs vezes ao leme as reprendeu,

    E disse no fim de tremer trs vezes:

    Aqui ao leme sou mais do que eu:

    Sou um povo que quer o mar que teu;

    E mais que o mostrengo, que me a alma teme

    E roda nas trevas do fim do mundo,

    Manda a vontade, que me ata ao leme,

    De El-Rei D. Joo Segundo!

    Reflexo:O que o Gigante Adamastor para Os Lusadas para a Mensagem O mostrengo.Ambos, cardeais, axiais; ambos de tal importncia, que foram colocados, pelos seus autores,

    exactamente, pensadamente, mesmo materialmente, no meio do grande poema. No caso da

    Mensagem, o rigor e a exactido so matemticos: 21 poemas antes, 21 poemas depois de O

    mostrengo. Estes episdios, esto no meio pois isto a meio da viagem e o ponto mais alto e

    difcil para o povo portugus.

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    Anlise do Poema "Mar Portugus"

    mar salgado, quanto do teu sal

    So lgrimas de Portugal!

    Por te cruzarmos, quantas mes choraram,

    Quantos filhos em vo rezaram!

    Quantas noivas ficaram por casar

    Para que fosses nosso, mar!

    Valeu a pena? Tudo vale a pena

    Se a alma no pequena.Quem quer passar alm do Bojador

    Tem que passar alm da dor.

    Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

    Mas nele que espelhou o cu.

    Reflexo:

    Este poema compara-se com o episdio despedida das naus em Belm de Os Lusadas pois aslgrimas de Portugal que tornaram salgados o mar, so as mesmas que os familiares choraram

    perante a partida dos marinheiros para a aventura martima.

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    Com a Mensagem, Fernando Pessoa pretende dar a conhecer aos portugueses os feitos dos seus

    antepassados e a conquista do Quinto imprio.

    Mensagem44 Poemas

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    1. Parte Braso

    I Os campos1. O dos Castelos

    2. O das Quinas

    II Os Castelos

    1. Ulisses

    2. Viriato

    3. O Conde D. Henrique

    4. D. Tareja

    5. D. Afonso Henriques

    6. D. Dinis7(I). D. Joo o Primeiro

    7(II). D. Filipa deLencastre

    III Quinas

    1. D. Duarte, Rei dePortugal

    2. D. Fernando, Inf. dePortugal

    3. D. Pedro, Reg. dePortugal

    4. D. Joo, Infante dePortugal

    5. D. Sebastio, Rei dePortugal

    IV A Coroa

    Nuno lvares Pereira

    V O Timbre

    A Cabea do grifo: OInfante D. HenriqueUma Asa do Grifo: D.Joo o Segundo

    A Outra Asa do Grifo:

    2. parte Mar Portugus

    I O InfanteII Horizonte

    III Padro

    IV O Mostrengo

    V Epitafio deBartolomeu Dias

    VI Os Colombos

    VII OcidenteVIII Ferno deMagalhes

    IX Ascenso de Vascoda Gama

    X Mar Portugus

    XI - A Ultima Nau

    XII: Prece

    3. Parte O Encoberto

    I Os Smbolos1. D. Sebastio

    2. O Quinto Imprio

    3. O Desejado

    4. As Ilhas Afortunadas

    5. O Encoberto

    II Os Avisos

    1. O Bandarra

    2. Antnio Vieira

    3. 'Screvo meu livro beira-mgoa.

    III Os Tempos

    1. Noite

    2. Tormenta

    3. Calma

    4. Antemanh

    5. Nevoeiro

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    Afonso de Albuquerque

    Origem da nossanacionalidade,destacando-se figurasmticas (Ulisses ) ehistricas ( D. Dinis ,

    D. Sebastio, Rei dePortugal, o sonhador, o

    lutador)

    Apogeu dosPortugueses conseguidopelas descobertas:

    O Infante

    O Mostrengo

    Mar Portugus

    Fim das energias,simbolizado pelo nevoeiroque envolve Portugal.

    Vinca-se o mitosebastianista com afigura do Encoberto.

    Esperana e impacinciado poeta na vinda doMessias, para aconstruo do QuintoImprio (Quando oRei? Quando a Hora?

    Screvo meu libro beira-mgoa )

    Nascimento Vida Morte

    Ressurreio