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A MIGRAÇÃO JAPONESA EM JESUÍTAS (PR)
CARLOS ROBERTO FELIPIN1
MARCOS AURÉLIO SAQUETI2
Resumo: Os estudos nipo-brasileiros sob o enfoque geográfico ganham relevância no Centenário da Imigração Japonesa, comemorado no ano de 2008. O presente trabalho reúne considerações sobre a vinda dos primeiros imigrantes japoneses para o Brasil no início do século XX. Ainda na primeira metade deste século, muitos desses imigrantes e seus descendentes passaram a se instalar no Paraná, principalmente na região Norte do Estado, tinham guardado dinheiro trabalhando nas fazendas de café do Estado de São Paulo e passaram a comprar terras no Paraná, onde formaram lavouras de café em muitas cidades do norte paranaense. Os japoneses e seus descendentes estavam entre os pioneiros que se destacaram na ocupação desses territórios. Essa onda colonizadora trouxe muitos migrantes japoneses que ajudaram a desbravar a região onde hoje se situa o município de Jesuítas no noroeste do Paraná, sempre desempenhando um papel importante na história da região. Analisamos ainda, neste estudo, um movimento populacional que se iniciou recentemente na colônia japonesa brasileira e que afetou também o município de Jesuítas, chamado de movimento dekassegui, o que permitirá uma melhor compreensão das transformações ocorridas ao longo de todo esse processo de colonização do Paraná e de seus municípios, em especial no município de Jesuítas, objeto de estudo deste trabalho.
Palavras-chave: migração japonesa; colônia japonesa; povoamento; pioneiros; território.
Abstract: The Japan-Brazilian studies in the geographic focus gain relevance in the Centen-ary of Japanese Immigration, celebrated in 2008. This present work gathers considerations about coming of the first Japanese immigrants to Brazil at the start of twentieth century. Still in the first half of this century, many of these immigrants and their descendants began to settle in Paraná, especially in the North region, they had saved money working in the coffee farms of the State of Sao Paulo and began to buy land in Paraná, where they formed coffee planta-tions in many cities in North of Paraná. The Japanese and their descendants were among the pioneers who stood in the occupation of these territories. This wave of colonization brought many Japanese migrants who helped to pioneer the region where is now the municipality of Jesuítas in the Northwest of Paraná, always playing an important role in the history of the re-gion. We analyzed still in this study, a population movement that began recently in the Japan-ese colony in Brazil and that has also affected the municipality of the Jesuítas, called Dekassegui movement, that it will allow a better understanding of changes occurring through-out the process of colonization of the Paraná and its municipalities, especially in the municip-ality of Jesuítas, the object of this study.
Keywords: Japanese migration, Japanese colony, settlement; pioneers; territory.
1 Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco – Ensino Fundamental, Médio e Profissional. Jesuítas/PR. Professor PDE. E-mail: [email protected] . E-mail: [email protected].
2 Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Geografia, Francisco Beltrão/PR. Professor Doutor. E-mail: [email protected] .
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Resumen: Los estudios “nipo-brasileros” bajo el enfoque geográfico ganan relevancia en el Centenario de la Migración Japonesa, conmemorado en el año 2008. El presente trabajo junta consideraciones sobre la llegada de los primeros inmigrantes japoneses para el Brasil en el inicio del siglo XX. Todavía en la primera mitad de este siglo, muchos de estos inmigrantes y sus descendientes pasaron a instalarse en el Paraná, principalmente en la región Norte del Estado tenían ahorrado dinero trabajando en las haciendas de café del Estado de São Paulo y pasaron a comprar tierras en el Paraná, donde formaron labrantío de café en muchas ciudades del norte del Estado. Los japoneses estaban entre los pioneros que se destacaban en la ocupación de estos territorios. Esa onda colonizadora trajo mucha migración japonesa que ayudaron a explotar la región donde hoy se sitúa el municipio de Jesuitas en el noroeste del Paraná, desarrollando un papel importante en la historia de la región. Analizamos todavía, en este estudio, un movimiento poblacional que empezó recientemente en la colonia Japonesa brasileña y que perjudicó también la municipalidad de t jesuitas, llamado de movimiento “decassegui”, lo que permitirá una mejor comprensión de las ransformaciones ocurridas a lo largo del proceso de colonización del Paraná y sus municipalidades, en especial en la municipalidad de Jesuitas, objeto de estudio de este trabajo.
Palabras-llaves: migración japonesa; colonia japonesa; población; pioneros; territorio.
Introdução
As Diretrizes Curriculares para Educação Básica do Estado do Paraná 2006 adotam como
conceito para o estudo da Geografia “o espaço geográfico, entendido como aquele produzido
e apropriado pela sociedade, composto por objetos naturais, culturais e técnicos e ações
pertinentes a relações socioculturais e político-econômicas.” (p.23). Portanto, as
manifestações culturais percorrem gerações, criam objetos geográficos e são partes do espaço,
registros importantes para a Geografia. O espaço geográfico constitui um terreno fecundo para
essa abordagem, pois é ocupado por complexos e diversificados grupos culturais (sociais e
econômicos), que produzem e reproduzem esse espaço ao longo do tempo, mediante as
determinações das forças políticas hegemônicas e contra hegemônicas.
Logo, os estudos sobre os aspectos culturais e demográficos do espaço geográfico contribuem
para compreender esse momento de intensa circulação de informações, mercadorias, dinheiro,
pessoas e modos de vida. Em meio a essa circulação, está à elaboração cultural singular e
também coletiva, que pode distinguir-se tanto pela massificação da cultura quanto pelas
demonstrações culturais de oposição. Por isso, buscamos mais informações para uma melhor
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compreensão dos aspectos culturais e econômicos do Município de jesuítas (PR) e sobre as
principais influências externas a que estamos expostos atualmente.
O presente trabalho aborda o universo escolar como um espaço democrático, onde existem
liberdade de pensamento e de expressão, sempre privilegiando o processo ensino-
aprendizagem que prima garantir o acesso ao conhecimento, para que o ser humano de posse
desse conhecimento possa exercer plenamente a cidadania sempre com responsabilidade.
Portanto, através do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de
Estado da Educação, foi possível realizar o projeto de Pesquisa Caracterização da Migração
Estrangeira em Jesuítas – PR, do Projeto Folhas A Migração Japonesa em Jesuítas - PR e
também, realizar a implementação desses trabalhos junto aos alunos da segunda série do
Ensino Médio, com os quais foram desenvolvidas várias atividades de pesquisa e investigação
com a finalidade de entender o processo de ocupação e colonização do município de Jesuítas
– PR. Com a realização dessas atividades foi possível a elaboração deste artigo abordando a
vinda dos primeiros imigrantes japoneses para o Brasil, sua chegada ao Paraná, a sua presença
e de seus descendentes em vários municípios paranaenses, especialmente em Jesuítas, onde a
contribuição foi, sem dúvida, fundamental para o progresso do município, que está localizado
no noroeste paranaense, região de intensa atividade agroindustrial, importantíssima para a
economia do Paraná.
Para o desenvolvimento deste trabalho, foi necessário procurar compreender como ocorreu a
formação demográfica da sociedade jesuitense, os movimentos migratórios que promoveram a
ocupação deste município e quais as dificuldades enfrentadas pelos colonizadores que aqui se
instalaram. Para que essa problemática ganhasse forma científica, foi necessária a realização
de várias leituras sobre o tema proposto e a realização de entrevistas com pioneiros da
comunidade, para relacionar a história oficial com a história vivida por esses atores
responsáveis pela organização territorial e pela construção histórica, econômica e cultural de
Jesuítas. Vale ressaltar que, uma das dificuldades enfrentadas foi a carência de dados
históricos oficiais registrados.
Este texto esta dividido em três partes que se completam: em um primeiro momento,
trabalhamos a vinda dos primeiros imigrantes japoneses para o Brasil, que foi motivada por
interesses tanto brasileiros quanto japoneses. O Brasil, logo após a escravidão, no final do
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século XIX, necessitava de mão-de-obra para trabalhar nas fazendas de café. Esta mão-de-
obra européia e asiática era necessária principalmente nas fazendas cafeeiras do Estado de São
Paulo. No final do século XIX e início do XX, o Brasil recebeu grande quantidade de
imigrantes originários de vários países da Europa e também da Ásia, dentre eles do Japão, que
precisava aliviar a tensão social no país, causada por seu alto índice demográfico e pela falta
de trabalho para seus habitantes. A política de imigração japonesa fora adotada no princípio
da sua modernização, durante a era Meiji (1868), intensificando-se no início do século XX.
Os primeiros imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil, foram trazidos pelo navio a vapor
Kasato Maru que aportou em Santos no dia 18 de junho de 1908, logo depois foram levados
para São Paulo e acomodados na hospedaria dos imigrantes, no bairro do Brás. Após alguns
dias na hospedaria eles foram encaminhados para algumas fazendas de café no interior de São
Paulo. A vida nas fazendas era difícil, logo no início, os japoneses perceberam como a
realidade contrastava com o sonho que motivara sua vinda para o Brasil.
Nos anos que se seguiram ao desembarque do Kasato Maru, os primeiros japoneses que
chegaram ao Paraná, fugindo da “quase-escravidão” nas fazendas paulistas, também
enfrentaram neste novo estado inúmeras dificuldades. Os primeiros japoneses se
estabeleceram na região litorânea do estado em Antonina e alguns anos depois chegaram
também ao norte paranaense, onde trabalharam na formação de lavouras de café e algodão,
além de cultivarem outras lavouras para subsistência. Essas atividades agrícolas foram
fundamentais para o desenvolvimento do Norte Pioneiro. Para os japoneses, as terras do norte
paranaense significaram muito mais do que apenas uma mudança de lar. Aqui eles tiveram a
possibilidade de adquirirem suas próprias terras e trabalharem para o crescimento individual,
fugindo do duro regime imposto nas fazendas de café do Estado de São Paulo.
Em um segundo momento colocou-se em evidência a história da ocupação do espaço
jesuitense, a participação importante dos pioneiros descendentes de japoneses na construção
do território de Jesuítas. Os descendentes de japoneses que se estabeleceram no Estado do
Paraná, fixaram-se em vários municípios como: Antonina, Curitiba, Cambará, Londrina,
Assai, Uraí, Maringá, Jesuítas entre outros. Em Jesuítas os descendentes de japoneses se
estabeleceram, atraídos pela terra fértil “solo de terra roxa”, pelo clima agradável, as chuvas
bem distribuídas durante o ano e o sonho de uma vida melhor. Segundo depoimento do Sr.
4
Takeshi Okubo, que chegou junto com sua família a Jesuítas no ano de 1960, as adversidades
enfrentadas por esses desbravadores foram muitas: “essa região era coberta por florestas,
quase não existiam estradas, as chuvas deixavam essas estradas quase que intransitáveis por
causa do barro e da lama, o frio e as geadas eram frequentes no inverno”. Apesar das enormes
dificuldades a comunidade japonesa trouxe a sua importante contribuição para a formação da
cultura e do povo jesuitense.
E por último, caracterizamos o movimento dekassegui que foi o mais relevante da população
de descendentes de japoneses, desde a chegada destes imigrantes ao Brasil. O fluxo crescente
de descendentes de japoneses em direção ao Japão, nas duas últimas décadas do século XX,
reflete a busca da nova geração por melhores oportunidades de trabalho na terra de seus
ancestrais.
Para realizarmos esse trabalho, foi necessária pesquisa bibliográfica com uma série de leituras
dirigidas sobre os temas: conceitos de migração, território e identidade, imigração, migrações
e formação territorial do centro-sul do Brasil e oeste paranaense; uma pesquisa empírica, onde
fomos buscar dados diretamente com os pioneiros responsáveis pela formação da comunidade
jesuitense, por meio de entrevistas e coleta de fotos antigas e atuais para serem comparadas.
Os imigrantes japoneses chegam ao Brasil
A incrível história da imigração japonesa para o Brasil teve inúmeros obstáculos, a
vinda desses imigrantes para o Brasil foi motivada, como já fora dito, por interesses tanto dos
brasileiros quanto dos japoneses. Logo após a abolição da escravidão, no final do século XIX,
o Brasil necessitava de mão-de-obra para trabalhar nas fazendas de café de São Paulo e
também no norte do Paraná. Por outro lado, o Japão precisava aliviar a tensão social no país,
causada pelo seu alto índice demográfico, então, a política de imigração japonesa foi adotada
no princípio da sua modernização, durante a era Meiji (1868), que foi um marco na história
japonesa:
A era Meiji marcou o fim do regime de xogunato e do feudalismo e restabeleceu a autoridade do imperador como poder executivo máximo, além de abrir o país ao contato com os estrangeiros após mais de 250 anos de
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isolamento econômico e cultural. Em 1868, a “carta juramento” do imperador iniciou o processo de ocidentalização do Japão. Meiji transferiu sua residência para Tóquio, oficialmente a nova capital do império. O sistema feudal de posse de terra foi extinto em 1871 e no ano seguinte elaborou-se um novo sistema de ensino. (ENCICLOPÉDIA BRITÂNICA, 1998, p. 414).
Os imigrantes deixaram o porto de Kobe, em 28 de abril de 1908 às 17 horas e 55
minutos, viajaram a bordo do navio Kasato Maru – navio de guerra russo, apreendido pelo
Japão durante a Guerra Russo-Japonesa de 1904 a 1905 e transformado em meio de transporte
de passageiros. Momentos antes da partida do navio, o deputado japonês, Gunta Doi fez o
seguinte pronunciamento aos 781 emigrantes japoneses que estavam a bordo do Kasato Maru
“vocês estão indo para outro país e não devem esquecer que cada um representa o Japão. É
necessário que todos se encarreguem de não manchar a honra japonesa e o nome de sua pátria.
Se não forem capazes de viver condignamente, não pensem em voltar. Tenham vergonha
disso e morram por lá”. (SPINELLI, 2008, p.20).
As palavras do deputado, que discursou na presença do cônsul brasileiro em
Yokohama, Santos Silva, expressavam uma preocupação da política emigratória do Japão
naquele momento histórico. Naquela época existia uma forte campanha antinipônica em
alguns países da América e os emigrantes deveriam se responsabilizar por manter o bom
nome de seu país no estrangeiro.
O Kasato Maru aportou em Santos no dia 18 de junho, às 9 horas e 30 minutos, no
cais de número 14, depois de 52 dias de viagem, os novos imigrantes chegaram ao porto
agitando bandeirolas de seda, do Brasil e do Japão. No dia 19 de junho, seguiram para São
Paulo, onde foram acomodados na hospedaria dos imigrantes, no bairro do Brás. Era um
grande edifício com dormitórios coletivos, cozinha, refeitório e lavanderia, entre outras
dependências. Lá, os japoneses tiveram extremo respeito para lidar com as diferenças
culturais que encontraram em seu primeiro contato com o mundo ocidental. Tinham de usar
roupas ocidentais, adaptar-se à nova comida, muito mais gordurosa, usar vasos sanitários no
lugar de latrinas e chuveiros no, lugar de seus banhos de ofurô.
Depois de algumas noites na hospedaria, os imigrantes foram encaminhados para
seis fazendas de café pela Agência Oficial de Colonização e Trabalho. Eles só não sabiam,
apesar de toda a sua boa vontade, a espécie de trabalho árduo que encontrariam pela frente nas
fazendas de café.
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Figura 01 - Navio Kasato-Maru . Disponível em: < g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL252389-559... >. Acesso em: 12 ago. 2009.
“As árvores dos frutos de ouro”
Na afirmação de Spinelli (2008), “as árvores dos frutos de ouro”, eram, na verdade,
os cafezais, que se localizavam nas fazendas ao longo das estradas Mogiana e Paulista, no
interior do estado de São Paulo e estas fazendas era o destino previsto pelo governo paulista
para os japoneses.
Sob essa lógica, a totalidade do contingente japonês deveria ser de agricultores,
principal requisito para poder imigrar. A grande maioria dos imigrantes japoneses que
cruzaram os mares esperava encontrar um paraíso natural e possibilidades de lucro rápido.
Atraídos pela propaganda das companhias de emigração particulares do Japão, eles vinham
ocupar as terras inexploradas do país, nas lavouras de café que estavam em expansão no
Estado de São Paulo. Viajavam em famílias, de pelo menos três pessoas, aptas ao trabalho
(não importando idade ou sexo), de acordo com as exigências firmadas entre os governos
brasileiro e japonês. A exigência brasileira era decorrente da experiência anterior do país com
imigrantes italianos, que fugiam das fazendas sem cumprir seus contratos, acreditavam as
autoridades, por serem solteiros. (IKEDO, 2008, p.26 e 27).
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A vida nas fazendas era difícil. Logo no início, os japoneses perceberam como a
realidade contrastava com o sonho que motivara sua vinda ao Brasil. Suas habitações eram,
muitas vezes, antigas casas de senzalas adaptadas para os novos trabalhadores. Eram casebres
de tijolos e madeira, enfileirados, muitas vezes sem móvel algum do lado de dentro. Eram
moradias precárias, de pau-a-pique e chão de terra batida. Não existiam banheiros. Na falta de
camas, era necessário dormir sobre galhos secos e palha de milho.
Duas pedras, sobre as quais se equilibravam as panelas, serviam de fogão. A jornada
de trabalho se estendia desde o nascer do sol até o início da noite. Os imigrantes reclamavam
não só da duração excessiva, mas também das proibições e do fato de trabalharem sob uma
severa fiscalização. Os recém-chegados não estavam habituados a trabalhar na lavoura sob o
sol forte e os constantes olhares do fiscal, tendo de aguentar gritos e atitudes grosseiras de um
gaijin (não japonês), comportamento que se chocava brutalmente com o tradicional espírito de
soberania dos imigrantes japoneses.
De fato, o território é formado desde pequenas habitações, pontes, estradas, plantações, até grandes empreendimentos públicos ou privados, que o consubstanciam constantemente a partir das relações que envolvem ou em que são envolvidos. E essas relações são políticas, econômicas e culturais, portanto, sociais, que efetivam diferentes redes e um determinado campo de forças. (SAQUET, 2003, p.26).
Existiam dificuldades que afligiam os imigrantes, como o desconhecimento das
técnicas para o cultivo do café e a necessidade de derrubar matas virgens utilizando apenas
machados e enxadas como ferramentas. A língua portuguesa também era um problema para
os imigrantes, eles desconheciam o idioma, apesar de muitos terem tido um primeiro contato
com a língua em escolas improvisadas nos navios, a comunicação se dava praticamente por
gestos. E, apesar de os intérpretes darem aulas à noite, o cansaço físico prejudicava o
aprendizado.
Segundo Ikedo (2008), a alimentação era mais um problema. Os japoneses, cuja base
nutricional era os legumes, tiveram de se acostumar com os alimentos gordurosos, como o
arroz preparado com banha de animal. Foram obrigados a comer feijão salgado, o que para
eles era estranho – uma vez que o feijão azuki, a variedade dessa leguminosa existente no
Japão, era utilizado apenas para fazer doces. Além disso, os imigrantes substituíram o tatame
pelo colchão, o chá pelo café e deixaram de lado a tigela e o hashi (os tradicionais palitinhos
de bambu usados como talheres) para comer com um prato e colher.
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Para melhorarem a alimentação, os japoneses logo começaram a plantar arroz perto
dos cursos de água. Depois de colhido, o arroz era batido em pilões manuais para o consumo
familiar. Para não deixarem de ter verduras e legumes na dieta, desenvolveram pequenas
hortas, a proteína vinha da carne dos porcos e do bacalhau seco comprado no armazém da
fazenda e preparado na brasa, de forma a lembrar o peixe salgado japonês.
Os imigrantes japoneses tiveram que passar por cima de um tabu secular ao matar os
porcos, o que no Japão era considerado tarefa impura limitada aos desprezados barakumin –
uma casta marginalizada, formada por indivíduos vistos pela maioria como inferiores.
Inicialmente contratados para serem colonos das fazendas de café do Estado de São Paulo, os
imigrantes japoneses rapidamente se rebelaram e fugiram das condições desumanas de
trabalho que encontraram na agricultura paulista. Procurando melhorar de vida para voltar
com dinheiro ao Japão, eles buscavam oportunidades que pudessem garantir independência
econômica e possibilidades de acumulação. Por isso, fizeram deslocamentos inter-regionais,
mudando-se para regiões do Estado de São Paulo e do norte do Paraná, acompanhando a
ampliação da rede de ferrovias que cortavam terras inexploradas.
Figura 02 - Japoneses ao término da colheita de café. (Disponível em: < www.portogente.com.br/.../images/ japoneses2.jpg >. Acesso em: 12 ago. 2008.
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Os imigrantes japoneses aproveitaram os preços baixos dessas terras, pouco
valorizadas devido à presença de populações indígenas, para comprá-las e, assim, ganhar
autonomia econômica. O trabalhador e imigrante japonês, ao invés de enviar à família, no
Japão, a poupança de seu trabalho, investiam-na no Brasil. O dinheiro acumulado nos anos de
trabalho nos cafezais ia sendo canalizado para a ocupação autônoma na agricultura.
Nessas regiões, então, começaram a surgir colônias de agricultores japoneses, que se
articularam de formas diferentes. Uma das maneiras possíveis era a compra de terrenos pelos
imigrantes, que aconteceu, sobretudo, em regiões próximas da capital paulista, como
Mairiporã, Mogi das Cruzes, Cotia e Suzano. Em outros casos, os imigrantes compravam
lotes de mata virgem em grandes fazendas, distantes da capital.
Por fim, alguns núcleos de povoamento se formaram graças à atuação de companhias
de colonização criadas por iniciativa do governo japonês. As companhias compravam
propriedades ou recebiam terras devolutas das autoridades brasileiras, em regime de
concessão, e as entregavam aos colonos já residentes no país ou recém-chegados do Japão.
Conforme relata Ikedo (2008), as colônias japonesas investiram, no começo, no
plantio de café. Mas a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, causou uma
grande crise de superprodução que atingiu em cheio as lavouras paulistas. O governo federal
tomou uma série de medidas restritivas para conter a crise. Entre elas, proibiu a plantação de
novas mudas de café.
Os imigrantes tiveram de trocar os cafezais por outros tipos de cultivo, muitas vezes
buscando terras fora do estado. O Paraná, devido à sua proximidade geográfica com o Estado
de São Paulo e às terras férteis que possuía, recebeu um grande número de japoneses – hoje é
o segundo estado brasileiro com maior concentração nipônica. Eles foram os pioneiros em
dezenas de cidades paranaenses.
Os imigrantes japoneses chegam ao Paraná
A chegada de japoneses ao Paraná foi obra de gerações diferentes, nos anos que se
seguiram ao desembarque do Kasato Maru. Os primeiros japoneses que chegaram ao Paraná
estavam de passagem, foram alguns aventureiros que vieram a Curitiba. “Em 1909, há o
registro de imigrantes em Ribeirão Claro, divisa com São Paulo, mas não significa que eles se
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estabeleceram no Paraná, muitos japoneses moravam no Estado de São Paulo e
atravessaram o rio Paranapanema para trabalhar” (JUSTINO, 2008, p.6).
No ano de 1915, chegaram à cidade de Antonina mais famílias de japoneses, que
passaram a trabalhar em uma plantação de bananas, dois anos depois um grupo de colonos
japoneses dão início a Colônia Cacatu. Aquela região possuía um tipo de terra salobra onde os
japoneses passaram a plantar cana e dedicaram-se a destilarias para fabricar cachaça,
dedicaram-se também ao artesanato e à pesca.
A Colônia Cacatu, em Antonina, foi o primeiro local no Paraná onde os descendentes
de japoneses adquiriram terras. Como estavam insatisfeitos com o trabalho nas fazendas do
noroeste paulista, resolveram se estabelecer nesta região paranaense.
Os japoneses chegaram a Cambará, Norte do Paraná
Além de Antonina, os japoneses também se estabeleceram na região norte do Paraná,
mais precisamente em Cambará, que hoje é lembrada não apenas como a porta de entrada
para o norte paranaense, mas como uma das primeiras terras do Paraná a receber imigrantes
japoneses. Segundo Justino (2008), várias famílias japonesas depois de instaladas em
Cambará, passou a enfrentar muitas dificuldades, como: geadas, falta de dinheiro, pouco
conhecimento sobre os cuidados com os cafezais, mas mesmo assim persistiram por algum
tempo na principal atividade que era o cultivo do café, também cultivavam outros produtos
entre os pés de café como: o arroz, o milho e o feijão, produtos que serviam para a
subsistência das famílias. Após várias geadas que destruíram as plantações de café, muitos
imigrantes japoneses decidiram cultivar lavouras de algodão, a produção de café e a produção
de algodão foram fundamentais para o desenvolvimento do Norte Pioneiro.
Os japoneses chegaram a Londrina e Maringá na década de1930
Somente na década de 1930 tem início um movimento maciço de migração
interna rumo ao Norte Novo do Paraná. A chegada dos japoneses a essa
região acompanhou o processo de colonização iniciada pela Companhia de
Terras Norte do Paraná (CNTP), que ajudou a fundar cerca de 31 núcleos
japoneses em diversas cidades importantes como Londrina, Assaí, Uraí,
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Maringá, entre outras. As terras do norte paranaense significaram muito mais,
aos japoneses do que uma mudança de lar. Foi à possibilidade de adquirirem
suas próprias terras e trabalharem para o crescimento individual, fugindo do
duro regime imposto nas fazendas de café do Estado de São Paulo.
(JUSTINO, 2008, p.6).
Figura 03 – Algumas cidades paranaenses que receberam migrantes japoneses de outras regiões. Adaptado por FELIPIN, Carlos Roberto de <www.limgs.com/blog_lucas/parana/ma >. Acesso em: 20 nov. 2009.
Os japoneses chegaram a Londrina e Maringá na década de1930
Somente na década de 1930 tem início um movimento maciço de migração interna rumo ao Norte Novo do Paraná. A chegada dos japoneses a essa região acompanhou o processo de colonização iniciada pela Companhia de Terras Norte do Paraná (CNTP), que ajudou a fundar cerca de 31 núcleos japoneses em diversas cidades importantes como Londrina, Assaí, Uraí, Maringá, entre outras. As terras do norte paranaense significaram muito mais, aos japoneses do que uma mudança de lar. Foi à possibilidade de adquirirem suas próprias terras e trabalharem para o crescimento individual, fugindo do duro regime imposto nas fazendas de café do Estado de São Paulo. (JUSTINO, 2008, p.6).
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ALGUMAS CIDADES PARANAENSES QUE RECEBERAM MIGRANTES JAPONESES DE OUTRAS REGIÕES.
ALGUMAS C IDADES PARANAENSES Q UE REC EBERAM MIGRANTES JAPO NESES DE O UTRAS REGIÕ ES
Ikedo (2008) argumenta que, os imigrantes tiveram de trocar os cafezais paulistas por
outros tipos de cultivo e muitas vezes acabaram buscando terras fora do Estado de São Paulo.
O Paraná devido à sua proximidade geográfica com aquele estado e em virtude das terras
férteis que possuía, recebeu um grande número de japoneses. Muitas cidades paranaenses
foram fundadas por esses pioneiros, como Assaí e Uraí, duas pequenas cidades situadas no
norte do Paraná, fundadas por companhias colonizadoras japonesas. Essas cidades ainda
possuem traços marcantes do período em que eram quase exclusivamente nipônicas.
Assaí (do japonês assahi, que significa Sol nascente), a 48 km de Londrina, é
considerada a capital do algodão, cultura implantada por iniciativa dos imigrantes japoneses,
pioneiros no povoamento da região. O município nasceu de um projeto da Companhia
Colonizadora Três Barras – uma das sociedades de imigrantes financiadas pelo governo
japonês, que instalou imigrantes no município de São Jerônimo da Serra, no loteamento então
chamado de Três Barras (que depois mudou de nome para Assailândia e permaneceu como
Assaí, a partir de 1938). No final de 1941, havia na cidade 1 614 famílias, quase todas
morando em casas feitas com troncos de palmeiras.
Os pioneiros de Uraí (de ura-hi, Sol poente) também eram japoneses. As terras da cidade faziam parte do município de Assaí e estavam [sic], sob a concessão da Companhia de Terras Sul América. Esta passou a gleba à Companhia Nambei Tochi Kubushiki Kaisha, que iniciou a colonização. Em 1936, os primeiros desbravadores japoneses iniciaram a ocupação da área. Esse grupo desmatou as terras virgens e executaram as primeiras obras de infra-estrutura, como pontes e estradas. O desenvolvimento foi rápido e logo a região se transformou num próspero vilarejo, com intensa ocupação de lotes urbanos e rurais. (IKEDO, 2008, p.34).
Destas duas cidades nipônicas, uma foi a capital do algodão, outra a capital do rami,
plantas utilizadas na produção de tecidos. Ambas as cidades tiveram população japonesa em
sua fundação. No início a população era formada por 99 % de japoneses, hoje provavelmente
tenha 50 % da população composta por japoneses e seus descendentes. Nas últimas décadas
houve um esvaziamento dessas cidades, pois muitos de seus moradores foram para centros
maiores onde existiam oportunidades de estudo e de trabalho. Cidades como São Paulo,
Curitiba, Londrina e Maringá, servem como exemplos, pois atraíram migrantes de todas as
regiões do Brasil, outros se tornaram dekasseguis indo morar e trabalhar no Japão.
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Origens do município de Jesuítas (PR)
Município de Jesuítas, em linhas gerais, foi originário de títulos de domínio pleno do
Estado do Paraná, com base na escritura datada de 26 de março de 1960, do registro de
imóveis da comarca de cascavel, nesse Estado, lavrada das notas do 6º tabelião Simas
Pompeu de Toledo, do Estado de São Paulo, às folhas 46 do livro nº06. Em conformidade
com o decreto nº56, foi realizado o loteamento da região, então denominada “Gleba Rio
Verde”, pela firma Colonizadora SINOP – (Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná Ltda),
sediada na cidade de Maringá PR.
Figura 04 - Praça da Igreja Matriz Santo Inácio de Loyola, foto tirada do cruzamento da Av. Padre Anchieta com a Av. Santo Inácio de Loyola – (Romaria com destino a Aparecida do Norte outubro de 1975). Fonte Arquivo da Pref. Mun. de Jesuítas. Disponível em: < http://www.jesuitas.pr.gov.br/artigos/artigos.php?id=113 >. Acesso em: 07 out. 2009.
Quanto às origens da população jesuitense, tornou-se imprescindível recordar as
diversas culturas que a constituíram. Os povos indígenas, que foram catequizados pelos
Padres Jesuítas e depois capturados por bandeirantes e escravizados para trabalhar nas
lavouras de cana-de-açúcar do litoral do Brasil Colônia, isso no final do século XVI e início
do século XVII. A partir das incursões feitas pelos bandeirantes, o resultado dessa ação foi à
destruição das reduções jesuíticas, onde viviam os povos indígenas tupis-guaranis. Muitos
14
foram mortos, outros aprisionados e muitos fugiram junto com os Padres Jesuítas para o Sul
do Brasil, em direção a região dos Sete Povos das Missões. Toda essa região transformou-se
numa vasta terra de ninguém, cujo “vazio” ficou à margem da colonização pelo menos por
três séculos. Em meados do século XX, ocorreu a chegada de diversos grupos de migrantes,
como os italianos, japoneses, espanhóis, portugueses e nordestinos, que iniciaram o processo
de colonização do município.
Todos esses grupos de colonizadores integraram-se à vida do pequeno povoado e tiveram papel importante no desenvolvimento sócio-econômico do município, pois ao se estabelecerem dedicaram-se às várias atividades, tais como: a exploração da agricultura, do comércio, da madeira e outros. (JESUÍTAS ESPECIAL, Publicação Especial os 20 anos do Município, 2000, p. 06).
No processo de desenvolvimento econômico e na diversidade cultural de jesuítas,
pode-se relatar a importância de cada etnia. A presença dos migrantes italianos, espanhóis,
portugueses e nordestinos encontra-se registrada historicamente no município já na década de
1950, onde se destacaram pela importante contribuição demográfica e cultural, chegando a
obter uma considerável representatividade socioeconômica, cultural e política.
Figura 05 - Praça da Igreja Matriz Santo Inácio de Loyola, foto tirada do cruzamento da Av. Padre Anchieta com a Av. Santo Inácio de Loyola, em 22/11/2009 – Fonte. FELIPIN, Carlos Roberto, 2009.
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Os migrantes japoneses chegam a jesuítas
Outro grupo de migrantes que também teve um importante papel no desenvolvimento
econômico do município, foi o dos japoneses que chegaram durante a década de 1960.
Agricultores por excelência, foram responsáveis pela formação da laboriosa comunidade
japonesa. Com a chegada em jesuítas de várias famílias de agricultores, esses migrantes
japoneses efetuaram derrubadas e queimadas da mata, formando lavouras de café na região.
Esses pioneiros da migração japonesa, também se destacaram na prática de outras atividades,
tais como o comércio de secos e molhados, a educação, farmácia, hotelaria, carpintaria,
comércio de cereais, estúdio fotográfico entre outras.
Os primeiros colonizadores de origem japonesa que se estabeleceram em Jesuítas,
dedicaram-se à agricultura, iniciando o desenvolvimento da cultura do café, tradição trazida
do Estado de São Paulo e do Norte do Paraná. Vale ressaltar que além da cultura do café,
culturas intercaladas (arroz, feijão, milho), a hortelã, a exploração e o comércio de madeira
contribuíram muito para atrair colonizadores e comerciantes do ramo madeireiro dada a
existência de grande quantidade de madeira de lei, tais como a peroba, o cedro, marfim,
canela, ipê e outras.
Vários grupos de colonizadores tiveram papel importante no desenvolvimento sócio-
econômico do município, pois ao se estabelecerem dedicaram-se ao extrativismo, à
agricultura e à pecuária. Paralelamente ao desenvolvimento das áreas rurais, deu-se o
desenvolvimento da área urbana. Os pioneiros, na sua maioria, iniciaram a construção de
casas residenciais, escolas, igrejas e estabeleceram casas de comércio. Pode-se destacar entre
muitos pioneiros a Srª. Miyo Kussuda, que relatou aspectos históricos da sua vida em Jesuítas,
originária da cidade de Lins, Estado de São Paulo, mudou-se para a cidade de Terra Boa junto
com seus pais e irmãos, onde trabalharam na formação de lavouras de café. No ano de 1961 se
casou e mudou-se para Ibaiti, depois para Mariluz e no ano de 1966 vieram para Jesuítas, com
a esperança de melhorar de vida. Com muita dificuldade montaram uma loja de móveis,
“naquela época não existia energia elétrica, água encanada, nem asfalto, foi um sofrimento
muito grande, médico nem pensar, tinha que ir para Goioerê para ser atendido em um
hospital”. Segundo a Srª. Miyo, “em Jesuítas tinha muito mato, poeira. Quando chovia tinha
muito barro, para buscar os móveis, tinha que ir até Maringá, demorava dois dias; se chovesse
não tinha como viajar por causa da lama e do barro que se formavam nas estradas”.
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A Srª. Miyo e o esposo, já falecido, tinham a esperança de uma vida melhor para toda
a família, tiveram quatro filhos que estudaram e hoje estão todos formados e trabalhando,
portanto as expectativas se confirmaram, mas exigiram muito trabalho, sacrifício e muita
economia para a família conseguir atingir os seus objetivos.
Para a Srª. Miyo a colônia japonesa de Jesuítas sofreu influências em relação às
tradições e costumes, na alimentação foi influenciada pela culinária brasileira, no vestuário
também houve alterações, aquelas vestimentas típicas eram utilizadas somente em ocasiões
especiais, algumas festas, ou em apresentações folclóricas. Atualmente junto com um dos
filhos, ela continua atuando no comércio de móveis em Jesuítas.
Em 1963, já estavam instaladas mais de quarenta famílias japonesas. A comunidade sentiu a necessidade de contratar um professor de língua japonesa, ficando o cargo sob a responsabilidade do professor Yoshimassa Kubota, que lecionava apenas aos domingos. Após certo período, foi contratado um professor formado, deu-se a chegada do Sr. Toshikazu Sato. (REVISTA ALUSIVA AOS 40 ANOS DA ACEJ, 2005, p. 04).
Figura 06 - Grupo de fundadores da antiga Associação Nipo-Brasileira, atual ACEJ Associação Cultural e Esportiva de Jesuítas Ano 1970. Imagem gentilmente cedida pela ACEJ (Associação Cultural e Esportiva de Jesuítas PR).
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Com o objetivo de manter a tradição, usos e costumes da terra do “Sol Nascente” e
ao mesmo tempo oferecer atividades esportivas, culturais, música, dança e folclore fundou-se
a Associação Nipo-Brasileira de Jesuítas em 21-09-1965, que conta uma parte importante da
história do município.
Durante a década de 1970, a atuação da antiga associação Nipo-Brasileira, que mais
tarde passou a se chamar ACEJ (Associação Cultural e Esportiva de Jesuítas), foi importante,
pois incentivou várias atividades esportivas dentre elas o beisebol, com a qual a equipe de
Jesuítas obteve alguns resultados expressivos no cenário estadual: foi a campeã regional
infantil no ano de 1970, jogando contra equipes das cidades de Toledo, Ubiratã, Assis
Chateaubriand, Goioerê entre outras.
Figura 07 - Equipe de Beisebol Infantil de Jesuítas, junto com integrantes da colônia japonesa - (Campeã Regional em 1970). Imagens gentilmente cedidas pela ACEJ (Associação Cultural e Esportiva de Jesuítas PR).
Grande parte dos descendentes de japoneses que vive hoje em Jesuítas veio do
Estado de São Paulo, onde trabalhavam nas fazendas de café. Era uma vida difícil, pois a
jornada de trabalho era muito desgastante, eles trabalhavam sob uma severa fiscalização desde
o amanhecer até o início da noite. Após alguns anos, muitas famílias conseguiram com muita
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luta e sacrifício guardar algum dinheiro e se mudaram para o Estado do Paraná, considerado
na época um território a ser desbravado. Alguns se estabeleceram na Região Norte do Estado
em Londrina, Maringá, Assaí, Uraí, enquanto outras famílias resolveram migrar para Jesuítas,
situada no Noroeste do Estado. Esses migrantes foram atraídos pela terra fértil “solo de terra
roxa”, pelo clima agradável e pelas chuvas bem distribuídas durante o ano. Eles traziam
consigo o sonho de uma vida melhor.
O território jesuitense nessa época era coberto por florestas, praticamente não
existiam estradas. Nos dias chuvosos, as poucas estradas ficavam intransitáveis por causa do
barro e da lama. A comunicação com as cidades vizinhas nesses dias era extremamente difícil,
tinha-se que percorrer cerca de 60 km de estradas no meio do mato, para chegar a Toledo ou
Goioerê, que eram as cidades onde existiam hospitais e médicos. Essas viagens podiam
demorar um dia ou mais, se estivesse chovendo era muito mais difícil chegar ao destino.
Atualmente esse percurso pode ser feito em menos de uma hora, através das estradas
pavimentadas existentes.
Segundo depoimento do Sr. Takeshi Okubo, que chegou ao Brasil com apenas três
anos de idade, originário da ilha de Shikoku, sul do Japão, — mais precisamente do Estado de
Koshi Ken, região com um clima um pouco mais quente, comparado com a região norte do
Japão — viajou de navio chegando ao Porto de Santos junto com seus pais e irmãos. De lá,
foram levados para uma fazenda na região denominada “Sorocabana”, morando dois anos no
Estado de São Paulo. Depois vieram para o Estado do Paraná, quando ele tinha então cinco
anos. Chegaram a Londrina, para trabalhar formando lavoura de café, o contrato com o
proprietário era para quatro anos, nesse período seu pai veio a falecer, o Sr. Takeshi tinha
então seis anos de idade, após terminarem de cumprir o contrato, mudaram-se para a “Seção
Cafezal”, ainda município de Londrina. Com muitas dificuldades sua família adquiriu cinco
alqueires de terra no Bairro Frazer, região de Londrina, lá permanecendo até o ano de 1959,
nesse ano mudou-se para o município de Terra Boa permanecendo até 1960, no final deste
ano vieram para o município de Formosa do Oeste, fixando-se no povoado que se chamava à
época Progresso. Alguns anos mais tarde, este povoado foi alçado à condição de distrito com
o nome de Jesuítas, o qual, em 1982 conquistou a emancipação política de Formosa do Oeste,
mantendo até hoje a mesma denominação, Jesuítas.
Chegando com esposa e filhos a Jesuítas, no ano de 1960, o Sr. Takeshi enfrentou
muitas adversidades. No período do inverno o frio era muito e o dinheiro pouco, então era
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difícil comprar cobertores e agasalhos para a família enfrentar tanto frio. As geadas
queimavam os cafezais, causando grandes prejuízos. Após uma geada tinha que se esperar
mais dois anos até as lavouras de café voltarem a produzir. A energia elétrica, nessa época,
ainda não havia chegado à região, durante a noite usava-se a lamparina e o lampião abastecido
com querosene. O transporte era feito através de carroça, pois existiam apenas alguns
automóveis e caminhões. Tudo era muito precário.
Conforme relatou o Sr. Takeshi Okubo, em entrevista concedida no dia 22/10/2008:
Tudo isso aqui era coberto de mato, uma verdadeira floresta, tinha muito palmito, tinha muita madeira, existiam árvores com até dois metros de diâmetro, ainda tinha poucos moradores. A cidade já era projetada, a avenida principal era apenas uma trilha no meio do mato, existia uma única venda, que comercializava ferramentas, foices, enxadas e mantimentos. Mas, a maior dificuldade era a geada que queimava as plantações de café, tornando a vida ainda mais difícil para todos.
O Sr. Takeshi acompanhou o processo de desenvolvimento de Jesuítas desde os seus
primeiros momentos históricos até os dias atuais. Junto com seus familiares, viveu e
presenciou as mudanças e transformações por que passou o referido município. Durante os
anos de (1991 e 1992) esteve no Japão como dekassegui, não ficou muito tempo, pois aqui
plantou raízes muito profundas. O Sr. Takeshi, afirma ter muito orgulho de tudo o que fez e
viveu por aqui, e não pretende ir para outro lugar. Ele permanece morando em Jesuítas com
sua esposa e um de seus filhos, onde a família exerce atividade comercial.
A colônia japonesa em Jesuítas sempre desempenhou um papel importante na história
do município, sendo muito atuante em todos os momentos, desde o período do desbravamento
em que também ocorreu a derrubada das matas, depois no plantio, na educação e na cultura da
região. Com características de simplicidade e também de coragem, esses personagens
trilharam um caminho adverso, passaram por dificuldades, mas mantiveram-se persistentes,
buscando na terra o fruto para o progresso. Se hoje esse pedaço do Paraná é tão dinâmico e
possui grandes perspectivas econômicas, foi porque houve lutas, renúncias, muito trabalho,
sacrifícios, ideais e muita dedicação. Muitos que contribuíram para que tudo isso acontecesse,
lançando na terra as primeiras sementes, que germinaram, cresceram e se multiplicaram
fazem parte da colônia japonesa. “Depois desses pioneiros, que tiveram a fibra de construir
uma cidade, muitos e muitos vieram se unir [sic] com entusiasmo, acreditando na terra e
tendo um horizonte de esperanças” (JESUÍTAS ESPECIAL, 2000, p.03).
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Figura 08 - Reunião de integrantes da Colônia Japonesa de Jesuítas comemoração do dia das mães 10-05-2009. Imagens gentilmente cedidas pela ACEJ (Associação Cultural e Esportiva de Jesuítas PR).
Jesuítas têm em suas raízes a contribuição da cultura japonesa. Uma herança milenar
trazida pelos imigrantes e parcialmente ainda cultivada por seus descendentes, que ajudaram a
formar o jeito de ser do nosso povo. Portanto, Jesuítas é hoje a soma dos esforços de várias
etnias, entre elas a dos japoneses e seus descendentes que aqui se estabeleceram acreditando
no progresso e no desenvolvimento desta região, como era o sonho dos primeiros imigrantes
que chegaram ao Brasil em 1908, a bordo do navio Kasato Maru, atravessando oceanos, em
busca das famosas “arvores dos frutos de ouro”. Muitos de seus descendentes as encontraram
por aqui, e não foram mais embora, criaram suas famílias, educaram seus filhos e netos,
Jesuítas para eles é a terra com a qual seus ancestrais sonharam quando saíram do Japão.
Trabalhadores nipo-brasileiros retornam à terra dos antepassados
Milhares de brasileiros de origem japonesa invertem o fluxo imigratório do século
XIX, ao buscar no Japão a esperança que aqui no Brasil se tornou escassa. Segundo Masato
Ninomiya nas décadas de 1980 e 1990, quase um século depois de os japoneses terem
21
emigrado para o Brasil, seus filhos e netos começaram, a repetir a história dos seus
antepassados.
Muitos trabalhadores nikkeis passaram a deixar o Brasil, país onde nasceram e que
naquele momento enfrentava uma crise financeira, indo se aventurar do outro lado do mundo,
em busca de melhores oportunidades financeiras. “O trabalho era conhecido como 3 K:
Kitanai (sujo), Kitsui (pesado, duro) e Kiken (perigoso) e, por isso, os japoneses do Japão não
queriam” (MAZZINI, 2008, p. 41).
No Brasil, a política adotada pelo então presidente Fernando Collor, acabou
agravando ainda mais a economia brasileira, provocando um aumento considerável no
número de dekasseguis, que iam procurar trabalho no Japão. A situação da economia
brasileira era difícil, o crescimento econômico tinha caído muito, a inflação estava totalmente
descontrolada, chegando a atingir dois mil e quinhentos por cento ao ano, no início da década
de 1990, prejudicando seriamente os trabalhadores de classe média e baixa.
Alguns descendentes de japoneses que viviam em Jesuítas nessa época, também se
lançaram nessa aventura como afirma o Sr. Artur K. Missaki, que foi para o Japão junto com
sua família. Mesmo tendo uma vida tranquila em Jesuítas, ele viu no Japão uma oportunidade
única; era a chance de conquistar a independência financeira, pois ele tinha alguns parentes
que haviam ido para lá alguns anos anteriores e estavam ganhando um bom dinheiro (dólares)
e a economia brasileira estava distante de ser razoável naquele momento. Juntamente com a
esposa e seus dois filhos, o Sr. Artur partiu para a terra dos seus ancestrais em 1991.
Entretanto, segundo ele poderiam ter ido dois anos antes, porque “as coisas por lá estavam
boas financeiramente”.
A região escolhida fica próxima à cidade de Tóquio, há aproximadamente 30
quilômetros de distância. A cidade era Kasukabe, na Província de Saitama-Ken, onde todos
conseguiram trabalho em uma indústria de frios. Mas o trabalho não era fácil, eles perfaziam
uma jornada de oito horas diárias e mais três horas extras e o serviço era pesado e desgastante.
Porém, o Sr. Artur chegou a ser líder de sessão, o que lhe garantiu uma renda maior no final
do mês. O relacionamento com os japoneses não foi problema, pois ele fala o idioma japonês
muito bem, servindo muitas vezes como tradutor entre os trabalhadores brasileiros e os
japoneses, tanto no local de trabalho, como também em outras circunstâncias.
Para melhorar a convivência no local de trabalho, o Sr. Artur organizou, com os funcionários
da sessão onde trabalhava um grupo para fazer uma confraternização no final de cada mês,
22
quando todos se reuniam em uma churrascaria para comemorar o aniversário de algum
companheiro, que inclusive era presenteado pelo grupo. Para fazer essa reunião com os
amigos, era necessário trabalhar um pouco mais durante os dias da semana, pois eles
precisariam sair mais cedo do trabalho no sábado. Adiantando as tarefas durante a semana era
possível sair no final da tarde e a reunião do grupo de trabalhadores para o churrasco era feita
no período da noite.
O Sr. Artur e sua família ficaram vivendo e trabalhando no Japão por quatro anos e
meio. Durante esse período, conseguiram concretizar as suas expectativas; guardaram uma
significante quantia, pois os salários pagos no Japão eram bem maiores do que os que eram
pagos no Brasil. Eles recebiam em ienes e convertiam em dólares americanos, moeda forte na
época, quando a família retornou ao Brasil. As economias foram investidas na compra de
terras, o que lhes permitem hoje, uma vida mais tranquila, com mais segurança financeira. O
retorno da família Missaki, foi antecipado por problemas familiares aqui no Brasil. Segundo o
Sr. Artur, aquele momento ainda era muito bom para ganhar dinheiro por lá, ele estava
recebendo, naquela época, um ótimo salário e se dependesse dele, teria ficado mais tempo.
Figura 09 - Sr. Artur e Esposa no Japão, com representantes da cultura japonesa, que apresentam peças teatrais mostrando a época do shogunato e dos samurais, maio de 1995. (Foto - gentilmente cedida pelo senhor Artur).
23
Além do trabalho, a família Missaki teve outras experiências interessantes na terra do
“sol nascente”. Essas experiências culturais foram muito importantes para todos eles. A
família visitou vários locais turísticos, como águas termais, locais históricos onde aconteciam
simulações teatrais da época do shogunato e dos samurais, templos e o memorial construído
em homenagem aos soldados mortos na Segunda Guerra Mundial, local de grande emoção,
visitou também a Torre de Tóquio e o Palácio Imperial, residência do Imperador e da família
Imperial. Portanto, as experiências foram muito gratificantes e o Sr. Artur e sua família
nutrem um sentimento de gratidão ao país de seus ancestrais, por ter permitido e oportunizado
a eles lá trabalharem e viverem. No Japão aprenderam muito, sobre a cultura, a disciplina,
respeito e a dedicação do povo japonês. A família Missaki sempre terá boas lembranças do
período em que viveram na terra dos samurais.
No outro lado do mundo o Japão vivia, nessa época, um crescimento econômico
espetacular. A economia japonesa estava em expansão, os imóveis tinham alcançado uma
extraordinária valorização, existiam muitas facilidades para o crédito e o crescimento das
negociações das ações nas bolsas de valores era uma constante. Vivia-se o período que ficou
conhecido como “economia de bolha”, que durou apenas alguns anos. A crise não demorou a
chegar, e a economia japonesa passou a enfrentar muitas dificuldades e as instituições
financeiras perceberam que os imóveis que estavam hipotecados e as ações não valiam tanto
quanto se pensava.
Enquanto a economia de bolha durou, criou oportunidades para os dekasseguis. “Os
trabalhadores japoneses aproveitaram o momento para trocar o trabalho nas fábricas de
grandes empresas pela comodidade, dos escritórios com ar condicionado – deixando para trás
empregos considerados vitalícios, por trabalhos temporários, em que recebiam como horistas,
sem estabilidade e bonificações”. (NINOMIYA, 2008, p.79).
Ninomiya (2008), em seus estudos afirma que durante a segunda metade da década
de 1980, o número de brasileiros residindo no Japão cresceu em ritmo acelerado. “Até 1987, o
número de vistos concedidos era da ordem de cinco mil por ano, segundo o Consulado Geral
do Japão, responsável por mais de 70% dos vistos emitidos no Brasil. Em 1988, foram
entregues oito mil e seiscentos vistos. Em 1989, esse número subiu para dezoito mil e
trezentos”.
No início dos anos 1990, o governo japonês alterou a legislação. A partir de junho
daquele ano uma nova cláusula permitia a entrada de filhos e netos de japoneses nascidos no
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exterior e após a referida mudança passou a ser permitida a entrada dos descendentes na
qualidade de “residentes por longo período”. Dessa forma, “com esse novo status os
imigrantes brasileiros não tinham mais restrições para trabalhar naquele país, esse benefício
foi estendido também aos cônjuges. Em 1990 foram emitidos quarenta e oito mil e cem vistos.
No ano seguinte oitenta e cinco mil brasileiros foram ao Japão”. (NINOMIYA, 2008, p. 80).
Ito (2008) argumenta que, por desconhecer a língua japonesa, grande parte dos
dekasseguis vivia em um Brasil à parte dentro do Japão, pois, lá existiam várias redes de
mercados comercializando produtos brasileiros, sendo possível comprar todo tipo de
mercadoria, como feijão, goiabada, panetone, cerveja, guaraná, revistas e até filmes em DVD.
Havia também, alguns restaurantes que serviam feijoada, churrasco, marmitex, cabeleireiros,
perfumes e roupas vindas do Brasil, cursos para tirar carteiras de motoristas no Japão, escolas
onde se falava e ensinava português, jornais semanais com notícias da comunidade,
campeonato de futsal, danceterias e concursos de beleza. São alguns exemplos da estrutura
encontrada pelos dekasseguis que vivem no Japão.
Em função de toda essa estrutura, aliada ao desconhecimento da língua, por parte
significativa dos milhares de dekasseguis, é que se pode afirmar que muitos integrantes da
comunidade brasileira no arquipélago, vivem num Brasil à parte, só se relacionando com os
japoneses quando estritamente necessário. Mesmo nesses casos, eles são intermediados por
tradutores, além disso, grandes fábricas chegam a ter centenas de brasileiros em suas linhas de
montagem, levando muitos a não se relacionarem com os japoneses nativos, nem mesmo no
ambiente de trabalho.
Quando segregado dessa forma o nikkei, chamado de japonês aqui no Brasil, acaba
se descobrindo brasileiro no Japão. Essa estrutura gerou certo comodismo em relação ao
idioma local, contribuindo para dificultar ainda mais a não aceitação dos nipo-brasileiros, por
parte dos japoneses nativos.
Nesta primeira década do século XXI, quando o processo de globalização estava em
plena ascensão em todo o mundo, o desempenho da economia nipônica não era diferente, pois
os seus resultados positivos estiveram muito atrelados ao comércio exterior, principalmente
aos Estados Unidos. Mas, durante o ano de 2008, as coisas mudaram e a crise se instalou nos
países mais desenvolvidos do mundo, principalmente nos Estados Unidos, que acabou
arrastando com ele outros países capitalistas. No Japão a situação não foi diferente; sua
economia foi afetada, suas exportações diminuíram, dezenas de fábricas fecharam as portas e
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os maiores prejudicados foram os trabalhadores dekasseguis brasileiros que, no momento,
estão perdendo os seus empregos e se obrigando a voltar. Em função disso, o Brasil deve se
preparar para o retorno dos dekasseguis emigrados.
Considerações finais
A Migração Japonesa em Jesuítas (PR) foi o tema que proporcionou a elaboração de
pesquisas e investigações sobre a participação dos imigrantes japoneses no processo de
formação da sociedade brasileira, desde a chegada dos pioneiros japoneses em 1908, até o
movimento inverso àquele, ou seja, até e emigração dos dekasseguis para as terras nipônicas,
ocorridas a partir da década de 1980.
No processo de elaboração deste trabalho, o que se constatou é que, independente de
quando saíram do Japão, todos os imigrantes japoneses vieram carregados de sonhos. Sonhos
de “ganharem dinheiro, muito dinheiro e um dia retornar para o seu país de origem”. Para
conquistar esse sonho, enfrentaram enormes dificuldades quer nos trabalhos pesados a que
precisaram se submeter, quer seja em relação aos costumes diferentes dos seus, a uma língua
difícil de compreender, a patrões interessados somente na exploração da sua força de trabalho,
e, finalmente tiveram de adaptarem-se a um país e a um povo completamente diferentes do
seu. Porém, o que se constatou, é que esses imigrantes foram, ao longo do tempo e aos
poucos, se adaptando ao novo país. O tempo passou e eles, com muita força de vontade e
disposição para o trabalho progrediram, tornaram-se proprietários de terras no Oeste de São
Paulo e no estado do Paraná, onde foram, em muitas cidades destas regiões, protagonistas do
seu desbravamento e de sua prosperidade. Com o tempo, já não pensavam mais em voltar para
seu país, pois haviam encontrado aqui, uma nova pátria, que os adotou como filhos. O
momento então, era de fincar raízes no Brasil e deixar a marca oriental nesse país.
Jesuítas, foco mais específico desta pesquisa, também recebeu a contribuição da
comunidade japonesa que, com o seu obstinado trabalho, ajudou a construir o progresso deste
município. A presença japonesa pode ser registrada em vários segmentos da sociedade
jesuitense, na agricultura, na educação, no comércio, na religião, na política, na saúde enfim,
no dia a dia da sociedade jesuitense. O trabalho da comunidade japonesa provavelmente
sempre terá um lugar de destaque na história de Jesuítas, que se orgulha de fazer parte do
Brasil, considerado a nação de todos os povos.
26
Durante a elaboração dessa pesquisa, foi possível a participação dos alunos da
segunda série do Ensino Médio, de alguns professores e também da coordenação e direção do
Colégio Estadual Humberto de Alencar Castelo Branco de Jesuítas (PR). Sob a orientação da
UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), essa participação ocorreu
principalmente durante o processo de implementação, durante o qual houve a realização de
várias atividades em sala, o que permitiu uma maior compreensão do processo de ocupação
do território onde hoje está situado o município de Jesuítas. Houve também, uma melhor
compreensão da formação demográfica da sociedade jesuitense, especialmente em relação à
participação dos migrantes japoneses. A intenção era transmitir as informações que estão
presentes no Projeto Folhas e também neste artigo, aos alunos e à comunidade escolar, para
que todos possam ler e interpretar de uma forma mais crítica o espaço local.
De acordo com as Diretrizes Curriculares de Geografia para Educação Básica (2006),
há que se empreender um ensino capaz de fornecer aos alunos conhecimentos específicos da
Geografia, com os quais eles possam ler e interpretar criticamente o espaço, sem deixar de
considerar a diversidade das temáticas geográficas e suas diferentes formas de abordagem. A
função da Geografia na escola é desenvolver o raciocínio geográfico, isto é, pensar a realidade
geograficamente e despertar uma consciência espacial. Em conformidade com esta
concepção, a função do professor é, então, a de empreender uma educação que considere a
heterogeneidade, a diversidade e a complexidade do mundo contemporâneo, onde a
velocidade do deslocamento das pessoas, das informações, dos capitais e das instituições
acaba determinando a configuração do espaço geográfico.
Em relação à constituição do espaço geográfico jesuitense, bem como sobre sua
constituição histórica é relevante lembrar que não apenas os japoneses contribuíram para a sua
formação. Este trabalho procurou destacar a importância desse povo para a construção do
espaço onde vivemos eles que sempre participaram com muita determinação da história e dos
principais acontecimentos que ocorreram no município de Jesuítas, desde os seus primeiros
momentos até os dias de hoje. Portanto fica a sugestão de que outros professores-
pesquisadores se disponham a analisar as outras etnias, (espanhóis, portugueses, italianos,
paulistas, mineiros, nordestinos) que também imprimiram suas características na cultura e na
formação do povo jesuitense. Estes trabalhos em muito contribuiriam para a compreensão do
que somos e do por que assim é o nosso município. Além do valor acadêmico, estes trabalhos
teriam também a função de resgatar nossas memórias e de registrar a participação de todos os
27
grupos étnicos que tiveram participação na formação da identidade e da territorialidade do
povo jesuitense que foram protagonistas da nossa história.
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