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XI Encontro Regional Nordeste da ABEM I Fórum Cearense de Educação Musical I Encontro dos Coordenadores dos Cursos de Licenciatura em Música do Nordeste Fortaleza, 07 a 09 de Junho de 2012 A Musicografia Braille no Curso de Música - Licenciatura da Universidade Federal do Ceará Gabriel Freire Lima Universidade Federal do Ceará – UFC [email protected] Jonatas Souza e Silva Universidade Federal do Ceará – UFC [email protected] Resumo: O presente artigo busca relatar experiências vividas pelos bolsistas do Núcleo de Musicografia Braille – UFC (NMB/UFC), tendo como foco um olhar discente: a permanência de alunos cegos no Curso de Música – Licenciatura da UFC, e um aspecto docente: preparar minimamente os estudantes, futuros professores de música para realizar atividades com deficientes visuais. Esse relato de vivências também é uma tentativa de orientar outros interessados em preparar o “terreno” para inclusão musical de deficientes visuais em Cursos de Graduação em Música, Licenciatura ou Bacharelado, servindo para indicar como as atividades foram (e estão sendo) realizadas, suas experiências positivas e negativas, apresentando “um olhar transcritor” dos bolsistas envolvidos no trabalho. Palavras-chave: musicografia Braille, transcrição, inclusão social. Introdução Atualmente os temas inclusão e acessibilidade são bastante discutidos no ambiente acadêmico. A abrangência desses temas não se limita apenas a observar o ingresso desses alunos, mas principalmente a permanência e o apoio didático-pedagógico específico, oferecido para cada tipo de necessidade dos alunos, necessitando de uma preparação por parte do corpo docente e discente das Universidades. Analisando o recente trabalho de SOARES (2011), verificamos que à autora nos remete as dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais quanto ao acesso e à disponibilidade de material didático específico em Braille nos ambientes universitários brasileiros. Acrescenta ainda que estudos “têm mostrado a importância do uso de recursos didáticos para alunos com baixa visão e cegos, que auxiliam na leitura, na escrita e no acesso à informação transmitida em sala de aula”. (SOARES, 2011, p. 12).

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O presente artigo busca relatar experiências vividas pelos bolsistas do Núcleo de Musicografia Braille – UFC (NMB/UFC), tendo como foco um olhar discente: a permanência de alunos cegos no Curso de Música – Licenciatura da UFC, e um aspecto docente: preparar minimamente os estudantes, futuros professores de música para realizar atividades com deficientes visuais. Esse relato de vivências também é uma tentativa de orientar outros interessados em preparar o “terreno” para inclusão musical de deficientes visuais em Cursos de Graduação em Música, Licenciatura ou Bacharelado, servindo para indicar como as atividades foram (e estão sendo) realizadas, suas experiências positivas e negativas, apresentando “um olhar transcritor” dos bolsistas envolvidos no trabalho.

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A Musicografia Braille no Curso de Música - Licenciatura da Universidade

Federal do Ceará

Gabriel Freire Lima Universidade Federal do Ceará – UFC

[email protected]

Jonatas Souza e Silva Universidade Federal do Ceará – UFC

[email protected] Resumo: O presente artigo busca relatar experiências vividas pelos bolsistas do Núcleo de Musicografia Braille – UFC (NMB/UFC), tendo como foco um olhar discente: a permanência de alunos cegos no Curso de Música – Licenciatura da UFC, e um aspecto docente: preparar minimamente os estudantes, futuros professores de música para realizar atividades com deficientes visuais. Esse relato de vivências também é uma tentativa de orientar outros interessados em preparar o “terreno” para inclusão musical de deficientes visuais em Cursos de Graduação em Música, Licenciatura ou Bacharelado, servindo para indicar como as atividades foram (e estão sendo) realizadas, suas experiências positivas e negativas, apresentando “um olhar transcritor” dos bolsistas envolvidos no trabalho.

Palavras-chave: musicografia Braille, transcrição, inclusão social.

Introdução

Atualmente os temas inclusão e acessibilidade são bastante discutidos no ambiente

acadêmico. A abrangência desses temas não se limita apenas a observar o ingresso desses

alunos, mas principalmente a permanência e o apoio didático-pedagógico específico,

oferecido para cada tipo de necessidade dos alunos, necessitando de uma preparação por parte

do corpo docente e discente das Universidades. Analisando o recente trabalho de SOARES

(2011), verificamos que à autora nos remete as dificuldades enfrentadas pelos deficientes

visuais quanto ao acesso e à disponibilidade de material didático específico em Braille nos

ambientes universitários brasileiros. Acrescenta ainda que estudos “têm mostrado a

importância do uso de recursos didáticos para alunos com baixa visão e cegos, que auxiliam

na leitura, na escrita e no acesso à informação transmitida em sala de aula”. (SOARES, 2011,

p. 12).

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O sistema Braille é um sistema legítimo e oficial para os alunos com deficiência

visual, e com ele é possível expressar vários escritos específicos como: textos em várias

línguas; códigos matemáticos e de informática; símbolos científicos; e inclusive a escrita

musical, Musicografia Braille.

O trabalho com a Musicografia Braille no Curso de Música - Licenciatura da UFC

teve início em 2009 com o ingresso de um estudante que já tinha uma vivência com

deficientes visuais e com a linguagem Braille e que aos poucos apresentou aos professores

propostas e formas de inserção da Musicografia Braille no Curso. A partir da análise dos

professores, que prontamente acreditaram na importância do trabalho inclusivo na

Universidade, iniciou-se o planejamento sobre as diversas atividades relacionadas à

Musicografia Braille que seriam possíveis de serem realizadas.

O fato de ter sido o Curso de Música – Licenciatura recém-criado proporcionou

condições relevantes para o início do trabalho com a Musicografia Braille, pois havia uma

necessidade premente em permitir o acesso a um maior número de estudantes ao Curso e as

suas atividades extensionistas. Desde o início, acreditava-se em uma proposta que visasse dar

a oportunidade de inclusão de alunos com deficiência visual nas atividades do Curso, através

da transcrição e viabilização do material didático-pedagógico empregado nas aulas práticas e

teóricas, e que fosse adequado para atender tal necessidade. Com o crescimento das

discussões relacionadas à musicografia, e com o apoio da Pró-Reitoria de Graduação, foi

criado no início de 2010 o Núcleo de Musicografia Braille – UFC (NMB/UFC). Com a

criação do Núcleo, foi possível não só expandir o trabalho de transcrição de livros, através da

concessão de bolsas, como também elaborar atividades paralelas direcionadas a Educação e a

formação de Educadores com a participação de alunos do Curso de Música – Licenciatura.

Durante o planejamento das atividades musicográficas do Núcleo, detectamos

algumas necessidades iminentes, que foram: a falta de material de estudo musical transcrito

para o Braille; carência de trabalhos científicos direcionados a temática Braille e Música,

como fonte de pesquisa; e escassez de profissionais da área de educação musical capacitados

a lecionar para pessoas que necessitam desse conhecimento. A partir dessas observações e

com a intenção de gerar condições favoráveis para a inserção de pessoas com necessidades

especiais na Universidade, a meta prioritária inicial do NMB/UFC foi de preparar o material

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didático-pedagógico utilizado no Curso de Música – Licenciatura para ser utilizado por um

aluno deficiente visual que necessitasse da leitura/escrita Braille, ao mesmo tempo em que

seria possível oferecer ferramentas pedagógicas e material didático para os alunos do Curso

que manifestassem um mínimo desejo em aprender os códigos da Musicografia Braille com

interesses docentes. Segundo Bonilha “[...] a produção de materiais didático-musicais e de

partituras em Braille é, sem dúvida, um dos pilares de sustentação do ensino e da divulgação

desse sistema” (BONILHA, 2006, p. 32).

As transcrições realizadas pelo NMB/UFC foram de suma importância para a

conservação da Musicografia Braille na instituição, mantendo a escrita musical em Braille

ativa e disponível. É certo que até o momento de redação deste artigo não há alunos no Curso

de Música - Licenciatura que necessitem da Musicografia Braille para o acesso ao conteúdo

didático/pedagógico, porém a atitude de transcrever o material evidenciou a preocupação da

instituição em estar preparada para receber um aluno com tais especificidades, não deixando a

adequação didática apenas para o momento de inserção do aluno na Graduação, o que poderia

gerar uma demora e uma má organização do material didático.

O NMB/UFC acredita que a ação de transcrever é essencial, mas não é o único

caminho para a manutenção e ampliação das discussões referentes à Musicografia. Acredita-

se que intervenções com atividades envolvendo a escrita Braille, durante o processo de

formação de educadores musicais, também é uma forma de desenvolver o interesse e chamar

a atenção dos estudantes e futuros professores para essa área pouco conhecida e explorada.

[...] educadores musicais são, muitas vezes, desprovidos de todas as informações acerca da notação musical em Braille. Assim, quando recebem, pela primeira vez, um aluno com deficiência visual ele se sentem desorientados e não sabem a quem recorrer. Some-se a isso o fato de que, ao longo da formação acadêmica, esses professores raramente ouvem falar sobre o modo como pessoas cegas lêem Música, e, por isso, eles muitas vezes não têm idéia da existência da Musicografia Braille. (BONILHA, 2006, p. 64)

Diante da situação inusitada de um primeiro contato com a escrita Braille de

professores e alunos do Curso de Música – Licenciatura da UFC, o NMB/UFC criou

estratégias de acesso à escrita Braille, tendo como objetivo mostrar a importância da

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Musicografia Braille como uma ferramenta de inclusão para ser usada pelos futuros

professores de música, entretanto sem a necessidade de promover um aprofundamento sobre o

tema. Com esse intuito, o Núcleo propôs a apresentação de seminários, de forma a sintetizar

apenas o conhecimento básico, que embora tenha sido superficial, foi suficiente para auxiliar

a compreensão da escrita Braille e estabelecer um contato, naquele momento, com uma nova

forma de escrita que era apresentada.

Diante do exposto, entendemos que esse trabalho traz uma análise reflexiva sobre o

material transcrito pelos bolsistas do NMB/UFC: partituras e livros didático-musicais

originalmente em “tinta” e transcritos para o Braille. Estando o NMB/UFC funcionando em

seu quarto ano de atividades, inserido diretamente no Curso de Música Licenciatura – UFC e

tendo como seus bolsistas alunos do próprio Curso de Música, a análise aqui apresentada é

relativa aos seis primeiros semestres de funcionamento do grupo, buscando mostrar através de

um “olhar do transcritor”, seus questionamentos e a importância do seu trabalho.

Um Olhar Transcritor

O trabalho foi elaborado a partir das transcrições realizadas pelos bolsistas-

transcritores do NMB/UFC sobre livros/métodos utilizados no Curso de Música –

Licenciatura da UFC. Dois livros foram escolhidos para dar início ao trabalho de transcrição e

serviram de base para as análises e reflexões de experiências contidas nesse artigo. São eles:

Music For Sight Singing de Robert W. Ottoman e Nancy Rogers (2001), e o Método para

Flauta Doce Soprano de Helmut Mönkemeyer, traduzido e adaptado para o português por

Sérgio Oliveira de Vasconcelos Corrêa (1976).

As transcrições, em sua maioria, foram realizadas com a utilização de computadores

do laboratório de informática do Curso, utilizando-se o software Braille Fácil1 que permitiu a

edição e a impressão de textos para o Braille. Após o processo de digitalização o material foi

revisado. A revisão das transcrições foram realizadas da seguinte forma: um transcritor leu o

livro impresso em tinta enquanto outro transcritor corrigiu e conferiu as informações no

1 Software programado por José Antônio Borges e Geraldo José Ferreira Chagas Júnior, apoiado pelo Projeto Dosvox – UFRJ com distribuição gratuita disponível em: http://intervox.nce.ufrj.br/brfacil/

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arquivo digital, não havendo custos com impressões prévias antes de chegarmos ao formato

definitivo para a impressão e utilização. O texto com as Normas técnicas para a produção de

textos em Braille afirma que: “A revisão de textos em braille deve ser feita por uma pessoa

cega, usuária do sistema e que domine algumas de suas diversas aplicações.” (LEMOS et al.,

2006, p. 23). Pelo fato do Núcleo ainda não dispor de recursos e também da ajuda de uma

pessoa cega no processo de revisão, a impressão final do material transcrito ainda não foi

realizada.

As ações realizadas no NMB/UFC, a partir da visão do transcritor, se configuraram

em um crescimento constante no ato de transcrever e na expansão do “vocabulário”

musicográfico dos transcritores, tornando o trabalho dinâmico e ampliando o conhecimento

teórico/prático sobre o assunto. O processo de construção do material e as dúvidas geradas no

decorrer do trabalho formularam questionamentos: como transcrever para o Braille aspectos

musicais ainda não abordados nos livros de Musicografia Braille? Como fazer para tornar a

leitura musical em Braille sem maiores dificuldades para a compreensão do

cego/músico/leitor?

Todas as dúvidas que surgiram no decorrer das transcrições sejam elas relacionadas à

configuração dos exercícios transcritos em páginas em Braille ou de ordem técnica, como

adaptação das especificidades que os métodos possuem e que a Musicografia Braille não

aborda, sempre foram respondidas de maneira que possibilitasse uma maior fluência na leitura

Braille, pesquisando exemplos prévios escritos, buscando esclarecimentos em grupos virtuais2

relacionados à Musicografia, ou até mesmo, algumas vezes, solicitando a um músico cego

para ler e expressar sua opinião sobre qual a maneira mais interessante para se transcrever um

determinado trecho musical. O que se buscou não foi criar uma nova forma de escrever a

Musicografia Braille, porém adaptar algumas peculiaridades encontradas na escrita musical

que não foram abordadas nos métodos de Musicografia, ou que não conhecemos ainda,

reconhecendo que a Musicografia Braille é uma área extensa e que requer muito estudo e

dedicação dos interessados.

2 O grupo de discursões relacionadas à Musicografia Braille de maior acesso e referência tem sido o grupo Musibraille, disponível em: http://groups.google.com/group/musibraille?hl=pt-BR

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Quando nos deparamos com aspectos musicais que não conhecíamos a forma

apropriada de se escrever em Braille, pesquisávamos qual a maneira mais viável de

transcrever. Se não era encontrada uma solução, fazíamos nossa adaptação, mas quando

encontrávamos a resposta para a nossa dúvida, modificávamos e corrigíamos o trecho

anteriormente adaptado. Dessa forma, íamos adicionando, quando necessário, “legendas”,

indicações para as alterações, adaptações inseridas na peça musical, ou para “sinais” que

raramente são usados e que podem gerar a dúvida no leitor. No decorrer do processo

constatamos que o transcritor, impreterivelmente, necessita interpretar o que está sendo

transcrito, sempre fiel ao processo de transcrição, mas podendo fazer alterações quando

necessário sem mudar o “sentido” musical da obra.

Na transcrição do livro Music For Sight Singing, observamos que existem vários

símbolos musicais de expressão e que em um primeiro momento, pode dificultar a leitura em

Braille, pois exige um “vocabulário” musical extenso do leitor. É importante esclarecer que

esse livro não foi elaborado para um estudo musical em Braille. Dessa forma transcrevemos o

livro em duas versões:

A primeira versão é simplificada, onde omitimos os símbolos musicais e textos que

julgamos desnecessários para uma leitura inicial, facilitando assim a fluência na leitura e a

compreensão dos motivos musicais, sendo que esta versão utiliza-se apenas símbolos básicos

da Musicografia.

A segunda versão segue fielmente o livro, basicamente uma transcrição que exige do

leitor um extenso “vocabulário” musical Braille, versão essa que sugerimos ser lida quando o

aluno já tivesse um domínio sobre os princípios básicos da Musicografia Braille e desejasse

seguir adiante com os estudos musicais.

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Figura 1 – Exercício do livro Music For Sight Singing em tinta.

Figura 2 - Exercício do livro Music For Sight Singing transcrito para o Braille, 1º versão.

Figura 3 - Exercício do livro Music For Sight Singing transcrito para o Braille, 2º versão.

A versão transcrita para o Braille foi também organizada em 21 capítulos de acordo

com a versão original que possui um total de 422 páginas. A impressão em Braille tornar-se-ia

muito volumosa sendo necessário dividir esta versão em 21 pequenos livros, com o objetivo

de se ter, após a impressão, um menor volume de folhas. Os 21 pequenos volumes são

sequenciados de acordo com o assunto abordado nos capítulos da versão original impressa em

tinta.

Nos exemplos das figuras acima podemos observar como um pequeno exercício do

livro pode gerar um trecho com vários caracteres em Braille. Outro aspecto que deve ser

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observado é que o livro Music For Sight Singing adota o sistema de solfejo relativo, e que

dessa forma foi transcrito para o Braille, fato esse que exige mais da atenção do transcritor

que deve ler e escrever tudo pensando de maneira relativa, especificidade essa que trataremos

melhor em outro trabalho.

Paralelamente com o processo de transcrição do Music For Sight Singing, foi feita a

transcrição do livro Método para Flauta Doce Soprano contendo exercícios e trechos

musicais que seguem em níveis graduais de dificuldade. O livro é dividido em capítulos, nos

quais, geralmente no início de cada capítulo, encontra-se uma descrição de técnicas do

instrumento, tais como formas de soprar e a posição das notas no instrumento (dedilhado),

para serem trabalhados nos exercícios abordados em cada capítulo.

No Método para Flauta Doce Soprano foram empregados parâmetros semelhantes

aos utilizados no Music For Sight Singing, tanto na parte de adaptação de símbolos

musicográficos para o Braille, quanto nas configurações de páginas e do conteúdo. Entretanto,

durante o processo de transcrição para o Braille, surgiram situações que dificultaram trabalho

como, erros de edição do livro, numeração errada e confusa dos exercícios, e, além dos sinais

de expressão já mencionados, também surgiram especificidades relacionadas às gravuras que

davam orientação sobre dedilhado.

No Método ocorrem alguns erros de edição como incoerências na numeração dos

exercícios e excesso no valor da duração das figuras necessárias para preencher o compasso.

As Normas técnicas para a produção de textos em Braille (LEMOS et al., 2006, p. 17), sugere

que a adaptação deve manter a fidelidade ao texto original, porém não existe no documento o

posicionamento do tradutor perante erros na cópia original do texto deixando a questão

indefinida e sobre o critério do tradutor/transcritor.

Da mesma forma como o Music For Sight Singing o Método para Flauta Doce

Soprano também foi transcrito em duas versões. Na primeira versão do método, foram

copiados apenas os exercícios musicais, deixando de fora as representações gráficas e as

explanações técnicas, supondo que o aluno que ingressar no curso irá contar com a presença

do professor específico no instrumento, que fará orientações acerca das questões técnicas e

especificidades do instrumento de sopro como embocadura, dedilhado, respiração

interpretação e etc. Foram removidos também dos exercícios os sinais de expressão, por

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motivos já citados anteriormente na transcrição do livro Music for Sight Singing, como os

sinais de respiração e de forte e piano. Já sobre as indicações de dedilhado, aparece uma

explicação no capítulo 1 e 2, no qual “os números romanos I e II indicam as duas posições

possíveis para a nota si” (MÖNKEMEYER, 1960, p. 8). Esses sinais para dedilhado foram

excluídos da primeira versão, com a mesma finalidade de facilitar da leitura. O capítulo 16

contém uma explicação sobre trinados em texto e em representação gráfica do dedilhado,

além da explicação em texto de outros ornamentos como apojatura, mordente superior e

mordente inferior. Sendo assim todos os ornamentos citados que surgiram anteriormente ao

capítulo 16 foram cortados para uma leitura mais rápida e fluente.

Na segunda versão, a proposta é dispor o conteúdo integralmente para o leitor, sem

modificar sua forma original, possibilitando um estudo sem acompanhamento do professor,

uma vez que o método é autoexplicativo. No caso do dedilhado, o livro Iniciação à

Musicografia Braille (TOMÉ, 2003, p. 80-81) indica uma notação para o dedilhado, que foi

utilizada no início dos capítulos, quando aparece a posição dos dedos para cada som.

Entretanto, não foi colocada na partitura por ser muito extenso e adotamos assim a forma

original do Método para Flauta Doce Soprano no qual são utilizados os números romanos. Os

exercícios podem ser executados com certa fluência uma vez que o aluno tenha aprofundado

seu conhecimento na Musicografia Braille.

Figura 4 - Exercício do Método para Flauta Doce Soprano em tinta.

Figura 5 - Exercício do Método para Flauta Doce Soprano transcrito para o Braille, 1ª versão.

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Figura 6 – Exercício do Método para Flauta Doce Soprano transcrito para o Braille, 2ª versão.

Acreditamos que essas reflexões sobre o trabalho de transcrição realizado pelo

NMB/UFC possam, até o momento, ajudar na manutenção da escrita musical em Braille,

buscando melhores condições de aprendizado de quem depende desse sistema. Há outros

aspectos que foram encontrados no decorrer do processo de transcrição que não foram citados

nesse artigo, sendo possíveis temas para futuros trabalhos científicos tais como: a utilização

do solfejo relativo no sistema Braille, o uso da Musicografia Braille nas Universidades

Brasileira e a Musicografia Braille na formação de educadores musicais.

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Referências

BONILHA, F.F.G. Leitura musical na ponta dos dedos: caminhos e desafios do ensino de musicografia Braille na perspectiva de alunos e professores. 2006. Dissertação (Mestrado em Música). Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, 2006. LEMOS, Edilson Ribeiro [et al]. Normas técnicas para a produção de texto em Braille. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2006. MÖNKEMEYER, Helmut. Método para Flauta Doce Soprano. São Paulo: Ricordi Brasileira, 1976. Traduzido e adaptado por Sérgio Oliveira de Vasconcelos Corrêa. OTTOMAN, Robert W.; ROGERS, Nancy. Music For Sight Singing. Seventh Edition. Upper Saddle River, New Jersey: Pearson Prentice Hall, 2001. SOARES, Ana Cristina Silva. A inclusão de alunos com deficiência visual na Universidade Federal do Ceará: ingresso e permanência na ótica dos alunos, docentes e administradores. 2011. Tese (Doutorado). Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará, 2011. TOMÉ, Dolores. Introdução a Musicografia Braille. São Paulo: editora Global, 2003.