A n A t u R e z A d o co n c e R t o Ab R A â m I c o d A ...circle.adventist.org/files/unaspress/parousia2004020515.pdf · por ocasião do arrebatamento da Igreja. Então, todas

Embed Size (px)

Citation preview

  • - 5 -

    Resumo: Este artigo trata com a questo da natureza do Concerto Abramico. ele condicional ou incondicional como defen-dido pela hermenutica dispensacionalista? O autor argumenta que esse concerto nunca se pretendeu ser puramente judaico. Ele tambm incluiu diretivas divinas s quais a comunidade abramica deveria responder em f e obedincia. Por sua rebelio e re-jeio de Cristo, Israel anulou as intenes imediatas de Deus. Contudo, os propsitos divinos so soberanos. Por meio de Cristo, a Semente de Abrao por excelncia, todas as provises foram tomadas para um mais amplo cumprimento das eternas provises do Concerto Abramico.

    AbstRAct: This article deals with the question of the nature of the Abrahamic Co-venant: Is it conditional or unconditional, as defended by the dispensationalist hermeneu-tics? The author contends that this Covenant was never intended to be purely Jewish. It included also divine directives to which the abrahamic community was expected to respond in faith and obedience. By the unfaithfulness of Israel and her rejection of Christ, literal Israel forfeited Gods immedia-te intentions. However, Gods purposes are sure and sovereign. Through Christ, the Seed of Abraham par excellence, all provisions have been taken for the fuller fulfillment of the everlasting Covenant with Abraham.

    IntRoduo

    Desde a publicao do influente Theology of the Old Testament, de Walther Eichrodt, com sua nfase na centralidade do tema do

    concerto no Antigo Testamento1 , e a tentativa de G. Mendenhall2 em estabelecer paralelos entre os antigos tratados hititas e a noo bblica do concerto, uma enorme quantidade de literatura abordando este tema tem sido publicada. desnecessrio dizer que as teorias de Eichrodt e Mendenhall so desa-fiadas e defendidas com igual fervor em anos recentes. O resultado desta nfase e disputas, entretanto, elevaram a idia do concerto a ocupar um lugar de importncia vital nos estudos atuais do Antigo Testamento.

    Contudo, independente do relativamente recente interesse de alguns setores da teolo-gia no tema do concerto no Antigo Testamen-to, ou da concentrao habitual no Concerto Sinatico3 , evanglicos conservadores tm tradicionalmente enfatizado a importncia do Concerto Abramico para correta com-preenso da mensagem bblica. John Murray, representante da tradio Calvinista, observa que este concerto com Abrao, explici-tamente estabelecido em Gnesis 15, 17, [que] enfatiza a totalidade do subseqente desenvolvimento da promessa redentiva de Deus, [em] palavra e ao.4

    Provavelmente a maioria dos segmentos do mundo evanglico atual no teria difi-culdade em aplaudir essa percepo. John F. Walvoord, representante da hermenutica dispensacionalista, tambm reconhece que o Concerto Abraamico uma das revela-es mais importantes e determinativas das Escrituras. Segundo Walvoord, o Concerto Abramico fornece a chave para todo Antigo Testamento. [...] A anlise de suas provises e o carter de seu cumprimento estabelecem

    A nAtuRezA do conceRto AbRAmIco: umA AnlIse dA InteRpRetAo dIspensAcIonAlIstAAmIn A. RodoR, th.d.Professor de teologia sistemtica e diretor do SALT, Unasp, Campus Engenheiro Coelho

  • - 6 -

    o formato para todo o corpo da verdade bblica.5

    Sem dvida, precisamente em termos das promessas dadas a Abrao, que Deus na plenitude dos tempos, enviaria Seu Filho, para que todos, sem distino, recebessem a adoo de filhos. A redentiva graa de Deus, no alcance mais amplo de sua rea-lizao, o desdobramento da promessa dada a Abrao, e, portanto, o desdobramen-to do Concerto Abramico. Assim, Paul R. House adequadamente sumariza a questo quando afirma a respeito de Genesis 11:10-25:18: Dito de forma simples, ento, seria dificil exagerar a importncia desta seo na literatura bblica, e, portanto, na teologia bblica.6

    confIguRAndo o pRoblemADentro da transcendente importncia

    do Concerto Abramico emerge o debate quanto a questo de sua natureza: Paul N. Benware coloca o indicador sobre o ele-mento crucial da questo. Provavelmente o mais importante aspecto relacionado com o Concerto Abramico tem que ver com sua natureza. ele condicional (bilateral) ou um concerto incondicional (unilateral)? Como a questo respondida determina a estrutura dos estudos profticos que adotada.7 Evidentemente, decises inter-pretativas quando aplicadas natureza do concerto com o patriarca determinaro a perspectiva teolgica assumida.

    A no condicionalidade do Concerto Abramico particularmente defendida pela hermenutica dispensacionalista, hoje infiltrada em praticamente todos os ramos do protestantismo,8 a qual, como postula-do bsico de sua teologia, cria uma aguda dicotomia e descontinuidade entre Israel e a Igreja. Para C. Ryrie, tal distino (entre Israel e a Igreja) considerada a primeira essncia9 do dispensacionalismo e, de fato, podemos consider-la o fundamento do sistema, sem a qual o dispensacionalismo deixaria de existir.10 Dispensacionalistas crm que o programa de Deus para Israel est temporariamente in hold, durante a presente era da Igreja, e ser retomado por ocasio do arrebatamento da Igreja.

    Ento, todas as promessas do Concerto Abramico se cumpriro literalmente com a descedncia fisica do patriarca, vista como os beneficirios exclusivos do concerto.

    Segundo o dispensacionalismo, permi-tir que as bnos do Concerto Abrami-co11 , prometidas descendncia tnica do patriarca, tenham cumprimento espiritual na Igreja, ou vice-versa (que as bnos espirituais de promessas feitas Igreja, se cumpram no Israel fsico), seria o pri-meiro passo para fundir aquilo que deve permanecer separado (i.e., Israel e Igreja). Da mesma forma, segundo os intrpretes dispensacionalistas, tornar as bnos do Concerto Abramico dependentes da fideli-dade ou obedincia de Israel, seria tambm o passo inicial para se argumentar que tais bnos se cumpririam espiritualmente com a Igreja. Assim, afirmando a incondi-cionalidade do concerto com Abrao, o dis-pensacionalismo busca garantir distintos o futuro de Israel do futuro da Igreja em duas escatologias absolutamente separadas.

    Reivindicando utilizar como princpio hermenutico o literalismo consistente em seu estudo das Escrituras, o dispensa-cionalismo defende o cumprimento literal das promessas bblicas, s quais nenhuma condio foi acrescentada, e enfatiza que as bnos prometidas semente de Abrao so fsicas, em lugar de espirituais e soteriolgicas. Essa nfase insiste ainda que todo Israel tnico desfrutar estas bnos fsicas e, uma vez que elas ainda no se cumpriram, tero cumprimento em algum tempo no futuro. O dispensaciona-lismo cr que essa compreenso no nada mais e nada menos do que o resultado de sua estrita aderncia a uma hermenutica literalista, a qual descarta qualquer in-terferncia do princpio hermenutico da analogia da f. O resultado direto desta leitura do Antigo Testamento em geral, e do Concerto Abramico, em particular, a tendncia dispensacionalista de identificar o estado moderno de Israel com o Israel do Antigo Testamento.

    A teoria da incondicionalidade do Con-certo Abramico, portanto, envolve trs questes fundamentais: Primeiro, promete o concerto que Israel permaneceria como

  • - 7 -

    nao, e como depositrios das bnos divinas para o mundo? Segundo, promete o concerto com Abrao permanente posse da terra prometida sua descendencia t-nica, ao atual Israel Sionista? Terceiro, o cumprimento das promessas do concerto exclusivamente dependente na fidelidade de Yahweh, sem qualquer relao com a obedincia e fidelidade humanas? Estas so as questes fundamentais, objetos do propsito deste estudo.12

    o pAno de fundo pARA A noo do conceRto

    Embora o conceito de berth, como princpio fundamental da religio de Is-rael, tenha alcanado um lugar seguro na discusso teolgica do Antigo Testamento, como Eichrodt13 observa, considerando-se a prpria irregularidade da distribuio de ocorrncia do termo, reservas so conti-nuamente expressas quanto ao seu signi-fica original. luz das opinies correntes acerca da idia do concerto, com volumosa bibliografia, relacionada em livros, artigos e ensaios, tratando com este tema, o que, como j mencionado, indica a forte nfase que colocada em sua importncia e sig-nificado, um estudo de qualquer aspecto do tema, deve iniciar com, pelo menos, uma breve considerao do termo berth, sua definio, uso nas Escrituras e tipos de concertos, antes que possamos adequada-mente interpretar a idia comunicada por ele, nas referncias individuais encontradas na narrativa bblica relacionada aliana Abramica.14

    A etimologiA de berthA fora etimologica do termo hebraico

    berth15 no inteiramente certa.16 A pala-vra ocorre pelos menos 280 vezes no An-tigo Testamento, traduzida freqentemente como concerto/aliana. Noutros casos, a palavra traduzida tambm por liga (Js 9:9; 2Sm 3:12 etc); confederao (Ob 7; Gn 14:23). O termo usado em uma variedade de significados, parecendo envolver no apenas o sentido de aliana, mas tambm, de compromisso, ordenana e lei. As opinies, como poderia se esperar,

    divergem quanto questo do significado primrio do termo. Estudos etimolgicos buscando encontrar a raiz por traz de berth, no alcanaram resultados conclusivos17 . De acordo com M. Weinfeld18 , as deriva-es sugeridas podem ser classificadas em quatro possibilidades fundamentais19 . Para Mendehall, alternativa que envolve a idia de vnculo e responsabilidade do con-certo, a posio geralmente aceita.

    Deve-se observar que, embora diferen-tes intrpretes cheguem a variadas conclu-ses quanto ao significado etimolgico da palavra20 , certo consenso parece indicar que, quer os parceiros fossem iguais ou no, era por meio do concerto que eles, juntos, formavam um relacionamento ntimo. Eles estavam to intimamente unidos que as partes eram freqentemente mencionadas em termos de parentesco. Pedersen mantm a mesma posio e fala de uma comunho de alma e vontade dos dois, que resulta em um propsito comum, amizades comuns, inimigos comuns, confiana mtua e leal-dade, com excluso de discrdias. Em tudo isto, diz ele, a vontade da parte mais forte era a fora dominante.21 Esta harmonia resultante freqentemente descrita pela palavra shalom, a qual enfatiza a inteireza, harmonia e unidade das partes. Esta nfase no carter bilateral e recproco de berth geralmente aceita por diversos estudiosos da questo.

    Em concluso, quanto a etimologia de berth, embora o significado original do termo seja obscuro e tem sido objeto de considervel discusso, geralmente aceito que a palavra veio a significar um compromisso mtuo de responsabilidade entre duas partes. Para sumariar as posi-es sugeridas acima, talvez, a seguinte de-finio poderia ser oferecida: um concerto um acordo entre duas partes, o qual os une, com interesses e responsabilidades comuns. Contudo, uma vez que existe uma grande variedade de usos do termo, uma nica e curta definio no poderia cobrir todos os casos. Somos deixados com a impresso de que os estudos etimolgicos isolados do termo berth e do seu significa-do original, no favorecem, alm da dvida razovel, quer a condicionalidade ou a

  • - 8 -

    incondicionalidade dos concertos bblicos. Assim, o estudo dos casos especficos de concertos no Antigo Testamento pode ser um campo mais produtivo na compreenso do conceito.

    tIpos de conceRto no AntIgo testAmento

    Como geralmente observado, encontra-mos dois tipos de concertos mencionados no Antigo Testamento: concertos entre ho-mens e aqueles entre Deus e o homem. De acordo com a maioria dos comentaristas, pode-se assumir que as idias associadas com a ltima classe, os concertos divinos so secundrios, e transferidos dos concer-tos entre homens.

    ConCertos entre os homens A palavra berth usada no Antigo Tes-

    tamento para descrever contratos de vrios tipos entre os homens. Meno feita de concerto entre Abrao e Abimeleque (Gn 21:27); Isaque e Abimeleque (Gn 26:28); Jac e Labo (Gn 31:44); Israel e os gibe-onitas (Js 9:6); e a amigvel aliana entre Jnatas e Davi (1Sm 18:3); o trato entre Acabe e Ben-Hadade (2Rs 20:34); a liga entre Jeoiada e os governantes para fazer Jos rei (2Rs 11:4); para descrever o pacto entre Davi e os ancios (1Cr 11:3).

    Combinando as declaraes feitas em diferentes situaes, os seguintes parecem ser os principais elementos nos concer-tos entre homens: (1) uma afirmao dos termos aceitos (Gn 26:29; 31:50, 52); (2) um juramento para cada uma das partes para cumprirem os termos, tendo Deus por testemunha (Gn 26:31; 31:48-43); (3) uma maldio invocada por cada uma das partes, sobre si mesma, no caso de violao do que foi concordado. Em certo sentido isto pode ser considerado uma parte do concerto, acrescentando nfase a ele (Gn 26:28, 29). A ratificao formal do concerto por algum solene ato externo, embora presente nas narrativas do Antigo Testamento, no certo que tais atos formais sejam expressamente mencionados (Gn 31:54).

    John Murray22 enfatiza que nos con-

    certos entre os homens, a idia do acordo central. Contudo, isto no implica que tal idia seja central ou essencial em concertos que Deus estabelece com homens, porque, obviamente, a paridade existindo entre homens no pode ser obtida na relao entre Deus e o homem. Assim, o pacto mtuo a essncia do concerto, quando est em pauta relacionamento meramente humano23 , tal idia, contudo, fica excluda quando se focaliza um relacionamento divino/humano.

    ConCerto entre deus e homensO concerto, nesse caso, no pode ser

    um acordo entre partes contratuais que es-tejam em nvel de igualdade. Deus, a parte superior, sempre toma a iniciativa. De certa forma, contudo, variando em diferentes situaes, tal concerto um acordo mtuo. Deus, em declaraes de mandamento, faz certas promessas e o homem concorda em guardar tais mandamentos e, neste aspecto, as promessas esto condicionadas obedi-ncia humana. Assim, em geral, o concerto de Deus com o homem uma ordenana di-vina, com sinais ou juramentos da parte de Deus e com promessas de obedincia assu-mida pelo lado humano, e com penalidades por desobedincia, quando tal ordenana aceita. Murray argumenta, contudo, que o elemento evidente no concerto entre Deus e o homem no um contrato:

    Em sentido estrito, [o concerto] no um acordo. Embora as pessoas entrando em concerto, concordem em fazer certas coisas, o pensamento preciso no o mesmo de pessoas concordando sobre algo entre si, nem um acordo mtuo entre pessoas e o Senhor. Devemos distinguir entre termos do acordo de compromisso. O que encontramos nestas instncias solene compromisso de f, ou fidelidade por parte do povo em considerao. Eles se unem em compromisso para serem fiis ao Senhor de acordo com Sua vontade revelada. O concerto uma promessa de solene devo-o a Deus, um promisso, sem reservas e incondicional com o Seu Servio.24

    H. N. Ridderbos partilha da mesma idia. De acordo com ele o uso consistente

  • - 9 -

    de diatheke, como a traduo regular na LXX para o concerto com Deus (berth), em lugar da aparentemente mais dispon-vel sintheke, uma evidncia disto. Ele argumenta que nisto j encontramos uma demonstrao de que o concerto com Deus no envolve primariamente um carter contratual entre duas partes, mas uma con-cesso unilateral que evoca uma resposta. Porque o concerto no procede do homem, mas de Deus, isto se torna uma preveno contra a tendncia de tornar uma obriga-o religiosa em uma obrigao legal.25 Tal idia pode ser melhor entendida pelo fato de que o conceito e a terminologia do concerto usado para descrever o re-lacionamento matrimonial, o que sugere que o concerto no primariamente um contrato, mas um relacionamento de amor e comunho entre as partes, embora isto no elimine idia da obrigao e da ne-cessidade de lealdade.

    nAtuRezA dos conceRtos bblIcosCuriosamente, dispensacionalistas e

    telogos liberais26 em geral, por razes obviamente completamente diferentes, insistem que, quanto sua natureza, o Concerto Abramico unilateral, portanto incondicional. Enquanto os primeiros, como veremos mais adiante, chegam a essa concluso pela rota da hermenutica, os ltimos, pela adoo do mtodo crtico e de sua compreenso naturalista das Es-crituras.27

    De acordo com Mendenhall28 , por exemplo, a natureza do concerto de Deus com Israel paralela com as formulaes contratuais do Antigo Oriente Mdio. Ele defende que dois tipos de concertos entre os hititas tm sua contrapartida nos concertos entre Deus e Israel. O tratado concertual, que constitui uma obrigao do vassalo para com o seu mestre o su-zerano est em paralelo com o Concerto Sinatico e o tratado de concesso, o qual um dom incondicional do suzerano para o seu vassalo, est em contrapartida com o Concerto Abramico. Como enfatizado por Weinfeld, o concerto com Abrao [modelado segundo as formulaes de tratados no antigo Oriente] ... pertence ao

    tipo concesso e no ao tipo do vassalo.29 Posio oposta, contudo, assumida por M. G. Kline. Segundo este, a transao registrada em Genesis 17, pode ser identi-ficada como um concerto do tipo vassalo, uma administrao do senhorio do doador do concerto, unindo o seu servo a ele em servio consagrado, sob a sano dual, de bno e maldio30 .

    Evidentemente, a reconstruo do de-senvolvimento do pensamento teolgico de Israel por eruditos liberais, baseada nas possveis similaridades com material extra-bblico, como sugerido acima, go-vernada por uma tica especfica quanto revelao bblica e o adotado mtodo crtico das Escrituras. Para os propsitos deste estudo suficiente observar que o conceito do concerto entre Deus e Israel exclusivo em todas as naes do Oriente Mdio31 , e no encontramos no mundo an-tigo nenhum paralelo convincente. Assim, o argumento mais persuasivo quanto a exclusividade dos concertos bblicos reside num fato incontestvel: as naes vizinhas de Israel no tinham concertos com seus deuses e isto por si s desacredita todas as possveis similaridades encontradas entre tratados humanos.32

    Contudo, sem qualquer conexo re-levante com os tipos pagos de tratados, no podemos deixar de distinguir dois tipos principais de concertos bblicos entre Deus e o homem. De um lado, o concerto incondicional, representado pelo Concerto com No33 , baseado exclusivamente na fidelidade divina e na irrevogabilidade da promessa de Deus. Por outro lado, en-contramos o tipo de concerto condicional, representado pelos concertos Sinatico e, como veremos, Abramico, em que a fide-lidade ou infidelidade humana, obedincia ou rebelio, desempenham um decisivo papel religioso e histrico. Em ambos os concertos, condicional e incondicional, a estrutural geral a mesma, em que as duas partes do acordo no esto em nvel de igualdade: um infinitamente superior ao outro. Como D. N. Freedman observa, esta constante caracterstica do relaciona-mento entre Deus e o homem d um carter especial aos concertos da Bblia, embora os

  • - 10 -

    detalhes possam diferir de caso para caso. No todo, contudo, a iniciativa repousa com o Senhor divino.

    No tipo incondicional, Yahweh toma sobre Si certas obrigaes, mas, uma vez que todos estes acordos tambm procedem da iniciativa divina, no podemos falar em imposio humana de termos sobre Deus. Freedman chama este tipo de concerto de compromisso divino34 . Por outro lado, os termos e as estipulaes so colocados sobre o parceiro humano, e este, Freedman sugere, que pode ser chamado de concerto de obrigaes humanas35 .

    exposIo do conceRto AbRAmIcoAntes de tratar da interpretao dis-

    pensacionalista do Concerto Abramico, julgamos necessrio uma breve exposio deste concerto, para facilitar a compreenso de seus termos e de alguns dos elementos bsicos envolvidos.

    Alguns eruditos so consideravelmente cticos quanto reivindicao bblica de que Deus tenha estabelecido um concerto com os patriarcas. H. Gunkel36, mais re-centemente seguido por J. Hoftijzer37, ar-gumentam que a tradio do concerto com Abrao surgiu em um perodo posterior da monarquia, puramente como uma tradio literria e teolgica, quando Israel buscou reafirmar sua permanncia em Cana em face das srias ameaas polticas tanto dos Assrios quanto dos babilnicos. Welhau-sen, tambm considera os patriarcas como epnimos das tribos israelitas. Ele prope que a noo bblica de uma religio dos patriarcas simplesmente a re-projeo de uma crena israelita posterior38 .

    O livro de xodo, contudo, assume que Deus tinha feito um concerto com os patriarcas: E lembrou-se Deus do Seu concerto com Abrao, com Isaque e com Jac (x 2:2; 6:4-5). Abrao e sua linha-gem familiar so apresentados em Gnesis 11:26-32. Abrao, o parceiro humano do concerto, aparece no cenrio do Antigo Tes-tamento sem qualquer ttulo de grandeza ou glria. Em contraste, o parceiro divino mencionado como Yahweh, Aquele que existe para sempre e permanece por Si

    mesmo (Gn 12:1,7). As palavras de Yahweh em Gnesis 12:1-3 do incio quilo que F. McCurley chama de o ciclo Abramico39, e define o estgio para aquilo que segue no relacionamento de Yahweh e os patriarcas na Torah. Cinco vezes estes versos usam a raiz hebraica barak40 , abenoar, e cinco vezes o pronome aparece com o tempo ver-bal futuro. Aqui encontramos os elementos essenciais das promessas a Abrao, que teriam desdobramentos posteriores.

    Na primeira clusula do discurso do Senhor, aparece a ordem para Abrao deixar sua terra e ir para a terra que Ele lhe mostraria (Gn 12:1)41 . Evidente-mente, como veremos posteriormente, as promessas de Deus a Abrao eram contin-gentes sua obedincia ordem divina, e em resposta sua obedincia o Senhor lhe faz uma srie de promessas. Primeiro, Ele far dele uma grande nao goy gadol (Gn 12:2a)42 . Segundo, Eu o abenoarei (12:2b). Isto , Deus prometeu a Abrao favor pessoal, o qual seria manifesto em fertilidade e prosperidade. E, terceiro, o Senhor prometeu: Eu engrandecerei o teu nome (Gn 12:2c). O que os homens, na narrativa da torre de Babel, haviam bus-cado conquistar pelo esforo humano, um nome (Gn 11:4), o Senhor dar a Abrao como um dom de Sua graa. A ele ainda prometido um exaltado status e autoridade, a ponto de que ser uma bno (v.2). O clmax do primeiro discurso de Yahweh aparece no v. 3 (depois da clusula em que o Senhor promete como tratar os que abenoarem ou amaldioarem o patriarca). Novamente aparece o verbo barak, no futu-ro: Em ti sero benditas todas as famlias da terra. Quando Abrao vai a Cana43 , o Senhor faz-lhe ento uma promessa final: tua semente darei esta terra (v 7), a qual reafirmada em 13:17. Em suma, o captulo 12 denota a promessa de contnua bno pessoal, uma grande descendncia e a posse da terra . Estes elementos bsi-cos que constituem o corao do concerto Abramico, so repetidos em Gnesis 15:1, 5, 18 e 17:2-8, dentro do contexto da terminologia concertual.

    Na narrativa de Gnesis 15:1-21, encon-tramos a seguinte comunicao de Yawheh

  • - 11 -

    com Abrao. Aqui as promessas feitas an-teriormente so reafirmadas e ampliadas. Significantivamente a nfase deste captulo concentra-se na semente (Gn 15:1-5) e na terra (15:7-21), com a verbalizao do estabelecimento do concerto: (1) A descen-dncia de Abrao ser numerosa como as estrelas do cu (v. 5); (2) Yahweh punir os seus inimigos (v. 14); (3) Sua posteridade herdar a terra prometida (vs. 18-21). Os versos 9 -10 e 17 introduzem aquilo que Gerhard Hasel chama de sacrifcio de ratificao do concerto44 . A cerimnia comea com um estilo familiar: a ordem de Yahweh e a obedincia de Abrao (cf. 12:1, 4, 13:7; 15:5,6).45 Ao passar por entre as carcaas de animais sacrificados46 , en-quanto Abrao dorme, no ato de ratificao do concerto, Yahweh irrevogavelmente jura o cumprimento de Suas promessas concertuais ao patriarca. O Senhor se com-promete a dar a terra prometida semente de Abrao, mas isto s acontecer depois que a descendncia do patriarca suportar a opresso em outra terra, e o Senhor julgar aquela nao.

    No captulo 17, a palavra berth aparece 13 vezes, entre os versos 3 a 21. As mes-mas promessas so reafirmadas (vs 4-8), mas novos elementos so introduzidos: (1) mudana de nome (v. 5-15); (2) a especfica promessa de um filho (v. 16, 19); (3) o rito da circunciso estabelecido (v. 10-14). Deve-se notar que estas caractersticas do concerto apresentadas nos captulos 12, 15 e 17, no so separadas de nenhuma forma. Em cada um dos trs captulos os mesmos elementos so repetidos de forma progressiva, e outros desdobramentos so acrescentados, intensificando o significado do concerto, criando sua unidade final. Vic-tor P. Hamilton observa que nos versos de Gnesis 17, encontramos cinco discursos (1-2, 3-8, 9-14; 15-16 e 19-21). Os primei-ros trs focalizam o compromisso divino em abenoar. Os outros dois focalizam a expectativa de Deus quanto fidelidade de Abrao e sua semente (vs. 9-14). Em Gnesis 18, antes da destruio de Sodoma e Gomorra, o Senhor reafirma que Abrao se tornaria uma grande e populosa nao (cf. 12:2). O cumprimento futuro destas promessas afirmado como uma certeza

    divina (18:18), mas o cumprimento da promessa declarado como dependendo de que os descentes de Abrao guardem o caminho do Senhor (18:19).

    Em Gnesis 22, encontramos a lti-ma comunicao verbal do Senhor com Abrao de que temos registro. Estas palavras (Gn 22:15-18), seguem o ato de obedincia de Abrao ao teste divino, visto em sua disposio de sacrificar seu filho Isaque (Gn 22:1-14). Aqui, O Senhor reafirma Seu compromisso de multiplicar a semente do patriarca neste contexto definida a referncia aos descendentes (no plural) fsicos, corporativo do patriarca (Gn 22:16-17a). Mas o texto registra ain-da duas outras referncias semente de Abrao (Gn 22:17b-18), aparentemente com ambigidade intencional, sugerindo um nico descendente. A esta questo retornaremos posteriormente.

    Sumarizando, portanto, as origens do Concerto Abramico esto registradas no livro de Gnesis. Os elementos especficos do concerto so encontrados em Gnesis 12:1-3; 13:14-17; 15:1-7; 18-21. O concer-to repetido a Abrao em Gnesis 17:4-14, 19, 21. Ele indiretamente mencionado em Gnesis 22:15-18. Posteriormente confirmado com Isaque em Gnesis 26:1-5 e reafirmado com Jac em Gnesis 28:13-14.

    A InteRpRetAo dIspensAcIonAlIstA do conceRto AbRAmIco

    A propsito de introduo desta seo, observamos que eruditos bblicos liberais, como sugerido anteriormente, governados por uma viso naturalista das Escrituras, tambm defendem a natureza unilateral do concerto Abramico. A avenida, neste caso, no a hermenutica, mas a teoria do para-lelo existente entre os concertos bblicos e os concertos de concesso dos tratados hititas, os quais so vistos como incondi-cionais, e atribuem a obrigao apenas ao mestre do concerto o suserano aquele que oferece o tratado.

    Weinfeld, por exemplo, v o concerto Abramico como um dom concedido, uma recompensa por lealdade e bons atos j realizados. M. Weinfeld advoga, por-

  • - 12 -

    tanto, que esse concerto como um dom incondicional47 . Evidentemente, Weinfeld falha em perceber que no caso dos tratados hititas, o vassalo j possua a terra; no caso do concerto com Abrao, a narrativa sugere uma promessa de possesso futura da ter-ra. Este um aspecto crucial no Concerto Abramico e d a ele uma dimenso condi-cional, porque a infidelidade e desobedin-cia da posteridade do patriarca, fatalmente interfeririam no relacionamento concertual, e abortaria sua realizao.

    A tiCA dispensACionAlistA do Con-Certo AbrAmiCo

    O dispensacionalismo coloca forte nfase na incondicionalidade do Concerto Abramico. As promessas de Deus so incondicionais, afirmam seus intrpretes, e devem ser cumpridas literalmente. W. W. Bardollar diz que em nenhum lugar as promessas de Deus a Abrao foram revoga-das. Portanto, ele defende que tal concerto bona fide em sua inteno. Assim, ele conclui: Nenhum lugar da histria pode ser identificado como o cumprimento esta profecia, portanto, devemos considerar tal cumprimento como um evento futuro.48 Este evento futuro, evidentemente, est conectado com a escatologia dispensacio-nalista. Walvoord tambm insiste que as promessas dadas a Abrao so promessas incondicionais e graciosas49 . As citaes com a mesma nfase por autores dispensa-cionalistas so inumerveis e mencion-las aqui seria cansativo alm de repetitivo.

    As evidncias dispensacionalistas em apoio sua concluso de incondicionali-dade do concrto Abramico so: (1) que ele chamado um concerto eterno em Gnesis 17:1, 13, 1950 ; (2) em nenhuma ocasio quando Deus estabelece ou repete o concerto qualquer condio acrescenta s promessas; (3) a perpetuidade do concerto Abramico foi solenizada pelo ritual divi-namente ordenado, no qual Yahweh passa entre as partes do sacrifcio (Gn 17:7-21), e isto significou que Deus acrescentou um juramento s promessas quanto a semente fsica de Israel; e (4) o concerto foi repetido mesmo depois de Abrao, Isaque e Jac

    terem pecado.

    Deve-se notar ainda, como indicado anteriormente, que a incondicionalidade do Concerto Abramico absolutamente vital para o dispensacionalismo e in-dispensvel para todo o seu sistema de interpretao. Sua escatologia, dicoto-mia entre Israel e Igreja, distino entre lei e graa, posio sistematicamente defendida pelo dispensacionalismo, dependem dessa compreenso. Alm disso, em ntima relao com a idia de incondicionalidade do Concerto Abra-mico, emerge uma conseqncia em geral menos reconhecida nesta conexo: a doutrina da segurana eterna do crente. O dispensacionalismo argumenta que, assim como as promessas ao Israel fsico so incondicionais, da mesma forma o seriam as promessas s famlias da terra abenoadas em Abrao. A New Scofield Bible insiste que o Novo Concerto (no qual os gentios participam) assegura a eterna bno, sob o Concerto Abramico, a todos os que crem. [Este] absoluta-mente incondicional, e uma vez que no h responsabilidade atribuda ao homem, para ele o concerto final e irreversvel51 . Para Walvoord:

    Um paralelo [com a incondicionalidade das promessas feitas ao Israel fsico] pode ser encontrado na doutrina da sergurana eterna do crente na dispensao atual. Uma vez aceito Jesus Cristo como Salvador (o qual paralelo com o ato inicial de Abrao em deixar a terra de sua parentela), ao crente assegurado uma salvao completa sobre um princpio gracioso completamente in-dependente de alcanar qualquer grau de fidelidade ou obedincia nesta vida.52

    Em concluso, dispensacionalistas insistem que o concerto com Abrao incondicional, que as bnos prometidas semente de Abrao so fsicas, sem qual-quer transposio para um plano espiritual ou soteriolgico e que tais promessas se cumpriro literalmente com todo o Israel tnico, em algum tempo futuro.53 Em tudo isto, o potencial para distoro da mensa-gem bblica extraordinrio. Nas prximas pginas nos ocuparemos de uma anlise

  • - 13 -

    das idias dispensacionalistas quanto ao Concerto com Abrao, de sua eventual consistncia bblica e de sua lgica geral.

    os benefIcIRIos do conceRto AbRAmIco

    Mesmo uma leitura cursiva dos textos do Concerto Abramico e luz dos des-dobramentos futuros da revelao (por exemplo, Rm 15:8; Gl 3:3,14, 28-29), pa-rece claro que o concerto com o patriarca nunca foi intencionado ser puramente um concerto judeu. Desde o incio o concerto teve uma intencionalidade e amplitude uni-versais. Atravs do concerto, tanto Abrao quanto posteriormente Israel, foram cha-mados para serem os instrumentos de rea-lizao do propsito final do concerto. E, uma vez que o alvo foi realizado em Jesus Cristo, qualquer programa exclusivo para o Israel Sionista, erroneamente identificado com o Israel do Antigo Testamento, ape-nas uma trgica regresso do concerto.

    Antes de tratar do carter condicional do Concerto Abramico, devotaremos alguns pargrafos para tratar com a questo bsica dos beneficirios do concerto. O dispensa-cionalismo argumenta que uma interpreta-o literal de Gnesis 12:1-3, requer que alm da bno destinada descendncia fsica de Abrao, h outros que tambm so abenoados atravs do patriarca, que no pertencem a sua linhagem. Para Walvoord, as promessas dadas semente de Abrao so cumpridas por sua descendncia fsica; as promessas a todas as famlias da terra sero cumpridas pelos gentios, ou aqueles que no so da descendncia fsica.54

    Assim, o dispensacionalismo no encontra nada em Gnesis 12:3, ou em qualquer outro lugar no Antigo Testamen-to, que possa indicar que as pessoas de todas as famlias da terra, que seriam abenoadas em Abrao, desfrutem o status de semente de Abrao. De fato, para Wal-voord, a bno [de Gn 12:3] prometida queles fora da semente de Abrao55 . Tal distino, devemos observar, apenas uma tentativa de evadir ao real significado do texto e manter separados os descendentes fsicos de Abrao da Igreja. Contudo, Paulo

    claramente atribui queles abenoados em Abrao o status de filhos ou da semente de Abrao (Gl 3:7 e 29). Depois de citar Gnesis 15:6, dito que Abrao creu e isto lhe foi imputado por justia (Gl 3:6). Paulo continua afirmando que os que so da f, so filhos de Abrao. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justi-ficar pela f os gentios, anunciou primeiro o Evangelho a Abrao, dizendo: Todas as naes sero benditas em ti (Gl 3:7-8).56

    Posteriormente, ainda em Glatas 3, Paulo esclarece como os gentios passam a ser da descendncia de Abrao. Uma vez que Cristo foi da descendncia fsica de Abrao, todos aqueles que esto unidos a Ele pela f so descendncia de Abrao (v.29, cf. 3:16). A linguagem de Paulo em Glatas, fora Walvoord a admitir que h uma semente espiritual de Abrao, bem como uma semente natural57 . Mas estes, Walvood insiste, no cumprem as pro-messas relacionadas a Israel. [...]. Eles so a semente de Abrao apenas em sentido espiritual, apenas herdeiros das promessas dadas a todas as famlias da terra58 . Aqui, contudo, encontramos uma clara violao do literalismo consistente, to defendido pelo dispensacionalismo. Se a preocupao em interpretar Glatas 3:6-12 fosse pura-mente hermenutica, no haveria a razo para designar as pessoas mencionadas nos versos 7 e 19 como semente espiritual em distino da semente fsica de Abrao. O interesse primrio do dispensaciona-lismo, contudo, a fixao teolgica de manter separados a descendncia fsica de Abrao daqueles, que seriam abenoados por meio de Sua semente par excellence, Jesus Cristo.

    No h nada em Glatas 3 que indique ou sugira que Paulo tenha pensado nes-tes filhos de Abrao apenas em sentido figurativo, ou espiritual, como afirma Walvoord. O apstolo chama aqueles que esto unidos com Cristo de sementes de Abrao (tou Abraam sperma). Assim, como Daniel Fuller corretamente observa, a prpria conveno lingustica de Glatas 3, requer a idia de um relacionamento ontolgico ou fisico com Abrao [atravs de Cristo, que era da descendncia fisica

  • - 14 -

    do patriarca]59 .Mais curioso ainda a forma como o

    dispensacionalismo interpreta a referncia de que Abrao seria pai de uma multido de naes, em Gnesis 17:4-8. Um outro artifcio interpretativo criado para manter fechado o crculo ao redor da descedncia fsica de Abrao, o que por, outro lado, cria uma enorme dificuldade alm de teolgica tambm lgica. Quem seria esta multido de naes de quem o patriarca seria pai? Para Walvoord, isto teve o mais literal cumprimento nos descendentes de Ismael, Esa e nos filhos de Quetura, a segunda esposa de Abrao60 . Como poderia ser isto? De acordo com Gnesis 17:20, Is-mael fundou uma grande nao, e Esa fundou os edomitas (Gn 36:3-9); mas nada sabemos a respeito dos cinco filhos de Quetura, que podem ter originado qualquer nao. Certamente o dispensacionalismo encontra-se aqui na contra-mo, ao tentar, com os descendentes fsicos de Abrao, explicar a afirmao de uma multido de naes que estaria ligada ao patriarca. Alm da teologia precria, tambm a lgica e a consistncia requerem que o dispensa-cionalismo, neste caso, inclua os rabes e os edomitas como beneficirios do Concerto Abramico, e tanto quanto os judeus, que tenham igual direito terra de Cana.61 O que seria considervel inaceitvel para os dispensacionalistas.

    A insistncia dispensacionalista quanto ao cumprimento literal das promessas do concerto desconsideram a verdade bsica de que o foco do Antigo Testamento no Israel, mas o Messias. A rejeio de Cristo pelos judeus constituiu uma violao da responsabilidade do concerto e um obst-culo decisivo, final e instransponvel para a continuidade do concerto. Pela recusa em aceitar e subter-se ao Agente confir-mador do Concerto Abramico, os judeus rejeitaram Aquele que veio para validar as promessas do concerto. O Israel moderno, portanto, est fora d continuidade concer-tual e do contexto do concerto. Seu pro-grama Sionista no tem qualquer relao com o Concerto Abramico, e constitui apenas um esforo meramente humano de estabelecer a sua prpria justia,

    [e] no se sujeitaram a justia de Deus (Rm 10:3). A realizao do concerto e sua continuidade requeriam a aceitao de Cristo, o Alvo do concerto (Gl 3:16). DeCaro est correto ao afirmar que, do ponto de vista do Concerto Abramico, Israel hoje encontra-se ainda em estado de apostasia62 . E isto, certamente aborta a possibilidade do cumprimento das pro-messas do concerto ao Israel tnico, que em termos bblicos, como j observado, no pode ser identificado ou confundido com o Israel do Antigo Testamento.

    elementos de condIcIonAlIdAde do conceRto AbRAmIco

    Tratando com a natureza condicional do Concerto Abramico, J. B. Payne indi-ca que esse concerto foi especificamente condicional, em constraste com o concerto com No. Apenas enquanto Israel agisse em justia, Ele [o Senhor] traria sobre eles, o que havia prometido.63 Evidentemente, o relacionamento que emerge da natureza do berth bblico, sem dvida, inclui sanses de compromisso para que o relacionamento concertual seja mantido. H obrigaes e estipulaes a serem observadas por aquele que recebe o concerto, mesmo que tais obrigaes no sejam expressamente declaradas. Como Ralph. Smith observa, sem qualquer dvida, existiram algumas condies que Abrao tinha que satisfazer, para que o concerto de Deus com ele pu-dessem ser efetivo64 .

    Nesta conexo, E. W. Nicholson coloca a questo em termos hipotticos, mas con-sistente em termos de lgica geral:

    Podemos realmente crer que o con-certo entre Deus e Abrao no envolveu nenhuma obrigao sobre o patriarca? Certamente haveria a obrigao que Abrao e seus descendentes continuassem a adorar o Deus em questo e, uma vez que principal caracterstica do concerto foi a promessa da terra, provvel que os dzimos dos produtos da terra e o primognito dos rebanhos deveriam ser requeridas por este Deus como ofertas.65

    Na mesma linha de raciocnio, comen-

  • - 15 -

    tando sobre a condicionalidade do concerto com Abrao, R. Clements observa:

    difcil crer que a posse da terra tenha sido dada aos descendentes de Abrao, sem que isto envolvesse certas responsa-bilidades. Predominantemente, o concerto deve ter mencionado algumas obrigaes por parte dos descendentes de Abrao, que permanecessem leais ao Deus de Manre, e oferecessem a Ele sua adorao.

    Assim, Clements conclui: Portanto, o Concerto Abramico foi centralizado originalmente na promessa divina de posse da terra, mas ele no foi completamente incondicional66 .

    No texto bblico, Deus coloca definidas indicaes de obrigao sobre Abrao. Primeiro, Ele deu ordens a Abrao, em diversas ocasies em Gnesis: Sai (Gn 12:1)67 ; levante-te, percorre essa terra (Gn 13:17); olha... e conte (Gn 15:5); toma-me uma novilha (Gn 15:9); anda na minha presena, s perfeito (Gn 17:1- 2)68 . O verso seguinte (v. 3) descreve a obedincia de Abrao ordem do Todo-Poderoso: Ento, caiu Abrao sobre o seu rosto, um gesto de submisso. Um preceito moral imperativo estabelecido antes da promessa do concerto. Pode-se argumentar que a condicionalidade no colocada naquilo que Abrao teria que fazer em termos positivos de desempenho humano, mas, ao contrrio, naquilo que ele no poderia deixar de fazer, isto , deixar de andar na presena de Yahweh, ou no ser fiel ordem divina. Assim, deve-se observar, a bno divina no pode ser vista como sacramental, ex-opere operato, ou idependente da fidelidade e resposta humana a ela. Comentando a expresso anda na minha presena e s perfeito, o SDABC declara:

    Abrao deveria caminhar como se estivesse na prpria presena de Deus, consciente da inspeo divina e solicito de Sua aprovao no atrs dEle, como se amendrontado por suas falhas, e desejo de evitar a observao. [...] Assim como a justia recebida pela f (justificao) era necessria ao estabelecimento do concerto tal irreprovvel caminhar diante de Deus

    (santificao), era necessria para que ele fosse mantido. [...] Deus desejava que Abrao entendesse que a realizao final da divina promessa requeria que ele estivesse completamente altura da exaltada norma divina de pureza e santidade.69

    Segundo, o Senhor obrigou Abrao e sua descendncia a submeter-se circun-ciso para participarem do concerto (Gn 17:9-14):

    E disse mais Deus a Abrao: Guardars a minha aliana, tu e tua descendncia no de-curso das suas geraes [v.9]. Esta a minha aliana, que guardareis entre mim e vs e a tua descendncia: todo macho entre vs ser circuncidado [v.10]. O incircunciso, que no for circuncidado na carne do prepcio, essa vida ser eliminada do seu povo, quebrou a minha aliana [v. 14].

    A narrativa consiste principalmente das palavras que Deus falou a Abrao. Aqui a proeminente caracterstica so as estipula-es do concerto. Uma obrigao especial colocada sobre os servos do concerto, isto , a circunciso, chamada de o sinal do concerto (v. 11). A realizao comunitria deste rito, naquele mesmo dia serviu para consumar o procedimento de ratificao do relacionamento concertual (v. 23-27). Mas a obrigao da circunciso deveria continuar alm deste dia, como um dever permanente da comunidade abramica. Aqui evidente o relacionamento bilate-ral do concerto, entre o Senhor e Abrao e sua casa. As obrigaes assumidas pelo Senhor do concerto tm sua contrapartida na obrigao do patriarca e sua linhagem. A circunciso era um sinal de consagrao. M. Kline sugere que a circunciso o rito pelo qual o concerto em Gnesis 17 foi cortado. A circunciso simbolizava o juramento de maldio, pelo qual a co-munidade abramica se pronunciava sob a autoridade judicial, ou mais precisamente, sob a espada do Deus Todo poderoso, como argumenta M. Kline.70

    Terceiro, Yahweh disse que cumpriria Suas promessas a Abrao por causa de sua obedincia (Gn 22:18; 26:5). Estas consi-deraes parecem indicar que o Concerto Abramico foi essencialmente condicional

  • - 16 -

    em natureza, um relacionamento bilateral, onde o Senhor cumpriria Suas promessas, se em resposta houve a obedincia huma-na. Como Ronald Youngblood observa, a linguagem da obedincia pressupe a reteno da bno prometida na falta da obedincia71 . A esta questo devotaremos os prximos pargrafos.

    o cARteR essencIAl dA obedIncIACertamente correto que, nos termos

    expressos, no concerto com Abrao, a obedincia no afirmada como uma con-dio; mas que a obedincia pressuposta, claramente indicado por alguns fatos: Gnesis 18:18 e 19 afirma:

    Visto que Abrao certamente vir a ser uma grande e poderosa nao, e nele sero benditas todas as naoes da terrra? Pois eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele para que guardem o caminho do Senhor, para que pratiquem a justia e o juizo, a fim de que o Senhor faa vir sobre Abrao o que acerca dele tem falado.

    Esta passagem tem significado especial para nossa discusso, porque, ao contrrio de outros textos que falam do estabeleci-mento do Concerto Abramico com base na obedincia passada (Gn 22:15-18; 26:3-5), ela enfatiza quo essencial que Abrao treine sua famlia no caminho do Senhor, para que, depois dele, sua posteridade possa viver da mesma forma que ele viveu. Esta passagem definitivamente ensina que a posteridade de Abrao deve guardar o caminho do Senhor, para que Ele faa vir sobre Abrao o que prometeu. Dificilmente se poderia melhorar a clareza da afirmao de que, para que as promessas do Concerto Abramico se cumpram, a posteridade de Abrao deve viver vida to piedosa e justa quanto a vida do patriarca.

    A conexo entre promessa e obedincia aqui inegvel. O dever da obedincia foi intimamente ligado com a promessa, como uma conseqncia direta. As promessas divinas a Abrao no se cumpriro se ou enquanto sua posteridade permanecer em desobedincia e rebelio. absolutamente explcito que a semente de Abrao deve

    guardar obedincia ao Senhor para des-frutar as bnos do concerto com Abrao. Este conceito est em harmonia com o prin-cpio geral do trato gracioso e providencial de Deus com os homens. Obedincia como resposta graa divina e como princpio de comunho com Ele torna-se uma condio de bnos permanentes. Como W. Kaiser observa,

    a condicionalidade no foi ligada promessa, mas apenas aos participantes que se beneficiariam destas permanentes promessas. Se a condio de f no evi-dente, ento o patriarca se tornaria mero transmissor das bnos, sem pessoalmente herdar qualquer dos seus dons diretamente. Esse tipo de f deve ser evidente tambm na obedincia que derivada da f72 .

    Por sua vez, Gnesis 22:15-18, afirma:E ento o anjo do Senhor bradou a

    Abrao pela segunda vez desce o cu e disse: Por Mim mesmo jurei diz o Senhor, porque fizeste isto, e no me negaste o teu filho, o teu nico filho, que deveras te abenoarei e grandemente multiplicarei a tua descendncia, como as estrelas do cu e a areia que est na priais do mar. A tua descendncia tomar posse das cidades dos seus inimigos, e em tua descedncia sero benditas todas as naes da terra, porque obedeceste Minha voz.

    A promessa aqui distintamente de-clarada ser uma renovao a Abrao (cf. 15:5), como aquele que, alm de ser justi-ficado e tomado em concerto com Yahweh, tinha por meio de aprovao no teste e na obedicia obtido o conceito de patriarcado espiritual de uma numerosa posteridade. Esta passagem declara que a promessa do concerto fora renovada com Abrao nos termos mais amplos e mais enfticos, encerrando-se com as palavras porque obedeceste Minha voz.

    Posteriormente, quando o concerto foi renovado com Isaque (Gn 26: 3-5), a mesma razo indicada, porque Abrao obedeceu Minha voz, e guardou o Meu mando, os Meus preceitos, os Meus esta-tutos e as Minhas leis. Ambos os textos enfatizam a obedincia passada de Abrao como desempenhando um papel crucial

  • - 17 -

    na continuidade e presevao do concerto. Foi por causa da obedicia de Abrao que a promessa foi repetida a seu filho, aquele que tinha aprendido no Monte Mori, o significado da obediencia requerida do seu pai.73

    conceRto dA gRAAEm relao necessidade de guardar o

    concerto e advertncia contra a violao dele, no podemos suprimir a inferncia de que a necessidade de obedincia seja complemeto da riqueza, intimidade, comu-nho e espiritualidade do concerto. Como J. Murray observa,

    a espiritualidade do Concerto Abra-mico em contraste com o concerto com No consiste no fato de que o Abramico preocupado com o mais alto nvel de re-lacionamento religioso e unio com Deus. Onde quer que haja relacionamento religioso h uma mutualidade no plano mais alto que a espiritualidade pode alcanar.74

    Esse relacionamento religioso e mutu-alidade exigem uma resposta por parte do beneficirio, e resposta de devoo religio-sa no nvel de refinamento mais puro que se pode conceber. A observncia do concerto, portanto, longe de ser incompatvel com a natureza dele, como uma administrao da graa, da iniciativa divina, uma necessi-dade que emerge da sua prpria natureza e da espiritualidade que o relacionamento religioso envolve. Outra vez Murray ar-gumenta:

    Quanto mais aprimorado o nosso con-ceito da soberania da graa concedida, mais requerido em termos de fidelidade rec-proca, por parte do recipiente. As demandas de reconhecimento e gratido aumentam com a largura, profundidade e altura do favor concedido. E essas demandas tomam forma concreta e prtica na obrigao de obedecer ao mandamento divino.75

    Andr Parrot, discutindo a promessa dada a Abrao, observa: Tal promessa no foi dada sem obrigao.76 Esta obrigao, porm, surge da natureza do relacionamen-to que ele contempla. Assim, a obedincia de Abrao apresentada como a condio

    sobre a qual o cumprimento da promessa dada a ele era dependente, e a obedincia da semente de Abrao apresentada como o meio pelo qual a promessa dada a Abrao seria realizada. H sem dvida o cumpri-mento de certas condies e estas so su-marizadas na obedincia voz do Senhor, e na obedincia ao Seu concerto.

    Se o Concerto Abramico baseado na graa de Deus, como ento podemos falar de condies do concerto? Impor condi-es graa no seria o equivalente a des-truir e subverter seu elemento fundamental? A soluo deste aparente dilema ter em mente que, em oposio ao cumprimento automtico do dom prometido a Abrao, como defendido pelo dispensacionalismo, devemos perceber que a contnua recep-o desta graa e da relao estabelecida contingente ao cumprimento de certas condies. Pois, aparte do cumprimento destas condies, a graa e a relao esta-belecida tornam-se sem significado. Graa concedida implica a recepo dela e de seu Sujeito, por parte do objeto dela.

    Se a distintiva posio de Israel, seu papel mediador, seu status, sua experincia de santificao e seu ministrio aos outros pudessem ser negados pela desobedincia, o que seria deixado? Teria o concerto, par-te da experincia de fidelidade, obedincia e santificao, qualquer significado? A vul-nerabilidade da graa, como a vulnerabili-dade do prprio amor, precisamente que ambos podem ser rejeitados pela rebelio, indiferena e infidelidade.

    A relao estabelecida sobre graa, como vimos, implica bilateralidade. Nesta perspectiva, as condies em vista no so realmente condies impostas. Elas so simplesmente a recproca resposta de f, amor e obedincia, parte das quais, a bno do concerto e o relacionamento concertual seriam inconcebveis. Murray corretamente observa, Guardar o concer-to presupe o relacionamento concertual como estabelecido, em vez de uma con-dio sobre a qual seu estabelecimento contingente77 .

    condIcIonAlIdAde e IncondIcIonAlI-

  • - 18 -

    dAde Walter Kaiser, como mencionado,

    observa que a condicionalidade no foi agregada promessa, mas apenas aos participantes que seriam beneficiados destas permanentes promessas78 . Isto, sem dvida, sublinha o importante aspecto dual do Concerto Abramico. A posio de que h neste concerto tanto aspectos condicio-nais quanto incondicionais, mantida por vrios telogos, como E. Heppenstall79 , Mowinckel80 , e G. L Archer. Archer ob-serva que um importante elemento no concerto de Deus com Israel encontra-se no aspecto dual de condicionalidade e incondicionalidade81 .

    Da perspectiva de Deus, o concerto incondicional. Seu propsito de abenoar a hamanidade no pode ser frustrado. Isto estabelecido como plano de Yahweh, desde o incio, e nada poder subverter Seus desgnios finais. Por outro lado, o benefcio pessoal da promessa divina ser realizado apenas naqueles que viverem o relacionamento con-certual, manifestando verdadeira f, porque o concerto no dispensa, como vimos, as bnos independentemente da fidelidade humana. A implicao desta posio que Deus cumprir Seu plano soberano na his-tria, mas ningum participa dos benefcios

    do concerto eterno violando suas demandas de santidade. Nenhum filho do concerto que apresenta a ele um corao no sincero e em rebelio participar de Suas bnos.

    conclusoDurante o sculo passado, em relao

    ao Concerto Abramico, a questo mais discutida foi relacionada com o tema de sua natureza. Enquanto o texto bblico parece oferecer indicaes de incondicionalidade, com as obrigaes repousando sobre Ele, por outro lado, o Senhor, na formulao do concerto, colocou definidas indicaes de obrigaes sobre Abrao. Estas considera-es apontam para o Concerto Abramico essencialmente como de natureza condicio-nal e bilateral, com obrigaes colocadas sobre as duas partes.

    Evidentemente, as abordagens dos te-logos liberais e dispensacionalistas, como vimos, assumem diferentes razes para sua defesa de no condicionalidade do Concer-to Abramico. A erudio liberal deriva sua concluso da noo do desenvolvimento do pensamento teolgico de Israel, meramente em um plano de horizontalismo histrico. Dispensacionalistas derivam sua posio de sua hermenutica e pressuposio

    fundamental de separao entre Israel e a Igreja. Como indicado, a incondicionalida-de do Concerto Abramico a necessria sustentao da compartimentalizao dis-pensacionalista das Escrituras. Contudo, telogos liberais e dispensacionalistas, afinal, so de certa forma curiosamente semelhantes. Os primeiros dividem as Es-crituras em documentos, os quais diferem ou se contradizem mutuamente. Os ltimos

    O estudo da literatura relativa ao Concerto Abramico fez emergir agumas categorias bsicas quanto a questo da condicionalidade, como vistas abaixo:

    INCONDICIONAL CONDICIONAL CONDICIONAL E INCONDICIO-NAL

    Dispensacionalistas e Telogos Calvinistas Telogos Adventistas e alguns telogos

  • - 19 -

    dividem as Escrituras em dispensaes, as quais diferem ou se contradizem entre si. Neste aspecto, ambos so culpados do mes-mo pecado, obscurecendo o testemunho total da Palavra de Deus.

    A condicionalidade defendida por outros, como os telogos calvinistas (covenant theology) em geral. Contudo, exclusiva condiconalidade no satisfaz a riqueza do Concerto Abramico, como um concerto de graa. Assim, somos deixados com o ltimo grupo, os que enfatizam que, no Concerto Abramico, encontramos tanto elementos de condicionalidade quanto de incondicionalidade. Esta a nica posio que faz justia aliana com Abrao. Em um breve sumrio podemos enumerar os seguin-tes pontos proeminentes deste estudo:

    (1) Deus o iniciador do concerto com Abrao, e o concerto uma soberana dis-pensao de graa.

    (2) A obedincia de Abrao repre-sentada em vrias ocasies (cf. Gn 12:1,2, 17: 18:15-18, 22; 26:3-5, etc, ), como a condio sobre a qual o cumprimento das promessas oferecidas a ele eram contingen-tes, e a obedincia da semente de Abrao apresentada como o meio pelo qual as pro-messas dadas a Abrao seriam realizadas. Sem qualquer dvida, h o cumprimento de certas condies e estas so sumarizadas na necessidade de obedincia voz do Senhor e fidelidade ao Seu concerto.

    (3) A violao do concerto no me-ramente a falha em cumprir exigncias legais, ou fracasso em responder oferta de termos favorveis de um contrato mtuo. Tal violao , sobretudo, infidelidade em um relacionamento constitudo e da graa dispensada. Pela quebra do concerto, o que realmente partido no so primariamente as regras de um contrato, mas um relaciona-mento de amor. O que quebrado realmente

    a comunho, sem a qual a bno se torna impossvel. A violao do concerto infide-lidade e rejeio oferta de amor e graa.

    (4) Finalmente, o concerto, do ponto de vista de Israel, pode ser quebrado, como realmente o foi, o que a evidncia irre-futvel de sua condicionalidade. Assim, a esperana de um moderno Estado de Israel, em continuidade do Antigo Testamento e em cumprimento de promessas bblicas, est construda em uma hermenutica ilus-ria. Por outro lado, a incondicionalidade do concerto, quanto certeza de sua realizao e do seu irrevogvel cumprimento final, tambm uma inegvel verdade bblica. Mas discordamos do dispensacionalismo quanto ao tempo do cumprimento das promessas e dos beneficirios do concer-to. O Concerto Abramico se cumprir afinal, contudo no com o Israel tnico isto, como vimos, seria uma regresso do concerto mas com todos aqueles que em Cristo, a Semente82 de Abrao, e por meio dEle se tornaram descendncia de Abrao. Alm do mais, o tempo do cumprimento do Concerto Abramico nada tem a ver com o arrebatamento da Igreja, mas com o retorno de Cristo. Assim a falha do Israel literal no frustra os desgnios de Yahweh. Por meio de Cristo, todas as provises foram tomadas para o mais amplo e pleno cumprimento do concerto com Abrao. Em Cristo, todos os crentes tornam-se participantes das bnos do concerto.

    Nas palavras de E. G. White,H esperana para ns apenas quando nos

    aproximamos de Deus sob o concerto com Abrao, o qual o concerto de graa e f em Cristo. O evan-gelho pregado a Abrao o mesmo evangelho que pregado a ns hoje, pelo qual temos esperana. Abrao olhou para Jesus, Aquele que tambm o Consumador da f.83

  • - 20 -

    RefeRncIAs1 Walther Eichrodt, Theology of the Old Testa-

    ment, 2 vols., traduzido por J. A. Baker (Philadelphia: The Westminster Press, 1961). Para Eichrodt, a cen-tralidade do tema do concerto tal, que ele chega a torn-la o princpio organizador de sua teologia do Antigo Testamento.

    2 E. Mendenhall, Law an Covenant in Israel and the Ancient Near East, The Biblical Arquaeologist, XVII (1955), 40-65; Para um survey das opinies recentes, ver Dennis J. McCarthy, Old Testament Covenant (Oxford: Basil Blackwell, 1972).

    3 H um quarto de sculo, C.L.Roger enfatizava que por causa da grande concentrao de interesse no Concerto Sinatico, o concerto com Abrao dificilmente considerado (Roger, The Covenant With Abraham and its Historical Setting, Biblio-theca Sacra, 127, Julho, 1980, 242). Roger argu-mentava que esta discernvel tendncia por parte de influentes setores da teologia devia-se idia de que as narrativas patriarcais so em geral vistas como revises de tradies tribais, portanto, apenas com uma base histrica parcial. Para um recente estudo quanto a aplicao da crtica textual ao Pentateuco, ver Antnio Renato Gusso, Linhas Gerais e Novas Tndencias da Crtica do Pentateuco, Via Teolgica, 8 (2003), 73-1.

    4 John Murray, The Covenant of Grace (Londres, The Tyndale Press, 1954), 4.

    5 John F. Walvoord, The Millenial Kingdom (Ohio: Dunham Publishing Company, 1959), 139. Curiosamente, o dispensacionalismo inicia a deta-lhada exposio do seu sistema com Abrao, como se este fosse o incio das Escrituras. Ver a srie de artigos publicados por Walvoord entre 1951 e 1952: The Abraamic Covenant and Premillianialism, Bibliotheca Sacra, 108 (1951), 414; 109 (1951), 37-46; 136-150; 217-25; 293-303. Para Walvoord e intrpretes dispensacionalistas em geral, as pro-messas a Abrao marcam o incio da nao judaica. Tal enfase utilizada posteriormente como o apoio necessrio para a separao entre Israel e a Igreja. Tais promessas, como veremos ao longo deste estu-do, relacionam-se literalmente com a descendncia fsica de Abrao.

    6 Paul R. House, Old Testament Theology (Dow-ners Grove, Ill. InterVarsity Press, 1998), 76.

    7 Paul N. Benware, Understanding End Times Prophecy (Chicago, Ill.: Moody Press, 1995), 34.

    8 J em 1945, o sistema dispensacionalista se tornara uma questo de maior ou menor importncia em praticamente todas as denominaes evanglicas no presente (Allis, Prophecy and the Church [Phi-ladelphia: The Presbyterian end Reformed Press, 1945], 12, 13). Em 1958, o dispensacionalismo tem-se infiltrado por quase todos os ramos do protestan-tismo (A. Rhodes, ed. The Church Faces the Isms:

    The Faculty Members of the Louisville Presbyterian Theological Seminary [Nashville: Abingdom, 1958], 109). estimado que mais de 50 milhes de cristos hoje, subscrevam o dispensacionalismo.

    9 Charles C. Ryrie, Dispensationalism Today (Chicago: Ill. Moody Press, 1973), 50.

    10 Louis A. DeCaro corretamente observa que sem esta diocotomia bsica em sua hermenutica, o dispensacionalismo no poderia permanecer como um sistema distinto de interpretao bblica. Todo o sistema revolve ao redor da alegada diviso que existe entre Israel e a Igreja (DeCaro, Israel Today: Fulfillment of Prophecy? [Philadelphia: Presbyterian and Reformed Publishing Company, 1974], 26).

    11 O predominante ponto de vista quanto s promessas a Abrao pode ser sumarizado em trs principais categorias: (1) a terra; (2) a semente; e (3) a beno (ver Robert Saucy. The Case for Progressive Dispensationalism [Grand Rapids, MI.: Zondervan, 1993], 42-46). David J. A. Clines (The Theme of the Pentateuch [Sheffield: JSO, 1978], 29-43), refere-se a estes como, terra, posteridade e relacionamento com Deus. W. Kaiser Jr. (Towards an Old Testament Theology [Grand Rapids, MI. Zondervan, 1987] 86-94), chama estas de herana, herdeiro e legado. Uma forma alternativa de agrupar tais promessas sugere-as como: (1) nacional; (2) pessoal e (3) universal. Al-guns intrpretes consideram que este agrupamento das promessas emerge mais naturalmente do texto bsico (Gn 12:1-3), e da explicao de textos pos-teriores (Gn 13:14-17; 15:21; 18:17-19; 26:2-5, 24; 28:13-15; 35:10-12). Ver Charles Caldwell Ryrie, The Basis of the Premillenial Faith (Neptune, NJ: Loizeaux Brothers, 1953), 49-50. Craig A. Blaising e Darrel L. Bock (Progressive Dispensationalism [Wheaton, Ill.: Victor Books Bridge Point, 1993] 130), vm a promessa de Deus a Abrao, para aben-o-lo e abenoar outros povos na terra atravs dele, expandida em uma coleo de nove promessas. E. Chrisholm, Evidence from Genesis, [Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1994], 49-50), relaciona seis promessas: (1) numerosa posteridade; (2) beno pessoal; (3) influncia universal; 4) posse da terra; (5) relacionamento pessoal; e (6) juramento eterno. Willem VanGemeren (The Progress of Redemption [Grand Rapids, MI: Baker Book House 1995], 104-108, fala de quarto reas bsicas de promessas: (1) a semente; (2) a a terra; (3) as bnos ao patriarca; e 4) bnos s naes atravs do patriarca.

    12 Uma das srias dificuldades relacionadas com este campo de estudo, que o material associado com o Concerto Abramico no fcil de ser siste-matizado. Ele no apenas se encontra disperso em diferentes captulos, mas tambm freqentemente repetitivo em sua apresentao. Tais dificuldades tm sugerido diferentes respostas para algumas perguntas fundamentais: (1) Fez o Senhor um ou dois concertos com Abrao? (2) Quais so as promessas do concerto

  • - 21 -

    com o patriarca? (ver nota 11). (3) Quando, na Bblia, foram ou sero cumpridas estas promessas? (4) E, naturalmente, a clssica questo quanto sua unila-teralidade ou bilateralidade. Este trabalho limita-se basicamente ao estudo da questo da natureza do Concerto Abramico no livro de Gnesis, envolven-do, naturalmente, tambm temas diretamente ligados a ele. Este estudo limita-se, portanto, a uma anlise teolgica de sees especficas dentro do livro de Gnesis tratando com o concerto com Abrao, como interpretado pela hermenutica dispensacionalista. No est dentro do seu propsito discutir o Concerto Abramico no resto do Antigo ou no Novo Testamen-to, exceto nas situaes de convergncia direta com o interesse deste trabalho.

    13 Ver Walther Eichrodt, Covent and Law, Interpretation (1966), 20:302.

    14 William J. Dumbrell, Covenant and Creation (Nashiville TN: Nelson, 1984), 47.

    15 De acordo com J. Wellhausen, o conceito do concerto no aparece at um tardio perodo pr-exlico. Idia foi utilizada, segundo ele, pelos profetas em face da apostasia, para demonstar que o concerto dependia das condies morais e religiosas da nao. Assim, o concerto reprojetado em um perodo anterior da histria para prover a base para a exortao obedincia (Julius Welhausen, Prole-gomena to the History of Israel [Edinburgh: Adam and Black, 1885], 417-419). H. Gunkel e J. Hoftijzer argumentam que a tradio do concerto com Abrao surgiu em um tempo quando Israel sentiu que a posse da terra de Cana estava ameaada. Isto em um perodo tardio da monarquia. O conceito surge puramente como uma tradio teolgico-literriam quando Israel buscou reafirmar sua posse de Cana, em face de serias ameaas polticas da Assiria e Babilonia. Assim segundo esta compreenso, na viso naturalista da Bblia, a religio dos patriarcas simplesmente a re-projeco de uma crena tardia (Ver Ronald Clements, Abraham and David [Naperville, Ill., Alec R. Alleson, Inc, 1967], 23).

    16 G. Mendenhalll identifica as formas de concer-to no AT com os antigos tratados dos suzeranos hititas (Ver George. E. Mendenhall, Anciente Oriental and Biblical Law e Covenant Forms in Israelite Tradi-tion, Biblical Archeology Reader, 25-75; Edward R. Campbell e David Noel Freedman eds [Garden City, NY: Doubleday & Co., Anchor Books, 1970], 3-53). Da mesma forma, M. Weinfeld sugere que os concertos bblicos so formulados em termos de tipos de tratados to comuns no Oriente Mdio (Ver. M. Weinfeld, The Covenant of Grant in the O.T. em Ancient Near East Journal of the American Oriental Society, 90 [1970], 184). Ver tambm D. J. MacCarthy, Old Testament Covenant (Oxford: Basil Blackwell, 1972), 10-34.

    17 Estes estudos foram sumarizados por S. Quell, TDNT, 2:107 em diante, e tambm por Eichrodt, A Theology, 1:37, n. 3.

    18 M. Weinfeld, Theological Dictionary of the OT (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1972), 253-55.

    19 (1) Cortar, partilhar uma refeio, neste caso, da raiz brh, comer, refere s refeies fes-tivas, que acompanhavam a cerimnia concertual. L. Koehler, em Problems in the Study of the Lan-guage of the Old Testament, Journal of Semitic Studies 1 [Janeiro 1956], 4-5, entende este partilhar de uma refeio, como o ato pelo qual as partes entravam em um acordo ou aliana. Quando usado em referncia a um acordo entre Deus e o homem, ele tomava significado teolgico, o qual Koeler traduz como cortar o concerto. Assim, quando algum corta o alimento (karat berit), ele entra em comunho com a outra parte (Ibidem) Contudo, brh no o verbo regular para comer (Weinfeld, 254). Em lugar disto, ele associado com o processo de convalescena ou recuperao. Alm disto, no caso de concerto bblico entre Deus e o homem, no h nenhuma ocorrncia do concerto sendo ratificado por uma refeio cerimonial, assim que esta etimologia proposta consideravelmente dbia. Outros ainda, como K. Baltzer, Keher e McCarthy e tambm C.L. Roger (243) retm a idia de cortar, tomada da expresso cortar um concerto, mas insistem que a nfase no est em partilhar uma refeio comum. Neste caso, a nfase colocada numa cerimnia sacrificial, como a idia principal. Nesta linha de pensamento, Gesenius assume que a raiz brt, cortar, segundo o rabe, defende uma conexo do termo com o primitivo rito de cortar as vtimas em pedaos, entre os quais as partes contratuais deveriam passar (cf. Gn 15:17; Jr 34:18,19). Contudo aqueles que se opem a esta sugesto indicam que mais natural supor que tanto a idia de berth como o prprio termo existiram independente dos ritos empregados em sua formao em situaes particulares (Dic-tionary of the Bible, 509). (2) Entre, no meio de, neste caso, berth idntico ao akadiano birit, e corresponde preposio hebraica ben, a qual, de acordo com M. Noth, ocorre em conexo com berth (por exemplo berith... ben... ubhen, concerto entre X e Y) Esta identificao baseada na pressupo-sio de que birit se desenvolveu em um advrbio, e ento em um substantivo. Weinfeld observa que tal teoria no pode ser aceita sem reservas, e indica que a principal dificuldade em ligar berith, entre com a preposio ben, resulta em uma tautologia, (M. Noth, GSAT, 142-154; ver Weinfeld, 254) isto a expresso da mesma idia em termos diferentes. (3). Procurar, escolher, sugerido por E. Kutsch (citado por Weinfeld, ibidem, 255), como uma deri-vante de berith II, de acordo com o acadiano, baru, procurar. De acordo com Kutsch, o significdo deste verbo desenvolveu-se em determinar, fixar. Weinfeld parece aceitar esta etimologia relacionada com hzh/hzwt e rh como selecionar, determinar, (Cf. Gn 22:8; x 18:21), mas, diz ele, a conexo entre selecionar, determinar e prometer, com

  • - 22 -

    aquilo que berth envolve, no evidente. (4) Ligar por cadeias, um acordo de responsabilidade mtua, nesta possibilidade, aceita por Wiefeld como a mais plausvel soluo (Weinfeld, 255), berth estaria associada com o termo acadiano berit, unir li-gar. Esta sugesto, ainda de acordo com Weinfeld, apoiada pelos termos acadiano e hitita para tratado: riksu e ishiul, ambos significando vinculo. Esta posio enfatiza o elemento de responsabilidade do concerto, e, como Mendenhall, observa esta a posio geralmente aceita (The Interpreters Dictio-nary of the Bible Covenant, G. E. Mendenhall; ver tambm O. Loretz, Berit Band Bund, Vetus Testamentum, 16, 239-244.

    20 Segundo Weinfeld, o significado original do termo hebraico berth no acordo, ou concerto entre duas partes, como geralmente argumentado. Ele enfatiza que berth envolve primariamente e, sobretudo, a noo de imposio de responsabi-lidade ou obrigao (Weinfeld, 255). Weinfeld indica ainda que berth (1) uma ordem, (2) sin-nimo com lei e mandamento e (3) um compromisso que deve ser confirmado por um juramento, o qual inclui provavelmente uma imprecao condicional. Da mesma forma, E. Kutsch (citado por MacCarthy, 59, 60), sugere trs significados bsicos de berth: (1) obrigao assumida por algum, sem expectativa de um retorno; (2) obrigao colocada sobre outra pessoa, sem ser assumida pela primeira parte, e (3) obrigaes assumidas mutuamente. Neste caso, enfatiza-se que berth nunca significa um relaciona-mento, uma aliana, ou concerto, mas sempre uma obrigao, e sua concluso teolgica que berth significa ao mesmo tempo, uma promessa de Deus e uma obrigao sobre o homem (Ibidem, 60). Mas esta possibilidade objetada por McCarthy. Segun-do ele, apenas os dois primeiros significados so pertinentes para o concerto entre Israel e Deus. J. Begrich v o significado bsico e original de berth como uma unio legal, um acordo incondicional, o qual estabelecido por um simples ato de vontade imposta pela parte mais poderosa (Joachin Begrich, Berit: Ei Beitra zur Erfassung Einer Alttestamentli-chn Denkform, Zeitschrift fur die Alttestamentlich Wissenschaftg (1944): 1-11. Mas a teoria de Begrich, tambm no passa sem objeo. A. Jepsen discorda que o significado do concerto seja do tipo conces-so. Ao contrrio, ele afirma, que condies so fre-quentemente presentes. Sua concluso, que berth no se refere a uma unidade legal, mas ao prprio ato que produz o relacionamento e no diretamente o relacionamento (Johannes Pedersen, Israel: Its Life and Culture, Vols I-II [Copenhagem: S.L. Mollerm, 1926], 286; 292-293). Para ele, alm disto, original-mente, no havia nenhuma condio imposta sobre a parte inferior (ver C. L. Rogers, The Covenant with Abraham and its historical Setting, 244).

    21 A. Jepsen, Berit, Ein Beitrag zur Theologie der Exilzeit, Festschrift, Wilhelm Rudolph (Tubin-

    gen, 1961), 161-180.22 John Murray, The Covenant of Grace, (Lon-

    dres: Tyndale Press, 1953), X.23 De acordo com Murray, quando todas as ins-

    tncias de concertos meramente humanos so exa-minadas, definitivamente aparece em preeminncia, nestes tipos de concertos, a noo de um juramento de fidelidade e confiana em lugar de um contrato mtuo. a promessa de fidelidade sem reservas, de total compromisso que parece constituir a essencia do concerto. Diz ele: Certamente h o vinculo de compromisso de um com o outro, mas to profun-do e amplo este relacionamento, que a noo de estipulaes contratuais recuam para o background ou desaparecem totalmente. Ele busca estabelecer este ponto, focalizando que na LXX, mesmo para os concertos humanos, o termo hebraico berth traduzido pelo Grego diatheke, e acrescenta: Se o pacto mtuo pertencesse essencia do concerto nestes casos, deveriamos esperar o tradutor ulizar suntheke (Murray, 9). Ver tambm H. N. Ridder-bos, abaixo.

    24 Murray, 11.25 Ver Herman N. Ridderbos, The Epistle of Paul

    do the Churches of Galatia (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1953), 13.

    26 Ver acima, as notas 15 e 16.27 Em seu estudo do concerto Abramico, Frank

    R. Vandevelder, The Form and History of the Abrahamic Covenant (Doctoral Dissertation, Drew University, 1967), 12-25, conclui que h pelo menos dois tipos de concertos quanto a sua natureza, no Antigo Testamento, cada um com seu carter teol-gico distintivo: o tipo Abramico/Davdico e o tipo Sinatico. Estes dois tipos podem ser entendidos, o primeiro (com Abrao e Davi) envolvendo promes-sas, e o segundo (com Israel) refletindo obrigaes. Essa posio mantida tambm por E.Weinfeld, The Covenant of Grant in the OT, and in the An-cient Near Eas, Journal of the American Oriental Society, 90 (1970), 184; e D. Freedman, Divine Commitment and Human Obligation, Interpretation 18 (1964), 420.

    28 Mendenhall coloca grande nfase nas similari-dades entre os tratados dos suzeranos hititas e a noo bblica do concerto (Mendenhall, Covenant). Ver tambm, J. Bright, Covenant and Promise (Philadel-phia, The Westminster Press, 1972), 34. Contudo, recentes estudos questionam a validade de uma comparao formal entre tais tratados e os concertos bblicos. Embora eruditos como F. Fesham conside-ram que as diferenas entre os tratados hititas e os concertos bblicos possam ser atribuidos a diferentes circunstncias envolvidas, devendo ser consideradas como diferenas menores (Did a Treaty Between the Israelites and the Kenites Exist, 154; ver tam-bm Klaus Baltzer, The Covenant Formulary, 1-19), muitos outros no so to positivos quanto a estas concluses (ver McCarthy, Old Testamento Cove-

  • - 23 -

    nant: A Survey of Current Opinions, 13; ver tambm Masao Sekine, VT 9 [1959], 47-57; e J.A. Thompson The Near-Eastern Suzerein Vassal Concepts in the Religion of Israel, JRH 3 (1964): 1-19), 1-19. Basi-camente o significado do concerto deve ser buscado no em suas similaridades formais como encontrado em culturas que cercaram Israel, mas primariamente no contexto histrico da revelao divina.

    29 M. Winfield, The Covenant of Grant in the Old Testament and Ancient Near East, Journal of the American Oriental Society, 90 (1972 185. Ver tambm Mendehall, Covenant Forms in Israelite Tradition, 50; K. Baltzer, The Covenant Formula-ry, (Philadelphia: Fortress Press, 1967), 19-62. D. McCarthy, Treaty and Covenant, Anacleta Bblica, 21, (1963), 40-52.

    30 Meredith G. Kline, Oath and Ordeal Signs, Westminster Theological Journal, 25-27 (1963-65), 17. A analogia dos tratados hititas em relao ao culto de Israel tem sido fortemente negada por outros estudiosos da questo. Para H. J. Krause, tal noo de paralelo no apenas obscurece, mas distorce o verdadeiro conceito de concerto no Antigo Testa-mento (Krause Worship in Israel, Oxford [1966], 136-140).

    31 Erhard Gerstenberger, Covenant and Com-mandment, Journal of Biblical Literature 84 (Maro1965), 36.

    32 Ver David N. Freedman, Op Cit., 420.33 No registro do concerto com No, encontramos

    a primeira ocorrncia no AT do termo berith (Gn 6:18; 9:9). O concerto com No essencialmente basendo em uma promessa. O compromisso divino unilateral e incondicional. O cumprimento de tais promessas, portanto, no est condicionado por qualquer requerimento, sendo completa e absoluta-mente sem qualquer obrigao imposta ou exigida do parceiro humano. Alguns elementos podem ser facilmente observveis neste concerto: (1) Ele um concerto exclusivamente de Deus, Agora estabeleo a minha aliana convosco (Gn 9:9; 11, 12, 13, 17). (2) universal em propsito, envolvendo a huma-nidade e todas as criaturas viventes; um concerto com toda a carne (Gn 9:9, 10). (3) O concerto com No incondicional, no dependendo de qualquer desempenho humano, o qual consistentemente comprovado inadequado. Freedman observa: Em vista da radicada tendncia humana de fazer o que errado, Deus faz um compromisso unilateral e incon-dicional, que enquanto o mundo durar no haver, nunca mais, um cataclismo como aquele que destruiu da humanidade (Freedman, 426); Nenhum manda-mento adicionado, o qual poderia ser considerado uma condio da qual o cumprimento da promessa dependesse. Como Murray observa, no h a mais leve sugesto de que o efeito deste concerto pudesse ser anulado pelo a infidelidade ou que sua beno pudesse ser anulada pela descrena (Murray, 12-13). (4). O concerto intensa e completamente unilateral.

    Ele est baseado na fidelidade divina, e numa pro-messa irrevogvel. Apenas Deus est no controle e nesta conexo h uma rgida excluso de qualquer cooperao humana. O sinal do arco nas nuvens acrescentado para selar a promessa de Deus, como uma permanente lembrana de que Ele no ser infiel Sua promessa. O ponto principal estabelecido pelo arco, que sua continuidade depende unicamente da fidelidade de Deus. Em termos antropomrficos, o sinal depende apenas da lembrana divina. (5) um concerto eterno. A sua perpetuidade depende exclusivamente de Deus e de Sua fidelidade.

    34 David Freedman, 420.35 Ibidem.36 G.Gunkel, Abraham, RGG, 1, col. 22,

    citado por R. Clements, Abraham and David, 23. Como vimos, o Concerto Abramico geralmente considerado pela teologia liberal, como no histrico, e sim meramente uma reviso de tradies tribais. Rogers observa que isto naturalmente tem o efeito de remover o concerto com Abrao do seu contexto histrico, deixando a questo aberta para todos os tipos de especulao quanto sua histria e prop-sito (Ver Rogers, 241).

    37 J. Hoftijzer, Die Verheissungen and die Drei Erzvater, citado por Clements, Ibidem.

    38 J. Welhausen, cf. R. L. Smith, Covenant and Law in Exodus, Southwestern Journal of Theology, 1 (Fall, 1971), 34. Acerca de uma data tardia para o Concerto Abramico, observamos que o concerto um antigo conceito e no uma inveno ou desen-volvimento posterior. Contra a noo de uma data posterior para o Concerto Abramico, Fensham adverte que o quadro em Gnesis do relacionamento entre o cabea do cl e Deus um autntico reflexo dos pastores nmades, que so os mais remotos ancestrais de Israel (Fensham, 311).

    39 Foster R. McCurely, Proclamatioon Com-mentaries, Genesis, Exodus, Leviticus, Numbers (Fortress Press, 1979), 34. Devemos notar que a palavra berth no utilizada em Gnesis 12, mas a despeito desta ausncia, podemos concluir que os trs captulos contendo a descrio do estabele-cimento ou repetio do concerto (Gn 12, 15, 17), esto intimamente relacionados. Assim, embora a verbalizao do concerto aparea apenas no captulo 15 e 17, a noo dele introduzida de forma clara no captulo 12.

    40 A palavra de bno de Yahweh expressa Seu desejo de favor, que conduz fertilidade, prosperida-de, proteo e preservao. Aquele que abenoado funciona e produz no nvel mximo, cumprimento o seu propsito divinamente designado (Michel L. Brown BRK, New International Dictionary of Old Testament Theology and Exegesis, Billen A. VanGemeren, ed. [Grand Rapids, MI: Zondervan, 1997], 1:759). Na Criao Deus abenoou o homem e a mulher (Gn 1:28-30; 5:2). Ele abenoou o sbado (Gn 2:3). Depois do dilvio, Deus abenoou No e

  • - 24 -

    seus filhos (Gn 9:1-7), em ambos casos, chamados a multiplicar e exercer autoridade. Contudo, em lugar de reter o favor de Deus, o homem rebelou-se contra o Criador que o havia abenoado. E em lugar de experimentar a totalidade da beno divina, a maldio de Deus caiu sobre a humanidade (Gn 3:17; 4:11; 5:29). Ao contrrio de Sua bno a maldio divina significa amarrar, limitar com obstculos, tornar incapaz de resistir (Ver Victor P. Hamilton,) RD, Theological Words of the Old Testament, 1:75-76).

    41 Por Abrao renunciar sua identidade com as naes rebeldes, o Senhor prometeu fazer dele o pro-genitor de uma nao. Mas, esta nao seria distinta de todas as naes prvias, porque o seu ancestral no est imediatamente ligado aos descentes de No (dez geraes separavam No de Abrao Gn 11:10-26). Ao chamar esta nao de grande, o Senhor se refere a uma grande populao, um grande territrio e a um carter sbio (cf. Gn 12:7; 13: 14-17; Dt 4:7-8). Ver ainda Gordon J. Wenham, Genesis 1-15, Word Biblical Commentary (Dallas: Word, 1987) 1:275.

    42 No registro dos filhos de No, as naes (gyim) foram divididas de acordo com a terra (Gn 10:5,20,31,32). Ao deixar sua terra, Abrao estava essencialmente deixando sua nao. E da tua parentela e da casa de teu pai. De acordo com Gn 10, ancestrais comuns eram a base da identidade nacional. Assim o Senhor chama Abrao a renunciar sua identificao com as naes em rebelio contra Ele.

    43 A ordem de percorrer a terra representa uma apropriao simblica dela (Ver, Wenham, Gnesis 1-15, 298). Deve-se observar que a obedincia de Abrao, no explicitamente declarada no texto, mas pode ser considerada uma demonstrao de sua f na promessa de que Deus lhe daria a terra, e a sua inumervel semente (Gn 13:15-16).

    44 Gerhard F. Hasel, The Meaning of the Animal Rite in Genesis 15, Andrews University, monografia no publicada, 10. Veja tambm Richard S. Hess, The Slaughter of the Animals em Genesis 15, and its Ancient Near East Context, em He Swore an Oath: Bibilcal Themes from Genesis 12-50, ed. por R.S. Hess, P. E. Sattertwaite e G. J. Wenham (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1994), 55-65.

    45 Em resposta a pergunta do patriarca quanto certeza de que herdaria a terra (15:8), o Senhor apenas ordena-lhe que traga alguns animais (v. 9), em resposta Abrao trouxe e partiu, o que sugere que Abrao conhecia o ritual prestes a acontecer. Para a noo de paralelos extrabblicos desta cerimnia de ratificao concertual, veja Weinfeld Tte Covenant of Grant..., 196-199.

    46 Victor P. Hamilton, The Book of Genesis, Chapters 1-17, 438.

    47 M. Weinfeld, The Covenant of Grant in the OT, 184-204.

    48 W. W. Bandollar, The Validity of Dispensatio-

    nalism (Regular Baptist Press, Ill., 1967), 65-66.49 J.F. Walvoord, The Fullfilment of the Abraha-

    mic Covenant, Bibliotheca Sacra, vol. 102 (1945), 30; ver tambm The Abraamic Covenant and Pre-millenialism, Bibliotheca Sacra, vol 108 (1951); Darby raciocina que As promessas e concerto com Abrao esto estabelecidas sobre base que no pode ser abalada, no na estabilidade de professa obedi-ncia, mas na estabilidade da promessa declarada de Deus em duas coisas nas quais impossvel que Deus minta, Sua promessa e Seu juramento (J. N. Darby, The Covenant, Collected Writings, 3:75). Da mesma forma, L. S. Chaffer, o telogo sistemtico do dispensacionalismo, observa que o concerto com Abrao por necessidade, incondicional e a declarao dele no incorpora uma condio hu-mana, mas repousa inteiramente no freqentemente repetido e soberano: Eu farei de Yahweh (L.S. Chafem Dispensationalism, Bibliotheca Sacra, Vol 93, 1936, 432). The New Sofield Bible, em grande medida, responsvel direta pela popularizao do dispensacionalismo, faz observao semelhante: O Concerto Abramico revela o soberano propsito de Deus em cumprir, atravs de Abrao, Seu programa para Israel. O cumprimento final [dele] repousa sobre a promessa divina e o poder de Deus e no na infide-lidade humana (The New Scofield Bble, 1318).

    50 O termo OLAM (everlasting/eterno), tem o significado bsico os tempos mais distantes. A palavra usada em referncia tanto ao passado (Gn 6:4), ou, como em 17:15-21, em referncia ao futuro. A palavra em si no contm a idia de eternidade mas a um distante passado ou futuro (ver Allan A. MacRae OLAM, Theological Words in The Old Testament, 2:672-63); Ver DeCaro, Israel Today, 55-57.

    51 New Scofield Bible, 1318.52 Walvoord J. F., The Millennial Kingdom (The

    Dunham Publishing Co., 1959), 140.53 De acordo com um grande nmero de comen-

    taristas dispensacionalistas (ver Clarence Larkin, Rightly Dividing the Word, 51; M. R. Dehann, The Second Coming of Jesus, 98; W. Blackstone, Jesus is Coming, 46), em Seu primeiro advento Jesus veio cumprir as promesas feitas a Abrao e estabelecer um reino terreno, mas a nao judaica O rejeitou e frustrou Seu propsito. Assim, o cumprimento foi posposto at o segundo advento de Cristo (George Ladd, Crucial Questions About the Kingdom of God, 50, 51). A questo que imediatamente emerge, con-tudo, esta: Se os judeus foram capazes de frustrar o plano de Deus no primeiro advento de Jesus, ento que tipo de garantia se pode ter que eles no faro o mesmo por ocasio do segundo advento? Alm disto, nesta perspectiva, o primeiro advento de Cristo foi um fracasso, e, talvez, pior ainda, a Cruz no teria sido necessria se os judeus, tivessem resolvido cooperar, aceitando a Sua oferta.

    54 Walvoord, The Abrahamic Covenant and

  • - 25 -

    Prmillenialism, Bibliotheca Sacra, 108 (1951), 419. Em outro artigo, da mesma srie, Walvoord argumenta que nada deveria ser mais claro que Abro, Isaque e Jac entenderam o termo semente como se referindo a linhagem fsica deles (The Abrahamic Covenant..., Bibliotheca Sacra, 108 (1951), 138.

    55 Walvoord, Millenial Kingdom, 161.56 Na promessa de descendncia (Gn 17:5), o tex-

    to usa o termo gy em lugar de am. Gy tilizada para as naes estrangeiras (como em Gn 10 na lista das naes). Alfred Cody oserva que goy ordinaria-mente reservado para as naes pags, algum que no era judeu (Cody When is the Chosen People Called a GY?, Vetus Testamentus 14 (1964), 39-47. A Bblia nunca utiliza gy para descrever Israel. Assim, a grande nao seria constituda por mais do que meramente descendentes tnicos de Abrao. Goy um termo universalista, o que deve forosamente incluir os gentios.

    57 Walvoord, The Abrahamic Covenant, 419.

    58 Ibidem, 421.59 Daniel Fuller, Gospel & Law, Contrast or Con-

    tinuum (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1980), 125.60 Walvoord, Millenial Kingdom, 147. A mesma

    idia afirmada pelos editores da New Scofield Bible, no comentrio do texto de Gn 17.

    61 claro, Walvoord est consciente que, com a passagem do tempo, Deus expressamente excluiu alguns dos descendentes fsicos de Abrao de re-ceberam a promessa. Ismael e os filhos de Quetura (Gn 17:18-19; 25:6), e posteriormente Esa (Gn 25.23). Mas o que o dispensacionalismo parece no compreender ou admitir que este narrowing-down process no parou a. Eventualmente, toda a nao judaica foi excluda do relacionamento concertual. Para um proveitoso estudo sobre a questo, ver Hans K. LaRondelle, O Israel de Deus na Profecia (Engenheiro Coelho, SP: Unaspress, 2001).

    62 Louis A. Decaro, Israel Today: Fulfillment of Prophecy?, 222.

    63 J. Barton Payne, Encyclopedia of Biblical Prophecy (Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1973), 112.

    64 Ralph Smith, Covenant and Law in Exodus, 34.

    65 E.W. Nicholson, Exodus and Sinai in History and Tradition (Richmond: John Knox Press, 1973), 66.

    66 Ronald Clements, Abraham and David (Whe-aton, Ill.: Alec R. Allenson Inc. 1967), 33, 34.

    67 Em Gnesis 12:1, como C.L Rogers observa, utilizado o imperativo saia seguido de uma srie de imperfeitos cohortativos, com um waw simples. A questo se esta construo implica uma condi-o. Embora Rogers sugira outras possibilidades, ele diz: No se pode negar que um certo elemento de condio est [aqui] presente (Rogers, The

    Covenant with Abraham and Its Historical Setting, Bibliotheca Sacra, 127, [1970], 252). bvio que, independente de confirmao gramatical, obedecer a ordem divina de sair de sua terra, da sua parentela e da casa do seu pai, e dirigir-se a terra que o Se-nhor lhe haveria de mostrar, parece ser a condio bsica para o cumprimento do concerto. Ao mesmo tempo, tal ordem funciona como negao da idia incondicionalidade absoluta do concerto. Por outro lado, isto estabelece o ponto central de que o concerto est sempre em relacionamento com a fidelidade e obedincia. Aquele no pode subsistir sem esta. Alm disto, seria no mnimo estranho que a obedincia re-querida como ponto de partida, no incio do concerto, no desempenhasse nenhum papel de relevncia nos desdobramentos posteriores. Ou que ela tenha sido uma condio para o estabelecimento do concerto, mas no necessria depois, para o cumprimento de sua promessa. Em concluso, a jornada para Cana foi apenas a primeira de uma srie de respostas de obedincia, levando eventual ratificao da promessa em Har e fundamental em seus outros desdobramentos.

    68 A expresso, andar na presena de..., como Hamilton observa, usualmente expressa o servio ou devoo de um servo fiel ao seu rei, sendo o ltimo humano (1Rs 1:2; 10:8; Jr 52:12), ou divino (Hamil-ton, Genesis, Captulos 1-17). A mesma expresso usada em Gn 24:40; 48:15.

    69 The Seventh-day Adventist Bible Commen-tary (Washington DC: Review and Herald, 1978), 1:321.

    70 Kline, Op. Cit, 117. Na tentativa de evadir ao elemento de condicionalidade de Gn 17:0-14, Roger diz que o concerto j estava em efeito e que a circunciso explicitamente chamada um sinal ou jugo do concerto (Roger, Op. Cit, 253). Contudo, Roger falha em perceber que a questo aqui gira em torno da preservao ou da continuidade do concerto. Uma sano de maldio aparece acrescentada es-tipulao relacionada circunciso: O incircunciso, que no foi circuncidado na carne do prepcio, essa vida ser eliminada de seu povo, quebrou a minha aliana (Gn 17:14). A questo evidente esta: como ento poderia ser o concerto com Abrao incondi-cional, como argumenta o dispensacionalismo, se ele podia ser quebrado? Koehler, em Old Testament, 65, tenta resolver o dilema colocando a comunidade corporativa em contraste com indivduo. Assim, ele argumenta que o destino pessoal do indivduo no afeta o concerto. Embora esta distino entre o indi-vduo e o todo corporativo, a nao, seja parcialmente verdade, isto nao evidncia de que o concerto no pudesse ser quebrado. Neste caso, dificil ver como tal distino, entre a nao e o indivduo resolve o dilema, porque a nao no pode ser nada mais que a soma dos indivduos que a compem. Certamente a quebra pessoal do concerto que potencialmente representa a pos