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8/2/2019 A NARRATIVA LITERÁRIA NO JORNALISMO CIENTÍFICO:análise das reportagens de capa da revista Superinteressante.
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Fernanda Carvalho
A NARRATIVA LITERÁRIA NO JORNALISMO CIENTÍFICO:
análise das reportagens de capa da revista Superinteressante.
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Belo Horizonte
Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH)
2011
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Fernanda Carvalho
A NARRATIVA LITERÁRIA NO JORNALISMO CIENTÍFICO:
análise das reportagens de capa da revista Superinteressante.
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social, doDepartamento de Ciência da Comunicação (DCC), do CentroUniversitário de Belo Horizonte (Uni-BH), como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.
Orientador: Murilo Gontijo.
Belo Horizonte
Centro Universitário de Belo Horizonte (Uni-BH)
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2011
Dedico a obra à minha mãe, maior fonte de apoio, queesteve presente durante todo o processo, com palavras deamor e carinho. Ao meu pai, grande exemplo de dedicação ecomprometimento, quem me ajudou durante toda a formação.
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Aos meus professores, incentivadores e pacientes. Ao meucompanheiro de caminhada, de vida e de profissão. E a quem,
de alguma forma, fez parte dessa fase essencial da minhavida.
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“Liberdade é uma palavra que o sonho
humano alimenta, não há ninguém queexplique e ninguém que não entenda.”
Cecília Meireles
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 06
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2 AS ESTRUTURAS TEXTUAIS EM MÍDIA IMPRESSA 072.1 O texto impresso 07
2.2 Gêneros da reportagem impressa 08
2.3 Características do texto na revista impressa 12
2.4 O gênero jornalismo literário 15
3 REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO CIENTÍFICO 21
3.1 A evolução da divulgação científica e do jornalismo como forma de exposição do tema 21
3.2 A imprensa na divulgação científica 22
3.3 Simplificação e adaptação ao público leigo de textos científicos 24
3.4 O texto científico simples 26
4 O DIAGNÓSTICO DO OBJETO 29
4.1 Apresentação 29
4.2 Recorte temporal e justificativa 30
4.3 Um olhar sobre a revista Superinteressante 314.3.1 Chamada ao leitor: a capa 31
4.3.2 Além da reportagem: artifícios complementares 32
4.3.3 Características da linguagem 34
4.3.4 Divulgar ciência 40
5 CONCLUSÃO 44
REFERÊNCIAS 46
ANEXOS 48
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1 INTRODUÇÃO
Esse trabalho é um esforço para melhor compreender como o jornalismo científico e o modo
literário de escrita jornalística podem dialogar com o objetivo de atingir também o público
leigo. A pesquisa fez-se possível por meio da análise das matérias de maior destaque na capa
da revista Superinteressante, do grupo Abril, no período entre abril e setembro de 2011.
Dessa forma, o segundo e o terceiro capítulos do trabalho destinam-se à parte teórica. O
quarto, à análise do objeto em questão. E a última parte, à conclusão.
No segundo capítulo estão abordagens sobre o surgimento e o desenvolvimento do
jornalismo. São discutidas as características do texto impresso, os modos de escrita e de
linguagem, bem como os gêneros da reportagem impressa. Ainda são levantados aspectos
sobre a reportagem de revista, em um diálogo de autores sobre o modo de escrita para
esse tipo de mídia. Para finalizar, o jornalismo literário, um modelo de redigir que mescla
características da literatura às práticas jornalísticas.
O terceiro capítulo traz a discussão sobre a evolução da divulgação científica e a introdução
do tema no fazer jornalístico. Analisa o papel da imprensa na exposição da ciência e dialoga
sobre os impasses existentes entre as comunidades que envolvem a publicação. Discorre ainda
sobre as possíveis formas de simplificação do texto de jornalismo científico para um público
não entendedor do assunto, por meio de métodos linguísticos.
No quarto capítulo do trabalho, há uma apresentação do objeto, a Superinteressante, bemcomo toda a análise das matérias que ganharam destaque na capa da revista no período
delimitado. Todas são criticadas seguindo aspectos discutidos nos dois capítulos teóricos.
São julgadas as características das capas: as imagens, texto, disposição, chamada; o corpo
da matéria: as estruturas textuais, os infográficos; e os aspectos científicos: fontes, dados,
citações.
Desse esforço, segue a conclusão a que se presta a trazer um olhar final sobre aSuperinteressante, considerando todos os aspectos discutidos nos capítulos anteriores.
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2 AS ESTRUTURAS TEXTUAIS EM MÍDIA IMPRESA
Nesse capítulo estão considerações sobre o surgimento e a evolução das práticas jornalísticas.
Para tanto, discutem-se as estruturas do texto, as especificidades da redação para revista, para
finalizar nas discussões sobre a possibilidade do jornalismo como um gênero literário.
2.1 O texto impresso
A palavra escrita ainda é o meio mais eficaz de transmitir informações complexas. “Quem
quer informações com profundidade deve, obrigatoriamente, buscá-las em letras de forma”,
(SCALZO, 2003, p.13) Na televisão e no rádio as notícias são passadas com maior agilidade.
Apesar disso, a possibilidade de aprofundamento, principalmente em revistas, é o diferencial.
A frase do escritor Gabriel García Márquez explica esse valor: “a melhor notícia não é a
que se dá primeiro, mas a que se dá melhor”. O que quer dizer que o texto precisa ser bem
desenvolvido, seguindo aspectos jornalísticos e, também, utilizar-se de criatividade e dados
ou fontes diferenciais.
O texto da reportagem impressa tem, segundo Oswaldo Coimbra (1993), dupla face. Uma
delas é voltada para fora de si, levantando questões como: jornais e revistas oferecem
uma reprodução fiel da realidade? Uma realidade construída? A segunda face representa a
estrutura do texto, a organização dos elementos internos.
Nas mídias impressas existem dois tipos-base de textos. O texto-notícia, mais rápido e
conciso, e o texto-reportagem, com aprofundamento maior no tema. O primeiro tipo está
mais frequentemente presente em mídias diárias: jornais. O segundo aparece em quase todo o
conteúdo de revistas, sejam elas semanais ou mensais.
Cremilda Medina (1978, apud COIMBRA, 1993, p.9) analisa que a diferença entre o texto-
notícia e o texto-reportagem está relacionada ao tratamento dado ao fato jornalístico, notempo de ação e no processo de narrar. “A reportagem, para Medina, amplia uma simples
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notícia em poucas linhas, aprofundando o fato no espaço e no tempo, e esse aprofundamento
do conteúdo informativo se faz numa abordagem estilística”, (COIMBRA, 1993, p.9)
2.2 Gêneros da reportagem impressa
A reportagem é um dos tipos de texto do jornalismo impresso. Ela é um gênero jornalístico
privilegiado. Na análise de Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari (1986), a reportagem é
o lugar onde a narrativa se faz presente por excelência. Assim como na literatura, nela é
passível a utilização de personagens, ação dramática e descrições de ambiente.
A reportagem é o ponto de união entre jornalismo e literatura. Conforme a frase do jornalista
Alberto Dines: o gênero jornalístico é também arte, justamente por abarcar toda a bagagem
subjetiva de quem a faz. O que a diferencia da literatura, segundo Sodré e Ferrari, é que nela
é necessário um compromisso com a objetividade informativa. Apesar do compromisso com
as regras do jornalismo, o jornalista precisa, de acordo com Fagundes de Menezes (1997),
fazer com que o estilo jornalístico seja, tanto quanto possível, agradável e atraente. No texto-
reportagem há uma predominância da narração, o texto é mais impressionista, e há uma
humanização dos fatos, de forma a aproximar o leitor do ocorrido. Mas existe ainda, assim
como no texto-notícia, uma objetividade dos fatos narrados.
Sodré e Ferrari apontam diferenças entre notícia e reportagem por meio de quatro verbos:
anunciar , enunciar , pronunciar e denunciar . Quando o fato é apenas noticiado, o jornalista
anuncia o acontecido, ou seja, faz um anúncio à sociedade. Segundo os autores, no enunciar ,os fatos são apresentados como se tivessem vida própria, sem que se perceba que há um
alguém narrando. Portanto, o fato é expresso por um discurso que se oculta como discurso.
O pronunciar é mais complexo e completo. Engloba partes do anunciar e do enunciar ,
mas tem uma característica própria. Segundo Sodré e Ferrari, no pronunciar há um caráter
de julgamento preestabelecido. Isto se evidencia nas palavras utilizadas, nas pontuações e
expressões. Ao pronunciar , o jornalista ironiza e critica o fato, demonstra a opinião a respeitodo assunto. Da mesma forma, o denunciar expõe uma opinião, mas de forma ainda mais
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clara. “[No denunciar , a reportagem, ou a notícia, é] francamente opinativa, sem meios-tons
na linguagem, divulga seus objetivos claramente” (SODRÉ e FERRARI, 1986, p.30).
A reportagem é estruturada por meio de um discurso dissertativo, narrativo ou descritivo.
Segundo Coimbra (1993), os três também podem ser combinados, seguindo regras
convencionais.
Na reportagem dissertativa, a função de informar está atrelada ao esforço de convencer
o leitor. Por isso, de acordo com Coimbra, é óbvia a presença da argumentação no texto
dissertativo. E, por isso, este tipo de texto deve ser bem articulado em relação a suas partes,
para validar o raciocínio.
O texto narrativo é dividido em três etapas, como na maioria dos roteiros de filmes norte-
americanos: exposição, complicação e resolução. De acordo com Coimbra, os grandes
escritores de histórias são aqueles cuja escrita menos se distingue do discurso dos narradores
anônimos. “A fonte de onde beberam todos os narradores é a experiência que anda de boca
em boca”, (Coimbra, 1993, p.15). Apesar das diferenças entre a narrativa literária e a narrativa
jornalística, as duas são utilizadas juntas em algumas circunstâncias, não desobedecendo
às regras básicas do jornalismo: compromisso com a clareza, obrigação de informar e
objetividade. Coimbra propõe a utilização de efeitos como ritmo, sonoridade, simetria e rima,
para ter como base a função referencial da linguagem.
O texto descritivo se desenvolve como parte de outra estrutura, narrativa ou dissertativa. Este
tipo de texto-reportagem serve como forma de expansão ou digressão estrutural, de acordocom Coimbra. Serve também para trazer características, obtidas através da comunicação não
verbal, para o texto escrito, para a comunicação por meio de palavras.
Oswaldo Coimbra analisa cada um dos tipos textuais de forma aprofundada. No discurso
dissertativo, as afirmações generalizantes, os diferentes tópicos, se associam e formam uma
unidade em um parágrafo. E esses parágrafos formam um conjunto de ideias associadas,
compondo o texto completo. “Esses seis métodos de raciocínio – indução, dedução, análise,síntese, classificação e definição – estão presentes na forma como as partes do parágrafo
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dissertativo – se relacionam” (COIMBRA, 1993, p.26)
O segundo tipo de texto é a reportagem narrativa. A estrutura deste texto, segundo Coimbra,
não se apoia em um raciocínio expresso. “Sua característica fundamental é a de conter os
fatos organizados dentro de uma relação de anterioridade ou de posterioridade, mostrando
mudanças progressivas”, (COIMBRA, 1993, P.44)
A diferença entre texto dissertativo e texto narrativo é que o primeiro traz um pronunciamento
explícito do autor, e no segundo, isso fica implícito. Dessa forma, Coimbra analisa a
reportagem dissertativo-narrativa como um pronunciamento, em parte de forma explícita e em
parte implícita. E a maior dificuldade se dá nessa junção de diferentes focos narrativos.
A reportagem descritiva pertence a um bloco ou fragmento de conjuntos narrativos ou
dissertativos. A descrição mostra-se como estrutura fixada em um único momento, sem
mudanças progressivas no tempo. As frases descritivas são flexíveis, podem ser alteradas
em sua estrutura. Outra característica, de acordo com Coimbra, é a pormenorização, o
detalhamento do momento percebido.
As informações em um fragmento descritivo servem para enraizar o texto na realidade. Os
blocos descritivos interrompem o desenrolar da ação. Se forem muito extensos, podem criar
um vazio narrativo. “No entanto, se forem utilizados com habilidade pelo narrador, auxiliarão
na criação do ritmo que ele quer imprimir à narrativa”, (COIMBRA, 1993, P.89)
Coimbra analisa diferentes tipos de pontos de vista, diversos focos narrativos, nos quaisautor e narrador não são necessariamente a mesma entidade. Estes narradores são divididos
em: testemunha, escrito em primeira pessoa, no qual o narrador é personagem; protagonista,
também em primeira pessoa, com narrativa limitada às percepções, pensamentos e
sentimentos do narrador; narrador onisciente, em terceira pessoa, quando conhece todos
os acontecimentos. E modo dramático, em terceira pessoa, no qual o narrador se limita a
informar o que os personagens falam e fazem.
De forma diferente, Sodré e Ferrari nomeiam três modelos do discurso da prática do
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jornalismo como fundamentais às reportagens. O primeiro deles, a reportagem de fatos,
apresenta o acontecimento de forma objetiva, conforme o que é ditado pela pirâmide
invertida1. Os fatos são narrados por ordem de importância.
O segundo tipo é o da reportagem de ação. Neste caso, o relato é mais ou menos
movimentado. Introduzido pelo fato mais atraente, vai descendo na exposição de detalhes. “O
importante, nessas reportagens, é o desenrolar dos acontecimentos de maneira enunciante,
próxima ao leitor, que fica envolvido com a visualização das cenas, como num filme”
(SODRÉ e FERRARI, 1986, p.52).
Na reportagem documental, terceiro modelo, os elementos são apresentados de forma
objetiva. Neste caso, há uma aproximação do modo da pesquisa, pois esse tipo de reportagem
é mais expositivo. Na televisão e no cinema existem os documentários, exemplos de
apresentação de forma objetiva, com aproximação à pesquisa. Na forma escrita, vem
acompanhada de citações, que esclarecem o assunto tratado.
Ao analisar a produção da reportagem do ponto de vista dos tópicos frasais, Coimbra
decompõe em vários processos de desenvolvimento, sendo alguns deles: enumeração,
descrição de detalhes, comparação, exemplificação, confronto, causa e efeito, definição,
divisão e explanação de ideias “em cadeia”, ordenação por tempo, ordenação por espaço.
Em síntese, enumeração é o processo de indicação de fatores. Confronto é quando há um
realce nas diferenças entre ideias, seres, coisas, fatos ou fenômenos. Na comparação o autor
do texto aponta semelhanças e diferenças entre ideias, fatos e seres. A exemplificação pode
servir de prova, como também apenas esclarecer o que foi dito. Causa e efeito trata-se de
determinar fatos motivadores e decorrentes. Na definição há uma união de vários processos de
desenvolvimento de um parágrafo, como descrição, comparação, exemplificação. Na divisão
e explanação de ideias “em cadeia”, a ideia-núcleo do tópico frasal aparece dividida em duas
ou mais partes. E na ordenação por tempo ou por espaço, a organização dos componentes do
desenvolvimento se dá nos planos do tempo ou do espaço.
1 O termo pirâmide invertida é uma metáfora utilizada no jornalismo para se referir a uma técnica redacional,na qual a construção da notícia segue-se a partir da elaboração do lead direto: respondendo às perguntas “oque?”, “quem?”, “onde?”, “quando?”, “como?” e “por que?”.
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Considerando o tempo da narração, é possível dividir em quatro modalidades: tempo
psicológico, composto por uma sucessão de estados internos, subjetivos; tempo físico,
tempo da natureza; tempo cronológico, dos calendários; e linguístico, no qual os eventos são
organizados a partir de um marco temporal instalado no texto.
Apesar das possibilidades amplificadas de escrita e da utilização de artifícios literários,
a reportagem deve ter como base os preceitos básicos do jornalismo, como clareza de
informação. É preciso, primeiro, saber a base para, depois, poder se aventurar, ir além dos
modelos formais jornalísticos.
2.3 Características do texto na revista impressa
O texto jornalístico de revista tem o objetivo de preencher os vazios deixados pelos outros
meios de comunicação. A reportagem deste impresso é mais que a notícia, o texto de revista
ultrapassa os limites da informação e traz interpretação em sua narrativa. Faz um jornalismo
de maior profundidade, maior riqueza textual, maior detalhamento. Une entretenimento,
educação, serviço e interpretação dos acontecimentos. O texto de revista tem que, segundo
Sergio Vilas Boas (1996), trazer a imagem, o som, a cor, todos os sentidos ao leitor, tem que
ter um pouco da narrativa cinematográfica.
A revista se diferencia dos demais meios de comunicação por outros fatores, que vão além
do aprofundamento. Ela tem sempre um público específico, portanto, dialoga de forma mais
próxima, podendo entrar na intimidade dos leitores. No jornal diário isso não acontece. Ele
é escrito para uma massa, heterogênea. A revista é segmentada. Existe uma ou mais revistas para um grupo específico de pessoas. Por isso, nela, o leitor é tratado por “você”, de forma
direta.
O bom jornalista deve, portanto, saber diferenciar a vocação de cada mídia. É preciso
aproveitar os recursos, as possibilidades e as linguagens tanto da televisão e do rádio, como
do jornal, da Internet e da revista. “Uma revista ‘mais ou menos’, que não sabe bem se quer
ser tevê, jornal ou Internet, que não aposta no que é essencialmente seu, exclusivo, inerente aomeio, está fadada a morrer muito rápido”, (SCALZO, 2003, p.40)
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Scalzo (2003) detalha alguns fatores que determinam a qualidade de uma revista. De acordo
com a autora, uma boa revista começa com um plano editorial e um foco definido. É preciso
atualizar constantemente, tanto as pesquisas de mercado, como a fórmula editorial e as
temáticas, não esquecendo o público alvo, o objetivo e as características básicas da revista.
Na capa da revista, a diagramação, a imagem e a chamada devem ser dispostas de forma a
se tornar irresistível ao leitor. A chamada deve ser clara e direta, sem possibilidade de duplo
sentido. A imagem deve ser coerente com o tema e não deixar que o escrito desapareça.
A revista deve ter componentes gráficos voltados para a informação. O design não deve ser
elaborado como peça de arte, é preciso comunicar e servir de atrativo às reportagens, tornar
mais fácil a leitura. As fotografias também devem ter esse papel, afinal, elas valem “mais do
que mil palavras”. Essa imagem tem a função de informar além do que o texto já diz.
Outro artifício sedutor é o dos infográficos. Eles unem a informação a conjuntos de formas
mais atrativas: gráficos, tabelas, desenhos, fotos, legendas, ilustrações, mapas, maquetes.
Nos infográficos também há a necessidade de clareza e objetividade. De acordo com Scalzo,
simplificar um infográfico é, muitas vezes, o segredo para deixá-lo mais claro.
Nos textos, o jornalista de revista deve se preocupar com o “como”, a forma de falar de um
assunto, o ângulo, com um enfoque ainda não apresentado. Além disso, é preciso que haja
um equilíbrio entre as pautas de cada edição. “É esse equilíbrio e essa coerência editorial
da pauta, bem como o ordenamento das seções, colunas, entrevistas especiais, etc., que vãodefinir a personalidade de uma revista” (SCALZO, 2003, p.66)
Sergio Vilas Boas (1996) defende a necessidade de o jornalista “pensar” ao escrever. Porque
somente com o ato de pensar, de estruturar e organizar a lógica do pensamento, será possível
prender a atenção do leitor em toda a reportagem, que é o maior objetivo do jornalista. Por
isso é necessário dar um tom e um rumo ao texto. É preciso escolher qual será a tonalidade
da reportagem: humor, drama, suspense, etc. A angulação é importante em qualquer assunto, porque todo tema envolve um certo número de desdobramentos.
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Scalzo concorda com Vilas Boas e explica ainda que é necessário explorar novos ângulos,
procurar por notícias exclusivas, entender o leitor de cada publicação e ajustar a reportagem
ao que é de maior curiosidade e interesse, escrever algo diferenciado, que “não sai todo
dia” (SCALZO, 2003, p.41). No caso de revistas quinzenais e mensais, há um maior
distanciamento do tempo real da notícia, o que obriga a matéria a não ser tão perecível, a ter
maior durabilidade aos leitores.
A narrativa da revista deve levar em conta o fato como parte de um acontecimento maior,
deve contextualizar, servir de documento histórico, deve se ligar ao tempo e espaço na análise
e na interpretação dos eventos jornalísticos. Esse tipo de texto exige recursos estilísticos de
diferentes naturezas. “Sem eles, o tempo fica adormecido e o espaço, sem vida.” (VILAS
BOAS, 1996, p. 15).
Na revista, o texto não deixa de seguir os padrões do jornalismo, mas o que o diferencia é a
liberdade possível da narrativa, que faz, inclusive, conforme tratado anteriormente, com que
este texto impresso se aproxime do modo literário, com várias das características de um texto
de literatura. Assim como Coimbra, Vilas Boas atenta para a importância de a reportagem ter
um ritmo, ser passível do uso de neologismos, coloquialismos, gírias, metáforas; mas com
uma certa parcimônia.
Enumerar, descrever detalhes, comparar, fazer analogias, criar contrastes, exemplificar,lembrar, ilustrar, dar testemunhalidade são apenas algumas trilhas da “rota para asÍndias”. Confrontar as ideias, por exemplo, é muito comum e eficaz no texto de revista,dependendo, obviamente, do contexto. (VILAS BOAS, 1996, p. 19).
A reportagem apresenta, de acordo com Vilas Boas, um viés um pouco mais subjetivo,
com possibilidades de utilização diferenciada da linguagem, mas de forma a respeitar as
características do tipo de texto. Ela sempre traz um ponto de vista, o que não pode ser
confundido com “opinião”. “O ponto de vista é mais ou menos a ‘moral’ da história” (VILAS
BOAS, 1996, p. 21).
É preciso organizar uma ordem do relato. Como será estruturado o início, o que será o final.Vilas Boas explica que a coerência de ideias, estruturadas e organizadas, é um passo para a
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unidade do texto, razão maior da busca incansável da clareza e da perfeição.
O texto de revista precisa ser pensado do início ao fim, em todo o processo de fabricação. Ao
final, uma revisão atenta deve ser feita sem preguiça ou receio. Provavelmente o jornalista vai
detectar uma série de mudanças imprescindíveis: cortar partes desnecessárias, exemplificar de
forma a deixar o texto mais vivo, trocar palavras que não se encaixaram bem, etc. A narrativa
da reportagem deve ser leve e deve, segundo Vilas Boas, mais mostrar do que contar; mais
sugerir do que explicar, e dizer mais do que parece ter sido dito; isso para permitir ao leitor
que use um pouco a cabeça.
O texto jornalístico de revista deve, portanto, ter ritmo, ser claro, conciso, deve ser objetivo
e ao mesmo tempo criativo; deve ter precisão, harmonia e unidade. Esse texto deve viajar
no tempo, ultrapassar as barreiras temporárias e unir passado, presente e futuro no mesmo
acontecimento; deve ser artístico, visual, sem perder o foco na informação interpretativa; deve
ter um estilo determinante e utilizar de recursos narrativos atrativos. Deve ir muito além do
que faz o jornal diário; deve ter um ponto de vista sem impor uma opinião, apenas deixando
que o leitor crie a própria; deve se renovar a cada escrita e se recriar no modo literário; deve
ser bem elaborado e criterioso.
A reportagem aproxima o leitor do acontecimento. A narração é a forma mais constante nesse
texto. E, por isso, precisa de personagens, ação, ambiente, o que garante que o acontecimento
seja real. O modo como essa realidade é contada é chamado de estilo, a forma pessoal
de expressão. De acordo com Vilas Boas, o estilo está vinculado ao tempo, ao espaço, à
interpretação que o autor dá às suas experiências, leituras e a toda sua relação com o que ocerca.
A forma como a narrativa é expressa, o ângulo em que o jornalista coloca, é também
influenciado pela ideologia do veículo e pelo leitor ao qual se dirige. Mas de forma mais
investigativa e interpretativa, menos objetiva e mais criativa.
2.4 O gênero jornalismo literário
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Não há uma concordância quanto ao surgimento exato do jornalismo. Alguns autores,
segundo Felipe Pena (2006), acreditam que o jornalismo começa com a primeira comunicação
humana, na Pré-História. Outros consideram seu surgimento em meados dos séculos XVIII e
XIX. E é justamente nesse período que a primeira subdivisão do gênero se encaixa: o início
da junção do jornalismo com a literatura começa a aparecer de forma marcante. A criação dos
folhetins foi a grande responsável por este início, não somente pelos profissionais da literatura
que eram os editores e escritores, mas também pela forma de sua linguagem.
Pena (2006) analisa o ser humano como alguém dotado da mania de criar gêneros para tudo,
a fim de ter alguma espécie de domínio sobre o mundo. Tentativas constantes em dividir a
literatura em gêneros aconteceram desde a época de Platão e, depois, Aristóteles. A conclusão
que se chegou ao final é a de que não é possível determinar gêneros do discurso de forma
precisa, pois são transitórios, relativos e dinâmicos. “Diante desse quadro [de transitoriedade
de gêneros], imagine o problema que é analisar a junção de dois discursos diferentes: o
jornalístico e o literário”, (PENA, 2006, p. 20).
A literatura, segundo Alceu Amoroso Lima (1969), como um todo, é dividida em gêneros,
que se subdividem novamente em múltiplos subgêneros. Eles podem ser misturados para
formar outras formas de literatura. “O gênero representa, por assim dizer, uma soma de
esquemas estéticos à mão, à disposição do leitor e já inteligíveis ao leitor.” (LIMA, 1969, p.
17).
Assim como não há uma divisão exata para os gêneros da literatura e também do jornalismo,
não há uma subdivisão concreta quando o jornalismo passa a ser considerado como gênero daliteratura. Felipe Pena (2006) analisa, porém, todas as subdivisões já criadas como integrantes
deste jornalismo literário: período histórico do século XIX em que os escritores escreviam
nos folhetins, críticas literárias, New Journalism, biografias, romances-reportagem e ficção-
jornalística.
Como conceito, Lima (1969) expõe três possibilidades, da literatura como qualquer expressão
verbal; da literatura como toda expressão verbal com ênfase em meios; ou com finalidade puramente estética. “Sou dos que consideram a literatura como arte da palavra. Mas como arte
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da palavra compreendida no sentido do senso comum – isto é, da expressão verbal com ênfase
nos meios e não com exclusão dos fins.” (LIMA, 1969, p. 21-22).
Ser literário significa, de acordo com Vilas Boas (1996), narrar com efeito, com beleza e
imaginação. Em reportagem narrativa isso é passível de ser utilizado. É possível, com certa
parcimônia, “ser sensível, não ter medo de ser literário e expressivo jornalisticamente”
(VILAS BOAS, 1996, p. 60). Segundo o autor, é possível dizer que o jornalismo é uma
categoria da literatura: é “literatura de massa”, é “literatura sob pressão”.
“Literatura se alimenta de enfoques contemporâneos aplicados. Além disso, é arte. Mas nada
impede que a reportagem, a interpretação, a análise, o editorial se convertam em expressões
de arte.” (VILAS BOAS, 1996, p.63)
Unindo, portanto, os dois termos, o jornalismo é, para Lima (1969), um gênero dentro da
literatura somente quando o jornalismo se expressa verbalmente com ênfase nos meios de
expressão. Como gênero, o jornalismo se comunica com todos os outros componentes da
literatura, por fazerem parte de um mesmo todo. E não somente isso, também por fazerem
parte do mesmo conjunto que os distingue da ciência e do que não é literatura.
No conceito de jornalismo literário, segundo Felipe Pena (2006), não se trata apenas de sair
das estruturas formalizadas, nem, tampouco, abandonar toda e qualquer regra básica do
jornalismo diário.
[Jornalismo literário] Significa potencializar os recursos do jornalismo, ultrapassar oslimites dos acontecimentos cotidianos, proporcionar visões amplas da realidade, exercer plenamente a cidadania, romper as correntes burocráticas do lide, evitar os definidores primários e, principalmente garantir perenidade e profundidade aos relatos. No dia seguinte,o texto deve servir para algo mais do que simplesmente embrulhar o peixe na feira. (PENA,2006, p. 6 e 7).
Pena (2006) explica que a objetividade nada mais é do que um ritual de auto-proteção dos
jornalistas. O jornalismo é, portanto, incluído no conceito de literatura dependendo do modo
como se expressa. Para Lima (1969), o meio onde é publicado um escrito jornalístico não
influencia na conceituação de jornalismo como gênero literário ou não.
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[Portanto] Seja detalhista! Olhe para todos os lados! Relativize seus dogmas! Refaça suasinterpretações! Fuja dos estereótipos! Evite os julgamentos! Agarre suas oportunidades! E,sobretudo, tome bastante cuidado! (PENA, 2006, p. 130).
Pena (2006) analisa que a necessidade que um jornalista tem ao escrever um texto voltado
para o gênero literário está ligado a outro medo. Dessa vez, ao medo de morrer. Isso porque,
segundo ele, o jornalismo literário é caracterizado por perdurar, justamente por seu caráter de
aprofundamento, perenidade e de cidadania. E, desse modo, o jornalista terá escrito algo para
deixar um pouco de si gravado no imaginário coletivo.
Conceituando o jornalista, em sua forma pura, ele é aquele que, antes de tudo, quer informar,
quer passar a notícia a um público. Ele leva o acontecimento ao leitor e, dessa forma, também
entra em contato com o povo que o lê. E, por isso, segundo Lima (1969), o jornalista deve
estar dentro do fluxo dos acontecimentos, deve viver os fatos e estar neles. Para unir a
informação que o público necessita, segundo Pena (2006), pelo medo do desconhecido, Lima
(1969) enfatiza a necessidade de transformá-la em um gênero literário.
O pequeno jornalista, ou noticiarista, leva a notícia ao próximo. O jornalista comenta-a, leva a notícia acrescida da sua apreciação. O grande jornalista informa e forma. Cria eorienta a opinião pública. E nisso representa um papel na coletividade, e faz do jornalismo,mais ainda que em suas raízes, uma arte social por excelência. (LIMA, 1969, p. 48).
Nessa forma de passar a informação, o jornalista está condicionado a um estilo jornalístico
que, segundo Lima (1969), está dentro de um modo estilístico comum a todos. Mas é preciso
ainda que o jornalista tenha o seu estilo próprio, como destaque, que acrescente arte sobre o
estilo comum.
No modo comum, segundo Lima (1969), as regras básicas devem ser seguidas, as
características do jornalismo diário: clareza, precisão, veracidade, objetividade. O estilo
próprio tem o ingrediente da liberdade, da possibilidade de ser um artista como qualquer outro
escritor que se encaixa na árvore genealógica da literatura. É o estilo próprio que define a
personalidade do jornalista e que o diferencia, portanto, dos outros representantes da mesma
classe.
Os termos jornalismo e literatura se unem pela introdução de um no outro, como uma parte de
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um todo, seguindo características que possibilitam essa imersão, conclui Lima (1969).
[O jornalismo] Sendo literatura, por se enquadrar dentro da definição dessa atividadehumana, não se confunde com qualquer outro gênero literário, distinguindo-se deles pelamarca específica de ser uma apreciação em prosa dos acontecimentos. (LIMA, 1969, p. 64).
Sendo assim é também um gênero dotado de estilos característicos e próprios que o separam,
não só dos outros gêneros, mas também os escritores deste mesmo gênero. E que, da mesma
forma que separam, unem, pelo fato de serem partes de um mesmo e único todo.
Nos chamados folhetins, a primeira subdivisão feita por Pena (2006), romances eram publicados em periódicos. Isso, segundo o autor, se deve ao fato de grade parte da população
da época não ter dinheiro suficiente para adquirir livros. A publicação de romances em
folhetins fazia com que os autores fossem lidos, devido ao seu preço acessível.
Apesar de serem marcados por características semelhantes às telenovelas atuais, os folhetins
traziam um caráter social, não somente em sua forma, mas também por ser socializante. Para
isso, de acordo com Pena (2006), não bastava escrever bem, era preciso conquistar o leitor
com o texto para que ele comprasse novamente no dia seguinte.
Pena (2006) cita diversos autores que foram grandes contribuintes deste estilo literário.
Victor Hugo, por exemplo, não apenas ficou conhecido por seus livros, mas também por ter
tido participação decisiva na política e no meio social da França. Suas obras mostravam a
realidade social e criticavam as injustiças da época.
O segundo subgênero do Jornalismo Literário é a crítica literária, segundo Pena (2006). A
pessoa que a fazia era chamada de “juiz da literatura”. Mas, para Pena (2006), o conceito
é muito mais complexo do que isso. “Envolve juízo de valores, moral, contexto, momento
histórico e outros componentes difíceis de avaliar” (PENA, 2006, p. 37).
O crítico literário influencia na sociedade e na própria construção da literatura. De acordo
com Pena (2006), as críticas literárias podem ser escritas por dois tipos de profissionais
atualmente: professores, intelectuais e estudantes de doutorado e mestrado em Letras em
universidades; ou, diariamente, nas páginas das mídias, por jornalistas. Pena (2006) explica
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que, nas universidades, as críticas são escritas mais como forma de ensaio, de forma a
interpretar algo, tendo um padrão de textos escritos com base no que a Academia escolhe. Na
imprensa, prevalecem, atualmente, resenhas que não julgam, apenas analisam, também com
pautas escolhidas sob diversas influências, como as editoras.
O terceiro subgênero de Pena (2006) é o New Journalism, criado em 1973 nos Estados
Unidos por Tom Wolf. Os recursos básicos registrados por Tom Wolf determinam que o
Novo Jornalismo deve reconstruir a história cena a cena; deve registrar diálogos completos;
apresentar as cenas pelos pontos de vista de diferentes personagens; e registrar hábitos,
roupas, gestos e outras características simbólicas do personagem. É preciso conseguir arrancar
tudo dos personagens, passar um tempo com eles, saber lidar com os símbolos que eles
emitem.
A vertente Gonzo do Novo Jornalismo foi criada por Hunter Thompson e defende a ideia de
que o repórter deve provocar o entrevistado. “Ele [Hunter Thompson] recomendava que o
jornalista respirasse fundo, e em seguida xingasse o interlocutor”, (PENA, 2006, p. 56). No
jeito Gonzo, a imparcialidade é uma farsa e o reportagem vive cada matéria intensamente, não
importa quão perigoso isso seja.
No Novo Jornalismo Novo, Pena (2006) descreve o estilo como algo que deve explorar as
situações do cotidiano, assumindo um perfil ativista, que tem primor em retratar fracassos ao
invés de sucessos, no qual o jornalista se envolve ao máximo com a matéria e o tom é sempre
informal.
Na Biografia, quarto subgênero citado por Pena (2006), o personagem é o fio condutor de
toda a narrativa, tudo gira em torno desta vida. A Biografia é, para Pena, uma união entre
Jornalismo, Literatura e História. O maior problema é que, atualmente, muitos jornalistas
estão se arriscando a escrever este tipo de texto, porém, utilizando as técnicas usuais das
redações diárias.
Duas relações são básicas no texto biográfico, segundo Pena. Uma delas é a relação humanacom tempo e memória.
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No momento em que lembramos de algo, o que era passado torna-se narrativa e articula-
se no presente, sendo portanto simultâneo a este presente. E o que seria futuro é apenasespeculação, podendo ser articulado somente no discurso, o que também o tornará presente(PENA, 2006, p.75-76)
A segunda relação é a idolatria aos personagens relatados. Segundo Pena (2006), essa
idolatria é um perigo, principalmente quando transforma celebridades midiáticas em heróis,
criando padrões de comportamento e exemplos de conduta.
O quinto subgênero, indicado por Pena (2006), é o Romance-Reportagem, no qual o autor não
inventa, apenas se concentra nos fatos ocorridos e os une ao modo literário, um cruzamento
entre as narrativas romanesca e jornalística. Apesar das estratégias ficcionais, o foco é na
realidade factual, não se trata de uma ficção.
[Literatura de realidade] Aplica-se à prática da narrativa sobre temas reais, empregandoreportagem – o ato de relatar ocorrências sociais – sob um conceito espaço-temporale de método mais amplo do que nos periódicos. Praticada por jornalistas, escritores,historiadores e cientistas sociais (PENA, 2006, p. 106)
A Ficção Jornalística é tratada por Pena (2006) como o sexto subgênero. Neste estilo,
diferentemente do romance-reportagem, não há a preocupação com a realidade, ela é apenas
explorada como um suporte para a narrativa. A ficção jornalística não tem compromisso com
a realidade, nela o autor inventa deliberadamente e cria uma nova realidade. Neste subgênero,
os autores conhecem os limites da reportagem, mas, justamente por quererem rompem com o
compromisso, deixam de utilizar os instrumentos do jornalismo.
3 REFLEXÕES SOBRE O JORNALISMO CIENTÍFICO
Nesse capítulo estão considerações sobre o surgimento e a evolução do jornalismo científico,
como forma de divulgação da ciência. Discutem-se, portanto, a forma como a imprensa
recebe e repassa temas científicos, a simplificação do texto sobre ciência para públicos leigos,
para finalizar na discussão da profissão de jornalista científico.
3.1 A evolução da divulgação científica e do jornalismo como forma de exposição do
tema
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A história da divulgação científica no mundo é um reflexo do desenvolvimento da própria
ciência em cada lugar. A divulgação do tema surgiu junto ao apogeu da revolução científica
na Inglaterra. A circulação intensa inicia mesmo, a partir de meados do século XVII, quando
cartas sobre as ideias e novas descobertas dos cientistas eram expedidas por eles. Foi
justamente a partir da informalidade e fragmentação das cartas dos cientistas que o alemão
Henry Oldenburg edificou a profissão de jornalista científico. O jornalismo que escreve sobre
ciência se porta, assim, como um dos tipos, um dos modos de divulgação científica.
Fabíola de Oliveira (2002) afirma que se a Inglaterra foi o berço, o pioneirismo do jornalismo
científico foi conquistado pela Alemanha. No Brasil, pouco se sabe sobre a exposição do tema
antes da década de 1980. De acordo com Ildeu de Castro Moreira e Luisa Massarani (2002),
é possível imaginar até mesmo que não existiu ou que foi insignificante a reflexão antes de
1980 - somente a partir desse período se pode falar em divulgação científica por meio do
jornalismo digna desse nome. É preciso ressaltar, porém, a atividade do jornalista José Reis na
década de 1970, especialista na área científica e um dos fundadores da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC – 1946).
Depois de algumas décadas, o jornalismo científico, como forma de divulgação científica,
passou a ser considerado como uma bela missão a ser cumprida, a partir da frase do jornalista
freelancer Steve Mirsky, em um encontro promovido pela Associação Nacional de Escritores
de Ciência (NSWA), em fevereiro de 1998: “Fazer jornalismo científico é o privilégio de ser
porta-voz da fronteira do conhecimento humano”.
3.2 A imprensa na divulgação científica
A ciência contemporânea teve início no século XX e é caracterizada pela
interdisciplinaridade. Ela está presente nas diversas áreas do conhecimento, sendo responsável
pela produção de instrumentos e equipamentos para o bem-estar social. O papel da imprensa,
nesse contexto, é o de mostrar o desenvolvimento científico, o que foi produzido, de forma a
tornar útil na vida da população.
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No início da divulgação científica, no Brasil, e por um longo tempo, a ciência era divulgada
para poucos, principalmente para os que já tinham conhecimento do tema. A linguagem era
rebuscada, com termos científicos e de difícil acesso. Com o desenvolvimento dos meios de
comunicação e também da própria ciência no país, o tema começou a ganhar mais espaço, por
meio do jornalismo. Tornou-se necessária uma modificação na linguagem e um repensar as
formas de divulgação, para dar acesso a todos, e não somente aos cientistas.
Oliveira (2002) afirma que é necessário que a maior parte possível da sociedade tenha
acesso à ciência, principalmente às informações com algum efeito em suas vidas, político,
econômico ou social, imperceptível aos não informados. Wilson da Costa Bueno (2002)
concorda e assegura, assim como Oliveira, que a democratização do conhecimento é uma
etapa fundamental no processo de resgate da cidadania no Brasil, país que tem um índice
elevado de analfabetismo científico. Além disso, a sociedade tem o direito de ter este tipo de
informação, já que, parte do dinheiro destinado a pesquisas sai do próprio povo.
O Brasil já registra um avanço quanto à conscientização da importância da divulgação
científica para o grande público. Prova disso é o espaço que o tema tem ganhado nos maiores
veículos de comunicação e também o surgimento de mídias especializadas em ciência. De
acordo com Elizabeth Moraes Gonçalves (2009), no Brasil, ilustra-se tal expansão com
a publicação de Ciência Hoje (1982), Superinteressante (1987), Globo Ciência (1991),
Pesquisa FAPESP (1995), Scientific American Brasil (2002) e programas televisivos como
Ver ciência, da TV Cultura, e Globo Ecologia, da TV Globo, além dos canais e programas
especializados em ciência na TV por assinatura. Hoje podemos citar ainda a revista Minas Faz
Ciência (1999), que tem tido um papel importante na divulgação científica do estado.
Apesar da amplificação da divulgação científica por meio do jornalismo, o tema ainda tem
pouco espaço nos grandes meios: a televisão, o rádio e os jornais; e são poucos os veículos
destinados e especializados em ciência. Mas, de acordo com Bueno (2009), o problema não é
apenas de ordem quantitativa.
O equívoco maior está na prática de um jornalismo científico que vive a reboque de fatossensacionais, que não atende à sua função pedagógica e que não está comprometido como processo de democratização do conhecimento (...) O jornalismo científico, que temos
por aqui, com as exceções de praxe (e não são muitas) continua pouco investigativo, refém
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das pautas externas e de temas muitas vezes deslocados da nossa realidade. Certamente,a falta de uma “cultura de comunicação” nas nossas principais universidades, empresas einstitutos de pesquisa; e a falta de consciência dos editores e empresários da comunicação,
que buscam pautas óbvias, oficialescas, contribuem para isso. (BUENO, 2009, p.2)
Bueno esquece-se, porém, das características básicas do jornalismo. Na redação jornalística
de ciência o profissional deve estar atento aos critérios de noticiabilidade, ao que é
conveniente ser noticiado, que chamará atenção, e ao que não surtirá interesse.
No que diz respeito ao rigor científico das publicações jornalística, Gonçalves afirma que
muitas delas não se atentam à citação das fontes, aos termos técnicos exatos e à divulgação
da metodologia. Há uma grande polêmica entre jornalistas e cientistas. É justamente por isso
que muitos comunicadores estão se especializando em ciência, para atenderem, de maneira
eficiente, às exigências. Os dois lados ainda estão em um processo de desenvolvimento, estão
aprendendo os jeitos melhores de interagir para que a informação seja difundida de forma
acessível a todos e, ao mesmo tempo, não perca os elementos da cientificidade.
É necessário que o jornalista tenha cuidado ao falar de ciência. Os próprios cientistas
alertam que um trabalho não é ciência até que seja revisto por outros cientistas,
igualmente capacitados, e, além disso, que tenha sido publicado na literatura científica.
A grande quantidade de informações sobre o tema também é algo que complica a vida do
jornalista. Warren Burkett (1990) interpreta que os cientistas provavelmente se sentiriam
desconfortáveis se descobrissem que a decisão sobre o que é notícia intriga os jornalistas
quase tanto quanto as suas fontes.
Além da preocupação com o entendimento do público, com o que é ciência e com acientificidade da notícia, o jornalista deve, de acordo com Bueno (2009), tentar fugir das
armadilhas dos interesses impostos por grandes corporações nacionais e multinacionais, que
costumam mascarar de ciência e tecnologia ações de marketing, numa tentativa deliberada de
manipulação da opinião pública, visando a manter privilégios e elevar os lucros.
3.3 Simplificação e adaptação ao público leigo de textos científicos
As contradições entre o que pensam e esperam os cientistas e o que querem os jornalistas,
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já refletida anteriormente no presente trabalho, estão também ligadas à linguagem. Muitos
pesquisadores não enxergam a possibilidade de reduzir uma pesquisa de anos a termos ao
mesmo tempo de simples entendimento e completos, no que se refere ao estudo. Esse é um
dos medos dos cientistas que diz respeito às “verdades ditas pela metade”, sem divulgação de
metodologias ou termos técnicos.
Por outro lado, historicamente, descobertas científicas geram mais emoção em ambientes
não-científicos do que em meio a profissionais da área. Miguel Osório de Almeida (2002)
exemplifica o fenômeno com o resultado gerado após a anunciação de que Einstein havia
revolucionado as concepções clássicas do espaço e do tempo. Na tentativa de expor esse
resultado à grande massa em linguagem simples, até o próprio físico falhou. Mas um fato é
preciso ser considerado: grande parte dos meios, de hoje, estão “impregnados” de ciência.
O acelerado desenvolvimento, até mesmo de áreas não relacionadas ao meio científico, está
atrelado à introdução de métodos e processos da própria ciência. As condições de vida da
sociedade podem se relacionar ao progresso da área. Por se envolver tão fortemente com a
comunidade não-científica, os estudos devem ser passados também a ela, de maneira clara
e inteligível, não somente de forma a difundir a cultura, mas, além disso, como forma de
exposição e reconhecimento do trabalho. De acordo com Almeida, a vulgarização científica
bem conduzida tem, pois, por fim real, mais esclarecer do que instruir minuciosamente sobre
esse ou aquele ponto em particular.
Para Oliveira (2002), diferentemente da redação do texto científico, que segue normas rígidas,
é mais árido e desprovido de atrativos, a escrita jornalística deve ser coloquial, amena,
atraente, objetiva e simples. A produção de um trabalho científico é resultado, na maioria doscasos, de anos de investigação. Ao contrário, a jornalística é rápida e efêmera.
É claro que o jornalismo científico requer, no mínimo, além de bom conhecimentode técnicas de redação, considerável familiaridade com os procedimentos da pesquisacientífica, conhecimentos de história da ciência, de política científica e tecnológica,atualização constante sobre os avanços da ciência e contato permanente com as fontes, achamada comunidade científica. (OLIVEIRA, 2002, p. 43-44)
A possibilidade de tornar claro ao grande público o que é de origem científica ficou
comprovada pelo professor Júlio Abramczyk, de acordo com Aroldo Murá Hayger (1989).
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Ele conseguiu relatar, através do jornal Folha de São Paulo, todos os caminhos da doença
e morte do presidente Tancredo Neves, de forma adequada ao leitor. Abramczyk (1989)
defende que em editorias onde a ciência aparece, ou até mesmo na repartição específica, o
público quer ler matérias com linguagem acessível; não quer perder tempo com palavras ou
informações complicadas. José Reis (2002) resume a tarefa do jornalista em uma revelação
pessoal: é grande o prazer de tentar compreender o que é difícil e depois transformá-lo em
algo menos hermético, para “gozo” dos outros.
Oliveira (2002) destaca a importância do uso de metalinguagem para aproximar o público
leigo da informação científica. Isso porque associar um princípio ou uma teoria a algo
familiar, facilita a compreensão deste assunto.
Aludindo a Euclídes da Cunha, Oliveira também levanta a possibilidade de o jornalismo
científico ser utilizado para compreensão de qualquer aspecto, fato, ou acontecimento de
interesse jornalístico. Euclides da Cunha, jornalista, engenheiro civil e apaixonado pela
ciência, escreveu sobre o conflito de Arraial de Canudos fazendo longas considerações
sobre a geomorfologia nordestina, comparando-a a outras regiões brasileiras e, ao mesmo
tempo, observando os diferentes tipos humanos pertencentes a cada uma delas, marcados pela
interação com o espaço ocupado.
No relacionamento com as fontes, existe a necessidade do jornalista perder o medo em admitir
que não sabe do quê o cientistas estão falando. Se o próprio jornalista não entendeu, fica claro
que o leitor também não entenderá. Esse problema ainda existe por causa da atitude de certa
subserviência do jornalista em relação aos porta-vozes da ciência. Uma pessoa com o título dePhD ainda causa grande deslumbramento e, consequente, receio.
Não é o título de PhD que retira a possibilidade de erros por parte de cientistas. Eles também
dão informações precipitadas e ainda não confirmadas cientificamente; exigindo, assim,
senso crítico e capacidade de questionamento do jornalista. Por isso, como já esclarecido
anteriormente no trabalho, antecedente à publicação jornalística, a pesquisa deve ser analisada
por outros cientistas do mesmo nível e publicada no meio científico. Deve ser comprovada pelo meio a cientificidade o estudo.
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Oliveira considera que divulgar ciência é, acima de tudo, ação política e estratégica. Isso
porque são grandes os interesses políticos e econômicos na área de Ciência e Tecnologia e,
dessa forma, há sempre o risco da manipulação da informação.
A abordagem do texto de Ciência e Tecnologia, segundo Oliveira, deve, portanto, ser voltada
para a educação e a informação e não para celebrar instituições. Dessa forma, será possível
a formação de jornalistas científicos mais críticos e questionadores, menos acomodados aos
limites pré-concebidos das fontes oficiais de instituições de Ciência e Tecnologia.
3.4 O texto científico simples
O texto jornalístico de ciência deve, portanto, adotar as normas básicas do jornalismo e seguir
os critérios de noticiabilidade. A redação precisa ser clara, objetiva e de fácil compreensão ao
leitor leigo. O repórter é o profissional que exercita esse papel.
Antes do início da redação, o repórter deve ter passado pelo processo de seleção do tema,seguindo os critérios de noticiabilidade. Além disso, deve ter efetivado uma apuração
detalhada, bem como, realizado entrevistas e observação, ou participação, do assunto
tratado. Deve ficar claro ao leitor o porquê da publicação de tal matéria, a importância do
assunto. De acordo com Burkett (1990), em tempos passados era simples escrever sem
deixar o significado evidente. Atualmente, na “era analítica”, é importante conduzir a fonte
a explicar o significado das pesquisas. Dessa forma, a importância do assunto tratado deve
estar no início da matéria, de forma que o leitor saiba desde o princípio o porquê de ele
estar “perdendo tempo” com o texto. Com esse objetivo, Burkett criou o termo parágrafo
de significância. Nele o autor deve imprimir o sentido do texto, de forma que o editor possa
decidir o gancho no qual pendurar o título ou manchete, determinar a projeção. Um bom
parágrafo de significância, mesmo que se trate de uma pequena frase, diminui a possibilidade
de manchetes enganosas e excessivamente sensacionalistas.
Todo texto é escrito por meio de uma série de escolhas realizadas pelos redatores, em
consenso com a opinião dos editores. Seguindo essa linha de raciocínio, Burkett afirma que
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não existe uma fórmula para que a história jornalística seja organizada e contada. É a partir
dessas possibilidades que muitos editores seguem a linha do sensacionalismo, definida por
Carroll J. Glynn (apud Burkett, 1990, p.119) como um modo de colocar ênfase excepcional
em aspectos singulares de uma situação. Um modelo muito buscado na editoria de ciência, a
fim de tornar tudo mais espetacular do que pode ser.
Há vários tipos de distorções no jornalismo científico. Elas podem acontecer devido a
divergências de opinião entre cientistas e redatores, já especificadas anteriormente; devido
à falta de contextualizações históricas ligadas às novas notícias; também se aplica quando
não há uma verificação quanto à qualidade de cientista do pesquisador, quando a ciência
não é realizada seguindo modos profissionais; quando há omissão de informações de grande
importância, por motivo de falta de tempo ou espaço, ou por preguiça. Enganos e fraudes
no meio científico colaboram para que haja distorções, dificilmente sendo detectados por
um jornalista que não tenha talentos de pesquisador; as distorções podem ser originadas
até mesmo por interesses pessoais ou profissionais de qualquer um dos envolvidos no meio
científico ou jornalístico durante o processo de fabricação da reportagem ou notícia.
Apesar de serem muitos os cuidados que devem ser tomados por parte do redator e do editor,
com o tempo o processo de feitura se torna natural. Muito depende também do nível de
integridade e responsabilidade dos envolvidos na matéria. Como todo e qualquer jornalista, o
que escreve para ciência deve contar a história inteiramente. Para Burkett, essa é a primeira
proteção contra a distorção. Uma forma de prevenção é acostumar-se às críticas rigorosas e
constantes de cientistas. Além disso, é importante que o repórter questione em excesso, tenha
interrogações, segundo o autor, como: outros cientistas citaram esse pesquisador? Quantotempo levou para completar a série de experiências? De onde veio o dinheiro para a pesquisa?
O relatório é suficiente para alguém repetir a experiência? O pesquisador consegue citar
outros cientistas que chegaram anteriormente a resultados próximos? Qual foi a contribuição
do pesquisador ao trabalho? Onde o cientista trabalha? Qual é o passado educacional do
pesquisador? A pesquisa prediz alguma coisa? Explica algo? Está ligada a algo?
Na escrita, algumas características facilitam o entendimento do público de forma geral.Frases que contenham de 17 a 20 palavras são consideradas de fácil entendimento. Da mesma
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forma, quando for possível, o repórter deve utilizar palavras curtas. Além disso, Burkett,
assim como Vilas Boas (1996), afirma que é importante escrever explicitamente, com
exemplos de aplicações práticas e através do uso de analogias. Esse último método exige que
o redator imprima uma grande comparação entre duas situações na qual seja traçada linhas
de similaridade. Uma das formas, muito utilizada pela grande mídia, é comparar tamanho
em equitares a número de gramados de futebol. Esse tipo de analogia facilita o entendimento
para assuntos que dificilmente seriam compreendidos se não fossem remetidos a termos mais
próximos à realidade diária do leitor.
Burkett ousa ainda mais. O autor aconselha ao redator escrever “sua experiência” ao invés
de “a experiência”, de forma mais “pessoal”. Contar a história através de pessoas que tiveram
envolvidas também chama mais a atenção. O leitor tem grande interesse em saber sobre
outras pessoas, principalmente se forem reconhecidas, importantes ou incomuns. Do mesmo
modo, escrever através de relato pessoal do que foi visualizado pode trazer ótimos resultados
quando a exposição estiver calcada na seriedade, sensibilidade e comprometimento. Essas
possibilidades de escrita implicam uma abordagem prazerosa e bem pensada ao que é
científico, dentro das possibilidades de tempo e espaço do jornalista.
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1. O DIAGNÓSTICO DO OBJETO
1. Apresentação
O objeto de análise para o presente trabalho é a revista pertencente à Editora Abril,
Superinteressante. Ela surgiu em 1987, quando a editora comprou os direitos da espanhola
Muy Interesante. O plano era publicar a mesma revista de forma integral, mas, segundo a
própria Super 2, como é popularmente chamada, isso não foi possível devido aos fotolitos
serem maiores que os brasileiros.
A Superinteressante fez sucesso desde a primeira edição, na qual um trem-bala estampava
a imagem da capa, que também representou a rapidez com que a revista se esgotou. Foi
reimpressa e, no primeiro dia nas bancas, ela já tinha cinco mil assinantes.
Ao contrário da proposta inicial, a revista é inteiramente escrita, produzida e editada no
Brasil. Ao invés de importar matérias, hoje ela exporta e é a terceira que mais vende do grupo
Abril , como se evidenciará adiante. Ganhou, ao longo de sua trajetória, mais de uma dezena
de importantes prêmios da área, como o Esso de Jornalismo de melhor revista do ano, e
também na área científica, como o Prêmio Master da Ciência e Tecnologia 2002, conferido
pelo Instituto de Estudos e Pesquisas de qualidade.
Em novembro de 1994, o caráter gráfico mais jovial foi introduzido à revista por Eugênio
Bucci, o segundo3 diretor da Superinteressante. Foi a partir daí também que a palavra
infográfico entrou no vocabulário da revista e o apelido Super passou a ser frequentemente
utilizado.
2 Conforme dados apurados junto à editora3 O fundador e primeiro diretor da revista Superinteressante foi o jornalista Almyr Gajardoni.
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Diferentemente da revista Scientific American Brasil , por exemplo, que também tem foco na
divulgação científica, de forma mais aprofundada e técnica, a Superinteressante tem foco na
pessoa leiga. A revista utiliza-se de um discurso que associa o lúdico à divulgação científica.
Pesquisas realizadas pelo Marplan e pelo IVC em 2010 chegaram à conclusão de que a
maior parte do público da revista tem idade entre 25 e 34 anos (correspondente a 23%). As
classes sociais são, predominantemente, B (56%) e A (24%). Os homens representam 52%
dos leitores da revista. Em relação à região do país que mais lê a Super, o Sudeste ficou
em primeiro lugar (50%) e em segundo está a Sul (21%). A tiragem anual é de 448.664
exemplares, dos quais, 235 mil correspondem a assinaturas. No total, ela tem um número
aproximado de 2.300.000 leitores.
De acordo com a perspectiva da própria Superinteressante, o objetivo da revista é engajar
pessoas. Dados do site da empresa informam que, em 24 horas, mil pessoas passam a segui-
la na internet, 964 recomendam na rede social twitter cada matéria da revista e 712 fazem
downloads dos aplicativos para IPad .
2. Recorte temporal e justificativa
Estudar um discurso literário que se aprofunda no tema e envolve o leitor, de forma educativa,
retoma as características originais jornalísticas. Reitera a necessidade de prender o leitor,
educar e contextualizar fatos, não somente no presente, mas também no passado histórico e no
futuro.
A necessidade de difundir a ciência para o público leigo faz com que seja necessária a
utilização de modos de escrita acessíveis. Neste contexto, o jornalismo literário se encaixa
como ferramenta estrutural para que o público compreenda e se aproxime de informações
científicas. Este projeto se faz importante na fundamentação desta união entre jornalismo
científico e jornalismo literário.
No desenvolvimento da divulgação científica, o presente trabalho discute, não somente aimportância em se tratar de ciência, mas também do modo como se desenvolve a escrita,
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como é estruturada. O trabalho também se justifica pelo aprimoramento desta estrutura, que
mescla jornalismo científico a jornalismo literário.
A mídia impressa de revista é um instrumento que possibilita a união do discurso literário em
conteúdos científicos. Possibilita o discurso aprofundado que contextualiza, e não somente
informa, unido a textos de divulgação da ciência e tecnologia, de caráter mais técnico.
A Superinteressante é o objeto desta pesquisa justamente por unir o tema ciência a uma
forma literária de se expressar e, além disso, por ser uma das revistas mais lidas no país,
mesmo tendo como foco a ciência, um assunto de cunho abstrato e distante da população.
As reportagens de capa da revista aprofundam temas, trazem contextos históricos e unem
outros assim à ciência. Desse modo, serão analisadas as matérias de capa da revista mensal
do período entre março e setembro de 2011. Período que abarca a metade da produção anual
da revista, tempo suficiente para analisar o discurso utilizado na confecção de matérias
científicas.
4.3 Um olhar sobre a revista Superinteressante
4.3.1 Chamada ao leitor: a Capa
A capa da revista Superinteressante tem como tom predominante o vermelho, com letras
brancas e alguns ícones em amarelo, como os números das páginas e a segunda chamada que
mais se sobressai, no canto superior direito. A chamada da matéria de destaque ocupa grande
parte do espaço da capa e está, quase sempre, delimitada por um quadrado (ver anexos de 1 a6) .
A chamada da matéria de capa se sobressai, de forma que pelo menos uma das palavras
esteja em maior destaque. Todas as chamadas, exceto a do mês de julho de 2011 “Os anos
ocultos de Jesus” (ver anexo 4), aproximam o leitor do tema. Em duas, das seis edições
estudadas, a de agosto (anexo 5) e a de setembro (anexo 6), é utilizado o pronome “seu” como
forma de aproximação. Nas edições de abril (anexo 1), agosto e setembro, ainda há o usodo sujeito “você”. Em maio (anexo 2) e junho (anexo 3), esse sujeito se apresenta de forma
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oculta.
Todas as seis edições apelam para fatos que despertam curiosidade e que sejam
revolucionários de alguma forma, seja de caráter mundial, como na edição de abril “A fúria da
natureza”, ou de caráter pessoal, como em agosto: “O futuro do seu corpo”.
A revista utiliza-se de montagens gráficas para as imagens de capa. Na edição de
maio, “Psicopatas no trabalho”, um homem olha por detrás de uma cortina para o leitor. Toda
a capa foi preenchida pelos filetes de cortina, inclusive onde está escrito o nome da revista,
no canto superior esquerdo. Mesmo as que utilizam algum tipo de foto, estão com montagens.
Um exemplo disso é a edição de julho, na qual é exibida a imagem de um suposto Jesus com
uma faixa de recorte no rumo dos olhos e nariz, de onde surge o título da chamada, como
se a verdade finalmente estivesse à mostra para a sociedade. A revista utiliza-se de um viés
publicitário porque não traduz o que acontece de verdade, constrói uma peça de chamada
jornalística, com caráter persuasivo. O fato de ser uma montagem já é algo que afasta do viés
do jornalismo por se tratar, nesse caso, de um artifício para venda do produto.
As edições de abril e julho apresentam, além da chamada de capa e da que fica na parte
superior, outras seis na parte inferior. Em todas as outras, elas são cinco. Sempre com
tamanhos diferentes de uma palavra para outra para dar destaque a algumas delas, mais
chamativas.
4.3.2 Além da reportagem: artifícios complementares
No interior da revista todas as matérias de capa ocupam dez páginas, iniciando-se sempre
próximo à metade da edição. As duas primeiras páginas são ocupadas com título, bigode,
exceto a de setembro, grandes imagens, créditos (texto, ilustração, design, foto – quando
presente no corpo da reportagem) e o início do texto, exceto em maio. Além disso, algumas
já iniciam com infográficos, como na edição de maio, na qual a foto de um suposto psicopata
do trabalho é acompanhada do trecho “Este homem é um psicopata e está prestes a aplicar
um golpe. Preste atenção às imagens que aparecem nesta reportagem para descobrir o queele está planejando” (ver anexo 7). O infográfico é uma espécie de jogo que atrai o leitor e
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o faz querer ler até o final. A mesma estratégia está presente na edição de setembro, na qual
uma grande interrogação formada por vários itens, como computador, sanduíche e carro, é
acompanhada por três pequenos textos cujo título é: “Você decide por onde começar a ler:”
(ver anexo 8). Cada um dos três pontos remete a uma parte do texto, de páginas que virão
à frente. São perguntas para o leitor, de como ele reagiria em cada uma das situações, qual
decisão tomaria, com resposta de como cientificamente funciona o corpo diante de cada
alternativa (ver anexo 9).
As duas primeiras páginas indicam o que está por vir. No caso da edição de junho, há uma
divisão: na primeira, está a parte masculina e, na segunda, a feminina. O mesmo se segue por
toda a revista (ver anexos de 10 a 12). As páginas pares representam os homens, com cores
em tons de azul e figuras que representam o masculino e as ímpares são o lado da mulher, nas
quais imagens simulam gostos femininos e o tom de rosa é o predominante. É como se fossem
duas reportagens diferentes, depois de ler a parte do homem o leitor volta à quarta página
da matéria, correspondente à 51, e lê a parte da mulher até o final. O mecanismo criado para
essa edição deixa a reportagem mais dinâmica e rápida, além de despertar a curiosidade.
Todos os olhos gráficos apresentam dados ou frases científicas de destaque do texto. Por
exemplo: “Meninos têm probabilidade 50% maior de morrer de problemas respiratórios
quando nascem.”, “A mortalidade infantil de meninos é 22% maior que a de meninas”.
Também destacam dados que causam estranhamento como: “Transexuais que viram mulher
ganham 32% a menos de salário. Os que viram homem têm um aumento de 1,5%”.
Na edição de abril, “O pior que pode acontecer”, sobre as catástrofes naturais, o título e a
imagem das duas primeiras páginas chamam a atenção e despertam interesse no leitor (ver anexo 13). O título está dentro de uma gigantesca onda que cai sobre toda uma cidade. A
palavra “pior” ocupa mais de um terço da altura da folha e pouco mais do que a largura de
uma página. A palavra representa o quê de “pior” pode acontecer na vida e no mundo de
quem está lendo. A ênfase, portanto, causa um choque no leitor, uma espécie de temor e ativa
a curiosidade e o interesse.
Os infográficos unem uma série de informações atrativas. A edição de agosto, “O seu novoeu”, possui quatro páginas compostas por grandes infográficos (ver anexos de 14 a 18). Na
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página 61, por exemplo, uma imagem gráfica mostra, junto ao texto indicado por cada item,
como será a “supervisão”. O infográfico antecipa o que será o suposto futuro do homem. É
simples e direto, mas graficamente completo.
Já na página 56 da edição de maio, sobre psicopatas, o infográfico não é composto por fotos
nem desenhos, apenas de textos e setas, um item remetendo a outro (ver anexo 19). O título
é “Que alvo escolher?” e já indica duas possibilidades para dar sequência à leitura: “empresa
grande” ou “empresa pequena”. Cada uma das novas possibilidades abre a sequência para
outras, que indicam todos os passos de um psicopata do trabalho e como ele agiria em cada
situação. O infográfico é simples, sem muitos enfeites, mas é direto e completo, como um
de qualidade deve ser. Nessa mesma reportagem, todas as fotografias representam passos
do psicopata, assim como foi proposto no jogo da segunda página da matéria, conforme já
dito. A matéria termina com a última foto, da hora do crime. Outra interação é criada nesse
momento. O leitor é chamado a twittar qual golpe fora cometido pelo psicopata fictício (ver
anexo 20). Quem acertasse primeiro apareceria na outra edição da revista, no caso a de junho.
A estrutura da matéria de capa da edição do mês de abril, “O pior que pode acontecer” (ver
anexo 21), também é diferente, assim como a de junho, anteriormente citada. A reportagem
se divide em tópicos, como se fossem vários pequenos textos sobre diferentes tipos de
catástrofes. Cada uma das divisões (tsunami, furacão, vulcão, terremoto, enchentes, seca,
catástrofe nuclear, tempestade solar e asteroide) vem acompanhada de pequenos infográficos,
todos avaliando a probabilidade do evento ocorrer, a letalidade e a perspectiva para o futuro.
Além disso, o texto ainda vem acompanhado de dados em destaque, no formato de olho
gráfico e bigodes em quatro deles. Em cada página as imagens gráficas mostram diferentestipos de destruição que se assemelham muito à realidade. A riqueza de infográficos da matéria
atrai o leitor e, ao mesmo tempo, passa informações científicas, através de dados.
4.3.3 Características da linguagem
Todas as matérias de capa da revista Superinteressante analisadas possuem as características
de um texto-reportagem. Aprofundam no tema, contextualizam historicamente e trazemopiniões diferentes. Elas apresentam fontes diretas, que deram entrevistas à redação da revista
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e fontes indiretas, através de citações em livros, palestras ou pesquisas. Assim como foi
pressuposto por Cremilda Medina, as matérias trazem um aprofundamento no conteúdo de
forma estilística, trazem o fato amplamente discutido no espaço e no tempo. A reportagem do
mês de setembro, “Como tomamos decisões?”, é construída constantemente se remetendo
ao passado histórico, às origens, com embasamento nas falas das fontes. Por exemplo no
trecho: “’Aconteceram por causa da evolução social’, diz Haase. Nessa época, o homem
passou a fazer escolhas para preservar o clima de cooperação no bando. A primeira decisão
racional pode ter ocorrido quando um homem conteve o impulso de roubar a mulher de
outro.” A reportagem remete às origens, ao passado histórico, para explicar como, de fato,
acontece o processo de decisão de algo e como isso pode ser explicado.
As matérias de capa confirmam a análise de Muniz Sodré e Maria Helena Ferrari. Elas
constantemente utilizam-se da narração. A reportagem da edição de maio, sobre psicopatas
do trabalho, inicia-se de forma narrativa, com direito a personagens e descrições. “Luana
conseguiu o emprego com que sempre sonhou. Era em uma empresa farmacêutica conhecida
por seu ambiente competitivo, mas também por bons salários e chances de crescer
profissionalmente. Nova no escritório, logo ficou amiga de Carlos, um sujeito atencioso
de quem recebeu até umas cantadas. Em poucos meses, apareceu a oportunidade de Luana
liderar seu grupo na empresa. Parecia bom demais não fosse uma inquietação ética. Ela
desconfiava que a companhia garantia a venda de seus produtos graças a subornos a médicos.
Isso incomodava tanto Luana que, durante um intervalo para um lanche, ela desabafou com
o amigo Carlos”. A narração confirma todas as técnicas utilizadas na literatura. Tem início,
meio e fim, personagens, ação dramática e descrições de ambientes e sentimentos. Finaliza
já introduzindo o tema da reportagem: “Ele também parecia indignado com a situação. Seriauma conversa normal entre colegas de trabalho – se Carlos não tivesse se aproveitando. Em
um momento de distração de Luana, ele pegou o celular da colega e ligou para o chefe de
ambos. Caiu na secretária eletrônica, que gravou toda a conversa seguinte entre Carlos e
Luana. A moça, grampeada, chegou a questionar se o chefe poderia ter algo a ver com os
subornos. Acabou demitida por justa causa. Carlos tomou o lugar de líder que seria dela”. A
historinha introduziu o assunto: “A história é real (os nomes foram trocados). E esse Carlos,
um cretino, não? Na verdade é pior: ele age exatamente como um psicopata. Há 69 milhõesde psicopatas no mundo, o que dá 1% da população no total”. Além de inserir o assunto, a
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narração aproxima o leitor do tema, faz com que ele compare a acontecimentos de sua própria
vida e traz um sentimento de compaixão pela moça, ao mesmo tempo em que causa susto ao
informar estes dados logo em sequência.
Como na última afirmação da matéria dos psicopatas do trabalho inserida acima, todas as
reportagens trazem algum tipo de juízo de valor do próprio autor do texto, que, de forma
geral, é semelhante ao da grande massa. Como na frase: “E esse Carlos, um cretino, não?”.
Dessa forma, antecipa o próprio pensamento do leitor e trava uma espécie de diálogo. Utiliza-
se também da linguagem denunciativa, expressando claramente, sem meias-palavras, a
própria opinião, com divulgação clara do objetivo. Em todas as reportagens, os autores
inserem perguntas, que seriam do leitor, e as respondem, introduzindo novos assuntos ao
tema. Na reportagem de junho, sobre as diferenças entre homens e mulheres, são vários os
momentos em que isso acontece, por exemplo, no trecho: “Ou seja, quando a descrição do
trabalho envolvia competição direta com outros funcionários, as mulheres acharam melhor
se abster. A escolha foi delas. Isso torna os homens mais competentes? Não, apenas garante
que eles não fujam da possibilidade de ganhar mais dinheiro”. Outra parte da mesma matéria
antecipa a reação dos leitores e até propõe o que deve ser sentido em relação ao que foi dito,
mas de uma forma descontraída e informal, como em uma conversa: “Pois é, em 56 estudos
que analisaram o número de palavras ditas em conversas informais, os homens falaram mais
em 24 deles – as mulheres só ganharam em dois casos. (Milhares de mulheres respiram
aliviadas neste momento)”.
Fagundes de Menezes afirma que o texto deve ser, tanto quanto possível, agradável e atraente.
A Superinteressante cumpre esse papel em todas as edições analisadas. A linguagem ésimples, com explicações que aproximam o tema do leitor, muitas vezes utilizando-se até
mesmo de frases em primeira pessoa como em um diálogo. Como na reportagem sobre
decisões em que o texto já se inicia colocando o leitor no mesmo patamar do autor, através da
utilização da primeira pessoa do plural: “Alguns momentos definem o rumo de nossa vida. O
vestibular. O casamento. O primeiro filho. Nessas horas, geralmente estamos diante de dois
ou mais caminhos. E precisamos tomar uma decisão. Recorremos à lógica, às emoções, aos
amigos, aos pais, a qualquer um com um pitaco a oferecer. E, enfim, escolhemos. Com um baita medo de errar”. A introdução é uma espécie de diálogo tão próxima do autor quanto
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do leitor, que tira qualquer barreira que exista entre as duas pessoas e faz com que ambos se
sintam confortáveis, prontos para uma interação através do texto, escrito por um e lido por
outro.
Ao mesmo tempo em que narram, as reportagens, todas elas, utilizam-se, em vários momentos
da descrição e da dissertação. São em algumas partes narrativas e, em outras, matérias
dissertativas, por trazerem um enorme esforço consigo de convencer o leitor, alto teor de
argumentação e boa articulação em relação às fontes e opiniões, o que valida o raciocínio e dá
credibilidade. Para isso, utiliza-se também de dados científicos, muitas vezes fantásticos. O
que será tratado mais adiante.
A reportagem sobre o futuro do corpo, do mês de agosto, inicia-se de forma narrativa e com
alto teor descritivo. “Rex Jameson não é o tipo de gente que chame a atenção. É um típico
americano de meia-idade, voz suave, jeito calmo. Ele até malha um pouco, se cuida para
não ficar barrigudo, mas está longe do estereótipo dos bombadões de academia”. Os autores
utilizam-se de toda essa descrição para introduzir o assunto: “...decidiu se submeter a um
novo e polêmico tipo de cirurgia – que o transformou numa espécie de ciborgue”.
De acordo com a classificação de Sodré e Ferrari, as reportagens analisadas são inseridas
como reportagens de ação, nas quais o que importa é o desenrolar dos acontecimentos de
maneira enunciante, próxima ao leitor, que fica envolvido com o desenrolar da matéria como
em um filme. As reportagens se constroem de forma a unir um assunto a outro, dentro do
mesmo tema, de um modo que atrai o leitor e o deixa com expectativa do que acontecerá no
final, como em uma produção cinematográfica.
As reportagens da Superinteressante utilizam-se de inúmeros tópicos frasais, seguindo a
decomposição feita por Coimbra. Um dos mais usuais para a revista é a comparação, que
aparece quase sempre inserida após um dado ou uma informação científica, de modo a deixar
mais claro, mas inteligível, o que foi anteriormente dito. Sobre isso haverá tratamento mais
completo no próximo tópico, sobre a divulgação científica da revista.
Os textos das matérias de capa da Super cumprem o papel que a eles é referido, unindo
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entretenimento a educação, serviço e interpretação dos acontecimentos. Seguem o que Vilas
Boas analisou como sendo um bom texto de revista: trazem imagem, som, cor, todos os
sentidos ao leitor, que vive uma espécie de narrativa cinematográfica ao lê-los.
Revistas possuem públicos específicos. A Superinteressante demonstra conhecer de forma
aprofundada seus leitores. O design demonstra isso, assim como já foi dito. O texto também
o faz. Os diálogos travados com o leitor em todas as matérias são para um público específico,
mais jovem, mesmo que somente de espírito, com a mente aberta para novidades, revoluções
e criatividade. Um público que permite ser chamado por “você” e que gosta de textos em
formatos literários, com histórias, personagens, cenários, assim como no cinema. Que permite
que entrem na sua intimidade. Dessa forma, as matérias de capa possuem uma identidade
formada, como se fossem todas escritas pela mesma pessoa. Fica claro para o leitor que há
uma enorme preocupação com o “como”, dito tão importante por Scalzo, o como falar, como
se articular e que ângulo dar ao assunto. Há um pensar ao se escrever, que faz com que o
leitor fique preso no texto do início ao final, maior objetivo do jornalista, segundo Sérgio
Vilas Boas.
As reportagens de capa se portam ainda como matérias com maior durabilidade, porque há um
distanciamento do tempo real da notícia, característica que é essencial em revistas mensais.
Por isso, essas reportagens podem ser lidas muito tempo depois da publicação, pelo caráter
atemporal.
Na matéria de capa da edição do mês julho, sobre os anos ocultos de Jesus, os autores
utilizam-se de um recurso importante para Coimbra e Vilas Boas: o neologismo. “Alémdisso, Jesus pode não ter sido exatamente crucificado, mas ‘arvorificado’”. O termo usado
esclarece o que foi proposto pelos estudiosos, de que, na verdade, Jesus teria sido crucificado
em taboas pregadas em uma árvore, como, segundo eles, se fazia antigamente. Apesar de
gerar polêmica, devido ao tema religioso, o neologismo é bem empregado e esclarece o que é
importante ser dito de uma forma que aproxima o leitor e desperta curiosidade pela explicação
que vem logo em seguida.
Os coloquialismos e as gírias também estão presentes em todos os textos analisados. No início
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do subtema “Enchentes”, da matéria sobre a fúria da natureza, na edição de abril, o texto
diz: “Não é impressão sua: está piorando”. A frase é informal e desperta a curiosidade do
leitor. Mas o coloquialismo é ainda mais presente em: “A única certeza, enfim, é que ‘foi por
aí’ que Jesus nasceu” (matéria sobre Jesus, edição de julho). Ou então em: “E aí um psicopata
conta com um trunfo maior do que qualquer MBA: tranquilidade” (matéria sobre psicopatas,
edição de maio). Um último exemplo: “Se tantos homens a mais são fecundados todos os
dias, por que o mundo não está lotado deles (aliás, para desespero das mulheres casadoiras, o
censo brasileiro há décadas revela o fenômeno inverso)?” (matéria sobre homens e mulheres,
edição de junho).
As reportagens analisadas utilizam-se muitas vezes de uma forma de moral, como no caso da
matéria sobre fenômenos naturais (edição de abril), na qual o autor diz claramente em tom
moralista ao final do subtema “Tsunami”: “Moral da história: se não pode vencê-lo, adapte-
se a ele”. Trazem em forma de conselhos, por exemplo, na matéria sobre psicopatas (edição
de maio): “Por isso, não saia acusando seu chefe de ser um psicopata. Ele pode ser doido. Ou
simplesmente um cretino”. Ou então na reportagem sobre decisões (edição de setembro): “O
importante é entender que podemos usar o melhor de todas essas alternativas. A boa notícia
é que o sistema de recompensas vai anotar tudo se você se arrepender de alguma escolha. E
lançar um alerta da próxima vez que você tentar cometer uma burrada”.
Como tratam sempre de temas “espetaculares” da ciência e da vida, as reportagens, muitas
vezes, preveem os acontecimentos futuros, podendo parecer ao leitor que estão apenas se
portando como “Mães Dináh”. Um exemplo é a possibilidade para o futuro aberta ao final do
texto sobre o corpo humano (edição de agosto): “Talvez cheguemos a um ponto de equilíbrio.Ou talvez o mundo do futuro seja dividido pela tecnologia”. De forma mais evidente: “Há
quem acredite que esses trajes possam nos ajudar a explorar outros planetas, como Marte ou
as luas de Júpiter. Na Terra, eles vão mudar a sociedade”.
O texto da Superinteressante segue os padrões ditos pelos autores aqui citados de uma boa
redação de revista. Tem ritmo, é claro e conciso, apesar de usar e abusar da criatividade. É
preciso, tem harmonia, unidade e viaja pelo passado, presente e futuro dentro de um únicotema. É artístico e explora o visual, mas não perde o foco na informação. Tem um estilo
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próprio, uma unidade e reconhece muito bem o próprio público. Vai muito além do que faz
um jornal diário.
Dessa forma, torna-se claro que o jornalismo usado pela revista engloba as características
literárias. Assim como Alceu Amoroso Lima afirmou, a Super utiliza-se da literatura como
arte da palavra com ênfase nos meios, mas sem exclusão dos fins. No exemplo da reportagem
sobre psicopatas, a leveza do texto, os personagens e a narração, representam características
de um texto de jornalismo literário, sem exclusão das entre jeitos específicos de cada um dos
dois: “Ainda que a companhia ofereça um ambiente propício à trairagem, o psicopata precisa
procurar a hora certa para agir. Vítima de Carlos, Luana teve seu momento de fraqueza –
bobeou, dançou. Empresas também têm seus momentos de fraqueza. Quando uma companhia
compra um concorrente, seu caixa fica pobrinho, vazio. Muito dinheiro saiu de lá, e os
acionistas estão ansiosos para saber quando o gasto dará retorno. O que algumas fazem,
então? Procuram alguém capaz de produzir um milagre e encher o cofre de novo rapidinho.
E aí que o psicopata se apresenta como o melhor gestor. Claro que é mentira – ele apenas
tem maior capacidade de manipular a imagem e vender ilusões. ‘Sem tempo para fazer
uma análise minuciosa, as empresas compram essa imagem’, diz Heloani”. O trecho citado
traz grande parte dos elementos já analisados nesse item. Possui neologismos: “trairagem”
e “pobrinho”. Linguagem em forma de diálogo: “O que algumas fazem, então?”. Exprime
a opinião: “Claro que é mentira”. Tem uma história que vem desde o início do parágrafo
e segue até o fim, em uma estrutura linear. Utiliza-se de certo humor: “bobeou, dançou”.
Apresenta a fala de um entrevistado e não deixa o jornalismo de lado, passa a informação que
deseja passar ao leitor.
Os trechos citados acima referentes à matéria de psicopatas exprimem características do
chamado Novo Jornalismo, com descrição de cena a cena, registro de diálogos e apresentação
de hábitos pessoais dos personagens. Não apresenta, porém, pontos de vista diferentes,
apenas o lado da vítima, seguindo a ideia central da reportagem, de, em síntese, passar para o
leitor “como são perigosos os psicopatas”.
Ao contrário do que acontece em relação ao Novo Jornalismo, as matérias de maior destaque na capa não apresentam aspectos do jornalismo Gonzo, sem provocações claras
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ao entrevistado. Do mesmo modo, não possuem características do Novo Jornalismo Novo,
porque ao contrário do que prediz o tipo, as matérias da Superinteressante se envolvem com
sucessos, assuntos revolucionários sem, em nenhuma das revistas analisadas, jamais retratar
fracassos.
O quarto subgênero classificado por Pena, a Biografia, pode ser encaixado tanto na matéria
sobre Jesus, por colocá-lo no centro da narrativa, como protagonista de toda a reportagem,
quanto na matéria sobre psicopata, na qual ele, assim como na primeira, a matéria gira
em torno do astro principal. Além disso, ambas são uma mescla de história, jornalismo e
literatura. Apesar disso, não idolatra nenhum dos dois personagens, mesmo transformando o
psicopata ilustrativo em um ser midiático.
O quinto subgênero de Pena, o Romance-Reportagem, também é utilizado pelas matérias, mas
com ainda mais intensidade. As reportagens se concentram no tema anteriormente pensado
e seguem essa linha, com foco no que é real, mas utilizando de fatores literários para clarear
as ideias ao leitor. Apesar dessas estratégias, são direcionadas à realidade e não ao ficcional.
Dessa forma, as matérias não se aplicam às características da Ficção Jornalística, sexto
subgênero de Pena.
4.3.4 Divulgar ciência
A Superinteressante se porta como um veículo especializado na divulgação científica
por meio do jornalismo. Assim como Elizabeth Moraes Gonçalves aclarou, a revista é
colaboradora para essa expansão expositiva da ciência desde a criação em 1987. A Super preocupa-se com os temas escolhidos, de forma que sempre chamem a atenção dos leitores,
dessa forma, utiliza-se dos critérios de noticiabilidade.
As matérias de destaque na capa da revista analisadas apresentam algumas falhas no que
diz respeito ao rigor científico, seguindo o que afirmou Gonçalves. A metodologia das
pesquisas divulgadas muitas vezes é deixada de lado, assim como termos técnicos exatos. Na
reportagem da edição de abril, sobre a fúria da natureza, é um exemplo: “Entre 1981 e 2006, avelocidade deles [furacões] aumentou 7,8 metros por segundo, de acordo com a Universidade
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Estadual da Flórida, que analisou os mais velozes”. Neste trecho, o autor não disse a
metodologia utilizada, não citou os pesquisadores e facilitou termos técnicos a um modo de
fácil acesso. Outra parte dessa mesma matéria pode ser analisada: “Uma pesquisa feita com
85 especialistas em armas nucleares estimou em 39,8% a probabilidade de um ataque desse
tipo em alguma cidade dos EUA até 2015”. O trecho não especificou de onde é a pesquisa,
quem a fez e através de qual órgão e não apresentou de forma completa os meios utilizados.
Logo em sequência: “Primeiro, terroristas se apoderam de algum tipo de material radioativo –
como o césio – 137 usado em máquinas de radiografia. Ele é acoplado a uma bomba comum,
que é detonada no centro de uma metrópole. Essa explosão provoca uma chuva de partículas
radioativas que pode se espalhar numa área de até 40 quarteirões – que, dependendo do grau
de contaminação, poderiam se tornar inabitáveis por meses, anos ou até décadas”. Neste caso
a revista preocupa-se em explicar como aconteceria caso acontecesse uma catástrofe nuclear,
segundo a pesquisa logo acima citada, sem fontes nem métodos.
Neste mesmo trecho, citado no parágrafo acima, é possível analisar como é a linguagem
utilizada pela Superinteressante ao se tratar de ciência. Ao invés de utilizar termos técnicos,
ela fala em linguagem acessível, como em: “...chuva de partículas radioativas que pode se
espalhar numa área de até 40 quarteirões...”. O fato de usar a área em quarteirões e não em
quilometragens e de tratar o efeito como chuva de partículas radioativas, vai contra o que
os cientistas analisam como divulgação correta para o tema, mas, ao mesmo tempo, atinge
o objetivo: passa a mensagem desejada a um leitor leigo. O mesmo acontece no trecho da
matéria de agosto, sobre o futuro do corpo humano: “A empresa Raytheon (fabricante dos
famosos mísseis americanos Patriot e Tomahawk) já está testando o XOS: um exoesqueleto
que dá força sobre-humana a quem o veste. Com esse traje, você consegue carregar facilmente um homem nas costas ou levantar pesos com centenas de quilos. Tudo isso sem
perder a flexibilidade dos movimento naturais – o XOS permite que o usuário faça gestos
delicados e complexos, como chutar uma bola ou subir escadas”. O equipamento tratado
pelo texto é complexo para quem é leigo no assunto, principalmente por se tratar de algo
inexistente no mundo atual e no cotidiano do leitor, mas torna-se algo próximo e possível
de ser compreendido, principalmente devido à utilização de uma linguagem simples e de
recursos como a comparação. O trecho “você consegue carregar facilmente um homem nascostas ou levantar pesos com centenas de quilos” é um exemplo de comparação que faz com
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que o leitor se interesse ainda mais pelo equipamento criado por cientistas e também pela
leitura do texto. A utilização da palavra “você” aproxima ainda mais o objeto científico de
quem está lendo. A vulgaridade no falar de ciência, assim como Miguel Osório de Almeida
afirmou, pode ser bem conduzida, de modo que mais irá esclarecer e reconhecer o trabalho
científico, do que instruir minuciosamente sobre esse ou aquele ponto em particular, o que
não seria interessante nem seguiria critérios de noticiabilidade jornalísticos. É justamente isso
que a Superinteressante faz, esclarece e reconhece a ciência.
A ciência é utilizada pela revista como algo extraordinário e revolucionário. O jeito de
expressar o tema desperta, muitas vezes, diferentes tipos de emoções no leitor, levantando
ainda mais a possibilidade, aludida por Almeida, de que essas notícias sejam mesmo muito
mais bem recebidas pelo meio não-científico do que pelos próprios cientistas.
Os temas científicos escolhidos para serem destaque nas capas das revistas analisadas são,
predominantemente, de teor psicológico: “Como tomar decisões?”, “Homens x Mulheres”
e “Psicopatas no trabalho”. Os outros três são, um de tecnologia: “O futuro do seu corpo”;
outro histórico: “Os anos ocultos de Jesus”; e o último de meio ambiente: “A fúria da
natureza”. Assim como Oliveira afirmou, a revista utiliza-se de quase qualquer tipo de tema
para falar cientificamente, demonstrando assim que a ciência perpassa por vários tipos de
assuntos diferentes.
Em relação às fontes científicas, a Super utiliza-se de, pelo menos, três fontes que foram
entrevistadas para cada matéria, sem contar as outras que são citadas por seus trabalhos.
Na matéria do mês de agosto, sobre o futuro do corpo, seis cientistas foram entrevistados. No relacionamento com essas fontes a revista demonstra não ter qualquer tipo de medo de
perguntar e tentar entender a fundo o tema. O que deixa isso claro é que os autores conseguem
explicar através de vários artifícios de forma a deixar o texto simples e que seja compreendido
pelo leitor. Na edição de julho, sobre os anos ocultos de Jesus, os autores utilizam um trecho
da Bíblia e traduzem para o leitor: “O homem que batizaria Cristo aparece descrito como
um profeta que se vestia como um homem das cavernas (‘em pelos de camelo’) e que vivia
abaixo de qualquer linha de pobreza traçável (‘comia gafanhotos e mel silvestre’)”.
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As matérias analisadas iniciam-se seguindo os níveis de um bom parágrafo de significância
dito por Burkett. Neles os autores dão o sentido de cada texto. Na matéria sobre Jesus, o início
contém dados e introduz o tema de uma forma que desperta interesse: “O Novo Testamento
contém 27 livros, 7.956 versículos e 138.020 palavras. E uma única referência à juventude
de Jesus”. Na reportagem sobre catástrofes da natureza os autores fazem o mesmo: deixam
claro para o editor e o leitor qual o sentido do texto e por qual caminho ele seguirá. “Tsunami.
Terremoto. Crise nuclear. Veio tudo de uma vez para os japoneses. Um tremor de 9,0 na
escala Richter sacudiu o Japão em 11 de março, e o país já contava quase 9 mil mortos até
o fechamento desta edição. Outras 13 mil pessoas ainda estavam desaparecidas”. A matéria
inicia-se com um tom dramático, traz dados de um fato atual e relevante e, a partir disso,
introduz e leva para o resto do mundo o mesmo tema.
As perguntas apontadas por Burkett como sendo importantes no processo de fabricação
da matéria provavelmente não são todas utilizadas pelos repórteres da Superinteressante.
Perguntas como “de onde veio o dinheiro para a pesquisa?” não apresentam qualquer sinal
de que tenham sido respondidas no contexto das reportagens. O que, por outro lado, não faria
qualquer diferença ao leitor que a revista deseja atingir.
As frases utilizadas nas matérias analisadas são, em sua maioria, curtas, diretas e simples.
São utilizadas analogias, citações, comparações e muitas outras ferramentas, anteriormente
analisadas, para facilitar a leitura do público leigo da revista. A Superinteressante tem total
consciência de quem são os seus leitores. Isso faz com que o texto seja ainda mais completo.
Esse público também colabora para que a revista seja recheada de artifícios para melhor
compreensão, que tornam os textos ainda mais prazerosos, porque, provavelmente, se tratamde pessoas abertas à criatividade e à inovação. Além disso, como já visto, o leitor é tratado
com proximidade, de forma direta: por “você”.
2. CONCLUSÃO
O jornalismo literário empregado como forma de expressão de uma realidade ampla,
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aprofundada e próxima do leitor é utilizado pelo objeto de análise deste trabalho para a
divulgação de um tema que precisa ser difundido a todos. A revista Superinteressante é uma
tentativa de atingir um público antes pensado inatingível: o leigo. Ela abre as fronteiras para
novas possibilidades quanto à divulgação da ciência no Brasil.
A revista deixa claro que sabe muito bem com quem está falando. Age não como um
jornalista, distante e inatingível, mas como um amigo, próximo e humano, assim como quem
o lê. Utiliza-se de artifícios criativos que deixam a ciência interessante até mesmo para quem
não gosta dela. Compara temas científicos com assuntos do dia a dia do leitor e brinca com o
texto com a leveza de uma criança que brinca com um balão: tranquilamente, sem ser pedante.
A beleza, sem dúvidas, é um aspecto de extrema importância para a revista. Fica clara a busca
constante por se inovar e por revolucionar graficamente as técnicas da comunicação. As capas
funcionam como outdoors nas bancas. Chamam a visão de quem passa perto. Dessa forma,
ela se assemelha mais à publicidade do que ao jornalismo, esquecendo-se de alguns princípios
básicos jornalísticos. A revista é feita de montagens, sem dúvida incríveis, mas sem qualquer
indício de realidade. Prende-se ao que será chamativo, mas esquece-se de informar a realidade
também por meio das imagens. Algo que, apesar de contradizer o jornalismo, funciona bem,
visto o grande número de leitores assinantes apurado junto à editora.
Há uma busca incansável por temas que apoiem o nome da revista. Os assuntos devem ser
incríveis e inquietantes. Afinal, não tem como dizer que um argumento como esse deixaria de
atrair alguém: “Psicopatas no trabalho – cuidado: pode ter um na mesa ao lado”. Dificilmente
alguém passaria em frente a uma banca, leria o assunto na capa, e deixaria de, pelo menos,ficar por um tempo pensando nisso. E, justamente por se tratarem de temas espetaculares, não
seria possível chamar a atenção do leitor da mesma forma caso fossem utilizadas fotografias
jornalísticas ao invés de montagens na capa.
A linguagem, clara e mais jovial, não deixa as regras do bom português de lado. Utiliza-se de
uma estrutura que é complexa, por remeter ao presente, passado e futuro, com uso de figuras
de linguagem, mas, ao mesmo tempo, é simples, porque trava um diálogo como se estivessemfrente a frente: autor e leitor.
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O leitor passa a ter, portanto, um perfil claro e específico. Da forma como é tratado pela
revista torna-se óbvia a característica de uma pessoa que se interessa por temas espetaculares.
Talvez nem gostasse de ciência antes, mas, muito provavelmente, aprendeu que o tema
pode ser muito interessante e, até mesmo, útil para sua vida diária: como em “Como tomar
decisões?”.
O repórter que escreve para a revista se porta como alguém semelhante ao seu leitor. Fala
com a convicção de quem diz a verdade e utiliza-se de falas de cientistas para confirmar
suas afirmações. Dá voz a várias pesquisas e a diversos pesquisadores dentro de uma mesma
matéria. Por ampliar pequenos assuntos, ele se torna convincente. É alguém compromissado
com o que faz, que corre atrás de dados e tipos diferentes de informações e visões para chegar
ao resultado que deseja: uma reportagem complexa, aprofundada, que viaja no tempo e no
espaço, e que aproxima o leitor do assunto por meio de comparações ao que é do dia a dia
dele e por meio de diálogos travados pelo autor com quem o lê.
A revista se aproxima tanto do leitor que interage com ele. Cria jogos, dentro da própria
revista. Remete-se ao site, possibilita que ele também diga o que pensa e o que quer através
das redes sociais. A Superinteressante faz de tudo para estar presente na vida diária do seu
público.
A Super com certeza não será a revista responsável por difundir amplamente a ciência, para
todos os públicos e sobre todos os temas. Mas ela é uma grande prova de que vários assuntos
científicos são capazes de atingir grandes massas de leigos e, mais do que isso: deixá-losinformados sobre ciência, ao mesmo tempo em que se divertem.
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ANEXOS
Seguem nas próximas páginas os anexos correspondentes às matérias analisadas da revista
Superinteressante, na ordem temporal. (Nesta versão digital não foi possível colocar os
anexos, apenas na versão impressa).