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1 A NATUREZA DA IGREJA DA IGREJA DE CRISTO TEXTO: “Portanto, lembrai-vos que outrora vós, gentios na carne, chamam circuncisão, feita pela mão dos homens, estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto”(Ef 2.11-13). INTRODUÇÃO Após dois meses discorrendo sobre temas concernentes a família cristã, nos concentraremos agora em outro tema: a Igreja de Jesus. O nosso tempo sugere uma séria reflexão sobre este assunto. Presenciamos uma crescente descaracterização da identidade bíblica da igreja em nossos dias. A visão empresarial, as estratégias de crescimento a qualquer custo e os novos modelos eclesiásticos assumidos pela Igreja evangélica no Brasil desencadearam um processo de descaracterização do que, biblicamente, vem a ser Igreja de Cristo. Sendo assim, iniciaremos esta série de mensagens falando sobre a natureza da igreja. No texto de Ef 2.15-21 encontramos algumas definições do que, de fato, vem a ser a Igreja de Jesus Cristo. Vejamos. 1. A IGREJA DE CRISTO É UMA NOVA HUMANIDADE Neste texto, especificamente, Paulo discorre sobre a união de gentios e judeus por meio da cruz de Cristo. O apóstolo afirma que na cruz, Deus, “de ambos os povos, fez apenas um”, destruindo a “lei dos mandamentos e ordenanças” que impediam esta união completa. Obviamente, Paulo não se refere aqui a Lei Moral de Deus, pois esta nunca fez distinção entre judeus e gentios. Apenas, as leis cerimoniais causavam separação étnica, e por isso, podemos afirmar que é a elas que o apóstolo se refere no presente texto. Deus, na pessoa do seu Filho, derrubou o muro, étnico, religioso e cultural, que separava judeus e gentios, para que, “em si mesmo criasse um novo homem”. A expressão “novo homem”, do grego, kainos antropos, significa literalmente “nova humanidade”. Um novo homem” não diz respeito a gênero masculino, pois a palavra antropos, tem o sentido mais genérico e abrangente referindo-se a humanidade. Sendo assim, o que o apóstolo está nos dizendo é que a igreja, formada por judeus e gentios, é uma nova humanidade. Por isso, quem está em Cristo é nova criatura (2 Cor 5.17). A igreja é uma nova humanidade. Um grupo de pessoas renovadas ou recriadas: com mente, vontade e sentimentos renovados. Em outras palavras, a igreja é uma antecipação presente do que a humanidade será no futuro, na consumação completa do Reino de Deus aqui na terra.

A NATUREZA DA IGREJA DA IGREJA DE CRISTO · Segundo Hendriksen, “morada e lar” indicam permanência, beleza, comunhão íntima, proteção, amor. Essa morada é muito ampla. É

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A NATUREZA DA IGREJA DA IGREJA DE CRISTO

TEXTO: “Portanto, lembrai-vos que outrora vós, gentios na carne, chamam circuncisão, feita pela mão dos homens, estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto”(Ef 2.11-13).

INTRODUÇÃO

Após dois meses discorrendo sobre temas concernentes a família cristã, nos concentraremos agora em outro tema: a Igreja de Jesus. O nosso tempo sugere uma séria reflexão sobre este assunto. Presenciamos uma crescente descaracterização da identidade bíblica da igreja em nossos dias. A visão empresarial, as estratégias de crescimento a qualquer custo e os novos modelos eclesiásticos assumidos pela Igreja evangélica no Brasil desencadearam um processo de descaracterização do que, biblicamente, vem a ser “Igreja de Cristo”. Sendo assim, iniciaremos esta série de mensagens falando sobre a natureza da igreja. No texto de Ef 2.15-21 encontramos algumas definições do que, de fato, vem a ser a Igreja de Jesus Cristo. Vejamos.

1. A IGREJA DE CRISTO É UMA NOVA HUMANIDADE

Neste texto, especificamente, Paulo discorre sobre a união de gentios e judeus por meio da cruz de Cristo. O apóstolo afirma que na cruz, Deus, “de ambos os povos, fez apenas um”, destruindo a “lei dos mandamentos e ordenanças” que impediam esta união completa. Obviamente, Paulo não se refere aqui a Lei Moral de Deus, pois esta nunca fez distinção entre judeus e gentios. Apenas, as leis cerimoniais causavam separação étnica, e por isso, podemos afirmar que é a elas que o apóstolo se refere no presente texto. Deus, na pessoa do seu Filho, derrubou o muro, étnico, religioso e cultural, que separava judeus e gentios, para que, “em si mesmo criasse um novo homem”.

A expressão “novo homem”, do grego, kainos antropos, significa literalmente “nova humanidade”. “Um novo homem” não diz respeito a gênero masculino, pois a palavra antropos, tem o sentido mais genérico e abrangente referindo-se a “humanidade”. Sendo assim, o que o apóstolo está nos dizendo é que a igreja, formada por judeus e gentios, é uma nova humanidade. Por isso, quem está em Cristo é nova criatura (2 Cor 5.17). A igreja é uma nova humanidade. Um grupo de pessoas renovadas ou recriadas: com mente, vontade e sentimentos renovados. Em outras palavras, a igreja é uma antecipação presente do que a humanidade será no futuro, na consumação completa do Reino de Deus aqui na terra.

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2. A IGREJA DE CRISTO É UM ORGANISMO VIVO

O apóstolo continua dizendo que Deus reconciliou ambos, judeus e gentios, “em um só corpo” (v.16). A igreja, portanto, é o corpo de Cristo, (Ef 1.22). E ele, por sua vez, é o seu Cabeça – aquele que a controla e que a nutre. Sendo assim, a igreja, essencialmente, é um organismo vivo. Não é uma empresa liderada por executivos ou gerentes. Não é essencialmente uma instituição ou associação. Ela é, antes de qualquer coisa um organismo, mesmo sendo uma instituição organizada segundo a lei dos homens. A igreja é um corpo cuja cabeça é Jesus Cristo. Um organismo vivo, dinâmico que cresce e se desenvolve.

Paulo está afirmando que todos os que estão em Cristo, judeus e gentios, são membros de seu corpo, membros uns dos outros, ligados com Deus e com seus irmãos. A igreja é corpo de Jesus: seus pés para ir após; seus braços para abraçar; suas mãos para atender e seus olhos para enxergar os perdidos. O propósito do Pai em estabelecer esse vínculo entre Cristo e sua igreja, como um corpo ligado a cabeça, é o de, por meio dela, revelar-se ao mundo. O mundo enxerga Jesus Cristo através de seu corpo aqui na terra: a igreja. Do mesmo modo que a cabeça é vista através do corpo, Cristo é visto através da sua igreja. Como afirmou Foulkes: a “igreja é seu corpo, e como tal, deve expressá-lo no mundo; mais do que isso, a Igreja deve ser uma expressão plena dEle” 1.

3. A IGREJA DE CRISTO É UMA EXPRESSÃO DO REINO

Além de ser uma nova humanidade e um organismo vivo, a igreja é também uma expressão do Reino de Deus. O apóstolo afirma: “Assim, já não sois estrangeiros, nem imigrantes; pelo contrário, sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (v.19). Os gentios estavam “sem esperança e sem Deus no mundo” (v.12); separados do povo de Israel. Contudo, agora, pelo sangue da Nova Aliança, eles – e consequentemente nós –, em Jesus Cristo, fomos feitos Povo de Deus. Pedro, tendo isso em mente conclui dizendo: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa”. (1 P 2.9)

A igreja é uma expressão do reino, onde todos são sacerdotes do Altíssimo e concidadãos do “Reino do Céu”. A Igreja não é o Reino como alguns pensam, e sim a sua expressão, ou uma porta de entrada no Reino de nosso Deus. O Reino de Deus é muito mais abrangente. Existem pessoas que se encontram dentro de templos cristãos e igrejas evangélicas, mas que não estão no Reino de Deus. Isso por que, somente Deus conhece aqueles que se submetem ao seu reino e ao seu governo. A igreja não é o Reino, mas sua vanguarda; uma expressão do Reino dos céus aqui na terra; uma antecipação parcial aqui e agora do reino futuro que então se estabelecerá plenamente no retorno glorioso de Jesus Cristo.

1 Foulkes, p. 57-58.

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4. A IGREJA DE CRISTO É A FAMÍLIA DE DEUS

A igreja é formada por gentios e judeus, ou seja, por gente de todas as nacionalidades, cultura, língua e raça. Agora, judeus e gentios, em uma só igreja universal, formam a família de Deus aqui na terra. Por isso Paulo diz que “somos membros da família de Deus” (v.19). “Pois por ele, ambos temos acesso ao Pai no mesmo Espírito” (v.18). Não deve mais haver barreira social, cultural, linguística nem econômica. Somos um em Cristo. Temos o mesmo Espírito. Fomos salvos pelo mesmo sangue. Temos o mesmo Pai. Somos herdeiros da mesma herança. Moraremos juntos no mesmo lar2.

A igreja é uma família: a família de Deus. Devemos prestar atenção no que o apóstolo está nos dizendo. Esta é a nossa identidade como igreja de Jesus Cristo aqui na terra: somos uma família. O que significa que nossos vínculos devem ser afetivos e fraternos. A igreja deve ser um espaço de aceitação e carinho. Um lugar onde feridas emocionais são tratadas e curadas. Um lar, um refúgio e abrigo para os filhos de Deus. Um lugar de aceitação e tolerância para com os que erram; um lugar de transformação para os arrependidos. Que, como igreja, sejamos assim: uma família!

5. A IGREJA DE CRISTO É O TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO

Até aqui o apóstolo já utilizou a imagem de uma nova humanidade, de um corpo, de um reino e de uma família para explicar a natureza da igreja de Jesus Cristo; agora, por último, utiliza a imagem do templo: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo o próprio Cristo a pedra principal de esquina; no qual também vós, juntos, sois edificados para morada de Deus no Espírito” (v.20 e 22). Deus andou com Adão e Eva no Jardim do Éden; andou com Israel por meio do tabernáculo e posteriormente, andou entre os homens na pessoa do seu Filho e, agora, através do seu Espírito, ele habita em nós. Somos templo do Espírito Santo!

Deus não habita em templos feitos por mãos humanas afirmou Paulo aos filósofos de Atenas (At 17.24). Ele é tão grande que não cabe no universo, mas ao mesmo tempo, paradoxalmente, cabe em nossos corações. Somos sua casa; seu lar. É exatamente isso o que o apóstolo Paulo está dizendo aos efésios: “Vocês são morada de Deus, seu lar”. Segundo Hendriksen, “morada e lar” indicam permanência, beleza, comunhão íntima, proteção, amor. Essa morada é muito ampla. É um lar “onde não pode haver grego nem judeu, circuncisão ou incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre e onde a nova-humanidade vive em paz com seu Criador-Redentor”3. Glória a Deus por isso!

CONCLUSÃO

Chegamos ao fim dessa primeira reflexão que compõe nossa jornada pela igreja. Estamos apenas começando, temos muito que aprender e muito pelo que orar. Aprendemos especificamente hoje que a igreja é uma nova humanidade, um organismo vivo, uma expressão do Reino, a família de Deus e templo do Espírito Santo. Ela não é uma empresa; uma mera instituição

2 Lopes, p. 68. 3 Hendriksen, p. 174

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humana. Ela é a igreja de Cristo! Devemos orar para que sejamos uma comunidade formada por pessoas renovadas; um organismo que cresce e se desenvolve; uma expressão do Reino de Deus onde quer que estejamos; um lugar de aceitação e acolhimento como uma grande família e um grupo de pessoas pelas quais o Espírito Santo fala e age. Que sejamos assim!

REFERÊNCIAS

Foulkes, Francis. Efésios: introdução e comentário. Série cultura bíblica, Ed. Vida Nova, São Paulo, 2007.

Hendriksen, William. Comentário do Novo Testamento: exposição dos livros de Efésios e Filipenses. William Hendriksen; [tradução Valter Graciano Martins. 2.Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.

Lopes, Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo, Editora Hagnos, 2009.

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A MISSÃO DA IGREJA

TEXTO: “Quando o viram, o adoraram... E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.17-20)

INTRODUÇÃO Existe uma confusão generalizada no cenário evangélico em nossos dias. Igrejas onde seus cultos mais se parecem a casas de show; outras se parecem mais com ONG’S e ainda outras com clubes – apenas um passatempo de fim de semana. Por quê? A razão é simples: perderam o foco de sua missão. Quando isso acontece a igreja trilha caminhos perigosos. A consequência é um completo desperdício: igrejas gastando esforços, recursos, tempo e trabalho em funções que não são suas; desempenhando papeis que não são seus; em missões que não lhe cabem. Mas afinal, qual a missão da igreja de Cristo? Vejamos o que a Bíblia nos diz.

1. A MISSÃO DA IGREJA DE CRISTO É ADORAR

Infelizmente o conceito de adoração no mundo evangélico ficou reduzido a prática de cantar a Deus. No mundo gospel, expressões como “adoração extravagante” ou “adoração espontânea” tornaram-se comuns colaborando ainda mais para uma completa distorção do termo bíblico. No entanto, nas Escrituras, adoração é muito mais abrangente do que cantar para Deus. Ela é um estilo de vida: “Portanto, quer comais, quer bebais, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Cor 10.31). Adoração é o ato de glorificar a Deus de maneira integral, com tudo o que somos e fazemos. Sendo assim, uma igreja só adora a Deus quando tudo o que faz (evangelismo, louvor, ensino etc) o glorifica.

A verdadeira adoração ultrapassa as paredes da igreja e o momento do culto coletivo. Ela é diária. Por isso Jesus disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). Infelizmente, muitas igrejas ao invés de adorá-lo, desonram-no com suas ações; com seus escândalos morais; com sua ambição por dinheiro. E você? Adora a Deus com sua vida? As coisas que faz na escola, na faculdade, em casa quando está sozinho ou mesmo na igreja o glorifica? A adoração é um conceito bem abrangente: envolve nossas ações, pensamentos, motivações e é claro, o nosso culto coletivo. Pense nisso!

2. A MISSÃO DA IGREJA DE CRISTO É PROCLAMAR

Além de adorar ao Senhor, é missão da igreja de Cristo proclamá-lo. Adoração que não gera evangelização é hipocrisia. Não podemos dizer que aclamamos ou louvamos o amor e a graça de Deus se não tivermos o desejo de proclamá-los. Adoração e evangelização andam de mãos dadas. Segundo o pastor John Stott esse Deus constituiu sua igreja para ser uma comunidade de adoração e de testemunho4. Cantar para Deus sem proclamá-lo é uma grande incoerência. Jesus disse aos seus discípulos (igreja): Ide por todo o mundo, e

4 Dudley, p. 361.

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pregai o evangelho a toda criatura (Mc 16.15). Ele não nos mandou converter ninguém, apenas proclamar seu evangelho a todo o mundo.

“Ir por todo o mundo” não significa apenas viajar para países distantes ou tribos longínquas anunciando as boas novas. O “mundo” também é a sociedade secular e sem Deus que está ao nosso redor. São os lugares ou ambientes em que vivemos e que se encontram inúmeras pessoas que desconhecem o evangelho. Isso pode ser em nossa rua, em um escritório, em uma loja, em uma escola, em um hospital, em uma fábrica ou até mesmo em nossa família5. A missão da igreja é proclamar o evangelho em todos os lugares: na cidade, no estado, no país e em outras nações: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra” (At 1.8).

3. A MISSÃO DA IGREJA DE CRISTO É ENSINAR

Além de adorar e proclamar Jesus, é missão da igreja de Cristo ensinar o seu evangelho. Nas páginas do Novo Testamento encontramos a igreja primitiva desenvolvendo esta missão ativamente: “Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos” (At 2:42); e “não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo” (At 5:42). Proclamação sem ensino é o mesmo que plantar uma semente e não regá-la. Não basta levar o pecador a fé salvífica inicial, é preciso torná-lo discípulo de Jesus. Como? “Ensinando-os todas as coisas que eu lhes tenho ordenado”, disse Jesus (Mt 28.20). É desta maneira que a igreja cumpre a missão que recebeu de Jesus Cristo: “Ide, portanto e fazei discípulos” (Mt 28.19).

O ensino bíblico é o meio pelo qual homens e mulheres tornam-se discípulos de Jesus Cristo. A palavra ensinar, usada por Mateus, do grego

didasko,significa conversar com outros a fim de instruí-los ou doutriná-los. De acordo com as Escrituras, cada discípulo de Jesus tem o dever de discipular outras pessoas através do ensino do evangelho: discípulos geram discípulos. Infelizmente os crentes de hoje não entendem assim. Não se veem como discípulos de Jesus enviados ao mundo com uma missão: fazer outros discípulos. Quanto a você, ensina o evangelho de Jesus para alguém? Atualmente se encontra discipulando algum amigo, familiar ou conhecido? Pense nisso! Esta é nossa missão como igreja de Jesus Cristo aqui na terra.

CONCLUSÃO

Adoração, proclamação e ensino são elementos essenciais e indissociáveis da missão da igreja. Quando existe a supressão de qualquer um destes elementos a missão cristã fica incompleta. Nosso propósito como igreja é adorar a Jesus com sinceridade, proclamá-lo com fervor e ensiná-lo com fidelidade. Diante de tudo o que ouvimos nesta noite reflita: suas ações têm glorificado a Deus? Sua vida é uma expressão de adoração a Ele? Você tem proclamado Jesus Cristo na escola, em casa, no trabalho ou na faculdade? Já discipulou ou está discipulando alguém? Se a resposta para estas perguntas

5 Idem, p. 429.

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for não, ore a Deus nesta noite e comprometa-se com Ele a adorá-lo, proclamá-lo e ensiná-lo as pessoas.

REFERÊNCIAS

Dudley, Timothy. Cristianismo Autêntico: 968 textos selecionados das obras de John Stott. Ed. Vida, 2006.

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A UNIDADE DA IGREJA DE CRISTO

TEXTO: “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança do vosso chamado; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos e está em todos” (Ef 4.4-6).

INTRODUÇÃO

A unidade cristã experimentada na igreja é uma realidade espiritual. É uma benção de Deus para o ser humano, pois fomos criados para vivermos em comunidade. Por isso Deus concluiu dizendo: “Não é bom que o homem esteja só”. Somos seres relacionais com necessidades emocionais e afetivas que só podem ser supridas em relacionamentos saudáveis de amizade. A unidade da igreja nos proporciona isso! Por ser tão importante para uma vida cristã saudável Paulo nos exorta dizendo: “Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito” (Ef 4.3 NVI). Tendo em vista a importância bíblica deste tema, falaremos nesta noite, com base em Efésios 4.1-13, sobre três importantes aspectos da unidade da igreja. Vejamos quais são.

1. A NATUREZA DA UNIDADE DA IGREJA DE CRISTO

Qual a natureza da unidade da igreja de Cristo? O apóstolo Paulo nos responde essa pergunta dizendo-nos que a unidade da igreja de Cristo é “do Espírito” (v.3). O que nos une não são nossos gostos pessoais; não é um time em comum; uma raça; uma filosofia de vida; uma instituição religiosa; uma classe social, nem mesmo uma placa denominacional. O que nos une é o Espírito Santo. Lembre-se que a unidade descrita pelo apóstolo é “do Espírito”. Logo, a unidade da igreja não é humana; não é racial, não é institucional, filosófica, nem mesmo religiosa, mas sobre tudo espiritual.

Por este motivo, segundo Hendriksen, “esta unidade não é externa, nem mecânica, porém interna e orgânica. Ela não é imposta por força exterior, senão que, pela virtude do poder de Cristo que habita o crente” 6. Que gloriosa verdade! Somos unidos pelo Espírito Santo. Por isso Paulo disse que “se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo” (Rm 8.9). Podemos usar todas os métodos humanos para unirmos uma igreja, mas sem a atuação do Espírito Santo estaremos fadados ao fracasso. A unidade da igreja é espiritual e não humana. É produzida pelo Espírito Santo e não pelo pastor ou líder religioso!

2. OS FUNDAMENTOS DA UNIDADE DA IGREJA DE CRISTO

Outro fator importante para entendermos a unidade da igreja é conhecermos os seus fundamentos. De acordo com o apóstolo, a unidade da igreja se fundamenta em sete realidades espirituais básicas que unem todos os cristãos verdadeiros7: um só corpo espiritual (a igreja); um só Espírito; uma só esperança da nossa vocação; um só Senhor (Jesus Cristo); uma só fé; um só batismo; um só Deus e Pai (v.4-6). Em suma é isto o que nos une. A união da

6 Hendriksen, p. 215. 7 Wiersbe, p. 45.

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igreja está fundamentada nessas realidades espirituais descritas por Paulo. Pessoas podem se unir por razões diversas, mas somente quando estão unidas por estas realidades – e somente então – se tornam igreja de Jesus.

Não haverá unidade verdadeira na igreja sem estes elementos. Hoje em dia, muitas igrejas tentam unir os cristãos de forma não bíblica. Deixam as doutrinas bíblicas de lado alegando que elas causam divisões entre evangélicos. No entanto, antes da Paulo falar sobre unidade nesta carta, ele discorreu sobre inúmeras doutrinas bíblicas (do capitulo 1 ao 3) que afirmamos crer. Unidade edificada sobre outra base que não a verdade bíblica é o mesmo que edificar uma casa sobre a areia8. Nossa unidade deve estar fundamenta no que cremos de acordo com o evangelho de Cristo, afinal, “há uma só fé” (v.5).

3. AS FERRAMENTAS DA UNIDADE DA IGREJA DE CRISTO

“Façam todo o esforço para conservar a unidade do Espírito”, disse Paulo (v.3 NVI). Mas como? Bem, de acordo com o apóstolo existem algumas ferramentas espirituais doadas por Jesus que servem para este fim: os dons (v.10-12). Aprendemos que a unidade está fundamentada naquilo que temos em comum – “um só corpo, um só Espírito” etc. – mas agora Paulo nos diz que a unidade é mantida por aquilo que nos diferencia: os dons espirituais: “Ele designou uns como apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas, e ainda outros como pastores e mestres” (v.11).

Já pensou se fossemos iguais? Se possuíssemos as mesmas habilidades ou se desempenhássemos as mesmas funções? Neste sentido, a variedade de dons são ferramentas essenciais para preservar a unidade da igreja de Cristo. Cada cristão tem pelo menos um dom espiritual. Você tem o seu! Cabe a você descobri-lo! Mas lembre-se: “Os dons não são brinquedos particulares para o nosso próprio deleite, mas são ferramentas com as quais devemos trabalhar em prol dos outros”9. Não podemos usá-los no intuito de sermos elogiados ou glorificados pelos outros. Eles servem para preservar a união da igreja!

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta noite três importantes aspectos da unidade da igreja de Cristo: sua natureza, seus fundamentos e suas ferramentas. É imprescindível que apliquemos estes ensinos em nossa igreja local. “Panelinhas” e “grupinhos” excluem pessoas e impedem a união cristã. Dissensões ou divisões na igreja são realidades que precisam ser tratadas e rejeitadas, pois adoecem a comunidade. Devemos perdoar, pedir perdão, ceder, esquecer ofensas, servir e amar para preservarmos a unidade em nossas igrejas. Que Deus nos livre de sermos responsáveis por causarmos desunião em nossas comunidades! Pense nisso! Oremos em favor desta causa!

8 Lopes, p. 105. 9 Idem, p. 107.

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REFERÊNCIAS

Hendriksen, William. Comentário do Novo Testamento: exposição dos livros de Efésios e Filipenses. William Hendriksen; [tradução Valter Graciano Martins. 2.Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2005

Lopes, Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo, Editora Hagnos, 2009

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: Volume I. Santo André, SP, Geográfica editora, 2006.

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A SANTIDADE DA IGREJA DE CRISTO

TEXTO: “Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela [...] para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.25-27)

INTRODUÇÃO

Bem, até aqui já falamos sobre a natureza, a missão e a unidade da igreja de Cristo. Hoje falaremos sobre sua santidade. A igreja de Jesus Cristo é chamada para ser santa. Uma vez que Deus é santo, ele espera que sua igreja também o seja. “Como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em todo o vosso procedimento” advertiu o apóstolo Pedro (1 Pd 1.15). A santidade é uma característica importante da igreja de Jesus Cristo e deve ser melhor compreendida pelos cristãos. Para tanto, veremos, a partir de agora, três aspectos da santificação, à luz de Ef 5.25-27. Vejamos.

1. O FUNDAMENTO DA SANTIFICAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO

De acordo com o apóstolo Paulo a santificação da igreja está fundamenta em um firme e sólido tripé formado pelo amor, pelo sacrifício e pelo caráter de Cristo. Vamos tratá-las separadamente. Em primeiro lugar, a santificação está fundamentada no amor de Cristo. “Cristo amou a igreja” (v.25b). Por amá-la ele deseja purificá-la, santificá-la. Ele não suporta vê-la com suas vestes manchadas pelo pecado. Ele a ama! A lição que fica para nós é a seguinte: Deus nos ama do jeito que somos e da maneira que nos achegamos a ele, com todos os nossos pecados e falhas de caráter; mas ele nos ama de mais para permitir que continuemos assim; Ele deseja nos transformar e nos santificar. Em segundo lugar, a santificação também está fundamentada no sacrifício de Cristo. O apóstolo afirma que além de amar a igreja, Cristo “se entregou por ela” (v.25c).

Não somos capazes de nos santificar, por nós mesmos. Somente o poder do sacrifício de Jesus é capaz de nos santificar (I J 2.1-2). O seu sangue nos purifica de todo o pecado (I J 1.7). A cruz de Jesus nos capacita hoje a viver uma vida de santidade, pois seu sacrifício nos libertou do poder do pecado. Por último, a santificação está fundamentada no caráter de Cristo. Ele se entregou por ela “para santificá-la” (v.26). Por quê? A razão é uma só: porque ele é santo. Pedro relembrou os cristãos deste fato evocando as palavras do Senhor no Antigo Testamento: “Sede santos porque eu sou santo” (1 Pd 1.16). Sendo assim, a santificação da igreja está fundamentada no amor, no sacrifico e no caráter de Jesus Cristo.

2. O PROCESSO DA SANTIFICAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO

A santificação é um processo que se inicia com a conversão e que se conclui na glorificação. O apóstolo deixa isso bem claro quando expressa a santificação como uma obra concluída: “tendo-a purificado” (v.26); e ao mesmo tempo inacabada, que será completa apenas no futuro: “para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa” (v.27). A igreja já é santa, mas ainda não completamente. Por causa do pecado que ainda permanece em nosso coração, embora tendo-nos tornado cristãos, nossa santificação nunca se

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completará nesta vida10. Esta é a tensão entre o “já” e o “ainda não”. Já fomos libertos do poder do pecado sobre nós, mas ainda não de sua presença. Ainda somos pecadores. Já somos santos, mas não plenamente. O pastor John Newton, compositor do conhecido hino “Maravilhosa graça”, foi por muito tempo traficante de escravos antes de sua conversão. Ele expressa muito bem esta tensão entre o já e o ainda não; ele dizia: “Não sou o que devo ser, não sou o que quero ser, não sou o que um dia espero ser; mas graças a Deus não sou o que fui antes, e é pela graça de Deus que sou o que sou”. A santificação é processo gradual e progressivo e não estático. Isso significa dizer que não podemos usá-la como desculpa para uma vida imoral e descompromissada com o que é correto. Lembre-se: sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12. 14). Como anda sua vida? Seu namoro? Sua obediência aos mandamentos do Senhor? Seu casamento? Você tem progredido no processo de santificação? Tem se tornado mais santo? Pense nisso!

3. O PROPÓSITO DA SANTIFICAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO

O apóstolo nos apresenta no versículo 27 o propósito da santificação da igreja: “apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. O propósito da santificação é preparar a igreja para viver eternamente com Jesus Cristo. Por isso a igreja é comparada a uma noiva que se prepara para o casamento. Entretanto ela ainda não se manifestou em toda a sua beleza11. Cristo ainda não apresentou a sua noiva a si mesmo como "igreja gloriosa, sem mancha, nem ruga [...] santa e sem defeito". Pelo contrário, a vida presente e o testemunho da igreja carregam as máculas de muitos erros, pecados e discórdias12.

A igreja já esta comprometida com Cristo, mas, por vezes, ainda flerta com o mundo e o pecado. Ela é, ao mesmo tempo, comprometida com a verdade e inclinada para o erro, unida e dividida, pura mas também impura13. No entanto, o casamento já foi anunciado: ele se realizará na glorificação quando Cristo retornar para buscá-la. Enquanto isso a igreja deve preparar-se. Como? Santificando-se! Devemos nos preparar para o retorno de Jesus Cristo. “Por isso ficai também vós apercebidos; porque numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem” (Mt 24.44). Jesus disse as igrejas da Ásia: “Eis que cedo venho e está comigo a minha recompensa, para retribuir a cada um segundo a sua obra” (Ap 22.12). Que estejamos preparados!

CONCLUSÃO

Chegamos ao fim de mais uma reflexão bíblica. Aprendemos sobre o fundamento, o processo e o propósito da santificação. A Bíblia descreve Deus como um oleiro e nós como vasos em suas mãos. Do mesmo modo que um oleiro dá forma ao vaso, Deus também nos molda de acordo com sua vontade.

10 Grudem, p. 625. 11 Hendriksen, p. 299. 12 Dudley, p. 172. 13 Idem.

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A santificação é este processo onde Deus vai moldando nosso caráter, lapidando nossa moralidade, esculpindo nosso coração. Este é um processo longo, mas progressivo; prazeroso, mas também doloroso. Precisamos, no entanto, permitir que todas as áreas de nossas vidas sejam moldadas pelo Oleiro. Vamos fazer isso hoje? Oremos pela santidade da igreja!

REFERÊNCIAS

Dudley, Timothy. Cristianismo Autêntico: 968 textos selecionados das obras de John Stott. Ed. Vida, 2006.

Grudem, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo, Editora Vida Nova, 1999.

Hendriksen, William. Comentário do Novo Testamento: exposição dos livros de Efésios e Filipenses. William Hendriksen; [tradução Valter Graciano Martins. 2.Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2005

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O PODER DA IGREJA DE CRISTO

TEXTO: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18)

INTRODUÇÃO

A igreja está alicerçada na rocha que é Cristo Jesus. Mateus, inspirado pelo Espírito Santo, quando descreve as palavras de Jesus neste texto faz distinção entre Pedro e pedra. Pedro, do grego petros, significa pedra, enquanto “pedra”, do grego petra, significa “grande rocha”. Jesus estava querendo dizer: “Pedro, tu és como uma pedra, mas eu edificarei minha Igreja sobre uma grande rocha”. Obviamente esta Rocha é o próprio Cristo! A igreja não foi estabelecida por um grupo de doze homens; nem por um estado, por um imperador ou por uma nação. A igreja foi estabelecida por Cristo, por isso ela perpassou os séculos permanecendo firme até o dia de hoje. Ela é poderosa! Com base no texto que lemos falaremos sobre três aspectos desse poder. Vejamos.

1. O PODER DA IGREJA DE CRISTO É INESGOTÁVEL

O poderio humano esgota-se, no entanto, o poder da igreja é inesgotável. Por quê? Porque sua fonte é eterna e poderosamente inesgotável: Jesus Cristo, o Senhor. “Edificarei a minha igreja”, disse Ele, “e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (v.18). Em primeiro lugar, Jesus é o dono da igreja e, em segundo, ele é a base sobre a qual ela está alicerçada. Isso significa dizer que a igreja está estritamente ligada a Jesus Cristo. Portanto, seu poder vem dele! Não vem do Estado; da Constituição; da política; da ONU ou de um movimento religioso. Seu poder vem do Senhor Jesus. Por isso o apóstolo Paulo exortou os cristãos dizendo: “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6.10). Muitos cristãos em nossos dias vivem atemorizados com medo de forças espirituais malignas; esqueceram-se do poder dAquele a quem servem! Separados de Cristo, os cristãos nada podem fazer (Jo 15.1-5). São como os galhos cortados da videira. Por outro lado, em íntima comunhão com seu Senhor eles podem fazer tudo quanto lhes é necessário fazer: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fl 4.13) 14. O poder da igreja é inesgotável, pois provem de Jesus: eterno, imutável e poderoso. A igreja possui um poder inesgotável, a saber, o poder do próprio Cristo. Seu amor por ela é tão imenso que ele faz uso do seu poder infinito para que o universo inteiro, com tudo o que nele existe, coopere em benefício dela15.

2. O PODER DA IGREJA DE CRISTO É ESPIRITUAL

Como já afirmamos, de acordo com a Bíblia, a igreja de Jesus é poderosa. No entanto, precisamos saber ,de que tipo de poder estamos falando. Qual a sua natureza? Em que dimensão ele atua? Jesus nos responde

14 Hendriksen, p. 321. 15 Idem, p. 123.

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essas perguntas quando nos diz que, “as portas do inferno não prevaleceriam contra” a sua igreja (v.18c). A expressão “portas do inferno”, neste texto, simbolizam o poder organizado da morte e de Satanás16. Este poder é espiritual. Logo, fica evidente que o poder conferido por Cristo a sua igreja e a dimensão em que ele atua também é espiritual. Este poder não é humano; religioso; bélico; político ou social. Segundo Paulo, “as armas de nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas” (2 Cor 10.3-4).

O poder é espiritual, pois a luta é espiritual. Nossa luta não é contra pessoas, instituições ou grupos religiosos, mas contra os principados e potestades. Não é travada em lugares ou espaços físicos, mas nas regiões celestes. Nossas armas são espirituais! Entre essas armas usadas contra forças demoníacas que impedem a propagação do evangelho e o avanço da igreja encontram-se a oração, adoração, autoridade para repreender forças demoníacas, as palavras das Escrituras, fé e retidão por parte dos membros da igreja17. Este é o poder da igreja de Cristo. Um poder espiritual, com armas espirituais, para vencer uma batalha espiritual.

3. O PODER DA IGREJA DE CRISTO É IMBATÍVEL

Reinos grandiosos caíram; impérios imensos desapareceram da história; homens poderosos vieram ao chão; potências nacionais sucumbiram, mas a igreja, ainda que ferida inúmeras vezes, permaneceu em pé durante todos estes séculos. Por quê? A razão é simples: ela é imbatível! Isso porque o próprio Jesus assegurou dizendo que, “as portas do inferno não prevaleceriam sobre ela” (v.18c). A igreja tem autoridade e poder para superar toda oposição porque seu Líder e Cabeça é Senhor de tudo (Ef 1.21-23). Esta autoridade, Ele [Jesus] a transmite aos seus discípulos à medida que eles saem a campo em seu nome, em obediência a Ele, para fazerem Sua obra (Mt 28-18-20)18.

Nada pode destruí-la, pois ela se acha investida pelo poder de seu soberano, Jesus Cristo. Nenhuma autoridade ou potestade – seja humana ou espiritual – é maior do que Jesus Cristo o filho exaltado de Deus. Ele está “acima de tudo” e nenhum inimigo futuro poderá vencê-lo, pois ele já foi exaltado muito acima de todas as potências19. Por este motivo, não existem demônios, seres celestiais ou humanos, capazes de impedir o avanço triunfante da igreja, pois ela está inexprimivelmente unida a Jesus Cristo, Aquele que tem todo o poder no céu e na terra. A igreja está solidificada sob o poder e a autoridade de Jesus Cristo, por isso seu poder é imbatível! Em Cristo, nada pode detê-la!

CONCLUSÃO

Diante dos poderes políticos, comerciais e bélicos de grandes potências internacionais a igreja parece fraca e abatida. No entanto, a Igreja de Cristo, conquanto não pareça, é poderosa! Ela já foi perseguida, presa, exilada, e

16 Wiersbe, p. 75. 17 Grudem, p. 745. 18 Foulkes, p. 56. 19 Wiersbe, p. 20

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maltratada, mas todos os seus grandes inimigos foram varridos da história – e os que ainda existem estão com os dias contados! Porém, Satanás ainda está à solta, furioso como um leão procurando a quem tragar (1 Pd 5.8). A igreja tem o poder de Cristo para vencê-lo! Não precisamos temer as forças malignas, pois eles já foram vencidos por Cristo na cruz (Cl 2.15). Creia: “E o Deus de paz em breve esmagará a Satanás debaixo dos vossos pés” (Rm 16.20).

REFERÊNCIAS

Foulkes, Francis. Efésios: introdução e comentário. Série cultura bíblica, Ed.

Vida Nova, São Paulo, 2007.

Grudem, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo, Editora Vida Nova, 1999.

Hendriksen, William. Comentário do Novo Testamento: exposição dos livros de Efésios e Filipenses. William Hendriksen; [tradução Valter Graciano Martins. 2.Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2005

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: Volume I. Santo André, SP, Geográfica editora, 2006.

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A ADORAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO

TEXTO: “Habite ricamente em vós a palavra de Cristo, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações” (CL 3.16).

INTRODUÇÃO

A adoração é um conceito bem mais abrangente do que se pensa nas igrejas. Ela ultrapassa as paredes do templo e o momento do louvor na igreja. Tudo em nossa vida deve ser um ato de adoração, pois tudo o que fazemos deve glorificar a Deus20. Sendo assim, a adoração é uma vida que glorifica a Deus! No entanto, não falaremos hoje sobre este conceito mais abrangente – até porque já o tratamos quando falamos sobre a missão da igreja. Falaremos, com base no texto que lemos, sobre a adoração dirigida a Deus quando os cristãos se reúnem no culto coletivo. Vejamos três aspectos bíblicos da adoração da igreja.

1. A ADORAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO DEVE SER BÍBLICA

Paulo aconselhou aos cristãos que viviam em Colossos: “Habite ricamente em vós a palavra de Cristo” (v.16a). Neste texto, Paulo descreve um culto coletivo e cita um elemento indispensável: a palavra de Cristo. Quando nos reunimos como igreja no templo a Palavra de Cristo não pode deixar de ser pregada. Há uma desvalorização da pregação do evangelho nas igrejas em nossos dias; um desprezo para com a escola bíblica. No entanto, não existe adoração a Deus sem a Palavra de Cristo!

Esta Palavra, além de ser pregada e ensinada deve ser também cantada “com salmos”. De acordo com Paulo, existe uma relação clara entre conhecimento da Bíblia e a expressão de adoração em cânticos21. Que ensino atual! Em tempos passados, os compositores de hinos cristãos eram exímios conhecedores das doutrinas bíblicas, hoje, infelizmente muitos músicos pouco entendem da Bíblia. Por isso ora ou outra vemos canções não bíblicas sendo entoadas por grupos de louvor na igreja Adventista da Promessa, infelizmente. Isso é lamentável! Pense nisso irmãos: a adoração deve ser, em primeiro lugar bíblica!

2. A ADORAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO DEVE SER MUSICAL

Além de bíblica a adoração deve ser musical: “com salmos, hinos e cânticos espirituais” (v.16c). Podemos ver neste texto um pouco do repertório musical da igreja do primeiro século. O apóstolo nos fala sobre tipos de músicas. Os salmos eram, evidentemente, cânticos do Antigo Testamento. Já os hinos são cânticos de louvor a Deus escritos por cristãos, mas não originários dos Salmos. Os cânticos espirituais são expressões de verdades

20 Grudem, p. 847. 21 Wiersbe, p. 183.

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bíblicas distintas dos salmos e dos hinos. Ao cantar um hino, nos dirigimos ao Senhor, e ao cantar um cântico espiritual, nos dirigimos uns aos outros22.

Percebemos então que a adoração musical é uma prática muito antiga da igreja de Cristo. Aliás, a adoração do povo de Israel sempre foi regada de muita musicalidade. Assim, em adoração a Deus, devemos cantar hinos de exaltação ao seu nome, de gratidão, de súplica, de lamentação. A beleza dessa mensagem é que Deus ama nossa expressão musical de adoração23. É bom enfatizarmos, no entanto, que os cânticos não devem ser uma demonstração de talento carnal24. Muitos grupos de louvor oferecem a Deus performance e show ao invés de adoração! O objetivo da música no culto é um só: adorar a Deus. Alguém disse que, a fim de ter uma vida cristã bem sucedida, devemos atentar para três tipos de impressos: a Bíblia, o talão de cheques e o hinário25.

3. A ADORAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO DEVE SER GRATA

A motivação de um genuíno adorador deve ser a gratidão a Deus. O apóstolo diz: “louvando a Deus com gratidão em vossos corações” (v.16d). Além do conteúdo e da melodia que envolve nossa adoração, Deus espera encontrar gratidão em nosso coração. Devemos cantar com gratidão, pois temos a graça de Deus no coração. Somente pela graça podemos cantar quando sofremos ou quando as circunstancias parecem desfavoráveis26. Como Paulo e Silas, que depois de terem sido açoitados, lançados num calabouço e presos pelos pés num tronco, “pela meia-noite oravam e cantavam hinos a Deus, enquanto os presos os escutavam” (At 16.25). Glória a Deus. Que exemplo!

No momento em que a igreja se reúne para adorar Deus está mais preocupado em encontrar gratidão em nossos corações, do que demonstrações de técnica vocal ou belíssimos arranjos musicais. O tema mais comum da adoração cristã do primeiro século era a gratidão a Deus, pelo seu amor e sua obra redentora da cruz, na pessoa do seu amado Filho Jesus, nosso Senhor (Rm 8.32-39; Ef 1.3-14; Fp 2.5-11). Hoje muitos cânticos são de autoajuda, triunfalistas, positivistas e centrados no homem. No entanto, somos chamados a adorar a Deus com gratidão por tudo o que o nosso Senhor Jesus fez por nós no Calvário, naquele dia em que seu sangue manchou o madeiro. Nossas músicas precisam falar mais sobre salvação e nossos púlpitos também! É isso que Deus deseja encontrar em nossa adoração.

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta noite que adoração a Deus deve ser bíblica, musical e grata. Cabe, a cada um de nós, uma séria reflexão sobre nossa adoração. Por vezes, vamos à igreja, culto após culto, oferecer a Deus cânticos que pouco o exaltam e corações desprovidos de gratidão. Esquecemos de que

22 Idem. 23 A doutrina da igreja e dos anjos. FATAP, Unidade Central, São Paulo, 2011, p. 21. 24 Wiersbe, p. 183. 25 Idem. 26 Idem.

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adoramos a Deus através de sua Palavra quando nós nos reunimos para cantá-la; pregá-la e ouvi-la. Com o tempo somos tentados a cair num mero formalismo, indo a igreja apenas para cumprir um papel religioso, mas com o coração vazio de gratidão e amor por Jesus, pela grande salvação com que fomos agraciados. Pense nisso hoje! Adore a Deus de maneira bíblica, musical e grata!

REFERÊNCIAS

A doutrina da igreja e dos anjos. FATAP, Unidade Central, São Paulo, 2011.

Grudem, Wayne A. Teologia Sistemática. São Paulo, Editora Vida Nova, 1999.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: Volume I. Santo André, SP, Geográfica editora, 2006.

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A CAPACITAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO

TEXTO: “Mas recebereis o poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”. (At 1.8)

INTRODUÇÃO

Em nossos dias, capacitação é palavra-chave no mundo corporativo. As empresas buscam desesperadamente gente qualificada, capacitada. As igrejas parecem correr no mesmo ritmo. Novos centros de treinamento e capacitação cristã são abertos todos os dias; simpósios, palestras e fóruns são feitos visando capacitar a igreja para os desafios do mundo contemporâneo. E a Bíblia, o que tem a nos dizer sobre isso? De onde, de fato, deve vir a capacitação da igreja? Qual a sua natureza e sua finalidade? Para respondermos estas questões analisaremos, com base no texto que lemos, três aspectos da capacitação da qual a igreja de Cristo carece em nossos dias. Vejamos a primeira.

1. O AGENTE DA CAPACITAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO

Quem capacita a igreja é o Espírito Santo! Ele é o agente dessa poderosa capacitação. Não são seminários – ainda que sejam imprescindíveis; não são palestras, treinamentos ou faculdades teológicas. A capacitação da igreja vem do Espírito Santo, e dele somente. Lucas, o escritor do livro de Atos, narra as palavras de Jesus à sua jovem igreja: “Mas recebereis o poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas...” (At 1.8). O poder é concedido a igreja somente por meio do Espírito Santo. Capacitação teológica, metodológica e estratégica é importante, mas ineficaz, sem a poderosa atuação capacitadora do Espírito Santo. No livro de Atos a igreja não faz nada por si mesma; ela não é autossuficiente.

O Espírito Santo foi enviado para estar com a igreja, para capacitá-la e é exatamente isso o que vemos em todo o livro de Atos dos Apóstolos. Foi o Espírito quem desceu no dia de Pentecostes para revesti-la de poder (At 2.1-13), quem levou Pedro até Cornélio (At 10.1-48), quem levou Filipe à estrada ao encontro de um etíope eunuco (At 8.26-40), quem separou Paulo e Barnabé para a sua primeira viagem missionária (At 13.1-4), que conduziu Paulo e Silas a Macedônia (At 16.9-11) e que por fim, guiou até Roma, a capital do mundo antigo, o apóstolo dos gentios, Paulo (At 20.22, 21.11). O Espírito Santo, ainda hoje, é quem impulsiona a igreja à missão; quem a reveste de poder para efetuar sinais e maravilhas; quem a faz vitoriosa sobre demônios e poderes das trevas e introjeta em seu ser poder espiritual!

2. A NATUREZA DA CAPACITAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO

A natureza dessa capacitação é, sobretudo, espiritual. Jesus disse aos seus discípulos que, ao descer sobre a igreja o Espírito Santo, eles seriam revestidos de “poder” (At 1.8a). Qual a natureza deste poder? Obviamente espiritual. A palavra grega dunamis, “poder”, é de onde vem a palavra dinamite. De fato, isto expressa a força do poder espiritual que o Espírito Santo infunde em sua igreja! Paulo confirma isso, ao dizer a igreja de Roma que pregou o

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evangelho de Cristo “pelo poder de sinais e prodígios, no poder do Espírito Santo” (Rm 15.19). O Espírito Santo não unge métodos, ele unge homens. Seu poder é espiritual. Ainda que a igreja não tenha recursos financeiros, políticos ou humanos ela sempre poderá contar com a o poder espiritual de Cristo, derramado por meio do seu Espírito.

Este poder espiritual se expressa na autoridade que Cristo conferiu a sua igreja de expulsar espíritos malignos, efetuar sinais e maravilhas e levar pecadores ao arrependimento – pois somente o Espírito Santo convence o homem do pecado (Mc 16.17-18, Jo 16.8, Rm 15.19). É preciso ficar claro para a igreja cristã de nossos dias que a natureza da capacitação e do poder conferido por Cristo através do seu Espírito Santo a nós é espiritual. Muitas igrejas buscam apenas capacitação humana, teológica, educacional, metodológica, institucional e organizacional e esquecem-se de buscar capacitação espiritual! Que busquemos poder do alto e não apenas habilidades humanas. Vamos orar para que sejamos, como igreja, capacitados pelo Espírito Santo!

3. O PROPÓSITO DA CAPACITAÇÃO DA IGREJA DE CRISTO

Até aqui falamos sobre o agente e a natureza da capacitação do Espírito Santo à igreja; falaremos agora sobre o propósito dessa capacitação. Por que precisamos ser capacitados pelo Espírito de Cristo? Qual o propósito dessa capacitação? Isso é extremamente importante, ainda mais em nossos dias. Presenciamos igrejas sedentas por poder humano. Buscando poder com motivações erradas. Querem poder para se autopromoverem; para serem elogiadas; para ficarem famosas; para serem ricas e poderosas. No entanto, Jesus Cristo nos mostra o propósito dessa capacitação espiritual: “Mas recebereis o poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra”. A razão da capacitação é o testemunho!

Quando Jesus envia seu Espírito ele tem um firme propósito: capacitar sua igreja à missão; investi-la de poder para testemunhar do evangelho da graça. Afinal de contas, sem o testemunho eficaz do Espírito santo o testemunho da igreja é inútil. O pastor John Stott, disse que "antes de mandar a igreja para o mundo, Cristo mandou o Espírito para a igreja”. Para que? Para capacitá-la! Como disse Wiersbe, “testemunhar não é algo que fazemos para o Senhor; antes, é algo que ele faz por meio de nós, se estivermos cheios do Espírito Santo27. A Igreja primitiva “compreendia que sua tarefa era a proclamação diligente e sistemática de uma mensagem. Se a parte de Deus dizia respeito a conceder o poder, a parte dela era dar a palavra” 28. A capacitação do Espírito à igreja visa capacitá-la para um testemunho vibrante e poderoso do evangelho de Cristo.

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta noite que o Espírito Santo é o agente da capacitação da igreja e que a natureza dessa capacitação é, sobretudo, espiritual, visando 27 Wiersbe, p. 363. 28Dudley, p. 443.

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primordialmente um testemunho vibrante, poderoso e eficaz do povo de Deus. Ronaldo Lidório citando Vicedon diz que, uma igreja cheia do Espírito Santo é uma igreja missionária, proclamadora do evangelho, conduzida para a ruas29. De fato o Espírito Santo capacita a igreja de Cristo, com poder espiritual para vencer os poderes malignos e operar sinais e maravilhas, com o propósito de alcançar os perdidos. Que busquemos esta capacitação! Que sejamos cheios do Espírito Santo! Amém!

REFERÊNCIAS

Dudley, Timothy. Cristianismo Autêntico: 968 textos selecionados das obras de

John Stott. Ed. Vida, 2006.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: Volume I. Santo André, SP, Geográfica editora, 2006.

29 Lidório, p. 104.

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A MISERICÓRDIA DA IGREJA DE CRISTO

TEXTO: “Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10).

INTRODUÇÃO

No monte Sinai Moisés ouviu as seguintes palavras: "Eu sou o Senhor, o Deus misericordioso e cheio de graça" (Ex 34.6 BV). Muitos anos depois, este mesmo Deus, misericordioso e cheio de graça, desceria dos céus e viria a terra na pessoa do seu Filho amado: Jesus Cristo: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1.14). Ele andou entre os homens fazendo o bem a todos (At 10.38) movido sempre por uma constante e íntima compaixão pelos necessitados e aflitos. Já no fim de seu ministério terreno ele disse aos seus discípulos: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 21.20). A igreja, portanto, é chamada para ser misericordiosa como seu Mestre foi. Sendo assim, veremos, a partir de agora, o que a Bíblia nos ensina sobre misericórdia e como estes ensinos se aplicam a igreja. Vejamos o primeiro ensino.

1. A IGREJA DE CRISTO DEVE SER MISERICORDIOSA NA PRATICA E NÃO APENAS NO DISCURSO

Escrevendo às igrejas as quais estava responsável, João, o discípulo amado disse: “Filhinhos, deixemos de dizer apenas que amamos as pessoas; vamos ama-las realmente e mostrar isto pelas nossas ações” (1 Jo 3. BV). O que o apóstolo estava querendo dizer, em outras palavras é: “chega de discurso, mostre na prática sua misericórdia”. É fácil falarmos em amarmos os irmãos e deixarmos de ajudarmos um único irmão em Cristo30. Parece que o apóstolo Tiago tinha isso em mente quando escreveu: “Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e

qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem,

contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?” (Tg 2.12). Do que adianta um discurso piedoso? Para que serve os sermões pregados, culto após culto, em nossos púlpitos sobre amor cristão se não somos capazes de exercemos misericórdia na prática? Se não auxiliamos alguém necessitado? Se não provemos o necessário para o desprovido? É possível pensar que, por conversarmos sobre uma necessidade ou mesmo orar sobre ela, nossa parte já foi feita, mas o amor envolve mais do que palavras e pede atos31 concretos de ajuda e auxílio ao necessitado. As palavras não tem o mesmo valor que as obras; não basta falar, é preciso fazer! Um dos motivos pelos quais os cristãos devem trabalhar é “para que tenha com que acudir o necessitado” (Ef 4.28)32. Sendo assim, sejamos misericordiosos na prática e não apenas no discurso!

2. A IGREJA DE CRISTO DEVE SER MISERICORDIOSA

30 Wiersbe, p. 657. 31 Idem, p. 658. 32 Idem, p. 657.

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ESPECIALMENTE COM OS CRISTÃOS

Paulo disse aos gálatas: “Então, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10). Com conquanto devemos ajudar as pessoas de maneira indiscriminada, é preciso atentarmos para o ensino claro das Escrituras de que devemos exercer misericórdia principalmente aqueles que já são cristãos. Segundo o apóstolo devemos dar prioridade aos da “família da fé”. Afinal de contas, como disse Wiersbe, o homem sempre cuida da própria família antes de se preocupar com a vizinhança33. Não podemos querer ajudar os “não cristãos”, se não ajudamos nem se quer o irmão que se senta ao nosso lado todo o fim de semana na igreja! A igreja descrita em Atos é um belo exemplo de como os cristãos devem exercer misericórdia. É nos dito que, “todos os crentes se reuniam constantemente e repartiam tudo uns com os outros, vendendo suas propriedades e dividindo com os que tinham necessidade” (At 2.44-45 BV). Qual foi o resultado disso? Lucas descreve: “Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos, que o distribuíam segundo a necessidade de cada um” (At 4.34-35 NVI). Que exemplo formidável! Segundo, Wiersbe, a fim de ajudar os irmãos, é preciso cumprir três requisitos. Em primeiro lugar, ter os meios necessários para suprir o que lhe falta. Em segundo lugar, estar ciente de suas necessidades. E em terceiro lugar, ser amoroso o suficiente para ter o desejo de compartilhar 34. Que tenhamos estes requisitos!

3. A IGREJA DE CRISTO DEVE SER MISERICORDIOSA PARA

COM TODOS E NÃO APENAS COM OS CRISTÃOS

Por favor, observe a segunda parte do versículo 10 de Gálatas 6. É nos dito: “Então, enquanto temos oportunidade, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (grifo nosso). O apóstolo é claro ao dizer que devemos fazer o bem aos cristãos de maneira prioritária, mas também nos diz enfaticamente que devemos fazer o mesmo a todos. Ele não nos manda fazer o bem a uma classe específica de pessoas, mas a todas. Não somos chamados para escolhermos a quem ajudar. Não importa quem seja o faminto – crente ou não – é nosso dever fartar a sua fome; não importa quem seja o sedento, nosso papel é saciá-lo.

O ensino Bíblico é o de que devemos ajudar a todos! Fazer o bem indiscriminadamente, sem perguntar nem escolher. Este parece um ensino pouco enfatizado pelos cristãos de hoje. No entanto, cabe a nós resgatarmos esse ensino e prática cristã tão enfatizada pelas Escrituras. Como cristãos, temos a obrigação de ajudar a suprir as necessidades dos outros sem fazer acepção de pessoas35. A semelhança de nosso Mestre, “o qual andou por toda parte, fazendo o bem” (At 10.38). Nosso dever é simplesmente trilhar o caminho ensinado e vivido por ele; devemos tão somente imitá-lo. A igreja “não

33 Idem, p. 947. 34 Idem. 35 Idem, p. 457.

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pode se tornar uma panelinha exclusiva, com membros isolados do mundo ao redor, sem fazer coisa alguma para ajudar os perdidos” 36.

CONCLUSÃO

É praticamente um milagre encontrarmos misericórdia em um mundo tão violento, cruel e indiferente como o nosso. No entanto, a igreja de Cristo é chamada, pelo próprio Cristo, a exercer misericórdia neste mundo tal como ele é. Se assim fizermos ouviremos naquele grande e glorioso dia a voz de Jesus a nos dizer: “Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo, porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolheste; estava nu, e me vestiste; adoeci, e me visitaste; estava na prisão e fostes ver-me”. Então, diremos estarrecidos: Quando fizemos isto? “E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25.34-36, 40). Que assim seja!

REFERÊNCIAS

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: Volume I. Santo André, SP, Geográfica editora, 2006.

36 Idem, p. 947.

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A ESPERANÇA DA IGREJA DE CRISTO

TEXTO: “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os outros que não têm esperança” (1 Ts 4.13).

INTRODUÇÃO

Vivemos em um mundo desesperançado não muito diferente do mundo em que viveu o apóstolo Paulo. O seu mundo naqueles dias também era desesperançado. Dizia uma expressão popular: “Nunca ter nascido é a maior felicidade; a segunda, é morrer ao nascer”37. No entanto, uma luz de esperança raiou no fim do horizonte sombrio da história humana. Jesus Cristo veio ao mundo e trouxe consigo uma gloriosa esperança. Ele prometeu dizendo: E, depois que eu for e preparar um lugar para vocês, voltarei e os levarei comigo para que onde eu estiver vocês estejam também (Jo 14.3 NTLH). Esta é a esperança da igreja: o retorno glorioso do seu Senhor! Vejamos, com base em 1 Ts 4.13-14, três aspectos bíblicos desta esperança.

1. A ESPERANÇA DA IGREJA DE CRISTO É ÚNICA

O apóstolo inicia dizendo: “Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais como os outros que não têm esperança” (v.13). Paulo deixa-nos bem certos do caráter único da esperança que temos – “os demais” não a têm. O mundo não tem essa esperança; nem os ateus; nem os céticos e os incrédulos. Nenhuma outra religião, oriental ou ocidental, possui a gloriosa esperança que a igreja possui. Buda, Maomé, Confúcio e outros jamais poderiam oferecê-la a alguém. Esta esperança é única; é singular; é exclusivamente cristã!

Em Ef 2.12 o apóstolo Paulo nos diz que aqueles que estão “sem Deus no mundo”, estão “também sem esperança”. É uma consequência natural, uma vez que a verdadeira esperança está fundamentada em Deus, e somente nele. Qualquer esperança fundamentada no avanço da humanidade, da sociedade, do mundo, da política ou da natureza está fadada ao mais completo e desesperador fracasso. O mundo se encontra em um caos ambiental, econômico, político e social. Não há esperança alguma fora de Deus! A igreja, portanto, é um reduto de esperança para o mundo completamente desesperançado!

2. A ESPERANÇA DA IGREJA DE CRISTO É CONSOLADORA

Na Bíblia Viva o v.13 está assim: “E agora, queridos irmãos, quero que vocês saibam o que sucede a um cristão quando ele morre, para que não fiquem cheios de tristeza como aqueles que não têm esperança, quando isso acontece”. Que esperança consoladora! A doutrina do retorno glorioso de Cristo para buscar sua amada igreja é um poderoso consolo para os aflitos e tristes. Essa esperança nos dá forças para encarar os dilemas da vida; para suportar as dores emocionais; para enfrentar a doença atroz; para resistir ao

37 Lopes, p.40

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desânimo; para suportar a morte de alguém que muito amamos; para superar o trauma provocado por um acidente.

Esta é uma esperança consoladora! Certa feita, cristãos que estavam sendo perseguidos e torturados por amor ao evangelho receberam uma carta endereçada de uma ilha chamada Patmos escrita pelo próprio Cristo, o Senhor da Igreja. Que surpresa foi para aqueles cristãos! Na carta havia uma bela promessa. A de que, no retorno glorioso de Jesus Cristo, “Ele lhes enxugará dos olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem lamento, nem dor, porque as primeiras coisas já passaram” (Ap 21.4). A esperança do céu é fonte de ânimo para os cristãos aflitos de todas as épocas38. A esperança cristã é um manancial inesgotável de consolo para os que confiam em Cristo!

3. A ESPERANÇA DA IGREJA DE CRISTO É CERTA

Os cristãos em Tessalônica estavam preocupados e tristes com relação aos seus entes queridos que haviam falecido. Eles não sabiam ao certo qual seria o seu destino. O apóstolo, então, escreve esta carta para assegurá-los de que na segunda vinda de Jesus todos os que morreram na fé seriam ressuscitados. Paulo argumenta: “Porque, se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, assim também aos que dormem, Deus, mediante Jesus, os tornará a trazer juntamente com ele” (v.14). Paulo tinha tanta certeza na morte e ressurreição de Jesus, que lhe parecia obvio crer que o mesmo aconteceria com os crentes. Isto porque, esta é uma esperança certa, segura e confiável!

Segundo Hendriksen, esta esperança está solidamente fundada nas promessas infalíveis de Deus. É a âncora da alma, arraigada no próprio trono de Deus; portanto, no próprio coração de Cristo. Consiste, pois, de uma entrega fervorosa, de uma expectativa confiante, e de uma confiança absoluta centrada em Cristo, de que tais promessas serão, com certeza, cumpridas39. Muitos cristãos dizem possuir esta esperança, mas vivem como se não a tivessem. Não disponibilizam tempo para Deus; seu foco está apenas nas coisas efêmeras deste mundo. Conta-se que, certa feita, uma menina disse a sua mãe: “Mãe, meu professor da classe bíblica me disse que este mundo é apenas um lugar em que Deus nos deixa viver por algum tempo, para que nos preparemos para um mundo melhor. Mas não vejo ninguém aprontar-se para ir para lá. Por que não tratam de se aprontar?” Pense nisso: vivemos aqui e agora como se, de fato, fossemos viver eternamente com Jesus?

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta noite que a esperança gloriosa da igreja é única, consoladora e certa. Cristãos de todas as épocas e lugares foram consolados por esta bendita esperança. Alguns foram torturados, outros presos e mortos. Alguns viveram uma vida de extrema pobreza e sofrimento doando suas vidas a causa do Reino para que pessoas fossem salvas por Cristo Jesus. Por quê? Porque acreditavam piamente que, para os que têm fé em Jesus a morte não é um ponto final; porque acreditavam que seus corpos agora maltratados e

38 Wiersbe, p. 792. 39 Hendriksen, p. 119.

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feridos seriam um dia ressuscitados e glorificados por Cristo! Não é à toa que somos chamados de Adventistas. Temos essa mesma esperança gloriosa! Que nessa noite você seja consolado e fortalecido por ela. Amém!

REFERÊNCIAS

Hendriksen, William. Comentário do Novo Testamento: exposição dos livros de Efésios e Filipenses. William Hendriksen; [tradução Valter Graciano Martins. 2.Edição. São Paulo: Cultura Cristã, 2005

Lopes, Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo, Editora Hagnos, 2009.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento: Volume I. Santo André, SP, Geográfica editora, 2006.

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