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un ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HISTORIADORES DA ARTE ALMEDINA II CONGRESSO INTERNACIONAL DE 2001 PORTUGAL. ENCRUZILHADA DE CULTURAS, DAS ARTES E DAS SENSIBILIDADES - ACTAS

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A SSO C IA Ç Ã O PO R T U G U E SA DE H IS T O R IA D O R E S DA A R T E ALMEDINA

II CONGRESSO INTERNACIONAL DE2001

PORTUGAL. ENCRUZILHADA DE CULTURAS, DAS ARTES E DAS SENSIBILIDADES - ACTAS

A necrópole romântica de Leiria

Francisco Queiroz1

í. Introdução

À medida que foi ganhando aceitação, o cemitério moderno oitocentista foi entendido como cidade dos mortos: espaço ar­ruado e ajardinado, com belos monumentos, local privilegiado de passeio e meditação. Dentro do espírito do Romantismo, cada monumento erigido espelhou mentalidades, vaidades, símbolos e - sobretudo - um desejo de perpetuar a memória individual ou familiar.

Os mais importantes cemitérios românticos portugueses ser­viram também para experimentação de estéticas arquitectónicas. Mas, para além da arquitectura, os cemitérios românticos são hoje igualmente locais incontornáveis para o estudo da escultura e das artes aplicadas no século xix (cantaria, ferro e cerâmica).

Em 1995, na primeira visita que efectuámos à necrópole romântica de Leiria - 0 Cemitério de Santo António do Carrascal - ficou imediatamente a vontade de 0 estudar, estudo esse que foi empreendido juntamente com Ana Margarida Portela ao longo de dois anos e meio, com 0 apoio da Câmara Municipal de Leiria.

As inúmeras conclusões da investigação, muitas das quais desconcertantes e divergentes de várias ideias feitas sobre a His­tória da Arte do século xix, serão publicadas em livro no ano de 2003: PORTELA, Ana Margarida/QUEIROZ, Francisco - O Cerni­rão de Santo António do Carrascal. Arte, História e Sociedade de Leiria no século xix. De qualquer modo, sem pretendermos repe- tlr 0 que nessa obra foi já abordado, apenas resumiremos aqui alguns aspectos exemplificativos das questões que 0 estudo le- ant°u em termos de História da Arte, nomeadamente ao nível a arquitectura e das artes industriais.

1 À data da apresentação desta comunicação, Francisco Queiroz concluía a sua dissertação de Doutoramento em História da Arte na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, precisamente na área da arquitectura funerária oitocentista.

520 Portugal e o Mundo: Encontro com a Arte

2. A especificidade de Santo Antonio do Carrascal

Apesar de situar-se na órbita artística dos cemitérios de Lis­boa, o Cemitério de Santo Antonio do Carrascal desenvolveu es­téticas próprias de tal form a afastadas dos cânones construtivos de filiação internacional que se tornou num dos mais interes­santes e originais sítios da arquitectura romântica em Portugal

Esta especificidade local assentou em três pilares funda­mentais:

í. as características da sociedade de Leiria;2. os materiais disponíveis para construção;3. os artistas que desenharam e trabalharam esses ma­

teriais de form a própria.

Em relação à sociedade leiriense do século xix, bem retratada no romance queirosiano « 0 crime do padre Amaro», foi evidente em Santo António do Carrascal um a demonstração muito pró­pria de vivência da morte na época romântica. Eram estreitas as relações fam iliares entre os titulares dos principais jazigos deste cemitério anteriores a 19 10 . Havia mesmo uma espécie de nú­cleo duro desta elite social, cuja liderança residia no Largo do Terreiro (ou em casas apalaçadas situadas em outras zonas estra­tégicas da cidade) e cuja hierarquia se projectou espacialmente em Santo António do Carrascal. Referimo-nos, por exemplo, aos Charters d'Azevedo, Ataíde, Barões do Salgueiro, aos Costa Guerra (Viscondes da Barreira), à fam ília do Dr. Pereira da Costa (com casa junto à entrada para 0 castelo) ou a José da Silva San­tos (com palacete no Rossio). Também estão largamente re­presentados nos principais monumentos sepulcrais de Santo António do Carrascal os militares de alta patente, os grandes proprietários, os professores e os grandes negociantes da cidade.

Em relação aos materiais, foi comum 0 recurso à alvenaria

e aos materiais pétreos locais: calcário e algum lioz da região.

Visualmente, o Cemitério de Santo António do Carrascal teria e se distinguir dos principais cemitérios de Lisboa e Porto.

Em relação aos artistas, teremos de os dividir entre d e s e n h a

dores e executantes. Quanto aos primeiros, foi possível descor

tinar influências oriundas de espaços culturais bem longínqu0S Destacou-se claramente um nome, que julgamos não podera se

Francisco Queiroz: A necrópole romântica de Leiria

m ais completamente ignorado na História da Arte Portuguesa: F r a n c is c o Maria Teixeira.

Francisco Maria Teixeira nasceu em Goa em 1842. Não apu­rámos quando foi para Leiria, mas sabemos que já aqui estava antes de ter casado (em 1863).

A carreira de Francisco Maria Teixeira decorreu quase toda em Leiria, nas Obras Públicas do Distrito, onde era já desenhador em 1864. Em 1889, Francisco Maria Teixeira pertencia à cate­goria de condutor de 3a classe, adido do corpo de engenheiros de obras públicas e seus auxiliares. Nesse ano, decidiu concorrer ao lugar de professor de desenho do Liceu Nacional de Leiria. Ape­sar de ter obtido a respectiva nomeação, por despacho de 10 de Abril de 1889, não chegou a tomar posse da cadeira, pois aca­baria por morrer em 1 1 de Maio de 1889.

Francisco Maria Teixeira não foi um mero amanuense dese­nhador da Repartição Distrital de Obras Públicas. Era um ho­mem bastante bem relacionado e ajudou a Câmara Municipal de Leiria durante anos, mesmo sem possuir vínculo profissional com a autarquia, ao ponto de haver documentos referenciando-o como 0 «engenheiro da Câmara». As constantes gratificações que a Câmara de Leiria lhe atribuía pela sua solicitude reflectem isso mesmo.

Em termos de projectos da sua autoria, referenciemos os novos Paços do Concelho (obra que não se efectivou), de 1874, várias obras de estradas na região de Leiria, a obra de mura- mento das margens do Lis e outras obras públicas relevantes. Mas Francisco Maria Teixeira também era empreiteiro de obras particulares, tendo mesmo explorado uma pedreira nos arredo­res de Leiria.

Francisco Maria Teixeira terá tido um papel importantís­simo, quer na construção e concepção do Cemitério de Santo António do Carrascal, quer mesmo na definição de um estilo para a arquitectura funerária de Leiria dessa época. De facto, a sua intervenção no cemitério foi constante. Aliás, foi ele quem forneceu e mandou plantar os ciprestes no cemitério, em 1873. Tudo isto foi sucedendo enquanto Francisco Maria Teixeira ia dirigindo obras públicas de vulto no concelho de Leiria.

Francisco Maria Teixeira deveria ser um homem com opi- niào rnuito respeitada. Por várias vezes fez sugestões quanto à ev°lução de obras em Santo António do Carrascal, obras essas TUe nem sequer tinham sido por ele arrematadas. Francisco

522 Portugal e o Mundo: Encontro com a Arte

M aria Teixeira era tam bém respeitado pelos seus superiores na Repartição Distrital de Obras Públicas, sobretudo porque era hábil e prático.

As suas «introm issões» nas obras de acabamento do cemi­tério foram continuando ao longo de vários anos, até mesmo na concepção do retábulo para a capela mortuária.

Em term os de m onum entos sepulcrais, julgamos que a pri­m eira grande obra desenhada por Francisco Maria Teixeira foi a - tam bém prim eira - capela do Cem itério de Santo António do

Carrascal: a da fam ília Ataíde. Em bora não hajam provas do­

cum entais, só Francisco M aria Teixeira poderia ter desenhado

um a obra com o essa. Trata-se de um jazigo-capela único, obra arquitectónica de referência, um dos melhores exemplos de ar­

quitectura funerária em Portugal.

Em 18 7 3 , Francisco M aria Teixeira fez 0 projecto para 0

jazigo-capela do Dr. José M anuel Pereira da Costa e, em 1874, fez

0 projecto para 0 jazigo-capela de José da Silva Santos. Ambas são tam bém construções únicas e quase tão espectaculares como

a capela dos Ataíde. A pesar de serem muito diferentes, nota-se

um gosto sem elhante nestes três jazigos-capela, nomeadamente no avanço da fachada, na colocação de colunas flanqueando 0 portal, no gosto por cim alhas ou platibandas, na disposição da

iconografia fúnebre de rem ate e na utilização da alvenaria e

reboco, com partes nobres em cantaria.Francisco M aria Teixeira fez certam ente 0 projecto para a de­

saparecida capela de M iguel Joaquim Leitão (1874). Francisco

M aria Teixeira ligou-se à fam ília de M iguel Joaquim Leitão atra­

vés do casam ento de um a filha.Em 1876, Francisco M aria Teixeira desenhou a capela os

V iscondes da Barreira. Nesta obra, não pudemos deixar de notar as sem elhanças existentes com vários elementos da a r q u i t e c t u r a

indo-portuguesa, certam ente inspirações que Francisco Mana

Teixeira recolhera em Goa.Outros projectos de arquitectura tumular foram feitos po

este desenhador, m as ficaram já citadas as obras mais inclP tantes, todas da década de 1870. Podemos concluir que ^ranC| a M aria Teixeira foi claram ente 0 m aior responsável pela orl&.^ lidade do Cem itério de Santo António do Carrascal, tendo prJ ^ tado a m aior parte das suas prim eiras construções (tam e ^ m ais m onum entais e interessantes). Estas construções marc ^ um estilo e foram cruciais para fazer ver aos leirienses q

Francisco Queiroz: A necrópole rom ântica de Leiria 52 3

ossível uma arquitectura tumular monumental e original, sem cair na estandardização já corrente nos cemitérios de Lisboa e que se espalhou rapidamente pelos cemitérios do centro e sul

d° país.Porém, na década de 1880, outros desenhadores encarrega­

ra m -se de manter sempre um nível de originalidade nas cons­t r u ç õ e s sepulcrais de Santo António do Carrascal, nomeada­m e n te José Augusto Fragoso, que alguns historiadores de arte c o n h e c e r ã o por ter sido director da obra de restauro do Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha), em finais do século xix. Con­tudo, pudemos comprovar não ser um homem rendido ao neo-

gótico.Claro que a influência dos restauros na Batalha foi determi­

nante em Santo António do Carrascal. São notáveis alguns rendi­lhados de jazigos, em que a gramática vegetalista gótica é substi­tuída pela iconografia romântica da morte, nomeadamente pela saudade.

3. Outros aspectos interessantes em Santo António do Carrascal

0 Cemitério de Santo António do Carrascal inicial possuía uma estrutura urbanística relativamente comum em outros ce­mitérios portugueses, com uma rua axial (ao fundo da qual foi colocada a capela mortuária) e uma rua transversal perpendi­cular. Curiosamente, foi projectada uma faixa de terreno a orlar todo 0 cemitério, também pensada para permitir que ali pu­dessem ser depois construídas capelas, funcionando como um talhão lateral. Ora, isto era - de certa maneira - 0 que já existia no antigo Cemitério da Sé de Leiria, na parte que ficava junto à encosta do castelo. Tratava-se de um modelo fúnebre que radi­cava nos campos santos italianos. Este tipo de solução prevista para Santo António do Carrascal só parcialmente se veio aconcretizar.

Note-se que a concepção de um talhão lateral na orla do ce- mitério, destinado a jazigos-capela, foi primeiramente executada em P°rtugal no Cemitério da Lapa (Porto), que serviu de influên- la para muitos cemitérios do norte do país. Um dos motivos esse modelo urbanístico ter perdurado era 0 facto dos jazigos- capela terem sido interpretados na região do Porto como monu­

mentos maiores que os restantes, ficando nas orlas para que se pudesse ter uma visão completa das várias secções centrais do cemitério.

A monum entalidade dos jazigos-capela em Santo António do Carrascal não terá sido apenas circunstancial. Correspondeu a um gosto, que se foi esbatendo no fim do século xix. Alguma estandardização contam inou as estéticas em voga no Cemitério de Santo António do Carrascal no fim do romantismo, nomeada­mente nos gradeamentos.

Curiosamente, 0 advento da Arte Nova foi proporcional­mente muito mais assum ido em Santo António do Carrascal do que nos cemitérios de Lisboa ou do Porto. Assim, 0 interesse arquitectónico de Santo António do Carrascal, ao contrário de declinar abruptam ente no início do século xx - como sucedeu em quase todos os cem itérios portugueses - renasceu de forma evidente.

A través da in vestigação realizada, fo i possível associar 0 fim

do carácter rom ân tico d esta n ecróp ole à modernidade trazida

por Ernesto K orrod i, que aqu i exp erim en tou as suas primeiras

obras de arqu itectura. Este facto não pode ser menosprezado,

por duas gran d es razões:

1. As prim eiras obras de Ernesto Korrodi - as mais reveladoras - estavam por estudar e inventariar, certamente porque eram de carácter tumular. Ora, não se podem fazer estudos sobre arquitectura, escultura ou artes industriais no século xix sem abordar a componente funerária.

2. Estas prim eiras obras, que foram por nós analisadas, revelam um Ernesto Korrodi muito mais moderno do que os revivalism os de obras posteriores podem querer sugerir.

Por outro lado, E rn esto K orrod i foi um arquitecto especia­

lizado em arqu itectu ra tum ular, facto até hoje ignorado. Aliás, so

assim se com preen d e porqu e em 1 9 1 0 recebeu a encomen a

para o túm ulo do h om em m ais rico em Portugal: 0 Conde de Bur nay. Ernesto K orrodi p o ssu ía então u m longo currículo de obras

cem iteriais, que v in h a já do século xix , m ais concretamente 0

im portante pro jecto para o túm ulo da fam ília Aguiar (apr°'

veitado tam bém para a fam ília de M anuel Carlos Cardoso) que'

sem gran des reservas, atribu ím os a Ernesto Korrodi.Mas Ernesto Korrodi foi professor na Escola Industria ^

mingos Sequeira (Leiria), onde formou jovens canteiros nu

524 Portugal e o Mundo: Encontro com a Arte

Francisco Queiroz: A necrópole romântica de Leiria 525

novo gosto, alguns, m ais tarde, seus assalariados. Já antes, o tam ­bém professor da Escola Industrial, R ibeiro Cristino, tinha dei­xado a sua m arca em Santo A ntónio do C arrascal, ao ter projec­tado um túm ulo original (hoje desaparecido) que foi am pla­m en te inspirador para túm ulos posteriores.

É para nós clara a grande im portância dos canteiros da re­gião e dos tipos de m ateriais pétreos por eles utilizados para a obtenção de um a necrópole tão sin gu lar com o é Santo A ntónio

do Carrascal.Já José Ferreira Patrício e seu pai Patrício Ferreira m arcaram

aqui um certo estilo de arqu itectu ra tum ular, nom eadam ente na iconografia fúnebre dos jazigos m ais antigos de Santo A ntónio

do Carrascal. É notável a fo rm a tosca e reg ion alista com o foi con­cebida esta icon ografia por a lgu n s canteiros em em preitad as dos

Patrício, m as tam bém dos R om ão, outra im portante fam ília li­

gada à cantaria em Leiria. Por exem plo , no tipo de am pulheta

alada utilizada na capela m ortu ária de Santo A n tón io do C arras­

cal, as asas são de tal fo rm a estilizad as que m ais p arecem leques.Dos Rom ão destaca-se A u gu sto R om ão, com o co laborador

e rival de Ernesto K orrodi, tendo sido um riscador in can sável da

Arte Nova aplicada à tum ulária . M as não podem os esqu ecer os

irmãos José e Joaqu im T h eriaga , que fo ram tam bém resp o n sá­

veis pela introdução do gosto A rte N ova em Leiria.

Na Arte N ova ap licad a à tu m u lária de Santo A n tón io do

Carrascal, é um a im agem de m arca o recurso à p ap o ila d orm i­

deira como form a de decoração, m arcan d o algu m d istan cia­

mento iconográfico com a arte fu n erária de L isboa do in ício do século xx.

Também não pod em os om itir a ex istên cia de portas de ja­

zigo em m adeira no C em itério de Santo A n tón io do C arrascal,

algo muito pouco com u m em ou tros cem itérios o itocentistas por­

tugueses. In felizm ente, no m om en to em que escrev íam o s estas

linhas existia em Santo A n tó n io do C arrascal ap en as um a porta

em madeira preservada, a da capela dos C u nha Pessoa, outra

obra também original, sobretud o d evid o ao in teressan te painel

de azulejos do p aram en to lateral, que fo rm a gaveto no centro do cemitério.

Através da in vestigação realizada e tendo com o term o de

c°m paração m ais de se iscen to s cem itério s o ito cen tistas le-

Vantados e fotografados em Portugal, con clu ím os pela gran d e

especificidade que a arqu itectu ra tu m u lar do C em itério de Leiria

526 Portugal e o Mundo: Encontro com a Arte

teve no contexto nacional, durante o últim o quartel do século xix e com um a retom a no início do século xx. A beleza dos seus mo­

num entos, o seu carácter sim ultaneam ente tosco (porque pouco

cosm opolita), m as requintado e, por vezes, monumental reflec­tiram a sociedade que dirigiu Leiria no século xix.

Um punhado de fam ílias abastadas, as quais se conheciam

bem e possuíam laços fam iliares estreitos, através da sua capaci­

dade económ ica, m andaram erigir m ausoléus e capelas em Santo

António do Carrascal. Estes m onum entos resultaram numa uni­

dade im pressionante, ao ponto de se poder concluir que existiu

um a arquitectura funerária típ ica de Leiria, no século xix.

M esm o sendo de reduzida dim ensão, julgamos que não existe

conjunto de edificações m ais representativo de Leiria e da sua so­

ciedade no fim do século x ix do que a sua necrópole romântica.

Esta conclusão é crucial para que se deixe de entender Santo An­

tónio do Carrascal com o m ero destino dos finados na cidade e se

passe a olhar o recinto com o um a outra cidade, a cidade dos mor­

tos de Leiria, pensada sobretudo em função dos vivos e também

ela com um centro histórico.O núcleo oitocentista de Santo A ntónio do Carrascal é o local

privilegiado de m em ória de um a época. Se ainda for evitada a

destruição a que este fantástico repositório de arquitectura está

sujeito, certam ente v irá o dia em que Santo António do Carrascal

possuirá a sua área m usealizada.Contudo, para os historiadores de arte, a investigação reali­

zada sobre Santo A ntónio do Carrascal deve servir sobretudo de exem plo e cham ada de atenção: não se pode continuar a estudar

arte do século xix fingindo ignorar os cemitérios.

Francisco Queiroz: A necrópole romântica de Leiria 527

Fig. 1 - Capela dos Ataíde, mandada erigir em 1872 pelo Dr. Luís da Silva Ataíde da Costa

Fig. 2 - Capela do Dr. José M anuel Pereira da Costa, de 18 7 3

528 Portugal e o Mundo: Encontro com a Arte

Fig. 3 - Panorâmica de alguns dos principais m onumentos sepulcrais

de Santo António do Carrascal. A construção mais elevada é a

capela erigida para José da Silva

Santos em 1874

Fig. 4 - )osé da Silva Santos

Fig. 5 - Casa apalaçada de José da

Silva Santos no antigo Rossio

de Leiria (destruída em 2002)

Fig. 6 - Fachada principal

da capela dos Costa Guerra

(Viscondes da Barreira), de 1876

530 Portugal e o Mundo: Encontro com a Arte

Fig. 7 - Interessantes jazigos-capela da década de 1880

Fig. 8 - Belo rendilhado de cantaria na capela de José

Gaudêncio Barreto

Francisco Queiroz: A necrópole romântica de Leiria 5 3 1

Fig. 9 - Túmulo da fam ília de

Manuel Carlos Cardoso (por nós

atribuído a Ernesto Korrodi) e outro túm ulo com um estilo

tipicam ente leiriense (à direita), na

linha de um projecto anterior

delineado por Ribeiro Cristino.

Fig. 10 - Vista geral de Santo

António do Carrascal