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capa CURITIBA, JUNHO DE 2012 - ANO 16 - NÚMERO 208 - 3º PERÍODO DE JORNALISMO NOTURNO DA PUCPR

A noite curitibana

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O quer acontece durante a noite em Curitiba? O que as pessoas fazem? Como a cidade funciona? Saiba aqui!

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Page 1: A noite curitibana

capaCURITIBA, JUNHO DE 2012 - ANO 16 - NÚMERO 208 - 3º PERÍODO DE JORNALISMO NOTURNO DA PUCPR

“Sabe onde ele mora”, perguntei ao meu irmão. Ele disse que não. Ah, subi a Amin-tas. Onde já se viu? Tomei um caminho contrário para mostra-lo o antro do vampiro. “Para onde você vai? Ainda preciso encontrar meu céu”, ele me disse. O céu esperava há tempos. Que esperasse um pouco mais.

A história verdadeira é que errei o caminho. Cai ali por pegar a saída errada na via rápida. Contaria ao meu irmão se o polegar fosse menos apressado; menos carrancudo com um pois, pois qualquer. Calei-me. Disse a ele que o vampiro fizera aniversário e o desprazer da visita não consumada seria nosso presente.

Da esquina oposta indiquei o casarão: é ali. Eu vibrei quando soube; ele não se sur-preendeu. Idiossincrasias à parte, a fique desapontado. Acelerei o auto, virando à direi-ta. “Aqui não, o prédio atrapalha”, lamentava meu irmão. Tremenda patifaria. “Arre, horizonte esfumaçado”; procurava um céu das arábias. Atrasaríamos para o jantar. Não me dei ao trabalho de ligar para mamãe por pura

preguiça. Tampouco meu irmão. Havia ainda uma entrega pendente; a empreitada de meu irmão na busca do céu perfeito se seguia. “Nenhum é perfeito, ainda mais à noi-te”, pensei. Mas não o disse. Ele ficaria chateado.

Foi uma volta das grandes. Se soubesse do desprezo que sofreria, deixava pra lá. Que-ria saber do céu. Capacho sob o qual brilham as luzes da cidade. Céu é uma ova. Desejei o fim do céu; seu lugar seria ocupado por uma lona preta.

Nada aconteceu. Aliás, nada de lona preta. Acontecer aconteceu. Mas o contrário. Ele encontrou o bendito céu. Estava lá, aberto. Não tão estrelado, mas imaginei que aquele fosse como o das arábias. Talvez parecido.

Passei lotado com o auto; um pouco por birra. Meu irmão disse que voltaria ali. Re-gistraria o céu. Surpreendeu-me ele não pedir que parasse o carro na hora. “Esse sim era é um céu para a capa”, exaltou. Não faltava mais nada. Seria a capa do vampiro.

Fizemos a entrega e ainda jantamos em casa. Mamãe esperou. Quanto ao céu, a es-pera fica por conta do sucesso. Prometi a meu irmão que escreveria um soneto duplo sobre aquele dia; o fiz à minha maneira. Ao menos ele me agradeceu por errar de rua.

Em busca deCuritiba perdida

Renan Machado

Page 2: A noite curitibana

FALA, ALUNO

“ O Comunicare permite que alunos de vários

cursos conversem entre si. É bacana vermos as produções laboratoriais

de outros cursos da universidade”.

Rodrigo PlaisantLetras PUCPR

TER UMA PROFISSÃO E EXERCÊ-LA NÃO É SONHO, MAS META PARA MUITAS MULHERES

“Sexo frágil” é coisa do passado hoje elas conquistam o mercado de trabalho derrubando sofismas e até mesmo os preconceitos

Curitiba, junho de 2012 opinião02

Noites CuritibanasA noite pode ser curitibana,

mas, a maioria, não é dela. Mis-celânea paranaense, a cidade traz na ponta do nariz – além de cori-za e alguns espirros, o privilégio de ter em sua população gente do interior. Cerca de 55% dos que moram aqui, segundo pesquisa divulgada pelo Instituto Ethos, bom, não são daqui. Mas pouco importa: a contaminação viru-lenta de “curitibices” é imedia-ta. Catataumente, uma confusão cultural se apropria e a resis-tência curitibana à interação e a calores intimistas, fazem com-panhia a quem resolve aparecer pela cidade. À noite, de preferên-cia. E sejam muito bem-vindos.

O que pode assustar os notí-vagos, em Curitiba, é que na ma-drugada a temperatura se aproxi-ma dos 13°C. E pode cair. Assim

como a inibição, a dificuldade de socialização e alguns prejuízos na espontaneidade, que só de-monstram as formas ligeiramente arcaicas de interação do povo da-qui. Mas é que esta é uma marca que se carrega já de registro e que com alguns poucos goles de bebi-da quente – não que o curitibano se doa ao tomar gelado - milagro-samente é curada.

E isso fica evidente na maté-ria desta edição do Comunicare, “As diferentes faces da Curitiba noturna”: a frieza da cidade se destina aos termômetros. Mas que é, também, facilmente su-perada pela animação noturna e jovialidade da capital paranaen-se. Aqui, o tom é de boemia, de alegria discreta expressa por um sorriso no canto da boca. E músi-ca. Curitibano adora trilha sono-

ra para se divertir – ou sofrer por amores melancólicos.

O porém é que, infelizmen-te, se esquece de que pagar tam-bém faz parte da fantasia, como mostra a reportagem “Acordes sustenidos”. Os músicos de Curi-tiba, com toda a sua resiliência, tentam sobreviver aos baixos ca-chês oferecidos, em uma cidade que poderia acolher com mais vontade os protagonistas da cena noturna. Não há reconhecimento e valorização da classe, respon-sável anônima por conduzir os embalos da cidade.

Mas nem tudo é erro. Aos que desejam, um dia, conhecer vam-piros, Curitiba se mostra propícia para escritores ainda iniciantes, que não conseguiram achar um bom cenário para dar início a própria viagem pelas letras, como

informa a matéria “Nada suave é a noite”, desta edição. A taciturna Curitiba, ainda mais à noite, é um universo borbulhante, que se es-conde na discrição do povo, mas que carrega grandes – polêmicas e desconhecidas – histórias.

Esta edição do Comunicare é, além de um jornal laboratório, um convite aos leitores para co-nhecerem um pouco mais desta cidade injustamente taxada de provinciana e recatada. A noite curitibana, caótica pela diversida-de de acontecimentos e atrações, revela os traços de um novo per-fil social, que evidencia o esboço do próprio povo que aqui vive. A quem couber, um pouco de quen-tão para aquecer a jornada.

RUMO DOS VEÍCULOS IMPRESSOS DEVE SER REPENSADO

Jornalismo não pode ser impessoal e burocráticoSão muitas as hipóteses sobre

o futuro do jornalismo impresso. Os mais pessimistas já encomen-daram caixão, velas e coroa de flores. Meus pêsames para eles. Não acredito que os dias do pa-pel estejam contados. Apenas creio que os rumos desses veícu-los precisam ser repensados. A começar pela forma como dialo-gam com seus leitores.

A edição do Comunicare que a mim coube analisar, na posição de ombudsman, fez com que eu parasse justamente para refletir sobre o que estudantes de Jor-nalismo em 2012 podem fazer para antecipar esse futuro tão nebuloso e incerto. Sem recorrer a um exercício de adivinhação inconsequente, eu posso dizer, sem muito receio de errar, que veículos impressos terão, sim, de investir em profundidade e em reflexão. Mas sem cair na ar-madilha da impessoalidade e do hermetismo.

A reportagem “Aborto de anencéfalos não é crime”, por exemplo, comete o erro de tratar

um tema delicado, com implica-ções científicas, legais e políticas, de modo excessivamente frio e distante. Uma pena, pois a ma-téria, embora bem feita, acaba desperdiçando seu maior trunfo: personagens da vida real que es-tão enfrentando o drama de criar uma criança que nasceu sem crâ-nio.

O melhor teria sido partir da tocante história do casal Joana e Marcelo Croxato, e não esperar até o sexto parágrafo para apre-sentá-la ao leitor.

O mesmo raciocínio parece valer para quase toda a edição, muito bem cuidada, porém um tanto morna e “oficialesca”, le-vando-se em conta que seu tema é, em tese, borbulhante: “Cri-mes”. Na matéria “Oficinarte é ‘escola da vida’”, uma ótima pau-ta de interesse humano também é desperdiçada. Em vez de dar voz aos detentos, cujas vidas poderão ser transformadas graças ao con-tato com a arte, o repórter prefere recorrer a fontes oficiais, como a artista plástica e professora que

idealizou o projeto e a assistente social do Complexo Médico Pe-nal do Paraná (CMP). Nenhum presidiário foi ouvido. Portanto, temos acesso apenas à metade, e a menos interessante, da história toda.

Paulo Camargo é jornalis-ta, formado pela UFPR, mestre em Estudos sobre Cinema pela Universidade de Miami (EUA), e doutorando em Comunicação e Linguagens-UTP. Entre 2002-11, foi editor de Cultura do jornal Gazeta do Povo, onde hoje atua como repórter especial.

FALA, PROFESSORA

“É um excelente jornal, que tem melhorado a

qualidade das matérias e o uso de imagens, mas

ainda pode melhorar a produção fotográfica”.

Leomar Jesus Ferreira de Brito, professor de fotografia da PUCPR

NOSSA CAPA

“E como se, por mágica, o céu se tornasse claro

como na noite das arábias”

Felipe Raicoski

capaCURITIBA, JUNHO DE 2012 - ANO 16 - NÚMERO 208 - 3º PERÍODO DE JORNALISMO NOTURNO DA PUCPR

“Sabe onde ele mora”, perguntei ao meu irmão. Ele disse que não. Ah, subi a Amin-tas. Onde já se viu? Tomei um caminho contrário para mostra-lo o antro do vampiro. “Para onde você vai? Ainda preciso encontrar meu céu”, ele me disse. O céu esperava há tempos. Que esperasse um pouco mais.

A história verdadeira é que errei o caminho. Cai ali por pegar a saída errada na via rápida. Contaria ao meu irmão se o polegar fosse menos apressado; menos carrancudo com um pois, pois qualquer. Calei-me. Disse a ele que o vampiro fizera aniversário e o desprazer da visita não consumada seria nosso presente.

Da esquina oposta indiquei o casarão: é ali. Eu vibrei quando soube; ele não se sur-preendeu. Idiossincrasias à parte, a fique desapontado. Acelerei o auto, virando à direi-ta. “Aqui não, o prédio atrapalha”, lamentava meu irmão. Tremenda patifaria. “Arre, horizonte esfumaçado”; procurava um céu das arábias. Atrasaríamos para o jantar. Não me dei ao trabalho de ligar para mamãe por pura

preguiça. Tampouco meu irmão. Havia ainda uma entrega pendente; a empreitada de meu irmão na busca do céu perfeito se seguia. “Nenhum é perfeito, ainda mais à noi-te”, pensei. Mas não o disse. Ele ficaria chateado.

Foi uma volta das grandes. Se soubesse do desprezo que sofreria, deixava pra lá. Que-ria saber do céu. Capacho sob o qual brilham as luzes da cidade. Céu é uma ova. Desejei o fim do céu; seu lugar seria ocupado por uma lona preta.

Nada aconteceu. Aliás, nada de lona preta. Acontecer aconteceu. Mas o contrário. Ele encontrou o bendito céu. Estava lá, aberto. Não tão estrelado, mas imaginei que aquele fosse como o das arábias. Talvez parecido.

Passei lotado com o auto; um pouco por birra. Meu irmão disse que voltaria ali. Re-gistraria o céu. Surpreendeu-me ele não pedir que parasse o carro na hora. “Esse sim era é um céu para a capa”, exaltou. Não faltava mais nada. Seria a capa do vampiro.

Fizemos a entrega e ainda jantamos em casa. Mamãe esperou. Quanto ao céu, a es-pera fica por conta do sucesso. Prometi a meu irmão que escreveria um soneto duplo sobre aquele dia; o fiz à minha maneira. Ao menos ele me agradeceu por errar de rua.

Em busca deCuritiba perdida

Renan Machado

Raffaela Porcote

EXPEDIENTEJornal Laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Edição nº 208 | Junho/2012

PUCPRRua Imaculada Conceição 1.155, Prado Velho - Curitiba/PRwww.pucpr.br

ReitorClemente Ivo Juliatto

Decana da Escola de Comunicação e ArtesEliane C. Francisco Maffezzolli

Diretora do Curso de JornalismoMônica Fort

Jornalista ResponsávelCícero Lira - DRT 1681

Coord. de Projeto GráficoAlessandro Foggiatto

Editor-chefeGuilherme Zuchetti

Editor de arteFelipe Raicoski

CapaFelipe Raicoski

EditoriasComportamento: Rodrigo de LorenziCultura: Renan MachadoEconomia: Shaiene RamãoEducação: Raíssa MeloEntrevista: Diego LaskaEsporte: Rodrigo de LorenziGeral: Daniela HendlerOpinião: Raffaela PorcoteSaúde: Luize SouzaTrânsito: Fabio WosniakTecnologia: Rafaela GabardoMeio Ambiente: Ademar Santos

Page 3: A noite curitibana

HOMENS SOFREM MAIS COM O RONCO E AS MULHERES COM INSÔNIA

Especialista em sono, Danielle Malaquias dá dicas para uma boa noite de sono e para uma melhor qualidade de vida

Curitiba, junho de 2012entrevista 03

O sono melhora a qualidade de vida F

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Danielle Malaquias, médica especialista em distúrbios do sono

Graduada em Medicina pela UFPR e formada em Medicina do Sono no Instituto do Sono – Unifesp, Danielle Salvati de Campos Malaquias é membro da Associação Mundial da Me-dicina do Sono (WASH) - World Association of Sleep Medicine. Além de trabalhar no Instituto do Sono de Curitiba, que é uma clí-nica especializada no tratamento de distúrbios do sono.

Para a especialista, a priva-ção do sono é o principal distúr-bio, prejudicando a qualidade de vida. Danielle afirma que quem sofre mais com os distúrbios do sono são os idosos, pois o sono é mais fragmentado com redução significativa de horas.

Comunicare: Quais são os distúrbios do sono?

Danielle: São vários, entre eles: insônia, narcolepsia, ronco noturno, apneia do sono, síndro-me das pernas inquietas e so-nambulismo.

Comunicare: Qual é o prin-cipal tipo de distúrbio do sono? Como curá-lo?

Danielle: Hoje em dia pode-mos dizer que a privação do sono é o principal distúrbio do sono. O mau hábito de dormir pouco leva ainda a outros problemas do sono, como insônia ou sonolência excessiva diurna, por exemplo. Para curá-lo, o primeiro passo é tomarmos consciência que uma boa noite de sono é nossa aliada, permite-nos desempenhar nos-sas funções do cotidiano, além de contribuir para a sociedade. Dormir a quantidade de horas necessárias, de forma rotineira , nos trará saúde a curto, médio e longo prazo.

Comunicare: O que é insô-nia? Quais fatores pode ocasio-ná-la?

Danielle: Insônia é a incapa-cidade para começar a dormir ou para manter o sono. O que pode ocasiona-lá é o uso de certas me-dicações, alimentos e bebidas estimulantes, algumas doenças enre elas o hipertireoidismo, o stress e ansiedade prolongados.

A insônia também pode ser um comportamento aprendido, ou seja, não seguir as orientações de “higiene do sono” também po-dem levar a insônia.

Comunicare: Quando a in-sônia deve ser tratada como do-ença?

Danielle: Quando ocorre de forma eventual não traz maiores consequências, mas quando pas-sa a ser frequente altera de forma significativa a vida da pessoa que sofre deste problema. Geralmen-te o primeiro sintoma é a irrita-bilidade, seguida por cansaço crônico, falta de motivação, de energia, que são sintomas co-muns e indicam necessidade de diagnóstico e tratamento.

Comunicare: Quais são as dicas para ter um bom sono?

Danielle: As principais dicas se chamam “higiene do sono”. Algumas delas são: não fumar; não consumir bebidas alcóolicas; cortar o uso de estimulante, por exemplo, a cafeína; exercitar-se regularmente, mas não próximo a hora de dormir; manter o mesmo horário de dormir e levantar, in-clusive no final de semana e dor-

mir num ambiente tranquilo com um colchão confortável e firme.

Comunicare: A incidência de distúrbios do sono é maior em homens ou mulheres?

Danielle: Depende da pato-logia do sono. O ronco noturno, por exemplo, é mais prevalente em homens. Já a insônia, em mu-lheres.

Comunicare: Qual grupo

etário tem maior número diag-nosticados de distúrbios do sono? Por quê?

Danielle: Os idosos sofrem mais com distúrbios do sono, em parte por uma questão fisio-lógica. O sono na terceira idade muda, é mais fragmentado e há

uma redução na quantidade de horas necessárias a ser dormidas por noite de sono. Adaptar-se a essa nova condição fisiológica não é fácil, o que leva essa po-pulação a ter constantes queixas realcionadas ao sono. Soma-se a isso os vários medicamentos que os idosos constumam ingerir, muitos deles interferindo direta ou indiretamente no sono.

Comunicare: Quantos curiti-banos apresentam algum tipo de disturbio do sono?

Danielle: Em Curitiba ainda não temos trabalhos científicos que nos informem da prevalên-cia desses distúrbios, porém na capital paulista, foi realizado um estudo chamado EPISONO, que trás infomações muito interes-santes, entre elas, uma alta preva-lência para apneia de sono, bem diferente dos índices registrados em literatura que são de 4%.

Comunicare: O que pode prejudicar o sono?

Danielle: O excesso de ruí-do; a claridade; assistir televisão muito próximo da hora de deitar ou trabalhar no computador; o ci-garro, pois o fumante leva mais

tempo para dormir e acorda com maior frequência durante a noite; o consumo de álcool, consumin-do antes de ir para a cama inter-rompe e fragmenta o sono; como também o consumo de estimu-lantes que pode acentuar a difi-culdade de pegar no sono.

Comunicare: Quanto tempo devemos dormir para termos um bom funcionamento do organis-mo e consequentemente uma me-lhor qualidade de vida?

Danielle: A maioria dos adultos precisa de sete a nove ho-ras de sono por noite, em média. A quantidade de horas de sono varia de acordo com a pessoa. Você, por exemplo, deve saber de quanto tempo de sono precisa para se sentir bem e este “sentir-se bem” é o parâmetro que indica o seu número de horas ideal para o sono. Esta regra só não vale quando o sono não está apresen-tando uma qualidade adequada, então se há dúvidas, uma visita ao especialista pode ser de muita ajuda. Outro fator relevante é a idade, pois a quantidade de sono necessária diminui com a idade. Um bebê recém-nascido chega a dormir 20 horas por dia. Aos quatro anos, a média é de 12 ho-ras por dia. Aos 10, a média cai para 10 horas por dia. As pesso-as mais velhas dormem cerca de seis ou sete horas por dia.

Comunicare: A automedição é uma boa alternativa para quem tem distúrbios do sono?

Danielle: Não é uma boa al-ternativa, pois o tratamento pode ser feito de forma inadequada, indevida ou insuficiente. O que não acabará com o distúrbio do sono e sim trará novos distúr-bios. Alguns medicamentos são controlados, assim dificilmente o paciente conseguirá fazer uso sem prescrição médica por mui-to tempo. Porém alerta-se que os medicamentos controlados cha-mados benzodiazepínicos, estão cada vez menos sendo usados no tratamento da insônia.

Diego Fernando Laska

“Os idosos sofrem mais com os distúrbios do

sono”

Page 4: A noite curitibana

CURITIBA POSSUI MAIS DE 600 BARRACAS DE CACHORRO QUENTE

Rapidez e preço baixo são atrativos para os consumidores

Curitiba, junho de 2012 economia04

Empreendedores lucram com alimentaçãoFo

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Cachorros quente são fonte de renda para pequenos empreendedores

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Wagner se surpreendeu com a aceitação da casa

A famosa frase publicitária do “cachorro quente com duas vinas”, se tornou comum nas noites da cidade entre a popula-ção. A comida tradicional possui mais de 600 pontos de vendas, entre carrinhos e lanchonetes, espalhado por vários bairros da capital paranaense e conta com um vasto cardápio de ingredien-tes que são acrescentados à base do pão, da salsicha, da maionese e da batata palha.

O alimento de preparo rápido tem a aceitação em massa da po-pulação, em função da facilidade em encontrar o lanche e o tempo em de preparo, não passando de 5 minutos. Além do preço atra-tivo que vai de três a dez reais. Buscando atrair a maior parte da clientela, donos dos estabe-lecimentos incluem ao cardápio novos ingredientes como bacon, frango, calabresa, salada e outros chegam a fazer loucuras criando, por exemplo, um cachorro quen-te doce.

O brasileiro que sonha em ter o seu próprio negócio, e não pos-sui um grande capital de investi-mento, procura no lanche a opor-tunidade de começar com uma barraquinha. O baixo dinheiro investido e o lucro de forma rá-pida são os principais atrativos. É importante estar devidamente registrado na prefeitura, com o “croqui”, registo do espaço e as devidas licenças, além do pre-paro para enfrentar as condições climaticas não favoraveis da cidade como o frio e as chuvas constantes.

O agora empreendedor Fa-biano Wagner Atelzner, há cinco anos, decidiu abandonar de seu emprego em uma loja de som au-tomotivo para abrir uma barra-quinha de cachorro quente, que após alguns anos de dedicação e sucesso se transformou em res-taurante e bar “Happy Hour”.

Ele diz que ficou durante duas semanas em um ponto da cidade, onde não existia nenhu-ma barraca por perto, olhando o fluxo de pessoas até decidir abrir o seu prórpio negócio. “Depois de uma semana eu estava com

a minha barraca”, relata Atelz-ner. Ele ainda revela que em seu primeiro dia comprou 60 pães e vendeu todos em uma hora de tra-balho, no segundo, comprou 100 e em menos de duas horas voltou para casa. Assim foi aumentando a produção, criando novos lan-ches e aperfeiçoando outros até chegar ao ponto de vender mais de 400 lanches diários, com um lucro aproximado de R$2.500,00 e mais de 1.400 clientes cadastra-dos.

Entre todos, um cliente e ami-go de Fabiano lhe chamou a aten-ção para abrir, em sociedade um restaurante “Dona Madallena” na

frente de seu ponto.

O bar

Como Atelzner já trabalhava a noite e sabia como as coisas funcionam no período, resolveu ampliar o horário de atendimento, abrindo o então restaurante para um “Happy Hour”, que surgiu através da demanda dos clientes, que não tinham um bar em seu bairro ou próximo. Mesmo não localizado em um bairro nobre da cidade, o Pinheirinho, o dono alega que a aceitação do publico foi uma surpresa em função de não possuir um estabelecimento

do gênero na região. “Os preços dos produtos que temos no esta-belecimento seguem o ritmo do bairro, por isso os preços são acessí-veis”, ressalta.

O sucesso dos empreendedores rendeu um bom retorno financei-ro, melhor do que o esperado, e os planos futuros são ampliar a casa, tando no quesi-to espaço quanto produtor e a construção de uma nova casa, no mesmo seguimen-to, que já esta em andamento na região.

Mesmo com a pouca expe-riência no ramo, Fabiano diz a persistência, uma boa ideia e ter tudo conforme a lei, contratos e licenças são fundamentais para o sucesso.

Restaurante

Uma pesquisa feita pela AS-SERT – Associação das Em-presas de Refeição e Alimentos revela que a alta nos alimentos e o crescimento dos restauran-tes brasileiros impactaram na procura acentuada. O brasileiro gasta em média para almoçar

fora R$21,11, já o curitibano esta abaixo R$17,23, tanto a nível na-cional quanto a região sul, que é de R$ 18,20. Dados do POF (Pes-quisa de Orçamento Familiares), do IBGE, 2008/2009 31,1% dos gastos familiares com alimen-tação e a estimativa é que o nu-mero tenha aumentando cerca de 10% a 15%.

Justamente pela alta procura na região e a falta de seguimen-tos como esse na região, que os sócios investiram um bom di-nheiro (quantia não relevada) buscando elevar os lucros.

Sebrae

Para quem esta interessado, o Sebrae/PR - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Paraná – é um ins-tituição sem fins lucrativos que foi criada para dar apoio aos em-presários de pequenos negócios.

O órgão ofe-rece palestras, capac i t a ções empresar iais, t r e i n a m e n -tos, projetos, programas e soluções em-presariais, com foco no empre-endedor ismo, setores estraté-gicos, políticas

públicas, tecnologia e inovação, orientação ao crédito, acesso ao mercado, internacionalização, redes de cooperação e programas de lideranças.

No Brasil, são 27 unidades e 750 postos de atendimentos es-palhados de norte a sul do País. No Paraná, cinco regionais e o11 escritórios. A entidade, no esta-do, chega aos 399 municípios por meio de pontos de atendimento e parceiros como associações, sindicatos, cooperativas, órgãos públicos e privados ou pelo site ([email protected]).

Lucas Dziedicz

“Se você prepara um bom produto,

quem vem a primeira vez gosta

e indica”

Page 5: A noite curitibana

LUCRO ATRAI EMPRESÁRIOS CURITIBANOS

Estabelecimentos que ficam abertos dia e noite podem garantir ganhos de até 50% no final do mês

Kauanna Batista FerreiraShaiene Ramão

Comércio 24 horas cresce em CuritibaFo

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Com todas as vantagens financeiras de se ter um esta-belecimento 24 horas, o responsável do local deve ficar atento a questões básicas que podem fazer o negócio crescer ou afundar. O estoque, a higiene do local, inclu-sive dos banheiros e a qualidade no atendimento preci-sam ser sempre avaliados para se conquistar o público.Para quem está pensando em abrir um comércio 24 ho-ras ou estender o horário de funcionamento, seguem al-gumas dicas:- Procure verificar a concorrência que o seu estabeleci-mento terá, pois alguns setores, como o de medicamen-tos, já estão cheios; - Estude bem sua clientela, para não ter prejuízos ao in-vés de lucros; - Escolha uma localização propícia para o setor que de-seja seguir;- Invista em novidades no atendimento e em produtos novos;- Capacite seus funcionários para trabalhar no horário oposto ao do relógio biológico.

Procure também fazer uma análise mensal de todos os lucros e todos os prejuízos que o estabelecimento teve. Levante informações, ouça os funcionários e esteja sem-pre atendo às sugestões dos clientes, pois eles preci-sam ser os maiores beneficiados.

Fonte: Revista Pequenas Empresas Grandes Negócios

Dicas, Vantagens e Desvantagens

A Aquarius Gastronomia é referência em alimentação 24 horas

Nos últimos anos, impulsio-nados pelo desenvolvimento e pelo crescimento populacional, o número de estabelecimentos abertos 24 horas em Curitiba aumentou. Segundo a Prefeitura Municipal, ainda não há nenhum levantamento detalhado sobre o assunto, mas sabe-se que o co-mércio da madrugada cresceu, e junto com ele, cresceu também o número de trabalhadores notur-nos.

Segundo dados no Ministério de Trabalho, atualmente 15 mi-lhões de brasileiros trabalham no período noturno e as profissões que mais possuem trabalhado-res estão nas áreas de transporte, saúde, segurança, energia e co-municação.

Curitiba é uma das cidades que mais possuem estabeleci-mentos 24 horas e que mais ofer-tam esse tipo de vagas.

Ângulo Empresarial

Marion Hofstaetter, gerente geral da panificadora 24 horas Aquarius Gastronomia, que fica em uma das principais avenidas do Bairro Bacacheri conta que a ideia de abrir o estabelecimento o dia todo, sem intervalos e fe-chamentos, surgiu quando não havia ainda na capital nenhum local que tivesse esse horário de funcionamento. “Na época que os donos decidiram transformar a panificadora em 24 horas. Foi uma grande mudança, porque havia uma grande demanda. Foi uma novidade no mercado, por-que ainda não haviam estabele-cimentos que fizessem isso”, diz.

Hofstaetter comenta que a Aquarius passou a lucrar em tor-no de 20% a mais do que quan-do era aberta apenas em horário comercial. Um estabelecimen-to desse gênero pode lucrar de 15% a 50% a mais do que um comércio normal, dependendo do ramo em que atue. Assim, uma empresa que fatura mensal-mente R$500 mil reais pode ter um acréscimo no fim do mês de R$75 mil, quase um quinto do valor total. A gerente comercial

afirma que pode parecer um pe-queno aumento, mas que ele faz toda a diferença na manutenção da panificadora e no pagamento dos funcionários. “Hoje compen-sa ficar aberto o dia todo, porque esses 15% são um lucro a mais. É como se nós ga-nhássemos um extra no fim do mês. Vale tanto a pena que acho que não conse-guiríamos mais ficar abertos apenas durante o dia”, ressalta.

Para quem está pensando em estender seu horário de funcio-namento, a gerente complemen-ta: “É preciso ver se compensa. Dependendo do ramo não vale a pena. Não se pode pensar apenas no lucro, tem que pensar também no estoque, nos funcionários e principalmente, nos clientes”, opina.

Mão-de-obra

A CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) estipula que todo funcionário do período da noite tem que receber o adicional noturno, por exercer atividade a partir das 22 horas. Há alguns acordos ou convenções coletivas

que acertam um percentual maior sobre a remuneração recebida. Na panificadora, por exemplo, os funcionários recebem o valor mínimo estipulado pela CLT para trabalhar de madrugada. Esse va-lor corresponde a 20% a mais no

salário. No caso da

hora extra, o trabalhador re-cebe acréscimo de 50% sobre o valor da hora de trabalho. O adi-cional noturno é de 20% sobre o

salário base do funcionário.Antônio Luiz Ruskin dos

Santos, 40, trabalha há 19 anos numa indústria moveleira na Cidade Industrial. Deste tempo de serviço, 15 anos foram traba-lhando no período noturno, na mesma função. Santos explica que quando completou quatro anos de trabalho na empresa, foi convidado para chefiar a seção onde trabalhava, ganhando 20% a mais do que já recebia, mas para isso, teria que trabalhar de madrugada. “Eu gostei da pro-posta. Na época minha esposa não gostou muito, porque eu ia ter que deixar ela sozinha em casa, mas eu decidi experimentar por um mês e quando eu recebi o

pagamento, ela mudou de ideia.”, conta. O operador de QD (máqui-na responsável por corte da ma-deira) diz que antes de trabalhar a noite ganhava aproximadamente R$1.600 reais mensais e que de-pois que passou a trabalhar na madrugada, passou a receber em torno de R$2.000 reais, fora os valores recebidos por hora extra e fins de semana. “Eu e minha esposa conseguimos reformar a nossa casa e dar entrada no nosso carro, graças ao adicional notur-no. Hoje eu prefiro trabalhar de madrugada e não quero voltar a trabalhar no horário normal”, diz.

O operário destaca que pre-judicou sua saúde por inverter seu relógio biológico. “O começo é sempre o mais difícil. Fiquei uns dois meses sem conseguir dormir direito, porque eu estava acostumado a dormir como todo mundo, a noite. Por causa disso, emagreci uns oito quilos e come-cei a pegar gripe com mais facili-

dade.“, completa

Mercado cheio

Com as vantagens financeiras e operacionais de se ter um esta-belecimento que nunca fecha, os investidores tem apostado cada vez mais nesse tipo de negócio.

Mariza Griz, proprietária da churrascaria Costelão do Gaú-cho, também aberta 24 horas, ressalta que no começo, esse tipo de estabelecimento era novidade e agradava muito os curitibanos, mas, com o tempo, foram sur-gindo outras opções e o lucro foi sendo prejudicado. “Hoje já não é mais aquela novidade, não é mais a mesma coisa. O custo benefício está nos fazendo pensar se vale realmente a pena continuar fun-cionando 24 horas”, analisa.

“Não querovoltar a

trabalhar no horário normal”

Curitiba, junho de 2012economia 05

Page 6: A noite curitibana

UNIVERSIDADES PARTICULARES LUCRAM COM A FALTA DE VAGAS NOTURNAS NA REDE PÚBLICA

Vagas noturnas não chegam a 30% do total e estudantes que trabalham migram para o sistema privadoEscassez de cursos noturnos

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Universidades particulares lucram com estudantes do contra-turno

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Felipe aprendeu e se divertiu na aula do madrugadão

Seis em cada dez alunos do ensino superior no Brasil estu-dam à noite. As matrículas nos cursos noturnos cresceram de 56,1% para 63,5% nos últimos 12 anos e a maioria delas se concen-tra nas particulares.

É o que apontam os últimos dados do Censo da Educação Superior, divulgado em novem-bro de 2011 pelo Ministério da Educação (MEC). No ano pas-sado, os cursos noturnos da rede federal respondiam por 28% do total de vagas. O crescimento nas taxas de matrículas do ensino su-perior mostra que as instituições públicas ainda não se adaptaram para receber estudantes que são obrigados a conciliar estudos e trabalho.

Nas instituições federais, que concentram 14,7% dos no-vos universitários, predomina o atendimento diurno, oferecido a mais de 70% dos estudantes. No caso das universidades privadas, os números indicam um aumen-to na oferta de vagas noturnas

que, em 2011, corresponderam a 72,8% dos estudantes matricula-dos.

No Paraná, os dados do Cen-so revelam situação semelhante ao restante do país. Quase 80% das mais de 335 mil vagas em instituições privadas são desti-nadas ao período noturno. Já na rede estadual, o índice é 51% e na federal de 36%.

Realidade do estudante

De acordo com Elise Ha-quim, que é doutora em Educa-ção, o menor índice de oferta de vagas em cursos noturnos gera a exclusão social. “Quem estuda à noite e trabalha durante o dia faz isso porque precisa. Quando não se abre vaga para o período no-turno, excluem-se totalmente os trabalhadores do sistema públi-co”, diz ela.

Este é o caso do ex-estudante de administração Fernando Al-cântara Couto de 19 anos, que ganhou uma bolsa pelo (Sisu)

Sistema de Seleção Unificado na UTFPR (Universidade Tecnoló-gica Federal do Paraná), mas não pode estudar no período da noite, pois a Instituição não ofertava esse curso no período noturno. Para não perder a vaga, mudou seu horário de trabalho e come-çou a estudar pela manhã, porém a Universidade exige que os alu-nos participassem de palestras e atividades complementares no contra turno. Essa exigência tor-nou o curso inviável e fez com o estudante desistisse do curso, pois precisa trabalhar. “As Uni-versidades Públicas não estão preparadas para receber alunos que trabalham”, diz.

Zaki Akel Sobrinho, Reitor da Universidade Federal do Para-ná - UFPR, nega a ideia de que as instituições públicas não estão preparadas para abrigar estu-dantes-trabalhadores. De acordo com ele, está ocorrendo um au-mento gradativo de cursos no-turnos na rede pública. “Muitos cursos exigem período integral.

A lógica dos cursos de instituição pública, principalmente nas fede-rais, se concentra em grupos de pesquisas e projetos de extensão, não permitindo que a graduação seja ofertada apenas em um perí-odo”, afirma.

Solução

De acordo com Elise Haquim, A solução para aumentar o núme-

ro das vagas é ampliar a duração do curso. “Se o motivo de não existirem vagas é a dificuldade de fazer pesquisas no período no-turno, poderia se ampliar o tem-po dos cursos. Já existe estrutura nas instituições, o único gasto a mais seria com novos profissio-nais”, avalia a doutora.

Aline ValkiuJoão Paulo N. Vieira

Raíssa Melo

DAS DEZ DA NOITE ÀS SETE DA MANHÃ PROFESSORES INOVAM EM SUAS DISCIPLINAS.

Vestibulandos passam a madrugada em pré-vestibularesNa véspera de vestibulares

cursinhos adotaram uma forma inusitada de preparar os alunos para as provas. O Madrugadão foi uma ideia do Curso e Colé-gio Dynâmico que como o nome já diz, utiliza a madrugada para abordar assuntos estudados em todo ensino médio.

O evento tem como objeti-vo usar a madrugada para fugir da rotina. As aulas começam às dez da noite e encerram às sete da manhã, sendo que depois de quatro aulas, bandas tocam para fazer parte da descontração. Nas aulas, os professores utilizam fantasias para apresentar o con-teúdo, sendo que muitas vezes a fantasia está relacionada com a matéria.

O coordenador do curso, Sér-gio Garcia Junior, conta que o Madrugadão já reuniu mais de

dez mil estudantes desde seu iní-cio, em 2000. Em 2011, reuniu cerca de 800 alunos. Para ele, a aula na madrugada apresenta re-sultados e também é motivo para a procura dos alunos pelo o curso já no início do ano.

O coordenador ainda ressalta que o evento, além de reforçar o conhecimento do aluno, também descontrai de forma construtiva “Ao invés dos estudantes estarem em uma balada ou em uma festa eles estão estudando”, diz Sérgio.

Felipe Ferreira Mattos, que participou do Madrugadão, fala que para ele foi importante ter aulas em horários flexíveis e tam-bém destaca a combinação entre brincadeira e ensino. “As brin-cadeiras ajudam a tirar a tensão do vestibular, fica divertido estu-dar”, diz. Ele ainda conta que o lema do evento é não ficar com

Aline ValkiuJoão Paulo N. Vieira

Raíssa Melo

sono e aprender, pois se o can-didato cochila, os professores li-gam uma música alta, e se o aluno continuar dormindo o professor o chama para fazer perguntas sobre a matéria que leciona.

Em relação aos estudos, Feli-pe concorda que o evento é muito importante, pois todas as dúvidas são tiradas e os professores in-centivam os alunos a não desistir, o que passa confiança para eles.

Este ano o Madrugadão ainda não tem data e local confirmado, mas está previsto para meados de setembro. Mais informações po-dem ser obtidas pelo telefone (41) 3324-3888.

Curitiba, junho de 2012 educação06

Page 7: A noite curitibana

BARES, FEIRAS, BALADAS E RESTAURANTES: O PÚBLICO DE CURITIBA TEM OPORTUNIDADE DE ESCOLHA

Movimento à noite mostra que frieza do curitibano é mitoAs diferentes faces da Curitiba noturna

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Largo da Ordem é um dos pontos turísticos da cidade que mais oferece opção a todos os públicos

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O frio atrai os curitibanos para ambientes fechados

Em 1967, o jornalista e poeta pernambucano, Fernando Pessoa Ferreira, escreveu uma crônica sobre Curitiba que causou revolta na população nativa. “(...) a cida-de é a das mais taciturnas e sor-riso, quando há, provoca o olhar das pessoas chatas que assolam o Paraná”. Mais pra frente, Ferrei-ra ainda declara que a noite curi-tibana é recheada de bares com gostos duvidosos, onde eram fre-quentados apenas por homens. As mulheres não saíam de casa. Em 2012 – mais precisamente 45 anos depois – vemos uma Curiti-ba que não lembra nada o tempo em que o poeta passou por aqui.

A capital paranaense já não é extremamente fria como alguns anos atrás. Com isso, os bares a céu aberto ganharam espaço. O Largo da Ordem – localizado no Centro Histórico de Curitiba – oferece uma gama de opções que lotam as ruas durante várias noites e é conhecido por seu cli-ma de boemia. O Bar do Alemão, um dos mais tradicionais do lo-cal, recebe todo tipo de público, mas principalmente os jovens.

“Pra mim, é o melhor lugar pra reunir os amigos. O ambiente é descontraído e você ouve risadas em qualquer canto”, declara o ad-vogado Thierry Zamboni. Ape-sar dos estabelecimentos ficarem, praticamente, um ao lado do ou-tro, nenhum permanece vazio. “Parece que todos são unidos e, quando não há mesas, nós vamos

subindo a rua e logo encontramos algum outro bar. Eu adoro esse lugar”, diz a enfermeira Daia-na Basseti. O local começou a ganhar destaque com os jovens a partir dos anos 90, quando o público começou a questionar as opções de lazer da cidade. O es-tudante Guilherme Artigas se re-corda da falta de opções da épo-

ca. “Nós tínhamos o Shopping Mueller, o Passeio Público e o Parque Barigui. Os adolescentes começaram a perceber que exis-tiam bares por ali e assim foi se contruindo o que é hoje”, diz.

O Largo é conhecido, tam-bém, por ser uma região violenta, porém, a P.refeitura vem tentan-do mudar essa imagem negativa, instalando câmeras de segurança e postos policiais. “A nova ge-ração tem outra cabeça, tirou a visão marginal daqui, virou um ponto turístico. Isso é bom, pois muita gente tinha até medo de frequentar”, declara a empresária Vilma Ferreira Leite.

Já no Batel, um dos bairros mais nobres da cidade, o que não falta é oportunidade de escolha. Nessa região, o que o público procura é sofisticação. A casa noturna Liqüe é a opção mais cara e luxuosa. Para a designer Maíra Miwa Furukawa, o am-biente transmite exatamente o que o público busca. “As músicas são de qualidade e o ambiente é mais ainda. O público curitibano se identifica com lugares assim”, declara.

A noite Curitiba também re-serva um espaço para os alterna-tivos e GLS. A parcela desse pú-blico já movimenta o cenário da capital, assim como os bares e ba-ladas mais tradicionais. O James

Bar, mesmo com o nome envolvi-do em um escândalo ocorrido re-centemente, ainda é a referência. “Foi aqui que Curitiba começou a ganhar um espaço alternativo em que você podia entrar sem se preocupar com julgamentos alheios ou se comportar como a sociedade diz que você preci-sa”, declara a estudante Marcela Riquel. Além do James, a Cats Club também já tem seu público fiel. Para Leandro Souza, quem frequenta este tipo de lugar tem o pensamento menos conserva-dor. “O que eu percebo é que as pessoas se sentem livres e sem julgamento”.

Teatro

Curitiba é palco do maior Festival de Teatro do Brasil, que ano passado esteve na sua 21ª edi-ção, com um público que chegou a 180 mil pessoas. Entretanto, a população curitibana é famosa nacionalmente por ser “fria” e “fechada”. E isso parece se es-tender também quando se fala em acolhimento aos espetáculos. Provocando certo “medo” nos artistas, declarações e discus-sões sobre a audiência curitibana sempre causam certa polêmica. Para Janaína Matter, atriz e só-cia da Súbita Companhia de Te-atro, falta muita referência para o público curitibano, que conse-quentemente, acaba prestigiando mais as peças que vêm de fora, já que são produções que contam quase sempre com atores mais famosos. Segundo a atriz, quem vai ao teatro em Curitiba são as próprias pessoas que estão envol-vidas nesse meio, artistas ou ain-da algumas pessoas que gostam muito de teatro. Já com relação à fama do público, Janaína expli-ca: “Não sei até que ponto isso é verdadeiro, em termos de teatro é um público sem referência, não sei até onde essa crítica é verídi-ca. Pode ser que seja um mito”, opina.

Mariana D’Alberto El-FazaryRodrigo de Lorenzi Oliveira

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Page 8: A noite curitibana

Renan Machado

Curitiba, junho de 2012 cultura08 Curitiba, junho de 2012 09

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É uma questão de cultura: a noite do curitibano é no barzinho. Em cada esquina, lá estão eles, modestos ou verdadeiros latifún-dios, nos palcos dos quais a músi-ca ao vivo rola solta. Não que isso aconteça apenas aqui. “Mas lá no Rio de Janeiro isso não existe, são raras as exceções. Curitiba tem disso aos montes”, afirma Kadu Lambach, curitibano, guitarrista fundador da Legião Urbana, hoje músico independente que toca em bares da capital paranaense.

Cá está a Avenida do Batel que não o deixa mentir. Sexta-feira. O vento encanado invade o bar, en-quanto Lambach é acompanhado na guitarra por violão e voz de Karol Salih, música curitibana com quinze anos de estrada. MPB de alto nível. A parceria dos dois já perdura por quatro anos e meio. Quase meia década e nada do dito mar de rosas. “É um mercado di-fícil. Não por conta de falta de tra-balho e sim pelo baixo valor dos cachês”, diz Karol.

Hard Hills

Em toda escalada, é árduo o caminho. A dupla é exemplo dos

que muito traba-l h a -

ram

para consolidarem-se no cenário musical. Enfrentaram e enfren-tam adversidades de todo tipo, como a falta de valorização e profissionalismo. Para Karol Sa-lih, o que ocorre é uma falta de união dos músicos, o que gera a discrepância no valor dos cachês. “Sempre existe aquele que cobra menos, principalmente quando está no começo da carreira. Ao passo que o músico vende seu peixe dessa forma, também pre-judica toda a classe”. Segundo ela, apesar da improbabilidade, a solução seria uma padronização do quanto a ser pago. “Começa-ríamos com uma greve dos músi-cos”, brinca.

“As negociações são cruéis”, sustenta Lambach. Para ele, não há reconhecimento dos profis-sionais, muitos dos quais, inclu-sive, estudaram e são formados em música. “Às vezes, mesmo precisando do dinheiro, aconte-ce ser necessário recusar ofertas que não correspondem ao que realmente vale o seu trabalho”, afirma.

Até mesmo fatores externos à realidade dos músicos os afetam. De acordo com Lambach, a re-cessão que aconteceu nos Estados Unidos anos atrás foi um pesade-lo para o mercado musical. Para Karol, tempos de vacas magras vieram com a Influenza A H1N1, a famosa gripe suína. “As pesso-as ficavam em casa e os trabalhos escassos”, diz.

Duplicidade

Tanto Kadu quanto Karol ti-ram seu sustento da música, por apresentarem-se não só em vários lugares durante a semana como em eventos fechados. Contudo, nem um, nem outro, deixam de exercer outras atividades. Lam-

bach é professor particular de violão e guitarra.

Felipe Raicoski

Próximo ao Cemitério Muni-cipal existe um tradicional bar da cidade. Marcio Renato Dos San-tos escolhe uma mesa de canto aos fundos para sentar-se. O lugar é um dos favoritos do escritor, que escreve ficção há mais de vin-te anos. Ergue a mão, pede uma bebida. Apruma-se: “será uma entrevista? Pois sim, deixe-me começar”.

Dos Santos nasceu em Curiti-ba, em 1974. Publicou três livros até o momento. Em 2010, após muita experimentação, estreou na literatura, pela Editora Record, com “Minda-au”, livro de contos. Em 2011, de forma independente, lançou o livro-conto “Você tem a disposição todas as cores mas pode escolher o azul”. Neste ano, foi publicado pela Tulipas Negras Editora com o livro-conto “934”.

Além de escritor, o curitibano é jornalista. Formou-se em 1995 pela PUCPR. Exerceu o ofício em veículos e órgãos da cidade, como a Revista Ideias, onde atuou por cinco anos, Imprensa Oficial e Gazeta do Povo, jornal para o qual escreveu por três anos. Atu-almente trabalha no mercado edi-torial.

Marcio afirma que deixou de frequentar assiduamente ambien-tes noturnos. Além da maturida-de etária, a vida de casado e pai

de um filho passou a impeli-lo a uma vida mais caseira. “No máxi-mo um jantar com minha esposa, de vez em quando. Todavia, ain-da prefiro um almoço”. Domingo então, sem chance. “Começo bem a semana, ligado no mestre Silvio Santos. Sinto-me chateado se per-co o programa”.

Contudo, uma vida agitada de solteiro precede a, em termos, pacata levada hoje pelo escritor. Na época em que escreveu seus primeiros contos, saiu às primei-ras festas. Andava por seus 16 anos. As experiências propiciadas serviam de matéria-prima para a literatura. “A observação desses “habitats”, é algo característico do Dalton Trevisan. Ele retratou a noite curitibana e muitas de suas faces”, diz.

O “Barney”

Segundo Marcio, a noite pode ser vista como uma aventura, com começo e fim. E tudo se inicia com as expectativas. “Na maioria das vezes, quando tem planos para a noite, as pessoas passam o dia criando expectativas”. O escritor chama esse comportamento de “Barney”. “Barney é um perso-nagem infantil da TV, meu filho assiste. Ele é um dinossauro ima-ginário, não existe, assim como

os grandes acontecimentos que as pessoas planejam para a noite e ficam apenas na cabeça”. Con-sequentemente, diz ele, ao passo que o indivíduo deixa de atingir suas “metas”, o final da aventura noturna tende a ser o sentimento de frustração.

Para Dos Santos, as expectati-vas tornam-se literatura por meio de personagens medíocres e ao mesmo tempo pretensiosos. “Tais personagens planejam como se fossem figuras notáveis, mas na verdade são medrosos, o que os leva a serem desprezados”.

“Vampirismo”

De acordo com o escritor, os ambientes noturnos são grandes banquetes, de todos para todos. A intenção predominante é “devorar” aqueles envolvi-dos na mesma situação. “Os bares são antros de vampi-rismo. Flertes, conscientes e inconscientes, são ca-nalizados a esse fim”, afirma.

Segundo o escri-tor, esse “fenômeno” é perceptível desde sempre. “Nunca foi diferente e continua sem mudar”. Em ma-téria de literatura, a percepção dessa realidade volta-se à ficção em textos com uma veia sensual. Si-tuações, ainda que não concre-tizadas, podem ser construídas pelo escritor. “ Novamente , um exemplo expressivo é a literatura do Dalton Trevisan. A cidade está na ficção dele, assim como o vampirismo. E não é pela coisa de ‘vampi-ro de Curitiba’, mas por aquilo que ele escreve e descreve”, diz.

Alameda do Fim do Mundo

A noite não acontece somente nas ruas ou ambientes cujo funcio-namento é destinado a esse horá-rio. Dos Santos afirma que a aura mágica criada em torno da noite é algo universal. “Todas as pessoas comportam-se de forma diferente à noite. Fazem coisas que só são feitas nesse horário, veem o mun-do diferente, respiram diferente”. Portanto, a matéria-prima literária não exige peregrinação noturna, mas quem sabe apenas uma olha-dela janela afora.

“Doutor Pasavento”, de 2006, é um romance do escritor espanhol Enrique Vila-Matas, uma das grandes vozes da literatu-

ra contemporânea e autor bastante admira-

do por Mar-cio Renato. No livro em ques-

tão, o espa-nhol aborda a

questão do desa-parecimento e a von-tade do protagonista de sumir. Na trama, o

fenômeno costumava acontecer em um local chamado de “Alameda do Fim do Mundo”.

Apesar de não ter o costume de sair à noi-

te, Marcio afirma observar o que acontece de uma ótica mais cômoda para si: a sa-cada de seu apartamento. “Muitas vezes paro e olho os outros prédios em volta: as luzes dos apartamentos estão acesas, mas não há nin-guém nas janelas”. De acor-do com o escritor, o fato se deve a um tipo de caso de sumiço. “As pessoas estão

estressadas, cansadas da ro-tina. Sentam-se em seus sofás, ligam a TV e viajam para a Ala-meda do Fim do Mundo, onde irão

desaparecer. Ao menos por um tempo”.

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Para escritor curitibano, a noite é uma aventura

ESCRITOR ANALISA OS COMPORTAMENTOS NOTURNOS

Marcio Renato dos Santos explica como a expectativa e o “vampirismo” tornam-se literaturaNada suave é a noite

Karol é estudante do curso de ma-rketing, no qual forma-se ano que vem, e presta serviço na área para uma rede de bares de Curitiba.

Apesar de tocar gêneros varia-dos, a veia de Kadu Lambach é o instrumental puro. Desde criança foi influenciado por música clássi-ca, uma vez que sua mãe dava au-las particulares de piano em casa. “Eu sentia que a música entrava por meu poros”, afirma. Aprendeu violão, guitarra, e, posteriormen-te, quando deixou a Legião Urba-na, dedicou-se àinda mais à arte dos acordes. Estudou música na Universidade de Brasília e pere-grinou pelo Brasil com fé em seu som”. Deixei a Legião, sem res-sentimentos. Minha amizade com o Renato Russo continuou. Ele me dizia: ‘Paraná, faça que seu instru-mental toque o coração das pes-soas”. Lambach, até o momento, gravou dosi discos “Last Blues”, lançado em 1997 e “Microfonia”, de 1999, ainda não lançado. Ade-mais, tem como projetos em vista o lançamento de mais dois discos: um intitulado “Expressivo” e o outro “Kadu Lambach – O legio-nário do som”, no qual, após aval da família Manfredini, pretende gravar sucessos da Legião Urbana com pegada instrumental.

Renan Machado

CURITIBA É REFERÊNCIA EM MÚSICA AO VIVO

Há mais de uma década, o Tea-tro Lala Schneider apresenta espe-táculos a meia-noite, com o intuito de proporcionar uma opção de di-versão a quem não dispõe de ou-tros horários para ir ao teatro. João Luiz Fiani, fundador da casa é o responsável pela ideia e faz neste horário algo que permite ao ator sair do seu lado sério e formal, po-dendo brincar com o texto e com seu público.

Segundo Rogério Bozza, ator e professor do curso de teatro do Lala, o carro chefe desse horário é a “Casa do Terror”, peça que está na sua quinta versão e está sendo preparada para reestrear no segun-do semestre. Para ele, o ator deve estar em constante aprimoramen-to, sendo importante esse tipo de exercício permanente da função para o aprendizado e a evolução da carreira.

Rogério está em cartaz com a peça “Ah... Damas do Balacoba-co”, em que divide o palco com o ator Marcyo Luz. Enquanto este tem mais experiências com comé-dias como “Damas”, inclusive ten-do feito peças do gênero no eixo Rio-São Paulo, aquele completa 35 anos de carreira tendo pautado sua trajetória no estilo do drama. Os dois ainda dividem o palco em outro espetáculo, intitulado “No

fim da chuva”, que combina mais o estilo dramático de Rogério.

Rogério diz ainda que quem pensou em colocar “Damas” a meia noite foi Fiani, já que o pro-jeto tem caráter experimental e atende a dinâmica proposta ao te-atro a meia-noite. “A ideia (do es-petáculo) surgiu de galhofas de ca-marin durante a “Casa do Terror”, nós apresentamos ao Fiani que abraçou totalmente” diz Marcyo. Ele conta que Fiani participa tam-bém da peça como Diretor do es-petáculo e co-autor do texto pois, segundo Marcyo, “ele escreve muito bem e deu o fio condutor que faltava ao enredo”.

Ah... Damas do Balacobaco

O espetáculo idealizado pela dupla Rogério e Marcyo gira em torno de duas atrizes em final de carreira, que já passaram pelo seu auge e não se conformam com a perda do glamour que rodeava seus camarins. Marcyo explica que “o espetáculo é pautado na vaidade do ator, quando ele se acha um Deus, um intocável” e ainda acrescenta que a proposta é tornar divertido e ao mesmo tem-po criticar o comportamento das estrelas que se julgam superiores, “sempre com o viés do humor”,

complementa Rogério.“É o que acaba acontecendo

com o artista, a medida que ele não consegue administrar o lado artístico e profissional, faz sucesso em cima do palco e acha que aque-le verniz nunca vai sair, e agente sabe que não é assim que a banda toca.” A partir daí, a trama se de-senvolve com base no conflito de egos das duas “divas” e engloba ainda mais quatro personagens, sempre tendo a diversão como guia.

Paixão pelo palco

Rogério diz que “você só se-gue a carreira de ator se tiver essa paixão lá dentro, é um fogo constante que vai reascendendo. É paixão, não existe outra palavra, para se ter uma carreira longa, profícua, é preciso paixão, antes de vocação e talento”.

O entrosamento de anos de pal-co segue no discurso de Marcyo, “o texto nos alimenta, a luz nos move, a paixão pelo ofício, o seu doar pela coisa, é uma vida difícil, mas com o sofrimento é que vem este patamar humano”, finaliza.

TEATRO LALA SCHNEIDER PROMOVE ESPETÁCULOS A MEIA-NOITE

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Atores se preparam para a peça no camarim do Lala

Músicos esbarram em cachês baixos para exercer a profissãoAcordes sustenidos

Ilustração: Renan Machado

Page 9: A noite curitibana

Renan Machado

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É uma questão de cultura: a noite do curitibano é no barzinho. Em cada esquina, lá estão eles, modestos ou verdadeiros latifún-dios, nos palcos dos quais a músi-ca ao vivo rola solta. Não que isso aconteça apenas aqui. “Mas lá no Rio de Janeiro isso não existe, são raras as exceções. Curitiba tem disso aos montes”, afirma Kadu Lambach, curitibano, guitarrista fundador da Legião Urbana, hoje músico independente que toca em bares da capital paranaense.

Cá está a Avenida do Batel que não o deixa mentir. Sexta-feira. O vento encanado invade o bar, en-quanto Lambach é acompanhado na guitarra por violão e voz de Karol Salih, música curitibana com quinze anos de estrada. MPB de alto nível. A parceria dos dois já perdura por quatro anos e meio. Quase meia década e nada do dito mar de rosas. “É um mercado di-fícil. Não por conta de falta de tra-balho e sim pelo baixo valor dos cachês”, diz Karol.

Hard Hills

Em toda escalada, é árduo o caminho. A dupla é exemplo dos

que muito traba-l h a -

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para consolidarem-se no cenário musical. Enfrentaram e enfren-tam adversidades de todo tipo, como a falta de valorização e profissionalismo. Para Karol Sa-lih, o que ocorre é uma falta de união dos músicos, o que gera a discrepância no valor dos cachês. “Sempre existe aquele que cobra menos, principalmente quando está no começo da carreira. Ao passo que o músico vende seu peixe dessa forma, também pre-judica toda a classe”. Segundo ela, apesar da improbabilidade, a solução seria uma padronização do quanto a ser pago. “Começa-ríamos com uma greve dos músi-cos”, brinca.

“As negociações são cruéis”, sustenta Lambach. Para ele, não há reconhecimento dos profis-sionais, muitos dos quais, inclu-sive, estudaram e são formados em música. “Às vezes, mesmo precisando do dinheiro, aconte-ce ser necessário recusar ofertas que não correspondem ao que realmente vale o seu trabalho”, afirma.

Até mesmo fatores externos à realidade dos músicos os afetam. De acordo com Lambach, a re-cessão que aconteceu nos Estados Unidos anos atrás foi um pesade-lo para o mercado musical. Para Karol, tempos de vacas magras vieram com a Influenza A H1N1, a famosa gripe suína. “As pesso-as ficavam em casa e os trabalhos escassos”, diz.

Duplicidade

Tanto Kadu quanto Karol ti-ram seu sustento da música, por apresentarem-se não só em vários lugares durante a semana como em eventos fechados. Contudo, nem um, nem outro, deixam de exercer outras atividades. Lam-

bach é professor particular de violão e guitarra.

Felipe Raicoski

Próximo ao Cemitério Muni-cipal existe um tradicional bar da cidade. Marcio Renato Dos San-tos escolhe uma mesa de canto aos fundos para sentar-se. O lugar é um dos favoritos do escritor, que escreve ficção há mais de vin-te anos. Ergue a mão, pede uma bebida. Apruma-se: “será uma entrevista? Pois sim, deixe-me começar”.

Dos Santos nasceu em Curiti-ba, em 1974. Publicou três livros até o momento. Em 2010, após muita experimentação, estreou na literatura, pela Editora Record, com “Minda-au”, livro de contos. Em 2011, de forma independente, lançou o livro-conto “Você tem a disposição todas as cores mas pode escolher o azul”. Neste ano, foi publicado pela Tulipas Negras Editora com o livro-conto “934”.

Além de escritor, o curitibano é jornalista. Formou-se em 1995 pela PUCPR. Exerceu o ofício em veículos e órgãos da cidade, como a Revista Ideias, onde atuou por cinco anos, Imprensa Oficial e Gazeta do Povo, jornal para o qual escreveu por três anos. Atu-almente trabalha no mercado edi-torial.

Marcio afirma que deixou de frequentar assiduamente ambien-tes noturnos. Além da maturida-de etária, a vida de casado e pai

de um filho passou a impeli-lo a uma vida mais caseira. “No máxi-mo um jantar com minha esposa, de vez em quando. Todavia, ain-da prefiro um almoço”. Domingo então, sem chance. “Começo bem a semana, ligado no mestre Silvio Santos. Sinto-me chateado se per-co o programa”.

Contudo, uma vida agitada de solteiro precede a, em termos, pacata levada hoje pelo escritor. Na época em que escreveu seus primeiros contos, saiu às primei-ras festas. Andava por seus 16 anos. As experiências propiciadas serviam de matéria-prima para a literatura. “A observação desses “habitats”, é algo característico do Dalton Trevisan. Ele retratou a noite curitibana e muitas de suas faces”, diz.

O “Barney”

Segundo Marcio, a noite pode ser vista como uma aventura, com começo e fim. E tudo se inicia com as expectativas. “Na maioria das vezes, quando tem planos para a noite, as pessoas passam o dia criando expectativas”. O escritor chama esse comportamento de “Barney”. “Barney é um perso-nagem infantil da TV, meu filho assiste. Ele é um dinossauro ima-ginário, não existe, assim como

os grandes acontecimentos que as pessoas planejam para a noite e ficam apenas na cabeça”. Con-sequentemente, diz ele, ao passo que o indivíduo deixa de atingir suas “metas”, o final da aventura noturna tende a ser o sentimento de frustração.

Para Dos Santos, as expectati-vas tornam-se literatura por meio de personagens medíocres e ao mesmo tempo pretensiosos. “Tais personagens planejam como se fossem figuras notáveis, mas na verdade são medrosos, o que os leva a serem desprezados”.

“Vampirismo”

De acordo com o escritor, os ambientes noturnos são grandes banquetes, de todos para todos. A intenção predominante é “devorar” aqueles envolvi-dos na mesma situação. “Os bares são antros de vampi-rismo. Flertes, conscientes e inconscientes, são ca-nalizados a esse fim”, afirma.

Segundo o escri-tor, esse “fenômeno” é perceptível desde sempre. “Nunca foi diferente e continua sem mudar”. Em ma-téria de literatura, a percepção dessa realidade volta-se à ficção em textos com uma veia sensual. Si-tuações, ainda que não concre-tizadas, podem ser construídas pelo escritor. “ Novamente , um exemplo expressivo é a literatura do Dalton Trevisan. A cidade está na ficção dele, assim como o vampirismo. E não é pela coisa de ‘vampi-ro de Curitiba’, mas por aquilo que ele escreve e descreve”, diz.

Alameda do Fim do Mundo

A noite não acontece somente nas ruas ou ambientes cujo funcio-namento é destinado a esse horá-rio. Dos Santos afirma que a aura mágica criada em torno da noite é algo universal. “Todas as pessoas comportam-se de forma diferente à noite. Fazem coisas que só são feitas nesse horário, veem o mun-do diferente, respiram diferente”. Portanto, a matéria-prima literária não exige peregrinação noturna, mas quem sabe apenas uma olha-dela janela afora.

“Doutor Pasavento”, de 2006, é um romance do escritor espanhol Enrique Vila-Matas, uma das grandes vozes da literatu-

ra contemporânea e autor bastante admira-

do por Mar-cio Renato. No livro em ques-

tão, o espa-nhol aborda a

questão do desa-parecimento e a von-tade do protagonista de sumir. Na trama, o

fenômeno costumava acontecer em um local chamado de “Alameda do Fim do Mundo”.

Apesar de não ter o costume de sair à noi-

te, Marcio afirma observar o que acontece de uma ótica mais cômoda para si: a sa-cada de seu apartamento. “Muitas vezes paro e olho os outros prédios em volta: as luzes dos apartamentos estão acesas, mas não há nin-guém nas janelas”. De acor-do com o escritor, o fato se deve a um tipo de caso de sumiço. “As pessoas estão

estressadas, cansadas da ro-tina. Sentam-se em seus sofás, ligam a TV e viajam para a Ala-meda do Fim do Mundo, onde irão

desaparecer. Ao menos por um tempo”.

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Para escritor curitibano, a noite é uma aventura

ESCRITOR ANALISA OS COMPORTAMENTOS NOTURNOS

Marcio Renato dos Santos explica como a expectativa e o “vampirismo” tornam-se literaturaNada suave é a noite

Karol é estudante do curso de ma-rketing, no qual forma-se ano que vem, e presta serviço na área para uma rede de bares de Curitiba.

Apesar de tocar gêneros varia-dos, a veia de Kadu Lambach é o instrumental puro. Desde criança foi influenciado por música clássi-ca, uma vez que sua mãe dava au-las particulares de piano em casa. “Eu sentia que a música entrava por meu poros”, afirma. Aprendeu violão, guitarra, e, posteriormen-te, quando deixou a Legião Urba-na, dedicou-se àinda mais à arte dos acordes. Estudou música na Universidade de Brasília e pere-grinou pelo Brasil com fé em seu som”. Deixei a Legião, sem res-sentimentos. Minha amizade com o Renato Russo continuou. Ele me dizia: ‘Paraná, faça que seu instru-mental toque o coração das pes-soas”. Lambach, até o momento, gravou dosi discos “Last Blues”, lançado em 1997 e “Microfonia”, de 1999, ainda não lançado. Ade-mais, tem como projetos em vista o lançamento de mais dois discos: um intitulado “Expressivo” e o outro “Kadu Lambach – O legio-nário do som”, no qual, após aval da família Manfredini, pretende gravar sucessos da Legião Urbana com pegada instrumental.

Renan Machado

CURITIBA É REFERÊNCIA EM MÚSICA AO VIVO

Há mais de uma década, o Tea-tro Lala Schneider apresenta espe-táculos a meia-noite, com o intuito de proporcionar uma opção de di-versão a quem não dispõe de ou-tros horários para ir ao teatro. João Luiz Fiani, fundador da casa é o responsável pela ideia e faz neste horário algo que permite ao ator sair do seu lado sério e formal, po-dendo brincar com o texto e com seu público.

Segundo Rogério Bozza, ator e professor do curso de teatro do Lala, o carro chefe desse horário é a “Casa do Terror”, peça que está na sua quinta versão e está sendo preparada para reestrear no segun-do semestre. Para ele, o ator deve estar em constante aprimoramen-to, sendo importante esse tipo de exercício permanente da função para o aprendizado e a evolução da carreira.

Rogério está em cartaz com a peça “Ah... Damas do Balacoba-co”, em que divide o palco com o ator Marcyo Luz. Enquanto este tem mais experiências com comé-dias como “Damas”, inclusive ten-do feito peças do gênero no eixo Rio-São Paulo, aquele completa 35 anos de carreira tendo pautado sua trajetória no estilo do drama. Os dois ainda dividem o palco em outro espetáculo, intitulado “No

fim da chuva”, que combina mais o estilo dramático de Rogério.

Rogério diz ainda que quem pensou em colocar “Damas” a meia noite foi Fiani, já que o pro-jeto tem caráter experimental e atende a dinâmica proposta ao te-atro a meia-noite. “A ideia (do es-petáculo) surgiu de galhofas de ca-marin durante a “Casa do Terror”, nós apresentamos ao Fiani que abraçou totalmente” diz Marcyo. Ele conta que Fiani participa tam-bém da peça como Diretor do es-petáculo e co-autor do texto pois, segundo Marcyo, “ele escreve muito bem e deu o fio condutor que faltava ao enredo”.

Ah... Damas do Balacobaco

O espetáculo idealizado pela dupla Rogério e Marcyo gira em torno de duas atrizes em final de carreira, que já passaram pelo seu auge e não se conformam com a perda do glamour que rodeava seus camarins. Marcyo explica que “o espetáculo é pautado na vaidade do ator, quando ele se acha um Deus, um intocável” e ainda acrescenta que a proposta é tornar divertido e ao mesmo tem-po criticar o comportamento das estrelas que se julgam superiores, “sempre com o viés do humor”,

complementa Rogério.“É o que acaba acontecendo

com o artista, a medida que ele não consegue administrar o lado artístico e profissional, faz sucesso em cima do palco e acha que aque-le verniz nunca vai sair, e agente sabe que não é assim que a banda toca.” A partir daí, a trama se de-senvolve com base no conflito de egos das duas “divas” e engloba ainda mais quatro personagens, sempre tendo a diversão como guia.

Paixão pelo palco

Rogério diz que “você só se-gue a carreira de ator se tiver essa paixão lá dentro, é um fogo constante que vai reascendendo. É paixão, não existe outra palavra, para se ter uma carreira longa, profícua, é preciso paixão, antes de vocação e talento”.

O entrosamento de anos de pal-co segue no discurso de Marcyo, “o texto nos alimenta, a luz nos move, a paixão pelo ofício, o seu doar pela coisa, é uma vida difícil, mas com o sofrimento é que vem este patamar humano”, finaliza.

TEATRO LALA SCHNEIDER PROMOVE ESPETÁCULOS A MEIA-NOITE

Damas do Balacobaco

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Atores se preparam para a peça no camarim do Lala

Músicos esbarram em cachês baixos para exercer a profissãoAcordes sustenidos

Ilustração: Renan Machado

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EXERCÍCIOS PARA QUEM NÃO TEM TEMPO DURANTE O DIA

Curitibanos podem participar do grupo de ciclistas orientados pela Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude

Raffaela Porcote

Evento promove encontros noturnos

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Segundo Miranda, aqueles que desejam fazer exercícios à noite, principalmente sozinhos, devem estar atentos a es-tas dicas:1. Evite os fones de ouvido: A música pode distrair e, como durante a noite a visão fica prejudicada devido a falta de luz natural, é imprescindível ficar atento ao que acontece ao seu redor;2. Só saia de casa com identificação: Sempre carregue do-cumento de identidade, a carteirinha do convênio de saúde e também algum dinheiro para possíveis inconvenientes;3. Use roupas chamativas: Com a falta de luz, é sempre bom usar roupas claras, com cores vivas ou fluorescentes, e se possível, com refletores;4. Cuidado com o trânsito: Segundo estatísticas do Setran, quase dois terços das ocorrências com pedestres ocorrem no período noturno.

Dicas de segurança

Participantes dividem a rua com os carros durante o Pedala Curitiba

Para aqueles que não têm tempo de praticar exercícios du-rante o dia, devido ao trabalho e outros compromissos, uma op-ção para não deixar de cuidar da saúde é procurar horários alter-nativos para se exercitar. Foi as-sim que nasceu o Pedala Curitiba em 2008. O evento que reúne, to-das as terças-feiras, ciclistas em passeios noturnos pela cidade é organizado pela Secretaria Mu-nicipal do Esporte, Lazer e Ju-ventude (SMELJ). Os passeios, além de promoverem a prática de atividades físicas, incentivam o uso da bicicleta como meio de transporte.

O evento possui um percur-so diferente a cada semana, que varia entre 14 km e 17 km, com nível leve e médio de dificuldade. O trajeto é escolhido pela coor-denação do evento, que avalia as condições de percurso. Segundo o coordenador do projeto, Mar-celo Miranda, depois de feito, o trajeto é enviado à Secretaria Municipal de Trânsito (Setran). “A Prefeitura disponibiliza ser-viços de apoio para atender a

eventuais necessidades. O apoio da Setran é fundamental para ga-rantir a segurança dos participan-tes”, explica.

A concentração dos ciclistas acontece na Praça Garibaldi, no Largo da Ordem, das 19h45 às 20h15. “Mas não há problema do ciclista entrar no grupo em qualquer outro ponto do trajeto. Divulgamos a rota da semana nas redes sociais”, afirma Miranda. Para participar, não é necessário fazer inscrição prévia, mas os in-teressados precisam ter mais de 15 anos e utilizar capacete.

Para a ciclista Priscila Lo-pes, a possibilidade de praticar exercícios à noite, com seguran-ça, a atraiu ao grupo. “Trabalho durante o dia e nunca senti dis-posição física para acordar ainda mais cedo para fazer exercícios e, à noite, eu me sentia um pouco amedrontada. Descobri o Pedala Curitiba e finalmente encontrei a motivação que precisava. Temos acompanhamento e companhia”, afirma Priscila.

Mas não é só isso que atrai os participantes. Para Lucio Hos-

As pessoas que iniciam a prática de exercícios noturnos devem, inicialmente, tomar alguns cuidados para não pre-judicar o sistema imunológico. Sem uma noite de sono re-paradora, a sobrecarga de estresse acumulada no dia e o esforço gerado pelos exercícios físicos podem prejudicar a saúde dos esportistas. Segundo a estudante de medici-na, Rebecca Stival, os desequilíbrios causados pela falta de sono ou pela má alimentação fazem o organismo não render como deveria.

Para Rebecca, é até comum pessoas que se afastam dos exercícios pela falta disposição e ânimo para desenvolver um trabalho constante. “Acabam confundindo uma suposta dificuldade e inadequação ao esporte com hábitos errados. É preciso acompanhar a alimentação e o sono, no início, para ver se há algum desequilíbrio”, explica.

Benefícios e cuidados

- Comece as atividades devagar.- Nunca pratique exercícios em jejum.- Se for jantar é preciso fazer a refeição três ou quatro horas antes dos exercícios.- Se ingerir apenas um lanche, pode esperar apenas uma hora antes da prática.- Alimentos que contenham zinco são fundamentais para quem vai se exercitar após o trabalho, pois eles ajudam a diminuir a quantidade de cortisol, o hormônio ligado ao estresse humano e que, em excesso no organismo, afeta principalmente o coração.- Mesmo a temperatura sendo mais amena a hidratação deve ser contínua, geralmente a cada 15min de exercícios.- Ingerir uma pequena porção de carboidratos antes de pra-ticar exercícios, como cereal integral, pão integral, barrinha de cereal.- Procure por atividades que não te deixem muito excitado, como lutas e afins, isso pode dificultar o sono. Lembre-se de perceber como seu corpo irá reagir aos exercícios notur-nos e procure obedecer os sinais de estresse.

Recomendações

saka, a disciplina do evento, além das trajetórias já pré-estabeleci-das, dão mais seriedade à prática. “Minha dificuldade era manter um ritmo para fazer exercícios. A boa organização do evento me dá estímulo, mesmo quando falta vontade, além das amizades que fazemos. Quando penso em não ir, há sempre um colega para nos chamar”, garante.

Fidelidade

O evento, já tradicional em Curitiba, mantém, em média, cerca de 180 participantes. Se-gundo Miranda, o clima é o prin-cipal fator de alteração na parti-cipação, mas são poucos os que desistem. “Nos períodos de frio a tendência é diminuir. Temos uma grande rotatividade nessa época, mas os esportistas, mesmo ama-dores, acabam criando uma ro-tina, um vínculo com o esporte. No começo, é mais difícil, mas é questão de tempo até se habituar e criar disciplina”, conclui.

Curitiba, junho de 2012 esporte10

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MOTORISTAS IMPRUDENTES APROVEITAM A POUCA FISCALIZAÇÃO

Falta de responsabilidade é mais observada durante a noite, nas vias da cidade. CCO tem papel importante no monitoramento Desrespeito à lei é maior na madrugada

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Flagrante de motorista avançando o sinal vermelho

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Ônibus madrugueiros não tem grande demanda

A incidência de crimes de trânsito têm proporções maiores no período noturno, em Curitiba. São vários os delitos praticados por condutores imprudentes que aproveitam a falta de efetivo po-licial neste período do dia.

Roderley Rodrigues, líder da equipe da madrugada do BP-Tran, lista estacionamento em locais proibidos como ponto de táxi, guia rebaixada, calçada, as infrações mais vistas na noite. O abuso da velocidade e o avanço à sinais fechados, propiciado pelo pouco movimento nas vias, é ou-tro delito citado por Rodrigues.

O efetivo de agentes que trabalham durante a madruga é muito menor que em outros pe-ríodos do dia, e isso fortalece a imprudência no trânsito. “São apenas seis agentes operacio-nais e um agente na sala de rá-dio, muito aquém do necessário e bem menor neste período do

dia”, argumenta Rodrigues.O CCO (Centro de Controle

Operacional) tem papel muito importante para a Delegacia de trânsito no que se refere a infor-mação. Logo verificado o delito, são acionadas as equipes poli-ciais.

Mobilidade urbana

Criado em abril deste ano, pela Prefeitura de Curitiba, o CCO tem por objetivo gerar um trânsito eficiente, tranquilo e me-nos perigoso para motoristas, pe-destres e usuários do transporte público.

O projeto consiste no mo-nitoramento em tempo real do trânsito e do transporte, através de câmeras e painéis, instalados em locais estratégicos na cida-de. A princípio, a fiscalização acontecia apenas no anel viário da cidade. Entretanto, o projeto

é maior do que o monitoramento desta área cidade propriamente dita. Julio Panucio, Coordenador de monitoramento da URBS, diz que o CCO é o ponto de partida para o SIM, Sistema Integrado de Mobilidade, programa que será fixado gradativamente.

O CCO prevê, ao fim do pro-cesso, a implantação de 711 câ-meras. Destas, 622 em terminais e estações tubo, e 89 aplicadas no trânsito, em vias consideradas estratégicas, e, além disso, o mo-nitoramento efetivo da segurança pública, em parceria com a Guar-da Municipal.

No transporte público, serão instalados painéis em terminais, em substituição às placas fixas. Na tela constará a previsão de chegada e o nome de todas as li-nhas de ônibus. Os objetos estão em fase de fabricação.

O processo, a partir do mo-mento que se detecta algum

problema nas vias, depende de cada caso. “Para cada fato, são acionadas as equipes correlatas”, conta Panucio. Na ocorrência de acidente de ônibus, fiscais do transporte coletivo e agentes de trânsito são comunicados ime-diatamente, assim como o SIATE e o SAMU em eventualidades mais graves.

Panucio também destaca que a integração efetiva no transporte

coletivo é o resultado mais satis-fatório até o momento. Outro fato a ser reconhecido beneficamente é a parceria com a Guarda Mu-nicipal, que fará parte do proje-to nos próximos meses. Terá o papel de controlar a segurança pública, e será acionada logo seja constatado o delito.

Fabio WosniakRogério Ferreira

ALÉM DOS HORÁRIOS, A POPULAÇÃO RECLAMA DO GRANDE NÚMERO DE ASSALTOS NA ESPERA DO ÔNIBUS

Usuários do transporte madrugueiro da capital pedem mais segurança Curitiba conta com um exce-

lente sistema de transporte pú-blico, que serve de modelo para o mundo todo. Porém, quando o assunto é ônibus “madrugueiro”, os usuários não concordam com esta afirmação. As principais re-clamações a respeito do serviço são falta de segurança e poucos horários oferecidos pelo sistema.

Em geral, os ônibus que cir-culam neste horário, começam a operar por volta das 5 horas da manhã, o que gera discussão entre os passageiros. Jhonny Castro, funcionário público de 24 anos, utiliza o transporte ma-drugueiro cerca de duas vezes por mês, e diz que não é neces-sária uma ampliação do número de linhas, apenas uma mudança no horário já bastaria. “Não pre-cisava nem ter mais ônibus, mas se eles saíssem meia hora antes já ajudaria muito, pois seria menos tempo de espera no fim de noi-te”, afirma o jovem. Entretanto,

a Auxiliar de Serviços Gerais Amélia Rosa, de 44 anos, que re-aliza serviços no centro de Curi-tiba e depende do transporte ma-

drugueiro pra voltar pra casa, diz que deve haver mais segurança, além de uma ampliação nos ho-rários de funcionamento da rota.

Fabio W. de ChavesRogério Ferreira

“Eu saio do trabalho ás 3h40 e fico esperando até às 5 horas pelo madrugueiro. Já fui assaltada duas vezes esperando o ônibus, deveria haver mais ônibus e mais segurança”, comenta.

Questionado sobre os proble-mas apresentados pelos usuários, Luan Filla, Gestor de Operação de Transporte da URBS, diz que não há nenhum projeto para am-pliação de linhas nem dos horá-rios. “Até o momento não existe previsão de ampliação para ou-tras regiões assim como de ho-rários. Somente uma demanda maior justificaria uma modifica-ção”, completa.

Jhonny concorda que a pro-cura não é tão grande, “a procura é média, sempre tem pessoas pra utilizar, mas nunca fica lotado como em horários durante o dia”.

A respeito da segurança, Filla diz que o papel da URBS é ga-rantir um transporte público de qualidade. “A função da URBS

é garantir aos usuários um meio de transporte de qualidade e conforto, independente se em determinado local os índices de criminalidade são preocupantes, o objetivo é garantir o direito de ir e vir. A segurança pública é de-ver do Estado, garantir a ordem e a segurança em todos os espaços públicos”, salienta.

A equipe do Comunicare en-trou em contato com a Guarda Municipal de Curitiba, questio-nando-os sobre a segurança em pontos e praças da cidade onde estes ônibus fazem suas paradas, mas, até o fechamento desta edi-ção, não obteve resposta.

Curitiba, junho de 2012trânsito 11

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CURITIBA VIGIADA 24 HORAS

Assaltos, pichações e tráfico de drogas são combatidos com o monitoramento noturnoCâmeras ajudam na segurança da cidade

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Curitiba não para. Mesmo quando a grande maioria da po-pulação está na tranquilidade de suas casas durante a noite, existe um lugar que continua funcio-nando para garantir a paz na ci-dade. O Cimec (Centro Integrado de Monitoramento Eletrônico de Curitiba) é um espaço instalado na Praça Osório, onde é realiza-do o monitoramento das imagens captadas por câmeras de vigilân-cia espalhadas pela cidade.

O projeto foi desenvolvido pela Secretaria Municipal da Defesa Social (SMDS), em con-junto com o Instituto Curitiba de Informática (ICI). Além de cap-turar imagens, o sistema também digitaliza e armazena os dados para que o gerenciamento possa ser feito tanto no local quanto re-motamente.

A prefeitura investiu, desde 2008, mais de oito milhões de reais em videomonitoramento

e conta hoje com 116 aparelhos pela cidade, número que aumen-tará para 152 até dezembro.

De acordo com o gerente do sistema de videomonitoramento da SMDS, Supervisor De Andra-de, 70% das ocorrências policiais são visualizadas no período no-turno, principalmente após às 22 horas. “A cidade durante o dia é uma coisa, à noite é outra realida-de”, define. O consumo e tráfico de drogas lideram os flagrantes, seguidos de pichações e assaltos. O local com maior número de ocorrências noturnas é o Largo da Ordem. Desde a instalação desses aparelhos, o número de crimes cometidos caiu 62% no local.

Para De Andrade, só o fato de ter a câmera já intimida a ação do criminoso, além de permi-tir maior agilidade da polícia no atendimento às ocorrências de flagrante, diminuindo o tempo de

resposta. “Os policiais e guardas já sabem os principais pontos de maior probabilidade de conflitos, nós temos essa experiência”, afir-ma. Várias ocorrências de violên-cia já foram evitadas, assim como quadrilhas de traficantes já foram descobertas devido ao monitora-mento noturno. “Visualizando as imagens das pessoas facilita a co-municação com os policiais que estão na rua. Não adianta o mar-ginal trocar de roupa ou de carro, pois está sendo acompanhado”, ressalta.

O Guarda Municipal Ka-minski, responsável pela implan-tação e manutenção do monito-ramento, alega que a população muitas vezes não confia nessas câ-meras de vigilância. “As pessoas preferem a presença física do po-licial e não se dão conta que esse monitoramente facilita e agiliza o processo para evitar ou combater as ações criminosas”, diz ele.

O sistema permite maior vi-gilância com menor número de policiais. “Infelizmente não po-demos estar em todos os lugares ao mesmo tempo e uma câmera faz o trabalho de 20 policiais”, afirma Kamisnki. As ocorrências registradas são tabuladas para

fins estatísticos e as imagens feitas são liberadas apenas para autoridades policiais por meio de uma solicitação oficial.

Rafaela Gabardo

Centro da cidade é monitorado durante a madrugada

seus consumidores deve aumen-tar e pode alavancar o mercado Gamer no país. O empresário Guilherme também acredita que o novo jogo possa ser uma pri-meira aposta num mercado que pode crescer e se igualar a ou-tros mais poderosos, mas estima que levariam pelo menos 10 anos para isso ocorrer.

LAN-HOUSES SÃO OPÇÃO DE DIVERSÃO PARA GRUPO DE JOGADORES

Frag-night, diversão para amigos

Cena do jogo Max Payne 3

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O jogo Max Payne 3 gira em torno de um policial corrup-to que após cometer muitos crimes foge de Nova York e vem trabalhar em uma organização criminosa no Brasil. Com a cidade de São Paulo como pano de fundo, a em-presa Rockstar, produtora de jogos eletrônicos espera alavancar o mercado nacional.

“Frag-night” é a reunião de uma turma viciada em jogos eletrônicos que está disposta a passar noites em claro buscan-do diversão. Os gamers ocupam suas madrugadas em Lan Hou-ses porém já não as lotam como acontecia na década passada.

Para Guilherme Kuss, pro-prietário de uma Lan que fun-ciona há oito anos, antigamente a procura pelo “frag-night” era muito maior. Ele comenta que nos finais de semana a demanda era grande e geralmente faltavam computadores para atender a to-dos os interessados.

Guilherme diz que “a maior facilidade de acesso a uma boa máquina, melhor até que as das Lan Houses, além da facilidade de comunicação com ferramen-tas como o Skype e outras, retira o incentivo do jogador em se des-locar para participar dos even-tos”. Guilherme também ressalta a falta de eventos de qualidade

que incentivem o público, além do baixo investimento das produ-toras de jogos e periféricos como causas do atual desinteresse. Para ele as empresas se retraem muito aos seus mercados e esquecem lugares como o Brasil, em que há possibilidade de crescimento.

Celso Cunha, estudante do Segundo Grau, é frequentador de uma Lan House próxima a sua casa, no bairro Novo Mundo. Ele conta que reúne os amigos na Lan para o frag-night quase todos os finais de semana. Celso acredita que “o espírito de unir a turma toda, de poder se divertir junto, quebrando um pouco aquele gelo que fica entre os jogadores quan-do estão em suas casas” é o prin-cipal motivo que os leva a passar a noite em frente ao computador, juntos na Lan House, “até porque a maioria dos gamers já são ami-gos da escola e moram bastante próximos”, diz ele.

Guilherme Kuss fala ainda

que o perfil dos jogadores mudou, adquiriu um caráter mais popular e voltado para grupos de pesso-as. Segundo ele “antigamente as pessoas faziam “frag” até quatro vezes por mês, hoje em dia não, faz apenas uma, no máximo. O perfil dos jogadores era outro também, era bem elitizado, até porque o preço era outro, a quali-dade era outra também. Hoje em dia é bem mais variado o público, geralmente eles costumam jogar em grupos”.

Guilherme aponta para essa formação de grupos de jogado-res como uma tendência para o público das “frag-nights” e des-taca que são necessários investi-mentos para atrair novos clientes, algo que fica cada vez mais difícil de realizar com a baixa procura pelos eventos. “Trazer o pessoal pra Lan, esse é o ponto, você te-ria que ter um evento muito bem organizado por um grupo, que in-vista em peso, pois a Lan sozinha

não tem mais o que fazer”, afirma o proprietário.

Mesmo parecendo um negó-cio sem perspectivas de melhora para os empresários, Celso ainda acredita nas frag-nights e nas Lan Houses como um mercado que tem possibilidades de melhora. Ele diz que com o lançamento do Jogo Max Payne 3 (veja o box ao lado), a procura das marcas de jogos e periféricos pelo Brasil e Felipe Raicoski

Curitiba, junho de 2012 tecnologia12

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ORGANISMO PODE SER PREJUDICADO PELA FALTA DE DESCANSO

Com a vida moderna, homem se esquece dos princípios naturais do sono

Juliane OkashimaLiris Weinhardt

Luize Souza

Trocando o dia pela noitePara atender a demanda da

vida noturna, que está se tornan-do cada vez mais comum, os tra-balhadores mantêm uma jornada fora dos horários tradicionais.Com a procura por serviços 24 horas, os turnos de trabalho no período da noite, que eram mais comuns nos setores de produção das grandes empresas, passaram a se estender também a serviços como supermercados, restauran-tes, bares, farmácias e postos de gasolina.

No entanto, a vida noturna que movimenta a economia e gera empregos, pode se tornar uma prática nada saudável e aca-bar trazendo prejuízo para a qua-lidade de vida de todos. Inverter o ritmo biológico, seja por neces-sidade profissional ou por sim-ples preferência, pode acarretar em distúrbios para o organismo. O ser humano foi biologicamente projetado para dormir durante a noite.“Como ocorre na natureza, tudo em nosso organismo tem caráter cíclico. Da mesma forma que existem dia e noite, o cérebro obedece a padrões de comporta-mento diferentes, quando muda-mos o ritmo de vigília e sono”, afirma o neurologista Luiz Car-los Benthien. Segundo o médico, sobre o nervo óptico, existem núcleos chamados supra ópticos, que mesmo com as pálpebras fe-chadas, identificam se existe cla-ridade ou não.

Os ritmos internos que regu-lam o funcionamento dos nossos sistemas vitais são sincronizados por marcadores externos. A au-sência de luz, a queda de tempe-ratura do corpo e a secreção do hormônio responsável por regu-lar o sono, chamado de melatoni-na, são fatores que ocorrem nes-se período e oferecem descanso para o corpo e mente. Além disso, os hábitos diários de vida constituem o que se conhece por ciclo circadiano (que significa ritmo acerca do dia), também chamado de relógio biológico. É ele quem faz o controle fisiológi-co, ou seja, é o ciclo que regula as atividades físicas e mentais que sofrem influência direta da alter-

nância entre o estado de vigília e as horas sono.

Quando os ciclos biológicos se alteram, ocasionam fadiga e cansaço excessivo, trazendo con-sequências imediatas para a saú-de física e mental: sonolência, ir-ritabilidade, ansiedade, déficit de atenção, de memória e raciocínio, além de predisposição a doenças cardiovasculares e metabólicas. E não adianta tentar repor a fal-ta de sono durante o dia: a tem-peratura corporal não diminui na intensidade ideal e há maior presença de luz e sons nesse ho-rário, o que atrapalha ainda mais o descanso. A inversão do ciclo gera ainda alterações hormonais, afetando a função cognitiva, a atenção, a memória, o humor, até mesmo o envelhecimento, que se torna mais precoce. “Observando os pássaros podemos notar niti-damente o ritmo da vida. Quan-do escurece, eles se recolhem, e quando amanhece, estão cantan-do. Em função da vida moder-na, o homem se esquece dos princípios naturais do sono. A natureza cria suas re-gras, mas o ser humano não as obedece. Muitas vezes pagamos um pre-ço caro a longo prazo por não seguir as leis naturais”, alerta Ben-thien.

Sérgio Zanetti, trabalha há onze anos como controlador de tráfego em uma con-cessionária rodoviária. Ficou quatro anos tra-balhando somente du-rante a noite e agora nos últimos três, em escala com duas noites por se-mana. Embora sua jornada de trabalho a noite seja mais tranquila é mais cansativa do que durante manhã ou à tarde. Sua profissão exige atenção em todos os horários, pois é preciso estar atento a tudo que acontece com os veículos na pista. “Com certeza eu optaria por trabalhar durante o dia. À noite é muito cansativo. Todos os hábitos mu-dam totalmente, sejam eles de

lazer ou saúde”, afirma ele. No caso de Sérgio a alternância de escala e a variação dos horários para descanso pode aumentar o quadro de cansaço, pois aumenta a irregularidade dos ciclos. “Al-gumas pessoas dizem que você acaba se acostumando a trabalhar somente à noite. Mas, comigo isso não aconteceu. Na verdade, era até meio engraçado, pois ti-nha vezes que eu descansava bem durante o dia e ficava cansado a noite e havia dias em que eu não descansava durante o dia e a noite passava tranquilo”, conta.

Há situações em que o profis-sional pode optar pelo horário a que melhor se adap-ta. É o caso de Ronald Ed-nir de

Cristo, que trabalhava como garçom de um restaurante no período noturno. Recentemente, ele escolheu mudar o horário do expediente para ter uma vida fa-miliar e social mais saudável e se dedicar aos estudos. Quanto ao estresse, Ronald afirma que ele ocorre independente do horário. “Quando mudamos a rotina, es-tamos tão habituados ao horário antigo, que sentimos insônia e dificuldade para descansar bem durante à noite”, conta ele que es-tava se dedicando há seis anos ao trabalho noturno.

Mas, a opção de trabalhar du-r a n t e

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a madrugada não desagrada a todos os profissionais. Emerson Carvalho Botelho Quirino, ge-rente de um bar, sente-se satisfei-to com o seu horário e não pensa em mudar a rotinha que segue há oito anos. Sua jornada começa às 18 horas, quando começa a orga-nizar o salão, abre os caixas, con-firma reservas e seprepara para recepcionar os clientes. “Por vol-ta das quatro da manhã organizo tudo, aciono o alarme e vou para casa. Não sinto nenhum proble-ma de saúde por ter esse hábito, pelo contrário, eu me sinto muito bem. Como moro sozinho, con-sigo descansar perfeitamente”, conclui.

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O TRABALHO DA FUNDAÇÃO DE AÇÃO SOCIAL NO RESGATE AOS DESABRIGADOS

Com 643 moradores de rua identificados em maio, a FAS desempenha papel importante no auxílio à populaçãoInclusão social para os moradores de rua

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A senhora Olinda, que diz ter adotado as enfermeiras como filhas

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A feira do Água Verde, a mais movimentada segundo os feirantes

Inaugurado em 1996, o “Centro Pop Resgate Social” tem como principal função ajudar os moradores de rua de Curitiba. De janeiro a maio de 2012 foram 1895 pessoas atendidas pelo pro-grama oferecido pela FAS (Fun-dação de Ação Social). Mais de 150 trabalhadores e voluntários trabalham para colocar o progra-ma em prática.

Na capital existem dois “Cen-tros Pop” especializados em mo-radores de rua, o primeiro é o “Resgate Social”, onde o atendi-mento envolve a abordagem, ca-dastro, cuidados de higiene e saú-de, alimentação e albergagem. O outro é o “Centro João Dorvali-no Borba”, onde encontram-se as oficinas sócio-educativas – com aulas de inclusão digital e gera-ção de renda – para onde são en-caminhados os moradores de rua depois dos primeiros cuidados.

Luciane Silveira dos Anjos,

gerente do “Centro de Resgate Social” há dez anos, diz que o principal objetivo do programa é a inclusão social dos moradores de rua, e que a maior procura pelo Centro ocorre nas noites de in-verno por jovens, principalmente do sexo masculino, que não têm lugar para dormir. “Tem noites que chegamos a abrigar 300 pes-soas”, comenta.

Por outro lado, ela afirma que levar os moradores de rua para o local é um trabalho que envolve convencimento e deman-da tempo e esforço. “Em grande parte dos casos eles já têm um esquema de vida, mas tentamos convencê-los de que é possível ter melhores condições”. Lucia-ne diz que o objetivo é mostrar para os desabrigados que a rua não é um lugar de moradia, e que com a ajuda da FAS eles podem traçar novos objetivos, “mesmo assim muita gente não aceita, e

não podemos obrigá-los”, afirma.

Os cuidados de saúde

Médico do programa há sete anos, o doutor Roberto Rosens-tein diz que o principal mal que acomete os moradores de rua são as drogas, principalmente o álco-ol e o crack. Rosenstein faz, em média, 30 atendimentos diários, e o procedimento mais comum é a desintoxicação. “Fazemos todos os dias. Algumas pessoas che-gam muito debilitadas e são ime-diatamente encaminhadas para a Unidade de Saúde, onde recebem soro e os primeiros cuidados”.

A senhora Olinda Felipe dos Santos passou três meses moran-do embaixo de um viaduto e há um ano e meio foi encontrada pela equipe do Resgate Social. Desde então frequenta o centro diaria-mente. “Aqui eu recebo atenção, faço exames, pego meus remé-

dios, tomo café, converso e me distraio. Gosto daqui e não quero ir embora, só depois que eu mor rer”, brinca.

Serviço

Os abrigos precisam de doa-ções de agasalhos. Para entrar em contato, ligue: (41) 3310-7500.

Encontrou algum morador de rua? Disque 156 ou entre em contato por meio do site: www.central156.org.br/.

O “Centro Pop Resgate So-cial” fica na Rua Conselheiro Laurindo 792, e permanece aber-to 24 horas por dia.

Daniela Hendler

FEIRAS NOTURNAS SE POPULARIZAM EM CURITIBA

Feiras oferecem opções de lazer e gastronomia para todosNem mesmo o feriado de

Corpus Christi, com um frio de 9°C e uma garoa insistente impediu diversos curitibanos de prestigiar as feiras noturnas da capital. Atualmente existem nove feiras noturnas distribuídas em Curitiba e três feiras gastro-nômicas. Todas ocorrem das 17h às 22h, cada uma em um dia da semana.

As feiras noturnas foram criadas para atender a população que trabalha durante o dia e não consegue ter acesso a produtos variados, com qualidade e pre-ço atraente oferecidos nas feiras matinais. A pioneira foi a Feira Noturna de São Francisco, cria-da em 1991, que traz uma com-binação de feira livre (frutas, verduras, frios, pescados, ervas e temperos) e uma praça de ali-mentação com comidas típicas de diversas partes do mundo.

Com uma barraca na Feira do Água Verde desde 1992, os pro-

prietários da “Pastel Yamashiro” transformaram sua banca em um ambiente familiar. Oriel Pereira dos Santos, que trabalha no mes-mo local há aproximadamente 15 anos, diz que, apesar dos proble-mas de trabalhar na rua, esse é um emprego que vale a pena tan-to na questão financeira quanto pelo bom relacionamento com a clientela. “É mais fácil faltar bar-raca do que faltar freguês, eles são muito fiéis”, afirma. Ele tra-balha junto com a esposa, a filha e a cunhada em sua barraca.

Patrick Muchinski trabalha em feiras noturnas há oito anos e diz que essa é sua única fonte renda. Na barraca, vende espeti-nhos com quatro funcionários e trabalha todas as noites em diver-sas feiras da capital.

Frequentadora das feiras, Mariângela de Lima diz que o ambiente está mais seguro. “Já foi mais perigoso. A feira lota muito, mas agora existem vários poli-

ciais espalhados por aí”, comen-ta. Acompanhada pelo marido e pela filha, ela afirma que a varie-dade de alimentos e a qualidade são bem atraentes, embora consi-dere o preço um pouco acima do esperado.

Disputa por vagas

Conseguir vaga para montar uma barraca não é tão simples e as filas de espera são grandes. De acordo com Oriel Pereira, o ideal é comprar o alvará e a barraca de alguém que já esteja no ramo.

O procedimento padrão exe-cutado pela Secretaria Munici-pal do Abastecimento (SMAB) acontece por processos lici-tatórios ou por meio do edital de abertura de vagas. Elas são anunciadas através de publica-ções no Diário Oficial do Muni-cípio, páginas da prefeitura na internet e/ou fixadas em edital próprio da sede da SMAB. A Tamires Favaro

abertura de vagas acontece quan-do algum feirante desiste do pon-to ou é aberta uma nova feira.

Outro fator que faz com que a seleção seja mais rígida é a fiscalização das barracas e dos alimentos servidos. De acordo com o 2° parágrafo do art. 12 da Portaria da SMAB nº 27/2006, ao passar na primeira etapa do pro-cesso, a CEAT (Centro Educa-

cional Anísio Teixeira) indica um técnico para inspecionar as con-dições higiênico-sanitárias do lo-cal de produção, manipulação, ar-mazenagem e também formas de transporte dos alimentos comer-cializados para garantir a quali-dade ao consumidor.

Curitiba, junho de 2012 geral14

Page 15: A noite curitibana

CONDUTORES DE TAXIS DA NOITE CURITIBANA VIVEM INCERTEZA

Profissionais que trabalham à noite em Curitiba e RMC reclamam da falta de segurança e falam da ousadia dos bandidos

Ademar Santos

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Joacir passou por um assalto inusitado na capital

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Os criminosos que assaltam condutores de táxis em Curitiba premeditam a prática do crime e, geralmente, usam táticas inusitadas para atrair os taxistas. Segundo José Loacir, taxista que trabalha à noite na cidade, é co-mum o criminoso contar uma história dramática para um porteiro de condomínios ou de empresas e pedir para chamar um carro. “Um dia, eram umas dez horas da noi-te, eu fui chamado na portaria de uma empresa, o telefo-ne registrado na central era da empresa. Cheguei lá, ha-via um casal na portaria. O rapaz, acompanhado de uma menina bem trajada, me disse que a esposa desconfiou da sua demora no trabalho e foi encontrá-lo. Quando eles entraram no carro anunciaram o assalto. Levaram o carro, que depois eu recuperei. Fui questionar ao por-teiro da empresa, ele me disse que o casal pediu pra ele chamar o táxi porque estavam com medo de andar à noi-te no bairro”, relata o taxista.

Crimes são premeditados

Para taxistas da noite, cada corrida é uma incógnita

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Diretor Presidente do Sinditaxi-PR, Abimael Mardegan

Os taxistas de Curitiba e Região Metropolitana esperam solução para a falta de seguran-ça no trabalho noturno. Assaltos acontecem com frequência con-tra esses profissionais, principal-mente durante a noite, devido ao fato da criminalidade se intensi-ficar nesse período na cidade.

A profissão de taxista foi regulamentada recentemente pela Lei 12.468/11 e beneficia o profissional em aspectos como seguro previdenciário, piso sala-rial ajustado pelos sindicatos da categoria e possibilidade da cria-ção de entidades representativas em níveis municipal, estadual e federal. Porém, na questão da segurança, ainda não existe ne-nhum projeto efetivo que garanta a tranquilidade aos trabalhado-res.

Os condutores de táxis não têm como se prevenir de um as-salto durante uma corrida, pois os usuários têm sempre o mesmo perfil, o que torna cada viagem uma incógnita. “Entram duas ou três pessoas no carro e a gen-te não sabe se são pessoas bem ou mal intencionadas”, comenta Odney Gonçalves de Souza, ta-xista há 35 anos na Capital.

Para Odney, além da falta de segurança, existe também o pre-conceito de alguns usuários que se acham no direito, segundo ele, de subestimar os taxistas, devido às situações que eles enfrentam no exercício da profissão. “De vez em quando, acontece de pe-garmos passageiros que abusam, que humilham, pensam que so-mos inferiores. Isso já me acon-teceu muitas vezes”, lembra.

O Sindicato da categoria, não dispõe de dados estatísticos con-cretos sobre assaltos que são co-metidos contra taxistas na capital e RMC. “A maioria dos casos de assaltos sofridos por motoristas de táxis em Curitiba não são con-tabilizados”, explica o Diretor Presidente do Sindicato dos Ta-xistas do Paraná (Sinditaxi-PR), Abimael Mardegan. Ele comenta que os crimes acontecem geral-mente à noite e são praticados por indivíduos usuários de dro-

gas. “90% dos assaltos que acon-tecem são cometidos por pessoas atrás de dinheiro para comprar craque”, afirma.

Segundo o diretor, os moto-ristas não possuem nenhum meio de se prevenir contra crimes du-rante a noite. “O taxista só vai sa-ber quem é o passageiro que ele transporta, no final da corrida. A segurança ao taxista infelizmente não existe, é o taxista e Deus”, la-menta Abimael.

O presidente do Sinditáxi-PR sugere que, para melhorar a se-gurança aos taxistas noturnos a polícia intensifique as rondas e blitz, principalmente nas noites de sexta-feira e sábado, que são os períodos em que, segundo ele, acontecem mais assaltos contra condutores na cidade.

Melhoria na Segurança

Conforme Abimael Mar-degan, a diretoria do Sindicato aguarda a efetivação de um pro-jeto de melhoria na segurança aos motoristas de táxis de Curitiba. Trata-se da parceria com a Guar-da Municipal de Curitiba (GMC), que deverá monitorar os táxis da cidade, nos dois turnos, através do Sistema de Posicionamento Global (GPS). “Esperamos que passem as eleições pra sabermos quem vai ficar no comando da Guarda Municipal, que é nome-ado pelo prefeito, então, precisa-mos nos sentar e pôr a coisa pra funcionar”, pondera.

O vice-presidente do Sinditá-xi-PR, Mário Cunha, comentou à reportagem do Comunicare que,

se nada acontecer da parte do Se-tor Público, o sindicato pretende concretizar um projeto próprio, que preve da contratação de em-presas de segurança privada para monitorar os carros. O serviço prestado pelas empresas seria de escolta, feito pelos próprios vigilantes dos bairros, quando a central identificasse o aviso, através do GPS, do motorista em circunstâncias perigosas. “Entra um suspeito no carro, o taxista aciona um dispositivo que avisa a central, os vigilantes já identi-ficam pelo GPS e acompanham o táxi”, explica Cunha.

Até o fechamento desta edi-ção, a Polícia Militar não respon-deu à reportagem.

Curitiba, junho de 2012segurança 15

Page 16: A noite curitibana

contra-capa CURITIBA, JUNHO DE 2012 - ANO 16 - NÚMERO 208 - 3º PERÍODO DE JORNALISMO NOTURNO DA PUCPR

“Sabe onde ele mora”, perguntei ao meu irmão. Ele disse que não. Ah, subi a Amin-tas. Onde já se viu? Tomei um caminho contrário para mostra-lo o antro do vampiro. “Para onde você vai? Ainda preciso encontrar meu céu”, ele me disse. O céu esperava há tempos. Que esperasse um pouco mais.

A história verdadeira é que errei o caminho. Cai ali por pegar a saída errada na via rápida. Contaria ao meu irmão se o polegar fosse menos apressado; menos carrancudo com um pois, pois qualquer. Calei-me. Disse a ele que o vampiro fizera aniversário e o desprazer da visita não consumada seria nosso presente.

Da esquina oposta indiquei o casarão: é ali. Eu vibrei quando soube; ele não se sur-preendeu. Idiossincrasias à parte, a fique desapontado. Acelerei o auto, virando à direi-ta. “Aqui não, o prédio atrapalha”, lamentava meu irmão. Tremenda patifaria. “Arre, horizonte esfumaçado”; procurava um céu das arábias. Atrasaríamos para o jantar. Não me dei ao trabalho de ligar para mamãe por pura

preguiça. Tampouco meu irmão. Havia ainda uma entrega pendente; a empreitada de meu irmão na busca do céu perfeito se seguia. “Nenhum é perfeito, ainda mais à noi-te”, pensei. Mas não o disse. Ele ficaria chateado.

Foi uma volta das grandes. Se soubesse do desprezo que sofreria, deixava pra lá. Que-ria saber do céu. Capacho sob o qual brilham as luzes da cidade. Céu é uma ova. Desejei o fim do céu; seu lugar seria ocupado por uma lona preta.

Nada aconteceu. Aliás, nada de lona preta. Acontecer aconteceu. Mas o contrário. Ele encontrou o bendito céu. Estava lá, aberto. Não tão estrelado, mas imaginei que aquele fosse como o das arábias. Talvez parecido.

Passei lotado com o auto; um pouco por birra. Meu irmão disse que voltaria ali. Re-gistraria o céu. Surpreendeu-me ele não pedir que parasse o carro na hora. “Esse sim era é um céu para a capa”, exaltou. Não faltava mais nada. Seria a capa do vampiro.

Fizemos a entrega e ainda jantamos em casa. Mamãe esperou. Quanto ao céu, a es-pera fica por conta do sucesso. Prometi a meu irmão que escreveria um soneto duplo sobre aquele dia; o fiz à minha maneira. Ao menos ele me agradeceu por errar de rua.

Em busca deCuritiba perdida

Renan Machado