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a^rmcíencía d orar com ^ lesus C arlos Q ueiroz

A Nossa Oracao de Cada Dia - Carlos Queiroz

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  • a^rmcenca d orar com ^ lesus

    C a r l o s Q u e i r o z

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    O lh and o as Escrituras, como se Jesus Cristo estivesse dizendo aos discpulos: Primeiro, vocs precisam descpnstruir as formas religiosas de orao antes aprendidas. Ento, de imediato, a tarefa saber como no se deve orar; depois, ser mais fcil entender como se deve orar.

    Orar um estilo de vida e, com Cristo, no aprendemos a orar com a mesma lgica dos gurus das religies. Ningum nunca nos ensinou a respirar, simplesmente , respiramos. E como se Jesus Cristo estivesse dizendo aos seus discpulos; Quando vocs orarem, simplesmente orem. As religies ensinam tcnicas de orao como meio de sensibilizao das divindades. Com o Pai celestial, essas tcnicas no fazem sentido.

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  • A ORAO NOSSA DE CADA DIA - APRENDENDO A ORAR COM JESUS Categoria: Espiritualidade / Estudo bblico / Vida crist

    Copyright 2013, Carlos Queiroz

    Primeira edio: Maro de 2013 Coordenao editorial: Bernadete Ribeiro Preparao e reviso: Lcia Rosaiee Santana Diagramao: Bruno Menezes Capa: Ana Cludia Nunes

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (C IP)(Cm ara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Queiroz, CarlovS

    A orao nossa de cada dia : aprendendo a orar com Jesus / Carlos Queiroz. Viosa, MG : Editora Ultimato, 2013.

    ISBN 978 -85 -7779 '086 -9

    1. Espiritualidade 2. Orao de Jesus 3- Presena de Deus 4. Vida espiritual - Cristianismo I. Ttulo.

    13-01956_________________________________________________________________________________

    ndices para catlogo sistemtico: C D D -242.72

    1. Orao de Jesus: Teologia devocional 242.72

    PUBLICADO NO BRASIL COM AUTORIZAO E COM TODOS OS DIREIT0S RESERVADOS

    E d it o r a U l t im a t o Lt d a Caixa Postal 43 36570-000 Viosa, M G Telefone: 31 3611-8500 Fax: 31 3891-1557 www.ultimato.com.br

    A marca FSC a garantia de que a madeira utilizada na fabricao do papel deste livro provm de florestas que foram gerenciadas de maneira ambientaJmente correta, socialmente justa e economicam ente vivel, alm de outras fontes de origem controlada.

  • Su m r io

    PREFCIO 7A p r e s e n t a o 9C o m o n o o r a r - o r a o e h i p o c r i s i a 15C O M O NO ORAR - ORAO E IDOIATRIA 21C O M O ORAR O U CO M O VIVER? 31A ORAO MODELO 43INTIMIDADE E SOBERANL\ 47Sa n t i d a d e e t e s t e m u n h o 57GOVERNO E HISTRL\ 61CO M U N H O E BENS 69ORAO E PERDO 73ORAO E TENTAO 79AMM 89

  • PREFACIO

    APRENDEMOS A ORAR LENDO LIVROS?

    Lembrcvme de bons autores que me ajudaram a crescer na vida de orao. E agora chegam as reflexes de Carlos Queiroz sobre a orao do Pai-Nosso. Muitos de ns conhecemos irmos e irms de orao que nunca leram um livro sobre o assunto. E possivelmente j ouvimos reflexes sobre a orao de pessoas que no oravam. No o caso de Carlos. Ele fala do que faz e do que . Dos meus amigos, o mais marcado pela vida de Jesus.

    Aprender a orar no algo tcnico, com cinco pontos para l e sete para c. Oram as pessoas que desenvolvem uma intimidade duradoura com Deus e que assumem um compromisso conseqente com sua vontade. Oram os que fazem uma reviso de vida constante na presena de Deus, os que buscam pureza de corao e lutam por um mundo transformado pr amor e justia, as duas normas do reino de Deus. A vida de orao nos leva a fazer de nossa vicia inteira uma orao.

    Primeiro, precisamos encontrar um lugar e um tempo para estarmos totalmente transparentes na presena de Deus. E na solido e no silncio que superamos os rudos de dentro e de fora, e Deus transforma nossos coraes. Ento, comeamos a refletir sobre seu carter e nos tornamos pessoas com discernimento espiritual.

  • n ^r/L/r msso. ca o.

    Segundo, a vida de orao firmada em uma relao ntima com o Pai bondoso, mas cujos mistrio e soberania nunca deixam de existir. Orar no s pedir coisas, nem manipular pessoas ou situaes. ser cativado pela presena misteriosa do amor inefvel e ser transformado por ele.

    Terceiro, santificar o nome de Deus no aumentar sua santidade, mas torn-la visvel por meio da converso e do arrependimento, especialmente por meio de uma vida ntegra e pura, que testemunha a santidade de Deus porque a reflete em todas as dimenses de vida.

    Quarto, a vida de orao nos torna inconformados com o mundo e nos faz sonhar com o reino de Deus e sua justia. Orar como Jesus orou tem implicaes sociais, polticas, econmicas e ambientais.

    Quinto, vida de orao vida de generosidade. Quer po para todos. A falta de po tem a ver tanto com a falta de Deus, bem como com a falta de justia. A vida de orao no se preocupa em acumular, mas tem o poder de compartilhar.

    Sexto, a vida de orao uma vida que abraa e reconcilia. Quem recebe o perdo de Deus aprende a perdoar tanto ofensas como dvidas. Cultiva um senso de comunidade, e nunca o individualismo, muito menos o rancor, o dio ou amargura.

    Stimo, a vida de orao discerne as suas tentaes e vence o mal com o bem, embora tenha conscincia de que a vida pode ser desvirtuada. Por isto se apega vontade de Deus como bem supremo. Vida de orao conduz ao comprometimento.

    A Orao Nossa de Cada Dia deve ser lido de maneira meditativa, ponderada. Aos que assim o fizerem, brotar uma vida de orao mais significativa.

    Manfred Grellert

  • [apresentao]

    ORAO, UM ESTILO DE VIDA

    Certo dia Jesus estava orando em determinado lugar. Tendo terminado, um dos seus discpulos lhe disse: Senhor, ensina-nos a orar, como Joo ensinou aos discpulos dele.L U C A S 11.1-2

    O s d i s c p u l o s de Jesus Cristo pediram que ele lhes ensinasse a orar, como Joo Batista havia ensinado aos discpulos dele. Pos- sivelmente, os discpulos de Jesus Cristo estavam condicionados aos formatos das oraes de sua cultura religiosa. Em muitas religies, a orao praticada de maneira burocrtica, com tcnicas conduzidas por mestres especializados, de modo que os iniciantes

  • 10 'oxr MSSO, ( co 0.

    precisam ser treinados para fazer as suas preces de acordo com o enquadramento e forma de tais mestres especializados.

    Na verciade, h muitas lies a serem aprendidas dessas pedagogias litrgicas; todavia, elas no so suficientes para aten- der s peculiaridades de cada pessoa. H pessoas organizadas e sistemticas, que conseguem se conectar com peas literrias de orao mais estruturadas, para quem uma forma litrgica bem elaborada pode fazer algum sentido. Mas h tambm pessoas de vida espiritual dinmica, cuja prtica de orao acontece de maneira livre e espontnea, sob a inspirao das atividades cotidianas e diante das surpresas e dos acontecimentos imprevisveis da vida. A informalidade e a espontaneidade so caractersticas, por exemplo, das comunidades carismticas e das pentecostais populares.

    Com certeza os discpulos presenciaram Jesus Cristo orando vrias vezes. Alguma coisa de especial nas oraes do Mestre deve ter causado admirao. Pode ter sido a sua eficcia, pois, de fato, suas oraes eram sempre respondidas. Havia uma conexo permanente entre o Jesus Cristo de Nazar e a vontade de Deus. Ele rogava, pedia, intercedia e o Senhor respondia. Os discpulos queriam a mesma eficcia? Estavam realmente interessados em aprender? Independente das motivaes, eles queriam que Jesus lhes ensinasse a orar.

    Em geral, pensamos que h um jeito poderoso de dobrarmos Deus aos nossos interesses e aspiraes. Sempre acreditamos em tcnicas especiais para a orao. Conhecemos vrias expresses como orao poderosa, orao de fogo, orao forte, orar com ousadia, orar com determinao etc. Sermos ousados em nossos propsitos e projetos da vida uma coisa; sermos ousados e determinados como tcnica para

  • pressionar Deus quando oramos pura relao idoltrica e desconhecimento da graa e soberania de Deus.

    A princpio, a forma pode fazer algum sentido para quem ora, mas para o Deus eterno, que nos acolhe em nossas oraes, o mais importante a comunho e a relao entre Pai e filho. Ento, quando os discpulos pediram a Jesus Cristo que lhes ensinasse a orar, qual foi a sua resposta?

    O r a r u m m o d o d e s e r

    EM COMUNHO COM DEUS

    Aprender a orar com o Jesus Cristo de Nazar uma das mais fascinantes descobertas para o caminho de nossa espiritualidade. Para ele, orar um estilo de vida, um modo de ser em comunho com Deus. Com ele, no aprendemos a orar segundo a lgica repassada pelos gurus das religies. Assim como respirar funciona para a oxigenao do corpo, orar existe para a pneumatizao da alma. Ningum nunca nos ensinou a respirar, simplesmente respiramos. E como se Jesus Cristo estivesse dizendo aos seus discpulos: quando vocs orarem, simplesmente orem. As religies ensinam tcnicas e artifcios como meio para sensibilizar as divindades. Para o Pai celestial, essas tcnicas no fazem sentido.

    A orao no evangelho no ensinada, degustada com o paladar do corao, contemplada com os olhos da interioridade, escutada no silncio profundo da alma, sentida pela aproximao invisvel de Deus. A orao a experincia que gera um sentimento de se viver na companhia de Deus.

    O pedido dos discpulos est na narrativa de Lucas, mas usamos aqui o texto de Mateus 6.5-13 para explicar o ensino de Jesus sobre a orao.

    ajiment/T 11

  • Na narrativa de Mateus, o Mestre procurou, primeiro, desconstruir os dois arqutipos negativos mais usados nas oraes para, depois, explicar como orar:

    No orar com o arqutipo mental dos hipcritas - Os religiosos acreditam em si mesmos, de tal maneira, que fazem suas preces nos espaos pblicos em busca de publicidade pessoal (Mt 6.5).

    No orar com o arqutipo mental dos gentios - Estes acreditam em artifcios espirituais eficientes, capazes de curvar os dolos aos seus interesses (Mt 6.7).

    Como se deve orar - Depois da desconstruo, Jesus ensina o que espera da orao de seus discpulos (Mt 6.9-13)

    Observando bem o texto, como se Jesus estivesse dizendo aos discpulos: primeiro vocs precisam desconstruir as formas religiosas de orao aprendidas anteriormente. Ento, de imediato, a tarefa saber como no se deve orar e depois ser mais fcil entender como se deve orar.

    Com Jesus, aprendemos que a orao no cabe numa estrutura fechada e burocratizada. A orao to dinmica quanto a vida, to livre quanto o Esprito Santo que a fecunda. Quem ora, nasceu do Esprito e, tal qual o vento, no sabe de onde vem, nem para onde vai Qo 3.8). Quem assim ora-, fica apenas na certeza de que Deus se interessa, cuida, supre o necessrio. Ele cuida das aves dos cus e dos lrios dos campos, e cuida muito mais dos seus filhos e filhas (Mt 6.26-34).

    O RISCO DE SE TIRAR A MULETA

    SEM OFERECER UMA PERNA

    Esperamos no falhar na pedagogia desta apresentao. Poderamos apresentar primeiramente como se deve orar. Vamos

    12 a. nm. i

  • comear, porm, pela desconstruo dos dois arqutipos negativos apontados por Jesus - a orao dos hipcritas e a orao dos idlatras. Na metodologia de Jesus Cristo aplicada a Nicodemos, o Mestre lhe disse: Voc precisa nascer de novoQo 3.3). Ou seja, se Nicodemos no nascesse de novo, todo o ensino repassado por Jesus seria entendido e interpretado por ele a partir de seus arqutipos mentais, formatados nas suas experincias culturais e religiosas anteriores.

    Portanto, usando essa mesma lgica da desconstruo, co- mecemos explicando, primeiro, como no se deve orar. Mesmo assim, ainda corremos um risco.

    Ainda hem jovem, fraturei a perna esquerda jogando futebol. Ele precisou usar muletas por mais de trs meses. Elas foram necessrias para um corpo doente. Evidentemente, ele preferia a minha perna sadia, com a qual poderia caminhar e correr livremente. Quando ele se percebeu melhor, desistiu das muletas. No andou bem de um dia para o outro, mas foi retomando o ritmo, o jeito natural de andar. As muletas foram escoras necessrias, porm totalmente descartveis quando as pernas se fortaleceram. Eram as pernas que completavam o seu corpo em sua totalidade. Ento, no vamos tirar as nossas muletas religiosas sem oferecer pernas sadias para a nossa peregrinao espiritual.

    yirmntcbM 13

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    COMO NO ORAR- ORAO E HIPOCRISIA-

    ^ ^ quando vocs orarem, no sejam como os hipcritas. Eles gostam de ficar orando em p nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos outros. Eu lhes asseguro que eles j receberam sua plena recompensa.MATEUS 6.5

    J ESUS C r i s t o no est condenando as oraes feitas nos espaos pblicos. Ele mesmo orou vrias vezes publicamente. Jesus no est nos animando a vivermos uma espiritualidade enclausurada, privada e individualista. Seu propsito desmascarar a futilidade do uso publicitrio da orao para o prestgio pessoal. E assim o estilo dos hipcritas: gostam de

  • orar em p nas sinagogas e nos cantos das praas, para serem vistos dos homens. Nos ambientes religiosos, exigem as pri- meiras cadeiras, tiram proveito de smbolos arquitetnicos que sinalizem o seu status espiritual. Os paramentos religiosos, as liturgias, as regras cerimoniais do aos hipcritas a chance de manipulao, controle e domnio sobre as pessoas. Muitos se utilizam desta estrutura para tratar as outras pessoas com legalismo perverso e se revelam incoerentes por no usarem o mesmo rigor com seus pecados e erros. Conforme afirmou Jesus Cristo, os hipcritas engolem camelos e se engasgam com mosquitos. Colocam fardos pesados sobre os outros e no os ajudam a carreg-los (Mt 23).

    Os hipcritas conhecem pouco sobre graa, misericrdia, bondade e amor de Deus. So pessoas insensveis e vo se tornando desumanas e perversas. Em nome da religio, so capazes de matar pela indiferena e, muitas vezes, tiram a vida literalmente. Basta observarmos na histria as Cruzadas, a Inquisio ou as guerras religiosas.

    Algumas pessoas oram, mas no esto interessadas em se comunicar com Deus. Esto mais preocupadas em impressionar os seus observadores. Jesus usa o termo orao para essa prtica publicitria, apenas para efeito de comunicao da ideia. Mas no h como chamar de orao essa prtica litrgica em que o orante chama a ateno do pblico em beneficio prprio. As frases construdas nessas oraes so elaboradas como se fossem uma comunicao dirigida a Deus, quando, na verdade, so dirigicJas aos ouvidos da platia. Em geral, so construdas com frases sofisticadas, retrica rebuscada, entonao de voz que impressione os ouvintes, como se aquele que ora estivesse possudo por um poder sobrenatural.

    16 a. [^ ncr rurssa.

  • ema nrn (m r - crcLff e ti^ crisit

    Em certa reunio, uma pessoa assumiu o microfone logo depois de ter sido convidada para fazer uma orao. L pelo meio da prece, a aparelhagem de som deu um problema e o microfone no parou de funcionar. De imediato, o rapaz interrompeu a orao e perguntou; Vocs esto me ouvindo?. Este episdio pode ter sido apenas a manifestao de um ato falho. Ou seja, no consciente imediato, o cidado estava usando frases e expresses de orao a Deus, mas, no inconsciente mais ntimo, estava se comunicando com o auditrio e no com o Senhor.

    Essa ilustrao tem suas limitaes. A reao do orador pode ter sido reposta ao condicionamento causado pela utilizao da tecnologia e no pretendemos estimular ningum a fazer julgamento das oraes das pessoas. Precisamos, porm, avaliar nossas motivaes e propsitos quando estivermos orando. No oremos como os hipcritas. Eles oram para serem percebidos pelas pessoas. No esto interessados em nenhuma comunicao com Deus.

    As oraes tambm possuem beleza potica. Os ritos cerimoniais pblicos so inspiradores. O aprendizado pela repetio ou pela esttica do ambiente comunica, de maneira pedaggica, muitas verdades importantes sobre a vida. Jesus Cristo no est menosprezando o ato pblico e litrgico da orao (lembremos que ele mesmo orou em pblico muitas vezes). Ele est condenando a utilizao da orao como artifcio para publicidade e promoo pessoal. Na verdade, Jesus Cristo conhece as limitaes e os riscos das artimanhas estticas. Ele explicou isto vrias vezes: falou sobre odres velhos e vinho novo; chamou os escribas e fariseus de sepulcros caiados; denunciou a hipocrisia dos religiosos quando fez referncia ao

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    cuidado que tinham para lavar as mos e o exterior dos copos, sem a mesma preocupao com o mundo interior do copo. Todas essas analogias foram apresentadas para nos ajudar a valorizar a nossa tica mais profunda, o ncleo bsico do nosso carter, que naturalmente ser percebido ou no pelas nossas expresses estticas.

    Quando oramos com o Jesus Cristo de Nazar, vamos aprendendo que o ensino sobre a orao ntima e pessoal uma disciplina espiritual, que nos ajuda a crucificar tanto o exibicionismo c|uanto a hipocrisia.

    No h problemas em orarmos publicamente. Na verdade, no Novo Testamento, aprendemos que a orao uma prtica coletiva. Oramos ao Pai nosso (primeira pessoa do plural). Referindo-se a orao, Jesus disse: Se dois de vocs concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes ser feito por meu Pai que est nos cus. Pois onde se reunirem dois ou trs em meu nome, ali eu estou no meio deles (Mt 18.19-20). Em carta aos corntios, Paulo faz referncia necessidade de que se ore com inteligibilidade, para que as demais pessoas possam confirmar dizendo amm (IC o 14.16). A orao pblica , tambm, um exerccio de edificao da comunidade (IC o 14.17.). Judas, irmo de Tiago, escreveu: Edifiquem-se, porm, amados, na santssima f que vocs tm, orando no Esprito Santo Od 20).

    Portanto, oramos publicamente para aprofundarmos a comunho da igreja com Deus, para edificarmos uns aos outros, para servirmos aos tristes e aflitos em suas dores, seus conflitos e desalentos. Quando oramos em comunidade, mantendo o sentimento de temor a Deus, comprometidos com a prtica do amor e servio s pessoas, somos libertos da arrogncia e dos pedidos egostas e individualistas.

  • Crm n/r arnr - dma e ijuci

    Resumindo, o problema no a orao pblica, e, sim, a m utilizao que fazemos dos espaos pblicos e das oportu- niciades que nos so oferecidas pelas nossas comunidades. O problema o artifcio, o engano, a hipocrisia. Os religiosos hipcritas oram e usam estticas superficiais com o fim de atrair o reconhecimento das pessoas - porque gostam de orar em p nas sinagogas, e nos cantos das praas, para serem vistos dos homens.

    H pessoas que usam a lgica dos hipcritas com tcnicas diferentes, como o uso da entonao da voz, intercalaes com repeties de slabas e sons ininteligveis, como se fos- sem lnguas estranhas (glossolalia). H situaes pblicas que chegam ao ridculo, como certos segmentos em que algumas pessoas, enquanto oram, comeam a danar fazendo movimentos frenticos com os ps. Essa manifestao conhecida pejorativamente como sapatinho de fogo. Em alguns espaos religiosos, presenciamos manifestaes ou espetculos nos quais os homens, principalmente, fazem rodopios, lanando socos e pernadas ao ar, com movimentos semelhantes aos das lutas marciais. Essas manifestaes se do em espaos pblicos. Sem plateia, os religiosos exibicionistas e hipcritas perderiam o objetivo de serem vistos e reconhecidos pelas pessoas.

    As oraes com fins publicitrios existem nos ambientes mais ritualistas e burocrticos tanto quanto nos movimentos mais populares. Mudam as roupagens, os estilos, os formatos, mas, na essncia, as distores so as mesmas. Em geral, quem ora como os hipcritas, expressa sinais de arrogncia e prepotncia. Em qualquer ambiente pblico, estamos sujeitos a cair na tentao do exibicionismo, busca por publicidade pessoal, reconhecimento e fama. No importa o movimento religioso -

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  • 20 ^ruff nassa d! ca a.

    desde movimentos liderados por pessoas sem acesso educao formal, at onde se encontram os que transitam no mundo acadmico, o perigo est sempre presente.

    A humildade a virtude fundamental da orao. A conscincia de pecado, pessoal e coletivo, essencial nos ensinos do evangelho. Por isso, a primeira exortao do Jesus Cristo de Nazar ; Quando orardes, no sejam como os hipcritas.

    Logo a seguir, vamos verificar que o ensino sobre a orao ntima e pessoal uma disciplina espiritual, que nos ajuda a crucificar tanto o exibicionismo quanto a hipocrisia.

  • [2 ]

    COMO NO ORARORAO E IDOLATRIA

    E quando orarem, nofiquem sempre repetindo a mesma coisa, comofazem os pagos. Eles pensam que por muitofalarem sero ouvidos. No sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocs precisam, antes mesmo de o pedirem.MATEUS 6.7-8

    V im o s q u e o s hipcritas se expressam com arrogncia e buscam publicidade pessoal. Eles oram em p nas esquinas das praas e nas sinagogas para serem percebidos pelas pessoas. Os gentios, por sua vez, apelam para a crena em seus mtodos e artifcios de manipulao e controle de suas divindades - ... pensam que pelo seu muito falar sero ouvidos....

  • 22 ^roL/r ntrssa, ca a.a. \yraa/r nma,

    Estamos considerando gentio os religiosos que se relacionam com o mundo sagrado com a concepo de que so capazes de dobrar as divindades para atenderem seus interesses e expectativas.

    O primeiro aspecto - Nesta parte, falamos sobre os agentes da religio, aqueles que tomam as decises e controlam o espao religioso. No espao religioso idoltrico, como os devotos sero ouvidos se o dolo no tem audio nem inteligncia?

    O segundo aspecto - Aqui, explicamos algo sobre as crenas ou tcnicas de manipulao que os devotos ou os empreendedores mgicos das religies presumem possuir nos monlogos de orao s suas divindades. Neste caso, estamos considerando a orao um monlogo, porque o dolo tem boca, mas no fala.

    OS AGENTES DA RELIGIO

    E O ESPAO RELIGIOSO IDOLTRICO

    Toda religio depende de trs agentes principais para o seu funcionamento: a) divindade(s), b) sacerdote(s) ou especialistas da religio e, c) devotos. Os demais elementos so desdobramentos da criatividade dos especialistas e dos devotos da religio. Eles vo criando lugares e elementos ou smbolos de poder, utilizados exclusivamente pelos empreendedores do negcio religioso. A religio, como uma expresso social, possui outros aspectos - desde sua representatividade pblica, estrutura organizacional, hierarquias, conjunto de ensinamentos referentes doutrina religiosa at questes morais e ticas. Aqui, refletiremos somente sobre os trs agentes referidos acima: a divindade, o sacerdote e os devotos.

    O dolo no tem inteligncia nem vontade; consequentemente, os sacerdotes ou agentes mgicos da religio e

  • c/m
  • antes de seus deuses, razo pela qual, na Bblia, os dolos so identificados como seres inanimados. No veem, no cheiram, no andam, no se comunicam etc., e tanto o sacerdote quanto o devoto tm controle e domnio sobre eles. Fruto da inveno imaginativa das pessoas e elaborados a partir de realidades objetivas anteriormente conhecidas, podemos identificar os dolos visveis ou primitivos, representados por objetos, figuras humanas, animais, elementos da natureza etc.. - objetos sagrados; e os dolos modernos, representados pelas ideologias, esquemas religiosos, pela mo invisvel do mercado, por um poder poltico etc.

    dolo visvel - divindade materializada em objetos sagrados

    No a sacralidade do objeto religioso que define a idolatria e sim a forma como os seres humanos se relacionam com tais representaes. Quando se d ao objeto o reconhecimento de poder sobrenatural, est estabelecido a o DNA para a idolatria visvel. Diante dessa crena, se fazem oferendas, sacrifcios, preces, trocas de favores, na expectativa de que a divindade escute e reaja aos apelos dos devotos. Veremos mais adiante que, na prtica, essa uma relao entre os clientes e os empreendedores da religiti e no entre o dolo (objeto inanimado) e as pessoas.

    O modelo de idolatria visvel denunciado por Moiss, Isaas e outros profetas:

    Portanto, tenham muito cuidado, para que no se cotrom- pam fazendo para si uni dolo, uma imagem de alguma forma semelhante a homem ou mulher, ou a qualquer animal da terra, a qualquer ave que voa no cu, a qualquer criatura... Deuteronmio 4-15h-18

    24 a, \^ ra{(Ur w m ite a

  • em a ncur m r - crdcur e i/ntm 25

    O ferreiro apanha uma ferramenta e trabalha com ela nas brasas; modela um dolo com martelos, torja-o com a fora do brao. Ele sente fome e perde a fora; passa sede e desfalece. O carpinteiro mede a madeira com uma linha e faz um esboo com um traador; ele o modela toscamente com formes e o marca com compassos. Ele o faz na forma de homem, de um homem em toda a sua beleza, para que habite num santurio.Isaas 44.12-13

    Paulo sempre considerou os dolos insignificantes:

    Portanto, em relao ao alimento sacrificado aos dolos, sabemos cjue o dolo no significa nada no mundo e que s existe um Deus. Pois, mesmo que haja os chamados deuses, quer no cu, quer na terra (como de fato h muitos deuses e muitos senhores), para ns, porm, h um nico Deus,0 Pai, de quem vm todas as coisas e para quem vivemos; e um s Senhor, Jesus Cristo, por meio de quem vieram todas as coisas e por meio de quem vivemos. Contudo, nem todos tm esse conhecimento. Alguns, ainda habituados com os clolos, comem esse alimento como se fosse um sacrifcio idlatra; e como a conscincia deles fraca, fica contaminada. A comida, porm, no nos torna aceitveis diante de Deus; no seremos piores se no comermos, nem melhores se comermos [...]. Ser que o sacrifcio oferecido a um dolo alguma coisa? Ou o dolo alguma coisa?1 Corntios 8.4-8; 10.19

    dolo invisvel - perceptvel nas conjunturas de dominao e explorao

    O dolo moderno uma projeo criativa do devoto ou do sacerdote, chegando a ser, no mximo, resultante das interaes humanas de poder e dominao e somente em algumas

  • 26 ^m U mssa. ( ca

    vezes materializados em forma de objetos sagrados. A idolatria moderna de mercado, por exemplo, no possui um dolo religioso. A sua crena est fundamentada no poder do dinheiro. As bnos do dolo de mercado so mensurveis a partir de critrios econmicos e de sucesso dos seguidores das regras e doutrinas do mercado. As divindades do mercado protegem os empreendedores e os clientes da explorao e do lucro e exigem o sacrifcio dos no consumidores e excludos do poder de compra.

    Apenas para efeito de ilustrao de uma idolatria invisvel, lembremos a esttua de ouro construda por Nabucodonosor, no perodo em que Daniel e outros jovens judeus foram levados como escravos para a Babilnia. A adorao ao poder blico e econmico do imprio de Nabucodonosor era anterior edificao da esttua. A materializao visvel da idolatria se deu com a construo daquele monumento, mas a experincia idoltrica invisvel j era evidente. O imperador era visto como divino, seu poder militar reverenciado e temido por todos. Na verdade, o que denominamos de invisvel uma realidade concreta, que nem sempre assume uma natureza religiosa, mas exerce domnio sobre a vida das pessoas .^ Como exemplos modernos podemos observar a divinizao do estado totalitrio ou da economia neoliberal.

    Quantas vezes o povo hebreu foi exortado pelos profetas a confiar em Deus em vez de confiar no poder blico da Babilnia ou do Egito? O caso mais evidente aconteceu quando o Israel trouxe para o espao econmico e religioso a figura de Baal, divindade que representava a prosperidade econmica dos fencios. Acreditava-se que Baal era o deus da chuva, portanto, divindade que beneficiava todo o progresso agrcola e da pecuria daquela poca.

  • em a na/r m r - ar^ cur e i/aJtria,

    A idolatria existe tam bm em torno de dolos no materializados em forma de objetos religiosos. Nas religies que usam menos smbolos e objetos sagrados, os dolos invisveis so mais sutis e difceis de serem discernidos. O dolo de mercado, representado pelo dinheiro, adorado por ateus e religiosos igualmente materialistas. Nesse caso, a confisso da crena em Deus, enquanto se adora ao deus dinheiro, to pecaminosa quanto o atesmo.

    Sobre o dolo de mercado, usam-se expresses que lhe do um sentido de personificao: o mercado amanheceu nervoso, o mercado est agitado. Mesmo assim, no o dolo em si mesmo que exerce qualquer controle ou domnio sobre a situao. No mundo corporativo, os ricos buscam o lucro e as benesses a qualquer custo, mesmo sacrificando no altar dos seus negcios milhares de seres humanos espoliados e injustiados. Na religio, so os empreendedores da empresa religiosa e suas instituies quem mais tira proveito das benesses ou sacrifcios dos clientes.

    No ambiente idoltrico, os clientes e os agentes mgicos da religio so senhores da liturgia e das oraes. Eles dominam e controlam as relaes religiosas. E como exercem esse controle? Como intermediam as oraes entre os clientes/devotos e as suas divindades? Vejamos a seguir.

    OS SACERDOTES, OS DEVOTOS E AS TENTATIVAS

    DE MANIPULAO DA DIVINDADE

    Como vimos, na idolatria o adorador relaciona-se com o sagrado com a concepo de que tem controle sobre as suas divindades. Facilmente entendemos essas relaes quando

  • 28 ^ra/r nma c a a.

    lembramos que tais divindades so dolos, portanto, entidades sem inteligncia, vontade, iniciativa, enfim, sem poder algum. Sendo assim, o orante define, a partir de seus interesses, o que suas divindades devem fazer.

    Em qualquer ambiente idoltrico h a crena de que os devotos ou clientes e os sacerdotes mgicos possuem alguma tcnica poderosa para dobrar as divindades aos seus interesses. A magia funciona como elemento bsico da transao entre os clientes e a mediao dos sacerdotes, de modo que se passa a acreditar que os objetos consagrados ou as frases mgicas possuem poder para modificar vidas e situaes, seja para o bem, seja para o mal.

    Na idolatria, acredita-se que o devoto ou cliente, atravs de um agente intermedirio, manipula, negocia ou determina o que o dolo deve fazer. Logo, aqueles que oram repetindo palavras, jarges, acreditando que essas tcnicas inclinam Deus aos seus desejos, esto orando semelhana dos idlatras.

    Na orao do Pai-Nosso, Jesus Cristo se referiu s pessoas que acreditam que os seus deuses lhes escutam pela muita repetio das palavras. Tais pessoas entendem essa maneira de orar como uma frmula, cuja finalidade manusear a fora divina em servio dos interesses egostas dos devotos ou clientes da religio.

    No mundo cristo, h tambm aqueles c|ue se utilizam de modelos idoltricos, achando que, usando uma frase correta. Deus ir lhes atender. Quem sabe, usando um argumento forte baseado nas Escrituras, uma promessa, por exemplo. Deus ir curvar-se aos seus interesses. Esses artifcios de manipulao no mudam em nada. Deus conhece todas as nossas necessidades, e nos atende por causa do seu amor, graa e misericrdia.

  • cm c m a orar - oro^ oxr e i rc 29

    Isto no significa que no devamos pedir alguma coisa em orao. Significa, sim, que estamos pedindo a um Deus que conhece, antecipadamente, todas as nossas necessidades. Seu relacionamento conosco de amor e confiana. Tambm, sendo um Deus soberano, conhecedor de todas as coisas, no se permite ser manipulado por nossos interesses egostas e materialistas. Deus pleno em sabedoria, tem vontade prpria e projetos eternos, no vive circunscrito s limitaes do jogo de interesses imediatistas de seus filhos e filhas.

    Certos ensinos sobre orao dizem que precisamos orar com ousadia, com determinao. Deus atende aos ousados e determinados. Nas Escrituras, o mximo que encontramos que Deus no despreza um corao quebrantado e contrito (SI 51.17b). Mesmo nesse texto, o propsito falar muito mais sobre a atitude de c^uem ora do que sobre ensinar alguma tcnica para sensibilizar Deus aos nossos pedidos.

    Nem mesmo, a maravilhosa frase em nome de Jesus Cristo far c]ualc]uer sentido se o objetivo de nossa orao no fizer parte dos propsitos eternos de Deus. Orar em nome de Jesus Cristo no uma tcnica de magia. Orar em nome de Jesus Cristo orar em torno das coisas e propsitos em que Jesus Cristo garante o seu aval, orar discernindo a vontade de Deus.

    Em suma, Jesus Cristo estava ensinando aos discpulos uma outra forma de se viver a experincia da orao. Chamamos de outra forma pelo fato de ser diferente da burocracia to conhecida e imposta pela religio. Mas, na verdade, estava sendo retomada a gnese da relao livre e espontnea dos seres humanos com Deus - O Deus que sopra nas narinas, que ao mesmo tempo cria e domina toda a natureza, visita-a na virao do dia, mantm dilogo com a humanidade criada - expe

  • 30 r^
  • [3]

    COMO ORAR OU COMO VIVER?

    aMas quando voc orar, v para seu quarto, feche aporta e ore a seu Pai, que est em secreto. Ento seu Pai, que v em secreto, o recompensar.MATEUS 6.6

    A ORAO uma experincia singular para cada ser humano. Como ela nasce da conexo com o Esprito Santo, em relao com o mundo de nossa intimidade pessoal, cada orao apresentar, tambm, o mistrio da singularidade de cada pessoa. Portanto, no possvel criar um arqutipo nico e fechado para a orao. No podemos fechar as possibilidades criativas de

  • 32 I . ^ r/r ntrssa. d ca

    nossas oraes. Muito pelo contrrio, precisamos entender ciiie orar se libertar de todas as algemas e dependncia da religio e de seus controladores. O c^ ue parece liberdade, nas variadas possibilidades burocrticas das oraes religiosas, na essncia funciona como esquemas de fidelizao e dependncia dos clientes empresa religiosa. Ou, no mnimo, dependncia na maneira de se proceder orao.

    A orao praticada por Jesus essencialmente libertadora. Ele no cria regras impossveis e sacrificiais. Ele nos anima a voltarmos pelo caminho mais natural de nossa interioridade em busca do mistrio da presena de Deus, em comunho com a nossa essncia pessoal. Como refluxo cJo amor encontrado em Deus, em orao, passamos a amar e a cuidar das pessoas como amamos e cuidamos de ns mesmos.

    Portanto, a respeito da orao, vamos aprender com o Jesus Cristo de Nazar muito mais sobre o nosso estilo de vida do que sobre as burocracias ou sobre as tcnicas de orao, como fazem os religiosos.

    Quais as recomendaes bsicas feitas pelo Mestre sobre a orao?

    O r a r a b r i r o c o r a o e m r e s p o s t a

    AO CONVITE d e DEUS INTIM IDADE COM ELE

    Mas quando voc orar, v para seu quarto..."

    O termo grego que deu origem traduo para quarto tameion. Mas quarto no representa a mesma imagem arquitetnica do termo em referncia. O tameion era uma espcie de depsito subterrneo da casa, onde se guardavam os equipamentos da agricultura ou pecuria. Aquele tipo de ambiente da casa em que

  • depositamos nossas quinquilharias, os vrios cacarecos quebrados. Pela desarrumao ou pela sujeira acumulada, o tameion pode depor mal contra a nossa capacidade de organizar a vida. Dificilmente algum convidaria uma pessoa para conversar em um lugar to bagunado. Por isso o tameion aquele ambiente da casa para onde levamos somente as pessoas da nossa mais profunda intimidade. E o tipo de lugar em que ficamos despidos e no nos envergonhamos, no sentimos necessidade de nos esconder debaixo de qualquer capa. Muitas vezes, a tambm que guardamos nossos tesouros escondidos.

    Para algumas pessoas, ainda que seja importante manter o hbito de orar em algum lugar especfico, orar no tameion no tem uma cc^notao meramente geogrfica. Na verdade, o tameion o espao confuso da alma, o ambiente dos segredos mais ntimos, o nosso mundo interior escondido e de pt>rtas fechadas.

    Orar entrar nesse quarto ou nesse compartimento confuso do corao para cultivar e desfrutar graciosamente da ternura do Pai, de modo que a orao passa a ser uma condio interior da mais plena transparncia diante de Deus. Jesus Cristo no recomenda abrirmos a porta desse quarto to ntimo para todas as pessoas, mas est dizendo que Deus no est fora dele. Deus j estava l, conhecendo todas as coisas e toda a nossa intimidade, e, como habitante de nosso quarto interior, o Esprito Santo nt)s cativa com ternura para consolidao de uma amizade mais slida. Respondemos ao envolvimento do Esprito Santo quando oramos. Por isso, orar viajar com Deus no espao de nossa humanidade mais profunda e, na aventura desta viagem, conhecermos mais sobre Deus, com quem seremos capazes de reconstruir, na quietude da alma, o sentimento de humanidade que fomos perdendo pelo caminho.

    cm c m r au em a H nr ( 33

  • 34 a ^rcL/r nirssa. ( ca a^

    Orando no Esprito Santo, acolhemos melhor a revelao sobre Deus e desvendamos mais o ncleo bsico de nosso ser interior.

    Feche a porta...A figura da porta muito fecunda. Uma porta aberta pode indicar acolhimento, receptividade, aceitao. Uma reunio de portas fechadas sinaliza o acolhimento e tratamento de assuntos de interesse apenas das pessoas na parte interior da sala. Mas, nesse texto, do mesmo modo como quarto no um espao geogrfico, porta tambm no uma pea de madeira ou ferro facilitando ou impedindo a passagem de algum. Porta aqui o canal de comunicao da alma humana com o eterno Deus.

    O apstolo Joo, em Apocalipse 3.21, apresenta Jesus Cristo como visitante de nossa casa interior, batendo porta de nossa alma, sinalizando que est do lado de fora, na expectativa de que, para o nosso prprio bem, tomemos a iniciativa de abertura pela orao e, assim, possamos desfrutar da mais ntima e profunda comunho com ele.

    Nesta primeira figura da porta. Deus est do lado de fora e ns abrimos a porta para a sua entrada. Na figura da porta de Mateus 6.6, no Pai-Nosso, Deus j est em secreto no quarto de nossa interioridade, ns que precisamos entrar e fechar a porta. Talvez fechar a porta para no sairmos em busca de aspiraes e respostas que no tenham sido construdas na intimidade com o Pai. Portanto, esses textos, usando a porta como figura, sinalizam a nossa atitude de abertura para conhecermos melhor sobre Deus e sobre ns mesmos atravs da orao. Deus bate porta de nossa alma, aguardando o nosso acolhimento, em orao, para o desfrute da comunho com ele.

  • em a amr au cama ftn r ?

    Em outra analogia, Jesus Cristo se apresenta como a porta- eu sou a porta (Jo 10.9). Ele a mediao entre ns e Deus, indicando o nosso trnsito livre de acesso ao Pai.

    No texto Mas quando voc orar, v para seu c^uarto, feche a porta e ore a seu Pai, que est em secreto, a figura da porta fechada sugere um ambiente de intimidade profunda. O Pai j est em secreto no tameion. Ento, ns que precisamos entrar no ambiente da orao e fechar a porta para mantermos uma atitude de permanente comunho com Deus.

    Muitas vezes ns no conhecemos o que se passa no poro de nossa interioridade. H muito tempo estamos fugindo das verdades sobre a nossa singularidade mais intrnseca. Olhamos e julgamos as circunstncias e pessoas em nosso entorno, contudo, no tomamos a iniciativa de mergulhar em nossa interioridade. Por isso, orar com Deus no tameion se colocar diante do Jesus Cristo de Nazar, o reflexo da figura humana que precisamos alcanar. No tameion, olhando como, por um espelho, somos transformados, de glria em glria, at a prpria imagem e semelhana do Filho (2Co 3.15-18).

    Na intimidade com Deus, cada um descobre esse mistrio de si mesmo. Orar desvendar o mistrio de ser acolhido pelo Pai na privacidade da vida, na intimidade da solitude, na experincia em que no se consegue encenar, esconder ou maquiar quem somos. O Pai v em secreto e j sabe de tudo. Ele nos conhece bem. Orar no lugar secreto a orao confidencial, ntima e pessoal, de modo que cada pessoa possa se descobrir e se conhecer melhor, pois o Pai j nos conhece completamente. No h nada em nossa vida que Deus no conhea; no apenas as nossas prticas cotidianas, que revemos quando exercitamos a memria, mas tambm a nossa composio singular mais profunda, que muitas vezes no conhecemos. Esse mistrio

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  • 36

    de si mesmo pode ser desvendado no espao amplo da orao feita e conduzida pelo Esprito Santo, que conhece e sonda todas as coisas.

    Quem ora em profunda intimidade com Deus vai conhecendo mais a respeito dele e, quanto mais conhece sobre Deus, mais descobre sobre si mesmo. Descobrir-se em orao uma virtude da qual poucas pessoas desfrutam. Em orao, temos a chance de descobrir nossas inadequaes, contradies, fraquezas, fortalezas, virtudes, pecados. Em intimidade com Deus, desvendamos todas as poeiras e quinquilharias do cjuarto de nossa interioridade. Nada do que existe dentro de nosso mundo interior est escondido aos olhos de Deus. Em geral, vivemos cegos sobre quem somos. Em orao ntima com Deus, podemos discernir melhor o misterioso ser humano escondido nos compartimentos de nossa alma.

    Sendo assim, orar j no depende de ambiente e sim de entrega e amizade com Deus. Orar encontrar em Deus a paternidade da mais elevada confiana e intimidade. Sendo a orao um lugar interior de confiana em Deus, uma condio da alma c]ue descansa no Senhor, a orao j no depende de lugar, gestos e formas. Podemos orar no quarto ou fora dele, num deserto solitrio ou numa noitesilenciosa; ajoelhados ou no, rosto em terra, com ou sem lgrimas. O importante e significativo na orao manter uma relao ntima de total apreciao pelo Pai.

    Orar no tameion abraar a vida com todas as suas contradies e impercias, acolhendo todos os sentimentos, inclusive os inexplicveis. A vida deve ser primeiramente degustada e, quando possvel, interpretada e compreendida. Em orao, aprendemos a viver usufruindo das elaboraes que geram melhor entendimento e apreciao pela vida.

    ^m ci- nassa i ca a.

  • cmff arar au cama yatr 37

    Precisamos orar com a atitude de quem aprendeu a cuidar de si mesmo, amando a Deus e a todas as pessoas. Orar como exerccio de comunho com Deus no silncio do deserto da alma, para lidar com todos os rudos externos e aprender a discerni-los. Em orao, os rgos dos sentidos estaro mais habilitados para distinguir as vozes vindas de fora. A orao ntima no um fechamento para dentro de si e, sim, um dilogo distanciado com os nossos sentimentos e o mundo de fora para, assim, percebermos melhor as vrias necessidades, oportunidades e desafios da vida. Desse modo, a orao passa a ser uma construo, sob a cooperao do Esprito Santo, ajudandonos a elaborar as nossas dvidas, fraquezas, dores, certezas e esperanas, ou mesmo os muitos sonhos perdidos.

    Diante da complexidade da vida, em orao podemos nos perceber amados e acolhidos por Deus. Quando a orao se transforma no desfrute da graa, do amor e da bondade de Deus, como resposta nos tornamos pessoas amveis e graciosas. Quem se percebe amado e perdoado por Deus, aprende a amar e perdoar aos outros. Diante da experincia do acolhimento de Deus, aprendemos a acolher, com ternura, nossos irmos e irms, mesmo que, tragam consigo suas limitaes e fraquezas, que, na essncia, so limitaes e fraquezas da mesma natureza daquelas que levamos conosco quando nos achegamos a Deus.

    A orao alicerada na intimidade com Deus toma-se pblica como testemunho de uma vida marcada pelo amor, bondade, justia e paz. O testemunho da vida de quem ora, usando o estilo de Jesus Cristo, ser percebido de longe, tal qual uma luz colocada no velador, uma cidade edificada sobre um monte (Mt 5.14-16).

    Com Jesus, aprendemos que a orao uma atitude voluntria de se viver em permanente comunho com Deus, manter

  • a alma como habitao de Deus. Por isso, a porta, o quarto so apenas analogias que indicam a predisposio, a iniciativa humana de responder a essa cativao amorosa de Deus. Deus no est nos convidando para um enclausuramento espiritual. Muito pelo contrrio, quem vive em comunho com Deus, se percebe livre para construir relaes saudveis com as pessoas e o meio ambiente.

    A semelhana dos dois discpulos no caminho de Emas, orar simplesmente peregrinar em dilogo com Jesus, como ele se fosse um transeunte comum de todos os dias (Lc 24.13'15). A orao uma vivncia com Deus pelos caminhos de luta e esperana. Deus toma a iniciativa de caminhar ao nosso lado, sensibilizando-nos a uma amizade mais profunda com ele; Eis que estou porta e bato. Se algum ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo (Ap 3.20).

    Orar tomar a iniciativa de abrir a porta para atender ao convite de Deus; assumir a atitude voluntria que propicia a invaso de Deus em nosso mundo interior. Estar com Deus no ambiente da comunho, permanecer em orao, fechar a porta do quarto para no sairmos dessa presena to fecunda e preciosa, no nos permitirmos abertos aos encantos geradores da morte.

    Resumindo, no precisamos aprender a orar, precisamos aprender a andar com Deus pelas estradas e ruelas da vida; precisamos aprender a sentar mesa com Ele na busca de uma amizade mais profunda. Quando oramos, estamos abrindo a porta da alma e atendendo visita amorosa de Deus em nosso lar interior. Quando oramos, fechamos a porta para que outros encantos alheios vida no venham invadir a nossa alma, nem os nossos medos encontrem portas abertas para as nossas fugas, diante dos enfrentamentos e desafios da vida.

    38 a. [^ mir lurssc. ie Ci

  • Acolhendo Deus em orao, fechamos a porta, evitando a entrada de toda a forma de perverso, injustia e opresso. Com Deus no mundo de nossa interioridade, criamos as condies para a comunho com as pessoas e a partilha justa do po com quem no o tem. Em comunho com ele, ampliamos as percepes em favor da vida e lutamos para que o Reino de Deus venha, trazendo amor, justia, paz e reconciliao para todas as pessoas.

    O r a r se c o l o c a r e m h u m i l d a d e n a d e p e n d n c i a d o

    e s p r i t o Sa n t o , o d e u s q u e h a b it a e m n s , c o n s o l a n d o ,

    INTERCEDENDO, EDIFICANDO

    E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dar outro Conselheiro para estar com vocs para sempre, o Esprito da verdade. O mundo no pode receh-lo, porque no o v nem o conhece. Mas vocs o conhecem, pois ele vive com vocs e estar em vocs.Joo 14.16-17

    Geralmente, quando pensamos em orao, pensamos em pedidos, soluo de problemas, dilogo com Deus etc. Mesmo que esses aspectos sejam relevantes em nossas oraes, h um aspecto fundante da orao que no podemos excluir. Por analogia limitada, vou chamar esse aspecto de choro pela falta da essncia que fecunda a vida. O choro a expresso virtuosa de quem percebe a aproximao do Sopro que nos faz alma vivente. Somente chora quem j comeou a viver e somente chora cjuem ainda vive. Por isso, como manifestao dessa virtude, Jesus Cristo considerou felizes os que choram, porque sero consolados (Mt 5.4). Aqui, Jesus est indicando o choro como uma virtude. Mas de que virtude ele est falando? Essa virtude uma manifestao de nossa alma em busca da parte

    cmtr anr au. cana y iftr 1 39

  • 40 0. ^ro^r nassa, (/ co
  • em a am r au em a T tn r {

    f que vocs tm, orando no Esprito Santo (Jd 20). A orao a intercesso do Esprito que habita nos seguidores e seguidoras do Jesus Cristo de Nazar. A vida edificada pela orao no Esprito Santo. As pessoas tjue oram movidas e inspiradas pelo Esprito Santo tornam-se mais humanas, amorosas e justas.

    Dt)na Zilda uma senhora da comunidade de Genipapu, municpio cearense de Caucaia. Ns nos conhecemos atravs de sua dedicao s crianas pobres de sua comunidade, em 1983. Na poca, trabalhvamos na Viso Mundial Brasil. Dona Zilda apoiava, em sua casa, mais de trezentas crianas com alimentao, reforo escolar e atividades culturais e esportivas, contando apenas com doaes de poucos voluntrios. Alguns tcnicos da Viso Mimdial ajudaram dona Zilda e a sua comunidade a se organizarem. Com a fundao de uma organizao no-governa- mental, foi possvel ampliar os recursos e as atividades realizadas por iniciativa daquela senhora, que sempre impressionou por sua f e vida de orao. Antes de comear as suas atividades, por volta das sete horas da manh, dona Zilda j havia orado cerca de duas a trs horas, todos os dias. Ela atribua sua f e vida de orao todo o compromisso e dedicao s pessoas pobres.

    Numa visita que fizemos a dona Zilda, o pastor Manfred Grellert ( poca diretor executivo da Viso Mundial - Brasil) perguntou como ela havia sido sensibilizada para o trabalho com os pobres. De uma forma muito simples, dona Zilda respondeu: Eu dirigia um crculo de orao em minha igreja. Numa de nossas reunies, o Esprito Santo me disse: levante-se e v cuidar dos meus pobres. Eu simplesmente obedeci e nunca mais fiquei um s dia sem cuidar dos pobres.

    A sua dedicao s pessoas pobres era como uma resposta a essa voz do Esprito Santo.

  • 42 i a nassa, ( ca a.

    O Esprito pode ser percebido, recebido e acolhido em orao, entretanto, muitos no o veem nem o recebem. Todos temos a chance de conhec-lo e receb-lo. Jesus mesmo disse ciue pediria ao Pai um Consolador, que o mundo no conhece, mas que ns poderamos conhecer (Jo 14.16-17).

    O mesmo Esprito que habita em ns intercede por ns. Ele conhece a vontade de Deus e conforme esta vontade que ele intercede pelos santos (Ro 8.27). Ento, quem ora com o discernimento do Esprito Santo, pede somente o cjue da vontade de Deus, e, sendo desta forma, ter seus pedidos sempre respondidos.

    Precisamos inverter os processos na orao: no oramos para Deus nos atender. Pelo contrrio, sintonizados com Esprito Santo, oramos como caminho de obedincia vontade de Deus. Algumas pessoas oram como se Deus tivesse de obedecer-lhes - terrvel engano. Precisamos aprender a orar como caminho de discernimento da voz do Esprito Santo, que sinaliza o que Deus quer e no o que queremos. Pedir sem compreender a vontade de Deus pedir levianamente. No evangelho, a orao tem um papel oposto ao da orao religiosa. Na religio, oramos para Deus atender os nossos pedidos; no evangelho, oramos para discernir o que Deus est nos ordenando. Compreendida desta maneira, a orao passa a ser muito mais exerccio de escuta da vontade de Deus do que discurso ou prece litrgica. A orao deixa de ser uma disciplina religiosa e passa a ser uma vivncia espiritual, que se manifesta na mais profunda e ntima percepo da habitao de Deus em nosso mundo interior, atravs do Esprito Santo - o Deus que habita em ns, edificando, consolando, intercedendo.

    Diante dessas informaes bsicas, vamos orar e pensar, com o Jesus Cristo de Nazar, a orao do Pai-Nosso.

  • [4 ]

    A ORAO MODELO

    ^ ^ Vocs, orem assim: Pai nosso, que ests nos cus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; seja fe ita a tua vontade, assim na terra como no cu. D-nos hoje o nosso po de cada dia. Perdoa as nossas dvidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. E no nos deixes cair em tentao, mas livra-nos do mal, porque teu 0 Reino, o poder e a glria para sempre. Amm.MATEUS 6.9-13

    Portanto, vocs orem assim..."G en t e o y E se g u e o estilo d e v id a d o J esus C r is t o d e Naza r

    Como j afirmamos, Jesus no pretendeu ensinar aos seus discpulos como se deve orar. Ele queria ensinar como se deve viver. J que os discpulos queriam aprender a orar, Jesus Cristo

  • 44 Mssa de co a,

    elaborou uma pea literria em forma de orao que explicita muito mais como devem viver os seus seguidores do que como devem orar. Claro que, havendo coerncia, vida e orao sero sempre manifestaes espirituais consonantes e harmnicas.

    A orao registrada pelos evangelistas ficou conhecida como a orao do Pai-Nosso ou orao dominical. No uma prece para ser meramente repetida na superficialidade litrgica, no uma forma que, decorada e reproduzida, traz efeitos mgicos para a vida dos discpulos. Orar, segundo o estilo de Jesus, no se resume formulao de jarges, fraseados bem construdos, mesmo que elaborados com bom estilo literrio e fundamentos bblicos e teolgicos corretos. Naturalmente, no precisamos desprezar a beleza de uma orao bem elaborada. Os salmos, por exemplo, so peas poticas elaboradas com muito cuidado literrio e gramatical, comunicando as dores, aflies, sonhos e equvocos da natureza humana, at mesmo as maldades e violncias de nossa desumanidade; falam tambm da justia e da misericrdia de Deus. Portanto, no se trata de desmerecer a beleza potica e literria das oraes, mas a orao do Pai-Nosso muito mais do que uma pea potica; , acima de tudo, um estilo de vida a ser desfrutado com graa.e compromisso.

    Do ponto de vista da forma e estruturao litrgica, as inovaes que fazem a grande diferena entre o Pai nosso que ests nos cus e as demais oraes so as seguintes:

    - O Deus a cjuem se ora deve ser tratado com intimidade e reconhecimento de sua soberania celestial: Pai nosso, que ests nos cus...

    - O Deus a quem se ora santo e sua santidade precisa ser revelada atravs do testemunho de seus filhos e filhas em misso: santificado seja o teu nome....

  • - O Deus a quem se ora tem o governo de todas as coisas, portanto, seus filhos e filhas oram e lutam para que a sua vontade se concretize em nossa histria: venha o teu reino; faa-se a tua vontade, assim na terra como no cu.

    - A orao proposta por Jesus expressa a vivncia da comunidade do povo de Deus - comunho com Deus e com as pessoas, sinalizada pelo desejo de socializao dos bens: o po nosso de cada dia, d-nos hoje...

    - A orao ensinada por Jesus estimula quem ora a incluir, no seu momento de comunho com Deus, o ato de perdo por acjueles que o ofenderam: Perdoa-nos as nossas dvidas, assim como ns temos perdoado aos nossos devedores....

    - O Pai-Nosso reconhece a vulnerabilidade das pessoas e o perigo de praticarem o mal como resposta s suas tentaes: E no nos deixes cair em tentao; mas livra-nos do mal.

    a arquiT m ieitr 45

  • [5]

    INTIMIDADE E SOBERANIA

    ^ ^ 0 Deus a quem se ora pode ser tratado com intimidade e reconhecimento de sua soberania celestial.

    Pai nosso - Abba-Pa O r a n d o c o m in t im id a d e

    O Pai'Nosso enfoca uma nova maneira de nos colocarmos diante de Deus, numa profunda e pessoal relao de amizade de pai para filho. Sem esta relao ntima com o Pai no adiantam formas, lugares, bons hbitos de orao, nem a linguagem rebuscada, correta e burocrtica das liturgias religiosas. Orao

  • 48 mssa. cl co aa \yraacr nassa

    ao Pai, antes de ser um modelo prefixado, requer uma entrega na base da confiana, um relacionamento alicerado no amor, um desejo profundo de ser perdoado, acolhido e amado pelo Pai. Este aspecto inovador, relacionai, na ora.o de Jesus, exclusivo dele e dos seus discpulos. Jesus comea a orao usando uma expresso aramaica - Ahha-Pai, com a qual o filho, na sua mais tenra infncia, se dirigia ao pai dentro de casa e que significa papai. Fora de casa, o pai era tratado por Kirie, senhor. O c]ue poderia parecer desrespeitoso para a cultura religiosa judaica, no que se refere forma de algum se dirigir a Deus, de fato, era uma maneira indita do Cristo explicitar a sua intimidade como Pai.

    O Deus a quem oramos acolhedor, cheio de graa e mise- ricordioso. Nele podemos encontrar a maternidade amorosa do Pai. De modo que, orar Abba-Pai orar abraando a ternura de Deus. Jesus Cristo, ao orar vrias vezes Abba-Pai, no o fazia para conquistar uma intimidade, mas para expressar a relao fiimiliar j existente. Abha-Pai a orao da intimidade, da depeneJncia, da entrega absoluta e incondicional como desdobramento do acolhimento da ternura de Deus. Orar nesta perspectiva, pois, no gera um sacrifcio, um peso litrgico ou uma obrigao religiosa. Antes, uma degustao contnua da presena de Deus na vida cotidiana, de forma que, se bem percebido, gera na pessoa que ora a necessidade de parar para ficar a ss com Deus. Orar desfrutar da amizade entre Pai e filho, sentir o prazer de existir com Deus, por Ele e para Ele, motivo pelo qual a orao passa a ser uma pulsao prazerosa de permanecer com Deus. Ento, vale a pena dedicar tempo exclusivo de orao ao Pai celestial.

    Abba-Pai tambm a orao dos interessados e engajados nos projetos de Deus. E a orao daqueles c^ ue, inciependente

  • nUne s(rfera.m

    de adquirir ou no bens atravs de suas oraes, ou mesmo se tiverem que correr riscos por causa do Reino de Deus, ainda assim preferem a comunho com o Pai. Abba-Pai a orao do Filho que confessa: Pai, se possvel, passa de mim este cU- ce..., mas entre a morte e a nossa intimidade, entre a morte e a quebra da Tua vontade, prefervel a morte (Mt 26.39). Orar em nome de Jesus Cristo significa que Ele ps o Seu nome em risco para os propsitos de nossa orao.

    Abba-Pai a orao dacjuele que fala com Deus e ouve a sua voz. As vezes no paramos para ouvi-lo. Oramos com tanta angstia c]ue somente ns falamos. Orao uma via harmoniosa de duas mos. Precisamos falar, mas necessitamos discernir as variadas formas de comunicao de Deus, inclusive o silncio.

    Para filhos que guardam to estreita relao, o Pai no somente conhece as suas necessidades, mas pode declarar a sua apreciao: Este o meu filho amado em quem eu tenho prazer (Mt 3.17). Deus, porventura, diria o mesmo sobre ns? Aprendemos com Cristo que a orao basicamente o sentido de pertencimento na famlia de Deus. Quem ora ao Pai, ora por ter resgatado a relao paterno-filial. No somos mais filhos e filhas do mercado, no somos filhos de governos tiranos, nem dos esquemas religiosos de opresso. No somos filhos das trevas, nem da famlia dos injustos e opressores. Os cciigos da nova gentica cjue nos geraram produzem justia, amor, graa, libertao, solidariedade.

    A orao Abba-Pai anuncia a singularidade dos seguidores do Jesus Cristo de Nazar. Diante dessa nova identidade familiar, os filhos e filhas de Deus no oram, por exemplo, pelas coisas que a divindade de mercado pode dar, especialmente quando

    49

  • 50 I 0. Msso. l co a.

    representar risco vida das pessoas e uma ameaa ao mundo criado por Deus.

    Esses filhos e filhas pensam nas coisas l de cima. Ou, melhor dizendo, coisas da esfera do reino de Deus. As coisas de cima no so aspiraes aliengenas, so as realidades de nosso cotidiano, enfrentadas com todo o nosso amor pela vida e a nossa sensibilidade na luta pela justia. As coisas de cima se referem ao reino da vida, contra toda forma de perverso e morte. Outros textos das Escrituras vo denominar as coisas de cima de obras da luz, diferenciando-as das obras das trevas. Na comunho com o Pai, os filhos e filhas de Deus, atravs da intimidade, discerniro melhor a vontade de Deus e sero mais criteriosos em seus pedidos de orao.

    "NossoO r a n d o em c o m u n id a d e - c o m a T r in d a d e E o p o v o de D eus

    A orao ensinada por Jesus Cristo inovadora porque aponta para uma nova maneira de se vivenciar a orao na mutuali- dade do amor. A primeira pessoa do plural, usada na orao de Jesus, evita que a orao - estilo de vida - seja egosta. O nosso evita tambm que a orao seja reduzida a prticas espiritualistas, nas quais a pessoa estimulada a sair de si para o alm, considerando-se superiora aos demais seres humanos; ou a prticas geradoras de personalismo, egosmo e egotismo, provocando o isolamento da vida comunitria ou a utilizao dos ambientes coletivos para promoo pessoal.

    A orao - modelo de vida - ensinada por Jesus Pai n o s s o , po n o s s o , Perdoa as n o s sa s dvidas, assim como n s

  • ntcm i c e strt'emnuL 51

    perdoamos aos nossos devedores; no nos deixes cair em tentao, mas livra-nos do mal... O Pai-Nosso a orao alicerada no amor e no perdo. Para os seguidores do Jesus Cristo de Nazar, orar transformar todos os projetos e sonhos numa expresso de amor. E amor s possvel quando desfrutado comunitariamente. Ningum ama vivendo de maneira isolada.

    Na orao do Pai-Nosso, mantm-se o mesmo princpio ensinado por Jesus Cristo: onde estiverem dois ou trs reunidos em meu nome, ali eu estarei com eles (Mt 18.20). A unidade e a coerncia da vida comunitria so um sinal da presena de Cristo: ali eu estarei com eles.

    Jesus ainda fala da orao feita em comum acordo: Se dois de vocs concordarem na terra em qualquer assunto sobre o qual pedirem, isso lhes ser feito por meu Pai que est nos cus (Mt 18.19). Orar em concordncia mais do que pedir a mesma coisa. Portanto, orar concordando uma consequncia dos que vivem com o mesmo corao vocacional e missionrio do Mestre. No basta uma concordncia temtica para sermos atendidos em orao. Precisamos viver em acordo comunitrio, discernindo a vontade de Deus. Desse modo, orar o Pai-Nosso orar com a trindade dentro da comunidade dos seguidores do Jesus Cristo de Nazar, quebrando a tentao da orao privada-individualista.

    Quem ora na primeira pessoa do plural, ora com os sofridos e injustiados. Quem pede pelo po nosso, est orando com todas as pessoas famintas. Quem ora pelos nossos pecados, est orando com todas as pessoas pecadoras e excludas dos centros religiosos.

    Por mais paradoxal que possa parecer, orar a encubao da amizade com Deus na intimidade, no lugar secreto da

  • 52 r^of&T mssn ( co a.a \ r^aaffJiaua

    alma, sendo, ao mesmo tempo, a amizade vivida e ensinada na montanha, vista de todas as demais dimenses e relaes da vida. A comunho com Deus e com as pessoas, fundamentada no amor, na fraternidade, na reciprocidade do perdo, algo essencialmente novo na orao do Pai-Nosso.

    A orao comunitria no exclui a experincia pessoal e ntima com Deus. O quarto, tameion - ambiente profundo de nossa interioridade - o ponto de partida, o depositei subterrneo onde Deus planta em nossos coraes a semente do amor, aguada e fertilizada pela comunho com Ele. Porm, os frutos dessa semente germinam no relacionamento familiar, na convivncia com irmos e amigos, no trato amvel e recon- ciliador diante de relacionamentos desgastados, na conscincia de nossa vocao e consequentemente na eficcia de nossa misso no mundo.

    O Pai-Nosso a orao que nos projeta da amizade com Deus para uma maior comunho e afeto com os filhos e filhas do Pai celestial. E a orao geradora do sentimento da companhia de Deus e, como refluxo, visitada pelo desejo de companhia da comunidade do povo de Deus. A orao do Pai-Nosso tambm nos conclama a amar e cuidar de toda a humanidade.

    Porque Deus pai do irmo que sem motivo se irou contra outro, quem ora ao Pai, no consegue ficar diante do altar da liturgia sem primeiro reconstruir o altar da amizade, uma vez que no existe, no estilo de orao-vida de Jesus Cristo, a orao egosta e individualista. O Pai nosso. Quem ama a Deus, ama tambm todas as demais pessoas.

    O Pai-Nosso a orao do Getsmani, com a comunidade dos perseguidos e sofridos; a orao da transfigurao, marcada por outros brilhos e encantos colhidos misteriosamente

  • intiMid e scfe)^eranuL

    nos momentos tenebrosos da vida. a orao desse Primeiro Irmo, cuja nfase concentra-se na confluncia dos relacionamentos. Como s tu, Pai, em mim, e eu em Ti, tambm sejam eles em ns (Jo 17.21).

    Que ests nos cusO r a n d o c o m t e m o r e t r e m o r

    O Pai celestial mistrio tremendo, mas o termo celestial no representa ausncia do nosso mundo terreno. Como j vimos, ele o Ahha-Pai - Deus da nossa amizade e comunho. Contudo, , ao mesmo tempo o Deus diante de quem os montes, os altares e todos os poderes se reduzem a nada. Diante do seu trono, expressamos, no mximo, a nossa insignificncia e lamento. Como diz o apstolo Joo quando se depara com a viso do trono de Deus: eu chorava muito (Ap 5.4); ou o profeta Isaas, em sua experincia inusitada de visualizao da glria de Deus: Ai de mim! Estou perdido (Is 6.5).

    Quem ora ao Pai celestial, ora com intimidade, desfrutando da ternura de Deus, mas ora tambm com um sentimento de quem est se permitindo ser moido e triturado pela profundidade do esplendor, conhecimento, amor, sabedoria, justia e verdade vindos dessa fonte inominvel. A esse Deus no se ora como fazem os idlatras com as suas divindades inanimadas, pois com ele no conseguimos fazer joguetes, criar artimanhas e engano - ele conhece todas as coisas, at as profundezas de nossa alma.

    Jesus Cristo, ao proferir a orao ao Pai celestial, est animando aos discpulos a assumirem uma prtica de vida em permanente temor e tremor ao Deus eterno. No um convite

    53

  • 54

    ao medo e ao pnico. E um desafio ao ato de submisso total quele que tudo sobre todos e sobre todas as coisas. Ele , em plenitude, a profundidade de todo conhecimento e sabedoria. A ele pertencem a honra, a glria e o louvor diante das coisas tangveis e intangveis. Ele o Senhor da histria e do cosmo. Diante dele, revela-se toda a verdade, desnudam-se enganos e mentiras. No h quem possa fugir de sua presena. Ele nico em seus atributos - somente ele pode ser denominado Eterno, fonte de todo amor e justia.

    Ele Deus. No um dolo terreno, fruto do imaginrio coletivo e projetado materialmente em gesso, pedra, ouro ou qualquer outro material. No um dolo da nossa criao limitada, construdo na realidade cultural-religiosa com o nome de deus, e, em muitos casos, com o nome Jesus, cuja expresso nem sempre representa o Jesus Cristo de Nazar anunciado nas Escrituras. No um deus como mero resultado das foras que surgem de nossas inter-relaes humanas, como as ideologias, o mercado ou os mitos religiosos.

    A orao deve ser feita a um Deus transcendente, todopoderoso, imutvel, infinito, inominvel, onisciente. Ele conhece a natureza humana e, por isso, no se impressiona com aqueles que oram acreditando que podem usar tcnicas para dobr-lo aos seus interesses egostas. Ele no se impressiona com a repetio das palavras, nem com aqueles que do esmolas para serem vistos pelos homens.

    Deus acolhe as pessoas em suas aflies e as abenoa, ainda que muitas sejam enganadas pela magia dos agentes da religio. Todavia, Deus repudia a iniquidade dos aproveitadores desses fenmenos da graa de Deus. Estes reivindicaro de Deus algum direito: Senhor! Ns profetizamos em teu nome, fizemos

    a ^ ru f& r nffis. c a Jl

  • Lntmiie safeiteranc. 55

    milagres em teu nome, expelimos demnios em teu nome. Mas o nosso Pai do cu lhes dir: Nunca vos conheci... (Mt 7.21-23). Deus no reconhece qualc^uer momento de comunho e relacionamento paterno-filial com quem pratica a iniquidade, ainda que tenha confessado corretamente e com entusiasmo o seu nome ou tenha realizado grandes milagres.

    O Pai que est nos cus no manipulvel, totalmente Outro, independente, indescritvel, suficiente em Si mesmo, no se confunde com qualquer dolo e no se permite promiscudo com os hipcritas, com os empreendedores mgicos dos negcios religiosos, nem com os eglatras.

    O pai celestial o Deus da justia e se revela indignado contra toda a forma de tirania e opresso. E ele tambm identifica nossos pecados e rejeita hipocrisia e soberba. No aceita a incoerncia e a superficialidade dos religiosos mentirosos, nem a indiferena diante das injustias.

    Como o Pai celestial, nossa orao indica um estilo de vida de quem anda com Deus no espao da interioridade e na exposio pblica, como uma cidade edificada sobre um monte (Mt 5.14-16). Ou seja, a orao ao Pai celestial gera seres humanos mais piedosos, amorosos, verdadeiros e puros, com vida ntima mais santa, simples, e exposio pblica honesta e faminta por justia. Quem ora e vive com o Pai celestial, vai eliminando da vida toda a forma de hipocrisia e idolatria.

    O binmio Abba-Pai e celestial desemboca numa espiritualidade misericordiosa e justa, cheia de amor e verdade, repleta de candura e firmeza. Os filhos e filhas que oram-vivem, de fato, uma relao ntima e de temor a Deus, sero percebidos e percebidas como pessoas amorosas, justas e confiveis.

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    Nunca demais repetir: Jesus Cristo de Nazar est nos ensinando muito mais como se deve ser e viver diante do Deus eterno e diante das pessoas, do que como se deve orar.

    Diante do Deus celestial, teremos temor em pedir coisas que possam representar uma ameaa vida de outras pessoas. Em alguns casos, por exemplo, certos pedidos de orao so respondidos pelo dolo de mercado e no pelo Deus eterno. So os milagres econmicos que funcionam para religiosos e ateus de uma classe social privilegiada. O deus Mamon, representado pelo dinheiro, protege seus devotos, sacrificando a vida dos enfraquecidos e injustiados.

    Com Jesus, aprendemos que alguns ciesses sucessos apontados como bno so manifestaes de pecados de poder, fama e acumulao de bens, e no dizem respeito essncia da vida. Tambm aprendemos que alguns aparentes fracassos deveriam ser acolhidos como bno. Quantos empresrios bem sucedidos alcanaram seus fins sacrificando vidas e destruindo o meio ambiente! Mesmo aqueles que acumularam bens usando meios lcitos, findaram surpreendidos com a futilidade de suas fortunas. Quantos religiosos praticantes no agregaram nada de importante ao curso de suas vidas. A nossa existncia est cheia de superficialidades e acessrios que poderiam ser descartados. Por isso, a orao ao Pai celestial implica, tambm, em discernimento, com temor e tremor, sobre o qu realmente precisamos pedir a Deus.

    a. ^mf&r mssa c ca

  • [6]

    SANTIDADE E TESTEMUNHO

    ^ ^ o Deus a quem se ora santo e sua santidade precisa ser revelada, por meio do testemunho de seusfilhos efilhas em misso.

    Santificado seja o teu nomeO r a n d o para q u e a s a n t id a d e d e D eus se ex p r e sse n a v id a d o p o v o d e D eus

    Nos testemunhos bbUcos sobre a revelao de Deus ao seu povo, os narradores procuram de alguma maneira expressar o contraste entre a pecaminosidade humana e a santidade de Deus. No h hesitao: Deus santo e todos ns somos pecadores. Portanto, no oramos para Deus se tornar mais

  • 58

    santo, visto que ele j pleno em santidade. O pedido para que seu nome seja santificado , antes de tudo, a orao para que este atributo, inerente ao Deus eterno, se manifeste em nosso testemunho pessoal e coletivo, a despeito de nossas falhas e limitaes. Santificado seja o teu nome a consequncia testemunhal que se espera na vida de quem ora.

    A ideia do Pai-Nosso : santifica o teu nome em ns e entre ns, torna a tua santidade visivel, a partir do testemunho de nossas vidas. Deus foi revelado ao mundo atravs da encarnao do Jesus Cristo de Nazar. Diante do seu testemunho, o mundo continua tendo a chance de perceber os sinais da graa, da justia e do amor de Deus. Com a vida, a proclamao das boas novas a respeito de Jesus e a prtica de boas obras, o povo de Deus d seguimento a misso de revelar a santidade de Deus ao mundo - Assim brilhe tambm a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que est nos cus (Mt 5.16). Os discpulos de Cristo buscam a santidade em orao a fim de que Deus seja melhor percebido e apreciado pelos de fora.

    Pecado e santidade so manifestaes antagnicas. Ao pecado, relacionam-se todas as manifestaes de injustia, opresso, arrogncia e perverso contra a vida. A santidade, relacionam-se todas as manifestaes de amor, justia, humildade, humanizao e libertao. De um lado, podemos afirmar que o pecado tudo aquilo que gera morte - O salrio do pecado a morte (Rm 6.23). Do outro, entendemos que a santidade tudo aquilo que gera vida. Referindo-se a Cristo, est escrito: A vida estava nele, e a vida era a luz dos homens Qo 1-4)-

    A santidade tambm no um processo de formatao superficial com a esttica da falsa humildade e do rigor asctico

    0. ^ m Sir nmso. d ca a

  • samt d e testm unff 59

    do religioso. Esse tipo de santidade tem o potencial de gerar pessoas fanticas e arrogantes. A santidade nos ensinos de Jesus e dos apstolos traz consigo a marca da conscincia das limitaes e da vulnerabilidade humana. Por mais puros e santos que possam parecer os seguidores do Jesus de Nazar, eles confessaro sempre suas inadequaes, fraquezas e pecados. Mesmo reconhecendo a suficincia da morte de Cristo para o perdo de seus pecados, estaro em permanente e humilde reconhecimento de suas fra- gilidades. Eles no precisam provar nada a ningum, nem que so santos, nem que so pecadores. So apenas seres humanos desfrutando das alegrias e das dores da vida, comprometidos em viver plenamente a vocao de ser apenas gente.

    A santidade uma condio interior, um estado de alma de quem foi alcanado pela graa de Deus e, como desdobramento, vive na busca da comunho com o Esprito Santo, para que, em processo contnuo, seja transformado num ser humano melhor, que consegue se deslumbrar com a beleza do testemunho de tantas pessoas de vida bonita. Quanto mais santo for algum, mais humano ser.

    A santidade como modo de ser e viver dos seguidores do Jesus Cristo de Nazar gera, ainda, uma percepo mais profunda sobre Deus nas outras pessoas. Se entendermos adorao como o ato de revelar o carter de Deus pelo testemunho, quem vive em santidade, vive em permanente adorao ao Deus da vida.

    Em orao, somos, portanto, convencidos dos nossos pecados pelo Esprito Santo. Em orao, nos confessamos, nos arrependemos e somos transformados. Por isso, continuamos orando:

    Santificado seja o teu nome!Santificado seja o teu nome!Santificado seja o teu nome!

  • [7]

    GOVERNO E HISTORIA

    0 Deus a quem se ora tem o governo de todas as coisas, portanto, seus filhos e filhas oram e lutam para que a sua vontade se concretize em nossa histria.

    Venha o teu reinoO r a n d o para v iv e r em o b e d i n c ia a o g o v e r n o d e D eus so b r e t o d a s as c o is a s

    Com a encarnao do Jesus Cristo de Nazar temos a inaugurao do reino pela presena do Deus que se fez humano entre ns. O verbo se fez carne e habitou entre ns... 0 1.14). Jesus Cristo veio e o personagem central do reino. Ele trouxe

  • 62 ^mtr nosso, i/ co 0.

    consigo a proposta de uma nova sociedade e, juntamente com a primeira gerao de discpulos, constitui o ncleo bsico inspirador da nova sociedade. Nesta experincia original, encontramos um arqutipo do reino de Deus, um modelo e inspirao de servio e misso para todas as pessoas, em todas pocas. Mateus denomina a nova sociedade de reino dos cus. Lucas e Marcos a denominam de reino de Deus e, possivelmente, essa mesma realidade seja compreendida como vida eterna no Evangelho de Joo. E a vida eterna esta: que te conheam, o nico Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste 0 17.3).

    Basilia o termo utilizado na Bblia para o governo de Deus sobre todas as coisas. O reino a manifestao da presena divina sobre tudo o que existe. Deus a razo e a sustentao de tudo o que h. Ele tem o controle sobre tudo, do nada fez todas as coisas e pode tornar em nada tudo que veio a existir. Portanto, venha o teu reino a orao de cjuem deseja, em obedincia, ser governado por Deus. E a orao de quem aspira por participar responsavelmente com Deus da construo de uma nova sociedade para o bem de toda a humanidade.

    Jesus procurou explicar o c}ue era reino de Deus para o seus discpulos atravs de vrias parbolas. Na parbola da semente (Mc 4.26-29), ele comparou o reino de Deus a uma semente que, plantada, chega ao momento da produo de frutos e da ceifa. O reino de Deus a presena do Eterno entre ns para nos alimentar dos frutos do seu Esprito. Conforme afirma o apstolo Paulo, O reino de Deus no comida nem bebida, mas justia, paz, alegria e gozo no Esprito Santo (Rm 14.17).

  • )crnni(r e fistn

    Na parbola do gro de mostarda (Mc 4.30'32), o Mestre comparou o reino de Deus a um pequeno gro que, bem semeado, germina, transformando-se numa rvore que cresce e amplia a sua copa para acolher e oferecer sombra e ninho s aves do cu. Desse modo, entendemos o reino de Deus como uma sociedade amorosa para o acolhimento de pessoas aflitas e sem rumo.

    Pregando na Galileia, Jesus anunciou: O tempo est cumprido, e o reino de Deus est prximo, arrependei-vos e crede no evangelho (Mc 1.15).

    Os sinais do seu reino tambm so visveis pelo poder evidenciado sobre os poderes satnicos. Se, porm, eu expulso demnios pelo Esprito de Deus, certamente chegado o reino de Deus sobre vs (Mt 12.28).

    Jesus Cristo proclamou o evangelho do reino, ensinou nas sinagogas e curou os enfermos (Mt 4.23-24). Seu reino , portanto, a ambincia do crescimento das pessoas, cura das enfermidades, confrontao das estruturas de poder satnico e desumano. Seu reino o reino da vida, em oposio a toda espcie de injustia, violncia e morte.

    Ele o prncipe da paz, logo, seu reino de paz. Ele o senhor da misericrdia e seu reino atrai desvalidos e pecadores. Seu reino de justia, ento, ampara e luta em favor dos aflitos e injustiados e pe em derrocada os poderes dos tiranos e poderosos. Seu reino o reino da vida!

    Quem ora Venha o teu reino, luta para que os sinais do reino estejam presentes na sociedade. Luta para que os direitos de todas as pessoas sejam preservados e garantidos. Acredita que h um Deus soberano, ento ora e no se curva diante dos dspotas e poderosos, ora e luta contra toda a forma de

    63

  • 64

    injustia e perverso contra a vida. Quem ora: Venha o teu reino, participa dos processos de construo da justia e paz. Ento, oremos e lutemos juntos:

    Venha o teu reino!Venha o teu reino Venha o teu reino

    ^ ra M mssa, l ca a

    Faa-se a tua vontade, assim na terra como no cu" ORANDO PARA DISCERNIR E OBEDECER A VONTADE DE DEUS

    A vida do Jesus de Nazar foi um exemplo de quem viveu fascinado por discernir e obedecer vontade de Deus. A pre- ocupao de Jesus no era em Deus atender s suas oraes. Naturalmente, sabemos que havia uma conexo ininterrupta entre as oraes de Jesus Cristo e a vontade do Pai. O Filho no usava tcnicas de orao para que as coisas pudessem acontecer com toda preciso, mas ele fazia da orao o habitat natural de intimidade com o Pai, o caminho para discernir a vontade de Deus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra Qo 4.34). Pai, se c]ueres, passa de mim este clice; contudo, no se faa a minha vontade, e sim a tua (Lc 22.42).

    Para Jesus, a orao um modo de viver em permanente comunho com o Pai. Orar inalar o Esprito que conhece a mente humana e sabe qual a vontade de Deus (Rm 8.27). caminhar com o Pai de tal forma que aprendemos, na convivncia com ele, os propsitos inerentes ao seu reino.

    A essncia da orao no est na fala, no pedido, na intercesso, na tcnica religiosa. Antes, consiste em discernimos a vontade de Deus. Os pedidos e clamores so apenas desdobramentos da

  • busca, at que a vontade de Deus seja revelada. E, neste caso, no existem regras pr-estabelecidas. A vontade do Senhor vir como fruto de nossa comunho com ele, por meio de Jesus Cristo, no poder do Esprito Santo, que sonda as mentes e os coraes e conhece a vontade de Pai.

    Sendo assim, no precisamos aprender a orar do mesmo modo que no precisamos aprender a respirar - apenas res- piramos.

    No evangelho, a orao no um aprendizado, o desfrute da presena do Esprito Santo. Na religio, entretanto, diferente, toda orao precisa ser ensinada e repetida, seja no seu contedo ou na sua forma. Na burocracia religiosa, a orao tem um comeo, um meio e um fim, e cada pedao vem permeado de elementos que funcionam como tcnicas de sensibilizao da divindade. Por isso, na religio, os devotos so treinados nos mtodos e esquemas das oraes.

    Jesus Cristo sabia que orar uma condio natural da existncia humana. Sem orao, estamos desconectados de Deus e de sua vontade, e, sem Deus, somos incompletos. Uma pessoa sem orao sofre de asfixia espiritual. Sofre pela ausncia do Deus da vida, sem o qual perde a sua essncia mais profunda, que a capacidade de amar. Aprendendo a orar com o Jesus Cristo de Nazar, porm, inalamos Deus e o seu amor. J que, no evangelho, a espiritualidade percebida pela nossa capacidade de amar, quando oramos com Cristo, a nossa espiritualidade ser uma natural transpirao e respirao do amor de Deus.

    Aprendemos com Jesus que a orao uma vivncia com o Pai, uma relao de amor com Deus e os nossos semelhantes. E, antes de tudo, uma atmosfera que propicia acolhimento.

    ^ ^ o T re m ir e /t m . 65

  • 66 ^ m ir nm c, / ca a. [yrcLo/r nma,

    que favorece o estabelecimento de um lugar psicolgico onde as pessoas se sentem amadas e recebidas por Deus. A vida s abundante quando vivida na plenitude do amor. Quem no ama, vive apenas um tipo de experincia vegetativa e animal. Quem ama, vive o que prprio dos humanos. Em Deus, encontramos a fonte inesgotvel do amor e a orao uma espcie de condutor que nos liga a ela.

    No h vida abundante nem compreenso da vontade de Deus sem orao, aquela orao estilo de vida, modo de ser em sintonia com a vontade de Deus que Jesus ensinou. Nas religies, qualquer prece orao. Por isso, falamos em oraes respondidas e no respondidas. Na tica de Jesus Cristo, toda orao, cristicamente compreendida, respondida, pois antes de ser uma prtica religiosa, uma lista de pedidos, a orao o lugar da comunho e da intimidade com Deus. Assim, conhecendo a sua vontade soberana, clamamos e pedimos em sintonia com os seus projetos: Se vocs permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocs, pediro o que quiserem, e lhes ser concedido Qo 15.7).

    Idealmente, se sempre orssemos conhecendo a von- tade de Deus, no teramos conhecimento das chamadas oraes no respondidas. Ou seja, no pediramos o que antecipadamente sabemos que o Senhor no tem interesse em responder. Jesus tinha conscincia do seu projeto de vida, sabia o quanto os poderosos se percebiam ameaados e queriam tirar-lhe a vida. Ento, quando orou Meu Pai, faa-se a tua vontade (Lc 22.42), o Messias sabia do seu compromisso histrico e, consequentemente, de sua morte e ressurreio. Portanto, ele no pediu que o projeto mudasse, mas reafirmou a sua disposio de fazer a vontade de Deus,

  • a despeito das circunstncias, inclusive da injustia de seus algozes e da tragdia da morte.

    Com o Jesus Cristo de Nazar, aprendemos que a orao muito mais uma experincia de escuta da vontade de Deus, do que a fala no discurso religioso supostamente dirigido a Deus. Portanto, clamamos:

    Faa-se a tua vontade!Faa-se a tua vontade!Faa-se a tua vontade!Assim na terra como no cu.

    e /stria. 67

  • [8]

    COMUNHO E BENS

    A orao proposta por Jesus Cristo expressa a vivncia da comunidade do povo de Deus - comunho com Deus e com as pessoas, sinalizada pelo desejo de socializao dos bens.

    O p o nosso de cad a d ia nos d h o jeO r a n d o para q u e o D eus d o c u n o s a ju d e A s o c ia l iz a r o p o d a t e r r a

    A orao do Pai-Nosso , ao mesmo tempo, a orao do po nosso de cada dia. O pedido pelo po no um apelo para o suprimento material. Jesus j havia ensinado aos seus discpulos a no se preocuparem com o alimento. Tambm j se conhecia

  • 70 a. ^ n cr n/rssa co 0.

    a ideia de que Deus d o po aos seus amados enquanto eles dormem (SI 127). Conforme o Mestre, a proviso divina, atravs da natureza, se encarrega de suprir a carncia das aves dos cus e dos lrios do campo. Se Deus assim cuida dos pequenos animais e dos vegetais, h, ento, suprimento suficiente para todas as pessoas do planeta. Como sabemos, o problema da falta de alimentos para muitos no causado pela superpopulao, nem pela falta de solo agriculturvel. A monocultura, a concentrao de renda e de alimentos, entre outros fatores, geram a fome e a misria que tm penalizado muita gente.

    Portanto, no Pai-Nosso, o pedido no por po e sim pela prtica da socializao do po. O alimento um direito de todas as pessoas e quando uma minoria detm a maior parte dos bens, outras pessoas iro padecer necessidade. O problema da falta de alimentos para muitos est na m utilizao do solo, visando apenas o lucro e o acmulo de capital, o que causa tambm a degradao do meio ambiente. O Pai-Nosso no uma orao para ser meramente repetida em nossas liturgias, ela a orao que acredita na solidariedade de Deus e, como conseqncia, na solidariedade dos seres humanos entre si, pelo que, pedir ao Pai pelo po suficiente para cada dia um principio tico contra a acumulao excessiva de propriedades e bens.

    Para Jesus Cristo, vale mais uma vida eticamente correta do que a orao corretamente confessada. H muitos cristos orando o Pai-Nosso sem o reconhecimento de que esto pondo muitas pessoas sob o castigo da fome e da morte. por causa de nosso egosmo - comendo muito e deixando outras pessoas com fome - , que h muitos doentes e outros que morrem em nosso meio. No discernir esta realidade, significa comer e beber juzo para si. (IC o 11.23-27).

  • cm in fu e ju 71

    Para muitos, o Pai-Nosso pode ser compartilhado, dividido, mas o po exclusivamente meu. Ele o dolo que s pertence ao outro na reza, na burocracia religiosa. O mximo que fazemos, algumas vezes, uma doao filantrpica de nossas sobras. E, se damos a sobra, apenas denunciamos o nosso contexto de injustia. E hipocrisia doar o nosso excedente como se fosse um ato de generosidade. A misericrdia se evidencia pela doao daquilo que nos faz falta.

    O po um bem que pode ser acumulado ou socializado, por isso a orao do Pai-Nosso tem implicaes espirituais, econmicas, sociais e polticas. Espirituais, porque o po, esse bem to necessrio vida, pode ser reduzido a um objeto de venerao, e, na categoria de dolo, passa a exigir sacrifcio das pessoas. O po, como dolo de mercado, representado pela acumulao de propriedades e renda, vive guardado no altar sagrado dos cofres bancrios, sendo venerado pelos seus adoradores, enquanto sacrificam os mais fracos e vulnerveis da sociedade. No Brasil, o po pertence a alguns privilegiados. Mais de 32 milhes de pessoas passam fome e 65 milhes alimentam-se de forma precria. Somos uma nao marcada pela injustia diante de uma f idoltrica e materialista. Orar ao Pai do cu pelo po de cada dia uma premissa contra a idolatria do dinheiro. O mundo seria diferente se todos os cristos fizessem do Pai-Nosso uma prtica de justia, solidariedade e socializao do po.

    O Pai-Nosso a orao pelo po de cada dia do outro. E a orao que muda a concepo fundiria, de renda e de posse dos bens. Portanto, digamos outra vez, muito mais do que um jeito de orar, , de fato, um jeito de viver. O bem-aventurado pobre de esprito (Mt 5.3) vive motivado pela sensibilidade e

  • 72 ^rtLa- uma, e/z co o.

    compaixo e tem prazer em socializar com outras pessoas o Po da Vida e o po da terra. Alm do mais, o bem-aventurado pobre de esprito tambm feliz por causa da sua fome e sede de justia, aguadas diante da fome sofrida pelos injustiados.

    A falta de po na mesa do pobre um reflexo da falta de espiritualidade no altar dos cristos. No podemos mais admitir que o nosso Brasil - maior pas catlico do mundo e o segundo maior pas protestante do mundo, portanto, considerado um pas cristo - seja um dos pases mais injustos do planeta. O po passa a ser um sinal de nossa falta de espiritualidade quando o outro no o tem. Arrepender-se, pedir perdo por esta ofensa e mudar o quadro de misria que tem afetado tantas pessoas uma obrigao tica dos seguidores do Jesus Cristo de Nazar.

    Que o Pai do cu nos ajude a socializar o po da terra.O po nosso de cada dia nos d hoje!O po nosso de cada dia nos d hoje!O po nosso de cada dia nos d hoje!

  • [9]

    ORAO E PERDO

    ^ ^ y orao ensinada por Jesus estimula quem ora a incluir no seu momento de comunho com Deus o ato de perdo por aqueles que 0 ofenderam.

    Perdoa as nossas dvidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. O r a n d o c o m a r e c ip r o c id a d e d o p e r d o

    Na tradio religiosa judaica, era conhecido o perdo oferecido por Deus queles que oram, mas em nenhuma tradio encontra-se a orao em que aquele que ora perdoa outra pessoa.

  • 74 CL r^/L/T TwsscL cc cila.

    Lucas fala de ofensas, Mateus faz referncia a nossas dvidas. Provavelmente Mateus, com seu rigor como cobrador de impostos, agindo sempre sem complacncia alguma com seus devedores inadimplentes, o faz estupefato com a misericrdia do Pai, revelada no Jesus Cristo de Nazar, perdoando aos seus devedores.

    Se amamos a Deus, amamos tambm aos nossos irmos. Se fomos perdoados por ele, tambm perdoamos os nossos irmos e irms.

    A capacidade de perdoar, construcJa na vida dos discpulos, consequncia do perdo recebido de Deus. Desse modo, o discpulo perdoa no para ser perdoado por Deus, mas por conhecer em sua experincia de comunho com Deus o quanto importante e libertador o pocier do perdo recebido da parte de Deus: Pois se perdoarem as ofensas uns dos outros, o Pai celestial tambm lhes perdoar. Mas se no perdoarem uns aos outros, o Pai celestial no lhes perdoar as ofensas (Mt 6.4-15).

    Davi fala da maneira como o pecado lhe consumia os ossos e abatia o corao. Porm entendia tambm que a confisso pessoal e pblica era uma porta aberta para acolher o perdo de Deus e sentir-se sarado (SI 51; 103).

    Jesus exercitou o perdo em todo o seu ministrio. Perdoou uma mulher adltera diante de seus acusadores, perdoou Pedro depois de este haver-lhe negado trs vezes. Concedeu perdo aos algozes que o torturaram na crucificao.

    Pedir perdo e perdoar uma vocao dos discpulos de Jesus Cristo. E a vocao da libertao plena, pelo exorcismo de todas as formas de acusaes. Perdoar uma via de mo dupl