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A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

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Introdução ao processo de construção de uma peça jornalística e que enfatiza a notícia em texto.A informação que aparece nos média resulta de um trabalho de pesquisa e de seleção realizado pelo jornalista, que disponibiliza ao público os conteúdos mais importantes a saber sobre um determinado assunto. Os jornalistas acedem aos factos que divulgam por duas vias: através de observação direta ou do relato que outras pessoas fazem dos acontecimentos. Neste último caso, falamos das fontes de informação. As fontes de informação são pessoas, organizações, grupos sociais ou referências que disponibilizam dados aos jornalistas para que estes produzam notícias. Fazem-no, normalmente, com o intuito de verem publicadas mensagens do seu interesse, e, por isso, cabe ao jornalista apurar se a informação que lhe foi transmitida é ou não credível. Mesmo que a informação dada pela fonte seja credível, é ainda necessário apurar se a mesma tem valor para ser notícia. Os valores-notícia são os critérios utilizados pelos jornalistas para determinarem se um acontecimento merece ou não ser trabalhado. São comuns a todos os profissionais de média e servem de guia para a execução do seu trabalho. Depois de selecionar os acontecimentos a divulgar, o jornalista passa à construção da mensagem, que pode assumir diferentes formas textuais – os géneros jornalísticos. Os mais conhecidos são: a notícia, a reportagem, a entrevista, a crónica e o editorial. A notícia cumpre a função básica de relatar a máxima informação, no menor tempo ou espaço possíveis, e com a maior eficácia comunicativa. Antes de partir para a redação da notícia, o jornalista define o ângulo a adotar, isto é, a abordagem que considera mais adequada para contar a sua história. A notícia tradicional é estruturada segundo a pirâmide invertida, técnica através da qual os acontecimentos são narrados em ordem decrescente de importância. O lead surge no primeiro parágrafo do texto e os dados adicionais da informação aparecem no corpo da notícia. A notícia em texto recebe um tratamento distinto quando é pensada para figurar ou no meio impresso ou no online. As especificidades do meio condicionam a estrutura da peça jornalística.

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Projeto:

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Índice 1 SUMÁRIO ............................................................................................................................... 1

2 ENQUADRAMENTO GERAL .................................................................................................... 2

3 O ACESSO À INFORMAÇÃO: AS FONTES ................................................................................ 2

3.1 A seleção das fontes de informação ............................................................................. 3

4 OS VALORES-NOTÍCIA ............................................................................................................ 4

4.1. Valores-notícia de seleção ............................................................................................ 5

4.2. Valores-notícia de construção ....................................................................................... 7

5 CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS JORNALISTAS ....................................................................... 9

6 OS GÉNEROS JORNALÍSTICOS ................................................................................................ 9

7 A ESTRUTURA DA NOTÍCIA .................................................................................................. 12

7.1. O ângulo da notícia ..................................................................................................... 12

7.2. A pirâmide invertida .................................................................................................... 12

7.3. As seis questões fundamentais ................................................................................... 14

7.4. O lead e o corpo da notícia ......................................................................................... 15

8 CARACTERÍSTICAS DA NOTÍCIA EM TEXTO .......................................................................... 15

8.1. Diferenças da notícia em texto na imprensa e no online ............................................ 16

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 18

Anexo 1 – Taxonomia das fontes de informação ........................................................................ 19

Anexo 2 – As componentes da notícia em texto ......................................................................... 23

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1 SUMÁRIO

A informação que aparece nos média resulta de um trabalho de pesquisa e de

seleção realizado pelo jornalista, que disponibiliza ao público os conteúdos mais

importantes a saber sobre um determinado assunto.

Os jornalistas acedem aos factos que divulgam por duas vias: através de

observação direta ou do relato que outras pessoas fazem dos acontecimentos. Neste

último caso, falamos das fontes de informação. As fontes de informação são pessoas,

organizações, grupos sociais ou referências que disponibilizam dados aos jornalistas

para que estes produzam notícias. Fazem-no, normalmente, com o intuito de verem

publicadas mensagens do seu interesse, e, por isso, cabe ao jornalista apurar se a

informação que lhe foi transmitida é ou não credível.

Mesmo que a informação dada pela fonte seja credível, é ainda necessário apurar

se a mesma tem valor para ser notícia. Os valores-notícia são os critérios utilizados

pelos jornalistas para determinarem se um acontecimento merece ou não ser

trabalhado. São comuns a todos os profissionais de média e servem de guia para a

execução do seu trabalho.

Depois de selecionar os acontecimentos a divulgar, o jornalista passa à construção

da mensagem, que pode assumir diferentes formas textuais – os géneros jornalísticos.

Os mais conhecidos são: a notícia, a reportagem, a entrevista, a crónica e o editorial.

A notícia cumpre a função básica de relatar a máxima informação, no menor tempo

ou espaço possíveis, e com a maior eficácia comunicativa. Antes de partir para a

redação da notícia, o jornalista define o ângulo a adotar, isto é, a abordagem que

considera mais adequada para contar a sua história. A notícia tradicional é estruturada

segundo a pirâmide invertida, técnica através da qual os acontecimentos são narrados

em ordem decrescente de importância. O lead surge no primeiro parágrafo do texto e

os dados adicionais da informação aparecem no corpo da notícia.

A notícia em texto recebe um tratamento distinto quando é pensada para figurar

ou no meio impresso ou no online. As especificidades do meio condicionam a estrutura

da peça jornalística.

Palavras-chave: fontes de informação, valores-notícia, géneros jornalísticos, notícia, pirâmide

invertida, notícia impressa, notícia online

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2 ENQUADRAMENTO GERAL

Como pudemos constatar no primeiro módulo deste curso, no qual explorámos os

conceitos de Literacia Mediática e de Literacia Científica, os média podem ser uma boa

ferramenta educativa para o ensino das alterações climáticas.

A informação divulgada pelos diversos meios de comunicação social resulta de um

trabalho de pesquisa e de seleção de informação realizados pelo jornalista, que

disponibiliza ao público os conteúdos mais importantes a reter sobre um determinado

assunto. Fruto deste trabalho, a informação que é transmitida é rigorosa e relevante,

sendo, por isso, válida para uso no ensino.

Mas, para retirar o máximo proveito dos meios de comunicação em contexto de

sala de aula, é importante perceber como é que os profissionais constroem as notícias

e que critérios utilizam para determinarem o que deve ser noticiável. No fundo,

referimo-nos à compreensão do processo jornalístico e à determinação dos valores-

notícia. Do mesmo modo, importa conhecer a forma como os jornalistas obtêm dados

para escreverem notícias e a técnica utilizada para estruturarem a informação, o que

implica conhecer a pirâmide invertida. É sobre estes assuntos que nos iremos debruçar

neste módulo, no qual daremos também destaque à redação da notícia em texto.

3 O ACESSO À INFORMAÇÃO: AS FONTES

Os jornalistas acedem à informação que divulgam por duas vias: através de

observação direta de um acontecimento ou através do relato que outras pessoas

fazem do mesmo. Neste último caso, falamos das fontes de informação.

Como a maioria dos jornalistas não observa diretamente os factos que relata,

necessita de recorrer às fontes de informação, que lhes fornecem dados ou a descrição

de acontecimentos para produzirem notícias (Fontcuberta, 1999). De acordo com

Schmitz (2011), as fontes de informação são pessoas, organizações, grupos sociais ou

referências, que estão envolvidos direta ou indiretamente em determinados factos e

eventos. Agem de forma pró-ativa, ativa, passiva ou reativa e são confiáveis, fidedignas

ou duvidosas. É através delas que os jornalistas obtêm informações de modo explícito

ou confidencial para transmitir ao público, através dos média.

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Cabe ao jornalista verificar a real validade da informação que chega às redações e

selecionar as fontes que fornecem dados relevantes. A informação utilizada pelos

meios de comunicação é “a que o meio procura através dos seus contactos; e a que o

meio recebe por iniciativa dos vários sectores interessados” (Fontcuberta, 1999, p. 46).

3.1 A seleção das fontes de informação

O prestígio de um jornal é demonstrado pelo número, qualidade e pluralismo das

suas fontes de informação (Fontcuberta, 1999). Contudo, nem todas as fontes

transmitem informação relevante ou são dignas de confiança, pois podem estar a

divulgar dados com o objetivo de verem publicadas mensagens do seu interesse. Neste

contexto, é importante referir que “Existem fontes capazes de moldar o conteúdo das

notícias, bloquear ou acelerar a sua difusão e aumentar ou diminuir o seu impacto

público” (Ribeiro, 2009, p. 18).

Como os média informativos têm o compromisso de relatar a verdade dos

acontecimentos ao público, precisam de atender a um conjunto de critérios para

determinar se a informação veiculada por uma fonte é verdadeira ou falsa. Assim,

perante um certo facto noticiável, o jornalista precisa de consultar várias fontes, para

garantir que a informação que transmite não se baseia somente no ponto de vista de

uma única fonte e não reflete apenas a versão de um aspeto da realidade

(Fontcuberta, 1999). Além disso, é necessário ter em conta o estatuto da fonte e a sua

credibilidade para falar sobre o assunto em causa. Por exemplo, um membro da

Agência Portuguesa do Ambiente possui mais autoridade para se pronunciar sobre

políticas ambientais do que um cidadão comum. Por uma questão de segurança, pode

ser também conveniente realizar uma investigação autónoma sobre o tema a noticiar,

o que pode implicar cruzar informação e consultar dados disponíveis noutro tipo de

fontes (ver tabela 1).

Tabela 1 – Síntese dos aspetos a ter em conta na seleção das fontes de informação.

Aspetos a ter em conta na seleção de fontes de informação

- Recorrer a várias fontes de informação;

- avaliar a credibilidade da fonte, isto é, apurar o seu estatuto e capacidade para falar sobre o tema

em questão;

- apurar a veracidade da informação facultada pela fonte, o que pode implicar realizar pesquisa

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Aspetos a ter em conta na seleção de fontes de informação

autónoma;

- ter perspicácia para perceber se a informação recebida é realmente importante para o público;

- verificar se a fonte apresenta uma relação frequente com o média (Schmitz, 2011);

- averiguar se a fonte é produtiva, isto é, se antecipa e agiliza o acesso à informação (Schmitz, 2011).

O Anexo 1 deste manual aprofunda a temática da tipologia das fontes, com base

no trabalho de Schmitz (2011).

4 OS VALORES-NOTÍCIA

Os jornalistas são confrontados diariamente com um manancial de informação que

chega às redações por intermédio das fontes de informação. Uma vez que é impossível

noticiar todos os acontecimentos e nem todo o material possui interesse, é necessário

selecionar a informação que merece adquirir existência pública como notícia. Deste

modo, precisamos de conhecer os critérios utilizados pelos jornalistas para

determinarem se um acontecimento é ou não noticiável.

Os profissionais dos média utilizam aquilo a que se designa de valores-notícia ou

critérios de noticiabilidade (do inglês, newsworthiness) para estabelecerem os factos

que devem ser noticiados para o público. Estes valores “são um elemento básico da

cultura jornalística, partilhado pelos membros desta comunidade interpretativa.

Servem de ‘óculos’ para ver o mundo e para o construir” (Traquina, 2002, p. 203). Os

valores-notícia são comuns a todos os jornalistas e servem de guia para a execução do

seu trabalho.

Várias têm sido as abordagens propostas para caracterizar os principais valores-

-notícia que orientam a prática jornalística. Neste manual, adotamos a abordagem de

Traquina (2004) sobre valores-notícia. Traquina entende, tal como Silva (2005), que “os

valores-notícia estão presentes ao longo de todo o processo de produção jornalística,

ou seja, no processo de seleção dos acontecimentos e no processo de elaboração da

notícia” (Traquina, 2004, p. 107). Deste modo, há a considerar que as características do

facto em si, assim como os fatores relacionados com a prática noticiosa (como a

redação do texto), entram também na equação (Silva, 2005).

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A partir destas referências dividimos a lista de valores-notícia em duas categorias

distintas: os valores-notícia de seleção e os valores-notícia de construção, que

explicaremos de seguida.

4.1. Valores-notícia de seleção

Os valores-notícia de seleção referem-se aos critérios utilizados pelo jornalista na

seleção dos acontecimentos a transformar em notícia (Traquina, 2004). É importante

sublinhar que estudar a seleção implica rastrear os juízos de valor do seletor, as suas

influências organizacionais, sociais e culturais e, até mesmo, a participação das fontes

e do público nessas decisões (Silva, 2005).

Segundo Traquina (2004), os valores-notícia de seleção dividem-se em dois

subgrupos:

a) critérios substantivos – que se referem à determinação da importância e do

interesse do facto para ser transformado em notícia. São eles:

Morte – este é um valor-notícia fundamental para a comunidade

jornalística, porque provoca impacto e desperta a atenção do público.

Notoriedade – um facto é mais provável de receber a atenção do jornalista,

se nele estiverem envolvidas pessoas conhecidas e pertencentes à elite. Por

exemplo, o primeiro-ministro recebe atenção mediática pela sua

reconhecida importância.

Proximidade – os acontecimentos são mais prováveis de serem notícia se

tiverem proximidade geográfica e cultural com o público. Por exemplo, um

acidente rodoviário na cidade de Matosinhos tem mais probabilidade de ser

noticiado num jornal portuense do que num média do Algarve.

Relevância – os factos só merecem ser noticiados se forem importantes

para o público e se tiverem impacto na sua vida. Os acontecimentos

adquirem ainda mais relevância se afetarem o país ou a nação. Por

exemplo, uma situação de guerra ou conflito nacional é um evento

altamente noticiável.

Novidade – para os jornalistas é fundamental que os acontecimentos sejam

novos. A comunidade jornalística interessa-se muito pela primeira vez.

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Tempo – este é um valor-notícia na forma da atualidade. Isto é, os

acontecimentos merecem ser noticiados se forem atuais. Por outro lado, é

possível transformar em notícia acontecimentos passados que tiveram

lugar numa data específica. Referimo-nos às efemérides. Assim sendo, o

aniversário da morte de um presidente pode ser notícia.

Notabilidade – para ser noticiado, um acontecimento tem de ser visível e

tangível. Por exemplo, uma greve operária é facilmente noticiável, porque é

tangível, ao passo que a reflexão sobre as condições laborais dos operários

dificilmente será notícia, porque é pouco concreta. Não está limitada a um

espaço temporal e a um local.

Inesperado – refere-se a acontecimentos que surpreendem a comunidade

jornalística. A queda da ponte de Entre-os-Rios, ocorrida a 4 de março de

2001, em Portugal, enquadra-se neste valor-notícia.

Conflito ou controvérsia – acontecimentos que contenham violência física

ou simbólica são bastante noticiados pelos jornalistas. Os crimes, por

exemplo, encaixam-se neste critério.

b) critérios contextuais – dizem respeito à facilidade que os jornalistas têm para

produzir a notícia, tendo em conta os critérios:

Disponibilidade – refere-se à facilidade com que é possível fazer a cobertura

do evento. Dado que as empresas jornalísticas têm recursos limitados, é

conveniente questionar se o valor-notícia do acontecimento justifica os

custos subjacentes à sua cobertura jornalística.

Equilíbrio – envolve a avaliação da quantidade das notícias que foram

publicadas sobre o assunto que se tem em vista divulgar. Desta forma, é

possível utilizar o argumento de que não se divulga o acontecimento,

porque o mesmo foi noticiado há pouco tempo.

Visualidade – diz respeito à existência de elementos visuais (imagens, por

exemplo) para ilustrar a notícia. Este valor-notícia é particularmente

relevante no jornalismo televisivo, que depende das imagens para poder

fazer notícias.

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Concorrência – liga-se com a capacidade de noticiar acontecimentos que a

concorrência não tem. Especificamente, um jornalista atribui maior valor a

um evento se este for exclusivo, ou seja, se souber que a concorrência não

o vai noticiar.

Dia noticioso – os acontecimentos estão em concorrência uns com os

outros. Há dias que são ricos em acontecimentos com valor-notícia e dias

que são pobres nesses acontecimentos. Assim sendo, um evento que até

possui valor para ser noticiado, pode ser colocado de lado pelo surgimento

de um mega-acontecimento, como o caso Watergate, ocorrido na década

de 1970, nos Estados Unidos da América.

O esquema 1 sintetiza as questões-chave que o jornalista poderá colocar, para

determinar se um acontecimento tem valor-notícia.

Esquema 1 – Resumo das questões-chave a colocar para os dois subtópicos dos valores-notícia de seleção.

4.2. Valores-notícia de construção

Os valores-notícia de construção referem-se ao aspeto mais prático da atividade

jornalística, ou seja, ao momento em que se transforma o acontecimento selecionado

em notícia. Nesta fase, selecionam-se os aspetos a dar mais destaque quando se

constrói a peça. De acordo com Traquina (2004), são eles:

Valores-notícia de

seleção

Critérios substantivos:

- O acontecimento é

importante?

- Tem interesse para

ser notícia?

- O facto possui um

ou vários critérios de

noticiabilidade?

Critérios contextuais:

- Consigo chegar

facilmente ao

acontecimento?

- Tenho elementos

visuais para ilustrar a

notícia?

- O acontecimento é

exclusivo, ou já foi

publicado pela

concorrência?

- Etc.

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a) Simplificação – é utilizado pelo jornalista para tornar a notícia mais

compreensível para o público. O objetivo consiste em reduzir a ambiguidade e

a complexidade do acontecimento. Neste sentido, utilizam-se muitas vezes

clichés ou estereótipos para simplificar a informação.

b) Amplificação – consiste em amplificar o ato, o interveniente ou as supostas

consequências, de forma a que a notícia seja notada. Um exemplo que atesta

este valor-notícia é: “Portugal chora a morte de Amália Rodrigues”.

c) Relevância – o jornalista deve evidenciar os motivos por que um

acontecimento é importante para as vidas das pessoas.

d) Personalização – o jornalista deve procurar dar destaque às pessoas que estão

envolvidas no acontecimento. Trata-se de uma estratégia para agarrar o leitor,

pois as pessoas interessam-se por outras pessoas.

e) Dramatização – consiste no reforço dos aspetos mais emocionais e conflituais

do acontecimento, mais uma vez, para ir de encontro aos interesses do público.

f) Consonância – o jornalista procura inserir a notícia num contexto conhecido,

para que o recetor consiga compreendê-la mais facilmente. Mobiliza, assim,

histórias já conhecidas pelo público.

No esquema 2, sintetizamos alguns aspetos a ter em conta durante a elaboração

da notícia, de acordo com os valores-notícia de construção.

Esquema 2 – Resumo das questões-chave dos valores-notícia de construção.

Valores-notícia de construção Questões-chave:

- Como é que construo a notícia de

forma a torná-la apelativa?

- A que aspetos vou dar maior

destaque?

- Como posso personalizar a notícia? A

que pessoa envolvida vou dar relevo?

- Como posso mostrar que o

acontecimento é relevante para o

público?

- Etc.

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5 CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS JORNALISTAS

A seleção da informação é também condicionada pelo Código Deontológico dos

Jornalistas (CDJ). O CDJ define um conjunto de regras que orientam o exercício da

atividade jornalística. Algumas das obrigações contempladas no CDJ são, por exemplo,

a necessidade de o jornalista comprovar os factos que relata, a proibição de referir

acusações sem provas e de plagiar informação, a proibição de abusar da boa-fé de

quem quer que seja, a utilização de meios leais para a obtenção de informações,

imagens ou documentos, etc. (Sousa, 2001).

6 OS GÉNEROS JORNALÍSTICOS

Após a análise dos critérios utilizados pelos jornalistas para a seleção dos

acontecimentos a noticiar, é imperativo conhecer as diferentes formas textuais

existentes para transmitir os acontecimentos ao público. Referimo-nos aos géneros

jornalísticos.

Segundo Lopes (2010, p. 8), os géneros jornalísticos “Funcionam como categorias

básicas intrinsecamente ligadas à expressão da mensagem jornalística, à sua forma e

estrutura”. Na prática, correspondem aos diferentes tipos de textos que encontramos

nos média: notícias, reportagens, entrevistas, crónicas, etc..

Os géneros jornalísticos estão em constante transformação e não têm fronteiras

rígidas. Na verdade, assistimos atualmente a uma tendência para a hibridização de

géneros, possibilitada devido aos novos média que têm a Internet como suporte, os

quais permitem explorar novas formas de construir a informação e de a transmitir ao

recetor.

São várias as propostas de classificação dos géneros jornalísticos. Basicamente,

podemos dizer que existem dois grandes grupos: o da informação e o da opinião

(Lopes, 2010). No primeiro grupo, inserem-se os géneros que visam dar a conhecer

factos/acontecimentos, através da sua descrição e narração, ao passo que, no

segundo, encaixam-se os que procuram transmitir ideias através da exposição de

comentários e juízos de valor acerca de factos/acontecimentos. Esta perspetiva binária

dos géneros jornalísticos impera no universo anglo-saxónico. Contudo, vários autores

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consideram-na incompleta e sugerem o acrescento de outras categorias,

nomeadamente a interpretação, a argumentação e o entretenimento (Santos, 2009).

Tendo em conta os propósitos deste manual, e no sentido de facilitarmos a

compreensão, adotamos a perspetiva anglo-saxónica (a tradicional). A tabela seguinte

apresenta, assim, diversos géneros informativos e opinativos.

Tabela 2 – Representação dos géneros jornalísticos informativos e opinativos (com base em Lopes, 2009).

Estilo Género

Informativo Notícia, breve, reportagem, entrevista, inquérito

Opinativo Editorial, artigo de opinião, artigo de análise, comentário, crónica

Pela importância e pela frequência na prática jornalística, vamos distinguir neste

manual os seguintes géneros jornalísticos: notícia, reportagem, entrevista, crónica e

editorial.

a) Notícia: este é o género jornalístico mais comum. Consiste num texto

informativo, que deve ser relativamente curto e escrito numa linguagem direta,

clara e concisa. A notícia caracteriza-se pelo relato de acontecimentos atuais,

novos e verídicos. No fundo, procura-se transformar em história factos que

afetem um grande número de pessoas. A notícia é construída tendo por base a

técnica da pirâmide invertida (ver ponto 7.2) e a sua redação segue uma

estrutura mais ou menos fixa (antetítulo, título, lead e texto) (DN Escolas, S.d.).

Dado ser o objeto de enfoque deste módulo, a notícia merecerá um maior

desenvolvimento no tópico seguinte.

b) Reportagem: este é considerado quase unanimemente como o género nobre

do jornalismo, assumindo um papel de destaque nesta profissão. A reportagem

é uma história e, tal como na notícia, o seu principal objetivo é informar,

fazendo-o, contudo, de uma forma mais profunda e exaustiva, através de um

estilo narrativo, mais descritivo, humanizado e criativo (DN Escolas, S.d.). A

reportagem “ilustra a vida enquanto informa em profundidade; a partir de um

conjunto de pessoas (ou até de um caso isolado) parte-se para a generalização

do mundo” (Santos, 2009). É um género jornalístico que nos ajuda a

compreender uma certa perspetiva da realidade, pela voz de pessoas, de

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situações, acontecimentos, etc.. Utiliza, com frequência, elementos de outros

géneros jornalísticos, como a entrevista.

c) Entrevista: a entrevista só é considerada um género jornalístico autónomo

quando surge isoladamente ou quando é parte essencial de uma peça

jornalística (DN Escolas, S.d.). Desta forma, as perguntas feitas pelos jornalistas,

tendo em vista a recolha de informação para a elaboração de uma notícia, por

exemplo, não se encaixam dentro do género entrevista. Na entrevista, o

jornalista estabelece uma relação com o entrevistado, com o intuito de se

informar sobre um acontecimento ou sobre uma pessoa ou com o objetivo de

comentar ou explicar um acontecimento (Santos, 2009). Este género justifica-se

quando “o tema abordado ou o perfil do entrevistado são do interesse dos

leitores. Enquanto género jornalístico, a entrevista é redigida em formato de

pergunta/resposta” (DN Escolas, S.d.).

d) Crónica: é a narração de um acontecimento atual com a inclusão de alguns

elementos valorativos, que espelham a visão do cronista. Este género

jornalístico tem a sua origem etimológica na história da literatura, uma vez que

procura refletir o que aconteceu entre duas datas (Fontcuberta, 1999). As

crónicas podem versar sobre diversas temáticas (viagens, política, desporto,

etc.) e pressupõem uma continuidade por parte do cronista. Esta continuidade

e regularidade opõem-se ao caráter ocasional dos restantes géneros

jornalísticos. Na crónica, o autor do texto mistura as técnicas de redação

jornalística (exposição clara, rapidez, estilo direto e simples) com as técnicas de

escrita literárias (invenção de personagens, diálogos, monólogos, etc.). Neste

género, existe uma simbiose entre autor e texto, pelo que falar em crónica

anónima é uma contradição.

A essência da crónica está no juízo, no comentário e nas recomendações feitas

pelo cronista ao público (González, 2004). O narrador observa os factos,

apreende-os, questiona-os e imprime-lhes a sua visão pessoal do mundo.

e) Editorial: dá a conhecer aos leitores o posicionamento do jornal sobre um

determinado assunto da atualidade e é quase sempre redigido por um

elemento que pertence à direção do meio de comunicação (DN Escolas, S.d.). O

editorial não é, geralmente, assinado. No sentido de conferir credibilidade ao

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texto, a opinião expressa no editorial deve ser suportada com factos e

evidências que apoiem a posição assumida pelo média. Este género jornalístico

influencia a opinião pública, promove o pensamento crítico e pode, por vezes,

levar as pessoas a tomarem medidas relativamente a um determinado

problema. O editorial deve ser escrito com bastante cuidado, uma vez que

reflete a posição coletiva do jornal.

7 A ESTRUTURA DA NOTÍCIA

Após termos analisado os critérios utilizados pelos jornalistas para a seleção dos

acontecimentos a noticiar e de termos passado em revista os principais géneros

jornalísticos, vamos agora debruçar-nos especificamente sobre a notícia, o género com

maior enfoque neste segundo módulo.

7.1. O ângulo da notícia

A definição do ângulo da notícia é uma das primeiras tarefas levadas a cabo pelo

jornalista. O ângulo diz respeito à abordagem escolhida pelo jornalista para contar a

sua história. Um determinado acontecimento pode ser analisado sob ângulos

diferentes. Por exemplo, uma notícia sobre a abertura de um novo parque solar pode

ser coberta sob diferentes perspetivas. O relato pode destacar:

- a abertura do parque (valor-notícia “novidade”);

- os impactos económicos do parque solar na região;

- os impactes ambientais do parque solar na região, etc..

7.2. A pirâmide invertida

Segundo Fontcuberta (1999, p. 64), a “notícia é um texto que cumpre uma função

básica: relatar a informação máxima sobre um facto no menor tempo ou espaço

possíveis e com a maior eficácia comunicativa”.

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Quando se estrutura uma notícia, é necessário atender a duas importantes

questões: o que se quer dizer e a quem se pretende transmitir a mensagem. A notícia

criativa não segue, contudo, esta norma, porque utiliza novas formas de narrativa e de

linguagem (Fontcuberta, 1999).

A notícia tradicional é estruturada tendo por base a pirâmide invertida, que é

talvez o modelo clássico de apresentação da informação no jornalismo. Nesta técnica,

o núcleo da informação (o mais importante) é colocado no primeiro parágrafo do

texto: o lead. Os pormenores que complementam o lead surgem no corpo da notícia,

o qual procura explicar o assunto tratado com maior profundidade. Nesta estrutura

hierárquica, os acontecimentos são narrados partindo dos mais importantes para os

menos importantes.

A pirâmide invertida é muito útil no âmbito da informação. A técnica ajuda o leitor

a selecionar os dados mais importantes de cada notícia (presentes no título e nas

primeiras linhas do texto) e facilita a supressão dos últimos parágrafos (que contêm a

informação menos relevante), ajudando a encurtar a peça, caso seja necessário. O

esquema abaixo, ilustra a hierarquia da informação na pirâmide invertida.

Esquema 3 – Representação da pirâmide invertida.

A pirâmide invertida é, provavelmente, o modelo mais conhecido e o mais comum

na redação de notícias, sobretudo de notícias breves. É um modelo igualmente

utilizado em reportagens, sobretudo nas de pequena extensão, e em pequenas

entrevistas (Sousa, 2001).

+ Importante

(topo da pirâmide)

- Importante

(base da pirâmide)

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7.3. As seis questões fundamentais

Toda a notícia deve responder a seis questões essenciais: O quê?, Quem?,

Quando?, Onde?, Porquê? e Como?. O princípio subjacente é o seguinte: deve existir

uma resposta concreta para cada uma das perguntas. Fontcuberta (1999) sintetiza

assim as respostas para cada uma das questões:

O quê? – refere-se aos acontecimentos ou ideias, sobre os quais a notícia vai

informar;

Quem? – diz respeito a todos os atores/protagonistas que aparecem na

notícia;

Quando? – refere-se ao momento em que decorreu a ação. Ajuda a situá-la

num tempo concreto e delimitado;

Onde? – diz respeito ao espaço onde se desenrolam os factos, delimitando o

local da ação;

Porquê? – procura relatar os motivos que originaram os acontecimentos;

Como? – relata as modalidades e as circunstâncias de que os factos se

revestiram.

Imaginemos que queremos cobrir uma história sobre a aplicação de medidas de

adaptação numa determinada região do país. Assim sendo, precisamos de responder

às questões:

O quê? – que (tipo de) medidas de adaptação vão ser aplicadas?;

Quem? – que município do país as vai aplicar? Quem são os principais

responsáveis pela sua implementação? De quem partiu a ideia? Etc.;

Quando? – quando vão as medidas ser implementadas? Há uma data prevista?;

Onde? – qual a região do país que vai ser alvo de ação?;

Porquê? – quais os motivos que originaram a implementação das medidas?

Existem vulnerabilidades na região que justifiquem as ações a empreender? Se

sim, quais?;

Como? – de que forma vão as medidas de adaptação ser implementadas? O

financiamento disponível é suficiente para levar a cabo a ação?

Page 17: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

15

7.4. O lead e o corpo da notícia

O lead corresponde ao primeiro parágrafo da notícia e é a sua parte fundamental.

Nele se respondem às questões mais importantes do texto noticioso, ou seja, às

quatro primeiras questões mencionadas no esquema 4 (que se segue). Também se

pode incluir no lead as seis questões que referimos no tópico 7.3. Todos os leads

devem explicar a essência do acontecimento e captar a atenção do recetor.

O corpo do texto explica a restante informação, sendo constituído por dados

adicionais. Em síntese, deve incluir (Fontcuberta, 1999):

Informação que amplie e explique o lead;

Dados que situem a notícia num certo contexto (caso necessário);

Informação secundária ou de menor relevância.

Esquema 4 – Representação do lead e do corpo da notícia dentro da técnica da pirâmide invertida

8 CARACTERÍSTICAS DA NOTÍCIA EM TEXTO

A escrita da notícia em texto obedece a regras específicas. O Anexo 2 apresenta

algumas das normas a considerar no momento da redação.

Corpo

O Quê?

Quando?

Quem?

Onde?

Lead

Corpo da Notícia

Porquê?

Como?

Page 18: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

16

A técnica da pirâmide invertida (ver tópico 7.2.) é a base para a construção da peça

noticiosa em texto. Podemos encontrar este formato tanto no meio online como no

impresso.

8.1. Diferenças da notícia em texto na imprensa e no online

A notícia em texto recebe um tratamento distinto quando é pensada para figurar

no meio impresso ou no online. É relevante distinguir as características de cada um dos

meios, dado que as suas especificidades condicionam a estrutura textual. A tabela

abaixo faz uma síntese das principais preocupações da construção da notícia para o

meio impresso e para o online. A coluna referente ao online foi construída a partir de

informação obtida do manual News Reporting and Writing (Brooks, Kennedy, Moen &

Ranly, 2002). Os tópicos presentes na coluna da imprensa foram elaborados a partir da

contraposição com as características do online.

Tabela 3 – Síntese dos aspetos a ter em conta na redação da notícia no meio impresso e no online.

Notícia em Texto Imprensa Online

Tip

o d

e n

arra

tiva

- Linear, ou seja, as ideias no corpo do texto

são apresentadas de acordo com uma

sequência lógica e hierárquica. Há uma

preocupação com a continuidade, com a

sequência da história.

- Não-linear, ou seja, não apresenta uma

sequência de leitura obrigatória. No online, o

leitor pode saltar para a parte que deseja ler,

uma vez que a narrativa é hipertextual1. Por

exemplo, uma notícia sobre erosão costeira

em Espinho (distrito de Aveiro) pode ter uma

hiperligação para um mapa que compare a

zona na atualidade e há 30 anos atrás.

Po

stu

ra d

o le

ito

r p

eran

te a

info

rmaç

ão

- Postura pouco ativa: embora possa decidir

se quer ou não ler a notícia até ao fim, o

leitor não tem um total controlo sobre a

informação apresentada.

- Impossibilidade de o leitor dar um feedback

imediato sobre o conteúdo que leu.

- Postura muito ativa: o leitor online tem o

controlo da sequência da história; é ele que

escolhe o que deseja ler e a sequência que

melhor serve as suas necessidades. Pode

percorrer várias hiperligações que o levam

para conteúdos dentro e fora da notícia.

- Possibilidade de o leitor dar um feedback

imediato sobre o conteúdo que leu,

emitindo a sua opinião, através de um

comentário à notícia, por exemplo.

1 A narrativa hipertextual contém hiperligações para outras notícias ou websites.

Page 19: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

17

Notícia em Texto Imprensa Online

Ap

rese

nta

ção

da

info

rmaç

ão

- Texto repartido em várias colunas.

- Uso de entretítulos para separar cada

segmento da história.

- Segmentos articulados entre si: cada

segmento da história não vale por si só;

depende do que foi dito no anterior.

- História dividida em partes, com diferentes

graus de detalhe (os leitores podem não

querer ler todo o conteúdo).

- Segmentos independentes: cada segmento

da mesma história vale por si só.

- Uso de lead em cada início de segmento,

para cativar o leitor.

- Informação extra surge em barras laterais

(a leitura é opcional).

Pre

ocu

paç

õe

s

- Coerência do texto e das imagens que o

ilustram.

- Agregação de todos os elementos da

história, de uma forma a criar um texto

coerente.

- Forma como se fazem as transições entre

os acontecimentos.

- Forma como a informação aparece no ecrã.

É preciso ajudar o leitor a navegar de local

para local para encontrar a informação que

pretende, sendo necessário, por vezes, dar-

lhe orientações claras.

- Relação entre as partes e os diferentes

níveis da história.

- Atenção para não dispersar o leitor, pelo

excesso de hiperligações.

Esp

aço

- Limitado: a impressão do papel fica cara,

por isso, há que estabelecer limites aos

relatos noticiosos.

- Ilimitado: a notícia deve ter obviamente

limites, mas os custos de publicação online

não implicam uma restrição de espaço tão

evidente.

Atu

alid

ade

info

rmat

iva

- Atualidade do relato, apesar de o meio

impresso não possuir a imediatez do meio

online. Os acontecimentos que surgem nos

jornais passaram-se no dia anterior.

- Imediatez do relato, dado a informação ser

atualizada continuamente.

Van

tage

ns

- Estruturação do texto que permite ao leitor

assumir uma postura menos ativa, enquanto

consome a informação.

- Maior qualidade do texto, dado o jornalista

de imprensa ter mais tempo para preparar a

informação.

- Possibilidade de complementar o texto com

vídeo, áudio, infografia ou imagens,

oferecendo assim um relato mais completo

ao leitor.

- Interatividade do online.

Page 20: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

18

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brooks, B., Kennedy, G., Moen, D. & Ranly, D. (2002). News Reporting and Writing (7ª ed.). Boston: Bedford/St. Martin’s.

DN Escolas (S.d.). O que são Géneros Jornalísticos?. Acedido a 17 de abril, 2015, de: http://www.dnescolas.dn.pt/index.php?a=kitmedia&p=2_3

Fontcuberta, M. (1999). A Notícia: pistas para compreender o mundo. Lisboa: Editorial Notícias.

González, J. (2004). La crónica periodística. Evolución, desarrollo y nueva perspectiva: viaje desde la historia al periodismo interpretativo. Global Media Journal Edición Iberoamericana, 1(1), pp. 26-39. Acedido de: http://gmje.mty.itesm.mx/articulos1/pdf/gil.pdf

Lopes, P. C. (2010). Géneros literários e géneros jornalísticos – Uma revisão teórica de conceitos. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação, pp. 1-11. Acedido de: http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-generos-lopes.pdf

Ribeiro, V. (2009). Fontes Sofisticadas de Informação. Análise do Produto Jornalístico Político da Imprensa Nacional Diária de 1990 a 2005. Lisboa: Media XXI | Formalpress.

Santos, H. (2009). O fim dos Géneros Jornalísticos? Os Elementos Informativos que resultam das novas práticas. In Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Eds.), Livro de Actas – 6º Congresso SOPCOM. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Acedido de: http://conferencias.ulusofona.pt/index.php/sopcom_iberico/sopcom_iberico09/paper/vi ewFile/415/411.

Schmitz, A. A. (2011). Fontes de notícias: ações e estratégicas das fontes no jornalismo. Florianópolis: Combook.

Silva, G. (2005). Para pensar critérios de noticiabilidade. Estudos em Jornalismo e Mídia, 2(1), pp. 95-107.

Sousa, J. P. (2001). Elementos de jornalismo impresso. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação, pp. 1-542. Acedido de: http://www.bocc.uff.br/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf

Traquina, N. (2002). O que é Jornalismo. Lisboa: Quimera Editores.

Traquina, N. (2004). A Tribo Jornalística: uma comunidade transnacional. Lisboa: Editorial Notícias.

Page 21: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

19

Anexo 1 – Taxonomia das fontes de informação

De uma forma geral, o jornalista recorre a fontes de informação exclusivas e a

fontes de informação partilhadas. As fontes exclusivas são as mais valorizadas, pois

trazem informação exclusiva ou privilegiada, sendo também por isso mais difíceis de

obter. As fontes partilhadas são as que fornecem aos meios de comunicação

informação homogénea, considerada indispensável, e que é usada por todos os órgãos

de comunicação. Como exemplo destas últimas, referimos os gabinetes de imprensa,

as agências noticiosas, as conferências de imprensa, os comunicados, etc.

(Fontcuberta, 1999).

Hierarquizar as fontes é essencial na atividade jornalística e tal nem sempre é fácil.

Adotamos, neste curso, a taxonomia de Schmitz (2011) que propõe uma divisão das

fontes pelas seguintes áreas: categoria, grupo, ação, crédito e qualificação.

Categoria

Tendo em conta o seu envolvimento no assunto – direto ou indireto – uma fonte

pode ser primária ou secundária.

Fonte primária: está próxima do acontecimento ou da informação, podendo

mesmo estar na origem destes. Revela informação “em primeira mão”, que

pode depois ser confrontada com depoimentos de fontes secundárias;

Fonte secundária: contextualiza, interpreta, comenta ou complementa a

informação jornalística, obtida a partir de uma fonte primária.

Grupo

Toda a informação obtida tem origem em alguém ou em algo. Quem informa é

reconhecido pela notoriedade ou especialização.

Fonte oficial: alguém que ocupa um cargo público e que se pronuncia em

representação de órgãos do Estado;

Fonte empresarial: representa uma entidade empresarial (da indústria, do

comércio ou dos serviços, por exemplo). A sua relação com os média tem

frequentemente interesses comerciais ou institucionais, com o objetivo de

preservar a sua imagem ou reputação;

Page 22: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

20

Fonte institucional: representa uma organização sem fins lucrativos ou um

grupo social. Procura, normalmente, os meios de comunicação para sensibilizar

ou mobilizar o público para a causa que representa;

Fonte popular: refere-se, geralmente, a uma pessoa comum, que não está em

representação de nenhuma organização ou grupo social. Pode ser alguém que

presenciou um acontecimento noticiável;

Fonte notável: alguém que é conhecido pelo seu talento (por exemplo, artistas,

escritores, desportistas, profissionais liberais, etc.). Este tipo de fontes procura

falar sobre si e sobre o seu ofício;

Fonte testemunhal: funciona como álibi e dá o testemunho daquilo que viu ou

ouviu no local de um crime;

Fonte especializada: alguém com um conhecimento específico numa

determinada área. É o especialista, o intelectual ou até uma organização que

possui reconhecimento para falar sobre certo assunto;

Fonte referência: diz respeito a documentos, bibliografia e até mesmo aos

média que o jornalista consulta para construir uma peça. A bibliografia inclui

artigos, livros, teses e outras produções científicas.

Ação

As fontes atuam de acordo com a sua conveniência, embora pareçam agir com o

objetivo de colaborar com o jornalista. Umas são mais ativas do que outras na relação

que mantêm com os média.

Fonte pró-ativa: quando a fonte produz e oferece notícias prontas e de forma

antecipada. Utiliza o jornalismo para interferir na esfera pública. Este tipo de

fonte está permanentemente disponível para atender os jornalistas e fornece

informações com antecedência e de acordo com os critérios de noticiabilidade

(sobre os quais falamos no tópico 4 da parte II do manual do módulo II);

Fonte ativa: é menos ostensiva do que a fonte pró-ativa. Mantém uma relação

regular com os meios de comunicação. Cria rotinas (entrevistas exclusivas,

conferências de imprensa, etc.) e usa os média para defender os seus

interesses e gerir a sua reputação perante a sociedade;

Page 23: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

21

Fonte passiva: este tipo de fontes só se manifesta quando é consultada por

repórteres, fornecendo somente as informações solicitadas. Algumas fontes

são passivas por natureza, como as referências (bibliografia, documentos e

média) que estão disponíveis para consulta;

Fonte reativa: são fontes que só reagem quando são forçadas a fazê-lo, por

exemplo, se alguém é interpelado, por um jornalista, e afirma “Nada a

declarar”.

Crédito ou Atribuição

O crédito ou atribuição refere-se à identificação da pessoa ou entidade que

prestou informações para a produção da notícia. Por norma, todos os jornalistas

devem citar as suas fontes, de forma a garantirem a credibilidade da informação

prestada e a protegerem-se de possíveis acusações. Contudo, nem sempre a fonte de

informação quer ser identificada e pode acontecer que a revelação da sua identidade

comporte sérios riscos para o informador (Fontcuberta, 1999). Nesse caso, o jornalista

tem o direito de ocultar a sua fonte, recorrendo ao sigilo profissional. Vejamos os

vários tipos de atribuição que existem, de acordo com a autora:

Atribuição direta: quando o órgão de comunicação identifica a fonte de

informação (nome, profissão ou cargo) e cita a informação facultada. Por

exemplo: “o Ministro do Ambiente declarou que vai aumentar os impostos

sobre os combustíveis fósseis”;

Atribuição com reservas: a fonte não é explicitamente identificada, mas é

situada num contexto e as suas informações podem ser citadas. Concretizando:

“fontes do Ministério do Ambiente” ou “Círculos próximos do Ministro do

Ambiente”;

Atribuição com reserva obrigatória: o média não indica as fontes e apresenta as

informações como se fossem suas;

Atribuição com reserva total (off the record): o jornalista obtém informações da

fonte, mas não as pode publicar nem atribuir. Este tipo de informação é

utilizada com o objetivo de fornecer elementos ao jornalista para que este

interprete melhor certos acontecimentos. Muitas vezes, esta técnica é também

usada por grupos de pressão para fazerem circular rumores.

Page 24: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

22

Qualificação

As fontes podem distinguir-se quanto à sua maior ou menor credibilidade. É

conveniente notar que faz parte da cultura jornalística tratar as fontes com suspeita

(Chaparro, 2009, referido em Schmitz, 2011). Podemos qualificar uma fonte como:

Confiável: a fiabilidade das fontes determina-se pelo histórico de veracidade

das suas declarações. Assim, se uma fonte forneceu sempre informação

verdadeira e certa, atempadamente, é provável que continue a fazê-lo;

Fidedigna: o jornalista procura também as fontes atendendo à reputação,

notoriedade e credibilidade das mesmas. Tendo em conta o compromisso do

jornalista com a verdade, as fontes fidedignas são bastante requisitadas.

Duvidosa: existem algumas reservas quanto à credibilidade da fonte e à

informação que esta veicula.

Referências bibliográficas

Fontcuberta, M. (1999). A Notícia: pistas para compreender o mundo. Lisboa: Editorial Notícias.

Schmitz, A. A. (2011). Fontes de notícias: ações e estratégicas das fontes no jornalismo. Florianópolis: Combook.

Page 25: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

23

Anexo 2 – As componentes da notícia em texto

As notícias “não trazem unicamente o que é ‘importante’, têm também de trazer o

que é ‘interessante’ ou, pelo menos, têm de ser contadas de uma forma interessante”

(Sousa, 2001, p. 116). Existem algumas regras que orientam a escrita jornalística e que

facilitam a comunicação da informação ao público. Vejamos quais são as

especificidades da notícia em texto, analisando: o título, o lead e o corpo da notícia.

Título

Encontrar um bom título é uma tarefa fundamental no jornalismo. Os títulos

devem ser informativos, sintetizando o núcleo duro da informação numa frase curta, forte e sedutora. Devem ter garra. Devem ser claros, concisos, precisos, atuais e verídicos. Lendo-se títulos assim redigidos, torna-se possível, de imediato, apreender a informação mais relevante que um jornal oferece (Sousa, 2001, p. 200).

A tabela abaixo, elaborada com base no trabalho de Sousa (2001), sintetiza a

informação mais relevante a reter em relação aos títulos.

Tabela 4 – Função e regras para a elaboração de um título informativo.

Título da notícia em texto

Função do título:

revelar a essência da notícia;

antecipar a história sem a esgotar;

despertar a atenção do leitor;

atrair o interesse do leitor;

conferir uma certa estética ao jornal, dentro de um determinado modelo gráfico;

apresentar um primeiro nível de informação ao leitor.

Regras para a elaboração de um título:

ser a última coisa a fazer, quando se redige a notícia;

ser compreensível para a maioria das pessoas;

não ser genérico nem recorrer a lugares-comuns (deve evitar, por exemplo, expressões

como: “Declarações do primeiro-ministro”; “Lamentável acidente”);

não induzir os leitores em erro, prometendo algo que a peça não contém;

condensar o máximo de informação no mínimo de palavras;

evitar adjetivos e advérbios;

evitar começar por algarismos, embora possa iniciar com informação numérica;

Page 26: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

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Título da notícia em texto

evitar a sugestão e a interrogação, o comentário ou o enigma;

incluir um verbo explícito ou implícito, preferencialmente escrito na voz ativa e no presente;

não repetir palavras no mesmo título;

pode ser antecedido por um antetítulo e seguido por um subtítulo, que assumem uma

função contextual e retiram ao título a necessidade de dizer tudo;

ser, preferencialmente, independente do antetítulo e do subtítulo;

evitar o uso de artigos definidos/indefinidos, sempre que o significado não se altere;

pode explorar figuras de estilo;

respeitar o tom da peça (por exemplo, se o tom da peça é sóbrio, o título não deverá ser

humorístico).

Lead

O lead é o primeiro parágrafo do texto, que introduz o tema da peça, e que contém

o núcleo duro da informação. A tabela abaixo sintetiza a informação mais relevante a

reter em relação ao lead.

Tabela 5 – Regras para a elaboração de um lead.

Lead da notícia em texto

Regras para a elaboração de um lead:

deve responder às questões mais importantes:

Quem?

O Quê?

Quando?

Onde?

Como? (poderá ser incluído no corpo do texto)

Porquê? (poderá ser incluído no corpo do texto);

evitar linguagem rebuscada e excessivamente longa;

evitar o excesso de informação.

Corpo da notícia

O corpo da notícia complementa a informação presente no lead. A tabela abaixo,

elaborada com base no trabalho de Sousa (2001), sintetiza a informação mais

relevante para reter em relação ao corpo da notícia.

Page 27: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

25

Tabela 6 – Regras para a elaboração do corpo da notícia.

Corpo da notícia

Regras para a elaboração do corpo da notícia:

respeitar os princípios da brevidade e clareza:

evitar advérbios de modo e expressões como “por outro lado”, “entretanto”, etc.;

evitar adjetivações em excesso;

evitar o uso de rimas, de palavras com duplo sentido ou cacofonia;

usar frases curtas e escritas na ordem direta (sujeito-predicado-complemento);

usar vocabulário simples, o que implica:

descodificar termos científicos e técnicos,

não recorrer a estrangeirismos pouco conhecidos,

evitar palavras rebuscadas ou sem sentido;

recorrer a verbos fortes, na voz ativa e, preferencialmente, no presente do indicativo;

abordar dois conceitos por frase, no máximo (idealmente, apenas um);

não iniciar parágrafos sucessivos com as mesmas palavras;

evitar frases longas, optando por dividi-las em frases curtas;

não usar pronomes, preferindo o uso de nomes (ajuda na identificação do sujeito);

pontuar com correção e pertinência (facilita a leitura do texto e intensifica a

expressividade);

identificar corretamente os lugares e, no caso de lugares pouco conhecidos, indicar pontos

de referência (o leitor pode estar em qualquer ponto do mundo);

identificar corretamente as pessoas:

não usar as abreviaturas “sr.” ou “sra.”;

antes de o nome de uma pessoa surgir pela primeira vez na notícia, referir o cargo ou

função que a levou a tornar-se notícia (embora esta não seja uma regra absoluta);

utilizar a identificação pelo cargo no lead, pelo nome no segundo parágrafo e assim

sucessivamente (embora esta não seja uma regra absoluta);

processar corretamente os numerais:

escrever por extenso os números até dez (em alguns órgãos jornalísticos até vinte) e,

a partir daí, usar algarismos; exceções: idades, horas, datas e anos escolares (por

exemplo, 5 anos ou 5 de outubro);

escrever sempre por extenso números elevados: cem, mil, milhar, milhares, milhão,

milhões, bilião, biliões, etc.;

evitar iniciar um título, um parágrafo ou até mesmo um período por algarismos.

Page 28: A notícia em texto no ensino das alterações climáticas. Francisco Javier Cervigon Ruckauer

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Referências bibliográficas

Brooks, B., Kennedy, G., Moen, D. & Ranly, D. (2002). News Reporting and Writing (7ª ed.). Boston: Bedford/St. Martin’s.

Sousa, J. P. (2001). Elementos de jornalismo impresso. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação, pp. 1-542. Acedido de: http://www.bocc.uff.br/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf